Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Brin c a n d o
co m a Mort e
Tra d u çã o de
M ARIA H ELENA P IRES
Tí tul o ori gi n a l :
THE MOTHER HU N T
© 19 6 3 , by Rex Sto u t
All righ t s res e r v e d
Revi s ã o
EDILSO N CHAVES CANTALICE
URANGA
WANIA ANDRADE
htt p:// g r o u p s . g o o g l e . c o m / g r o u p / d i g i t a l s o u r c e
Sto u t , Rex, 18 8 6 —
S8 8 8 b Brin c a n d o co m a mor t e / Rex Sto u t ;
trad u çã o
de Maria Hel e n a Pire s . — Rio de Janeir o : Nova
Fron t e i r a , 19 8 4 .
ORELHAS DO LIVRO
Brin c a n d o co m a m ort e
U m be b ê é deix a d o à por t a de u m a rica vi ú va, co m u m
bil h e t e insi n u a n d o ser ele filh o do se u m a r i d o . Su a s rou p a s
n ã o tr a z i a m qu a l q u e r eti q u e t a qu e en c e r r a s s e alg u m a pis t a e
ap e n a s u m de t a l h e n ã o es c a p o u à ob s e r v a çã o mi n u c i o s a de
Ner o W olf e e de se u as s i s t e n t e Arc h i e Goo d w i n : os bo t õ es
ext r e m a m e n t e ori g i n a i s , de con f e c çã o art e s a n a l .
Par t i n d o de s s a pis t a , o gor d o de t e t i v e de 15 0 quil o s , e
qu e rar a m e n t e sai de cas a , en v o l v e - se nu m a de su a s mais
fas c i n a n t e s ave n t u r a s , qu e o obri g a at é mes m o a pa s s a r
alg u n s dia s for a de sua ele g a n t e m a n s ã o, lon g e do m o r d o m o -
co z i n h e i r o qu e lh e pr e p a r a as lau t a s e re q u i n t a d a s ref e i çõ es.
Tra t a - se, por t a n t o , de u m do s m a i s m o v i m e n t a d o s cas o s do
po p u l a r de t e t i v e par t i c u l a r e de u m a da s his t ó ria s m a i s be m
con s t r u ída s de Rex Sto u t , au t o r qu e se de s t a c o u se m p r e pel a s
sua s tra m a s be m ela b o r a d a s , pel o re q u i n t e de se u s
pe r s o n a g e n s e pe l o hu m o r ir ô nic o .
Em Bri n c a n d o co m a mor t e o rit m o da a çã o vai se
int e n s i f i c a n d o à m e d i d a qu e as v á rias lin h a s de inv e s t i g a çã o
se de s e n v o l v e m , e o mi s t é rio do s bo t õ es e da cri a n ç a enj e i t a d a
vai rev e l a n d o con o t a çõ es a pri n c ípio ins u s p e i t a d a s e qu e
tor n a m o cas o ain d a m a i s es t r a n h o : as inv e s t i g a çõ es, e m lu g a r
de sol u c i o n á -lo, par e c e m at é m e s m o co m p l i c á -lo.
Ma s a ar g ú cia de Ne r o Wol f e , as s i s t i d o por se u efici e n t e
auxili a r , o na m o r a d o r Arc h i e Goo d w i n , aca b a por de s v e n d a r , a
par t i r de u m im p l a c á vel raci o c ínio l ó gic o , es s e nov o mi s t é rio.
Um livr o par a os apr e c i a d o r e s da ver d a d e i r a ar t e da
nov e l a poli c i a l .
Capa: Vict or Burt o n
Ilu s t r a çã o: Ingri d Von St e u r e r /G i l b e r t o Zavar e z z i
1
S RA . R ICHARD V ALDON
ESTE BEBÊ É PARA A SEN H O RA
VIVER NA CASA
DE SEU PAI
8
Entr ar na no s s a cas a pel o s fun d o s é um pou c o mai s co m -
plic a d o do qu e pel a port a da fre n t e , ma s n ã o mui t o . Na
Rua 34 entr a- se nu m a pas s a g e m es tr e i t a , entr e doi s pr é -
dio s , qu e ter m i n a nu m port ã o de ma d e i r a ma c i ç a de doi s
me tr o s de alt ur a . N ã o h á ma ç an e t a , trin c o ou ca m p a i n h a
para aper t a r e, se voc ê n ã o tiver a chav e para a fe c h a d u r a
Hot c h k i s s e n ã o tiver sid o co nvi d a d o , vai pre c i s a r de um a
ferra m e n t a , dig a m o s um ma c h a d o fort e . Mas se est iv e r
se n d o es p e r a d o e bat e r no port ã o, ele se abrir á , co m o se
abri u para Lucy Vald o n à s sei s hor a s e dez mi n u t o s na -
qu e l a se g u n d a - feir a à tard e . Cami n h a - se por um a pas s a -
ge m de tijol o s entr e fileir a s de erva s , de s c e - se quatr o
de gr a u s , co n t i n u a - se e sob e - se um a es c a d a de 12
de gr a u s . Em ci m a , vira- se à dir ei t a para a cozi n h a ou à
es q u e r d a para o es c r i t ó rio ou para a fre n t e da cas a .
Leve i Lucy para o es c r i t ó rio. Ao entr ar m o s , Wolf e
mal a cu m p r i m e n t o u co m a cab e ç a, aper t o u os l á bio s e
fic o u a olh á -la se m ne n h u m ent u s i a s m o en q u a n t o se se n -
tava na poltr o n a ver m e l h a , col o c a v a a bol s a na m e s i n h a
ao lad o e pu n h a se u abri g o , de zib e l i n a ou outr a pel e ,
para tr á s.
— Já dis s e a Archi e que sint o es t a r um pou c o atra -
sad a — dis s e Lucy. — N ã o ima g i n e i qu e ele tive s s e de
es p e r a r por mi m l á fora.
Foi um ma u co m e ç o. Com o jam a i s um cli e n t e o
cha m o u de Ner o , ne m o ch a m a r á , o “Arch i e ” sig n i f i c a v a
para el e qu e , ou ela est a v a to m a n d o lib er d a d e s , ou eu já
as to m a r a . Olho u - me rapid a m e n t e , viro u- se para ela e
res p ir o u fun d o:
— N ã o go s t o dis s o . N ã o é um pro c e d i m e n t o nor mal,
de mi n h a part e , pe dir ajud a a um cli e n t e . Qua n d o ac e i t o
um trab a l h o , o trab al h o é m e u . Mas so u obri g a d o pel a s
circ u n s t â ncia s . Ont e m pel a ma n h ã o Sr. Good w i n lh e
de s c r e v e u a sit u a çã o.
Ela fez qu e si m co m a cab e ç a.
Ten d o de c i d i d o es s e as s u n t o , te n d o feit o co m qu e ela
ad m i t i s s e , ao ac e n a r , qu e o m e u no m e era Sr. Good w i n ,
rec o s t o u - se:
— Mas talv e z n ã o te n h a tor n a d o a sit u a çã o bas t a n te
clar a. Est a m o s e m apur o s . Era ó bvio qu e o mo d o mai s
si m p l e s de exe c u t a r o trab al h o seri a de s c o b r i r de ond e
vier a o be b ê ; log o qu e so u b é ss e m o s iss o , o res t o seri a
fá cil. Muit o be m , foi o qu e fiz e m o s ; sab e m o s de ond e veio
o be b ê , e es t a m o s se m sa í da. Elle n Tenz e r es t á mor t a , e a
lin h a de sin d i c â nci a co m p l e t a m e n t e obs tru ída. A se n h o r a
es t á ent e n d e n d o ?
— Ora... si m.
— Se aind a te m id é ias sobr e iss o , é m e l h o r de s i s t i r .
Seri a idiot i c e ten t a r de s c o b r i r co m o , de on d e e qu e m
trou x e o be b ê at é Elle n Ten z e r . Um trab a l h o de s s e s é
para a pol ícia, co m se u ex é rcit o de ho m e n s trei n a d o s ,
alg u n s co m p e t e n t e s , e co m se u sta t u s ofic i a l . N ã o é para
o Sr. Good w i n e para mi m . É de se pre s u m i r qu e es t e j a m
trab a l h a n d o nis s o por ser rele v a n t e para sua inve s t i g a çã o
de as s a s s i n a t o . Por es s e mot iv o , por ag or a , deixar e m o s
Elle n Ten z e r para a pol í cia, poi s é o qu e dev e m o s faz e r ,
co m um a obs e r v a çã o: sab e m o s qu e ela n ã o col o c o u o
be b ê e m se u ves t í bul o. Mas n ó s...
— Com o sab e m o s dis s o ? — Lucy es t av a co m a te s t a
franz i d a .
— Por de d u çã o. N ã o foi ela que m col o c o u um pe da ç o
de pap e l pre s o no cob e r t o r co m um alfi n e t e co m u m e
enr o l o u o cob e r t o r e m volta da cria n ç a. O Sr. Good w i n
en c o n t r o u um a vasil h a qua s e ch e i a de alfin e t e s de se g u -
ran ç a na cas a dela. Mas n ã o en c o n t r o u ne n h u m es t oj o de
cari m b o s de borra c h a e alm o f a d a para cari m b o , qu e é o
qu e foi us a d o na m e n s a g e m no pap e l . A de d u çã o n ã o é
con c l u s i v a , ma s é vá lida. Acre d i t o qu e no dia 20 de mai o
Elle n Ten z e r entr e g o u o beb ê para alg u é m, ou e m sua
cas a ou, mai s provav e l m e n t e , nu m pon t o de en c o n t r o e m
outr o lu g a r . Talve z n ã o de s c o n f i a s s e qu e o de s t i n o do
be b ê era se u ves t íbulo . Duvid o qu e so u b e s s e . Mas sabi a
de m a i s sobr e a his t ó ria do be b ê e su a ori g e m , e por iss o
foi mor t a .
— Ent ã o acr e d i t a nis s o ? — As m ã os de Lucy es t a vam
cris p a d a s , os ded o s torc i d o s . — Que foi as s a s s i n a d a
porq u e sabi a de m a i s ?
— N ã o. Mas seri a es t u p i d e z n ã o ad m i t ir tal hip ó te s e .
Outra sup o s i çã o: Elle n Tenz e r n ã o ape n a s n ã o dei xou o
be b ê no se u ves t íbulo co m o ne m sabi a qu e es s e era o se u
de s t i n o ; ela ne m ao m e n o s sabi a qu e seri a lar g a d o de
for m a qu e sua ori g e m per m a n e c e s s e de s c o n h e c i d a e n ã o
pud e s s e ser de s c o b e r t a . Pois se ima g i n a s s e iss o nu n c a
teria col o c a d o no be b ê aqu e l e ma c a c ã o. Sabi a qu e aqu e -
le s bot õ es era m es p e c i a i s e qu e u m a inve s t i g a çã o levari a
at é a sua ori g e m . O que qu er qu e ela...
— Esp e r e um mo m e n t o . — Lucy es t av a de te s t a
franz i d a , con c e n t r a n d o - se. Wolf e es p e r o u . Ela log o con -
tin u o u : — Talve z ela qui s e s s e qu e fos s e de s c o b e r t o .
Wolf e aba n o u a cab e ç a: — N ã o. Ne s s e cas o , qua n d o
de s c o b r i s s e que os bot õ es tin h a m sid o en c o n t r a d o s , rec e -
beri a o Sr. Good w i n de for m a difer e n t e . N ã o. N ã o im porta
o qu e sou b e s s e e m rela çã o ao pas s a d o do beb ê , n ã o sabi a
nad a a res p e i t o do fut ur o qu e lhe pret e n d i a m dar. Seja
qu e m for qu e o deix o u e m se u ves t íbulo dev e r i a est ar
se g u r o de qu e ne n h u m a rou p a trazi a pis t a alg u m a sobr e
sua s orig e n s , port a n t o n ão con h e c i a sufi c i e n t e m e n t e
rou p a de cria n ç a para ver qu e os bot õ es era m difer e n t e s ,
at é m e s m o raro s , e podi a m dar um a pis t a . Mas o Sr.
Good w i n de s c o b r i u iss o e eu ta m b é m.
— Eu n ã o.
Olh o u - a zan g a d o : — Iss o s ó for n e c e infor m a çõ es a
se u res p e i t o ape n a s , mad a m e , n ã o sobr e o prob l e m a . Mi -
nha pre o c u p a çã o é o probl e m a , e ag or a n ã o ape n a s te n h o
de faz e r um trab a l h o qu e ac e i t e i , pre c i s o ta m b é m evit ar
ser ac u s a d o , junt a m e n t e co m o Sr. Good w i n , de co m e t e r
um cri m e . Se Elle n Tenz e r foi mor t a a fim de qu e n ã o
pud e s s e reve l a r fat o s sobr e o beb ê deixa n d o em se u
ves t í bul o, e é qua s e cer t o qu e é por es s e mot iv o qu e foi
as s a s s i n a d a , o Sr. Good w i n e eu es t a m o s am b o s es c o n -
de n d o prova s a re s p e i t o de um ho m i c ídio, e, co m o dis s e ,
es t a m o s e m apur o s . N ã o qu er o dar à pol í cia se u no m e e a
infor m a çã o qu e me forn e c e u co n fi d e n c i a l m e n t e . A se -
nh or a seri a per t u r b a d a e per s e g u i d a e, co m tod a prob a -
bilid a d e , ator m e n t a d a ; a se n h o r a é mi n h a clie n t e , por
iss o m e u am o r - pr ó prio ficari a ferid o . Orgu l h o - me de s ó
me exp o r a recl a m a çõ es dos outr o s , nu n c a de mi m
me s m o . Mas se o Sr. Good w i n e eu evit ar m o s me n c i o n a r
se u no m e e o qu e a se n h o r a nos co n t o u , n ã o bas t a r á
ape n a s cu m p r i r no s s a obri g a çã o co m a se n h o r a e deixar o
ho m i c í dio para a pol í cia; al é m de en c o n t r a r a m ã e,
pre c i s a m o s de s c o b r i r o as s a s s i n o ou es t a b e l e c e r de que
n ã o h á ne n h u ma liga çã o en tr e a mor t e de Elle n Tenz e r e
sua liga çã o co m o be b ê deix a d o no se u ves t íbulo . Com o é
mu i t o pro vá vel qu e haja um a con e x ã o, es t ar e i na pist a de
um as sas s i n o para a se n h o r a e à s sua s cus t a s . Fui clar o?
Os olh o s de Lucy vier a m e m mi n h a dire çã o: — Eu lhe
dis s e qu e de t e s t o iss o .
Con c o r d e i: — O probl e m a é qu e voc ê n ã o pod e sair
de ce n a . Se de s i s t i r , n ã o é mai s cli e n t e del e e ter e m o s de
con t a r tud o; eu, pel o m e n o s , ter e i . Sou um a pe s s o a mui t o
imp o r t a n t e porq u e fui o ú lti m o a ver Elle n Ten z e r co m
vida. Aí ter á de enfr e n t a r a pol ícia. Agor a est á co n o s c o ,
Sra. Vald o n , ter á qu e faz e r su a es c o l h a .
Ela abri u a boc a e fe c h o u - a de novo . Virou- se, apa -
nh o u a bol s a na me s i n h a , abri u- a, tiro u um pe d a ç o de
pap e l , leva n t o u - se, ca m i n h o u e m mi n h a dire çã o e de u- m e
o pap e l . Se g u r e i - o e li, es c r i t o à m ã o, co m tint a:
Se g u n d a - feir a
Para Archi e Good w i n :
Cha m e - m e de Lucy.
Lucy Vald o n
10
Se çã o N ú mero
A 1
B 2
C 0
D 1
E 0
12
13
— U -S .
— Cas a d a ?
— N ã o pel o qu e eu sai b a . Foi cas a d a co m Willia m
Kru g e divor c i o u - se.
Levan t e i as sobr a n c e l h a s .
— Iss o é int e r e s s a n t e . N ã o es t av a na list a del e . H á
qua n t o te m p o se divor c i a r a m ?
— N ã o sei ao cert o . Crei o qu e h á qua tr o ou cin c o
ano s . S ó a con h e c i ap ó s ter cas a d o co m Dic k, as s i m co m o
a Willi s .
— Ten h o de lhe faz e r um a per g u n t a . Se ela é a m ã e,
e ag or a apo s t o dez co n t r a um, qual a pos s i b i l i d a d e . . . n ã o,
pos s i b i l i d a d e , n ã o. At é qu e pon t o é vero s s ímil o fato de
Dic k ser o pai?
— N ã o sei. Já lhe co n t e i sobr e Dic k, Archi e , Sei qu e
fora m be m ínti m o s , h á mu i t o s ano s . . . n ã o, n ã o sei, na
verd a d e , ma s alg u é m m e con t o u . Mas se ela é a m ã e... —
De rep e n t e leva n t o u - se. — Vou vê -la. Vou lhe faz er um a s
per g u n t a s .
— Agor a n ã o. — Ia se g u r á -la pel o bra ç o, ma s pa rei.
S ó se dev e mis t u r a r rela çõ es pe s s o a i s co m as profi s -
sio n a i s cas o seja ne c e s s á rio. — Vou- lhe dar um a ord e m .
Já fiz alg u n s ped i d o s e su g e s t õ es, e lhe con v e n c i a faz er
alg u m a s coi s a s , ma s nu n c a lh e dei um a ord e m . Agor a vou
dar. N ã o m e n c i o n e Carol Mard u s a nin g u é m, nin gu é m
me s m o , at é qu e eu per m i t a . N ão vai vê -la ne m lh e
tel e f o n a r . Est á be m ?
Ela sorri u: — De s d e qu e m e u pai morr e u , nin g u é m
me de u um a ord e m .
— Ent ã o já n ã o é se m te m p o . Vai faz er o qu e
ma n d e i ?
— Aper t e aqui. — Esti c o u a m ã o e eu a ap er t e i .
A at m o s f e r a se nor m a l i z o u outr a vez, ma s havia tra -
balh o para faz er . — Com o clie n t e , voc ê é o cr è m e de la
cr è m e . Pre c i s o dar um tel e f o n e m a de ne g ó cio s .
Na extr e m i d a d e da sal a havia um tel e f o n e de n t r o de
um arm á rio. Fui at é l á , abri a porti n h a e disq u e i . N ã o
fic ari a sur pr e s o se Fritz ate n d e s s e , poi s est a v a m tão
im e r s o s e m lit er a t u r a , ma s qu e m at e n d e u foi Saul. Dis se-
lhe qu e seri a mai s r á pid o se eu pud e s s e falar co m Wolf e ,
qu e log o at e n d e u :
— Si m?
— Est o u na cas a da Sra. Vald o n . Ela co n h e c e a
mu l h e r , ma s não mu i t o be m . O no m e dela é Carol
Mard u s . — Sol e t r e i - o. — É a edit o r a de fic çã o da revis t a
Dis t a f f . O pr é dio da Dis t a f f fica na Aveni d a Madi s o n na
Rua 52. H á alg u n s ano s foi í nti m a de Vald o n . De p o i s
ma n dar e i mai s det a l h e s . Para b é ns de nov o. Se n ã o é a
m ã e do be b ê en t ã o dev e sab e r qu e m é , co m cer t e z a . Vou
ag or a sair para de s c o b r i r o qu e fazia e m jan e ir o .
— N ã o — dis s e Wolf e . — Sau l vai.
— Esp e r e um ins t a n t e , fui de s c u i d a d o . — Virei- m e
para Lucy. — Dis s e qu e já a viu um a s dua s ou tr ê s vez e s .
Viu- a no ú lti m o inve r n o ?
Aban o u a cab e ç a: — Estav a pe n s a n d o nis s o . N ã o a vi
de s d e qu e Dic k morr e u .
Virei- m e para o tel e f o n e : — Saul? A Sra. Vald o n n ã o
a vê de s d e set e m b r o . N ã o se aproxi m e mu i t o dela, talv e z
ela es tr a n g u l e da mes m a for m a qu e and a: ma c i a e
corr e t a m e n t e . Era cas a d a co m Willi s Kru g , ma s se
se p a r a r a m h á quatr o ou cin c o ano s . Voc ê pod e co m e ç ar
co m ele , ma s talve z n ã o valh a a pe n a . Talve z n ã o qu e ir a
qu e alg u é m lhe fale a es s e re s p e i t o já qu e ne m a col o c o u
na list a. Ten h o um a su g e s t ã o a faz er .
— Qual é ? — dis s e Wolf e .
— O ch e f e del a é Man u e l Upt o n . H á cin c o se m a n a s
ele dis s e qu e se a Sra. Vald o n quis e s s e um favor, era s ó
pe dir. Ela podi a tel e f o n a r e per g u n t a r se Carol Mard u s
es t av a por aqu i no inve r n o pas s a d o . Mas ao inv é s de
si m p l i f i c a r as coi s a s , talv e z pos s a co m p l i c á -las.
— É mes m o . Saul se g u i r á a roti n a . Dig a à Sra.
Vald o n para n ã o me n c i o n a r Carol Mard u s a nin g u é m.
— Já dis s e .
— Dig a de nov o. Fiqu e co m ela. Distr a i a - a. N ã o a
per c a de vista . — Cliqu e , de s l i g o u .
Colo q u e i o fon e no ga n c h o , fec h e i a port a do m ó vel,
e virei- m e para Lucy:
— Sau l vai inve s t i g a r Carol Mard u s . Voc ê es t á sob
mi n h a res p o n s a b i l i d a d e . Devo con s e r v á -la sob vigil â nci a
con s t a n t e . O Sr. Wolf e co m p r e e n d e , sab e que voc ê qu e r i a
de s c o b r i r a m ã e para lh e puxar o cab e l o . Se voc ê sair de
cas a , dev o se g u i - la.
Ela te n t o u sorrir: — Est o u exa u s t a , Archi e — dis s e . —
Carol Mard u s !
— Aind a n ã o é cer t e z a , s ó dez a um — res p o n d i .
14
Doi s dias mai s tard e t ính a m o s cer t e z a , à s dez hor a s e
vint e min u t o s da noit e de quin t a - feira, qua n d o Sau l de u
se u ú lti m o tel e f o n e m a da Fl ó rida.
É clar o qu e o ass a s s i n a t o de Elle n Ten z e r é qu e
co m p l i c a v a tud o . Se o as s u n t o fos s e s ó a bu s c a da m ã e,
eu si m p l e s m e n t e pod e r i a ir ver Carol Mard u s , mo s t r a r a
fot o g r a f i a e lhe per g u n t a r co m o e ond e pas s a r a o ú lti m o
inver n o , e se ela te n t a s s e fin g ir dir- lhe - ia qu e era f á cil
de s c o b r i r se est iv e r a gr á vida e se tiver a um filh o e, res -
pon d e n d o à s per g u n t a s ela me ec o n o m i z a r i a te m p o e tra -
balh o . Mas era qua s e cert o qu e , se era a m ã e, ou as s a s s i -
nara Elle n Tenz e r , ou sabi a qu e m o fize r a , ou su s p e i t a v a
porta n t o , n ã o era t ã o f á cil.
Ign or e i as ins tr u çõ es de Wolf e sobr e ficar de olh o na
cli e n t e , já qu e ele pr ó prio ad m i t e qu e mu l h e r é a ú nic a
coi s a que co n h e ç o mai s do qu e ele , e fui sub s t i tuir Saul
na Pra ç a Was h i n g t o n . Ao ch e g a r ao es c r i t ó rio, no fim da
tard e de ter ç a- feira, ap ó s ter leva d o os fil m e s para Al
Pos n e r , já havia novid a d e s . Willi s Kru g , Julia n Haft e Leo
Bin g h a m tin h a m tel e f o n a d o para diz e r qu e n ão
rec o n h e c i a m ne n h u m dos ros t o s na s 54 fot o g r a f i a s , coi s a
qu e , no ca s o de Kru g , era sur pr e e n d e n t e , já qu e fora
cas a d o co m um a del a s . Saul já tel e f o n a r a dua s vez e s , a
pri m e i r a ant e s das qua tr o hor a s , para falar co m Wolf e
ant e s que subi s s e para a es t u f a , de c l ar a n d o qu e Carol
Mard u s se au s e n t a r a de se u e m p r e g o na Dis t a f f dura n t e
qua s e sei s m e s e s , de s d e o Dia do Trabal h o at é o final de
fev er e i r o . Tel e f o n a r a outr a vez ap ó s as sei s hor a s para
diz e r qu e ela ta m b é m n ã o es tiv e r a e m cas a , um apar t a -
me n t o na Rua 83 Les t e , e o apart a m e n t o n ão fora
sub l o c a d o . Iss o au m e n t a v a as prob a b i l i d a d e s para 50
con t r a um . Wolf e apr e c i o u o jant ar mai s do qu e o fize r a
na s ú lti m a s se m a n a s , e eu ta m b é m.
Um pou c o ant e s das onz e hor a s a ca m p a i n h a toc o u e
era Saul. Tom o u a mi n h a fre n t e , en c a m i n h a n d o - se para o
es c r i t ó rio e dis s e :
— Acab e i de faz e r um coi s a qu e feliz m e n t e m e u pai
nu n c a sab e r á . Jurei alg u m a coi s a , co m a m ã o no Nov o
Tes t a m e n t o . A B íblia est a v a de cab e ç a para baix o.
Wolf e de u um gru n h i d o : — Era inevit á vel?
— Era. Ess a pe s s o a é me i o pan c a d a . Ele ou ela est a v a
rec e b e n d o 50 ma n g o s para me diz er um a coi s a qu e tin h a
pro m e t i d o nu n c a diz e r a nin g u é m. Iss o n ã o foi se n s a t o . E
se o m e u pre ç o para co n t a r tud o fos s e s ó 60 ma n g o s ? De
qual q u e r jeit o, co n s e g u i o en d e r e ç o. — Tiro u a cad e r n e t a
de not a s do bols o e abri u- a. — Aos cuid a d o s da Sra.
Arth ur P. Jorda n , Sun s e t Drive , 14 2 4 , Praia s do Lido,
Sara s o t a , Fl ó rida. As coi s a s qu e fora m ma n d a d a s para l á
para Carol Mar d u s , no out o n o , fora m - lhe entr e g u e s . Ele
ou ela n ã o juro u na B í blia, ma s acr e dit e i e pa g u e i pela
infor m a çã o.
— Sati s f a t ó rio — dis s e Wolf e . — Talve z .
— É clar o qu e aind a é talv e z — co n c o r d o u Saul. — H á
um avi ã o qu e sai de Idle w i l d para Tam p a à s tr ê s hor a s e
vint e e cin c o mi n u t o s da ma dr u g a d a .
Wolf e fez um a car e t a: — Crei o qu e si m .
Ele det e s t a avi õ es. Su g e r i apa n h a r o se d ã Her o n e
levar Sau l at é Idle w i l d , ma s Wolf e dis s e qu e n ã o, por qu e
eu pre c i s a v a est a r na Pra ç a Was h i n g t o n à s dez hora s da
ma n h ã . Sab e o qua n t o boc e j o se dur m o pou c o .
Sau l tel e f o n o u qua tr o vez e s da Fl ó rida. Quart a- feira
à tard e , dis s e qu e Su n s e t Drive , 14 2 4 era a resi d ê ncia do
Sr. e Sra. Arth u r P. Jorda n , e Carol Mard u s fora h ó sp e d e
del e s dura n t e o out o n o e o inve r n o . Na se g u n d a - feira à
noit i n h a , tel e f o n o u para diz er qu e Carol Mard u s es tiv e r a
gr á vida, co m tod a a cert e z a , e m nov e m b r o e dez e m b r o .
Quin t a - feira à tard e tel e f o n o u diz e n d o qu e no dia 16 de
jan e ir o ela fora levad a ao Ho s p i t a l Geral de Sara s o t a e
naq u e l a noit e tiver a um m e n i n o . Na qui n t a - feir a à noit e ,
à s dez hora s e vint e min u t o s co m u n i c o u qu e es t a v a no
Aero p o r t o Int er n a c i o n a l de Tam p a , qu e Clara Waldr o n ,
co m um beb ê , to m a r a um avi ã o de l á para Nov a Iorq u e no
dia 5 de feve r e i r o , e qu e e m tr ê s hor a s el e faria o m e s m o .
Wolf e e eu de s l i g a m o s . A ca ç ada ter m i n a r a: 45 dia s .
Ele olh o u para mi m:
— Qua n t o já ga s t a m o s do din h e i r o dela?
— Cerc a de 1. 4 0 0 d ó lar e s .
— Bob a g e m . Dig a a Fred e Orrie que n ã o pre c i s a mo s
mai s del e s . E ta m b é m à Srta. Cob e r t t . Dig a à Sra. Valdo n
qu e pod e voltar para a cas a da praia. Dev olv a as c â me r a s .
— Si m , se n h o r .
— Que ch a t o ! Seri a tud o t ã o si m p l e s , se n ã o fos s e
por aqu e l a mul h e r !
— A as s a s s i n a d a . Seri a, si m .
— Mas ela lh e de u um cop o de á gua .
— Tolic e . Se dis s é ss e m o s tud o a Cra m e r ag or a ,
incl u i n d o a m e n s a g e m , o ú nic o probl e m a seria qu e n ó s
go s t a r í am o s que ho uv e s s e doi s julg a m e n t o s se p a r a d o s .
N ã o ape n a s n ó s doi s , ma s a clie n t e ta m b é m go s t a r i a .
Pos s o tel e f o n a r para Park e r e lhe per g u n t a r o que é pior,
es c o n d e r prova s ou te n t a r imp e d i r a justi ç a.
Aper t o u os l á bio s , res pir o u fun d o um a vez, de p o i s
outr a:
— Te m alg u m a su g e s t ã o?
Ten h o um a d ú zia. Há dois dias qu e voc ê e eu
sab e m o s qu e ter íam o s de enfr e n t a r iss o . Pod e m o s falar
co m Carol Mard u s ap e n a s sobr e o beb ê , se m me n c i o n a r
Elle n Tenz e r , s ó per g u n t a r o qu e fez do be b ê , para ver o
qu e ac o n t e c e . É re m o t a m e n t e pos s í vel, ma s ain d a as s i m
exis t e a pos s i b i l i d a d e de qu e ela si m p l e s m e n t e te n h a se
livrad o do be b ê , coi s a que n ã o é dif í cil de con s e g u i r , que
n ã o so u b e s s e ond e ele est a v a , e ten d o lido o arti g o na
Gaz e t t e a res p e i t o da Sra. Vald o n , fica s s e curi o s a , ou
de s c o n f i a d a . Se g u n d a su g e s t ã o: pod íam o s te n t a r res o lv e r
o res t o do co m p r o m i s s o as s u m i d o co m a cli e n t e . Voc ê
dev e r i a de s c o b r i r a ide n t i d a d e da m ã e. Iss o foi feit o . Voc ê
tin h a ta m b é m qu e de m o n s t r a r o gra u de prob a b i lidad e de
Vald o n ser o pai. Ant e s de enfr e n t a r m o s Carol Mard u s
pod í am o s faz e r um a inve s t i g a çã o de roti n a a res p e i t o de
Vald o n e ela na pri m a v e r a do ano pas s a d o .
Ele aba n o u a cab e ç a: — Levari a te m p o e ga s t a r í a mo s
mai s din h e i r o . Voc ê ir á falar co m Carol Mard u s .
— N ã o, se n h o r — res p o n d i , enf a t i c a m e n t e —, voc ê é
qu e vai. Já fui ver Elle n Tenz e r . Fui ver a Sra. Vald o n 20
vez e s en q u a n t o voc ê a viu ap e n a s dua s vez e s . Exe c u t o as
tar e f a s , ma s voc ê é qu e é o res p o n s á vel. Quer vê -la de
ma n h ã ?
Olh o u - me aborr e c i d o . Outra mul h e r co m qu e m con -
vers ar ! Mas n ã o podi a ne g a r qu e eu tin h a raz ã o. De p o i s
de de c i d i d o o as s u n t o , dei outr a su g e s t ã o: que n ã o havia
pre s s a e m diz e r à cli e n t e qu e a bus c a da m ã e ter m i n a r a
defi n i t i v a m e n t e ; seri a m e l h o r es p e r a r at é qu e tiv é ss e mo s
con v e r s a d o co m a pr ó pria m ã e do be b ê .
Ante s de ir deit ar , tel e f o n e i para Fred Durki n , Orrie
Cath e r e Sally Corb e t t , a fim de lhe s diz e r que o cas o fora
en c e r r a d o , do pon t o de vista de Wolf e , para n ã o falar no
me u . Tam b é m pe n s e i e m ligar para o apar t a m e n to de
Carol Mar d u s na Rua 83, a fim de co nvi d á -la para no s
visit ar no dia se g u i n t e de ma n h ã , ma s ac h e i m e l h o r n ã o
per m i t i r que tive s s e a noit e tod a para pe n s a r no as s u n t o .
De s c o b r i , na sext a- feira de ma n h ã , qu e na realid a d e
tiver a a noit e tod a para pe n s a r . Plan e j e i lig ar para se u
es c r i t ó rio l á pel a s dez hora s , ma s à s dez para as nov e ,
qua n d o es t av a na cozi n h a co m e n d o ba c o n e boli n h o s de
mil h o co m m e l , o tel e f o n e toc o u . Ate n d i na cozi n h a e
dis s e as palavr a s habi t u a i s . Um a voz de mul h e r dis s e qu e
go s t a r i a de falar co m Ner o Wolf e . Re s p o n d i qu e iss o s ó
seri a pos s í vel dep o i s das onz e hora s , qu e eu era se u
as s i s t e n t e co n fi d e n c i a l e talv e z pud e s s e ajud ar .
— O se n h o r é Archi e Good w i n ? — per g u n t o u ela.
— So u .
— Talve z já te n h a ouvid o m e u no m e . Carol Mard u s
— Si m , Srta. Mard u s , já ouvi.
— Est o u tel e f o n a n d o para per g u n t a r . . . — fez um a
pau s a . — So u b e qu e est ã o faz e n d o per g u n t a s a m e u res -
peit o . Aqui e m Nova Iorq u e e ta m b é m na Fl ó rida. Sab e
alg u m a coi s a a res p e i t o ?
— Sim . As per g u n t a s fora m feit a s a pe di d o do Sr.
Wolf e .
— Por qu e . . . — fez outr a pau s a — por qu ê ?
— Ond e est á , Srta. Mard u s ?
— Nu m a cabi n e tel e f ô nic a. Est o u ind o para o
es c r i t ó rio. Iss o te m imp o r t â nci a?
— Talve z te n h a . E m e s m o qu e es t e j a nu m a cabi n e
fec h a d a , pref e r i a n ã o dis c u t i r o as s u n t o por tel e f o n e . Su -
pon h o qu e a se n h o r i t a ta m b é m n ã o dev e go s t a r . Tom o u
mu i t o cuid a d o e fez mui t a de s p e s a para que o be b ê
fic a s s e e m se g r e d o .
— Que be b ê ?
Ora, vam o s . É mui t o tard e para iss o . Mas se insi s t e
e m obt e r um a res p o s t a , o Sr. Wolf e pod e r á ate n de- la à s
onz e hor a s , aqui no es c r i t ó rio del e .
Um a pau s a mai o r: — Pos s o ir ao m e i o - dia.
Assi m seri a ó tim o . Fala n d o por mi m , Srta. Mar du s,
es t o u ag u a r d a n d o sua visit a co m praz e r .
Ao de s l i g a r e volt ar para os boli n h o s de mil h o , ia
pe n s a n d o : “Est o u m e s m o ! Qua n t o te m p o lev e i para ach á -
la.”
Ao ter m i n a r a se g u n d a x ícara de caf é , fui ao es c r i -
t ó rio e fiz mi n h a s tare f a s . Tel e f o n e i para a es t u f a pel o
int e r f o n e . Se nad a lhe co m u n i c a s s e , Wolf e est a r i a cer t o
de qu e iria v ê -la na poltr o n a ver m e l h a qua n d o de s c e s s e ,
poi s me dera ins tr u çõ es para traz ê -la ao es c r i t ó rio à s
onz e hora s , e ficari a sati s f e i t o ao sab e r qu e teria um
int e r v a l o de um a hor a ant e s de pre c i s a r trab al h a r .
Qua n d o lhe co n t e i que ela lhe pou p a r a un s n í qu e i s ao no s
cha m a r , e qu e aqui es t ar i a ao m e i o - dia, res p o n d e u :
— Bo m !
O int e rv a l o seri a ó tim o para mi m ta m b é m. Dis s e a
Fritz que ia sair. Fui at é à Rua 11, dis s e a Lucy qu e
t ính a m o s su s p e n d i d o a farra na Pra ç a Was h i n g t o n e qu e
mai s tard e co n t a r i a tud o , tirei as c â m e r a s do carri n h o do
be b ê , lev e i- as de volt a para Al Pos n e r e dis s e - lhe qu e
ma n d a s s e a co n t a .
Qua n d o a ca m p a i n h a da rua toc o u à s doz e hora s e
dez mi n u t o s , fui at é a porta e vi, afin a l , a m ã e e m pe s s o a ;
mi n h a pri m e i r a impr e s s ã o foi que , se Ric h a r d Vald o n se
dis tr a í a co m iss o qua n d o tin h a Lucy, era lou c o . Se fos s e
20 ano s mai s velh a , n ã o seri a exa g e r o cha m á -la de brux a.
Mas ap ó s lev á -la ao es c r i t ó rio e se n t a r - m e na min h a pol -
tron a , enq u a n t o ela se aco m o d a v a na poltr o n a ver m e l h a ,
fiqu e i a en c a r á -la. O rost o virad o para Wolf e era tot al -
me n t e dif er e n t e : era um ros t o doc e e pic a n t e , agra d á vel
— talv e z agr a d á vel n ã o seja a palavr a cert a . Ape n a s ela
n ã o mo s t r a r a es s a fac e t a a qu e m lhe abrir a a porta . Al é m
dis s o , sua voz n ã o est a v a doc e qua n d o dis s e a Wolf e co m o
es t av a co n t e n t e e m est ar e m sua cas a e co n h e c ê -lo. Era
ó bvio qu e a ous a d i a qu e sua voz e olh o s tran s m i t i a m n ã o
era fin g i d a ; era nat u r a l , na s c e r a co m ela.
Wolf e rec o s t a r a - se, en c a r a n d o - a:
— Pos s o lhe devo lv e r o cu m p r i m e n t o , ma d a m e —
res p o n d e u ele —, te n h o mu i t o praz e r e m co n h e c ê -la. H á
sei s se m a n a s qu e a pro c u r o .
— Proc u r a r - m e ? A mi m ? Me u no m e est á no cat á lo go.
Na revis t a Dis t a f f , m e u no m e est á no cab e ç alh o . — Sua
voz e olh ar dava m a en t e n d e r qu e teria ador a d o falar co m
ele .
Wolf e ac e n o u : — Mas eu n ã o sabi a dis s o . Sabi a
ape n a s qu e tiver a um filh o e livrara- se del e . Tive de...
— O se n h o r n ã o sabi a qu e eu tive um filh o . N ão
podi a sab e r .
— Agor a sei. Enq u a n t o es t av a gr á vida, dura n t e os
ú lti m o s qua tr o m e s e s , es t e v e hos p e d a d a na cas a da Sra.
Arth ur P. Jorda n e m Sara s o t a , Fl ó rida. De u en tr a d a no
Ho s p i t a l Geral de Sara s o t a no dia 16 de jan e ir o , co m o
Clara Waldr o n , e o beb ê nas c e u naq u e l a noit e . No dia 5
de feve r e i r o , qua n d o to m o u um avi ã o e m Tam p a para
Nov a Iorq u e , aind a co m o Clara Waldr o n , o beb ê es t av a
co m a se n h o r a . O qu e fez co m el e e ond e el e es t á agor a ?
Ela de m o r o u a res p o n d e r , ma s a voz era qu a s e a
me s m a :
— N ã o vim at é aqui para res p o n d e r a per g u n t a s . Vim
faz e r alg u m a s . O se n h o r ma n d o u um ho m e m faz er
per g u n t a s a m e u res p e i t o aqui e m Nov a Iorq u e e na Fl ó -
rida. Por qu ê ?
Wolf e aper t o u os l á bio s .
— N ã o h á raz ã o mai s para es c o n d e r iss o — con c o r -
dou el e . — O retr a t o , Archi e .
Tirei a fot o g r a f i a de de n t r o da gav e t a e dei- a para
ela. Ela olh o u para o retr a t o , para mi m , nova m e n t e para a
fot o g r a f i a e para Wolf e .
— Nu n c a vi iss o ant e s . Ond e a tiro u ?
— No carri n h o do be b ê havia c â m e r a s fot o g r á fica s ,
lá na Pra ç a Was h i n g t o n .
Iss o a con f u n d i u . Abriu a boc a , deix o u - a as si m alg u m
te m p o e dep o i s fec h o u - a. Olho u de novo a foto g r a f i a ,
se g u r o u - a entr e o pol e g a r e o indi c a d o r , ras g o u - a, tor n o u
a ras g a r e col o c o u os pe d a c i n h o s na m e s i n h a ao se u lado.
— N ó s te m o s mai s — dis s e Wolf e — se qui s e r levar de
le m b r a n ç a.
Torn o u a abrir e fec h a r a boc a , ma s n ã o emitiu
ne n h u m so m . .
— No total — co n t i n u o u Wolf e — tirar a m retr a t o de
mai s de 10 0 pe s s o a s , ma s o se u me r e c e u um de s t a q u e
es p e c i a l porq u e a se n h o r a ch e g o u à pra ç a de t á xi, co m o
ú nic o obje t iv o de olh ar o beb ê naq u e l e det e r m i n a d o
carri n h o , poi s vira o retr a t o del e e da enf e r m e i r a nu m
jornal. A se n h o r a dis s e . . .
— Me u De u s — dis s e final m e n t e —, foi por es s e
mo t iv o que ela fez iss o . O se n h o r foi o cul p a d o .
— Eu su g e r i . A se n h o r a dis s e qu e n ã o veio res p o n der
à s per g u n t a s , ma s si m p l i fi c a r á tud o se fize r o qu e pe ç o.
Con h e c e o Sr. Leo Bin g h a m ?
— O se n h o r sab e qu e si m , já and o u m e inve s t i g a n d o .
— Con h e c e o Sr. Julia n Haft?
— Si m .
— Con h e c e o Sr. Willi s Kru g , já qu e foi cas a d a co m
ele . Tod o s os retr a t o s tirad o s por aqu e l a s c â m e r a s fora m
mo s t r a d o s a es s e s tr ê s ho m e n s . Alg u m del e s é o pai de
se u be b ê ?
— N ã o!
— O pai era Ric h a r d Vald o n ?
Ne n h u m a res p o s t a .
— Quer faz e r o favor de res p o n d e r , mad a m e ?
— N ã o.
— N ã o qu e r res p o n d e r , ou el e n ã o era o pai.
— N ã o vou res p o n d e r .
— Eu a ac o n s e l h o a res p o n d e r . Já se sab e qu e anti -
ga m e n t e a se n h o r a tev e lig a çõ es í nti m a s co m Ric h a r d
Val don . Se con t i n u a r m o s a inve s t i g a r , ficar e m o s sab e n d o
se ren o v o u es s a s lig a çõ es na pri m a v e r a do an o pas s a d o .
Ne n h u m co m e n t á rio.
— Quer res p o n d e r ?
— N ã o.
— Nu m a data pos t e r i o r , a se n h o r a deix o u o beb ê no
ves t í bul o da cas a da Sra. Vald o n na Rua 11?
Ne n h u m a res p o s t a .
— Quer faz e r o favor de res p o n d e r ?
— N ã o.
— A se n h o r a es c r e v e u a m e n s a g e m qu e es t av a pre sa
co m um alfi n e t e no cob e r t o r do be b ê , qua n d o el e foi
col o c a d o no ves t í bul o da Sra. Vald o n ? Quer faz e r o favor
de res p o n d e r ?
— N ã o.
— Rec o m e n d o - lh e qu e res p o n d a a est a per g u n t a ,
mad a m e . Com o sabi a qu e o be b ê qu e a Sra. Vald o n tin h a
e m cas a , co nf o r m e foi dito no arti g o de jornal, era o se u
be b ê ?
Ne n h u m a res p o s t a .
— Por favor, re s p o n d a .
— N ã o.
— Ond e a se n h o r a est e v e na noit e de do m i n g o , 20 de
mai o ? Por favor, res p o n d a .
— N ã o.
— Ond e a se n h o r a est e v e na noit e de sext a - feira, 8 de
junh o ? Por favor, res p o n d a .
Ela leva n t o u - se, sai u , e, para ser just o , ca m i n h o u
alta n e i r a e suav e m e n t e . Teria de and ar r á pid o se quis e s s e
ch e g a r à port a da fre n t e ant e s del a, port a n t o , fui ape n a s
at é o corr e d o r . Dep o i s qu e sai u e fec h e i a port a , en tr e i no
es c r i t ó rio, volt e i para mi n h a es c r iv a n i n h a , se n t e i - me e
olh e i para Wolf e . Ele olh o u de volt a para mi m .
— Grrr — dis s e ele .
— Aqu e l a ú lti m a per g u n t a . . . — fale i.
— Que é qu e te m ?
— Talve z fos s e um pou c o . . . h ã ... pre m a t u r a . É
pos s ível, ma s é um a hip ó te s e re m o t a , qu e nad a saib a a
res p e i t o de Elle n Ten z e r . Se a id é ia era faz er co m qu e ela
co m e ç as s e a inve s t i g a r , n ã o dev e r í am o s ter Sau l de pron -
tid ã o? Ou tod o s os tr ê s?
— Bob a g e m . Ser á qu e ela é tola?
— N ã o.
— Ent ã o at é o pr ó prio Saul podi a se g u i - la?
— É prov á vel que n ã o. Ent ã o por qu e lh e per g u n tou
sobr e o dia 8 de jun h o ?
— Ela veio aqui para de s c o b r i r o qua n t o sab e m o s .
Vale u a pe n a ter dito a ela qu e nos s o int e r e s s e n ã o se
res tr i n g e s ó ao be b ê e se u s pai s, que es t a m o s ta m b é m
pre o c u p a d o s , m e s m o qu e ape n a s de pas s a g e m , co m o as -
sas s i n a t o de Elle n Ten z e r .
— OK. — Duvid a v a qu e tud o es tiv e s s e be m , ma s n ã o
adia n t a v a fic ar insi s t i n d o . — E o qu e far e m o s a se g u i r ?
— N ã o sei. — Olho u - me , zan g a d o . — Que diab o , n ã o
so u um rel â mp a g o . Vou pe n s a r . Provav e l m e n t e vou
qu e r e r ver o Sr. Bin g h a m , o Sr. Haft e o Sr. Kru g, para
lhe s per g u n t a r por qu e n ã o a rec o n h e c e r a m , ma s pod e
ser qu e is s o n ã o te n h a imp o r t â ncia. Vou pe n s a r . Ser á qu e
ela vai falar co m a Sra. Vald o n ? Ser á qu e est á ind o para
lá ag or a ?
— N ã o. Pod e apo s t a r o qu e qui s e r .
— Ser á qu e a Sra. Vald o n ou o be b ê es t ã o e m peri g o ?
Pe n s e i dur a n t e cin c o se g u n d o s e aba n e i a cab e ç a:
— Creio qu e n ã o.
— Eu ta m b é m. Vá falar co m ela e dig a qu e volt e para
a praia. Vá co m ela, ac o m p a n h e - a. Volt e es s a noit e . Se
fic ar aqui vai me am o l a r e vam o s aca b a r brig a n d o .
Ama n h ã fare m o s alg u m a coi s a . S ó n ã o sei o qu ê .
— A Sra. Vald o n vai qu e r e r ficar co m se u pr ó prio
carr o na prai a — prot e s t e i . — Dep o i s de lhe con t a r tud o ,
ter e i tod a a tard e e a noiti n h a para verifi c a r o que Carol
Mard u s fez no dia 20 de mai o .
— N ã o! — De u um murr o na m e s a . — Um idio t a
pod e r i a faz e r iss o . Ser á qu e n ã o te n h o ima g i n a çã o? N ã o
so u es p e r t o ? So u um idio t a ?
Levan t e i - me: — N ã o me per g u n t e porq u e re s p o n d o .
Be m que eu pos s o . Dig a a Fritz para gu ar d a r um pou c o de
lag o s t a para mi m qua n d o eu voltar hoj e à noit e . A co m i d a
na praia dev e r á ser pou c a .
E sa í , te n d o pri m e i r o sub i d o para ves t ir um a ca m i s a
lim p a .
De s s e mo d o , cin c o hora s mai s tard e es t av a est i c a d o
na arei a, à beir a do Atl â ntic o . Se es ti c a s s e o bra ç o, m e u s
de d o s toc ar i a m na clie n t e . Sua rea çã o ao rela t ó rio fora
t ípic a de um a mul h e r . Quer i a sab e r o que Carol Mard u s
dis s e r a , palavr a por palavr a , qual era a su a apar ê ncia e o
qu e ves t i a . Dava a ent e n d e r qu e o mo d o co m o se ves t i a
tin h a um a influ ê nci a dire t a na res p o s t a à per g u n t a :
“Ric h a r d Valdo n era o pai do be b ê ?”, ma s é clar o qu e ne m
lig u e i para iss o . N e n h u m ho m e m co m um pou c o de ju í zo
pod e sup o r qu e as palavr a s de um a mul h e r te n h a m ,
exat a m e n t e , o m e s m o sig n i f i c a d o para am b o s .
É clar o qu e que r i a sab e r o qu e ir í am o s faz e r ag or a .
Re s p o n d i qu e , se sou b e s s e , n ã o es t ar i a ag or a naq u e l e mo -
me n t o co m ela, est a r i a e m outr o lug a r a exe c u t á -lo.
— A dific u l d a d e — dis s e eu — é qu e o Sr. Wolf e é um
g ê nio. Um g ê nio n ã o se pre o c u p a co m o trab a l h o nor m a l ,
co m o ma n d a r se g u i r alg u é m. Te m qu e faz e r acr o b a c i a s ,
to m a r o ca m i n h o mai s curt o . Qual q u e r pe s s o a pod e tirar
um co e l h o do ch a p é u, ent ã o ele te m de tirar o ch a p é u do
co e l h o . Esta noit e ficar á se n t a d o no es c r i t ó rio, rec o s t a d o ,
os olh o s fec h a d o s , mov e n d o os l á bio s para de n t r o e para
fora, para de n t r o e para fora. Talve z te n h a sid o de s s e
mo d o qu e Newto n de s c o b r i u a lei da gravi d a d e ,
rec o s t a d o , de olh o s fec h a d o s e mov e n d o os l á bio s .
— N ã o foi as s i m . Foi um a ma çã qu e cai u.
— Claro. Estav a de olh o s fec h a d o s e a ma çã bat e u no
nariz del e .
Pou c o dep o i s da me i a- noit e , ao voltar para a velh a
cas a de tijolo s , es p e r a v a en c o n t r a r e m mi n h a m e s a um
rec a d o diz e n d o qu e fos s e ao quar t o de Wolf e à s oit o
hor a s e quin z e mi n u t o s da ma n h ã , ma s n ã o havia nad a .
Evid e n t e m e n t e sua ima g i n a çã o e es p e r t e z a n ã o tin h a m
prod u z i d o nad a . Mas as de Fritz tin h a m . Havia na coz i nh a
um prat o de lag o s t a à la Card e a l e um pir e s co m qu e ij o
par m e s ã o ralad o . Colo q u e i o qu e ij o por ci m a e pus no
for n o , beb i leit e e fiz caf é en q u a n t o o prat o grati n a v a .
Enq u a n t o iss o , pe n s a v a qu e , qua n d o Fritz de s c e s s e ap ó s
ter lhe leva d o a ban d e j a de caf é , talv e z tro ux e s s e ins tr u -
çõ es para eu subir e rec e b e r ord e n s . Agor a qu e de s c o b r í -
ram o s a m ã e, pre c i s á vam o s de s c o b r i r um rev ó lver.
Nad a feit o . Qua n d o Fritz volt o u à cozi n h a no s á bad o
de ma n h ã , à s oit o hor a s e vint e mi n u t o s n ã o dis s e nad a . E
eu qu e s ó dor m i r a sei s hor a s para es t ar ac or d a d o a
te m p o ! De c i d i provo c á -lo um pou c o , seri a m e l h o r v ê -lo no
quart o ant e s de sub ir para ver as orqu íde a s . Ent ã o co m i
de pr e s s a os ovo s es c a l d a d o s à la Cre ol e e os p ã ezi n h o s
torra d o s , de s i s t i da se g u n d a x í cara de caf é e es t av a
empurran d o a cad e i r a para m e leva n t a r qua n d o o tel e -
fon e toc o u .
Era Saul . Per g u n t o u se ouvir a o noti c i á rio das oit o
hor a s e trin t a min u t o s e res p o n d i qu e n ã o, est a v a pe n -
san d o .
— Ent ã o tra g o m á s not í cia s — dis s e . — H á cer c a de
tr ê s hor a s , um tira en c o n t r o u um cad á ver, nu m a rue l a
qu e d á e m Perry Str e e t , qu e foi ide n t i f i c a d o co m o Carol
Mard u s . Ela foi es tr a n g u l a d a .
Tent e i falar alg u m a coi s a , ma s o so m n ã o sa ía. Mi -
nha gar g a n t a est av a ent u p i d a . Pig arr e e i : — Mais alg u m a
coi s a ?
— N ã o, foi s ó iss o .
— Obri g a d o . N ã o pre c i s o lhe diz e r para ficar de bic o
cala d o .
— É clar o .
— E ag u a r d e . — De s li g u e i .
Olh e i o rel ó gio: faltav a m oito mi n u t o s para as nov e
hor a s . Fui at é o corr e d o r , sub i um and ar , en c o n t r e i a
porta ab er t a e en tr e i . Wolf e ter m i n a r a o caf é e es t av a de
p é , e m ma n g a s de ca m i s a , co m o pal e t ó na m ã o.
— O qu e foi? — per g u n t o u .
— Sau l aca b a de tel e f o n a r dan d o um a not í cia qu e foi
dad a ag or a no noti c i á rio das oit o hor a s e trint a mi n u tos.
O cor p o de Carol Mard u s foi en c o n t r a d o nu m a ruel a por
um tira. Estr a n g u l a d a .
Su a cara fic o u fer oz: — N ã o!
— Si m .
Atiro u o pal e t ó para mi m .
Pas s o u por pert o , ma s n ã o o apa n h e i , poi s es t av a
ator d o a d o . Ne m acr e d i t a v a qu e ele tive s s e feit o iss o .
Enq u a n t o ficav a im ó vel, s ó a olh á -lo, ele foi at é o tel e fon e
int e r n o , qu e ficav a nu m a m e s a per t o da jan e l a , aper tou o
bot ã o, leva n t o u o fon e e dis s e , nu m a voz ch e i a de raiva:
— Bo m dia, The o d o r e . N ã o irei vê -lo est a ma n h ã .
Colo c o u o fon e no ga n c h o e co m e ç ou a and ar de um
lad o para o outr o . Jamai s fize r a is s o . De p o i s de m e i a
d ú zia de volta s , apa n h o u o pal e t ó , ves t i u - o e diri gi u - se
para a port a.
— Para ond e vai? — per g u n t e i .
— Para a es t u f a — dis s e , ao mes m o te m p o qu e
ca m i n h a v a para o el ev a d o r . Ele n ã o es t av a bo m da cab e -
ç a. De s c i e fui beb e r mi n h a se g u n d a x í cara de caf é .
15
16
17
18
19
20
Se n t a d o à m e s a de caf é na cozi n h a e m um a ma n h ã da
se m a n a pas s a d a , o tip o de ma n h ã fria e co m nev e de
jan e ir o , qua n d o é agr a d á vel ficar na jan e l a a olh ar para
fora, ma s t i g u e i deva g a r m e u ter c e i r o ped a ç o de pan q u e c a
co m car n e de por c o , en g o l i - o e dis s e para Fritz:
— Est á cria n d o de novo?
Ele de u um sorri s o : — Est á apr e n d e n d o a ter pala -
dar, Archi e . A dis t i n g u i r . Daq u i a dez an o s voc ê ter á
pala d a r . Sab e o qu e fiz?
— É clar o qu e n ã o. Mas fez alg u m a coi s a . O qu ê ?
— Di mi n u í um pou c o a s á lvia e pu s um pou c o mai s
de or é ga n o . O que é qu e voc ê ac h a?
— Ach o que voc ê é um g ê nio. Dois g ê nio s na m e s ma
cas a e um del e s é fá cil de se co nviv e r . Voc ê pod e con t a r
para o outr o o qu e aca b e i de diz er .
Comi mai s u m pou c o de pan q u e c a , se m ba c o n . Em
ger a l eu co m o ba c o n de p o i s de co m e r dua s ou tr ê s
garf a d a s de pan q u e c a , ma s que r i a de s e n v o l v e r meu
pala d a r .
— Fala n d o nel e , leu o jornal da ma n h ã ?
— Sim . Aqu e l e as s a s s i n o , Haft, ne g a r a m sua ap e -
la çã o.
— Ele vai te n t a r de novo. Ten d o din h e i r o para pa gar
o advo g a d o , pod e - se faz e r m ui t a coi s a . Ess a é um a das
de s v a n t a g e n s de ser pobr e , n ã o se pod e mat a r nin gu é m.
Ele es t av a ao fog ã o, viran d o a nova roda d a de pan -
qu e c a s .
— De s c u l p e t ê -lo feit o es p e r a r , Archi e , ma s a gr e l h a
es t av a fria. S ó pe n s e i qu e de s c e s s e mai s tard e . Voc ê dis s e
qu e ia ao Fla m i n g o .
Eng o l i pan q u e c a co m ba c o n .
— Lá est á voc ê faz e n d o rod e i o s de nov o. Voc ê po dia
ape n a s per g u n t a r por qu e n ã o fui ao Fla m i n g o , e, se fui,
por qu e volt e i para ca s a ced o .
— Bie n . Est o u per g u n t a n d o .
-— Ótim o . Eu res p o n d o . Pri m e i r o , fui. Se g u n d o ,
volt e i para cas a ce d o porq u e sa í mo s ced o . Terc e ir o , sa í -
mo s ce d o por q u e o beb ê es t av a co m febr e e min h a ami g a
es t av a pre o c u p a d a . Um a mu l h e r pre o c u p a d a n ã o dev e r i a
es t ar dan ç and o . Iss o abra n g e tud o ?
— Si m .
Veio apa n h a r o m e u prat o e log o volt o u co m pan -
qu e c a s .
— Ele ta m b é m es t á pre o c u p a d o , Archi e . Est á ac h a n -
do qu e h á peri g o de voc ê se cas a r co m ela.
— Sei dis s o , ma s para mi m é ó tim o . Nu m m ê s ou dois
pos s o pedir um au m e n t o .
Comi um pou c o de pan q u e c a co m or é ga n o .
Est a obra foi digi t a l i z a d a e revis a d a pel o gru p o Digi t a l So ur c e para
prop o r c i o n a r , de ma n e i r a tot al m e n t e grat u i t a , o be n e f í c i o de sua
leit u r a àqu e l e s qu e não pod e m co m p r á - la ou àqu e l e s qu e
ne c e s s i t a m de m e i o s el e tr ô n i c o s para ler. De s s a for m a , a ven d a
des t e e- boo k ou até mes m o a sua troc a por qual q u e r
co n t r a p r e s t a ç ã o é total m e n t e co n d e n á v e l em qual q u e r
circ u n s t â n c i a . A ge n e r o s i d a d e e a hu m i l d a d e é a mar c a da
dis tri b u i ç ã o , port a n t o dis tri b u a es t e livro livr e m e n t e .
Após sua leit u r a co n s i d e r e seri a m e n t e a pos s i b i l i d a d e de adq u i ri r o
ori gi n a l , poi s as s i m voc ê est a r á inc e n t i v a n d o o aut or e a publi c a ç ã o
de nova s obra s .
Se qui s e r outr o s títul o s nos pro c u r e :
http:// g r o u p s . g o o g l e . c o m / g r o u p / V i c i a d o s _ e m _Livr o s , ser á um praz e r
rec e b ê - lo em no s s o gru p o .