Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
,'"'• • - :^ r
t r ês a u la s de Sér gio F er r o
'• /. '
^ r '^ j
KK^ B£K''1'%-'<t f^ S^
ISBN 85-60467-01-3
lif^
2010
Sa lva dor , 2 de fever eir o de 2010
N ã o é a pr im eir a vez.
77
>e Con t ier
115
J OSÉ EDUARDO DE ASSiS LEFÉVRE
E J OSÉ PEDRO DE OLIVEIRA COSTA
Gr en oble a t é a posen t a r -se n o a n o de 2003. Além de t er con st r u ído det a lh a m u it a s da s in fom ia ções con st a n t es dest a s a u la s.
a lgu n s pa r leu r s pa ssa m a desen h a r . E con h ecida u m a lin h a gem de h á pedr eir o de u m la do, escu lt or de ou t r o.
gr ot oa r qu it et os con h ecidos com o P a r leu r s. Ain da h oje podem os ver O p er ga m in h o em vez d a t er r a , o es t ú d io em vez d o ca n -
n a sede do ca n t eir o de obr a s da ca t edr a l de E st r a sbu r go u m dese- t eir o - e o vir t u os is m o com o d em on s t r a çã o d e s a ber . Ch ega m os
n h o en or m e a plica do qu a se a r isca . a o gót ico fla m boya n t , su a s r en da s de pedr a e efeit os su r pr een den -
Ist o m u da a or ga n iza çã o e a r espon sa bilida de do ca n t eir o. t es - on de a n ecessá r ia h a bilida de dos execu t a n t es exa lt a a pr oeza
E m vez de segu ir decisões descon t ín u a s e qu a se in depen den t es do pr ojeü st a . Cr esce o r espeit o pêlos pr ot oa r qu it et os. Algn n s sã o
[5] Aliá s, fu i sócio con t r ibu idor dest e
u m a s da s ou t r a s (m a s a u t ón om a s), o ca n t eir o pa ssa a ser or ien t a do en t er r a dos n a s ca t edr a is qu e desen h a r a m - u m a h on r a ext r a or di-
[3] Há poucas fontes históricas seguras canteiro. A explicação é a seguinte: para
sobr e E r win de St ein ba ch , m a s é con - por u m a or dem m a is globa l, por u m a visã o de con ju n t o qu e o dese- n á r ia ! - e u sa m lu vïr ó br a n ca s, diz u m com en t a dor da época , pa r a execu t a r os m a la ba r ism os do com pa s-
siderado pela tradição como o principal n h o e a m a qu et e sepa r a dos possibilit a m 4. A t ot a U za ça o de Ch a r t r es, bem m osü 'a r qu e n ã o t oca m n a m a t ér ia . Ma s o qu e é ga n h o n u m sinho que cortou seu cordã o umbilica l
"a r qu it et o" da ca t edr a l de St r a sbou r g. com o ca n t eir o, a s pedr a s t iver a m qu e
obr a a in da do pr im eir o gót ico, é u m a r esu lt a n t e a ber t a e pou co la do é per dido n o ou t r o. Todos n o ca n t eir o, se pu dessem volt a r à
Uma inscrição hoje desaparecida, mas ser cor t a da s segu in do ga ba r it os u lt r a r e-
docu m en t a da , diz cla r a m en t e: "a n n o do- r ígida . J á a pa r t e dia n t eir a da ca t edr a l de E st r a sbu r go, post er ior , cooper a çã o sim ples, poder ia m er gu er , sós, a s ca t edr a is - e sem os duzidos. Ora, o frio do inverno da Alsácia
mini MCCD(XV!1 in die beati urfaani hoc a pr esen t a u m a t ot a liza çã o fech a da , pr é-det er m in a da . E st a n ova t o- a bsu r dos ger a dos pelo com pa ssm h o a t r evido. O sa voir t écn ico er a fa z est ou r a r , a ca da a n o, u m m on t e de
gloriosum opus inchoavit magister Erwin colu n et a s e peça s de decor a çã o. P a r a
t a liza ça o já n ã o é m a is a do ca n t eir o, a de su a lógica im a n en t e, ela com pa r t ilh a do por t odos. As con st r u ções da s gr a n des obr a s en t r a -
de St ein ba c". E !a est a va gr a va da n a ca - se obedecer a os t r a ça dos do desen h o;
tedral e é a origem da tradição. Goethe vem de for a . Ou t r o sím bolo expr im e bem a a lt er a çã o: em vez do r a m n u m a fa se a m bígu a . F or m a lm en t e, t in lia m a s ca r a ct er íst ica s a lgu m a s dest a s coiu n et a s a lon ga dís-
Ë o movimento neogótico do século XIX com pa ssa o, dom in a a gor a o com pa ssin h o. E m vez do in st r u m en - da cooper a çã o sim ples: er a o r esu lt a do do t r a ba lh o de u m cole- sim a s t iver a m qu e ser su st en t a da s por
for a m os pr in cipa is r espon sá veis pela pequ en a s ba r r a s de fer r o qu e, escon di-
t o da pr odu çã o, o in st r u m en t o do desen h o. P ela pr im eir a vez, n o t ivo r ela t iva m en t e h om ogén eo. Ma s est e se su bm et er a a o poder
transformação de Erwin no grande herói da s de n ossa vist a , ser vem de m u let a s.
da arquitetura gótica. per íodo qu e con sider a m os, su r ge o divór cio en t r e o desen h o e o d e u m "m es t r e" qu e s e s ep a r a r a d o r es t o d o cor p o p r od u t ivo, o
Ë ou t r a vez, o fr io e o ca lor , pr ovoca m
[4] Not e-se qu e a pr eocu pa çã o com a ca n t eir o. E st r a sbu r go a in da ser ve com o exem plo: n o fu n do, h á u m a qu e a u t om a t ica m en t e o desqu a lifica va . N ã o se ü r a t a a in da de u m dilatações ou confrações diferentes nos
harmonia e com a unidade do todo nasce dois m a t er ia is e m a is r u pt u r a s. Assim , a
a u st er ida de qu a se br u t a list a do pr im eir o góú co, m a s, n a fa ch a da , o pr ocedim en t o ca pit a list a . Os gr a n des ca n t eir os n ã o a lim en t a va m a
com o isolamento do desenho. A unidade ca da a n o é pr eciso r efa zer est a s peça s,
com pa ssin h o exibe su a a u t on om ia , en ca n t a -se com o em a r a n h a do a cu m u la çã o do ca pit a l dir et em en t e, m a s a t r a vés do desen volvim en - sa ben do qu e, n o a n o segu in t e, ser á pr e-
da produção autónoma é a do corpo pro-
dutiw, não a do produto. da s cu r vin h a s, com os com plexos en r osca m en t os en sim esm a dos e t o u r ba n o qu e fa vor ecia m . ciso r ecom eça r .
16 17
e na
u m . pou co de m oleza (a gor a , t r a t a -se de m a is-va lia r ela t iva ). Ma s
a i: escon ü m seu s
u zir : a qu e ciin giu por u m
t en da à su a su bm issã o.
ï, m a s s u a
e só
d er r ot a d os n o com eço d o s écu lo xv. Vok a r a m os n obr es , os r icos , ^ s. a ser diver t ido a com pa n h a r os in con t á veis
discu ssões da
Iass aa ca dem ia s qu
quee tten
enttaarraam
m ju
juststifica
ificar raa a doçã o do clá s-
e depois gr ego). Aliá s, a pr ocu r a de legit im a çã o só
F ior i (de m odo sem elh a n t e, a Ba sílica do Sa cr é Coeu r de P a r is, • eu dois sécu los a pós su a a plica çã o. F ilósofos, con n a isseu r s., em -
n a r o voca bu lá r io g-ót ico, pa r a fin a lm en t e m u da r de código e pôr o t écn icos. N a ca pela Mediei9, por exem plo, desen h ou pila st r a s, a r -
sa voir fa ir e oper á r io a t r á s do cen á r io. De com pon en t e do ca n t eir o, qu it r a ves e ca pit eis sobr epost os a u m a pa r ede em st u cco qu e escon de
o desen h o solt o pa ssa va a ser h ost il a o ca n t eir o. An t es a lia do dos u m a m a ça r oca con st r u t iva de péssim a qu a lida de. N o pr im eir o a n -
t r a ba lh a dor es, t r a n sfor m ou -se em a r m a do ca pit a l con t r a eles. da r a s pr opor ções sã o m a is ou m en os r espeit a da s. J á n o segu n do,
A fu n çã o oposit iva e dom in a dor a do desen h o n ã o é o r esu l- a s pila st r a s sã o fin a s dem a is, ja m a is su st en t a r ia m a cú pu la su per ior .
t a do de u m a t á t ica con scien t e dos a r qu it et os. E la decor r e da est r u - Além disso, u m a fa bca br a n ca de st u cco in t er r om pe a con t in u ida de
t u r a da s r ela ções de pr odu çã o qu e in depen de dos a for es socia is pa r a est r u t u r a l (m a s t a lvez ele t ivesse pr evist o ou t r a coisa , ele deixou
oper a r . Ao se sepa r a r , o desen h o se põe com o difer en t e do ca n t eir o; a ca pela in a ca ba da ). N a bibliot eca La u r en cia n a é m a is explícit o
a difer en ça evolu i em . oposiçã o; e da oposiçã o pa ssa à con t r a diçã o. a in da : a s colu n a s en ca st r a da s, su post a m en t e est r u t u r a is, sã o m a is
Vim os com o se opõe; m a ssa cr a n do a con st r u çã o t r a dicion a l com a delga da s qu e a s pa r edes su post a m en t e n ã o est m t u r a is. E xem plo
lin gu a gem clá ssica , o qu e pr ovoca a deca dên cia do sa ber con st r u - con t r á r io pode ser en con t r a do n a colu n a t a de P er r a u lt pa r a o Lou -
t ivo. Ma s est a oposiçã o leva à con t r a diçã o. Assim , o desen h o qu e vr e: a a r qu iü r a ve en or m e é t ecn ica m en t e im possível em pedr a . A
m a sca r a , qu e se põe à fr en t e da con st r u çã o r ea l, t em a t en dên cia a qu e podem os ver n o loca l é de m en t ir in h a , por den t r o cor r e u m a
se m ost r a r com o m á sca r a . E m ou ü 'o loca ! dei o exem plo da P in a - cor r en t e em fer r o.
cot eca de Sã o P a u lo. N o qu e foi con ser va do da obr a de Ra m os de E m qu a s e t od a a r qu iíet u r a clá s s ica p od em os en con t r a r a
Azevedo, vem os qu e o pr édio se su st en t a pela m a ssa da a lven a r ia de m esm a du a lida de esqu isit a . P or t r á s, u m a con st r u çã o r ea l de pou ca
t ijolos. E n t r et a n t o, est a m a ssa t om a desn ecessa r ia m en t e a for m a de qu a lida de; n a fr en t e, o a pa r a t o clá ssico qu e n ã o disfa r ça su a a r t ifi-
u m a con st r u çã o com pila st r a s, a r qm t r a ves, et c. - do m esm o m odo, cía lida de. A a pa r ên cia da obr a , o qu e ela n os m ost r a , n ã o escon de
poder ia a ssu m ir qu a lqu er ou t r a for m a qu e m a n t ivesse a m esm a dem a is qu e é som en t e a pa r ên cia . E a pa r ên cia qu e diz qu e é a pa -
m a ssa . P odem os ver est a discr epâ n cia por qu e a con st r u çã o n ã o foi r ên cia , a pa r ên cia da a pa r ên cia qu e, H egel dixít 10, r evela a ssim qu e
r evest ida . Ma s a m esm a du a lida de (m a ssa qu e su síen t a /decor a ça o é a pa r ên cia de ou t r a coisa , de u m a essên cia qu e só pode en t r a r n a
fict ícia ) pode ser en con t r a da n a m a ior ia da a r qu it em r a "clá ssica " efet ivida de a ü -a vés da a pa r ên cia - se est a se m ost r a r com o a pa r ên -
it a lia n a , por ém , h á u m det a lh e cu r ioso e sin t om á t ico: o desen h o cia . Assim , o qu e se r evela n o clá ssico a pa r en t e, qu e se m ost r a com o [9] FERRO, Sérgio, Michet-Ange. archi-
qu e m a sca r a a con st r u çã o n ã o se esfor ça m u it o pa r a pa r ecer con - a pa r ên cia , é u m a or den a çã o m em or ia l da s coisa s (a s r u m a s r om a - íecte et sculpteur de la chapetle Medíeis.
vin cen t e. De u m a m a n eir a ou ou t r a o desen h o deixa per ceber qu e, n a s qu e com eça m a ser piedosa m en t e con ser va da s pr ova m su a in - Lyon, Pian Fixe Edition, 1998.
[10] Ver os trabalhos de Georg Wilhelm
n a r ea lida de, ele n ã o fu n cion a . Se o desen h o fosse t ot a lm en t e con - t em por a lida de), u m a or den a çã o u bíqu a . P ois pa r ece est a r em ca da
Friedrich HegeE: La scíence de ia logique
vm cen t e, im a gin a r ía m os qu e é a ssim pela for ça , da s coisa s, por r a - m on u m en t o a o m esm o t em po em qu e n ega est a r de ver da de, qu e (Vrin, 1970) e Propédeutíque philosophi-
zoes con st r u t iva s efet iva s. A lógica con sír u ü va est a r ia n o com a n do fa z dele seu delega do m a n t en do-se à dist â n cia : im a gem per feit a do í7üe(Minuit,1963),
it .-.Ã^ ^ »
ser r a r su a pu r eza
a. s
ver seu t r a ba lh o, o m ovim en t o
do a pa r ecer e o qu e n ã o est a a i
t ivo (pr odu zin do a i u m a a r qu it et u r a h íbr ida , m eio ca r r et a t ecn ica - coes qu e, m esm o en fr a qu ecida s, ser via m n a defesa dos t r a ba lh a -
m en t e, m eio a fet a da por u m . cla ssicism o seco, pa dr on iza do). E da í dor es, for a m desm a n t ela da s, sem qu e n a da pu desse su bst it u í-la s
se espa lh ou pa r a ou t r os t ipos de obr a s. lega lm en t e. O oper á r io ficou só con t r a o r est o da socieda de. O fig 9 Com u n a de P a r is. Ba r r ica da em
sa voÍr fa ír e, t r a dicion a lm en t e t r a n sm it ido pela s cor por a ções, deca iu frente a La Madeleine, 1 870,
Os a r qu it et os, en t r et a n t o, con ü n u a r a m a t er su a a n t iga fu n -
cã o econ óm ica : a ju da r a r ecolh er m a ssa s im por t a n t es de m a is-va lia . in evit a velm en t e. P a r a con t or n a r a sit u a çã o só er a possível con t a r
P a r a isso, pr ossegu ir a m a t u a n do de pr efer ên cia n os set or es da con s- com a s a ssocia ções de a ssist ên cia m ú t u a qu e, cla n dest in a m en t e,
t m çã o em qu e a com posiçã o or gâ n ica do ca pit a l a va n t a ja sse o Cv, pa ssa r a m a t er a fu n çã o da s a n ü ga s or ga n iza ções. Mesm o a ssim , os
et c-, obr a s qu e r equ er em n ã o som en t e h a bilida de gr á fica e con h e- lida de de seu s pr in cipa is líder es. A lit er a t u r a oper á r ia do sécu lo xix
cim en t o dos est ilos, m a s u m a boa dose de ir r a cion a lida de qu e ser ve é bem m a is exigen t e e a m biciosa qu e a do sécu lo xx. O r esu lt a do
à ost en t a çã o e, sobr et u do, a o a u m en t o da qu ot a do Cv. Com isso, de m do isso, en t r et a n t o, foi a dim in u içã o gen er a liza da de seu po-
est a s obr a s se t or n a m ver da deir os t esou r os, dispon íveis se a s coi- der . Os oper á r ios da con st r u çã o t in h a m u m a sit u a çã o especia l n es-
s ã s vã o m a l. N ela s , o p es o d o en gen h eir o er a m en or . S u a fu n çã o t e con t ext o. Á in du st r ia liza çã o t r a n sfor m a a su bm issã o for m a l do
econ óm ica , vin cu la d a a o Ce (ca p it a l con s t a n t e: qu e d eve s em p r e t r a ba lh a dor m a n u fa t u r eir o (o sa voir fa ir e essen cia l pa r a a pr odu çã o
ser r edu zido) er a dist in t a , m a s com plem en t a r da fu n çã o do a r qu i- con t in u a a t é en t ã o em su a s m ã os) em su bm issã o r ea l (o pr ocesso
t et o, qu e a t u a va pelo a u m en t o do Cv. Tu do isso con t in u a vá lido. A pr odu t ivo é ext er ior iza do pelo m a qu in a r ia , o t r a ba lh a dor pa ssa a
ir r a cion a lida de in t r ín seca da a r qu it et u r a ser via a in da a o ca pit a l de depen der dele). Or a , a con st r u çã o con t in u ou a ser m a n u fa t u r eir a , a
gen er a liza a econ om ia de m er ca do, ist o é, a va lida de u n iver sa l da lei t u a çã o pa r a doxa l: a dir eçã o com eçou a pr ocu r a r m eios á e su bm et er
do va lor (segu n do a qu a l o pr eço da s m er ca dor ia s é igu a l em m édia o t r a ba lh a dor r ea lm en t e, sem , en t r et a n t o, a ba n don a r a m a n u fa t u r a .
a o seu va lor ), os ven dedor es pr ocu r a r a m fa lseá -la a pr oveit a n do-se Volt a r em os a isso logo.
da s difer en ça s, pa r a obt er u m pr eço su per ior a o va lor . A pr oíu sã o de Du a s da t a s t êm im por t â n cia pa r a com pr een der o qu e se pa s-
est ilos qu e a a r qu it et u r a in ven t ou en t ã o - n eor r om â n ico, n eogót ico, sa r a n o fim do sécu lo xix, com eço do xx, n o qu e se r efer e à a r qu i-
ficções m ou r isca s, per sa s, or ien t a is, et c. -, r espon deu r a cion a lm en - t et u r a : 1848 e 1870. Du r a n t e a Revolu çã o de 1848 a pa r ece cla r a "
t e com n ova s fon t es de ir r a cion a lida de n ecessá r ia à for m a çã o dos m en t e a divisã o em cla sses da socieda de, n a pr á t ica e n a t eor ia . Com
t esou r os ost en t a t ór ios pr ovidos de r en da difer en cia l. Logo, en t r e- a pu blica çã o do m a n ifest o com u n ist a de Ma n e e E n gels, t or n a -se
t a n t o, a . m oda pegou e desceu n a esca la do lu xo - e a ext r a va gâ n cia explícit a a lu t a de cla sses. P ela pr im eir a vez, de for m a cla r a , os ope-
com eçou a se con t en t a r com er sa t z, em est a qu e dou r a do ou va r ia - r á r ios pr opõem a t eliês n a cion a is, a u t oger idos, sob o seu con t r ole.
coes de a pa r elh a gem . Vir ou est ilo por su a vez e pa r ou de ju st ifica r a O m a » con h ecido a t eliê, o de Cou r bet , pin t a do em 1855 e h oje
r en da difer en cia l. A difer en ça t or n a r á , m a is t a r de, ou t r os ca m in h os. expost o n o m u seu d'0r sa y, em P a r is, é u m a a lu sã o a ber t a a est es
E n qu a n t o is s o, o op er a r ia d o p a s s ou p or p r ofu n d a s m u t a - a t eliês oper á r ios. E st a r eivin dica çã o r et or n a em 1870, n o cu r t o in -
coes. A lei Lê Ch a pelíer , a pr ova da du r a n t e a Revolu çã o F r a n cesa t er r a lo da Com u n a . In sist o n est e det a lh e pa r a lem br a r qu e a s m et a s
d o m ovim en t o op er á r io d e en t ã o, a p es a r d e s u a r ep r es s ã o con s -
a r es. E st e m a t er ia l diver sifica do, en t r et a n t o, en ü -a va n u m pr ocesso
t a n t e, er a m ba st a n t e r a dica is. Su a m et a pr in cipa l er a a Revolu çã o pr odu t ivo de gr a n de r a cion a lida de e qu e u t iliza va , do m elh or m odo
- pelo m en os a de su a pa r cela m a is a t iva . Os jor n a is e os pequ en os
possível, os a va n ços do ca n t eir o de obr a s n u m a sín t ese per feit a pa r a
gr u pos de m ilit a n t es pr ega va m em seu s pa n flet os a t r a n sfor m a çã o a época . A t écn ica n eles a lim en t a r ea lm en t e a qu a lida de a r qu it e-
pr ofu n da da socieda de. t ón ica , per m idn do a pr oveit a r do pr ocedim en t o m a n u fa t u r eir o o
O fim do sécu lo xix, com eço do xx, é u m dos per íodos m a is qu e ele con t ém de possibilida des posiü va s. Ta is a r qu it et os sã o, em
fig 10 Restaurante Lê traln bleue. Gare com plexos da h ist ór ia da a r t e e da a r qu it et u r a : n ã o é sem r a zã o ger a l, a dm ir á veis - m esm o qu e n ã o t en h a m , ch ega do, n o seu a pr o-
de Lyon , P a r is. qu e vê n a scer o m oder n ism o. F a la r em os a gor a dele, la m en t a n do t er
veit a m en t o da m a n u fa t u r a , a t é a r evisã o n ecessá r ia de su a s r ela ções
qu e deixa r de la do t a n t a coisa á e pr im eir a im por t â n cia : H a u ssm a n , de pr odu çã o. F or a m r idicu la r iza dos pelo m oder n ism o, a ssim com o
Vt oIlet -le-Du c, Ru sk in , Mor r is, o a n n ou vea u , et c.
a a r qu it et u r a gót ica foi pela r en a scen ça : a s vir a da s de fu n do do ca -
E cost u m e ca r ica t u r a r est e per íodo da n do exem plos cor n o o
pit a i en t er r a m n o in fer n o o qu e a s pr ecede.
da Ga r e de Lyon em P a r is. A en t r a da é qu a se m n m a n ifest o dá a r qu i- Va m os r et om a r a lgu m a s qu es t ões . Du r a n t e o s écu lo xix,
t et xiï-n fin de siècle, bem eviden t e a in da n o r est a u r a n t e Lê t r a in bi eu , pou co a pou co, su r giu a t en dên cia de t r a n sfor m a r a su bm issã o for -
t om ba do com o m on u m en t o h ist ór ico (a ssim . com o os pr a t os de seu
n ía l3o t r a ba lh o n a con st r u çã o em su bm issã o r ea l, a pesa r de n ã o
fig 11 Ca is da Ga r e de Lyon , P a r is, ca r dá pio). U m fest iva l de est u qu es, ca n dela br os, m óveis decor a dos h a ver m du st r ia liza ça o. O objet ivo econ óm ico dest a t r a n sfor m a çã o,
1855. e pin t u r a s dos qu e obt iver a m o P r ix de Rom e . N ã o h á r eca n t o qu e com o n a Ín dzíst r ia , ë o a u m en t o da m a is-va lia r ela t iva , obt ida por
n ã o seja in vest ido por a lgïim a a lega r ia , m á sca r a s, flor es, fest ões, et c. u m a m a ior pr odu t ivida de do t r a ba lh o qu e dim in u i o va lor dos pr p-
Á est r u t u r a do pr édio som e sob o der r a m e de "in ven ções" e ca pr i-
du t os n ecessá r ios à r epr odu çã o da for ça de t r a ba lh o - do sa lá r io
ch os - é a pa r t e do a r qu it et o. At r á s da en t r a da , sem t r a n sições, o
por t a n t o. Lem br o qu e, a t é en t ã o, o cor po pr odu t ivo n a con st r u çã o
ca is dos t r en s, cober t o por u m a belíssim a est r u t u r a em m et a l, r igo-
gu a r da va a posse do sa voir fa ir e con st r u t ivo - a pesa r do a u m en t o da
r osa m en t e desen h a da , ext r a or din a r ia m en t e econ óm ica e elega n t e e
divisã o do t r a ba lh o e o r efor ço da dir eçã o de ca n t eir os. E st a sit u -
deixa da à vist a . Qu a se n en h u m a decor a çã o, sa lvo em a lgu n s ca pi-
a çã o se t or n a a lt a m en t e pr oblem á t ica pa r a o ca pit a l a pós a qu eda
t éis. Tu do com t a l qu a lida de t écn ica e de execu çã o qu e a t é h oje n ã o do Segu n do Im pér io (1870). An t er ior m en t e, a s or ga n iza ções ope-
foi n ecessá r io a lt er a r n a da , só con ser va r - é a pa r t e do en gen h eir o. r á r ia s, pr oibida s, lim it a da s e qu a se sem pr e secr et a s, n ã o t in h a m a
O con t r a st e br u t a l t em ser vido de a r gu m en t o pa r a dem on st r a r a dim en sã o n ecessá r ia pa r a con st it u ir u m a oposiçã o sér ia à dom in a -
n ecessida de do m oder n ism o: a vit ór ia da r a cion a lida de t écn ica qu e cã o do ca pit a l. Ma s o clim a polít ico a lgu n s a n os a pós a Com u n a
r equ er ou t r a a r qu it et u r a qu e n ã o seja a do "bolo de n oiva .
(1870) e a in st a la çã o da Repú blica , m en os a u t or it á r ia e r epr essiva ,
Ma s a s coisa s n ã o sã o t ã o sim ples. P or exem plo: os a r qu i-
per m it iu a for m a çã o de or ga n iza ções oper á r ia s m a is con sist en t es.
t et os dit os eclét icos sã o r a pida m en t e a ssocia dos a os cr ia dor es de Logo, n o fim do sécu lo, os pr im eir os sin dica t os for a m cr ia dos. Des-
"bolos de n oiva ". Or a , eles sã o exa t a m en t e o opost o dest es. N osso
con fia dos a pr opósit o da du vidosa Repú blica P a r la m en t a r , eles se
ca r o a m igo E pr on 15, excelen t e h ist or ia dor dest e per íodo, Ía m en t a -
t or n a r a m ofen sivos e cla r a m en t e m a r ca dos por u m a con sciên cia de
velm en t e esqu ecido, foi o pr im eir o a r ea gir con t r a a in t er pr et a çã o cla sse. E r a m a n im a dos por socia list a s, com u n ist a s, a n t igos pa r t ici-
n ega t iva d o eclet is m o e d em on s t r ou em s eu s p r ecis os es t u d os o
pa n t es da Com u n a liber t a dos e, sobr et u do, por a n a r qu ist a s. E les
[14] O Prixdefíome^ oi cria do em 1663 a va n ço con sider á vel dest es a r qu it et os sobr e os ou t r os á ofin desiecle. n ã o lu t a va m por m elh or es con dições de t r a ba lh o ou sa lá r ios so-
du r a n t e o r ein a do de LUÍS XiV, com o Ten h o pa r t icu la r est im a por eles. Tin h a m u m a con sciên cia a gu da
intuito de premiar os mais promissores m en t e: a gr a n de m et a , e em cu r t o pr a zo, er a a a u t on om ia pr odu t iva ,
a rtista s com uma bolsa de estudos em
da pr á t ica pr odu t iva . Sã o ch a m a dos eclét icos por qu e su a pr á t ica a a u t ogest ã o e a Revolu çã o socia l. Mu it os a con sider a va m possível e
Rom a , Or igin a lm en t e o pr ém io er a con - t em pa r en t esco com o ecleú sm o filosófico: escolh ia m a s m elh or es pr óxim a -- e n ã o som en t e os m ilit a n t es t r a ba lh a dor es. Ma r x pen sa va
cedido pela Academia Real de Pintura e solu ções, os m elh or es det a lh es, livr em en t e, en t r e os qu e a h ist ór ia
Escuitura e, a partir de 1720, também
a ssir r r e a m a ior ia da ju ven m de se dizia socia list a . At é a plá st ica dos
da a r qu it et u r a pu n h a à su a disposiçã o, in depen den t em en t e do fa t o n eoim pr ession ist a s, pr óxim os dos a n a r qu ist a s, pr ocu r a va pr eíigu -
pelaAcademia Real deArquitetura. [N.E.]
de per t en cer em a est e ou a qu ele est ilo ou época . Isso eviden t em en - r a r a "h a r m on ia d os com p lem en t a r es qu e d ever ia ca r a ct er iza r a
Ê 15] E P RON, J ea n -P ier r e, Va r ch it ec-
°.Ma r da Qa ,1998.[N,E ,] t e ir r it ou os h ist or ia dor es post er ior es, a m a n t es da s evolu ções U n e-
socieda de dos igu a is a su r gir em br eve. A a git a çã o oper á r ia cr esce e
a s n u m er osa s gr eves en t r e 1890 e 191 o, in qu iet a m os dom in a n t es e disfa r ça do: pedr a fict ícia em con cr et o, pila r es clá ssicos em fer r o
en cor a ja m os s im p a ü za n t es ^ .. fu n dido, et c.
Os t r a ba lh a dor es da con st r u çã o pa r t icipa va m a t iva m en t e Som en t e m a is t a r de, n a vir a da a o sécu lo, foi qu e o con cr et o
dest e desper t a r , e u n h a m u m a va n t a gem con sider á vel n a lu t a qu e com eçou a a t r a ir a a t en çã o. Su a s va n t a gen s u lt r a pa ssa va m de lon ge
pr ivilegia va a a çã o dir et a , a con fr on t a çã o n os loca is de t r a ba lh o, a s im p les qu es t ã o d os cu s t os d e p r od u çã o'7. O con cr et o n ã o p r o-
ca r a a os a n a r qu ist a s: a qu a se exclu sivida de do sa voir fa ir e con st r u - vocou r a pida m en t e u m sa voir fa ir e qu e se a cu m u la sse, u m a t r a diçã o
t ivo. E r a m a is fá cil pa r a r u m ca n t eir o sen do m est r e da s oper a ções. de m éïier qu e pu desse solda r u m a a lia n ça oper á r ia (a liá s, o m esm o
E les n ã o er a m fa cilm en t e su bst it u íveis com o n a in dú st r ia - e su a s ocor r e com o fer r o: a t é m esm o pa r a er gu er a . t or r e E iffel, n o fin -
or ga n iza ções, a in da est r u t u r a da s por m ét ier , fa vor ecia m a solída r ie- zin h o do sécu lo xix ~ o m on u m en t o à glór ia dest e m et a l - foi n e-
da de. E , pa r a pior a r a in da m a is a vida dos pa t r ões, su a s fr equ en t es cessa r ia r ecor r er a os ca r pin t eir os, ú n icos ca pa zes de leva r a dia n t e
gr eves seca va m a fon t e da s m a is gen er osa s m a ssa s de m a is-va lia qu e com pr ecisã o u m a obr a t ã o exigen t e). N em o con cr et o n em o fer r o
n u t r ia m o con ju n t o da pr odu çã o. P a r a o ca pit a l, a h or a er a gr a ve. pu der a m se con st it u ir com o ba se pa r a ofícios de pr oa n a lu t a ope-
F oi qu a se sem pr em edit a çã o qu e o ca pit a l em pr ega do n a r á r ia , com o a m a deir a e a pedr a . Os dois m a t er ia is exigem cá lcu los,
fig 12 Torre Eiffel, Projeto de Gusta ve
con s ü n çã o en con t r ou u m a s a íd a , n a ver d a d e es boça d a h á a lgu m est u dos est r u t u r a is, det a lh es t écn icos pr ecisos, dosa gen s ju st a s. U m Eiffel, Paris, 1889,
t em po. Mich el Ra gon n ot a , sem da r m u it a im por t â n cia : con h ecim en t o específico e com plexo qu e t em pou ca s sem elh a n ça s
com o s a ber em p ír ico e a p r oxim a ü vo d os p ed r eir os e ca r p in t eí-
E in t er es s a n t e lem br a r qu e a es t r u t u r a em fer r o n a s ceu r os. E le se con cen t r ou in evit a velm en t e n a s m ã os dos en gen h eir os
com o con s equ ên cia d e u m a gr eve d e ca r p in t eir os , em 1840. e t écn icos su per ior es - os qu a is, eviden t em en t e, n ã o se a pr essa r a m
Com o est a gr eve du r a va h á m u it o t em po pa r a lisa n do os t r a - em divu lgá -lo en t r e os t r a ba lh a dor es. A a r m a do sa voir fa ir e dest es
ba lh os de con st r u çã o, a s em pr esa s do Cr ezot t iver a m a ideia cede o lu ga r a o sa ber da qu eles. U m qu ia sm o de a r m a : o sa voir fa i-
de fa br ica r em sér ie vigot a s de fer r o. Se est e m a t er ia l de r e declin a n o ca n t eir o pr ovoca n do desqu a lifica çâ o; o sa ber cr esce,
su bst it u içã o n ã o dest r on ou com plet a m en t e a m a deir a , t eve ca u sa n do m a is poder pa r a a pr escr içã o. E st e ba scu la m en t o r efor ça
en t r et a n t o por con sequ ên cia o n a scim en t o de u m n ovo cor ps a m a is-va lia r ela t iva , o qu e vem de en con t r o com os in t er esses do
de m ét ier . Da qu i pa r a fr en t e o m ecâ n ico t en der ia a su bst it u ir ca pit a l dia n t e da s pr essões cr escen t es pela r edu çã o da jor n a da de
o pedr eir o, com o o en gen h eir o com pen sa r ia a dem issã o a o t r a ba lh o - ist o é, con t r a a m a is-va lia a bsolu t a .
a r qu it et o [...] os m â u sü -ia is t in h a m u t iliza do â est t n t u r a de P ou co a pou co a m a deir a e a pedr a deser t a r a m o ca n t eir o,
fer r o com o "qu ebr a d or a s d e gr eve". a t é su a t á cit a pr oscr içâ o pelo pr im eir o m oder n ism o. P edr eir os e
ca r pin t eir os, est es a git a dor es in t r a t á veis, n ã o ser ã o m a is o eixo dos
E is o ger m e da r eceit a , velh a com o J á vim os: pa r a for ça r u m a ca n t eir os. Ist o, a liá s, m a is a per segu içã o policia l, for çou os m a is en -
va n t a gem n a r ela çã o de for ça s, o m elh or é m u da r a s r egr a s do jogo. ga jâ dos à im igr a çã o. F or a m n u m er osos a vir a o Br a sil, sobr et u do
Agor a , é o m a t er ia l qu e foi m u da do (depois ser á o código). it a lia n os e espa n h óis, por ca u sa da pr oxim ida de da lín gu a . E m ge-
Os ga n h os pa r a o ca pit a l pr ovoca dos por est a m u t a çã o n ã o r a l, t in h a m o m esm o per fil: exceden t es n o m ét íer , e a n a r qu ist a s. O
se m ost r a r a m a in da com plet a m en t e. O qu e pr im eir o o im pr essio- m ovim en t o oper á r io br a sileir o deve m u it o a eles.
n ou , a lém de ser vir pa r a qu ebr a r gr eves, foi a econ om ia dos cu st os A su bm issã o do t r a ba lh o, t eor iza da por Ma n e, r esu lt a pr m -
de pr odu çã o. P or ist o o r ecu r so a o fer r o foi lim it a do à s con st r u ções cipa lm en t e á a in cor por a çã o m a ssiva da ciên cia e da t ecn ologia n a
liga da s a o ca pit a l con st a t e ou à cir cu la çã o de m er ca dor ia s - o t er - con du çã o da pr odu çã o. Su a m a n ifest a çã o pr in cipa l é a m eca n iza çã o
r it ór io dos en gen h eir os. A r a cion a lida de im post a pela n ecessá r ia in du st r ia l. O sa voir fa ir e t r a dicion a l é en t ã o la r ga m en t e u lt r a pa ssa -
econ om ia pr odu ziu m a r a vilh a s ~ est a ções fer r oviá r ia s, m er ca dos, do pela eficá cia da s m á qu in a s oper a cion a is. As con sequ ên cia s sã o
pon t es, pa lá cios de exposições in du st r ia is e com er cia is, et c. - m a s, pr ofu n da s: desqu a lifica çã o oper á r ia (o sa voir fa ir e n ã o con t a m a is),
[16] RAGON, Mich el. H íst oir e de i'a r - {17] FERRO, Sérgio, "O concreto como
a ssim com o o con cr et o a r m a do, com pa r eceu r a r a m en t e n a s obr a s dim in u içã o do pr eço dos pr odu t os (por t a n t o do cu st o da for ça de a r m a ", In : r evist a P r ojet o, n . 111, ju n .,
ch it ecíu r e et de 1'u r ba n ism e m ot íer n es.
3 vols, Ca st er m a n , 1986, vol.1, p. 213. d e a r qu it et os - ou s e o fez foi com o s u bs t it u t o, cu id a d os a m en t e t r a ba lh o, dos sa lá r ios), a u m en t o da m a is-va lia r ela t iva (por t a n t o da
n á r io per for m a n t e, obt eve-se r esu lt a dos, se n ã o igu a is, pelo m en os
t a xa de m a is-va lia ), su bm issã o n ã o som en t e ext er ior do t r a ba lh o
(por t a n t o, despossessã o in t er n a , a lien a n t e do t r a ba lh o), r edu çã o da s pr óxim os à su bm issã o r ea l do t r a ba lh o in du st r ia l. Ist o decor r eu da
possibilida des de r esist ên cia do t ipo a çã o dir et a , et c. N o fim do sé- con ju n çã o de dois fa t or es: por u m la do n ã o h a via u m sa voÍr fa ir e
cu lo xix e, sobr et u do n o com eço do xx, o t a ylor ism o e o for dism o a cu m u la do qu e pu desse a n cor a r a r esist ên cia oper á r ia n a pr odu çã o;
por ou t r o, est es m a t er ia is exigia m , por su a pr ópr ia n a t u r eza , u m
pr ossegu in do a s t en dên cia s la t en t es dest a s m u da n ça s, t r a n sfor m a -
sa ber qu e se con cen t r ou n a m ã o da dir eçã o, o qu e a u t om a t ica m en t e
fig 13 Paiácio de Cristal. Projeto de J o- r a m a or ga n iza çã o do t r a ba lh o, r efor ça n do a pr escr içã o, e r edu zin -
seph P a xt on , Lon dr es, 1851 .
t or n ou -se a r m a pa r a a dom in a çã o. O exem plo se espa lh ou . P ou co a
do o t r a ba lh a dor a execu t a n t e olígofr en iza do.
pou co t oda s a s á r ea s especia liza da s da con st r u çã o a dot a r a m o m es-
N a con st r u çã o, a coisa foi m a is com plica da . A pr odu çã o, por
m o m od elo: con cen t r a çã o d o s a ber t écn ico - qu e foi es t im u la d o
seu pa pel n a econ om ia , dever ia con t in u a r m a n u fa t u r eir a . Gr a ça s à
a cr es cer - em cim a , con cen t r a çã o d o p od er , p or t a n t o; e d es qu a -
qu a n t ida de de for ça de t r a ba lh o qu e ela ocu pa , bem su per ior r ela -
ü va m en t e à da in dú st r ia , e a o n ú m er o r edu zido de m á qu in a s, ela lifica çã o e m u da n ça de t écn ica s e m a t er ia is se possível, em ba bco
é fon t e in dispen sá vel pa r a a a cu m u la çã o do ca pit a l e u m a ba r r ei- (su bm issã o a u m en t a da e ba ixa sa la r ia l). E , por t odo la do, a u m en t o
á a m a is-va lia r ela t iva .
r a con t r a a qu eda t en den cia l da t a xa de lu cr o, r epit o. E st á for a de
N ot e-s e qu e a es p er a n ça p or u m a r evolu çã o p r óxim a n ã o
qu est ã o a in du st r ia liza çã o da con st r u çã o - en t r et a n t o, t ecn ica m en -
er a t ã o u t ópica a ssim . P ela . pr im eir a vez n a h ist ór ia se con solidou
t e viá vel, com o pr ova o P a lá cio de Cr ist a l (1851) ou a im pla n t a -
o pr essen t im en t o, sen ã o a cer t eza , de qu e, com o a va n ço já obt ido
cã o da cida de de Ch eyen n e n os E U A (1867), en t r e ou t r os exem plos
da s for ça s de pr odu çã o ser ia possível pr odu zir o su ficien t e pa r a r es-
possíveis. Ta l in du st r ia liza çã o pr ovoca r ia u m desa st r e econ óm ico,
pen der a s n ecessida des essen cia is de t oda a popu la çã o - pelo m e-
sobr et u do em plen a Segu n da Revolu çã o In du st r ia l, á vida por m a is-
n os n os pa íses m a is desen volvidos. Ma n e e E n gels, e m u it os ou t r os,
va lia fr esca . Á con st r u çã o, por t a n t o, se en con t r a va n u m im pa sse:
sen do im possível pa r a ela su bm et er r ea lm en t e o ü r a ba lh o a t r a vés con cor da va m com isso. Ás con dições m a t er ia is pa r a u m a r evolu çã o
depen den do do sa voir fa ir e oper á r io pa r a ga n h a r cor po. Sob a m ea ça ou t r a h ist ór ia da a r qu it et u r a , filh a do en con t r o im a gin á vel en t r e
[18] Segundo Ma ní, "desde 1825, qua - a lgu n s a r qu it et os eclét icos e os a n a r co-sin dica list a s á a con st r u çã o.
de per der t odo o con t r ole sobr e o ca n t eir o, com o n u m sobr essa lt o,
se t oda s a s n ova s in ven ções for a m o r e- Dr ea m s , d r ea m s ...
sultado de colisões entre o operário e o
a s m ú lt ipla s exper iên cia s isola da s do sécu lo em t or n o do con cr e-
t o (m a is n a F r a n ça , n a Alem a n h a pr edom in ou o fer r o) pa r ecem se N ã o é a t oa qu e a h ist ór ia do m oder n ism o t en h a in ven t a do
em pr esá r io qu e bu sca va a qu a lqu er cu s-
to depreclar a especialidade ao operário, con den sa r n u m a a t it u de volu n t á r ia . Ra pida m en t e, a s vá r ia s va n t a - o m it o segu n do o qu a l ele r esu lt a r ia da r ea çã o con t r a a a r qu it et u r a
Depois de ca da n ova gr eve, m esm o qu e bolo de n oiva ", da a pa r içã o de n ovos m a t er ia is, o fer r o, o con cr et o
gen s dos m a t er ia is "a m a r elos"19 se a r t icu la r a m . "E a pa r ü r dest e
de pou ca im por t â n cia , su r gia u m a n ova
(e o vid r o!) ~ u n a n im a m en t e s a u d a d os com o in s p ir a d or es e p r o-
m á qu in a ," Ver : MARX, Ka r l. Misér ia da fí- m om en t o, is t o é, p or volt a d e 1900, qu e n a ven t u r a d o con cr et o
iosofia , ícon e E dit or a , 2004, p. 159-160. gr essist a s ~ e do en gen h eir o, o m a ior t r u n fo pa r a su bm et er qu a se
com eça r ea lm en t e", a fir m a a in da M. Ra gon 20. Ou seja , n o m om en -
[19] Qu ebr a dor es de gr eve, n a gir ia r ea lm en t e o t r a ba lh o da con st r u çã o, qu e a pa r ece com o o a n t epa ssa -
t o m esm o em qu e o sin dica lism o r evolu cion á r io foi m a is ofen sivo .
fr a n cesa . do a in da t osco da r est a u r a da "r a cion a lida de" do a r qu it et o.22
E m t odo ca n t o com o sim ples su bst it u t o (Coign et , H en n ebíqu e),
| 20] RAGON, Michei. Op.Cit, p. 248. O ver da deir o r ea ju st e est r u t u r a l qu e pr ovoca o su r gim en t o
ou com o fon t e de n ova s for m a s (Ba u dot , P er r et ,T. Ga r n ier ), o con -
[21] Ver BRON, J ean. Histoiíe du mou- do m oder n ism o é m u it o m a is escor r ega dio, m esm o qu e seu íu n da -
cr et o com eçou a se im por . [22] VerSiegfried Giedion, Nikoiaus Pe-
vem en í owr ier t r a n ça is. Bu ois, E d. Ou -
m en t o seja sim ples: ele é pa r t e da r ea çã o in st ín ü va , m a s t en a z, do vsn er e t a n t os ou t r os,
vr ièr es,1970,vol.2,p.112-137. Com a m edia çã o do fer r o e do con cr et o, m esm o sem m a qu i-
ca pit a l con t r a a a m ea ça de u m a possível r evolu çã o. Sem pr e esqu e- d a s es t a ções d e t r en s , ou com o con cr et o d e Ma illa r í ou F r eys s i-
m a ü ca m en t e, os m ovim en t os n o en fr en t a m en t o sã o os segr jin t es: n et . O m oder n ism o u sa est es m a t er ia is, du r a n t e u m bom t em po,
se a lgu n s a r qu it et os do a m á lga m a ch a m a do ecléü co se a poia r a m n o de m odo pr im á r io, obt u so, in a pr opr ia do. O con cr et o a r m a do de
exist en t e (pr esen t e ou pa ssa do) pa r a pr opor e r ea liza r obr a s a pu r a - Tbn y Ga r n ier ou o fer r o de Gr opiu s sã o a in da pen sa dos com a
da s, ju st a s e a in da per feit a s, leva n do em con sider a çã o a est r u t u r a lógica da m a deir a e da pedr a r ecu sa da s - ou en t ã o obr iga dos a en "
t écn ica da m a n u fa t u r a dispon ível (visit em o h ospit a l Rot ch ild, feit o t r a r n u m a gr elh a or t ogon a l qu e n ã o t em n en h u m a r ela çã o com o
p or Mor ea u n a P r a ça d os Bu ít e Ch a u m on t em P a r is ), os m od er - com por t a m en t o efet ivo dest es m a t er ia is. N ã o é cu r ioso fa zer u m a fig 16 Tony Garnier, Projeto para uma
n ist a s se pu ser a m logo com o os a r a u t os de u m a in du st r ia liza çã o r evolu çã o em n om e de a lgu m a coisa qu e ser á a pr im eir a t r a ída pela cida de in du st r ia !, 1902, P a r is, Con ser va -
íoire Nationa! dês Arts et Métiers,
in exist en t e (e im pr ová vel den t r o do ca pit a lism o), fu t u r a , n o m e- dit a r evolu çã o? Com o br in ca va F lá vio Mot t a , h á qu a lqu er coisa n o
Ih or dos ca sos, da qu a l som en t e im it a m a a pa r ên cia im a gin á r ia 23, a r qu e n ã o é a viã o.25
n o qu a dr o de u m en godo polít ico sobr e a a bsolu t a n ecessida de do
desen volvim en t o da s for ça s pr odu t iva s. Volt a r ei a isso logo. A P r im eir a Gr a n de Gu er r a e a Revolu çã o Soviét ica pr ovoca r a m
Ao possível a t a a l su bst it u ír a m a esper a pelo n ã o possível en - p r ofu n d a s a lt er a ções . P a r a o qu e n os in t er es s a a qu i, t em os qu e
fig 15 Opera de Paris. Projeto de Char- t ã o. As r eivin dica ções a u t ogesü on á r ia s e igu a lit á r ia s do sin dica ÍÍs- a pon t a r a en or m e gu in a da do m ovim en t o sin dica l. A exper iên cia
iesGa m ier , 1875, m o r evolu cion á r io, qu e qu er ia m m odifica ções im edia t a s e r a dica is dolor osa da gu er r a , m a is a s or ien t a ções pr oven ien t es da U n iã o So-
n a gest ã o da pr odu çã o e o fim da divisã o de cla sses, o m oder n ism o viét ica pa r a det er a s a m bições r evolu cion á r ia s, m a is a a doçã o cega ,
r espon deu a u m en t a n do a divisã o en t r e con cepçã o e r ea liza çã o, so- m a s qu a se u n â n im e, do dogm a do m a n dsm o vu lga r e m ecâ n ico se-
br et u do da n do a sa s à su a pr edileçã o pelo fer r o e pelo con cr et o - gu n do o qu a l é pr eciso pr im eir o fa zer a va n ça r a s for ça s pr odu t iva s
m a s com a pr om essa de se ocu pa r da qu est ã o socia l a ssim qu e possí- pa r a depois dist r ibu ir ou r evolu cion a r (dogm a a dot a do com sa t is-
vel, com a esper a da in du st r ia liza çã o da con st m çã o, n u m h or izon t e fa çã o pela dir eit a t a m bém ), qu ebr a r a m o vigor sin dica l a n t er ior . O
socia l im u t á vel. U m de seu s pr im eir os e m a is ca n t a dos pr ojet os foi m a is gr a ve foi a a ceit a çã o da con diçã o oper á r ia com o n or m a l, pelo
o de Tòn y Ga r n ier pa r a u m a cida de in du st r ia l, a in da de oper á r ios m en os por u m bom t em po a in da . Com o n in gu ém sa bia dizer qu a n -
e pa t r ões. P a r a com plet a r , o m oder n ism o fa z ca m pa n h a de den ú n - do a s t a is for ça s de pr odu çã o a t in gir ia m o n ível n ecessá r io pa r a a
cia pon do n o m esm o sa co os eclét icos e os a r qu it et os de "bolo de m u da n ça , n em qu a l ser ia est e n ível, os sin dica t os e o m ovim en t o
n oiva , com o os h er deir os de Ga r n ier - o ou t r o, dá Oper a de P a r is. socia list a a ba n don a r a m a s lu t a s por a u t ogest ã o ou con t r ole da pr o-
Tbn y Ga r n ier pr opôs u m n ovo voca bu lá r io plá st ico, vir t u osa m en t e du çã o - e pa ssa r a m a r eivin dica r m elh or ia s ext er ior es a o pr ocesso
pu r iía n o, qu e t or n a va a geom et r ia elem en t a r com o r a cion a lída de pr odu ü vo m esm o: sa lá r ios, fér ia s, a ssist ên cia sa n it á r ia , et c. At é o
con st r u t iva - m a s qu e r est a u r a a divisã o en t r e o qu e su st en t a e a fim da Segu n da Gr a n de Gu er r a , a s m a ior es vit ór ia s for a m com o a s
m á sca r a de r igor . Ist o n ã o o im pediu de con den a r o or n a m en t o ~ a do fr on t popu la ir e n a F r a n ça : u m pou co de sa lá r io, a lgu n s dir eit os
BANHAM, Reyner, Teoria e projeto
n s pr im eir a er a da m á qu in a . Sã o P a u lo, a r t e popu la r dos pr odu t or es, com o en sin ou W. Mor r is. t r a ba lh ist a s e qu a t r o sem a n a s de fér ia s por a n o. Os docu m en t á r ios
Editora Perspectiva, 1975. E st a é a a ven t u r a a pr esen t a da com o per íodo h er óico do m o- fa vor á veis a in da exibem , or gu lh osos, o n a scim en t o do t u r ism o ope-
[24] O texto diz exatamente: der n ism o. Lê Cor bu sier , u m pou co m a is t a r de, em 1923 se n ã o m e r á r io. Sã o a va n ços im por t a n t es, sem dú vida , m a s qu e ilu st r a m a a b-
[25] Obsen/ação para os que gostam de
en ga n o, deixou esca pa r u m la pso qu e diz cla r a m en t e de qu e gu er r a dica çã o, o a fa st a m en t o da per spect iva r evolu cion á r ia . Ser ia o ca so,
"A socieda de deseja for t em en t e u m a a pon t a r cor r ela ções en t r e a r t e e a r qu it e-
coisa que ela obterá ou nã o, Tudo está os pion eir os for a m h er óis: a r qu it et u r a ou r evolu çã o", r econ h ece2'''. cr eio, de r econ h ecer u m t er ceir o t ipo de su bm issã o, a cr escen t a da à t u r a : a m esm a sit u a çã o n a pa ssa gem do
aí; tudo depende do esforço que se fará E , sob o m a n t o glor ioso da h ist ór ia m ít ica , qu e a t r ibu i a os n ovos for m a l e à r ea l; a su bm issã o ideológica , in t er n a , su bjeü va . sécu lo levou a pin t u r a a se r evolu cion a r
e da a t en çã o qu e se con ceder á a esses realmente com as colagens do Cubismo
m a t er ia is pa r t e da r a zã o de ser do m oder n ism o, pa ssa desper ce- E eviden t e qu e est a gu in a da a gr a dou a o poder econ óm ico
sin t om a s a la r m a n t es. a n a lít ico de Br a qu e e P ica sso. P or u m
bida a fr a qu eza dest a t ese, cu jo a r de ser ieda de m a t er ia l ilu de a t é e socia l. O t a ylor ism o e o for dism o pu der a m a va n ça r su a s n or m a s r á pido m om en t o, em 1912, ela cor r es-
Ar qu it et u r a ou r evolu çã o.
P odem os evit a r a r evolu çã o." Ador n o ou H a ber m a s, por qu e, com o explica r a ext r a or din á r ia r e- de or ga n iza çã o do t r a ba lh o sem m u it os en t r a ves e r esist ên cia . O pon deu a seu con ceit o, t r a ba lh o t ivr e.
F or m a s pr óxim a s n ã o t êm o m esm o
gr essã o t écn ica n o seu u so pelo m oder n ism o? N ã o h á n en h u m a oper a r ia do, bem ou m a l, com eçou a a ceit a r a im a gem qu e Ta ylor
Ver : Lê Cor bu sier . P or u m a a r qu it et u r a . sen t ido n u m a r t esa n a t o de pou co peso
Sã o P a u lo, E dit or a P er spect iva , 6a edi- ocor r ên cia deles en t ã o qu e possa ser com pa r a da , por exem plo, com m odelou dele: "deve cu m pr ir or den s, pois n ã o é pa go pa r a pen sa r . prá tico e numa ma nufa íura essencia l
cã o, 2002, p, 205. [N.E ,] a s est r u t u r a s ju st a s, ca r r et a s, per feit a s e elega n t es em fer r o n os ca is Ou a qu e pr opa gou F or d: "h á qu e t r a ba lh a r com o u m a m u la , pois pa r a a econ om ia .
coisa s -ea for ça t r a n sfor m a dor a de ou t r a s r ela ções socia is ger a da s
depois do expedien t e h a ver á r ecom pen sa s" - sepa r a çã o en t r e pen a
e r econ for t o, t ã o violen t a m en t e cr it ica da por Ma r x. pela lu t a colet iva e r evolu cion á r ia m esm o em sit u a çã o de "a t r a so .
N ã o por a ca so, est a t r ist e gu in a da con for m ist a do m ovim en - 'As a n á lises de Gor z, F r iedm a n , Lefèbvr e, Ma r cu se, a pu blica çã o
t o oper á r io foi con t em por â n ea da a fir m a çã o do fu n cion a lism o r a - dos Gr u n dr isse, a s r eedições de Rosa Lu xem bu r go e dos a n a r qu is-
cion a list a do m oder n ism o a r qu ít et ôn ico, qu e pr opu n h a o bem est a r t a s, su st en t a r a m o deba t e. N os pa íses em qu e n ã o ch ega r a m a s m u -
da n ça s, en t r et a n t o, pr edom in a r a m a s lider a n ça s de cla sse m édia
colet ivo de u m a socieda de a bst r a ía em qu e os con flit os de cla sse,
e da s ca m a da s in t elect u a liza da s, a o con t r á r io do qu e ocor r er a n o
a discór dia socia l desa pa r ecia m com o por en ca n t o. As decla r a ções
do CIAM, e a Ca r t a de At en a s sã o exem plos dest a a bst r a çã o. Ca si- fim do sécu lo xix, qu e con t ou com im por t a n t e a desã o oper á r ia . Se
n h a s e a pa r t a m en t os fu n cion a is pa r a t odos, t odos podem t r a ba lh a r , en sa ios de t r a n sfor m a çã o da s r ela ções de pr odu çã o podem ser ci-
t a dos, en volven do a u t ogest ã o, gest ã o pa r t icipa t iva ou pr odu çã o co-
cir cu la r , fa zer gin á st ica e dor m ir en t r e á r vor es, la gos e pá ssa r os. O
pla n eja m en t o idílico de u m a socieda de h a r m ôíú ca coin cide est r a - oper a t iva , n ã o é possível a fir m a r qu e a cr ít ica t en h a en t u sia sm a do
n h a m en t e com o r ecu o d o m ovim en t o op er á r io - e con fir m a s em ca m a da s con sider á veis da cla sse oper á r ia . Ao con t r á r io, n a F r a n ça ,
a la r de a divisã o a pa r en t em en t e in evit á vel en t r e o t r a ba lh o/dever / por exem plo, on de est a cla sse poder ia t er ch ega do a o poder se n ã o
en con t r a sse o fr eio sin dica l, con t en t ou -se com a lgu n s dir eit os n o-
sofr im en t o e o la zer com pen sa t ór io, a ideologia do con for m ism o.
vos, a u m en t o de sa lá r io, sem con t est a r a ven da da for ça de t r a ba lh o.
Divisã o qu e t r a z con sigo a a fir m a çã o de qu e a ven da da for ça á e
N ã o é su r pr een den t e, por t a n t o, qu e a m a ior ia da s con sequ ên cia s
t r a ba lh o fa z pa r t e da pla n ifica çã o r a cion a l. AÜ á s, ist o en con t r a va
m a is du r a dou r a s dest e per íodo se con cen ír e n a s á r ea s cu lt u r a is e
con fir m a çã o n o qu e se pa ssa va n os pa íses do socia lism o r ea l.
H á sem dú vida obr a s isola da s e exper iên cia s posiü va s n est e dos cost u m es bu r gu eses.
per íodo. Os bon s livr os de a r qu it et u r a fa la m dela s. N ã o pr eciso N o ca m po da a r qu it et u r a su r gir a m a lgu m a s exper iên cia s
m a r gin a is (com o a n ossa ), m u iü plica r a m -se a s pr a ü ca s e
r epet ir . Qu is som en t e a ssin a la r a a m bigu ida de do m oder n ism o, o
qu a l foi a á ot a do com boa fé por vá r ios a r qu it et os. N ã o podem os a lt er n a t iva s, sobr et u do en t r e esm da n t es. Segu i de per t o a cr ia çã o
esqu ecer a especificida de de Wr igh t ou a coer ên cia da s pr im eir a s de vU les n ou velk s em qu e, pelo m en os n o n ível da pr ogr a m a çã o e
obr a s de N iem eyer , por exem plo. Ma s o ba la n ço ger a l a o m oder - de seu s pr im eir os a n os de exist ên cia , foi t en t a do in t r odu zir pr á t ica s
socia liza n t es, ger a lm en t e ela bor a da s por cooper a t iva s de a r qu it e-
n is m o é t r is t e. O qu e n ã o im p lica , evid en t em en t e, em d a r r a zã o
à s a cu sa ções con t em por â n ea s sobr e ele. P oder ía m os r esu m ir su a t os (com o a Ar ch it ect es et U r ba n ist es Associes). Ma s a pr odu çã o,
m esm o n esses ca sos, n ã o m u dou . O pr ojet o con t in u ou a r ein a r , os
con t r ibu içã o, sob o pon t o de vist a da pr odu çã o qu e in t er essa a qu i,
op er á r ios a obed ecer - m es m o qu a n d o o objet ivo er a a t en d er à s
dizen do o segu in t e: a lgu m a s obr a s for a m fieis á or ga n iza çã o t écn ica
da m a n u fa t u r a , o qu e con sider o posit ivo, m a s n en h u m a , sa lvo en - su a s n ecessida des.
E n t r et a n t o, qu a s e im p er cep t ível n o com eço, u m a ou t r a
ga n o m eu , foi o r esu lt a do de r ela ções de pr odu çã o dign a s e ju st a s
r evir a volt a s e p r ep a r a va . E im p os s ível n u m r es u m o com o es t e
- o qu e a n u la seu discu r so, cu ja a loía sia a com pa n h ou u m a espécie
a pon t a r t oda s a s r a ízes dest a r evir a volt a , qu e a in da m obiliza in -
de delír io in ver t ido, de for clu sa o do r ea l, de cegu eir a con ven ien t e.
t er pr et a çÕes diver sa s: ba st a cit a r J ea n -F r a n çois Lyot a r d, F r edr ic
Ou t r o sa lt o. Depois da Segu n da Gr a n de Gu er r a - qu e a ca bou com J a m eson , P a u l An der son , Ter r y E a glet on , Da vid H a r vey, Ar t h u r
Da n t o, H a n s Belt in g, en t r e cen t en a s d e ou t r a s va r ia n t es in t er -
a visã o a n gélica sobr e a posit ivida de in t r ín seca da evolu çã o da ci-
pr et a t iva s. Sa lien t o som en t e o qu e t oca a a r qu it et u r a . Cr eio qu e
ên cia e da t ecn ologia ~, lá pêlos a n os 1960, a esper a n ça socia l se
r ea n im ou . Volt ou á t on a o t er n a de ba se qu e a lim en t ou o per íodo a s pr in cipa is sã o: a a pa t ia do m ovim en t o oper á r io, su r pr een dido
qu e pr ecedeu o m oder n ism o: a cr ít ica da s r ela ções de pr odu çã o. t a lvez pelo va zio de su a vit ór ia e pêlos pr esen t es qu e o pa t r on a t o
As r ecen t es vit ór ia s da Revolu çã o Ch in esa e Cu ba n a , a r esist ên cia ofer eceu por su a desist ên cia fr en t e a possível t om a da do poder
do Viet n ã e a s vá r ia s gu er r ilh a s a n t icolon ía is e a n t i-im per ia lisía s (fa lo da F r a n ça ); o r et r ocesso dos m ovim en t os vit or iosos de li-
dem on st r a va m a im pr opr ieda de do dogm a sobr e a n ecessida de pr é- ber t a ça o n a cion a l, desca r a ct er iza dos pela pot ên cia do ca pit a l in -
t er n a cion a l; a fa lên cia a n u n cia da do socia lism o r ea l; o fr a ca sso
via do desen volvim en t o da s for ça s pr odu t iva s pa r a t en t a r m u da r a s
eviden t e do desen volvim en t ism o; e t u do ist o fa ce à pen et r a çã o da difer en ça n ã o in com oda o m er ca do, em ca da ger a çã o a lgu n s
cor r os iva d o n eoliber a lis m o d e Rea ga n e Ta t ch er . U m a r es s a ca podem a ssu m ir a posiçã o coer en t e com o fu n da m en t o (t r a ba lh o
a eu for ia esoer a n çosa . livr e), u m a posiçã o qu e o m er ca do a ceit a , já qu e pode a pa r ecer
N o r eca n t o da s ideia s a va n ça u m m ovim en t o de a m bígu o com o sim ples difer en ça . Ta l é o ca so, por exem plo, de Br a qu e e
r eflu xo. Mu it os a u t or es, sob o pr et ext o de cr ít ica (m er ecida ) à s P ica sse em 1912, de Du ch a m p en t r e 1913 e 1923, de WïU em de
equ em a t iza ções sim plist a s da esqu er da m ilit a n t e, pa ssa m a esqu iva r Koon in g lá pêlos a n os 1950, de Ra u sch en ber g jovem , de Tà pies
o m a n císm o a t e en t ã o dom in a n t e. F r opõem t eses qu e, sem a t a ca r m a d u r o, et c., et c. Ma s is t o n ã o p od e ocor r er com os a r qu it et os
visivelm en t e Ma r x, em ger a l a dot a m u m r elft t ivism o plu r a list a , ou en volvidos com a pr á t ica cor r iqu eir a : den ega r (for clu ir ) o t r a ba -
u m a descen t r a liza çã o em r edes equ iva len t es, qu a n do n ã o se põem lh o su bm et ido qu e com a n da m é obr iga çã o pa r a eles. E n t r et a n t o,
a descon st r u ir . O qu e é ch a m a do m a r xism o ociden t a l (a in da qu e la m eson , de t leiü eg'g'er a J -la ü er m a s, de u er n da a
desa t a do da m ilit â n cia ), per m a n ece com o r efer ên cia n o ca m po An der son , a pa la vr a dos a r qu it et os é pia m en t e escu t a da . Tu do isso
da a r t e, m a s os su cessor es de Ador n o e H or k h eim er n a E scola de é secu n dá r io, m a s n ã o pa r a os est u da n t es de a r qu it et u r a , a os qu a is
pa r a u m a con st r u çã o m er ca dor ia ? In clu sive, eu a ch o qu e n o en sin o cir cu n st â n cia s qu e a gen t e a ca ba viven do, pa r t icu la r m en t e n a h is-
de a r qu it et u r a n ã o se en sin a o pr ocesso pr odu t ivo, se en sin a m sis- t ór ia dos m u t ir ões - da qu a l eu pa r t icipo. N est es m ovim en t os di-
t em a s con st r u t ivos, qu e sã o du a s coisa s com plet a m en t e difer en t es. t os a u t ogest ion á r ios m e pa r ece qu e h á u m a qu est ã o de vigilâ n cia ,
pu n içã o e a lgu m a s r ela ções qu e est ã o sen do discu t ida s pa r t icu la r -
[SÉ RGIO F E RRO] Ou t r o en or m e ca pít u lo. Ê difícil r espon der br eve- m en t e pelo F ou ca u lt , e qu e m e pa r ecem m u it o pr óxim a s da qu ilo
m en t e: você cer t a m en t e con h ece a en or m e lit er a t u r a qu e já exist e qu e a gen t e a pr en deu a qu i com a Ma r ilen a Ch a u í de con for m ism o
sobr e ist o. E u m e lim it a r ei à m in h a pr ópr ia exper iên cia . Mor ei du - e r esist ên cia . U m a sa ída de cer t o m odo ideológica pa r a a qu est ã o
r a n t e 12 a n os n u m va st o con ju n t o de h a bit a ções pr ogr a m a do n o da dom in a çã o. Me pa r ece qu e n os ca n t eir os a u t oger idos det er m i-
fim dos a n os 1960, em Gr en oble. A pr ogr a m a çã o ela bor a da por n a da s cir cu n st â n cia s a ca ba m leva n do a s pessoa s a a ssu m ir a ca sa -
gen t e de esqu er da er a m u it o gen er osa . Apa r t a m en t os m u it o bon s, ca da qu ele qu e opr im e. Ist o é u m a sit u a çã o r ecor r en t e. N o t ext o
com en or m e equ ipa m en t o socia l - escola s, cr ech es, m er ca dos, co- "A m or a dia " do Kr opot k in , do com eço do sécu lo xx, ele a cr edit a
m ér cio, bibliot eca , a t eliês de pr odu çã o (m a deir a , t a peça r ia , cer â - n a ca pa cida de, n a bon da de, n a solida r ieda de do opr im ido qu a n do
m ica , et c.). E st e pr ogr a m a er a con t em por â n eo da s m a n ifest a ções se r econ h ece n o ou t r o opr im ido. At é u m pou co em diá logo com
de 68, do clim a ger a l de r eivin dica ções por ou t r a s r ela ções de pr o- P r ou dh on , qu e r econ h ece qu e a gr a n de dificu lda de da r evolu çã o é
du ça o, por qu a lida de de vida . É in ú dl dizer qu e, a pesa r dist o, n a da o cor a çã o do pobr e e iden t ifica n est e su jeit o u m dos pr in cipa is em -
m u dou n o ca n t eir o. Ma s, pou co a pou co, dim in u in do a pr essã o so- pecilh os pa r a qu e se con siga a lgu m t ipo de t r a n sfor m a çã o. N a h or a
cia i, est es pr ogr a m a s com eça m a ser desm on t a dos, m in a dos. E st es qu e você coloca a possibilida de de ou t r o t ipo de a r ü cu la çã o da a r -
con ju n t os h a via m com eça do a fa vor ecer o desen volvim en t o de u m a qu it et u r a com os m ovim en t os socia is, m e pa r ece qu e esse obst á cu lo
vida com u n it á r ia ba st a n t e in t en sa - per igosa pa r a o poder cen t r a l r essu r ge. E u qu er ia qu e você com en t a sse u m pou co essa s coisa s, a t e
de dir eit a . P or exem plo, os pr ogr a m a dor es h a via m ou sa do in st a la r pelo com en t á r io qu e você fa z do F ou ca u lt .
u m a cen t r a l de TV a dm in ist r a da pêlos m or a dor es. Os h a bit a n t es
fa zia m t elevisã o, pr odu zia m o qu e qu er ia m - u m a t elevisã o feit a [SÉ RGIO F E RRO] Nã o h á dú vida qu e a t r a n sfor m a çã o m a is pr ofu n da
por eles, pa r a eles. F oi logo pr oibida por qu e n ã o r espeit a va o m o- da s r ela ções de pr odu çã o a ca r r et a pr oblem a s en or m es. N ós ca r r e-
n opólio do E st a do. E n t r et a n t o, logo depois, o pr in cipa l ca n a l de TV ga m os, n a s cost a s de ca da u m , sécu los de explor a çã o, dor , violên cia .
pú blica foi pr iva ú za do - o com pr a dor er a o m a ior con st r u t or dest e N ós n ã o n os desem ba r a ça m os dest a ca r ga qu e n os for m ou e t eceu
m esm o con ju n t o h a bit a cion a l, o Bu ygh es. A segu ir , o n ovo pr efeit o, a r ede com plet a de n ossos h á bit os. E m qu a lqu er t r a n sfor m a çã o h á
a gor a de dir eit a , com eçou a t r a n sfor m a r a Vilen eu ve de Gr en oble cr ises, dispu t a s, divisões. Qu e n o seio dos m ovim en t os a u t oger idos
n u m gu et o. Con cen t r ou lá t oda s a s fa m ília s pr oblem á t ica s, sobr e- possa m a pa r ecer pr oblem a s, é eviden t e - e m esm o t a lvez desejá vel,
t u do á r a bes, objet o de u m r a cism o qu e em er gia . E a ssim por dia n - por qu e est es pr oblem a s pr ovoca m in t er r oga ções, m u da n ça s t a lvez
t e, com pou co r est a u r o, fech a m en t o de equ ipa m en t os socia is, et c. posiü va s, et c. E n ã o h á qu e gen er a liza r depr essa dem a is. H á ca -
H oje n ã o se con st r óem m a is est es con ju n t os a m biciosos. As n ova s s ós u r gen t es , ou t r os qu e p od em s er m a is bem p la n eja d os , m u t i-
con st r u ções popu la r es sã o pequ en a s, espa U ia da s, sem equ ipa m en t o r ões sim ples, com bin a dos, a u t oger idos, et c. N ã o sim plifiqu em os a
socia l sign ifica t ivo. A n ova est r a t égia dos con st r u t or es se a com oda qu est ã o. Aliá s, gost a r ia de a pr oveit a r a debr a pa r a u m com en t á r io.
m elh or com a esca la r edu zida . O ú n ico pr ojet o a m bicioso a t u a l é o Qu a n do fa lo de ca n t eir o a u t ón om o, pen so t a m bém em a u t ogest ã o
da con st r u çã o de pr esídios. de gen t e com pet en t e, de gen t e qu e con h ece seu ofício, de oper á r ios
for m a dos n o seu dom ín io. N ã o cr eio n a possibilida de, sobr et u do
[J OÃO MARCOS LOP E S] Qu a n do você fa z u m com en t á r io sobr e o pós- h oje, com a en or m e com plexida de da socieda de, de t odo m u n do
est r u t u r a lism o fr a n cês, você a bor da a lgu m a s qu est ões, ju st a m en t e fa zer a bsolu t a m en t e t u do. Com o ca m po de possíveis t a lvez, m a s
50 51
qu a lifica çã o r ea l, n a ela bor a çã o pr ogr essiva do sa ber qu e se a cu m u - ju st a m en t e n esses a n os in icia is de Ba u h a u s, et c. E u n ã o sei com o
la , qu e se t r a n sfor m a em pa ixã o, em gest o exa t o, em fa zer ca r in h oso fu n cion a est e pós P r im eir a Gu er r a pa r a o seu esqu em a . E u a ch o
e n a a r t icu la çã o ju st a dist o n a obr a de a r qu ít et u r a . N ã o esqu eça m qu e o cor t e n a P r im eir a Gu er r a é u m cor t e vá lido pa r a qu est ões
qu e n u m ca n t eir o efet iva m en t e a u t ón om o a fin a lida de deve est a r t ecn ológica s, com er cia is, polít ica s, m a s n est a r ela çã o pa r t icu la r o
in t er ior iza da : su a voca çã o socia l fa z pa r t e de seu t odo livr e. Vol- qu e é qu e você t em em m en t e?
t a n do à qu est ã o leva n t a da , h á qu e con sider a r qu e a a u t ogest ã o h oje
es t á cer ca d a p or s eu in ver s o. E , com o em t od a op os içã o, os p ólos [SÉ RGIO F E RRO] Repit o: a pr esen t ei u m esqu em a gr osseir o, ch eio de
se con t a m in a m u m pelo ou t r o. Am a n h ã ven h o fa la r de pin t u r a , e sa lt os, la cu n a s, e, por qu e n ã o dizer , pa r cia l: só m en cion o o qu e es-
vocês ver ã o, esper o, o pa pel da oposiçã o em su a h ist ór ia . Todo m o- t u da m os m a is de per t o. Qu a lqu er pa ssa gem qu e a pr esen t o é ch eia
m en t o isola do, iü ia do n o m eio de ou t r o m a is for t e qu e o pr essio- de va r ia n t es, de ou t r a s cor r en t es con ver gen t es e diver gen t es. A pa r -
n a a ca ba sofr en do defor m a ções. N ã o h á com o cu lpa r som en t e a s t ir de Willia m Mor r is, por exem plo, h á m ú ldpla s der iva ções qu e o
exper iên cia s a u t oger ida s por a lgu m a s even t u a is defor m a ções: sem pr olon ga m , qu e o desvia m ou o t r a em , e qu e se cm za m com ou t r a s
ju st ificá -la s com plet a m en t e, é pr eciso con sider a r qu e pr ovem em t en d ên cia s , cr ed os , es p er a n ça s n ã o con t id a s em s eu d is cu r s o. S ó
pa r t e do en t or n o h ost il. N ã o devem os esqu ecer est es pr oblem a s est e t em a m er ecer ia m u it o m a is qu e t r ês r eu n iões. Ma s o qu e eu
m a s t a m bém n ã o h ipost a siá -los. qu is dest a ca r é qu e n est e per íodo, n a vir a da do sécu lo xx, h a u m a
com u n h ã o de fa t or es (só m e r efer i a a lgu n s) qu e con ver gem sobr e
ÏIA DE LIRA] vu em volt a r a qu i a su a a qu est ã o da s r ela ções de pr odu çã o, pr in cipa lm en t e a a çã o do sin di-
h ist or iogr á fica , qu e eu pa r t icu la r m en t e gost o m u it o, a t é pelo ca lism o r evolu cion á r io. In sist o n isso por qu e n ossa s h ist ór ia s fa la m
cr ivo qu e você elege pr a con t a r essa h ist ór ia . N o en t a n t o, u m cor t e som en t e do pr ogr esso visível da s for ça s de pr odu çã o, n o n osso ca so
qu e você defin iu r ea lm en t e m e in qu iet ou e eu fiqu ei im a gin a n do a ssocia do a o fer r o a o con cr et o, a o vidr o, et c. Or a , o qu e m e pa r ece
o qu e é qu e você t in h a em ocor r er er a ger a l n os ca sos qu e você m en cion a é qu e pr ivilegia m
t o de vist a da s r ela ções en t r e a r qu it et os e m ovim en t os oper á r ios, a in da a s qu est ões liga da s à s for ça s e m eios de pr odu çã o - n u m a
a r qu it et os e cer t a s con ver gên cia s qu e você iden t ifica , a n t er ior es dir eça o sem dú vida s gen er osa . Adm ir o pr ofu n da m en t e os espa r t a -
à P r im eir a Gu er r a Mu n dia l, em r ela çã o n ã o som en t e a u m n ovo Lu xem bu r go sem pr e m e en t u sia sm ou .
m om en t o d o s in d ica lis m o, m a s t a m bém u m n ovo m om en t o d a
liber t a çã o socia l pêlos a r qu it et os. O cor t e n a P r im eir a Gu er r a Depois da Segu n da Gu er r a m u n dia l a t é 1968, n o
r ea lm en t e m e in qu iet ou qu a n do eu fíco pen sa n do qu e t a lvez su a ca so do Br a sil, e n os a n os 1950, n o ca so de Sã o P a u lo ~ per íodo de
pesqu isa , seu t r a ba lh o, n os a pr esen t e elem en t os n ovos. E u qu er ia d es en volvim en t o, d e a p r ofa n d a m en t o d a con cen t r a çã o, et c. - h á
qu e você se est en desse u m pou co m a is pa r a eu m e sit u a r u m pou co exper iên cia s a qu i n o sen t ido de m odifica çã o da s r ela ções de pr odu -
m elh or . O qu e você vê ou r econ h ece com o con ver gên cia d o m o- cã o, com gen t e qu e sa be, com o você fa lou , t r a ba lh a n do n a fá br ica e
m en t o pr é-gu er r a ? O Willia m Mor r is, sem dú vida , m a s a s dem a is or ga n iza n do a s a t ivida des de a cor do com seu sa ber , n ã o a pen a s com
exper iên cia s sã o m u it o r est r it a s em t er m os ideológicos: h á u m so- a s for ça s pr odu t iva s vin da s de u m sis£em a en volven do o E st a do de
cia lism o cr ist ã o, u m cer t o m edieva lism o qu e a in da r esist e em a lgu - Bem E s t a r S ocia l. Refir o-m e a o com u n it a r is m o fr a n cês qu e s u r -
n u s exper iên cia s, ou u m m u t u a lism o du em 104.0, du r a n t e a gu er r a , e exist iu a t é o fin a l dos a n os 1060.
t r o de u m cer t o lim it e ideológico e est e foi u m exem plo ba st a n t e
qu a n do eu pen so n o pós n a déca da de 1950 e qu e foi ext in t o com o golpe
u m a visã o a lém da u m p ou co
n a list a de a r qu it et os
pr ession ist a s, qu e sã o deixa dos de la do e t êm u m a exper iên cia r ica
a pr oxim a ções com sin dica t os, dos a r qu iíet os
dos a r qu it et os qu e se exila m n a U RSS, da pon t e [SÉ RGIO F E RRO] H á vá r ios exem plos dest e t ipo de cooper a t iva n a h is-
t ór ia . P odem os en con t r a r va r ia n t es m a is ou m en os pr óxim a s desde gr a n des pot ên cia s n ã o t r ou xer a ju st iça socia l. Ba st a va ver en t ã o o
o t em po de Mü n zer 26, n o séc u lo xvi, dos u t opist a s do sécu lo xix, qu e est a va ocor r en do n os E U A com a qu est ã o r a cia l. Ao con t r á r io, já
et c. Sã o t ipos de pr opost a s t ã o bá sica s, t ã o pr ópr ia s do pen sa m en t o er a eviden t e qu e qu a n t o m a is cr escia m a s r iqu eza s m u n dia is, m a is
de esqu er da qu e n ã o podem sen ã o se r epet ir . Ma s con h eço pou co o a u m en t a va a m isér ia . Ou m odificá va m os a s r ela ções de pr odu çã o
qu e a qu i foi feit o n est e sen t ido. ou n a da m u da r ia . P en so h oje qu e ist o ficou dem on st r a do pela de-
ca dên cia esca n da losa dos pa íses dit os socia list a s qu e, por n ã o t er em
[F RAN CISCO BARROS] A per gu n t a qu e o P edr o fez a pou co foi ba s- cr ia do r ela ções de pr odu çã o n ova s, pu der a m t ã o fa cilm en t e a ceit a r
t a n t e ext en sa e t a lvez por isso som en t e u m a pa r t e foi r espon dida . a in va sã o ver gon h osa do ca pit a l.
A r espeit o do fór u m de 1962, n a época qu e o sen h or er a pr ofessor
da F AU , on de est a va m coloca da s a s discu ssões a sobr e o ca n t eir o e o [ALE XAN DRE BE N Ot T] Qu er ia coloca r u m a qu est ã o qu e o Zé Lir a
en sin o volt a do pa r a isso den t r o da P AU . leva n t ou sobr e o m ovim en t o m oder n o, qu e é a h er a n ça qu e pesa
s obr e n ós n a F AU . Tem u m a s p ect o qu e o s en h or coloca s obr e o
[SÉ RGIO F E RRO] É qu e a m em ór ia est á m e fa lh a n do: o velh in h o t em fu n cion a lism o qu e é ir r efü t á vel: t a n t o qu e ele t em a spect os po-
br a n cos n a ca beça , for a e den t r o. Volt em os en t ã o à per gu n t a do sidvos qu a n t o, t a m bém , qu e ele cr ia u m a posiçã o de cer t o m odo
P edr o. Ma s pr eciso dizer qu e, a in da h a pou co, con ver sa n do sobr e a pa t er n a list a dos a r qu it et os. Ma s a ch o qu e t em ou t r o a spect o, qu e,
r efor m a á e 62 e 68, per cebi qu e já t en h o dificu lda de de m e lem br a r ju st a m en t e pelo seu en foqu e, o sen h or n ã o a bor da , m a s eu a ch o qu e
dela s. E n t ã o va m os lá . fica com o pen sa m en t o de fu n do qu e é: com o você vê o pen sa m en t o
H a via sim oposiçã o, a já m en cion a da vá r ia s vezes: en t r e os da cida de m oder n a ? N ã o com o ele foi a pr opr ia do n a r evolu çã o da
defen sor es da pr ior ida de da evolu çã o da s for ça s pr odu t iva s, por - E u r opa , m a s pr in cipa lm en t e qu a n do ele foi ger a do, n a déca da de
t a n t o d o d es en h o com o p r op u ls or d o a va n ço, e os qu e p r ega va m 1920, a pa r t ir da exper iên cia a lem ã e da exper iên cia r u ssa , e qu e eu
a pr ior ida de da m u da n ça da s r ela ções de pr odu çã o, por t a n t o do a ch o qu e se cr ist a liza de cer t o m odo n a Ca r t a de At en a s. E u qu er ia
ca n t eir o com o loca l de exper iên cia s de a lt er a çã o. Ma s a ch o à s vezes sa ber se você a ch a qu e ela é u m elem en t o su per est r u t u r a l qu e é
qu e o gr a u da oposiçã o é u m pou co exa ger a do. Afin a l, sob a oposi- in vá lido, ou qu e t r a z r ea lm en t e elem en t os n ega t ivos desse m odo de
cã o, h a via u m m a r de coisa s em com u m , de con t in u ida de. O Ar r iga s pr odu çã o. E u cit o, por exem plo, o pon t o 95 da Ca r t a de At en a s: fe-
é o gr a n de fu n da dor dest a escola , o fu n da dor do gr u po qu e pr efir o ch a n do a ca r t a Lê Cor bu sier fa la qu e a pr opr ieda de pr iva da do solo
n a a r qu it et u r a br a sileir a , a escola pa u list e. Ten h o o m a ior r espeit o é u m en t r a ve pa r a se pen sa r u m pla n o de cida de. E u qu er ia sa ber se
por ele - e sem pr e m e in com oda qu a lqu er in ch a ço da oposiçã o. isso é per t in en t e h oje - esse pen sa m en t o n ega t ivo dessa cida de - ou
E xist iu , er a con cr et a e n ã o foi fá cil pa r a n ós, se con sider a r m os n os- se isso con st it u i som en t e u m elem en t o ideológico de u m discu r so
[26] Th om a s Mu en t zer (ou Mü n t zer ,
ou ainda Münzer) foi um revolucionário sá sit u a çã o de r ecém -for m a dos. H oje n ã o sei se, t a dca m en t e, ele qu e n ã o se r ea liza .
qu e a fiou n a s gu er r a s ca m pon esa s do n ã o t in h a r a zã o. N a m esm a época do fór u m de 68 pr epa r á va m os
século XVI na região daAlsácia. Seu gm-
po pr a t ica va u m a for m a de com u n ism o
o pr ogr a m a pa r a a escola de Sa n t os, e desde o pr im eir o a n o (a ch o [SÉ RGIO F E RRO] Olh a , eu n u n ca t r a ba lh ei em u r ba n ism o. Ten t ei u m a
ba st a n t e a m pla . Ver o !lvr o de E m st Blo- qu e 1969) os a lu n os ia m t odos pa r a a s fa vela s, em t or n o da s qu a is vez em Cr iciú m a , Sa n t a Ca t a r in a : foi u m fr a ca sso, desist i. N ã o pos-
ch sobre ele [Thomas Muntzer. teólogo t od o o p r ogr a m a for a or ga n iza d o. Met a d e ou m a is d os p r ofes s o- só fa la r de exper iên cia s pessoa is, por t a n t o. O qu e con h eço vem de
da r evolu çã o. Tem po Br a sileir o, 1973),
r és foi pa r a r n a ca deia . Ta lvez o qu e n a h or a n os pa r eceu er r a do, livr os e de a lgu m a s obser va ções dir et a s (Br a sília , Sã o P a u lo...) n ã o
Ba st a n t e m íst ico, o a poca lipse de Sã o
J oã o er a seu t ext o de r efer ên cia . E m su a t en h a sa lva do a F AU de u m m a l m a ior . È pr eciso, en t r et a n t o, lem - é por a ca so qu e qu a se n u n ca fa lo de u r ba n ism o. F oge a o t er r en o de
úiíima batalha, o surgimento de um arco br a r qu e a cr ít ica da divisã o do t r a ba lh o qu e n ós defen día m os, er a m in h a s a t m da des. H á m u it a gen t e m u it o m a is ca pa cit a da do qu e
ír is n o céu pa r eceu -lh e u m sin a l divin o.
t em a qu e ia bem a lém de n ossa escola , t in h a im pa ct o em m u it a s eu , in clu sive n est a sa la .
Ava n çou despr ot egido com su a t r opa
m a l a r m a da con t r a a s t or ça s su per ior es ou t r a s á r ea s. E st a cr ít ica , exa ger a n do u m pou co, a t in gia o P C, cu ja
dos nobres e da igreja. Foram dizimados: defesa do desen volvim en t ism o vin h a de lon ge, do en qu a dr a m en t o [MARIAN A F ix3 Sobr e u m a pa ssa gem qu e você fez a o lon go da ex-
os a n jos divin os esper a dos n ã o vier a m
da esqu er da pela visã o soviéü ca in icia do n os a n os 1920. O ou t r o posiçã o, qu e é a pa ssa gem pa r a a m u n dia liza çã o fin a n ceir a , qu a n -
a poiá -los. Ten h o pa r t icu la r est im a por
la do, o n osso, r ejeit a va ist o já qu e o desen volvim en t o m a t er ia l da s do a pr odu çã o da r iqu eza a ssu m e, ela pr ópr ia , u m a n ova lógica fi-
n a n ceir iza da , isso t r a z gr a n des con sequ ên cia s pa r a a a r qu it et u r a , t a s for m a s qu e vem os, copia n do cen á r ios de scien ce fict ion , t en t a n do
fa zer cr er em pr oeza s est á t ica s, lou cu r a s t écn ica s ou exibin do em
com o você fa lou . Os edifícios, com o a qu eles da Ber r in i, a ca ba m
se con ver t en do n u m a espécie de a r t igo fin a n ceir o. Vã o t er qu e se- esca la giga n t esca efeit os de m a qu et es pa r a doxa is. Ma s n ã o im por t a :
gu ir a m esm a lógica de r en t a bilida de e liqu idez de qu a lqu er ou t r o com o ca n t eir o pa r ecen do for m ígu eir o esm a ga do, a s t a xa s de lu cr o
ba t em r ecor des.
in vest im en t o qu e fa ça pa r t e de u m a ca r t eir a de in vest idor es, qu e
a ca ba m a ssu m in do u m a con diçã o de ger en t e n a qu a l você t em u m
descola m en t o m a ior do va lor n a su a ba se. E u qu er ia t e pedir pa r a
com en t a r a s con sequ ên cia s qu e isso t r á s pa r a o a r qu it et o, pa r a a
pr odu çã o da a r qu it et u r a e pa r a a h ist ór ia qu e você con t ou a qu i.
[SÉ RGIO F E RRO] H á a lgu n s a n os, já discu t ia sobr e isso com o P edr o
Ar a n t es. F a lá va m os do íoyot ism o e da est r a t égia pa r a pr ojet os do
n ovo ca p it a lis m o. O qu e ocor r e? H oje a s gr a n d es em p r es a s s u b-
con t r a t a m , t er ceir iza m , ext er ior iza m segm en t os im por t a n t es de su a
pr odu çã o. Segu n do a n a t u r eza do em pr een dim en t o, do "pr ojet o",
com põem a gr u pa m en t os a d h oc de com pet ên cia s; ofícios, fa br ica n -
t es de com pon en t es, et c. N ã o gu a r da m de for m a per m a n en t e sen ã o
o n ú cleo cen t r a l - fisca is e a pa r t e da pr odu çã o qu e n ã o t em equ i-
va len t e for a . E eviden t e qu e ext er ior iza m t a m bém os pr oblem a s
s ocia is , os n ós con flit a n t es , et c. O "cor p o p r od u t ivo a s s im s e es -
fa cela a in da m a is (pois m esm o a n t es dest e pr ocesso a ca beça do t a l
cor po já est a va for a da pr odu çã o), fica m a is a fa st a da â possibilida de
de r ea ça o oper á r ia , e a u m en t a m a s t a xa s de lu cr o pela dim in u içã o
dos ga st os fixos - e pela explor a çã o m a ior do t r a ba lh o. As a t ivida -
dês su bcon t r a t a da s, sem pr e a m ea ça da s de su bsü t a iça o por ou t r a s,
espr em em seu s cu st os a o m á xim o, seu s oper á r ios sã o ger a lm en t e
t em por á r ios. O ca n t eir o qu e descr evi h á m a is de 30 a n os m u dou
m u it o. E n t r et a n t o, os pr oblem a s qu e já a pon t ei só se a gr a va r a m .
A diá spor a dos t r a ba lh a dor es a u m en t ou , a ssim com o a desqu a li-
fica çâ o e a in segu r a n ça . As lu t a s oper á r ia s den t r o da s u n ida des de
pr odu çã o fica r a m m a is difíceis. P or ou t r o la do, o desen h o de a r qu i-
t et u r a t em qu e r espon der a u m a t en sã o ca da vez m a is con t r a dit ór ia .
P or u m la do os "edifícios in t eligen t es" dã o com pr een sivelm en t e
pr ior ida de à t écn ica , a os en gen h eir os: os a r qm t et os segu em a t r á s
bor da n do. E n t r et a n t o, pa r a a in da exist ir , e por im posiçã o á a con -
cor r ên cia 'm er cít n t il, d evem t a m bém en con t r a r a for m a exót ica ,
"or igin a l", difer en t e, qu e dest a qu e seu pr odu t o dos ou t r os. Qu a n t o
à pr odu çã o... H á m edia dor es en ca r r ega dos de fa zer o desen h a do
de qu a lqu er m a n eir a - ou , se o con t r ole de cu st os se opu ser , de fa -
zer a lt er a r o desen h o. De qu a lqu er m a n eir a per de ca da vez m a is o
con t a t o com o ch ã o pr odu t ivo esfa r ela do, in st á vel, dist a n t e. Da í es-