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Obras Catalogadas - UEM

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS


Machado de Assis
Vivian Moreno

Assinale o que for correto.


01) Posturas realistas podem ser encontradas em qualquer estilo de época, sempre que o artista se propõe a retratar a realidade
objetivamente. No entanto, na segunda metade do século XIX, registrou-se um movimento literário denominado Realismo, que
privilegiou a razão como a melhor forma de percepção da realidade, em detrimento da emoção. A sociedade passa a ser
focalizada como o centro dos interesses dos escritores realistas, assumindo o lugar das perspectivas individualistas tão caras aos
românticos.
02) O realismo machadiano apresenta-se de forma diferente do Realismo tradicional, na medida em que foge da crítica direta e
lança mão de estratégias narrativas diferentes das convencionais. Machado de Assis prefere denunciar as mazelas sociais e
individuais por meio de sugestões analógicas, como comparações e alegorias, freqüentemente matizadas de ironia; além de fazer
uso da intrusão metalingüística, dirigindo-se aos seus leitores para tecer comentários acerca da confecção do livro, quebrando,
conseqüentemente, a ilusão de verdade cultivada pela escola realista.
04) As características fundamentais do Realismo/Naturalismo aparecem intimamente associadas ao momento histórico em que a
tendência se desenvolve. Desse modo, a estética realista/naturalista aproveita os ensinamentos do Positivismo, do Socialismo e
do Evolucionismo. Assim, os adeptos da estética passam a subestimar o subjetivismo romântico, o personalismo e o nacionalismo
para fundamentarem suas escolhas no objetivismo e no materialismo.
08) Na obra de Machado de Assis, sobretudo após a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), são bastante
recorrentes os seguintes temas: a relatividade dos valores morais, a loucura, a ambição, a vaidade, o adultério e a contradição
entre a aparência e a essência.
16) O Realismo no Brasil não é considerado pela crítica uma escola literária coesa. Além de Machado de Assis, vários outros
escritores considerados realistas trilham caminhos próprios, ora voltando-se para os ideais da escola de Flaubert, ora afastando-
se deles, como se vê no caso de afastamento em O cortiço, de Aluisio Azevedo, obra que contraria os ideais realistas da
objetividade e da impessoalidade.

Assinale o que for correto em relação a Memórias póstumas de Brás Cubas e ao seu autor.
01) A obra de Machado de Assis revela um progressivo amadurecimento em direção à plenitude de um estilo próprio e
inconfundível. Já nos primeiros livros, nos chamados romances da primeira fase – A mão e a luva e Helena, dentre outros –, é
visível a intenção do autor de agregar sua marca pessoal a obras que, grosso modo, tendiam ao Romantismo. Por essa razão, é
possível ver nelas traços que as diferenciam de obras de outros autores românticos, notadamente a criação de protagonistas que
não se preocupam unicamente com a paixão amorosa, mas desejam sobretudo a ascensão social. Nos romances da segunda
fase – como em Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro –, Machado de Assis buscou compreender mais fortemente
os mecanismos que comandam as ações humanas. Com uma visão mais pessimista, o homem surge corrompido e sem saída.
02) No enredo de Memórias póstumas de Brás Cubas, o personagem principal tem sua trajetória intimamente ligada à de
mulheres: Marcela, a prostituta por quem se apaixonara ainda muito jovem, e responsável por sua ida para Portugal; Eugênia,
moça bonita e com problema físico, a quem namora por pouco tempo; Virgília, casada com Lobo Neves, de quem se torna
amante; e Eulália, a noiva que falece antes do casamento. Todas elas, cada uma a seu modo, confirmam o fracasso das relações
humanas do protagonista, sintetizado no final da narrativa: “– Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa
miséria”.
04) No romance, há dois capítulos cujos títulos remetem à intertextualidade bíblica: “LV – O velho diálogo de Adão e Eva” e “XC –
O velho colóquio de Adão e Caim”. O primeiro, constituído inteiramente por uma sequência de pontos, pontos de exclamação e de
interrogação, simboliza os silêncios carregados de significação e sensualidade entre os amantes Brás Cubas e Virgília, remetendo
o leitor à concepção do pecado original. O segundo diálogo, entre Brás Cubas e o embrião de seu filho com a mulher de Lobo
Neves, faz referência à alegria manifesta por Adão pelo nascimento do filho Caim. Nesse diálogo – “uma conversa sem palavras
entre a vida e a vida, o mistério e o mistério” –, percebe-se tanto a felicidade do narrador frente à perspectiva da paternidade
quanto sua preocupação com a predestinação bíblica do filho como iniciador da morte.
08) Memórias póstumas de Brás Cubas, embora inaugure o movimento naturalista, período de muita efervescência no cenário
cultural brasileiro, é um romance banal sobre uma sucessão de adultérios, uma espécie de narrativa-diário, escrita por um
personagem no leito de morte, na qual ele faz um balanço de seus relacionamentos e um testamento em favor de Virgília, a única
mulher que realmente o amou e a que lhe deu a esperança de um filho. Tratase, em suma, de um romance de tese sobre a
continuidade genética do ser humano, conforme as concepções naturalistas de Émile Zola.
16) No capítulo “CLV – Reflexão cordial”, lê-se: “– Se o alienista tem razão – disse eu comigo –, não haverá muito que lastimar o
Quincas Borba; é uma questão de mais ou de menos. Contudo, é justo cuidar dele, e evitar que lhe entrem no cérebro maníacos
de outras paragens”. Na passagem transcrita, Brás Cubas reflete sobre o diálogo que mantivera com o alienista (psiquiatra) no
capítulo anterior, que o advertira sobre a loucura do amigo Quincas Borba, e conclui que a loucura tem gradações, ou seja, de
“louco todo mundo tem um pouco”, mas, como amigo do filósofo, Brás deve ajudá-lo a manter a insanidade controlada.

12 – Sobre o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, bem como sobre seu autor, Machado de Assis, assinale a alternativa
correta.
A) O narrador desse romance é tipicamente realista: minucioso, descritivo, sincero, chega a chocar o leitor por sua excessiva
franqueza. Ao interferir repetidamente na narrativa, esse narrador estabelece uma cumplicidade com o leitor, que fica tentado a
perdoar, ou ao menos relevar, certas atitudes do Brás vivo, narradas com olhar irônico pelo Brás morto.
B) Machado de Assis é um romancista afinado com os temas de sua época. Seus romances e seus contos abordam questões
como o apoio irrestrito à monarquia, a defesa intransigente dos valores burgueses, uma cautelosa indagação sobre os males que
a abolição da escravatura viria a desencadear na sociedade brasileira etc.
C) Memórias Póstumas de Brás Cubas é um romance que põe em cheque as noções de gênero literário. Apesar de o narrador
ser o mesmo durante todo o romance, cada episódio (a "linda Marcela", Eugênia, Virgília etc.) pode ser lido separadamente, como
se fosse um conto. A estrutura revolucionária desse romance, porém, passou despercebida dos críticos durante décadas.
D) O romance está entre os três considerados obras primas de seu autor. Os outros dois são Dom Casmurro e Quincas Borba.
Os três romances contemplam, com ironia, a hipocrisia e a falsidade nas relações humanas da época retratada e mostram que
essa hipocrisia e essa falsidade são causadas pelas estruturas da sociedade, que tem os bens materiais como valor absoluto.
E) Memórias Póstumas de Brás Cubas relata a vida de um jovem de boa família, que desperdiça as oportunidades de tornar-se
um estudioso, um político importante ou algum outro benfeitor da sociedade. Idoso, ele rememora sua vida fútil e decide resgatar
esse passado ao pesquisar o "Emplastro Brás Cubas", que aliviaria o sofrimento de milhões. Infelizmente, adoece e morre antes
de cumprir esse objetivo nobre.

Lista de personagens
Brás Cubas: filho abastado da família Cubas, é o narrador do livro; conta suas memórias, escritas após a morte, e nessa condição
é o responsável pela caracterização de todos os demais personagens.
Virgília: grande amor de Brás Cubas, sobrinha de ministro, e a quem o pai do protagonista via como grande possibilidade de
acesso, para o filho, ao mundo da política nacional.
Marcela: amor da adolescência de Brás.
Eugênia: a “flor da moita”, nas palavras de Brás, já que era filha de um casal que ele havia flagrado, quando criança, namorando
atrás de uma moita; o protagonista se interessa por ela, mas não se dispõe a levar adiante um romance, porque a garota era
coxa.
Nhã Lo Ló: última possibilidade de casamento para Brás Cubas, moça simples, que morre de febre amarela aos 19 anos.
Lobo Neves: casa-se com Virgília e tem carreira política sólida, mas sofre o adultério da esposa com o protagonista.
Quincas Borba: teórico do humanitismo, doutrina à qual Brás Cubas adere, morre demente.
Dona Plácida: representante da classe média, tem uma vida de muito trabalho e sofrimento.
Prudêncio: escravo da infância de Brás Cubas, ganha depois sua alforria.

Tempo
A obra é apoiada em dois tempos. Um é o tempo psicológico, do autor além-túmulo, que, desse modo, pode contar sua
vida de maneira arbitrária, com digressões e manipulando os fatos à revelia, sem seguir uma ordem temporal linear. A morte, por
exemplo, é contada antes do nascimento e dos fatos da vida.
No tempo cronológico, os acontecimentos obedecem a uma ordem lógica: infância, adolescência, ida para Coimbra, volta
ao Brasil e morte. A estranheza da obra começa pelo título, que sugere as memórias narradas por um defunto. O próprio narrador,
no início do livro, ressalta sua condição: trata-se de um defunto-autor, e não de um autor defunto. Isso consiste em afirmar seus
méritos não como os de um grande escritor que morreu, mas de um morto que é capaz de escrever.

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