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QUINCA

S
BORBA
MA C HA D O
D E A SSIS
O ESTILO MACHADIANO
Machado de Assis tem um estilo inconfundível de escrever, embasado nas correntes filosóficas e
cientificas de seu tempo, com um ar sarcástico e niilista, seguindo os ideais do Realismo/Naturalismo,
descreve com fidelidade os personagens e seus conflitos psicológicos e sociais. Através de uma
narração introspectiva profunda, com objetividade e detalhismo, disseca com sapiência e bom-humor
os acontecimentos da obra.
Ele representa a transição do Romantismo para uma nova forma de fazer literatura, onde se misturam
o Realismo, o Naturalismo, e na poesia, o Parnasianismo. Em todos, o sujeito é condicionalmente
determinado, seja pela “coisificação” realista ou pela “zoormofização” naturalista. Entretanto, é
didaticamente fundamental distinguir o Realismo do Naturalismo. Este se diferencia daquele por
conduzir a ciência para o plano da obra de arte, fazendo desta um meio de demonstração de teses
cientificas, especialmente a psicopatologia. O Naturalismo traz para obra uma visão biológica e
instintiva. Ao contrário, o Realismo, mais esteticizante, embora se apóie nas ciências, apenas fotografa
com certa isenção a realidade circundante, não traz dissertativamente às ciências para o plano do
papel.
Gustave Flaubert (séc. XIX)

Depois da falência de todos


os ideais,
de todas as utopias, a
tendência agora
é manter-se dentro do
campo dos fatos
Contexto ideológico:
O desenvolvimento científico e literário representou a derrota do idealismo e do tradicionalismo. O amor
platônico, o subjetivismo, o saudosismo e o byronismo dos românticos foram superados, a partir e após o
Condoreirismo, iniciou-se efetivamente uma preocupação social e racional com a realidade, não mais
sentimentalista.
A aristocracia rural e a Igreja são abandonadas, a burguesia passa a ocupar o cenário das obras. Se no
Iluminismo os interesses da burguesia e do proletariado se confundiam, na era moderna nasce a
“consciência de classes”, a burguesia antes explorada pelo clero e pela nobreza, agora explora o
proletariado. O Capital e O Manifesto Comunista de Karl Marx e Engels são o marco das novas disputas e
dos novos personagens. Agora impera o racionalismo econômico, marcado pela crença no progresso da
civilização industrial e mecânica. Se nas Grandes Navegações o mercantilismo se evidenciou, agora com a
Revolução Industrial, as novas relações de trabalho (fordismo, taylorismo) e o “liberalismo econômico” de
Adam Smith, a economia anula as forças humanas e se torna um órgão autônomo, o capitalismo industrial,
criando um dos principais personagens desse novo contexto: o dinheiro – símbolo máximo de status quo
desse século.
Contexto histórico:
A base cultural e histórica do Realismo é a ciência, que dominou as atenções na segunda metade do século XIX.
Difundiu-se o entusiasmo nas tecnologias e nas descobertas cientificas. Por exemplo: o desenvolvimento da anestesia, a
descoberta dos microorganismos causadores da sífilis, tuberculose e malária; descrição dos hormônios e das vitaminas;
identificação da energia mecânica, do calor, da luz e do eletromagnetismo; a evolução do transporte com a invenção do
trem a vapor; Alexander Graham Bell inventa o telefone; a lâmpada incandescente é inventada por Thomas Edison e o
alemão Car von Lind fabrica a primeira geladeira doméstica; o italiano Guglirlmo Marconi inventa o rádio; Alfred Nobel
inventa a dinamite; em Paris, os irmão Lumiere exibem o primeiro filme em cinema. Nasce daí o gosto pela análise,
objetividade, observação, fidelidade. Em suma, a literatura preocupou-se em captar a realidade como ela é, compondo um
retrato fiel e preciso.
Este século foi fortemente influenciado por correntes como o positivismo de Comte, a teoria da evolução e a seleção
natural de Charles Darwin, a Psicologia de Wundt, o niilismo nietzscheano, o determinismo de Taine e o materialismo
histórico e dialético de Marx.
O Brasil machadiano tinha sua economia de base agrária, com a ascenção da cana-de-açúcar e do café, os latifundiários
detinham não apenas o poder econômico como o poder político. Foi nessa mesma época que ocorreu a criação do Banco
do Brasil. Destacava-se o progresso tecnológico e da infra-estrutura, com a inauguração da primeira estrada de ferro, do
telégrafo e o aparecimento da luz elétrica. A estrutura sociológica também passava por transformações drásticas. A
Abolição da Escravatura, a expulsão dos maçons da irmandade religiosa da Igreja e a Guerra do Paraguai, abalaram a
estrutura militar do regime monárquico, o Brasil inauguraria um novo cenário político: a República.
A obra de Machado de Assis:
“Quincas Borba”, publicado originalmente em folhetim no ano de 1891, é um dos
romances mais densos da literatura brasileira, cronologicamente e didaticamente
situado no estilo realista. Vazado com ironia, sutileza e humor, o volume percorre
gradativamente a insana trajetória do protagonista Rubião e, ao mesmo tempo, fixa o
cão Quincas Borba como alter-ego do filósofo, consciente das profundezas da doutrina
do humanitismo. Paralelamente documenta a vivência das camadas sociais, o jogo de
interesses e as mazelas psíquicas daqueles que buscam, a qualquer preço, a ascensão
social. Tamanha a beleza e a inteligência da obra que em 1987 virou filme nas mãos do
roteirista e diretor de cinematografia Roberto Santos.
Eventos iniciais:
Pedro Rubião de Alvarenga, protagonista da história, vivia em Barbacena, Minas Gerais. Era professor em uma
escola para meninos e tinha uma irmã viúva chamada Maria da Piedade. Joaquim Borba dos Santos, um rico
filósofo que herdara os bens de um tio, conhecido como Quincas Borba, chega à cidade de Barbacena e se
apaixona por Maria da Piedade, irmã de Rubião.
Maria da Piedade faleceu pouco tempo depois de ter recusado o pretendente. Então, Rubião e Quincas Borba
tornam-se amigos. Quando Quincas Borba adoece, Rubião para de dar aulas para ajudar o amigo, tornando-se
um enfermeiro. Embora não fosse falso em seus cuidados, Rubião não era de todo um desinteressado; nutria
intimamente a esperança de ser um dos beneficiários dos bens do amigo, pois além de um cachorro, também
chamado Quincas Borba, Rubião era o único amigo de Quincas.
Pois assim o foi, com a morte de Quincas, Rubião se tornou o único herdeiro de suas riquezas, a única
exigência do morto foi que Rubião tomasse conta do amigo cão, como se este fosse da família. Mal sabia
Rubião que, metaforicamente, também herdou as filosofias de Quincas, que era considerado um “homem de
esquisitices”, dotado de bela biblioteca e de muitas citações.
Foco Narrativo:
∙ Diferente de Brás Cubas, a narração de Quincas Borba é em terceira pessoa. Essa mudança
gramatical não influi na postura irônica e cética frente aos acontecimentos. O narrador se
distancia para observar as personagens, todavia em muitas ocasiões se aproxima para fazer
zombaria do leitor.

∙ A todo momento, o narrador ridiculariza os sistemas filosóficos e ideológicos do século XIX.


Mais que isso, ceticamente, exibe a alienação dos homens que, imbuídos de diversos
interesses, enlouquecem em busca de conforto e prazer. A ironia maior está no fato de o
delator da loucura alheia ser um louco – Quincas Borba.
Enredo da obra:
Quincas Borba narra a história de um professor mineiro, Rubião, amigo e enfermeiro de
Quincas Borba, personagem que destina sua herança ao protagonista, tendo sob condição os
cuidados ao seu cão, também chamado de Quincas Borba. Rubião até então era um homem
simples, morador de uma cidade do interior com uma vida provinciana, contudo, após a morte
do amigo, deslumbrado com as novas condições, o protagonista da obra troca a vida pacata pela
agitação da corte, sendo que a partir daí sua rotina toma outros rumos, como narrado no livro:

Sentia cócegas de ficar, de brilhar onde escurecia, de quebrar a castanha na boca


aos que antes faziam pouco caso dele, e principalmente dos que riam da amizade
de Quincas Borba. Mas, logo depois, vinha a imagem do Rio de Janeiro, que ele
conhecia, com seus feitiços, movimento, teatro em toda a parte, moças bonitas,
―vestidas à francesa. Resolveu que era melhor, podia subir muitas e muitas vezes à
cidade natal. (ASSIS, 2014, p. 68)
Capitalista
O que Rubião desconhecia era que, além dos bens, ele também herdaria algo muito maior, o desafio de se
tornar capitalista e o enfrentamento de todas as consequências que esta vida nova lhe traria (MARTINY E
CANTARELA, 2010, p. 1). Recorrendo a Oliveira (2013) constatamos que o modo de vida do protagonista
fora radicalmente modificado, uma vez que ele deixa seu cotidiano pacato e vai viver na capital do
Império, passando a frequentar festas e recepções dos grandes salões da alta sociedade.

Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares
metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele
admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra
coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora?
Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente
amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o
céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.
(ASSIS, 2014, p. 51)
Personagem mutante:
Além das mudanças também presenciamos uma reflexão sobre as transformações ocorridas com
o personagem na passagem de uma condição para a outra. Para o autor:

Enquanto examina seu ―novo mundo, Rubião não deixa de refletir, com a
satisfação constrangida da vitória sem mérito, sobre o ―acaso que, muitas vezes,
decide o destino dos homens, dando a uns a fortuna, a outros a desgraça. Recorda
com certo desconforto que poderia estar vivendo noutra situação (provavelmente,
ainda mestre-escola em Barbacena), no caso tivesse realizado o casamento de sua
irmã Piedade com Quincas Borba, como pretendera. (OLIVEIRA, 2013, p. 69)
Personagem protagonista II:
∙ O cão Quincas Borba também é um personagem protagonista no romance, a prosopopéia utilizada pelo narrador fez do
cachorro uma projeção e um prolongamento, por metempsicose, do filósofo de mesmo nome. Logo após a morte do
filósofo, o cão passa a ter um comportamento cada vez mais humano, herdando o mesmo senso de observação do seu
antigo dono na interpretação das ações alheias:
∙ Olho para o cão, enquanto esperava que lhe abrissem a porte. O cão olhava para ele, de tal jeito que parecia estar
ali dentro do próprio defunto Quincas Borba; era o mesmo olhar meditativo do filósofo, quando examinava
negócios humanos. (cap. XLIX)
∙ Mas, no machadianismo sarcástico de sempre: “São idéias de cachorro, poeira de idéias, - menos ainda que poeira,
explicará o leitor.”
∙ Uma das possibilidades de se entender a pretensão do autor com essa alegoria do cachorro é perceber a metamorfose do
filósofo em cachorro como uma maneira de acompanhar a demonstração do Humanitismo. O cachorro tudo acompanha,
como se fosse o filósofo, só que agora condenado ao mutismo. Observe sua reação no momento em que Cristiano Palha
propõe sociedade com Rubião:
∙ Quincas Borba, que estava com ele no gabinete, deitado, levantou casualmente a cabeça e fitou-o. Rubião
estremeceu; a suposição de que naquele Quincas Borba podia estar à alma do outro nunca se lhe varreu
inteiramente do cérebro. Desta vez chegou a ver-lhe um tom de censura nos olhos; riu-se era tolice; cachorro não
podia ser homem. Insensivelmente, porém, abaixou a mão e coçou as orelhas ao animal, para captá-lo. (cap. LXIX)
A ironia machadiana:
capítulo CXVII:

A história do casamento de Maria Benedita é curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la. Fique,
desde já, admitido que, se não fosse à epidemia das Alagoas, talvez não chegasse a haver casamento; donde se
conclui que as catástrofes são úteis, e até necessárias. Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi
em criança, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona –
um triste molambo de mulher, - chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo
passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. – É minha, sim, seu
senhor; é tudo o que eu possuía nesse mundo. – Dá-me licença que ascenda ali meu charuto? O padre que me
contou isso certamente emendou o texto original; não é preciso estar embriagado para ascender um charuto
nas misérias alheias. Bom Padre Chagas! – Chamava-se Chagas. Padre mais que bom, que assim me incutiste
por muito anos dessa idéia consoladora, de que ninguém, em seu juízo, faz render o mau aos outros; não
contando o respeito que aquele bêbado tinha ao principio da propriedade, a ponto de não ascender o charuto
sem pedir licença a dona das ruínas. Tudo idéias consoladoras. Bom Padre Chagas!
“O homem é o lobo do homem”. Thomas Hobbes
O Humanitismo é antropocentricamente existencialista. É o principio universal de que o homem é uma parte na sua
humanidade. Todavia, o Humanitismo se distancia do Existencialismo por condicionar o sujeito e negar o livre-
arbítrio. Metonimicamente podemos entender essa filosofia do livro, na seguinte alegoria do capítulo VI:
Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de
uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é princípio universal e
comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõem tu, um campo de batatas e duas tribos
famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a
montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as
batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a
destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da
vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não
fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o
que lhe aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que
virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas!
Capitalista proletário:
Apesar da riqueza monetária, Rubião continuava com o pensamento de professor,
desconhecendo a lei do mais forte e prevalecendo nele a visão limitada de uma sociedade
pequena em um mundo não capitalista. Almejava a riqueza, contudo, a ingenuidade
prevalecia em si.

Ideou as batatas em suas várias formas, classificou-as pelo sabor, pelo aspecto,
pelo poder nutritivo, fartou-se antemão do banquete da vida. Era tempo de
acabar com as raízes pobres e secas, que apenas enganavam o estômago, triste
comida de longos anos; agora o farto, o sólido, o perpétuo, comer até morrer, e
morrer em colchas de seda, que é melhor que trapos. (ASSIS, 2014, p.71)
O que dizem sobre Quincas Borba:
∙ A vida de Rubião depois que se torna capitalista nos permite compreender como se constituem as
relações sociais do segundo Império, durante o qual os interesses pessoais sobrepunham-se a
todos os valores e princípios, sendo constante o sistema de exploração em que os próprios
indivíduos enxergam na figura do outro a possibilidade de obter vantagens financeiras. (OLIVEIRA,
2013, p. 74)

∙ Somos consumidores numa sociedade de consumidores. A sociedade de consumidores é uma


sociedade de mercado. Todos nos encontramos totalmente dentro dele, e ora somos
consumidores, ora mercadorias. Não admira que o uso/consumo de relacionamentos se aproxime,
e com rapidez. (BAUMAN, 2005, p.151)

∙ Segundo Silva (2008), além do dinheiro de Quincas Borba e do cão, Rubião também recebe a
loucura como herança. Para o autor esta loucura era semelhante a das fantasias vendidas pela
sociedade burguesa.
Loucura:
Mais do que ironicamente, Machado dentro do realismo literário se apropria do personagem Quincas Borba para
questionar em (supostamente) estado de loucura: o que é a realidade? Como diria Erasmos de Rotterdam, escritor do
Renascimento Cultural, em “Elogio da Loucura”: Só se costuma defender a verdade quando não se é atingindo por ela.
A loucura de Rubião o transformou no “Napoleão de Botafogo”, assim como a de Quincas o transformou no “Filósofo de
Barbacena”. Todavia essa loucura napoleônica também pode ser quixotesca. Ambos acreditavam doentemente na sua
ideologia, analogicamente como o personagem de Cervantes, o que poderíamos entender não como loucura patológica,
insana, mas como loucura critica e contestadora de um mundo falso. A palavra “ideologia” quando criada pelo seu
idealizador Desttut de Tracy recebeu a alcunha de “deformadora da realidade” por parte do General francês Napoleão
Bonaparte. Embasado na sua filosofia, a “deformação da realidade”, em Quincas Borba, tem um sentido positivo, um
sentido quixotesco, não napoleônico.
A loucura, tema fascinante, ela alimenta a irascível fúria de Orfeu, delírios que fizeram Van Gogh decepar a própria orelha.
A loucura de Rubião acaba, enfim, identificando com Quincas Borba, por processo análogo ao da quixotização de Sancho
Pança, uma vida despojada de ilusões. E assim, no capítulo CC:
Poucos dias depois, morreu... Não morreu súdito nem vencido. Antes de principiar a agonia, que foi curta, pôs a
coroa na cabeça – uma coroa que não era, ao menos, um chapéu velho ou uma bacia, onde espectadores palpassem a
ilusão. Não, senhor; ele pegou em nada, levantou nada e cingiu nada; só ele via a insígnia imperial, pesada de ouro,
rútila de diamantes e outras pedras preciosas.
Para encerrar...
Os delírios do protagonista aumentavam de forma que lhe restara apenas a internação. Esses delírio,
segundo Freud (APUD Bauman, 2007), tinham em decorrência a busca pela lógica dos fatos, já que o
sofrimento humano provém da fragilidade de nossos corpos e das inadequações humanas
(BAUMAN, 2007, p. 61)

Preocupado com a forma do romance, mas não menos com o legado dos homens, Machado fere a
cada um que o lê com uma crítica que reflete e pensa aquilo que fazemos sobre a terra. De modo
perspicaz abre as feridas mediante chacota, piparote e riso.

Em Quincas Borba, há uma dura exposição das relações humanas. O texto é perpassado pelo desejo
humano de lucrar. Para a satisfação de sua vontade, o homem passa por cima do outro, sem
qualquer consideração pela vontade alheia. Esse comportamento deságua em uma confluência de
interesses especular à luta darwiniana, o que desvela uma sociedade egoísta. Em vez de apresentar
as classes, Machado exibe as paixões individuais. Analogamente desconstrói todo o corpo social,
criando perfis.

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