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POLÍTICAS PÚBLICAS
DE ACESSO À JUSTIÇA
EM TEMPOS DE
COVID-19:
diálogos multidisciplinares
Rosane Teresinha Carvalho Porto
Janaína Machado Sturza
Tânia Regina Silva Reckziegel
Organizadoras
DIREITOS HUMANOS E
POLÍTICAS PÚBLICAS
DE ACESSO À JUSTIÇA
EM TEMPOS DE
COVID-19:
diálogos multidisciplinares
1ªEdição Apoio:
REVISÃO GRAMATICAL
Michelle Dayane Krause
ARTE-FINAL E DIAGRAMAÇÃO:
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
Boa leitura!
Rio de Janeiro, outono de 2022.
AGRADECIMENTO À FAPERGS
CAPÍTULO 1
POLÍTICAS PÚBLICAS DE
ACESSO À JUSTIÇA
dados no Brasil sobre as demandas
trabalhistas em tempos de Covid-19
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Bem se sabe que a pandemia instaurada em 2020 em face da propagação do
coronavírus (SARS-CoV-2.), trouxe consigo alterações comportamentais consideráveis
na sociedade em geral, desde as relações mais básicas até as questões mais complexas.
Não sendo, pois, diferente no âmbito trabalhista, tanto no que condiz ao próprio
desenvolvimento das atividades, quanto em relação a possíveis demandas jurídicas
decorrentes do seu exercício.
SUSPENSÃO DE ATIVIDADES
REINTEGRAÇÃO
DOENÇA OCUPACIONAL
AUXÍLIO EMERGENCIAL
AUDIÊNCIA TELEPRESENCIAL
TESTAGEM COVID-19
JUSTA CAUSA
FORÇA-MAIOR
RETORNO AO TRABALHO
FATO PRINCÍPE
MEDIDAS/DETERMINAÇÕES DE SEGURANÇA
LEVANTAMENTO FGTS
SALÁRIO
PARCELAS RESCISÓRIAS
DISPENSA
RESCISÃO CONTRATUAL
INSALUBRIDADE
PENHORA
RECURSOS PÚBLICOS/SAÚDE
NEGOCIAÇÃO COLETIVA
COTA DE APRENDIZES
PRESCRIÇÃO
EXECUÇÃO
ACORDO JUDICIAL
INDENIZAÇÃO
2021), adotando conceituação pautada na Convenção nº. 177 de 1996, da qual o Brasil
não é signatário, mas, tendo em vista que a Argentina ratificou a convenção em 2006,
faz-se cabível destacar aqui o que dispõe em seu artigo primeiro:
Artículo 1
A los efectos del presente Convenio:
(a) la expresión trabajo a domicilio significa el trabajo que una
persona, designada como trabajador a domicilio, realiza:
(i) en su domicilio o en otros locales que escoja, distintos de los
locales de trabajo del empleador;
(ii) a cambio de una remuneración;
(iii) con el fin de elaborar un producto o prestar un servicio
conforme a las especificaciones del empleador,
independientemente de quién proporcione el equipo, los
materiales u otros elementos utilizados para ello,
a menos que esa persona tenga el grado de autonomía y de
independencia económica necesario para ser considerada como
trabajador independiente en virtud de la legislación nacional o de
decisiones judiciales;
(b) una persona que tenga la condición de asalariado no se
considerará trabajador a domicilio a los efectos del presente
Convenio por el mero hecho de realizar ocasionalmente su
trabajo como asalariado en su domicilio, en vez de realizarlo en
su lugar de trabajo habitual;
(c) la palabra empleador significa una persona física o jurídica
que, de modo directo o por conducto de un intermediario, esté o
no prevista esta figura en la legislación nacional, da trabajo a
domicilio por cuenta de su empresa (OIT, 1996).
Valendo-se dos estudos de Maria Aparecida Bridi (2020, p.176), é possível dizer
que o teletrabalho, caracterizado como aquele exercido fora do espaço da empresa,
não é um modelo totalmente novo, mas ao longo dos anos teve maior impacto nas
relações trabalhistas em si, em razão do próprio desenvolvimento tecnológico,
principalmente após a revolução informativa da década de 1970. Para a autora, o
teletrabalho está permeado de certa incongruência conceitual e, embora não possa ser
visto totalmente separado do trabalho em domicílio, com esse não se confunde, nesse
sentido:
Art. 75-B da CLT – redação antiga Art. 75-B da CLT – redação atualizada
Art. 75-B. Considera-se teletrabalho a Art. 75-B. Considera-se teletrabalho ou
prestação de serviços preponderantemente trabalho remoto a prestação de serviços
fora das dependências do empregador, fora das dependências do empregador, de
com a utilização de tecnologias de maneira preponderante ou não, com a
informação e de comunicação que, por sua utilização de tecnologias de informação e
natureza, não se constituam como trabalho de comunicação, que, por sua natureza,
externo não se configure como trabalho externo.
Parágrafo único. O comparecimento às
dependências do empregador para a § 1º O comparecimento, ainda que de modo
realização de atividades específicas que habitual, às dependências do empregador
exijam a presença do empregado no para a realização de atividades específicas,
estabelecimento não descaracteriza o que exijam a presença do empregado no
regime de teletrabalho (BRASIL, 2017, estabelecimento, não descaracteriza o
grifos do autor). regime de teletrabalho ou trabalho remoto.
§ 2º O empregado submetido ao regime de
teletrabalho ou trabalho remoto poderá
prestar serviços por jornada ou por
produção ou tarefa.
SUMÁRIO
Após a Medida Provisória nº 1.108 de 2022, foi acrescentado o inciso III ao art. 62,
da CLT, contando com a seguinte disposição:
Há, diante disso, uma clara necessidade de adaptação principalmente por parte
do empregador, no que se refere à proteção dos direitos do teletrabalhador no
exercício de suas funções (MEDRADO; LIMA. T., 2022).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que a magnitude do abalo causado pela pandemia alcançou níveis
consideráveis, fazendo, as vezes forçadamente, com que a sociedade se readequasse e,
como tal, trouxe consigo diversas alterações, das quais não escapa o meio trabalhista e
os próprios direitos humanos, a exposição reflete resultados parciais obtidos durante
a pesquisa do projeto “POLÍTICAS PÚBLICAS DE ACESSO À JUSTIÇA EM TEMPOS
DE COVID-19: Limites e possibilidades da mediação sanitária nas demandas judiciais
de trabalhadores no Brasil, Argentina e Chile”, vinculado ao Programa de Pós
Graduação em Direitos Humanos da UNIJUÍ, explicitando toda a metodologia
adotada para o alcance dos mesmos.
Não há o intuito, então, de dissecar todos os elementos concernentes à questão do
Covid-19 nas relações trabalhistas, sobre a perspectiva do acesso à justiça, mas apenas
de levantar o que já se pôde denotar durante a pesquisa até o presente momento, tendo
em vista, também, se tratar de uma questão real, que ainda está se desenrolando.
Assim, tendo em vista o objetivo geral do projeto de analisar as políticas públicas
de acesso à justiça e prevenção de conflitos, os debates jurisprudenciais e legislações
sob a ótica da proteção dos direitos do trabalhador, a partir do marco teórico
biopolítico e dos limites e possibilidades de aplicação da mediação sanitária como uma
dessas políticas, em uma perspectiva comparada entre o Brasil, Chile e Argentina,
para, então, evidenciar se as demandas suscitadas teriam resolução aprazível
utilizando a mediação sanitária. Já foi possível realizar um mapeamento das
principais demandas trabalhistas no Judiciário, possibilitando a organização de uma
base de dados consistente em referência as mesmas, considerando, para tanto, a
existência de bases já consolidadas provenientes dos próprios tribunais analisados e
outros meios.
Diante disso, dentre os diversos achados ao longo da pesquisa, merece destaque
a questão do teletrabalho, tido como um regime consideravelmente novo, surgindo do
desdobramento do trabalho a domicílio, com a evolução das tecnologias de
informação e comunicação, a qual ganhou maior impulso no decorrer da pandemia,
considerando as medidas adotadas pelos governos e pelos próprios empregadores no
enfrentamento do coronavírus.
Reiterando-se, por fim, em que pese se aproxima o fim do isolamento em
decorrência da Covid-19, o objeto de pesquisa não se esgotou e, portanto, haverão de
surgir novos desdobramentos, os quais certamente serão acompanhados pelo grupo
de pesquisas e gerarão novos resultados.
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
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coronavírus SARS-Cov-2 das atividades de trabalho presencial quando a atividade laboral por ela
exercida for incompatível com a sua realização em seu domicílio, por meio de teletrabalho, trabalho
remoto ou outra forma de trabalho à distância, nos termos em que especifica. Brasília- DF:
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SUMÁRIO
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 2
LA NORMATIVA DE
EMERGENCIA Y
SU APLICACIÓ́N
problemáticas en torno a las relaciones
laborales en el escenario de la
pandemia del Covid-19
A MODO DE PRESENTACIÓN
En este documento nos proponemos continuar problematizando la reflexión en
torno a las relaciones laborales en el marco de la pandemia. En tal sentido, hemos
puesto prioritario foco en la aplicación de la normativa desde el ámbito nacional.
La matriz para el relevamiento de la producción normativa y su aplicación se ha
complejizado. Se destacan problemas en torno a la instrumentalización de lo
dispuesto en temáticas como las que señalaremos a continuación.
Lo dispuesto normativamente deja en evidencia dificultades preexistentes, sobre
todo, en cuanto a registración, así como en las temáticas vinculadas con suspensiones,
5 Abogado. Docente. Investigador. Doctor en Ciencias Jurídicas. Universidad del Salvador (USAL). Carrera de
Postgrado con el título de Especialista para la Magistratura, Universidad Nacional de San Martín (UNSAM). Título
de Postgrado de Especialización en Globalización y Estado social. Problemáticas Abiertas, Universidad de Castilla-
La Mancha. Profesor Titular de Derecho del Trabajo y Seguridad Social de la Universidad Nacional de José C. Paz
(UNPAZ). Profesor Titular de Derecho II -Derecho Colectivo del Trabajo- en la Universidad Nacional de Lomas de
Zamora (UNLZ). Profesor Adjunto Regular de Derecho Del Trabajo y de la Seguridad Social del CPC de la
Facultad de Derecho de la Universidad de Buenos Aires (UBA). Profesor Adjunto de la matéria Derecho sindical y
de las Relaciones Colectivas del Trabajo de la Carrera de Relaciones del Trabajo de la Facultad de Ciencias Sociales
de la UBA. Coordinador Académico de la Maestría en Negociaciones Colectivas del Trabajo de la Universidad del
Museo Social Argentino (UMSA). Profesor en la Maestría en Estudios y Relaciones del Trabajo de FLACSO.
Docente en la Especialización en Derecho Laboral de la Facultad de Derecho de la UNLZ. Director de Proyecto de
Investigación UBACyT. Director de Proyecto de Investigación Científica y Tecnológica UNPAZ. Director de
Proyecto de Investigación UMSA Subdirector del Núcleo de Estudios de Políticas y Relaciones del Trabajo de la
Universidad Metropolitana para La Educación y el Trabajo (UMET). Director de la Diplomatura en Relaciones
Laborales Colectivas en el Sector Público (UNLZ-INAP-FOPECAP). Director de la Diplomatura en Inspección del
Trabajo y de la Seguridad Social (UMSA). Autor de libros, artículos y publicaciones en Argentina y el exterior.
SUMÁRIO
6 El concepto de enfoque de carácter crítico-tutelar lo vengo desarrollando a partir de una inquietud académica
vinculada con la preocupación en cuanto a un enfoque des- contextualizado de difusión y enseñanza del
derecho. Y atendiendo, en simultáneo, la idea tan bien explicitada por Carlos María Cárcova, en su trabajo
Notas acerca de la Teoría Crítica del Derecho (febrero de 2000), en cuanto a que: “el conocimiento solo
avanza a partir de rupturas, de revoluciones, de la sustitución de una red de cono- cimientos por otra más
adecuada, esto es, con mayor fuerza explicativa o con mayor capacidad predictiva o con ambas cosas a la
vez”.
7 Decreto de Necesidad y Urgencia.
8 Aislamiento social, preventivo y obligatorio.
9 Ministerio de Trabajo, Empleo y Seguridad Social de la Nación (Argentina).
SUMÁRIO
10 Sobre temáticas emergentes de la pandemia del COVID-19: el desafío de no caer en generalizaciones ni respuestas
automáticas, ver Gambacorta (enero marzo 2020). O coronavirus e os reflexos no Direito do Trabalho. Revista Jurídica
Eletrônica RTM, Ediçao Especial, 17(1).
11 Se refiere a las acciones preventivas por el aislamiento obligatorio.
SUMÁRIO
prestaciones de servicios. Del mismo modo se hizo (es decir, sin distinguir entre
figuras dependientes o no) en la Resolución MTEySS No 207/20 del 16 de marzo, para
mayores de 60 años, embarazadas y grupos de riesgo (art. 1). Y allí también las y los
trabajadores deberán, en el marco de la buena fe contractual, establecer con su
empleador las condiciones en que dicha labor será realizada (art. 2). Paradójicamente,
vemos que, en normas de protección y reconocimiento de derechos, también se
aprecia una proyección de la informalidad laboral y de parámetros de autonomía de
la voluntad que podrían afectar la necesaria tutela que conlleva el derecho del trabajo.
Luego, la Resolución MTEySS No 219/20 del 20 de marzo, en su artículo 1,
estableció que las y los alcanzados por el ASPO, de buena fe, también deberían
establecer con el empleador, en forma similar, la forma de realización de las tareas.
Pero aquí se agregó que quienes efectivamente acuerden este modo de realización de
tareas percibirán su remuneración habitual, en tanto que, en aquellos casos que esto no
sea posible, las sumas percibidas tendrán carácter no remuneratorio excepto los
aportes y contribuciones al sistema nacional del seguro de salud y al Instituto Nacional
de Servicios Sociales para Jubilados y Pensionados, la AFIP dispondrá las medidas
necesarias a fin de verificar la correcta aplicación de esta disposición.
Se agrega en la misma resolución, en su artículo 2, que, respecto del personal
considerado esencial (descriptos en el art. 6 del DCNU No 297/2020 y sus
reglamentarias) “La continuidad de tales actividades, en estas circunstancias,
constituye una exigencia excepcional de la economía nacional”, ello conforme el
artículo 203 de la LCT¹².
En el mismo sentido que lo expresado precedentemente, su artículo 3, se aplica a
los monotributistas y a los no registrados. Con esto último, se podría colegir el
reconocimiento de la existencia de irregularidades, es decir, fraude laboral; pero la
necesidad en la emergencia es de darles cobertura.
Vemos que aquí se nos presentan criterios vinculables con la deslaboralización de
relaciones de trabajo dependientes, como la autonomía de la voluntad para establecer
el trabajo; la buena fe, que no deja de estar en un terreno de desigualdad entre partes
(conforme lo recono- ce el artículo 17 bis de la LCT¹³) y la informalidad. Pero se agrega,
en el artículo 2, en sustento de los temperamentos adoptados, la consideración como
exigencia excepcional de la economía nacional, lo cual veremos ha dado lugar a
conflictividad laboral.
14 Así fue expresado, por ejemplo, en el conversatorio sobre “Despidos, suspensiones y remuneraciones en tiempo de
pandemia”, organizado por la Comisión de Derecho del Trabajo de la Asociación de Abogados de Buenos Aires
(AABA). Buenos Aires, 11 de junio de 2020.
15 Procedimiento preventivo de crisis. Se encuentra previsto en la Ley No 24013 (arts. 98 y subsiguientes).
16 Confederación General del Trabajo de la República Argentina.
17 Unión Industrial Argentina.
SUMÁRIO
este acuerdo marco conjunto (art. 1). Por su parte, el artículo 2 genera un
procedimiento especial, cuando la presentación la hacen las empresas para aplicar
suspensiones. En dicho caso, será remitida en vista a la asociación sindical por tres
días, prorrogables por dos días más a pedido del sindicato; pero prevé que, vencido
este plazo, se considera como conformidad respecto del acuerdo sugerido por la parte
empleadora. Y si hubiere oposición del sindicato, se abrirá una instancia de diálogo y
negociación (art. 2). Y si las presentaciones que efectúen las partes, conforme el 223 bis,
no se ajustaran íntegramente al acuerdo marco CGT-UIA, serán sometidos a un control
previo por la autoridad de aplicación que indicará las consideraciones que correspondan en
orden al trámite requerido (art. 3).
A partir del antes señalado acuerdo marco y de esta normativa, se manifestaron
problemáticas en cuanto a su cumplimiento y la forma de homologación¹⁸. Una, casi
inmediata, fue en cuanto a evitar una suerte de “homologaciones cuasiautomáticas”,
es decir, que se produjeran sin un adecuado control de legalidad. Por otro lado, se han
cuestionado los beneficios obtenidos por las empresas en cuanto a ser más favorecidas
y realizar un menor esfuerzo. Por ejemplo, con el beneficio complementario que recibe
una empresa respecto del 50% de los salarios, y valiéndose de un acuerdo por el cual
se reducen los salarios a su cargo a un 75% del salario neto, solo pagaría un 25%. Así,
el trabajador percibiría un 25% menos y el Estado contribuiría con el 50%. El menor
esfuerzo lo harían las empresas, ya que podrían llegar a percibir un 50%, pero
realizando también suspensiones abonarían ya no el 50% sino un 25% del antedicho
salario.
Se ha criticado el otorgamiento generalizado del beneficio antes mencionado, con
el argumento que no todas las empresas lo requerirían. Pese a percibirlo, algunas han
diferido pagos, formulando una suerte de “acuerdos tácitos” respecto de este u otros
temas.
Podría relacionarse, asimismo, lo expresado en los dos párrafos precedentes con,
por ejemplo, la Resolución MTEySS No 408 del 6 de mayo, en cuanto establece, en su
artículo 1, que:
Los empleadores que hubiesen efectuado el pago total o parcial de haberes
correspondiente al mes de abril de 2020 en forma previa a la percepción por parte de
sus trabajadores dependientes del beneficio del Salario Complementario, instituido
por el Decreto No 332/2020 y sus modificatorios, y cuyo monto, sumado el pago del
beneficio del Salario Complementario correspondiente a dicho mes, supere el monto
que le hubiere correspondido percibir a cada trabajador por parte de su empleador,
18 Respecto de esta, como de otras problemáticas señaladas en este trabajo, hemos participado en
actividades académicas, realizado entrevistas y consultas informativas.
SUMÁRIO
podrán imputar el monto excedente a cuenta del pago del salario correspondiente al
mes de mayo de 2020.
Se objeta también que:
A )Se han realizado despidos en el período de prueba, lo cual también está
alcanzado por la prohibición –general– de suspensiones o despidos fijada en la
normativa de excepción.
b) Se ha cuestionado, en función de poner un límite a las horas extras que se
realizan, los alcances del artículo 203 de la LCT, interpretándose que ello puede entrar
en colisión con los límites determinados por el Decreto No 484/2000; pero, además, en
determinados casos podría llegar a afectar la integridad psicofísica de las y los
trabajadores.
c) Se han configurado negativas por parte de empleadores respecto del beneficio
establecido por la normativa de emergencia para atender al cuidado de menores. Ante
estos casos, se está recurriendo a medidas cautelares para salvaguardar el derecho.
d) Se han configurado descuentos sobre rubros variables, premios y almuerzos
que percibían las y los trabajadores. Hay acuerdos que operan sobre las
remuneraciones de abril, ya devengadas, por lo cual devendrían ilegales.
e) Otro tema verificable es el problema que se cierne sobre las jubilaciones, en
vista de cómo se atenderá la falta de aportes prevista y cómo se soportará el esfuerzo
compensador que requerirí́a.
una cauta atención para mantener una adecuada tutela de los derechos de las y los
trabajadores.
En tal sentido, ya respecto de la existencia de diversos proyectos de ley de
teletrabajo, podríamos sintetizar que hay quienes proponen una mayor o menor
regulación específica desde lo legislativo y quienes también, en más o en menos,
analizan delegar esta a los convenios colectivos de trabajo.
Por otro lado, para la salida de la pandemia, hemos constatado un incipiente
debate en cuanto a volver al fuero de atracción de lo comercial, conforme lo estipulaba
en su momento la Ley No 24522 en la década de 1990, en términos de acción
institucional y producción normativa, en un sentido flexibilizador desprotectorio.
Esto ya fue superado por la Ley No 26086, que devolvió el trámite de los créditos
laborales ante su juez natural –v. gr., del trabajo–. Por eso nos preguntamos: ¿vamos a
volver a aplicar las mismas fórmulas que ya se constató que no han dado resultado
positivo para el mantenimiento, y menos aún, la creación de puestos de trabajo?
Entendemos que es menester que, desde la gestión administrativa y la
legislación, en línea con el artículo 14 bis de la Constitución Nacional y los tratados
internacionales vigentes en Argentina, se prioricen al trabajador y la trabajadora como
sujetos de preferente tutela constitucional; sobre todo, ante la efectiva posibilidad de
enfrentarnos a un temperamento más en línea con la prevalencia del orden económico
que del laboral.
Para finalizar, nos referiremos al que se suele mencionar como otro potencial
escenario de solución de estas problemáticas; concretamente, la creación de un CES¹⁹.
Con relación a esto, no queremos dejar de advertir que en este conflictivo escenario,
con posiciones a menudo ancladas en enfoques ideológicos excluyentes, al estudiar la
temática y sus problemáticas²⁰, es necesaria una mejor evaluación respecto de si se
verifican las condiciones para la creación y viabilidad del funcionamiento de un CES.
Parecería que determinados sectores del capital ya hubieran optado por
cuestionar cualquier enfoque social desde el libre juego del mercado. Aunque,
paradójicamente, requiriendo mantener subsidios para el sostenimiento y salvataje de
sus empresas. Y aquí nos preguntamos: ¿cómo se superarán las desigualdades –
agravadas por la pandemia–? ¿Quién soportará el mayor esfuerzo?
El escenario es complejo y las correlaciones de fuerzas contribuirán a la
formulación de nuevas matrices de análisis en las que el rol y la batalla por el control
o sujeción del gobierno del Estado no serán menores.
Consideramos que las respuestas, propuestas y alternativas de solución desde la
autoridad administrativa del trabajo, y del Estado en general, deberían prestar más
21 Gambacorta, M. L. Representación sindical y social de inclusión ante la hegemo- nía deslaboralizadora. Resumen presentado
para el GT1: La representación sindical y social frente a la desigualdad: estructuras de organización, articulaciones y
complementariedades ante las transformaciones en el mundo del trabajo, II Semana sobre Democracia y
Desigualdades. UNPAZ. A realizarse los días 22 y 23 de octubre de 2020.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 3
EL DERECHO A
DESCONECTARSE
la única vía de erradicar el trabajo sin fin
EL DERECHO A DESCONECTARSE:
la única vía de erradicar el trabajo sin fin
INTRODUCCIÓN
La Pandemia por Covid 19 no solo trajo transformaciones en materia de salud,
sino también en el área legislativa, jurídica y social, debido al surgimiento de
problemáticas derivadas de las nuevas formas de relaciones laborales al interior de la
empresa, dentro de las cuales se encuentra la jornada de trabajo, las formas de control,
las tecnologías aplicadas como herramientas de trabajo, entre otras.
Si bien en Chile existía la figura del teletrabajo, la cual se encuentra regulada en el
artículo 22 del Código del Trabajo, la pandemia hizo aumentar esta forma de trabajo
en el año 2020 y 2021 en nuestro país, modificando de esta manera, el modo en que se
desarrollan las relaciones laborales al interior de la empresa. Actualmente muchos
trabajadores han regresado a la presencialidad, mientras un número no menos
considerable continúa en teletrabajo, y todo hace presagiar que el uso de esta
modalidad irá en aumento.
Así, las relaciones laborales al interior de la empresa han cambiado, trayendo
como consecuencia, la apertura del debate sobre el derecho a no contestar llamadas,
whatsapp o correos electrónicos fuera de la jornada, incluso el negarse a pertenecer o
permanecer en grupos de aplicaciones de comunicación social, tales como whatsapp,
que tengan fines laborales.
De este modo, se abre un debate interesante sobre la necesidad de reconocer el
derecho a desconectarse como la única vía del descanso efectivo, en el sentido de
permitir que de manera efectiva exista una verdadera conciliación entre el trabajo y la
22 Inspectora del Trabajo, Chile. Abogada, Magister en Derecho del Trabajo y Seguridad Social de la Universidad de
Chile.dallendem@dt.gob.cl
SUMÁRIO
23 GAMONAL CONTRERAS, Sergio; GUIDI MOGGIA, Caterina, “Manual del Contrato de Trabajo”, Santiago Chile,
Thomson Reuters, segunda edición, 2015, p. 172.
24 CARRO IGELMO, Alberto, “Curso de Derecho del Trabajo”, Barcelona, España, Bosh, 1991. pp.75 y76.
25 Como señaló GAMONAL CONTRERAS, Sergio; GUIDI MOGGIA, Caterina, ( 2015, p. 174.)
26 WALKER ERRAZURIZ, Francisco, “Derecho de las Relaciones Laborales, Un Derecho vivo”. Santiago, Chile,
Editorial Universitaria, 2003, p. 300.
SUMÁRIO
Desde el primero del enero del 2005 se marca un hito en la legislación laboral
chilena, modificando la normativa que se mantuvo por 80 años disminuyendo de 48 a
45 horas laborales semanales. Así actualmente el tema de la jornada está en boga,
debido a que una de las promesas del actual Gobierno es la rebaja de esas 45 a 40 horas.
Sin embargo, la regulación, limitación y disminución de la jornada de trabajo parece
un esfuerzo fútil, si es que el trabajador, en sus tiempo de descanso, no es capaz de
abstraerse de sus obligaciones laborales.
Por su parte, los descansos se encuentren regulados por ley, tales como, la
colación, los fines de semana, las vacaciones y feriados, pero también es posible que
estos sean regulados de manera contractual tanto individual, como colectivamente.
En este contexto, el derecho a descanso tiene por objeto la realización de
actividades que no tengan relación con sus funciones laborales y por tanto, durante ese
periodo el trabajador no debe encontrarse a disposición de su empleador, pues en caso
de ser vulnerado este derecho sería posible por parte del trabajador ejercer un despido
indirecto o demandar mediante una tutela laboral la vulneración de la integridad física
y psíquica y/o su vida privada, consagrados en el artículo 19 de la Constitución Política
Chilena, debido a que como analizaremos más adelante es obligación del empleador
proteger y garantizar el derecho al descanso.
Este tema ha sido una de las principales preocupaciones de la Organización
Internacional del Trabajo (OIT), la cual desde su creación en 1919, ha impulsado la
reglamentación de las horas de trabajo y la fijación de la duración máxima de la
jornada diaria y semanal de trabajo (OIT, 1919). Muestra de aquello es el primer
convenio de la OIT, que se refiere a la limitación de las horas de trabajo en las empresas
industriales, labor que ha continuado con una serie de convenios y recomendaciones
posteriores²⁷.
27 AZÓCAR SIMONET, Rodrigo, “Derecho a desconectarse del trabajo: una necesidad para conciliar la vida personal y
laboral”, Santiago, Chile, Centro de Políticas Públicas UC, Pontificia Universidad Católica, 2019. p. 5.
28 Derecho del trabajador a interrumpir su actividad laborativa durante 15 días hábiles por cada año de trabajo. Este
descanso es remunerado.
29 Derecho de los trabajadores a descansar los domingos y festivos.
30 Derecho de los trabajadores de disponer de, a lo menos media hora para colación. Este descanso divide la jornada en
dos partes y por regla general no se imputa a la jornada de trabajo.
31 Aquel tiempo destinado al reposo entre una jornada diaria y otra, por un lapso no inferior a 12 horas.
SUMÁRIO
trabajadores al cumplir sus labores, debido a que no descansar mermará de tal forma
sus fuerzas que expondrá su salud y eventualmente su vida. Así, esto deriva de las
normas que establecen la jornada de trabajo incluidas las varias excepciones a la
jornada ordinaria (artículos 21 y siguientes), definiéndola como el tiempo durante el
cual la o el trabajador debe prestar sus servicios en conformidad al contrato. Agrega,
que también se considera jornada de trabajo el tiempo en que la o el trabajador se
encuentra a disposición del empleador sin realizar labor, por causas que no le sean
imputables³².
Asimismo, el artículo 22 del texto legal citado, establece que la duración de la
jornada ordinaria no excederá de 45 horas semanales y en su inciso segundo y
siguientes, refiere a las o los trabajadores que están excluidos de limitación de jornada.
En este contexto, el Profesor Gamonal define la jornada de trabajo como el
período delimitado por las partes o por la ley, durante el cual la o el trabajador deberá
estar en el sitio de sus funciones y a disposición del empleador, para el cumplimiento
de su actividad laborativa subordinada. De esta manera, clasifica la jornada entre
activa –tiempo durante el cual el trabajador debe prestar efectivamente sus servicios
en conformidad al contrato- y pasiva –tiempo en que la o el trabajador se encuentra a
disposición del empleador sin realizar labor, por causas que no le son imputables-.³³
La distinción anterior resulta del todo relevante, debido a que no puede
confundirse en caso alguno la jornada pasiva con el descanso, ya que en esta última el
empleador tiene la obligación de garantizar y proteger ese derecho, pues en caso de no
hacerlo contravendría la obligación de proteger eficazmente la vida y la salud de los
trabajadores consagrado en el artículo 184 del Código del Trabajo.
Por su parte, resulta relevante destacar las garantías constitucionales que se ven
afectadas en los casos que se vulnere el derecho a descanso, entre los cuales
encontramos la garantía establecida en el artículo 19 Nº1 de la actual Constitución
Política de la República, que indica en su inciso primero: “La constitución asegura a
todas las personas: 1. El derecho a la vida e integridad física y psíquica de la persona”.
Esto debido a que la falta de descanso de las y los trabajadores puede producir un
desgaste en su salud tanto física como mental, ocasionando enfermedades de diversos
tipos e incluso puede provocar la muerte.
32 La Dirección del Trabajo, establece mediante su Dictamen Nº4247/092 de 28.10.2011 que no constituyen jornada de
trabajo el tiempo destinado al cambio de vestuario, equipos e implementos de seguridad y aseo personal que se lleva
a cabo en el campamento donde los trabajadores mantienen temporalmente su residencia o morada.
33 Como señaló GAMONAL CONTRERAS, Sergio; GUIDI MOGGIA, Caterina, (2015, p. 266).
SUMÁRIO
Por su parte el articulo 19 Nº4 del mismo texto constitucional, consagra el respeto
y protección a la vida privada, la que durante mucho tiempo, en el modelo de empresa
fordista tenía un límite territorial que garantizaba la privacidad por alcance, debido
que al abandonar la fábrica el trabajador se ponía fuera del alcance del poder
empresarial. Sin embargo, en la actualidad la informática y las nuevas formas de
comunicación digital –entre empleador y trabajador- diluye el espacio físico. De este
modo, el poder del trabajador deja de reconocer fronteras físicas y se produce el cruce
entre el trabajo y la privacidad que impone dos cuestiones fundamentales para
resolver: primero, cómo se va a determinar el contenido de ese derecho de cara a su
ejercicio dentro de la empresa, y segundo, como se va a resolver los eventuales
conflictos que ese ejercicio genere con los poderes jurídicamente reconocidos al
empleador. Dicho de otro modo, cuanta intimidad entra con el trabajador a la
empresa, y como se arregla el problema que ese ingreso provocará con la propiedad
del empleador³⁴.
Desde esta perspectiva, Ugarte señala que la privacidad del trabajador tiene como
ámbito protegido tres dimensiones: primero, la privacidad personal que dice relación
con la dimensión física de la o el trabajador y sus objetos personales, los cuales
incluyen la protección de la corporalidad tales como datos biológicos o biométricos,
extendiéndose a objetos personales como documentos, pertenecías, medicinas, entre
otros³⁵; segundo, la privacidad espacial, el cual refiere aquellos ámbitos de la vida
individual y social que se encuentran excluidos del conocimiento de terceros, en
particular del empleador, tales como indumentarias, vida sexual, piercings, tatuajes,
relaciones sentimentales y sexuales, creencias personales e ideológicas, entre otras; y
por último y no menos importante la privacidad virtual o tecnológica que dice relación
con la protección a zonas que la realidad virtual pone a disposición de los sujetos.
Dicha zona incluye las formas de comunicación informática como el correo
electrónico, whatsapp, telegram, entre otras, incluyendo incluso los espacios de
interacción social en los cuales existe una expectativa de privacidad tales como
Facebook, instagram, tik tok, entre otras³⁶.
De este modo conviene tener presente que, por su ubicación sistemática en el
texto constitucional, este derecho deriva, a su vez, del derecho a la dignidad de la
persona que implica la existencia de un ámbito propio y reservado frente a la acción y
34 UGARTE CATALDO, José Luis, “Derechos Fundamentales, tutela y trabajo”, Santiago, Chile, Legal Publishing, 1ª
edición, 2018, pp. 192-193.
35 FIGUEROA GARCÍA-HUIDOGRO, Rodolfo, “Privacidad”, Santiago, Chile, Ediciones Universidad Diego Portales,
2014, p. 115.
36 Como señaló UGARTE CATALDO, José Luis (2018, pp. 198-199)
SUMÁRIO
el conocimiento de los demás, necesario, según las pautas de nuestra cultura, para
mantener una calidad mínima de la vida humana.
No obstante, el derecho a la intimidad de la o el trabajador puede entrar en
conflicto con el interés empresarial de controlar el cumplimiento de las obligaciones
laborales, que llevará a cabo en virtud de las facultades directivas de que dispone al
amparo de la libertad de empresa, reconocida. Dicho control empresarial se puede
materializar a través de diversas formas, que se concretan mediante la supervisión
personal de la actividad profesional desarrollada en el tiempo y lugar de trabajo, que
en la actualidad se ejerce mediante medios tecnológicos.
En este contexto, y sin perjuicio del posterior análisis pormenorizado a que obliga
la casuística, la existencia de ciertos presupuestos de validez del control empresarial
dependerá de la licitud de la medida que afecta a la privacidad del trabajador, pues si
esta se opone a este derecho, no existe coalición entre el derecho a la propiedad de la
empresa y la privacidad de la trabajadora o trabajador, sino que de plano se incurre en
una vulneración de derechos fundamentales.
De esta manera el Código del Trabajo chileno contiene derechos mínimos de los
trabajadores, regulándose los aspectos más fundamentales como esos mínimos
legalmente garantizados e irrenunciables, los cuales pueden ser reclamados ante los
tribunales laborales mediante la tutela laboral (Art. 485 CT).
Por su parte, con el panorama desde el año 2020 con la crisis social y sanitaria, el
sistema de relaciones laborales en Chile comenzó a plantear problemáticas que antes
habían pasado desapercibidas.
En este contexto, se dicta el 18 de marzo de 2020 el Decreto Supremo Nº104, que
declara Estado es Excepción Constitucional de Catástrofe por calamidad pública en
todo el territorio nacional, comenzando a los pocos días las cuarentenas sanitarias de
la población. Desde el punto de vista de las relaciones laborales se dictó la Ley 21.227,
denominada “Ley de Protección del Empleo”³⁷.
Otra normativa importante producto de la crisis sanitaria y social, es la Ley
21.220, la cual vino a modificar el Código del Trabajo e incorporó un nuevo Capítulo
IX al Título II del Libro I, denominado “Del Trabajo a Distancia y Teletrabajo”³⁸.
37 Establecía que los contratos de trabajo podían ser suspendidos por decisión unilateral del empleador, manteniéndose
el vínculo laboral pero sin obligación de prestar servicios por parte del trabajador, ni de pagar remuneraciones por
parte del empleador. Durante ese tiempo de suspensión, el trabajador obtiene dineros con cargo a su Seguro de
Cesantía, por lo que no se encontraba a disposición del empleador.
38 Se definió el teletrabajo como aquel en el que el colaborador presta sus servicios, total o parcialmente, desde su
domicilio u otro lugar distinto a establecimientos, instalaciones o faenas de la empresa, y teletrabajo, si los servicios
se prestan utilizando medios tecnológicos, informáticos o de telecomunicaciones.
SUMÁRIO
Esta modalidad de trabajo que puede ser pactada al inicio o durante la vigencia de
la relación laboral, en ningún caso, podrá implicar un menoscabo en su remuneración,
ni en los derechos individuales y colectivos que se reconocen en el Código. Las partes
pueden acordar que el trabajador distribuya libremente su jornada, adaptándose a sus
necesidades y respetando los límites diarios y semanales. También, se podrá pactar que
el trabajador quede eximido de la limitación de jornada.
Además, se establece que se debe respetar el llamado “derecho a desconexión” de
12 horas continuas entre jornada de trabajo, tiempo en el cual el trabajador no estará
obligado a responder sus comunicaciones, órdenes y otros requerimientos.
En este contexto, sin perjuicio de que el derecho a descanso ya se encontraba
regulado en el Código del Trabajo, en Chile se comenzó a hablar con mayor intensidad
del derecho a desconexión como fuente del derecho a descanso.
empleador fuera de la jornada laboral, abarcando este concepto las funciones y las
responsabilidades. De esta manera, se vuelve un elemento esencial para lograr el
descanso efectivo, por el cual la o el trabajador no deberían sentir temor a sufrir ningún
tipo de represalia.
Sin perjuicio de lo anterior, se debe tener en cuenta que la desconexión de los
asuntos laborales depende de diferentes factores, tales como psicológicos, económicos
y sociales, pues incluso ante la supuesta decisión de la o el trabajador de estar
voluntariamente siempre conectado y disponible, el empleador tiene la obligación de
tomar medidas para prohibirlo o evitarlo, respetando de esta forma los derechos
fundamentales y evitando de esta forma el llamado “trabajo sin fin”⁴⁰.
En consecuencia, el derecho a descanso es un derecho irrenunciable, teniendo el
empleador la obligación de informar, capacitar al trabajador y por tanto, prohibir como
política de la empresa los requerimiento de asuntos laborales fuera de la jornada, en
base a su obligación de respetar eficazmente la vida y la salud de las y los trabajadores
que se encuentran bajo su subordinación y dependencia.
40 En este sentido, “En un mundo regido por las nuevas tecnologías, el trabajador a veces no tiene o no sabe encontrar
la oportunidad de desconectarse del trabajo, ya sea cuando este se realiza en un domicilio o en cualquier otro lugar.
Son factores educacionales y personales los que pueden influir en su conducta, para lo cual es impresindible el
apoyo de la empresa. (OIT, 2018)
41 UGARTE CATALDO, José Luis, “El nuevo derecho del trabajo”, Santiago, Chile, Editorial Universitaria, 2004. p. 145.
SUMÁRIO
para regular estas materias en sus instrumentos colectivos, se abre una temática que
urge ser tratada debido al auge de los controles basados en el uso de las tecnologías,
los cuales se vuelven cada vez más sofisticados e ilimitados en sus sistemas de
supervisión y vigilancia de la actividad laboral dentro y fuera del lugar de trabajo,
tales como técnicas de seguimiento a distancia por gps, videovigilancia,
monitorización y registro del computador, llamadas telefónicas, evaluación de los
clientes, entre otras⁴².
Si bien es sabido que las facultades del empleador están limitadas por la dignidad
humana, que una de sus derivaciones más importantes el derecho a la vida privada,
para que esta limitación tenga resultados reales, este debe proteger eficazmente el
derecho que tienen las y los trabajadores de desconectarse para que puedan tener un
descanso efectivo.
De este modo, actualmente el debate no se centra en el conocimiento que tienen
las o los trabajadores de los medios de control que ha instalado su empleador para
supervisar el cumplimiento de sus obligaciones, pues eso ya esta resuelto.
Centrándose la discusión en el ejercicio, las facultades empresariales y la finalidad del
control⁴³.
En este escenario, de leyes laborales estableciendo derechos mínimos y el
empleador dotado de amplias facultades de mando, la norma laboral no consigue
imponer un sistema de relaciones laborales que permita equilibrar efectivamente los
poderes de ambas partes. Por el contrario, parte del supuesto de la imposibilidad de
aspirar siquiera por el trabajador a un equilibrio que le permita pactar las condiciones
mínimas en el estándar de la ley laboral, o mejores. Dicho de otro modo, no busca la
normativa laboral la corrección de las desigualdades en el contrato de trabajo, solo
asegurar que ese desequilibrio no dañe cuestiones que el legislador estima como
mínimos establecidos con normas de carácter general como las leyes y, por tanto, sin
posibilidades de hacerse cargo de las particularidades de cada rubro, empresa o
establecimiento, que ciertamente pueden llevar a otros mínimos de mayor o menos
cobertura.
El derecho a desconectarse del trabajo en los periodos de descanso puede estar
sujeto a ciertas limitaciones, siendo en primer lugar recomendable regular el uso de los
42 FERNANDO GARCÍA, Francisca, “Vigilancia y control de los trabajadores y derecho a la intimidad en el contexto de
las nuevas tecnologías”, Revista del Derecho del Trabajo y Seguridad Social, Nº399, 2016, pp.37-68. Disponible en:
h�ps://www.observatoriovascosobreacoso.com/wp-content/uploads/2017/04/ed-ferrando-garca-rtss-cef-399.pdf. Con
acceso el 06.05.2022.
43 APARICIO ALDANA, Rebeca, El problema de la videovigilancia laboral: entre el control empresarial y el derecho a
la protección de datos de los trabajadores; “Trabajo en Plataformas Digitales: innovación, derecho y mercado”.
Directores: TODOLÍ SIGNES, Adrián; HERNÁNDEZ BEJARANO, Macarena , España, Thomson Reuter. 2018.p.575.
SUMÁRIO
44 Se encuentra regulado en el articulo 45 del Código Civil Chileno estableciendo que “Se llama fuerza mayor o caso
fortuito el imprevisto a que no es posible resistir, como un naufragio, un terremoto, el apresamiento de enemigos,
los actos de autoridad ejercidos por un funcionario público, etc”.En materia laboral, se utiliza en la regulación de la
jornada y como causal de término del contrato de trabajo.
SUMÁRIO
A MODO DE CONCLUSIÓN
En este trabajo se ha intentado entregar un panorama de las relaciones laborales
post pandemia, en el cual las nuevas tecnologías y formas de comunicación han abierto
el debate respecto a la desconexión y el derecho a descanso, problema que se acrecienta
cuando hablamos de los trabajadores sin limitación de jornada.
Así en este trabajo se analizaron, variados conceptos que han surgido en este
período, tales como la hiperconectividad, el hipercontrol, entre otros, los cuales
irrumpen y que deben ser considerados a la hora de analizar la jornada de trabajo, las
facultades del empleador y el derecho a descanso del trabajador.
De esta manera, a juicio de la suscrita la única manera de lograr un descanso
efectivo es garantizando y protegiendo el derecho a desconectarse del trabajo y esto
sólo es posible con un cambio cultural, social y educacional, en donde la
disponibilidad no sea sobrevalorada, donde culturalmente respetemos el derecho del
SUMÁRIO
otro a tener vida personal, solo así se lograra una conciliación efectiva entre la vida
personal y la laboral.
En este contexto, hasta no lograr ese cambio, se debe prohibir no solo en las
relaciones laborales regidas por la ley de teletrabajo sino que en cualquier modalidad,
que el empleador ejerza comunicaciones e instrucciones por cualquier medio fuera de
la jornada laboral, salvo casos excepcionales como ya se indico.
Solo de esta forma, el derecho a descanso dejará de ser un derecho meramente
teórico, que solo leemos en los libros y que en la práctica en contados casos se ejerce de
manera efectiva.
Finalmente indicar que, la discusión actual en el sistema de relaciones laborales
chileno, referente a la rebaja de 45 a 40 horas semanales, a juicio de la suscrita carece
de toda importancia sino se garantiza y protege el derecho a desconectarse del trabajo
y por tanto, el derecho a descansar, debido a que el enfoque debe establecerse en esto
último, pues en caso contrario esta rebaja solo será una norma sin ningún tipo de
efecto real para las y los trabajadores.
REFERENCIAS
APARICIO ALDANA, Rebeca, El problema de la videovigilancia laboral: entre el control empresarial y el
derecho a la protección de datos de los trabajadores; “Trabajo en Plataformas Digitales: innovación, derecho
y mercado”. Directores: TODOLÍ SIGNES, Adrián; HERNÁNDEZ BEJARANO, Macarena , España,
Thomson Reuter. 2018.
AZÓCAR SIMONET, Rodrigo, Derecho a desconectarse del trabajo: una necesidad para conciliar la vida
personal y laboral, Centro de Políticas Públicas UC, Pontificia Universidad Católica, Santiago, Chile, 2019.
CARRO IGELMO, Alberto, Curso de Derecho del Trabajo, Barcelona, España, Bosh,1991.
FERNANDO GARCÍA, Francisca María, “Vigilancia y control de los trabajadores y derecho a la intimidad
en el contexto de las nuevas tecnologías”, Revista del Derecho del Trabajo y Seguridad Social, Nº399, 2016.
Disponible en: h�ps://www.observatoriovascosobreacoso.com/wp-content/uploads/2017/04/ed-ferrando-
garca-rtss-cef-399.pdf. Con acceso el 06.05.2022.
GAMONAL CONTRERAS, Sergio y Guidi Moggia, Caterina, “Manual del Contrato de Trabajo”, Santiago,
Chile, Legal Publishing, 2015.
FIGUEROA GARCÍA- HUIDOGRO, Rodolfo., Privacidad, Ediciones Universidad Diego Portales, Chile,
2014.
UGARTE CATALDO, José Luis, “El nuevo derecho del trabajo”, Santiago, Chile, Editorial Universitaria,
2004.
UGARTE CATALDO, José Luis, “Derechos Fundamentales, tutela y trabajo”, Santiago, Chile, Legal
Publishing, 1ª edición, 2018.
SUMÁRIO
WALKER ERRAZURIZ, Francisco, “Derecho de las Relaciones Laborales, Un Derecho vivo”. Santiago,
Chile, Editorial Universitaria, 2003.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 4
OS DESAFIOS DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS EM
TEMPOS DE COVID-19
Tânia Regina Silva Reckziegel
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Enfrentamos um dos maiores desafios sanitários e sociais com dimensão
global, momento em que a pandemia da COVID-19⁴⁶ intensificou a crise do capital e
as desigualdades sociais. O conhecimento científico nos mostrou a sua limitação
quanto ao combate do fatídico vírus, visto que por um lado temos pesquisadores
preocupados pela busca acirrada da cura, combate e prevenção, e por outro um vírus
que se alastra e contamina em ritmo desordenado, causando uma mortandade sem
fronteiras.
Ao adotar estratégias de isolamento social para prevenir a propagação do vírus,
a população brasileira, diante deste novo panorama, encontra-se em situação de
extrema vulnerabilidade, principalmente as comunidades de baixa renda. As políticas
sociais foram reduzidas, o desemprego vem se intensificando, grandes e pequenas
empresas estão diante de um colapso econômico e a única certeza que temos diz
respeito à importância dos saberes científicos e políticas de acesso à justiça em prol da
garantia do direito à saúde.
45 Desembargadora do Trabalho (TRT da 4.ª Região - RS). Conselheira do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Doutoranda em Ciências Jurídicas pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul,
UNIJUI, Brasil (2021). Mestre em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Possui Graduação em
Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Especialista em Gestão
Pública pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. La�es: h�p://la�es.cnpq.br/4639064998859556 E-
mail: taniasilvareck@gmail.com
46 O coronavírus diz respeito a um vírus respiratório, que se espalha através de gotículas geradas quando um
indivíduo infectado tosse ou espirra, através de secreção nasal ou até mesmo saliva (STURZA, 2020, p. 6).
SUMÁRIO
47 Quanto ao conceito de política pública: tal é um conjunto de decisões e ações adotadas por órgãos públicos e
organizações da sociedade, intencionalmente coerentes entre si, que, sob coordenação estatal, destinam-se a enfrentar
um problema político (SCHMIDT, 2018, p. 127).
48 Conforme Artigo 12, item 1, alínea C, Constituição Federal.
SUMÁRIO
o
49 Art. 6. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
o
desta Constituição (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 90, de 2015).
SUMÁRIO
segurança desses produtos, além de outras tantas discussões que fomentaram teses
divergentes de toda ordem, no meio científico, político e no âmbito da sociedade civil.
Nesse cenário, as medidas restritivas, inicialmente indicadas pelas autoridades
sanitárias e largamente defendidas pelos meios de comunicação, influenciaram e
indicaram o rumo das principais ações e políticas a serem implementadas pelo Poder
Público – a maioria voltada à adoção de uma rigorosa política de isolamento social,
que perdurou por alguns meses, impactando, severamente, a economia brasileira e
mundial. Naquele contexto, a indústria, o comércio, os serviços e os trabalhadores em
nosso país ocupavam o epicentro de uma grave crise, de natureza tríplice: sanitária,
econômica e social.
Sem dúvida, é preciso reconhecer que a saúde pública e a economia estão
consubstanciadas em pilares fundamentais do que chamamos bem-estar social, fator
que acentua a preocupação de todos os setores da sociedade e do governo brasileiro.
Nos primeiros meses da pandemia, a inexistência de um tratamento
comprovadamente eficaz ou cientificamente comprovado em meio ao crescimento do
número de mortos e da saturação do SUS impulsionou o Poder Público Federal à
adoção de ações emergenciais voltadas ao campo da saúde pública e preservação da
nossa economia, no intuito de salvaguardar, primeiramente, a saúde da população e,
concomitantemente, tentar preservar, ao máximo, o nível de empregos formais:
50 Previsão legal: Art. 65, da Lei 101 de 04 de maio de 2000. Disponível em: h�p://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
lcp/lcp101.htm
51 h�ps://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=MPV&numero=927&ano=2020&ato=615Azaq5EMZpWT390
SUMÁRIO
informais, não alcançados pela facilidade do sistema home office. Neste último caso, é
necessário reconhecer que o acesso ao trabalho e a mobilidade estão intimamente
ligados ao direito à vida ou sua manutenção, em qualquer democracia moderna.
Notadamente, os direitos civis e políticos dos cidadãos foram os primeiros a
sofrer limitações justificadas, não obstante, pela premente necessidade de
implementação de medidas sanitárias pontuais, no intuito de obter resultados
positivos na redução do contágio e propagação do vírus. Ademais, pela capacidade
limitada do SUS em nosso país.
A política pública de isolamento social e confinamento da população foi a
primeira providência tomada pelas autoridades brasileiras para combater a
propagação do vírus. Nesse contexto, o direito à liberdade individual de ir e vir passou
a sofrer mitigação em prol da saúde da coletividade.
Contudo, as condições de habitação de parcelas consideráveis da população
brasileira impuseram enormes entraves ao distanciamento social e à adoção das
medidas de higiene apontadas pelas organizações sanitárias como essenciais para
evitar a contaminação pelo vírus. Portanto, a conclusão a que chegamos é que, embora
necessário, como medida de contenção da propagação do vírus, o confinamento
domiciliar exitoso exige medidas complementares por parte do poder público, com
vista a garantir padrões mínimos de higiene, salubridade e bem-estar.
Quanto ao direito social de acesso ao trabalho e ao emprego, as medidas adotadas
pelo Governo Federal foram editadas com o propósito de garantir, ou minimizar, o
impacto da crise econômica global, com efeitos duradouros, muito além da própria
pandemia Covid-19.
Na seara das relações trabalhistas, duas Medidas Provisórias foram editadas: a
primeira, por meio da MP 927 de 22 março de 2020⁵², destinada às necessárias
reformas frente ao estado de calamidade pública e de emergência de saúde pública,
tais como: o teletrabalho, a antecipação de férias individuais, a concessão de férias
coletivas, o aproveitamento e a antecipação de feriados, o banco de horas, a suspensão
de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho e o diferimento do
recolhimento do FGTS. Após, a MP 936 de 20 de março de 2020, instituindo um
programa emergencial para regular a suspensão dos contratos de trabalho, bem como
a redução proporcional de jornada de trabalho e de salários, com a previsão de
pagamento do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda.
52 A medida provisória 927 de 22/3/20 dispõe sobre as medidas trabalhistas para enfrentamento do estado de
calamidade pública reconhecido pelo decreto legislativo 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde
pública de importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19). Sua vigência foi encerrada em
19/07/2020. Disponível em: h�p://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/mpv/mpv927.htm.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A crise desencadeada pelo Covid-19 exigiu ações governamentais rápidas e,
muitas vezes, controversas, contemplando medidas de ampla abrangência, como o
estímulo ao distanciamento social e a ampliação da capacidade de serviços de saúde,
como a instituição de hospitais de campanha e medidas de apoio econômico a
cidadãos, a famílias e a empresas, além da implementação urgente da renda básica
emergencial.
Não resta dúvida, porém, que seguimentos socialmente mais carentes e, portanto,
vulnerabilizados enfrentam os maiores riscos e têm sido, no que diz respeito aos
direitos humanos, os mais prejudicados. A pandemia, nesse sentido, só serviu para
acentuar o problema da desigualdade social e, o que é mais preocupante, a
desigualdade de acesso aos bens da vida: saúde, liberdade, segurança, educação,
moradia de qualidade, equidade de gênero, entre outros direitos fundamentais ao
bem-estar social.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA SENADO. Desigualdade e abusos na pandemia impulsionam cobranças por direitos
humanos. Disponível em: <h�ps://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2020/08/desigualdade-e-
abusos-na-pandemia-impulsionam-cobrancas-por-direitos-humanos. Acesso em 30 abr 2022.
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Medidas de Enfrentamento à Crise Sanitária da Covid-19: Propostas para o Aperfeiçoamento da Ação
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index.php?option=com_content&view=article&id=35439>. Acesso em: 30 abr 2022.
SENHORAS, Elói Martins; ELIAS, Maurício. COVID-19, Política e Direito. Boa Vista: Editora da UFRR,
2020.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 5
A SAÚDE COMO BEM
PÚBLICO GLOBAL
a vacina na pandemia Covid-19
entre o público e o privado
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A pandemia da Covid-19, que de forma avassaladora se proliferou por todo o
mundo, afetando diretamente a vida e a saúde das pessoas, mostra o quanto o ser
humano continua vulnerável quando se trata de saúde. Sendo assim, faz-se necessário
entender a dinâmica universalista das relações econômicas, sociais, políticas e
históricas, ocasionadas principalmente pelo fenômeno da globalização.
Em um cenário de globalização, neste contexto global de rápidas transformações,
mudança no padrão das doenças, diversidades dos atores que atuam nos múltiplos
cenários, a saúde deve ser vista e entendida como um bem público global, bem
comum e direito da humanidade.
53 Excerto do projeto de tese “O DIREITO À SAÚDE COMO BEM COMUM DA HUMANIDADE NA PERSPECTIVA
DA METATEORIA DO DIREITO FRATERNO: O ACESSO À VACINAÇÃO COMO MEDIDA DE
ENFRENTAMENTO GLOBAL DA PANDEMIA COVID-19” realizado pelo Doutorando Evandro Luis Sippert do
Programa de Pós-graduação do Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos – Unijuí.
54 Doutorando em Direito pelo PPGD – Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ. Mestre em Direito pela UNIJUÍ, Bacharel em Direito pela
Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ, Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul - PUC/RS, MBA em Gestão das Tecnologias de Informação e Comunicação em Educação pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/RS, Pós-Graduação em Docência do Ensino
Superior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Advogado. Contato: evandro.sippert@gmail.com.
55 Professora Orientadora - Pós doutora em Direito pela Unisinos. Doutora em Direito pela Universidade de Roma Tre/
Itália. Mestre em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Especialista em Demandas Sociais e
Políticas Públicas também pela UNISC. Professora na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul – UNIJUI. e-mail: janasturza@hotmail.com. Email: janasturza@hotmail.com.
SUMÁRIO
alcançar não somente um amplo espectro de países, mas sim um amplo espectro de
população global (KAUL, GRUNBERG, STERN, 2012).
Num mundo globalizado, um bem público global, do qual depende o bem-estar
das pessoas, dever ser marcado pela sua universalidade. Deve beneficiar mais de um
grupo de países, não discriminando entre qualquer segmento populacional ou
conjunto de gerações atuais ou futuras.
Porém, em se tratando de saúde, nem todas as doenças são prováveis de atingir
todos os países globalmente, sendo que alguns países podem apresentar pouca
preocupação quanto à expansão de algumas doenças. Também alguns países podem
ter condições e capacidades médicas para cuidar dos cidadãos que contraírem
determinadas doenças, dentro das suas fronteiras. Porém, sempre existem algumas
doenças que preocupam a todos os países; um conhecimento abrangente global em
saúde a todos beneficia (ZACHER, 2012).
A saúde se amolda a características de bem público, quer seja por meio dos
vínculos internacionais, na migração, e também pelo fluxo de informações que
aceleram a transmissão através das fronteiras de doenças e da transferência
internacional dos riscos à saúde comportamentais e ambientais. Também em
decorrência da globalização introduzir mudanças contextuais “que são
qualitativamente e quantitativamente diferentes em riscos de doença, vulnerabilidade
da saúde e resposta política” (CHEN, EVANS, CASH, 2012, p. 338).
Desta forma, em um cenário de globalização, neste contexto global de rápidas
transformações, mudança no padrão das doenças, diversidades dos atores que atuam
nos múltiplos cenários, a saúde deve ser vista e entendida como um bem público
global, bem comum e direito da humanidade, principalmente num momento de crise
sanitária, advinda da pandemia da Covid-19.
devido à grande importância de uma tomada de decisão neste sentido, com uma
decisão política internacional, não ficaria espaço para uma possível retaliação contra a
decisão.
Há que salientar que ante à grave crise sanitária e humanitária, em se tratando de
saúde, bem comum global, é premente que se tome medidas para que a vacina possa
ser disponibilizada mundialmente. A vacinação como forma de promover a saúde
necessita ultrapassar todos os tipos de fronteiras e obstáculos, alcançando todas as
pessoas que, diretamente ou indiretamente, estão sendo ou serão afetadas pela
pandemia, o que somente ocorrerá, em um mundo globalizado, se forem tomadas
ações coletivas, em detrimento de tomadas de decisões individuais. As respostas
eficazes de combate ao coronavírus e às necessidades de saúde são um conjunto de
necessidades sociais e globais que perfectibilizam um bem viver em comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do apresentado, verifica-se que a pandemia da Covid-19 se alastrou por
todo o mundo, mostrando diuturnamente o quanto as pessoas continuam vulneráveis,
principalmente no tocante à saúde, pois, apesar dos avanços tecnológicos e científicos,
a falta de saúde afeta toda a ordem mundial, social e econômica, também mostrando
o quanto o ser humano ainda é extremamente frágil neste aspecto.
Denota-se também que o fenômeno da globalização alterou significativamente o
mundo. Desta forma, garantir o acesso à saúde como um bem público global, assim
como o direito à saúde de forma universal, na pandemia da Covid-19, em um mundo
globalizado e multifacetado, representa uma importante prerrogativa à vida.
Destaca-se que, para enfrentar a pandemia, a vacinação por meio da imunização
mostra-se como um dos mecanismos mais efetivos para frear o desenvolvimento e a
proliferação da Covid-19. Porém, apesar de todo o empenho da comunidade científica
internacional na produção de vacinas, as patentes das mesmas estão adstritas a
grandes conglomerados internacionais, sendo que a quebra ou a relativização das
patentes, mesmo de forma temporária, permitindo que outros países pudessem dispor
e fabricar vacinas, poderia amenizar a tragédia humana, a qual, atualmente, já passa de
milhões de mortes em todo o mundo.
A pandemia apresenta-se como uma crise global de caráter sanitário e
humanitário e que exige, em certa medida, que se produzam respostas eficazes de
combate ao coronavírus e às necessidades de saúde, as quais são um conjunto de
necessidades sociais globais, como a vacinação universal. Uma tomada de decisão em
relação à quebra de patente das vacinas poderia significar um avanço significativo no
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
AITH, Fernando Mussa Abujamra. Direito à Saúde e Democracia Sanitária. São Paulo: Quartier Latin,
2017.
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GOMES, José Maria. Política e democracia em tempos de globalização. Petrópolis: Vozes, 2000.
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SUMÁRIO
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STURZA, Janaína Machado; SIPPERT, Evandro Luis. A Pandemia Covid-19 Como Um Inimigo Invisível E
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VENTURA, Desy. Direito e saúde global – o caso da pandemia de gripe A (H1N1). São Paulo: Dobra
Editorial, 2013.
CAPÍTULO 6
ACESSO À JUSTIÇA EM
TEMPOS DE PANDEMIA
DE COVID19
uma solução consensual para os
conflitos sanitários
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Quando se fala em Acesso à Justiça, alguns pontos são de vital importância. O
primeiro sem dúvida foi apresentado pelo jurista Kazuo Watanabe (1988), que destaca
que a problemática do acesso à Justiça não pode ser estudada nos acanhados limites
do acesso aos órgãos judiciais já existentes. Não se trata apenas de possibilitar o acesso
56 Pesquisa resultante do projeto “Ontem, hoje e amanhã: cartografia das políticas públicas brasileiras auto e
heterocompositivas de acesso à justiça” financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande
do Sul – Fapergs, Edital 07/2021 – PqG – Pesquisador Gaúcho, processo nº 21/2551-0002322-8 e pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, Edital Processo: 407119/2021-3, Chamada CNPq/
MCTI/FNDCT Nº 18/2021 - Faixa B - Grupos Consolidados.
57 Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Pq2). Pós-doutora em Direito pela Università degli Studi di Roma
Tre, em Roma, na Itália, com bolsa CNPq (PDE). Doutora em Direito pelo programa de Pós-Graduação stricto sensu
da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – RS, com bolsa Capes, mestre em Desenvolvimento
Regional, com concentração na área Político Institucional da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC – RS,
docente dos cursos de Graduação e Pós Graduação lato e stricto sensu da UNISC, Líder do Grupo de Pesquisa
“Políticas Públicas no Tratamento dos Conflitos” vinculado ao CNPq; coordenadora do projeto de pesquisa “Ontem,
hoje e amanhã: cartografia das políticas públicas brasileiras auto e heterocompositivas de acesso à justiça” financiado
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – Fapergs, Edital 07/2021 – PqG –
Pesquisador Gaúcho, processo nº 21/2551-0002322-8 e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico CNPq, Edital Processo: 407119/2021-3, Chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 18/2021 – Faixa B –Grupos
Consolidados, coordenadora e mediadora do projeto de extensão: “A crise da jurisdição e a cultura da paz: a
mediação como meio democrático, autônomo e consensuado de tratar conflitos” financiado pela Universidade de
Santa Cruz do Sul –UNISC; autora de diversos livros e artigos científicos. E-mail: fabiana@unisc.br.
58 Doutoranda em Direito sob a linha de pesquisa Dimensões Instrumentais das Políticas Públicas na Universidade de
Santa Cruz do Sul – UNISC, Mestre em Direito da Saúde: Dimensões Individuais e Coletivas, pela Universidade
Santa Cecília – UNISANTA (2019), Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie (2007). Integrante do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas no Tratamento dos Conflitos liderado pela
professora Pós-Dra. Fabiana Marion Spengler. E-mail: thais.oliva@terra.com.br.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os conflitos na área da saúde têm crescido com o passar dos anos e ganharam
novos contornos com o advento da Pandemia da COVID-19. Porém, foi possível
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
AITH, F; Saturnino, LTM; Diniz, MG; Monteiro, TC. Saúde e Direito: Um Diálogo Possível. Belo
Horizonte, Ed. Escola de Saúde Pública de Minas Gerais, 2010.
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30 abr. 2022.
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providências. Disponível em: < h�p://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/
L13140.htm>. Acesso em: 30 abr. 2022.
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MIKLOS, J.; MIKLOS, S. Mediação de Conflitos. São Paulo: Saraiva, 2021. E-book.
______. O fórum múltiplas portas como política pública de acesso à Justiça e à pacificação
social. Curitiba: Multideia, 2013.
SPENGLER NETO, T.; BECKER, J.C.; QUADROS, L. P. de. O juiz, a jurisdição e a celeridade
processual: implementação de políticas públicas em busca de prestação jurisdicional
SUMÁRIO
adequada. In: SPENGLER, F. M.; NETO, T.S. (Org.). Políticas Públicas para o acesso à justiça.
Santa Cruz do Sul: Essere nel mondo, 2019. p. 71-87.
SCHULZE, Clenio Jair. Novos números sobre a judicialização da saúde. In Empório do Direito.
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saude-por-clenio-jair-schulze/. Acesso em 10 abr.22.
TARTUCE, Fernanda. Mediação nos conflitos Civis. Rio de Janeiro: Método, 2018.
WATANABE, Kazuo. Acesso à Justiça e sociedade moderna. Participação e processo. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1988.
CAPÍTULO 7
INSEGURANÇA
ALIMENTAR E ACESSO
À JUSTIÇA NO BRASIL
DA COVID 19
Maurício Soares de Sousa Nogueira / Gabriela Maia Rebouças
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O Brasil pandêmico viu suas desigualdades econômica e social serem
agudizadas. A desigualdade, por sua vez, traz consigo consequências terríveis, sendo
talvez a pior delas a questão da fome e da insegurança alimentar.
A economia brasileira, que já não vinha bem (CARRANÇA, 2021), vive um dos
piores momentos da história, fruto não apenas da Covid 19, mas principalmente das
políticas e decisões de governo equivocadas. Negacionismo (ESTUDO, 2021;
FONSECA; NATTRASS; LAZARO; BASTOS, 2021), rejeição de ofertas de vacina
(GUEDES, 2021; CARVALHO; CANCIAN, 2021; GASPAR, 2021), ausência de uma
política nacional e integrada de combate ao vírus (BRUM, 2021; ESTUDO, 2020),
ausência de uma política séria de isolamento social, aposta estatal em tratamentos não
aprovados pela ciência (SHALDERS, 2021; MINISTÉRIO, 2022). Esses são alguns dos
exemplos da condução errática feita pelo governo brasileiro neste período de crise
sanitária sem precedentes recentes, considerada desastrosa por parte da comunidade
59 Possui graduação em Direito pela Universidade Tiradentes (2011), MBA em Direito Tributário pela Fundação
Getúlio Vargas e Mestrado em Direito pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Já foi professor de Direito
Tributário da Universidade Federal de Sergipe e atualmente é docente da Estácio/SE. Hoje cursando o Mestrado
em Ciências da Religião na UFS e o Doutorado em Direito na Unit. E-mail: mausoares10@hotmail.com.
60 Doutora em Direito pela UFPE, com estágio pós-doutoral com bolsa CAPES (2015/2016) junto ao Centro de
Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Docente do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos
da Universidade Tiradentes-UNIT/SE; Docente do Programa de Pós-Graduação em Sociedade Tecnologias e
Políticas Públicas (SOTEPP) do Centro Universitário Tiradentes-UNIT/AL. Líder do grupo Acesso à justiça,
direitos humanos e resolução de conflitos, cadastrado no CNPq. Email: gabriela_maia@unit.br
SUMÁRIO
61 Conferir, por exemplo, matéria da jornalista Malu Gaspar (2021), na Revista Piauí.
62 A título de exemplo, conferir INSTITUTO, 2021.
63 “O discurso é hoje elitista, cientificista, universalista, moralizador, técnico e teórico. Não há dúvida de que estamos
em excelente ambiente para o jurista, que, a cada decisão, reafirma, na figura do juiz, do advogado ou do
doutrinador, a sua importância central no regime republicano. Este trabalho, entretanto, coloca dúvida em relação à
utilidade desse discurso, hoje, para a democracia e para a implementação tolerante e honesta dos direitos humanos”
(KAUFMANN, 2011, p. 383).
SUMÁRIO
64 É o caso mais recente da Medida Provisória nº 1.105, de 17 de março de 2022, que dispõe sobre a possibilidade de
movimentação da conta vinculada do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS.
65 Constituía uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) – o mais alto nível de alerta da
Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional.
SUMÁRIO
ainda em fevereiro de 2020, um paciente que havia voltado de viagem à Itália. Dois
anos depois, dados oficiais do governo brasileiro já haviam registrado mais de 28
milhões de casos no país.
A pandemia rapidamente impôs no mundo inteiro, e também no Brasil, um
contexto de restrições e paralizações das atividades ordinárias da população. Comércio
fechado, restrições severas à circulação de pessoas, encorajamento ao isolamento social
e ao trabalho remoto foram algumas das medidas que impactaram sensivelmente as
condições de sobrevivência da população e criaram desafios ainda maiores para
aqueles que já estavam em condição de vulnerabilidade, social ou econômica.
No tropeço de sua forma de gestão, o governo brasileiro passou a implementar
medidas emergenciais de proteção ao trabalho, com suspensão de contratos e
benefícios emergenciais, e implementou mecanismo de auxílio emergencial para as
famílias em situação de informalidade, desemprego ou pobreza. Essas medidas foram
fundamentais, mas, ainda assim, além de não atingirem todas as pessoas que
precisavam (compreensível em função de questões burocráticas), não foram suficientes
para impedir o agravamento das condições alimentares da população brasileira.
Em 2021, uma pesquisa nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da
Pandemia da Covid-19 no Brasil, empreendida pela Rede Brasileira de Pesquisa em
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), mostrou que,
naquele ano, menos da metade dos domicílios brasileiros (44,8%) tinha seus(suas)
moradores(as) em Segurança Alimentar. “Dos demais, 55,2% que se encontravam em
Insegurança Alimentar, 9% conviviam com a fome, ou seja, estavam em situação grave,
sendo pior essa condição nos domicílios de área rural (12%)” (VIGISAN, 2021).
66 “A forma jurídica preserva seu núcleo necessário em face do Estado, não porque o jurídico seja maior que o político,
mas porque ambas as formas não podem ser submetidas uma à outra a ponto de deixarem de existir. Derivam todas
de uma mesma forma comum, do valor e da mercadoria, que demanda não uma ou outra, mas sim uma e
outra”(MASCARO, 2013, p. 134).
67 “Nesse sentido, a constitucionalização simbólica também se apresenta como um mecanismo ideológico de
encobrimento da falta de autonomia e da ineficiência do sistema político estatal, sobretudo com relação a interesses
econômicos particularistas. O direito fica subordinado à política, mas a uma política pulverizada, incapaz de
generalização consistente e, pois, de autonomia operacional” (NEVES, 2011, p. 152).
SUMÁRIO
68 Ativo e para além, muitas vezes confuso, sendo um player imprevisível em termos de estabilização de expectativas
contrafáticas, tomando aqui o conceito de direito do próprio Luhmann, a quem Neves se socorre para apresentar
sua teoria da constitucionalização simbólica.
69 “Nunca, na história republicana do país, juízes e promotores alcançaram tanta evidência como agora. Graças às
prerrogativas concedidas pela constituição de 1988, as duas corporações estão presentes na vida econômica,
influenciando a agenda política” (FARIA, 2004, p. 103).
70 Aqui refutamos a hipótese de que o protagonismo do judiciário teria sido decorrente do vácuo político
administrativo deixado pelo poder executivo brasileiro. Com a redemocratização, se de fato o poder executivo deixa
de autoritariamente concentrar poderes, por outro lado, nosso presidencialismo mantém claro que o protagonismo
do executivo continua em primeiro plano, seja com ações ou omissões estrategicamente decididas. Seja na ampla
utilização de medidas provisórias, seja na construção de programas de governo como o bolsa família (atualmente
auxílio brasil), seja no desenvolvimento do Sistema Único de Saúde, exemplos de forte atuação o executivo.
71 A este respeito, conferir, a título de ilustração, AS MENSAGENS, 2019-2022.
SUMÁRIO
72 “No caso em análise, a Constituição prevê como um dos objetivos a construção de uma sociedade justa e mais
igualitária, porém não apresenta critérios concretos, apenas anuncia diretrizes. Ao reafirmar esse objetivo
constitucional na lei que organiza a Defensoria Pública, essa instituição passa a ser ferramenta para a construção
daquele objetivo constitucional, ou seja, a busca por uma sociedade mais igualitária” (RIBAS, 2014, p. 58).
SUMÁRIO
73 “Os conflitos decorrentes da insatisfação do usuário do SUS com o tempo de espera por atendimento há anos
encontra eco no sistema de justiça. São inúmeras e comuns ações para obter acesso a serviços de saúde disponíveis,
mas com extenso tempo de espera por atendimento” (FREITAS FILHO E SANT’ANA, 2016, p. 74).
SUMÁRIO
74 “Dessa maneira, o programa Fome Zero trata-se de uma política pública de atuação integrada de ministérios do
governo federal, por intermédio da intersetorialidade e transversalidade das ações estatais, proporcionando uma
gestão articulada e planejada, pautada no princípio da segurança alimentar, possibilitando, citem-se, melhorias nas
condições de acesso e consumo de alimentos saudáveis, abastecimento de água, saúde, escolarização, geração de
ocupação e renda” (RIBEIRO, 2021, p. 225).
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
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SUMÁRIO
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CAPÍTULO 8
AS BARREIRAS CULTURAIS
ASSOCIADAS AOS
ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO
possíveis estímulos às práticas
discriminatórias no mercado de
trabalho e os óbices impostos na
garantia de oportunidades equânimes
entre os gêneros
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo trata das barreiras culturais e dos estereótipos de gênero no
ambiente de trabalho como uma forma de estímulo e manutenção da violência contra
as mulheres nesse ambiente. Para isso, buscar-se-á provocar um debate necessário na
pauta tradicional do mercado de trabalho, pouco voltada para as questões que dizem
respeito à saúde física e psíquica das mulheres trabalhadoras.
As pressões trazidas ao mundo do trabalho, principalmente pelo avanço das
novas tecnologias, estão intensificando os problemas na saúde mental dos
75 Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, com Pós Doutoramento em Direitos
Sociais pela Universidade de Burgos-Espanha, com Bolsa Capes. Professora da Graduação, Mestrado e Doutorado
em Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul-RS - UNISC. Coordenadora do Grupo de Estudos Direito,
Cidadania e Políticas Públicas. MBA em Gestão de Aprendizagem e Modelos Híbridos de Educação. Especialista
em Direito Processual Civil. Psicóloga com Especialização em Terapia Familiar Sistêmica. Membra do Conselho
Consultivo da Rede de Pesquisa em Direitos Humanos e Políticas Públicas. Membra do Núcleo de Estudos
Jurídicos da Criança e do Adolescente – NEJUSCA/UFSC. Membra do Conselho Editorial de inúmeras revistas
qualificadas no Brasil e no exterior. Autora de livros e artigos em revistas especializadas. La�es: h�p://
la�es.cnpq.br/2928694307302502. ORCID: h�p://orcid.org/0000-0003-3841-2206. E-mail: marlim@unisc.br.
76 Doutoranda em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), com bolsa PROSUC-CAPES. Mestra em
Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social pela Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ). Especialista em
Ensino da Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e em Direito Constitucional pela Faculdade
Cidade Verde (FCV). Bacharela em Direito (UNICRUZ). Graduanda em História (UFPel). Integrante do Grupo de
Pesquisa em Direito dos Animais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), do Grupo de Pesquisa em
Direito, Cidadania e Políticas Públicas (UNISC) e do Grupo de Pesquisa Jurídica em Cidadania, Democracia e
Direitos Humanos (UNICRUZ). Professora e advogada. La�es: h�p://la�es.cnpq.br/5462241417886493. ORCID:
h�p://orcid.org/0000- 0003-4767-016X. E-mail: nariel.dio�o@gmail.com.
SUMÁRIO
monetária de produção. Não é visível porque não é uma atividade paga; por isso, a
necessidade de um maior esforço no reconhecimento desse trabalho não remunerado,
com um uma enorme importância social.
Ba�hyány (2004) afirma que em todas as sociedades os indivíduos necessitam
realizar três atividades essenciais: a) o trabalho produtivo, b) o trabalho doméstico e c)
o cuidado com os filhos e doentes. Nesses termos, o primeiro possui natureza social e
coletiva, através do qual se produz bens, que constituem riqueza social. A forma como
esse trabalho é organizado depende das condições históricas de cada sociedade, que
dá origem aos diferentes modos de produção, por exemplo, escravidão, vassalagem,
capitalismo etc. Em segundo lugar, o trabalho doméstico, de natureza individual, é
aquele por meio do qual as necessidades diárias são atendidas, como alimentação,
higiene, saúde, manutenção da casa, dentre outros. Por fim, a criação das crianças é o
meio pelo qual a noção de moral, os hábitos e costumes da comunidade são
transmitidos, garantindo, desta forma, a reprodução do imaginário cultural da
sociedade.
O trabalho produtivo se desempenha em uma jornada prefixada por
determinado tempo (até a aposentadoria). O trabalho doméstico, por sua vez, será
desempenhado todos os dias ao longo da vida de uma pessoa. O mesmo ocorre com a
criação dos filhos, que deve ser exercido ao longo dos anos, todos os dias e a toda hora.
De acordo com Simone de Beauvoir, a mulher sempre exerceu um papel limitado à
passividade, sendo que a vida, a força e a energia, por exemplo, eram atreladas à figura
masculina. Nesse sentindo, a sociedade espera da mulher um determinado tipo de
comportamento que não extrapole os limites dados a ela. Ou seja: o encargo que a
sociedade impõe à mulher é considerado como um serviço prestado ao esposo; em
consequência, ele deve à esposa presentes ou uma herança e compromete-se a
sustentá-la. Logo, a sociedade se desobriga em relação à mulher.
Os direitos que a esposa adquire cumprindo seus deveres traduzem-se por
obrigações a que o homem se submete (BEAUVOIR, 1983, p. 549). Esse paradigma está
fortemente ligado à economia do cuidado, que se refere aos elementos de cuidado com
as necessidades mais básicas da existência e reprodução das pessoas (ENRÍQUEZ,
2007). Os trabalhos de reprodução, historicamente atribuídos às mulheres, são
invisíveis ao mercado, muito embora sejam de especial importância à criação e
manutenção da vida humana, da força de trabalho e da sustentação das engrenagens
do sistema capitalista.
Nesses termos, a divisão sexual do trabalho relaciona-se a aspectos
comportamentais, sociais e culturais construídos sobre o papel da mulher na
sociedade, na família e na manutenção da força de trabalho. Essa compreensão
SUMÁRIO
se que a jornada média semanal das mulheres superava em 7,5 horas a dos homens
(53,6 horas semanais das mulheres e 46,1 a dos homens). Outro fator interessante de
análise é a influência da renda no engajamento do trabalho doméstico. Quanto maior
a renda da mulher e/ou família, menor a proporção das que afirmam realizar
atividades domésticas. Constata-se, portanto, que os avanços com relação à igualdade,
ao menos no que se refere ao uso do tempo, têm avançado mais nas classes mais altas
(IPEA, 2017).
Os estigmas vinculados à ocupação do tempo da mulher ainda permanecem,
numa sociedade com fortes resquícios da cultura patriarcal: a mulher responsabilizada
pelo trabalho doméstico e pelo cuidado dos filhos e dos doentes acaba por ter
prejudicada a possibilidade de ser considerada uma trabalhadora ideal. Impactadas
pela dupla jornada e pela divisão sexual do trabalho, as mulheres, mesmo com mais
estudo, recebem salários menores, são empregadas em condições mais precárias e
sofrem com o sexismo institucional, assédio moral e sexual, e tem menos incentivos de
progredir na carreira, para assumir postos de comando (BATTHYÁNY, 2004, p. 64).
A divisão sexual do trabalho acaba por dificultar o ingresso e a permanência da
mulher no mercado laboral e consequentemente na economia. Restrita ao espaço
doméstico, a participação feminina na construção política, econômica e cultural ainda
é mínima, o que prejudica o desenvolvimento social. Essa situação é demonstrada a
partir das informações disponibilizadas pelo IPEA (2017), que aduz que entre aquelas
com renda de até 1 (um) salário-mínimo, 94% dedicavam-se aos afazeres domésticos,
comparados a 79,5% entre as mulheres com renda superior a 8 salários mínimos. No
caso dos homens, observa-se uma maior proporção dos que realizam afazeres
domésticos nas faixas mais altas de renda, sendo maior entre aqueles que auferem
entre 5 e 8 salários-mínimos (57% deles realizavam afazeres domésticos, enquanto
entre aqueles com renda mais baixa, cerca de 49% realizavam) (IPEA, 2017).
Estatísticas mais recentes (2016 e 2017) indicam que a participação das mulheres
em tarefas domésticas ainda é maior que a participação masculina, tanto nos afazeres
domésticos, quanto na categoria cuidados. As únicas funções domiciliares que os
homens destinam mais tempo incluem pequenos reparos ou manutenção do lar e
reparo de veículos ou eletrodomésticos, na proporção de 68% para eles e 37% para
elas. As estatísticas do período demonstram que 40% das mulheres destinam seu
tempo aos cuidados, contra 28% dos homens. Em relação aos afazeres domésticos, esse
percentual chega a 94% para elas e 79% para eles. Os índices são ainda mais
antagônicos se consideradas as tarefas que envolvem o preparo de alimentos, lavar
louças, roupas e sapatos: 37 pontos percentuais (IPEA, 2018). Considerando os dados
coletados entre o período de 2001 e 2015, verifica-se o seguinte resultado:
SUMÁRIO
Em estudo realizado por Pinho e Araújo (2012), o qual avaliou a relação entre
trabalho doméstico, trabalho profissional e saúde mental, verificou-se que mulheres
empregadas e mulheres donas de casa passavam por um adoecimento mental
produzido por fatores distintos, contudo, ambos os grupos experimentam níveis
semelhantes de sintomas depressivos. No trabalho doméstico, os sintomas estavam
associados à rotina das tarefas, desvalorização e interrupções constantes das mulheres.
Outros fatores que influenciam nessa sobrecarga são a idade, situação conjugal,
número de filhos e lazer, assim como o trabalho reprodutivo não remunerado, fatores
que também intensificam o sofrimento psíquico entre a população feminina.
Não há como deixar de mencionar a condição das mulheres trabalhadoras que
também são vítimas da violência doméstica. Somado a todo o estresse da sobrecarga
feminina, há as consequências biopsíquicas sofridas em virtude da violência. De
acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (2022), na maioria das mulheres
vítimas da violência intrafamiliar foram detectados sinais e sintomas depressivos e
ansiosos, perturbação do sono, transtornos alimentares como a anorexia, a bulimia, a
compulsão para comer, fobias de vários objetos, dificuldades sexuais, manifestações
psicossomáticas como taquicardia, dores no peito, hipertensão arterial, síndrome do
intestino irritável, sangramentos uterinos, dores pélvicas, dores osteomusculares, além
de queda da imunidade, com maior predisposição a infecções bacteriana e viral. Tem
sido ressaltado também uma maior incidência de alcoolismo, tabagismo e uso abusivo
de calmantes entre estas mulheres.
Os índices trazidos por Pinho e Araújo (2012), obtidos com base em pesquisa
realizada com mais de 700 mulheres, exteriorizam um preocupante cenário. Conforme
as pesquisadoras, evidenciou-se a ocorrência de transtornos mentais entre as mulheres
(numa proporção de 4 em cada 10 mulheres estudadas). As pesquisadoras ainda
indicaram que outros estudos brasileiros já demonstraram uma variação de 24,9% a
45% de mulheres acometidas por referidos transtornos no país. Em comparação a
outros países, chegou-se ao resultado de 27% em Santiago (Chile) e 18% na Grã
Bretanha. Esse cenário demonstra a necessidade do fomento à discussão em torno das
questões relativas ao gênero. As autoras continuam:
77 Essa expressão refere-se a transtornos mentais comuns, situação de saúde que não preenche critérios formais
suficientes para diagnósticos de depressão e/ou ansiedade.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os papéis sexuais, definidos com base em estereótipos de gênero, são o aspecto
central para a manutenção das desigualdades entre homens e mulheres no trabalho,
tornando-se uma barreira para a emancipação e autonomia feminina e ocasionando a
SUMÁRIO
sobrecarga do trabalho da mulher que, obrigada a ser uma super heroína que deve dar
conta de todas as demandas pessoais e profissionais, acaba esquecendo da própria
saúde e do autocuidado para atender aos anseios da sociedade capitalista e patriarcal.
Em virtude de tudo que é exigido para as mulheres, as doenças e transtornos
biopsíquicos tem crescido exponencialmente, principalmente durante a pandemia em
que, além de continuarem exercendo suas funções profissionais, as mulheres passaram
a trabalhar mais intensamente nos lares, por causa da maior presença das famílias no
ambiente privado. Além disso, uma complexidade de fatores tem evidenciado que as
mulheres estão sendo as mais afetadas pelo desemprego e as que mais assumem
funções precárias e informais, principalmente se considerado o período da pandemia.
Para piorar esse cenário, os índices de pobreza também aumentaram e foram as
mulheres as principais vítimas, evidenciando a existência da chamada feminização da
pobreza e gerando um debate que irá transcender para o pós-pandemia.
A partir do exposto neste artigo, verifica-se que há viabilidade de transformar o
cenário em que vivem as mulheres, mas isso depende da atuação de uma frente ampla,
formada por empresas, Estado e sociedade, na condução de políticas e ações mais
benéficas às mulheres, que carregam toda uma carga de responsabilidades que é
inerente ao seu gênero. Portanto, é emergente a inserção de uma lente de gênero no
mercado do trabalho, o que pode ser possibilitado pelas teorias da economia feminista,
capazes de demonstrar a necessidade de romper com hábitos e costumes que
hierarquizam os gêneros e os grupos sociais.
A economia feminista compreende que o trabalho doméstico e reprodutivo deve
ter lugar na agenda política, na medida em que o combate às desigualdades de gênero
no mercado fazem parte dos propósitos de um país democrático como o Brasil. Temas
como a redefinição dos trabalhos produtivo e reprodutivo, a corresponsabilização dos
homens nas tarefas do cuidado, além da estruturação e ampliação de serviços sociais e
a construção de alternativas solidárias são formas de romper com a lógica dominante
e possibilitar outras expressões da economia.
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SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes. São Paulo: Expressão Popular, 2013.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 9
DIREITOS REPRODUTIVOS
DAS MULHERES NO CENTRO
DA BIOPOLÍTICA
o caso das esterilizações forçadas no Peru
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este artigo pretende, a partir da perspectiva da biopolítica, analisar aspectos do
controle reprodutivo executado no Peru, especificamente por meio de esterilizações
forçadas. Trata-se de tema que apresenta especial relevância, uma vez que os corpos
das mulheres permanecem sendo alvo de políticas de planejamento familiar e de
anticoncepção direcionadas à seleção eugênica, assim como em função de, no Peru,
ainda não ter havido uma responsabilização civil ou penal pelas esterilizações
forçadas realizadas no governo Fujimori.
O artigo foi construído tendo por problema de pesquisa a seguinte pergunta: é
possível pensar as esterilizações forçadas perpetradas entre os anos de 1996 a 2000 no
Peru de Fujimori como uma forma de controle biopolítico?
Como objetivo geral, a pesquisa busca evidenciar, a partir do marco teórico da
biopolítica, que as esterilizações forçadas ocorridas no Peru revelam uma atuação
estatal seletiva. Para dar concretude ao objetivo geral, os objetivos específicos do texto,
que se refletem na sua estrutura em duas seções, são: a) Contextualizar, a partir da
perspectiva biopolítica, fenômenos como o uso de pílulas anticoncepcionais, a
realização de esterilizações forçada de mulheres, o planejamento familiar, que podem
78 Mestranda em Direitos Humanos pela UNIJUÍ com bolsa CAPES/PROSUC. Pós-graduanda em Direito
Previdenciário pela EBRADI. Bacharela em Direito pela UNICRUZ. Integrante do Grupo de Pesquisa Biopolítica e
Direitos Humanos. E-mail: fernanda_lbs@hotmail.com.
79 Doutora em Direito Público pela UNISINOS. Mestra em Direitos Humanos pela UNIJUÍ. Professora-pesquisadora
do Programa de Pós-graduação – Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos – da UNIJUÍ; Professora do Curso
de Graduação em Direito da UNIJUÍ. E-mail: joice.gn@gmail.com.
SUMÁRIO
ser interpretados como formas de controle biopolítico e de atuação estatal seletiva que
suprime de – algumas – mulheres a liberdade de decidirem ter ou não filhos/as; b)
Estudar a maneira como se deu a política de esterilização forçada no Peru nos anos
1996 a 2000, assim como a repercussão do caso até os dias atuais, diante da inexistência
de responsabilização civil ou penal.
O método de pesquisa empregado foi o hipotético-dedutivo, mediante o
emprego de técnica de pesquisa bibliográfica.
formas políticas de controle sobre a vida, mas, também, do status de quem exerce o
domínio da própria biopolítica: os homens. Acerca desse assunto, Wermuth e
Nielsson (2016, p. 16) salientam que “na biopolítica, em que o sexismo estabelece a
cesura entre a vida que merece viver e merece morrer, a decisão entre vida e morte do
corpo feminino está entregue às mãos do soberano homem, a partir de uma estrutura
patriarcal de organização da sociedade”.
Logo, é sobre o corpo feminino que recai a função enunciativa do biopoder, uma
vez que a ele sempre foi atribuído um caráter territorial, que pode ser ocupado pelos
homens e por eles utilizados. Nielsson (2020, p. 890) explica que o corpo das mulheres
“[...] é o espectro que carrega os signos de pertencimento, dando azo a uma espécie de
crueldade funcional e pedagógica que transmite uma mensagem sacrificial de
domínio disciplinar e biopolítico [...]”, já que se destina não apenas ao controle do
corpo individual, mas à gestão da própria espécie a partir do dispositivo da
reprodutividade.
O despojamento de direitos das mulheres, que decorre das práticas das
estratégias biopolíticas de controle sobre o corpo, especialmente àquelas relacionadas
à reprodutividade, culminam na constituição daquilo que Nielsson (2020) denomina
hystera sacra¸ que tem sua vida reduzida a uma posição hierarquicamente inferior na
distinção valorativa das vidas humanas, na medida em que se transforma em mero
corpo biológico (deslocado de sentido político), uma vida nua.
Pode-se dizer, portanto, que a biopolítica e os dispositivos de que ela lança mão
reduzem as mulheres aos seus úteros e, a depender dos interesses que o circundam,
elegem os úteros que são dignos ou úteis ao cumprimento da função social da
reprodutividade e os que são indignos ou inúteis para tanto. Essa distinção valorativa
hierárquica tem influência de marcas variáveis como raça, classe, idade,
nacionalidade, sexualidade (NIELSSON, 2020).
A atribuição de valor à vida de cada mulher, ou a um grupo de mulheres, é
influenciada, diretamente, pelo direito que legitima ou dá margem às suspensões de
direitos e à redução da vida ao corpo biológico e ao dispositivo da reprodutividade.
Diante disso, é possível estudar o fenômeno do controle reprodutivo e da atuação
biopolítica no Peru, onde estima-se que mais de 200.000 mulheres tenham sido
esterilizadas de forma forçada, que será feito no tópico a seguir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve como escopo principal, a partir da perspectiva da
biopolítica, analisar aspectos do controle reprodutivo executado no Peru,
especificamente por meio de esterilizações forçadas.
Para tanto, foi realizada, no primeiro tópico, uma contextualização histórica de
fenômenos de planejamento familiar e métodos contraceptivos na América Latina, a
partir da perspectiva da biopolítica. Esses fenômenos podem ser interpretados como
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
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SUMÁRIO
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 10
MONITORAÇÃO
ELETRÔNICA DE
PESSOAS EM
ÂMBITO PENAL
uma análise da exceção ambulatória em
corpos femininos e feminizados
Mariana Chini⁸¹
Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth⁸²
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O artigo objetiva analisar o panorama da exceção a partir de um contexto pós-
moderno, no sentido de compreender a ambulatoriedade de situações excepcionais na
contemporaneidade, levando-se em consideração a aceleração nos modos e meios de
vida das populações. Em um sentido mais estreito, o intento é o de analisar o lócus da
80 Pesquisa realizada junto ao Projeto “Rede de cooperação acadêmica e de pesquisa: Eficiência, efetividade e
economicidade nas políticas de segurança pública com utilização de monitoração eletrônica e integração de bancos
de dados”, vinculado ao Edital nº 16/2020 do Programa de Cooperação Acadêmica em Segurança Pública e
Ciências Forenses (PROCAD/CAPES).
81 Doutoranda em Direitos Humanos pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul –
UNIJUÍ. Bolsista pelo Programa de Cooperação Acadêmica em Segurança Pública e Ciências Forenses – PROCAD/
CAPES. Mestra na área de Novos Paradigmas do Direito pela Universidade de Passo Fundo – UPF. Integrante dos
Projetos de Pesquisa: Eficiência, efetividade e economicidade nas políticas de segurança pública com utilização de
monitoração eletrônica e integração de bancos de dados (UNIJUÍ; UNESC; UFPA; CNJ; Polícia Civil-RS,
financiamento CAPES); Eficiência e economicidade de políticas de monitoração eletrônica de pessoas no âmbito
penal no Brasil (UNIJUÍ; UNESC; UFPA; CNJ; Polícia Civil-RS, financiamento CAPES); Estado de Direito, Sistemas
de Justiça e crítica jurídica: horizontes de uma nova política (UPF-RS). Integrante dos Grupos de Pesquisa: Dimensões
do Poder e Relações Sociais (CNPq); Biopolítica e Direitos Humanos (CNPq). E-mail: mar.chini@hotmail.com.
82 Pós-Doutorando em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Doutor e Mestre em
Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Especialista em Direito Penal e Direito Processual
Penal e Bacharel em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).
Coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito – Mestrado e Doutorado em Direitos
Humanos – da UNIJUÍ. Professor do Curso de Graduação em Direito da UNIJUÍ. Pesquisador Gaúcho da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Líder do Grupo de Pesquisa Biopolítica e
Direitos Humanos, certificado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Membro da Rede Brasileira de Pesquisa Jurídica em Direitos Humanos. Coordenador do Projeto PROCAD/CAPES
“Rede de cooperação acadêmica e pesquisa: eficiência, efetividade e economicidade nas políticas de segurança
pública com utilização de serviços de monitoração eletrônica e integração de bancos de dados”. E-mail:
madwermuth@gmail.com.
SUMÁRIO
contrato para, assim, poder compreender a exceção, visto que as teorias contratualistas
fundamentam os ideais burgueses presentes na modernidade e influenciam o direito
ocidental moderno e a instituição do constitucionalismo.
Conforme Pinto Neto (2010, p. 143), o constitucionalismo, quando busca
fundamentar o poder soberano, se baseia teoricamente no contrato social, de forma
que “a confiança em um pano de fundo formal baseado no consentimento livre de
indivíduos em posição de igualdade substitui o antigo fundamento teológico do poder
soberano”.
De acordo com Foucault (1979, p. 17), a criação de um pacto social não é
necessariamente um modo de proteger os cidadãos, mas uma forma de encerrar a
violência em um sistema de regras dominado por apenas alguns indivíduos em
detrimento dos demais.
ao direito, em verdade se está tentando ocultar o fato de que é o próprio direito quem
a cria.
Conforme Agamben (2008, p. 57-58),
opinião, sem uma ação pela qual se identifique e se especifique”, sentido no qual a
pessoa não representa “nada além da sua individualidade absoluta e singular, que,
privada da expressão e da ação sobre um mundo comum, perde todo o seu
significado” (ARENDT, 1989, p. 335-336), o que significa dizer: o ser humano enquanto
“apenas” humano.
As considerações feitas em relação aos conceitos de vida nua e de exceção são de
grande relevância para introduzir o cerne da pesquisa que se delineia, no sentido de
que é importante compreender o significado de tais categorias em seu contexto de
maior abordagem até então – qual seja, o da modernidade –, para, em seguida,
delinear-se a temática a partir de uma perspectiva pós-moderna, focalizando na
situação ambulatória da exceção no que diz respeito aos corpos femininos e
feminizados submetidos à tecnologia de monitoração eletrônica em âmbito penal, o
que será mais bem destacado na seção seguinte.
83 “una zona de indeterminación, de indistinción en la que cualquier vida, incluso aquellas carentes de estatuto
jurídico, se halla inmersa en la producción biopolítica. El lugar (des)habitado por las vidas precarias; una
vulnerabilidad que se nos impone como condición existencial”.
SUMÁRIO
disse que fui. E ela me perguntou o que tinha feito para estar usando
aquilo. Eu disse que tinha sido homicídio. Tinha matado uma pessoa. Ela
parou o que estava fazendo e me olhou meio assim, meio com medo. Aí eu
falei, uma não. Duas pessoas! Ela disse que não acreditava que uma moça
bonita tinha feito essas coisas – ela sorri meio constrangida – e eu disse
que não fiz isso não. Foi por tráfico, Senhora, que fiquei presa. E durante
os dias que precisei ficar no hospital repeti essa história por pelo menos
umas três vezes. Eu e a minha filha fomos bem tratadas por todos e em
momento algum me senti mal por estar usando a tornozeleira”. [...] A tia
olha para Eva e diz, “nem deu tempo de se sentir mal com a
tornozeleira. A neném era gulosa só queria peito e você estava com toda
sua atenção para ela”. A mãe me olha e diz, “eu que me senti mal pela
Eva estar usando a tornozeleira e ficar exposta a tudo isso. As pessoas me
olhavam como se eu fosse a culpada dela estar naquela situação. Em
momento algum eles olharam para o pai dela com o mesmo olhar”.
Este relato serve perfeitamente para demonstrar de que modo a exceção ganha
contornos ambulatoriais no contexto da monitoração eletrônica em esfera penal,
acompanhando a monitorada inclusive no lócus do parto da própria filha. Além disso,
o exemplo explicita a intensificação da gestão biopolítica sobre os corpos femininos/
feminizados, considerando-se que tanto a monitorada quanto sua mãe foram alvos de
escrutínio sobre suas vidas, ao passo que o pai da monitorada não sofreu o mesmo tipo
de inspeção crítica.
Com base nestas considerações, compreende-se que a monitoração eletrônica de
pessoas em âmbito penal pode ser considerada como lócus de uma exceção
ambulatória que atua diferencialmente em corpos femininos/feminizados, recaindo
sobre eles de modo mais incisivo do que sobre aqueles sujeitos privilegiados pelo
contexto patriarcal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa em voga analisou, ainda que brevemente, o panorama da exceção
tanto no contexto moderno quanto no contexto pós-moderno, verificando-se que
existe uma ambulatoriedade em situações excepcionais da contemporaneidade,
buscando examinar o lócus da exceção no contexto da monitoração eletrônica de
corpos femininos/feminizados em âmbito penal.
Ao visar responder a problemática central sobre a monitoração eletrônica de
pessoas em âmbito penal ser, ou não, lócus de uma exceção ambulatória, bem como o
questionamento acoplado que diz respeito ao modo como se apresenta a exceção em
corpos femininos/feminizados, aventou-se a hipótese de que essa monitoração pode
SUMÁRIO
ser considerada como lócus de uma exceção ambulatória que atua diferencialmente
em corpos femininos/feminizados, recaindo de modo mais incisivo sobre estes.
A partir de uma análise da vida nua e da exceção em um sentido geral e do exame
da exceção ambulatória em corpos femininos e feminizados monitorados
eletronicamente em âmbito penal, considerou-se que a hipótese aventada resta,
portanto, confirmada.
REFERÊNCIAS
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 11
A VACINAÇÃO DAS
CRIANÇAS NO BRASIL
diálogos necessários com base na
vulnerabilidade e na proteção integral
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente trabalho analisa a vacinação das crianças e adolescentes no Brasil,
tendo como pressuposto a aplicação dos princípios da vulnerabilidade e da proteção
integral. Este tema ganhou especial relevância no contexto da pandemia mundial do
coronavírus⁸⁵, em que se observou uma notável reação da ciência com o
desenvolvimento de vacinas. No entanto, estas vacinas, por terem sido colocadas no
mercado rapidamente, foram questionadas quanto a possíveis efeitos colaterais e, até
mesmo, quanto a sua eficácia⁸⁶.
Antes mesmo da pandemia mundial do vírus do Covid-19, todavia, já estava em
pauta o debate sobre a queda do percentual de vacinação das crianças no Brasil. Uma
das principais razões atribuída a esta prática foram os movimentos antivacina, que
atuam espalhando boatos sobre a vacinação ser ineficaz, insegura e prejudicial à saúde.
Esta informação falsa se estendeu para as redes sociais e grupos de mensagens e gerou
como efeito o reaparecimento de doenças infecciosas já consideradas erradicadas⁸⁷.
84 Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de direito civil da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora adjunta do Programa de Pós-graduação em Direito da UFRJ.
E-mail: barcellosdanielasf@gmail.com.
85 A Organização Mundial da Saúde decretou estado de pandemia em relação ao coronavírus em 11 de março de 2020.
86 Revista Isto É. “Bolsonaro sobre vacina da Pfizer: ‘Se você virar um jacaré, é problema seu’”. Publicado em
18/12/2020, atualizado em 19/12/2020. Disponível em: <h�ps://istoe.com.br/bolsonaro-sobre-vacina-de-pfizer-se-
voce-virar-um-jacare-e-problema-de-voce/>. Acesso em: 15 maio 2022.
87 No Brasil, já são 971 casos em nove estados: Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba,
Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina e Roraima. Disponível em: <h�ps://www.padrao.com.br/br/p/426/por-
que-doene-231-as-controladas-este-227-o-ressurgindo-no-se-233-culo-21.aspx>. Acesso em: 4 maio 2022.
SUMÁRIO
88 CURY, Munir; PAULA, Paulo Afonso Garrido de; MARÇURA, Jurandir Norberto. Estatuto da criança e do
adolescente anotado. 3ª ed., rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 21.
SUMÁRIO
96 A doutrina do direito civil constitucional afirma que todas as iniciativas de proteção dos vulneráveis baseiam-se na
lógica Constitucional e no princípio da dignidade da pessoa humana, que configura a lógica do ordenamento
nacional (vide por exemplo, KONDER: 2014, 101. Afora esse detalhe, a autora concorda com o estudo competente e
cuidadoso realizado pelo autor no que tange à vulnerabilidade.). Embora isso não deixe de ser verdade, o fato é que
se trata de um fenômeno mais amplo, seguindo tendências, padrões internacionais objetivados em Convenções
Internacionais de direitos humanos, em sua maioria anteriores à nossa Constituição, cujos mandamentos foram
incorporados objetivamente na Constituição e na legislação infraconstitucional.
SUMÁRIO
pessoas em desenvolvimento (ECA, art. 69, I). Para a proteção deste grupo vulnerável,
o eixo norteador é sempre o atendimento ao princípio de sua proteção integral.
Ainda sobre a vulnerabilidade, cabe observar que esta dimensão humana
ingressou no direito como um dos critérios para intervenções jurídicas equilibradoras,
com o objetivo de atuar nas relações sociais para promover não apenas a igualdade
formal, mas também uma igualdade substancial (KONDER: 2014, p. 101-102). No
Brasil, a vulnerabilidade ficou conhecida primeiramente por seus usos no Direito do
Trabalho e, depois, por sua ampla aplicação no Direito do Consumidor, mediante o
art. 4º, I, deste diploma legal que enuncia o “reconhecimento da vulnerabilidade do
consumidor no mercado de consumo”. Nestes dois contextos, o conceito de
vulnerabilidade vincula-se a situações de inferioridade contratual seja no contrato de
trabalho, seja no contrato de consumo.
Já a vulnerabilidade, em sua dimensão existencial, conforme enuncia Carlos
Konder, “é uma situação jurídica subjetiva em que se encontra o titular sob maior
suscetibilidade de ser lesionado em sua esfera extrapatrimonial” (KONDER: 2015, p,
105). Sendo assim, impõe-se a aplicação de normas jurídicas de tutela diferenciada
para a satisfação da dignidade da pessoa humana, não em detrimento da tutela das
situações patrimoniais, mas, como defende Pietro Perlingieri, “com uma tutela
qualitativamente diversa” (PERLINGIERI, 2002, p. 154).
Portanto, a vulnerabilidade existencial da criança se associa à sua personalidade
ainda em desenvolvimento, conforme reconhecido na Constituição Federal (art. 227),
juntamente com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990). E esta
vulnerabilidade existencial demanda tanto o amparo material, para a sua
sobrevivência, como o amparo afetivo, para a construção da personalidade de forma
sadia e sociável. E tal amparo em suas duas dimensões traduz-se no cuidado dos pais
que conduzirão o filho do estado de vulnerabilidade absoluta, ao nascer, ao processo
de aquisição de autonomia, na maioridade.
Destaca Tepedino (2004, p, 35): os pais devem levar em conta que o status de filho
atrai duas espécies de situações jurídicas existenciais, as decorrentes da identidade
genética e as decorrentes do exercício da autoridade parental. A dignidade humana se
projeta na identidade biológica e nos processos educacionais do filho, enquanto a
guarda indica um estado de cuidado e vigilância. A questão da vacinação infantil é
complexa, dado que abrange os dois aspectos da situação existencial da criança e do
adolescente. A saúde diz respeito à dignidade da pessoa humana; enquanto tomada
de decisão sobre a vacinação é fruto do exercício da autoridade parental. Além disso,
a decisão individualmente tomada repercute socialmente, como questão saúde
pública⁹⁷.
SUMÁRIO
para ser eficaz. No caso da vacinação em geral, o índice considerado ideal para
promover a chamada “imunidade de rebanho” ou “herd imunity” é acima de 95%⁹⁹.
No entanto, no ano de 2021, a porcentagem de aplicação das vacinas obrigatórias no
Brasil foi de 60,7%, segundo informações do DATASUS do Ministério da Saúde
(BUTANTAN, 2022).
No que diz respeito à vacinação infantil, o Ministério da Saúde possui um
protocolo consolidado de vacinas obrigatórias para crianças. Para figurar neste rol,
primeiramente, as vacinas passam por um conjunto de estudos científicos atestando
sua eficácia. Em seguida, os estudos devem ser apresentados nas agências reguladoras
e serem por ela aprovados. Vencidas estas etapas, as vacinas precisam ser compradas
e dá-se início à distribuição e aplicação das mesmas.
O protocolo de aplicação de vacinas obrigatórias no Brasil inicia-se ao nascer,
ocasião em que se recomenda a aplicação de duas vacinas: uma contra a tuberculose
grave e outra contra a hepatite B. No primeiro ano de vida, são aplicadas 9 vacinas,
sendo algumas destas aplicadas com doses de reforço ou mesmo em 3 doses
diferentes, totalizando 18 aplicações. Dentre as principais vacinas indicadas para
crianças, além das anteriormente mencionadas, estão as seguintes: contra poliomielite
(protege contra a paralisia infantil), febre amarela, tetra viral (protege contra catapora,
rubéola, caxumba, varicela e sarampo) e meningocócica (protege contra meningite)¹⁰⁰.
Nos últimos 10 anos, a cobertura vacinal brasileira vem caindo vertiginosamente,
o que deixa a população – especialmente o público infantil – mais vulnerável a doenças
que podem deixar sequelas ou causar mortes e que já estavam erradicadas no país,
como é o caso do sarampo e da poliomielite (BUTANTAN: 2021). Esta queda de
cobertura vacinal ocorre, sobretudo, pela disseminação de informações mentirosas
alegando a ineficácia e o perigo das vacinas. O caso de maior repercussão ocorreu em
1998 e refere-se a um artigo científico publicado na revista The Lancet. Nele, o autor
Andrew Wakefield sugeria uma relação entre o autismo e a vacina tríplice viral. Em
seguida, esse trabalho foi contestado, pois se descobriu que o médico havia alterado
dados dos pacientes e que possuía contato com advogados que queriam processar
fabricantes de vacinas (BUTANTAN, 2021). Em razão disso, o médico teve seu registro
cancelado em 2010 (ROSENVALD, 2018, p. 20).
De acordo com Soraia A�ie Calil Jorge, diretora do Laboratório de Biotecnologia
Viral do Instituto Butantan, a vacinação é a forma mais efetiva para a eliminação de
99 Índice recomendado pela Organização Mundial de Saúde, para atingir imunidade da população. (ROSENVALD,
2018, p 19).
100 O protocolo integral de vacinação infantil está disponível no Ministério da Saúde no seguinte endereço: <Calendário
Nacional de Vacinação - 2022.pdf (saude.es.gov.br>. Acesso em: 20 maio 2022.
SUMÁRIO
uma doença viral e as consequências dos baixos índices de imunização não podem ser
ignoradas. De acordo com a cientista, no caso de uma pandemia, a redução da
vacinação torna impossível controlar a disseminação do vírus e, portanto, eliminar ou
diminuir os índices de pessoas doentes. A longo prazo, pode ocorrer a reemergência
de um vírus, além de impedir o controle da doença (BUTANTAN, 2021)
Dada a importância da vacinação tanto para a população em geral, como para as
crianças e adolescentes em especial, notadamente em uma pandemia, analisam-se a
situação atual relativa às providências em relação à vacinação contra o Covid-19, de
acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, órgão
responsável pelo licenciamento de vacinas. Segundo a agência, o Brasil aprovou, até
maio de 2022, o uso das seguintes vacinas para uso adulto: Comirnaty (da Pfizer),
Coronavac (Butantan), Janssen Vaccine (Janssen-Cilag) e Oxford (Fiocruz e
Astrazeneca)¹⁰¹.
No caso das crianças, foi necessária a realização de estudos em separado, por
haver variação na eficácia da resposta vacinal nas distintas faixas etárias, sendo as
diferenças mais gritantes nos menores de 2 anos. Sendo assim, as vacinas aprovadas
para o uso infantil, até maio de 2022, são: Coronavac (Butantan) para crianças e
adolescentes entre 7 e 17 anos e a Comirnaty, uso pediátrico (da Pfizer) para crianças
de 5 a 11 anos¹⁰².
Atualmente, já existem estudos internacionais referentes à vacinação contra o
coronavírus com todas as faixas etárias. Em relação aos menores de 5 anos, tem-se
notícia de que a mesma já foi aplicada para a faixa etária a partir de 3 anos em alguns
países. Em Xangai, por exemplo, em que a CoronaVac já é aplicada para crianças entre
3 e 5 anos, um estudo comprovou que 75% dos casos graves ocorreram em crianças
não vacinadas¹⁰³. No Chile, onde a vacinação entre 3 e 5 anos também foi aprovada,
um estudo com 500 mil crianças vacinadas durante o surto da variante ômicron
mostrou que a vacina do Butantan e da Sinovac tem eficácia de 69% contra internação
em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 64,6% contra hospitalização pela Covid-19
(Crescer: 2022).
Levando em conta os estudos científicos desenvolvidos até a presente data, a
vacinação contra Covid-19 foi considerada pelo Ministério da Saúde como a
ferramenta mais eficaz para rápida redução do número de casos graves e do número
de mortes decorrentes da doença – fato comprovado pela rápida redução do número
de casos e do número de mortes decorrentes da doença, acompanhando o avanço da
vacinação no Brasil e no mundo.
Pelos dados do Ministério da Saúde, até maio de 2022, foram devidamente
vacinadas 23.835.136 crianças e adolescentes com primeira dose, e 11.772.052 com a
segunda dose, desde janeiro de 2022, data em que se iniciou no Brasil a aplicação da
vacinação contra Covid-19. Esta aplicação se faz fundamental, ainda que o número de
crianças contaminadas seja menor, comparado ao da população adulta, pois não
afasta os casos de crianças que adquiriram a forma grave da doença e de morte.
Além de proteger a saúde das crianças, a vacinação em massa ajuda a evitar a
circulação do vírus, pois quanto maior o número de pessoas vacinadas, mais se tem
barreiras contra a circulação viral. É, também, uma proteção indireta para familiares,
colegas de aula e demais pessoas do convívio das crianças e adolescentes,
especialmente aqueles que sejam considerados integrantes dos grupos de risco.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A vacinação infantil é um tema multidisciplinar que, no âmbito jurídico, coloca
em evidência a natureza da proteção da criança e do adolescente, considerados
vulneráveis existencialmente em razão de estarem em processo de desenvolvimento
físico e psicológico. Por isso, a proteção da dignidade da pessoa humana potencializa-
se ao ser direcionada para este grupo reconhecido através de tratados e diretrizes
internacionais que reconhecem crianças e adolescentes como sujeitos de direito, a
serem atendidos como prioridade absoluta, com fulcro no princípio da proteção
integral, tendo em vista sua condição de vulnerabilidade em razão de sua condição de
pessoa em desenvolvimento.
Especificamente em relação ao tema da vacinação infantil, o Estatuto da Criança
e do Adolescente dispõe explicitamente em seu art. 14 a obrigatoriedade da vacinação
das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
Sendo assim, do ponto de vista jurídico e das recomendações científicas,
corroboradas por estudos e protocolos médicos nacionais e internacionais, existe uma
indicação clara para a vacinação infantil, inclusive contra o Covid-19. No entanto, o
número de crianças e adolescentes vacinados no Brasil contra o coronavírus ainda não
atingiu os números esperados. O baixo número de vacinação infantil, em um país que
possui tradição em campanhas de vacinação nacionais com boa adesão, é
SUMÁRIO
preocupante. Com certeza uma das causas que vem impactando nesta decisão é a
circulação de informações falsas sobre a desnecessidade, a ineficácia e, até mesmo, do
perigo das vacinas.
Para reverter este fenômeno, deve-se trabalhar com uma situação conjunta que
atribua aos pais, à sociedade e ao Estado, sua parcela, assim como determina o art. 227
da Constituição Federal, ao enunciar a proteção às crianças e adolescentes com
absoluta prioridade e de forma integral. Em toda situação que envolver uma criança
ou um adolescente, deve-se primar pela solução que garanta, em maior extensão, os
direitos que lhe são assegurados em reconhecimento a sua vulnerabilidade existencial.
Não se trata, portanto, de seguir apenas as convicções pessoais do responsável pela
criança, a qual se constitui em sujeito de direitos, devendo sempre toda decisão a seu
respeito ser pautada no seu melhor interesse.
Os não vacinados estão agindo contra o consenso social e científico e sua
circulação em ambientes coletivos prejudica os demais, colaborando para a
contaminação por coronavírus e, no limite, podendo gerar a morte de alguém. Assim,
a não vacinação prejudica não apenas a criança, mas também a comunidade em que
ela vive. Portanto, a imunização contra doenças em geral e contra a Covid-19 em
especial mediante o uso de vacinas, é uma política pública que salva milhões de vidas.
Sua aplicação é segura e eficaz, inclusive para as crianças e adolescentes, merecedores
de especial proteção.
REFERÊNCIAS
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CRESCER. Coronavac protegeu crianças a partir de 3 anos em surto de ômicron, em Xangai, mostra
estudo. Publicado em 16 maio 2022, 13h24, atualizado em 16 maio 2022, 13h25. Disponível em: <Coronavac
protegeu crianças a partir de 3 anos em surto de ômicron, em Xangai, mostra estudo - Revista Crescer |
Saúde (globo.com)> Acesso em 20 maio 2022.
SUMÁRIO
CURY, Munir; PAULA, Paulo Afonso Garrido de; MARÇURA, Jurandir Norberto. Estatuto da criança e
do adolescente anotado. 3ª ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
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caso pais, mães ou responsáveis legais não vacinem as crianças contra a Covid-19. Publicação: 03/02/2022
às 17h19min. Disponível em: <h�ps://www.defensoria.rs.def.br/saiba-quais-as-consequencias-legais-caso-
pais-maes-ou-responsaveis-legais-nao-vacinem-as-criancas-contra-a-Covid-19>. Acesso em 14 maio 2022.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. Salvador. Juspodvm, 2020.
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Defesa do Consumidor: trajetórias e perspectivas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
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promoção da autonomia e da vida privada. Direito UNIFACS Debate Virtual, n. 216, 2018. Disponível em:
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TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado e NERY, Maria Carla Moutinho. Vulnerabilidade Digital de Crianças e
Adolescentes: a importância da autoridade parental para uma educação nas redes. EHRHARDT JR,
SUMÁRIO
Marcos e LOBO, Fabiola (orgs.) A vulnerabilidade e sua compreensão no direito brasileiro. São Paulo:
Foco, 2021.p. 133-147.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 12
O ESVAZIAMENTO DO
DEBATE POLÍTICO DAS
QUESTÕES PERTINENTES À
REDISTRIBUIÇÃO E O
AGRAVAMENTO DOS
EFEITOS DA PANDEMIA NA
POPULAÇÃO NEGRA
Denise Bi�encourt
SUMÁRIO
Denise Bi�encourt¹⁰⁵
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os problemas causados pela pandemia do COVID 19 não se resumem,
infelizmente, aos óbitos decorrentes de complicações pela contaminação pelo vírus.
Muitos outros problemas foram revelados e se tornaram mais evidentes devido ao
isolamento das famílias e ao distanciamento social (como a violência doméstica,
aumento no quadro de depressão etc.). Também evidenciou-se as dificuldades das
camadas menos favorecidas de fazer isolamento, seja pela necessidade de trabalharem
de forma presencial, já que nem todas as atividades podem ser realizadas
remotamente, seja pelo alto índice de ocupação das moradias habitadas pela
população mais carente e a falta de condições sanitárias adequadas aos cuidados de
higiene que o combate e prevenção à contaminação demandam, seja pelo uso de
transporte público. Enfim, muitos outros exemplos poderiam ser trazidos, porém estes
já são suficientes para demonstrar a complexidade das injustiças que foram aguçadas
pela situação de saúde pública que o mundo, notadamente o Brasil, atravessou, e ainda
atravessa.
A situação do negro no Brasil é bastante delicada, pois a forma degradante como
foram trazidos para o país, bem como a maneira como foram tratados até o final do
século XIX, perduram até os dias de hoje. Mesmo após a Lei Áurea (Lei n.º 3.353 de
1888), que aboliu a escravidão no Brasil, a situação da população negra pouco mudou.
O fato de terem adquirido a liberdade não lhes garantiu melhores condições de
trabalho, melhores moradias e uma vida mais digna. Os negros livres permaneceram
105 Doutora, Mestre e professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Santa
Cruz do Sul (UNISC).
SUMÁRIO
tendo o mesmo tratamento dos escravos, além da discriminação que sofrem até os dias
atuais.
Diante de tal contexto, cabe indagar se a pandemia do COVID 19 atingiu mais
gravemente a população negra devido à carência de políticas de redistribuição de
renda que norteia a política neoliberal de reconhecimento.
Para construir a resposta à pergunta, recorrer-se-á, primeiramente, à Teoria
política de Nancy Fraser. Em um segundo momento do artigo, apresentar-se-ão dados
referentes aos efeitos da pandemia do COVID 19 na população negra, visando
confirmar ou refutar a hipótese de que esta foi mais gravemente atingida.
O método utilizado será o hipotético dedutivo, já que a hipótese será testada
frente à coleta de dados. A pesquisa será bibliográfica, em fontes indiretas.
110 Refere-se aos sujeitos que devem ser alcançados pela teoria da justiça.
111 Refere-se aos fóruns legítimos para debater e definir o “o que” e o “quem” da teoria da justiça. Neste aspecto, a
autora faz importantes apontamentos em relação à globalização, que não admite mais o modelo westfaliano.
112 “O que constitui uma distribuição justa de riquezas e recursos? O que conta como reconhecimento recíproco ou
respeito igual? O que caracteriza representação política justa e uma voz igual?”
113 Já antecipando as críticas de Fraser, a centralidade exclusiva do reconhecimento no debate político que questões
pertinentes à distribuição saíram de cena e o fosso entre miseráveis e ricos aumentou, a desindustrialização e
precarização das relações de trabalho empobreceu parte da classe média, gerando muita insatisfação e a
deturpação das causas deste cenário. Aqui, por culpa da política neoliberal progressista, governos autoritários e
contra os direitos fundamentais identificaram chances reais de ascenderem, e ascenderam.
SUMÁRIO
114 Utiliza-se termo ‘raça” no sentido das características físicas e culturais de grupos humanos e não no sentido biológico
de classificação de seres vivos.
115 A autora denomina esse fenômeno político neoliberal de política progressista de reconhecimento e de certa forma é
responsável pelo surgimento de caricaturas como Trump na medida em que a política, preocupada apenas com o
reconhecimento, deixou de regulamentar o mercado, permitiu a flexibilização das relações de trabalho, deixou a luta
de classe de lado, preocupando-se apenas com a luta entre “raças”. Posicionando-se assim, a política não deu conta
de resolver os problemas de destruição de renda e é a dimensão distributiva que produz os insumos econômicos
capazes de corrigir distorções que obrigam camadas sociais a permanecerem no obscurantismo. Então, a luta pelo
reconhecimento sem os devidos recursos econômicos é uma luta que avança em passos pequenos em termos de
inclusão social, ao passo que o mercado desregulamentado caminha a passos largos para aumentar o fosso que
separa os mais ricos dos mais pobres (FRASER, 2021).
SUMÁRIO
116“O que possibilitou essa confusão foi a ausência de uma esquerda verdadeira” (FRASER, 2019, p. 83).
SUMÁRIO
117 No plano social, segundo o Banco Mundial, a pobreza diminuiu em cerca de 1 bilhão de pessoas nas últimas
décadas, o que representa um grande avanço, ainda que o critério de 1,90 dólar por dia seja absurdamente baixo.
Deste 1 bilhão, 700 milhões são chineses (DOWBOR, 2017).
118 IBGE Disponível em h�ps://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf. Acesso em:
31/01/2022
119 IBGE Disponível em h�ps://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf. Acesso em:
31/01/2022
SUMÁRIO
que os brancos (28,4%). Por outro lado, ocorreram mais mortes de mulheres brancas
(22,4%) do que pretas e pardas (20,4%). Essa diferença entre homens e mulheres por
cor ou raça se deve à sub-representação, o que também é um problema que prejudica
a compreensão e a reflexão acerca das políticas (re)distributivas¹²⁰.
Os óbitos de pretos e pardos na faixa etária dos 70 anos ou mais é menor que os
números de óbitos dos brancos. Isso em razão da menor esperança de vida dos negros
e, como é sabido, a maior mortalidade pelo COVID ocorreu entre os idosos. Então, a
população branca tem expectativa de vida maior porque goza de melhores condições
econômicas que lhes permite acesso à saúde, alimentação adequada, moradia, lazer
etc. Esta foi mais atingida pelos óbitos, mas não por conta do lugar que ocupa na
pirâmide social, mas porque ocupa lugares mais privilegiados que lhes permite
superar a faixa etária dos 70 anos. Ao contrário da população negra que tem
dificuldades de atingir idades mais avançadas.
Em todas as faixas de idade de zero a 69 anos, pessoas pretas e pardas morreram
mais do que as brancas por Covid-19. Na faixa dos 70 ou mais, isso se inverte: a
população branca teve o percentual de mortes mais elevado que pretos ou pardos. Os
dados revelam que os óbitos de pardos e pretos estão relacionados ao “estilo de vida
individual e às condições de vida de grupos sociais. Pretos e pardos têm menor acesso
a serviços de saúde e, portanto, menores condições de prevenção, diagnóstico e
tratamento de doenças”¹²¹.
O Instituto Polis realizou uma pesquisa¹²² importante sobre os efeitos da
pandemia sobre as populações negra (preta e parda) e indígena, identificando que esta
tem 39% mais chances de morrer por Covid-19 do que a população branca. Conclui
que “as taxas de mortalidade ajustadas mostram que homens negros têm maior risco
de morte (52%) do que homens brancos, assim como mulheres negras apresentam
maior mortalidade (56%) do que mulheres brancas.”¹²³ Percebe-se que o Brasil não
ficou imune ao neoliberalismo progressista e suas intencionalidades. Também não
deixou de vivenciar a política neoliberal reacionária com as eleições de 2018 de Jair
Bolsonaro.
Porém, uma trilha que leve políticas públicas capazes de atender a preceitos de
justiça precisa ser desenhada. Para tanto, recorre-se à teoria de justiça de Fraser, a qual
defende a estratégia para lidar com a crise gramatical acerca do “o que” da teoria da
justiça normal, a retomada da centralidade do reconhecimento e da redistribuição,
reconciliando-as. No caso brasileiro, antes desse passo de combate ao neoliberalismo
progressista, será preciso retomar a política progressista de reconhecimento olhando
para os dados que denunciam as injustiças que excluem do acesso às políticas públicas
de estado os mais pobres (redistribuição) e, mais intensamente, os negros
(reconhecimento).
Adaptando as lições trabalhadas à realidade brasileira, uma abordagem
unidimensional de reconhecimento desvinculada das questões de redistribuição, bem
como de representação, exclui, e não por acaso, os mais pobres e com menos
representatividade política. Porém, mais perversa é a política neoliberal reacionária,
porque exclui os três elementos até então usuais na teoria da justiça: reconhecimento,
redistribuição e representação. Isso leva a um fosso distributivo ainda maior e,
consequentemente, na dificuldade de acesso a bens indispensáveis à vida digna que
foram aclamados na Constituição de 1988 como direitos fundamentais a serem
concretizados através de política de Estado e não apenas de governo, restringindo,
assim, os âmbitos de discricionariedade dos governantes.
No cenário político reacionário brasileiro, os direitos fundamentais de todas as
dimensões estão sofrendo graves ataques e, para salvaguardá-los, um primeiro passo
é a retomada da política progressista de reconhecimento, para, quiçá, em seguida,
revisitar o equilíbrio entre reconhecimento, redistribuição e representação. Segundo a
teoria de Fraser, este é o único caminho possível para corrigir discriminações e
exclusões históricas como ocorre com os negros no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da teoria de justiça de Fraser, verificou-se a necessidade de a política
retomar a pauta econômica para através da (re)distribuição, ao lado do
reconhecimento e da representação, gerar um ambiente de inclusão social com reais
oportunidades. Assim, acredita-se que as distorções históricas e culturais, que colocam
grupos de seres humanos em condições de desvantagem retroalimentando o próprio
sistema de exclusão/inclusão, poderá ser corrigido.
Desta forma, as políticas públicas de Estado, visando a concretização dos diretos
fundamentais, pautar-se-á na revisão das questões pertinentes à (re)distribuição de
renda, bem como pela adesão a um discurso de reconhecimento e tolerância às
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
DOWBOR, Ladislau. A era do capital improdutivo, São Paulo: Autonomia Literária, 2017.
FRASER, Nancy. Justiça anormal. R. Fac. Dir. Univ. São Paulo. v. 108 p. 739 - 768 jan./dez. 2013.
FRASER, Nancy. O velho está morrendo e o novo não pode nascer. Tradução de Gabriel Landi Fazzio.
São Paulo: Autonomia Literária, 2021.
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política. n.77, 2009. Acesso: 22 jan.2022. Disponível em:h�ps://www.scielo.br/j/ln/a/
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MOUFFE, Chantal. El retorno de lo politico. Tradução Marcos Aurelio Rodriguez. Paisós, 1999.
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Axel Honneth sobre redistribuição e reconhecimento. Disponível em: h�ps://revistas.ufpr.br/vernaculo/
article/view/36400. Acesso em 02/05/2021
ARTE-FINAL E DIAGRAMAÇÃO: