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Análise Literária – Memórias Póstumas de Brás Cubas

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Narrador


 A narração é feita em primeira pessoa e postumamente, ou seja, o narrador se autointitula um
defunto-autor – um morto que resolveu escrever suas memórias.
 Assim, temos toda uma vida contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre.
 Com esse procedimento, o narrador consegue ficar além de nosso julgamento terreno e, desse
modo, pode contar as memórias da forma como melhor lhe convém.
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Foco Narrativo
 Com a narração em primeira pessoa, a história é contada partindo de um relato do narrador-
observador e protagonista, que conduz o leitor tendo em vista sua visão de mundo, seus
sentimentos e o que pensa da vida.
 Dessa maneira, as memórias de Brás Cubas nos permitirão ter acesso aos bastidores da
sociedade carioca do século XIX. 
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Tempo
 A obra é apoiada em dois tempos. Um é o tempo psicológico, do autor além-túmulo, que, desse
modo, pode contar sua vida de maneira arbitrária, com digressões e manipulando os fatos à
revelia, sem seguir uma ordem temporal linear. A morte, por exemplo, é contada antes do
nascimento e dos fatos da vida (antecipação do modernismo).
 No tempo cronológico, os acontecimentos obedecem a uma ordem lógica: infância,
adolescência, ida para Coimbra, volta ao Brasil e morte. A estranheza da obra começa pelo
título, que sugere as memórias narradas por um defunto. O próprio narrador, no início do livro,
ressalta sua condição: trata-se de um defunto-autor, e não de um autor defunto. Isso consiste
em afirmar seus méritos não como os de um grande escritor que morreu, mas de um morto que
é capaz de escrever.
 O pacto de verossimilhança sofre um choque aqui, pois os leitores da época, acostumados com
a linearidade das obras (início, meio e fim), veem-se obrigados a situar-se nessa incomum
situação.
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Período histórico
 A ação do romance abarca a segunda metade do século XIX, período que corresponde ao
governo de D. Pedro II.
 A juventude de Brás coincide com a Independência do Brasil, em 1822, mas ao mesmo tempo
em que o Brasil fica independente, Brás fica dependente de amorosa, simbolizando uma sátira a
independência do Brasil de Portugal, pois isso acabou criando uma dependência e um
endividamento do Brasil em relação à Inglaterra.
 Assim, sua chegada à idade adulta pode simbolizar a maturidade social brasileira.
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Personagens
 Brás Cubas: Ele é o narrador-protagonista, ou o “defunto autor”, como se define; um morto
que decide retratar suas memórias de uma forma irônica. É dessa posição que ele julga a vida
humana.
 Virgília: Mulher do político Lobo Neves e amante do protagonista. Ela teve a oportunidade de
se casar com Brás Cubas, mas optou por se tornar esposa de um homem influente e, ao mesmo
tempo, manter um relacionamento clandestino com o antigo namorado.
 Quincas Borba: Amigo de Brás Cubas, ele cria a filosofia do humanitismo.
 Eugênia: Garota coxa beijada pelo protagonista e depois desprezada por ele, por ser coxa (ela é
fruto de um casal que ela havia flagrado quando criança, namorando atrás da moita)
 Marcela: Garota de programa com quem Brás teve um caso quando era jovem.
 Cotrim: Marido de Sabina, irmã de Brás Cubas. Ele é um sujeito grosseiro na forma de lidar
com os escravos.
 Nhã Loló: Ela é da família de Cotrim. Sabina faz de tudo para seu irmão se casar com ela, mas
a jovem morre antes da cerimônia.
 Dona Plácida: Ex-serviçal de Virgília, ela encobre o relacionamento marginalizado entre o
protagonista e Virgília.
 Prudêncio: Antigo escravo de Brás Cubas. Após a conquista da alforria ele se torna
proprietário de um escravo. Nesse serviçal ele revida todas as crueldades sofridas na sua
infância.
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Análise
 Memórias póstumas de Brás Cubas se enquadra no gênero literário conhecido como sátira
menipeia, no qual um morto se dirige aos vivos para criticar a sociedade humana.
 A leitura do romance deve levar em conta a dupla condição do protagonista: há o Brás vivo e o
Brás morto.
o O Brás vivo é personagem da narrativa e vive uma existência marcada pelas futilidades
sociais, pela volubilidade sentimental e pelo desprezo que manifesta pelos outros. 
o O Brás morto é o narrador, que é capaz de expor sem nenhum pudor os próprios defeitos.
Em primeiro lugar, porque já está morto e não pode mais ser atingido pela ira de seus
contemporâneos. Em segundo, porque a condição em que está lhe dá a sabedoria necessária
para perceber que seu modo de agir é semelhante ao de todos os seres humanos. 
 A sociedade é caracterizada como o espaço do jogo entre aparência e essência, onde as pessoas
interpretam papéis e fingem ser o que realmente não são. A impossibilidade de conhecer as
profundezas da alma não impede o narrador de reconhecer a miséria moral da humanidade. 
 Essa descoberta é sustentada sem problemas pelo Brás vivo, embasado na filosofia do
humanitismo, que afirma que toda atitude humana, boa ou má, é justificável como um ato de
preservação da espécie, ou seja a o humanitismo é uma filosofia que legitima o egoísmo, a
cobiça e a violência, deixando de lado qualquer consideração ética de justiça, solidariedade,
igualdade.
 O Brás morto, de sua parte, é capaz de olhar com ceticismo a própria teoria, chegando a uma
conclusão que nada tem de otimista: por ele, a espécie humana termina ali, já que não deixa
herdeiros da “nossa miséria”.
 Memórias póstumas de Brás Cubas utiliza recursos estilísticos:
o A digressão é o expediente usado pelo narrador para desviar o foco principal da história e
introduzir um comentário (crítico, literário, filosófico) alheio à narrativa de base.
o Metalinguagem, por sua vez, consiste no fato da linguagem se debruçar sobre a própria
linguagem, é quando o autor nos conta sobre o processo narrativo, ou quando nos conta
acerca das ideias que o cercavam para a construção do livro dentro do próprio livro.
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Anotações
 Memórias Póstumas de Brás Cubas marca o inicio da estética realista, como também a ruptura
do escritor com os padrões românticos.
 Brás Cubas é uma espécie de anti-herói, que narra sarcástica e ironicamente sua história de
vida, e personagem símbolo da ironia machadiana quanto ao ideal burguês de “vencer a vida”.
 A frase “Dessa terra e desse estrume nasceu Brás Cubas” o a terra significa onde o autor é
enterrado, o estrume o corpo dele, e a flor é o autor que nasce.
 A narração é contaminada de ironia, mas uma ironia fina em que se percebeu a intenção de
deixar transparente a aparência da sociedade em que viveu.
 Brás Cubas faz inventário das relações sociais, afetivas e política da sociedade burguesa da
segunda metade do século XIX.
 Machado de Assis usa de ironia para definir Marcela, falando que ela era “amiga de rapazes e
do dinheiro”, ou seja, ela era uma prostituta.
 Ele usa do humor ao falar de Eugênia “Porque bonita se coxa, por que coxa, se bonita” sendo
que até no jogo de palavras ele mancava ao falar.
 O narrador levanta uma análise filosófica sobre o descontentamento que se abateu sobre
Virgília: ele seria como um impulso iniciado com Marcela, que teria sido repassado para Brás
e, enfim, acabado em Virgília. Nomeia esse fato de “solidariedade do aborrecimento humano”,
um capítulo do qual Aristóteles (filósofo da Grécia antiga) teria se esquecido de escrever.
 O nariz é responsável pela elevação espiritual do ser humano.
o No mundo há duas forças capitais: o amor que multiplica a espécie e o nariz que a subordina
ao indivíduo.
o O “nariz” e a “elevação espiritual” são apenas eufemismos para um ato que ele entende
como puramente egocêntrico e que aponta em diversos momentos de seu livro, mas defende
como necessários para a evolução da espécie humana.
 No final de sua vida Brás Cubas conhece Quincas Borba, mendigo e depois rico filósofo e que
tenta fazer Brás entender sua filosofia que ironicamente explica seu fracasso.
 Outra ironia presente o tentativa de desenvolver o Emplácio Brás Cubas e acaba morrendo de
uma pneumonia.
 O pessimismo também é presente na obra machadiana onde Brás mostra que não teve filhos,
portanto não transmitiu a nenhuma criatura o legado da miséria.
 Ao entregar uma moeda de ouro achada no chão ao chefe de polícia ele descobre uma nova lei,
a lei da equivalência da janela que estabelecia que um modo de compensar uma janela fechada
é abrir outra, assim a moral pode arejar continuamente na consciência, e no caso a janela
fechada era ele estar flertando com uma mulher casada e a janela aberta foi devolver a moeda
achada, sua mente estava compensada.
 A não linearidade das ideias e a metalinguagem estão presentes também em Viagens na Minha
Terra.
 De modo tão pontual quanto incisivo, expõe-se o vínculo entre escravidão e prática de tortura
física no livro.
 Relação entre Memórias Póstuma de Brás Cubas e Viagens na Minha Terra
o Embora “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, seja o marco inicial do Realismo no Brasil, e
“Viagens na Minha Terra” enquadre-se na primeira geração do Romantismo luso, observa-
se, nesses romances, grande semelhança estilística, porque os narradores rompem com a
cronologia dos fatos, invocam ironicamente o leitor e comentam metalinguisticamente o
próprio romance.
o Ambos fazem também muitas referências intertextuais, isto é, remetem o próprio texto a
passagens de outros livros, seja a Bíblia, Dom Quixote, Cândido etc. Essas opiniões e essas
aparentes fugas do assunto evidenciam a digressão, característica fundamental em Garrett e
em Machado de Assis.
o Mais uma semelhança notável é a mistura de gêneros de escrita. Na obra machadiana,
incluem-se cartas, placa tumular na narrativa memorialista. Essa fusão de gêneros também
ocorre em "Viagens na Minha Terra", em que se notam a crônica de viagem, a novela
sentimental, envolvendo Joaninha e Carlos, as cartas de Carlos e as digressões sobre a
cultura portuguesa.
 Um brinco de Virgília caiu e foi parar junto a uma mosca e a uma formiga. Brás Cubas pegou
os insetos e os separa: ambos saíram satisfeitos, sendo que aqui ocorre uma metáfora da
separação entre os insetos e a separação do casal de amantes.

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