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DOI: 10.1590/1413-81232015205.

01542014 1353

Teatro e comunidade, juventude e apoio social:

ARTIGO ARTICLE
atores da promoção da saúde

Community Theater as social support for youth:


agents in the promotion of health

Denise Diba 1
Ana Flavia d’Oliveira 1

Abstract There has been much discussion on Resumo A promoção da saúde de jovens em si-
promotion of the health of young people in vulner- tuação de vulnerabilidade tem sido muito discu-
able situations; but little work has been done ana- tida no Brasil, mas existem poucos trabalhos que
lyzing its actual operation – and this is especially analisam sua efetiva operação, especialmente a
true in relation to programs and projects that are partir de programas e projetos realizados fora dos
outside the health services. This article aims to serviços de saúde. O objetivo do artigo é analisar a
analyze the relationship of an experience in Com- relação de uma experiência em Teatro e Comuni-
munity Theater with the promotion of health. It dade com a promoção da saúde. Trata-se de uma
is a qualitative, ethnographic study made at the pesquisa qualitativa, etnográfica, realizada no
Pombas Urbanas Institute, in the Cidade Tira- Instituto Pombas Urbanas, localizado no distrito
dentes district of the municipality of São Paulo, de Cidade Tiradentes, município de São Paulo. É
and is coordinated by a theater group with a his- coordenado por um grupo teatral com uma histó-
tory that is relevant to the objective of the study. ria pertinente ao objetivo do estudo. A observação
Participatory observation was carried out for one participante foi realizada por um ano, entrevistas
year, with semi-structured interviews with young semiestruturadas com jovens e com atores do gru-
people, and with actors of the Pombas Urbanas po Pombas Urbanas e análise documental. O qua-
group, and analysis of documents. The theoretical dro teórico utilizado compõe conceitos do campo
framework that was used is made up of concepts da saúde coletiva, Teatro e comunidade e peda-
from the fields of collective health, Community gogia da libertação. Os resultados são apresenta-
Theater, and liberation pedagogy. The results are dos em duas subcategorias interligadas advindas
presented in two interlinked sub-categories which do material empírico e dos referenciais adotados:
have arisen from the empiric material and from amigos verdadeiros e diálogo. A análise mostra
the references adopted: (i) ‘True friends’, and (ii) que tornam evidente a importância desta modali-
‘Dialog’. The analysis clearly shows the impor- dade de vivência teatral para a promoção da saú-
tance of this type of theatrical joint experience for de ao transformar a qualidade das relações entre
the promotion of health by transforming the qual- as pessoas. Para a análise dos resultados, foram
1
Departamento de Medicina
Preventiva, Faculdade de ity of relationships between people. Concepts of utilizados conceitos da saúde, cultura e educação.
Medicina, Universidade de health, culture and education were used in anal- Palavras-chave Juventude, Arte, Promoção da
São Paulo. Av. Dr. Arnaldo
ysis of the results. saúde, Apoio social, Pontos de cultura
455, Cerqueira César. 01246-
903 São Paulo SP Brasil. Key words Youth, Art, Promotion of health, So-
denise.diba@ig.com.br cial support, Aspects of culture
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Diba D, d’Oliveira AF

Introdução adoecer e àqueles que visem o espaço para além dos


muros das unidades de saúde e do sistema de saúde,
A juventude pode ser um período intenso de incidindo sobre as condições de vida e favorecendo
desafios, descobertas e decisões1-8. Se as circuns- a ampliação de escolhas saudáveis por parte dos
tâncias em que vivemos e a labilidade do tecido sujeitos e coletividades no território onde vivem e
relacional podem tornar as pessoas mais vulne- trabalham.
ráveis1-8 ao adoecimento ou a condições sociais, Interessa-nos aqui examinar a promoção da
que podem resultar em adoecimento, em mo- saúde, no contexto da produção artística, para
vimento oposto, ter relações com pessoas com além dos serviços e sistema de saúde.
quem se pode contar em momentos de dificulda- Teatro e comunidade é um fenômeno que
de é um dos elementos significativos para reduzir vem crescendo no Brasil e no mundo, mas tam-
essa vulnerabilidade. bém trata-se de “uma modalidade teatral difícil
Este artigo parte da dissertação de mestrado de definir, já que adquire diferentes formatos, li-
“De Ponto de Drogas à Ponto de Cultura: Juven- gada a diferentes instituições e finalidades”20. Para
tude, Teatro e Promoção da Saúde – o Grupo Pompeo Nogueira, “trata-se de um teatro criado
Pombas Urbanas em Cidade Tiradentes”9 que coletivamente, através da colaboração entre artis-
busca compreender, a partir da análise da ex- tas e comunidades específicas. Os processos cria-
periência do grupo de teatro Pombas Urbanas, tivos têm sua origem e seu destino voltados para
em Cidade Tiradentes, como a vivência teatral realidades vividas em comunidades de local ou de
na modalidade teatro e comunidade10,11 contribui interesse”11. Para Kershaw, segundo Nogueira10, as
para o empoderamento e redução de vulnerabili- práticas podem ser categorizadas, enquanto Tea-
dade dos jovens, podendo ser considerada propi- tro na Comunidade, “sempre que o ponto de par-
ciadora de promoção da saúde. tida [de uma prática teatral] for a natureza de seu
Neste artigo enfocaremos especialmente a público e sua comunidade; que a estética de suas
dimensão de apoio social e sua importância na performances for talhada pela cultura da comu-
articulação entre teatro e comunidade e promo- nidade de sua audiência”. O princípio não é pen-
ção da saúde. Segundo diversos autores12-14, apoio sar a atividade teatral como “um curativo sempre
social é um dos elementos fundamentais para a pronto para ser aplicado às feridas do tecido so-
promoção da saúde, o que também é abordado cial”21 e nem como algo aplicado para “encorajar
no documento da Política Nacional de Promoção participantes a se adaptarem mais efetivamen-
da Saúde (PNPS)15 e nas cartas das conferências te ao mundo, em vez de imprimirem suas cores
de promoção da saúde16. no mastro da mudança social”21. Neste sentido,
Antes de prosseguirmos, apontaremos su- “a arte significa comunicar o que a vida normal-
cintamente o que entendemos por: promoção da mente esconde da gente [...] expelindo-nos das
saúde, teatro e comunidade e apoio social. zonas do hábito e do conforto para mudar nossas
O conceito de promoção da saúde surgiu na noções do que somos e do que podemos ser”21.
década de quarenta do século XX e atualmente Vários autores se referem a apoio social como
contempla perspectivas das mais conservadoras sendo um processo dinâmico e complexo e, como
às mais progressistas. Considera-se que as diver- aponta Martins22, “que envolve transações entre
sas conceituações podem ser divididas em dois indivíduos e as suas redes sociais, no sentido de
grandes grupos: um que ressalta quase que exclu- satisfazer necessidades sociais, promovendo e
sivamente a responsabilidade dos indivíduos so- completando os recursos pessoais que possuem,
bre a própria saúde, e outro que chama a atenção para enfrentarem as novas exigências e atingirem
para a importância de políticas públicas interse- novos objetivos”.
toriais voltadas à melhoria da qualidade de vida Para Minkler, citado por Valla23, apoio social
das populações17-19 para que esta responsabiliza- é qualquer informação, falada ou não, e/ou auxílio
ção se efetive. material oferecidos por grupos e/ou pessoas, com os
No Brasil, foi aprovada, em 2006, uma Polí- quais teríamos contatos sistemáticos, que resultam
tica Nacional de Promoção da Saúde (PNPS)15. em efeitos emocionais e/ou comportamentos posi-
Nela propõe-se: que as intervenções em saúde am- tivos. Trata-se de um processo recíproco, ou seja,
pliem seu escopo, tomando como objeto os proble- que gera efeitos positivos tanto para o sujeito que
mas e necessidades de saúde e seus determinantes recebe, como também para quem oferece o apoio,
e condicionantes, de modo que a organização da permitindo que ambos tenham mais sentido de
atenção e do cuidado envolva, ao mesmo tempo, controle sobre suas vidas.
as ações e serviços que operem sobre os efeitos do Em geral, embora ocorra uma diversidade
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de definições24, apoio social refere-se à ideia de
um indivíduo perceber que há pessoas nas quais
pode confiar e contar em qualquer circunstância
de sua vida, sem com isso sentir-se inferiorizado.

Metodologia

Trata-se de pesquisa qualitativa25,26, etnográfi-


ca27, desenvolvida no Instituto Pombas Urbanas/
Centro Cultural Arte em Construção (CCAC)28,
localizado no distrito de Cidade Tiradentes, zona
leste do município de São Paulo, que apresentava Figura 1. Galpão abandonado: ponto de drogas.
em 2002 o terceiro pior Índice de Vulnerabilida-
Fonte: Arquivo do Instituto Pombas Urbanas.
de Juvenil do município.
O local, uma Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público (OSCIP), criada e organi-
zada pelo grupo de teatro Pombas Urbanas, foi
escolhido após um levantamento realizado pelas
pesquisadoras buscando uma instituição que ofe-
recesse aulas de teatro com os seguintes critérios:
existência há mais de três anos, aulas de teatro
para jovens há mais de um ano e localização no
município de São Paulo em área com baixos indi-
cadores econômicos e sociais. A OSCIP escolhida
oferece gratuitamente cursos de teatro, circo, ca-
poeira, percussão, dança de salão, dança flamenca
e outros que variam semestralmente, contem-
plando o público infantil, jovem e adulto. Busca- Figura 2. Convidando os jovens para apropriarem-se
se oferecer o direito de uma formação artística de do processo de transformações.
qualidade que incluí a formação humana.
Não havia conhecimento anterior das pes- Fonte: Arquivo do Instituto Pombas Urbanas.
quisadoras desta OSCIP e a entrada em campo
foi feita após autorização dos responsáveis pelo
local. A presença da pesquisadora foi comunica-
da a todos os atores do grupo Pombas Urbanas,
aos grupos de teatro formados ou em formação
(Núcleo Teatral Filhos da Dita/Turma Jovem) e
aos participantes das aulas de teatro do semes-
tre que seriam observadas (Turma Iniciante) e,
na medida do possível, aos outros frequentadores
do local.
O local ocupado pelo grupo era um galpão
que ficou abandonado por dez anos e chegou a
ser ponto de uso e tráfico de drogas. Com a in-
tervenção do grupo teatral desde 2004, tornou-se
Ponto de Cultura (Figuras 1, 2, 3). Figura 3. O local transformado por/com/para jovens:
Os Pontos de Cultura fazem parte do Progra- um Ponto de Cultura.
ma Arte, Cultura e Cidadania – Cultura Viva29,
Fonte: Arquivo próprio.
do Ministério da Cultura, que foi implantado a
partir de 2004 e “visa potencializar ações cultu-
rais já desenvolvidas por setores historicamente
alijados das políticas públicas, criando condições de”30. Grupos já existentes são selecionados atra-
de desenvolvimento econômico alternativo e au- vés de editais públicos e subsidiados para melhor
tônomo para a sustentabilidade da comunida- desenvolverem suas ações e potencialidades. Não
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é um espaço cultural feito pelo governo para as Posteriormente foram feitas perguntas abertas,
comunidades, mas são ações que já estão sendo mas mais diretas sobre como achavam que o fa-
desenvolvidas em uma comunidade que ganham zer teatral havia influenciado no lazer, sexualida-
o reconhecimento do Estado e a oportunidade de de, experiências com drogas, trabalho, estudo e
“potenciar o que já existe”31. O programa relação com a família e amigos. Não houve rigor
opera o conceito de cultura em três dimensões: na sequência das perguntas, procurando deixar o
simbólica, econômica e a cultura como direito e ci- fluxo de fala do entrevistado livre, mas com cui-
dadania, entendendo-a em sua forma mais alarga- dado para propor todas as questões de interesse.
da e transversal, o que permite integrá-la a ações de As entrevistas tiveram duração variada, mas
educação, saúde, meio ambiente, desenvolvimento a maior parte delas teve duração entre duas ho-
social e humano, etc. Permeando suas linhas de ras e duas horas e trinta minutos. Foram feitas
ação, há também os conceitos de autonomia, em- em uma tomada, com uma única exceção por
poderamento, protagonismo e gestão em rede, vi- questões de compromissos da entrevistada. Após
sando ao fortalecimento da sociedade civil32. o início das entrevistas, houve continuidade da
A coleta de dados ocorreu através de observa- observação de aulas e outros eventos realizados
ção etnográfica através de 60 visitas ao longo do com intensa participação dos jovens. Os nomes
ano de 2010, análise documental e 17 entrevistas verdadeiros dos entrevistados foram substituídos
semiestruturadas. Para aprofundamento da com- por nomes de flores para garantir o anonimato.
preensão do objeto de estudo, trabalhou-se com Para a análise do conteúdo, as entrevistas
triangulação de dados25. transcritas, o diário de campo e materiais adqui-
As visitas ocorreram em dias variados e nem ridos em campo como, por exemplo, os jornais
sempre pré-determinados por/para eles, permi- produzidos pelo grupo foram lidos várias vezes
tindo observar os jovens dentro do CCAC e a re- para uma impregnação do conteúdo e para uma
lação entre eles e entre eles e a comunidade. As determinação de recortes, agrupados em catego-
observações diretas foram registradas em diário rias e analisados a partir dos referenciais teóri-
de campo. cos do estudo para a realização de uma análise
As entrevistas, gravadas com o consentimen- temática26. Baseamo-nos para fazer a análise e
to dos informantes e transcritas integralmente, discussão dos resultados encontrados na visão de
foram feitas individualmente e de forma priva- promoção da saúde que valoriza os determinan-
tiva após 29 visitas ao local. Foram realizadas tes sociais da saúde e da doença e não apenas os
por uma das pesquisadoras com 12 jovens com indivíduos isolados.
idades entre 15 e 29 anos, que faziam teatro no O estudo foi submetido à Comissão de Ética
local há mais de um ano e compunham os gru- para Análise de Projetos de Pesquisa (CAPPesq) da
pos formados ou em formação, e com 5 atores do Diretoria Clínica do Hospital das Clínicas e da Fa-
grupo Pombas Urbanas com idades entre 32 e 40 culdade de Medicina da Universidade de São Paulo
anos, e que tinham uma história de vida muito e aprovado. Todos os entrevistados assinaram o
pertinente ao estudo: foram jovens da periferia Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
que iniciaram a experiência teatral em uma ofi-
cina proposta pelo governo e, a partir dela, for-
maram um grupo teatral com diversas ações na/ Resultados e discussão
para/com a comunidade.
Foram entrevistados todos os atores do Nú- Este artigo reforça a ideia que determinadas vi-
cleo Teatral Filhos da Dita, 4 atores do Grupo vências artísticas e culturais realizadas fora dos
Pombas Urbanas, que começaram a fazer teatro serviços de saúde também contribuem para a
com o Lino Rojas, com idades variando entre 13 promoção da saúde. Diversos autores reconhe-
a 19 anos e 1 quando tinha 27 anos, 2 jovens da cem a importância que o apoio social tem para a
Turma Jovem e 1 jovem da Turma Iniciante que promoção da saúde dos indivíduos6,23,24.
fazia teatro no local há mais de um ano, totalizan- Nossa análise busca descrever como o apoio
do 17 entrevistas, sendo 11 homens e 6 mulheres. social ocorre através da vivência teatral estuda-
As entrevistas tiveram roteiros organizados da e de que forma esta vivência pode ser consi-
em grandes blocos. Após perguntas fechadas so- derada como promotora ou potencializadora
bre o perfil sociodemográfico, foram feitas ques- da saúde. A análise mostra que estas ações são
tões abertas relativas ao primeiro contato com o promotoras de saúde, entre outras questões, ao
teatro e sobre as principais mudanças ocorridas transformarem a qualidade das relações entre as
em seus cotidianos após o início da experiência. pessoas e é neste aspecto que vamos nos deter. Os
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resultados são apresentados em duas subcatego- ...Uma coisa que a gente fala ‘teatro não se
rias interligadas advindas do material empírico e pode fazer sozinho’. Acho que esse contato com o
dos referenciais adotados: amigos verdadeiros e outro é o grande elemento. Porque não é o contato
diálogo. superficial, é o contato mesmo ali, de estar sentin-
do o outro, a respiração, tipo, o calor, o suor, tudo.
Amigos verdadeiros (Acácia, 23 anos)
Além de o teatro ser uma arte que tende a for-
Desde a entrada em campo foi percebido talecer os laços entre os integrantes de um grupo,
que os envolvidos consideravam que a vivência no caso estudado havia um projeto de vida cole-
teatral estava possibilitando construírem laços tivo – decorrente deste fortalecimento individu-
afetivos significativos porque faziam amigos com al e grupal - de manter um espaço cultural – o
quem possuíam maior afinidade e intimidade. CCAC com cursos, espetáculos e outras ativida-
Na abertura [Segundo Encontro Comuni- des gratuitas voltados para a comunidade.
tário de Teatro Jovem da Cidade de São Paulo], Toda essa experiência, que incluía desde
uma jovem leu um texto que dizia que através do exercícios teatrais até a construção de projetos
teatro ‘revertem, provocam e conhecem amigos’. coletivos, contribui para o desenvolvimento de
(Diário de campo, 15/11/2009) cooperação mútua e integração. Isto possibilita,
Na percepção dos jovens, o estabelecimento na visão dos entrevistados, o aumento da con-
destes laços afetivos é importante porque eles são fiança e da segurança de ter com quem contar
mais profundos e constituem relações com espa- se necessário, elementos característicos do apoio
ço para cuidado e diálogo: social e fundamentais para a promoção da saú-
... E depois das aulas tinha um espaço de con- de12,13,15-17,24:
versa, a gente trocava ideia. Aí eu comecei a formar ...Saber que você tem um apoio. Às vezes, mes-
amigos aqui que eram muito mais fortes do que os mo quando você faz errado, como quando está
amigos que eu já tinha. Os amigos que eu tinha dando certo, você sabe que está todo mundo te res-
aqui me escutavam. Eu escutava eles, eu aprendia paldando. [...] Porque a gente não faz...Não é as-
com eles, eu realmente aprendia coisas boas com sim, cada um tem sua função e faz prá si. Por mais
eles. (Flor de Lis, 19 anos) que eu troque uma tomada, eu sei que é pro bem de
...A gente é amigo também prá trocar, prá co- todos, entendeu? (Lírio, 25 anos)
brar. Porque no Núcleo [Teatral Filhos da Dita] ...E acho que hoje em dia a gente tem uma
nunca aconteceu da gente ter conflitos omitidos. Às liberdade prá gente conversar sobre coisas que de
vezes era lavar roupa suja, era quebrar o pau, mas repente em casa... [...] No Núcleo [Teatral Filhos
a gente sempre teve junto. [...] E os outros amigos da Dita], eu tenho uma confiança de colocar coisas
de fora, eu não tenho muito contato com os amigos minhas e saber que vou ser ouvida, talvez respalda-
da escola, mas eu sempre via que era muito diferen- da. (Margarida, 19 anos)
te. (Margarida, 19 anos) ...E eu acho que isso proporciona também que a
Ao serem perguntados sobre as diferenças gente se respeite, que a gente se ajude. [...] Então, a
dos amigos da escola, os entrevistados reforçam gente sente até um porto seguro. (Azaleia, 22 anos)
a hipótese de que a atividade teatral pode con- A sólida convivência com o grupo permitiu
tribuir para um fortalecimento grupal, percebido que os encontros fossem motivados não somen-
por eles como mais livre e menos individualista: te pelo desejo de fazer teatro, mas também pela
... [Na escola] não é muito próximo. Você não amizade que os envolvia. Alguns, inclusive, opta-
sente uma liberdade. [...] Porque no Núcleo [Tea- ram por morar juntos e dividir as despesas.
tral Filhos da Dita] ou no teatro, você sente uma Estes vínculos propiciaram que se organizas-
liberdade porque você tá fazendo teatro com o ou- sem para pensarem em atividades conjuntas, tais
tro, você tá trocando com o outro, você acredita nas como prepararem uma refeição, irem ao cinema,
mesmas coisas. E numa escola não é assim. (Mar- teatro, festas organizadas por este ou outros gru-
garida, 19 anos) pos teatrais onde o abuso de bebidas alcoólicas
... [Na escola] essa coisa do coletivo, eu sinto e/ou drogas não era bem-vindo. Nota-se que a
que é bem menor. Está cada um pensando em si. opção por não utilizar drogas de forma abusiva
Mas isso não me impossibilita de conversar com decorre do fato de terem um projeto de vida e
eles, de ter relações, de ser amigo, de visitar, de sair não de normas ou campanhas impositivas, como
junto, mas é diferente. (Azaleia, 22 anos) eles mesmo afirmaram diversas vezes.
O fato de ser uma arte essencialmente grupal Esta experiência artística parece propiciar
tem importância neste aspecto destacado: a formação de jovens críticos ao egocentrismo,
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preconceitos e competitividade. Estavam atentos ... E aqui a gente abriu um espaço com o teatro,
aos problemas dos pares e da comunidade e bus- um espaço mais de se abrir, de conversar, de colocar
cavam protagonizar ações visando mudanças: os problemas. Mas com a minha família eu nunca
...Mas acho que esse caminho que o teatro abre tive muito. Aqui com certeza. Quando eu to mal
não é só um caminho de profissionalização, de ser ou quando eu to feliz, das minhas intimidades, eu
ator. É um caminho também de você ser mais sen- tenho uma segurança maior prá dividir. (Lírio, 25
sível pras coisas, estar mais preocupado com a outra anos)
pessoa [...], não estar só pensando em você [...]. Não ... A gente pode colocar, mas não é escutado so-
que necessariamente todo mundo tenha que fazer bre essas coisas. Eles também já têm uma resposta
teatro. Mas se todo mundo passasse pelo teatro em na ponta da língua. ‘Você é aluno, você só estuda, o
algum momento da sua vida, acho que as pessoas seu dever é estudar e não chegar atrasado’. (Tango,
seriam mais compreensíveis, mais amorosas, mais 17 anos)
carinhosas, mais sensíveis. (Azaleia, 22 anos) A importância deste “ouvir e ser ouvido” e a
...Acho que a arte possibilita muito esse contato ideia que todos eram considerados importantes
mais humano. Não humano no sentido tadinho, ai para o funcionamento do grupo e do espaço e
coitadinho de você. [...] Mas é humano no sentido podiam de diversas formas contribuir era enfati-
de você se ver, se cuidar, querer cuidar do outro, de zada desde a chegada de um jovem:
construir uma coisa juntos. E isso realmente [...] P. falou que acreditava no teatro como agente
hoje em dia é bem difícil. [...] É cada um por si e transformador e acreditam no protagonismo. Fa-
vamos seguindo em frente. (Acácia, 23 anos) lou também que acreditam em uma relação aberta
...São amigos que você pode contar [...]. Às ve- professor/aluno, não autoritária e que ‘ninguém
zes, um tem um problema em casa, aí o outro ‘ah, é melhor que ninguém’. (Caderno de Campo,
já passei por isso, eu posso te ajudar dessa forma’. 13/03/2010, primeiro dia de aula da Turma Ini-
Que eu acho que isso que é o legal, assim, de não ciante)
é amigo só no Centro Cultural, é amigo também Esse cuidado com o outro pôde ser percebi-
quando tá na escola, quando tá na rua, tá sempre do nas diversas ações que os jovens, como pro-
junto mesmo. (Copo de leite, 17 anos) tagonistas, estavam realizando na comunidade.
Apoiamo-nos também em Luz6 para afirmar a
Diálogo: uma necessidade importância que a renovação da sociabilidade,
a constituição de novos amigos e a possibilidade
A existência de um espaço de escuta permite de trocas sociais (de informações, experiências e
que os jovens se sintam mais respeitados em seus orientações) têm para a promoção da saúde, uma
direitos e deveres, apontado como de fundamen- vez que “se tornam pequenos e múltiplos pon-
tal importância no documento Diálogo Nacional tos de resistência ao individualismo dominante,
para uma Política Pública de Juventude33. Sabe- pondo a fraternidade e a cooperação no lugar do
mos que quando esses espaços não são encontra- valor dominante da competição”.
dos, há uma probabilidade maior de sofrimentos Foi interessante observar que os jovens não
e adoecimentos, e uma maior dificuldade de lidar esperavam passivamente só serem atendidos em
com eles1,8,29,34-38. suas demandas, mas que havia uma consciência
Isto pôde ser observado nas falas dos jovens: crítica de direitos e deveres que repercutia em
... Quatorze anos, você começa a descobrir e ver ações fora do CCAC:
o mundo de outra forma, de procurar o seu espaço ... O que a gente aprende aqui a gente leva para
dentro do mundo. E nesse espaço eu me sentia bem. lá, prá dentro da escola, prá dentro de casa. A gente
Eu sentia que quando eu colocava algumas coisas aprende a conviver, estar junto. (Goivo, 16 anos)
eu era ouvida, eu sabia ouvir o outro. Essa energia Ao ser perguntado se a experiência com o te-
de integrar as pessoas, [...] de me sentir integrada, atro havia contribuído para desejar fazer o tra-
de poder falar, era muito importante pra mim na- balho voluntário com jovens em um Centro de
quele momento. (Margarida, 19 anos) Testagem e Aconselhamento (CTA), Goivo res-
... Instiga você a ler, observar mais, ouvir, dar ponde:
mais valor a ouvir do que a falar. Acho que o teatro ... Claro. É a maneira mais fácil de você se co-
muda muito nisso, muda demais. (Goivo, 16 anos) municar. Quando você sabe ouvir, você sabe se co-
Isto é ainda mais importante se considerar- municar. [...] Quando a gente faz teatro, a gente
mos que muitas vezes o jovem não vinha encon- tem um manejo de poder conversar com as pessoas.
trando esse espaço de escuta em suas famílias e Ah, acho que a gente enxerga todo mundo igual,
escolas: independente de sexo, opção. (Goivo, 16 anos)
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O diálogo era constantemente priorizado, dades e “não pode ser reduzido a um ato de de-
tanto para o aprofundamento na compreensão positar ideias de um sujeito no outro, nem tam-
de determinadas questões quanto para a solução pouco tornar-se simples troca de ideias a serem
de problemas cotidianos pessoais ou coletivos. consumidas pelos permutantes”38. Destacamos,
Isto permitia o compartilhamento dos mais di- dentro desta dialogicidade, a horizontalidade
versos assuntos e uma troca de opiniões, reflexão, das relações e a capacidade de ação. O respeito
desalienação e atitude. Nesta relação que estamos mútuo era observado quando eles participavam
estabelecendo entre esta vivência teatral, o apoio de festas, reuniões de organização do espaço, de
social e a promoção da saúde é fundamental a elaboração e realização de novos projetos, de
importância dada para o diálogo, tal como discu- pesquisas de editais para verbas para melhoria do
tido por Paulo Freire36-38. Para Freire37, [...] não é espaço, etc.
falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, Respeitava-se e valorizava-se o saber de cada
como se fôssemos os portadores da verdade a ser indivíduo de diversas formas, mas apontamos
transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, momentos que mostravam a clareza da impor-
mas é escutando que aprendemos a falar com eles. tância deste aspecto por parte dos atores do gru-
Somente quem escuta paciente e criticamente o ou- po Pombas Urbanas.
tro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, P. iniciou falando para o grupo que estava feliz
precise falar a ele. que T. e L. estão fazendo um bom trabalho enquan-
Desde a chegada do grupo Pombas Urbanas to eles (do Pombas) estão fora aos finais de semana
em Cidade Tiradentes, os jovens foram convi- para a apresentação dos espetáculos. [...] Também
dados a participar de forma reflexiva e ativa das falou sobre projeto de vida e que eles têm confiança
atividades e da construção das ações a serem de- nas jovens [...], que fizeram esse preparo. Também
senvolvidas no local, desenvolvendo uma postura falou sobre a importância de transferir para outras
crítica e ativa diante de diversas situações coti- pessoas (um conhecimento, uma função, respon-
dianas individuais, coletivas, institucionais ou da sabilidade, ação) e, a partir daí, poder construir
comunidade. [...] coisas novas. (Diário de campo, 26/04/2010,
Foi possível observar que os jovens auxilia- p. 388)
vam o grupo Pombas Urbanas a manter as demais Conforme Paulo Freire38, “como posso dia-
ações voltadas para a comunidade, que incluíam logar, se me sinto participante de um ‘gueto’ de
atividades culturais gratuitas aos finais de sema- homens puros, donos da verdade e do saber, para
na, aulas de teatro e circo para crianças, encontros quem todos os que estão fora são ‘essa gente’, ou
de teatro, etc. De acordo com seus interesses eram são ‘nativos inferiores’?”
convidados a aprimorar suas aptidões e contri- As atitudes de respeito ao outro foram obser-
buir para a construção permanente do espaço. vadas quando estes jovens estavam, como multi-
No caderno de campo há registros da atuação plicadores, dando aulas ou organizando eventos
dos jovens em diversas ocasiões, sempre sendo variados. Em um evento para crianças e adoles-
destacado que faziam as coisas com prazer e ma- centes da comunidade, em que experimentaram
turidade. números circenses (que o Instituto Pombas Ur-
Quando as portas fecharam porque o público banas realiza anualmente), ocorreu uma intensa
chegava, alguns estavam do lado de fora auxiliando participação dos jovens em toda a organização.
na organização da fila (e avisando que os ingressos Pouco antes de abrirem o espaço, certificaram-
já estavam esgotados), alguns estavam filmando e se se tudo estava certo, se cada um estava perto de
fotografando, [...], alguns dando a última forcinha sua função e se poderiam abrir [o espaço]. Tudo
para os atores e produção do grupo. (Diário de feito por um adolescente, sem alguém [...] coorde-
campo, 26/04/2010, p. 404) nando: agora faz isso, faz aquilo. (Diário de cam-
Para Paulo Freire, o diálogo verdadeiro e a po, 25/02/2010, p.95)
prática transformadora implicam em que ação Às 17h20min começou a apresentação do dia.
e reflexão estejam radicalmente integradas. Isto A L. (18 anos) que é do Filhos da Dita foi quem
significa que as ações não podem restringir-se puxou toda a apresentação. Ela tem uma esponta-
nem a “palavreria, verbalismo, bla-bla-bla”38 nem neidade e uma capacidade de improvisação muito
em “ativismo desenfreado” e que “qualquer destas boa. (Diário de campo, 25/02/2010, p.102)
dicotomias, ao gerar-se em formas inautênticas Outra situação significativa é quando os jo-
de existir, gera formas inautênticas de pensar”38. vens, na ausência dos atores do grupo Pombas Ur-
O diálogo vai muito além de um simples es- banas, cuidam do espaço, o que incluí a condução
paço de escuta de alguns desabafos ou necessi- das aulas para a turma iniciante. Em um período
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Diba D, d’Oliveira AF

de um mês, enquanto alguns jovens viajaram com queremos enfatizar é que a vivência teatral não
o grupo para desempenharem suas funções como é uma estratégia para discutir questões de saúde
iluminadores, sonoplastas, etc. outros permitiram de forma impositiva e normatizadora e nem um
que o CCAC permanecesse aberto e com todas as recurso para alcançar objetivos diretamente rela-
atividades ocorrendo normalmente. cionados à ausência de doenças.
A aula transcorreu normalmente e os alunos O que torna esta vivência uma prática promo-
respeitaram a condução da aula, mesmo elas sen- tora de saúde é o fato de possibilitar ao jovem o
do um pouco mais tolerantes a pequenos atrasos acesso à cultura como um cidadão com direitos e
e mais permissíveis a algumas brincadeiras entre deveres e não, à priori, como um jovem vulnerá-
eles. (Diário de campo, 10/04/2010, p. 328). No vel que necessita de práticas assistencialistas. Dife-
aquecimento inicial de uma destas aulas, rencia-se também ao possibilitá-los maior enten-
Foi um exercício longo, de quase uma hora. dimento das questões político-sociais e, a partir
Percebo alguns pontos: T. e L. têm segurança, do- disto, a escolha de um projeto de vida e condições
mínio da sequência de exercícios que serão da- para apropriarem-se dele. Este deslocamento de
dos, conhecimento do motivo de cada exercício, olhar (do lugar do jovem pobre como necessaria-
[...] usam linguagem apropriada para o ensino mente de alto risco para a sociedade para o lugar
das atividades. [...] Além disso, percebo que estão de um jovem com diversas capacidades) é uma
atentas aos alunos e elas percebem quando alguém das características que diferencia essa experiência.
não está fazendo corretamente. (Diário de campo, Neste contexto, a arte é promotora de saúde por-
17/04/2010, p. 350) que significa “o reconhecimento e comunicação
Isto reforça a importância da participação de nosso ‘poder para’ em contraste com a política
dos jovens na elaboração e discussão dos progra- contemporânea que devota suas energias ao ‘po-
mas específicos dos quais fazem parte, para que der sobre’”21, elemento fundamental do que esta-
os mesmos tenham maior adesão, qualidade, efi- mos considerando apoio social.
cácia e para que ocorra uma “participação real” Tudo isto ocorre porque, da forma como é
e não “simbólica”2. Resende Carvalho enfatiza a desenvolvida, a experiência estudada estimula os
importância do “empowerment comunitário” em jovens a descobrirem e desenvolverem suas po-
processos para a nova promoção da saúde, que tencialidades, valorizarem as ações feitas para/
venham contestar “estratégias voltadas para a re- com a comunidade em que vivem, os espaços
gulação e a vigilância sobre os corpos sociais e para trocas, diálogo e postura crítica.
individuais com profundas implicações políticas, Nossos resultados reforçam que as interven-
morais e sociais”18. ções em promoção da saúde – como é recomen-
Permeando estes pontos, reforçamos que o dado na PNPS - podem/devem ir muito além dos
acesso ao conhecimento artístico, por ser “uma serviços de saúde ou da orientação para aquisi-
proposta que possibilita acolher aspirações, dese- ção de hábitos saudáveis de forma individualista
jos, necessidades, habilidades e interesses”35, pode e normatizadora. Eles também confirmam a rele-
vir a ser “um lugar de múltiplos acontecimentos vância do setor cultural na promoção da saúde,
de aproximação dos sujeitos e também de parti- conforme já era apontado nos documentos das
cipação coletiva”35, onde pode ocorrer “uma co- conferências de promoção da saúde e na Carta
nexão dos sujeitos com a vida, com o ambiente, de Ottawa15-17,19.
com os outros e com a própria subjetividade”35. Pretendemos, com estes resultados, apoiar
a ideia de que a saúde é produto de um amplo
espectro de fatores relacionados com a qualida-
Considerações finais de de vida12,15,16,19 e, portanto, conforme aponta
Buss39, exige atividades voltadas ao coletivo de in-
A prática teatral estudada proporciona mudan- divíduos e ao ambiente compreendido num sentido
ças positivas no apoio social, através de uma rede amplo, de ambiente físico, social, político, econômi-
de amigos mais sólida, com capacidade de diálo- co e cultural, através de políticas públicas e de con-
go, cuidado, redução de individualismo e incre- dições favoráveis ao desenvolvimento da saúde (as
mento da capacidade crítica. escolhas saudáveis serão as mais fáceis) e do reforço
Apesar do CCAC não ser um espaço tradicio- (empowerment) da capacidade dos indivíduos e
nal de saúde e não ter como objetivo específico a das comunidades.
promoção da saúde em suas ações, consideramos Para tanto, a promoção da saúde deve reali-
que a forma como conduzem as possibilidades de zar-se na “articulação sujeito/coletivo, público/
vivência teatral promove saúde. A diferença que privado, Estado/sociedade, clínica/política, setor
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sanitário/outros setores, visando romper com a lidades conjuntas, fortalecidas por esta arte gru-
excessiva fragmentação na abordagem do proces- pal, que ocorre a intersecção com apoio social e
so saúde-adoecimento e reduzir a vulnerabilida- promoção da saúde.
de, os riscos e os danos que nele se produzem”12. Finalizamos o artigo afirmando que, se a po-
Considerando que ainda é baixo o engaja- breza das relações consiste em um fator nocivo à
mento social e político dos jovens no Brasil, que saúde, uma prática que favoreça a formação de
é emergente a possibilidade de novas formas de redes sociais e de apoio social junto a jovens e a
participação, que o acesso à arte e à cultura é um integração de diferentes gerações, pode e deve –
direito e auxilia na promoção da saúde dos jo- integrada a outras ações – ser considerada como
vens, defendemos a continuidade das políticas muito favorável à promoção da saúde40,41.
públicas que apoiam os Pontos de Cultura. Propõe-se que a Promoção da Saúde “vá mui-
O fazer teatral não oferece “guias para a mu- to além da perseguição de valores que sejam não
dança”21, mas “coloca a imaginação e a consciên- preceitos morais abstratos, mas positiva busca de
cia humanas dentro de um paradigma em que a liberdade e felicidade”40. E que as novas ações não
mudança é possível; um lugar onde nós, indivi- sejam “simples tarefa profissional, mas um efeti-
dualmente e coletivamente, aceitamos a respon- vo encontro de seres humanos”40. Teatro e comu-
sabilidade pelo mundo”21. São nestas responsabi- nidade pode ser um caminho.

Colaboradores Referências

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