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Literatura Inglesa

Material Teórico
O Romance do Modernismo

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.a Palma Simone Tonel Rigolon

Revisão Técnica:
Prof.ª Dr.ª Nathalia Botura

Revisão Textual:
Prof. Esp. Bruno Reis
O Romance do Modernismo

• Introdução
• Henry James
• The Turn of Screw (1897)
• O Modernismo

Nesta unidade, nosso foco será o romance o modernismo eu aconteceu


após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com isso, houve o
estabelecimento da União Soviética que trouxe consequências e mudanças
para o mundo inteiro.
O fim da Primeira Guerra e o começo da Segunda Guerra Mundial (1939-
1945) foram mundo difíceis para a Grã-Bretanha, que tinha contraído uma
dívida enorme com os Estados Unidos, fato esse que foi agravado ainda
mais com a Crise de Wall Street (1929).

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as
atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.

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Unidade: O Romance do Modernismo

Contextualização

Tenho certeza de que você já deve ter percebido a importância do contexto sócio-histórico
para entender uma obra literária. Já mencionamos acima a importância da Primeira e Segunda
Guerra Mundial para o mundo. Esses eventos foram tão marcantes que você não pode deixar
de ler e saber sobre o assunto. Veja o material sobre esses eventos tão marcantes no link:

Explore: https://goo.gl/7A7qjN

Para saber mais sobre as duas Grandes Guerras, acesse:

Explore: https://goo.gl/dF23yF

Aproveite todo o material indicado.


Bons Estudos!

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Introdução

Você deve lembrar que a semente do modernismo foi plantada no final do século XIX
devido a todos os avanços decorrentes da Primeira e da Segunda Revoluções Industriais.
As cidades cresceram desordenadamente, a religião foi contestada por causa das teorias de
Darwin, enfim, as mudanças foram grandes em todos os sentidos.
Toda essa transformação levou a um avanço em todas as áreas, inclusive na área dos
estudos da mente humana. Foi a época em que Freud (1856-1939) apresentou sua teoria
psicanalítica, relevante até os dias de hoje e que também influenciou a literatura.
Mencionamos anteriormente a técnica literária do “fluxo de consciência”, que aparece nas
obras de Henry James, de Virgínia Woolf e outros autores.
Tudo começou em 1890 quando William James (1840-1910), irmão de Henry James,
publicou sua obra Princípios de Psicologia. Henry James, claramente influenciado pela troca
de informações com seu irmão, começa a usar essa técnica em suas obras.
Não podemos esquecer que todo esse movimento voltado ao psicológico, além de ter sido
motivado por estudos como os Freud e de William James, também foi influenciado pelo contexto
sócio-histórico, isto é, as pessoas estavam descontentes com todos os acontecimentos, com as
guerras e com a morte de milhares de pessoas. Tudo isso fez com que os artistas percebessem
que o realismo já não dava mais conta do contexto, não fazia sentido. Então as narrativas
acabaram indo para o lado psicológico, mais subjetivo, que o realismo não dava mais conta
de expressar.
Então, autores passaram a utilizar nas suas obras a ideia de fluxo de consciência, que é
uma técnica literária que retrata o pensamento do personagem. São momentos em que o
personagem fica mergulhado em si mesmo. Muitas vezes, há quebra de regras gramaticais, o
que acaba causando um estranhamento no leitor. Veja a definição de William James:

O primeiro e mais importante fato concreto que cada um afirmará


pertencer a sua experiência interior é o fato de que a consciência,
de algum modo, flui. “Estados mentais” sucedem-se uns aos
outros nela. Se pudéssemos dizer “pensa-se”, do mesmo modo
que “chove” ou “venta”, estaríamos afirmando o fato da maneira
mais simples e com o mínimo de presunção. Como não podemos,
devemos simplesmente dizer que o pensamento flui
(JAMES, 1892, p. 140)

Percebemos que, no fluxo de consciência, o narrador em primeira pessoa expõe seus


pensamentos e vai alternando o foco de acordo com a corrente mental. Alguns estudiosos
consideram Henry James o precursor dessa técnica.
Bem, agora que esclarecemos a questão do fluxo de consciência, vamos discutir sobre a
obra que é o foco desta unidade, The Turn of the Screw (1898), ou A Volta do Parafuso.
Essa obra foi escolhida porque Henry James é considerado o precursor do modernismo, foi
ele que começou a utilizar a técnica fluxo de consciência que acabamos de descrever, mesmo
que suas obras façam parte do chamado realismo.
Vamos então conhecer um pouco sobre esse autor.

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Unidade: O Romance do Modernismo

Henry James
Henry James, escritor estadunidense naturalizado inglês em 1915, era de uma família de
intelectuais da Nova Inglaterra.
Acredita-se que James começou a “olhar” para a Europa a partir de uma viagem com a
família para o continente que durou cerca de três anos.
Estudou Direito em Harvard e, após o primeiro ano na universidade, começou a escrever
contos e resenhas. Viajava com bastante frequência para a Europa, até que, em 1915, tornou-
se cidadão inglês.
Em sua primeira fase como escritor, escreveu sobre temas internacionais. Podemos citar as
seguintes obras: The American (1877), Daisy Miller (1879) e The Portrait of a Lady (1880),
nas quais discute as relações entre os americanos, democratas e provincianos, e os europeus,
sofisticados e cosmopolitas.
A segunda etapa de sua carreira, já como cidadão inglês, foi influenciada por seu irmão
William James, que, como já mencionado, era estudioso de psicologia. Henry e William
James eram bastante amigos e trocavam ideias o tempo todo, o que fez com que Henry fosse
fortemente influenciado pelas ideias do irmão.
Nessa fase, o autor explorou temas como o feminismo, como na obra The Bostonians
(1886). Fica cada vez mais clara sua mudança de foco do mundo exterior para o mundo
interior, isto é, a mente humana. Seu romance What Masie Knew (1897) é um exemplo
do desenvolvimento de suas narrativas em terceira pessoa mas, em vez de ser um narrador
onisciente que está em todo lugar em todo momentos, esse narrador está limitado ao olhar de
um personagem só e é um exemplo da técnica de James chamada de “inteligência central”.
O experimentalismo de Henry James torna-se ainda mais evidente na terceira fase de
sua carreira, quando volta aos temas internacionais tratados com penetração psicológica:
The Wings of the Dove (1902), The Ambassadors (1903), The Golden Bowl (1904). Nessas
obras, James desenvolve a teoria de que só a autoconsciência e uma clara percepção dos
outros pode gerar sabedoria e amor.
Um fato bastante interessante é que os escritores da época, e claro que nesse rol Henry
James também se incluía, eram fascinados pelos fenômenos espirituais, pois, na época, várias
pesquisas estavam sendo desenvolvidas nessa área. Foi em 1840 que as chamadas Irmãs Fox
desenvolveram uma maneira de se comunicar com os espíritos, acontecimento que causou
muita curiosidade nas pessoas daquele tempo. Então as histórias de fantasma faziam muito
sucesso entre os leitores.
James já havia escrito histórias de fantasma antes da obra The Turn of The Screw, já que
esse gênero era bastante popular. Percebemos isso inclusive já no prólogo da narrativa, em
que as pessoas estão reunidas na véspera de Natal e contam histórias de fantasma.
De acordo com anotações do escritor e observações no prólogo da obra, a semente da
história foi contada a James por Edward White Benson, arcebispo de Canterbury. Era a
história de crianças pequenas que eram assombradas por fantasmas. Na história de Benson,
os fantasmas tentavam levar as crianças para a morte.
James usa a ideia de Benson e transforma a história em um romance psicológico ambíguo
que mexe com o leitor até o seu desfecho.
Agora que você já sabe um pouco sobre Henry James, vamos estudar o romance The Turn
of the Screw.

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The Turn of the Screw (1898)
Você deve estar se perguntando o significado do título da
obra, não é mesmo? Então, vamos começar a partir dele.
Segundo o dicionário online Oxford, significa: An
additional degree of pressure or hardship added to a
situation that is already extremely difficult to bear (colocar
mais pressão em uma situação que já esta muito difícil).
Então, podemos entender o título como uma metáfora
que representa os acontecimentos na vida da governanta,
personagem principal e narradora da história. Vamos pensar
no propósito do parafuso, ele serve para parafusar, para
apertar ou fixar algo, não é mesmo? Qual seria a relação do
Fonte: iStock/Getty Images parafuso com a história da governanta?
Ao ler a história, você perceberá que a narrativa vai se desenvolvendo em um crescente
e da mesma forma envolvendo o leitor que vai ficando cada vez mais curioso e intrigado. A
governanta, desde seu primeiro dia de trabalho em Bly, fica bastante curiosa em relação às
crianças e quer saber mais e mais sobre elas, além disso, há todo um mistério em relação à
causa da morte da antiga governanta. Podemos pensar que esse é o ponto da história que o
“parafuso” tenta “fixar”. No decorrer da história, a protagonista quer proteger as crianças dos
fantasmas (Peter Quint e Miss Jessel) tudo isso a “prende” em Bly (papel do parafuso).
Além disso, também podemos pensar na dificuldade que vai aumentando à medida em que
a governanta vivencia os acontecimentos da casa. Os fantasmas, as crianças que, segundo ela,
precisam ser protegidas, etc.
Sanada a curiosidade acerca do título da obra, vamos falar um pouco mais sobre o seu
contexto e publicação.
A obra foi publicada pela primeira vez na Inglaterra na revista Collier’s Week em 12 capítulos
semanais, entre janeiro e abril de 1898. A narrativa se encaixa no gênero gótico.
O romance gótico retrata lugares sombrios, apresenta elementos
misteriosos com o objetivo de criar uma atmosfera de terror e mistério.

A história começa com uma reunião de amigos na véspera de Natal em que eles começam
a contar histórias de fantasma.
No prólogo, há o primeiro narrador da história, que não é apresentado ao leitor, já que
seu nome não é revelado. Ele apresenta Douglas, que é um dos convidados. Douglas começa
então a contar a história da governanta de sua irmã, por quem estava apaixonado. Essa é a
primeira característica da personagem revelada por Douglas. Observe:

“She was a most charming person... the most agreable


woman I’ve ever known in her position... we had talks
in the garden – talks which she struck me as awfully
clever and nice… I liked her extremely.”
(JAMES, 1898, p. 5)

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Unidade: O Romance do Modernismo

Douglas tem o manuscrito dessa governanta e, após introduzir a história brevemente,


dizendo que a governanta cuidará de duas crianças, Flora, de oito anos, e Miles, de dez,
começa a ler o manuscrito. A partir daí, a narrativa passa a ser contada sob o ponto de vista
da governanta, que é a narradora principal da história, que é contada sob seu ponto de vista.
No início, percebemos traços do realismo, pois o manuscrito lido por Douglas dá ao leitor
a impressão de que a história é verídica, porém esse fato muda quando a governanta assume
a narrativa.
A história começa a ser contada a partir do primeiro dia de trabalho da governanta em
Bly (casa de campo em Essex, Inglaterra) para cuidar de duas crianças, Flora e Miles. Essas
crianças ficaram órfãs e seu tio, que não quer nenhum comprometimento afetivo com elas,
contrata uma governanta para cuidar delas e deixa bem claro que não quer ser importunado
com qualquer problema relativo a elas.
A governanta é a personagem principal e narradora da história que é lida por Douglas. Ela
é uma garota de vinte anos, filha de um pároco, que vai a Londres à procura de trabalho.
Logo no segundo dia, a protagonista recebe uma carta da escola de Miles informando que
o garoto havia sido expulso, porém sem apresentar os motivos da expulsão. Esse fato a deixa
bastante intrigada e, ao questionar a Sra. Grose (empregada da casa), recebe a informação de
que Miles era um menino peralta, mas que fazia apenas coisas comuns aos meninos.
Miles é descrito como um menino de rara beleza e bastante gentil, que sempre tenta
agradar a governanta. A primeira vez que a governanta encontra Miles, fica encantada com
sua “fragrância de pureza” e sua beleza fora do comum. Observe:

Her thus turning her back on me was fortunately not, for my


just preoccupations, a snub that could check the growth of our
mutual esteem. We met, after I had brought home little Miles,
more intimately than ever on the ground of my stupefaction, my
general emotion: so monstrous was I then ready to pronounce it
that such a child as had now been revealed to me should be under
an interdict. I was a little late on the scene, and I felt, as he stood
wistfully looking out for me before the door of the inn at which
the coach had put him down, that I had seen him, on the instant,
without and within, in the great glow of freshness, the same
positive fragrance of purity, in which I had, from the first
moment, seen his little sister. He was incredibly beautiful, and
Mrs. Grose had put her finger on it: everything but a sort of passion
of tenderness for him was swept away by his presence. What I
then and there took him to my heart for was something
divine that I have never found to the same degree in any
child—his indescribable little air of knowing nothing in
the world but love. It would have been impossible to carry a bad
name with a greater sweetness of innocence, and by the time I had
got back to Bly with him I remained merely bewildered—so far,
that is, as I was not outraged—by the sense of the horrible letter
locked up in my room, in a drawer. As soon as I could compass a
private word with Mrs. Grose I declared to her that it was grotesque
(JAMES, 1898, p.17). [grifo nosso]

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O excerto nos mostra o quão embevecida a governanta estava ao conhecer Miles, a ponto
de sentir-se culpada por ter pensado de forma diferente ao receber a carta da escola. Será que
esse sentimento por Miles continuará ao longo da narrativa?

Se você observar bem, a narrativa já apresenta vários mistérios logo no início: não sabemos
o nome da governanta (que não é revelado até o final da história), o motivo pelo qual a
expulsão de Miles acontece também não é revelado, fato estranho já que a carta veio da
própria escola. Você vai observar ainda que muitas outras coisas estranhas vão acontecer no
decorrer da história.
Uma noite em que a governanta passeia pelos arredores da casa, vê um homem no alto
de uma torre da casa, acha aquilo muito estranho, porém nada comenta com a Sra. Grose.
Observe o excerto:

He was in one of the angles, the one away from the house, very
erect, as it struck me, and with both hands on the ledge. So I saw
him as I see the letters I form on this page; then, exactly,
after a minute, as if to add to the spectacle, he slowly changed his
place—passed, looking at me hard all the while, to the opposite
corner of the platform. Yes, I had the sharpest sense that
during this transit he never took his eyes from me, and
I can see at this moment the way his hand, as he went, passed
from one of the crenelations to the next. He stopped at the other
corner, but less long, and even as he turned away still markedly
fixed me. He turned away; that was all I knew
(JAMES, 1898, p.21). [grifo nosso]

Perceba as palavras utilizadas para envolver o leitor nesse mistério: he struck me (“ele me
surpreendeu”), I saw him as I see the letters from this page (“eu o vi da mesma forma que
vejo as letras desta página”). As palavras da governanta passam uma sensação de verdade
para o leitor, de que ela realmente estava vendo aquele homem.
Mais tarde, ela vê o mesmo homem olhando pela janela da sala de jantar, fica assustada e
conta suas duas experiências para a Sra. Grose, que acaba identificando o homem como Peter
Quint, motorista da casa que morrera em circunstâncias estranhas. Observe o diálogo entre
as duas:

I caught it up. “You DO know him?”


She faltered but a second. “Quint!” she cried.
“Quint?”
“Peter Quint—his own man, his valet, when he was here!”
“When the master was?”
Gaping still, but meeting me, she pieced it all together. “He never
wore his hat, but he did wear—well, there were waistcoats missed.
They were both here—last year. Then the master went, and Quint
was alone.”

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Unidade: O Romance do Modernismo

I followed, but halting a little. “Alone?”


“Alone with US.” Then, as from a deeper depth, “In charge,” she
added.
“And what became of him?”
She hung fire so long that I was still more mystified. “He went,
too,” she brought out at last.
“Went where?”
Her expression, at this, became extraordinary. “God knows where!
He died.”
“Died?” I almost shrieked.
She seemed fairly to square herself, plant herself more firmly to
utter the wonder of it. “Yes. Mr. Quint is dead.”
(JAMES, 1898, p. 41).

Note que, mesmo depois que a Sra. Grose informa à governanta que o homem que a
observava era Peter Quint, ela demora a contar que o motorista está morto. Tudo isso para
reforçar a noção de mistério da história. É dessa maneira que o Capítulo V é encerrado.
No decorrer da história, a governanta tem quase certeza de que o fantasma de Peter Quint
estava assombrando Miles, pois a Sra. Grose contou que Peter e Miles eram muito próximos
e passavam muito tempo juntos.
Num outro dia, em que a governanta sai para passear perto do lago com Flora, ela vê
uma mulher vestida de preto e tem a impressão de que essa mulher é a Srta. Jessel, antiga
governanta de Bly e que também está morta. A governanta aponta as características da
mulher para a Sra. Grose, que confirma. Nossa protagonista fica sabendo que a Srta. Jessel e
Peter Quint tinham um caso amoroso. A Sra. Grose também lhe conta que as crianças eram
“coniventes” com esses empregados. Revela-lhe também que Peter Quint passava bastante
tempo com Miles enquanto a Srta. Jessel ficava com Flora. Veja o trecho em que a Sra. Grose
afirma que a Srta. Jessel era “vergonhosa”.

After a little she turned round. “The person was in black, you say?”
“In mourning—rather poor, almost shabby. But—yes—with
extraordinary beauty.” I now recognized to what I had at last,
stroke by stroke, brought the victim of my confidence, for she
quite visibly weighed this. “Oh, handsome—very, very,” I insisted;
“wonderfully handsome. But infamous.”
She slowly came back to me. “Miss Jessel—WAS infamous.”
She once more took my hand in both her own, holding it as tight
as if to fortify me against the increase of alarm I might draw from
this disclosure. “They were both infamous,” she finally said
(JAMES, 1898, p. 54).

Vale notar que, na narrativa, não há provas de que os outros personagens também veem os
fantasmas. A única certeza que o leitor tem é de que a governanta os vê.

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A tessitura da narrativa é fantasticamente construída para permitir que o leitor tire suas
próprias conclusões: o leitor pode tanto achar que a governanta é louca como acreditar que ela
realmente vê os fantasmas e que a casa e as pessoas ali têm problemas. Tudo isso dependerá
do envolvimento do leitor com a narrativa e isso é o que faz o brilhantismo do texto.
O final da história também é surpreendente. A governanta e Miles conversam quando ela vê
a figura de Peter Quint pela janela, tenta proteger Miles e o aperta junto ao peito. O coração
de Miles para de bater. Veja o excerto:

“Peter Quint—you devil!” His face gave again, round the room, its
convulsed supplication. “WHERE?”
They are in my ears still, his supreme surrender of the name and
his tribute to my devotion. “What does he matter now, my own?—
what will he EVER matter? I have you,” I launched at the beast,
“but he has lost you forever!” Then, for the demonstration of my
work, “There, THERE!” I said to Miles.
But he had already jerked straight round, stared, glared again, and
seen but the quiet day. With the stroke of the loss I was so proud
of he uttered the cry of a creature hurled over an abyss, and the
grasp with which I recovered him might have been that of catching
him in his fall. I caught him, yes, I held him—it may be imagined
with what a passion; but at the end of a minute I began to feel what
it truly was that I held. We were alone with the quiet day, and his
little heart, dispossessed, had stopped
(JAMES, 1898, p. 148).

Também é papel do leitor decidir o que aconteceu no final da história. Claro que é sabido
que Miles morre, mas não se sabe como. O coração de Miles parou porque viu Peter Quint ou
porque a governanta o apertou tanto que o acabou sufocando? E você, qual é a sua posição?
Para terminar, vamos apresentar alguns temas apresentados na obra.

Os temas de The Turn of the Screw

Podemos elencar o mal como um dos temas, já que ele permeia toda a história,
independentemente se o leitor acredita que os fantasmas realmente existem na narrativa ou se
são frutos da imaginação da governanta.
Como representantes do mal na história, podemos citar: Miles, por não se saber o motivo
pelo qual foi expulso da escola e também pela afirmação da Sra. Grose ao dizer que ele era
bad, mas que suas maldades ou peraltices eram como as de qualquer outro garoto; Peter
Quint e a Srta. Jessel que, segundo a governanta, aparecem para atormentar as crianças. Na
verdade, podemos dizer que James nos apresenta o “mal” que está em todas as pessoas e
deixa que o leitor tire suas próprias conclusões.
Outro tema interessante é a repressão sexual, lembre-se de que essa obra foi escrita na Era
Vitoriana (1838-1901), então as questões sexuais não poderiam aparecer explicitamente.

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Unidade: O Romance do Modernismo

Nesse tema, também a genialidade do autor permite que os leitores que não acreditam em
fantasmas tenham maior percepção acerca das questões sexuais. Por exemplo, a visão da
governanta de Peter Quint na torre da casa pode ser considerada um símbolo da sexualidade
masculina; a Srta. Jessel no lago pode representar a sexualidade feminina.
Também vale observar a relação entre juventude e inocência. As crianças órfãs são
abandonadas duas vezes, a primeira vez pelo destino, pois seus pais morrem e a segunda pelo
tio, que lhes deu abrigo, contratou empregados e uma governanta para cuidar deles, o tio é
apenas o provedor. A noção de família teve de ser construída por elas mesmas. A narrativa
também deixa o leitor em dúvida com relação à “inocência” das crianças, será que realmente
são puros e agem como crianças normais, ou tudo é fruto da mente “insana” da governanta?
Espero que você tenha gostado da narrativa e que aproveite os materiais sugeridos.
Como já mencionamos antes, as obras de Henry James, ainda que entendidas como realismo
fantástico e escritas na Era Vitoriana, principalmente as de sua última fase, já introduziram
características do modernismo. Então, vamos discutir um pouco mais sobre o modernismo e
analisar um poema dessa fase.

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O Modernismo

Os autores que fizeram parte dessa fase que aconteceu durante as duas Grandes Guerras
foram autores que romperam com o moralismo e o realismo da Era Vitoriana. Dentre eles,
podemos citar T. S. Eliot, Dylan Thomas, James Joyce, D. H. Lawrence, Virginia Woolf,
Aldous Huxley, George Orwell e dramaturgos, como Noël Coward e Samuel Beckett.

Lawrence (1885-1930), principalmente em sua obra O Amante de Lady Chatterley


(1928), mostra a paixão e o sexo como uma saída para os males da sociedade industrial, claro
que também é uma crítica à Era Vitoriana, já que nela sexo era um tabu.

Virginia Woolf (1882-1941) usa a técnica literária do fluxo de consciência em suas


obras. Uma de suas obras de destaque é Mrs. Dalloway (1925).

Huxley (1894-1963), autor do romance Admirável Mundo Novo (1932), mostra uma
realidade sombria devido ao progresso científico e aos regimes totalitários.

Vamos analisar o poema The Waste Land (1922), de T. S. Eliot (1888-1965), que retrata
a Europa depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Como esse é um poema longo, você encontrará o link para lê-lo na íntegra na seção
Material Complementar.

The Waste Land (1922)


Eliot foi um poeta estadunidense, residente na
Inglaterra, que se tornou cidadão inglês em 1927.
Ele frequentou tanto a universidade de Harvard, nos
Estados Unidos, quanto a Sorbonne, na França.
O poema The Waste Land foi publicado em
1922 e, como já dissemos anteriormente, retrata a
Europa devastada pela guerra. O poema é composto
por cinco partes.
Wikimedia Commons; The Waste Land, W. W. Norton & Company, 1 ed, 2000

A primeira parte do poema é intitulada The Burial of the Dead (“O Enterro dos Mortos”).
Podemos entender que o autor quer acabar/enterrar o passado para começar uma nova vida,
ou seja, trata-se da renovação da vida. Veja o excerto:

April is the cruelest month, breeding


Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain
(ELIOT, 1922, p. 18).

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Unidade: O Romance do Modernismo

Esse início traz uma referência à obra The Canterbury Tales, de Chaucer. Nesse caso, a
palavra “abril” não se refere à peregrinação, mas sim à renovação da terra, que se regenera
após o longo inverno.

A segunda parte é intitulada The Game of Chess (“Uma Partida de Xadrez”). Veja o excerto
a seguir:

The Chair she sat in, like a burnished throne,


Glowed on the marble, where the glass
Held up by standards wrought with fruited vines
From which a golden Cupidon peeped out
(Another hid his eyes behind his wing)
Doubled the flames of sevenbranched candelabra
Reflecting light upon the table as
The glitter of her jewels rose to meet it,
From satin cases poured in rich profusion;
In vials of ivory and coloured glass
Unstoppered, lurked her strange synthetic perfumes,
Unguent, powdered, or liquid—troubled, confused
And drowned the sense in odours; stirred by the air
That freshened from the window, these ascended
In fattening the prolonged candle-flames,
Flung their smoke into the laquearia,
Stirring the pattern on the coffered ceiling
(ELIOT, 1922, p. 24)

A primeira parte é longa e composta por versos brancos. Conforme o poema vai se
desenvolvendo, percebemos que vai se tornando mais irregular tanto no tamanho quanto na
métrica, o que nos remete a um sentimento de desintegração, como se as coisas estivessem
se partindo.

A terceira parte do poema é intitulada The Fire Sermon (“O Sermão do Fogo”). Segundo
Southam (1996), Buda pregou o “sermão do fogo” contra a inveja, a raiva, a luxúria. Notamos
nessa parte um tom moralista, mas que enxerga uma saída para toda essa desolação, para
todos os problemas, como se o sermão do fogo fosse um elemento purificador e regenerador.
A penúltima parte é Death by Water (“Morte pela Água”). Observe o trecho:

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Phlebas the Phoenician, a fortnight dead,
Forgot the cry of gulls, and the deep seas swell
And the profit and loss.
A current under sea
Picked his bones in whispers. As he rose and fell
He passed the stages of his age and youth
Entering the whirlpool.
Gentile or Jew
O you who turn the wheel and look to windward,
Consider Phlebas, who was once handsome and tall as you
(ELIOT, 1922, p. 42).

Observe que Flebas é surpreendido por uma corrente marítima que acaba matando-o.
Flebas consegue “ver” todas as fases de sua vida. A água permite a completa visualização de
todo o percurso.
A última parte do poema, What the Thunder Said (“O que Disse o Trovão”), refere-se à
voz do criador, que se manifesta para todos e que havia sido ignorada anteriormente na terra
devastada. É necessário repensar o futuro.
Diante dessa análise percebemos que, assim como os escritores e poetas do Modernismo,
Eliot queria que sua poesia expressasse o estado psicológico frágil da humanidade no início do
século XX. A passagem da Era Vitoriana e o trauma da Primeira Guerra desafiaram o conceito
da identidade masculina, o que levou os artistas a questionarem o ideal romântico do poeta
visionário capaz de mudar o mundo por meio de seus versos.
Os escritores modernistas tinham por objetivo capturar o mundo transformado, que, segundo
a visão deles, estava fragmentado, alienado e denegrido por conta dos acontecimentos sócio-
históricos.
Eliot via a sociedade do pós-guerra como uma sociedade paralisada e ferida, daí a necessidade
de reconstruir e ir em busca de uma nova vida.

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Unidade: O Romance do Modernismo

Material Complementar

Aproveite o material elencado abaixo para aprimorar seu conhecimento.


Nos dois links seguintes, você poderá acessar os e-books em português e em inglês. Escolha
de acordo com sua proficiência linguística.

Livros:
The Turn of The Screw, versão em inglês, Disponível em:
https://goo.gl/QkoKcV

A Outra Volta Do Parafuso, versão em português, Disponível em:


https://goo.gl/p2W7eS

Filme:
Os Inocentes é um filme baseado na obra The Turn of The Screw. Vale a pena assistir.
No link, você encontra uma versão legendada. Aproveite! Disponível em:
https://youtu.be/ktvn-UFNJkM

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Referências

BORGES, J. L. Curso de literatura inglesa. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2006.

BURGESS, Anthony. A literatura inglesa. São Paulo: Ática, 2008.

Oxford Dictionaries. Disponível em: http://www.oxforddictionaries.com/definition/english/


a-turn-of-the-screw?q=the+turn+of+the+screw. Acesso em: 7 out. 2014.

SOUTHAM, B. C. A guide to the selected poems of T. S. Eliot. London/New York:


Harcourt Brace & Company, 1996.

ALVES, A. L. A interação entre texto e ilustrações nos illuminated books de


William Blake pelo prisma da obra America, a Prophecy. 2007. Total de folhas.
Tese (Doutorado Programa de Teoria e História Literária) – Instituto de Estudos da Linguagem,
Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2007. Digital. Disponível em: http://www.
bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000410831&opt=1.

SILVA, A. M.Curso completo de literatura e cultura inglesa. Rio de Janeiro: Ciência


Moderna, 2005.

VASCONCELOS, S. G.Dez lições sobre o romance inglês do século XVIII. São Paulo:
Boitempo, 2002.

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Unidade: O Romance do Modernismo

Anotações

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