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Guia de referência para a

cobertura jornalística
EXPEDIENTE Texto e Edição
ANDI – COMUNICAÇÃO E DIREITOS Adriano Guerra, Marília Mundim (1ª edição) e
Suzana Varjão (2ª edição)
Presidenta do Conselho Diretor Reportagem
Cenise Monte Vicente Mauri Konig
Secretário Executivo Revisão técnica
Veet Vivarta Marlene Vaz (1ª edição)
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Conselho Nacional do SESI André Nóbrega (1ª edição)
Gisele Rodrigues (2ª edição)
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Jair Meneguelli Foto da capa
Francisco Fontenele (O Povo – CE), com
SBN ,Qd. 1, Bloco B, 11º andar – Ed. CNC, Asa interferência gráfica
Norte, Brasília/DF.
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Gráfica Coronário
FICHA TÉCNICA Tiragem
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes – 11.000 exemplares
Guia de referência para a cobertura jornalística Brasília, outubro de 2013
(ISBN: 978-85-99118-14-6) Advertência: o uso de linguagem que não discrimine nem
2ª edição (revista e atualizada) estabeleça a diferença entre homens e mulheres, meninos
e meninas é uma preocupação deste texto. O uso genérico
Realização: ANDI do masculinoou da linguagem neutra dos termos criança e
Correalização: Conselho Nacional do SESI adolescente foi uma opção inescapável em muitos casos. Mas
fica o entendimento de que o genérico do masculino se refere a
Patrocínio: Petrobras homem e mulher e que por trás do termo criança e adolescente
Supervisão editorial existem meninos e meninas com rosto, vida, histórias, dese-
Veet Vivarta jos, sonhos, inserção social e direitos adquiridos.
Sumário

04 Apresentação

05 Introdução

14 Violência sexual: Conhecendo a realidade

51 Traduzindo direitos em políticas públicas

90 Proteção legal: Defesa das vítimas e


responsabilização dos autores

106 Glossário

110 Guia de fontes


Apresentação
Este guia de referência integra uma série de trabalho cotidiano das redações brasileiras.
publicações que a ANDI – Comunicação e Nesta reedição, realizada em parceria com
Direitos vem lançando ao longo dos últimos o Conselho Nacional do Serviço Social da
anos, no âmbito do Projeto Jornalista Amigo Indústria (SESI/CN), os dados da versão
da Criança, patrocinado pela Petrobras. O original, de 2007, são atualizados e comple-
objetivo destes materiais é oferecer aos pro- mentados, de modo a enriquecer o conjunto
fissionais de imprensa orientações de fácil de orientações e diretrizes estruturado com
manuseio, com vistas a uma cobertura mais vistas ao aprimoramento da cobertura jorna-
qualificada sobre temas da agenda social bra- lística sobre essa relevante temática.
sileira – em especial, os relacionados aos di- Acreditamos que o investimento na qualifi-
reitos de crianças e adolescentes. cação dos jornalistas brasileiros representa um
Não por acaso, a série de publicações passo decisivo para assegurar e fortalecer, no
foi inaugurada, em 2007, com o tema da âmbito do debate público, a devida priorida-
Exploração Sexual de Crianças e Adoles- de em relação aos direitos das novas gerações,
centes – uma das mais graves formas de prevista na Constituição Federal, no Estatuto
violação de direitos da população infanto- da Criança e do Adolescente (ECA) e em diver-
juvenil, que, devido à complexidade dos fa- sos acordos internacionais firmados pelo País.
tores envolvidos, vem desafiando não ape-
nas os gestores públicos, mas também o Boa leitura!

Veet Vivarta Jair Meneguelli Armando Tripodi


Secretário Executivo da Presidente do Conselho Nacional Gerente Executivo de
ANDI – Comunicação e Direitos do Serviço Social da Indústria – SESI Responsabilidade Social da Petrobras
Guia de referência para a cobertura jornalística 5

Não há dúvida quanto ao fato de que as reda-


ções brasileiras vêm integrando à pauta co-
tidiana as questões relacionadas àexploração
sexual de crianças e adolescentes. E apesar de
ainda ser frequente a presença de abordagens
de cunho sensacionalista, há também sinais
concretos de que tal tendência vem se alte-

Introdução
rando nos últimos anos.
Estudos coordenados pela ANDI demons-
tram que, sob a ótica da qualidade, a cobertu-
ra sobre violência sexual supera, em regra, o
noticiário dedicado à violência em geral pra-
ticada contra esses grupamentos. E os exem-
plos positivos registrados nessa área deixam
claro que, ao agregar à pauta um tratamento
editorial mais qualificado, a contribuição da
imprensa ao debate público sobre o tema ad-
quire grande relevância.
Não se deve perder de vista, contudo, que
lidar com a problemática em foco é tarefa
complexa, uma vez que essa grave forma de
6 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

violência é alimentada por uma ampla com- glossário, fontes e dicas úteis para aprimorar
binação de fatores, entre os quais, a desi- o tratamento editorial dispensado ao tema.
gualdade socioeconômica, a impunidade e a Importante ressaltar que o presente do-
omissão do Estado na efetiva implementação cumento não tem a pretensão de esgotar os
de políticas públicas. inúmeros enfoques que podem ser utili-
E as múltiplas dimensões que envolvem zados no trabalho cotidiano das redações,
o enfrentamento dessa violação, que afeta quando o tema da exploração sexual entra
milhares de meninos e meninas em todo o em pauta. A expectativa é de que, a partir
mundo, exigem uma atuação articulada e in- dos conteúdos ora apresentados, o leitor ou
cisiva dos diferentes segmentos da sociedade: leitora disponha de parâmetros que a ANDI
governos, empresas, adolescentes e jovens, acredita serem referenciais para uma co-
além da sociedade civil e, também, o campo bertura diferenciada.
da comunicação midiática. Incluem-se nesse rol algumas característi-
Diante de um contexto tão desafiador, a cas relacionadas ao exercício do bom jornalis-
ANDI – Comunicação e Direitos considerou mo e que apresentam clara interface com um
estratégico reeditar este guia de consulta para campo de estudo mais amplo, denominado
jornalistas, com o objetivo de ampliar a ofer- por alguns especialistas de “Comunicação para
ta de elementos práticos para uma cobertura o Desenvolvimento”. Trata-se de um conceito
qualificada sobre o tema. abrangente, no qual estão abrigadas as mais
Assim, esta (re)edição, que conta com par- diversas manifestações comunicacionais,
ceria do Conselho Nacional do Serviço Social quando buscam incidir em aspectos sociais,
da Indústria (SESI/CN), elenca, de forma culturais, econômicos e de sustentabilida-
mais vasta, as principais políticas de enfren- de ambiental, para citar alguns exemplos. No
tamento à violência sexual contra crianças e âmbito da imprensa, tais características en-
adolescentes em âmbitos nacional e interna- volvem a produção de um noticiário capaz de:
cional, além de atualizar conceitos e destacar
avanços e desafios nesta área. As páginas que • Oferecer à sociedade informação confiável
se seguem reúnem ainda sugestões de pautas, e contextualizada;
Guia de referência para a cobertura jornalística 7

• Definir, de maneira pluralista, a agenda de Como exposto nas próximas páginas, exis-
prioridades no debate público; tem estudos e levantamentos que buscam
• Exercer o controle social em relação aos diagnosticar os diferentes aspectos relaciona-
governos e às políticas públicas. dos à violência sexual contra crianças e ado-
lescentes, constituindo-se em importantes
Nesse sentido, vale dedicarmos a cada um fontes de consulta. Além desses documentos,
dos três tópicos um pouco mais de atenção. são registrados pesquisadores e organizações
não governamentais que atuam na área e que
Qualidade das informações podem ser valiosos aliados na construção de
Os profissionais do jornalismo têm a grande uma reportagem contextualizada.
responsabilidade social de levar para todos
os cidadãos e cidadãs informações contextu- Agenda pública
alizadas sobre as ações governamentais e não Especialistas são unânimes em apontar que
governamentais vinculadas a questões de in- uma política de enfrentamento à exploração
teresse coletivo. Muitas vezes, é somente por sexual de crianças e adolescentes só alcança
meio da imprensa que a população toma co- efetividade quando envolve ações coordena-
nhecimento de serviços de relevância pública das entre União, estados e municípios, articu-
ou de direitos que precisam ser acessados e/ ladas às iniciativas da sociedade civil e do setor
ou demandados, sobretudo quando envolvem privado – premissa também estabelecida no
crianças e adolescentes. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Essa percepção ocorre na discussão de te- em relação às políticas de proteção integral
mas complexos, como a violência sexual, que desses segmentos.
afeta esses grupamentos e impacta seu proces- Potencializar os esforços de diferentes se-
so de desenvolvimento. Ir além do meramente tores em torno de um tema comum demanda
factual é uma importante contribuição que o um complexo trabalho de mobilização, para
campo jornalístico pode oferecer para escla- o qual a imprensa pode (e deve) oferecer va-
recer a sociedade sobre os diversos fatores que liosa contribuição. Como é de conhecimento
gravitam em torno dessa grave violação. geral, as questões abordadas no noticiário
8 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Concurso Tim Lopes


O Concurso Tim Lopes de Jornalismo In- internet, entre diversos outros. Jornalistas das
vestigativo é promovido desde 2002 pela ANDI cinco regiões brasileiras já foram contempla-
e pelo Childhood Brasil, com o objetivo de in- dos pelo projeto, que conta com as seguintes
centivar jornalistas e meios de comunicação a categorias: Mídia Impressa, Rádio, Televisão,
produzirem uma cobertura qualificada sobre Mídia Online/Alternativa e Temática Especial
a violência sexual contra crianças e adoles- (definida a cada edição).
centes. Diferentemente de outros prêmios jor- No biênio 2013/2014 – e contando com a
nalísticos, o projeto – que é bienal – não avalia parceria do Unicef – o concurso escolheu foco
reportagens já publicadas e sim propostas de diferenciado: a promoção e proteção de di-
pautas originais e inovadoras, viabilizando reitos de crianças e adolescentes no contexto
técnica e financeiramente sua execução. de realização da Copa do Mundo de Futebol.
Em suas seis primeiras edições, o Concurso A categoria Temática Especial está dedicada
premiou quase 50 propostas de pautas sobre o à questão da exploração sexual – que, de
assunto, com variados enfoques: tráfico hu- acordo com especialistas, tem risco de maior
mano para fins sexuais, violência sexual con- incidência em função dos megaeventos espor-
tra meninos, abuso intrafamiliar, exploração tivos (mais informações: www.andi.com.br/
sexual nas rodovias e pornografia infantil na timlopes).

constituem, quase sempre, focos prioritários Por outro lado, os assuntos “esquecidos”
do interesse dos gestores públicos, dos atores pelos jornalistas dificilmente recebem atenção
sociais e de políticos de maneira geral, in- da sociedade e dos governos. Não é difícil ima-
fluenciando sobremaneira a definição de suas ginar, portanto, os impactos de uma cobertura
linhas de atuação. abrangente e qualificada sobre a problemática
Guia de referência para a cobertura jornalística 9

em foco – principalmente, quando se leva em contra crianças e adolescentes, com a aprova-


conta que esse tipo de crime permanece, mui- ção de políticas nacionais temáticas, pelo Co-
tas vezes, sob o manto da invisibilidade social nanda. Foi também um dos primeiros países
e, consequentemente, da impunidade. a anunciarem um plano de enfrentamento
à violência sexual contra esses grupamen-
Monitoramento de políticas públicas tos. Aprovado em 2000 e revisado em 2013,
Exercer o controle social sobre as iniciativas o plano reúne um conjunto de diretrizes que
públicas é um dos eixos centrais no exercí- busca articular as diferentes esferas de poder
cio do bom jornalismo. Isso porque a im- (Executivo, Legislativo e Judiciário), assim
prensa tem a capacidade de atuar como voz como atores da sociedade civil, de organismos
independente no acompanhamento de po- internacionais e do mundo empresarial, no
líticas, de programas, projetos e ações que enfrentamento ao problema, tanto no âmbito
tenham como foco setores considerados de federal, como no municipal e no estadual.
interesse público, como os direcionados à A partir de sua instituição, o Brasil passou
proteção de crianças e adolescentes explo- a vivenciar uma série de avanços importantes
rados sexualmente. nessa área, e o Plano tornou-se referência, ao
Em 2010, o Brasil produziu o Plano Dece- oferecer uma síntese metodológica para a es-
nal de Direitos Humanos de Crianças e Ado- truturação de políticas, programas e serviços
lescentes, no âmbito do Conselho Nacional voltados ao enfrentamento dessa intolerável
dos Direitos da Criança e do Adolescente (Co- forma de violação de direitos.
nanda), um marco na formulação de políticas Como mencionado, foi aprovada, em 2013,
de proteção de direitos, uma vez que reúne os a revisão/atualização do Plano Nacional, o que
chamados temas setoriais em um único ins- se realizou sob a coordenação do Comitê Na-
trumento norteador das políticas de proteção, cional de Enfrentamento da Violência Sexu-
de forma articulada. al contra Crianças e Adolescentes, contando
Como será registrado ao longo da presente com o apoio da Secretaria de Direitos Huma-
publicação, o País avançou de modo significa- nos da Presidência da República (SDH/PR) e
tivo no enfrentamento às violências praticadas do Conanda.
10 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Dois aspectos foram considerados rele- diferentes expressões – seja de abuso ou de


vantes na revisão do plano: exploração sexual. E muitos desafios ainda
precisam ser enfrentados para que crianças e
1. Utilização da linha conceitual adotada adolescentes brasileiros possam exercer a sua
pelo III Congresso Mundial de Enfrenta- cidadania de modo seguro e saudável.
mento da Exploração Sexual de Crianças Conhecer as proposições e acompanhar a
e Adolescentes, enfatizando a adoção do efetiva implementação de políticas, progra-
conceito de violência sexual, que envolve mas e planos temáticos nesta área coloca as
duas expressões: abuso sexual e explora- redações brasileiras diante do desafio de in-
ção sexual. A proposta reafirma a existên- vestigar e monitorar tais processos nos esta-
cia de características específicas em cada dos e municípios.
manifestação, o que impacta diretamente
as políticas de proteção a crianças e ado- Evolução na cobertura do tema
lescentes; Mesmo diante das dificuldades em lidar
2. Compreensão do fenômeno da violência com assunto de tamanha complexidade,
sexual (abuso e exploração) no contexto do nos últimos anos os veículos de comunica-
desrespeito a direitos humanos de crian- ção têm cedido maior espaço para o debate
ças e adolescentes. sobre a temática.
Entre 1996 e 2002, por exemplo, a cober-
Para a estruturação de um plano setorial tura dedicada a situações de abuso e explora-
da dimensão do Plano Nacional de Enfren- ção sexual de meninos e meninas registrou
tamento da Violência Sexual contra Crianças um considerável crescimento quantitativo,
e Adolescentes, foram observadas as mes- segundo dados do relatório Imprensa, Infân-
mas bases legais e diretrizes do Plano Dece- cia e Desenvolvimento Humano, coordenado
nal/2010. pela ANDI e pelo Instituto Ayrton Senna.
Em que pesem todos esses reconhecidos Estudos mais recentes mostram que segue
avanços, as violações continuam presentes aumentando o número de textos relaciona-
no cotidiano desses grupamentos, em suas dos à questão.
Guia de referência para a cobertura jornalística 11

Além do crescimento quantitativo, há si- governamentais, se reuniram durante o I


nais de evolução qualitativa no tratamento Congresso Mundial de Enfrentamento à
que as redações oferecem ao noticiário so- Exploração Sexual Contra Crianças e Ado-
bre crimes sexuais contra meninos e me- lescentes, na Suécia.
ninas. Quando comparados às notícias que Na ocasião, as nações assumiram o com-
têm como tema as diversas outras formas de promisso de implantar planos nacionais de
violência contra a população infantojuvenil, enfrentamento à problemática. O Brasil não
os textos sobre violência sexual estão entre só foi uma das primeiras nações a elaborar
os que apresentam os melhores indicadores um Plano Nacional de Enfrentamento, como
em relação a aspectos centrais para a com- constituiu um Comitê Nacional para monito-
preensão do fenômeno enquanto violação rar sua implementação, com ampla participa-
de direitos humanos de crianças e adoles- ção da sociedade civil.
centes. Entre os elementos que contribuem Cinco anos depois, em 2001, um novo en-
para essa abordagem está a disposição dos contro foi realizado, dessa vez em Yokoha-
profissionais de imprensa em contextualizar ma, no Japão. Reunindo representantes de
o crime a partir de referenciais jurídicos e mais de 130 países, o II Congresso Mundial
dos programas e políticas públicas destina- buscou identificar os avanços obtidos desde
dos a seu enfrentamento. a primeira iniciativa, especialmente no que
diz respeito à formulação e à adoção de políti-
Avanços na agenda cas públicas na área. A constatação foi não só
O fortalecimento dessa cobertura na agenda de que havia um número reduzido de planos
das redações brasileiras vem atrelado a um nacionais formulados, mas também de que
amplo processo de mobilização em torno do o processo de implementação daqueles que
tema, tanto em âmbito nacional quanto in- já tinham sido elaborados ainda apresentava
ternacional. limitada efetividade.
Em 1996, por exemplo, mais de 120 Em 2008, o Brasil sediou o III Congresso
representações de países, além de orga- Mundial de Enfrentamento da Exploração Se-
nismos internacionais e organizações não xual de Crianças e Adolescentes (organizado
12 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

pelo governo brasileiro, Unicef, a rede de co- Relevante também destacar a ampla di-
operação mundial não governamental ECPAT vulgação dada pela mídia às substanciais
e NGO Group). O III Congresso foi considera- mudanças no Código Penal em relação aos
do o maior já realizado no mundo sobre o tema, crimes de natureza sexual e a aprovação de
com a presença de representantes de cerca de Planos e Políticas Nacionais temáticos, que
160 países; 3.515 delegados – dentre estes, 282 têm interface com o tema: Plano Nacional
adolescentes; 55 autoridades internacionais de de Promoção, Proteção e Defesa do Direito
alto nível; 357 profissionais de meios de comu- de Crianças e Adolescentes à Convivência
nicação social; e 248 experiências apresenta- Familiar e Comunitária (2006); Sistema
das em 100 Oficinas e Diálogos de segmentos. Nacional de Atendimento Socioeducativo –
Sinase (2006); Plano Nacional de Enfren-
Respostas no contexto brasileiro tamento ao Tráfico de Pessoas (2008); Pla-
As discussões dele decorrentes alertaram no Nacional de Prevenção e Erradicação do
para a necessidade de atualização/revisão do Trabalho Infantil (2010) e Plano Decenal de
Plano Nacional, sobretudo para incluir estra- Direitos Humanos de Crianças e Adolescen-
tégias de enfrentamento às chamadas novas tes (2010).
formas de violência sexual – os crimes trans-
nacionais e os delitos facilitados pelas tecno- Desafios a enfrentar
logias da informação e comunicação (TICs). Apesar de o tema seguir ganhando espaço e
No Brasil, vale mencionar alguns marcos qualidade na pauta das redações, a cobertura
decisivos,que possibilitaram o aumento da ainda apresenta limites e equívocos. O com-
visibilidade dotema, como a criação, em 1997, plexo quadro de desafios delineados ao longo
do serviçoDisque Denúncia Nacional/Disque desta publicação deixa claro que o noticiário
100 e o estabelecimento, em 2000, do Dia sobre violência sexual contra crianças e ado-
Nacional de Combate ao Abuso e à Explora- lescentes exige um tratamento diferenciado
ção Sexual de Crianças e Adolescentes– 18 de por parte de repórteres e editores. E um dos
maio –, data de referênciapara os jornalistas aspectos que merecem atenção diz respeito ao
na cobertura da temática. viés da cobertura.
Guia de referência para a cobertura jornalística 13

Ainda é constante a presença de aborda- profissionais de imprensa: ir além dos aspec-


gens com foco sensacionalista ou policia- tos factuais da notícia, trazendo para leitores/
lesco e o uso de imagens inadequadas (com leitoras enfoques que discutam a problemáti-
exposição de vítimas e familiares). A falta de ca em seus diferentes aspectos.
cuidado no processo de apuração e veiculação Para isso, é necessário reforçar que o con-
da notícia contribui para o fenômeno que os texto da violência sexual impõe obstáculos que
especialistas chamam de “revitimização” – envolvem não só a prevenção, o atendimento
situação na qual a criança ou o adolescente é e a responsabilização dos autores. Dentre as
levado a reviver suas experiências de abuso ou necessidades imperiosas para o efetivo en-
de exploração sexual. frentamento do fenômeno está a transforma-
As dificuldades vivenciadas por jornalistas ção de valores culturais e a aplicação dos prin-
na abordagem do tema estão relacionadas aos cípios da prioridade absoluta e da proteção
próprios limites de uma cobertura centra- integral dos direitos dessa população, como
da, muitas vezes, no ato violento em si. Este preconizam a Constituição Federal e o Estatu-
é, por sinal, um dos principais desafios dos to da Criança e do Adolescente (ECA).
14 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Apontada como uma das situações que mais


geram comoção na sociedade brasileira, a
violência sexual praticada contra crianças e
adolescentes tem alcançado maior visibili-

1 dade desde meados dos anos 1990. A partir


desta década, movimentos organizados da
sociedade civil, setores governamentais e

Violência organismos internacionais, entre outros ato-


res, passaram a debater mais abertamente tal

sexual
realidade – impulsionados, em grande parte,
por um processo mundial de mobilização em
torno do tema.

Conhecendo Com a vigência do Plano Nacional de


Enfrentamento da Violência Sexual contra

a realidade
Crianças e Adolescentes, em 2000, não fo-
ram poucos os registros de casos de abuso
sexual e exploração sexual que ganharam
repercussão no noticiário, motivando, en-
tre cidadãos e cidadãs, além do compreen-
sível sentimento de indignação, a percepção
Guia de referência para a cobertura jornalística 15

de que vem aumentando a ocorrência dessa distinguir conceitos como abuso sexual e
forma de violência no Brasil. exploração sexual? Entendem os diferentes
No entanto, mais do que um cenário de au- fatores que constituem o contexto da explo-
mento puro e simples dos casos de violência ração sexual?
sexual, o que as estatísticas revelam é uma ex- Para lidar com tais questões, foi esboça-
pansão no volume de denúncias registradas. da, nesta primeira seção do guia, uma breve
Esse contexto pode ser associado ao fato de o caracterização da problemática, apontando
pacto de silêncio e o tabu, que sempre mar- possíveis causas, distinguindo conceitos e
caram essa forma de violência, estarem sendo indicando atores e/ou mecanismos que, na
progressivamente desconstruídos. maioria dos casos, dão sustentação às redes
Indiscutivelmente, a imprensa brasileira de exploração sexual existentes. O conteúdo
passou a desempenhar um importante papel não se propõe a esgotar os inúmeros fatores
nesse contexto. Conforme mencionado ante- que podem constituir esse tipo de realidade,
riormente, os estudos produzidos pela ANDI mas aponta aspectos centrais, que devem ser
sobre a cobertura de temas relacionados aos levados em conta na cobertura jornalística.
direitos das novas gerações demonstram que
vem crescendo nos jornais a presença de pau- Dois crimes diferentes
tas com foco na ocorrência de crimes sexuais Tratar os conceitos de abuso sexual e de ex-
cometidos contra a população infantojuvenil. ploração sexual como sinônimos é um equí-
voco frequente na abordagem de questões re-
Compreendendo os conceitos lacionadas à violência sexual contra crianças e
Cabe perguntar com quais limites os jor- adolescentes, seja no discurso dos jornalistas,
nalistas têm se deparado ao lidar com uma seja na voz das próprias fontes de informação.
realidade tão complexa e multifacetada. Como será exposto adiante, há de fato ele-
Existe uma abordagem diferenciada no no- mentos comuns – como os relacionados, por
ticiário em relação aos vários tipos de vio- exemplo, às consequências para as vítimas
lência sexual identificados no País? Os pro- – permeando os vários crimes sexuais prati-
fissionais de mídia sabem, por exemplo, cados contra meninos e meninas. No entan-
16 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

to, conhecer e diferenciar as características do lucro, seja financeiro ou de qualquer


específicas dessas formas de violência é pas- outra espécie. Ocorre quando meninos e
so importante no processo de mobilização e meninas são induzidos a manter relações
conscientização da sociedade. sexuais, mediante oferta de valores pecu-
Para facilitar o entendimento sobre a dife- niários ou não; e quando são usados para
rença entre Abuso sexual e Exploração sexual, produção de material pornográfico, ou le-
os dois conceitos foram sintetizados e regis- vados para outras cidades, estados ou paí-
trados abaixo: ses, com propósitos sexuais.

• O abuso sexual é a utilização do corpo de Segundo a definição acordada por oca-


uma criança ou adolescente para a prática sião do I Congresso Mundial de Enfrenta-
de qualquer ato de natureza sexual. Pode mento à Exploração Sexual Contra Crianças
ocorrer com ou sem violência física, mas e Adolescentes/1996, nesse tipo de violação
a violência psicológica está sempre pre- aos direitos, a menina ou menino sob ex-
sente. A pessoa que comete esse tipo de ploração passa a ser tratado como merca-
violência visa unicamente satisfazer seus doria. Assim, ficam sujeitos a diferentes
desejos sexuais. Essa forma de violência formas de coerção e violência – o que, em
sexual pode ocorrer como: muitos casos, implica trabalho forçado e
»» Abuso sexual intrafamiliar – quando outras formas contemporâneas de escravi-
a violência ocorre dentro da família, ou dão. É esse cenário de subjugação dos mais
seja, vítima e autor da violência sexual fracos pelos mais fortes que torna inade-
possuem alguma relação de parentesco. quado o uso do termo “prostituição” para
»» Abuso sexual extrafamiliar – quando identificar crianças e adolescentes vítimas
não há vínculo de parentesco entre o de exploração sexual.
autor da violência sexual e a criança ou É importante conhecer, também, as dife-
adolescente. rentes expressões relacionadas ao conceito
• A exploração sexual é a utilização sexual de exploração sexual, adotada a partir do III
de crianças e adolescentes com a intenção Congresso Mundial/2008:
Guia de referência para a cobertura jornalística 17

A palavra certa
A mídia atua de forma decisiva na formação Normalmente, seu uso ocorre quando estão
de valores e comportamentos sociais. Nesse em foco meninos e meninas para os quais o
contexto, o emprego de palavras inadequa- Código se destinava, ou seja, em situação de
das pode reforçar preconceitos, estereótipos abandono, de trabalho precoce ou em con-
ou tabus que ocultam a violência sexual flito com a lei. Por isso, prefira sempre os
contra crianças e adolescentes. Veja alguns termos criança, adolescente, garoto, garota,
equívocos que contribuem para legitimar e não expressões pejorativas como menor, de-
esse tipo de violação de direitos dos segmen- linquente, moleque, etc.
tos em foco.
Expressões equivocadas
Expressão equivocada • Prostituição infantil;
• Menores. • Menores que se prostituem;
• Meninas prostitutas.
Expressões adequadas
• Crianças e adolescentes; Expressões adequadas
• Meninos e meninas; • Exploração sexual de crianças e adoles-
• Garotos e garotas. centes;
• Exploração sexual infantojuvenil;
Razões • Exploração sexual da infância e adolescência;
O termo “menor”, usado para designar • Exploração sexual de meninos e meninas;
crianças e adolescentes, em geral tem sen- • Crianças e adolescentes explorados sexual-
tido pejorativo. A definição remete ao Có- mente;
digo de Menores (Lei 6.697/67), revogado • Crianças e adolescentes em situação de ex-
em 1990, a partir da promulgação do ECA. ploração sexual.
18 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

• Meninas e meninos em situação de explora- Expressão adequada


ção sexual; • Crianças e adolescentes em situação de ex-
• Meninas violentadas sexualmente. ploração sexual comercial.

Razões Razões
A palavra “prostituição” remete à ideia de Embora esteja baseada em uma relação co-
consentimento, desviando o enfoque da explo- mercial – considerada como uma das piores
ração. Isto é, tira a criança e o adolescente da formas de trabalho infantil (Convenção 182
condição de vitimados, transportando-os para da OIT) –, a exploração sexual de crianças e
o papel de agentes da situação. Quando crian- adolescentes vai além do uso da mão-de-obra
ças e adolescentes são levados a participar de infantil, configurando-se como uma das mais
atos sexuais ou pornográficos, estão sendo ex- graves violações aos seus direitos.
plorados sexualmente. Trata-se de uma viola-
ção dos direitos fundamentais desses grupa- Expressão equivocada
mentos, num contexto em que indivíduos mais • Serviço sexual de menores.
fortes subjugam os mais fracos. Para melhor
descrever esses casos, o correto é usar o termo Expressão adequada
exploração sexual infantojuvenil, evitando até • Exploração sexual de crianças e adolescentes.
mesmo o termo prostituído, para que o leitor,
expectador ou ouvinte não se confunda. Razões
Meninos, meninas e adolescentes não oferecem
Expressão equivocada um serviço voluntariamente. São levados à ex-
• Menores trabalhadores do sexo. ploração sexual, geralmente, por um adulto.
Guia de referência para a cobertura jornalística 19

• Exploração sexual no contexto de prosti- sileiro, de um município para outro ou de


tuição; um estado para outro;
• Tráfico para fins de exploração sexual; • Internacional – Quando crianças ou ado-
• Exploração sexual no contexto do turismo; lescentes são traficados para outro país.
• Pornografia infantil;
Exploração sexual no contexto do turismo
Exploração sexual no contexto da prostituição É a exploração sexual de crianças e adoles-
É a exploração sexual de crianças e adoles- centes por visitantes de países estrangeiros
centes perpetrada diretamente por usuários ou turistas do próprio país. Pode ocorrer
ou por intermediários (uma pessoa ou uma com a intermediação de redes de exploração
rede de exploração). Ainda que possa pare- que atuam em empresas turísticas e tratam a
cer uma prática autônoma, caracteriza-se exploração sexual como um item comercial,
como exploração sexual, já que o usuário muitas vezes ainda no país de origem do tu-
paga pela utilização do corpo de crianças e rista ou pela internet.
adolescentes com dinheiro ou outros ele-
mentos de troca. Pornografia infantil
É a exploração sexual que se caracteriza por
Tráfico para fins de exploração sexual qualquer exposição, em qualquer meio, de
Promover ou facilitar a entrada, em território órgãos sexuais de criança ou adolescente, ou
nacional, de alguém que nele venha a exercer destes em atividades sexuais explícitas, reais
a prostituição ou outra forma de exploração ou simuladas, para fins sexuais.
sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la No Brasil, são caracterizadas como por-
no estrangeiro (art.231 CP). nografia infantil a produção, a venda, a pu-
De acordo com a legislação brasileira, o blicação e a divulgação, por qualquer meio de
tráfico de crianças e adolescentes pode ser: comunicação (inclusive na rede mundial de
computadores ou Internet), de fotografias ou
• Interno – Quando crianças ou adolescen- imagens expondo partes íntimas de crianças
tes são traficados dentro do território bra- ou adolescentes.
20 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

É importante, ainda, enfatizar a diferença rados e que gravitam em torno da violência


conceitual entre pornografia infantil e pe- sexual em geral:
dofilia:
Pedofilia – é a perversão na qual a atração • Sexting é uma expressão recente de abu-
sexual de um indivíduo adulto está dirigida so sexual, no qual adolescentes, jovens ou
primariamente para crianças – pré-púberes adultos usam celulares, e-mail, salas de
ou não. A pedofilia é classificada pela Orga- bate-papo, comunicadores instantâneos e
nização Mundial de Saúde (OMS) como uma sites de relacionamento para enviar fotos
desordem mental e de personalidade do adul- sensuais, mensagens de texto eróticas ou
to, um desvio sexual, portanto, uma doença. É convites para práticas sexuais.
importante também saber que nem todo abu- • Sexcasting consiste na troca de mensa-
sador sexual é pedófilo! gens sexuais em serviços de conversas ins-
Tanto o abuso como a exploração sexual são tantâneas.
atos de violência contra crianças e adolescen- • Sextosión se configura a partir do “sex-
tes e, portanto, são considerados atos de vio- ting”. É a prática de chantagens com foto-
lação de direitos humanos, que comprome- grafias ou vídeos da criança ou adolescen-
tem o desenvolvimento de uma sexualidade te sem roupa ou em relações íntimas que
protegida e saudável. foram compartilhados por “sexting”, com
fins de exploração sexual;
Pornografia infantil na internet • Grooming é a ação de um adulto ao se
O abuso e a exploração sexual podem ocorrer aproximar de crianças ou adolescentes
também via internet, e várias práticas têm via internet, por meio de chats ou redes
sido caracterizadas como tal. Muitas vezes, sociais, com o objetivo de praticar abuso
porém, a rede mundial de comutadores é usa- sexual ou exploração sexual.
da para viabilizar processos presenciais de
abuso ou de exploração sexual. Desde 2008, a Safernet Brasil produz indi-
Neste cenário, é importante conhecer al- cadores sobre segurança na Internet, levan-
guns dos conceitos recentemente estrutu- do em consideração o respeito à liberdade de
Guia de referência para a cobertura jornalística 21

Construindo pontes
Nem sempre o profissional de imprensa encon- desenvolvem políticas públicas ou que realizam
tra, entre suas fontes de informação, opiniões atendimento direto e os órgãos das áreas da Jus-
consensuais sobre o significado dos termos tiça e da Segurança Pública que essa situação
mais comumente utilizados na cobertura de transparece. Política e sociologicamente, o termo
situações de abuso e de exploração sexual de violência sexual guarda um significado amplo,
crianças e adolescentes. Para que essa questão englobando tanto o abuso sexual quanto as di-
seja enfrentada sob uma perspectiva integra- versas formas de exploração sexual.
da, é preciso, entre outras coisas, construir No âmbito do direito brasileiro, em rela-
pontes entre o mundo jurídico e o mundo social ção à violência sexual, os chamados crimes
e político – especialmente no que diz respeito sexuais, que antes eram considerados como
aos conceitos. Muitas das expressões de uso “crimes contra os costumes”, passaram a ser
consagrado pela sociedade não se traduzem considerados como “crimes contra a dignidade
adequadamente na terminologia utilizada por sexual”, uma substancial mudança, operada a
juristas ou pelas instituições policiais. partir da Lei nº 12.015/2009.
Por outro lado, a inexistência de uma A expressão “exploração sexual” foi trans-
base nacional unificada de dados nesta área portada do universo sociopolítico para a área
cria dificuldades na coleta, sistematização jurídica, na qual não tinha tradição e onde não
e consolidação das diferentes expressões de se havia construído ainda um conceito formal.
violência sexual praticadas contra crianças O Direito Penal brasileiro a desconhecia até o
e adolescentes. ano 2000, quando foi incluída no Estatuto da
A expressão “violência sexual”, por exemplo, Criança e do Adolescente, especificamente, no
tem diferentes dimensões conceituais, depen- artigo 244A, com o objetivo de possibilitar a
dendo do ambiente institucional que a utiliza. punição daqueles que submetem a criança ou
É no relacionamento entre as instâncias que o adolescente à exploração sexual.
22 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

expressão, à diversidade e aos direitos funda- aos princípios de defesa da vida, dos direi-
mentais, especialmente aqueles expressos no tos e do bem-estar dos cidadãos e cidadãs;
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). • São delitos – Ferem as disposições estabe-
As informações são utilizadas na elaboração de lecidas no Estatuto da Criança e do Adoles-
conteúdos educativos voltados, especialmente, cente e no Código Penal e são tipificados
para crianças e adolescentes, orientando o uso como delitos contra a liberdade, a inte-
responsável, seguro e cidadão da Internet. gridade, a dignidade e os direitos sexuais
e reprodutivos;
Consensos • São formas de violência sexual – Como
Apesar das divergências conceituais, alguns já apontado anteriormente, tais crimes
consensos importantes podem ser aponta- são compreendidos como formas distintas
dos no âmbito do debate mundial sobre esses de violência sexual e, em geral, envolvem
dois tipos de crimes sexuais praticados contra a imposição de atos sexuais ou de caráter
a população infantojuvenil. Em 2007, estudo sexual a uma criança ou adolescente por
coordenado pela Save The Children Suécia parte de uma ou mais pessoas;
sistematizou os principais aspectos consoli- • São formas de violência de gênero – As es-
dados entre governos, especialistas e orga- tatísticas revelam que meninas e mulheres
nismos internacionais: são as vítimas mais frequentes da violência
sexual. Por esse motivo, esses crimes tam-
• São violações dos direitos humanos – bém estão inseridos, conforme definição da
Tais fenômenos contrariam direitos fun- ONU, entre as modalidades específicas de
damentais reconhecidos em um amplo violência contra a população feminina;
repertório de instrumentos internacionais • São um problema de saúde pública – Os
ratificados por diversos países, entre os crimes sexuais geram graves consequências
quais o Brasil; para a saúde física, mental e emocional das
• São um descumprimento de normas vítimas, assim como riscos associados ao
constitucionais – Vão contra o que esta- consumo de drogas, à gravidez indesejada e
belece a Constituição Federal em relação às doenças sexualmente transmissíveis.
Guia de referência para a cobertura jornalística 23

Nesse sentido, representam um impor- • A Convenção 182 (Convenção sobre Proi-


tante desafio para as políticas de saúde, em bição das Piores Formas de Trabalho
curto, médio e longo prazos. Infantil e Ação Imediata para sua Elimi-
nação), da Organização Internacional do
Visões sobre a problemática Trabalho (OIT) que, desde 1999, passou
Apesar de constituir preocupação de diversos a definir a utilização, o recrutamento ou
países, evidenciada na ratificação da Conven- a exploração desses grupamentos para a
ção sobre os Direitos da Criança, em 1989, prática de prostituição ou a produção de
no I Congresso Mundial de Enfrentamento à pornografia como uma das piores formas
Exploração Sexual Contra Crianças e Adoles- de trabalho infantil (art.3). No Brasil, a
centes/1996 é que foram identificadas as di- Convenção 182 foi promulgada pelo De-
ferentes modalidades e características desse creto nº 3597, de 12/09/2000.
tipo de violência, bem como suas possíveis
causas e consequências. Possíveis causas
Desde então, gestores públicos de diver- Várias pesquisas apontam a pobreza e a ex-
sos países, organismos internacionais e es- clusão social como vetores do fenômeno da
pecialistas da área da infância vêm buscan- exploração sexual de crianças e adolescentes.
do formas eficazes de colocar em destaque, Esses aspectos, no entanto, não explicam to-
no debate global, possíveis meios para pre- dos os fatores de causalidade da exploração
venir e erradicar esse tipo de violência. Vale sexual. Outros estudos têm demonstrado que,
destacar, ainda, outros importantes marcos além das acentuadas desigualdades socioeco-
nesse processo: nômicas, aspectos culturais, envolvendo ques-
tões de gênero e raça-etnia, bem como as dis-
• O Protocolo Facultativo para a Conven- paridades regionais, são determinantes para a
ção sobre os Direitos da Criança relativo ocorrência desse tipo de violação de direitos.
à venda de crianças, prostituição e porno- O cenário evidencia a complexidade do fe-
grafia infantis (do qual o Brasil é signatá- nômeno, de difícil enfrentamento, por estar
rio desde 2004); e inserido em um contexto histórico e social
24 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

que facilita a prática desse tipo de violação, a análise dos casos. Normas, ideias e códigos
principalmente, contra crianças e adoles- sociais acabam por valer menos para os que
centes, mulheres, afrodescendentes e meni- são excluídos pela sociedade.
nos e meninas de classes sociais menos favo-
recidas. Em outros termos, a violência sexual Perda da proteção social
tem características geracionais, de gênero, de Para se desenvolver de forma saudável e inte-
raça/etnia e de classe. gral, as crianças necessitam de um conjunto de
Outros fatores associados devem também mecanismos de proteção, oferecidos por nú-
ser considerados no debate público sobre o cleos como a família, a escola e a comunidade.
fenômeno: a violência sofrida dentro de casa, A perda dos meios de proteção costuma acarre-
a situação de vulnerabilidade na família ou tar graves consequências. Os familiares são os
na comunidade, o consumo abusivo de álcool primeiros cuidadores e educadores da criança,
ou drogas, o abandono escolar. São situações e este ambiente protetor é fundamental para a
que podem ocorrer em famílias de todos os percepção que meninos e meninas desenvol-
extratos sociais, o que reafirma o fato de que vem em relação a si mesmos e ao mundo que os
a pobreza não constitui a única ou principal cerca. Quando este ambiente não é favorável,
causa da exploração sexual contra crianças e rompe-se uma importante linha de proteção
adolescentes. da criança frente a uma realidade ainda in-
Nesse sentido, vale apontar brevemente, compreensível, adversa e insegura.
a título de ilustração, as características de al-
gumas dessas possíveis causas. No entanto, é Violência familiar
necessário ressaltar, isso não esgota a neces- Há estudos que demonstram que grande par-
sidade de uma análise mais aprofundada so- te das violações cometidas contra meninos e
bre cada caso. meninas acontece dentro do ambiente do-
méstico. Uma das consequências desse tipo
Pobreza e desigualdade de violência é a fuga de crianças ou adoles-
Embora a pobreza não seja a única causa da centes para as ruas, espaço onde ficam mais
exploração sexual, é um fator importante para vulneráveis às redes criminosas.
Guia de referência para a cobertura jornalística 25

Impunidade processos simbólicos, imaginários e culturais


A cultura da impunidade e a ineficiência de machistas, patriarcais, discriminatórios e au-
autoridades públicas no enfrentamento da toritários”.
violência sexual abrem brechas para a atuação
dos exploradores, aumentando a sensação de Tolerância social
impotência da sociedade e das famílias dos O problema recrudesce na medida em que a
vitimados. Esse fator é agravado pela falta de sociedade tolera os casos de abuso e explora-
efetiva aplicação das leis existentes. ção sexual. Apesar dos avanços nesta área, ob-
serva-se que a maioria das pessoas ainda não
Cultura machista reconhece efetivamente meninos e meninas
A cultura machista e autoritária ainda vigen- como sujeitos de direitos, não tendo consci-
te na sociedade brasileira cria desigualdades ência da importância de assegurar a proteção
nas relações de gênero e promove uma ima- integral para esses segmentos populacionais
gem da mulher como mero objeto sexual, su- – o que contribui para o aumento da aceitação
jeita a ser comprada ou usada. A cristalização social das violências praticadas. Nesse con-
desse ideário acaba por reforçar como natural texto, a atuação das redes de exploração sexu-
a oferta do corpo feminino – tanto de adultas al é francamente favorecida e os sistemas de
quanto de adolescentes e crianças. proteção existentes, fragilizados.

Dimensões de gênero, raça e etnia Consumismo


Gênero, raça e etnia constituem aspectos A ditadura do consumo é um dos fatores mo-
estruturantes na lógica do mercado de sexo. duladores da exploração sexual. A pressão
Pesquisas demonstram que a maioria das ví- consumista exercida via mídia, principal-
timas de exploração sexual pertence ao sexo mente pela indústria da publicidade, aca-
feminino e é afrodescendente. De acordo ba por impor padrões de comportamento
com a especialista Eva Faleiros, “o uso (abu- e consumo muitas vezes inacessíveis para
so) do corpo, em troca de dinheiro, configu- grande parte da população infantojuvenil.
ra uma mercantilização do sexo e reforça os A busca por tais padrões pode, em muitos
26 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

casos, representar um dos fatores de apro- parcerias entre instituições acadêmicas e or-
ximação entre crianças e adolescentes e as ganizações de proteção à infância.
redes de exploração sexual. E os efeitos do crime sexual podem apare-
cer de diferentes formas, variando conforme
Novas tecnologias o tipo de indução ao ato, sua periodicidade e
As novas tecnologias de comunicação e infor- o número de autores da violência. Os efeitos
mação (TICs) não estão entre as causas diretas sobre a saúde física e psicológica são recor-
da exploração sexual, mas favorecem a de- rentes. Embora o abuso e a exploração sexual
manda por esse tipo de negócio ilícito, na me- sejam crimes com características diferen-
dida em que dão agilidade aos exploradores, ciadas, os traumas que acompanham essas
permitindo-lhes ampliar suas redes de con- vítimas costumam ser parecidos: depressão,
tato. Da mesma forma, a internet ajuda a am- perda de autoestima e medo são alguns deles.
plificar a disseminação da pornografia infantil Além desses graves transtornos, vítimas
e dificultar a identificação dos seus autores, de exploração sexual correm maior risco de
já que os órgãos de segurança pública ainda infecção por doenças sexualmente transmis-
encontram problemas em investigar crimes síveis (DSTs) e Aids. Muitas vezes desinfor-
ocorridos na rede mundial de computadores. mados sobre os riscos e as consequências
dessas doenças – ou mesmo por não terem
Vítimas e exploradores meios de exigir o uso de preservativos –, me-
A exploração sexual de crianças e adolescen- ninos e meninas tornam-se ainda mais vul-
tes, conforme mencionado, está ligada a uma neráveis ao problema.
série de fatores, como vulnerabilidade social
e cultura machista. Especificar o perfil dessas O universo masculino
vítimas, portanto, não é uma tarefa simples. Embora a exploração sexual de meninas apa-
No Brasil, são poucos os estudos que trazem reça de maneira preponderante, pesquisas
uma análise detalhada acerca dos diferen- têm apontado que essa forma de violência
tes aspectos relacionados a esses meninos também afeta crianças e adolescentes do sexo
e meninas. A maioria das iniciativas vem de masculino. Especialistas alertam para o fato
Guia de referência para a cobertura jornalística 27

Impactos na saúde

A Organização das Nações Unidas (ONU) anun- tando que mais de 50% das infecções por HIV no
ciou em setembro/2013 que, pela primeira vez, o mundo ocorrem em pessoas entre 15 e 24 anos. Ou-
registro de casos de Aids no mundo teve uma que- tros 10% acometem crianças menores de 15 anos.
da. Em um desempenho considerado histórico, Em ambos os casos, a contaminação é maior entre
o número de novas infecções pelo HIV caiu 33% indivíduos do sexo feminino.
em pouco mais de uma década. Em 2001, 3,4 mi- A incidência de gravidez precoce em meni-
lhões de pessoas foram contaminadas pelo vírus nas vítimas da violência sexual também me-
e, no ano passado, a taxa caiu para 2,3 milhões. rece atenção – seja pelas condições físicas e
Em pelo menos 26 países, o recuo foi superior emocionais nesta fase da vida, seja pelos riscos
a 50%. Um dos dados mais comemorados den- gerados por práticas pouco seguras de aborto,
tro da Unaids/ONU é a queda de novos casos de colocando em risco a sua vida e a do bebê. As
crianças infectadas. Entre 2001 e 2012, a redução oportunidades dessas crianças, filhas de mães
foi de 52%, com um total de 250 mil registros. Se- adolescentes, terem seus vínculos familiares
gundo a pesquisa, o Brasil aparece como o País fortalecidos são mais difíceis, gerando situa-
com o maior orçamento nacional para o combate ções de vulnerabilidade.
à doença entre os emergentes. A Unaids, porém, Relevante mencionar que nos casos em que a
alerta que o País, mesmo com todo o dinheiro gravidez for resultante de estupro configura-se a
para combater o mal, corre o risco de não atingir possibilidade de realização do aborto legal (Códi-
algumas das metas mundiais até 2015. go Penal - Art. 128, inciso II). Nestes casos, o go-
Em relação ao tema, vale ressaltar o estudo verno brasileiro fornece gratuitamente o aborto
também realizado em 2005 pela Unaids, apon- legal pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
28 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

de a exploração sexual contra meninos ser pela Organização Internacional do Trabalho


um problema muitas vezes ignorado, sendo (OIT), envolvendo quase 450 homens de sete
incipientes as políticas e programas de en- países da América Central, demonstrou que
frentamento e atendimento voltados para o a razão para a maioria dessas pessoas envol-
público masculino. verem-se como cliente na exploração sexual
O estudo Abuso Sexual Infantil y Explotación está relacionada à base da estrutura ideológi-
Sexual Comercial Infantil en América Latina y El ca e ao universo simbólico da cultura patriar-
Caribe – Informe Genérico Situacional, produ- cal. Mais do que um assunto de psicopatologia
zido em 2006 pela Save The Children, aponta ou de desvio do erotismo, esse tipo de crime
algumas características do fenômeno: está relacionado à assimetria de poder.
Conforme o já citado estudo Abuso Sexual
• Algumas poucas investigações específicas Infantil y Explotación Sexual Comercial Infantil
sobre o tema realizadas no Brasil, Costa en América Latina y El Caribe,
Rica e Colômbia mostram que, assim como
no caso das meninas, a idade dos garotos (...) um grande número de pessoas que
vitimados pelo comércio sexual se concen- procuram crianças e adolescentes com o
tra entre os 10 e os 17 anos; objetivo de explorá-los sexualmente não
• A maioria desses meninos não se enxerga o faze porque tem um interesse específico
como vítima de um ato criminoso. “Muitos em manter relações sexuais com pessoas
consideram que seus contatos sexuais com menores de idade e sim porque acabam
os exploradores obedecem a uma simples buscando o mercado do sexo em ambien-
alternativa para a sobrevivência econômi- tes onde há adolescentes entre 13 e 18 anos
ca”, registra o documento. sendo explorados sexualmente.

O explorador-cliente Nesse universo, portanto, é importante


Não existe um perfil exato das pessoas que diferenciar aqueles que atuam como opera-
buscam fazer sexo com crianças e adoles- dores dos mecanismos de exploração sexual
centes. Em 2004, uma pesquisa elaborada – e integram as redes criminosas – daqueles
Guia de referência para a cobertura jornalística 29

A legislação é clara e taxativa

Como já mencionado, a violência sexual é sexual de vulnerável e a manutenção de casa


geralmente praticada por pessoas comuns, so- de prostituição em que ocorra exploração sexu-
cialmente adaptadas, que procuram o merca- al (arts. 228 e 229, respectivamente do Código
do do sexo, ambiente no qual, muitas vezes, há Penal).
crianças e adolescentes explorados sexualmente. Em relação ao universo infantojuvenil, po-
No Brasil, vale destacar, a prostituição de rém, a legislação é taxativa: qualquer ato sexual
mulheres e homens adultos não é considerada envolvendo criança ou adolescente é considerado
crime. A legislação brasileira penaliza ape- crime e quem deve estabelecer o limite de uma
nas o chamado “rufianismo”, ato de agenciar relação que possa resultar em prática sexual é o
pessoas para a prostituição; o favorecimento adulto. Em nenhuma circunstância a situação de
da prostituição ou outra forma de exploração vulnerabilidade pode ser relativizada.

que atuam como exploradores-clientes. En- cia sexual, entre eles, a cultura machista, se-
quanto os primeiros estão geralmente ligados xista e patriarcal em que vivemos. Ainda hoje
a práticas criminosas – tráfico de drogas, trá- prevalece na sociedade a visão de que a oferta
fico de seres humanos, entre outras –, o se- do corpo feminino para a realização dos dese-
gundo grupo é composto por pessoas comuns, jos masculinos é natural.
na maioria dos casos, do sexo masculino. A “pureza” sexual feminina é mitifica-
da, enquanto que o apetite sexual masculino
Questão de gênero é estimulado. A partir do momento em que
Como mencionado, vários fatores contri- esta ideia se cristaliza na cultura de um país,
buem para a impunidade do autor da violên- formam-se condições favoráveis para o sur-
30 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

gimento, ampliação e manutenção de vários tipos de vio-


lência e exploração de mulheres, sejam crianças, adoles-
Desconhecimento centes ou adultas. A prostituição de adultos é, assim, vista
generalizado como instituição imoral, mas necessária.
Outro aspecto reforça essa situação: a supervalorização
O adulto responsável por crime
estética e erótica do corpo jovem. Alguns adultos buscam
sexual cometido contra criança ou
parceiros cada vez mais jovens, para responder a uma ne-
adolescente ainda é um persona-
cessidade de autoafirmação sexual, segundo os especia-
gem desconhecido no contexto da
listas. Outros, no caso da exploração sexual, podem estar
cobertura jornalística sobre o tema.
convencidos, conforme vimos, da ideia equivocada de
O comportamento da imprensa re- que uma criança ou adolescente oferece menores riscos
flete uma dificuldade generalizada, de infecção por DST e Aids.
inclusive de profissionais que lidam
diretamente com o atendimento
aos casos de violência sexual, em
dialogar com o autor da violência
sexual para definir seu perfil e
conhecer seu contexto de vida.
No Brasil, apenas a rede CREAS
registra atendimento psicológico
para esses indivíduos. Faltam
também especialistas na área para
atendimento especializado a esse
tipo de público.
Guia de referência para a cobertura jornalística 31

Mitos e verdades
No quadro abaixo, são registrados alguns Niñas y Adolescentes, publicado pela Eco Jó-
mitos que gravitam em torno da violência venes/ANNI, agência integrante da Rede ANDI
sexual praticada contra crianças e adoles- América Latina na Bolívia. Esclarecer esses mi-
centes – a maioria, extraída e adaptada do tos é um importante passo para assegurar que a
manual Tratamiento Periodístico de la prática seja encarada a partir da ótica de vio-
Violencia Sexual Comercial contra Niños, lações de direitos.

Falso
Crianças e adolescentes buscam a prostituição como forma de ganhar dinheiro.
Verdadeiro
Meninos e meninas não se prostituem por vontade própria. São enredados pela prática criminosa
de adultos, que se aproveitam de sua pouca capacidade de discernimento. São vítimas das redes
de exploradores. A palavra prostituição, portanto, não se aplica a esses grupamentos.
Falso
Crianças e adolescentes podem evitar a exploração sexual.
Verdadeiro
Não se pode esperar de indivíduos em formação a capacidade de autoproteção. Quem deve
cuidar da incolumidade desses grupamentos são os adultos. Na maioria dos casos, as pequenas
vítimas são atraídas pelos exploradores mediante persuasão, ameaças e todo tipo de intimidação.
Falso
É seguro fazer sexo com meninos e meninas.
Verdadeiro
As DST e a Aids podem acontecer em qualquer faixa etária e estão mais presentes entre aqueles
que praticam sexo sem o uso do preservativo.
32 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Falso
Os exploradores-clientes são doentes e de idade avançada.
Verdadeiro
O explorador pode ser de qualquer idade, sem, necessariamente, apresentar quadro clínico
psiquiátrico anormal. Em geral, são homens de diferentes faixas etárias e níveis educacionais,
sociais e econômicos.

Falso
Apenas os pais devem ser responsabilizados pelo que acontece aos filhos.
Verdadeiro
Toda a sociedade é responsável. É tarefa de todos assegurar o desenvolvimento integral da
criança e do adolescente, respeitando seus direitos.

Números e dinâmicas da exploração sexual


A exploração sexual apresenta inúmeros de- Nesta seção, são apresentados os princi-
safios para as instituições que buscam men- pais mecanismos de quantificação atualmente
surar de forma mais precisa a quantidade de utilizados. Além disso, é oferecida uma visão
casos ocorridos – e segundo as diversas tipo- geral das principais dinâmicas que movem a
logias anteriormente mencionadas. exploração sexual no País, como o turismo, o
Não obstante as dificuldades enfrentadas, tráfico de pessoas e a exploração nas rodovias.
o Brasil vem conseguindo aprimorar seus
mecanismos de registro e, ao mesmo tempo, Matriz Intersetorial
estimular a população a denunciar as situa- Em 2004, a então Secretaria Especial dos Di-
ções de violação. reitos Humanos divulgou a Matriz Intersetorial
Guia de referência para a cobertura jornalística 33

de Enfrentamento da Exploração Sexual Comercial Crianças e Adolescentes (PNEVSCA), vincu-


de Crianças e Adolescente, elaborada pelo Violes/ lado à SDH/PR para o enfrentamento dessa
UnB e pelo Unicef. Em 2011, esse estudo foi problemática de forma intersetorial.
atualizado, utilizando a base de dados do Disque A matriz possibilita ainda a municipalização
100, por meio do qual foram cruzados registros do enfrentamento a esse tipo de crime, quan-
de 2.930 municípios com alta incidência de vio- do permite que o município, por meio de um
lência sexual contra crianças e adolescentes1. gestor, atualize as políticas sociais implantadas
A matriz, considerada como ferramenta na localidade em questão. Oferece também
estratégica de triangulação de informações acervo documental, legislação sobre a temáti-
nesta área, possibilita também dar visibili- ca, análise de mercado e listagem das universi-
dade a essa grave violação de direitos de for- dades que atuam no enfrentamento à violação.
ma intersetorial. Outros dados relevantes da As informações sobre a Matriz 2011 estão
Matriz 2011 revelam que há registro de explo- disponíveis no site www.matriz.sipia.gov.br.
ração sexual de crianças e adolescentes nas
fronteiras (18 cidades gêmeas2); em 173 mu- Disque 100
nicípios de faixas de fronteira3; em 46 muni- O Disque Direitos Humanos/DDH (mais co-
cípios de linha de fronteira4 e em 12 cidades nhecido como Disque 100), mantido pelo
sede da Copa do Mundo de 2014. Governo Federal, é outro termômetro para o
Um dos principais objetivos da matriz é dimensionamento do fenômeno.
subsidiar as ações do Programa Nacional de Dados do Disque 1005 revelam que em 2012 o
Enfrentamento da Violência Sexual contra maior número de denúncias refere-se à negli-
1
Em 2004, a Matriz identificou 930 municípios com
gência, com um total de 88.823 casos, represen-
ESCA no Brasil. tando 68,31% do total de denúncias recebidas.
2
Municípios conturbados, ou seja, unidos a um ou mais Estas estatísticas apontam, ainda, que em 75%
municípios de países vizinhos, formando uma malha única.
3
Municípios brasileiros com área total ou parcial na fai-
das denúncias relativas a negligências e violên-
xa de fronteira (faixa interna de 150m de largura paralela cias física, psicológica e sexual, o autor da vio-
à linha divisória terrestre do território nacional)
4 5
Municípios brasileiros localizados total ou parcialmen- Dados disponibilizados em setembro/2013 pela SNPD-
te na linha de fronteira. CA/SDH/PR.
34 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

lência tem uma relação próxima com a vítima eletrônico disquedenuncia@sdh.gov.br. De-
(pai, mãe, padrasto, conhecido etc.). O perfil núncias de pornografia infantil na Internet
revela que a maioria das vítimas é do sexo femi- podem ser registradas no endereço eletrôni-
nino (51%) e o autor, do sexo masculino (47%). co www.disque100.gov.br.
Em geral, há tendência em culpar a família O Disque 100 ampliou sua capacidade de
pela ocorrência dos casos de negligência e/ou atendimento, incorporando outras áreas rela-
outras formas de violências cometidas contra cionadas à defesa de direitos humanos. Além
crianças e adolescentes. Ainda que os estu- do Módulo Criança e Adolescente, o Disque 100
dos ratifiquem esta tendência, é importante funciona atualmente com módulos que recebem
avaliar também de que forma o poder público denúncias de violações de direitos dos seguintes
vem cumprindo com o dever de ofertar polí- segmentos: População LGBT (Lésbicas, Gays,
ticas e programas direcionados à proteção in- Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêne-
tegral de crianças, adolescentes e suas famí- ros); Pessoas Idosas; Pessoas com Deficiência; e
lias, nos termos do Estatuto da Criança e do População de Rua, entre outros.
Adolescente. A inexistência de políticas ou a
não oferta de programas e serviços pode ser Censo SUAS/CREAS6
caracterizada como violência institucional. Dados sistematizados por meio do Censo
O Disque 100 recebe, encaminha e monito- SUAS/2012 reúne um conjunto de infor-
ra denúncias de violação de direitos humanos 6
Trata-se de um levantamento anual de iniciativa do Mi-
recebidas de todos os estados brasileiros, ten- nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
do ampliado o seu horário de funcionamento (MDS). O Censo Suas é um instrumento/questionário
eletrônico, feito anualmente, desde 2007, para mapear as
para 24 horas. Ao ligar para o Disque 100, a unidades públicas de atendimento e monitorar os servi-
opção 1 deve ser escolhida para relatar casos de ços oferecidos nos Centros de Referência de Assistência
violência contra criança ou adolescente. Social (Cras) e Centros de Referência Especializados de
As denúncias recebidas são anônimas, o Assistência Social (Creas); Centro de Referência Espe-
cializado em População em Situação de Rua (Centro Pop);
sigilo é garantido e podem ser feitas de todo secretarias estaduais e municipais de Assistência Social,
o Brasil, por meio de discagem direta e gra- a estrutura e funcionamento dos Conselhos de Assistên-
tuita, para o número 100 e/ou pelo endereço cia Social e das Entidades Privadas de Assistência Social.
Guia de referência para a cobertura jornalística 35

mações sobre o atendimento realizado pela rede socioas-


sistencial, incluindo registros dos Centros de Referên- Sipia
cia Especializados de Assistência Social (CREAS) e dos
espaços de acolhimento institucional, dentre outros. O Embora seja um mecanismo funda-
CREAS oferece serviços especializados e continuados a mental para diagnosticar a amplitude
famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação e a gravidade das diversas formas
de direitos como violência física, psicológica, sexual, trá- de violência que afetam a população
fico de pessoas, cumprimento de medidas socioeducati- infantojuvenil, o uso do Sistema
vas em meio aberto etc. de Informação para a Infância e a
Especificamente em relação ao trabalho realizado Adolescência (Sipia) ainda é restrito
pelo CREAS, o Censo SUAS/2012, cujo último relatório na maioria dos municípios.
foi publicado em março/2013, é importante destacar os
Os Conselhos Tutelares são os respon-
seguintes dados:
sáveis pelo recebimento das denún-
cias, que devem ser imediatamente
• O levantamento aponta que já foram implantados 2.167
encaminhadas ao Sipia-CT Web, com
CREAS no Brasil, assim distribuídos nas seguintes
vistas ao devido atendimento e res-
regiões:
sarcimento do direito violado.
Região Quantidade % Problemas como falta de estrutura
Norte 188 8,7% – computadores, por exemplo – e o
Nordeste 848 39,1% desconhecimento dos procedimen-
Sudeste 584 26,9% tos de registro são fatores que têm
Sul 328 15,1% contribuído para a baixa utilização
Centro-Oeste 219 10,1% do Sipia por parte dos Conselhos
Tutelares (mais informações: obser-
• Em 97,6% destas unidades a gestão é municipal; vatorio@sdh.gov.br).
• O questionário, aplicado em todas as unidades dos
CREAS, revela que a maioria do atendimento realizado
36 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

(entre 90 a 94%) refere-se a situações realizada em 2003 pela Universidade Estadual


de violências cometidas contra crianças e do Ceará e o Unicef. À época, o estudo identifi-
adolescentes; cou a origem e a situação de crianças e adoles-
• No quadro apresentado por ciclos de vida,7 centes explorados sexualmente naquele esta-
vale mencionar que do total de 2.167 uni- do. Foram ouvidos 151 jovens, além de ONGs e
dades, 2.068 (95,4%) reportam atender agentes do setor governamental ligados à área.
situações de abuso sexual e apenas 99 O levantamento, que abrangeu 18 municípios,
(4,6%) informam não atender a esse tipo trouxe as seguintes informações: 78,5% das
de violência; vítimas têm entre 15 e 18 anos; 89,4% são do
• Indagados se atendem casos de exploração sexo feminino; 71,5% das vítimas são negras;
sexual, 80,3% (representando 1.740 do 77,3% não completaram o Ensino Fundamen-
total de 2.167) responderam que realizam tal e 50,3% tem renda mensal familiar de, no
esse tipo de atendimento; máximo, um salário mínimo.
• Já em relação às situações de tráfico para
fins sexuais, o relatório informa que 420 As faces da violência
CREAS (de um total de 2.167, representan- No II Congresso Mundial de Combate à Explo-
do 19,4%) realizam atendimento de crian- ração Sexual/2001 chegou-se à conclusão de que
ças e adolescentes nestas situações. o fenômeno pode ocorrer tanto a partir de uma
atuação estruturada como em um contexto mais
O levantamento aponta, ainda, que 1.711 desorganizado e difuso. Conforme defendido
unidades (de um total de 2.167) atende casos pela pesquisadora Júlia O’Connell durante o
de trabalho infantil, o que representa 79,0% evento, “no setor estruturado, o sexo é um bem
dos atendimentos realizados (mais infor- comercial como qualquer outro. O explorador
mações: www.mds.gov.br/Censo). oferece um contrato limitado e explícito que
Esses dados ratificam a Pesquisa sobre estabelece, por exemplo, o pagamento de uma
Abuso Sexual contra Crianças e Adolescentes, quantia em dinheiro em troca de um ‘serviço’
7
Crianças e Adolescentes; Mulheres Adultas; Homens sexual específico ou de um vídeo pornográfi-
Adultos e Idosos. co em particular”. Ela explica ainda, conforme
Guia de referência para a cobertura jornalística 37

será detalhado adiante, que os setores organizados são mais


visíveis e operam geralmente em redes, com a presença de
diversos agentes, que desempenham papéis distintos no sis- Possíveis locais do crime
tema de exploração sexual.
A exploração sexual acontece, com a mesma força, tanto • Casas de massagem;
no mercado formal (hotéis, postos, motéis, etc.) como no • Agências de modelos;
mercado informal (casas de prostituição, margens de ro- • Prostíbulos;
dovias, etc.). Sejam elas bem organizadas ou não, as redes • Bares e casas noturnas;
de exploração tiram proveito econômico da vulnerabilidade • Pensões e pousadas;
dos vitimados. Em muitos casos, organizações criminosas • Hotéis;
criam estruturas sofisticadas para se beneficiarem no lu- • Praças;
crativo mercado do sexo à custa de crianças e adolescentes. • Rodoviárias;
No outro extremo desse contexto, está o setor não • Aeroportos;
estruturado. Documento publicado em 2005 pela OIT • Áreas turísticas;
(Exploração Sexual Comercial Infantil: conceitos básicos) • Áreas de garimpos e de extração
aponta que esse é um segmento do sistema de explora- de minérios;
ção com características mais difusas, marcado pela falta • Rodovias;
de organização, em que crianças e adolescentes explo- • Postos de combustíveis;
rados podem também realizar outras atividades, como • Portos marítimos e fluviais.
trabalhos domésticos.
Nesse setor, é comum haver ainda a figura do “benfei-
tor”, que, em muitos casos, financia o estudo ou oferece
apoio financeiro à família em troca da exploração sexual
de uma criança ou adolescente. Neste contexto, a prática
criminosa é considerada como uma das piores formas de
trabalho infantil.
Em ambas as situações, alguns elementos em comum
ficam evidenciados: a violação dos direitos de crianças e
38 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

adolescentes e o desrespeito ao seu processo em transações ilícitas, como suborno, falsifi-


de desenvolvimento, bem como à sua indivi- cação de documentos e migração ilegal.
dualidade e cidadania. Esses agentes recrutam, sequestram ou
compram crianças e adolescentes para entre-
As redes de exploração gá-los às organizações criminosas. Utilizam
As redes organizadas se sustentam em dois como instrumentos de trabalho a internet, as
pilares: a oferta, gerada pela vulnerabilidade propagandas turísticas e anúncios de serviços
socioeconômica, emocional e/ou psicológica de sexo, entre outros recursos.
da pessoa vitimada; e a demanda, ou seja, o Os intermediários geralmente usam falsas
cliente, beneficiado pela tolerância social, promessas de um futuro melhor (como empre-
pela impunidade e por uma cultura machis- go e dinheiro) para induzir, facilitar ou obrigar
ta. Em grande parte dos casos, o comércio do meninos e meninas a entrarem no mercado do
sexo está estreitamente relacionado ao tráfi- sexo. Especialistas apontam que não existe um
co de drogas e também ao de pessoas. Mui- perfil definido para os aliciadores – podem ser
tas vezes, ambos são operados pelas mesmas donas de casa, cabeleireiros, profissionais do
redes e rotas. sexo, taxistas, proprietários de prostíbulos, etc.
Há diferentes formas de organização en- Outra estratégia é utilizar jovens para se-
tre aqueles que usam crianças para ganhar duzir meninas na porta das escolas. A relação
dinheiro. Os cabeças-de-rede – indivíduos afetiva que acaba levando-as para a rede de
responsáveis por chefiar o esquema – geral- exploração sexual também é uma forma de
mente estão encobertos por estruturas bem aliciamento. Muitas vezes, os aliciadores apa-
organizadas, com um sistema seguro e com- rentam bom nível socioeconômico, para im-
plexo. De uma ponta a outra dessa estrutura pressionar. Há casos, ainda, em que as crian-
(entre o cabeça e o cliente) aparecem os in- ças ou adolescentes podem ser vendidas pela
termediários, que podem estar representados própria família, quase sempre como efeito de
nas figuras dos frentistas de postos de com- uma situação de miséria e pobreza8.
bustível, taxistas e recepcionistas de hotéis, 8
Esse tipo de prática é considerada como crime previsto
entre outros profissionais, todos envolvidos no art.238 do ECA.
Dicas para a cobertura: trabalho investigativo de campo

• Avalie se vale a pena permanecer na mesma ci- • Reúna provas documentais da denúncia, ma-
dade em que as informações serão apuradas ou terial que possa ser publicado no formato fac-
se é mais seguro hospedar-se em um município -símile ou registros de imagens que, pela for-
vizinho durante o período de trabalho. Em cida- ça do conteúdo, são documentos. Isso também
des menores, um estranho à população é facil- garante a credibilidade do material;
mente identificável, o que pode colocar o repórter • Não finja ser quem não é. A necessidade de
em risco ou comprometer a investigação; anonimato não significa que o repórter precisa
• Evite deixar no quarto do hotel anotações e ar- mentir para conseguir chegar às informações
quivos gravados em notebooks que não exijam que busca. A falsidade ideológica no processo
senha de acesso. A exploração sexual é operada de apuração desqualifica o resultado final e
por uma rede muito bem articulada de proteção expõe a reportagem a possível questionamento
aos exploradores. Ela pode ser formada, in- público e legal;
clusive, por recepcionistas de hotéis, taxistas, • Não pague para obter informações e evite dar
garçons etc; presentes ou ajudar financeiramente fontes da
• Documente todo o processo de produção da re- sua reportagem. Até mesmo o dinheiro para
portagem, inclusive o que não será publicado. uma simples refeição pode levar ao questiona-
Registrar os bastidores dá certa segurança em mento da matéria por quem foi denunciado – o
caso de processos. Além disso, preserva a qua- que legitimaria o argumento de que as vítimas
lidade da informação que será usada para foram pagas para falar. A denúncia, por si só,
chegar às fontes e aos dados veiculáveis. Grave, já é uma grande ajuda na tentativa de desmon-
quando possível, todos os telefonemas e conver- tar as redes de exploração;
sas relacionados à investigação. Não é crime • Evite a apuração em campo sem o conhecimen-
gravar uma conversa telefônica se você é um to de alguém de confiança. Se for necessário
dos interlocutores; transportar uma criança ou adolescente para
indicar em que local ocorreu a exploração, funcionamento na parede podem fornecer
por exemplo, convide para ir junto alguém informações valiosas. O CNPJ da boate re-
ligado à rede de proteção. Não sendo possí- gistrado no ticket-recibo pode ser lançado
vel, informe em que etapa do trabalho você no site da Receita Federal, permitindo a
está. É uma medida preventiva, para evitar identificação dos proprietários do estabe-
que você seja abordado pela polícia trans- lecimento, por exemplo;
portando uma criança ou adolescente em • Identifique os atores sociais do local onde
situação de risco, sem autorização dos pais você vai fazer a sua reportagem, antes de
ou responsáveis. Recomenda-se evitar fazer chegar lá. Não faça contato com todos logo
esse tipo de transporte, situação prevista que estiver na cidade. De preferência, ini-
apenas para autoridades públicas, com po- cie o processo de apuração em campo con-
der de polícia; versando com as pessoas vitimadas e seus
• Treine a sua observação. É preciso desen- familiares. Só nos últimos dois dias tente
volver a capacidade de coletar o máximo confrontar autoridades e denunciados. Em
de dados sobre os ambientes sem a neces- alguns casos, é prudente fazer a apuração
sidade de fazer perguntas diretas às pesso- em dois ou mais roteiros curtos para o mes-
as. O número de quartos de uma casa de mo lugar. Por exemplo: faça uma viagem
exploração sexual, o valor cobrado pelos para identificar e ouvir os vitimados e só
programas, o número de funcionários no alguns dias depois volte para complemen-
balcão, a estrutura do imóvel, o alvará de tar o material ouvindo fontes oficiais.
Guia de referência para a cobertura jornalística 41

As diferentes dinâmicas das modalidades de violência sexual

O contexto da prostituição amento de ações para o combate a esse tipo de


Como mencionado, a exploração sexual no crime por parte da PRF. E os dados coletados
contexto do turismo se caracteriza pelo uso entre 2009 e 2010 apontam que a cada 36,75
de crianças e adolescentes na prostituição, quilômetros das rodovias brasileiras há um
seguindo a mesma dinâmica da prostituição ponto de vulnerabilidade a esse tipo de crime.
adulta. Em geral, essa modalidade de violên- Nesse universo, meninos, meninas e ado-
cia é praticada em locais públicos – principal- lescentes acabam tornando-se vítimas de
mente, nas rodovias brasileiras. exploradores, que se valem da precariedade
da situação socioeconômica das famílias, ali-
Nas rodovias mentando a rede de exploração sexual forma-
Os cerca de 72 mil quilômetros de rodovias fe- da em torno de caminhoneiros e demais atores
derais representam não apenas um importante que circulam diariamente por essas rodovias.
meio para a circulação de grande parte das ri- Crianças e adolescentes são, muitas vezes,
quezas do País. Têm sido também palco de redes transportadas entre diferentes regiões do País.
de exploração sexual de crianças e adolescentes. Em outros casos, há prostíbulos às margens
De acordo com o Guia para Localização dos das rodovias que exploram meninos e meninas
Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual Infanto- com idade abaixo dos 18 anos ou mesmo redes
juvenil ao Longo das Rodovias Federais Brasileiras, de exploração sexual que se utilizam das estra-
uma iniciativa da Polícia Rodoviária Federal das para aliciar ou traficar possíveis vítimas.
(PRF) e da Organização Internacional do Traba- Pesquisa realizada em 2009 pelo Núcleo
lho (OIT), em 2007, data de lançamento do es- de Pós-graduação em Psicologia da Univer-
tudo, existiam 1.819 pontos de vulnerabilidade à sidade Federal do Rio Grande do Sul, finan-
ocorrência da violação nas estradas brasileiras. ciada pela Childhood Brasil/ Instituto WCF,
Atualmente denominado Projeto Mapear, o aponta a região Nordeste como líder em pon-
levantamento se tornou referência no deline- tos de exploração, com 78,1% das citações,
42 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

seguida da região Norte (30,6%). Os esta- o Turismo Sexual (www.thecode.org.br), a partir


dos da Bahia, Maranhão e Pará estão à frente de uma parceria entre a Organização Mundial
no ranking. Na região Sudeste, apontada em do Turismo (OMT), o Unicef e a rede de coo-
17,9% das respostas, o estado de São Paulo é peração mundial não governamental ECPAT.
o principal mencionado, especialmente em Trata-se de um manual dirigido a agências
função da zona portuária da Baixada Santista. de viagens, hotéis, bares e demais empresas
As regiões Sul e Centro Oeste têm, respecti- do segmento turístico. Ao aderir voluntaria-
vamente, 3,1% e 2,6% das citações. mente ao Código, os estabelecimentos devem
registrar nos contratos com prestadores de
O contexto do turismo serviços cláusulas rejeitando a exploração se-
A exploração sexual no contexto do turismo xual de crianças e adolescentes. Além disso, os
caracteriza-se pela organização, promoção funcionários do trade turístico devem ser sen-
ou participação em atividades turísticas en- sibilizados e capacitados para coibir a ocorrên-
volvendo programas sexuais, inclusive com cia desse crime, denunciando casos suspeitos.
meninos e meninas. A atividade conta com
o envolvimento tanto de turistas estrangei- A adesão local
ros quanto nacionais. No Brasil, desde 1997 Embora a adoção de códigos de conduta no
o tema passou a ser objeto de campanhas de Turismo seja uma das principais orientações
mobilização, fator que contribuiu para que do relatório final da CPMI da Exploração Se-
ganhasse maior repercussão no noticiário. xual, o Brasil ainda não conseguiu fazer com
Na origem desse processo está um apelo que seus estados e municípios coloquem em
ao setor de turismo feito durante o Congresso prática essa estratégia. Apenas Rio Grande do
Mundial de Estocolmo/1996, que contribuiu Norte e Ceará desenvolveram experiências
para uma articulação mundial envolvendo os nesse sentido. No estado potiguar, o Código
setores público e privado de diversos países. de Conduta foi implementado, em 2002, pela
Em função desse movimento, foi criado, em ONG Resposta e contou com a adesão, à época,
1998, o Código de Conduta para a Proteção de de 116 empresas, entre restaurantes, hotéis e
Crianças e Adolescentes contra a Exploração e demais serviços ligados ao setor de turismo.
Guia de referência para a cobertura jornalística 43

As empresas que aderem ao compromisso recebem o selo


de identificação Paulo Freire de Ética no Turismo, válido
por dois anos. Na Mão Certa
Com o objetivo de ampliar as adesões ao Código, a Uni-
versidade de Brasília (UnB), o Unicef, a OIT e o Minis- A pesquisa promovida pela Childhood
tério do Turismo (Mtur) desenvolveram, no período de é uma das estratégias do programa
2005 a 2010, em diversas capitais brasileiras, um traba- Na Mão Certa. Coordenado pela
lho de sensibilização e capacitação junto aos profissionais entidade, tem como objetivo mobilizar
e setores turístico e hoteleiro. Nesta perspectiva, o turis- governos, empresas e organizações da
mo sustentável caracteriza-se por assegurar a proteção do sociedade civil para a implementação
meio ambiente, o respeito à igualdade de direitos entre de medidas mais efetivas de combate
homens e mulheres, e a promoção de direitos humanos, à exploração sexual de crianças e
especialmente, de crianças e adolescentes. adolescentes nas estradas brasileiras.
Para fortalecer as iniciativas nesta área foi criado em A iniciativa procura atuar a partir de
2004 o programa Turismo Sustentável e Infância (TSI), vin- dois focos prioritários.
culado ao Ministério do Turismo. A ideia era mostrar como O primeiro tem como proposta en-
o turismo pode contribuir para o cumprimento das medidas volver o setor privado no esforço para
legais de apoio a crianças e adolescentes vítimas da explora- eliminar a exploração sexual nas ro-
ção sexual e sobre a importância do engajamento dos inte- dovias do País, prevendo atividades
grantes da cadeia produtiva do turismo nessa missão. como a realização de eventos inter-
O programa TSI pretende também chamar a atenção setoriais e a disseminação de boas
do setor empresarial turístico para a corresponsabilidade práticas. O segundo foco reúne ações
nesse tipo de ação. E as redes de proteção desempenham voltadas para a educação continu-
papel fundamental nos processos de sensibilização dos go- ada dos caminhoneiros, oferecendo
vernos para que, de forma ágil e dinâmica, comprometam a estes – assim como às entidades
o trade turístico para uma atuação conjunta visando o en- de classe e empresariais – conteúdos
frentamento da exploração sexual de crianças e adolescen- educativos sobre o tema.
tes nesse contexto.
44 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Voos charters de exploração sexual é intercontinental, o que


Alguns destinos brasileiros, especialmente reforça a importância de se pensar em estra-
no Nordeste, costumam ser alvo do turis- tégias dentro dos blocos regionais.
mo voltado à exploração sexual, a partir de O Relatório apontou ainda que, quando
grupos trazidos ao País pelos chamados voos o Brasil é destino, a maioria dos casos é de
charters. Normalmente, esses voos contam exploração do trabalho (condições análogas
com a presença predominante de homens à escravidão), em especial de equatorianos,
solteiros que vêm ao Brasil em busca do paraguaios, bolivianos e peruanos. Quando o
mercado do sexo. Dar destaque a ações de Brasil é origem, na maioria das vezes o propó-
enfrentamento como essas são importantes sito é de exploração sexual.
contribuições que a imprensa pode oferecer Para compreender melhor a dinâmica des-
no combate ao crime. sa modalidade de exploração sexual contra
crianças e adolescentes, é importante conhe-
Tráfico para fins de exploração cer alguns cenários sobre o tráfico de pessoas.
Dados contidos no Relatório do Escritório
das Nações Unidas Contra Drogas e Crime Convenção de Palermo
(Unodc), apresentado em fevereiro de 2009, Em 1999, durante a Convenção das Nações
apontam que o tráfico para fins de exploração Unidas contra o Crime Organizado Trans-
sexual foi identificado como a forma mais co- nacional, realizada na Itália, 124 países as-
mum de tráfico humano (79%), seguido do sinaram a Convenção de Palermo. Ratificada
trabalho forçado (18%). Afirma, ainda, que pelo governo brasileiro em 2004, a Con-
deste total, dois terços são mulheres, 13% venção define como crime o recrutamento,
são crianças e adolescentes, e a exploração transporte, transferência, abrigo ou recebi-
de mulheres tende a ser mais visibilizada nos mento de pessoas para o propósito de explo-
grandes centros e ao longo de rodovias. ração sexual.
Outro dado relevante do Relatório demons- Alimentar o mercado do sexo é uma das
tra que, em se tratando do Brasil e da América principais finalidades desse negócio, mas
Latina, a maior incidência do tráfico para fins também há situações como trabalhos for-
Guia de referência para a cobertura jornalística 45

çados, servidão doméstica, conflitos armados e reti-


rada involuntária de órgãos para transplante. Estudos
como a Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Código de ética
Crianças e Adolescentes (Pestraf), vêm apontando que para o setor turístico
mulheres e meninas são alvos preferenciais dessas re-
des. Em geral, elas entram em outros países com visto A implementação de um código de
de turista, e as ações ilícitas são camufladas em ativi- ética para o setor turístico está entre
dades como agenciamento de modelos, babás, garço- as principais recomendações do re-
netes ou dançarinas. latório final da CPMI que investigou
Em 2004, o Brasil também tornou-se signatário do a exploração sexual de crianças e
Protocolo Facultativo para a Convenção sobre os Di- adolescentes no País. O Brasil ainda
reitos da Criança relativo à venda de crianças, à pros- não conseguiu fazer com que seus
tituição e pornografia infantis. Essa relevante iniciativa estados colocassem em prática essa
reforça a posição brasileira frente às redes de explora- importante estratégia de combate a
ção e de tráfico de crianças e adolescentes neste cenário esse tipo de violação. Investigue jun-
internacional. to aos governos estaduais e ao trade
Dados reunidos nos estudos internacionais realizados turístico quais as dificuldades em
pelo Unicef revelam que, embora seja muito difícil calcu- implementar códigos de ética. Vale
lar o número de crianças traficadas no mundo, a estima- ouvir especialistas e apresentar as
tiva é de que essa situação atinja 1,2 milhão de crianças estratégias e resultados alcançados
e adolescentes. Para além das dimensões econômicas, as pelos estados que já colocaram a
pesquisas nessa área demonstram que o tráfico de crian- ferramenta em prática.
ças também é fortemente caracterizado pelas dimensões
de gênero, raça e região de origem.
Meninas negras, asiáticas ou de descendência indí-
gena e de origem latina têm sido as principais vítimas do
tráfico internacional e, por isso, precisam ser foco das
políticas públicas de enfrentamento à problemática.
46 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Redes de tráfico para a atuação de redes de exploração sexual


Outro trabalho da OIT, intitulado Tráfico de Pes- de crianças e adolescentes.
soas para Fins de Exploração Sexual, publicado A falta de controle migratório e de efe-
no Brasil em 2006, define três possíveis tipos tivo policial – e, não raro, o despreparo
de redes criminosas. dos profissionais para lidar com tal tipo de
crime – contribuem para o agravamento do
• Amadora (de abrangência interestadual e problema. Segundo especialistas, além das
internacional) – São poucos os participan- dificuldades inerentes ao enfrentamento da
tes; não há organograma definido ou sofis- exploração sexual de meninos e meninas,
ticado para a atuação. as regiões de fronteira contam ainda com o
• Profissional interestadual – Estrutura- agravante da falta de uma legislação unifica-
da; conta com maior número de integran- da acerca desse crime.
tes, com papéis definidos e, também, com Nos últimos anos, o governo brasileiro,
contatos interestaduais. por meio da Secretaria dos Direitos Humanos
• Profissional internacional – Estrutu- da Presidência da República (SDH/PR), vem
rada, com contatos em diversos países; estabelecendo acordos de cooperação entre
atuação mais sofisticada e com defini- os países que fazem fronteira com o Brasil,
ção clara do papel de cada um dos seus sobretudo no âmbito do Mercosul.
membros.
Cidades gêmeas
A situação das fronteiras Algumas das áreas vulneráveis ao tráfico de
No Brasil, as regiões de fronteira também pessoas são as fronteiras secas entre Ponta
constituem áreas vulneráveis à exploração Porã (MS) e Pedro Juan Caballero, no Para-
sexual de crianças e adolescentes. Somando guai; entre Chuí (RS) e Chuy, no Uruguai; e
aproximadamente 16 mil quilômetros, que entre Tabatinga (AM) e Letícia, na Colômbia.
abrangem divisas com 10 países – muitas ve- Nos três casos, só uma avenida separa o Brasil
zes, situadas em áreas remotas e pouco habi- do país vizinho, sem qualquer controle. Já em
tadas –, essas regiões tornam-se alvos fáceis outras três regiões, a ligação se dá por trechos
Guia de referência para a cobertura jornalística 47

O tráfico de pessoas no Brasil

Os crimes sexuais contra crianças e adolescentes sendo a maior incidência na faixa etária de 15
são geralmente cercados por preconceitos, tabus, a 17 anos. Na maior parte dos casos, sofreram
ameaças e silêncio, razões que restringem as de- algum tipo de violência no âmbito doméstico
núncias e dificultam a consolidação de estatís- (abuso sexual, estupro, sedução, abandono,
ticas acerca do fenômeno no Brasil e no mundo. negligência, maus tratos, dentre outros) e/ ou
Alguns estudos, no entanto, ajudam a di- em outros ambientes (escolas, abrigos, etc.).
mensionar o problema. A Pesquisa Nacional so- As famílias das vítimas também apresentam
bre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes quadros situacionais difíceis (sofrem violência
(Pestraf), por exemplo, identificou em 2002, no social, interpessoal e/ou estrutural).
Brasil, 241 rotas de tráfico para fins de explora-
ção sexual, sendo 131 delas internacionais, 78 Inquéritos
interestaduais e 32 intermunicipais. A Pestraf é considerada um documento referen-
Realizada pelo Centro de Referência, Es- cial na coleta destas informações, mas por ter
tudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes sido lançada em 2002 já demanda atualiza-
(Cecria), com apoio da Organização dos Es- ção, como forma de melhor dimensionamento
tados Americanos (OEA), a Pestraf revelou do tráfico de crianças e adolescentes para fins
que muitas vítimas são levadas para a Euro- de exploração sexual no Brasil.
pa e países da América Latina. Segundo o es- Dados de um levantamento mais recente
tudo, as mulheres e as meninas em situação (2012) realizado pela Secretaria Nacional de
de tráfico para fins sexuais geralmente são Justiça, em parceria com o Escritório das Na-
oriundas de classes populares e contam com ções Unidas sobre Drogas e Crimes (Unodc), re-
baixa escolaridade. velam que, entre 2005 e 2011, a Polícia Federal
Predominantemente, as vítimas são afro- registrou 157 inquéritos por tráfico internacio-
descendentes com idades entre 15 e 24 anos, nal de pessoas para fins de exploração sexual.
48 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

No mesmo período, foram instaurados 514 A Pestraf foi um dos pontos de partida para
inquéritos pela Polícia Federal, dos quais ape- o trabalho da CPMI da Exploração Sexual In-
nas 13 se configuraram como tráfico interno e fantojuvenil no Congresso Nacional, instalada
344 como trabalho escravo. O relatório aponta em 2004.
dificuldades para reunir provas do crime, o que Um dos principais resultados dessa inicia-
quase sempre resulta na falta de punição. Em tiva foi, sem dúvida, a aprovação de mudança
relação ao tráfico interno para fins sexuais, o no Código Penal, objeto da Lei n° 11.106/05,
estudo demonstra que apenas 31 pessoas foram com a alteração no art. 231, e o acréscimo do
indiciadas e 117 presas entre 2005 e 2010. art. 231-A. O crime “tráfico de mulheres” pas-
No tocante aos crimes relacionados ao tráfi- sou a ser “tráfico de pessoas”; e no art. 231A
co de pessoas há consenso entre as organizações foi inserido o tipo penal “tráfico interno”, ti-
que atuam nesta área sobre a falta de registro de pificação até então inexistente na legislação
informações e dados sistematizados para real brasileira.
dimensionamento dessa violação no Brasil.

um pouco mais longos, mas igualmente frá- Este, no Paraguai. Ou ainda as duas que ligam
geis: entre Cáceres (MT) e San Matias, na Bo- Brasiléia e Epitaciolândia (AC) à cidade de
lívia; entre Pacaraima (RR) e Santa Helena de Cobija, na Bolívia. Onde não há ponte, a in-
Uairén, na Venezuela; e entre Corumbá (MS) teração socioeconômica entre os países se dá
e Puerto Quijarro, na Bolívia. por intermédio de embarcações, que também
As fronteiras interligadas por meio de precisam ser fiscalizadas. É o que acontece,
pontes também apresentam problemas de por exemplo, no Rio Madeira, que separa ge-
controle migratório, caso da Ponte da Amiza- ograficamente o Brasil e a Bolívia, ou no Rio
de, que une Foz do Iguaçu (PR) a Ciudad del Oiapoque em relação à Guiana Francesa.
Dicas para a cobertura: contexto é fundamental
• Contextualize as informações referentes ao perfil de municação influenciam fortemente os padrões de
exploradores, bem como aos sinais de exploração comportamento do público infantil e podem, mui-
sexual. Vale sempre ter em foco, na abordagem des- tas vezes, contribuir para uma erotização precoce;
se tipo de assunto, que crianças – até mesmo bebês • Reportagens investigativas – que denunciam os
– não são seres desprovidos de sexualidade, tendo aliciadores, apontam redes de exploração, revelam
direito ao livre desenvolvimento de uma sexuali- as formas de aliciamento de crianças e adolescen-
dade sadia, que não pode ser usada como pretexto tes e indicam as condições a que estão submetidos
para a prática de crimes sexuais, sempre baseados – são as que mais geram resultados. Além de infor-
em assimetrias de poder; mar os leitores sobre o problema, ajudam a detectar
• Evite abordagens sensacionalistas, que contri- sinais de aliciamento e servem de evidências para a
buem para revitimizar crianças e adolescentes. abertura de inquéritos, a investigação de crime e a
Esse tipo de enfoque gera na sociedade um sen- consequente responsabilização dos autores;
timento de impotência ou de tolerância, além de • Acompanhe os casos de exploração sexual em
banalizar o problema. O sensacionalismo só cola- forma de suíte ou série de reportagens. É impor-
bora para estigmatizar a vitima, além de reforçar tante que o público conheça os resultados gera-
a ideia de que o cenário da exploração sexual se dos pelas denúncias. Siga o encaminhamento
constitui de fatos isolados; jurídico, o atendimento psicossocial do vitima-
• Em temas como o da exploração sexual de crianças do, a situação dos exploradores e aliciadores, a
e adolescentes, estreitamente relacionados às no- posição da família. Enfim, monitore os desdo-
ções sociais de sexualidade, é fundamental chamar bramentos da sua reportagem – as vítimas me-
a atenção sobre o papel da mídia na construção da recem essa atenção e respeito;
maneira como a sociedade enxerga meninos e me- • Na reportagem, procure dar destaque às ações
ninas. É preciso refletir sobre como os meios de co- necessárias para a recuperação do trauma –
acompanhamento físico, psicológico, afetivo e • Evite generalizações ao apontar a má condu-
social. Essa é uma forma de cobrar medidas das ta de membros de corporações ou autoridades.
autoridades responsáveis. Importante saber que a Lembre-se que se existem pessoas corruptas, há
legislação prevê a execução de ação cível e o afas- também outras sérias e comprometidas com a
tamento do autor da violência do lar (caso de vio- defesa dos direitos de crianças, a prevenção da
lência sexual intrafamiliar), no qual se mantém exploração sexual e a punição dos criminosos;
a obrigação de prover a subsistência da família e • Escrever sobre atos violentos exige certo distancia-
a pensão alimentícia; mento do repórter. Não invista no desenho de perfis
• Evite descrições minuciosas e desnecessárias da como o de vilão ou de herói na reportagem, para
violência sexual, com matérias focadas direta- não comprometer um debate público mais produ-
mente na exibição do horror; tivo em torno do assunto.
Guia de referência para a cobertura jornalística 51

No Brasil, a mobilização em torno do comba-


te à violência sexual cometida contra crian-

2
ças e adolescentes começou a ganhar maior
expressão política na década de 1990, com a
aprovação do Estatuto da Criança e do Adoles-
cente (ECA). Resultado de uma ampla mobi-
lização da sociedade civil, o ECA regulamenta
o princípio da proteção integral previsto na Traduzindo
direitos
Constituição Federal de 1988, estabelecendo
o cumprimento – pelo Estado, pela família e
pela sociedade – de diretrizes que assegurem
o respeito à integridade física, psicológica e
moral desse segmento da população. em políticas
públicas
E para garantir a efetivação dos princípios
da prioridade absoluta e da proteção integral
dos direitos da população infantojuvenil, a
Constituição Federal o ECA criaram o Sis-
tema de Garantia de Direitos (SGD), que se
estrutura em três eixos: promoção, defesa e
controle social. A proposta é que o SGD seja
52 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

colocado em prática por meio de uma polí- junto de direitos, mas uma rede de institui-
tica de atendimento articulada entre União, ções e atores responsáveis por sua efetivação,
estados e municípios, além de organizações configurando-se uma tríplice responsabili-
não governamentais e outras instituições da dade: Família, Estado e Sociedade.
sociedade civil. O Conanda, em Resolução nº 113/2006 as-
Entre os mecanismos utilizados para ga- sim define o SGD:
rantir essa estratégia estão os Conselhos
dos Direitos da Criança e do Adolescente, os O Sistema de Garantia dos Direitos da
Conselhos Tutelares, as Varas e Delegacias Criança e do Adolescente constitui-se
Especializadas, as Defensorias Públicas, os na articulação e integração das ins-
Centros de Defesa da Criança e do Adoles- tâncias públicas governamentais e da
cente. Quando bem estruturadas, essas ins- sociedade civil, na aplicação de ins-
tâncias podem contribuir para a redução da trumentos normativos e no funciona-
violência contra meninos e meninas, seja mento dos mecanismos de promoção,
intervindo e oferecendo atendimento às ví- defesa e controle para a efetivação dos
timas e suas famílias, seja produzindo infor- direitos humanos da criança e do ado-
mações e indicadores para melhor dimen- lescente, nos níveis federal, estadual,
sionamento do problema. distrital e municipal.
Para tanto, é importante conhecer como
as instituições operacionalizam os direitos na Por outro lado, o art. 86 do ECA traduz, de
prática. Ao propor a estruturação de um SGD, forma didática, a ideia do Sistema e da Rede,
o ECA define uma matriz de responsabilida- com uma palavra chave – articulação –, que
de, exigindo efetividade e eficácia na garantia expressa uma aliança estratégica entre atores
dos direitos. Essa matriz pressupõe a orga- sociais (pessoas) e forças políticas (institui-
nização política da sociedade, por meio dos ções), que têm na horizontalidade das de-
espaços públicos institucionais, conforme cisões e no exercício do poder os princípios
prevê o art. 227 da Constituição Federal. O norteadores da Política de Atenção à Criança
dispositivo estabelece, ainda, não só um con- e ao Adolescente.
Guia de referência para a cobertura jornalística 53

Como mencionado, o SGD contempla três • Tribunais de contas dos estados e municípios;
eixos: promoção, defesa e controle. • Outras instâncias representativas, como
comitês, fóruns...
PROMOVER. Significa prover os direitos
previstos no ECA, por meio de deliberação Importante destacar o papel dos meios de
e formulação de políticas públicas, como comunicação social e da iniciativa privada,
forma de traduzir direitos em ações efetivas que devem ser sensibilizados para participar,
e eficazes. em diferentes níveis, desse esforço de garan-
tia dos direitos de crianças e adolescentes.
Eixo Promoção ou Atendimento Representações políticas, entidades de aten-
I – Serviços e programas das políticas pú- dimento e instituições religiosas devem estar
blicas, especialmente das políticas sociais, integradas, como rede, no SGD.
afetos aos fins da política de atendimento
dos direitos de crianças e adolescentes; DEFENDER E RESPONSABILIZAR. É asse-
II – Serviços e programas de execução de gurar o cumprimento dos direitos previstos
medidas de proteção de direitos humanos; em leis em relação às vítimas, responsabili-
III – Serviços e programas de execução de zando os autores (Estado, a Sociedade e a Fa-
medidas socioeducativas e assemelhadas. mília) nos casos de omissão ou violação des-
ses direitos.
CONTROLAR. É estar atento ao cumprimen-
to dos direitos, acompanhando e fiscalizando Eixo Defesa e Responsabilização
as ações nesta área, e exercendo um controle Caracteriza-se pela garantia do acesso à
social, em todos os níveis. Justiça, ou seja, pelo recurso às instâncias
públicas e mecanismos jurídicos de prote-
Eixo Controle das Ações ção legal dos direitos humanos, gerais e es-
• Conselhos de direitos de crianças e ado- pecíficos, da infância e da adolescência, em
lescentes; casos de ameaça ou de violação dos direitos.
• Conselhos setoriais; Algumas destas instâncias:
54 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

• Conselhos Tutelares; fio de construir redes, de forma articulada


• Ministério Público; e integrada. São múltiplas e complexas as
• Forças de Segurança/Polícia; causas do não cumprimento de direitos, as-
• Defensoria Pública; sim como são diversos os atores envolvidos
• Justiça; na ameaça ou na violação desses direitos.
• Ouvidorias; Trabalhar em rede é compreender a impor-
• Centros de Defesa. tância de uma ação articulada para o enfren-
tamento das violências cometidas contra
As redes de proteção à criança e ao ado- crianças e adolescentes.
lescente devem ser organizadas a partir dos Essa é a configuração ideal do SGD, cuja
eixos estruturadores de políticas públicas do base pode ser desestruturada quando o po-
SGD e devem funcionar com o objetivo de der público não cumpre as suas obrigações,
contribuir para: quando a família não assume as suas respon-
sabilidades, ou quando a sociedade desres-
• Prevenir o fenômeno; peita a criança ou o adolescente pelo silêncio,
• Punir os responsáveis pela ocorrência de pela cumplicidade, ou por não denunciar es-
violações de direitos; sas graves violações.
• Prover serviços qualificados (beneficiários
e famílias); Outros mecanismos de enfrentamento
• Promover a articulação e mobilização de Embora o ECA tenha efetivamente trans-
órgãos em torno da problemática da vio- formado o panorama legal no campo dos
lência sexual; direitos da infância, o tema da violência
• Assegurar o protagonismo dos adolescen- sexual ainda era, à época em que a Lei nº
tes e jovens na reconstrução de seus pro- 8.069/1990 foi aprovada, pouco visível para
jetos de vida. a sociedade brasileira. Tal contexto, como
vimos, vem se alterando nestas últimas dé-
Nessa perspectiva, atuar na área da in- cadas, inclusive a partir da relevante contri-
fância e da adolescência é enfrentar o desa- buição do campo midiático.
Guia de referência para a cobertura jornalística 55

Os caminhos da proteção

Sem negar a importância de punição do acu- cia e da Juventude ou os Conselhos de Direitos


sado (o que não deve ser entendido apenas podem receber a informação. Segundo o Plano
como prisão), o objetivo geral do sistema de Nacional, cabe aos conselheiros tutelares faze-
denúncia/notificação é incluir todos os in- rem os registros no Sistema Nacional de Regis-
divíduos envolvidos na situação de violência tros de Informações para a Infância e Adoles-
sexual no circuito de atendimento, defesa de cência (Sipia)1, de modo a estruturar um banco
direitos e responsabilização. de dados sobre o problema no município.
Nesse processo, cabe à mídia um papel fun-
damental: divulgar as várias portas de entra- Atendimento. Após a identificação do caso por
da da denúncia. Conheça os principais cami- alguma das instâncias acima mencionadas, o
nhos da proteção: passo seguinte é encaminhar os envolvidos para
uma unidade de atendimento, que pode ser go-
Identificando o problema. Nem sempre a vernamental ou não governamental. Vários
Polícia é a primeira instância de recebimento programas oferecem ainda acompanhamento
das denúncias de violência sexual. Escolas, psicossocial às famílias. Embora muitos espe-
serviços de saúde, Conselhos Tutelares, Centros cialistas defendam a importância do atendi-
de Defesa da Criança e do Adolescente, entre mento também ao autor da violência, são poucas
outros, são algumas das portas de entrada na as instituições que oferecem esse tipo de serviço.
rede de proteção.
1
O Sipia compreende quatro módulos, sendo o Mó-
Registro da queixa. O registro da ocorrên- dulo I – monitoramento da situação de proteção
à criança e ao adolescente sob a ótica da violação e
cia do crime deve ser feito, preferencialmente,
ressarcimento de direitos e o Módulo IV – acom-
pelo Conselho Tutelar. Nas cidades onde não panhamento da implantação e implementação dos
há unidade de tal órgão, as Varas da Infân- conselhos de direitos e conselhos tutelares.
56 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Responsabilização. As delegacias dão início ao sexual. Entre elas está, por exemplo, a inclu-
inquérito quando recebem o registro da queixa. são da família em programas de geração de
O órgão realiza as diligências e encaminha o in- renda, afastamento da pessoa que cometeu
quérito à Promotoria da Infância e da Juventude/ a violência sexual do ambiente onde reside
Ministério Público, que analisa a consistência das a vítima2 e encaminhamento da pessoa vi-
provas. Sendo consistentes, o MP leva a denúncia timada a um espaço de acolhimento insti-
à Justiça, dando início ao processo judicial. Nos tucional, quando estritamente necessário.
artigos 24 e 231 do Código Penal e 201 e 244-A, do Esse encaminhamento é definido pelos arti-
ECA, há disposições a esse respeito. gos 101 e 148 do ECA.
2
Proteção. Além do atendimento psicoterápi- Art. 130 do ECA. Importante saber que o afasta-
mento do autor da violência do lar (caso de violên-
co, a legislação brasileira determina a ado-
cia sexual intrafamiliar) não o desobriga, no caso
ção de uma série de medidas de proteção a de ser o provedor, de manter a subsistência da fa-
crianças e adolescentes vítimas de violência mília e a pensão alimentícia;

Como mencionado, em 2000, representantes Em maio de 2013, o Plano Nacional foi re-
da sociedade civil organizada e do governo brasi- visado, tendo sido mantida a estrutura a partir
leiro estruturaram, com o apoio de organismos de seis eixos fundamentais, que estabelecem
da cooperação internacional, o Plano Nacional um conjunto de diretrizes relacionadas a di-
de Enfrentamento à Violência Sexual contra ferentes áreas.
Crianças e Adolescentes. O documento era uma O novo Plano Nacional inclui na sua estru-
resposta do País ao compromisso político firma- tura as Diretrizes do Plano Decenal/2010 em
do na Declaração e Agenda para Ação, aprovadas relação a cada eixo; os Indicadores de Moni-
no I Congresso Mundial Contra Exploração Se- toramento e as Ações previstas, com a indica-
xual Comercial de Crianças/Estocolmo. ção de Responsáveis e Parceiros.
Guia de referência para a cobertura jornalística 57

Alguns aspectos relevantes foram considerados na re-


visão do Plano:
Cadastro Nacional
• A adoção do macroconceito “violência sexual” (abuso O Cadastro Nacional de Conselhos
sexual e exploração sexual);
Tutelares, lançado em 2013 pela
• A utilização do termo pessoa que comete violência se-
Secretaria de Direitos Humanos da
xual;
Presidência da República (SDH/
• A necessidade de assegurar especificidade de atendi-
PR), aponta que 99% dos municí-
mento em cada espaço (saúde, assistência social, CTs
pios brasileiros já implantaram os
etc.), com prévia definição de fluxos e protocolos;
Conselhos Tutelares, representando
• A escuta especializada de crianças e adolescentes nos
o quantitativo de 5.906 conselhos1
diferentes espaços do atendimento, numa perspectiva
até outubro/2012.
de humanização no âmbito dos sistemas de Segurança
e da Justiça; O levantamento revela ainda que
• A inclusão de cláusulas / condicionalidades preventi- 59% dos conselhos funcionam em
vas a todas as formas de abuso e/ou exploração sexual sede com uso exclusivo; 75% dis-
contra crianças e adolescentes nos contratos firma- põem de telefone fixo; apenas 63%
dos para execução das grandes obras de desenvolvi- têm telefone celular (equipamento
mento e no contexto de megaeventos (responsabili- essencial para o plantão); 95%
dade social). têm computador, sendo que 80%
utilizam internet e 40% contam com
De olho nas políticas públicas pessoal de apoio (mais informações:
Entende-se por política pública um curso de ação ou es- www.sdh.gov.br).
tratégia formulada para realizar objetivos e obter resulta- 1
O art. 132 do ECA estabelece que em
dos definidos, que podem ter efeitos sobre os arranjos de cada município e em cada região admi-
poder, a pobreza, a economia, enfim, setores considera- nistrativa do Distrito Federal haverá,
dos de interesse público. Problemas sociais de alta com- no mínimo, um Conselho Tutelar.
plexidade – como a exploração sexual – exigem a articu-
58 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

lação de diferentes iniciativas públicas, para que possam


ser efetivamente enfrentados.
Comitê No caso da violência sexual contra os segmentos em
foco, além da já existente rede de proteção à infância e à
O Comitê Nacional de Enfrenta- adolescência, diferentes políticas foram implementadas
mento à Violência Sexual contra nos últimos anos, principalmente a partir da formulação
Crianças e Adolescentes surgiu de do Plano Nacional de Enfrentamento, como já destacado.
uma proposta em encontro realizado Ao abordar questões relativas aos direitos desses
em Natal (RN), em junho de 2000, segmentos, o jornalista deve estar atento ao papel que
onde foi elaborado o Plano Nacional tais instâncias devem desempenhar no que se refere a
de Enfrentamento da Violência estabelecer pactos entre governo e sociedade na opera-
Sexual Infantojuvenil. cionalização de planos e políticas nacionais de enfren-
O Comitê foi instalado como uma tamento a violações de direitos, sobretudo de crianças
instância nacional representativa e adolescentes.
da sociedade, dos poderes públicos
e das cooperações internacionais, Atuação do Governo Federal
para monitoramento sistemático da O Governo Federal, especialmente a partir de 2003, criou
implementação do referido plano. diversos órgãos diretamente ligados à proteção de crian-
ças, adolescentes, jovens e outros segmentos populacio-
A Coordenação Colegiada do Comitê
nais considerados mais excluídos das políticas públicas.
Nacional é composta atualmente
Destacam-se a criação da Secretaria de Políticas de
por 14 membros e pontos focais
Promoção da Igualdade Racial (2003), da Secretaria de Po-
vinculados a organizações da
líticas para as Mulheres (2003) e da Secretaria Nacional da
sociedade civil em todos os estados
Juventude (2004), além do fortalecimento institucional.
brasileiros.
A Secretaria de Estado de Direitos Humanos da Presi-
dência da República, com status de Ministério, foi criada
no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, que
em seu primeiro mandato instituiu a Secretaria Especial
Guia de referência para a cobertura jornalística 59

Eixos do Plano Nacional – 2013

Conheça os eixos do Plano Nacional de Enfren- crimes sexuais, combater a impunidade, dis-
tamento da Violência Sexual Infantojuvenil e ponibilizar serviços de notificação e responsa-
algumas das políticas já desenvolvidas: bilização qualificados.

Prevenção Participação e protagonismo


Objetivo: Assegurar ações preventivas contra Objetivo: Promover a participação ativa de
o abuso e/ou exploração sexual de crianças e crianças e adolescentes na defesa de seus di-
adolescentes, fundamentalmente pela educa- reitos e na elaboração e execução de políticas
ção, sensibilização e autodefesa. de proteção.

Atenção Comunicação e mobilização social


Objetivo: Garantir o atendimento especializa- Objetivo: Fortalecer as articulações nacionais,
do, e em rede, às crianças e aos adolescentes em regionais e locais de enfrentamento e pela
situação de abuso e/ou exploração sexual e às eliminação do abuso e/ou exploração sexual,
suas famílias, realizado por profissionais capa- envolvendo mídia, redes, fóruns, comissões,
citados, assim como assegurar atendimento à conselhos e outros.
pessoa que comete violência sexual, respeitan-
do as diversidades de condição étnico-racial, Estudos e pesquisas
gênero, religião cultura, orientação sexual etc. Objetivo: Conhecer as expressões do abuso e/ou
exploração sexual de crianças e adolescentes
Defesa e responsabilização por meio de diagnósticos, levantamento de da-
Objetivo: Atualizar o marco normativo sobre dos, estudos e pesquisas.
60 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

de Direitos Humanos (SEDH), até então vin- fomenta a formulação de políticas públicas
culada ao Ministério da Justiça. Essa instância intersetoriais para o enfrentamento da vio-
passou a ser responsável também pela coor- lência sexual contra crianças e adolescentes,
denação de ações voltadas ao atendimento de especialmente, por meio do PAIR10 (progra-
direitos de crianças e adolescentes. ma que desenvolve metodologia de atuação
Em 2003, no governo Lula, a SEDH foi di- integrada das redes de enfrentamento es-
retamente vinculada à Presidência da Repú- taduais e municipais), desde 2006. O PAIR
blica. A SDH/PR constitui o pano de fundo já está sendo implantado e disseminado em
da política de proteção aos direitos humanos, mais de 600 municípios distribuídos nos 27
abrigando a Secretaria Nacional de Promo- estados do Brasil. A metodologia do PAIR
ção dos Direitos da Criança e do Adolescente também está sendo disseminada por meio
(SNPDCA). da Educação a Distância (EAD), em parceria
com o Instituto Aliança.
Direitos humanos O PNEVSCA também tem fomentado a sis-
O Programa Nacional de Enfrentamento da tematização de metodologias inovadoras de
Exploração Sexual contra Crianças e Ado- enfrentamento à violência sexual contra crian-
lescentes (PNEVSCA), vinculado à SNPDCA/ ças e adolescentes, especialmente aquelas que
SDH/PR, coordena as ações de mobilização e fazem interface com temas como etnia, gêne-
articulação nesta área, integrando iniciativas ro, atendimento a autores da violência, tráfico
entre os ministérios, sociedade civil e or- de pessoas, humanização do atendimento de
ganismos de cooperação internacional, por crianças e adolescentes nos sistemas de segu-
meio da Comissão Intersetorial9. O programa rança e justiça, pornografia infantojuvenil na
9
A Comissão Intersetorial de Enfrentamento da Violên- internet e responsabilidade social.
cia Sexual contra Crianças e Adolescentes é uma estraté- Além das ações interministeriais, a po-
gia do Governo Federal para proposição e implementação lítica nacional nesta área destacou-se pela
da política de enfrentamento à exploração sexual. É com-
10
posta pelo Governo Federal, sociedade civil e organismos Programa de Ações Integradas e Referenciais de En-
internacionais, dentre outras entidades voltadas ao en- frentamento da Violência Sexual de Crianças e Adoles-
frentamento da problemática. centes no Território Brasileiro.
Guia de referência para a cobertura jornalística 61

ampla mobilização e o engajamento de se- Assistência Social (atual MDS) e da Agência


tores empresariais estratégicos11, tais como dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
turismo, transportes e centrais de abas- Internacional (Usaid).
tecimento, com termos de compromisso A metodologia proposta tem por objetivo
corporativos, campanhas em suas cadeias tornar operativos os eixos do Plano Nacio-
produtivas e capacitação de seus trabalha- nal de Enfrentamento da Violência contra
dores. Esse é um importante passo para a Crianças e Adolescentes, buscando integrar,
preparação do Brasil para os megaeventos no âmbito dos municípios, políticas desen-
esportivos que estão previstos para os pró- volvidas por governos, sociedade civil e or-
ximos anos, os quais podem potencializar ganismos internacionais.
situações de violações de direitos de crian- Avaliação realizada em 2010 aponta que
ças e adolescentes. o PAIR contribuiu para, dentre outras, a
mudança de paradigma no enfrentamento
PAIR das situações de exploração sexual, a par-
Atuar na construção de uma política mu- tir de uma visão integrada e multissetorial;
nicipal de proteção integral à criança e ao a operacionalização do Plano Nacional de
adolescente é um dos focos do Programa de Enfrentamento à Violência Infantojuvenil
Ações Integradas e Referenciais de Enfren- em nível municipal; a disponibilização de
tamento à Violência Sexual Infantojuvenil no informações, ferramentas e metodologias
Território Brasileiro (PAIR). Implementado sobre o tema.
em 2002, o PAIR é fruto da iniciativa da en- A efetividade das ações desenvolvidas
tão Secretaria Especial dos Direitos Huma- possibilitou a adoção do PAIR por parte do
nos, do extinto Ministério da Previdência e Governo Brasileiro como referência meto-
dológica para reedição em todos os muni-
11
Em 2010, 24 grandes empresas e fundações assinaram a cípios incluídos na Matriz Intersetorial de
Declaração de Compromisso Corporativo para o enfren-
tamento à exploração sexual de crianças e adolescentes,
Políticas Públicas e para a sua disseminação
dando início a um projeto inovador de adesão ao tema. no PAIR Mercosul (mais informações: http://
(www.empresascontraaexploracaosexual). pair.ledes.net).
62 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Disque 100 As áreas de saúde e educação


Criado em 1997 e atualmente coordenado Dois importantes atores que podem con-
pela Secretaria de Direitos Humanos/PR, tribuir para o bom funcionamento das po-
esse serviço é hoje o principal canal para que a líticas de atendimento a crianças e adoles-
população possa denunciar casos de violência centes vitimados pela violência sexual são
sexual contra crianças e adolescentes. Gra- os agentes das áreas de saúde e de educa-
tuito e de abrangência nacional, o Disque 100 ção. O Estatuto da Criança e do Adolescente
recebe as denúncias e encaminha os casos às (ECA) define responsabilidades para essas
autoridades competentes. categorias profissionais no enfrentamento
Além de violência sexual, o serviço acolhe de situações de maus-tratos contra a popu-
registros de tráfico de pessoas, negligência e lação infantojuvenil: além da comunicação
maus-tratos. Também por meio deste núme- das violações às autoridades competentes,
ro, o cidadão pode obter informações sobre é também seu dever dar proteção às vítimas
o que são e como funcionam os Conselhos e apoio às famílias.
Tutelares, além de obter o telefone do órgão É preciso, no entanto, identificar os pa-
mais próximo de sua casa. péis e atribuições desses atores, de modo a
Destaque para a criação de um hot line na- garantir que esses profissionais integrem
cional para diagnóstico, recepção e encami- adequadamente o fluxo da atenção à criança
nhamento de denuncias de pornografia in- no âmbito do sistema de garantia de direitos.
fantojuvenil na internet – www.disque100. Por outro lado, não se pode deixar de re-
gov.br. conhecer que, ainda que tenham suas res-
Relatório divulgado em 2010 pelo Instituto ponsabilidades apontadas pela legislação,
Interamericano del Niño, la Niña y Adolescen- tais profissionais lidam com dificuldades
tes, da Organização dos Estados Americanos estruturais no exercício de sua função – tanto
(OEA), destacou que o serviço Disque 100 os do campo da Saúde como os da Educação.
se configura como a principal fonte de da- Os reduzidos investimentos em capacitação, a
dos quantitativos relativos à violência contra ausência de recursos técnicos necessários e o
crianças e adolescentes no Brasil. déficit de profissionais em relação à deman-
Guia de referência para a cobertura jornalística 63

da são alguns dos fatores que desafiam a atuação desses


agentes públicos. 18 de maio
Diante desse cenário, vale ressaltar que as áreas de
Para marcar o processo de mobili-
saúde e educação constituem apenas dois braços do siste- zação e conscientização da sociedade
ma de proteção e atendimento à criança e ao adolescente brasileira acerca da violência
e, portanto, não podem ser responsabilizadas isolada- sexual, foi criado, em 2000, o Dia
mente pelas diversas limitações vivenciadas no enfrenta- Nacional de Luta contra o Abuso e
mento da violência sexual. a Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes (Lei nº 9970/00).
Profissionais de saúde A data escolhida – 18 de maio –
O artigo 13 do ECA estabelece que os casos de suspeita ou representa um momento emblemático
de confirmação de maus-tratos contra crianças e adoles- para o País. Foi nesse dia, em 1973,
centes devem ser comunicados ao Conselho Tutelar da que uma menina de 8 anos foi brutal-
localidade. Para reforçar a determinação, o Ministério da mente assassinada em Vitória, após
Saúde baixou a portaria 1968/2001, que torna, nessas si- ter sido estuprada por jovens de classe
média alta daquela cidade. O crime,
tuações, obrigatório para as instituições da rede pública
apesar de sua natureza hedionda,
o preenchimento da Ficha de Notificação Compulsória e
ficou impune e acabou prescrevendo.
seu encaminhamento aos órgãos competentes.
A mídia tem importante papel
Na sequência destas providências, o Ministério da
no sentido de referendar a Lei nº
Saúde também editou a Portaria nº 528, de 1º de abril
9970/00 na agenda nacional. Além
de 2013, que define regras para habilitação e funciona- de incentivar as pessoas a denun-
mento dos Serviços de Atenção Integral às Pessoas em ciarem esse grave tipo de crime, os
Situação de Violência Sexual no âmbito do Sistema Úni- debates gerados no contexto do 18
co da Saúde (SUS). de maio contribuem para fomentar
Apesar dessa orientação, muitos profissionais ainda o processo de monitoramento das
encontram dificuldades para atuar nesses casos. Além dos ações e programas de enfrentamento
que não têm conhecimento sobre a norma, há quem con- previstas no Plano Nacional.
sidere que não é tarefa do setor de Saúde fazer essa comu-
64 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

nicação e também aqueles que têm medo de Único de Saúde incluindo, dentre outras, o
eventuais ameaças dos autores da violência. atendimento às vítimas de violência sexual
Outra importante iniciativa do Ministério pelos profissionais de segurança pública e da
da Saúde nesta área foi à elaboração da Linha rede de atendimento do SUS, observando as
de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde seguintes diretrizes:
de Crianças, Adolescentes e suas Famílias I - acolhimento em serviços de referência;
em Situação de Violências – Orientações para II - atendimento humanizado, observados os
gestores e profissionais de saúde, que tem princípios do respeito da dignidade da pessoa,
como foco a adoção de uma ação contínua e da não discriminação, do sigilo e da privacida-
permanente de atenção às vítimas de violên- de; III - disponibilização de espaço de escuta
cia, desde o acolhimento e atendimento até a qualificado e privacidade durante o atendi-
notificação e encaminhamento para as redes mento, para propiciar ambiente de confiança e
de cuidado e proteção social. respeito à vítima; IV - informação prévia à ví-
O documento traz orientações para o de- tima, assegurada sua compreensão sobre o que
senvolvimento de ações de promoção da saú- será realizado em cada etapa do atendimento
de e prevenção de violências que mais afetam e a importância das condutas médicas, multi-
crianças e adolescentes, destacando a impor- profissionais e policiais, respeitada sua decisão
tância do trabalho junto às famílias, os fatores sobre a realização de qualquer procedimento
de proteção, além de alerta para as vulnera- (mais informações: webmail.saude.gov.br).
bilidades, riscos e identificação dos sinais e
sintomas de violência. Políticas para mulheres
É relevante destacar também a recente Outra iniciativa pública relevante é o Programa
aprovação do Decreto nº 7.958, de 13/03/2013, Mulher: Viver sem Violência. Criado em 2013,
que trata da normatização do atendimento no visa aprimorar sistemas, protocolos, fluxos e
âmbito do SUS. O decreto estabelece diretri- procedimentos de coleta de materiais das ví-
zes para o atendimento às vítimas de violên- timas de violência sexual que se configurem
cia sexual pelos profissionais de segurança como provas periciais dos crimes de estupro.
pública e da rede de atendimento do Sistema Os materiais coletados serão devidamente
Guia de referência para a cobertura jornalística 65

acondicionados e encaminhados aos Institutos to desses casos não seja a tarefa principal de
Médicos Legais, para procedimentos periciais professores e gestores da área, sua contri-
que servirão de base para processos judiciais buição ao enfrentamento da violência sexual
de responsabilização dos agressores. pode ser decisiva na comunidade escolar.
A prevenção é uma das prioridades do Importante mencionar o que estabelece o
“Mulher: Viver sem Violência”, contando ECA em relação à notificação dos casos de vio-
ainda com a realização de cinco campanhas lações de direitos de crianças e adolescentes:
de conscientização.  Os serviços públicos de
segurança, justiça, saúde, assistência social, Art. 245. Deixar o médico, professor
acolhimento, abrigamento e orientação para ou responsável por estabelecimento de
trabalho, emprego e renda serão integrados atenção à saúde e de ensino fundamen-
por meio do referido programa. tal, pré-escola ou creche, de comunicar
à autoridade competente os casos de
Profissionais de educação que tenha conhecimento, envolvendo
Embora sejam importantes no enfrenta- suspeita ou confirmação de maus-tra-
mento da violência sexual contra meninos e tos contra criança ou adolescente:
meninas, professores e outros profissionais Pena - multa de três a vinte salários de
da educação raramente contam com conteú- referência, aplicando-se o dobro em
dos específicos sobre o tema ao longo de sua caso de reincidência.
formação. Essa deficiência contribui para
que encontrem dificuldade em identificar Escola que Protege
sinais associados ao abuso e à exploração se- O projeto Escola que Protege (Eqp) é volta-
xual, como falta de disciplina e distúrbios de do para a promoção e a defesa dos direitos de
aprendizagem, por exemplo. crianças e adolescentes, além do enfrentamen-
Apesar dos desafios, não resta dúvida de to e prevenção das violências no contexto esco-
que a escola é um local estratégico para dis- lar. A principal estratégia da ação é o financia-
cussão e conscientização em torno do tema. mento de projetos de formação continuada de
Ainda que a notificação e o acompanhamen- profissionais da rede pública de educação bá-
66 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

sica, além da produção de materiais didáticos e Assistência social


paradidáticos sobre os temas em foco. Nesse campo, deve ser destacada a atuação
O Eqp incentiva o debate junto aos siste- dos Centros de Referência Especializados de
mas de ensino, na busca pela definição de um Assistência Social (CREAS), que desde 2005
fluxo de notificação e encaminhamento das assumiram a responsabilidade pela oferta
situações de violência identificadas ou vi- de orientação e apoio a indivíduos e famí-
venciadas na escola, junto à Rede de Proteção lias com direitos violados. Embora seja um
Social; e defende a integração e articulação importante instrumento no atendimento de
dos sistemas de ensino, dos profissionais da meninos e meninas vitimados pela violência
educação e, em especial, dos Conselhos Esco- sexual, atualmente o programa abrange 2.167
lares à Rede de Proteção Integral dos Direitos municípios – cobertura que atinge menos de
de Crianças e Adolescentes. 40% do total dos municípios brasileiros12.
São atendidos os municípios que incluem o Vale lembrar que a responsabilidade pela
tema da promoção e da defesa, no contexto es- implementação dos CREAS não é apenas
colar, dos direitos de crianças e adolescentes, do Governo Federal. Os municípios devem
e o enfrentamento e prevenção das violências contar com um diagnóstico mínimo sobre o
no seu Programa de Ações Articuladas (PAR); problema, além de responder a uma série de
apresentam baixo Índice de Desenvolvimento requisitos técnicos.
da Educação Básica (Ideb) ou fazem parte da As experiências de atendimento específico
Matriz Intersetorial de Enfrentamento da Ex- a meninos vitimados pela exploração sexual
ploração Sexual de Crianças e Adolescentes. ainda são incipientes no Brasil. O atendi-
Também são contemplados aqueles que mento público a esse segmento vem sendo
participam dos seguintes programas: Mais disponibilizado pelos CREAS. São poucos os
Educação; Programa de Ações Integradas e registros de atendimento realizado por parte
Referenciais de Enfrentamento à Violência de entidades ligadas à sociedade civil.
Sexual contra Crianças no Território Brasilei- No caso da violência sexual, especialistas
ro (PAIR); e Programa Nacional de Segurança alertam para a necessidade de que as políticas
Pública com Cidadania (Pronasci). 12
Dados Censo SUAS/2012.
Guia de referência para a cobertura jornalística 67

públicas ofereçam, além do atendimento psicoterápico,


ações efetivas de geração de trabalho e renda para os ado-
lescentes (maiores de 16 anos ou a partir dos 14 anos, na Sentinela
condição de aprendiz, conforme estabelece a legislação
brasileira) e suas famílias. Especialistas criticam a transferên-
Existem diversas iniciativas que conseguem, em pe- cia do programa Sentinela1 para os
quena escala, resgatar a autoestima dos adolescentes, serviços desenvolvidos no âmbito dos
oferecendo não apenas ajuda financeira, mas, sobretudo, CREAS. Isso porque, além de violência
chances concretas de desenvolverem seus potenciais. Di- sexual, os Centros de Referência
vulgar as estratégias e os mecanismos de atuação desses atendem outras formas de violações
programas é uma importante contribuição que a impren- de direitos infantojuvenis – como
sa pode oferecer no combate ao fenômeno. Vale investi- situação de rua e maus-tratos – e
gar como funcionam esses projetos e como tais iniciativas outros segmentos populacionais, como
poderiam ser disseminadas. idosos e mulheres.
Segundo pesquisadores da área,
Turismo crianças e adolescentes vitimados
Nesse contexto, merece foco o programa Turismo Susten- pela violência sexual demandam
tável e Infância (TSI). Lançado em 2004, a iniciativa tem um atendimento com peculiaridades
como objetivo sensibilizar, mobilizar e qualificar a cadeia significativas, cujo bom resultado só
produtiva do setor para a prevenção da exploração sexu- pode ser alcançado a partir de apoio
al de crianças e adolescentes no turismo. Nesse sentido, específico e humanizado.
busca a adesão do setor em campanhas de esclarecimen-
1
to, treinamentos e produção de materiais que orientem Criado em 2001 pela antiga Secretaria de
Estado de Assistência Social, hoje Minis-
os profissionais da área sobre como prevenir e como agir tério do Desenvolvimento Social e Combate
perante uma situação concreta. à Fome (MDS), o programa buscou oferecer
O TSI está estruturado em quatro eixos de ação: Projetos ações de apoio psicossocial a crianças,
adolescentes e famílias vítimas de violên-
de Inclusão Social com Capacitação Profissional; Projetos cia sexual.
de Formação de Multiplicadores, Seminários de Sensibi-
68 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

lização, e Desenvolvimento de Campanhas. No período


Bolsa Família de 2004 a 2012, o TSI acumulou resultados e números ex-
pressivos na luta pelo enfrentamento à exploração sexual
Crianças e adolescentes de famílias de crianças e adolescentes, contabilizando 850 jovens ca-
em extrema situação de pobreza se pacitados profissionalmente; 950 jovens em processo de
tornam mais vulneráveis à explora- formação; 530 agentes locais formados; 163 seminários de
ção sexual. Nesse sentido, as políti- sensibilização realizados; e 110 mil pessoas mobilizadas.
cas de transferência de renda podem
ser importantes mecanismos de Orçamento público
auxílio na prevenção à problemática. Um primeiro e determinante passo para que uma política
Um dos exemplos é o Programa Bolsa pública seja colocada em prática é a destinação de recur-
Família (PBF), do Governo Federal, sos públicos para iniciativas na área, ação que só pode ser
criado em 2003. efetivada por meio do Orçamento Público.
Ao ingressar no programa, a família No caso do enfrentamento à violência sexual contra
se compromete em manter suas crianças e adolescentes, os recursos estão disponibili-
crianças e adolescentes em idade zados em diversas ações e programas. Impõe ressaltar
escolar frequentando a escola e a que na elaboração do Plano Nacional, a sistematização e
cumprir os cuidados básicos de saú- análise das ações de enfrentamento à violência sexual fo-
de: o calendário de vacinação para ram realizadas com base no orçamento previsto no PPA
crianças entre 0 e 6 anos e a agenda 2012-2015. Para tanto, foram feitas as devidas compatibi-
pré e pós-natal para as gestantes e lizações dos objetivos e metas estabelecidas com as reais
mães em amamentação. possibilidades de execução.
No âmbito federal, por exemplo, as ações nesta área são
Em dez anos de implementação,
coordenadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social e
o PBF já beneficiou cerca de 13,8
Combate à Fome, Ministério do Turismo e Secretaria dos
milhões de famílias de baixa renda,
Direitos Humanos, entre outros. Esses programas/ações
representando um percentual de
nem sempre aparecem claramente identificados como
24,79% da população brasileira.
iniciativas de enfrentamento à violência sexual; por isso, o
Guia de referência para a cobertura jornalística 69

jornalista precisa estar atento – e, preferencialmente, con-


tar com a ajuda de um especialista – para conseguir traçar Cronograma orçamentário
um mapa abrangente dos recursos destinados à área.
Outro aspecto importante diz respeito ao perfil au- Como destacado, as etapas do
torizativo – e não obrigatório – do orçamento. Ou seja, o ciclo orçamentário são similares na
plano orçamentário não obriga o Executivo a aplicar todas União, nos estados e nos municí-
as verbas nos fins estabelecidos, apenas autoriza o uso do pios. As diferenças podem estar nas
dinheiro. Assim, o fato de uma ação ou política contar com datas-limite de cada uma delas.
tal previsão de gastos não é garantia de sua total aplicação. No caso dos estados, os prazos são
definidos na Constituição Estadual e
Ciclo orçamentário no regimento interno da Assembleia
O ciclo orçamentário é composto de diversas etapas que Legislativa. Nos municípios, são es-
se relacionam, se completam e se repetem continuamen- tabelecidos pelas leis orgânicas e pe-
te. Esses procedimentos são semelhantes na União, nos los regimentos internos das câmaras
estados e nos municípios. Acompanhe o processo em municipais. É fundamental estar
cinco passos, segundo sistematização produzida pelo Ins- atento a essas datas e identificar
tituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc): os momentos mais oportunos para
monitorar o processo orçamentário.
1. O ciclo orçamentário tem início com a elaboração da Confira abaixo os prazos a serem
proposta do Plano Plurianual (PPA) pelo poder Execu- cumpridos pelo Executivo Federal.
tivo. Isso ocorre no primeiro ano de governo do pre-
sidente, governador ou prefeito recém-empossado ou Lei
orçamentária Prazo
reeleito. O projeto de lei do PPA é encaminhado ao Le-
gislativo – que irá discutir, apresentar emendas e votar 15 de
o projeto de lei; PPA
dezembro
2. Com base no PPA já definido, o Executivo formula a LDO 15 de abril
proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO),
definindo prioridades e metas de governo para o ano LOA 31 de agosto
70 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

seguinte. Em seguida, a proposta é enviada ao Legisla-


Prioridade absoluta
tivo, que examina, modifica e vota o projeto;
3. O passo seguinte é a Lei Orçamentária Anual (LOA),
O Estatuto da Criança e do Adoles-
formulada pelo poder Executivo com base no PPA e na
cente ratifica, em seu artigo 4º, que
LDO. A elaboração da proposta orçamentária começa
o conceito de prioridade absoluta
no início do ano e é concluída depois da aprovação da
compreende, entre outros aspectos, a
LDO. Como nas outras etapas, o projeto de LOA é en-
“destinação privilegiada de recursos
caminhado ao poder Legislativo, que examina, modifi-
públicos nas áreas relacionadas com
ca e vota o projeto de lei;
a proteção à infância e à juventude”.
4. Após a publicação da LOA, o Executivo estabelece o
cronograma mensal de desembolso e a programação
financeira, de acordo com as determinações da Lei de
Responsabilidade Fiscal;
5. Com o encerramento do exercício financeiro, o Execu-
tivo elabora os balanços e os demonstrativos contábeis
gerais (de todos os órgãos e entidades da administra-
ção pública). Cada poder – Executivo, Legislativo e
Judiciário – elabora sua prestação de contas separada-
mente. Os documentos são encaminhados ao Tribunal
de Contas, que deve emitir um parecer prévio;
6. Dominar os procedimentos da confecção do orça-
mento e da aplicação de recursos públicos, portanto,
mostra-se central para que o repórter possa questio-
nar os governos sobre eventuais discrepâncias entre
o que foi prometido e o que está sendo efetivamen-
te cumprido. É possível fazer esse acompanhamen-
to por meio do Sistema Integrado de Administração
Financeira (Siafi), no qual o Governo Federal lança
Dicas para cobertura: foco nas políticas públicas

• Verifique se o seu estado ou município já possui a autoestima da criança ou do adolescente e


um Plano de Enfrentamento à Violência Sexual reintegrá-los socialmente;
e em que estágio está sua implantação. Inves- • Checar e comparar os dados de diferentes insti-
tigue quais mecanismos de combate existem e tuições é relevante para a construção do pano-
sua eficácia, analisando os recursos huma- rama que envolve a violência sexual infanto-
nos e financeiros empregados e comparando a juvenil. Além disso, é importante não fazer da
iniciativa com experiências bem-sucedidas de matéria apenas uma tabela de números. Tão
outras localidades; relevantes quanto os dados são as ações e as his-
• A imprensa pode investigar, junto aos órgãos tórias de vida que estão por trás deles;
governamentais responsáveis, quais as difi- • É importante dar visibilidade à criação de
culdades para a definitiva implantação de um mecanismos que possibilitem a implantação e
banco de dados nacional que sistematize e dis- o fortalecimento de organismos do Sistema de
ponibilize informações estatísticas sobre casos Garantia de Direitos (delegacias especiais, varas
e encaminhamentos, tipos de atendimento, criminais especializadas, Conselhos Tutelares,
principais tipos de violência e perfil dos explo- dentre outros);
rados e dos exploradores; • Nas ocasiões em que a matéria expuser a inefi-
• A imprensa tem um importante papel no que cácia ou o baixo rendimento das ações postas em
se refere a disseminar boas experiências na prática por governos ou ONGs, o jornalista pode
prevenção, enfrentamento e atendimento às ir além da simples crítica, consultando especia-
pequenas vítimas da violência sexual. Nesse listas e apresentando ideias para melhorar o que
sentido, é importante dar visibilidade a ini- está sendo realizado, ou indicando alternativas;
ciativas executadas por entidades governa- • Ao fazer matérias sobre a exploração sexual no
mentais e não governamentais, focando os contexto do turismo envolvendo crianças e ado-
mecanismos que são utilizados para reforçar lescentes, o jornalista deve citar marcos legais,
como o Código de Conduta para a Proteção de pecialistas para saber quais procedimentos
Crianças contra a Exploração Sexual, e investi- deveriam ser adotados;
gar as ações que governos, ONGs e o setor privado • Ao noticiar o ato violento, agregue infor-
desenvolvem para aplicá-lo; mações sobre serviços à população, como
• O comportamento de muitos autores de vio- características para identificar crianças
lência sexual tem origem em aspectos psicoló- vitimadas e telefones dos serviços de denún-
gicos e sociais. A reclusão em penitenciárias, cia e de atendimento dos casos de violência
portanto, não deve ser tratada como única al- sexual. Isso é essencial para que o público
ternativa. Contudo, na rede pública de saúde saiba onde denunciar ou procurar ajuda;
não há, de modo geral, tratamento para esses • A inexistência de políticas públicas e esta-
indivíduos. É importante questionar junto ao tísticas também é pauta. Mostrar à socie-
poder público o porquê da inexistência de polí- dade a ausência de ações é uma forma de
ticas e programas para esse tipo de tratamento, induzir a população a ponderar sobre o pa-
sobretudo para aquelas pessoas que cometem o pel dos atores sociais envolvidos e cobrar o
crime por distúrbios psicológicos. Consulte es- devido posicionamento de cada um.
Guia de referência para a cobertura jornalística 73

todas as informações sobre a execução or- informações previstas no art.5º da Constitui-


çamentária. Os jornalistas não têm aces- ção Federal.
so direto a esses dados, porém é possível Nos estados e nos municípios, as assem-
obtê-los com a ajuda dos gabinetes de de- bleias legislativas, as prefeituras e as câ-
putados e senadores. maras de vereadores – além dos Conselhos
Tutelares e os de Direitos – também podem
Importante salientar a vigência da Lei nº fornecer informações úteis para o trabalho
12.527, de 18/11/2011, que regula o acesso a da mídia.

Ações e programas de outros setores


Nesta seção, são registradas outras iniciativas lescentes13. O principal objetivo desse grupo
relevantes em defesa dos direitos de crianças é pautar o Governo Federal sobre a urgência
e adolescentes oriundas de diferentes esferas na definição e implementação de ações de
de poder e instâncias geopolíticas – sociedade prevenção às violações de direitos e proteção
civil organizada, setor privado, parlamento, às crianças e aos adolescentes, no período
cooperação internacional. de preparação, realização e pós realização de
grandes eventos.
Sociedade civil Alguns especialistas defendem, inclusive,
As organizações não governamentais atuam que exemplos de experiências de maior êxi-
– especialmente nos âmbitos municipal e es-
13
tadual – nos processos de mobilização social, As Redes Nacionais têm a seguinte composição: Asso-
ciação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do
no atendimento e reintegração social de víti- Adolescente /Seção DCI BRASIL (ANCED/DCI BRASIL);
mas de violência sexual. No âmbito nacional, Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual
o destaque é para o trabalho que vem sendo Contra Crianças e Adolescentes; Ecpat Brasil; Fórum Na-
cional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescen-
realizado pelas Redes Nacionais de Defesa te (FNDCA); Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação
dos Direitos Humanos de Crianças e Ado- do Trabalho Infantil (FNPETI).
74 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

to partem de ONGs – muitas vezes atuando Cooperação internacional


em parceria com organismos internacionais Em 2006, a reunião de Altas Autoridades
e mesmo com o setor empresarial, além do Competentes em Direitos Humanos e Chan-
governo. O diferencial desse atendimento, celarias do Mercosul e Estados Associados,
dizem, é a busca por um serviço integral – realizada em Brasília, aprovou por unani-
ou seja, além do apoio médico, psicológico e midade um documento com propostas para
terapêutico, a oferta de convivência comu- a área de enfrentamento à violência sexual
nitária ou familiar, educação e oportunidade contra crianças e adolescentes. No documento
de geração de renda. Referência no que diz pactuado, que visa subsidiar as negociações do
respeito a estratégias de atendimento e rein- Grupo Técnico Permanente, criado no âmbito
tegração, a sociedade civil desempenha um do Mercosul e Países Associados (GTP Niñ@
valioso papel no monitoramento das políticas sur), foram priorizadas as seguintes ações:
públicas voltadas à proteção e garantia dos di-
reitos infantojuvenis. • Adequação e harmonização legislativa in-
Entre as diversas entidades que atuam nesse terna com relação aos instrumentos uni-
sentido, é possível citar o Centro de Referên- versais e regionais de proteção dos direitos
cia, Estudos e Ações sobre Crianças e Adoles- infantojuvenis, em particular a Convenção
centes (Cecria), o Instituto Aliança, a Asbrad, sobre os Direitos da Criança das Nações
o Cedeca/BA, o Instituto Sedes Sapientiae e a Unidas e o Protocolo Facultativo relativo
Associação Curumins, entre outras. à venda de crianças, à exploração sexual e
É importante destacar ainda que esse pornografia infantis;
segmento foi o grande responsável pela mo- • Promoção de campanhas públicas unifi-
bilização social em torno do tema violência cadas na região, em especial nas zonas de
sexual. Com apoio dos poderes Legislativo e fronteira;
Executivo – além de organizações interna- • Adoção conjunta de políticas públicas vol-
cionais –, a sociedade civil conseguiu incluir tadas para o enfrentamento à exploração
o fenômeno, de forma consistente, na agen- sexual de crianças e adolescentes em regi-
da pública brasileira. ões de fronteira.
Guia de referência para a cobertura jornalística 75

A realização de campanhas públicas unifi- Iniciativa privada


cadas foi inicialmente apoiada pela Petrobras Entre outras ações, merece menção o proje-
Brasil e suas subsidiárias em outros países, to Siga Bem Criança, que integra o Programa
em parceria com órgãos e entidades locais. Petrobras Desenvolvimento e Cidadania, em
O projeto para a implementação conjun- parceria com a Secretaria de Direitos Humanos
ta de políticas de enfrentamento à questão da Presidência da República. A iniciativa com-
foi desenvolvido pela Secretaria dos Direitos pleta sete anos de conscientização, mobiliza-
Humanos, com apoio do Banco Interamerica- ção social e atendimento direto, combatendo a
no de Desenvolvimento (BID), visando a dis- exploração e a violência sexual contra crianças
seminação da metodologia do PAIR no âmbito e adolescentes nas estradas brasileiras.
do Mercosul. A Caravana Siga Bem, considerada como
Neste sentido, foi aprovado pelo BID o a maior ação itinerante de responsabilidade
projeto Rede Regional de Luta contra o Trá- social da América Latina, recebe o patrocínio
fico de Crianças e Adolescentes para Fins da Petrobras, Volvo e grupo CCR. Em 2013,
de Exploração Sexual na Região do Merco- em sua 7ª edição, a Caravana percorre 57 mu-
sul, com a adesão dos governos do Brasil, nicípios do Brasil, levando diversas ações so-
Argentina, Paraguai, Uruguai. A execução ciais para caminhoneiros e população local.
do projeto ficou a cargo da Fundação de O projeto Siga Bem Criança faz parte de um
Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura conjunto de ações integradas e realizadas com
(FAPEC/UFMS). parceiros como a Secretaria de Direitos Huma-
O convênio foi assinado, em Brasília, du- nos e a Secretaria de Políticas para as Mulheres
rante a abertura da 14ª Reunião de Altas Auto- da Presidência da República, além da Polícia
ridades em Direitos Humanos e Chancelarias Rodoviária Federal e organizações da socieda-
do Mercosul e Estados Associados (RAADH), de civil. Entre 2007 e 2013, o Programa Petro-
resultando na disseminação da metodologia bras Desenvolvimento & Cidadania patrocinou
do PAIR em 15 municípios de fronteira do 1091 projetos da sociedade civil que atenderam
Mercosul, com apoio financeiro do Banco In- diretamente quase 600 mil crianças e adoles-
teramericano de Desenvolvimento (BID). centes em todas as regiões do Brasil.
76 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Childhood Brasil Uma das principais iniciativas patrocinadas por meio


do programa foi a implementação e estruturação do servi-
Objetivando a construção de uma ço Disque 100, em conjunto com a Secretaria de Direitos
infância livre de exploração sexual, a Humanos, para o recebimento de denúncias por meio de
Childhood Brasil, organização fundada discagem direta e gratuita. Duas campanhas são promovi-
pela Rainha Sílvia, da Suécia, destaca das pelo projeto: a Siga Bem Mulher, que divulga o disque
em seu Relatório 2012 três linhas de 180, canal de denúncias de violência contra a mulher; e a
ação: o investimento na educação de Siga Bem Criança, que dá informações sobre o Disque 100
agentes públicos do setor judiciário na (mais informações: www.sigabem.com.br).
expansão e aprimoramento do Depoi- No âmbito da iniciativa privada vale destacar também
mento Especial; o trabalho de mobili- o trabalho que vem sendo realizado, desde 2012, pela
zação nos municípios do litoral sul de Fundação Itaú Social, por meio do Programa Itaú Criança.
Pernambuco; e o processo de implemen- Trata-se de um trabalho de fortalecimento dos Conselhos
tação de uma Agenda de Convergência, dos Direitos de Crianças e Adolescentes das 12 cidades
envolvendo a Secretaria de Direitos sede da Copa do Mundo 2014, com o objetivo de pro-
Humanos da Presidência da República, mover ações conjuntas que possam minimizar possíveis
o setor privado e a sociedade civil para violações no contexto desse megavento esportivo (mais
pensar ações conjuntas relacionadas à informações: www.euentroemcampo.org.br).
Copa do Mundo de 2014.
Parlamento
Relevante ressaltar a parceria da
Composta inicialmente por 159 deputados e senadores,
Childhood Brasil com a ANDI no
a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Crian-
campo da comunicação, tendo como
ça e do Adolescente foi criada em 1993, ano em que foi
foco o enfrentamento à violência
instalada no Congresso Nacional a Comissão Parlamentar
sexual contra crianças e adolescentes.
Mista de Inquérito (CPMI), destinada a investigar a ex-
Entre outras atividades, destaca-se
ploração sexual de meninos e meninas no País.
a criação do Concurso Tim Lopes de
A CPMI percorreu todas as regiões do Brasil, visitando
Jornalismo Investigativo.
22 estados. Em seu relatório final, sugeriu o indiciamen-
Guia de referência para a cobertura jornalística 77

to de cerca de 250 pessoas, entre políticos, Paralelamente, em fevereiro de 2012, foi


empresários, magistrados, líderes religiosos criada na Câmara Federal uma CPI também
e esportistas. destinada a investigar o tráfico de pessoas no
Muitos dos pedidos, entretanto, não sa- Brasil, suas causas, consequências e respon-
íram do papel até hoje. Alguns dos envolvi- sáveis, no período de 2003 a 2011, dentro da
dos em crimes sexuais denunciados foram vigência da Convenção de Palermo.
processados, mas inocentados ou condena- O encerramento dos trabalhos da CPI da
dos e soltos após habeas corpus. Uma mino- Câmara Federal está previsto para dezembro
ria está presa. de 2013. Dentre as recomendações propostas,
Além das denúncias, o relatório apre- destaca-se a apresentação do Projeto de Lei
sentou diversas propostas para aprimorar 5317/13, que inclui entre os crimes hedion-
as políticas públicas de atenção às crianças dos o tráfico interno e o tráfico internacional
e aos adolescentes e para mudar a atual le- de pessoas para fim de exploração sexual. A
gislação no que diz respeito aos crimes se- proposta altera a Lei dos Crimes Hediondos
xuais cometidos contra meninos e meninas. (8.072/90).
A imprensa deve estar atenta à resposta dos Vale lembrar que várias assembleias e
governantes a essas demandas da sociedade. câmaras municipais também contam com
É importante acompanhar a tramitação dos Frentes Parlamentares voltadas à proteção
projetos de lei e cobrar a aplicação daqueles dos direitos da infância. Seguindo a proposta
já existentes. da Frente instalada no Congresso Nacional,
Em abril de 2011 foi constituída no Senado as iniciativas de âmbitos estadual e municipal
Federal a CPI Tráfico Nacional e Internacio- buscam congregar parlamentares de difer-
nal de Pessoas no Brasil. O Relatório Final entes espectros ideológicos sem prol da in-
dessa CPI foi publicado em Dezembro/2012. fância e da adolescência.
Dicas para a cobertura: quem e por que ouvir
Entrevistar múltiplas fontes para construir a repor- dem acompanhar, dentro de seus limites profis-
tagem é um recurso central para a qualificação da sionais, o desenvolvimento e a formação de me-
cobertura jornalística. A diversidade de vozes ao lon- ninos e meninas. Os profissionais da educação
go da matéria contribui para compor um panorama devem notificar casos de violação de direitos de
contextualizado da exploração sexual contra crian- crianças e adolescentes (art.245, do ECA).
ças e adolescentes e para incorporar diferentes setores
da sociedade ao debate público em torno da questão. Hospitais e postos de saúde. Por estarem na
ponta dos serviços de atendimento e serem consi-
derados como portas de entrada dos casos de vio-
Atores relevantes do SGD
lência, médicos, enfermeiros e outros profissionais
Poder Executivo. Responsável pela implementação da saúde devem identificar e notificar situações
de ações de promoção, defesa e garantia dos direitos de violência sexual. A rede de saúde pública tam-
infantojuvenis. Ao poder público cabe executar políti- bém dispõe de Centros de Atenção Psicossocial
cas, programas, serviços e ações nas áreas de educação, (CAPS), que oferecem serviços de atenção à saúde
saúde, assistência social, esporte, cultura, lazer e pro- mental, incluindo o acompanhamento clínico e a
fissionalização, conforme previsto no art. 4º do ECA. reinserção social dos usuários pelo acesso ao tra-
Nas áreas da educação, saúde e assistência social balho, lazer, exercício dos direitos civis e fortaleci-
destacam-se os seguintes atores e/ou instituições: mento dos laços familiares e comunitários. Uma
de suas principais funções é prestar atendimento
Escola e professores. Presentes no dia-a-dia clínico em regime de atenção diária, evitando as
da criança ou do adolescente, dispõem de infor- internações em hospitais psiquiátricos.
mações importantes que podem ajudar nas ações
de prevenção à violência e ao abuso sexual. Além Assistência Social. Destacam-se na rede socio-
disso, escolas e trabalhadores da educação po- assistencial os seguintes serviços:
• Centro de Referência da Assistência Social tivas possuem Frentes Parlamentares pelos Direitos
(CRAS), que atua como a principal porta de da Criança e do Adolescente.
entrada do Sistema Único de Assistência So-
cial. O CRAS é responsável pela organização Poder Judiciário. É o espaço de garantia de acesso à
e oferta de serviços da Proteção Social Básica justiça, ou seja, de recurso às instâncias públicas e me-
nas áreas de vulnerabilidade e risco social. canismos jurídicos de proteção legal dos direitos huma-
O principal serviço ofertado é o de Proteção e nos, gerais e especiais, da infância e da adolescência.
Atendimento Integral à Família (PAIF);
• Centro de Referência Especializado de Assis- Varas Especializadas. As Varas Especializadas em
tência Social (CREAS), que oferta serviços es- Crimes contra Crianças e Adolescentes são instâncias
pecializados e continuados a famílias e indi- de responsabilização vinculadas ao Poder Judiciário.
víduos em situação de ameaça ou violação de Executam medidas de penalidades ao agente agres-
direitos (violência física, psicológica, sexual, sor, com o objetivo de resgatar o direito das crianças em
tráfico de pessoas, cumprimento de medidas situação de vulnerabilidade. Até o surgimento dessas
socioeducativas em meio aberto, etc.). A oferta varas especializadas, existiam no País apenas dois
de atenção especializada e continuada deve ter tipos de Varas da Infância e da Juventude: as Crimi-
como foco a família e a situação vivenciada. nais, dedicadas a processos em que adolescentes fossem
• Espaços de Acolhimento Institucional. considerados autores de atos infracionais, e as Cíveis,
voltadas para questões como adoção, guarda, tutela e
Poder Legislativo. É o espaço da discussão políti- autorizações de viagens. Dentre outras atribuições, des-
ca sobre o assunto. Merecem ser consultados tanto a tacam-se: a designação de comissários voluntários, co-
Câmara dos Deputados e o Senado Federal quanto nhecimento dos pedidos de guarda e tutela, destituição
os parlamentos estaduais e municipais. As comis- do pátrio poder e questões de adoção, fiscalização da
sões temáticas – como as de Orçamento e as de Di- execução das medidas socioeducativas, dentre outras.
reitos Humanos – são fontes estratégicas para o de-
bate público sobre violência sexual contra crianças Ministério Público. Dentre as inúmeras tarefas,
e adolescentes. Além disso, algumas casas legisla- destacam-se a promoção e acompanhamento dos
procedimentos relativos aos atos infracionais atribu- minhar e orientar todos os casos de violação de
ídos a adolescentes; promoção e acompanhamento direitos da criança e do adolescente e requisitar
das ações de alimentos, destituição e suspensão do serviços públicos nas áreas de saúde, educação,
poder familiar; acompanhamento das ações de ado- assistência social, previdência, trabalho e segu-
ção; guarda e tutela; nomeação de tutor, curador e rança. O Conselho Tutelar deve ser acionado sem-
guardião, assim como a manifestação em todos os pre que existir ameaça ou violação de direitos. Os
demais procedimentos de competência das Varas Conselhos têm caráter permanente e autônomo
da Infância e da Juventude. Deve ainda assegurar o e são vinculados ao Poder Executivo municipal.
acesso das crianças e dos adolescentes à educação, Embora tenham como função zelar pelos direitos
combatendo a evasão escolar; zelar pelo direito à de crianças e adolescentes, não lhes cabe resolver
convivência familiar e comunitária; defender os gru- litígios, ou seja, não são órgãos jurisdicionais.
pamentos em foco contra todo tipo de violência e ne-
gligência, mesmo quando praticadas pelos próprios Centros de Defesa. Os Centros de Defesa dos Di-
pais. As Promotorias da Infância e da Juventude reitos de Crianças e Adolescentes são entidades de
recebem os inquéritos concluídos pela polícia e enca- promoção e defesa de direitos humanos destes gru-
minham denúncias à Justiça da Infância e da Ju- pamentos, por meio da articulação, mobilização e
ventude ou às Varas Especiais do Tribunal de Justiça. participação no controle social. Essa proteção juri-
dicossocial se dá por meio de intervenções jurídico-
Defensoria Pública. Presta assistência judiciária -judiciais, administrativas e legislativas, focando,
gratuita, por meio de defensor público ou advogado principalmente, as violações de direitos cometidas
nomeado, assegurando o acesso à justiça e garan- pela ação ou omissão do Poder Público.
tindo a proteção dos direitos fundamentais desse
público e, mais especificamente, dos adolescentes Polícia e delegacias especializadas. Responsá-
em conflito com a lei. veis pela vigilância, prevenção e proteção dos gru-
pamentos em foco contra qualquer tipo de violência,
Conselhos Tutelares. Compete aos Conselhos bem como pela investigação e responsabilização dos
Tutelares acolher, denunciar, averiguar, enca- adolescentes em conflito com a lei. Recebem as de-
núncias, fazem diligências e abrem inquéritos po- • ONGs. Além de ocuparem posição de destaque nos
liciais, que são enviados à Promotoria da Infância debates em torno do tema, as organizações não
e da Juventude do Ministério Público. As Delegacias governamentais desempenham papel fundamen-
Especiais são extremamente relevantes na investi- tal nas políticas de atendimento a meninos e me-
gação dos crimes sexuais cometidos contra crianças ninas vitimados. Algumas delas disponibilizam,
e adolescentes. Integram este segmento: Polícia Mi- inclusive, estudos e levantamentos sobre o proble-
litar, Polícia Civil, Polícia Federal e Polícia Rodovi- ma. Em muitos casos, podem ainda complemen-
ária Federal. A Polícia Federal e a Polícia Rodoviária tar o trabalho do Estado, realizando ações em
Federal realizam também ações de enfrentamento ao localidades nas quais ele não consegue chegar,
tráfico para fins sexuais e à exploração sexual nas ro- podendo, para tanto, receber recursos públicos;
dovias. Atuam, quase sempre, em parceria com uni- • Tribunais de contas dos estados e municípios.
versidades e organismos internacionais para coleta e Exercem papel relevante de monitoramento e fis-
sistematização de dados sobre o fenômeno. calização das contas públicas;
• Organismos internacionais. Podem contextua-
Entidades de controle social lizar e financiar ações de enfrentamento a esses
São organizações que compõem a esfera crítica do crimes contra a população infantojuvenil. Ao
sistema de atendimento, catalisando o debate so- apoiar estudos e pesquisas nesta área em âm-
bre o tema, monitorando, fiscalizando e produzindo bitos nacional e internacional, possibilitam a
insumos para a sua otimização. comparação com a realidade brasileira;
• Universidades. Produzem estudos e pesquisas e
• Conselhos de direitos de crianças e adolescentes contam com especialistas em diversas áreas re-
(municipal e estadual, que atuam também no lacionadas à infância e à adolescência;
eixo promoção); • Especialistas. psicólogos, psiquiatras, sociólogos,
• Conselhos setoriais de formulação e controle de antropólogos, assistentes sociais e outros profis-
políticas públicas (como, por exemplo, os Conse- sionais que lidam com crianças e adolescentes
lhos de Assistência Social; de Saúde; de Educa- podem oferecer análises amplas e novos enfoques
ção, de Juventude etc.); para a temática da violência sexual.
82 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Inserção no mundo do trabalho – um resgate possível


Reintegrar adolescentes vítimas de explora- nência do público com esse perfil em ativida-
ção sexual ao convívio social saudável e ade- des socioprodutivas, como forma de assegu-
quado ao seu desenvolvimento é processo rar a promoção da sua cidadania.
significativamente complexo. A maioria dos A tarefa de traduzir direitos em práticas
meninos e meninas que passam por essa di- sociais inovadoras exige a experimenta-
fícil situação perdeu muito cedo ambientes ção de novas metodologias, considerando o
de proteção e/ou pessoas de referência, fa- atual cenário do mercado de trabalho, cada
tores indispensáveis ao (re)estabelecimento vez mais direcionado a uma sociedade glo-
da autoestima e da confiança necessárias ao balizada, competitiva e movida pela tecno-
enfrentamento dos desafios inerentes à reto- logia. Esses fatores requerem também uma
mada do seu projeto de vida. permanente qualificação dos adolescentes,
Em geral, fazem parte de famílias inseri- não só em termos de conhecimento, com-
das em contexto socioeconômico desfavorá- petências e habilidades, mas no campo das
vel, têm baixa escolaridade e histórico de pri- relações interpessoais.
vações e/ou violações graves, em diferentes De acordo com especialistas, o mais im-
níveis (estrutural, social e pessoal). Impor- portante, quando se pensa em apoiar ado-
tante levar em conta, também, as dimensões lescentes nessa condição, é investir na
de raça/etnia e gênero, circunstâncias que autoconfiança: criar ambientes de fortale-
podem resultar em condições desfavoráveis cimento – familiares ou institucionais – que
ao alcance de objetivos restauradores de mé- consigam dar sustentação às formas que eles
dio e longo prazos – sobretudo, nos campos próprios constroem na busca pela superação
da educação, do emprego e da renda. do problema.
Esse contexto de tamanha complexida- Nesse sentido, a família deve ser objeto
de impõe o desafio de se pensar estratégias de atenção específica, de maneira que sejam
e metodologias que possam contribuir para criadas condições para o pleno exercício do
modificar as condições de acesso e perma- seu papel protetivo. Nos casos em que o nú-
Guia de referência para a cobertura jornalística 83

Direito ao trabalho previsto em lei


Estatuto da Criança e do Adolescente Lei de Aprendizagem. Determina que as
(ECA). Determina que o adolescente tem direi- empresas de médio e grande portes contratem
to à profissionalização e à proteção no trabalho, um número de jovens aprendizes (14 a 17 anos
desde que seja observada sua condição peculiar de idade) equivalente a um mínimo de 5% e
de pessoa em desenvolvimento e lhe seja ofere- um máximo de 15% do seu quadro de funcio-
cida capacitação profissional adequada (Lei nários, e cujas funções demandem formação
8.069/1990, Título II, Capítulo V, Artigo 69). profissional.
Por essa lei, o aprendiz é o jovem que deve estar
Plano Nacional de Direitos Humanos matriculado e cursar escola regular, além de fre-
(PNDH). Garante os direitos fundamentais quentar instituição de ensino técnico profissional
de crianças e adolescentes, entre eles, o direi- preferencialmente conveniada com a empresa.
to a uma inserção qualificada no mercado de A jornada diária de trabalho dos aprendizes
trabalho, com foco na implantação da Lei de não pode passar de seis horas, podendo chegar a
Aprendizagem (Lei n. 10.097/2000), mobili- oito horas no caso daqueles que já tiverem com-
zando empregadores, organizações de traba- pletado o aprendizado técnico. O contrato de
lhadores, inspetores de trabalho, judiciário, trabalho pode durar até dois anos e é garantido
organismos internacionais e organizações ao jovem todos os direitos trabalhistas e previ-
não governamentais para tal objetivo. denciários previstos na legislação brasileira.

cleo familiar não consiga desempenhar essa O campo do trabalho


função, a garota ou o garoto deve ser acolhido Um dos pilares fundamentais para o sucesso
em uma instituição capaz de oferecer prote- da reintegração social é a formação profis-
ção e garantir direitos, até que o ambiente fa- sional que assegure uma inserção qualifica-
miliar adequado seja (re)estabelecido. da dos adolescentes no mundo do trabalho,
84 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

respeitada sua condição peculiar de pessoa Estimulando a participação


em desenvolvimento e os limites impostos Para lograrem sucesso, os programas de in-
pela legislação em vigor. Tem-se aí uma serção profissional de adolescentes explo-
das mais importantes “portas de saída” da rados sexualmente precisam atuar de modo
situação de vulnerabilidade em que se en- participativo, com o envolvimento de meni-
contram aqueles que deixaram as ruas, mas nos e meninas em todas as etapas do proces-
ainda passam por uma fase de redefinição so: da formulação à avaliação – o que aumenta
de suas identidades. o desafio de criação e implementação das po-
Encaminhar jovens com essas caracterís- líticas públicas nessa área.
ticas para o mercado de trabalho não se reduz Em nível local, vêm sendo desenvolvidos
em capacitá-los a uma profissão ou ajudá-los projetos e programas com ações integradas
a conseguir emprego. Trata-se de processo e multidisciplinares de atendimento às ví-
bem mais complexo, inclusive porque muitos timas de exploração sexual, tendo como um
dos meninos e meninas retirados da condição dos componentes a inserção socioprodutiva.
de exploração sexual conseguiam, nessa situ- Em âmbito federal, é oferecido apoio para a
ação, uma renda que, embora limitada, tende capacitação de profissionais vinculados a or-
a ser superior aos benefícios garantidos du- ganizações governamentais e da sociedade
rante programas de treinamento e capacita- civil visando estimular a criação de políticas
ção profissional. públicas locais que atendam e preparem ado-
Além disso, falta aos indivíduos em situ- lescentes para uma inserção sustentável no
ação de vulnerabilidade extrema – como de mundo do trabalho.
resto à maioria dos adolescentes – uma vi- Um exemplo de ação governamental no
são acabada de mundo, ou seja, um claro en- âmbito federal voltada à replicação de ini-
tendimento de quais são as possibilidades, ciativas bem-sucedidas é o projeto Disse-
oportunidades e direitos a eles garantidos na minação da Metodologia de Atendimento a
legislação (Constituição Federal, Estatuto da Crianças e Adolescentes Vítimas de Tráfico
Criança e do Adolescente e outros marcos in- para Fins de Exploração Sexual, desenvol-
ternacionais e nacionais). vido pelo Instituto Aliança, com recursos da
Guia de referência para a cobertura jornalística 85

Secretaria de Direitos Humanos da Presi- O joio e o trigo


dência da República. Os parâmetros registrados na citada publi-
O projeto capacitou 1.436 profissionais cação apontam para a necessidade de uma
de sete capitais (Salvador, Fortaleza, Re- estrutura minimamente multidisciplinar e
cife, Foz do Iguaçu, São Luis, São Paulo, uma proposta conceitual baseada não ape-
Belém e Goiânia) ligados a órgãos governa- nas na capacitação profissional, para que
mentais e organizações da sociedade civil, esse tipo de iniciativa tenha sucesso. Psicó-
para aprimorar a capacidade de identifi- logos, pedagogos, educadores, assistentes
car, acessar, atender e encaminhar casos sociais e advogados são alguns dos profis-
de crianças e adolescentes em situação de sionais que precisam ser vinculados a esse
exploração sexual. tipo de iniciativa.
A publicação Disseminação da Metodolo- A solidez da proposta pedagógica oferecida
gia de Atendimento a Crianças e Adolescentes aos adolescentes durante a capacitação para a
Vítimas de Tráfico para Fins de Exploração inserção profissional pode ser conferida por
Sexual, resultante do projeto, registra o meio de itens como:
passo-a-passo da metodologia de formação, • Acolhimento e oferta de atendimento te-
disponibilizando o mapa do caminho reco- rapêutico aos jovens vítimas de exploração
mendado para a execução de um projeto de sexual;
qualidade no campo da inserção sociopro- • Capacitação para a vida, para o convívio fa-
dutiva de adolescentes em situação de ex- miliar e social, para a saúde, para a ética e
ploração sexual. a cidadania;
O documento apresenta princípios, di- • Participação como estratégia para a atua-
retrizes e eixos orientadores para a cria- ção junto aos meninos e meninas benefi-
ção de uma política pública sobre o tema, ciados.
incluindo metodologias de atendimento
psicossocial, jurídico, reinserção familiar, O Instituto Aliança, com sede em Salvador,
inserção profissional, monitoramento e é um dos exemplos de organização que aplica
avaliação das ações. metodologias com esse perfil participativo e
86 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

multidisciplinar na área de inserção socio- pelo Conselho Nacional do Serviço Social da


produtiva para adolescentes em situação de Indústria – SESI/CN, com foco direto no pro-
vulnerabilidade, como os vitimados pela ex- cesso de reintegração social de adolescentes
ploração sexual. vítimas de exploração sexual (veja mais deta-
O Projeto Bromélia é outra iniciativa de des- lhes em quadro na página 87).
taque do Instituto, que trabalha a educação
social para a empregabilidade, o atendimen- De vítimas a líderes
to acolhedor e o protagonismo juvenil como Especialistas incentivam o desenvolvimento
instrumentos de apoio dos jovens para a de ações de participação infantojuvenil como
reintegração social e a entrada qualificada no uma estratégia central na prevenção dos ca-
mercado de trabalho. sos de abuso e exploração sexual, assim como
Com uma metodologia similar, porém na reintegração social das vítimas. A ideia é
com ênfase no desenvolvimento de compe- possibilitar que o adolescente vá além de uma
tências comportamentais e habilidades li- posição de coadjuvante nas decisões que im-
gadas à área de Tecnologia da Informação, o pactam diretamente sobre sua vida e passe a
Instituto Aliança desenvolve também o pro- assumir papel de liderança nas transforma-
grama Com.Domínio Digital. A ação, voltada ções sociais que deseja ver implementadas.
a alunos de escola pública do ensino médio, Diferentes iniciativas vêm sendo desen-
já foi incorporada como política pública de volvidas no País por organizações não gover-
educação profissional no Estado do Ceará, e namentais, contando com o envolvimento
vem sendo desenvolvida também na Bahia, e apoio de órgãos do Estado. Não por acaso,
Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Rio de o estímulo ao protagonismo de meninos e
Janeiro e São Paulo. meninas integra também um dos seis eixos
Outra proposta que nos últimos anos vem estratégicos do Plano Nacional de Enfrenta-
sendo disseminada em diversas cidades bra- mento da Violência Sexual contra Crianças e
sileiras é o projeto ViraVida, implementado Adolescentes, revisado em 2013.
Guia de referência para a cobertura jornalística 87

Saída para um futuro melhor


A autonomia e o acesso ao mercado de traba- – chegando, em alguns estados, a níveis de
lho têm se mostrado meios efetivos de superação 100% de empregabilidade.
de traumas para adolescentes e jovens que sofre-
ram algum tipo de violência sexual. Riqueza social e econômica
Experiências como o ViraVida, programa de- Além do aspecto social, a iniciativa provoca im-
senvolvido pelo Conselho Nacional do SESI, que pactos significativos na esfera econômica. A in-
alia acompanhamento psicossocial, elevação serção no mercado de trabalho resulta em uma
educacional e qualificação profissional, con- elevação média de R$ 183,55 na renda mensal dos
tribuem não só para a conquista da autonomia jovens, o que representa aumento de 45% e trans-
frente ao mercado de trabalho, mas, também, ferência de ganho às famílias – para cada R$
para a reinserção social. 1,00 a mais na renda do jovem, cerca de R$ 0,40
A iniciativa é considerada uma porta de sa- somam-se à renda familiar.
ída para o processo de atendimento do Sistema Com base nesse aumento de produtividade, a
de Garantia de Direitos da Criança e do Adoles- riqueza econômica líquida gerada pelo programa
cente no Brasil, pois recebe o jovem e o insere em chegou a mais de R$ 19 milhões, nos anos de 2008
um processo contínuo de acolhimento, proteção, a 2012, e a uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de
fortalecimento e acompanhamento após sua in- 9,8% – o que caracteriza a sua eficácia e justifica
serção no mundo do trabalho. investimentos futuros para o seu desenvolvimento.
Por meio da estrutura e expertise de ins- O grande desafio que se impõe a programas
tituições do Sistema S (Senai, Senac, Sesc, como o ViraVida está no ganho de escala, para
Stest/Senat, Sebrae e Sescoop), em cinco anos, que sua capacidade de atendimento e resultados
o programa atendeu aproximadamente 4 mil sejam ampliados, a partir do aproveitamento de
jovens, e registra uma taxa de inserção mer- sua metodologia como política pública de trans-
cadológica superior a 70% em todo o Brasil formação de vidas.
Dicas para a cobertura: na hora da entrevista
• Obtenha a permissão para entrevistar a criança • Respeite a identidade dos vitimados, por mais
ou o adolescente, por meio de seu responsável, que eles próprios não se incomodem com a expo-
antes de realizar qualquer reportagem, princi- sição ou até mesmo insistam para aparecer no
palmente se for de vídeo ou exigir fotografia. É jornal ou na televisão. Assim como muitas ve-
importante que a autorização seja escrita. Ela zes crianças e adolescentes não se dão conta da
deverá ser obtida em circunstâncias que garan- condição de exploração, também não têm noção
tam que o menino ou menina, assim como seu dos efeitos negativos que o uso de sua imagem
tutor, não atuem sob coação, e que entendam poderá provocar em sua vida;
que o relato de que participam pode ser difundi- • Cumpra o que você combinar com as fontes. Para
do em níveis local, nacional e/ou mundial; elas, sua palavra é um contrato, por isso tenha
• Deixe claro que a criança ou o adolescente, e controle das informações que efetivamente você
ainda o responsável por eles, está falando com pode colocar no seu texto. Depois que a matéria
um jornalista. Explique o propósito da entrevista vai para a edição, pode ser tarde para iniciar
e o uso que se fará dela; uma discussão e evitar a publicação de dados
• Preste atenção no silêncio e respeite-o como que comprometam quem teve a generosidade de
resposta. O não dito muitas vezes revela mais colaborar com o seu esforço;
da situação que está sendo investigada do que • Cuidado para não ferir a sensibilidade do entre-
aquilo que foi afirmado pelas fontes. Aprenda a vistado. Evite perguntas, opiniões ou comentários
entender os sinais ocultos nos diálogos e deixe as que julgue (ou possam parecer) insensíveis a seus
pessoas falarem sobre suas vidas, crie vínculos. valores culturais, lhes ponham em perigo, possam
Quem passa por uma situação de exploração se- humilhá-los ou que revivam sua dor e seu pesar
xual às vezes só está aguardando uma oportuni- diante da recordação de experiências traumáticas;
dade e um pouco de atenção para compartilhar • Evite o quanto puder as entrevistas com pessoas
a experiência sofrida; vitimadas pela exploração sexual, especial-
mente se já estão em tratamento psicológico. • Preste atenção em como e onde acontece a en-
Uma pergunta mal formulada pode revitimi- trevista. Reduza ao máximo a quantidade de
zar a criança ou o adolescente, reacendendo fotógrafos e entrevistadores. Certifique-se de que
os traumas da exploração e comprometendo o o menino ou menina se encontra em situação
trabalho de especialistas empenhados na re- confortável e que tem condições de relatar sua
cuperação. A história não vai perder em deta- vivência livre de qualquer pressão externa, in-
lhes nem importância se narrada por psicólo- cluindo a que pode exercer o entrevistador;
gos ou assistentes sociais que acompanham a • Na hora de escolher o personagem de sua ma-
situação. Caso a entrevista com a vítima seja téria, não o discrimine por razão de sexo, raça,
realmente necessária, procure fazê-la acompa- cor, religião, posição social, formação ou carac-
nhado do psicólogo; terísticas físicas;
• Tratar a intimidade das pessoas exige muito • Ao entrevistar algum autor de violência sexu-
cuidado. Mesmo sem identificar os personagens, al, deixe de lado o preconceito. Dependendo
expor detalhes escabrosos somente para chocar o do caso, pode se tratar de uma pessoa doente.
leitor é violar grosseiramente a intimidade do vi- Se você se dispôs a ouvi-la, respeite as infor-
timado e de sua família. Existem maneiras deli- mações e busque entender o contexto que levou
cadas e respeitosas de tratar situações chocantes, aquela pessoa a tal situação. Também é bom
mas é preciso se esforçar para isso, superando o lembrar que enquanto a polícia não concluir
texto sensacionalista ou melodramático; o inquérito para levantar provas e enviá-lo
• Trate com o máximo respeito a pessoa vitimada, ao Ministério Público – que por sua vez fará a
importe-se com sua história. Nesse momento, denúncia à Justiça para que o réu seja julgado
não se deve ter preconceitos, procurando enten- –, trata-se de uma pessoa apenas acusada de
der quais os fatores humanos e sociais envolvi- um crime. Não cabe à imprensa condená-la
dos nos acontecimentos relatados; por antecipação.
90 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

O tratamento aos crimes de violência sexual


contra crianças e adolescentes está amparado
no País por uma ampla base jurídica – for-

3
mada, sobretudo, pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente, pela Constituição Federal de
1998, pelo Código Penal, pelas leis de Crimes
Hediondos e de Tortura. Além disso, o Brasil

Proteção legal é signatário das mais importantes normas in-


ternacionais de proteção à infância. Esse con-
texto nos coloca como uma das nações mais
Defesa das vítimas avançadas no que diz respeito à proteção, ao
menos em lei, da população infantojuvenil.
e responsabilização Apesar desse sofisticado arcabouço jurí-
dico e dos reconhecidos avanços nesta área,
dos autores convivemos ainda com alguns dispositivos
bastante defasados – como o Código Penal
Brasileiro, que data de 1940. Dentre os avan-
ços, destacam-se as paradigmáticas mudanças
do Código Penal (alterações contidas na Lei nº
12.015/2009) em relação aos seguintes itens:
Guia de referência para a cobertura jornalística 91

• Os Crimes Contra os Costumes passam a • Os crimes contra a dignidade sexual pas-


ser considerados Crimes Contra a Dig- sam a correr em segredo de justiça.
nidade Sexual – o bem jurídico tutelado Ressaltem-se, ainda, as disposições conti-
passa a ser a dignidade sexual e não mais das na Lei º 11.690/2008, referentes à produ-
os costumes; ção antecipada de provas, que permite ao Juiz
• A unificação dos tipos penais Estupro (art. ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal,
213) e Atentado Violento ao Pudor (art. a produção de provas consideradas urgentes e
214), que responde a uma antiga reivindica- relevantes, observando a necessidade, ade-
ção dos movimentos sociais, sobremaneira quação e proporcionalidade da medida. Trata-
aqueles ligados aos estudos de gênero, vez -se de um avanço legislativo em relação aos ca-
que a distinção entre os crimes de estupro sos de ocorrência de crimes contra a liberdade
e de atentado violento ao pudor baseava-se sexual de crianças e adolescentes.
no fato de a vítima ser homem ou mulher. Importante destacar também a mudança
Neste caso, também ocorreu o aumento da no tocante ao processo de oitiva (escuta) das
pena, caso a vítima seja pessoa menor de vítimas de violência sexual. Essa prática, que
18 e maior de 14 anos (para menores de 14 vem sendo adotada desde 2003 pela 2ª Vara
anos, o crime é de estupro de vulnerável, da Infância e da Juventude de Porto Alegre/
como registrado na página 102); RS, conhecida como Depoimento sem Dano,
• A ampliação dos tipos penais e a criação de permite a oitiva, mediante essa modalidade,
tipos específicos nos casos em que a vítima considerada medida adequada e proporcional,
seja criança ou adolescente; evitando-se que a suposta vítima necessite re-
• A criação da categoria Vulnerável, pelo latar, em inúmeras e desgastantes ocasiões, a
artigo 217-A, substituindo a Presunção da violência sexual sofrida.
Violência; A regra é baseada no artigo 12, da Conven-
• Os crimes sexuais passam a ser de Ação Pe- ção sobre os Direitos da Criança, que assim
nal Pública (condicionada à representação estabelece:
ou incondicionada, considerando a idade É assegurada à criança a oportunidade de
da vítima) e não mais de Ação Penal Privada; ser ouvida nos processos judiciais e adminis-
92 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

trativos que lhe respeitem, seja diretamente, crianças e adolescentes sejam usados como
seja por meio de organismo adequado, se- meio de prova único e preponderante em pro-
gundo as modalidades previstas pelas regras cessos penais (para mais informações, sugere-se
de processo da legislação nacional. a leitura da Resolução nº 10/2010 do CFP ).
O Depoimento sem Dano é uma prática Confira a seguir algumas das principais
recomendada pelo Conselho Nacional de Jus- referências legais no âmbito da proteção à in-
tiça (CNJ), por meio da Resolução nº 33, de fância e adolescência, especialmente no que
23/11/2010. O CNJ orienta a criação de servi- se refere à violência sexual.
ços especializados nos tribunais para a escuta
de crianças e adolescentes vítimas ou teste- Normas internacionais
munhas de violência em processos judiciais.
No Brasil, existem atualmente 59 salas de Convenção sobre os Direitos da Criança
tomada de depoimento especial, que aten- Subscrita em 1989 pela Assembleia Geral das
dem principalmente crianças e adolescentes Nações Unidas, a Convenção sobre os Direitos
em situação de violência sexual. Em 2011, o da Criança é resulta de longa trajetória de luta
CNJ firmou um Termo de Cooperação com a pelo reconhecimento dos direitos de meninos
organização Childhood/Brasil e um Protocolo e meninas. Ratificada por 192 países, é hoje o
de Intenções com o Unicef para a realização instrumento internacional de direitos humanos
de iniciativas conjuntas, visando ampliar as com maior adesão. Todos os países da Amé-
ações nesta área. rica Latina o assinaram e grande parte deles já
Embora com a recomendação do CNJ, a in- iniciou processos de adequação de suas ordens
quirição de crianças e adolescentes no sistema jurídicas internas ao documento internacional.
de justiça é considerada pelo Conselho Federal O Brasil, por exemplo, ratificou o tratado
de Psicologia (CFP) como um procedimento em 1990 e, nesse mesmo ano, promulgou o
complexo e delicado que não pode ser discu- Estatuto da Criança e do Adolescente, que
tido apenas do ponto de vista procedimental reconhece a criança como sujeito de direitos
do rito. Para o CFP, não existe depoimento e em condição peculiar de desenvolvimento.
que não cause “dano”, devendo ser evitado que Vale lembrar que a ratificação da Convenção,
Guia de referência para a cobertura jornalística 93

uma vez incorporada ao ordenamento jurídi- ou conflitos armados. Essa recuperação e


co interno, torna-se lei e deve fundamentar reintegração serão efetuadas em ambiente
as decisões judiciais. que estimule a saúde, o respeito próprio e
Destacam-se na Convenção os seguintes a dignidade da criança.
dispositivos:
Protocolo Facultativo
• Artigo 34 – Os Estados partes se compro- Desde 2004, o Brasil é signatário dos dois
metem a proteger a criança contra todas protocolos referendados pela Assembleia
as formas de exploração e abuso sexual. Geral das Nações Unidas dez anos após a
Nesse sentido, os Estados partes adotarão, Convenção. Um deles é o Protocolo Faculta-
em especial, todas as medidas de caráter tivo à Convenção sobre os Direitos da Crian-
nacional, bilateral e multilateral que sejam ça relativo à venda de garotos e garotas para
necessárias para impedir: fins de prostituição e pornografia (mais in-
»» o incentivo ou coação para que uma formações: www.unicef.org.br ou www.mj.gov.
criança se dedique a qualquer atividade br/ sedh/dca/convdir.htm).
sexual;
»» a exploração da criança na prostituição Convenção 182
ou o uso da mesma em outras práticas Aprovada pela 87ª Conferência Geral da Or-
sexuais; ganização Internacional do Trabalho (Ge-
»» a exploração da criança em espetáculos nebra, 1/6/1999), a Convenção 182 define
ou materiais pornográficos. quatro categorias para as piores formas de
• Artigo 39 – Os Estados partes adotarão to- trabalho infantil – entre elas a exploração se-
das as medidas apropriadas para estimular xual de crianças e adolescentes. A Convenção
a recuperação física e psicológica e a rein- (que entrou em vigor no Brasil por meio do
tegração social de toda criança vítima de Decreto nº 3.597/2000, ganhando caráter de
qualquer forma de abandono, exploração lei) proíbe tais formas de trabalho para pes-
ou abuso; tortura ou outros tratamentos ou soas abaixo de 18 anos e recomenda que seu
penas cruéis, desumanos ou degradantes; combate seja incluído como prioridade nas
94 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

políticas públicas. A norma da OIT define as cente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
diferentes formas de exploração da mão-de- direito à vida, à saúde, à alimentação, à edu-
-obra infantojuvenil. Confira as definições cação, ao lazer, à profissionalização, à cultu-
relacionadas ao crime: ra, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de
• Utilização, recrutamento e oferta de crian- colocá-lo a salvo de toda forma de negligên-
ças para fins de prostituição, produção ou cia, discriminação, exploração, violência,
atuações pornográficas; crueldade e opressão.
• Trabalho que expõe crianças a abusos físi-
cos, psicológicos ou sexuais (Recomendação Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
190 da Convenção 182). Mais informações: Art. 5º – Nenhuma criança ou adolescente será
www.oit.org.br/ipec/normas/conv182.php. objeto de qualquer forma de negligência, dis-
criminação, exploração, violência, crueldade
Convenção contra o Crime Organizado e opressão, punido na forma da lei qualquer
Desde 2003, o Brasil é signatário da Con- atentado, por ação ou omissão, aos seus direi-
venção das Nações Unidas contra o Crime tos fundamentais.
Organizado Transnacional – também conhe- Art. 13. Os casos de suspeita ou confir-
cida como Convenção de Palermo –, e do seu mação de maus-tratos contra criança ou
Protocolo Facultativo, que trata da prevenção adolescente serão obrigatoriamente comu-
e punição do tráfico de pessoas, especialmen- nicados ao Conselho Tutelar da respectiva
te de mulheres e crianças (mais informações: localidade, sem prejuízo de outras provi-
www.unicef.org.br). dências legais.
Art. 15. A criança e o adolescente têm direi-
Normativas nacionais to à liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de desenvolvi-
Constituição Federal mento e como sujeitos de direitos civis, hu-
Art. 227 – É dever da família, da sociedade manos e sociais garantidos na Constituição e
e do Estado assegurar à criança, ao adoles- nas leis.
Guia de referência para a cobertura jornalística 95

Uma boa imagem


Texto e imagem são complementares em uma “O direito ao respeito consiste na in-
cobertura jornalística. Mas na mídia impres- violabilidade da integridade física,
sa é a imagem que muitas vezes determina a psíquica e moral da criança e do ado-
leitura ou não de uma matéria. Ela funciona lescente, abrangendo a preservação da
como catalisador em um processo seletivo que imagem, da identidade, da autono-
envolve a ampla gama de informações ofereci- mia, dos valores, ideias e crenças, dos
das diariamente pelos meios. As imagens têm espaços e objetos pessoais”.
poder de convencimento e, subliminarmente,
influenciam nossa leitura de mundo. A tarja preta nos olhos pode ser um recurso
Em suma, é a imagem que representará de utilizado para não identificá-la?
forma mais clara uma situação. Daí a impor- Não. Distorcer apenas a imagem do rosto ou
tância de se escolher bem a fotografia ou o vídeo colocar uma tarja preta nos olhos da crian-
que irão ilustrar um tema tão delicado como a ça ou adolescente não impede que ela seja
exploração sexual de crianças e adolescentes. reconhecida. A identificação pode ser feita a
Assim como uma palavra mal empregada, a partir de outra parte do corpo ou do vestuário.
imagem também pode reforçar preconceitos, Além do mais, a tarja preta pode remeter a um
estereótipos ou tabus que ocultam o problema. tratamento pejorativo, dando à imagem um
Veja alguns exemplos de como evitar isso. significado que não o apropriado.

É permitido mostrar foto ou vídeo de um É permitido mostrar


menino ou menina que esteja sendo sub- parentes da pessoa vitimada?
metido à exploração sexual? O ECA também veda a identificação dos pa-
Não. O Estatuto da Criança e do Adolescente rentes. Assim como a imagem da criança ou
(ECA) diz textualmente, em seu artigo 17: adolescente não é permitida, deve-se evitar
96 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

também mostrar parentes que, de forma indi- envolve nenhum risco, nem o afeta de forma
reta, podem levar à identificação do vitimado negativa.
pela violência sexual. Não publique textos nem
divulgue fotografias ou vídeos que, mesmo mo- Como ilustrar a reportagem?
dificados ou omitidos os nomes ou ocultados os A imagem das vítimas deve ser respeitada com a
rostos, possam incorrer em risco para o menino utilização de recursos técnicos, tais como o des-
ou menina, seus irmãos, seus pais ou qualquer foque e a distorção da voz. Não fuja do desafio de
pessoa ao seu redor. denunciar o crime, mas não ultrapasse o limite
do bom senso. A criatividade é sempre o melhor
O lugar onde a pessoa caminho, mas vale citar algumas alternativas:
vitimada mora pode ser exibido? usar imagens de partes isoladas do corpo da
No momento de escolher as imagens ou sons criança, como mãos e pés, por exemplo, ou ob-
de fundo para reportagens ou para entrevis- jetos e situações que remetam à infância – com
tas de vídeo e áudio, pense em como podem o cuidado, porém, de não produzir o “efeito que-
afetar a vítima, sua vida e sua história. As- bra-cabeças“, em que fragmentos de informação
segure-se de que o ato de mostrar sua casa, publicados em diferentes jornais, ao serem arti-
a comunidade ou o entorno em que vive não culados, permitem a identificação da vítima.

Art. 18 – É dever de todos velar pela dignida- Art. 82 – É proibida a hospedagem de


de da criança e do adolescente, pondo-os a sal- criança ou adolescente em hotel, motel, pen-
vo de qualquer tratamento desumano, violento, são ou estabelecimento congênere, salvo se
aterrorizante, vexatório ou constrangedor. autorizado ou acompanhado pelos pais ou
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocor- responsável.
rência de ameaça ou violação dos direitos da Art.130 – Verificada a hipótese de maus-
criança e do adolescente. -tratos, opressão ou abuso sexual impostos pe-
Guia de referência para a cobertura jornalística 97

los pais ou responsável, a autoridade judiciária de sexo explícito ou pornográfica envolvendo


poderá determinar, como medida cautelar, o criança ou adolescente:*
afastamento do agressor da moradia comum. Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, anos, e multa.*
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibili-
meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, zar, transmitir, distribuir, publicar ou divul-
envolvendo criança ou adolescente:*   gar por qualquer meio, inclusive por meio de
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) sistema de informática ou telemático, foto-
anos, e multa.*   grafia, vídeo ou outro registro que contenha
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem agen- cena de sexo explícito ou pornográfica envol-
cia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer vendo criança ou adolescente:**
modo intermedeia a participação de criança ou Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos,
adolescente nas cenas referidas no caput deste e multa.**
artigo, ou ainda quem com esses contracena.* § 1º Nas mesmas penas incorre quem:**
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) I – assegura os meios ou serviços para o ar-
se o agente comete o crime:* mazenamento das fotografias, cenas ou ima-
I – no exercício de cargo ou função pública gens de que trata o caput deste artigo;**
ou a pretexto de exercê-la;* II – assegura, por qualquer meio, o aces-
II – prevalecendo-se de relações domésti- so por rede de computadores às fotografias,
cas, de coabitação ou de hospitalidade; ou*   cenas ou imagens de que trata o caput deste
III – prevalecendo-se de relações de pa- artigo.**
rentesco consanguíneo ou afim até o terceiro § 2º As condutas tipificadas nos incisos I
grau, ou por adoção, de tutor, curador, pre- e II do § 1o deste artigo são puníveis quando
ceptor, empregador da vítima ou de quem, a o responsável legal pela prestação do serviço,
qualquer outro título, tenha autoridade sobre oficialmente notificado, deixa de desabilitar
ela, ou com seu consentimento.**
Art. 241. Vender ou expor à venda fotogra- * Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008.
fia, vídeo ou outro registro que contenha cena ** Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008.
98 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o ca- res, até o recebimento do material relativo à
put deste artigo.** notícia feita à autoridade policial, ao Ministé-
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armaze- rio Público ou ao Poder Judiciário.**
nar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou § 3º As pessoas referidas no § 2o deste ar-
outra forma de registro que contenha cena tigo deverão manter sob sigilo o material ilí-
de sexo explícito ou pornográfica envolvendo cito referido.**
criança ou adolescente:** Art. 241-C. Simular a participação de
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) criança ou adolescente em cena de sexo ex-
anos, e multa.** plícito ou pornográfica por meio de adul-
§ 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 teração, montagem ou modificação de fo-
(dois terços) se de pequena quantidade o ma- tografia, vídeo ou qualquer outra forma de
terial a que se refere o caput deste artigo.** representação visual:**
§ 2º Não há crime se a posse ou o arma- Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
zenamento tem a finalidade de comunicar às e multa.**
autoridades competentes a ocorrência das Parágrafo único. Incorre nas mesmas
condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A penas quem vende, expõe à venda, dispo-
e 241-C desta Lei, quando a comunicação for nibiliza, distribui, publica ou divulga por
feita por:** qualquer meio, adquire, possui ou arma-
I – agente público no exercício de suas fun- zena o material produzido na forma do ca-
ções;** put deste artigo.**
II – membro de entidade, legalmente Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou
constituída, que inclua, entre suas finalida- constranger, por qualquer meio de comuni-
des institucionais, o recebimento, o proces- cação, criança, com o fim de com ela praticar
samento e o encaminhamento de notícia dos ato libidinoso:**
crimes referidos neste parágrafo;** Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
III – representante legal e funcionários e multa.**
responsáveis de provedor de acesso ou servi-
ço prestado por meio de rede de computado- ** Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008.
Guia de referência para a cobertura jornalística 99

Parágrafo único. Nas mesmas penas in- § 2º Constitui efeito obrigatório da conde-
corre quem:** nação a cassação da licença de localização e de
I – facilita ou induz o acesso à criança de funcionamento do estabelecimento.**
material contendo cena de sexo explícito ou Art. 244-B. Corromper ou facilitar a cor-
pornográfica com o fim de com ela praticar rupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele
ato libidinoso;**   praticando infração penal ou induzindo-o a
II – pratica as condutas descritas no ca- praticá-la:**
put deste artigo com o fim de induzir criança Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.**
a se exibir de forma pornográfica ou sexual- § 1º Incorre nas penas previstas no caput des-
mente explícita.** te artigo quem pratica as condutas ali tipificadas
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos,
nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito inclusive salas de bate-papo da internet.**
ou pornográfica” compreende qualquer situ- § 2º As penas previstas no caput deste ar-
ação que envolva criança ou adolescente em tigo são aumentadas de um terço no caso de a
atividades sexuais explícitas, reais ou simu- infração cometida ou induzida estar incluída
ladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho
criança ou adolescente para fins primordial- de 1990.**
mente sexuais.** Art. 245 – Deixar o médico, professor ou
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescen- responsável por estabelecimento de atenção
te, como tais definidos no caput do art. 2 o des- à saúde e de ensino fundamental, pré-escola
ta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:** ou creche, de comunicar à autoridade com-
Pena – reclusão de quatro a dez anos, e petente os casos de que tenha conhecimen-
multa. to, envolvendo suspeita ou confirmação de
§ 1º Incorrem nas mesmas penas o pro- maus- tratos contra criança ou adolescente:
prietário, o gerente ou o responsável pelo Art. 250 – Hospedar criança ou adolescen-
local em que se verifique a submissão de te, desacompanhado dos pais ou responsável
criança ou adolescente às práticas referidas
no caput deste artigo.** ** Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008.
100 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

ou sem autorização escrita destes, ou da au- sibilidade ao sofrimento físico ou moral da


toridade judiciária, em hotel, pensão, motel vítima ou a condições especiais das mesmas
ou congênere. (crianças, deficientes físicos, idosos). Mais
informações: www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/
Lei de Crimes Hediondos. A Lei nº 8.072, de L9455.htm.
25/07/1990, considera hediondos os crimes
de estupro e estupro de vulnerável, todos tipi- Lei da Tortura. A Lei 9.455, de 1997, conside-
ficados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de de- ra crime de tortura, entre outros, “submeter
zembro de 1940 ( Código Penal), consumados alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade,
ou tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, com emprego de violência ou grave ameaça,
de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984). a intenso sofrimento físico ou mental, como
forma de aplicar castigo pessoal ou medida
V – estupro (art. 213, caput e §§ 1 o e 2 de caráter preventivo”. No caso de a vítima
o);  (Redação dada pela Lei nº 12.015, de ser criança, a pena pode ser aumentada de um
2009) sexto até um terço, de acordo com o dispositivo
VI – estupro de vulnerável (art. 217- (mais informações: www.planalto.gov.br/ccivil/
A, caput e §§ 1 o, 2 o, 3 o e 4 o); (Redação LEIS/L9455.htm).
dada pela Lei nº 12.015, de 2009).
Lei de Crime de Racismo. (Lei nº 7.716/89).
Os autores não têm direito a fiança, in- Define os crimes resultantes de preconceito de
dulto ou diminuição de pena por bom com- raça ou de cor. A Lei nº 9.459/97 altera a Lei de
portamento. Os crimes são classificados Crime de Racismo e institui o crime de injúria
de hediondos sempre que se revestem de racial no art. 140 do Código Penal (Decreto nº
excepcional gravidade, evidenciam insen- 2.848/1940).
Dicas para cobertura:
situando os crimes sexuais no campo das leis
• Mapear, debater e difundir a legislação é • O Brasil é signatário de tratados internacionais
fundamental quando se deseja abordar as que visam à prevenção ao tráfico de crianças e ado-
políticas públicas existentes para o enfrentamento lescentes para fins sexuais. Conhecer o que deter-
ao abuso e à exploração sexual de crianças e ado- minam esses tratados e avaliar seu cumprimento é
lescentes. Neste sentido, devem ser consultadas as pauta de grande relevância;
seguintes normativas internacionais e nacionais: • Alguns municípios, como São Paulo e Salvador,
Convenção Internacional dos Direitos da Criança contam com leis que determinam multa e perda
e do Adolescente, Protocolos Facultativos, Consti- do alvará de funcionamento de estabelecimen-
tuição Federal, Estatuto da Criança e do Adoles- tos que favoreçam a exploração sexual de crian-
cente, Código Penal, Planos Nacional, Estaduais ças e adolescentes. Veja se em sua cidade ou es-
e Municipais de Enfrentamento da Violência Se- tado existe alguma legislação nesse sentido;
xual Contra a Criança e o Adolescente; • Dar destaque a boas práticas no campo jurídico
• O ECA, especialmente, deve ser usado sempre, por (decisões inéditas que apontem para o fim da
tratar-se do marco referencial de proteção à crian- impunidade) ou ainda no campo da segurança
ça e ao adolescente no Brasil. Debatê-lo e divulgá pública (desbaratamento de redes de explora-
-lo são estratégias importantes para que a socie- ção, prisões, etc.) é importante para demonstrar
dade conheça direitos e deveres, e seja mobilizada como é possível enfrentar e combater esse tipo de
para cobrar do poder público a sua aplicação; crime. Conhecer e divulgar práticas inovadoras
• É sempre bom reforçar, em reportagens especiais desenvolvidas por organizações da sociedade ci-
ou factuais, que explorar sexualmente crianças vil nesta área podem contribuir para dar maior
e adolescentes é crime, passível de punições ex- visibilidade e construir possibilidades de reedi-
pressas na lei; ção dessas iniciativas.
102 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Avanços na legislação sobre o tema

Com o objetivo de tornar a legislação bra- § 2o Se da conduta resulta morte:


sileira mais adequada ao grave quadro de Pena – reclusão, de 12 a 30 anos.
violência que atinge milhares de crianças no
País, o relatório final da CPMI da Exploração Estupro de vulnerável
Sexual viabilizou alterações importantes no Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro
Código Penal. ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Vale ter claro que o ECA contém vários Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
artigos relacionados à proteção de crianças e § 1 o Incorre na mesma pena quem pratica as ações
adolescentes contra a violência sexual, mas é descritas no caput com alguém que, por enfermidade
o Código Penal que tipifica este tipo de crime ou deficiência mental, não tem o necessário
e estabelece as penalidades. De acordo com discernimento para a prática do ato, ou que, por
o texto atual do Código, são crimes sexuais qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
no Brasil: § 3 o Se da conduta resulta lesão corporal de
natureza grave:
Estupro Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
Art. 213. Constranger alguém, mediante violên- § 4 o Se da conduta resulta morte:
cia ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
a praticar ou permitir que com ele se pratique (acrescentado a partir da vigência da Lei 12.015
outro ato libidinoso: de 07 de agosto de 2009)
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal Corrupção de menores
de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena – reclusão, de 8 a 12 anos. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Guia de referência para a cobertura jornalística 103

Favorecimento da Favorecimento da prostituição


prostituição ou outra forma ou outra forma de exploração sexual
de exploração sexual de vulnerável Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prosti-
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prosti- tuição ou outra forma de exploração sexual,
tuição ou outra forma de exploração sexual alguém facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade abandone:
ou deficiência mental, não tem o necessário discer- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos,
nimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir e multa.
ou dificultar que a abandone: § 1o Se o agente é ascendente, padrasto,
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
vantagem econômica, aplica-se também multa. empregador da vítima, ou se assumiu, por
§ 2o Incorre nas mesmas penas: lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
I – quem pratica conjunção carnal ou outro proteção ou vigilância:
ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos
maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no
caput deste artigo; Ação penal
II – o proprietário, o gerente ou o responsável pelo Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos
local em que se verifiquem as práticas referidas no I e II deste Título, procede-se mediante ação
caput deste artigo. penal pública condicionada à representação.
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui Parágrafo único. Procede-se, entretanto,
efeito obrigatório da condenação a cassação da li- mediante ação penal pública incondicionada
cença de localização e de funcionamento do esta- se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pes-
belecimento. soa vulnerável.
104 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Casa de prostituição § 2º. Se o crime é cometido mediante violência,


Art. 229. Manter, por conta própria ou de ter- grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou
ceiro, estabelecimento em que ocorra explora- dificulte a livre manifestação da vontade da vítima:
ção sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem
mediação direta do proprietário ou gerente: prejuízo da pena correspondente à violência.
Pena: reclusão de 2 a 5 anos e multa.
Tráfico internacional de pessoa
Rufianismo para fim de exploração sexual
Art. 230. Tirar proveito da prostituição alheia, Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no ter-
participando diretamente de seus lucros ou ritório nacional, de alguém que nele venha a exer-
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por cer a prostituição ou outra forma de exploração
quem a exerça. sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no
Pena: reclusão de 1 a 4 anos e multa. estrangeiro.
§ 1º. Se a vítima é menor de 18 (dezoito) Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é § 1 o Incorre na mesma pena aquele que agen-
cometido por ascendente, padrasto, madrasta, ciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor como, tendo conhecimento dessa condição, trans-
ou curador, preceptor ou empregador da portá-la, transferi-la ou alojá-la.
vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra § 2 o A pena é aumentada da metade se:
forma, obrigação de cuidado, proteção ou I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
vigilância: II – a vítima, por enfermidade ou deficiência
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, mental, não tem o necessário discernimento para a
e multa. prática do ato;
Guia de referência para a cobertura jornalística 105

III – se o agente é ascendente, padrasto, ma- II – a vítima, por enfermidade ou defici-


drasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tu- ência mental, não tem o necessário discerni-
tor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, mento para a prática do ato;
ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de III – se o agente é ascendente, padrasto,
cuidado, proteção ou vigilância; ou madrasta, irmão, enteado, cônjuge, compa-
IV – há emprego de violência, grave ameaça ou nheiro, tutor ou curador, preceptor ou emprega-
fraude. dor da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra
§ 3 o Se o crime é cometido com o fim de obter forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigi-
vantagem econômica, aplica-se também multa. lância; ou
IV – há emprego de violência, grave ameaça
Tráfico interno de pessoa ou fraude.
para fim de exploração sexual § 3 o Se o crime é cometido com o fim de obter
Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamen- vantagem econômica, aplica-se também multa.
to de alguém dentro do território nacional para o
exercício da prostituição ou outra forma de explo- Pornografia
ração sexual: Art. 234 – “Fazer, importar, exportar, adquirir
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. ou ter sob sua guarda, para fim de comércio ou
§ 1 o Incorre na mesma pena aquele que agen- distribuição ou de qualquer exposição pública,
ciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer
assim como, tendo conhecimento dessa condição, objeto obsceno”.
transportá-la, transferi-la ou alojá-la. Pena: detenção de 6 meses a 2 anos ou mul-
§ 2 o A pena é aumentada da metade se: ta (mais informações: www.planal- to.gov.br/
I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm).
106 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

Abuso sexual – Violência que se caracteriza pela


utilização do corpo de uma criança ou adolescente
para a prática de qualquer ato de natureza sexual.
Nesse tipo de violência não há qualquer intuito
de lucro, qualquer relação de compra ou troca. No
Seção especial abuso sexual, o autor da violência visa unicamen-
te satisfazer seus desejos por meio da violência

Glossário sexual. Uma característica que costuma compor


a violência é a relação de confiança entre o autor
e a vítima, ainda que momentânea e enganosa, e
geralmente é praticada por alguém que participa
do convívio da vítima. Isso não necessariamente
significa que seja convívio familiar, podendo ser
comunitário. O abuso sexual pode expressar-se de
duas formas: intrafamiliar e extrafamiliar.

Assédio sexual – Caracteriza-se pelo ato de cons-


tranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente
de sua ascendência ou superioridade hierárquica
sobre o vitimado no ambiente de trabalho.
Guia de referência para a cobertura jornalística 107

Crianças e adolescentes em situação de alto risco agente entre a criança ou adolescente e o usuário
– São crianças vitimadas pela violência estrutural, ou cliente. É por isso que se diz que a criança ou
característica de sociedades marcadas pela divisão adolescente foi explorada, e nunca prostituída,
de classes e por profundas desigualdades na distri- pois ela é vítima de um sistema de exploração de
buição de riquezas. sua sexualidade.

Denúncia – Na área jurídica, é o ato pelo qual o Estupro – Constranger alguém, mediante violên-
promotor de Justiça formaliza a acusação peran- cia ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
te o juízo competente, dando início a uma ação praticar ou permitir que com ele se pratique outro
penal. Para a maioria das pessoas, significa acu- ato libidinoso.
sar, delatar, revelar ou divulgar algo que pode ser
irregular. Muitos dos profissionais que atuam Incesto – Atividade de caráter sexual envolvendo
nessa área consideram denúncia o fato de revelar crianças e adolescentes e um adulto que tenha com
uma suspeita, seja a uma autoridade policial, a um eles uma relação de consanguinidade, de afinidade
serviço do tipo 0800, a um Conselho Tutelar ou a ou de mera responsabilidade. Ou seja: relações in-
um Centro de Defesa da Criança e do Adolescen- cestuosas são aquelas praticadas entre pessoas que,
te, por exemplo. pela lei ou pelos costumes, não podem se casar.

Diagnóstico multiprofissional – Pesquisa de si- Lenocínio – É explorar, provocar ou facilitar a


nais, sintomas ou transtornos biológicos, psicoló- prostituição ou a corrupção de qualquer pessoa,
gicos e relacionados realizada por grupo de profis- haja ou não mediação direta ou intuito de lucro.
sionais de áreas afins, com o objetivo de detectar Quem pratica o lenocínio também é chamado de
patologias que impeçam o desenvolvimento da alcoviteiro, gigolô, cafetão.
criança e ou adolescente.
Notificação – De modo geral, denomina a comu-
Exploração sexual – caracteriza-se pela utilização nicação, formal ou informal, de um fato a alguém.
sexual de crianças e adolescentes com a intenção Para os juristas, notificar significa dar a conhecer
do lucro, seja financeiro ou de qualquer outra es- um fato a um destinatário específico. É um pro-
pécie. Nesse caso, pode haver a participação de um cedimento preventivo, que esclarece responsa-
108 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes

bilidades e elimina a possibilidade de a pessoa que a criança sente pelos mais velhos (relação de
notificada alegar ignorância sobre o que lhe foi de- poder). A pedofilia não é legalmente tipificado
terminado. Entre os profissionais que trabalham como crime. O que é tipificado como crime é a
com situações de violência sexual infantojuvenil, o pornografia infantil.
significado mais comum para o termo é o de emis-
são da informação de uma situação de maus-tratos Perversão – Termo que designa desvios de com-
para o Conselho Tutelar ou para uma Vara da Infân- portamento e das práticas sexuais normais ou as-
cia e da Juventude. É assim utilizado, por exemplo, sim consideradas.
para definir a atribuição do profissional de saúde
em comunicar oficialmente uma situação de abuso Plano Nacional – Elaborado em 2000, fruto de
contra um paciente menor de 18 anos. pressão da sociedade civil organizada e de uma mo-
bilização do Governo Federal, o Plano Nacional de
Parafilias – Consistem em fantasias, anseios sexu- Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças
ais ou comportamentos recorrentes, internos e se- e Adolescentes estabelece diretrizes a partir de seis
xualmente excitantes. Em geral, envolvem objetos eixos estratégicos que referenciam o poder público
não humanos, sofrimento ou humilhação próprios e a sociedade sobre como devem atuar no enfrenta-
ou de parceiro, crianças ou outras pessoas sem o mento das diversas modalidades de violência sexu-
consentimento, e ocorrem por um período míni- al. O Plano Nacional foi revisado em 2013.
mo de seis meses.
Pornografia infantil – é a expressão da exploração
Pedofilia – é uma parafilia, ou seja, um distúr- sexual que se caracteriza por qualquer representa-
bio psíquico que se caracteriza pela obsessão por ção, por qualquer meio, de uma criança envolvida
prática sexual não aceita pela sociedade, a partir em atividades sexuais explícitas, reais ou simula-
da confiança que se adquire da criança. É uma das, ou qualquer representação dos órgãos sexuais
anormalidade psicossexual de comportamen- de uma criança para fins primordialmente sexuais.
to. Ela é também manifestada na modalidade do (Decreto n. 5.007, de 8 de março de 2004, que pro-
exibicionismo, ou seja, por pessoas que se torna- mulga o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os
ram impotentes e se satisfazem com toques dos Direitos da Criança referente à venda de crianças, à
órgãos genitais, práticas facilitadas pela atração prostituição infantil e à pornografia infantil).
Guia de referência para a cobertura jornalística 109

Prostituição – Induzir ou atrair alguém à prosti- Tráfico de crianças e adolescentes para fins de
tuição, facilitá-la ou impedir que alguém a aban- exploração sexual – É a promoção ou facilitação
done (Código Penal, artigos 227, 228 e 229). da entrada, saída ou deslocamento, em territó-
rio nacional, ou para outro país, de crianças e
Revitimização – Quando a criança ou adolescente adolescentes com o objetivo de submetê-las à
que já sofreu violência sexual experimenta a viola- exploração sexual ou outra forma de violência
ção de outros direitos na fase do inquérito policial e/ sexual.
ou na fase do processo judicial, através de condutas
ou comentários discriminatórios e/ou difamatórios, Violência – É qualquer ato deliberado, por ação
além da ausência de orientação sobre providências ou omissão, originado por pessoas, instituições ou
necessárias para resgate dos direitos, etc. sociedades, que prive a criança ou adolescente dos
seus direitos e liberdades, e que interfira no seu
Rufianismo – Tirar proveito da prostituição desenvolvimento e provoque sequelas, de gravida-
alheia, lucrando com ela ou fazendo-se sustentar des diferenciadas, em sua vida.
por quem a exerça (Código Penal, art. 230). Rufião
é o responsável pela exploração sexual. Também Violência sexual – É uma violação dos direitos
chamado de cafetão, proxeneta ou cafetina. sexuais. Atinge o corpo e a sexualidade, sendo
perpetrada pela força física ou outra forma de
Sexualidade – A sexualidade é própria e inerente coerção, ao envolver crianças e adolescentes em
às pessoas, sendo impossível dissociá-la da exis- atividades sexuais impróprias ao seu estágio de
tência humana, vinculada a processos biológicos, desenvolvimento psicossexual e etário. Trata-se
psicológicos e sociais intrínsecos aos seres huma- de toda ação na qual uma pessoa, em situação de
nos. Nesse sentido, os direitos sexuais, enquanto poder, obriga ou induz outra à realização de práti-
direitos humanos, dizem respeito exatamente cas sexuais, por meio da força física, da influência
ao direito de a pessoa desenvolver e exercitar de psicológica (intimidação, aliciamento, sedução),
maneira sadia e segura a sua sexualidade, livre de ameaça, uso de arma, droga ou qualquer outro
qualquer discriminação, coação ou violência. meio coercitivo.
Guia de fontes
Esta seção traz uma lista de instituições que podem Atuação: Município de São Vicente (SP)
servir como fontes de consulta para a produção de E-mail: projetocamara@ig.com.br; projetocamara@
uma cobertura qualificada sobre violência sexual projetocamara.org.br
contra crianças e adolescentes. As sugestões apre- Site: www.projetocamara.org.br
sentadas não esgotam o rico universo de entidades
que atuam nesta área, bem como de estudos e pes- CASA DE PASSAGEM
quisas dedicados ao enfrentamento do fenômeno, Atuação: Região Metropolitana de Recife (PE)
mas servem como primeira referência para os jor- E-mail: cp@casadepassagem.org.br
nalistas envolvidos na abordagem do tema. Site: www.casadepassagem.org.br

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MAGISTRADOS E CENTRO DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADO-


PROMOTORES DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE LESCENTE (CEDECA/CE)
(ABMP) Atuação: Ceará
Atuação: Nacional E-mail: cedeca@cedecaceara.org.br
E-mail: abmp@abmp.org.br Site: www.cedecaceara.org.br
Site: www.abmp.org.br
CENTRO DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADO-
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DA MU- LESCENTE EMAÚS (CEDECA/PA)
LHER DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE (ASBRAD) Atuação: Pará
Atuação: Nacional E-mail: cedecaemaus@uol.com.br
Site: www.asbrad.com.br Site: www.emauscrianca.org.br

ASSOCIAÇÃO LUA NOVA CENTRO DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADO-


Atuação: Nacional LESCENTE YVES DE ROUSSAN (CEDECA/BA)
E-mail: luanova@luanova.org.br Atuação: Bahia
Site: www.luanova.org.br E-mail: cedeca@cedeca.org.br
Site: www.cedeca.org.br
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS DE DEFE-
SA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – Seção DCI CENTRO DA MULHER 8 DE MARÇO
Brasil – ANCED/DCI BRASIL Atuação: Paraíba
Atuação: Nacional Site: www.cm8mar.org.br
Site: www.anced.org.br
CENTRO DE RECREAÇÃO, ATENDIMENTO E DE-
CAMARÁ – CENTRO DE PESQUISA E APOIO À FESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – CIRCO
INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA DE TODO MUNDO
Atuação: Grande Belo Horizonte (MG) CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DAS
E-mail: circodetodomundo@circodetodomundo. CRIANÇAS (CONANDA)
org.br Atuação: Nacional
Site: www.circodetodomundo.org.br E-mail: conanda@sdh.gov.br
Site: www.sdh.gov.br
CENTRO DE REFERÊNCIA ÀS VÍTIMAS DA
VIOLÊNCIA – INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE ECPAT - BRASIL/FILIADA AO ECPAT INTERNA-
(CNRVV) CIONAL (PELO FIM DA EXPLORAÇÃO SEXUAL,
Atuação: São Paulo PORNOGRAFIA E TRÁFICO DE CRIANÇAS E
E-mail: cnrvv@sedes.org.br ADOLESCENTES/END CHILD PROSTITUTION,
Site: www.sedes.org.br ABUSE AND TRAFFICK)
Atuação: Internacional
CENTRO DE REFERÊNCIA, ESTUDOS E AÇÕES E-mail: tianarj@oi.com.br/
SOBRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES representação no Brasil
(Cecria) Site: www.ecpat.net /Ecpat/brasil.blogspot.com
Atuação: Nacional
E-mail: cecria@cecria.org.br FÓRUM CATARINENSE PELO FIM DA VIOLÊN-
Site: www.cecria.org.br CIA E DA EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTOJU-
VENIL
CHILDHOOD BRASIL – INSTITUTO WCF Atuação: Santa Catarina
Atuação: Nacional Site: www.forumcatarinense.org.br
E-mail: childhood@childhood.org.br
Site: www.childhood.org.br FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DE ENTI-
DADES NÃO GOVERNAMENTAIS DE DEFESA
COLETIVO MULHER VIDA (CMV) DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES (FORUM
Atuação: Região Metropolitana de Recife (PE) DCA)
E-mail: coletivo@mulhervida.com.br Atuação: Nacional
Site: www.mulhervida.com.br E-mail: comunicacao@forumdca.org.br
Site: www.forumdca.org.br
COMITÊ NACIONAL DE ENFRENTAMENTO
À VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E FÓRUM NACIONAL DE PREVENÇÃO E ERRADI-
ADOLESCENTES CAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (FNPETI)
Atuação: Nacional Atuação: Nacional
E-mail: comitenacional@terra.com.br E-mail: fnpeti15@gmail.com
Site: www.comitenacional.org.br Site: www.fnpeti.org.br
FUNDAÇÃO ABRINQ PROGRAMA DE ATENÇÃO À VIOLÊNCIA SEXUAL
Atuação: Nacional (PAVAS)
Site: http://www.fundabrinq.org.br/ Atuação: Estado de São Paulo
E-mail: pavas@usp.br
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA Site: www.fm.usp.br/preventiva
(UNICEF)
Atuação: Nacional SAFERNET
E-mail: brasilia@unicef.org.br Atuação: Nacional
Site: www.unicef.org.br Sites: www.safernet.org.br/www.denunciar.org.br

INSTITUTO ALIANÇA SAVE THE CHILDREN SUÉCIA


Atuação: Nacional Atuação: Internacional
E-mail: ia@institutoalianca.org.br E-mail: postmaster.br@scslat.org
Site: www.institutoalianca.org.br Site: www.scslat.org

GRUPO DE PESQUISAS SOBRE TRÁFICO DE SODIREITOS - SOCIEDADE DE DEFESA DOS


PESSOAS, VIOLÊNCIA E EXPLORAÇÃO SEXUAL DIREITOS SEXUAIS NA AMAZÔNIA
DE MULHERES, CRIANÇAS E ADOLESCENTES Atuação: Amazonas
(VIOLES) E-mail: sodireitos@gmail.com
Atuação: Distrito Federal
E-mail: violes.unb@gmail.com TERRA DOS HOMENS
Blog: grupovioles.blogspot.com.br Atuação: Nacional
E-mail: terradoshomens@terradoshomens.org.br
MOVIMENTO NACIONAL DOS MENINOS E ME- Site: www.terradoshomens.org.br
NINAS DE RUA (MNMMR)
Atuação: Nacional VIRAVIDA
E-mail: mnmmr@mnmmr.org.br Atuação: Nacional
Site: www.mnmmr.org.br E-mail: comunicacaocn@cni.org.br
Site: www.viravida.org.br
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABA-
LHO (OIT) VISÃO MUNDIAL
Atuação: Nacional Atuação: Internacional
E-mail: brasilia@oitbrasil.org.br E-mail: vmb_atendimento@wvi.org
Site: www.oitbrasil.org.br Site: www.visaomundial.org.br
Referências

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guia para jornalistas (ANDI/IPEC/OIT) Sexual de Crianças e Adolescentes. RJ: nov, 2008.
______O Grito dos Inocentes – Os meios de co-
municação e a violência sexual contra crianças e DALTOÉ, José Antônio Cezar. Depoimento Sem
adolescentes (ANDI/Childhood Brasil – Instituto Dano. Editora Livraria do Advogado: Rio Grande
WCF/Unicef/Cortez Editora) do Sul, 2007.
______Crianças Invisíveis – O enfoque da imprensa
sobre o Trabalho Infantil Doméstico e outras for- ELLERY, Celina; GADELHA, Graça (Org.) Cartilha
mas de exploração (ANDI/OIT/Unicef/ Cortez Como Identificar, prevenir e combater a Violência
Editora) Sexual contra Crianças e Adolescentes. Fortaleza:
UNICEF, 2011.
ANNI/ Bolívia – Agencia Nacional de Noticias por
los Derechos de la Infancia – Manual para Perio- FALEIROS, Eva. Conceitos de Violência, Abuso,
distas e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Relatório Final de Pesquisa – Cecria – 1999
BRASIL. Constituição da República Federativa do
Brasil. 1988 LUZ, Fernando e ROSENO Renato. Estudo Pro-
teger e Responsabilizar. O desafio da resposta da
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei sociedade e do Estado quando a vítima da violência
Federal 8069 de 13/07/1990. sexual é criança ou adolescente. Comitê Nacional de
Cecria – Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Cri- Enfrentamento da Violência Sexual contra Crian-
anças e Adolescente para fins de Exploração Sexual ças e Adolescentes – 2007
Comercial no Brasil – Pestraf – 2002.
INSTITUTO INTERAMERICANO DA CRIANÇA –
CHILDHOOD BRASIL – O Perfil do Caminhoneiro INN – La protección de los Derechos de los Niños,
no Brasil – 2010. Niñas y Adolescentes frente a la Violencia sexual.
INN, 2003.
III CONGRESSO MUNDIAL CONTRA A EX-
PLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLES- PAIVA, Leila – Violência Sexual – Conceitos. Pro-
CENTES, Declaração do Rio de Janeiro e Chamada grama de Ações Integradas e Referenciais de En-
frentamento da Violência Sexual Infantojuvenil no Intersetorial de Enfrentamento da Exploração
Território Brasileiro – PAIR; Material Didático – 2 Sexual Comercial de Crianças e Adolescente –
Conteúdos para Capacitação; p. 31-40. Universi- 2005. UNICEF/UnB.
dade Federal do Mato Grosso do Sul, 2012. ______ Plano Nacional de Enfrentamento da Vi-
olência Sexual Infantojuvenil. 3 ed. Brasília:
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA - Política Nacional de SEDH/DCA, 2002.
Enfrentamento do Tráfico de Pessoas e institui ______Cartilha Disque 100, Brasília: nov,2010.
Grupo de Trabalho Interministerial com o obje-
tivo de elaborar proposta do Plano Nacional de SAVE THE CHILDREN SUÉCIA – Abuso Sexual
Enfrentamento do Tráfico de Pessoas (PNETP), Infantil y Explotación Sexual Comercial Infantil
2006. en América Latina y El Caribe – Informe Genérico
Situacional
OIT - Tráfico de Pessoas para Fins de Exploração
Sexual. 2006 TEIXEIRA, Lumena Celi. Pegadas e Sombras: per-
______Guia para Localização dos Pontos Vulneráveis fil psicossocial de adolescentes atendidasem pro-
à Exploração Sexual Infanto-Juvenil ao Longo das jeto de prevenção e enfrentamento da exploração
Rodovias Federais Brasileiras - Polícia Rodoviária sexual infanto-juvenil. Caderno de Pesquisa nº 1,
Federal. Edição 2007/2008. Ed. Limiar & Camará, SP, 2002.

SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA TRINDADE, Eliane. Meninas da Esquina. Editora


PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA-SDH/PR. Matriz Record.2005
O ViraVida é dirigido a adolescentes e jovens A partir de 2010, o Conselho Nacional do
vítimas de violência sexual. Nasceu por ini- SESI focou esforços para ampliar as parcerias
ciativa da presidência do Conselho Nacional do ViraVida e transferir a metodologia aos es-
do SESI, e foi desenvolvido a partir da con- tados brasileiros. Hoje, ele é desenvolvido em
tribuição de acadêmicos, pesquisadores e 19 capitais e até o fim de 2014 estará presente
representantes da Rede de Enfrentamento à em todo o País.
Exploração Sexual Infantojuvenil. Reconhecido pela Fundação Banco do Bra-
Ele cria condições para o aluno adquirir sil como tecnologia social, o ViraVida regis-
conhecimentos, desenvolver habilidades e trou, em cinco anos, resultados que atestam
recuperar a autoconfiança necessária para a sua efetividade, como o baixo custo mensal
ingressar no mundo do trabalho. de R$ 1.553,00 por aluno – um investimento
Os aprendizes permanecem em sala de pequeno, se considerados os grandes bene-
aula por mais de um ano, recebendo atendi- fícios, comprovados por estudos, da inserção
mento psicossocial, médico e odontológico, socioprodutiva dos jovens.
educação básica e continuada, além de capa- O mais relevante, no entanto, é que o Vi-
citação nas escolas do Sistema S. raVida reduz as diferenças sociais no tocante
O recorte de público foi definido a partir de a gênero, escolaridade, dependência química
questões como a falta de oportunidades e de e orientação sexual, além de fortalecer os vín-
programas de apoio a jovens com mais de 18 culos familiares e comunitários.
anos – além do fato de que é na faixa de 16 a 21
anos que os jovens buscam o primeiro emprego. Saiba mais em: www.viravida.org.br
A ANDI é uma organização social com 19 anos Criado pela ANDI, com apoio da Funda-
de experiência dedicados à promoção dos di- ção Abrinq, o projeto Jornalista Amigo da
reitos de crianças e adolescentes. Um de seus Criança foi lançado em 1997, com o objetivo
objetivos é contribuir para que jornalistas e de reconhecer o trabalho de profissionais
empresas de comunicação abordem de forma que contribuem de maneira decisiva para
sistemática e prioritária os temas que afetam a promover o debate público em torno dos di-
qualidade de vida da população infantojuvenil. reitos das novas gerações.
O modelo de Mídia para o Desenvolvimen- Hoje eles formam um grupo de 366 jor-
to implementado pela ANDI se baseia em três nalistas, que atuam em todas as regiões do
grandes eixos de ação: País e nos diferentes meios de comunicação
• Monitoramento e Análise – tevê, rádio, imprensa escrita, Internet –,
• Mobilização além de organizações da sociedade e univer-
• Qualificação sidades. Dotados de uma compreensão clara
As metodologias elaboradas pela ANDI sobre o papel exercido pela mídia nas socie-
constituem hoje uma tecnologia social que vem dades contemporâneas, estes profissionais
sendo reaplicada tanto em diferentes regiões vêm conseguindo garantir foco para a agen-
brasileiras (Rede ANDI Brasil, presente em da social brasileira, sem comprometer a ob-
10 estados) quanto internacionalmente (Rede jetividade e imparcialidade de seu trabalho
ANDI América Latina, atuante em 12 países). de reportagem.
Atualmente, o projeto conta com patrocí-
Acesse: www.andi.org.br nio da Petrobras.

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