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Machado de Assis
(1839-1908)
QUINCAS BORBA
(1891)
Considerações gerais – QUINCAS BORBA (1891)
É o mais objetivo dos romances machadianos e
pode ser lido como um desdobramento de Memórias
Póstumas de Brás Cubas (1881). Embora não tenha
todas as inovações formais deste, apresenta também
digressão, ironia e metalinguagem.
O principal ponto de contato é o fato de Quincas
Borba ser personagem de Memórias Póstumas de Brás
Cubas: antigo colega de escola do “autor-defunto”, o
excêntrico Quincas Borba tinha decaído da condição
de homem rico para mendigo, quando Brás o
reencontra por acaso; depois, ao receber uma herança,
Borba enriqueceu novamente e criou uma doutrina
filosófica, o Humanitismo.
O Humanitismo – “Ao vencedor, as batatas”
Trata-se de uma paródia às correntes científicas e
filosóficas do século XIX, pelas quais os estudiosos
pareciam ter explicações para tudo. No Humanitismo
predominam o pessimismo e o absurdo. O homem aparece
como um ser caracterizado por falsidade, fraqueza e
instabilidade; na luta pela sobrevivência, quem sempre
vence é simplesmente o mais forte.
A humanidade buscaria somente prazeres fáceis e
instantâneos, embora com uma fisionomia de falsa
seriedade. No fim, as glórias se mostrariam ilusórias.
No romance Quincas Borba, Machado de Assis
retrata o ambiente pequeno-burguês da Corte Imperial,
onde o importante eram somente as aparências e os
títulos honoríficos.
O narrador: principal elemento da narrativa
Em Quincas Borba, o narrador não é personagem;
embora narre predominantemente em 3ª pessoa, ele, às
vezes, assume o discurso de um “eu” (1ª pessoa):
“Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler (...)”.
É um narrador onisciente, que interfere na história e
faz comentários, dirigindo-se frequentemente ao leitor.
Espaço e tempo
A ação se passa no Rio de Janeiro do 2º Reinado,
havendo um recuo até Barbacena (MG), onde se passam os
fatos que dão origem ao romance. Na Corte é retratada a
vida de um grupo de burgueses hipócritas e ambiciosos.
A narrativa termina, novamente, em Barbacena, onde o
protagonista, Rubião, já louco, encerra o círculo da vida.
Personagens e enredo
Após a morte do filósofo Quincas Borba (narrada em
Memórias Póstumas de Brás Cubas), sua fortuna é herdada
pelo amigo Pedro Rubião de Alvarenga, um modesto
professor de crianças em Barbacena, cidade onde residia o
falecido. O dinheiro vem acompanhado do compromisso de
cuidar do cão do filósofo, também chamado Quincas Borba.
Subitamente rico, Rubião se muda para a capital do
Império e, já na viagem, conhece o jovem casal Sofia e
Cristiano Palha, que o introduz em seu círculo social. Logo
nasce o interesse afetivo de Rubião pela atraente Sofia.
Acreditando-se correspondido, o desajeitado milionário se
declara a ela durante um baile. Mais tarde, ao comentar
com o marido a ousadia do amigo, a mulher é encorajada a
alimentar aquele sentimento, para que eles possam
continuar a explorar o iludido ricaço.
Frustrada sua investida amorosa, Rubião decide deixar
o Rio de Janeiro. Cristiano insiste com ele para que fique;
acompanha-o nessa tentativa o Dr. Camacho, político
oportunista que também tira vantagem do amigo ingênuo.
Convencido, o ex-professor decide permanecer.
Rubião e Cristiano se tornam sócios em uma
importadora, Palha & Cia. Com o tempo, Cristiano passa
a administrar a fortuna do outro, que continua a
frequentar a residência do casal (do bairro de Santa Teresa
eles se mudam para a praia do Flamengo e de lá vão morar
num palacete em Botafogo). Rubião passa a sentir ciúmes
de Sofia, devido aos gracejos de um jovem, Carlos Maria.
Em desespero, chega a gritar com Sofia, insinuando
adultério. Ela, porém, comprova sua inocência,
confirmada com o casamento de Carlos Maria com Maria
Benedita, uma prima da própria Sofia.
Já estabelecido e independente, Cristiano rompe a
sociedade com Rubião, que, a essa altura, já estava
financeiramente arruinado. Sofia também se afasta do
amigo, recusando seus convites para passeios.
Inconformado, Rubião ainda a visita, mas é rejeitado;
humilhado, declara-se a ela outra vez, acrescentando
ser o imperador francês, Napoleão III, e ela, sua
amante. Fica evidente a demência de Rubião.
Por insistência de conhecidos, o casal Palha se
responsabiliza pelo doente, transferindo-o para uma
casa mais humilde e, depois, para um hospício, de
onde ele foge para Barbacena, acompanhado do cão
Quincas Borba. Em sua antiga cidade, ninguém o
recebe e, no dia seguinte, Rubião morre, ainda
acreditando ser o imperador francês...
PERSONAGENS E SEUS ATRIBUTOS
QUINCAS BORBA – Quem é o “Quincas Borba” do título?
Embora qualquer definição seja irrelevante, deve-se notar a
elevação do animal à categoria de personagem, como
projeção do filósofo morto. Ocorre, então, um processo
chamado metempsicose (“passagem da alma”);
Aluísio Azevedo
(1857-1913)
O CORTIÇO
(1890)
Dados estruturais
Narrador - 3ª pessoa onisciente (com relativo
afastamento em relação aos fatos narrados);
Tempo - Fim do século XIX, ainda na vigência
da escravidão;
Espaço - Os episódios ocorrem no bairro de
Botafogo, capital do Império, no precário
meio urbano carioca.
Os 23 capítulos são lineares e apresentam dois
conjuntos sociais:
Conjunto 1 (o cortiço) – define-se por sua composição
animalesca. Seus elementos se ligam à natureza e ao instinto;
Conjunto 2 (o sobrado) – define-se pela presença de outros
interesses (como a manutenção de aparências sociais).
ZOOMORFIZAÇÃO NATURALISTA
As personagens são impessoais e primitivas,
quase brutais. Assim, a lavadeira Leandra tem “ancas
de animal do campo”; Neném é uma “enguia”;
Botelho tem “expressão de abutre”... João Romão e
Bertoleza trabalham como uma “junta de bois”; o
cortiço exala um “fartum de besta no coito”...