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EXPEDIENTE Texto e Edição
ANDI – COMUNICAÇÃO E DIREITOS Adriano Guerra, Marília Mundim (1ª edição) e
Suzana Varjão (2ª edição)
Presidenta do Conselho Diretor Reportagem
Cenise Monte Vicente Mauri Konig
Secretário Executivo Revisão técnica
Veet Vivarta Marlene Vaz (1ª edição)
SDS – Ed. Miguel Badya, Bloco L, sala 318 Graça Gadelha (2ª edição)
CEP: 70.394-901 – Brasília/DF Apoio técnico
Tel: (61) 2102-6551 / Fax: (61) 2102.6550 Ana Potyara Tavares
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Conselho Nacional do SESI André Nóbrega (1ª edição)
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Francisco Fontenele (O Povo – CE), com
SBN ,Qd. 1, Bloco B, 11º andar – Ed. CNC, Asa interferência gráfica
Norte, Brasília/DF.
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Gráfica Coronário
FICHA TÉCNICA Tiragem
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes – 11.000 exemplares
Guia de referência para a cobertura jornalística Brasília, outubro de 2013
(ISBN: 978-85-99118-14-6) Advertência: o uso de linguagem que não discrimine nem
2ª edição (revista e atualizada) estabeleça a diferença entre homens e mulheres, meninos
e meninas é uma preocupação deste texto. O uso genérico
Realização: ANDI do masculinoou da linguagem neutra dos termos criança e
Correalização: Conselho Nacional do SESI adolescente foi uma opção inescapável em muitos casos. Mas
fica o entendimento de que o genérico do masculino se refere a
Patrocínio: Petrobras homem e mulher e que por trás do termo criança e adolescente
Supervisão editorial existem meninos e meninas com rosto, vida, histórias, dese-
Veet Vivarta jos, sonhos, inserção social e direitos adquiridos.
Sumário
04 Apresentação
05 Introdução
106 Glossário
Introdução
rando nos últimos anos.
Estudos coordenados pela ANDI demons-
tram que, sob a ótica da qualidade, a cobertu-
ra sobre violência sexual supera, em regra, o
noticiário dedicado à violência em geral pra-
ticada contra esses grupamentos. E os exem-
plos positivos registrados nessa área deixam
claro que, ao agregar à pauta um tratamento
editorial mais qualificado, a contribuição da
imprensa ao debate público sobre o tema ad-
quire grande relevância.
Não se deve perder de vista, contudo, que
lidar com a problemática em foco é tarefa
complexa, uma vez que essa grave forma de
6 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
violência é alimentada por uma ampla com- glossário, fontes e dicas úteis para aprimorar
binação de fatores, entre os quais, a desi- o tratamento editorial dispensado ao tema.
gualdade socioeconômica, a impunidade e a Importante ressaltar que o presente do-
omissão do Estado na efetiva implementação cumento não tem a pretensão de esgotar os
de políticas públicas. inúmeros enfoques que podem ser utili-
E as múltiplas dimensões que envolvem zados no trabalho cotidiano das redações,
o enfrentamento dessa violação, que afeta quando o tema da exploração sexual entra
milhares de meninos e meninas em todo o em pauta. A expectativa é de que, a partir
mundo, exigem uma atuação articulada e in- dos conteúdos ora apresentados, o leitor ou
cisiva dos diferentes segmentos da sociedade: leitora disponha de parâmetros que a ANDI
governos, empresas, adolescentes e jovens, acredita serem referenciais para uma co-
além da sociedade civil e, também, o campo bertura diferenciada.
da comunicação midiática. Incluem-se nesse rol algumas característi-
Diante de um contexto tão desafiador, a cas relacionadas ao exercício do bom jornalis-
ANDI – Comunicação e Direitos considerou mo e que apresentam clara interface com um
estratégico reeditar este guia de consulta para campo de estudo mais amplo, denominado
jornalistas, com o objetivo de ampliar a ofer- por alguns especialistas de “Comunicação para
ta de elementos práticos para uma cobertura o Desenvolvimento”. Trata-se de um conceito
qualificada sobre o tema. abrangente, no qual estão abrigadas as mais
Assim, esta (re)edição, que conta com par- diversas manifestações comunicacionais,
ceria do Conselho Nacional do Serviço Social quando buscam incidir em aspectos sociais,
da Indústria (SESI/CN), elenca, de forma culturais, econômicos e de sustentabilida-
mais vasta, as principais políticas de enfren- de ambiental, para citar alguns exemplos. No
tamento à violência sexual contra crianças e âmbito da imprensa, tais características en-
adolescentes em âmbitos nacional e interna- volvem a produção de um noticiário capaz de:
cional, além de atualizar conceitos e destacar
avanços e desafios nesta área. As páginas que • Oferecer à sociedade informação confiável
se seguem reúnem ainda sugestões de pautas, e contextualizada;
Guia de referência para a cobertura jornalística 7
• Definir, de maneira pluralista, a agenda de Como exposto nas próximas páginas, exis-
prioridades no debate público; tem estudos e levantamentos que buscam
• Exercer o controle social em relação aos diagnosticar os diferentes aspectos relaciona-
governos e às políticas públicas. dos à violência sexual contra crianças e ado-
lescentes, constituindo-se em importantes
Nesse sentido, vale dedicarmos a cada um fontes de consulta. Além desses documentos,
dos três tópicos um pouco mais de atenção. são registrados pesquisadores e organizações
não governamentais que atuam na área e que
Qualidade das informações podem ser valiosos aliados na construção de
Os profissionais do jornalismo têm a grande uma reportagem contextualizada.
responsabilidade social de levar para todos
os cidadãos e cidadãs informações contextu- Agenda pública
alizadas sobre as ações governamentais e não Especialistas são unânimes em apontar que
governamentais vinculadas a questões de in- uma política de enfrentamento à exploração
teresse coletivo. Muitas vezes, é somente por sexual de crianças e adolescentes só alcança
meio da imprensa que a população toma co- efetividade quando envolve ações coordena-
nhecimento de serviços de relevância pública das entre União, estados e municípios, articu-
ou de direitos que precisam ser acessados e/ ladas às iniciativas da sociedade civil e do setor
ou demandados, sobretudo quando envolvem privado – premissa também estabelecida no
crianças e adolescentes. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Essa percepção ocorre na discussão de te- em relação às políticas de proteção integral
mas complexos, como a violência sexual, que desses segmentos.
afeta esses grupamentos e impacta seu proces- Potencializar os esforços de diferentes se-
so de desenvolvimento. Ir além do meramente tores em torno de um tema comum demanda
factual é uma importante contribuição que o um complexo trabalho de mobilização, para
campo jornalístico pode oferecer para escla- o qual a imprensa pode (e deve) oferecer va-
recer a sociedade sobre os diversos fatores que liosa contribuição. Como é de conhecimento
gravitam em torno dessa grave violação. geral, as questões abordadas no noticiário
8 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
constituem, quase sempre, focos prioritários Por outro lado, os assuntos “esquecidos”
do interesse dos gestores públicos, dos atores pelos jornalistas dificilmente recebem atenção
sociais e de políticos de maneira geral, in- da sociedade e dos governos. Não é difícil ima-
fluenciando sobremaneira a definição de suas ginar, portanto, os impactos de uma cobertura
linhas de atuação. abrangente e qualificada sobre a problemática
Guia de referência para a cobertura jornalística 9
pelo governo brasileiro, Unicef, a rede de co- Relevante também destacar a ampla di-
operação mundial não governamental ECPAT vulgação dada pela mídia às substanciais
e NGO Group). O III Congresso foi considera- mudanças no Código Penal em relação aos
do o maior já realizado no mundo sobre o tema, crimes de natureza sexual e a aprovação de
com a presença de representantes de cerca de Planos e Políticas Nacionais temáticos, que
160 países; 3.515 delegados – dentre estes, 282 têm interface com o tema: Plano Nacional
adolescentes; 55 autoridades internacionais de de Promoção, Proteção e Defesa do Direito
alto nível; 357 profissionais de meios de comu- de Crianças e Adolescentes à Convivência
nicação social; e 248 experiências apresenta- Familiar e Comunitária (2006); Sistema
das em 100 Oficinas e Diálogos de segmentos. Nacional de Atendimento Socioeducativo –
Sinase (2006); Plano Nacional de Enfren-
Respostas no contexto brasileiro tamento ao Tráfico de Pessoas (2008); Pla-
As discussões dele decorrentes alertaram no Nacional de Prevenção e Erradicação do
para a necessidade de atualização/revisão do Trabalho Infantil (2010) e Plano Decenal de
Plano Nacional, sobretudo para incluir estra- Direitos Humanos de Crianças e Adolescen-
tégias de enfrentamento às chamadas novas tes (2010).
formas de violência sexual – os crimes trans-
nacionais e os delitos facilitados pelas tecno- Desafios a enfrentar
logias da informação e comunicação (TICs). Apesar de o tema seguir ganhando espaço e
No Brasil, vale mencionar alguns marcos qualidade na pauta das redações, a cobertura
decisivos,que possibilitaram o aumento da ainda apresenta limites e equívocos. O com-
visibilidade dotema, como a criação, em 1997, plexo quadro de desafios delineados ao longo
do serviçoDisque Denúncia Nacional/Disque desta publicação deixa claro que o noticiário
100 e o estabelecimento, em 2000, do Dia sobre violência sexual contra crianças e ado-
Nacional de Combate ao Abuso e à Explora- lescentes exige um tratamento diferenciado
ção Sexual de Crianças e Adolescentes– 18 de por parte de repórteres e editores. E um dos
maio –, data de referênciapara os jornalistas aspectos que merecem atenção diz respeito ao
na cobertura da temática. viés da cobertura.
Guia de referência para a cobertura jornalística 13
sexual
realidade – impulsionados, em grande parte,
por um processo mundial de mobilização em
torno do tema.
a realidade
Crianças e Adolescentes, em 2000, não fo-
ram poucos os registros de casos de abuso
sexual e exploração sexual que ganharam
repercussão no noticiário, motivando, en-
tre cidadãos e cidadãs, além do compreen-
sível sentimento de indignação, a percepção
Guia de referência para a cobertura jornalística 15
de que vem aumentando a ocorrência dessa distinguir conceitos como abuso sexual e
forma de violência no Brasil. exploração sexual? Entendem os diferentes
No entanto, mais do que um cenário de au- fatores que constituem o contexto da explo-
mento puro e simples dos casos de violência ração sexual?
sexual, o que as estatísticas revelam é uma ex- Para lidar com tais questões, foi esboça-
pansão no volume de denúncias registradas. da, nesta primeira seção do guia, uma breve
Esse contexto pode ser associado ao fato de o caracterização da problemática, apontando
pacto de silêncio e o tabu, que sempre mar- possíveis causas, distinguindo conceitos e
caram essa forma de violência, estarem sendo indicando atores e/ou mecanismos que, na
progressivamente desconstruídos. maioria dos casos, dão sustentação às redes
Indiscutivelmente, a imprensa brasileira de exploração sexual existentes. O conteúdo
passou a desempenhar um importante papel não se propõe a esgotar os inúmeros fatores
nesse contexto. Conforme mencionado ante- que podem constituir esse tipo de realidade,
riormente, os estudos produzidos pela ANDI mas aponta aspectos centrais, que devem ser
sobre a cobertura de temas relacionados aos levados em conta na cobertura jornalística.
direitos das novas gerações demonstram que
vem crescendo nos jornais a presença de pau- Dois crimes diferentes
tas com foco na ocorrência de crimes sexuais Tratar os conceitos de abuso sexual e de ex-
cometidos contra a população infantojuvenil. ploração sexual como sinônimos é um equí-
voco frequente na abordagem de questões re-
Compreendendo os conceitos lacionadas à violência sexual contra crianças e
Cabe perguntar com quais limites os jor- adolescentes, seja no discurso dos jornalistas,
nalistas têm se deparado ao lidar com uma seja na voz das próprias fontes de informação.
realidade tão complexa e multifacetada. Como será exposto adiante, há de fato ele-
Existe uma abordagem diferenciada no no- mentos comuns – como os relacionados, por
ticiário em relação aos vários tipos de vio- exemplo, às consequências para as vítimas
lência sexual identificados no País? Os pro- – permeando os vários crimes sexuais prati-
fissionais de mídia sabem, por exemplo, cados contra meninos e meninas. No entan-
16 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
A palavra certa
A mídia atua de forma decisiva na formação Normalmente, seu uso ocorre quando estão
de valores e comportamentos sociais. Nesse em foco meninos e meninas para os quais o
contexto, o emprego de palavras inadequa- Código se destinava, ou seja, em situação de
das pode reforçar preconceitos, estereótipos abandono, de trabalho precoce ou em con-
ou tabus que ocultam a violência sexual flito com a lei. Por isso, prefira sempre os
contra crianças e adolescentes. Veja alguns termos criança, adolescente, garoto, garota,
equívocos que contribuem para legitimar e não expressões pejorativas como menor, de-
esse tipo de violação de direitos dos segmen- linquente, moleque, etc.
tos em foco.
Expressões equivocadas
Expressão equivocada • Prostituição infantil;
• Menores. • Menores que se prostituem;
• Meninas prostitutas.
Expressões adequadas
• Crianças e adolescentes; Expressões adequadas
• Meninos e meninas; • Exploração sexual de crianças e adoles-
• Garotos e garotas. centes;
• Exploração sexual infantojuvenil;
Razões • Exploração sexual da infância e adolescência;
O termo “menor”, usado para designar • Exploração sexual de meninos e meninas;
crianças e adolescentes, em geral tem sen- • Crianças e adolescentes explorados sexual-
tido pejorativo. A definição remete ao Có- mente;
digo de Menores (Lei 6.697/67), revogado • Crianças e adolescentes em situação de ex-
em 1990, a partir da promulgação do ECA. ploração sexual.
18 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
Razões Razões
A palavra “prostituição” remete à ideia de Embora esteja baseada em uma relação co-
consentimento, desviando o enfoque da explo- mercial – considerada como uma das piores
ração. Isto é, tira a criança e o adolescente da formas de trabalho infantil (Convenção 182
condição de vitimados, transportando-os para da OIT) –, a exploração sexual de crianças e
o papel de agentes da situação. Quando crian- adolescentes vai além do uso da mão-de-obra
ças e adolescentes são levados a participar de infantil, configurando-se como uma das mais
atos sexuais ou pornográficos, estão sendo ex- graves violações aos seus direitos.
plorados sexualmente. Trata-se de uma viola-
ção dos direitos fundamentais desses grupa- Expressão equivocada
mentos, num contexto em que indivíduos mais • Serviço sexual de menores.
fortes subjugam os mais fracos. Para melhor
descrever esses casos, o correto é usar o termo Expressão adequada
exploração sexual infantojuvenil, evitando até • Exploração sexual de crianças e adolescentes.
mesmo o termo prostituído, para que o leitor,
expectador ou ouvinte não se confunda. Razões
Meninos, meninas e adolescentes não oferecem
Expressão equivocada um serviço voluntariamente. São levados à ex-
• Menores trabalhadores do sexo. ploração sexual, geralmente, por um adulto.
Guia de referência para a cobertura jornalística 19
Construindo pontes
Nem sempre o profissional de imprensa encon- desenvolvem políticas públicas ou que realizam
tra, entre suas fontes de informação, opiniões atendimento direto e os órgãos das áreas da Jus-
consensuais sobre o significado dos termos tiça e da Segurança Pública que essa situação
mais comumente utilizados na cobertura de transparece. Política e sociologicamente, o termo
situações de abuso e de exploração sexual de violência sexual guarda um significado amplo,
crianças e adolescentes. Para que essa questão englobando tanto o abuso sexual quanto as di-
seja enfrentada sob uma perspectiva integra- versas formas de exploração sexual.
da, é preciso, entre outras coisas, construir No âmbito do direito brasileiro, em rela-
pontes entre o mundo jurídico e o mundo social ção à violência sexual, os chamados crimes
e político – especialmente no que diz respeito sexuais, que antes eram considerados como
aos conceitos. Muitas das expressões de uso “crimes contra os costumes”, passaram a ser
consagrado pela sociedade não se traduzem considerados como “crimes contra a dignidade
adequadamente na terminologia utilizada por sexual”, uma substancial mudança, operada a
juristas ou pelas instituições policiais. partir da Lei nº 12.015/2009.
Por outro lado, a inexistência de uma A expressão “exploração sexual” foi trans-
base nacional unificada de dados nesta área portada do universo sociopolítico para a área
cria dificuldades na coleta, sistematização jurídica, na qual não tinha tradição e onde não
e consolidação das diferentes expressões de se havia construído ainda um conceito formal.
violência sexual praticadas contra crianças O Direito Penal brasileiro a desconhecia até o
e adolescentes. ano 2000, quando foi incluída no Estatuto da
A expressão “violência sexual”, por exemplo, Criança e do Adolescente, especificamente, no
tem diferentes dimensões conceituais, depen- artigo 244A, com o objetivo de possibilitar a
dendo do ambiente institucional que a utiliza. punição daqueles que submetem a criança ou
É no relacionamento entre as instâncias que o adolescente à exploração sexual.
22 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
expressão, à diversidade e aos direitos funda- aos princípios de defesa da vida, dos direi-
mentais, especialmente aqueles expressos no tos e do bem-estar dos cidadãos e cidadãs;
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). • São delitos – Ferem as disposições estabe-
As informações são utilizadas na elaboração de lecidas no Estatuto da Criança e do Adoles-
conteúdos educativos voltados, especialmente, cente e no Código Penal e são tipificados
para crianças e adolescentes, orientando o uso como delitos contra a liberdade, a inte-
responsável, seguro e cidadão da Internet. gridade, a dignidade e os direitos sexuais
e reprodutivos;
Consensos • São formas de violência sexual – Como
Apesar das divergências conceituais, alguns já apontado anteriormente, tais crimes
consensos importantes podem ser aponta- são compreendidos como formas distintas
dos no âmbito do debate mundial sobre esses de violência sexual e, em geral, envolvem
dois tipos de crimes sexuais praticados contra a imposição de atos sexuais ou de caráter
a população infantojuvenil. Em 2007, estudo sexual a uma criança ou adolescente por
coordenado pela Save The Children Suécia parte de uma ou mais pessoas;
sistematizou os principais aspectos consoli- • São formas de violência de gênero – As es-
dados entre governos, especialistas e orga- tatísticas revelam que meninas e mulheres
nismos internacionais: são as vítimas mais frequentes da violência
sexual. Por esse motivo, esses crimes tam-
• São violações dos direitos humanos – bém estão inseridos, conforme definição da
Tais fenômenos contrariam direitos fun- ONU, entre as modalidades específicas de
damentais reconhecidos em um amplo violência contra a população feminina;
repertório de instrumentos internacionais • São um problema de saúde pública – Os
ratificados por diversos países, entre os crimes sexuais geram graves consequências
quais o Brasil; para a saúde física, mental e emocional das
• São um descumprimento de normas vítimas, assim como riscos associados ao
constitucionais – Vão contra o que esta- consumo de drogas, à gravidez indesejada e
belece a Constituição Federal em relação às doenças sexualmente transmissíveis.
Guia de referência para a cobertura jornalística 23
que facilita a prática desse tipo de violação, a análise dos casos. Normas, ideias e códigos
principalmente, contra crianças e adoles- sociais acabam por valer menos para os que
centes, mulheres, afrodescendentes e meni- são excluídos pela sociedade.
nos e meninas de classes sociais menos favo-
recidas. Em outros termos, a violência sexual Perda da proteção social
tem características geracionais, de gênero, de Para se desenvolver de forma saudável e inte-
raça/etnia e de classe. gral, as crianças necessitam de um conjunto de
Outros fatores associados devem também mecanismos de proteção, oferecidos por nú-
ser considerados no debate público sobre o cleos como a família, a escola e a comunidade.
fenômeno: a violência sofrida dentro de casa, A perda dos meios de proteção costuma acarre-
a situação de vulnerabilidade na família ou tar graves consequências. Os familiares são os
na comunidade, o consumo abusivo de álcool primeiros cuidadores e educadores da criança,
ou drogas, o abandono escolar. São situações e este ambiente protetor é fundamental para a
que podem ocorrer em famílias de todos os percepção que meninos e meninas desenvol-
extratos sociais, o que reafirma o fato de que vem em relação a si mesmos e ao mundo que os
a pobreza não constitui a única ou principal cerca. Quando este ambiente não é favorável,
causa da exploração sexual contra crianças e rompe-se uma importante linha de proteção
adolescentes. da criança frente a uma realidade ainda in-
Nesse sentido, vale apontar brevemente, compreensível, adversa e insegura.
a título de ilustração, as características de al-
gumas dessas possíveis causas. No entanto, é Violência familiar
necessário ressaltar, isso não esgota a neces- Há estudos que demonstram que grande par-
sidade de uma análise mais aprofundada so- te das violações cometidas contra meninos e
bre cada caso. meninas acontece dentro do ambiente do-
méstico. Uma das consequências desse tipo
Pobreza e desigualdade de violência é a fuga de crianças ou adoles-
Embora a pobreza não seja a única causa da centes para as ruas, espaço onde ficam mais
exploração sexual, é um fator importante para vulneráveis às redes criminosas.
Guia de referência para a cobertura jornalística 25
casos, representar um dos fatores de apro- parcerias entre instituições acadêmicas e or-
ximação entre crianças e adolescentes e as ganizações de proteção à infância.
redes de exploração sexual. E os efeitos do crime sexual podem apare-
cer de diferentes formas, variando conforme
Novas tecnologias o tipo de indução ao ato, sua periodicidade e
As novas tecnologias de comunicação e infor- o número de autores da violência. Os efeitos
mação (TICs) não estão entre as causas diretas sobre a saúde física e psicológica são recor-
da exploração sexual, mas favorecem a de- rentes. Embora o abuso e a exploração sexual
manda por esse tipo de negócio ilícito, na me- sejam crimes com características diferen-
dida em que dão agilidade aos exploradores, ciadas, os traumas que acompanham essas
permitindo-lhes ampliar suas redes de con- vítimas costumam ser parecidos: depressão,
tato. Da mesma forma, a internet ajuda a am- perda de autoestima e medo são alguns deles.
plificar a disseminação da pornografia infantil Além desses graves transtornos, vítimas
e dificultar a identificação dos seus autores, de exploração sexual correm maior risco de
já que os órgãos de segurança pública ainda infecção por doenças sexualmente transmis-
encontram problemas em investigar crimes síveis (DSTs) e Aids. Muitas vezes desinfor-
ocorridos na rede mundial de computadores. mados sobre os riscos e as consequências
dessas doenças – ou mesmo por não terem
Vítimas e exploradores meios de exigir o uso de preservativos –, me-
A exploração sexual de crianças e adolescen- ninos e meninas tornam-se ainda mais vul-
tes, conforme mencionado, está ligada a uma neráveis ao problema.
série de fatores, como vulnerabilidade social
e cultura machista. Especificar o perfil dessas O universo masculino
vítimas, portanto, não é uma tarefa simples. Embora a exploração sexual de meninas apa-
No Brasil, são poucos os estudos que trazem reça de maneira preponderante, pesquisas
uma análise detalhada acerca dos diferen- têm apontado que essa forma de violência
tes aspectos relacionados a esses meninos também afeta crianças e adolescentes do sexo
e meninas. A maioria das iniciativas vem de masculino. Especialistas alertam para o fato
Guia de referência para a cobertura jornalística 27
Impactos na saúde
A Organização das Nações Unidas (ONU) anun- tando que mais de 50% das infecções por HIV no
ciou em setembro/2013 que, pela primeira vez, o mundo ocorrem em pessoas entre 15 e 24 anos. Ou-
registro de casos de Aids no mundo teve uma que- tros 10% acometem crianças menores de 15 anos.
da. Em um desempenho considerado histórico, Em ambos os casos, a contaminação é maior entre
o número de novas infecções pelo HIV caiu 33% indivíduos do sexo feminino.
em pouco mais de uma década. Em 2001, 3,4 mi- A incidência de gravidez precoce em meni-
lhões de pessoas foram contaminadas pelo vírus nas vítimas da violência sexual também me-
e, no ano passado, a taxa caiu para 2,3 milhões. rece atenção – seja pelas condições físicas e
Em pelo menos 26 países, o recuo foi superior emocionais nesta fase da vida, seja pelos riscos
a 50%. Um dos dados mais comemorados den- gerados por práticas pouco seguras de aborto,
tro da Unaids/ONU é a queda de novos casos de colocando em risco a sua vida e a do bebê. As
crianças infectadas. Entre 2001 e 2012, a redução oportunidades dessas crianças, filhas de mães
foi de 52%, com um total de 250 mil registros. Se- adolescentes, terem seus vínculos familiares
gundo a pesquisa, o Brasil aparece como o País fortalecidos são mais difíceis, gerando situa-
com o maior orçamento nacional para o combate ções de vulnerabilidade.
à doença entre os emergentes. A Unaids, porém, Relevante mencionar que nos casos em que a
alerta que o País, mesmo com todo o dinheiro gravidez for resultante de estupro configura-se a
para combater o mal, corre o risco de não atingir possibilidade de realização do aborto legal (Códi-
algumas das metas mundiais até 2015. go Penal - Art. 128, inciso II). Nestes casos, o go-
Em relação ao tema, vale ressaltar o estudo verno brasileiro fornece gratuitamente o aborto
também realizado em 2005 pela Unaids, apon- legal pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
28 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
que atuam como exploradores-clientes. En- cia sexual, entre eles, a cultura machista, se-
quanto os primeiros estão geralmente ligados xista e patriarcal em que vivemos. Ainda hoje
a práticas criminosas – tráfico de drogas, trá- prevalece na sociedade a visão de que a oferta
fico de seres humanos, entre outras –, o se- do corpo feminino para a realização dos dese-
gundo grupo é composto por pessoas comuns, jos masculinos é natural.
na maioria dos casos, do sexo masculino. A “pureza” sexual feminina é mitifica-
da, enquanto que o apetite sexual masculino
Questão de gênero é estimulado. A partir do momento em que
Como mencionado, vários fatores contri- esta ideia se cristaliza na cultura de um país,
buem para a impunidade do autor da violên- formam-se condições favoráveis para o sur-
30 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
Mitos e verdades
No quadro abaixo, são registrados alguns Niñas y Adolescentes, publicado pela Eco Jó-
mitos que gravitam em torno da violência venes/ANNI, agência integrante da Rede ANDI
sexual praticada contra crianças e adoles- América Latina na Bolívia. Esclarecer esses mi-
centes – a maioria, extraída e adaptada do tos é um importante passo para assegurar que a
manual Tratamiento Periodístico de la prática seja encarada a partir da ótica de vio-
Violencia Sexual Comercial contra Niños, lações de direitos.
Falso
Crianças e adolescentes buscam a prostituição como forma de ganhar dinheiro.
Verdadeiro
Meninos e meninas não se prostituem por vontade própria. São enredados pela prática criminosa
de adultos, que se aproveitam de sua pouca capacidade de discernimento. São vítimas das redes
de exploradores. A palavra prostituição, portanto, não se aplica a esses grupamentos.
Falso
Crianças e adolescentes podem evitar a exploração sexual.
Verdadeiro
Não se pode esperar de indivíduos em formação a capacidade de autoproteção. Quem deve
cuidar da incolumidade desses grupamentos são os adultos. Na maioria dos casos, as pequenas
vítimas são atraídas pelos exploradores mediante persuasão, ameaças e todo tipo de intimidação.
Falso
É seguro fazer sexo com meninos e meninas.
Verdadeiro
As DST e a Aids podem acontecer em qualquer faixa etária e estão mais presentes entre aqueles
que praticam sexo sem o uso do preservativo.
32 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
Falso
Os exploradores-clientes são doentes e de idade avançada.
Verdadeiro
O explorador pode ser de qualquer idade, sem, necessariamente, apresentar quadro clínico
psiquiátrico anormal. Em geral, são homens de diferentes faixas etárias e níveis educacionais,
sociais e econômicos.
Falso
Apenas os pais devem ser responsabilizados pelo que acontece aos filhos.
Verdadeiro
Toda a sociedade é responsável. É tarefa de todos assegurar o desenvolvimento integral da
criança e do adolescente, respeitando seus direitos.
lência tem uma relação próxima com a vítima eletrônico disquedenuncia@sdh.gov.br. De-
(pai, mãe, padrasto, conhecido etc.). O perfil núncias de pornografia infantil na Internet
revela que a maioria das vítimas é do sexo femi- podem ser registradas no endereço eletrôni-
nino (51%) e o autor, do sexo masculino (47%). co www.disque100.gov.br.
Em geral, há tendência em culpar a família O Disque 100 ampliou sua capacidade de
pela ocorrência dos casos de negligência e/ou atendimento, incorporando outras áreas rela-
outras formas de violências cometidas contra cionadas à defesa de direitos humanos. Além
crianças e adolescentes. Ainda que os estu- do Módulo Criança e Adolescente, o Disque 100
dos ratifiquem esta tendência, é importante funciona atualmente com módulos que recebem
avaliar também de que forma o poder público denúncias de violações de direitos dos seguintes
vem cumprindo com o dever de ofertar polí- segmentos: População LGBT (Lésbicas, Gays,
ticas e programas direcionados à proteção in- Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêne-
tegral de crianças, adolescentes e suas famí- ros); Pessoas Idosas; Pessoas com Deficiência; e
lias, nos termos do Estatuto da Criança e do População de Rua, entre outros.
Adolescente. A inexistência de políticas ou a
não oferta de programas e serviços pode ser Censo SUAS/CREAS6
caracterizada como violência institucional. Dados sistematizados por meio do Censo
O Disque 100 recebe, encaminha e monito- SUAS/2012 reúne um conjunto de infor-
ra denúncias de violação de direitos humanos 6
Trata-se de um levantamento anual de iniciativa do Mi-
recebidas de todos os estados brasileiros, ten- nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
do ampliado o seu horário de funcionamento (MDS). O Censo Suas é um instrumento/questionário
eletrônico, feito anualmente, desde 2007, para mapear as
para 24 horas. Ao ligar para o Disque 100, a unidades públicas de atendimento e monitorar os servi-
opção 1 deve ser escolhida para relatar casos de ços oferecidos nos Centros de Referência de Assistência
violência contra criança ou adolescente. Social (Cras) e Centros de Referência Especializados de
As denúncias recebidas são anônimas, o Assistência Social (Creas); Centro de Referência Espe-
cializado em População em Situação de Rua (Centro Pop);
sigilo é garantido e podem ser feitas de todo secretarias estaduais e municipais de Assistência Social,
o Brasil, por meio de discagem direta e gra- a estrutura e funcionamento dos Conselhos de Assistên-
tuita, para o número 100 e/ou pelo endereço cia Social e das Entidades Privadas de Assistência Social.
Guia de referência para a cobertura jornalística 35
• Avalie se vale a pena permanecer na mesma ci- • Reúna provas documentais da denúncia, ma-
dade em que as informações serão apuradas ou terial que possa ser publicado no formato fac-
se é mais seguro hospedar-se em um município -símile ou registros de imagens que, pela for-
vizinho durante o período de trabalho. Em cida- ça do conteúdo, são documentos. Isso também
des menores, um estranho à população é facil- garante a credibilidade do material;
mente identificável, o que pode colocar o repórter • Não finja ser quem não é. A necessidade de
em risco ou comprometer a investigação; anonimato não significa que o repórter precisa
• Evite deixar no quarto do hotel anotações e ar- mentir para conseguir chegar às informações
quivos gravados em notebooks que não exijam que busca. A falsidade ideológica no processo
senha de acesso. A exploração sexual é operada de apuração desqualifica o resultado final e
por uma rede muito bem articulada de proteção expõe a reportagem a possível questionamento
aos exploradores. Ela pode ser formada, in- público e legal;
clusive, por recepcionistas de hotéis, taxistas, • Não pague para obter informações e evite dar
garçons etc; presentes ou ajudar financeiramente fontes da
• Documente todo o processo de produção da re- sua reportagem. Até mesmo o dinheiro para
portagem, inclusive o que não será publicado. uma simples refeição pode levar ao questiona-
Registrar os bastidores dá certa segurança em mento da matéria por quem foi denunciado – o
caso de processos. Além disso, preserva a qua- que legitimaria o argumento de que as vítimas
lidade da informação que será usada para foram pagas para falar. A denúncia, por si só,
chegar às fontes e aos dados veiculáveis. Grave, já é uma grande ajuda na tentativa de desmon-
quando possível, todos os telefonemas e conver- tar as redes de exploração;
sas relacionados à investigação. Não é crime • Evite a apuração em campo sem o conhecimen-
gravar uma conversa telefônica se você é um to de alguém de confiança. Se for necessário
dos interlocutores; transportar uma criança ou adolescente para
indicar em que local ocorreu a exploração, funcionamento na parede podem fornecer
por exemplo, convide para ir junto alguém informações valiosas. O CNPJ da boate re-
ligado à rede de proteção. Não sendo possí- gistrado no ticket-recibo pode ser lançado
vel, informe em que etapa do trabalho você no site da Receita Federal, permitindo a
está. É uma medida preventiva, para evitar identificação dos proprietários do estabe-
que você seja abordado pela polícia trans- lecimento, por exemplo;
portando uma criança ou adolescente em • Identifique os atores sociais do local onde
situação de risco, sem autorização dos pais você vai fazer a sua reportagem, antes de
ou responsáveis. Recomenda-se evitar fazer chegar lá. Não faça contato com todos logo
esse tipo de transporte, situação prevista que estiver na cidade. De preferência, ini-
apenas para autoridades públicas, com po- cie o processo de apuração em campo con-
der de polícia; versando com as pessoas vitimadas e seus
• Treine a sua observação. É preciso desen- familiares. Só nos últimos dois dias tente
volver a capacidade de coletar o máximo confrontar autoridades e denunciados. Em
de dados sobre os ambientes sem a neces- alguns casos, é prudente fazer a apuração
sidade de fazer perguntas diretas às pesso- em dois ou mais roteiros curtos para o mes-
as. O número de quartos de uma casa de mo lugar. Por exemplo: faça uma viagem
exploração sexual, o valor cobrado pelos para identificar e ouvir os vitimados e só
programas, o número de funcionários no alguns dias depois volte para complemen-
balcão, a estrutura do imóvel, o alvará de tar o material ouvindo fontes oficiais.
Guia de referência para a cobertura jornalística 41
Os crimes sexuais contra crianças e adolescentes sendo a maior incidência na faixa etária de 15
são geralmente cercados por preconceitos, tabus, a 17 anos. Na maior parte dos casos, sofreram
ameaças e silêncio, razões que restringem as de- algum tipo de violência no âmbito doméstico
núncias e dificultam a consolidação de estatís- (abuso sexual, estupro, sedução, abandono,
ticas acerca do fenômeno no Brasil e no mundo. negligência, maus tratos, dentre outros) e/ ou
Alguns estudos, no entanto, ajudam a di- em outros ambientes (escolas, abrigos, etc.).
mensionar o problema. A Pesquisa Nacional so- As famílias das vítimas também apresentam
bre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes quadros situacionais difíceis (sofrem violência
(Pestraf), por exemplo, identificou em 2002, no social, interpessoal e/ou estrutural).
Brasil, 241 rotas de tráfico para fins de explora-
ção sexual, sendo 131 delas internacionais, 78 Inquéritos
interestaduais e 32 intermunicipais. A Pestraf é considerada um documento referen-
Realizada pelo Centro de Referência, Es- cial na coleta destas informações, mas por ter
tudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes sido lançada em 2002 já demanda atualiza-
(Cecria), com apoio da Organização dos Es- ção, como forma de melhor dimensionamento
tados Americanos (OEA), a Pestraf revelou do tráfico de crianças e adolescentes para fins
que muitas vítimas são levadas para a Euro- de exploração sexual no Brasil.
pa e países da América Latina. Segundo o es- Dados de um levantamento mais recente
tudo, as mulheres e as meninas em situação (2012) realizado pela Secretaria Nacional de
de tráfico para fins sexuais geralmente são Justiça, em parceria com o Escritório das Na-
oriundas de classes populares e contam com ções Unidas sobre Drogas e Crimes (Unodc), re-
baixa escolaridade. velam que, entre 2005 e 2011, a Polícia Federal
Predominantemente, as vítimas são afro- registrou 157 inquéritos por tráfico internacio-
descendentes com idades entre 15 e 24 anos, nal de pessoas para fins de exploração sexual.
48 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
No mesmo período, foram instaurados 514 A Pestraf foi um dos pontos de partida para
inquéritos pela Polícia Federal, dos quais ape- o trabalho da CPMI da Exploração Sexual In-
nas 13 se configuraram como tráfico interno e fantojuvenil no Congresso Nacional, instalada
344 como trabalho escravo. O relatório aponta em 2004.
dificuldades para reunir provas do crime, o que Um dos principais resultados dessa inicia-
quase sempre resulta na falta de punição. Em tiva foi, sem dúvida, a aprovação de mudança
relação ao tráfico interno para fins sexuais, o no Código Penal, objeto da Lei n° 11.106/05,
estudo demonstra que apenas 31 pessoas foram com a alteração no art. 231, e o acréscimo do
indiciadas e 117 presas entre 2005 e 2010. art. 231-A. O crime “tráfico de mulheres” pas-
No tocante aos crimes relacionados ao tráfi- sou a ser “tráfico de pessoas”; e no art. 231A
co de pessoas há consenso entre as organizações foi inserido o tipo penal “tráfico interno”, ti-
que atuam nesta área sobre a falta de registro de pificação até então inexistente na legislação
informações e dados sistematizados para real brasileira.
dimensionamento dessa violação no Brasil.
um pouco mais longos, mas igualmente frá- Este, no Paraguai. Ou ainda as duas que ligam
geis: entre Cáceres (MT) e San Matias, na Bo- Brasiléia e Epitaciolândia (AC) à cidade de
lívia; entre Pacaraima (RR) e Santa Helena de Cobija, na Bolívia. Onde não há ponte, a in-
Uairén, na Venezuela; e entre Corumbá (MS) teração socioeconômica entre os países se dá
e Puerto Quijarro, na Bolívia. por intermédio de embarcações, que também
As fronteiras interligadas por meio de precisam ser fiscalizadas. É o que acontece,
pontes também apresentam problemas de por exemplo, no Rio Madeira, que separa ge-
controle migratório, caso da Ponte da Amiza- ograficamente o Brasil e a Bolívia, ou no Rio
de, que une Foz do Iguaçu (PR) a Ciudad del Oiapoque em relação à Guiana Francesa.
Dicas para a cobertura: contexto é fundamental
• Contextualize as informações referentes ao perfil de municação influenciam fortemente os padrões de
exploradores, bem como aos sinais de exploração comportamento do público infantil e podem, mui-
sexual. Vale sempre ter em foco, na abordagem des- tas vezes, contribuir para uma erotização precoce;
se tipo de assunto, que crianças – até mesmo bebês • Reportagens investigativas – que denunciam os
– não são seres desprovidos de sexualidade, tendo aliciadores, apontam redes de exploração, revelam
direito ao livre desenvolvimento de uma sexuali- as formas de aliciamento de crianças e adolescen-
dade sadia, que não pode ser usada como pretexto tes e indicam as condições a que estão submetidos
para a prática de crimes sexuais, sempre baseados – são as que mais geram resultados. Além de infor-
em assimetrias de poder; mar os leitores sobre o problema, ajudam a detectar
• Evite abordagens sensacionalistas, que contri- sinais de aliciamento e servem de evidências para a
buem para revitimizar crianças e adolescentes. abertura de inquéritos, a investigação de crime e a
Esse tipo de enfoque gera na sociedade um sen- consequente responsabilização dos autores;
timento de impotência ou de tolerância, além de • Acompanhe os casos de exploração sexual em
banalizar o problema. O sensacionalismo só cola- forma de suíte ou série de reportagens. É impor-
bora para estigmatizar a vitima, além de reforçar tante que o público conheça os resultados gera-
a ideia de que o cenário da exploração sexual se dos pelas denúncias. Siga o encaminhamento
constitui de fatos isolados; jurídico, o atendimento psicossocial do vitima-
• Em temas como o da exploração sexual de crianças do, a situação dos exploradores e aliciadores, a
e adolescentes, estreitamente relacionados às no- posição da família. Enfim, monitore os desdo-
ções sociais de sexualidade, é fundamental chamar bramentos da sua reportagem – as vítimas me-
a atenção sobre o papel da mídia na construção da recem essa atenção e respeito;
maneira como a sociedade enxerga meninos e me- • Na reportagem, procure dar destaque às ações
ninas. É preciso refletir sobre como os meios de co- necessárias para a recuperação do trauma –
acompanhamento físico, psicológico, afetivo e • Evite generalizações ao apontar a má condu-
social. Essa é uma forma de cobrar medidas das ta de membros de corporações ou autoridades.
autoridades responsáveis. Importante saber que a Lembre-se que se existem pessoas corruptas, há
legislação prevê a execução de ação cível e o afas- também outras sérias e comprometidas com a
tamento do autor da violência do lar (caso de vio- defesa dos direitos de crianças, a prevenção da
lência sexual intrafamiliar), no qual se mantém exploração sexual e a punição dos criminosos;
a obrigação de prover a subsistência da família e • Escrever sobre atos violentos exige certo distancia-
a pensão alimentícia; mento do repórter. Não invista no desenho de perfis
• Evite descrições minuciosas e desnecessárias da como o de vilão ou de herói na reportagem, para
violência sexual, com matérias focadas direta- não comprometer um debate público mais produ-
mente na exibição do horror; tivo em torno do assunto.
Guia de referência para a cobertura jornalística 51
2
ças e adolescentes começou a ganhar maior
expressão política na década de 1990, com a
aprovação do Estatuto da Criança e do Adoles-
cente (ECA). Resultado de uma ampla mobi-
lização da sociedade civil, o ECA regulamenta
o princípio da proteção integral previsto na Traduzindo
direitos
Constituição Federal de 1988, estabelecendo
o cumprimento – pelo Estado, pela família e
pela sociedade – de diretrizes que assegurem
o respeito à integridade física, psicológica e
moral desse segmento da população. em políticas
públicas
E para garantir a efetivação dos princípios
da prioridade absoluta e da proteção integral
dos direitos da população infantojuvenil, a
Constituição Federal o ECA criaram o Sis-
tema de Garantia de Direitos (SGD), que se
estrutura em três eixos: promoção, defesa e
controle social. A proposta é que o SGD seja
52 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
colocado em prática por meio de uma polí- junto de direitos, mas uma rede de institui-
tica de atendimento articulada entre União, ções e atores responsáveis por sua efetivação,
estados e municípios, além de organizações configurando-se uma tríplice responsabili-
não governamentais e outras instituições da dade: Família, Estado e Sociedade.
sociedade civil. O Conanda, em Resolução nº 113/2006 as-
Entre os mecanismos utilizados para ga- sim define o SGD:
rantir essa estratégia estão os Conselhos
dos Direitos da Criança e do Adolescente, os O Sistema de Garantia dos Direitos da
Conselhos Tutelares, as Varas e Delegacias Criança e do Adolescente constitui-se
Especializadas, as Defensorias Públicas, os na articulação e integração das ins-
Centros de Defesa da Criança e do Adoles- tâncias públicas governamentais e da
cente. Quando bem estruturadas, essas ins- sociedade civil, na aplicação de ins-
tâncias podem contribuir para a redução da trumentos normativos e no funciona-
violência contra meninos e meninas, seja mento dos mecanismos de promoção,
intervindo e oferecendo atendimento às ví- defesa e controle para a efetivação dos
timas e suas famílias, seja produzindo infor- direitos humanos da criança e do ado-
mações e indicadores para melhor dimen- lescente, nos níveis federal, estadual,
sionamento do problema. distrital e municipal.
Para tanto, é importante conhecer como
as instituições operacionalizam os direitos na Por outro lado, o art. 86 do ECA traduz, de
prática. Ao propor a estruturação de um SGD, forma didática, a ideia do Sistema e da Rede,
o ECA define uma matriz de responsabilida- com uma palavra chave – articulação –, que
de, exigindo efetividade e eficácia na garantia expressa uma aliança estratégica entre atores
dos direitos. Essa matriz pressupõe a orga- sociais (pessoas) e forças políticas (institui-
nização política da sociedade, por meio dos ções), que têm na horizontalidade das de-
espaços públicos institucionais, conforme cisões e no exercício do poder os princípios
prevê o art. 227 da Constituição Federal. O norteadores da Política de Atenção à Criança
dispositivo estabelece, ainda, não só um con- e ao Adolescente.
Guia de referência para a cobertura jornalística 53
Como mencionado, o SGD contempla três • Tribunais de contas dos estados e municípios;
eixos: promoção, defesa e controle. • Outras instâncias representativas, como
comitês, fóruns...
PROMOVER. Significa prover os direitos
previstos no ECA, por meio de deliberação Importante destacar o papel dos meios de
e formulação de políticas públicas, como comunicação social e da iniciativa privada,
forma de traduzir direitos em ações efetivas que devem ser sensibilizados para participar,
e eficazes. em diferentes níveis, desse esforço de garan-
tia dos direitos de crianças e adolescentes.
Eixo Promoção ou Atendimento Representações políticas, entidades de aten-
I – Serviços e programas das políticas pú- dimento e instituições religiosas devem estar
blicas, especialmente das políticas sociais, integradas, como rede, no SGD.
afetos aos fins da política de atendimento
dos direitos de crianças e adolescentes; DEFENDER E RESPONSABILIZAR. É asse-
II – Serviços e programas de execução de gurar o cumprimento dos direitos previstos
medidas de proteção de direitos humanos; em leis em relação às vítimas, responsabili-
III – Serviços e programas de execução de zando os autores (Estado, a Sociedade e a Fa-
medidas socioeducativas e assemelhadas. mília) nos casos de omissão ou violação des-
ses direitos.
CONTROLAR. É estar atento ao cumprimen-
to dos direitos, acompanhando e fiscalizando Eixo Defesa e Responsabilização
as ações nesta área, e exercendo um controle Caracteriza-se pela garantia do acesso à
social, em todos os níveis. Justiça, ou seja, pelo recurso às instâncias
públicas e mecanismos jurídicos de prote-
Eixo Controle das Ações ção legal dos direitos humanos, gerais e es-
• Conselhos de direitos de crianças e ado- pecíficos, da infância e da adolescência, em
lescentes; casos de ameaça ou de violação dos direitos.
• Conselhos setoriais; Algumas destas instâncias:
54 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
Os caminhos da proteção
Responsabilização. As delegacias dão início ao sexual. Entre elas está, por exemplo, a inclu-
inquérito quando recebem o registro da queixa. são da família em programas de geração de
O órgão realiza as diligências e encaminha o in- renda, afastamento da pessoa que cometeu
quérito à Promotoria da Infância e da Juventude/ a violência sexual do ambiente onde reside
Ministério Público, que analisa a consistência das a vítima2 e encaminhamento da pessoa vi-
provas. Sendo consistentes, o MP leva a denúncia timada a um espaço de acolhimento insti-
à Justiça, dando início ao processo judicial. Nos tucional, quando estritamente necessário.
artigos 24 e 231 do Código Penal e 201 e 244-A, do Esse encaminhamento é definido pelos arti-
ECA, há disposições a esse respeito. gos 101 e 148 do ECA.
2
Proteção. Além do atendimento psicoterápi- Art. 130 do ECA. Importante saber que o afasta-
mento do autor da violência do lar (caso de violên-
co, a legislação brasileira determina a ado-
cia sexual intrafamiliar) não o desobriga, no caso
ção de uma série de medidas de proteção a de ser o provedor, de manter a subsistência da fa-
crianças e adolescentes vítimas de violência mília e a pensão alimentícia;
Como mencionado, em 2000, representantes Em maio de 2013, o Plano Nacional foi re-
da sociedade civil organizada e do governo brasi- visado, tendo sido mantida a estrutura a partir
leiro estruturaram, com o apoio de organismos de seis eixos fundamentais, que estabelecem
da cooperação internacional, o Plano Nacional um conjunto de diretrizes relacionadas a di-
de Enfrentamento à Violência Sexual contra ferentes áreas.
Crianças e Adolescentes. O documento era uma O novo Plano Nacional inclui na sua estru-
resposta do País ao compromisso político firma- tura as Diretrizes do Plano Decenal/2010 em
do na Declaração e Agenda para Ação, aprovadas relação a cada eixo; os Indicadores de Moni-
no I Congresso Mundial Contra Exploração Se- toramento e as Ações previstas, com a indica-
xual Comercial de Crianças/Estocolmo. ção de Responsáveis e Parceiros.
Guia de referência para a cobertura jornalística 57
Conheça os eixos do Plano Nacional de Enfren- crimes sexuais, combater a impunidade, dis-
tamento da Violência Sexual Infantojuvenil e ponibilizar serviços de notificação e responsa-
algumas das políticas já desenvolvidas: bilização qualificados.
de Direitos Humanos (SEDH), até então vin- fomenta a formulação de políticas públicas
culada ao Ministério da Justiça. Essa instância intersetoriais para o enfrentamento da vio-
passou a ser responsável também pela coor- lência sexual contra crianças e adolescentes,
denação de ações voltadas ao atendimento de especialmente, por meio do PAIR10 (progra-
direitos de crianças e adolescentes. ma que desenvolve metodologia de atuação
Em 2003, no governo Lula, a SEDH foi di- integrada das redes de enfrentamento es-
retamente vinculada à Presidência da Repú- taduais e municipais), desde 2006. O PAIR
blica. A SDH/PR constitui o pano de fundo já está sendo implantado e disseminado em
da política de proteção aos direitos humanos, mais de 600 municípios distribuídos nos 27
abrigando a Secretaria Nacional de Promo- estados do Brasil. A metodologia do PAIR
ção dos Direitos da Criança e do Adolescente também está sendo disseminada por meio
(SNPDCA). da Educação a Distância (EAD), em parceria
com o Instituto Aliança.
Direitos humanos O PNEVSCA também tem fomentado a sis-
O Programa Nacional de Enfrentamento da tematização de metodologias inovadoras de
Exploração Sexual contra Crianças e Ado- enfrentamento à violência sexual contra crian-
lescentes (PNEVSCA), vinculado à SNPDCA/ ças e adolescentes, especialmente aquelas que
SDH/PR, coordena as ações de mobilização e fazem interface com temas como etnia, gêne-
articulação nesta área, integrando iniciativas ro, atendimento a autores da violência, tráfico
entre os ministérios, sociedade civil e or- de pessoas, humanização do atendimento de
ganismos de cooperação internacional, por crianças e adolescentes nos sistemas de segu-
meio da Comissão Intersetorial9. O programa rança e justiça, pornografia infantojuvenil na
9
A Comissão Intersetorial de Enfrentamento da Violên- internet e responsabilidade social.
cia Sexual contra Crianças e Adolescentes é uma estraté- Além das ações interministeriais, a po-
gia do Governo Federal para proposição e implementação lítica nacional nesta área destacou-se pela
da política de enfrentamento à exploração sexual. É com-
10
posta pelo Governo Federal, sociedade civil e organismos Programa de Ações Integradas e Referenciais de En-
internacionais, dentre outras entidades voltadas ao en- frentamento da Violência Sexual de Crianças e Adoles-
frentamento da problemática. centes no Território Brasileiro.
Guia de referência para a cobertura jornalística 61
nicação e também aqueles que têm medo de Único de Saúde incluindo, dentre outras, o
eventuais ameaças dos autores da violência. atendimento às vítimas de violência sexual
Outra importante iniciativa do Ministério pelos profissionais de segurança pública e da
da Saúde nesta área foi à elaboração da Linha rede de atendimento do SUS, observando as
de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde seguintes diretrizes:
de Crianças, Adolescentes e suas Famílias I - acolhimento em serviços de referência;
em Situação de Violências – Orientações para II - atendimento humanizado, observados os
gestores e profissionais de saúde, que tem princípios do respeito da dignidade da pessoa,
como foco a adoção de uma ação contínua e da não discriminação, do sigilo e da privacida-
permanente de atenção às vítimas de violên- de; III - disponibilização de espaço de escuta
cia, desde o acolhimento e atendimento até a qualificado e privacidade durante o atendi-
notificação e encaminhamento para as redes mento, para propiciar ambiente de confiança e
de cuidado e proteção social. respeito à vítima; IV - informação prévia à ví-
O documento traz orientações para o de- tima, assegurada sua compreensão sobre o que
senvolvimento de ações de promoção da saú- será realizado em cada etapa do atendimento
de e prevenção de violências que mais afetam e a importância das condutas médicas, multi-
crianças e adolescentes, destacando a impor- profissionais e policiais, respeitada sua decisão
tância do trabalho junto às famílias, os fatores sobre a realização de qualquer procedimento
de proteção, além de alerta para as vulnera- (mais informações: webmail.saude.gov.br).
bilidades, riscos e identificação dos sinais e
sintomas de violência. Políticas para mulheres
É relevante destacar também a recente Outra iniciativa pública relevante é o Programa
aprovação do Decreto nº 7.958, de 13/03/2013, Mulher: Viver sem Violência. Criado em 2013,
que trata da normatização do atendimento no visa aprimorar sistemas, protocolos, fluxos e
âmbito do SUS. O decreto estabelece diretri- procedimentos de coleta de materiais das ví-
zes para o atendimento às vítimas de violên- timas de violência sexual que se configurem
cia sexual pelos profissionais de segurança como provas periciais dos crimes de estupro.
pública e da rede de atendimento do Sistema Os materiais coletados serão devidamente
Guia de referência para a cobertura jornalística 65
acondicionados e encaminhados aos Institutos to desses casos não seja a tarefa principal de
Médicos Legais, para procedimentos periciais professores e gestores da área, sua contri-
que servirão de base para processos judiciais buição ao enfrentamento da violência sexual
de responsabilização dos agressores. pode ser decisiva na comunidade escolar.
A prevenção é uma das prioridades do Importante mencionar o que estabelece o
“Mulher: Viver sem Violência”, contando ECA em relação à notificação dos casos de vio-
ainda com a realização de cinco campanhas lações de direitos de crianças e adolescentes:
de conscientização. Os serviços públicos de
segurança, justiça, saúde, assistência social, Art. 245. Deixar o médico, professor
acolhimento, abrigamento e orientação para ou responsável por estabelecimento de
trabalho, emprego e renda serão integrados atenção à saúde e de ensino fundamen-
por meio do referido programa. tal, pré-escola ou creche, de comunicar
à autoridade competente os casos de
Profissionais de educação que tenha conhecimento, envolvendo
Embora sejam importantes no enfrenta- suspeita ou confirmação de maus-tra-
mento da violência sexual contra meninos e tos contra criança ou adolescente:
meninas, professores e outros profissionais Pena - multa de três a vinte salários de
da educação raramente contam com conteú- referência, aplicando-se o dobro em
dos específicos sobre o tema ao longo de sua caso de reincidência.
formação. Essa deficiência contribui para
que encontrem dificuldade em identificar Escola que Protege
sinais associados ao abuso e à exploração se- O projeto Escola que Protege (Eqp) é volta-
xual, como falta de disciplina e distúrbios de do para a promoção e a defesa dos direitos de
aprendizagem, por exemplo. crianças e adolescentes, além do enfrentamen-
Apesar dos desafios, não resta dúvida de to e prevenção das violências no contexto esco-
que a escola é um local estratégico para dis- lar. A principal estratégia da ação é o financia-
cussão e conscientização em torno do tema. mento de projetos de formação continuada de
Ainda que a notificação e o acompanhamen- profissionais da rede pública de educação bá-
66 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
3
mada, sobretudo, pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente, pela Constituição Federal de
1998, pelo Código Penal, pelas leis de Crimes
Hediondos e de Tortura. Além disso, o Brasil
trativos que lhe respeitem, seja diretamente, crianças e adolescentes sejam usados como
seja por meio de organismo adequado, se- meio de prova único e preponderante em pro-
gundo as modalidades previstas pelas regras cessos penais (para mais informações, sugere-se
de processo da legislação nacional. a leitura da Resolução nº 10/2010 do CFP ).
O Depoimento sem Dano é uma prática Confira a seguir algumas das principais
recomendada pelo Conselho Nacional de Jus- referências legais no âmbito da proteção à in-
tiça (CNJ), por meio da Resolução nº 33, de fância e adolescência, especialmente no que
23/11/2010. O CNJ orienta a criação de servi- se refere à violência sexual.
ços especializados nos tribunais para a escuta
de crianças e adolescentes vítimas ou teste- Normas internacionais
munhas de violência em processos judiciais.
No Brasil, existem atualmente 59 salas de Convenção sobre os Direitos da Criança
tomada de depoimento especial, que aten- Subscrita em 1989 pela Assembleia Geral das
dem principalmente crianças e adolescentes Nações Unidas, a Convenção sobre os Direitos
em situação de violência sexual. Em 2011, o da Criança é resulta de longa trajetória de luta
CNJ firmou um Termo de Cooperação com a pelo reconhecimento dos direitos de meninos
organização Childhood/Brasil e um Protocolo e meninas. Ratificada por 192 países, é hoje o
de Intenções com o Unicef para a realização instrumento internacional de direitos humanos
de iniciativas conjuntas, visando ampliar as com maior adesão. Todos os países da Amé-
ações nesta área. rica Latina o assinaram e grande parte deles já
Embora com a recomendação do CNJ, a in- iniciou processos de adequação de suas ordens
quirição de crianças e adolescentes no sistema jurídicas internas ao documento internacional.
de justiça é considerada pelo Conselho Federal O Brasil, por exemplo, ratificou o tratado
de Psicologia (CFP) como um procedimento em 1990 e, nesse mesmo ano, promulgou o
complexo e delicado que não pode ser discu- Estatuto da Criança e do Adolescente, que
tido apenas do ponto de vista procedimental reconhece a criança como sujeito de direitos
do rito. Para o CFP, não existe depoimento e em condição peculiar de desenvolvimento.
que não cause “dano”, devendo ser evitado que Vale lembrar que a ratificação da Convenção,
Guia de referência para a cobertura jornalística 93
políticas públicas. A norma da OIT define as cente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
diferentes formas de exploração da mão-de- direito à vida, à saúde, à alimentação, à edu-
-obra infantojuvenil. Confira as definições cação, ao lazer, à profissionalização, à cultu-
relacionadas ao crime: ra, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de
• Utilização, recrutamento e oferta de crian- colocá-lo a salvo de toda forma de negligên-
ças para fins de prostituição, produção ou cia, discriminação, exploração, violência,
atuações pornográficas; crueldade e opressão.
• Trabalho que expõe crianças a abusos físi-
cos, psicológicos ou sexuais (Recomendação Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
190 da Convenção 182). Mais informações: Art. 5º – Nenhuma criança ou adolescente será
www.oit.org.br/ipec/normas/conv182.php. objeto de qualquer forma de negligência, dis-
criminação, exploração, violência, crueldade
Convenção contra o Crime Organizado e opressão, punido na forma da lei qualquer
Desde 2003, o Brasil é signatário da Con- atentado, por ação ou omissão, aos seus direi-
venção das Nações Unidas contra o Crime tos fundamentais.
Organizado Transnacional – também conhe- Art. 13. Os casos de suspeita ou confir-
cida como Convenção de Palermo –, e do seu mação de maus-tratos contra criança ou
Protocolo Facultativo, que trata da prevenção adolescente serão obrigatoriamente comu-
e punição do tráfico de pessoas, especialmen- nicados ao Conselho Tutelar da respectiva
te de mulheres e crianças (mais informações: localidade, sem prejuízo de outras provi-
www.unicef.org.br). dências legais.
Art. 15. A criança e o adolescente têm direi-
Normativas nacionais to à liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de desenvolvi-
Constituição Federal mento e como sujeitos de direitos civis, hu-
Art. 227 – É dever da família, da sociedade manos e sociais garantidos na Constituição e
e do Estado assegurar à criança, ao adoles- nas leis.
Guia de referência para a cobertura jornalística 95
também mostrar parentes que, de forma indi- envolve nenhum risco, nem o afeta de forma
reta, podem levar à identificação do vitimado negativa.
pela violência sexual. Não publique textos nem
divulgue fotografias ou vídeos que, mesmo mo- Como ilustrar a reportagem?
dificados ou omitidos os nomes ou ocultados os A imagem das vítimas deve ser respeitada com a
rostos, possam incorrer em risco para o menino utilização de recursos técnicos, tais como o des-
ou menina, seus irmãos, seus pais ou qualquer foque e a distorção da voz. Não fuja do desafio de
pessoa ao seu redor. denunciar o crime, mas não ultrapasse o limite
do bom senso. A criatividade é sempre o melhor
O lugar onde a pessoa caminho, mas vale citar algumas alternativas:
vitimada mora pode ser exibido? usar imagens de partes isoladas do corpo da
No momento de escolher as imagens ou sons criança, como mãos e pés, por exemplo, ou ob-
de fundo para reportagens ou para entrevis- jetos e situações que remetam à infância – com
tas de vídeo e áudio, pense em como podem o cuidado, porém, de não produzir o “efeito que-
afetar a vítima, sua vida e sua história. As- bra-cabeças“, em que fragmentos de informação
segure-se de que o ato de mostrar sua casa, publicados em diferentes jornais, ao serem arti-
a comunidade ou o entorno em que vive não culados, permitem a identificação da vítima.
o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o ca- res, até o recebimento do material relativo à
put deste artigo.** notícia feita à autoridade policial, ao Ministé-
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armaze- rio Público ou ao Poder Judiciário.**
nar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou § 3º As pessoas referidas no § 2o deste ar-
outra forma de registro que contenha cena tigo deverão manter sob sigilo o material ilí-
de sexo explícito ou pornográfica envolvendo cito referido.**
criança ou adolescente:** Art. 241-C. Simular a participação de
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) criança ou adolescente em cena de sexo ex-
anos, e multa.** plícito ou pornográfica por meio de adul-
§ 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 teração, montagem ou modificação de fo-
(dois terços) se de pequena quantidade o ma- tografia, vídeo ou qualquer outra forma de
terial a que se refere o caput deste artigo.** representação visual:**
§ 2º Não há crime se a posse ou o arma- Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
zenamento tem a finalidade de comunicar às e multa.**
autoridades competentes a ocorrência das Parágrafo único. Incorre nas mesmas
condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A penas quem vende, expõe à venda, dispo-
e 241-C desta Lei, quando a comunicação for nibiliza, distribui, publica ou divulga por
feita por:** qualquer meio, adquire, possui ou arma-
I – agente público no exercício de suas fun- zena o material produzido na forma do ca-
ções;** put deste artigo.**
II – membro de entidade, legalmente Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou
constituída, que inclua, entre suas finalida- constranger, por qualquer meio de comuni-
des institucionais, o recebimento, o proces- cação, criança, com o fim de com ela praticar
samento e o encaminhamento de notícia dos ato libidinoso:**
crimes referidos neste parágrafo;** Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
III – representante legal e funcionários e multa.**
responsáveis de provedor de acesso ou servi-
ço prestado por meio de rede de computado- ** Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008.
Guia de referência para a cobertura jornalística 99
Parágrafo único. Nas mesmas penas in- § 2º Constitui efeito obrigatório da conde-
corre quem:** nação a cassação da licença de localização e de
I – facilita ou induz o acesso à criança de funcionamento do estabelecimento.**
material contendo cena de sexo explícito ou Art. 244-B. Corromper ou facilitar a cor-
pornográfica com o fim de com ela praticar rupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele
ato libidinoso;** praticando infração penal ou induzindo-o a
II – pratica as condutas descritas no ca- praticá-la:**
put deste artigo com o fim de induzir criança Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.**
a se exibir de forma pornográfica ou sexual- § 1º Incorre nas penas previstas no caput des-
mente explícita.** te artigo quem pratica as condutas ali tipificadas
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos,
nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito inclusive salas de bate-papo da internet.**
ou pornográfica” compreende qualquer situ- § 2º As penas previstas no caput deste ar-
ação que envolva criança ou adolescente em tigo são aumentadas de um terço no caso de a
atividades sexuais explícitas, reais ou simu- infração cometida ou induzida estar incluída
ladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho
criança ou adolescente para fins primordial- de 1990.**
mente sexuais.** Art. 245 – Deixar o médico, professor ou
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescen- responsável por estabelecimento de atenção
te, como tais definidos no caput do art. 2 o des- à saúde e de ensino fundamental, pré-escola
ta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:** ou creche, de comunicar à autoridade com-
Pena – reclusão de quatro a dez anos, e petente os casos de que tenha conhecimen-
multa. to, envolvendo suspeita ou confirmação de
§ 1º Incorrem nas mesmas penas o pro- maus- tratos contra criança ou adolescente:
prietário, o gerente ou o responsável pelo Art. 250 – Hospedar criança ou adolescen-
local em que se verifique a submissão de te, desacompanhado dos pais ou responsável
criança ou adolescente às práticas referidas
no caput deste artigo.** ** Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008.
100 Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
Crianças e adolescentes em situação de alto risco agente entre a criança ou adolescente e o usuário
– São crianças vitimadas pela violência estrutural, ou cliente. É por isso que se diz que a criança ou
característica de sociedades marcadas pela divisão adolescente foi explorada, e nunca prostituída,
de classes e por profundas desigualdades na distri- pois ela é vítima de um sistema de exploração de
buição de riquezas. sua sexualidade.
Denúncia – Na área jurídica, é o ato pelo qual o Estupro – Constranger alguém, mediante violên-
promotor de Justiça formaliza a acusação peran- cia ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
te o juízo competente, dando início a uma ação praticar ou permitir que com ele se pratique outro
penal. Para a maioria das pessoas, significa acu- ato libidinoso.
sar, delatar, revelar ou divulgar algo que pode ser
irregular. Muitos dos profissionais que atuam Incesto – Atividade de caráter sexual envolvendo
nessa área consideram denúncia o fato de revelar crianças e adolescentes e um adulto que tenha com
uma suspeita, seja a uma autoridade policial, a um eles uma relação de consanguinidade, de afinidade
serviço do tipo 0800, a um Conselho Tutelar ou a ou de mera responsabilidade. Ou seja: relações in-
um Centro de Defesa da Criança e do Adolescen- cestuosas são aquelas praticadas entre pessoas que,
te, por exemplo. pela lei ou pelos costumes, não podem se casar.
bilidades e elimina a possibilidade de a pessoa que a criança sente pelos mais velhos (relação de
notificada alegar ignorância sobre o que lhe foi de- poder). A pedofilia não é legalmente tipificado
terminado. Entre os profissionais que trabalham como crime. O que é tipificado como crime é a
com situações de violência sexual infantojuvenil, o pornografia infantil.
significado mais comum para o termo é o de emis-
são da informação de uma situação de maus-tratos Perversão – Termo que designa desvios de com-
para o Conselho Tutelar ou para uma Vara da Infân- portamento e das práticas sexuais normais ou as-
cia e da Juventude. É assim utilizado, por exemplo, sim consideradas.
para definir a atribuição do profissional de saúde
em comunicar oficialmente uma situação de abuso Plano Nacional – Elaborado em 2000, fruto de
contra um paciente menor de 18 anos. pressão da sociedade civil organizada e de uma mo-
bilização do Governo Federal, o Plano Nacional de
Parafilias – Consistem em fantasias, anseios sexu- Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças
ais ou comportamentos recorrentes, internos e se- e Adolescentes estabelece diretrizes a partir de seis
xualmente excitantes. Em geral, envolvem objetos eixos estratégicos que referenciam o poder público
não humanos, sofrimento ou humilhação próprios e a sociedade sobre como devem atuar no enfrenta-
ou de parceiro, crianças ou outras pessoas sem o mento das diversas modalidades de violência sexu-
consentimento, e ocorrem por um período míni- al. O Plano Nacional foi revisado em 2013.
mo de seis meses.
Pornografia infantil – é a expressão da exploração
Pedofilia – é uma parafilia, ou seja, um distúr- sexual que se caracteriza por qualquer representa-
bio psíquico que se caracteriza pela obsessão por ção, por qualquer meio, de uma criança envolvida
prática sexual não aceita pela sociedade, a partir em atividades sexuais explícitas, reais ou simula-
da confiança que se adquire da criança. É uma das, ou qualquer representação dos órgãos sexuais
anormalidade psicossexual de comportamen- de uma criança para fins primordialmente sexuais.
to. Ela é também manifestada na modalidade do (Decreto n. 5.007, de 8 de março de 2004, que pro-
exibicionismo, ou seja, por pessoas que se torna- mulga o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os
ram impotentes e se satisfazem com toques dos Direitos da Criança referente à venda de crianças, à
órgãos genitais, práticas facilitadas pela atração prostituição infantil e à pornografia infantil).
Guia de referência para a cobertura jornalística 109
Prostituição – Induzir ou atrair alguém à prosti- Tráfico de crianças e adolescentes para fins de
tuição, facilitá-la ou impedir que alguém a aban- exploração sexual – É a promoção ou facilitação
done (Código Penal, artigos 227, 228 e 229). da entrada, saída ou deslocamento, em territó-
rio nacional, ou para outro país, de crianças e
Revitimização – Quando a criança ou adolescente adolescentes com o objetivo de submetê-las à
que já sofreu violência sexual experimenta a viola- exploração sexual ou outra forma de violência
ção de outros direitos na fase do inquérito policial e/ sexual.
ou na fase do processo judicial, através de condutas
ou comentários discriminatórios e/ou difamatórios, Violência – É qualquer ato deliberado, por ação
além da ausência de orientação sobre providências ou omissão, originado por pessoas, instituições ou
necessárias para resgate dos direitos, etc. sociedades, que prive a criança ou adolescente dos
seus direitos e liberdades, e que interfira no seu
Rufianismo – Tirar proveito da prostituição desenvolvimento e provoque sequelas, de gravida-
alheia, lucrando com ela ou fazendo-se sustentar des diferenciadas, em sua vida.
por quem a exerça (Código Penal, art. 230). Rufião
é o responsável pela exploração sexual. Também Violência sexual – É uma violação dos direitos
chamado de cafetão, proxeneta ou cafetina. sexuais. Atinge o corpo e a sexualidade, sendo
perpetrada pela força física ou outra forma de
Sexualidade – A sexualidade é própria e inerente coerção, ao envolver crianças e adolescentes em
às pessoas, sendo impossível dissociá-la da exis- atividades sexuais impróprias ao seu estágio de
tência humana, vinculada a processos biológicos, desenvolvimento psicossexual e etário. Trata-se
psicológicos e sociais intrínsecos aos seres huma- de toda ação na qual uma pessoa, em situação de
nos. Nesse sentido, os direitos sexuais, enquanto poder, obriga ou induz outra à realização de práti-
direitos humanos, dizem respeito exatamente cas sexuais, por meio da força física, da influência
ao direito de a pessoa desenvolver e exercitar de psicológica (intimidação, aliciamento, sedução),
maneira sadia e segura a sua sexualidade, livre de ameaça, uso de arma, droga ou qualquer outro
qualquer discriminação, coação ou violência. meio coercitivo.
Guia de fontes
Esta seção traz uma lista de instituições que podem Atuação: Município de São Vicente (SP)
servir como fontes de consulta para a produção de E-mail: projetocamara@ig.com.br; projetocamara@
uma cobertura qualificada sobre violência sexual projetocamara.org.br
contra crianças e adolescentes. As sugestões apre- Site: www.projetocamara.org.br
sentadas não esgotam o rico universo de entidades
que atuam nesta área, bem como de estudos e pes- CASA DE PASSAGEM
quisas dedicados ao enfrentamento do fenômeno, Atuação: Região Metropolitana de Recife (PE)
mas servem como primeira referência para os jor- E-mail: cp@casadepassagem.org.br
nalistas envolvidos na abordagem do tema. Site: www.casadepassagem.org.br
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guia para jornalistas (ANDI/IPEC/OIT) Sexual de Crianças e Adolescentes. RJ: nov, 2008.
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______Crianças Invisíveis – O enfoque da imprensa
sobre o Trabalho Infantil Doméstico e outras for- ELLERY, Celina; GADELHA, Graça (Org.) Cartilha
mas de exploração (ANDI/OIT/Unicef/ Cortez Como Identificar, prevenir e combater a Violência
Editora) Sexual contra Crianças e Adolescentes. Fortaleza:
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