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A HISTÓRIA DA ARQUITETURA VISTA DO CANTEIRO

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ORGANIZAÇÃO E POSFÂCIO FELIPE CONTIER
APRESENTAÇÃO J OSÉ EDUARDO LEFÈVRE E J OSÉ PEDRO COSTA

2010
Sa lva dor , 2 de fever eir o de 2010

Sin t o-m e h on r a do em sa ber qu e o t ext o qu e r eú n e pa lest r a s e deba -


t es efet u a dos n a F AU Ma r a n h ã o ser á edit a do por vocês do GF AU U SP .

N ã o é a pr im eir a vez.

Ain da du r a n t e a dit a du r a la n ça r a m cla n dest in a m en t e "A ca sa popu -


la r ", or igem de "O ca n t eir o e o desen h o", depois pu blica r a m u m a
con fer ên cia qu e fiz qu a n do r et or n ei à F AU U SP a con vit e de vocês, e
a r evist a Ca r a m elo t a m bém a pr esen t ou a r t igos ou en t r evist a s m i-
n h a s. Sin t o-m e em ca sa .

O in t er esse qu e dem on st r a m por m in h a s ideia s pou co con for m ist a s


m e con for t a e est im u la .

Obr iga do e u m a br a ço colet ivo.


J osé E du a r do de Assis Lefévr e
e J osé P edr o de Oliveir a Cost a

77
>e Con t ier

115
J OSÉ EDUARDO DE ASSiS LEFÉVRE
E J OSÉ PEDRO DE OLIVEIRA COSTA

E st a pu blica çã o é o r esu lt a do de u m a sér ie de a u la s m im st r a da s


pelo pr ofessor Sér gio F er r o, n o m ês de a br il de 2004, n a F a cu l-
da de de Ar qu it et u r a e U r ba n ism o da U n iver sida de de Sã o P a u lo,
F AU U SP , em u m even t o pr om ovido por in icia t iva do Depa r t a m en t o
de H ist ór ia da Ar qu it et u r a e E st ét ica do P r ojet o dest a F a cu lda -
de ju n t a m en t e com a seçã o pa u list a do In st it u t o de Ar qu it et os do
Br a sil. Tivem os o pr ivilégio de or ga n izá -lo, divu lga n do-o a t r a vés
de con vit es feit os boca a boca , por a n ú n cios du r a n t e n ossa s a u la s,
folh et os xer oca dos e coloca dos n a s pa r edes dos dois pr édios dest a
F a cu lda de e t a m bém r epa ssa n do essa in for m a çã o a o Gr êm io dos
a lu n os dest a P AU U SP .
in t er esse desper t a ü o íoi en or m e e essa s a u J
m in ist r a da s n o sa lã o dos espelh os do n osso pr édio da Ru a Ma r a -
n h a o, r eceber a m u m a flu xo, t a n t o de a lu n os qu a n t o de pr ofessor es,
m u it o m a ior a o qu e o esper a do. Tivem os de a br ir a s por t a s desse
sa lã o, a s volt a da s pa r a o gr a n de h a ll desse belo edifício e a s qu e dã o
pa r a o cor r edor qu e o la deia , im pr ovisa r ca deir a s e m esm o a ssim
m u it os sen t a r a m n o ch ã o ou t iver a m de fica r de pé. Ter m in a da s a s
exposições er a gr a n de o n ú m er o de per gu n t a s, o in t er esse por t u do
qu e foi expost o e a in da por ou t r a s qu est ões n a s qu a is o pr ofessor
Sér gio F er r o é t a m bém especia list a . N ã o é de se est r a n h a r qu e fosse
a ssim , u m a vez qu e du r a n t e o t em po em qu e t r a ba lh ou em n osso
Depa r t a m en t o a s a u la s do pr ofessor F er r o sem pr e est iver a m en t r e
a s m a is con cor r ida s e a pr ecia da s pêlos a lu n os.
P r ofessor por voca çã o, Sér gio F er r o som en t e deixou de n ü -
n ist r a r a u la s n est a escola qu a n do foi pr eso du r a n t e a dit a du r a m ilit a r , Tivem os t a m bém , n est a ediçã o, a felicida de de con t a r com
em dezem br o de 1970, ju n t a m en t e com o pr ofessor Rodr igo Br ot er o a cola bor a çã o in est im á vel de n osso ex-a lu n o, o a r qu it et o F elipe
Lefèvr e, já fa lecido, com o qu a l t r a ba lh ou em m u it os pr ojet os. Depois Con ü er , qu e se especia lizou n a a n á lise da obr a de Sér gio F er r o e
de cu m pr ir pen a decidiu t r a n sfer ir -se com su a fa m ília pa r a a F r a n ça qu e t or n ou a lider a n ça pa r a a r ea liza çã o dest a pu blica çã o. E dele
on de foi pr ofessor n a F a cu lda de de Ar qu it et u r a da U n iver sida de de o in t er essa n t e e im por t a n t e t ext o do posfá cio qu e com plem en t a e

Gr en oble a t é a posen t a r -se n o a n o de 2003. Além de t er con st r u ído det a lh a m u it a s da s in fom ia ções con st a n t es dest a s a u la s.

u m a sólida r epu t a çã o com o a r qu it et o e pr ofessor , dedicou -se de for -


m a a ssídu a a u m a pr ofícu a ca r r eir a de a r t ist a plá st ico t a n t o em Sã o
P a u lo com o em P a r is e depois Gr ign a n , on de h oje m or a . E t a m bém
iblicou u m a sér ie de t ext os sobr e a r Qu it et u r a . de gr a n á e in t er esse.
en t r e eles o livr o O ca n t eir o e o desen h o, h oje u m clá ssico.
A a bor da gem feit a por Sér gio F er r o da h ist ór ia da a r qu it et u -
r a a pa r t ir do ca n t eir o pa r t e da in ser çã o da a r qu it et u m n o ca m po da
con st r u çã o em sen t ido a m plo, qu e se in ser e por su a vez n o ca m po
da econ om ia polít ica . E st e â n gu lo de visã o per m it e iden t ifica r con -
dicion a n t es im post os à a r qu it et u r a pa r a a t en der in t er esses sit u a dos
for a do ca m po da a r qu it et u r a qu e n ã o sã o u su a lm en t e r econ h eci-
dos, pr in cipa lm en t e pelo fa t o de n ã o ser em m u it a s vezes explícit os,
n em con scien t es. Ao r essa lt a r a r ela çã o da a r qu it et u r a com a a cu -
m u t a çã o de ca pit a l e com a ext r a çã o de m a is-va lia do t r a ba lh o a r íe-
sa n a i ou m a n u fa t u r eir o, Sér gio a pon t a qu e o pa pel do pr ojet o e dos
pr ojet ist a s a ssu m e u m a fa ce dist in t a da qu ela a ssu m ida pêlos m eios
pr ofission a is e a ca dém icos, m esm o n a s in st â n cia s em . qu e pr eva lece
a con sciên cia socia l da a çã o do a r qu it et o. E st a visã o levou , n o ca so
de Sér gio, a o a fa st a m en t o do exer cício a ü vo á a pr ofissã o, por u m a
qu est ã o de coer ên cia . Ta l n ã o ocor r eu , n o en t a n t o, com seu gr a n de
a m igo e colega Rodr igo Lefèvr e, com qu em com pa r t ilh a va a s m es-
m a s exper iên cia s e visã o de m u n do e qu e fa leceu , la m en t a velm en t e,
em plen o exer cício da a t ivida de pr ofission a l, com a fir m e cr en ça n a
dign ida de dessa a t u a ça o. Ao se a fa st a r do exer cício a t ivo da a r qu it e-
t u r a Sér gio a pr oxim ou -se m a is da pin t u r a , a ü vida de per m a n en t e de
seu ou t r o com pa n h eir o de t r a ba lh o e a m igo pr im or dia l, o t a m bém
a r qu it et o F lá vio Im pér io qu e a lém de pin t or desen volveu im por -
t a n t íssim os t r a ba lh os com o cen ógr a fo.
Sér gio, n est a s a u la s, per cor r e difer en t es m om en t os da h is-
t ór ia da a r qu it et u r a e da pin t u r a com pr ecisã o e fir m eza cir ú r gica ,
iden t ifica n do r ela ções, con ect a n do even t os e post u r a s, sem pr e ch a -
m a n do a a t en çã o pa r a a r ela çã o en t r e t r a ba lh o e ideia s, en t r e o fa zer
e o pen sa r . Acom pa n h a r su a exposiçã o é in st iga n t e e em ocion a n t e.
A leit u r a do t ext o cor r espon den t e à s su a s a u la s per m it ir á a m plia r o
â m bit o da s discu ssões sobr e a h ist ór ia da a r qu it et u r a e da pin t u r a .
P r im eir a a u la
20 de a br il de 2004

Devo a visa r qu e n ã o vou a pr esen t a r , por fa lt a de t em po e ca pa cida -


de, u m esqu em a com plet o da h ist ór ia da a r qu it et u r a . Vou som en t e
a ssin a la r a lgu m a s pa ssa gen s qu e m e pa r ecem con den sa r qu est ões
fu n da m en t a is qu e en volvem a s r ela ções en t r e o desen h o e o ca n -
t eir o. N u m a a pr esen t a çã o m en os su m á r ia de n ossos est u dos sobr e
a h ist ór ia da a r qu it et u r a (ist o é, do la bor a t ór io Dessin /Ch a n t ier de
Gr en oble), eu dever ia expor a s ba ses t eór ica s qu e n os or ien t a va m . E
u m a exigên cia de h on est ida de u n iver sit á r ia . E n t r et a n t o já obedeci a
est a exigên cia t a n t a s vezes qu e pen so poder m e lim it a r a o essen cia l.1
[1] Observação: o que será exposto, re-
Á a r qu it et u r a fa z pa r t e de u m con ju n t o m a ior , o da con st r u - pito, é mera indicação de um esquema
cã o em t oda su a ext en sã o, qu e por su a vez est á in clu ído n u m m a ior de leit u r a h ist ór ica . Ten t a r esu m ir , em
pou qu íssim a s pa la vr a s, o qu e m e ocu pou
a in da , o da econ om ia polít ica . Acr edit a m os qu e é a pa r t ir da a n á lise
por m a is de vin t e a n os de en sin o. Oesor -
da con st r u çã o, t oda ela , den t r o da econ om ia polít ica e, em segu ida , ga n iza do, n ã o escr evi m Lt it o sobr e isso.
á a a r qu it et u r a den t r o da con st r u çã o, qu e poder em os com pr een der Sobr a r a m a lgu n s t ext os isola dos: u m a r -
t lgo sobr e o desen h o n a r en a scen ça , u m
cor r et a m en t e est a n ossa a t ivida de: desen h a r , pr ojet a r .
sobre a Porta Pia de Michelangelo, dois
Or a , a con st r u çã o den t r o da econ om ia polít ica t em u m pa pel sobre Paliadio e um livro sobre a Capela
im por t a n t íssim o: por su a m a ssa (é u m com pon en t e volu m oso do Mediei em Florença. Os participantes do
P N B) e por su a con st it u içã o t écn ica "a t r a sa da " (é u m a m a n u fa t u r a laboratório Dessin/Chantier produziram
a lgu n s t r a ba lh os im por t a n t es, den t r e os
e n ã o u m a in dú st r ia ) for n ece a o con ju n t o da econ om ia en or m es quais destaco o PhiHbert de L'0rme de
qu a n t ida des de m a is-va lia qu e podem sen dr , segn n do o con t ext o Phlllppe Potié, o texto de Antoine Picon,
h ist ór ico, t a n t o à a cu m u la çã o pr im it iva do ca pit a l com o à r esist ên - e a h ist ór ia do con cr et o de Cyr ille Sl-
m on n et , qu e com eça com u m a br ilh a n t e
cia à qu eda t en den cia l da s t a xa s de lu cr o, o pesa delo do ca pit a l. As- a n á lise do P a n íea o de P a r is, n a qu a i m e
sim é a econ om ia polít ica , a t r a vés da especificida de da con st r u çã o, a poiei a qu i. Um a ver sã o m a is com plet a

qu e det er m in a fu n da m en t a lm en t e o qu e fa zem os: desen h a r - cu ja do qu e foi expost o, m a s t a m bém n a for -


m a de u m r esu m o, pode ser en con t r a da
fu n çã o pr im eir a é a u xilia r a explor a çã o do t r a ba lh o. Den t r o do ca m - no meu livro Arquitetura e trabalho livre
po da con st r u çã o, a a r qu it et u r a t em u m pa pel det er m in a do. Com o (São Paulo, Cosac Naiíy, 2006},
o t r a ba lh o n a m a n u fa t u r a é só for m a lm en t e su bm et ido - ist o é, o
m a is pr ojet a r , a n ã o ser em con dições exper im en t a is de ou t r o ca n -
con h ecim en t o pr á t ico pa r a con st r u ir a in da est á n a m ã o t r a ba lh a do-
t eir o qu e n u n ca con segu i obt er . Isso m e doeu e dói m u it o: eu a t é
r a - é n ecessá r io r efor ça r por t odos os m eios possíveis a dom in a çã o
qu e pr ojet a va dir eit in h o. P ou co im por t a . O qu e im por t a fr isa r é
do ca pit a l. O pr ojet o, decidin do o qu e deve ser feit o e a s n or m a s do
qu e a vir u lên cia de m in h a cr ít ica pr ovém da esper a n ça qu e a in da
bom gost o, r eu n in do por for a os ü r a ba lh a dor es disper sos pelo ca pi-
gu a r do de ver , u m dia , r ea liza da a a r qu it et u r a em a cor do com seu
t a l e cor r oen do seu sa voir fa ir e, a cen t u a su a dom in a çã o pelo ca pit a l,
m a is eleva do con ceit o, t a l com o o Ar ü ga s m e en sin ou qu e dever ia
pois a dom in a çã o pr im eir a é a qu e obr iga o t r a ba lh a dor a ven der
ser : a pr im eir a a r t e de u m . povo livr e.
su a for ça de t r a ba lh o. O desen h o n ã o é o a gen t e fu n da m en t a l dist o,
Ba st a com o lem br et e t eór ico/pessoa l. E st a é a ba se de n os-
m a s é u m a gen t e secu n dá r io de peso, m esm o qu e o a r qu it et o n ã o
sá pesqu isa em h ist ór ia . F om os in qu ir ir com o, em difer en t es épo-
seja solicit a do em t oda s a s obr a s e qu e t en h a h oje fu n çã o ca da vez
cã s, se m a n ifest ou est a con t r a diçã o. Deixa m os de la do a h ist ór ia
m en or . A sepa r a çã o do pr ojet o e da execu çã o é u m a pa r ü a ila r iza -
con ven cion a l, su post a m en t e a u t ón om a , qu e se ocu pa da pa ssa gem
cã o n o ca m po da con sü r u çã o da sepa r a çã o en t r e a s t a r efa s de con -
de a r qu it et o a a r qu it et o, de cor r en t e a cor r en t e, cie est ilo a est ilo.
cepçã o/pr escr içã o e a s de r ea liza çã o, t ípica s da pr odu çã o ca pit a list a
Ten t a m os con st r u ir u m a h ist ór ia qu e per m it isse olh a r , a o m esm o
em ger a l. Ar qu it et o e desen h o sepa r a do se con st it u ír a m a o m esm o
t em po, a ca beça e os pés, a ideia gen er osa e o lodo em ba ixo. U m a
t em p o e u m é o p r od u t o d o ou t r o: s ã o in t er d ep en d en t es . A h et e- fig 1 Villard de Honnecourt. Catedral de
h ist ór ia da a r qu it et u r a vist a do ca n t eir o. Rh eim s, 1230. P a r is, Bibliot eca Na cion a l.
r on om ia im post a pelo pr ojet o a u xilia a explor a çã o do ca n t eir o e o
for n ecim en t o de m a ssa s giga n t esca s de m a is-va lia a o con ju n t o da
Se volt a r m os a os sécu los xi e xn do n osso Ociden t e, en con t r a r em os
econ om ia . A h ist ór ia da a r qu it et u r a , lá por ba k o, vist a do ca n t eir o,
u m a in t en s a p r od u çã o d o es p a ço. Declin a o m u n d o feu d a l - e co-
é a h ist ór ia de su a s a da pt a ções à s difer en t es et a pa s da explor a çã o da
m eça a for m a çã o da s cida des. Segu r a m en t e a s ca t edr a is e os m u r os
for ça de t r a ba lh o pelo ca pit a l, m edia da pela fu n çã o da con st r u çã o
de defesa da s cida des n ã o for a m r ea liza dos em fu n çã o de cá lcu los
den t r o da econ om ia polít ica .
econ óm icos, m a s o fa t o é qu e, en t r e ou t r os fa t or es, for a m o m ot or
N ós n ã o es t a m os a cos t u m a d os a con s id er a r a a r qu it et u r a
da a cu m u la çã o pr im it iva do ca pit a l, com o in dica o h ist or ia dor Lê
p or es t e â n gu lo. Ao con t r á r io, m eu s m es t r es , s obr et u d o o Ar t i-
Goff. O din h eir o n ecessá r io pa r a r ea liza r a s ca t edr a is er a r ecolh ido
gá s, n os in icia r a m em ou t r a visã o da a r qu it et u r a , h u m a n a , gen e-
for a da s cida des - don a t ivos de n obr es, bispos, r eis, et c. N a s cida des
r osa , volt a da pa r a a s n ecessida des socia is, e, a ch o, t in h a m r a zã o: é
em er gen t es, ser via pa r a pa ga r m a t er ia is e oper á r ios. Ven dedor es de
o qu e a a r qu it et u r a dever ia ser e o qu e n os in t er essa va en qu a n t o
m a t er ia is e oper á r ios com ia m , se vest ia m , con su m ia m a pr odu çã o
est u da n t es. E r a est a im a gem qu e n u t r ia o qu e ch a m á va m os m issã o
loca l, for m a n do a ssim u m m er ca do u r ba n o. Os for n ecedor es via m
socia l dos a r qu it et os. Ma s, por boa ou m á sor t e, a in da est u da n t es,
seu s n egócios pr osper a r em e, pou co a pou co, a s cida des se t or n a -
Rodr igo e eu com eça m os a fa zer a lgu n s pr ojet os em Sã o P a u lo e
va m econ om ica m en t e viá veis, com pr odu çã o dividida en t r e a cir -
Br a sília , e descobr im os n a pr á t ica a in coer ên cia : a gen er osa e dign a
cu la çã o loca l e o com ér cio ext er ior . As s im qu e a t in gia m a es ca la
m issã o socia l dos a r qu it et os t in h a os pés n o lodo, n a explor a çã o
ct e n egócios su ficien t e, deixa va m de la do a s ca t edr a is: r a r a s sã o a s
fer oz e ver gon h osa do t r a ba lh a dor da con st r u çã o. A pa r t ir de en t ã o
efet iva m en t e con clu ída s.
n ã o pu dem os m a is descon h ecer a con t r a diçã o. Ten t a m os m odifica r
A con st r u çã o en t ã o er a con du zida sob a for m a da cooper a -
n osso desen h o, m odifica r n ossa s r ela ções com o ca n t eir o, et c. E n -
cã o sim ples: a s ca t edr a is, a ca da a n o, em pr ega va m gr u pos con sú t u -
qu a n t o h ou vesse ven da da for ça de t r a ba lh o, n en h u m a a lt er n a t iva
idos de 30 ou 40 a r t esã os - qu a se t odos a pt os a qu a lqu er ser viço -
vá lida pa r a a s r ela ções do desen h o com o ca n t eir o pa r ecia possível.
[2] FERRO, Sérgio, "O canteiro e o de- qu e con du zia m a con st r u çã o a pa r ü r de esqu em a s pr im á r ios. Todos
Com ecei a escr ever o qu e m a is t a r de ser ia O ca n t eir o e o desen h o2 e,
sen h o", In : Ar qu ít et u r a e t r a ba lh o livr e. con h ecia m a s r egr a s do m ét ier , os "segr edos" pa r a er gu er a ca t edr a l.
Op. cit. Publicado originalmente em duas por coer ên cia , deixei de ser a r qu it et o: im possível den u n cia r o pa pel
pa r t es: "A F or m a da Ar qu it et u r a e o De-
N ã o h a via a in da u m a r qu it et o, m esm o se devem os a dm it ir qu e u m
do pr ojet o sepa r a do n a explor a çã o e con t in u a r a pr ojet a r . Ta lvez
sen h o da Mer ca dor ia ", In : r evist a ASm a - ou ou t r o t ivesse pa pel m a is dest a ca do n a s n egocia ções. O sím bolo
seja exa ger o, pois é sem pr e possível m elh or a r a lgu m a coisa . Ma s,
n a qu e, n . 2,1976 e "II - O Desen h o", In ; dest e per íodo poder ia ser o gr a n de com pa sso, de m a is de u m m et r o,
r evist a Alm a n a qu e, n . 3,1977, sen do pr ofessor e de esqu er da m e sen t i com o dever éü co de n ã o
qu e Deu s cost u m a va u t iliza r n a s m in ia t u r a s m edieva is: ele con cebia
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e execu t a va a vesso a qu a lqu er divisã o do t r a ba lh o - er a u m oper á r io esqu ece qu e dever ã o ser con st r u ídos. U m r en dilh a do de ca t edr a l-
da con st r u çã o. È u m com pa sso de obr a , qu e t r a ça dir et a m en t e n a zin h a s qu e r epet em a gr a n de em m in ia t u r a . Tu do pequ en in in h o,
pedr a o qu e h á qu e fa zer , seja u m per fil de ja n ela ou o a r co de u m a fin o, delega do. P or ist o a ca t edr a l de E st r a sbu r go m a n t ém seu ca n -
a bóboda . N ã o r epr esen t a , ser ve a decisões im edia t a m en t e con st r u - t eir o a ber t o a t é h oje, isso é, h á oit o sécu los5.
t iva s. P r ojet a r n ã o er a u m a a t ivida de ext er ior , sepa r a da , er a u m dos Desde qu e o desen h o se isola do ca n t eir o, desde qu e o com -
m om en t os do ca n t eir o e r a r a m en t e a dqu ir is u m a for m a com plet a pa ssin h o su bst it u i o com pa ssa o, su r ge o pr ot oa r qu it et o. Sin t om a -
e exa u st iva do qu e dever ia ser feit o. Qjá esen h o em esca la 1:1 er a t ica m en t e t odos os t ext os de h ist ór ia da a r qu it et u r a qu e a t é en t ã o
desen h o do ca n t eir o, n ã o a in da pa r a o ca n t eir o. descr evem , com en t a m e qu a se m ist ifica m os "ca n t eir os da s ca t e-
E r it t et a n t o, pou co a pou co, a s coisa s com eça m a m u da r . E m dr a is", a pa r t ir dest e m om en t o n a da m a is dizem sobr e os t r a ba lh a -
cer t a s cida des, sobr et a do n o cen t r o da E u r opa , a s r ela ções de t r a - d or es - a n ã o s er p a r a cr it icá -los qu a n d o n ã o execu t a m p er feit a -
ba lh o com eça m a se a lt er a r lá pelo fim do sécu lo xn . E st r a sbu r go é m en t e a s pr escr ições do desen h o. O pr ojet o com eça a se en volver
u m ca so t ípico. Tor n ou -se u m a espécie de Repú blica e a s n egocia - de u m a a u r a qu e cr esce n a m edida em qu e dim in u i su a fa m ilia r ida -
fig 2 Camille Corot, A catedral de Char- coes fica r a m m a is com plexa s. U m con selh o dir igia a s obr a s e, pa r a de com a ver da de dos m a t er ia is e com o sa voir fa ir e oper á r io. Com o fig 3 Catedral de Estrasburgo, 1176-1439.
t r ês, 1830; t ela 0,65 K 0,50 m . P a r is, se obt er u m con sen so, com eçou a ser n ecessá r io desen h a r a n t es, fa - a n t ecipa çã o, ga n h a va lor ju r ídico, o qu e im pede su a m odifica çã o
1-ou vr e.
zer m a qu et es, pr ever . Su r ge a ssim a figu r a do in t er m ediá r io, o qu e du r a n t e o pr ocesso pr odu t ivo e o fa z r et om a r , n a a pa r ên cia do pr o-
desen h a o pr ojet o-con t r a t o. Mest r e E r win 3 é u m dos m a is con h eci- du t o a ca ba do, igu a l a si m esm o, in dica n do a ssim o desa pa r ecim en t o
dos. N ã o é u m m em br o do ca n t eir o. E íë sé isola , con cebe sozin lio, de u m a con cepçã o or iu n da de u m a com u n ida de de pr odu çã o. Su a
t om a a r es su per ior es. Com u n ica -se com o ca n t eir o a t r a vés de u m h et er on om ia qu ebr a a coesã o do cor po pr odu t ivo qu e len t a m en t e
pa r leu r , de u m "fa la dor " qu e t r a n sm it e o decidido e o desen h a do se desa gr ega e se disper sa em m ét ier s diver sos. Som e o t r a ba lh a dor
a os t r a ba lh a dor es. Com o os m edia dor es t en dem a t om a r o poder , da pedr a qu e or a er gu ia u m a pa r ede, or a escu lpia u m ca pit ei. Agor a
l ""~ " - . ~ . ' /

a lgu n s pa r leu r s pa ssa m a desen h a r . E con h ecida u m a lin h a gem de h á pedr eir o de u m la do, escu lt or de ou t r o.
gr ot oa r qu it et os con h ecidos com o P a r leu r s. Ain da h oje podem os ver O p er ga m in h o em vez d a t er r a , o es t ú d io em vez d o ca n -
n a sede do ca n t eir o de obr a s da ca t edr a l de E st r a sbu r go u m dese- t eir o - e o vir t u os is m o com o d em on s t r a çã o d e s a ber . Ch ega m os
n h o en or m e a plica do qu a se a r isca . a o gót ico fla m boya n t , su a s r en da s de pedr a e efeit os su r pr een den -
Ist o m u da a or ga n iza çã o e a r espon sa bilida de do ca n t eir o. t es - on de a n ecessá r ia h a bilida de dos execu t a n t es exa lt a a pr oeza
E m vez de segu ir decisões descon t ín u a s e qu a se in depen den t es do pr ojeü st a . Cr esce o r espeit o pêlos pr ot oa r qu it et os. Algn n s sã o
[5] Aliá s, fu i sócio con t r ibu idor dest e
u m a s da s ou t r a s (m a s a u t ón om a s), o ca n t eir o pa ssa a ser or ien t a do en t er r a dos n a s ca t edr a is qu e desen h a r a m - u m a h on r a ext r a or di-
[3] Há poucas fontes históricas seguras canteiro. A explicação é a seguinte: para
sobr e E r win de St ein ba ch , m a s é con - por u m a or dem m a is globa l, por u m a visã o de con ju n t o qu e o dese- n á r ia ! - e u sa m lu vïr ó br a n ca s, diz u m com en t a dor da época , pa r a execu t a r os m a la ba r ism os do com pa s-
siderado pela tradição como o principal n h o e a m a qu et e sepa r a dos possibilit a m 4. A t ot a U za ça o de Ch a r t r es, bem m osü 'a r qu e n ã o t oca m n a m a t ér ia . Ma s o qu e é ga n h o n u m sinho que cortou seu cordã o umbilica l
"a r qu it et o" da ca t edr a l de St r a sbou r g. com o ca n t eir o, a s pedr a s t iver a m qu e
obr a a in da do pr im eir o gót ico, é u m a r esu lt a n t e a ber t a e pou co la do é per dido n o ou t r o. Todos n o ca n t eir o, se pu dessem volt a r à
Uma inscrição hoje desaparecida, mas ser cor t a da s segu in do ga ba r it os u lt r a r e-
docu m en t a da , diz cla r a m en t e: "a n n o do- r ígida . J á a pa r t e dia n t eir a da ca t edr a l de E st r a sbu r go, post er ior , cooper a çã o sim ples, poder ia m er gu er , sós, a s ca t edr a is - e sem os duzidos. Ora, o frio do inverno da Alsácia
mini MCCD(XV!1 in die beati urfaani hoc a pr esen t a u m a t ot a liza çã o fech a da , pr é-det er m in a da . E st a n ova t o- a bsu r dos ger a dos pelo com pa ssm h o a t r evido. O sa voir t écn ico er a fa z est ou r a r , a ca da a n o, u m m on t e de
gloriosum opus inchoavit magister Erwin colu n et a s e peça s de decor a çã o. P a r a
t a liza ça o já n ã o é m a is a do ca n t eir o, a de su a lógica im a n en t e, ela com pa r t ilh a do por t odos. As con st r u ções da s gr a n des obr a s en t r a -
de St ein ba c". E !a est a va gr a va da n a ca - se obedecer a os t r a ça dos do desen h o;
tedral e é a origem da tradição. Goethe vem de for a . Ou t r o sím bolo expr im e bem a a lt er a çã o: em vez do r a m n u m a fa se a m bígu a . F or m a lm en t e, t in lia m a s ca r a ct er íst ica s a lgu m a s dest a s coiu n et a s a lon ga dís-
Ë o movimento neogótico do século XIX com pa ssa o, dom in a a gor a o com pa ssin h o. E m vez do in st r u m en - da cooper a çã o sim ples: er a o r esu lt a do do t r a ba lh o de u m cole- sim a s t iver a m qu e ser su st en t a da s por
for a m os pr in cipa is r espon sá veis pela pequ en a s ba r r a s de fer r o qu e, escon di-
t o da pr odu çã o, o in st r u m en t o do desen h o. P ela pr im eir a vez, n o t ivo r ela t iva m en t e h om ogén eo. Ma s est e se su bm et er a a o poder
transformação de Erwin no grande herói da s de n ossa vist a , ser vem de m u let a s.
da arquitetura gótica. per íodo qu e con sider a m os, su r ge o divór cio en t r e o desen h o e o d e u m "m es t r e" qu e s e s ep a r a r a d o r es t o d o cor p o p r od u t ivo, o
Ë ou t r a vez, o fr io e o ca lor , pr ovoca m
[4] Not e-se qu e a pr eocu pa çã o com a ca n t eir o. E st r a sbu r go a in da ser ve com o exem plo: n o fu n do, h á u m a qu e a u t om a t ica m en t e o desqu a lifica va . N ã o se ü r a t a a in da de u m dilatações ou confrações diferentes nos
harmonia e com a unidade do todo nasce dois m a t er ia is e m a is r u pt u r a s. Assim , a
a u st er ida de qu a se br u t a list a do pr im eir o góú co, m a s, n a fa ch a da , o pr ocedim en t o ca pit a list a . Os gr a n des ca n t eir os n ã o a lim en t a va m a
com o isolamento do desenho. A unidade ca da a n o é pr eciso r efa zer est a s peça s,
com pa ssin h o exibe su a a u t on om ia , en ca n t a -se com o em a r a n h a do a cu m u la çã o do ca pit a l dir et em en t e, m a s a t r a vés do desen volvim en - sa ben do qu e, n o a n o segu in t e, ser á pr e-
da produção autónoma é a do corpo pro-
dutiw, não a do produto. da s cu r vin h a s, com os com plexos en r osca m en t os en sim esm a dos e t o u r ba n o qu e fa vor ecia m . ciso r ecom eça r .

16 17
e na
u m . pou co de m oleza (a gor a , t r a t a -se de m a is-va lia r ela t iva ). Ma s
a i: escon ü m seu s
u zir : a qu e ciin giu por u m

t en da à su a su bm issã o.
ï, m a s s u a

lu É íí): pa ga r o sa lá r io m a is r edu zido possível e a u m en t a r m a ser a r m a


4 Cúpula da Basílica de Santa Maria en t ã o u m m om en t o. Logo, en t u


dei Fiori. Projeto de Hlippo Brunelleschi, ivez pa r a r om per com su a
F lor en ça , 1419-36.
se pôs n u e a m ou t a n t o a pobr eza .
N o fim do sécu lo xiv, com eço do xv, h ou ve u m a r evolt a em um uJ t i-

i, a n h a m fa m ilia r ida de com a plá sl


'u n h a s :o - n ã o p od em os es qu ecer
er a selva gem : -a is do pr im eir o gót ico P a r a con solida r
pr ojet o, er a n ecessá r io a

e só
d er r ot a d os n o com eço d o s écu lo xv. Vok a r a m os n obr es , os r icos , ^ s. a ser diver t ido a com pa n h a r os in con t á veis
discu ssões da
Iass aa ca dem ia s qu
quee tten
enttaarraam
m ju
juststifica
ificar raa a doçã o do clá s-
e depois gr ego). Aliá s, a pr ocu r a de legit im a çã o só
F ior i (de m odo sem elh a n t e, a Ba sílica do Sa cr é Coeu r de P a r is, • eu dois sécu los a pós su a a plica çã o. F ilósofos, con n a isseu r s., em -

u m m on st r en go a r qu it et ôn ico, foi en com en da da pela bu r gu e;sia CtltOS a r qu it eíos a cu m u la r a m t on ela da s de a r gu m en t os pa r a expli-


m a ssa cr e ca r o in explicá vel, se fica r m os n os lim it es da h ist ór ia da a r qu it et u r a

a or ga n qu e, n o sécu lo xv, foi n ecessá r io pa ssa r do gót ico a o


r evolt a .3.SSÍ pa ssa gem só a dqu ir e sen t ido se a a ssocia r m os à em er -
se gélida d' a pit a lism o pr odu t ivo, em er gên cia cu ja h or a de n a sci-
m en t o j a a m pla m en t e dem on st r a da por Ma r x.
a spir a n t es a t or n a da s de poder sa bem qu e, en t r e ou t r ss
Ciompi é o sobrenome de uma da s
a per feiçoou a exír a çã o da m a is-va lia a bsolu t a e r ela t iva . Ma is-vs -im cia ü va s pr eciso m u da r a s r egr a s do jogo e cobr ir a s r egr a s a n -
fa m ília s qu e lider a r a m a r evoE t a .

Giorgio Vasarl foi o primeiro grande


historiador do renascimento. Sua obra
Lês viés dês m eilleu r s pein t r es, scu lp-
íía
t ew-s et sr ch it ect es (Ber gef-Levr a u lt ,
n ova econ om ia n a scen t e ist o er a i] Ghibeííi é mais conhecido como au-
1985, 8 vois.) se or ga n iza com o u m a
n a r r a t iva qu e dá cor po a u m a visã o qu a se uma est es t r a ba lh a dor es. en t ã o £L s tor das portas do batistério de Florença,
mítica das artes plásticas a partir de Giot- E scu lt or e a r qu it et o, dispu t ou con st a n t e-
Im íü u de volt a S 3.13.-
t o a t é seu s dia s - sécu lo XVI, F oi in st r u - mente com Brune!!eschi pela direçao das
m en t o Im por t a n t e pa r a o r econ h ecim en t o iir n â . obras de Santa Maria dei Fiori - o que só
cia s a r t es plá st ica s com o a r t es liber a is, a bsolu t a ). se en a m or a de si m esm o e, fin a lm en t e, põe-se a fa la r ou t r a lín gu a , con segu iu por cu r t o per íodo.
descon h ecida pelo ca n t eir o. P a r a escolh er o n ovo código, n a da e n ã o o a r qu it et o, delega do do poder ou do ca pit a l. Ma is u m a vez o
m a is sim ples do qu e a dot a r o m a is pr óxim o, o da s r u ín a s r om a n a s, pr ojet o poder ia ser discu t ido, cr it ica do pelo cor po pr odu t ivo, post o
espa lh a da s por t oda E u r opa - e qu e a t é en t ã o er a m vist a s com o de- qu e ser ia sim plesm en t e lógico, ist o é, sit u a do n o n ível de com pe-
pósit os de pedr a s r eu t ilizá veis. Os t r a ba lh a dor es, ú n icos a con h ecer t ên cia dos t r a ba lh a dor es da con st r u çã o. Ma s, m ost r a n do-se com o
a s t écn ica s con st r u t iva s, con t in u a r a m a con st r u ir com o con st r u í- m á sca r a e con t en do fr equ en t em en t e a bsu r dos con st r u t ivos, ele se
a m , m a s t in h a m qu e r ecobr ir o con st r u ído com os t er m os da n ova t or n a in discu t ível e pa ssa a ser a t r ibu ído de pa r â m et r os est ét icos
lin gu a gem , t ida com o r eplet a de su t ileza s qu e só os in icia dos ~- os cu ja n ebu losa eviden t em en t e esca pa a o sa ber oper á r io. Tu do se
a r qu it et os ~ com pr een dia m . N ã o é de est r a n h a r qu e o t r a ba lh o es- pa ssa com o se a m á sca r a fosse dit a da a os a r qu it et os pela s im pen e-
con d id o s e d egr a d e p ou co a p ou co. As s im , en t r e o s écu lo xv e o t r a veis m en sa gen s da s m u sa s. O a r qu it et o, pa r a pr ova r su a n ecessí-
sécu lo xvi, os sa lá r ios for a m r edu zidos pela m et a de, e a con st r u çã o da de n ã o pode se a t er à lógica con st r u t iva : est a a in da est á n a s m ã os
de pa lá cios se t or n ou a pr in cipa l a t ivida de econ óm ica de Rom a . dos t r a ba lh a dor es. Seu desen h o t in h a qu e ir pa r a a lém dela . Ma s ir
E m r esu m o: o desen h o er a m om en t o do pr ocesso pr odu t ivo, a lém , u lt r a pa ssá -la , sign ifica va fica r a qu ém ou fin gir o im possível. Michelangeto Buonarotti. Capela
depois se isolou e com eçou a qu er er a u t on om ia , m a s sem a ba n do- Dois exem plos. Mich ela n geio gost a va de u t iliza r a bsu r dos Mediei, 1520-34.

n a r o voca bu lá r io g-ót ico, pa r a fin a lm en t e m u da r de código e pôr o t écn icos. N a ca pela Mediei9, por exem plo, desen h ou pila st r a s, a r -
sa voir fa ir e oper á r io a t r á s do cen á r io. De com pon en t e do ca n t eir o, qu it r a ves e ca pit eis sobr epost os a u m a pa r ede em st u cco qu e escon de
o desen h o solt o pa ssa va a ser h ost il a o ca n t eir o. An t es a lia do dos u m a m a ça r oca con st r u t iva de péssim a qu a lida de. N o pr im eir o a n -
t r a ba lh a dor es, t r a n sfor m ou -se em a r m a do ca pit a l con t r a eles. da r a s pr opor ções sã o m a is ou m en os r espeit a da s. J á n o segu n do,
A fu n çã o oposit iva e dom in a dor a do desen h o n ã o é o r esu l- a s pila st r a s sã o fin a s dem a is, ja m a is su st en t a r ia m a cú pu la su per ior .
t a do de u m a t á t ica con scien t e dos a r qu it et os. E la decor r e da est r u - Além disso, u m a fa bca br a n ca de st u cco in t er r om pe a con t in u ida de
t u r a da s r ela ções de pr odu çã o qu e in depen de dos a for es socia is pa r a est r u t u r a l (m a s t a lvez ele t ivesse pr evist o ou t r a coisa , ele deixou
oper a r . Ao se sepa r a r , o desen h o se põe com o difer en t e do ca n t eir o; a ca pela in a ca ba da ). N a bibliot eca La u r en cia n a é m a is explícit o
a difer en ça evolu i em . oposiçã o; e da oposiçã o pa ssa à con t r a diçã o. a in da : a s colu n a s en ca st r a da s, su post a m en t e est r u t u r a is, sã o m a is
Vim os com o se opõe; m a ssa cr a n do a con st r u çã o t r a dicion a l com a delga da s qu e a s pa r edes su post a m en t e n ã o est m t u r a is. E xem plo
lin gu a gem clá ssica , o qu e pr ovoca a deca dên cia do sa ber con st r u - con t r á r io pode ser en con t r a do n a colu n a t a de P er r a u lt pa r a o Lou -
t ivo. Ma s est a oposiçã o leva à con t r a diçã o. Assim , o desen h o qu e vr e: a a r qu iü r a ve en or m e é t ecn ica m en t e im possível em pedr a . A
m a sca r a , qu e se põe à fr en t e da con st r u çã o r ea l, t em a t en dên cia a qu e podem os ver n o loca l é de m en t ir in h a , por den t r o cor r e u m a
se m ost r a r com o m á sca r a . E m ou ü 'o loca ! dei o exem plo da P in a - cor r en t e em fer r o.
cot eca de Sã o P a u lo. N o qu e foi con ser va do da obr a de Ra m os de E m qu a s e t od a a r qu iíet u r a clá s s ica p od em os en con t r a r a
Azevedo, vem os qu e o pr édio se su st en t a pela m a ssa da a lven a r ia de m esm a du a lida de esqu isit a . P or t r á s, u m a con st r u çã o r ea l de pou ca
t ijolos. E n t r et a n t o, est a m a ssa t om a desn ecessa r ia m en t e a for m a de qu a lida de; n a fr en t e, o a pa r a t o clá ssico qu e n ã o disfa r ça su a a r t ifi-
u m a con st r u çã o com pila st r a s, a r qm t r a ves, et c. - do m esm o m odo, cía lida de. A a pa r ên cia da obr a , o qu e ela n os m ost r a , n ã o escon de
poder ia a ssu m ir qu a lqu er ou t r a for m a qu e m a n t ivesse a m esm a dem a is qu e é som en t e a pa r ên cia . E a pa r ên cia qu e diz qu e é a pa -
m a ssa . P odem os ver est a discr epâ n cia por qu e a con st r u çã o n ã o foi r ên cia , a pa r ên cia da a pa r ên cia qu e, H egel dixít 10, r evela a ssim qu e
r evest ida . Ma s a m esm a du a lida de (m a ssa qu e su síen t a /decor a ça o é a pa r ên cia de ou t r a coisa , de u m a essên cia qu e só pode en t r a r n a
fict ícia ) pode ser en con t r a da n a m a ior ia da a r qu it em r a "clá ssica " efet ivida de a ü -a vés da a pa r ên cia - se est a se m ost r a r com o a pa r ên -
it a lia n a , por ém , h á u m det a lh e cu r ioso e sin t om á t ico: o desen h o cia . Assim , o qu e se r evela n o clá ssico a pa r en t e, qu e se m ost r a com o [9] FERRO, Sérgio, Michet-Ange. archi-
qu e m a sca r a a con st r u çã o n ã o se esfor ça m u it o pa r a pa r ecer con - a pa r ên cia , é u m a or den a çã o m em or ia l da s coisa s (a s r u m a s r om a - íecte et sculpteur de la chapetle Medíeis.
vin cen t e. De u m a m a n eir a ou ou t r a o desen h o deixa per ceber qu e, n a s qu e com eça m a ser piedosa m en t e con ser va da s pr ova m su a in - Lyon, Pian Fixe Edition, 1998.
[10] Ver os trabalhos de Georg Wilhelm
n a r ea lida de, ele n ã o fu n cion a . Se o desen h o fosse t ot a lm en t e con - t em por a lida de), u m a or den a çã o u bíqu a . P ois pa r ece est a r em ca da
Friedrich HegeE: La scíence de ia logique
vm cen t e, im a gin a r ía m os qu e é a ssim pela for ça , da s coisa s, por r a - m on u m en t o a o m esm o t em po em qu e n ega est a r de ver da de, qu e (Vrin, 1970) e Propédeutíque philosophi-
zoes con st r u t iva s efet iva s. A lógica con sír u ü va est a r ia n o com a n do fa z dele seu delega do m a n t en do-se à dist â n cia : im a gem per feit a do í7üe(Minuit,1963),
it .-.Ã^ ^ »
ser r a r su a pu r eza

com o com a ba n a lida de de seu su por t e. Repit o, in sist e em ser a pa r ên cia ,


se a pr esen t a r com o a pa r ên cia de u m poder det er m in a n t e - qu e, por
ca u sa de su a s idiossin .cr a .sia s, a pon È â u m delega do qu e t em n om e,
s e p a s s ou em p in t u r a . Ao m es m o t em p o em
o a r qu it et o. A con t r a d içã o en t r e o d es en h o e o ca n t eir o s e t or n a
u sa r lu va
na

in com pa t ibilida de se m a n ífesÊ a com o m á for m a çã o, com o


com s eu
t osca , sobr et u do n o Ba r r oco, on de a m ã o qu e gu ia o t r a ça dc
n ã o con s egu iu s er m a is d o qu e u m
m a is. N a s igr eja s ba r r oca s, em qu e t u do é con voca do
m ovim en t o de ver t igem a scen sion a l, a m a t ér ia im per t in en t e,
n ã o pode ser t ot a lm en t e a n u la da , pu xa pa r a ba ixo o voo
a o per íod st u cco
Cer t a s cu r va s r ever sa s, ou u m su icco qu e n ã o con segu e vir a r n u vem
a
ou a lgu m r eboco ir r egu la r dizem o im possível a cor do en t r e
qu e fa z e a m ã o qu e desen h a . O deseja do desa pa r ecim en t o
vezes a r t esã o, u m a
s e ch oca com s eu r et or n o com o in evit á vel m a lfa zer ;

a. s
ver seu t r a ba lh o, o m ovim en t o
do a pa r ecer e o qu e n ã o est a a i

{^ pr ezza t u m \ com cer t o desca so pela m a t ér ia , peÍo


m a n u a l, com o en sm a ^ m os n obr es. Ca sdg!ioa eïon ízo^
ISSO m a is
n u m best -seller da época (séc. xvï), "Q cor t esã o"."'
P ois bem , a s ü icor r eções t écn ica s e os a bsu r dos
^ a r qü iÊ ei-os cor r espon dem à spr ezza t u m dos pm t or es.
[11] Meste livro, Baldassare Castiglíone s u a s m cor r eções e s eu s a bs u r d os " n ã o s ã o d evid os F t en ^ .
descr eve o com por t a m en t o idea l do cor - com o o p a p a n o s ecu j
a ^ ign or a n cm , a o con ír á n o. As s im com o s s p r ^ zza t u m ':
t esã o: deve ser o in vsr so do com por ís-
com o st r u cóes su n t u a n a s, os
m en t o do h om em com u m . A spr ezza t wa vâ u m s m p er ion d a d e qu a s e n obr e, a h egem on ia d á id eia '
â
("despr eza m en fo") e su a ca r a ct er íst ica r ea a za ça o^ s m coer êu ciâ s do desen h o dea r qu it et u r a , a ssÏn s
[â vâ m
ger a l, O cor t esã o deve t er u m a r en fa s- i),
!u !.ïeva ça oa pr ocu r a de fo™s a m dâ m a i^ pr ofu n da s
íia do - pois, em pr in cípio, já n a sceu co- a s do m a is su a s con st r u ções pa r a
n h ecen do e sa ben do a plica r t oda s a s r e- pr ot ót ipo clá ssico (o qu a l, a liá s, n u n es foi a ch a do, n em n o"
gr a s socia is t ípica s da eiit e. P or ist o t em cu st os e bem em pr ega r os m a t er ia is. P a r a seu pr est ígio, e lem br a n -
, n em em a lgu m exem plo con cr et o). Com o pr ot ót ír
que mostrar taE familiaridade ao aplica- xisíen t e) só sen dr ia à ficçã o. A.q 1- e au a
P equ en a ilu st r a çã o a n a cr ôn ica ,
ia s, o qu e a ca ba por se con fu n dir com ,, m es m o a s s im , m a s sem elh a n t e: n o con ven t o de La
cer t o en fa do. Ca st igiion e a con selh a qu e, (; ; . . . __;!
de sa ber con st r u ü - Tou r et íe, a o ser r et ir a da a for m a de u m a
SR t a is r egr a s t iver em qu e ser a pr en dl- "a ssm a sse^ su a obr a gr a ça s à especificida de de^ su a s"
ca iKa de esca da em con cr et o, foi ver i-
da s, em ca so a lgu m h á qu e ca pr ich a r ). la n a s :, est e sa ber em pír ico já a cu m u -
^ fa lsa or dem giga n t e de Mich ela n gelo7a 7 fa dia dïs F ica do qu e u m a ja n elin h a sa iu t or t a . Lê
demais, pois isto demonstraria trabalho Corbusier não quis que fosse corrigida e
m esm o pla n o de P a lla dio, a s
de aquisição, O bom cortesão tem horror
pen sou em escr ever em ba ixo: "por a qu i
a o t r a ba lh o ~ e é pr eciso esca m ot eá -t o. a ssim ca r r ega con sigo, a o m esm o t em po, a pa ssou a m ã o do h om em ", com o qu e
Se a pa r ecer , t em qu e a pa r ecer com o t ca , a t em por a l. e a ii s es boços em t om o
fica ria Implícito que a mã o do homem.
sim ples ocu pa çã o pa r a pr een ch er o ócio. m est r e qu e a leva
e se põe Jà ist o é, do t r a ba lh a dor , n ã o "pa ssou " peio
S m a s com o cu ida do de
r est o da obr a .
e a en ciclopédia de Dider ot sã o bon s exem plos. Os en gen h eir os p a s s ou a s er u m p a lim p s es t o em qu e o t ext o d o ca n t eir o r ea l s e
com eça m a se m u lt iplica r , ga n h a r st a t u s e fu ça r em t oda s a s á r ea s deixa ver sob a t r a m a r egu la r . Vá r ia s com issões de t écn icos for a m
t écn ica s, com o dem on st r ou u m dos con vida dos de n osso la bor a t ó- n om ea da s, pr opu ser a m a s solu ções m a is diver sa s. Algn m a s a ber t u -
r io Dessin /Ch a n t ier , An t oin e P icon . r ã s la t er a is for a m fech a da s, m a s, sobr et u do, com eçou -se a pr ocu r a r
E n esse clim a de pa ssa gem - en t r e o sécu lo xviu e xix, en t r e u m m a t er ia l qu e pr een ch esse os vã os en t r e a s pedr a s. Cin qu en t a
a r a cion a lida de t m m fa n t e do Ilu m in ism o e su a a p!ica ça o fu n cion a l a n os m a is t a r de n a scer ia o cim en t o - m a s dele fa la r em os depois.
P a n t eã o de P a r is. P r ojet o de J a c- e, sobr et u do en t r e a m a n u fa t u r a e a in dú st r ia , pa r a a qu a l o ca pi- O qu e im por t a n ot a r é qu e os a r qu it et os m a r ca dos pelo ilu -
qu es-Ger m a in Sou fflot , 1758-1790, t a lism o com eça a a dot a r a ciên cia e a t ecn ologia decor r en t e, com . m in ism o - Sou fflot n ã o é o ú n ico -~ e dia n t e da P r im eir a Revolu çã o
su a a t en çã o desper t a da pêlos ga n h os da m a is-va lia r ela t iva ~ qu e In du st r ia l e do n a scim en t o da s "ciên cia s da con st r u çã o" t en t a r a m
foi pr ojet a do o P a n t eã o de P a r is, u m t est em u n h o br ilh a n t e dest a r a cion a liza r o desen h o a r qu it et ôn ico - ist o é, pa r a eles a in da , r a cio-
t t a n sfor m a çã o. Sou fflot , seu a r qu it eío, foi qu a se for ça do pelo a r n a liza r o clá ssico, sa ir da dicot om ia con st r u çã o r ea l + m á sca r a . E n -
do t em po a a dot a r a s exigên cia s r a don a list a s. Qu is fa zer u m a obr a . t r et a n t o, esqu ecen do por u m m om en t o a lim it a çã o dest a s "ciên cia s",
clá ssica (a gor a de in spir a çã o m a is gr ega ) r a cion a l ~ o qu e é qu a se a r a cion a liza çã o foi som en t e t eór ica , de pa pel. Á con t r a diçã o en t r e
u m oxim or o. E st u dou bem a s decida s de ca r ga , a s dim en sões m í- o desen h o e o ca n t eir o per m a n ece,.m a s em ou t r o n ível. O desen h o
n im a s n ecessá r ia s, et c., e qu is qu e a execu çã o explicit a sse a r a cio- qu er en t r a r efeü va m en t e n a con st r u çã o, com a n dá -la n o seu ín t im o,
n a lida de do pr ojet o. N a colu n a , por exem plo, o fu st e dever ia a pa - n ã o se a poia r m a is t ot a lm en t e n o sa voir fa ir e oper á r io. Sem qu e pos-
r ecer com o u m a u n ida de. As pa r edes dever ia m exibir m ódu los de sá h a ver com pa r a çã o com o qu e a in dú st r ia com eça a fa zer com o
pedr a r egu la r es, t odos igu a is. Or a , t a n t o n u m ca so com o n o ou t r o, t r a ba lh o, h á u m esboço de t en t a t iva de u m con t r ole m a is pr óxim o
a s ju n t a s r ea is n ã o cor r espon dia m à s idea is. As pedr a s ch ega va m d o ca n t eir o - o qu e s om en t e n o fim d o s écu lo xix t or n a r á cor p o.
a o ca n t eir o com m edida s diver sa s, segu n do a con ven iên cia de su a E n qu a n t o isso, a vet h a m a n u fa t u r a con t in u a a pen a r sob o desen h o.
.^ i^ . ext r a ça o. Os íu st es er a m com post os por vá r ia s pedr a s e a s pa r edes
^ i^ --.-^
fig 8 E squ em a con st r u t ivo. t in h a m u m a a pa r elh a gem , diver sifica da , ir r egu la r . Sou fflot exigr u P E RGUNTAS
en t ã o qu e a s ju n t a s r ea is fossem feit a s t ã o pr ecisa s qu e pu dessem [J OSÉ E DU ARDO LE F É VRE ] E u qu er ia qu e você com en t a sse a lgu n s
qu a se su m ir . Sobr e a pa r ede a ssim con st r u ída , fez gr a va r de m odo exem plos a o lon go da h ist ór ia da a r qu it et u r a , e pa r t icu la r m en t e,
bem m a n ifest o a s ju n t a s idea is, a ssim fa lsifica da s. Ist o n ã o er a u m a u m ca s o em qu e, com o a fa s t a m en t o em r ela çã o a o h is t or icis m o,
n ovida de, o cla ssicism o est á ch eio de coisa s sem elh a n t es. Ain da n o foi a dot a da u m a lin gu a gem pêlos a r qu ít et os h ola n deses da escola
m eio do sécu lo xix, Viollet -le-Du c pr ot est ou con t r a est a m a n ia ge- á e Am st er dã va lor iza n do elem en t os con st r u t ivos m u it o bem feit os,
n er a liza da de en cobr ir o t r a ba lh o r ea l. O qu e é t ípico de Sou ffiot é deixa n do de la do o h ist or icism o e a s r efer ên cia s pa r a in clu ir ele-
o m odo qu a se m a n ía co de fa zer a s ju n t a s r ea is desa pa r ecer em . Or a , m en t os a r t esa n a lm en t e m u it o ela bor a dos, in ser idos den t r o da obr a
n a pr á t ica , sem n ossa s a t u a is m á qu in a s pa r a ser r a r pedr a s, o ú n ico n ã o com pr opósit o r epr esen t a t ivo, m a s por qu e a qu eles det a lh es t i-
m odo de con segu ir ist o er a in clin a r Íígeír a m en t e a s su per fícies de n h a m u m sen t ido con st r u t ivo.
con t a t o en t r e a s pedr a s deixa n do qu e a s a r est a s ext er ior es se t o-
ca ssem per feit a m en t e e com pen sa n do seu a fa st a m en t o n o in t er ior [SÉ RGIO F E RRO] E u n ã o pen sei em fa la r sobr e isso h oje. U m dos ca -
com cu n h a s de m a deir a . Or a , com o Sou fH ot , qu er en do r a cion a liza r pít u los qu e pr efir o n a h ist ór ia da a r qu it et u r a é o do eclet ism o ~- t ã o
o clá ssico, h a via ca lcu la do a s dim en sões do edifício segu n do o qu e desva lor iza do pela a r qu it et u r a m oder n a . Seu pr in cípio é exa t a m en -
ju lga va ju st o e n ecessá r io, é eviden t e qu e a ca r ga su por t a da por t e est e: solu ções exa t a s, per feit a s t écn ica s de execu çã o, pen sa m en t o
ca da pedr a , qu e dever ia se dist r ibu ir por t oda a su per fície t eór ica cla r o. A obr a a dicion a solu ções a dequ a da s de ca da pa sso da pr odu -
de con t a t o, se con cen t r a va sobr e a s a r est a s e a cu n h a de m a deir a . cã o, solu ções en con t r a da s n a h ist ór ia da a r qu it et u r a . E viden íem en -
Resu lt a do: pequ en a s la sca s de pedr a , qu e pr ovin h a m da s a r est a s t e m ist u r a m a ssim época s e est ilos, m a s por qu e n ã o? Volt o a est e
sobr eca r r ega da s, n ã o pa r a va m de ca ir . O qu e dever ia ser u m a exa l- t em a n a pr óxim a a u la .
t a çã o de m ódu los per feit os, equ iva len t es físicos da n or m a r a cion a l,
t isfa ça o com o t r a ba lh o ca r r et o, bem feit o. Ist o pode pa r ecer coisa
[J OSÉ TAVARE S CORRE IA DE LIRA] E m det er m in a do m om en t o de su a
exp os içã o, você r ela cion ou a op os içã o en t r e ca n t eir o e d es en h o
secu n dá r ia , m a s o qu e est á em jogo a qu i é u m dos m a is in ü -in ca dos
'pr oblem a s da filosofia : a iden t ida de da n ecessida de e da liber da de
com a cr ít ica m oder n ist a a o décor e a cr im in a liza çã o do or n a m en t o.
e su a difer en ça .
N o elogio de Ru sk in a o ca n t eir o m edieva l, é cr u cia l â dist in çã o
N ã o é sem . segu n da in t en çã o qu e o m oder n ism o a t a ca com
de u m or n a m en t o r evolu cion á r io, on de n ã o h á qu a lqu er su bm issã o
t a n t a en er gia a decor a çã o. E ver da de qu e u n h a dia n t e de si t on ela -
do t r a ba lh o execu t ivo a o in t elect u a l, em r ela çã o à s for m a s ser vis
da s de m á decor a çã o n os est a qu es fin de siède. Ma s u n h a t a m bém
e con st it a cion a is de or n a m en t o. E possível a t r ibu ir a in da a lgu m
a decor a çã o ca r r et a de vá r ia s obr a s ecléü ca s (n em t oda s). O qu e o
p a p el r evolu cion á r io a o or n a m en t o qu a n d o a a r t icu la çã o en t r e o
m oder n ism o con den a sã o r est os de a u t on om ia t écn ica dos t r a ba lh a -
est ét ico e o t écn ico h oje se dá em u m u n iver so pr odu t ivo t ã o diver -
dor es qu e se exibia m com t r ist e or gu lh o em fr a gm en t os decor a t ivos.
só do a r t esa n a l?
Ma s, pa r a doxa lm en t e, pou ca s obr a s sã o t ã o decor a da s qu a n t o a s qu e
exibem for m a s cú bica s Ïi-a n ca s, com o a s do pr ópr io a u t or de "O
[SÉ RGIO F E RRO] U m a bela pu blica çã o or iu n da do la bor a t ór io Des-
or n a m en t o é u m cr im e", Adolf Loos: decor a t iva s n o m a u sen t ido,
sin /Ch a n t íer é a de P h U ippe P oü é sobr e P h iliber t de LOr m e 3.
pois est a s for m a s r igor osa s e est a u n ifor m ida de br a n ca escon dem
P h iliber t er a t a lh a dor de pedr a e se t or n ou u m dos pr im eir os a r -
u m a r ea lida de con st m t iva ou ü -a , da qu a l est a s for m a s sã o a n ega çã o
qu it et os da F r a n ça ju n t a n do desen h o e t écn ica , o qu e é r a r o.Ao
e a u n ida de br a n ca u m a fa lsa im a gem .
fa zer u m a cú p u la , p or exem p lo, o qu e con s t it u i a d ecor a çã o é o
pr olon ga m en t o, a lém do pu r a m en t e n ecessá r io, do a pa r elh a m en t o
[J OSÉ E DU ARDO LE F É VRE J Você m ost r ou com ba st a n t e cla r eza a se-
ca r r et o da s pedr a s, de su a s ju n ções e for m a s. N o t r a ba lh o, em ger a l,
pa r a ça o en t r e desen h o en qu a n t o con st r u çã o e desen h o en qu a n t o
t em os o m a t er ia l, a s t écn ica s, o sa ber pa r a m odificá -la e a in t en çã o.
r epr esen t a çã o, e t a m bém a oposiçã o en t r e a r epr esen t a çã o in cor -
N u m da do m om en t o h ist ór ico, h á r egr a s a ceit a s com o a s m eih o-
r és pa r a ca da u m dest es com pon en t es. A boa obr a r eu n ir á os t r ês
pa r a da à a r qu it et u r a com o a lgo sobr epost o (n o Ren a scim en t o), e
u m a r epr esen t a çã o ela bor a da . Ma s n o gót ico, n ós t em os t a m bém
com pon en t es r espeit a n do t a is r egr a s. A decor a çã o, n o bom sen t ido,
u m a con s t r u çã o s ofis t ica d a e, p or vezes , t a m bém u m a r ep r es en -
ser ia a dida ü za çã o de t a l pr ocedim en t o.
t a çã o sofist ica da , e é essa qu est ã o da r epr esen t a çã o pr esen t e n o
U m exem plo. At é o sécu lo xvi, o belo se con fu n dia com a
gót ico qu e coloco, por qu e o gót ico desen volveu u m código de
exibiçã o da m a ior qu a n t ida de possível de m a t er ia is r a r os. A pr im ei-
lin gu a gem qu e pr evê elem en t os qu e n ã o sã o n ecessa r ia m en t e fa n -
r a sa cr ist ia de Sã o Lor en zo, em F lor en ça , a sa cr ist ia vecch ia , é u m
cion a is e est r u t u r a is.
bom exem plo dist o. Cor r espon de à pr im a zia do ca pit a l com er cia l.
N o sécu lo xvi a pr im a zia pa ssa a o ca pit a l pr odu t ivo, a o t r a ba lh a dor
[SÉ RGIO F E RRO] O gÓÜCO é ext r em a m en t e com plexo e n ã o pode ser
por t a n t o. P a r a isso o m a t er ia l t em qu e ser m a cio, n eu t r o; pede-se a
con sider a do exclu siva m en t e sob o pon t o de vist a do con flit o en -
ele qu e r egist r e a sa bedor ia do gest o pr odu t ivo - m a s com o o t r a ba -
t r e desen h o e con st r u çã o. N ã o som en t e a fu n çã o sim bólica con t a
lh o n ã o pode en qu a n t o t a l a pa r ecer n a a r qu it et u r a , com eça a ser r e-
en or m em en t e, m a s a r qu it et u r a , escu lt u r a e pin t u r a n ã o se sepa r a m
vela do pela escu lt u r a . E o qu e podem os ver n a sa cr ist ia -n u ova , t a m -
com plet a m en t e. Mesm o em . ou t r os per íodos h ist ór icos n ossa a n á li-
bem em Sã o Lor en zo. O t r a ba lh o gr a va do n o m á r m or e a plica do n a
se n ã o pode ser exclu siva . U m a ca t edr a l gót ica r epr esen t a va a n ova
a r qu it et u r a só pode ser con sider a do com o o n ega t ivo do a plica do
J er u sa lém " e, com o n ot a Vít or H u go, é a in da u m livr o pa r a ílet r a -
n o m á r m or e da escu lt u r a . E le som e, desa pa r ece sob o U so per feit o,
en qu a n t o n a s escu lt u r a s Mich ela n gelo espa lh a a m a r ca de seu bu -
dos. Tu do ist o in t er fer e n o desen h o. H oje sa bem os qu e n ã o é u m

r il - é o n on fin it o. Assim , en t r e ou t r a s con sider a ções, é cla r o, o n on


m odelo de r a cion a lida de con st r u ü va (segu n do n ossos pa r a digm a s)
- em bor a fosse pa r a seu s con st r u t or es. Ma s, m esm o qu e a dm it ís-
fin it o é decor a t ivo; expr im e a sa bedor ia t écn ica de Mich ela n gelo.
sem os est a r a cion a lida de, m u it os det a lh es for a m in t r odu zidos em
O qu e con s id er o a boa d ecor a çã o é, p or t a n t o, is t o: a ex-
fu n çã o sim u lt a n ea m en t e t écn ica e sim bóÜ ca . Os feixes de coh m et a s
:, Philippe. PliiiibertdeLOrme. pa n sã o, a lém do n ecessá r io, do gest o t écn ico pelo qu a l a obr a se
qu e cor r espon dem ca da u m a a u m a r co qu e a s pr olon ga , pode figu -
Marselha, Eciitions Pareníhèses, 1996. t or n a n ã o som en t e didá t ica - m a s expr im e t a m bém a a legr ia , a sa -
r a r com o o con s t r u t or gót ico im a gin a va o com p or t a m en t o d a es - polít icos explica ch a m a r o N ou vel ou o P or t za m pa r c pa r a pr ojet a r
t r u t u r a -~ m a s r epr esen t a a m et á for a bíblica sobr e a for ça da u n iã o, a qu i. P er t o do P a u lin h o ou do Lelé, sã o ia st im á veis. Ca ber ia u m
o feixe de r a m os difícil de qu ebr a r . As du a s coisa s sã o in sepa r á veis. èsm do pa r a sa ber o por qu ê - m in h a h ipót ese é qu e ist o decor r a da
pr edom in â n cia da m a n u fa t u r a ser ia l en t r e n ós.
[J OSÉ P E DRO COSTAJ Mu da n do u m pou co o t em a , você foi pr ofessor
a qu i n a F AU U SP e em Gr en oble. Sobr e o a spect o didá t ico, eu n ot ei, a [MARIA IRE NE szMRE CSANYi] Deixa n do de la do o h ist or icism o, com o
pa r t ir de m in h a exper iên cia pessoa l, u m a sér ie de difer en ça s con side- você vê a r ela çã o en t r e h ist ór ia e ca n t eir o? E ou t r a per gu n t a : você
r á veis n a for m a de con du zir , in clu sive n ã o só a a t it u de dos pr ofesso- n ã o gost a de n a da do N ou vel?
r és com o a t it u de t a m bém dos a lu n os. E eu a cr edit o, por t a n t o, n esse
ch oqu e de a com oda çã o pa r a ch ega r lá , e depois, o ch oqu e de a co- [SÉ RGIO F E RRO] OJ ea n Nou vel é ga n h a dor de con cu r so, a r qu it et o de
m oda çâ o pa r a ch ega r a qu i. E n t ã o, se você pu der con t a r u m pou co pa pel. F or a o In st it u t o do Aïu n do Ár a be, su a s r ea liza ções desa pon -
da su a exper iên cia em Gr en oble, com o foi essa for m a çã o didá t ica ? t a m . Os pr ojet os sã o m a l desen volvidos, m a l a ca ba dos. Aliá s, é du -
viá oso qu e se possa fa la r de "seu s" pr ojet os. E le qu a se n ã o desen h a :
[sÉ RGio F E RRO] A m elh or escola de a r qu it et u r a qu e eu con h eci é "fa la " o qu e im a gin a a os cola bor a dor es qu e, eles sim , desen h a m .
est a a qu i, n a qu a l m e for m ei. Gr u pos pequ en os de a lu n os, com pr o-
fessor es ext r a or din á r ios, com o Ar t iga s, F lá vio Mot t a , P a u lin h o e As r ela ções en t r e h ist ór ia e pr á t ica sã o com plexa s e h á qu e con si-
m u it os ou ü -os, n u m clim a de en t u sia sm o a r qu it et ôn ico com a con s- der á -ía em vá r ios n íveis. E m pr im eir o lu ga r , é pr eciso lem br a r a
t r u çã o de Br a sília . N osso r ela cion a m en t o com os pr ofessor es n ã o h ist ór ia n o pr esen t e. N ossa s cida des sã o pa lim psest os. Su per posiçã o
er a con ven cion a l. H a via m u it o t r a ba lh o dispon ível e já a pa r t ir do de per íodos e r ela ções socia is diver sos. Com o dir ia H egel (em ou t r o
segu n do a n o cie escola Rodr igo Lefévr e e eu a br im os u m escr it ór io. sen t ido), "a h ist ór ia est á in scr it a n o pr esen t e", ist o é m a is pa t en t e n a
P edía m os con selh os pr á t icos a os pr ofessor es e o Mila n ch egou a E u r opa , m a s n em por ist o deixa de va ler a qu i. Br a sília já est á sen do
m e pa ssa r folh a s de cá lcu lo de con cr et o pa r a eu u sa r n o m eu pr oje- con u r ba da . Logo o a viã ozin h o de Lú cio Cost a ser á en golido por
t o. P or ou t r o la do, se os pr ofessor es ju lga va m n ossos t r a ba lh os du - u m a m a lh a u r ba n a : ser á a in da e n ã o ser á m a is a Br a sília pion eir a .
r a n t e a sem a n a , a os sá ba dos a s coisa s se in ver t ia m , pois visit á va m os Ser á u m ca so de m em ór ia pr esen t e.
com eles su a s obr a s. E m segu n do lu ga r , a h ist ór ia - sem fa la r de seu a spect o pu -
E m segu n do lu ga r in dica r ia a escola de Br a sília , n a qu a l t a m - r a m en t e in for m a t ivo sobr e o pa ssa do ~ t est a n ossa s h ipót eses so-
bem lecíon ei u m p ou co - e p or r a zões s em elh a n t es . De m a n h ã , a br e a est r u t u r a de n ossa a t ívida de. A a n á lise sin cr ôn ica do pr esen t e
escola ; à t a r de pa r t icipa çã o n o escr it ór io en ca r r ega do de pr ojet os t em qu e en ír en t a r a a n á lise dia cr ôn ica : com o su r gir a m , evolu ír a m
n a ca pit a l. N ã o con sigo im a gin a r u m bom en sin o de a r qu it et u r a e se a lt er n a r a m a s r ela ções e for ça s de pr odu çã o r ela t iva s à a r qu i-
sem pr odu çã o efet iva . t et u r a ? Com ist o desa pa r ecem m u it a s ilu sões - e podem r essu r gir
Qu a n do ch egu ei n a F r a n ça , logo a pós 1968, o clim a con t es- in ú m er a s possibilida des a ba n don a da s. A m esm a pa la vr a "a r qu it et o"
t a t ór io fa vor eceu m u it a s exper iên cia s pr á t ica s - t oda s ela s, en t r et a n - pode en cobr ir a m u lt iplicida de de seu s per fis. P or ou t r o la do, cer t os
t o, de t ipo m a r gin a l; pa la fit a s, dom u s, et c. E st e a pego à exper im en - pa r a digm a s dpológicos exist em . Seja m con st r u dvos ou de desen h o,
t a çâ o con t in u ou em m en or esca la , a t é qu e con segu im os a br ir per t o sobr eviver m esm o a ü ós cessa r em de exist ir a s c<
de Lyon u m im por t a n t e cen t r o de exper im en t a ções a r qu it et u r a is, o ju sr ifíca m . Assim a som a de cu bícu los isola dos qu e ca r a ct er iza a a r ~
ju n t o com ou t r a s escola s, bem equ ipa do e a ber t o. Cr eio qu e é u m a qu it et u r a m oder n a a t é a r u pt u r a de Wr igh t , desde o com eço da u t ili-
in icia t iva ú n ica . E m Gr en oble fa vor ecem os t a m bém a pesqu isa : é da ossa t u r a em con cr et o n ã o t em m a is n en h u m a r a zã o de ser .
a m a ior con cen t r a çã o de la bor a t ór ios de pesqu isa n a

a s ou t m s n a fr a n ça , sã o péssim a s em pr ojeío. ist o, Cã o, da pr odu çã o qu e con t a . E n est e m om en t o em qu e ou t r a lógica ,


m u it o
ca . en t r a em cen a . E n t r et a n t o, t er m in a da a pr odu çã o, o din a m ism o Segu n da a u la
vivo d o fa zer s e con gela n o r es u lt a d o es t á t ico. Com o, en t r e n ós , 20 de a br il de 2004
n ã o h á o m en or in t er esse em dest a ca r o t r a ba lh o vivo, explor a do e
m a ssa cr a do, o desen h o de a r qu it et u r a t en de a va lor iza r a im obili-
da de da for m a em vez de r egist r a r seu devir , su a for m a çã o. Qu a se
t odos os cr it ér ios da est ét ica a r qu it et u r a l - h a r m on ia , equ ilíbr io,
"jogo sá bio dos volu m es", et c. ~ a cen t u a m a est a dcida de da obr a .
N a dir eçã o con t r á r ia , a a git a çã o for m a l de Geh r y, Libesk in d e cia .,
con t a s om en t e a m ovim en t a çã o d a m ã o qu e p r ojet a , d o s u p os t o
a t o cr ia dor . Ist o n ã o é r egist r o da pr ogr essã o da a çã o con st r u t iva
lú cida , m a s ou t r a for m a de den egá -Ía , sin a l da dom in a çã o a bu siva
da pr escr içã o sobr e a r ea liza çã o. Com o a pr escr içã o h ipost a sia da é
com p on en t e d o ca p it a l, t a is d es en h os con t a m , n o fu n d o, a d om i-
n a çã o a bsolu t a do ca pit a l sobr e o t r a ba lh o ~ e, com o em ger a l sã o
fa n t a siosa s, sem la st r o t écn ico, con t a m m a is pr ecisa m en t e a dom i-
n a çã o do ca pit a l fin a n ceir o sobr e a pr odu çã o m en ospr eza da . Ter m in a m os n ossa r eu n iã o pa ssa da com Sou fflot e o P a n t eã o de
P a r is. Va m os con t in u a r a da r sa lt os, já qu e o qu e im por t a é fa zer
r efer ên cia su m á r ia à s pa ssa gen s n a s qu a is n ossa in t er pr et a çã o difer e
m a is da s h a bit u a is.
Tod os r econ h ecem a a s cen s ã o d o en gen h eir o n a vir a d a d o
sécu lo xvm pa r a o xix. Sim plifica n do m u it o, diz-se em ger a l qu e
ele se pôs en t r e o a r qu it et o e o ca n t eir o. Isso n ã o é fa lso, com o n ã o
é t a m bém su a vin cu la çã o com a a u ft là r u n g e o espír it o da P r im eir a
Revolu çã o In du st r ia l, qu e deve m u it o à su a in t er ven çã o. Sa lien t a -
se m en os su a s pr in cipa is á r ea s de a t u a çã o e su a s especificida des.
N a in dú st r ia , segu r a m en t e^ Ou t r a á r ea depen den t e do E st a do foi
a da s edifica ções do a pa r elh o a dm in ist r a t ivo em t odo o t er r it ór io
fr a n cês, in icia da s com a Refor m a N a poleôn ica . Ain da n a depen -
dên cia do E st a do, cu idou -se de est r u t u r a r o sist em a viá r io com su a s
est r a da s, pon t es e ou ü -a s con st r u ções. P or fim , n a esfer a pr iva da ,
edifíca r a m -se a t elíês, depósit os, u sin a s, et c. Com o r espon sá vel por
gr a n de pa r t e do a pa r elh o a dm in ist r a t ivo, o en gen h eir o dispu t ou ,
é ver da de, t er r en o com os a r qu it et os, o qu e ju st ificou u m pou co a
qu er ela en t r e eles. Ma s, n a s su a s ou t r a s á r ea s de in t er ven çã o, t oda s
com for t es im plica ções n a Revolu çã o In du st r ia l t a r dia da F r a n ça ,
n u n ca cr u zou com o a r qu it et o. Ta n t o o sist em a viá r io, in fr a est r u t u -
r a in dispen sá vel pa r a cir cu la çã o de m er ca dor ia s (e dos fLin cion á r ios
do E st a do e t r opa s), qu a n t o os edifícios do com plexo in du st r ia l,
com pon en t es sign ifica t ivos do ca pit a l con st a n t e fixo, exigem r a cio-
n a lida de con st r u t iva e econ om ia de cu st os. A pr eocu pa çã o com a s
r ecen t es ciên cia s da con st r u çã o r espon deu em pa r t e a est es im per a -
t ivos. Aliá s, a m a ior pa r t e da s in t er ven ções t ecn ológica s n a con st r u - e m a n t ida pela ^ est a u r a çã o, pr oibiu qu a lqu er dpo de or ga n iza çã o
cã o pr ovém a t é h oje dest a s á r ea s (a t u a lm en t e a s ext r a va gâ n cia s da s t r a ba lh ist a . E la é u m m odelo de cin ism o bu r gu ês: em n om e da
gr a n des obr a s sim bólica s t a m bém t êm for ça do a lgu m a in ova çã o igu a lda de e da liber da de, qu e dever ia ser ga r a n t ida a t odo cida dã o,
t écn ica ). E eviden t e qu e est e cu ida do com a r a cion a lida de t écn ica decla r ou ilega is a s in st it u ições oper á r ia s qu e poder ia m pr ession a r
e econ óm ica t a m bém a t in giu a con st r u çã o do a pa r elh o a dm in ist r a - os pa t r ões n a s "ju st a s" r ela ções á e con t r a t a çã o. As velh a s cor por a -

t ivo (pr odu zin do a i u m a a r qu it et u r a h íbr ida , m eio ca r r et a t ecn ica - coes qu e, m esm o en fr a qu ecida s, ser via m n a defesa dos t r a ba lh a -

m en t e, m eio a fet a da por u m . cla ssicism o seco, pa dr on iza do). E da í dor es, for a m desm a n t ela da s, sem qu e n a da pu desse su bst it u í-la s

se espa lh ou pa r a ou t r os t ipos de obr a s. lega lm en t e. O oper á r io ficou só con t r a o r est o da socieda de. O fig 9 Com u n a de P a r is. Ba r r ica da em
sa voÍr fa ír e, t r a dicion a lm en t e t r a n sm it ido pela s cor por a ções, deca iu frente a La Madeleine, 1 870,
Os a r qu it et os, en t r et a n t o, con ü n u a r a m a t er su a a n t iga fu n -
cã o econ óm ica : a ju da r a r ecolh er m a ssa s im por t a n t es de m a is-va lia . in evit a velm en t e. P a r a con t or n a r a sit u a çã o só er a possível con t a r

P a r a isso, pr ossegu ir a m a t u a n do de pr efer ên cia n os set or es da con s- com a s a ssocia ções de a ssist ên cia m ú t u a qu e, cla n dest in a m en t e,

t m çã o em qu e a com posiçã o or gâ n ica do ca pit a l a va n t a ja sse o Cv, pa ssa r a m a t er a fu n çã o da s a n ü ga s or ga n iza ções. Mesm o a ssim , os

o ca pit a l va r iá vel (pa r t e do ca pit a l qu e com pr a for ça de t r a ba lh o sa lá r ios ca ír a m e a explor a çã o a u m en t ou . E st a sit u a çã o a ba fa n t e do


viva , a ú n ica qu e pr odu z va lor ). Ou seja , desen h a va m a in da pa lá - oper a r ia do explica em pa r t e su a pa r t icipa çã o in t en sa n a s r evolu -
cios, obr a s de pr est ígio, sede de em pr esa s, r esidên cia s bu r gu esa s, coes de 1830,1848 e su a lider a n ça n a Com u n a , bem com o a r a dica -

et c-, obr a s qu e r equ er em n ã o som en t e h a bilida de gr á fica e con h e- lida de de seu s pr in cipa is líder es. A lit er a t u r a oper á r ia do sécu lo xix
cim en t o dos est ilos, m a s u m a boa dose de ir r a cion a lida de qu e ser ve é bem m a is exigen t e e a m biciosa qu e a do sécu lo xx. O r esu lt a do
à ost en t a çã o e, sobr et u do, a o a u m en t o da qu ot a do Cv. Com isso, de m do isso, en t r et a n t o, foi a dim in u içã o gen er a liza da de seu po-
est a s obr a s se t or n a m ver da deir os t esou r os, dispon íveis se a s coi- der . Os oper á r ios da con st r u çã o t in h a m u m a sit u a çã o especia l n es-
s ã s vã o m a l. N ela s , o p es o d o en gen h eir o er a m en or . S u a fu n çã o t e con t ext o. Á in du st r ia liza çã o t r a n sfor m a a su bm issã o for m a l do
econ óm ica , vin cu la d a a o Ce (ca p it a l con s t a n t e: qu e d eve s em p r e t r a ba lh a dor m a n u fa t u r eir o (o sa voir fa ir e essen cia l pa r a a pr odu çã o
ser r edu zido) er a dist in t a , m a s com plem en t a r da fu n çã o do a r qu i- con t in u a a t é en t ã o em su a s m ã os) em su bm issã o r ea l (o pr ocesso
t et o, qu e a t u a va pelo a u m en t o do Cv. Tu do isso con t in u a vá lido. A pr odu t ivo é ext er ior iza do pelo m a qu in a r ia , o t r a ba lh a dor pa ssa a
ir r a cion a lida de in t r ín seca da a r qu it et u r a ser via a in da a o ca pit a l de depen der dele). Or a , a con st r u çã o con t in u ou a ser m a n u fa t u r eir a , a

ou t r o m odo. Qu a se m eio sécu lo a n t es do m er ca do de a r t e t om a r o su bm issã o do oper á r io da con st r u çã o per m a n eceu for m a l, en qu a n -


m esm o ca m in h o, o m er ca do de ben s im óveis im põe à a r qu it et u r a t o a m a ior ia da pr odu çã o se in du st r ia lizou . O m odelo da su bm issã o
a bu sca do difer en t e. Assim qu e a P r im eir a Revolu çã o In du st r ia l r ea l se gen er a lizou pou co a pou co, cr ia n do n a con st r u çã o u m a sÍ-

gen er a liza a econ om ia de m er ca do, ist o é, a va lida de u n iver sa l da lei t u a çã o pa r a doxa l: a dir eçã o com eçou a pr ocu r a r m eios á e su bm et er
do va lor (segu n do a qu a l o pr eço da s m er ca dor ia s é igu a l em m édia o t r a ba lh a dor r ea lm en t e, sem , en t r et a n t o, a ba n don a r a m a n u fa t u r a .

a o seu va lor ), os ven dedor es pr ocu r a r a m fa lseá -la a pr oveit a n do-se Volt a r em os a isso logo.

da s difer en ça s, pa r a obt er u m pr eço su per ior a o va lor . A pr oíu sã o de Du a s da t a s t êm im por t â n cia pa r a com pr een der o qu e se pa s-
est ilos qu e a a r qu it et u r a in ven t ou en t ã o - n eor r om â n ico, n eogót ico, sa r a n o fim do sécu lo xix, com eço do xx, n o qu e se r efer e à a r qu i-
ficções m ou r isca s, per sa s, or ien t a is, et c. -, r espon deu r a cion a lm en - t et u r a : 1848 e 1870. Du r a n t e a Revolu çã o de 1848 a pa r ece cla r a "
t e com n ova s fon t es de ir r a cion a lida de n ecessá r ia à for m a çã o dos m en t e a divisã o em cla sses da socieda de, n a pr á t ica e n a t eor ia . Com
t esou r os ost en t a t ór ios pr ovidos de r en da difer en cia l. Logo, en t r e- a pu blica çã o do m a n ifest o com u n ist a de Ma n e e E n gels, t or n a -se
t a n t o, a . m oda pegou e desceu n a esca la do lu xo - e a ext r a va gâ n cia explícit a a lu t a de cla sses. P ela pr im eir a vez, de for m a cla r a , os ope-
com eçou a se con t en t a r com er sa t z, em est a qu e dou r a do ou va r ia - r á r ios pr opõem a t eliês n a cion a is, a u t oger idos, sob o seu con t r ole.
coes de a pa r elh a gem . Vir ou est ilo por su a vez e pa r ou de ju st ifica r a O m a » con h ecido a t eliê, o de Cou r bet , pin t a do em 1855 e h oje
r en da difer en cia l. A difer en ça t or n a r á , m a is t a r de, ou t r os ca m in h os. expost o n o m u seu d'0r sa y, em P a r is, é u m a a lu sã o a ber t a a est es
E n qu a n t o is s o, o op er a r ia d o p a s s ou p or p r ofu n d a s m u t a - a t eliês oper á r ios. E st a r eivin dica çã o r et or n a em 1870, n o cu r t o in -
coes. A lei Lê Ch a pelíer , a pr ova da du r a n t e a Revolu çã o F r a n cesa t er r a lo da Com u n a . In sist o n est e det a lh e pa r a lem br a r qu e a s m et a s
d o m ovim en t o op er á r io d e en t ã o, a p es a r d e s u a r ep r es s ã o con s -
a r es. E st e m a t er ia l diver sifica do, en t r et a n t o, en ü -a va n u m pr ocesso
t a n t e, er a m ba st a n t e r a dica is. Su a m et a pr in cipa l er a a Revolu çã o pr odu t ivo de gr a n de r a cion a lida de e qu e u t iliza va , do m elh or m odo
- pelo m en os a de su a pa r cela m a is a t iva . Os jor n a is e os pequ en os
possível, os a va n ços do ca n t eir o de obr a s n u m a sín t ese per feit a pa r a
gr u pos de m ilit a n t es pr ega va m em seu s pa n flet os a t r a n sfor m a çã o a época . A t écn ica n eles a lim en t a r ea lm en t e a qu a lida de a r qu it e-
pr ofu n da da socieda de. t ón ica , per m idn do a pr oveit a r do pr ocedim en t o m a n u fa t u r eir o o
O fim do sécu lo xix, com eço do xx, é u m dos per íodos m a is qu e ele con t ém de possibilida des posiü va s. Ta is a r qu it et os sã o, em
fig 10 Restaurante Lê traln bleue. Gare com plexos da h ist ór ia da a r t e e da a r qu it et u r a : n ã o é sem r a zã o ger a l, a dm ir á veis - m esm o qu e n ã o t en h a m , ch ega do, n o seu a pr o-
de Lyon , P a r is. qu e vê n a scer o m oder n ism o. F a la r em os a gor a dele, la m en t a n do t er
veit a m en t o da m a n u fa t u r a , a t é a r evisã o n ecessá r ia de su a s r ela ções
qu e deixa r de la do t a n t a coisa á e pr im eir a im por t â n cia : H a u ssm a n , de pr odu çã o. F or a m r idicu la r iza dos pelo m oder n ism o, a ssim com o
Vt oIlet -le-Du c, Ru sk in , Mor r is, o a n n ou vea u , et c.
a a r qu it et u r a gót ica foi pela r en a scen ça : a s vir a da s de fu n do do ca -
E cost u m e ca r ica t u r a r est e per íodo da n do exem plos cor n o o
pit a i en t er r a m n o in fer n o o qu e a s pr ecede.
da Ga r e de Lyon em P a r is. A en t r a da é qu a se m n m a n ifest o dá a r qu i- Va m os r et om a r a lgu m a s qu es t ões . Du r a n t e o s écu lo xix,
t et xiï-n fin de siècle, bem eviden t e a in da n o r est a u r a n t e Lê t r a in bi eu , pou co a pou co, su r giu a t en dên cia de t r a n sfor m a r a su bm issã o for -
t om ba do com o m on u m en t o h ist ór ico (a ssim . com o os pr a t os de seu
n ía l3o t r a ba lh o n a con st r u çã o em su bm issã o r ea l, a pesa r de n ã o
fig 11 Ca is da Ga r e de Lyon , P a r is, ca r dá pio). U m fest iva l de est u qu es, ca n dela br os, m óveis decor a dos h a ver m du st r ia liza ça o. O objet ivo econ óm ico dest a t r a n sfor m a çã o,
1855. e pin t u r a s dos qu e obt iver a m o P r ix de Rom e . N ã o h á r eca n t o qu e com o n a Ín dzíst r ia , ë o a u m en t o da m a is-va lia r ela t iva , obt ida por
n ã o seja in vest ido por a lgïim a a lega r ia , m á sca r a s, flor es, fest ões, et c. u m a m a ior pr odu t ivida de do t r a ba lh o qu e dim in u i o va lor dos pr p-
Á est r u t u r a do pr édio som e sob o der r a m e de "in ven ções" e ca pr i-
du t os n ecessá r ios à r epr odu çã o da for ça de t r a ba lh o - do sa lá r io
ch os - é a pa r t e do a r qu it et o. At r á s da en t r a da , sem t r a n sições, o
por t a n t o. Lem br o qu e, a t é en t ã o, o cor po pr odu t ivo n a con st r u çã o
ca is dos t r en s, cober t o por u m a belíssim a est r u t u r a em m et a l, r igo-
gu a r da va a posse do sa voir fa ir e con st r u t ivo - a pesa r do a u m en t o da
r osa m en t e desen h a da , ext r a or din a r ia m en t e econ óm ica e elega n t e e
divisã o do t r a ba lh o e o r efor ço da dir eçã o de ca n t eir os. E st a sit u -
deixa da à vist a . Qu a se n en h u m a decor a çã o, sa lvo em a lgu n s ca pi-
a çã o se t or n a a lt a m en t e pr oblem á t ica pa r a o ca pit a l a pós a qu eda
t éis. Tu do com t a l qu a lida de t écn ica e de execu çã o qu e a t é h oje n ã o do Segu n do Im pér io (1870). An t er ior m en t e, a s or ga n iza ções ope-
foi n ecessá r io a lt er a r n a da , só con ser va r - é a pa r t e do en gen h eir o. r á r ia s, pr oibida s, lim it a da s e qu a se sem pr e secr et a s, n ã o t in h a m a
O con t r a st e br u t a l t em ser vido de a r gu m en t o pa r a dem on st r a r a dim en sã o n ecessá r ia pa r a con st it u ir u m a oposiçã o sér ia à dom in a -
n ecessida de do m oder n ism o: a vit ór ia da r a cion a lida de t écn ica qu e cã o do ca pit a l. Ma s o clim a polít ico a lgu n s a n os a pós a Com u n a
r equ er ou t r a a r qu it et u r a qu e n ã o seja a do "bolo de n oiva .
(1870) e a in st a la çã o da Repú blica , m en os a u t or it á r ia e r epr essiva ,
Ma s a s coisa s n ã o sã o t ã o sim ples. P or exem plo: os a r qu i-
per m it iu a for m a çã o de or ga n iza ções oper á r ia s m a is con sist en t es.
t et os dit os eclét icos sã o r a pida m en t e a ssocia dos a os cr ia dor es de Logo, n o fim do sécu lo, os pr im eir os sin dica t os for a m cr ia dos. Des-
"bolos de n oiva ". Or a , eles sã o exa t a m en t e o opost o dest es. N osso
con fia dos a pr opósit o da du vidosa Repú blica P a r la m en t a r , eles se
ca r o a m igo E pr on 15, excelen t e h ist or ia dor dest e per íodo, Ía m en t a -
t or n a r a m ofen sivos e cla r a m en t e m a r ca dos por u m a con sciên cia de
velm en t e esqu ecido, foi o pr im eir o a r ea gir con t r a a in t er pr et a çã o cla sse. E r a m a n im a dos por socia list a s, com u n ist a s, a n t igos pa r t ici-
n ega t iva d o eclet is m o e d em on s t r ou em s eu s p r ecis os es t u d os o
pa n t es da Com u n a liber t a dos e, sobr et u do, por a n a r qu ist a s. E les
[14] O Prixdefíome^ oi cria do em 1663 a va n ço con sider á vel dest es a r qu it et os sobr e os ou t r os á ofin desiecle. n ã o lu t a va m por m elh or es con dições de t r a ba lh o ou sa lá r ios so-
du r a n t e o r ein a do de LUÍS XiV, com o Ten h o pa r t icu la r est im a por eles. Tin h a m u m a con sciên cia a gu da
intuito de premiar os mais promissores m en t e: a gr a n de m et a , e em cu r t o pr a zo, er a a a u t on om ia pr odu t iva ,
a rtista s com uma bolsa de estudos em
da pr á t ica pr odu t iva . Sã o ch a m a dos eclét icos por qu e su a pr á t ica a a u t ogest ã o e a Revolu çã o socia l. Mu it os a con sider a va m possível e
Rom a , Or igin a lm en t e o pr ém io er a con - t em pa r en t esco com o ecleú sm o filosófico: escolh ia m a s m elh or es pr óxim a -- e n ã o som en t e os m ilit a n t es t r a ba lh a dor es. Ma r x pen sa va
cedido pela Academia Real de Pintura e solu ções, os m elh or es det a lh es, livr em en t e, en t r e os qu e a h ist ór ia
Escuitura e, a partir de 1720, também
a ssir r r e a m a ior ia da ju ven m de se dizia socia list a . At é a plá st ica dos
da a r qu it et u r a pu n h a à su a disposiçã o, in depen den t em en t e do fa t o n eoim pr ession ist a s, pr óxim os dos a n a r qu ist a s, pr ocu r a va pr eíigu -
pelaAcademia Real deArquitetura. [N.E.]
de per t en cer em a est e ou a qu ele est ilo ou época . Isso eviden t em en - r a r a "h a r m on ia d os com p lem en t a r es qu e d ever ia ca r a ct er iza r a
Ê 15] E P RON, J ea n -P ier r e, Va r ch it ec-
°.Ma r da Qa ,1998.[N,E ,] t e ir r it ou os h ist or ia dor es post er ior es, a m a n t es da s evolu ções U n e-
socieda de dos igu a is a su r gir em br eve. A a git a çã o oper á r ia cr esce e
a s n u m er osa s gr eves en t r e 1890 e 191 o, in qu iet a m os dom in a n t es e disfa r ça do: pedr a fict ícia em con cr et o, pila r es clá ssicos em fer r o
en cor a ja m os s im p a ü za n t es ^ .. fu n dido, et c.
Os t r a ba lh a dor es da con st r u çã o pa r t icipa va m a t iva m en t e Som en t e m a is t a r de, n a vir a da a o sécu lo, foi qu e o con cr et o
dest e desper t a r , e u n h a m u m a va n t a gem con sider á vel n a lu t a qu e com eçou a a t r a ir a a t en çã o. Su a s va n t a gen s u lt r a pa ssa va m de lon ge
pr ivilegia va a a çã o dir et a , a con fr on t a çã o n os loca is de t r a ba lh o, a s im p les qu es t ã o d os cu s t os d e p r od u çã o'7. O con cr et o n ã o p r o-
ca r a a os a n a r qu ist a s: a qu a se exclu sivida de do sa voir fa ir e con st r u - vocou r a pida m en t e u m sa voir fa ir e qu e se a cu m u la sse, u m a t r a diçã o
t ivo. E r a m a is fá cil pa r a r u m ca n t eir o sen do m est r e da s oper a ções. de m éïier qu e pu desse solda r u m a a lia n ça oper á r ia (a liá s, o m esm o
E les n ã o er a m fa cilm en t e su bst it u íveis com o n a in dú st r ia - e su a s ocor r e com o fer r o: a t é m esm o pa r a er gu er a . t or r e E iffel, n o fin -
or ga n iza ções, a in da est r u t u r a da s por m ét ier , fa vor ecia m a solída r ie- zin h o do sécu lo xix ~ o m on u m en t o à glór ia dest e m et a l - foi n e-
da de. E , pa r a pior a r a in da m a is a vida dos pa t r ões, su a s fr equ en t es cessa r ia r ecor r er a os ca r pin t eir os, ú n icos ca pa zes de leva r a dia n t e
gr eves seca va m a fon t e da s m a is gen er osa s m a ssa s de m a is-va lia qu e com pr ecisã o u m a obr a t ã o exigen t e). N em o con cr et o n em o fer r o
n u t r ia m o con ju n t o da pr odu çã o. P a r a o ca pit a l, a h or a er a gr a ve. pu der a m se con st it u ir com o ba se pa r a ofícios de pr oa n a lu t a ope-
F oi qu a se sem pr em edit a çã o qu e o ca pit a l em pr ega do n a r á r ia , com o a m a deir a e a pedr a . Os dois m a t er ia is exigem cá lcu los,
fig 12 Torre Eiffel, Projeto de Gusta ve
con s ü n çã o en con t r ou u m a s a íd a , n a ver d a d e es boça d a h á a lgu m est u dos est r u t u r a is, det a lh es t écn icos pr ecisos, dosa gen s ju st a s. U m Eiffel, Paris, 1889,
t em po. Mich el Ra gon n ot a , sem da r m u it a im por t â n cia : con h ecim en t o específico e com plexo qu e t em pou ca s sem elh a n ça s
com o s a ber em p ír ico e a p r oxim a ü vo d os p ed r eir os e ca r p in t eí-
E in t er es s a n t e lem br a r qu e a es t r u t u r a em fer r o n a s ceu r os. E le se con cen t r ou in evit a velm en t e n a s m ã os dos en gen h eir os
com o con s equ ên cia d e u m a gr eve d e ca r p in t eir os , em 1840. e t écn icos su per ior es - os qu a is, eviden t em en t e, n ã o se a pr essa r a m
Com o est a gr eve du r a va h á m u it o t em po pa r a lisa n do os t r a - em divu lgá -lo en t r e os t r a ba lh a dor es. A a r m a do sa voir fa ir e dest es
ba lh os de con st r u çã o, a s em pr esa s do Cr ezot t iver a m a ideia cede o lu ga r a o sa ber da qu eles. U m qu ia sm o de a r m a : o sa voir fa i-
de fa br ica r em sér ie vigot a s de fer r o. Se est e m a t er ia l de r e declin a n o ca n t eir o pr ovoca n do desqu a lifica çâ o; o sa ber cr esce,
su bst it u içã o n ã o dest r on ou com plet a m en t e a m a deir a , t eve ca u sa n do m a is poder pa r a a pr escr içã o. E st e ba scu la m en t o r efor ça
en t r et a n t o por con sequ ên cia o n a scim en t o de u m n ovo cor ps a m a is-va lia r ela t iva , o qu e vem de en con t r o com os in t er esses do
de m ét ier . Da qu i pa r a fr en t e o m ecâ n ico t en der ia a su bst it u ir ca pit a l dia n t e da s pr essões cr escen t es pela r edu çã o da jor n a da de
o pedr eir o, com o o en gen h eir o com pen sa r ia a dem issã o a o t r a ba lh o - ist o é, con t r a a m a is-va lia a bsolu t a .
a r qu it et o [...] os m â u sü -ia is t in h a m u t iliza do â est t n t u r a de P ou co a pou co a m a deir a e a pedr a deser t a r a m o ca n t eir o,
fer r o com o "qu ebr a d or a s d e gr eve". a t é su a t á cit a pr oscr içâ o pelo pr im eir o m oder n ism o. P edr eir os e
ca r pin t eir os, est es a git a dor es in t r a t á veis, n ã o ser ã o m a is o eixo dos
E is o ger m e da r eceit a , velh a com o J á vim os: pa r a for ça r u m a ca n t eir os. Ist o, a liá s, m a is a per segu içã o policia l, for çou os m a is en -
va n t a gem n a r ela çã o de for ça s, o m elh or é m u da r a s r egr a s do jogo. ga jâ dos à im igr a çã o. F or a m n u m er osos a vir a o Br a sil, sobr et u do
Agor a , é o m a t er ia l qu e foi m u da do (depois ser á o código). it a lia n os e espa n h óis, por ca u sa da pr oxim ida de da lín gu a . E m ge-
Os ga n h os pa r a o ca pit a l pr ovoca dos por est a m u t a çã o n ã o r a l, t in h a m o m esm o per fil: exceden t es n o m ét íer , e a n a r qu ist a s. O
se m ost r a r a m a in da com plet a m en t e. O qu e pr im eir o o im pr essio- m ovim en t o oper á r io br a sileir o deve m u it o a eles.
n ou , a lém de ser vir pa r a qu ebr a r gr eves, foi a econ om ia dos cu st os A su bm issã o do t r a ba lh o, t eor iza da por Ma n e, r esu lt a pr m -
de pr odu çã o. P or ist o o r ecu r so a o fer r o foi lim it a do à s con st r u ções cipa lm en t e á a in cor por a çã o m a ssiva da ciên cia e da t ecn ologia n a
liga da s a o ca pit a l con st a t e ou à cir cu la çã o de m er ca dor ia s - o t er - con du çã o da pr odu çã o. Su a m a n ifest a çã o pr in cipa l é a m eca n iza çã o
r it ór io dos en gen h eir os. A r a cion a lida de im post a pela n ecessá r ia in du st r ia l. O sa voir fa ir e t r a dicion a l é en t ã o la r ga m en t e u lt r a pa ssa -
econ om ia pr odu ziu m a r a vilh a s ~ est a ções fer r oviá r ia s, m er ca dos, do pela eficá cia da s m á qu in a s oper a cion a is. As con sequ ên cia s sã o
pon t es, pa lá cios de exposições in du st r ia is e com er cia is, et c. - m a s, pr ofu n da s: desqu a lifica çã o oper á r ia (o sa voir fa ir e n ã o con t a m a is),
[16] RAGON, Mich el. H íst oir e de i'a r - {17] FERRO, Sérgio, "O concreto como
a ssim com o o con cr et o a r m a do, com pa r eceu r a r a m en t e n a s obr a s dim in u içã o do pr eço dos pr odu t os (por t a n t o do cu st o da for ça de a r m a ", In : r evist a P r ojet o, n . 111, ju n .,
ch it ecíu r e et de 1'u r ba n ism e m ot íer n es.
3 vols, Ca st er m a n , 1986, vol.1, p. 213. d e a r qu it et os - ou s e o fez foi com o s u bs t it u t o, cu id a d os a m en t e t r a ba lh o, dos sa lá r ios), a u m en t o da m a is-va lia r ela t iva (por t a n t o da
n á r io per for m a n t e, obt eve-se r esu lt a dos, se n ã o igu a is, pelo m en os
t a xa de m a is-va lia ), su bm issã o n ã o som en t e ext er ior do t r a ba lh o
(por t a n t o, despossessã o in t er n a , a lien a n t e do t r a ba lh o), r edu çã o da s pr óxim os à su bm issã o r ea l do t r a ba lh o in du st r ia l. Ist o decor r eu da
possibilida des de r esist ên cia do t ipo a çã o dir et a , et c. N o fim do sé- con ju n çã o de dois fa t or es: por u m la do n ã o h a via u m sa voÍr fa ir e

cu lo xix e, sobr et u do n o com eço do xx, o t a ylor ism o e o for dism o a cu m u la do qu e pu desse a n cor a r a r esist ên cia oper á r ia n a pr odu çã o;
por ou t r o, est es m a t er ia is exigia m , por su a pr ópr ia n a t u r eza , u m
pr ossegu in do a s t en dên cia s la t en t es dest a s m u da n ça s, t r a n sfor m a -
sa ber qu e se con cen t r ou n a m ã o da dir eçã o, o qu e a u t om a t ica m en t e
fig 13 Paiácio de Cristal. Projeto de J o- r a m a or ga n iza çã o do t r a ba lh o, r efor ça n do a pr escr içã o, e r edu zin -
seph P a xt on , Lon dr es, 1851 .
t or n ou -se a r m a pa r a a dom in a çã o. O exem plo se espa lh ou . P ou co a
do o t r a ba lh a dor a execu t a n t e olígofr en iza do.
pou co t oda s a s á r ea s especia liza da s da con st r u çã o a dot a r a m o m es-
N a con st r u çã o, a coisa foi m a is com plica da . A pr odu çã o, por
m o m od elo: con cen t r a çã o d o s a ber t écn ico - qu e foi es t im u la d o
seu pa pel n a econ om ia , dever ia con t in u a r m a n u fa t u r eir a . Gr a ça s à
a cr es cer - em cim a , con cen t r a çã o d o p od er , p or t a n t o; e d es qu a -
qu a n t ida de de for ça de t r a ba lh o qu e ela ocu pa , bem su per ior r ela -
ü va m en t e à da in dú st r ia , e a o n ú m er o r edu zido de m á qu in a s, ela lifica çã o e m u da n ça de t écn ica s e m a t er ia is se possível, em ba bco

é fon t e in dispen sá vel pa r a a a cu m u la çã o do ca pit a l e u m a ba r r ei- (su bm issã o a u m en t a da e ba ixa sa la r ia l). E , por t odo la do, a u m en t o
á a m a is-va lia r ela t iva .
r a con t r a a qu eda t en den cia l da t a xa de lu cr o, r epit o. E st á for a de
N ot e-s e qu e a es p er a n ça p or u m a r evolu çã o p r óxim a n ã o
qu est ã o a in du st r ia liza çã o da con st r u çã o - en t r et a n t o, t ecn ica m en -
er a t ã o u t ópica a ssim . P ela . pr im eir a vez n a h ist ór ia se con solidou
t e viá vel, com o pr ova o P a lá cio de Cr ist a l (1851) ou a im pla n t a -
o pr essen t im en t o, sen ã o a cer t eza , de qu e, com o a va n ço já obt ido
cã o da cida de de Ch eyen n e n os E U A (1867), en t r e ou t r os exem plos
da s for ça s de pr odu çã o ser ia possível pr odu zir o su ficien t e pa r a r es-
possíveis. Ta l in du st r ia liza çã o pr ovoca r ia u m desa st r e econ óm ico,
pen der a s n ecessida des essen cia is de t oda a popu la çã o - pelo m e-
sobr et u do em plen a Segu n da Revolu çã o In du st r ia l, á vida por m a is-
n os n os pa íses m a is desen volvidos. Ma n e e E n gels, e m u it os ou t r os,
va lia fr esca . Á con st r u çã o, por t a n t o, se en con t r a va n u m im pa sse:
sen do im possível pa r a ela su bm et er r ea lm en t e o ü r a ba lh o a t r a vés con cor da va m com isso. Ás con dições m a t er ia is pa r a u m a r evolu çã o

da m eca n iza çã o, a su bm issã o con t in u a r á for m a l, ext er ior ; m a s er a


a n t ica pit a list a est a va m lá , por m a is lim it a da s qu e fossem . O fa t o
da r evolu çã o n ã o t er ocor r ido, n ã o pr ova n a da - ou en t ã o t er em os
igu a lm en t e im possível e per igoso con t in u a r a depen der do sa voir
fa ir e do t r a ba lh a dor 18. F oi sob a pr essã o cr escen t e do m ovim en t o qu e a dot a r a fa n t a sia h egelia n a qu e a fir m a qu e o possível en t r a
oper á r io do fim do sécu lo xix qu e t u do a celer ou . Desde o com eço obr iga t or ia m en t e n a efet ivida de, e con ceder qu e Ma r x e E n gels
do sécu lo, os set or es m a is a va n ça dos da con st r u çã o a post a r a m em
for a m u n s a pr essa din h os ir r espon sá veis. O qu e os fa t os pr ova m
n ã o é qu e a s con dições n ã o est a va m pr on t a s pa r a a r evolu çã o, m a s
u m m a ior n gor pr escn ü vo: o pr ojet o, n est es ca sos, se t or n ou m a is
exigen t e, p r ecis o e exa u s t ivo. O d es en h o com eçou a p en et r a r n o
qu e a r ea çâ o do ca pit a l foi m a is á gil e efica z, n a da m a is. Tivesse a

in t er ior dos elem en t os. Ma s, r igor oso ou n ã o, o pr ojet o con t in u a va


r oda da for t u n a gir a do a o con t r á r io, t a lvez h oje t ivéssem os u m a

depen den do do sa voir fa ir e oper á r io pa r a ga n h a r cor po. Sob a m ea ça ou t r a h ist ór ia da a r qu it et u r a , filh a do en con t r o im a gin á vel en t r e
[18] Segundo Ma ní, "desde 1825, qua - a lgu n s a r qu it et os eclét icos e os a n a r co-sin dica list a s á a con st r u çã o.
de per der t odo o con t r ole sobr e o ca n t eir o, com o n u m sobr essa lt o,
se t oda s a s n ova s in ven ções for a m o r e- Dr ea m s , d r ea m s ...
sultado de colisões entre o operário e o
a s m ú lt ipla s exper iên cia s isola da s do sécu lo em t or n o do con cr e-
t o (m a is n a F r a n ça , n a Alem a n h a pr edom in ou o fer r o) pa r ecem se N ã o é a t oa qu e a h ist ór ia do m oder n ism o t en h a in ven t a do
em pr esá r io qu e bu sca va a qu a lqu er cu s-
to depreclar a especialidade ao operário, con den sa r n u m a a t it u de volu n t á r ia . Ra pida m en t e, a s vá r ia s va n t a - o m it o segu n do o qu a l ele r esu lt a r ia da r ea çã o con t r a a a r qu it et u r a
Depois de ca da n ova gr eve, m esm o qu e bolo de n oiva ", da a pa r içã o de n ovos m a t er ia is, o fer r o, o con cr et o
gen s dos m a t er ia is "a m a r elos"19 se a r t icu la r a m . "E a pa r ü r dest e
de pou ca im por t â n cia , su r gia u m a n ova
(e o vid r o!) ~ u n a n im a m en t e s a u d a d os com o in s p ir a d or es e p r o-
m á qu in a ," Ver : MARX, Ka r l. Misér ia da fí- m om en t o, is t o é, p or volt a d e 1900, qu e n a ven t u r a d o con cr et o
iosofia , ícon e E dit or a , 2004, p. 159-160. gr essist a s ~ e do en gen h eir o, o m a ior t r u n fo pa r a su bm et er qu a se
com eça r ea lm en t e", a fir m a a in da M. Ra gon 20. Ou seja , n o m om en -
[19] Qu ebr a dor es de gr eve, n a gir ia r ea lm en t e o t r a ba lh o da con st r u çã o, qu e a pa r ece com o o a n t epa ssa -
t o m esm o em qu e o sin dica lism o r evolu cion á r io foi m a is ofen sivo .
fr a n cesa . do a in da t osco da r est a u r a da "r a cion a lida de" do a r qu it et o.22
E m t odo ca n t o com o sim ples su bst it u t o (Coign et , H en n ebíqu e),
| 20] RAGON, Michei. Op.Cit, p. 248. O ver da deir o r ea ju st e est r u t u r a l qu e pr ovoca o su r gim en t o
ou com o fon t e de n ova s for m a s (Ba u dot , P er r et ,T. Ga r n ier ), o con -
[21] Ver BRON, J ean. Histoiíe du mou- do m oder n ism o é m u it o m a is escor r ega dio, m esm o qu e seu íu n da -
cr et o com eçou a se im por . [22] VerSiegfried Giedion, Nikoiaus Pe-
vem en í owr ier t r a n ça is. Bu ois, E d. Ou -
m en t o seja sim ples: ele é pa r t e da r ea çã o in st ín ü va , m a s t en a z, do vsn er e t a n t os ou t r os,
vr ièr es,1970,vol.2,p.112-137. Com a m edia çã o do fer r o e do con cr et o, m esm o sem m a qu i-
ca pit a l con t r a a a m ea ça de u m a possível r evolu çã o. Sem pr e esqu e- d a s es t a ções d e t r en s , ou com o con cr et o d e Ma illa r í ou F r eys s i-
m a ü ca m en t e, os m ovim en t os n o en fr en t a m en t o sã o os segr jin t es: n et . O m oder n ism o u sa est es m a t er ia is, du r a n t e u m bom t em po,
se a lgu n s a r qu it et os do a m á lga m a ch a m a do ecléü co se a poia r a m n o de m odo pr im á r io, obt u so, in a pr opr ia do. O con cr et o a r m a do de
exist en t e (pr esen t e ou pa ssa do) pa r a pr opor e r ea liza r obr a s a pu r a - Tbn y Ga r n ier ou o fer r o de Gr opiu s sã o a in da pen sa dos com a
da s, ju st a s e a in da per feit a s, leva n do em con sider a çã o a est r u t u r a lógica da m a deir a e da pedr a r ecu sa da s - ou en t ã o obr iga dos a en "
t écn ica da m a n u fa t u r a dispon ível (visit em o h ospit a l Rot ch ild, feit o t r a r n u m a gr elh a or t ogon a l qu e n ã o t em n en h u m a r ela çã o com o
p or Mor ea u n a P r a ça d os Bu ít e Ch a u m on t em P a r is ), os m od er - com por t a m en t o efet ivo dest es m a t er ia is. N ã o é cu r ioso fa zer u m a fig 16 Tony Garnier, Projeto para uma
n ist a s se pu ser a m logo com o os a r a u t os de u m a in du st r ia liza çã o r evolu çã o em n om e de a lgu m a coisa qu e ser á a pr im eir a t r a ída pela cida de in du st r ia !, 1902, P a r is, Con ser va -
íoire Nationa! dês Arts et Métiers,
in exist en t e (e im pr ová vel den t r o do ca pit a lism o), fu t u r a , n o m e- dit a r evolu çã o? Com o br in ca va F lá vio Mot t a , h á qu a lqu er coisa n o
Ih or dos ca sos, da qu a l som en t e im it a m a a pa r ên cia im a gin á r ia 23, a r qu e n ã o é a viã o.25
n o qu a dr o de u m en godo polít ico sobr e a a bsolu t a n ecessida de do
desen volvim en t o da s for ça s pr odu t iva s. Volt a r ei a isso logo. A P r im eir a Gr a n de Gu er r a e a Revolu çã o Soviét ica pr ovoca r a m
Ao possível a t a a l su bst it u ír a m a esper a pelo n ã o possível en - p r ofu n d a s a lt er a ções . P a r a o qu e n os in t er es s a a qu i, t em os qu e

fig 15 Opera de Paris. Projeto de Char- t ã o. As r eivin dica ções a u t ogesü on á r ia s e igu a lit á r ia s do sin dica ÍÍs- a pon t a r a en or m e gu in a da do m ovim en t o sin dica l. A exper iên cia
iesGa m ier , 1875, m o r evolu cion á r io, qu e qu er ia m m odifica ções im edia t a s e r a dica is dolor osa da gu er r a , m a is a s or ien t a ções pr oven ien t es da U n iã o So-
n a gest ã o da pr odu çã o e o fim da divisã o de cla sses, o m oder n ism o viét ica pa r a det er a s a m bições r evolu cion á r ia s, m a is a a doçã o cega ,
r espon deu a u m en t a n do a divisã o en t r e con cepçã o e r ea liza çã o, so- m a s qu a se u n â n im e, do dogm a do m a n dsm o vu lga r e m ecâ n ico se-
br et u do da n do a sa s à su a pr edileçã o pelo fer r o e pelo con cr et o - gu n do o qu a l é pr eciso pr im eir o fa zer a va n ça r a s for ça s pr odu t iva s
m a s com a pr om essa de se ocu pa r da qu est ã o socia l a ssim qu e possí- pa r a depois dist r ibu ir ou r evolu cion a r (dogm a a dot a do com sa t is-
vel, com a esper a da in du st r ia liza çã o da con st m çã o, n u m h or izon t e fa çã o pela dir eit a t a m bém ), qu ebr a r a m o vigor sin dica l a n t er ior . O
socia l im u t á vel. U m de seu s pr im eir os e m a is ca n t a dos pr ojet os foi m a is gr a ve foi a a ceit a çã o da con diçã o oper á r ia com o n or m a l, pelo
o de Tòn y Ga r n ier pa r a u m a cida de in du st r ia l, a in da de oper á r ios m en os por u m bom t em po a in da . Com o n in gu ém sa bia dizer qu a n -
e pa t r ões. P a r a com plet a r , o m oder n ism o fa z ca m pa n h a de den ú n - do a s t a is for ça s de pr odu çã o a t in gir ia m o n ível n ecessá r io pa r a a
cia pon do n o m esm o sa co os eclét icos e os a r qu it et os de "bolo de m u da n ça , n em qu a l ser ia est e n ível, os sin dica t os e o m ovim en t o
n oiva , com o os h er deir os de Ga r n ier - o ou t r o, dá Oper a de P a r is. socia list a a ba n don a r a m a s lu t a s por a u t ogest ã o ou con t r ole da pr o-
Tbn y Ga r n ier pr opôs u m n ovo voca bu lá r io plá st ico, vir t u osa m en t e du çã o - e pa ssa r a m a r eivin dica r m elh or ia s ext er ior es a o pr ocesso
pu r iía n o, qu e t or n a va a geom et r ia elem en t a r com o r a cion a lída de pr odu ü vo m esm o: sa lá r ios, fér ia s, a ssist ên cia sa n it á r ia , et c. At é o
con st r u t iva - m a s qu e r est a u r a a divisã o en t r e o qu e su st en t a e a fim da Segu n da Gr a n de Gu er r a , a s m a ior es vit ór ia s for a m com o a s
m á sca r a de r igor . Ist o n ã o o im pediu de con den a r o or n a m en t o ~ a do fr on t popu la ir e n a F r a n ça : u m pou co de sa lá r io, a lgu n s dir eit os
BANHAM, Reyner, Teoria e projeto
n s pr im eir a er a da m á qu in a . Sã o P a u lo, a r t e popu la r dos pr odu t or es, com o en sin ou W. Mor r is. t r a ba lh ist a s e qu a t r o sem a n a s de fér ia s por a n o. Os docu m en t á r ios
Editora Perspectiva, 1975. E st a é a a ven t u r a a pr esen t a da com o per íodo h er óico do m o- fa vor á veis a in da exibem , or gu lh osos, o n a scim en t o do t u r ism o ope-
[24] O texto diz exatamente: der n ism o. Lê Cor bu sier , u m pou co m a is t a r de, em 1923 se n ã o m e r á r io. Sã o a va n ços im por t a n t es, sem dú vida , m a s qu e ilu st r a m a a b-
[25] Obsen/ação para os que gostam de
en ga n o, deixou esca pa r u m la pso qu e diz cla r a m en t e de qu e gu er r a dica çã o, o a fa st a m en t o da per spect iva r evolu cion á r ia . Ser ia o ca so,
"A socieda de deseja for t em en t e u m a a pon t a r cor r ela ções en t r e a r t e e a r qu it e-
coisa que ela obterá ou nã o, Tudo está os pion eir os for a m h er óis: a r qu it et u r a ou r evolu çã o", r econ h ece2'''. cr eio, de r econ h ecer u m t er ceir o t ipo de su bm issã o, a cr escen t a da à t u r a : a m esm a sit u a çã o n a pa ssa gem do
aí; tudo depende do esforço que se fará E , sob o m a n t o glor ioso da h ist ór ia m ít ica , qu e a t r ibu i a os n ovos for m a l e à r ea l; a su bm issã o ideológica , in t er n a , su bjeü va . sécu lo levou a pin t u r a a se r evolu cion a r
e da a t en çã o qu e se con ceder á a esses realmente com as colagens do Cubismo
m a t er ia is pa r t e da r a zã o de ser do m oder n ism o, pa ssa desper ce- E eviden t e qu e est a gu in a da a gr a dou a o poder econ óm ico
sin t om a s a la r m a n t es. a n a lít ico de Br a qu e e P ica sso. P or u m
bida a fr a qu eza dest a t ese, cu jo a r de ser ieda de m a t er ia l ilu de a t é e socia l. O t a ylor ism o e o for dism o pu der a m a va n ça r su a s n or m a s r á pido m om en t o, em 1912, ela cor r es-
Ar qu it et u r a ou r evolu çã o.
P odem os evit a r a r evolu çã o." Ador n o ou H a ber m a s, por qu e, com o explica r a ext r a or din á r ia r e- de or ga n iza çã o do t r a ba lh o sem m u it os en t r a ves e r esist ên cia . O pon deu a seu con ceit o, t r a ba lh o t ivr e.
F or m a s pr óxim a s n ã o t êm o m esm o
gr essã o t écn ica n o seu u so pelo m oder n ism o? N ã o h á n en h u m a oper a r ia do, bem ou m a l, com eçou a a ceit a r a im a gem qu e Ta ylor
Ver : Lê Cor bu sier . P or u m a a r qu it et u r a . sen t ido n u m a r t esa n a t o de pou co peso
Sã o P a u lo, E dit or a P er spect iva , 6a edi- ocor r ên cia deles en t ã o qu e possa ser com pa r a da , por exem plo, com m odelou dele: "deve cu m pr ir or den s, pois n ã o é pa go pa r a pen sa r . prá tico e numa ma nufa íura essencia l
cã o, 2002, p, 205. [N.E ,] a s est r u t u r a s ju st a s, ca r r et a s, per feit a s e elega n t es em fer r o n os ca is Ou a qu e pr opa gou F or d: "h á qu e t r a ba lh a r com o u m a m u la , pois pa r a a econ om ia .
coisa s -ea for ça t r a n sfor m a dor a de ou t r a s r ela ções socia is ger a da s
depois do expedien t e h a ver á r ecom pen sa s" - sepa r a çã o en t r e pen a
e r econ for t o, t ã o violen t a m en t e cr it ica da por Ma r x. pela lu t a colet iva e r evolu cion á r ia m esm o em sit u a çã o de "a t r a so .

N ã o por a ca so, est a t r ist e gu in a da con for m ist a do m ovim en - 'As a n á lises de Gor z, F r iedm a n , Lefèbvr e, Ma r cu se, a pu blica çã o
t o oper á r io foi con t em por â n ea da a fir m a çã o do fu n cion a lism o r a - dos Gr u n dr isse, a s r eedições de Rosa Lu xem bu r go e dos a n a r qu is-

cion a list a do m oder n ism o a r qu ít et ôn ico, qu e pr opu n h a o bem est a r t a s, su st en t a r a m o deba t e. N os pa íses em qu e n ã o ch ega r a m a s m u -
da n ça s, en t r et a n t o, pr edom in a r a m a s lider a n ça s de cla sse m édia
colet ivo de u m a socieda de a bst r a ía em qu e os con flit os de cla sse,
e da s ca m a da s in t elect u a liza da s, a o con t r á r io do qu e ocor r er a n o
a discór dia socia l desa pa r ecia m com o por en ca n t o. As decla r a ções
do CIAM, e a Ca r t a de At en a s sã o exem plos dest a a bst r a çã o. Ca si- fim do sécu lo xix, qu e con t ou com im por t a n t e a desã o oper á r ia . Se

n h a s e a pa r t a m en t os fu n cion a is pa r a t odos, t odos podem t r a ba lh a r , en sa ios de t r a n sfor m a çã o da s r ela ções de pr odu çã o podem ser ci-
t a dos, en volven do a u t ogest ã o, gest ã o pa r t icipa t iva ou pr odu çã o co-
cir cu la r , fa zer gin á st ica e dor m ir en t r e á r vor es, la gos e pá ssa r os. O
pla n eja m en t o idílico de u m a socieda de h a r m ôíú ca coin cide est r a - oper a t iva , n ã o é possível a fir m a r qu e a cr ít ica t en h a en t u sia sm a do
n h a m en t e com o r ecu o d o m ovim en t o op er á r io - e con fir m a s em ca m a da s con sider á veis da cla sse oper á r ia . Ao con t r á r io, n a F r a n ça ,

a la r de a divisã o a pa r en t em en t e in evit á vel en t r e o t r a ba lh o/dever / por exem plo, on de est a cla sse poder ia t er ch ega do a o poder se n ã o
en con t r a sse o fr eio sin dica l, con t en t ou -se com a lgu n s dir eit os n o-
sofr im en t o e o la zer com pen sa t ór io, a ideologia do con for m ism o.
vos, a u m en t o de sa lá r io, sem con t est a r a ven da da for ça de t r a ba lh o.
Divisã o qu e t r a z con sigo a a fir m a çã o de qu e a ven da da for ça á e
N ã o é su r pr een den t e, por t a n t o, qu e a m a ior ia da s con sequ ên cia s
t r a ba lh o fa z pa r t e da pla n ifica çã o r a cion a l. AÜ á s, ist o en con t r a va
m a is du r a dou r a s dest e per íodo se con cen ír e n a s á r ea s cu lt u r a is e
con fir m a çã o n o qu e se pa ssa va n os pa íses do socia lism o r ea l.
H á sem dú vida obr a s isola da s e exper iên cia s posiü va s n est e dos cost u m es bu r gu eses.

per íodo. Os bon s livr os de a r qu it et u r a fa la m dela s. N ã o pr eciso N o ca m po da a r qu it et u r a su r gir a m a lgu m a s exper iên cia s
m a r gin a is (com o a n ossa ), m u iü plica r a m -se a s pr a ü ca s e
r epet ir . Qu is som en t e a ssin a la r a a m bigu ida de do m oder n ism o, o
qu a l foi a á ot a do com boa fé por vá r ios a r qu it et os. N ã o podem os a lt er n a t iva s, sobr et u do en t r e esm da n t es. Segu i de per t o a cr ia çã o

esqu ecer a especificida de de Wr igh t ou a coer ên cia da s pr im eir a s de vU les n ou velk s em qu e, pelo m en os n o n ível da pr ogr a m a çã o e
obr a s de N iem eyer , por exem plo. Ma s o ba la n ço ger a l a o m oder - de seu s pr im eir os a n os de exist ên cia , foi t en t a do in t r odu zir pr á t ica s
socia liza n t es, ger a lm en t e ela bor a da s por cooper a t iva s de a r qu it e-
n is m o é t r is t e. O qu e n ã o im p lica , evid en t em en t e, em d a r r a zã o
à s a cu sa ções con t em por â n ea s sobr e ele. P oder ía m os r esu m ir su a t os (com o a Ar ch it ect es et U r ba n ist es Associes). Ma s a pr odu çã o,
m esm o n esses ca sos, n ã o m u dou . O pr ojet o con t in u ou a r ein a r , os
con t r ibu içã o, sob o pon t o de vist a da pr odu çã o qu e in t er essa a qu i,
op er á r ios a obed ecer - m es m o qu a n d o o objet ivo er a a t en d er à s
dizen do o segu in t e: a lgu m a s obr a s for a m fieis á or ga n iza çã o t écn ica
da m a n u fa t u r a , o qu e con sider o posit ivo, m a s n en h u m a , sa lvo en - su a s n ecessida des.
E n t r et a n t o, qu a s e im p er cep t ível n o com eço, u m a ou t r a
ga n o m eu , foi o r esu lt a do de r ela ções de pr odu çã o dign a s e ju st a s
r evir a volt a s e p r ep a r a va . E im p os s ível n u m r es u m o com o es t e
- o qu e a n u la seu discu r so, cu ja a loía sia a com pa n h ou u m a espécie
a pon t a r t oda s a s r a ízes dest a r evir a volt a , qu e a in da m obiliza in -
de delír io in ver t ido, de for clu sa o do r ea l, de cegu eir a con ven ien t e.
t er pr et a çÕes diver sa s: ba st a cit a r J ea n -F r a n çois Lyot a r d, F r edr ic
Ou t r o sa lt o. Depois da Segu n da Gr a n de Gu er r a - qu e a ca bou com J a m eson , P a u l An der son , Ter r y E a glet on , Da vid H a r vey, Ar t h u r
Da n t o, H a n s Belt in g, en t r e cen t en a s d e ou t r a s va r ia n t es in t er -
a visã o a n gélica sobr e a posit ivida de in t r ín seca da evolu çã o da ci-
pr et a t iva s. Sa lien t o som en t e o qu e t oca a a r qu it et u r a . Cr eio qu e
ên cia e da t ecn ologia ~, lá pêlos a n os 1960, a esper a n ça socia l se
r ea n im ou . Volt ou á t on a o t er n a de ba se qu e a lim en t ou o per íodo a s pr in cipa is sã o: a a pa t ia do m ovim en t o oper á r io, su r pr een dido

qu e pr ecedeu o m oder n ism o: a cr ít ica da s r ela ções de pr odu çã o. t a lvez pelo va zio de su a vit ór ia e pêlos pr esen t es qu e o pa t r on a t o
As r ecen t es vit ór ia s da Revolu çã o Ch in esa e Cu ba n a , a r esist ên cia ofer eceu por su a desist ên cia fr en t e a possível t om a da do poder
do Viet n ã e a s vá r ia s gu er r ilh a s a n t icolon ía is e a n t i-im per ia lisía s (fa lo da F r a n ça ); o r et r ocesso dos m ovim en t os vit or iosos de li-

dem on st r a va m a im pr opr ieda de do dogm a sobr e a n ecessida de pr é- ber t a ça o n a cion a l, desca r a ct er iza dos pela pot ên cia do ca pit a l in -
t er n a cion a l; a fa lên cia a n u n cia da do socia lism o r ea l; o fr a ca sso
via do desen volvim en t o da s for ça s pr odu t iva s pa r a t en t a r m u da r a s
eviden t e do desen volvim en t ism o; e t u do ist o fa ce à pen et r a çã o da difer en ça n ã o in com oda o m er ca do, em ca da ger a çã o a lgu n s
cor r os iva d o n eoliber a lis m o d e Rea ga n e Ta t ch er . U m a r es s a ca podem a ssu m ir a posiçã o coer en t e com o fu n da m en t o (t r a ba lh o
a eu for ia esoer a n çosa . livr e), u m a posiçã o qu e o m er ca do a ceit a , já qu e pode a pa r ecer
N o r eca n t o da s ideia s a va n ça u m m ovim en t o de a m bígu o com o sim ples difer en ça . Ta l é o ca so, por exem plo, de Br a qu e e
r eflu xo. Mu it os a u t or es, sob o pr et ext o de cr ít ica (m er ecida ) à s P ica sse em 1912, de Du ch a m p en t r e 1913 e 1923, de WïU em de
equ em a t iza ções sim plist a s da esqu er da m ilit a n t e, pa ssa m a esqu iva r Koon in g lá pêlos a n os 1950, de Ra u sch en ber g jovem , de Tà pies
o m a n císm o a t e en t ã o dom in a n t e. F r opõem t eses qu e, sem a t a ca r m a d u r o, et c., et c. Ma s is t o n ã o p od e ocor r er com os a r qu it et os
visivelm en t e Ma r x, em ger a l a dot a m u m r elft t ivism o plu r a list a , ou en volvidos com a pr á t ica cor r iqu eir a : den ega r (for clu ir ) o t r a ba -
u m a descen t r a liza çã o em r edes equ iva len t es, qu a n do n ã o se põem lh o su bm et ido qu e com a n da m é obr iga çã o pa r a eles. E n t r et a n t o,
a descon st r u ir . O qu e é ch a m a do m a r xism o ociden t a l (a in da qu e la m eson , de t leiü eg'g'er a J -la ü er m a s, de u er n da a
desa t a do da m ilit â n cia ), per m a n ece com o r efer ên cia n o ca m po An der son , a pa la vr a dos a r qu it et os é pia m en t e escu t a da . Tu do isso
da a r t e, m a s os su cessor es de Ador n o e H or k h eim er n a E scola de é secu n dá r io, m a s n ã o pa r a os est u da n t es de a r qu it et u r a , a os qu a is

Br a qu e. Na t u r eza -m or ía F r a n k fü r t , em pa r t icu la r H a ber m a s, se em br en h a m n u m t r ist e r evi- m e dir ijo a qu i.


com Ás de pa u s, 1911. Óleo e pa pier sion ism o. Ben ja m in , gr a ça s à su a escr it a fr a gm en t a r ia , é u sa do com As est r ela s ou vida s a gor a sã o Ven t u r i, J en ck s, Geh r y, E i-
colle sobr e t eia 0,81 x 0,60 m . P a r is,
icia a con t r a pelo. U u t r os vir a m sim plesm en t e sen m a n , KooÍh a s, P or t za m pa r c, N ou vel, Za h a H a did, et c., os pós-
Musée Nationa! d'Art Modeme, 19 Ma rcel Ducha mp. Nu descendo
colet or es, em pa r t icu la r de P opper , dã o in ício á m idia ü za ça o m oder n ist a s (n o sen t ido a m plo) e a dja cên cia s. E xplodem com o
a esca da n . 2, 1912-6. Aqu a r ela , t in t a
de seu opor t u n ism o sob o disfa r ce de r evolt a m or a l veá et es a pós 1990, m a is ou m en os, com a h egem on ia a ssegu r a da e pa st el sobr e pa pel fot ogr á fico 1,47 x
Ser n a r d-H en r i Lévy, et c.). Gen t e com o Bou r dieu esca sseia . o desa pa r ecim en t o do ou t r o poiídco, a U RSS, 0,89 m . F ila délfia , Mu seu m ofAr t ,

Qu a s e t od os , m a is os es t u d ios os d o p ós -m od er n is m o desen cor a ja m en t o da cla sse oper a r ia qu e per de seu con t or n o,


cit ei a cim a , se põem a discor r er sobr e a r t e e a r qu iíet u r a . N o esm a ecido por cim a com a pr olet a r iza ça o da cla sse m édia ba ixa , e
dizem a r espeit o da s a r t es plá st ica s, e pr in cipa lm en t e da a r qu it e- por ba ixo com o giga n t ism o do exér cit o pla n et á r io de r eser va de
fu r a , espa n t a m por su a in gen u ida de. P r ossegïiem o en á eu sa m en t o m ã o de obr a . Dispen sa m o pr ogr a m a in sin cer o do m oder n ism o: a
da a r t e qu e a ü a vessou Ín t oca do a h ist ór ia da filosofia ~ de Ka n t , pr om essa n ã o é m a is n ecessá r ia . Ra r a m en t e a a r qu it et u r a cor r es-
a os idea list a s a lem ã es, de N ieízsch e a H eidegger , de Sa r t r e a Der - pon deu t ã o espa lh a fa t osa m en t e a o la do som br io de su a fa n çã o: in -
r ida , sem esqu ecer qu a se t odo o m a r xism o ociden t a l. N ã o con se- cr odu zir ir r a cion a lida de n a possível r a cion a lida de t écn ica da con s-
gu em a dm it ir o qu e Ma r x e Willia m Mor r is a fir m a m cla r a m en t e: t r u çã o - -u m fest iva l de des-r a za o. Du ba i pode ser o sím bolo dest a
a r t e é m a n ifest a çã o do t r a ba lh o livr e. Roça m n est a con st a t a çã o a r qu it et u r a , m ost r u á r io dsísyt a r s: er gu ida qu a se qu e exclu siva m en t e
t od o o t em p o, m a s u m p r econ ceit o d evid o a o en d eu s a m en t o Í m - com a a cu m u la çã o a dvin da da u lt r a ja n t e explor a çã o de ca n t eir os
p ed e qu e a r econ h eça m . E s t e p r econ ceit o qu e p r ecis a s er a n a li- escr a vist a s, é h oje o cen á r io do poder solt o do ca pit a l fin a n ceir o,
fig 18 P a u lo P ica sso. Na t u r eza -m or t a
espa n h ola , 1912, Tela ova l de 0,46 x sa do, pr ovoca defor m a ções (pelo m en os n o qu e diz r espeit o à s de seu s golpes com o de su a s fa r r a s. A fa n t a sia n wvea zi r ich e dos
0,33 m . Coleçâ o pa r t icu la r , "a r t es plá st ica s"). Todos est es a u t or es - por in gen u ida de, pr efir o pr ojet os e su a ou sa dia k it ch con vém per feit a m en t e a o ca pit a l fict í-
cr er ~ con t in u a m a pen sa r a a r t e (plá st ica ) com o cr ít ica /espelh a - cio ~ cor n o Ma r x den om in a o ca pit a l fin a n ceir o. Qu a n do escr evi O
m en t o da socieda de qu e lh e a ssegu r a a possibilida de de cr it ica r / ca n t eir o e o desen h o, h á m a is de 40 a n os, ja m a is im a gin ei u m a pr ova
espelh a r , e in clu em a a r qu it et u r a , r ein o do t r a ba lh o su bm et ido, n o m a t er ia l de su a s t eses t ã o per feit a .
ca m po á a a r t e (plá st ica ), seu in ver so. Tor n a m sem m a is o discu r so U m a a n á lise da a r qu it et u r a con t em por â n ea n ã o poder ia se
dos a r qu it et os, figu r a s m a is qu e det er m in a da s por fer ozes in t er es- lim it a r a u m a va ga r efer ên cia a o est r a n h o fen óm en o da cegu eir a
sés econ óm icos, com o pa la vr a a u t ên t ica , desim pedida . E cer t o qu e cr ít ica e da s est r ela s m idiá t ica s. A pr ofissã o h oje a t u a de vá r ia s m a -
a t u a lm en t e os a r t ist a s plá st icos t a m bém est ã o sob o dom ín io do n eir a s e em n íveis difer en t es qu e ju st ifica m est u dos m a is a pr oxim a -
m er ca do e de su a con t ín u a ver a cida de pela difer en ça qu e os t or n a dos. Ma s, n est e r esu m o de r ot eir o, vou sa lt a r pa r a o ou t r o ext r em o,
pr esa s do n ã o ser : da obr iga çã o de n ã o ser com o os ou t r os. O qu e s em m es m o t er o t em p o d e elogia r com o m er ece a a t ivid a d e d e
t om a seu discu r so t a m bém su speit o. E n t r et a n t o, com o a n a t u r eza gen t e com o E r m ín ia Ma r ica t o e N a bil Bon du k i. Ten h o qu e m e
a t er , com o a t é a gor a , a pen a s a a lgu m a s con sider a ções u lt r a gen ér i- du st r ia l? Com o a ciên cia en t r a n o ca n t eir o a t r a vés da a r qu it et u r a ?
cã s - p or t a n t o, gr os s eir a s . Você fa lou do en gen h eir o e da r esist ên cia dos m a t er ia is, com eçou
Mu it os t ext os , com o os d e Rober t Ku r z, bem con h ecid o n o a lgu m a coisa e eu qu er ia qu e você a pr ofu n da sse u m pou co m a is.
Br a s il, a p on t a m a em er gên cia d e ou t r o a s p ect o d a con cen ü a çã o
fin a n ceir a : n ã o é m a is possível esper a r , n o m u n do globa liza do pelo [SÉ RGIO F E RRO] N ã o é per gTjn t a fá cil, por qu e a en t r a da da ciên cia
ca p it a l, o d es a p a r ecim en t o d o d es em p r ego. E le n ã o é m a is con - e d a t écn ica n o ca n t eir o s e fez p or m il p or t a s . P od e s er en t r evis -
21 BasElica do Sacré Coeur, Paris.
ju n t u r a l, n em se lim it a à dosa gem qu e o ca pit a l im põe com o m eio t a , com eça n do pelo m a is a bst r a io, n o h á bit o de a n a lisa r , discu t ir ,
Projeto de Paul Abadie, 1 875-1919. de evit a r o plen o em pr ego - o qu e for ça r ia a t or n a r equ iva len t es o dest r in ch a r ca da m om en t o da pr odu çã o. P ode ser en con t r a da en -
sa lá r io e o va lor da for ça de t r a ba lh o. A pr ópr ia con cen t r a çã o do t r e os ecléíicos. Com os pr im eir os m oder n os, a pr ópr ia for m a t em
ca pit a l e a esca la dos in vest im en t os n ecessá r ios pa r a cr ia r em pr e- qu e ser ju st ifica da , m esm o se a s r a zões da da s sã o fr equ en t em en t e
gos im pedem qu a lqu er solu çã o pa cífica pa r a a m a r gin a liza çã o de fa n t a siosa s. As ciên cia s socia is com eça m a m a r ca r os pr ogr a m a s.
por ções ca da vez m a ior es da popu la çã o m u n dia l - e a degr a da çã o Apr oxim a n do do ca n t eir o, a ciên cia e a t écn ica vêm n o bojo dos
cr escen t e do t r a ba lh o. E n or m es bolsÕes de exclu ídos da socieda de n ovos m a t er ia is , com o o con cr et o e o fer r o, p or exem p lo. E n t r e-
s e for m a m e s e exp a n d em : o ú n ico p r ogr es s o qu e os t oca é o d a t a n t o, é pr eciso a n da r com cu ida do, por qu e h á ciên cia e ciên cia ,
m isér ia . Os qu e os com põem sã o h oje os qu e n ã o t êm m a is n a da a t écn ica e t écn ica . N ã o t em os a in da u m a boa h ist ór ia da t ecn ologia .
per der . È com eles, com os sem t u do - t er r a , t et o, sa ú de e cida da n ia De h á bit o só n os a pr esen t a m o la do posit ivo. Ma s, im er sa , m ist u -
qu e a a r qu it et u r a , lem br a n do t a lvez da r ea l fu n çã o do a r qu it e- r a da com ela , a t é o m en or r eca n t o, a t écn ica de dom in a çã o deixa
t o, t em qu e se en ga ja r . Lá , ou t r a s r ela ções de pr odu çã o podem ser su a m a r ca . Su r gem , por exem plo, m odos de u t iliza çã o do m a t er ia l
en sa ia da s. Sei qu e vá r ios colega s já t en t a m efeü vá -la s. E les podem con t r á r ios à su a n a t u r eza . Gost o de cit a r o ca so do con cr et o a r m a -
t a lvez pr ovoca r u m a sa ída dign a pa r a a pequ en a e t r ist e h ist ór ia da do qu e já com en t ei n u m livr o. E u m m a t er ia l qu e oper a m elh or em
a r qu it et u r a sob o ca pit a l. est r u t u r a s cu r va s, sem â n gu los a br u pt os, e fu n cion a m a l em t r a m a s
or t ogon a is , p ois os n ós d e cr u za m en t o s ofr em es for ços a os qu a is
P E RGUNTAS n ã o é a da pt a do. Qu a n do o con cr et o é u t iliza do pêlos seu s m a io-
qu e a qu eles com it és r és con h ecedor es - Tor r oja , N er vi, F r eyssin et , et c. -, pr edom in a a
a u t oger idos da Com u n a de 1870, ch ega r a m a for m a cu r va . Agor a , veja o qu e fa z o H en n ebiqu e, o "exp er t " qu e
con for m a r ? m a is divu lgou o seu u so: desen volveu in ú m er os det a lh es e m odos
de u t iliza çã o, fa zen do pr ogr edir en or m em en t e est e m a t er ia l qu e
[SÉ RGIO F E RRO] N en h u m a . Á Com u n a du r ou pou co, a igwis m eses con h ecia a fu n do. Ma s er a t a m bém con st r u t or , e in t r odu ziu u m . dos
som en t e. Só h ou ve t em po pa r a for m u la r a lgu m a s qu est ões, pr opor pr im eir os r et icu la dos or t ogon a is, qu e, se é con t r á r io a o com por t a -
a m u da n ça polít ica deseja da . N ã o deixou n en h u m t r a ço con cr et o. m en t o do m a t er ia l, é fa vor á vel a o a den sa m en t o do t em po de t r a -
Tr ist em en t e, o ú n ico vest ígio efet ivo é a Ba sílica do Sa cr é Coeu r , ba lh o - ist o é, a o a u m en t o da m a is-va lia r ela t iva . E t odos os m ét ier s
em Mon t m a r t r e, qu e foi con st r u ída pa r a a gr a decer a Deu s pela da con st r u çã o a dot a m os m esm o pa r â m et r os, desde seu s con ceit os
der r ot a da Com u n a . Ma s dir et a m en t e, n a da . O m esm o em r ela çã o pr im eir os, a t é a solu çã o pr á t ica dos m en or es det a lh es. A pr opósit o,
a 1948. Sã o per íodos qu e devem ser est u da dos n a lit er a t u r a , n os fu gin do u m pou co da qu est ã o, est a s coisa s t êm im pa ct o em ou t r a s
jor n a is, n os discu r sos polít icos, a t a s de a ssem bleia s, et c. In dica m . á r ea s. O m a u u so do m a t er ia l sem pr e im plica em u sá -lo em m a ior
m a is pr ojet os qu e r ea liza ções. F or a m m ovim en t os cor t a dos pela qu a n t ida de. N o ca so do cim en t o ist o é gr a ve, pois é r espon sá vel
r a iz, de m a n eir a ba st a n t e violen t a . pela pior doen ça do m u n do do t r a ba lh o, a s silicoses pu lm on a r es,
a lém de sér ia s der m a t oses. H á vá r ios ou t r os pr odu t os n efa st os,
[MARIA LÚ CÍA GITAH Y] N a qu ela lin h a qu e você colocou , de sa ir u m fr u t o de a lt a t ecn ologia , qu e con t in u a m a ser u sa dos por qu e sã o
pou co do esqu em a dsm o e ir a lém , eu gost a r ia de sa ber o qu e síg- pr á t icos. E st e em br en h a do de t écn ica de pr odu çã o com t écn ica de
n ifica r ia , pa r a você, o pa pel da ciên cia n a Segu n da Revolu çã o ín - t em qu e ser m a is
[P E DRO ARANTE s] E u qu er ia fa zer u m a . per gu n t a pa r a o Sér gio a r es- ca , do ca n t eir o. Toda t ecn ologia qu e con h ecem os h oje foi, pou co a
peit o do en sin o da a r qu it et u r a . A su a fa la coloca u m pon t o de vist a
pou co, ext r a ída da s exper iên cia s do ca n t eir o. Adqu ir iu h oje a lgu m a
m in or it á r io, pou qu íssim o pr eva len t e n a for m a com o est ã o or ga n i- a u t on om ia , m a s h ist or ica m en t e vem de lá , e deve volt a r pa r a lá .
za da s a s escola s de a r qu it et u r a ~ in clu sive a n ossa -, qu e sã o escola s
Ma s a pr odu çã o m et e m edo por ca u sa dos con flit os socia is im br i-
do desen h o. E u n em r eivin dico escola s do ca n t eir o. Ach o qu e n ós ca dos n ela - e por ca u sa da s pr ovoca ções qu e a pr á t ica fa z a o n osso
dever ía m os pen sa r escola s qu e fossem dia let ica m en t e ca pa zes de sa ber est á t ico. Só n a pr odu çã o, n o fa zer , é qu e n ossa s con ven ções e
expor a con t r a diçã o en t r e ca n t eir o e desen h o com o m ét odo peda -
pa r a digm a s for m a is podem se a lt er a r com per t in ên cia . Qu a n do fa lo
gógíco. E u gost a r ia qu e você con t a sse a su a exper iên cia em Gr e- em pr odu çã o n ã o pen so em m a qu et e, m a s em pr odu çã o r ea l, efe-
n oble com a pr opost a de ca n t eir o exper im en t a l, depois de ca n t eir o U va , con cr et a . N u n ca m e con for m ei, a pesa r do r edu zido m er ca do
liga do a os sin dica t os, liga do à con st r u çã o civil m a is a m pla n a F r a n - de t r a ba lh o, com a a u sên cia de cen t r os de pr odu çã o de a r qu it et u r a ,
ca , e t a m bém o qu a n t o isso se deve à s discu ssões n os a n os 1960,da s
ou de in t er ven çã o n a cida de n o in t er ior da s escola s de a r qu it et u -
r efor m a s cu r r icu la r es pela s qu a is pa ssou a F AU ,em 1962 e 1968,n a r a . N ã o é a ssim qu e pr ocedem os m édicos n os h ospit a is u n iver -
discu ssã o de u m a escola do desen h o ou de u m a escola qu e coloca sse sit á r ios? E les oper a m , cu ida m , dia gn ost ica m a in da em for m a çã o.
o pon t o de vist a da h ist ór ia , o pon t o de vist a do pr ojet o, o pon t o P or qu e n ós, os a r qu it et os, n ã o poder ía m os t a m bém fa zer o m esm o
de vist a do design , et c., n a s qu est ões qu e en volvia m a pr odu çã o do em obr a s de in t er esse socia l - e or ga n iza r o en sin o a pa r t ir disso?
objet o. O qu e você im a gin ou ? O qu e você exper im en t ou ? O qu e Ten t ei vá r ia s vezes ch ega r a í, m a s n u n ca con segu i, sa lvo em esca la
ser ia est a for m a de en sin o qu e en t en desse essa con t r a diçã o em a r - r edu zida e efém er a . A Or dem dos Ar qu it et os da F r a n ça é h ost il a
qu it et u r a com o m et odologia de t r a ba lh o e for m a çã o do a r qu it et o? in t er ven ções for a da s escola s. Ás exper iên cia s in t er n a s, lou vá veis,
sã o r est r it a s, pois elim in a m a s gr a ves qu est ões socia is n a pr odu çã o.
[SÉ RGIO F E RRO] N ã o é SÓ u m a qu est ã o de m et odologia , m a s u m Ten t a m os, h á a lgu n s a n os, cr ia r u m cen t r o de exper im en t a -
m odo de pen sa r . Ta n t o Goet h e com o H egel e Ma r x põem a pr odu - coes pr á t ica s com 5 ou 6 escola s de a r qu it et u r a , 5 ou 6 de bela s-a r -
cã o n o cen t r o, n o cor a çã o de t u do o qu e é h u m a n o. Som os a n im a is t es e 5 ou 6 de en gen h a r ia , per t o de Lyon , em Isle cF Abea u . E scr evi
com o os ou t r os, a difer en ça é qu e n ós pr odu zim os e fa la m os (e o pr im eir o pr ogr a m a : só foi a ceit o pêlos m in ist ér ios en volvidos
fa la m os ba st a n t e, a t é dem a is). H á pá gin a s belíssim a s de Ma r s, so- qu a n do foi t ot a lm en t e edu lcor a do, qu a n do foi elim in a do t u do qu e
br et u do n os Gr u n dr isse, sobr e a posiçã o cen t r a l do m ovim en t o, da se r efer isse à cr ít ica socia l, à cr ít ica da divisã o do t r a ba lh o. Tr ist e-
a çã o, do t r a ba lh o. Qu a n t o à a r qu it et u r a , o esqu ecim en t o dist o vem m en t e, vir ou u m a espécie de liceu de a r t es, com exer cícios in odo-
desde a r en a scen ça - e se a cen t u ou com . a in ven çã o da est ét ica do
r os. Con h eci ou t r a s exper iên cia s excelen t es liga da s à a r qu it et u r a de
sécu lo xvn i. E o qu e fa z Ka n t , por exem plo. Á est ét ica t r a t a da pa s- t er r a , qu e der a m or igem a o La bor a t ór io Cr a t er r e - h oje o m a ior
sivida de per cept iva . N a fr en t e do qu a dr o ou da obr a de a r qu it et u r a , cen t r o m u n dia l dest a a r qu it et u r a , da qu a l t em a cá t edr a da U N E SCO,
olh o, a ch o bom ou r u im , et c. O n os s o ca m p o n ã o é o d a es t ét ica com exper iên cia s gen er osa s por t odos os con t in en t es. E st e la bor a -
m a s o da poét ica , n o sen t ido da poiesis gr ega , do fa zer . N ós som os r ór io pa r t icipa do en sin o da E cole d'Ar ch iíect u r e de Gr en oble. N o
a r qu it et os, pr odu t or es de a r qu ít et u r a , n ã o dever ía m os n u n ca fica r pr im eir o a n o os a lu n os con st r óem u m a obr a exper im en t a i em t er r a
lim it a dos à est ét ica - m a s, a o con t r á r io, in sisü r n a pr odu çã o, n o e s ó d ep ois com eça m a d es en h a r . N o fim . d o cu r s o, em m es t r a d o
fa zer , n a poét ica . N osso en sin o se lim it a fr equ en t em en t e a a n a lisa r ou dou t or a do, os a lu n os se for m a m pr ofessor es n a m a t ér ia . Vêm de
e cr it ica r o desen h o a ca ba do. Dever ía m os, a o in ver so, volt a r à pr o- t odos os ca n t os do m u n do, e, r et or n a n do a seu s pa íses, or ga n iza m
du çã o, pô-la n o cen t r o do en sin o. Só o a com pa n h a m en t o det a lh a do u n ida des de en sin o sem elh a n t es, sem pr e a r t icu la dos com exper iên -
do seu pr ocesso, a in st r u çã o do desen h o pelo a n da m en t o da obr a , cia s pr á t ica s. Ten h o a h on r a de t er sido pr ofessor do P a t r ice Doa t ,
pa sso a pa sso, per m it ir ia en sin a r a ela bor a r o pr ojet o. J á escr evi o dir et or e fu n da dor do Cr a t er r e.
sobr e ist o. Se qu iser m os for m a r a r qu it et os, ist o é, poet a s n o sen t ido
gr ego, t er em os qu e n os ocu p a r cen t r a lm en t e com o m om en t o d a [DE SCONH E CSDOJ Com o você vê a s a lt er a ções do pr ocesso pr odu t ivo
pr odu çã o. O desen h o é in con cebível cor r et a m en t e for a da pr á t i- n a a r qu it et u r a a o P ós-Gu er r a s, qu e sa iu da h egem on ia do E st a do
de Bem E st a r - u m a pr om essa de n ova s con dições de vida pa r a a po- dest r u içã o dos pr essu post os da r a cion a lida de. E u qu er ia qu e você
pu la çã o - pa r a , gr a da t iva m en t e, pa ssa r de u m a con st r u çã o m edíocr e com en t a sse u m pou co m elh or est a qu est ã o por con t a de a lgu m a s

pa r a u m a con st r u çã o m er ca dor ia ? In clu sive, eu a ch o qu e n o en sin o cir cu n st â n cia s qu e a gen t e a ca ba viven do, pa r t icu la r m en t e n a h is-
de a r qu it et u r a n ã o se en sin a o pr ocesso pr odu t ivo, se en sin a m sis- t ór ia dos m u t ir ões - da qu a l eu pa r t icipo. N est es m ovim en t os di-
t em a s con st r u t ivos, qu e sã o du a s coisa s com plet a m en t e difer en t es. t os a u t ogest ion á r ios m e pa r ece qu e h á u m a qu est ã o de vigilâ n cia ,
pu n içã o e a lgu m a s r ela ções qu e est ã o sen do discu t ida s pa r t icu la r -
[SÉ RGIO F E RRO] Ou t r o en or m e ca pít u lo. Ê difícil r espon der br eve- m en t e pelo F ou ca u lt , e qu e m e pa r ecem m u it o pr óxim a s da qu ilo
m en t e: você cer t a m en t e con h ece a en or m e lit er a t u r a qu e já exist e qu e a gen t e a pr en deu a qu i com a Ma r ilen a Ch a u í de con for m ism o
sobr e ist o. E u m e lim it a r ei à m in h a pr ópr ia exper iên cia . Mor ei du - e r esist ên cia . U m a sa ída de cer t o m odo ideológica pa r a a qu est ã o
r a n t e 12 a n os n u m va st o con ju n t o de h a bit a ções pr ogr a m a do n o da dom in a çã o. Me pa r ece qu e n os ca n t eir os a u t oger idos det er m i-
fim dos a n os 1960, em Gr en oble. A pr ogr a m a çã o ela bor a da por n a da s cir cu n st â n cia s a ca ba m leva n do a s pessoa s a a ssu m ir a ca sa -

gen t e de esqu er da er a m u it o gen er osa . Apa r t a m en t os m u it o bon s, ca da qu ele qu e opr im e. Ist o é u m a sit u a çã o r ecor r en t e. N o t ext o

com en or m e equ ipa m en t o socia l - escola s, cr ech es, m er ca dos, co- "A m or a dia " do Kr opot k in , do com eço do sécu lo xx, ele a cr edit a
m ér cio, bibliot eca , a t eliês de pr odu çã o (m a deir a , t a peça r ia , cer â - n a ca pa cida de, n a bon da de, n a solida r ieda de do opr im ido qu a n do
m ica , et c.). E st e pr ogr a m a er a con t em por â n eo da s m a n ifest a ções se r econ h ece n o ou t r o opr im ido. At é u m pou co em diá logo com
de 68, do clim a ger a l de r eivin dica ções por ou t r a s r ela ções de pr o- P r ou dh on , qu e r econ h ece qu e a gr a n de dificu lda de da r evolu çã o é
du ça o, por qu a lida de de vida . É in ú dl dizer qu e, a pesa r dist o, n a da o cor a çã o do pobr e e iden t ifica n est e su jeit o u m dos pr in cipa is em -
m u dou n o ca n t eir o. Ma s, pou co a pou co, dim in u in do a pr essã o so- pecilh os pa r a qu e se con siga a lgu m t ipo de t r a n sfor m a çã o. N a h or a
cia i, est es pr ogr a m a s com eça m a ser desm on t a dos, m in a dos. E st es qu e você coloca a possibilida de de ou t r o t ipo de a r ü cu la çã o da a r -
con ju n t os h a via m com eça do a fa vor ecer o desen volvim en t o de u m a qu it et u r a com os m ovim en t os socia is, m e pa r ece qu e esse obst á cu lo

vida com u n it á r ia ba st a n t e in t en sa - per igosa pa r a o poder cen t r a l r essu r ge. E u qu er ia qu e você com en t a sse u m pou co essa s coisa s, a t e

de dir eit a . P or exem plo, os pr ogr a m a dor es h a via m ou sa do in st a la r pelo com en t á r io qu e você fa z do F ou ca u lt .
u m a cen t r a l de TV a dm in ist r a da pêlos m or a dor es. Os h a bit a n t es
fa zia m t elevisã o, pr odu zia m o qu e qu er ia m - u m a t elevisã o feit a [SÉ RGIO F E RRO] Nã o h á dú vida qu e a t r a n sfor m a çã o m a is pr ofu n da
por eles, pa r a eles. F oi logo pr oibida por qu e n ã o r espeit a va o m o- da s r ela ções de pr odu çã o a ca r r et a pr oblem a s en or m es. N ós ca r r e-

n opólio do E st a do. E n t r et a n t o, logo depois, o pr in cipa l ca n a l de TV ga m os, n a s cost a s de ca da u m , sécu los de explor a çã o, dor , violên cia .

pú blica foi pr iva ú za do - o com pr a dor er a o m a ior con st r u t or dest e N ós n ã o n os desem ba r a ça m os dest a ca r ga qu e n os for m ou e t eceu

m esm o con ju n t o h a bit a cion a l, o Bu ygh es. A segu ir , o n ovo pr efeit o, a r ede com plet a de n ossos h á bit os. E m qu a lqu er t r a n sfor m a çã o h á
a gor a de dir eit a , com eçou a t r a n sfor m a r a Vilen eu ve de Gr en oble cr ises, dispu t a s, divisões. Qu e n o seio dos m ovim en t os a u t oger idos
n u m gu et o. Con cen t r ou lá t oda s a s fa m ília s pr oblem á t ica s, sobr e- possa m a pa r ecer pr oblem a s, é eviden t e - e m esm o t a lvez desejá vel,

t u do á r a bes, objet o de u m r a cism o qu e em er gia . E a ssim por dia n - por qu e est es pr oblem a s pr ovoca m in t er r oga ções, m u da n ça s t a lvez

t e, com pou co r est a u r o, fech a m en t o de equ ipa m en t os socia is, et c. posiü va s, et c. E n ã o h á qu e gen er a liza r depr essa dem a is. H á ca -
H oje n ã o se con st r óem m a is est es con ju n t os a m biciosos. As n ova s s ós u r gen t es , ou t r os qu e p od em s er m a is bem p la n eja d os , m u t i-

con st r u ções popu la r es sã o pequ en a s, espa U ia da s, sem equ ipa m en t o r ões sim ples, com bin a dos, a u t oger idos, et c. N ã o sim plifiqu em os a
socia l sign ifica t ivo. A n ova est r a t égia dos con st r u t or es se a com oda qu est ã o. Aliá s, gost a r ia de a pr oveit a r a debr a pa r a u m com en t á r io.
m elh or com a esca la r edu zida . O ú n ico pr ojet o a m bicioso a t u a l é o Qu a n do fa lo de ca n t eir o a u t ón om o, pen so t a m bém em a u t ogest ã o
da con st r u çã o de pr esídios. de gen t e com pet en t e, de gen t e qu e con h ece seu ofício, de oper á r ios
for m a dos n o seu dom ín io. N ã o cr eio n a possibilida de, sobr et u do
[J OÃO MARCOS LOP E S] Qu a n do você fa z u m com en t á r io sobr e o pós- h oje, com a en or m e com plexida de da socieda de, de t odo m u n do
est r u t u r a lism o fr a n cês, você a bor da a lgu m a s qu est ões, ju st a m en t e fa zer a bsolu t a m en t e t u do. Com o ca m po de possíveis t a lvez, m a s

por ca u sa da s cr ít ica s qu e se a ca ba fa zen do à qu ele m om en t o e à n ã o con cr et a m en t e. E a cr edit o m u it o n o r efin a m en t o do m ét íer , n a

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qu a lifica çã o r ea l, n a ela bor a çã o pr ogr essiva do sa ber qu e se a cu m u - ju st a m en t e n esses a n os in icia is de Ba u h a u s, et c. E u n ã o sei com o
la , qu e se t r a n sfor m a em pa ixã o, em gest o exa t o, em fa zer ca r in h oso fu n cion a est e pós P r im eir a Gu er r a pa r a o seu esqu em a . E u a ch o
e n a a r t icu la çã o ju st a dist o n a obr a de a r qu ít et u r a . N ã o esqu eça m qu e o cor t e n a P r im eir a Gu er r a é u m cor t e vá lido pa r a qu est ões
qu e n u m ca n t eir o efet iva m en t e a u t ón om o a fin a lida de deve est a r t ecn ológica s, com er cia is, polít ica s, m a s n est a r ela çã o pa r t icu la r o
in t er ior iza da : su a voca çã o socia l fa z pa r t e de seu t odo livr e. Vol- qu e é qu e você t em em m en t e?
t a n do à qu est ã o leva n t a da , h á qu e con sider a r qu e a a u t ogest ã o h oje
es t á cer ca d a p or s eu in ver s o. E , com o em t od a op os içã o, os p ólos [SÉ RGIO F E RRO] Repit o: a pr esen t ei u m esqu em a gr osseir o, ch eio de
se con t a m in a m u m pelo ou t r o. Am a n h ã ven h o fa la r de pin t u r a , e sa lt os, la cu n a s, e, por qu e n ã o dizer , pa r cia l: só m en cion o o qu e es-
vocês ver ã o, esper o, o pa pel da oposiçã o em su a h ist ór ia . Todo m o- t u da m os m a is de per t o. Qu a lqu er pa ssa gem qu e a pr esen t o é ch eia
m en t o isola do, iü ia do n o m eio de ou t r o m a is for t e qu e o pr essio- de va r ia n t es, de ou t r a s cor r en t es con ver gen t es e diver gen t es. A pa r -
n a a ca ba sofr en do defor m a ções. N ã o h á com o cu lpa r som en t e a s t ir de Willia m Mor r is, por exem plo, h á m ú ldpla s der iva ções qu e o
exper iên cia s a u t oger ida s por a lgu m a s even t u a is defor m a ções: sem pr olon ga m , qu e o desvia m ou o t r a em , e qu e se cm za m com ou t r a s
ju st ificá -la s com plet a m en t e, é pr eciso con sider a r qu e pr ovem em t en d ên cia s , cr ed os , es p er a n ça s n ã o con t id a s em s eu d is cu r s o. S ó
pa r t e do en t or n o h ost il. N ã o devem os esqu ecer est es pr oblem a s est e t em a m er ecer ia m u it o m a is qu e t r ês r eu n iões. Ma s o qu e eu
m a s t a m bém n ã o h ipost a siá -los. qu is dest a ca r é qu e n est e per íodo, n a vir a da do sécu lo xx, h a u m a
com u n h ã o de fa t or es (só m e r efer i a a lgu n s) qu e con ver gem sobr e
ÏIA DE LIRA] vu em volt a r a qu i a su a a qu est ã o da s r ela ções de pr odu çã o, pr in cipa lm en t e a a çã o do sin di-
h ist or iogr á fica , qu e eu pa r t icu la r m en t e gost o m u it o, a t é pelo ca lism o r evolu cion á r io. In sist o n isso por qu e n ossa s h ist ór ia s fa la m
cr ivo qu e você elege pr a con t a r essa h ist ór ia . N o en t a n t o, u m cor t e som en t e do pr ogr esso visível da s for ça s de pr odu çã o, n o n osso ca so
qu e você defin iu r ea lm en t e m e in qu iet ou e eu fiqu ei im a gin a n do a ssocia do a o fer r o a o con cr et o, a o vidr o, et c. Or a , o qu e m e pa r ece
o qu e é qu e você t in h a em ocor r er er a ger a l n os ca sos qu e você m en cion a é qu e pr ivilegia m
t o de vist a da s r ela ções en t r e a r qu it et os e m ovim en t os oper á r ios, a in da a s qu est ões liga da s à s for ça s e m eios de pr odu çã o - n u m a
a r qu it et os e cer t a s con ver gên cia s qu e você iden t ifica , a n t er ior es dir eça o sem dú vida s gen er osa . Adm ir o pr ofu n da m en t e os espa r t a -
à P r im eir a Gu er r a Mu n dia l, em r ela çã o n ã o som en t e a u m n ovo Lu xem bu r go sem pr e m e en t u sia sm ou .
m om en t o d o s in d ica lis m o, m a s t a m bém u m n ovo m om en t o d a
liber t a çã o socia l pêlos a r qu it et os. O cor t e n a P r im eir a Gu er r a Depois da Segu n da Gu er r a m u n dia l a t é 1968, n o
r ea lm en t e m e in qu iet ou qu a n do eu fíco pen sa n do qu e t a lvez su a ca so do Br a sil, e n os a n os 1950, n o ca so de Sã o P a u lo ~ per íodo de
pesqu isa , seu t r a ba lh o, n os a pr esen t e elem en t os n ovos. E u qu er ia d es en volvim en t o, d e a p r ofa n d a m en t o d a con cen t r a çã o, et c. - h á
qu e você se est en desse u m pou co m a is pa r a eu m e sit u a r u m pou co exper iên cia s a qu i n o sen t ido de m odifica çã o da s r ela ções de pr odu -
m elh or . O qu e você vê ou r econ h ece com o con ver gên cia d o m o- cã o, com gen t e qu e sa be, com o você fa lou , t r a ba lh a n do n a fá br ica e
m en t o pr é-gu er r a ? O Willia m Mor r is, sem dú vida , m a s a s dem a is or ga n iza n do a s a t ivida des de a cor do com seu sa ber , n ã o a pen a s com
exper iên cia s sã o m u it o r est r it a s em t er m os ideológicos: h á u m so- a s for ça s pr odu t iva s vin da s de u m sis£em a en volven do o E st a do de
cia lism o cr ist ã o, u m cer t o m edieva lism o qu e a in da r esist e em a lgu - Bem E s t a r S ocia l. Refir o-m e a o com u n it a r is m o fr a n cês qu e s u r -
n u s exper iên cia s, ou u m m u t u a lism o du em 104.0, du r a n t e a gu er r a , e exist iu a t é o fin a l dos a n os 1060.
t r o de u m cer t o lim it e ideológico e est e foi u m exem plo ba st a n t e
qu a n do eu pen so n o pós n a déca da de 1950 e qu e foi ext in t o com o golpe
u m a visã o a lém da u m p ou co
n a list a de a r qu it et os
pr ession ist a s, qu e sã o deixa dos de la do e t êm u m a exper iên cia r ica
a pr oxim a ções com sin dica t os, dos a r qu iíet os
dos a r qu it et os qu e se exila m n a U RSS, da pon t e [SÉ RGIO F E RRO] H á vá r ios exem plos dest e t ipo de cooper a t iva n a h is-
t ór ia . P odem os en con t r a r va r ia n t es m a is ou m en os pr óxim a s desde gr a n des pot ên cia s n ã o t r ou xer a ju st iça socia l. Ba st a va ver en t ã o o
o t em po de Mü n zer 26, n o séc u lo xvi, dos u t opist a s do sécu lo xix, qu e est a va ocor r en do n os E U A com a qu est ã o r a cia l. Ao con t r á r io, já
et c. Sã o t ipos de pr opost a s t ã o bá sica s, t ã o pr ópr ia s do pen sa m en t o er a eviden t e qu e qu a n t o m a is cr escia m a s r iqu eza s m u n dia is, m a is
de esqu er da qu e n ã o podem sen ã o se r epet ir . Ma s con h eço pou co o a u m en t a va a m isér ia . Ou m odificá va m os a s r ela ções de pr odu çã o
qu e a qu i foi feit o n est e sen t ido. ou n a da m u da r ia . P en so h oje qu e ist o ficou dem on st r a do pela de-
ca dên cia esca n da losa dos pa íses dit os socia list a s qu e, por n ã o t er em
[F RAN CISCO BARROS] A per gu n t a qu e o P edr o fez a pou co foi ba s- cr ia do r ela ções de pr odu çã o n ova s, pu der a m t ã o fa cilm en t e a ceit a r
t a n t e ext en sa e t a lvez por isso som en t e u m a pa r t e foi r espon dida . a in va sã o ver gon h osa do ca pit a l.
A r espeit o do fór u m de 1962, n a época qu e o sen h or er a pr ofessor
da F AU , on de est a va m coloca da s a s discu ssões a sobr e o ca n t eir o e o [ALE XAN DRE BE N Ot T] Qu er ia coloca r u m a qu est ã o qu e o Zé Lir a
en sin o volt a do pa r a isso den t r o da P AU . leva n t ou sobr e o m ovim en t o m oder n o, qu e é a h er a n ça qu e pesa
s obr e n ós n a F AU . Tem u m a s p ect o qu e o s en h or coloca s obr e o
[SÉ RGIO F E RRO] É qu e a m em ór ia est á m e fa lh a n do: o velh in h o t em fu n cion a lism o qu e é ir r efü t á vel: t a n t o qu e ele t em a spect os po-
br a n cos n a ca beça , for a e den t r o. Volt em os en t ã o à per gu n t a do sidvos qu a n t o, t a m bém , qu e ele cr ia u m a posiçã o de cer t o m odo
P edr o. Ma s pr eciso dizer qu e, a in da h a pou co, con ver sa n do sobr e a pa t er n a list a dos a r qu it et os. Ma s a ch o qu e t em ou t r o a spect o, qu e,
r efor m a á e 62 e 68, per cebi qu e já t en h o dificu lda de de m e lem br a r ju st a m en t e pelo seu en foqu e, o sen h or n ã o a bor da , m a s eu a ch o qu e
dela s. E n t ã o va m os lá . fica com o pen sa m en t o de fu n do qu e é: com o você vê o pen sa m en t o
H a via sim oposiçã o, a já m en cion a da vá r ia s vezes: en t r e os da cida de m oder n a ? N ã o com o ele foi a pr opr ia do n a r evolu çã o da
defen sor es da pr ior ida de da evolu çã o da s for ça s pr odu t iva s, por - E u r opa , m a s pr in cipa lm en t e qu a n do ele foi ger a do, n a déca da de
t a n t o d o d es en h o com o p r op u ls or d o a va n ço, e os qu e p r ega va m 1920, a pa r t ir da exper iên cia a lem ã e da exper iên cia r u ssa , e qu e eu
a pr ior ida de da m u da n ça da s r ela ções de pr odu çã o, por t a n t o do a ch o qu e se cr ist a liza de cer t o m odo n a Ca r t a de At en a s. E u qu er ia
ca n t eir o com o loca l de exper iên cia s de a lt er a çã o. Ma s a ch o à s vezes sa ber se você a ch a qu e ela é u m elem en t o su per est r u t u r a l qu e é
qu e o gr a u da oposiçã o é u m pou co exa ger a do. Afin a l, sob a oposi- in vá lido, ou qu e t r a z r ea lm en t e elem en t os n ega t ivos desse m odo de
cã o, h a via u m m a r de coisa s em com u m , de con t in u ida de. O Ar r iga s pr odu çã o. E u cit o, por exem plo, o pon t o 95 da Ca r t a de At en a s: fe-
é o gr a n de fu n da dor dest a escola , o fu n da dor do gr u po qu e pr efir o ch a n do a ca r t a Lê Cor bu sier fa la qu e a pr opr ieda de pr iva da do solo
n a a r qu it et u r a br a sileir a , a escola pa u list e. Ten h o o m a ior r espeit o é u m en t r a ve pa r a se pen sa r u m pla n o de cida de. E u qu er ia sa ber se
por ele - e sem pr e m e in com oda qu a lqu er in ch a ço da oposiçã o. isso é per t in en t e h oje - esse pen sa m en t o n ega t ivo dessa cida de - ou
E xist iu , er a con cr et a e n ã o foi fá cil pa r a n ós, se con sider a r m os n os- se isso con st it u i som en t e u m elem en t o ideológico de u m discu r so
[26] Th om a s Mu en t zer (ou Mü n t zer ,
ou ainda Münzer) foi um revolucionário sá sit u a çã o de r ecém -for m a dos. H oje n ã o sei se, t a dca m en t e, ele qu e n ã o se r ea liza .
qu e a fiou n a s gu er r a s ca m pon esa s do n ã o t in h a r a zã o. N a m esm a época do fór u m de 68 pr epa r á va m os
século XVI na região daAlsácia. Seu gm-
po pr a t ica va u m a for m a de com u n ism o
o pr ogr a m a pa r a a escola de Sa n t os, e desde o pr im eir o a n o (a ch o [SÉ RGIO F E RRO] Olh a , eu n u n ca t r a ba lh ei em u r ba n ism o. Ten t ei u m a
ba st a n t e a m pla . Ver o !lvr o de E m st Blo- qu e 1969) os a lu n os ia m t odos pa r a a s fa vela s, em t or n o da s qu a is vez em Cr iciú m a , Sa n t a Ca t a r in a : foi u m fr a ca sso, desist i. N ã o pos-
ch sobre ele [Thomas Muntzer. teólogo t od o o p r ogr a m a for a or ga n iza d o. Met a d e ou m a is d os p r ofes s o- só fa la r de exper iên cia s pessoa is, por t a n t o. O qu e con h eço vem de
da r evolu çã o. Tem po Br a sileir o, 1973),
r és foi pa r a r n a ca deia . Ta lvez o qu e n a h or a n os pa r eceu er r a do, livr os e de a lgu m a s obser va ções dir et a s (Br a sília , Sã o P a u lo...) n ã o
Ba st a n t e m íst ico, o a poca lipse de Sã o
J oã o er a seu t ext o de r efer ên cia . E m su a t en h a sa lva do a F AU de u m m a l m a ior . È pr eciso, en t r et a n t o, lem - é por a ca so qu e qu a se n u n ca fa lo de u r ba n ism o. F oge a o t er r en o de
úiíima batalha, o surgimento de um arco br a r qu e a cr ít ica da divisã o do t r a ba lh o qu e n ós defen día m os, er a m in h a s a t m da des. H á m u it a gen t e m u it o m a is ca pa cit a da do qu e
ír is n o céu pa r eceu -lh e u m sin a l divin o.
t em a qu e ia bem a lém de n ossa escola , t in h a im pa ct o em m u it a s eu , in clu sive n est a sa la .
Ava n çou despr ot egido com su a t r opa
m a l a r m a da con t r a a s t or ça s su per ior es ou t r a s á r ea s. E st a cr ít ica , exa ger a n do u m pou co, a t in gia o P C, cu ja
dos nobres e da igreja. Foram dizimados: defesa do desen volvim en t ism o vin h a de lon ge, do en qu a dr a m en t o [MARIAN A F ix3 Sobr e u m a pa ssa gem qu e você fez a o lon go da ex-
os a n jos divin os esper a dos n ã o vier a m
da esqu er da pela visã o soviéü ca in icia do n os a n os 1920. O ou t r o posiçã o, qu e é a pa ssa gem pa r a a m u n dia liza çã o fin a n ceir a , qu a n -
a poiá -los. Ten h o pa r t icu la r est im a por
la do, o n osso, r ejeit a va ist o já qu e o desen volvim en t o m a t er ia l da s do a pr odu çã o da r iqu eza a ssu m e, ela pr ópr ia , u m a n ova lógica fi-
n a n ceir iza da , isso t r a z gr a n des con sequ ên cia s pa r a a a r qu it et u r a , t a s for m a s qu e vem os, copia n do cen á r ios de scien ce fict ion , t en t a n do
fa zer cr er em pr oeza s est á t ica s, lou cu r a s t écn ica s ou exibin do em
com o você fa lou . Os edifícios, com o a qu eles da Ber r in i, a ca ba m
se con ver t en do n u m a espécie de a r t igo fin a n ceir o. Vã o t er qu e se- esca la giga n t esca efeit os de m a qu et es pa r a doxa is. Ma s n ã o im por t a :
gu ir a m esm a lógica de r en t a bilida de e liqu idez de qu a lqu er ou t r o com o ca n t eir o pa r ecen do for m ígu eir o esm a ga do, a s t a xa s de lu cr o
ba t em r ecor des.
in vest im en t o qu e fa ça pa r t e de u m a ca r t eir a de in vest idor es, qu e
a ca ba m a ssu m in do u m a con diçã o de ger en t e n a qu a l você t em u m
descola m en t o m a ior do va lor n a su a ba se. E u qu er ia t e pedir pa r a
com en t a r a s con sequ ên cia s qu e isso t r á s pa r a o a r qu it et o, pa r a a
pr odu çã o da a r qu it et u r a e pa r a a h ist ór ia qu e você con t ou a qu i.

[SÉ RGIO F E RRO] H á a lgu n s a n os, já discu t ia sobr e isso com o P edr o
Ar a n t es. F a lá va m os do íoyot ism o e da est r a t égia pa r a pr ojet os do
n ovo ca p it a lis m o. O qu e ocor r e? H oje a s gr a n d es em p r es a s s u b-
con t r a t a m , t er ceir iza m , ext er ior iza m segm en t os im por t a n t es de su a
pr odu çã o. Segu n do a n a t u r eza do em pr een dim en t o, do "pr ojet o",
com põem a gr u pa m en t os a d h oc de com pet ên cia s; ofícios, fa br ica n -
t es de com pon en t es, et c. N ã o gu a r da m de for m a per m a n en t e sen ã o
o n ú cleo cen t r a l - fisca is e a pa r t e da pr odu çã o qu e n ã o t em equ i-
va len t e for a . E eviden t e qu e ext er ior iza m t a m bém os pr oblem a s
s ocia is , os n ós con flit a n t es , et c. O "cor p o p r od u t ivo a s s im s e es -
fa cela a in da m a is (pois m esm o a n t es dest e pr ocesso a ca beça do t a l
cor po já est a va for a da pr odu çã o), fica m a is a fa st a da â possibilida de
de r ea ça o oper á r ia , e a u m en t a m a s t a xa s de lu cr o pela dim in u içã o
dos ga st os fixos - e pela explor a çã o m a ior do t r a ba lh o. As a t ivida -
dês su bcon t r a t a da s, sem pr e a m ea ça da s de su bsü t a iça o por ou t r a s,
espr em em seu s cu st os a o m á xim o, seu s oper á r ios sã o ger a lm en t e
t em por á r ios. O ca n t eir o qu e descr evi h á m a is de 30 a n os m u dou
m u it o. E n t r et a n t o, os pr oblem a s qu e já a pon t ei só se a gr a va r a m .
A diá spor a dos t r a ba lh a dor es a u m en t ou , a ssim com o a desqu a li-
fica çâ o e a in segu r a n ça . As lu t a s oper á r ia s den t r o da s u n ida des de
pr odu çã o fica r a m m a is difíceis. P or ou t r o la do, o desen h o de a r qu i-
t et u r a t em qu e r espon der a u m a t en sã o ca da vez m a is con t r a dit ór ia .
P or u m la do os "edifícios in t eligen t es" dã o com pr een sivelm en t e
pr ior ida de à t écn ica , a os en gen h eir os: os a r qm t et os segu em a t r á s
bor da n do. E n t r et a n t o, pa r a a in da exist ir , e por im posiçã o á a con -
cor r ên cia 'm er cít n t il, d evem t a m bém en con t r a r a for m a exót ica ,
"or igin a l", difer en t e, qu e dest a qu e seu pr odu t o dos ou t r os. Qu a n t o
à pr odu çã o... H á m edia dor es en ca r r ega dos de fa zer o desen h a do
de qu a lqu er m a n eir a - ou , se o con t r ole de cu st os se opu ser , de fa -
zer a lt er a r o desen h o. De qu a lqu er m a n eir a per de ca da vez m a is o
con t a t o com o ch ã o pr odu t ivo esfa r ela do, in st á vel, dist a n t e. Da í es-

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