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w ma euosQiu cp ciucifiaid o ciqos

waller
benjamin
sobre
o programa
da filosofia
por vir
tradução e posFÂcio iielapo ribeiro

Q L E T R A aJ
Copyright da tradução © 2019 Helano Ribeiro
Do original alemão "Über das Programm der kommenden Philosophie”.
A tradução do ensaio “Über das Programm der kommenden Philosophie” teve como
base a edição dos escritos reunidos de Walter Benjamin [Gesammelte Schriften], edita­
dos pela Suhrkamp, sob direção de Theodor Adorno e Gershom Scholem e organiza­
dos por Hermann Schweppenhäuser e R olf Tiedemann.

Todos os direitos desta edição reservados a Viveiros de Castro Editora Ltda.


Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009.

Produção editorial
Alice Garambone
Isadora Travassos
João Saboya
Julia Roveri
Rodrigo Fontoura
Sofia Vaz
Revisão do alemão
Marcus Tulius Franco Morais

CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

B416S

Benjamin, Walter, 1892-1940


Sobre o programa da filosofia por vir / Walter Benjamin ; tradução Helano
Ribeiro. -1. ed. - Rio de Janeiro : 7 Letras, 2019.
Tradução de: Über das Programm der kommenden Philosophie
"Texto em português e alemão"
ISBN 978-85-421-0797-5
1. Filosofia alemã. I. Ribeiro, Helano. II. Título.

19-58775 CDD: 193


CDU: 1(430)

Leandra Felix da Cruz - Bibliotecária - CRB-7/6135

2019
Viveiros de Castro Editora Ltda.
Rua Visconde de Pirajá, 580/sl. 320 - Ipanema
Rio de Janeiro - r j - cep 22410-902
Tel. (21) 2540-0076
editora@7letras.com.br - www.7letras.c0m.br
Sumário

Ü ber das P rogram m d e r kom m enden Philosophie (1917/1918) 8


Sobre o program a da filosofia por vir (1917/1918) 9

P O S F Á c io

Walter Benjam in: a filosofia por vir nos braços do Messias


H elan o R ib eiro 59
Über das Programm der
kommenden Philosophie
( 1917/ 1918)
Sobre o programa
da filosofia por vir
( 1917/ 1918)
Es ist die zentrale A ufgabe d e r k o m m en d en Philosophie die

tiefsten Ahnungen die sie aus d e r Z e it u n d d em Vorgefühle

einer großen Zukunft schöpft durch d ie B ez ieh u n g a u f das

Kantische System zu Erkenntnis w erd en zu lassen. Die

historische Kontinuität die durch den A n sch lu ß an das

Kantische System gewährleistet w ird ist zugleich d ie einzige

von entscheidender systematischer Tragweite. D en n Kant

ist von denjenigen Philosophen denen es nicht unmittelbar

um den Umfang und die Tiefe, sondern vo r A llem , und

zuallererst, um die Rechtfertigung d e r E rken n tn is g in g der

jüngste und nächst Platon auch w ohl d e r Einzige. Diesen

beiden Philosophen ist die Zuversicht gem einsam , d a ß die

Erkenntnis von der w ir die reinste R echenschaft haben

zugleich die tiefste sein werde. Sie haben d ie F o rd eru n g der

Tiefe aus der Philosophie nicht verbannt, sondern sie sind

ihr in einziger Weise gerecht geworden indem sie sie m it der

nach Rechtfertigung identifizierten. Je unabsehbarer u n d

kühner die Entfaltung der kom m enden Philosophie sich

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A tarefa cen tral d a filo so fia p o r v ir se rá a p re e n d e r as m ais

p ro fu n d a s id eias, as q u a is ela retira d o te m p o e d o p re s­

ságio d e um g ra n d e fu tu ro, e tra n sfo rm á -la s em c o n h e ­

cim e n to ao re la c io n á -la s a o siste m a k an tian o . A c o n ti­

n u id ad e h istó rica g a ra n tid a p ela c o n e x ã o co m o sistem a

kan tian o é, ao m e s m o tem po , a ú n ic a d e a lc a n c e siste m á ­

tico d ecisivo . D a q u e le s filó so fo s q u e n ão se p re o c u p a v a m

d ire tam en te c o m a e x te n sã o e a p ro fu n d id a d e d o c o n h e ­

cim en to , m as, an tes, e, a c im a d e tu d o, c o m su a ju s t ific a ­

ção,' K an t é o m a is re ce n te e p ró x im o a P latão , talvez o

ú nico. A m b o s o s filó so fo s c o m p a rtilh a m d a c o n v ic ç ã o

d e q u e o c o n h e c im e n to m a is p r o fu n d o será, a o m e sm o

tem p o , a q u e le d o q u a l c o n ta m o s c o m a m a is p u ra ju s t ifi­

cativa. E le s n ã o b a n ira m a e x ig ê n c ia d e p r o fu n d id a d e d a

filo so fia , m a s lh e fiz e ra m ju s tiç a a o id e n tific á -la , d e m o d o

ú n ico , c o m a e x ig ê n c ia d e ju stific a ç ã o . Q u a n to m ais

im p re v isív e l e a u d a z fo r o d e sd o b ra m e n to d a filo so fia p o r

u
ankündigt, desto tiefer muß sie nach G ew iß heit ringen deren
Kriterium die systematische E inheit oder die Wahrheit ist.
D ie bed eu ten d ste H e m m u n g w e lc h e d e m Anschluß

ein er w a h rh a ft zeit- u n d e w ig k e its b e w u ß te n Philosophie

an K an t sich bietet ist je d o c h in F o lg e n d e m z u finden:

diejenige W irklichkeit d e re n E r k e n n tn is u n d m it d e r er die

Erkenntnis a u f G e w iß h e it u n d W a h rh eit g r ü n d e n wollte,

ist eine W irklichkeit n ied ern , v ie lle ic h t n ie d e rsten Ranges.

D as Problem d e r K antisch en w ie j e d e r g ro ß e n Erkennt­

nistheorie hat zw ei Seiten u n d n u r d e r e in e n S eite hat er

eine gültige E rklä ru n g zu g eb en verm o ch t. E s w a r erstens

die Frage nach d er G ew iß h eit d e r E rk e n n tn is d ie bleibend

ist; und es w ar zweitens d ie Frage nach d e r D ig n itä t einer

E rfahrung die vergänglich war. D en n d a s u n iv e rsa le p h ilo ­

sophische Interesse ist stets zugleich a u f d ie zeitlose Gültig­


keit der Erkenntnis und a u f d ie G e w iß h e it e in e r zeitli­
chen Erfahrung, die als deren nächster w en n nicht einziger
Gegenstand betrachtet w ird gerichtet. N u r ist d en P h iloso­
phen diese Erfahrung in ihrer gesam ten S tru k tu r nicht als
eine singulär zeitliche bewußt gewesen u n d sie w a r es auch
Kant nicht. Hat Kant auch, vor Allem in den Prolegom ena,
die Prinzipien der Erfahrung aus den W issenschaften u n d
besonders der mathematischen Physik abnehm en w ollen,
so war ihm doch zunächst und auch in d e r K ritik der
reinen Vernunft die Erfahrung selbst u nd schlechthin nicht
vir, mais profunda será a luta por certeza, cujo critério e a
unidade sistemática ou a verdade.
No entanto, o obstáculo mais significativo que impede a
conexão com Kant de uma filosofia verdadeiramente cons­
ciente da eternidade e do tempo é encontrado no seguinte:
aquela realidade, em cujo conhecimento e com a qual ele
buscou basear o conhecimento na certeza e na verdade, é
uma realidade de categoria inferior, talvez uma das mais
inferiores. O problema da epistemologia de Kant, assim
como toda grande epistemologia,1 tem dois lados; e ape­
nas de um deles ele foi capaz de dar uma explicação válida.
Tratava-se, em primeiro lugar, de uma questão relativa à
certeza do conhecimento permanente e, em segundo lugar,
da questão relativa à dignidade de uma experiência efê­
mera. Isso porque o interesse filosófico universal é sempre
dirigido, ao mesmo tempo, à validade atemporal do conhe­
cimento e à certeza de uma experiência temporal que é
considerada o objeto imediato, senão o único, desse conhe­
cimento. Essa experiência, entretanto, jamais foi dada de
modo consciente aos filósofos como uma experiência sin­
gular temporal, em toda sua estrutura, nem mesmo a Kant.
O filósofo pretendia, sobretudo nos Prolegômenos, extrair
os princípios da experiência das ciências, em especial, da
física matemática - embora na Crítica da razão pura a expe­
riência não fosse, para ele, a princípio, pura e simplesmente

13
mit der Gegenstandsweh jener Wissenschaft identisch; und

selbst wenn sie es ihm geworden wäre so w ie sie es den

neukantischen Denkern geworden ist, so bliebe doch der

so identifizierte und bestimmte immer noch d e r alte E rfah ­

rungsbegriff, dessen bezeichnendstes M erkm al sein e Bezie­

hung nicht nur auf das reine sondern zugleich auch a u f das

empirische Bewußtsein ist. Um eben das a b er h an delt es

sich: um die Vorstellung von der nackten p rim itiv e n und

selbstverständlichen Erfahrung die Kant als M ensch en der

irgendwie den Horizont seines Zeitalters geteilt h at die

einzig gegebene ja die einzig mögliche schien. D iese E rfa h ­

rung jedoch war, wie es schon angedeutet ist, eine singuläre

zeitlich beschränkte und über diese Form hinaus die sie in

gewisser Weise mit jeder Erfahrung teilt, w a r diese E rfa h ­

rung die man auch im prägnanten Sinne W eltanschauung

nennen könnte, die der Aufklärung. Sie unterschied sich

in den hier wesentlichsten Zügen aber nicht allzu sehr von

der der übrigen Jahrhunderte der Neuzeit. D iese w a r eine

der niedrigst stehenden Erfahrungen oder A nschauungen

von der Welt. Daß Kant sein ungeheures Werk gera d e unter

der Konstellation der Aufklärung in A n griff nehm en konnte

besagt, daß dieses an einer gleichsam a u f den N ullpunkt, a u f

das Minimum von Bedeutung reduzierten E rfa h ru n g vorge­

nommen wurde. Ja man darf sagen, daß eben die Größe

seines Versuches, der ihm eigene Radikalismus ein e solche

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idêntica ao mundo dos objetos daquela ciência; e mesmo
se tivesse chegado a sê-lo, como foi para os pensadores
neokantianos, o conceito de experiência assim identifi­
cado e determinado continuaria ainda a ser, com efeito,
o mesmo conceito antigo de experiência, cujo traço mais
significativo é, desse modo, sua relação não apenas com a
consciência pura, mas, simultânea e da mesma maneira,
com a consciência empírica. É uma questão que envolve,
precisamente, isso: a representação da nua experiência pri­
mitiva e evidente, a qual para Kant parecia a única possível
e a única aceita para quem, como ele, compartilhou o hori­
zonte de sua época. No entanto, essa experiência foi, como
já indicado, uma forma singular, de limitação temporal e,
mais além dessa forma, que, de certo modo, compartilha
com toda experiência que também poderia ser chamada,
num sentido preciso, de visão de m undo, a visão de mundo
do Esclarecimento.3 M as ela não diferia muito daquela dos
outros séculos da Idade Moderna em suas características
mais essenciais. Essa foi uma das experiências ou visões do
mundo edificadas no nível mais inferior. O fato de Kant ter
sido capaz de lidar precisamente com seu trabalho extraor­
dinário sob a constelação do Esclarecimento significa que
isso foi feito em uma experiência reduzida ao ponto zero,
ao mínimo de significado. Pode-se até dizer que, mesmo
a amplitude de sua tentativa e o radicalismo que lhe era

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Erfahrung zur Voraussetzung hatte d e re n E ig e n w e r t sich

der Null näherte und die eine (w ir d ü r fe n s a g e n : trau­

rige) Bedeutung nur durch ihre G e w iß h e it h ä tte erlangen

können. Kein vor-Kantischer P hilosoph h a t sic h in diesem

Sinne vor die erkenntnis-theoretische A u fg a b e gestellt

gesehen, keiner allerdings auch in d em M a ß e f r e i e Hand

in ihr gehabt, da eine Erfahrung d eren Q u in te sse n z deren

Bestes gewisse Newtonsche Physik w a r d e rb u n d tyran­

nisch angefaßt werden durfte ohne zu le id e n . A u tori­

täten, nicht in dem Sinne daß m an sich ih n e n kritiklos

hätte unterordnen müssen sondern als g eistig e Mächte

die der Erfahrung einen großen Inh alt zu g e b e n verm ocht

hätten, gab es fü r die Aufklärung nicht. Was d a s N iedere

und Tiefstehende der Erfahrung je n e r Z e it ausm acht,

worin ihr erstaunlich geringes spezifisch m etaph ysi­

sches Gewicht liegt wird sich nur a n d eu ten lassen in der

Wahrnehmung wie dieser niedere E rfa h r u n g s b e g riff auch

das Kantische Denken beschränkend b eein flu ß t hat. Es

handelt sich dabei selbstverständlich um d e n selb en Tatbe­

stand den man als die religiöse und historisch e B lin d h eit

der Aufklärung oft hervorgehoben hat ohne z u erkennen

in welchem Sinne diese Merkmale d e r A u fk lä ru n g der

gesamten Neuzeit zukommen.

Es ist von der höchsten Wichtigkeit f ü r d ie kom m ende


Philosophie, zu erkennen und zu sondern w elch e Ele-

16
característico, tinham com o pressuposto aquela experiên­
cia realmente sem valor e que só poderia ter obtido um
sentido (poderíam os dizer: triste) por m eio de sua cer­
teza. Nenhum filósofo pré-kantiano havia se confrontado
com tal tarefa no âm bito da epistem ologia, e nenhum teve,
todavia, tam anha liberdade para operar com ela, uma vez
que uma experiência, cuja quintessência era o m elhor da
física newtoniana, com toda sua exatidão, podia ser abor­
dada grosseira e tiranicam ente sem sofrer danos. Para o
Esclarecimento não havia autoridades - não no sentido
de que elas se sujeitassem sem possibilidade de crítica
- mas autoridades que fossem forças espirituais capazes
de permitir à experiência um conteúdo maior. O consti­
tutivo do plano m ais inferior e profundo da experiência
dessa época, de onde vem seu extraordinário e limitado
peso em termos especificam ente m etafísicos, só pode ser
notado na percepção de com o esse conceito inferior de
experiência também influenciou restritivamente o que é
o pensamento kantiano. Trata-se do mesm o fato, claro,
que muitas vezes tem sido enfatizado com o a cegueira
religiosa e histórica do Esclarecim ento, sem reconhecer
em que sentido essas características do Esclarecimento se
aplicam ao conjunto da Idade M oderna.
É da maior importância para a filosofia por vir reco­
nhecer e diferenciar quais elementos do pensamento

17
mente des Kantischen Denkens aufgenommen und gepfl^
welche umgebildet und welche verworfen werden müssen
Jede Forderung eines Anschließens an Kant beruht auf der
Überzeugung, daß dieses System, welches eine Erfahrung
vor sich fand deren metaphysischer Seite ein Mendelssohn
und Garve gerecht geworden sind, aus der bis zum Genialen
gesteigerten Nachforschung nach Gewißheit und Rechtferti­
gung der Erkenntnis diejenige Tiefe geschöpft und entwickelt
hat, die es einer noch kommenden neuen und hohem Art
der Erfahrung wird adäquat erscheinen lassen. Damit ist die
Hauptforderung an die gegenwärtige Philosophie aufgestellt
und zugleich ihre Erfüllbarkeit behauptet: unter der Typik
des Kantischen Denkens die erkenntnistheoretische Fundie­
rung eines hohem Erfahrungsbegriffes vorzunehmen. Und
das eben soll zum Thema der zu erwartenden Philosophie
gemacht werden, daß eine gewisse Typik im Kantischen Sys­
tem aufzuzeigen und klar abzuheben ist die einer hohem
Erfahrung gerecht zu werden vermag. Die Möglichkeit der
Metaphysik hat Kant nirgends bestritten, nur die Krite­
rien will er aufgestellt haben an denen eine solche Möglich­
keit im einzelnen Fall erwiesen werden könnte. Die Erfah­
rung des Kantischen Zeitalters bedurfte keiner Metaphysik;
zu Kants Zeit war es historisch das einzig Mögliche ihre
Ansprüche zu vernichten, denn der Anspruch seiner Mitge­
nossen auf sie war Schwäche oder Heuchelei. Es handelt sich
18
kantiano devem ser apreendidos e desenvolvidos, quais
devem ser modificados e quais devem ser rejeitados. Toda
exigência de conexão com Kant se baseia na convicção de
que esse sistema, que se deparou com uma experiência
cujo aspecto metafísico Mendelssohn e Garve4 lhe fize­
ram justiça, criou e desenvolveu aquela profundidade
para permitir o surgimento adequado de um novo tipo
de experiência, superior e ainda por vir, a partir da busca
de certeza e justificação do conhecimento, em uma inves­
tigação elevada até o genial. Assim, é colocada a exigência
principal para a filosofia presente e, também, afirmada
sua exequibilidade: elaborar, dentro do sistema do pen­
samento kantiano, os fundamentos epistemológicos de
um conceito superior de experiência. Esse deverá ser,
justamente, o tema da filosofia esperada: que uma certa
tipologia, a qual consiga fazer justiça a uma experiência
superior, possa ser demonstrada e claramente extraída
do sistema kantiano. Kant nunca negou a possibilidade
da metafísica, querendo tão somente estabelecer os crité­
rios pelos quais tal possibilidade poderia ser manifestada
em casos particulares. A experiência da era kantiana não
requeria metafísica; na época de Kant, a única possibi­
lidade histórica era extinguir as pretensões próprias da
metafísica, pois a exigência de seus contemporâneos em
relação a ela era fraqueza ou hipocrisia. Por isso, trata-se

19
darum Prolegomena einer kün ftigen M etaph ysik a u f Grund

der Kantischen Typik zu gewinnen u nd d a b ei diese künf­

tige Metaphysik, diese höhere Erfahrung ins A u g e zu fassen,

Allein nicht nur von der Seite der E rfa h ru n g u nd Meta­

physik muß der künftigen Philosophie d ie R evisio n Kants

angelegen sein. Und methodisch, d. h. als eigentliche Philo­

sophie überhaupt nicht von dieser Seite so n d ern von Seiten

des Erkenntnisbegriffes her. Die entscheidenden Irrtümer

der Kantischen Erkenntnislehre sind w ie nicht zu bezwei­

feln ist auch auf die Hohlheit der ihm gegenw ärtigen Erfah­

rung zurückzuführen, und so w ird auch d ie Doppelaufgabe

der Schaffung eines neuen Erkenntnisbegriffes und einer

neuen Vorstellung von der Welt a u f dem B o d e n d er Philo­

sophie zu einer einzigen werden. D ie Schw äch e des Kanti­

schen Erkenntnisbegriffes ist oft gefü hlt w o rd en indem der

mangelnde Radikalismus und die m a n geln de Konsequenz

seiner Lehre gefühlt worden ist. K ants Erkenntnistheorie

erschließt das Gebiet der M etaphysik nicht w e il sie selbst

primitive Elemente einer unfruchtbaren M eta p h ysik in sich

trägt welche jede andere ausschließt. In d e r Erkenntnistheo­

rie istjedes metaphysische Elem ent ein K rankheitskeim der

sich in der Abschließung der E rken n tn is vo n dem Gebiet

der Erfahrung in seiner ganzen F reih eit u n d Tiefe äußert.

Die Entwicklung der Philosophie ist d a d u rc h zu erwarten

daß jede Annihilierung dieser m etaphysischen Elem ente in

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de ganhar prolegômenos de uma metafísica vindoura5
com base na tipologia kantiana, enquanto aguardamos essa
metafísica vindoura, essa experiência superior.
No entanto, não é apenas do princípio da experiência
e da metafísica que a filosofia vindoura deve revisar Kant.
Ela não deve realizar tal revisão a partir desse princípio,
mas sim, em termos metodológicos, ou seja, como filoso­
fia autêntica, segundo os preceitos do conceito de conhe­
cimento. Os erros decisivos da doutrina do conhecimento
de Kant são também, sem dúvida, reduzidos ao vazio da
experiência de seu tempo, e assim a dupla tarefa de criar
um novo conceito de conhecimento e uma nova represen­
tação do mundo com base na filosofia também será uma
só. O ponto fraco do conceito kantiano de conhecimento
tem sido, com frequência, sentido pela falta de radicalismo
e pela falta de consistência de sua doutrina, uma vez que sua
epistemologia não abre o campo da metafísica, porque ela
própria carrega em si elementos primitivos de uma meta­
física infecunda que exclui qualquer outra. Na epistemolo­
gia, todo elemento metafísico é um germe patogênico que
se manifesta na exclusão do conhecimento do domínio da
experiência em toda a sua liberdade e profundidade. É de
se esperar, então, que o desenvolvimento da filosofia ocorra
no momento em que toda aniquilação desses elementos
metafísicos na epistemologia a conduza, ao mesmo tempo,

21
der Erkenntnistheorie zugleich diese a u f ein e tiefere meta­
physisch erfüllte Erfahrung verweist. E s besteht, und hier

ruht der historische Keim der kom m enden Philosophie, die


tiefste Beziehung zwischen jener E rfa h ru n g deren tiefere
Erforschung nie und nimmer a u f die m etaphysischen Wahr­
heitenführen konnte und jener Theorie d e r Erkenntnis wel­
che den logischen Ort der metaphysischen Forschung noch
nicht ausreichend zu bestimmen verm ochte; immerhin
scheint der Sinn in dem Kant etwa d en Term inus „Meta­
physik der Natur“ braucht durchaus in d e r Richtung der
Erforschung der Erfahrung a u f G ru n d erkenntnistheore­
tisch gesicherter Prinzipien zu liegen. D ie Unzulänglichkei­
ten in Hinsicht auf Erfahrung u nd M etaph ysik äußern sich

innerhalb der Erkenntnistheorie selbst als Elem ente speku­


lativer (d. i. rudimentär gew ordener) M etaphysik. Die wich­
tigsten dieser Elemente sind: erstens d ie bei K ant trotz aller

Ansätze dazu nicht endgültig ü b e rw u n d e n e Auffassung der

Erkenntnis als Beziehung zw ischen irgendw elchen Subjek­

ten und Objekten oder irgendw elchem S u b jekt und Objekt;

zweitens: die ebenfalls nur ganz ansatzw eise überwundene

Beziehung der Erkenntnis u nd d er E rfa h ru n g a u f mensch­

lich empirisches Bewußtsein. D iese b eid en Probleme hän­

gen eng miteinander zusam m en u n d selbst sow eit Kant und

die Neukantianer die O bjektnatur des D inges an sich als

der Ursache der Em pfindungen ü b e rw u n d e n haben bleibt

22
a uma experiência metafisicamente realizada e mais pro­
funda. Existe, a esse respeito - e aqui está o germe histórico
da filosofia por vir uma relação profunda entre aquela
experiência cuja pesquisa mais profunda não poderia levar,
jamais, a verdades metafísicas e aquela teoria do conheci­
mento que não era capaz de determinar suficiente e efetiva­
mente o lugar lógico que corresponde à investigação m eta­
física como tal; todavia, de fato, o sentido em que Kant usa o
terminus “metafísica da natureza” parece ir inteiramente ao
encontro da investigação da experiência com base em prin ­
cípios consolidados pela epistemologia. A s deficiências em
termos de experiência e metafísica se manifestam dentro da
própria epistemologia como elementos da metafísica espe­
culativa, ou seja, de uma metafísica rudimentar. Os mais
importantes desses elementos são, em prim eiro lugar, a
concepção de conhecimento como um a relação entre certos
sujeitos e objetos ou entre um certo sujeito e um objeto, que
Kant não conseguiu decisivamente superar, apesar de todas
as tentativas de fazê-lo; em segundo lugar: a relação, também
apenas superada hipoteticamente, entre o conhecimento e a
experiência com a consciência humana empírica. Esses dois
problemas estão estreitamente relacionados, e, mesmo que
Kant e os neokantianos tenham superado, de certa forma,
a natureza objetiva da coisa em si como a causa das sensa­
ções, a natureza-sujeito da consciência cognoscente ainda

23
immer noch die Subjekt-Natur des erkennenden Bewußt,
seins zu eliminieren. Diese Subjekt-N atur des erkennenden

Bewußtseins rührt aber daher daß es in Analogie zum empi-

rischen das dann freilich Objekte sich gegenüber hat gebildet

ist. Das Ganze ist ein durchaus metaphysisches Rudiment in

der Erkenntnistheorie; ein Stück eben je n e r flachen „Erfah­

rung“ dieser Jahrhunderte welches sich in die Erkenntnisthe­

orie einschlich. Es ist nämlich g a r nicht zu bezweifeln daß


in dem Kantischen Erkenntnisbegriff die wenn auch subli­
mierte Vorstellung eines individuellen leibgeistigen Ich wel­

ches mittelst der Sinne die Em pfindungen empfängt und auf

deren Grundlage sich seine Vorstellungen bildet die größte

Rolle spielt. Diese Vorstellung ist jedoch Mythologie uni


was ihren Wahrheitsgehalt angeht je d e r andern Erkenntnis­

mythologie gleichwertig. W ir wissen von Naturvölkern der


sogenannten präanimistischen Stufe welche sich mit heili­
gen Tieren und Pflanzen identifizieren, sich wie sie benen­

nen; wir wissen von Wahnsinnigen die ebenfalls sich zum

Teil mit den Objekten ihrer W ahrnehmung identifizieren,

die ihnen also nicht m ehr Objecta, gegenüberstehend sind;


wir wissen von Kranken die die Em pfindungen ihres Leibes

nicht a u f sich selbst sondern a u f andere Wesen beziehen und

von Hellsehern welche wenigstens behaupten die W ahrneh­


mungen anderer als ihre eigenen em pfangen zu können. Die

gemeinmenschliche Vorstellung von sinnlicher (und geistiger)

24
precisava ser eliminada. No entanto, a natureza subjetiva da
consciência cognoscente provém do fato de ter sido cons­
tituída analogicamente a respeito da consciência empírica,
diante da qual, com efeito, encontram-se os objetos. O todo
é um rudimento completamente metafísico na epistemolo-
gia, uma porção, precisamente, daquela “experiência” plana
desses séculos que se introduziu na epistemologia. Não há
dúvida, pois, que, no conceito kantiano de conhecimento, o
papel principal é desempenhado pela representação mesmo
que sublimada de um eu individual, corpóreo e espiritual,
que recebe através dos sentidos as sensações e com isso
produz suas representações a partir dessa base. Entretanto,
essa representação é pura mitologia e seu conteúdo de ver­
dade equivale a qualquer outra mitologia do conhecimento.
Sabemos que os povos primitivos da chamada etapa evo­
lutiva pré-animista identificavam-se com animais e plantas
sagrados, e se denominavam como eles; sabemos de lou­
cos que igualmente se identificam em parte com os obje­
tos de sua percepção, que não são mais objecta, opostos a
eles; sabemos de enfermos que não referem as sensações de
seus corpos a si mesmos, mas a outros seres; e temos ciência
de clarividentes que, pelo menos, afirmam ser capazes de
receber as percepções dos outros como suas. A represen­
tação corrente do conhecimento sensível (e do espiritual),
tanto a nossa quanto a kantiana, e também a do período

25
Erkenntnis sow ohl u nserer als d e r Kantischen cd

vor-Kantischen E poche ist n u n durchaus eine

wie die genannten. D ie K antische „Erfahrung“ ist in ^

ser Hinsicht, was die n a ive Vorstellung vom Empfangen 4

Wahrnehmungen angeht, M etaphysik oder Mythologie ^


zwar nur eine m oderne u n d religiös besonders unfruchtbar
Erfahrung so w ie sie m it B ez u g a u f den individuellen lei}),

geistigen M enschen u n d dessen Bewußtsein und nicht viel­


mehr als systematische Spezifikation d er Erkenntnis gefaßt
wird ist w iederum in allen ihren A rten bloßer Gegenstand
dieser wirklichen Erkenntnis u n d z w a r ihres psychologisch

Zweiges. Diese gliedert das em pirische Bewußtsein systema­

tisch in die Arten des W ahnsinns. D er erkennende Mensch,

das erkennende em pirische Bew ußtsein ist eine Art des


wahnsinnigen Bewußtseins. D am it soll nichts anderes gesagt

sein als daß innerhalb des em pirischen Bewußtseins es zwi­

schen seinen verschiedenen A rten nu r graduelle Unterschiede


gibt. Diese Unterschiede sin d zugleich solche des Wertes des­
sen Kriterium jedoch nicht in d er Richtigkeit von Erkenntnis­

sen bestehen kann um die es sich in der empirischen, psycho­

logischen Sphäre niemals handelt; das wahre Kriterium des

Wertunterschiedes der Bewußtseinsarten festzustellen wird

eine der höchsten Aufgaben der kom m enden Philosophie sein.

Den Arten des empirischen Bewußtseins entsprechen ebenso-

viele der Erfahrung welche mit Hinsicht a u f ihre Beziehung


26
pré-kantiano, é tão somente mitologia quanto os exemplos
dados anteriormente. A “experiência” kantiana, a esse res­
peito, em referência à representação ingênua da recepção
das percepções, é metafísica ou mitologia e, por certo, ape­
nas uma metafísica ou mitologia modernas, em particular,
religiosamente infecunda. Por sua vez, a experiência, tal
como é concebida com referência aos indivíduos psicofísi-
cos e à sua consciência, e não à especificação sistemática do
conhecimento, é, em todos os seus tipos, mero objeto desse
conhecimento real e, na verdade, de seu ramo psicológico.
Isso articula sistematicamente a consciência empírica aos
diferentes tipos de insanidade. O ser humano cognoscente,
a consciência empírica cognoscente, é uma espécie de
consciência insana. Com isso, quer-se dizer nada mais que,
dentro da consciência empírica, somente se dão distinções
graduais entre suas diversas manifestações. Essas diferen­
ças são, simultaneamente, valorativas, não podendo con­
sistir como critério, porém, na exatidão de conhecimentos,
da qual jamais se trata nas esferas empírica e psicológica;
estabelecer o verdadeiro critério da diferença valorativa dos
tipos de consciência será uma das maiores tarefas da filo­
sofia por vir. As classes da consciência empírica correspon­
dem a tantas outras classes de experiência como tal, que,
da mesma forma que fazem com a verdade, elas têm, com
relação à consciência empírica, apenas o valor da fantasia

27
aufs empirische Bewußtsein was die Wahrheit angeht kk

lieh den Wert der Phantasie oder Halluzination haben.

eine objektive Beziehung zwischen empirischem Bewußtsein


und dem objektiven B eg riff von Erfahrung ist unmöglich. Ak

echte Erfahrung beruht a u f dem reinen erkenntnis-theoreti­

schen (transzendentalen) Bewußtsein wenn dieser Terminus


unter der Bedingung daß er alles Subjekthaften entkleidet sei

noch verwendbar ist. D as reine transzendentale Bewußtsein

ist artverschieden von jedem empirischen Bewußtsein undes

ist daher die Frage ob die A nw endung des Terminus Bewußt­

sein hier statthaft ist. Wie sich der psychologische Bewußt-


seinsbegriffzum Begriff der Sphäre der reinen Erkenntnis m-

hält bleibt ein Hauptproblem der Philosophie, das vielkick


nur aus der Zeit der Scholastik her zu restituieren ist. Hier

ist der logische Ort vieler Problem e die die Phänomenologie

neuerdings wieder aufgeworfen hat. D ie Philosophie beruh

darauf daß in der Struktur der Erkenntnis die der Erfahrung

liegt und aus ihr zu entfalten ist. Diese Erfahrung umfaßt


denn auch die Religion, nämlich als die wahre, wobei weder

Gott noch Mensch Objekt oder Subjekt der Erfahrung ist

wohl aber diese Erfahrung a u f d er reinen Erkenntnis beruht

ab deren Inbegriff allein die Philosophie Gott denken kann


und muß. Es ist die Aufgabe der kommenden Erkenntnisthe­

orie fü r die Erkenntnis die Sphäre totaler Neutralität in Bezt#

au f die Begriffe Objekt und Subjekt zu finden; mit andern

28
ou da alucinação. Isso porque, efetivamente, a existência
de uma relação objetiva entre a consciência empírica e o
conceito objetivo da experiência é simplesmente im pos­
sível. Toda experiência autêntica é baseada na pura cons­
ciência epistemológica (transcendental), se esse terminus
ainda é utilizável sob a condição de retirá-lo de toda sub­
jetividade. A consciência pura transcendental é diferente
de qualquer consciência empírica e, portanto, a questão
aqui é se a aplicação do term inus consciência é admissível.
A maneira como o conceito psicológico da consciência
se relaciona com o conceito da esfera do conhecimento
puro continua a ser um problem a fundamental da filo­
sofia e talvez só possa ter seu resgate a partir da época da
escolástica. Aqui está o lugar lógico de muitos problemas
que a fenomenologia, há pouco, levantou novamente. A
filosofia é baseada no fato de que na estrutura do conhe­
cimento está também a de experiência e deve ser desen­
volvida a partir dela. Essa experiência inclui também a
religião, isto é, a verdadeira religião, na qual nem Deus
nem o ser humano são objeto ou sujeito da experiência,
f

mas ela é baseada em um conhecimento puro a partir


de cuja essência a filosofia sozinha pode e deve pensar
Deus. É a tarefa da epistemologia por vir encontrar para
o conhecimento a esfera de total neutralidade a respeito
dos conceitos de objeto e sujeito; dito de outra forma,

29
W orten d ie a u to n o m e ureigne Sphäre der Erkenntnis

m ittein in d e r dieser B e g riff a u f keine Weise mehr die

h u n g zw ischen z w ei m etaphysischen Entitäten bezeichnet,

E s ist als P rogram m satz d er künftigen Philosophie auf.

zustellen d a ß m it dieser Reinigung der Erkenntnistheorie

d ie a b ra d ik a les P ro b lem K an t zu stellen ermöglicht um


j
n o tw e n d ig g em a ch t hat nicht nur ein neuer Begriff ^

E rk e n n tn is so n d ern zugleich auch der Erfahrung aufy.

stellt w äre, g e m ä ß d e r B ezieh u n g die Kant zwischen beiden

g e fu n d e n hat. F reilich dü rfte dabei wie gesagt die Erfah­

ru n g eb en so w en ig w ie d ie Erkenntnis auf das empirisch


B ew u ß tsein bezogen w erden; aber auch hier würde es dabei

bleiben, j a erst h ier seinen eigentlichen Sinn gewinnen daß


d ie Bedingungen d er Erkenntnis die der Erfahrung sind

D ieser neue B e g riff d er E rfahrung welcher gegründet m


a u f neue Bedingungen d er Erkenntnis würde selbst der logi­
sche O rt u n d die logische Möglichkeit der Metaphysik sein.

D enn aus welch anderm G runde hatte Kant immer wieder

die M etaphysik zum Problem und die Erfahrung zur einzi­


gen G rundlage d er Erkenntnis gemacht als weil von seinen
E rfahrungsbegriff aus die M öglichkeit einer Metaphysik die
von d er Bedeutung der frü h eren gewesen wäre (wohlver­
standen nicht einer M etaphysik überhaupt) ausgeschlossen

erscheinen müßte. Es liegt aber offenbar das Auszeichnung

im B e g riff d er M etaphysik nicht, und jedenfalls nicht fit

30
alcançar a esfera autônoma própria do conhecimento, em
que esse conceito não mais denote a relação entre dois
entes metafísicos.
Deve ser estabelecida como tarefa da filosofia vindoura
que, com essa apuração, a epistemologia, tornada possível
e necessária por Kant enquanto problema radical, teria que
fazer frente não somente a um novo conceito de conheci­
mento, mas também a um novo conceito de experiência,
de acordo com a relação que Kant descobriu entre ambos.
É claro que, como dito anteriormente, a experiência, tão
pouco quanto o conhecimento, deveriam estar relaciona­
dos à consciência empírica; mas aqui também ficaria assim,
e só então ganharia seu verdadeiro sentido de que as con­
dições do conhecimento são as da experiência. Esse novo
conceito de experiência, baseado em novas condições do
conhecimento, seria ele mesmo o lugar e a possibilidade
lógicos da metafísica. Por qual motivo Kant tornou, amiúde,
a metafísica num problema, e a experiência na única base
que poderia surgir do conhecimento? Porque a partir desse
conceito de experiência, a possibilidade de uma metafísica
que tivesse o mesmo significado das anteriores (mas não a
possibilidade de uma metafísica em geral) teria que parecer
como excluída. No entanto, evidentemente, o característico
no conceito de metafísica não se encontra na ilegitimidade
de seus conhecimentos - ao menos não para Kant, que, de

31
K a n t d e r sonst k e in e P ro le g o m e n a z u ih r geschrieben k-,

in d e r Illeg itim itä t ih r e r E rk en n tn isse, sondern in ihrer >

versalen, d ie g esa m te E r fa h r u n g m it dem Gottesbegt

durch Id een u n m itte lb a r v e rk n ü p fe n d e n Macht. &

sich also d ie A u fg a b e d e r k o m m e n d e n Philosophie fam

als d ie A u ffin d u n g o d e r S c h a ffu n g desjenigen Erkennte

begriffes der, in d em e r zu gleich au ch den Erfahrungsbep

ausschließlich a u f d a s tra n szen d en ta le Bewußtsein bezux


nicht allein m echanische so n d e rn auch religiöse Erjahny

logisch erm öglicht. D a m it soll d u rch au s nicht gesagt so.


daß d ie Erkenntnis Gott, w o h l a b e r durchaus daß sie h
E rfahrung u n d Leh re von ihm allererst ermöglicht.
Von der hier geforderten u n d als sachgemäß betradt-
teten Entw icklung d e r P hilosophie läßt sich als Neukanti­
anismus ein A nzeichen bereits betrachten. Ein Hauptpnb
lem des Neukantianism us ist gew esen den Unterschiede
Anschauung und Verstand, ein metaphysisches Rudimrt
wie die ganze Lehre von den Verm ögen an der Stelle St
sie bei Kant einnimmt, zu beseitigen. D am it - also mit de
Umbildung des Erkenntnisbegriffes - hat sich denn soglciJ
eine des Erfahrungsbegriffes eingestellt. Es ist nämlich nick
zu bezweifeln daß die R eduktion a ller Erfahrung auf
wissenschaftliche, wie sehr sie in m anch er Hinsicht die Aus­
bildung des historischen Kant ist, in dieser Ausschließlich­
keit bei Kant nicht gem eint ist. Es bestand sicherlich Iw

32
outra forma, não teria escrito seus prolegòmenos à metafí­
sica mas em seu poder universal, para reunir, de imediato,
com suas ideias, a totalidade da experiência com o conceito
de Deus. Assim, a tarefa da filosofia por vir pode ser apreen­
dida, portanto, como a descoberta ou criação desse conceito
de conhecimento que, ao mesmo tempo que relaciona exdu-
sivamente o conceito de experiência à consciência trans­
cendental, possibilita logicamente não apenas a experiência
mecânica, mas também a experiência religiosa. Isso não
quer dizer, em absoluto, que é possível chegarmos ao conhe­
cimento de Deus, mas sim que o conhecimento pode tomar
plenamente possível, a princípio, a experiência e a doutrina
remetente a Ele.
O neokantismo possibilita-nos vislumbrar já um indício
do desenvolvimento da filosofia aqui reivindicado e con­
siderado apropriado. Um dos problemas fundamentais do
neokantismo foi a distinção entre intuição e entendimento,
um rudimento metafísico que, como toda doutrina das facul­
dades, na obra de Kant, deve ser suprimido. Porém, com a
mudança do conceito de conhecimento, muda-se também
o conceito de experiência. Na prática, é indubitável que a
redução de toda experiência à experiência científica não foi
pensada por ele nessa exclusividade, por mais que ela seja,
em alguns aspectos, um desdobramento do Kant histórico.
Verificou-se, sem dúvida, uma tendência em Kant contra a

33
Kant eine Tendenz gegen d ie Z e r fä llu n g u n d A u ft e ilu n g

Erfahrung in die einzelnen W issen schaftsgebiete und wenn

ihr auch die spätere E rk e n n tn is th e o rie d e n Rekurs aufdh

Erfahrung im gew öhnlichen S in n e, w ie e r b e i K ant vorlie$

wird abschneiden müssen, so ist d o ch an drerseits im Ink­

resse der Kontinuität d e r E r fa h r u n g ih re Darstellung als


das System der W issenschaften w ie sie d e r Neukantianis­

mus gibt noch mangelhaft u n d es m u ß in d e r Metaphysik

die Möglichkeit gefunden w erd en ein rein es systematisches

Erfahrungskontinuum zu b ild en ; j a ih re eigentliche Bedeu­

tung scheint hierin zu suchen z u sein . E s h a t sich aber bei

der neukantischen Rektifikation ein es u n d z w a r nicht des

grundlegenden m etaphysizierenden G e n d a n k e n s bei Kant


sogleich eine Änderung des E rfa h ru n g sb eg riffes ergeben und

zwar bezeichnenderweise zunächst in d e r extrem en Ausbil­

dung der mechanischen Seite des rela tiv leeren aufkläreri­

schen Erfahrungsbegriffes. A llerd in g s ist n ich t zu übersehen

daß in einer eigentümlichen K o rrela tio n z u m mechanischen

Erfahrungsbegriff der F reih eitsb eg riff steht u n d demgemäß

im Neukantianismus fortentw ickelt w o rd e n ist. A ber auch


hier ist zu betonen daß der gesam te Z u sa m m en h a n g der
Ethik in dem Begriff den die A u fk lä ru n g K a n t u n d die Kan­
tianer von Sittlichkeit haben eb en so w en ig aufgeht wie der
Zusammenhang der M etaphysik in d e m w a s je n e Erfahrung

nennen. Mit einem neuen E rk e n n tn is b e g riff w ird daher

34
desintegração e divisão da experiência aos campos particula­
res da ciência. E m esm o se, em relação a eles, a epistemologia
posterior tiver que se desprender do recurso à experiência em
seu sentido com um , do m odo apresentado por Kant, então,
por outro lado, será insuficiente no interesse do continuum
da experiência sua apresentação como o sistema das ciências,

tal com o realizou o neokantismo, visto que é na metafísica


que devem os encontrar a possibilidade de construção de um
continuum da experiência sistemático e puro; com efeito, seu

significado real parece estar nisso. Mas a retificação neokan-


tiana de um pensam ento de tendência metafísica percebido
em Kant e, justam ente, não fundamental, produziu de súbito

uma m udança no próprio conceito de experiência, sendo


de fato significativo que isso consista no aprendizado mais
extremo do aspecto m ecânico do conceito de experiência
do Esclarecim ento, ou seja, um conceito relativamente vazio.
Em todo caso, não pod e ser ignorado que o conceito de liber­

dade está em um a correlação inerente ao conceito mecânico


de experiência e o neokantismo o desenvolveu de acordo
com isso. Entretanto, aqui também devemos enfatizar que
o contexto geral da ética não pode ser reduzido ao conceito
de m oralidade do Esclarecimento, de Kant e dos kantianos,
da m esm a form a que o contexto geral da metafísica não se
reduz ao que eles denom inam experiência. Com um novo
conceito de conhecim ento, portanto, não apenas o conceito

35
nicht nur der der Erfahrung sondern auch der der Freiheit
eine entscheidende Umbildung erfahren.
Man könnte nun hier überhaupt die M einung vertreten,

daß mit der Auffindung eines Erfahrungsbegriffes der einen

logischen Ort der Metaphysik abgeben w ü rde überhaupt der

Unterschied zwischen den Gebieten d er N atur und der Frei­

heit aufgehoben wäre. Indessen ist h ier w o es sich nicht um

Erweisen sondern nur um ein Program m d er Forschung han­

delt soviel zu sagen: so notwendig u nd unvermeidlich auf dem

Grunde einer neuen transzendentalen Logik die Umbildung

des Gebietes der Dialektik, des Überganges zwischen Erfah-

rungs- und Freiheitslehre ist, so w enig d a r f diese Umbildung

in eine Vermengung von Freiheit und E rfahrun g einmünden,

mag auch der Begriff der Erfahrung im metaphysischen von

dem der Freiheit in einem vielleicht noch unbekannten Sinne

verändert sein. Denn so unabsehbar auch die Veränderungen

sein mögen die sich der Forschung hier erschließen werden:

die Trichotomie des Kantischen Systems gehört zu den großen

Hauptstücken jener Typik die zu erhalten ist u n d sie vor allem

muß erhalten werden. Es mag in Frage gestellt werden dür­

fen, ob der zweite Teil des Systems (von der Schwierigkeit des

dritten zu schweigen) sich noch a u f die Ethik beziehen muß


oder ob die Kategorie der Kausalität durch Freiheit etwa eine
andere Bedeutung habe; die Trichotomie deren metaphysisch

tiefste Beziehungen noch unentdeckt sind hat im Kantischen

36
de experiência, mas também o de liberdade, passarão por
uma transformação decisiva.
Poder-se-ia argumentar então, aqui, de modo geral,
que, com a descoberta de um conceito de experiência que
exprimisse um lugar lógico da metafísica, a diferença entre
os domínios da natureza e da liberdade seria suprimida por
completo. Contudo, aqui pode ser suficientemente dito: tra­
ta-se apenas de um programa de investigação e não de com­
provação. Quanto mais necessária e inevitável for, partindo
dessa nova lógica transcendental, a modificação do domí­
nio da dialética e da passagem entre doutrina da experiên­
cia e doutrina da liberdade, menos essa remodelação deverá
resultar em uma mistura entre liberdade e experiência,
mesmo que o conceito de experiência se transforme metafi-
sicamente em um sentido, talvez ainda estranho ao de liber­
dade. Por mais imprevisíveis que possam ser as mudanças
que se abrirão à investigação, é fato que a tricotomia do sis­
tema kantiano pertence às principais partes daquela tipolo­
gia que deve permanecer e, acima de tudo, ser preservada.
Pode-se questionar se a segunda parte do sistema (para não
mencionar a dificuldade da terceira) ainda deve se referir
à ética, ou se a categoria de causalidade pela ótica da liber­
dade talvez tenha um significado diferente; a tricotomia,
cujas relações metafisicamente mais profundas ainda não
foram descobertas, tem, sem dúvida, sua base mais decisiva

37
System schon an der Dreiheit der Relationskategorien ihre ent­

scheidende Begründung. In der absoluten Trichotomie des Sys­

tems das sich eben in dieser Dreiteilung a u f das ganze Gebiet

der Kultur bezieht liegt eine der weltgeschichtlichen Überlegen­

heiten des Kantischen Systems über das seiner Vorgänger. Die


formalistische Dialektik der nach-Kantischen Systeme jedoch
ist nicht auf der Bestimmung der Thesis als kategorischer, der

Antithesis als hypothetischer und der Synthesis als disjunktiver


Relation gegründet. Jedoch wird außer dem B eg riff der Synthe­

sis auch der einer gewissen Nicht-Synthesis zw eier Begriffe in


einem andern systematisch höchst wichtig werden, da außer

der Synthesis noch eine andere Relation zwischen Thesis und


Antithesis möglich ist. Dies wird jedoch kaum zu einer Vier-

heit der Relationskategorien führen können.


Aber wenn die große Trichotomie f ü r die Gliederung der

Philosophie erhalten bleiben muß auch solange diese Glieder

selbst noch fehlbestimmt sind, so gilt dies nicht ohne weiteres

von allen einzelnen Schematen des Systems. Wie etwa die

Marburger Schule bereits mit der A ufhebung des Unterschie­

des zwischen transzendentaler Logik und Ästhetik begon­

nen hat (wenn es auch fraglich ist ob ein Analogon dieser

Scheidung nicht auf höherer Stufe wiederkehren muß), so

ist die Tafel der Kategorien wie es jetzt allgem ein gefordert

wird völlig zu revidieren. Gerade hierbei w ird sich dann die

Umformung des Erkenntnisbegriffes in d er G ew innung eines

38
no sistema kantiano, já na tríade de categorias de relações.
Uma das superioridades históricas do sistema kantiano
reside, em relação ao de seus antecessores, na tricotomia
absoluta do sistema, que com essa tripartição já se refere a
todo o campo da cultura. A dialética formalista dos siste­
mas pós-kantianos, no entanto, não se baseia na definição
da tese como relação categórica, na antítese como hipotética
e na síntese como disjuntiva. Entretanto, além do conceito
de síntese, será também de enorme importância, do ponto
de vista sistemático, o conceito de uma certa não síntese de
dois conceitos em um outro, uma vez que, além da síntese, é
possível outra relação entre tese e antítese. Todavia, isso difi­
cilmente levará a um quadrinômio de categorias de relação.
Se a grande tricotomia, no entanto, deve permanecer
mantida para a articulação da filosofia, mesmo com a inde-
terminação dessas partes, isso não se aplica, sem mais nem
menos, a todos os esquemas particulares do sistema. A escola
de Marburg já começou a suprimir a diferença entre lógica
transcendental e estética (embora ainda tenhamos que nos
perguntar se um a analogia dessa distinção não terá que rea­
parecer em um nível superior), e, quanto à tábua de catego­
rias, devemos revê-la completamente, como, em geral, já é
exigido. Precisamente, a esse respeito, será anunciada a
mudança do conceito de conhecimento para a elaboração
de um novo, já que as categorias aristotélicas, por um lado,

39
neuen Begriffs von lirfahrung unkundigen, da die aristokli

sehen Kategorien einerseits willkürlich a u f gestellt, andrerseih

aber durch Kant ganz einseitig im Hinblick a u f eine mechani

sehe Erfahrung ausgebeutet worden sind. Hs w ird vor allem zu

erwogen sein ob die Kalegorienlafel in d er Vereinzelung und

Unvermltteltheit in der sie dasteht bleiben m uß und ob sie

nicht überhaupt in einer hehre von den O rdnungen sei es eine

Stelle unter andern (Medern einnehmen, sei es selbst zu einer

solchen ausgebaut, auf logisch frühere Urbegriffe gegründet

oder mit ihnen verbunden werden könne. In eine solche allge­

meine hehre von den Ordnungen würde dann auch dasjenige

gehören was Kant in der transzendentalen Ästhetik erörtert,

ferner die sämtlichen (Irundbegriffe nicht n u r der Mechanik

sondern auch die der Geometrie, Sprachwissenschaft, Psy­

chologie, beschreibender Naturwissenschafi u n d vieler ande­

rer, sofern sie unmittelbare Beziehung a u f die Kategorien oder

sonstigen höchsten philosophischen Ordnungsbegriffe hät­

ten. Hervorragende Beispiele sind hier die Grundbegriffe der

Grammatik. In n er hat man sich zu vergegenwärtigen, daß

mit der radikalen Ausschaltung aller derjenigen Bestandteile,

welche in der Erkenntnistheorie die versteckte A ntwort auf die

versteckte Frage nach dem Werden der Erkenntnis geben das

große Problem des Falschen bzw. des Irrtums fr e i wird dessen

logische Struktur und Ordnung nun genau so wie die des

Wahren ermittelt werden muß. Der Irrtum d a r f nicht länger


fo ra m e sta b e le c id a s arbitrariam ente, mas, por outro lado,

fo ra m e x p lo r a d a s p o r K ant de m aneira bastante unilateral

a re sp e ito d e u m a e xp e riên cia m ecânica. Acim a de tudo,

será n e c e s s á r io c o n sid e ra r se a tábua de categorias deve

p e r m a n e c e r iso la d a e im ediata ou se pode encontrar seu

lu g a r íe n tr e o u tro s m e m b ro s; em um a doutrina das orde

n a ç õ e s, o u m e s m o ser retrabalhada dentro dessa doutrina

e b a se a d a lo g ic a m e n te em protoconceítos anteriores ou

c o n e c ta r-se c o m eles. T al doutrin a geral de ordenações

in c lu iria e n tã o o q u e K an t discute na estética transcen­

d en tal, b e m c o m o to d o s os conceitos fundamentais não

ap e n as d a m e c â n ic a , m a s tam bém os da geometria, da

lin g u ístic a , d a p sic o lo g ia , d a ciên cia natural descritiva e,

de m u ito s o u tr o s , d e sd e q u e tenham relação direta com

as c a te g o ria s o u d e m a is co n ceito s dassificatórios e filosó­

ficos s u p e rio r e s. D e sta c a m -se aqui exem plos dos concei­

tos b á sic o s d a g ra m á tic a . A lé m disso, é preciso perceber

que, c o m a e lim in a ç ã o rad ical de todos os componentes

que, na e p is te m o lo g ia , d ão a resposta oculta à questão

o cu lta d o d e v ir d o c o n h e cim e n to , desprende-se o grande

p ro b le m a d o fa lso o u d o erro, cuja estrutura e ordenação

ló g icas d e v e r ã o se r a v e rig u ad as, exatam ente da mesma

m an eira c o m o d e v e rã o ser averigu adas as do verdadeiro.

O e rro n ã o d e v e rá m ais ser explicado a partir da erronia,

assim c o m o a v e rd ad e n ão p o d erá ser explicada a partir do

41
aus dem Irren erklärt werden, wie die W ahrheit nicht länger
aus dem rechten Verstand. Auch f ü r diese Erforschung der
logischen Natur des Falschen und des Irrtum s sind voraus­
sichtlich in der Lehre von den Ordnungen die Kategorien auf­
zusuchen: überall in der modernen Philosophie regt sich die
Erkenntnis, daß die kategoriale und verw andte Ordnung von
zentraler Wichtigkeit fü r die Erkenntnis mannigfach abge­
stufter und auch nicht mechanischer E rfah ru n g sei. Kunst,
Rechtslehre und Geschichte, alle diese u n d andere Gebiete
haben sich mit ganz andrer Intensität als K ant es getan hat an
der Kategorienlehre zu orientieren. D och erhebt sich zugleich
mit Beziehung auf die transzendentale Logik eines der größ­
ten Probleme des Systems überhaupt, näm lich die Frage nach
seinem dritten Teil mit andren Worten nach denjenigen wis­
senschaftlichen Erfahrungsarten (den biologischen), die Kant
auf dem Boden der transzendentalen Logik nicht behandelt
hat und warum er es nicht tat. Ferner die Frage nach dem
Zusammenhang der Kunst mit diesem dritten, der Ethik mit
dem zweiten Teil des Systems. - D ie F ixieru n g des bei Kant

unbekannten Begriffes der Identität hat voraussichtlich in

der transzendentalen Logik eine große Rolle zu spielen, inso­


fern er in der Kategorientafel nicht steht, dennoch vermutlich

den obersten Begriff der transzendentallogischen ausmacht


und vielleicht wahrhaft geeignet ist die Sphäre der Erkennt­

nis jenseits der Subjekt-Objekt-Terminologie autonom tu

42
entendimento justificado. Neste estudo da natureza lógica
do falso e do erro, as categorias devem ser procuradas,
também, presumivelmente, na doutrina das ordenações.
Em toda parte da filosofia moderna há o conhecimento
de que as ordenações anexas e categoriais são de central
im portância para o conhecimento de uma experiência não
m ecânica de m últiplas nuances. Arte, jurisprudência e his­
tória, todas essas e outras áreas, têm que se orientar, com
uma intensidade bastante diferente da feita por Kant na
doutrina das categorias. Mas, ao mesmo tempo, surge, com
referência à lógica transcendental, um dos maiores proble­
mas do sistem a em geral, a saber, a questão de sua terceira
parte e, em outras palavras, aqueles tipos de experiência

científica (a biológica) com que Kant não lidou com base


na lógica transcendental, o que nos leva à pergunta sobre
o porquê de sua decisão. Além disso, surge a questão da

conexão da arte com a terceira parte do sistema e da ética


com a segunda. A fixação do conceito de identidade, des­

conhecido por Kant, deve desempenhar, provavelmente,

um papel im portante na lógica transcendental, na medida

em que não aparece na tábua de categorias, todavia, ele

constitui presum ivelm ente o mais superior conceito lógi­

co-transcendental, e, talvez, verdadeiramente adequado,

para fundam entar a esfera cognoscitiva de um modo autô­

nomo, deixando de lado a terminologia sujeito-objeto. A

43
begründen. Die transzendentale D ialektik h i eist schon in der

Komischen Fassung die Ideen a u f a u f d en en d ie Einheit der

Erfahrung beruht Förden vertieften B e g r iff d e r Erfahrung $

aber, wie schon gesagt Kontinuität n ächst d er Einheit une-

läßlich und in den Ideen m uß d er G ru n d d e r E inheit und de

Kontinuität iener nicht vulgären und n icht nu r wissenschaf.-


liehen sondern metaphysischen E rfahru n g aufgew iesen n rr-

den. Die Konvergenz der Ideen a u f d en obersten Begriff de

Erkenntnis ist nachzuweisen.

Wie die Kantische Lehre selbst um ih re Prinzipien zu fin­

den sich einer Wissenschaft m it B eziehu n g a u f d ie sie sie drä­

nieren konnte gegenüber sehen m ußte, äh n lich wird es m .

der modernen Philosophie ergehen. D ie g roß e Umbildung

und Korrektur die an dem ein seitig m athem atisch-mecha­

nisch orientierten E rkenntnisbegriff vorzu n ehm en ist, karr,

nur durch eine Beziehung d er E rken n tn is a u f d ie Sprache w

sie schon zu Kants Lebzeiten H am an n versucht hat gewin­

nen werden. Über dem B ew ußtsein d a ß d ie philosophisch

Erkenntnis eine absolut gew isse u n d ap riorisch e sei, übe

dem Bewußtsein dieser der M ath em atik ebenbürtigen Seite

der Phibsophie ist fü r K ant d ie T atsach e d a ß alle philoso­

phische Erkenntnis ihren ein zigen A u sd ru ck in der Sprock

und nicht in Formeln und Z ah len h a b e völlig zurückgev

ten. Diese Tatsache ab er d ü rfte sich letzten E ndes als die ei­

scheidende behaupten und um ih retw illen ist d ie System-

44
d ialética tran scendental já apresenta, na versão kantiana,

as id eias sobre as quais a unidade da experiência se apoia.

C o n tu d o , p ara encontrarm os um conceito mais profundo

de e xp e riê n cia , é im prescindível, como dito em outro

m o m en to , m o strá-lo ao lado do conceito de unidade, do

con ceito d e con tinu idad e, e, nas ideias, deve ser apresen­

tad a a b a se d a u n id ad e e da continuidade não somente de

u m a e xp e riê n c ia , já não regular ou científica, mas também

m etafísica. A con vergên cia de ideias deve ser comprovada

n o m a is su p e rio r con ceito de conhecimento.

Q u an to a encontrar seus princípios, a doutrina kantiana

tinha n ecessariam en te de procurar uma ciência pela qual

pudesse d efin i-los. A lg o semelhante acontecerá para a filoso­

fia m o d ern a. A grande transform ação e correção empreen­

didas em u m conceito de conhecimento unilateralmente

orientado ao m atem ático-m ecânico só poderá ter êxito em

face da relação entre conhecim ento e linguagem, assim como

H am an n 6 h avia tentado fazê-lo, durante o tempo em vida de

Kant. Para além d a consciência de que o conhecimento filo­

sófico é absolu tam ente certo e a priori, para além da cons­

ciência de qu e esses aspectos da filosofia são comparáveis à

m atem ática, tu do isso fez com que Kant deixasse completa­

mente para segu n d o plano o fato de que todo conhecimento

filosófico p ossu i sua única expressão na linguagem, e não

em fó rm u las e núm eros. M as, em última análise, esse fato

45
sehe Suprematie der Philosophie w ie über alle Wissenschaft
so auch über die Mathematik letzten E ndes zu behaupten.
Ein in der Reflexion au f das sprachliche Wesen d er Erkennt­
nis gewonnener Begriff von ihr w ird einen korrespondie­
renden Erfahrungsbegriff schaffen d er auch Gebiete deren
wahrhafte systematische Einordnung K ant nicht gelungen ist
umfassen wird. Als deren Oberstes ist das Gebiet der Religion
zu nennen. Und damit läßt sich die Forderung an die kom­
mende Phibsophie endlich in die Worte fassen: A u f Grund
des Kantischen Systems einen Erkenntnisbegriff zu schaffen
dem der Begriff einer Erfahrung korrespondiert von der die
Erkenntnis Lehre ist. Eine solche Philosophie wäre entweder
in ihrem allgemeinen Teile selbst als Theologie zu bezeich­
nen oder wäre dieser sofern sie etwa historisch philosophi­
sche Elemente einschließt übergeordnet.
Erfahrung ist die einheitliche und kontinuierliche Man­
nigfaltigkeit der Erkenntnis.

46
é decisivo e, por essa razão, deve ser afirmada a supremacia
sistemática da filosofia sobre todas as ciências, incluindo a
matemática. Um conceito de conhecimento adquirido na
reflexão sobre sua essência linguística permitirá a elaboração
de um conceito correspondente de experiência, que incluirá,
também, áreas cuja verdadeira classificação sistemática Kant
não atingiu. Entre essas áreas, talvez a religião seja a mais
superior. Com isso, podemos finalmente formular, expres­
samente, a exigência da filosofia por vir: criar, com base no
sistema kantiano, um conceito de conhecimento que cor­
responda ao conceito de uma experiência para a qual esse
conhecimento seja sua doutrina. Uma tal filosofia seria, ela
mesma, chamada de teologia em sua generalidade, ou, seria
posta acima da teologia, uma vez que ela inclui, porventura,
elementos historicamente filosóficos.
A experiência é a multiplicidade unificada e contínua
do conhecim ento.

47
NACH TRAG

Im Interesse der Klärung d er B e z ie h u n g d e r Philosophie

zur Religion ist der Gehalt des vo rig en so fern es das sys­

tematische Schema der Philosophie a n g eh t zu wiederho­

len. Es handelt sich zunächst um d a s V erhältnis der drei

Begriffe Erkenntnistheorie, M etaphysik, R elig io n . D ie ganze

Philosophie zerfällt in E rkenntnistheorie u n d Metaphysik,

oder mit Kant zu reden in einen kritisch en u n d einen dog­

matischen Teil, diese Einteilung ist je d o c h , nicht als Angabe

des Gehalts, aber als E inteilu ngsprinzip n ich t von prinzi­

pieller Wichtigkeit. M it ihr soll n u r gesagt w erd en daß auf

aller kritischen Sicherung d er E rk en n tn isb eg riffe und des

Erkenntnisbegriffs nun eine L eh re vo n d em aufgebaut wer­

den kann wovon zunächst allererst erkenntnis-kritisch der

Begriff einer Erkenntnis festgesetzt ist. Wo das Kritische

aufhört und das Dogmatische a n fä n g t ist vielleicht nicht

genau aufzuzeigen weil der B e g r iff des D ogm atischen ledig­

lich den Übergang von K ritik zu L eh re von allgemeinen

zu besondern Grundbegriffen k en n z eich n en soll. Die ganze

Philosophie ist also E rkenntnistheorie, n u r eben Theorie,

kritische und dogmatische a ller E rk en n tn is. Beide Teile,

der kritische wie der dogm atische fa lle n g a n z ins Gebiet

des Philosophischen. Und da d as d e r F a ll ist, d a nicht etwa

der dogmatische Teil m it d em einzelwissenschaßichen

48
SU PLEM EN TO

N o interesse de esclarecer a relação da filosofia com a


religião, o conteúdo do precedente deve ser repetido, na
m edida em que diz respeito ao esquema sistemático da filo­
sofia. Trata-se, primeiramente, da relação entre os três con­
ceitos de epistem ologia, metafísica e religião. Toda filosofia
é dividida em epistemologia e metafísica, ou, em termos
kantianos, em um a parte crítica e uma parte dogmática.
Entretanto, essa divisão, na medida em que não provém do
conteúdo em si, não tem importância fundamental como
princípio de divisão. Nesse sentido, deve ser dito somente
que, baseado em todas as garantias críticas dos conceitos
de conhecim ento e do conceito de conhecimento, então,
construa-se u m a doutrina a partir da qual possa se originar,
antes de tudo, em form a crítico-epistemológica, um con­
ceito de conhecim ento. Talvez não seja possível demonstrar
exatamente onde term ina o crítico e o dogmático se ini­
cia, visto que, tão somente, o conceito do dogmático pode
designar a passagem da crítica para a doutrina, de concei­
tos fundam entais gerais para conceitos particulares. Toda
filosofia é, deste m odo, epistemologia, sendo, portanto,
teoria, crítica e dogm ática de todo conhecimento. Ambas
as partes, tanto a crítica quanto a dogmática, desembocam
no cam po do filosófico. E tal como é o caso, já que a parte

49
zusammenfällt, so erhebt sich n a tu rg e m ä ß d ie F ra g e nach

der Grenze zwischen Philosophie u n d E in zelw issen sch aft.

Die Bedeutung des terminus des M e ta p h y sisc h e n w ie er im

vorigen eingeführt ist besteht nun eb en d a r in d ie se Grenze

als nicht vorhanden zu erklären u n d d ie U m p rä g u n g der

„Erfahrung“ zu „M etaphysik“ b ed eu tet d a ß im m etaphy­

sischen oder dogmatischen Teil d e r P h ilo s o p h ie , in den

der oberste erkenntnis- theoretische, d. i. d e r kritische

Teil übergeht, virtuell die sogenannte E r fa h r u n g einge­

schlossen ist. (Die Exem plifikation dieses V erhältnisses fü r

das Gebiet der Physik s. m einen A u fsa tz ü b e r Erklärung

und Beschreibung.) Wenn d a m it g a n z a llg e m e in das

Verhältnis zwischen Erkenntnistheorie, M e ta p h y sik und

Einzelwissenschaft Umrissen ist so b le ib e n noch zwei

Fragen übrig. Erstens diejenige nach d e r B e z ie h u n g des kri­

tischen zum dogmatischen M o m en t in E th ik u n d Ästhetik,

die wir hier a u f sich beruhen lassen in d e m w ir doch eine

Lösung im systematisch analogen S in n e w ie e tw a im Bezirk

der Naturlehre postulieren m üssen, z w eiten s d ie je n ig e nach

dem Verhältnis von Philosophie u n d R elig io n . Zunächst

ist es nun klar daß es sich im G ru n d e n ich t u m d ie Frage

nach dem Verhältnis zwischen P h ilo so p h ie u n d Religion,

sondern nach dem zwischen P h ilo so p h ie u n d Leh re von

der Religion handeln muß; m it a n d ren W orten um die

Frage nach dem Verhältnis d e r E rk e n n tn is ü b erh a u p t zur

50
d o g m á t ic a n ã o é u m a c iê n c ia p articu lar, a questão é natu­

ra lm e n te le v a n t a d a p e lo lim ite entre filosofia e ciências par­

tic u la re s. O s ig n ific a d o te rm in o ló g ic o da metafísica con­

siste, c o m o o in t r o d u z im o s e m outro m om ento, portanto,

m u ito p r e c is a m e n t e , e m d e c la ra r qu e o lim ite não existe, e

a c o n v e r s ã o d a “e x p e r iê n c ia ” e m “ m etafísica” denota que na

p arte m e t a fís ic a o u d o g m á t ic a d a filosofia, que corresponde

à p a rte e p is t e m o ló g ic a c o n sid e ra d a superior, a saber, à parte

crítica, j á e s tá in c lu s a , v irtu a lm e n te , a própria “experiência”

co m o ta l ( p a r a e x e m p lific a ç ã o dessa relação para o campo

da físic a , v e r m e u e n s a io so b re exp licação e descrição). Se

co m isso fo r d e lin e a d a a re la ç ã o entre epistem ologia, meta­

física e c iê n c ia p a r tic u la r , re stam ain d a duas questões. A

p rim e ir a se r e fe r e à re la ç ã o en tre o m om ento crítico e o

m o m e n to d o g m á t ic o n a é tica e n a estética, que aqui deixa­

re m o s d e la d o , a o p o s t u la r d e m o d o sistemático uma solu­

ção n o s e n tid o a n á lo g o , n o âm b ito das ciências naturais; a

se g u n d a é r e fe r e n te à re la ç ã o entre filosofia e religião. Fica

claro a s s im q u e , fu n d a m e n ta lm e n te , é preciso lidar com a

q u estão n ã o p e la re la ç ã o existen te entre filosofia e religião,

m as, sim , p o r a q u e la e xiste n te entre filosofia e doutrina da

relig ião ; d ito d e o u tr a fo rm a , trata-se da pergunta pela rela­

ção e n tre o c o n h e c im e n t o e m geral e o conhecimento da

religião. Ig u a lm e n te , a q u e stã o sobre a existência da religião,

da arte, e a s s im p o r d ian te , p o d e desem penhar uma função

51
Erkenntnis von der Religion. A u ch d ie F ra g e nach dem

Dasein der Religion Kunst u.s.w. k a n n philosophisch eine

Rolle spielen aber nur im Wege d e r Fage7nach d e r philoso­

phischen Erkenntnis von solchem D asein . D ie Philosophie

fragt durchaus immer nach d er E rk en n tn is w o b ei die Frage

nach der Erkenntnis von ihrem D asein n u r ein e wenn auch

unvergleichlich hervorragende M o d ifik a tio n d e r Frage nach

der Erkenntnis überhaupt ist. Ja , es m u ß gesagt werden:

daß die Philosophie überhaupt in ihren Fragestellungen

niemals au f die D aseinseinheit so n d ern im m er nur auf

neue Einheiten von Gesetzlichkeiten stoßen kann deren

Integral „Dasein“ ist. - D er erkenntnistheoretische Stamm­

oder Urbegriffhat eine doppelte F u n k tio n . E in m a l ist eres

der durch seine Spezifikation, nach d e r a llgem ein logischen

Begründung von Erkenntnis ü b erh a u p t zu den Begriffen

von gesonderten Erkenntnisarten u n d d a m it zu besonde­

ren Erfahrungsarten durchdringt. D ies ist seine eigentlich

erkenntnistheoretische B ed eu tu n g u n d zugleich die eine,

schwächere Seite seiner m etaphysischen Bedeutung. Jedoch

kommt der Stamm- und U rb eg riff d e r E rken n tn is in die­

sem Zusammenhang nicht zu e in e r ko n k reten Totalität der

Erfahrung, ebensowenigzu irg en d e in em B e g r iff von Dasein.

Es gibt aber eine E inheit d e r E r fa h r u n g d ie keineswegs als

Summe von Erfahrungen versta n d en w e rd e n kann, auf die

sich der Erkenntnisbegriff als L eh re in sein er kontinuierlichen

52
filosófica, embora apenas por meio da questão sobre o que
é o conhecimento filosófico dessa mesma existência. A filo­
sofia sempre indaga sobre o conhecimento, em relação ao
qual a questão do conhecimento de sua existência é apenas
uma modificação, embora uma modificação incompara­
velmente extraordinária, da questão do conhecimento em
geral. Mais ainda, deve ficar claro que a filosofia, ao levantar
questões, nunca pode se deparar com unidades existentes,
senão unicamente com novas unidades de leis, cuja integral
nomeamos “existência”. O protoconceito epistemológico-
-teórico original tem uma função dupla. Por um lado, ele é
aquele que, por meio de sua especificação, de acordo com o
fundamento lógico geral do conhecimento, chega aos con­
ceitos de tipos separados de conhecimento e tipos especiais
de experiência. Isso é na verdade seu significado teórico-
-epistemológico, tornando-se, ao mesmo tempo, o aspecto
mais fraco de seu significado metafísico. Contudo, o proto­
conceito ou conceito original do conhecimento não alcança,
nesse contexto, a totalidade concreta da experiência, muito
menos qualquer conceito de existência. Mas há uma uni­
dade de experiência que não pode, de forma alguma, ser
entendida como a soma de experiências à qual o conceito de
conhecimento se refira diretamente como doutrina em seu
desdobramento contínuo. O objeto e o conteúdo dessa dou­
trina, essa totalidade concreta da experiência, é a religião,

53
Entfaltung unmittelbar bezieht. D er Gegenstand und Inhalt

dieser Lehre, diese konkrete Totalität d er Erfahrung ist die

Religion, die aber der Philosophie zunächst nur als Lehre gege­

ben ist. Die Quelle des Daseins liegt nun aber in der Totalität

der Erfahrung und erst in der Lehre stößt die Philosophie auf

ein Absolutes, als Dasein, und damit a u f je n e Kontinuität im

Wesen der Erfahrung in deren Vernachlässigung der Mangel

des Neukantianismus zu vermuten ist. In rein metaphysi­

scher Hinsicht geht der Stammbegriff der Erfahrung in deren

Totalität in einem ganz anderen Sinne über als in seine ein­

zelnen Spezifikationen, die Wissenschaften: nämlich unmit­

telbar, wobei der Sinn dieser Unmittelbarkeit gegenüber jener

Mittelbarkeit noch zu bestimmen bleibt. E ine Erkenntnis ist

metaphysisch heißt im strengen Sinne: sie bezieht sich durch

den Stammbegriff der Erkenntnis a u f die konkrete Totalität

der Erfahrung d. h. aber a u f Dasein. D e r philosophische

Daseinsbegriff muß sich dem religiösen Lehrbegriff, dieser

aber dem erkenntnistheoretischen Stam m begriff ausweisen.

Dies alles ist nur skizzenhafte Andeutung. D ie Grundtendenz

dieser Bestimmung vom Verhältnis zwischen Religion und

Philosophie ist aber: gleichmäßig zu erfüllen die Forderungen

erstens der virtuellen Einheit von Religion u nd Philosophie,

zweitens der Einordnung der Erkenntnis von der Religion in

die Philosophie, drittens der Integrität d er Dreiteilung des


Systems.

54
inicialmente dada à filosofia, no entanto, apenas como uma
doutrina. A fonte da existência, no entanto, está na totali­
dade da experiência, e é somente na doutrina que a filosofia
encontra um absoluto, como existência, e assim essa conti­
nuidade na essência da experiência, cujo menosprezo deve
ser atribuído a um a deficiência do neokantismo. De um
ponto de vista puram ente metafísico, o conceito original de
experiência ultrapassa a totalidade dessa experiência num
sentido muito distinto de como ela o faz em suas especifi­
cações particulares, as ciências. Fá-lo sem dúvida de modo
imediato, em bora o sentido dessa imediação ainda não
tenha sido determinado em face daquela mediação. Que
um conhecim ento seja metafísico significará stricto sensu
que ele se refere, por meio do conceito original de conheci­
mento, à totalidade concreta da experiência, ou seja, à exis­
tência. O conceito filosófico de existência deve legitimar-se

a partir do conceito religioso de doutrina; esse se dá, no


entanto, a partir do conceito original epistemológico. Tudo
isso é apenas um a indicação esboçada. A tendência básica
dessa definição da relação entre religião e filosofia é, no
entanto, atender, de maneira uniforme, às exigências de:
primeiramente, a unidade virtual de religião e filosofia; em
um segundo momento, a classificação do conhecimento da
religião na filosofia; em um terceiro, a integridade da divi­
são tripartida do sistema.

55
io t a s

Notem que há doíi termo* semelhante* ncvve trecho que fo


da seguinte forma: Rechtfertígung [justificação]« Rechemchaft ju
A opção por justificativa tem uma maior recorrência na , traduçó m
do pensamento de Kant, (N. do X)

Aqui temos a palavra Erkenntmtheorie traduzida por epútemoiogo, assim


seguirá em todo ensaio. Em alemão também há o sinônimo EpiOemologiermais
próximo do português. Em algum momento do texto surgirá, na tradução,
Teoria do conhecimento, porque Benjamin, seja intencionaimerítt ou não, usa
em alemão 'Theorie der Erkenntnis. A mudança manteve-se respertada. 1 do I ,
A escolha pela tradução da palavra Aufklárung por “esclarecimento" deu-sepeio
entendimento de que ela envolve mais conceítualmente o período que ficou
conhecido por Ilumínismo, ou seja, uma tradução abrangente que engloba não
somente uma datação histórica, mas também questões conceituais. N. do I ,
Moses Mendelssohn (1729-1786; e Chrístian Garve (1742-1798) foram filóso­
fos alemães. Sobretudo Mendelssohn foi considerado uma grande referência
do judaísmo do século XVIII associado ao Esclarecimento. [N. do T.j
Apesar da preferência pela tradução de por vir como ideia de um futuro emvias
de aparição na forma do particípio I kommend, aqui, em alemão, surge outro
adjetivo, künftig. Assim como kommend, deu-se a opção por vindoura e não
futura, como vem sendo a tradução recorrente na obra de Kant [eem traduções
do texto de Benjamin em outros idiomas], sobretudo no título Prolegomena zu
einer jeden künftigen Metaphysik, die ais Wissenschaft wird auftreten konnen
[Prolegômenos para toda metafísica futura que se apresente como ciência]. Até
porque Walter Benjamin refere-se aqui a sua proposta de reformulação do pen­
samento de Kant em nome de sua filosofia por vir, vindoura. [N. do X]
Johann Georg Hamann foi um filósofo e escritor alemão. Dentre as obras
sugeridas neste ensaio destaco: MRecensão da Crítica da razão pura” (1781) e
“Metacrítica sobre o purismo da razão” (1784). [N. do T.]
Benjamin refere-se aqui, provavelmente, à palavra M Frage” [pergunta, ques­
tão] e não à “Fage” como está escrito em seu ensaio. [N. do T.J

57
posfácio
W a lle r Benjamin:
a filosofia por vir
nos braços do Messias
por Helano Ribeiro
I

O ensaio intitulado Sobre o programa da filosofia por


vir [ Ü b er das Program m der kommenden Philosophie] foi
entregue por Benjamin, a partir de uma cópia elaborada
por sua esposa, Dora Sophie Benjamin, ao amigo e inter­
locutor Gershom Scholem, no início de 1918. A leitura
desse trabalho fez com que ambos tivessem várias discus­
sões em torno daquela que parecia uma tentativa de sis­
tematização da sua filosofia. No entanto, a essência deste
escrito floresceu, provavelmente, com base nas observa­
ções de Walter Benjamin ao amigo através de uma carta
datada de 22 de outubro de 1917. O Suplemento, segundo
Scholem, deve ter sido escrito em março de 1918.
Gershom Scholem destacou alguns aspectos formais
do texto de Benjamin, fundamentado por regras grama­
ticais de pontuação da época, tendo em vista que 0 autor
desconsidera, em alguns trechos nesta produção, por

63
exemplo, a utilização de vírg u las e p ro b le m a s de ortografia.

Benjamin chega a ignorar, em b re ve s p a rte s d o m anuscrito,

algumas palavras, que o p ró prio G e rs h o m S c h o le m perm i­

tiu-se completar (entre parêntesis). E ssa s c h e g a m a ser as

principais características de u m a e scrita q u e dificultam , de

certa forma, o combate [para n ão re p e tir se m p re a palavra

tarefa] do tradutor, visto que lh e p a re c e m u ito m ais uma

luta do que apenas m era tarefa co m seu su p o sto original.

Nesse texto, encontra-se um dos prim eiros temas dis­


cursivos de um ponto central de seus trabalhos posterio­
res: o conceito de experiência; o qual fora delineado pelo
diálogo com esse mesmo conceito tom ado na perspectiva
de Immanuel Kant, a partir dos P rolegôm enos, publicado
por Kant em 1783. Benjamin recorre, do m esm o modo,
à Crítica da razão pura , de 1781, entre outras obras, para
fundamentar seu Program a de u m a filo so fia p o r vir. Ele
expõe paralelos entre a filosofia kantiana e a sua, ao
mesmo tempo que aponta em K ant a ausência de refle­
xões voltadas à necessidade de estabelecer relações entre
0 conceito de experiência e linguagem . N ão era seu obje­
tivo, todavia, abalar dram aticam ente o sistem a kantiano,
mas, sim, destacar nele a falta de articulação de um con­
ceito de experiência que tivesse com o base a linguagem e
suas correspondências na E rk en n tn isth eo rie [epistemolo-
gia], incluindo teologia, arte e história.

64
II

S o b re o p ro gram a d a f i lo s o f ia p o r v ir , cabe dizer


que se trata d a reflexão de uma segunda caminhada de
B e n ja m in n a d ireção do amadurecimento da ideia de
e x p e r iê n c ia co m o conceito da filosofia por vir. O intuito
de tal p ro g ra m a seria, então, menos formular o projeto
de u m n o v o sistem a do que encontrar algo que simples­
m ente n ã o p ô d e ser visto anteriormente na superfície
do co n ce ito k an tian o de experiência devido às luzes do
E scla re cim e n to e d a razão.
E sse m o v im e n to assemelha-se ao que Georges Didi-
H u b e rm a n p ro p õ e em suas observações na crítica da arte.
P ara D id i-H u b e rm a n , o não saber da imagem obnubilado
pelas lu z e s, seu p ró p rio in-visível, aquilo que não é dado
à lei d o ló g o s en q u an to razão, nos coloca um problema
que é, so b re tu d o da ordem do inconsciente, ou seja, da
lin g u a g e m . U m exem plo dessa tese está em sua análise
sobre o q u a d ro de F ra Angélico, o afresco A A n u n cia ç ã o ,

em q u e ele p e rsc ru ta detalhes anteriormente ignorados


na c rític a d a arte, com o a brancura, o vazio que o branco
p ro v o c a e q u e p o u co havia sido comentado na história da
arte até en tão. D id i-H u b erm an , ao ver aquilo que não está
d ad o ao o lh a r p ela própria cegueira da, aparentemente,
in ó c u a b ra n c u ra da pintura, mostra que ela também foi
cap az d e e n c a n d e a r seus intérpretes. Em outros termos:

65
estar diante da imagem significa não som ente estar diante
do tempo, mas também da linguagem e da história.
No caso de Benjamin, isso indicaria, já precocemente,
escovar a história da filosofia kantiana e seu conceito de
experiência a contrapelo, ao proceder m ais ou menos da
mesma forma: ele procura nas m argens do lógos o que
não pode ser dado à visão ofuscada pelo excesso de cla­
ridade das luzes do Esclarecimento. Trata-se, portanto,
de investigar o outro lado de lógos, que não o da razão
triunfante, mas o da linguagem. Isso significa resgatar o
phántasma, a imagem enquanto D arstellung como uma

nova forma de conhecer.

III

Anterior ao Sobre o program a d a filo so fia por vir,


encontramos outro ensaio de temática afim, datado de
1913, intitulado Experiência [E rfahru n g ], que é retratado
por Benjamin (diga-se aqui: mais diletante) como uma
forma de mobilização para a ação das forças rebeldes de
juventude contra uma suposta “experiência inerte” e pouco
revolucionária da maturidade adulta. Os trabalhos que
vão de 1910 a 1915 mostram, em geral, ensaios literários em
diferentes gêneros, sejam anotações de diários ou em arti­
gos, que se conectam com a representatividade dos objeti­
vos da Jugendkulturbewegung [M ovim ento da Juventude].

66
O s cham ados textos de juventude irão fazer jus a uma
ideia de juventude portadora da voz revolucionária que
B en jam in tanto valorizava - não por acaso, ele mesmo
participou ativamente do movimento estudantil, ao lado
de seu mentor, Gustav Wyneken [com quem Benjamin
rom pe em 1915] de modo que, toda essa potência mili­
tante da juventude entra, profusamente, nos escritos
dessa época, revelando-se através de uma renovação espi­
ritual na sociedade alemã contra a má experiência reacio­
nária do adulto. São exemplos de textos desse período:
O p o sicio n a m en to religioso da nova juventude [Die reli-
giòse Stellu n g d e r neuen Jugend] (1914); A vida dos estu­

dantes [D as L eb en d er Studenten] (1915); entre outros. A

abordagem de temas como reforma pedagógica, ensino


e educação, e associações estudantis, sobretudo presen­
tes no texto A v id a dos estudantes, resumem bem a fase
de Ben jam in que retratava esse momento da juventude
revolucionária contra a estagnada “experiência” bur­
guesa. É im portante frisar que as posições epistemológi-
cas seguidas posteriorm ente apontam para um Benjamin
m ais cauteloso com o conceito de experiência, especial­
m ente no que diz respeito ao seu pouco apreço à ideia de
“experiência” nos escritos de juventude [não a negando,
m as apontando nela uma mudança necessária]; esse foi
apenas um fio condutor que 0 fez repensar a noção de

67
experiência como conceito aliado de sua ética da memó­
ria na produção crítica vindoura.
No ensaio de 1917/1918, ao final da Prim eira Guerra,
Benjamin entrega-se a uma discussão do conceito de
experiência, que surgia para ele, dessa vez, não como um
antagonista da juventude revolucionária, mas sim, como
investigação da filosofia de Kant. Benjam in propõe-se
a pensar nesse conceito, partindo das possibilidades na
filosofia que fujam da dicotomia sujeito-objeto, bem
como dialoguem diretamente com a ideia de lingua­
gem enquanto M édium, a partir da discussão iniciada
no ensaio de 1916: Sobre a linguagem em gera l e sobre a
linguagem do homem [ Über Sprache überhaupt und über

die Sprache des M enschen ]. Esse complexo texto se revela


já como uma espécie de resposta ao binôm io kantiano
- matemático/físico - da relação sujeito-objeto, a saber,
como uma outra forma de experiência: o retorno ao lado
ignorado do Xóyoç, ou seja, a linguagem, o experimentum
linguae alicerce do espírito [Geist ]. Em Sobre 0 programa

da filosofia p o r vir, Benjamin dem onstra que Kant des­

conhece que 0 conhecimento filosófico passa, antes da


mecanicidade matemática, pela linguagem e pela expe­
riência religiosa e estas, apenas estas, podem atingir 0
nível mais superior da filosofia por vir. Sua amplitude nos
viabiliza outra experiência: a da história.

68
IV

Posteriormente, já nos anos 30 (diga-se também: nos


anos da ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, na
queim a de livros e na tentativa de destruição da memó­
ria degenerada e da história), em um possível terceiro
m om ento da conceituação de experiência, encontram-
-se outros importantes textos de Benjamin: Experiência
e p o b reza [Erfahrung und Armut] (1933); O contador de

histórias: reflexões sobre a obra de Nikolai Leskov [Der


Erzähler. Betrachtungen zum Werk Nikolai Lesskows]

(1936); dentre outros, nos quais ele leva adiante a discus­


são sobre o conceito de experiência desde a ótica bipar­
tida entre a chamada experiência coletiva [Erfahrung]
e a vivên cia individual [Erlebnis]. A Erfahrung é aquela
que se perde, ou melhor, a que entra em vias de extinção
na M odernidade, em detrimento de outra individual e
intransm issível [Erlebnis], sintoma da mudez da coletivi­

dade, que coincide não só com a pauperização aurática


na sua possibilidade de reprodução técnica, mas tam­

bém com o avanço da imprensa, 0 sucesso do romance


m oderno, enfim , todo o progresso da história que seria

aliado da d ilu içã o da experiência enquanto Erfahrung ou


m em ória coletiva.

69
V

A respeito da constelação teórica/imagética de Walter


Benjamin, é importante salientar ainda um pensamento
gestado [seja esta gestação (3 íoç, gesto ou fisiognomia]
que se dirá aberto dele mesmo, a saber, a contar de uma
elaboração do espírito [Geist] pouco apegado às noções
temporais de presente, passado e futuro. Isso ocorre,
porque essas categorias estão, segundo Benjamin, a ser­
viço da história dos vencedores e da ciência teleológica
e positivista. Assim, foi mais do que necessária a tradu­
ção deste particípio k o m m e n d como p o r v ir. A forma
em particípio I ko m m en d na língua alemã representa em
português algo da ordem do inacabamento, quase como
a espera do Messias que está sempre por vir, sempre
prestes a suspender, exatamente, essa implacável histó­
ria de xpóvoç, o deus impiedoso que devora até mesmo
seus próprios filhos [daí a escolha de uma filosofia por
v ir e não fu tu ra como em algumas traduções cotejadas].

Em síntese, p o r v ir é, portanto, não fechamento, inaca­


bamento, ele mesmo abrirá espaço para o dia em que a
filosofia, ela própria, encontrará sua verdade nos braços
do Messias: na liberdade, no fantasma, na loucura, no
inconsciente e na linguagem, momento em que sairemos
da infância muda e adentraremos a história.

70
que mergu^ar realmente no universo

Ponto que devemos atingir" (K afka).

A p r im o r o s a tra d u çã o de H elano
R ib e iro d e Über das Programm
er kommenden Philosophie, texto
á rd u o e m su a ab ord agem até certo

ponto contrapontística com textos


kantianos, e confeccionado em um
momento particularmente difícil da
humanidade ocidental (1917-18), que
trata primordialmente de uma das
compreensões pelo autor do termo
“experiência”, enriquece sobremaneira
a recepção mais recente do pensador
berlinense no Brasil. Para além das
várias versões de obras clássicas
mais conhecidas, temos agora,
crescentemente, a oportunidade de
privar com textos benjaminianos menos
conhecidos, muitas vezes mais curtos,
porém não menos importantes que os
clássicos. O texto ora publicado, seguido
de um excelente posfácio do tradutor, e
mais um testemunho notável do nível de
qualidade de que já dispomos, em nosso
meio, em termos de vias de acesso,
estado e crítica a esse autor, Wata
Benjamin-um pensador m d tsp » «
aqui e agora, hoje e sempre.
RicarT m m d e S w :*
(PUC-RS)
A tareia centra! da filosofia por flr será apreender as mais
profundas ideias, as quais ela retira do tempo e do presságio
de um grande futuro, e transformá-las em conhecimento ao
relacioná-las ao sistema kantiano.

É da maior Importância para a filosofia por vir reconhecer


e diferenciar quais elementos do pensamento kantiano
devem ser apreendidos e desenvolvidos, quais devem ser
modificados e quais devem ser rejeitados.

UI
Assim, é colocada a exigência principal para a fllosolla
presente e, também, afirmada sua exequlbllidade: elaborar,
dentro do sistema do pensamento kantiano, os fundamentos
epistemológicos de um conceito superior de experiência.

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