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Cecília Meireles – Melhores poemas

Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 1901. Foi professora e


educadora, tendo lutado pela renovação educacional vigente na época.
Dedicou-se ao jornalismo, escrevendo crônicas de cunho político, o que
lhe gerou perseguições pela ditadura de Getúlio Vargas.

Em 1934, inaugurou a primeira biblioteca infantil do país, fechada em


seguida por motivos políticos. Lecionou cultura brasileira na Universidade
do Texas e tornou-se conferencista mundial.
Cecília, aos 18 anos, publicou seu primeiro livro de poemas: Espectros
1919, que marcou o início de uma produção literária fecunda e original.
Sua poesia caracteriza-se pelo fundo filosófico, tendência à
musicalidade e, no que tange a aspectos formais, mescla
liberdade métrica e equilíbrio clássico.

Aborda temas como transitoriedade da vida, fugacidade dos


bens materiais, solidão, natureza, fazer poético.
Suas primeiras obras denunciam expressiva influência
simbolista no vocabulário, no ritmo e na temática.

Espectros
Nunca Mais
Poemas dos Poemas
Baladas para El-Rei
A grande revelação de Cecília Meireles começou, de fato, com
Viagem 1939. Daí por diante é difícil assinalar sua obra mais
importante, tal a homogeneidade, a perfeição e o acabamento.

Vaga Música
Mar Absoluto
Retrato Natural
Romanceiro da Inconfidência
Canções
Solombra (póstumo)

Romanceiro da Inconfidência tem sido a obra mais solicitada da


autora em vestibulares. Nela, resgata um gênero literário antigo,
o romance, uma espécie de narrativa popular em versos –
redondilhas. Narra o episódio da Inconfidência Mineira, não se
limitando ao fato histórico em si e, sim, buscando o que há de
perene no homem: coragem, traição, valentia, covardia, sonho,
etc.
Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas


do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas. Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
O vento vem vindo de longe, e o meu navio chegue ao fundo
a noite se curva de frio; e o meu sonho desapareça.
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio... Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,


não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.


Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,


ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,


quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa


estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,


ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .


e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,


se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda


qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Batem patas de cavalos.
Romanceiro da Inconfidência - Fala inicial
Suam soldados imóveis.
Na frente dos oratórios,
Não posso mover meus passos,
que vale mais a oração?
por esse atroz labirinto
Vale a voz do Brigadeiro
de esquecimento e cegueira
sobre o povo e sobre a tropa,
em que amores e ódios vão:
louvando a augusta Rainha,
- pois sinto bater os sinos,
- já louca e fora do trono -
percebo o roçar das rezas,
na sua proclamação.
vejo o arrepio da morte,
à voz da condenação; Ó meio-dia confuso,
- avisto a negra masmorra ó vinte-e-um de abril sinistro,
e a sombra do carcereiro que intrigas de ouro e de sonho
que transita sobre angústias, houve em tua formação?
com chaves no coração; Quem ordena, julga e pune?
- descubro as altas madeiras Quem é culpado e inocente?
do excessivo cadafalso Na mesma cova do tempo
cai o castigo e o perdão.
e, por muros e janelas,
Morre a tinta das sentenças
o pasmo da multidão. e o sangue dos enforcados...
- liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são.
Na mesma cova, as palavras,
o secreto pensamento,
as coroas e os machados,
mentira e verdade estão.

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