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Realismo

Uma reação à idealização romântica


Contexto histórico
• Segunda Revolução Industrial > Crescimento do Capitalismo
• Segundo Reinado (Dom Pedro II): marcado por muitas mudanças
sociais, política e econômicas.
• A classe média brasileira (funcionário públicos, profissionais liberais,
jornalistas, estudantes, artistas, comerciantes) desejava mais
liberdade e maior participação nos assuntos políticos do país.
• 1888 – Abolição da Escravatura
• 1889 – Proclamação da República
Valores do Realismo
• Teorias científicas:
• Determinismo (social),
• Positivismo / Empirismo,
• Darwinismo,
• Marxismo (materialismo histórico).
• Engajamento social e político;
• Retrato fiel da sociedade (em todas as suas camadas);
• Críticas às instituições sociais (Igreja, Casamento, Família, Burguesia,
etc.).
Contexto histórico do realismo
O surgimento do realismo está associado à Revolução Industrial, que
provocou uma transformação na economia europeia do século XIX. O uso de
máquinas na produção e o fortalecimento do comércio aceleraram o
crescimento econômico. Como resultado, no entanto, ficou em evidência
a desigualdade social.
De um lado, a burguesia e a riqueza; de outro, o proletariado e a pobreza.
Além disso, o uso de máquinas no campo fez com que os camponeses
perdessem sua função e fossem para os centros urbanos em busca de
emprego (êxodo rural). A concentração populacional trouxe doenças, miséria
e fez crescer a prostituição.
Nesse contexto, ficaram em evidência ideologias como o liberalismo e o
marxismo. Dessa forma, os artistas sentiram a necessidade de se
manifestarem politicamente sobre a realidade. Não havia mais espaço para a
idealização romântica ou qualquer tipo de alienação.
Realismo na literatura
A literatura realista surgiu com a publicação do
romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857, na
França. Assim, as obras pertencentes a esse estilo de época
atacam o modo de vida burguês, além de realizarem crítica
sociopolítica. Com objetividade, os autores realistas mostram
os problemas sociais existentes no século XIX.
Os personagens realistas são membros da elite burguesa. O
narrador utiliza o fluxo de consciência para fazer a análise
psicológica desses personagens e, por extensão, realiza a análise
da sociedade da época. Os romances desse período tratam de
temáticas como adultério, opressão e corrupção.
Cottage scene, Pierre Edouard Frère (1867)

As respigadeiras, Jean François Millet (1857)


Realismo em Portugal
Em Portugal, o realismo teve início em 1865 e ganhou força durante a polêmica discussão
conhecida como “questão coimbrã”. Assim, de novembro de 1865 a julho de 1866,
escritores românticos entraram em conflito com os defensores do realismo, e ambas as
partes protagonizaram a mais famosa “briga” da literatura portuguesa.
Essa disputa intelectual entre românticos e realistas em Portugal se deu em virtude de que
o romantismo estava em decadência, e uma nova perspectiva estética (o realismo) entrava
em cena. Porém, os românticos não aceitaram facilmente o surgimento dessa nova corrente
literária.
Durante meses, defensores de ambos os lados usaram os periódicos da época para
disseminar suas ideias e atacar os oponentes, de forma que o debate ficou em evidência
durante muito tempo e, por isso, foi bastante comentado. Como a maioria deles estava
vinculada à Universidade de Coimbra, a questão ou discussão recebeu o adjetivo “coimbrã”.
De um lado, os velhos e conservadores românticos. Do outro, um grupo de jovens escritores
que ficou conhecido como “geração de 70”. Entre eles, estava o principal representante do
realismo em Portugal, o romancista Eça de Queirós. Já a poesia realista portuguesa conta,
principalmente, com o poeta Cesário Verde (1855-1886).
• Realismo no Brasil

• O realismo no Brasil teve início com a publicação do romance Memórias póstumas de Brás
Cubas, de Machado de Assis, em 1881. Esse escritor, conhecido por sua fina ironia, iniciou sua
carreira com obras românticas, mas seu grande sucesso se deve à sua fase realista, que conta
também com os seguintes romances:
• Quincas Borba (1891);
• Dom Casmurro (1899);
• Esaú e Jacó (1904);
• Memorial de Aires (1908).
• Já as obras da escritora Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) também fazem parte do
realismo brasileiro. No entanto, elas apresentam traços naturalistas, coisa que não ocorre com
os livros realistas de Machado de Assis, o que faz dele o principal autor do realismo no Brasil.
• " Júlia Lopes de Almeida é associada ao realismo e ao naturalismo. Portanto, a sua obra mais
conhecida — A falência (1901) — é marcada pela objetividade, crítica à sociedade brasileira,
temática do adultério e determinismo. Assim, a contista, romancista, cronista e dramaturga
teve relativo sucesso em sua época, antes de falecer em 30 de maio de 1934, no Rio de
Janeiro.
Características
•Objetividade: a realidade como ela é
•Verossimilhança: sem fantasias; o mais
semelhante à verdade possível
•Descritivismo: retrato em detalhes
•Observação (externa) e análise (comentário,
crítica)
“Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o homem, inventava-o.
Hoje o romance estuda-o na sua realidade social. [...] Desde que se descobriu
que a lei que rege os corpos brutos é a mesma que rege os seres vivos [...]
que a lei que rege os movimentos dos mundos não difere da lei que rege as
paixões humanas, o romance, em lugar de imaginar, tinha simplesmente de
observar. [...] A arte tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e não a
idealização das imaginações inatas.”

Eça de Queirós. Idealismo e realismo. In: Cartas inéditas de Fradique


Mendes. Apud: SIMÕES, J. G.: Eça de Quirós – trechos escolhidos. Rio de
Janeiro, Agir, 1968.
Romantismo Realismo
✓ Sentimentalismo doentio ✓ Observação impessoal

✓ Linguagem culta, em estilo poético ✓ Linguagem culta, mas direta

✓ Supremacia da imaginação ✓ Supremacia da verdade física

✓ Espiritualismo, religiosidade ✓ Materialismo, espírito científico

✓ Subjetivismo / Individualismo ✓ Objetivismo / Universalismo

✓ Narrativa de ação e aventura ✓ Narrativa lenta, tempo psicológico

✓ Herois íntegros, de caráter irrepreensível ✓ Gente comum, vulgar

✓ O mundo é como eu vejo ✓ O mundo é como ele é


“Era uma expressão fria, pausada, “Era esbelta, airosa, olhos meigos e
inflexível, que jaspeava sua beleza, submissos; tinha vinte e cinco anos e
dando-lhe quase a gelidez da estátua. parecia não passar de dezenove. [...] e
Mas no lampejo de seus grandes olhos da parte da mulher para com o marido,
pardos brilhavam as irradiações da uns modos que transcendia o respeito
inteligência”. e confinavam na resignação e no
temor”.
Principais autores – Europa
• Gustave Flaubert, Madame Bovary
• Eça de Queirós, Primo Basílio,
O Crime do Padre Amaro
Principais autores – Brasil
• Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas
• Narrativa inicia com a morte do
narrador/personagem
• Não segue ordem cronológica, digressões,
flashbacks
• Total liberdade das convenções sociais: comentário,
crítica,
sarcasmo, ironia
• Metalinguagem
• “Herói” anti-herói que nunca conheceu a glória
• Visão desencantada e pessimista da humanidade
• Narrador: 1ª pessoa, narrador-observador, protagonista
• Linguagem: vocabulário erudito, interlocução, metalinguagem
• Tempo: psicológico e cronológico
• Cenário: Rio de Janeiro, Portugal
• Personagens:
• Brás Cubas: o narrador-protagonista, já morto. É dessa posição que ele julga a
vida humana.
• Virgília: mulher do político Lobo Neves e amante do protagonista. Ela teve a
oportunidade de se casar com Brás Cubas, mas optou por se tornar esposa de
um homem influente e, ao mesmo tempo, manter um relacionamento
clandestino com o antigo namorado.
• Quincas Borba: amigo de Brás Cubas.
• Prudêncio: antigo escravo de Brás Cubas. Após a conquista da alforria ele se
torna proprietário de um escravo. Nesse serviçal ele revida todas as crueldades
sofridas na sua infância.
Naturalismo
A ciência aplicada à observação social
Preceitos teóricos influentes
• O que é o ser humano?
• Darwinismo/Evolucionismo: ser humano não é mais um ser
“escolhido por Deus”, mas um mero animal, como outros animais, no
curso da evolução das espécies; “lei do mais forte, mais bem
adaptado”.
• Positivismo: apenas aquilo que pode ser provado cientificamente
pode ser considerado válido; a realidade só pode ser acessada
empiricamente.
• Determinismo: o sujeito é produto do meio, da raça e do momento
histórico em que vive.
Pontos em comum com o Realismo
• Propósito crítico
• Mundo real é o foco das narrativas
• Verossimilhança
• Foco: defeitos, depravações e vícios dos seres
humanos
• Escritor: analista crítico do caráter humano e da
sociedade
Pontos de divergência do Realismo
• No Naturalismo:
• Não há psicologismo do Realismo
• Defeitos vistos como patologias
• Metáfora mais comum: zoomorfização (animalização) das
personagens ressaltando comportamentos vis; ação
baseada em instintos naturais, tais como os instintos
sexuais e os de sobrevivência.
• Descrições gráficas e chocantes (nada sutis)
Principais autores – Europa
• Émile Zola, Germinal
• Aluísio de Azevedo, O Cortiço
O cortiço
• Narrador: 3ª pessoa, narrador-onisciente, crítico do que observa
• Tempo: cronológico e linear
• Cenário: Rio de Janeiro; o cortiço (pobres) e o sobrado (aristocratas)
• Personagens: tipos sociais / estereótipos
• O Cortiço: um organismo que se desenvolve e determina as vidas das pessoas
• João Romão: dono do cortiço, vive com uma “ex”-escrava, Bertoleza
• Miranda: vive no sobrado vizinho, rico, casamento de fachada com Estela
• Zulmira: filha de Miranda e Estela, objeto do “amor” de João Romão
• Jerônimo: trabalhador dedicado e honesto, casado com Piedade, mas acaba
não resistindo a Rita Baiana
• Firmo: galanteador, vadio, gastador, amante de Rita Baiana
• Leonice: prostituta que corrompe Pombinha
“A obra está a serviço de um argumento.
Aluísio se propõe a mostrar que a mistura de
raças em um mesmo meio desemboca na
promiscuidade sexual, moral e na completa
degradação humana. Mas, para além disso, o
livro apresenta outras questões pertinentes
para pensar o Brasil, que ainda são atuais,
como a imensa desigualdade social.” –
guiadoestudante.com.br

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