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DIREITO CIVIL - SUCESSÕES

PROF°. RAINER CZAJKOWSKI


1° BIMESTRE
Rainer Czajkowski - rainer.jur@uol.com.br
Anastácio Nascimento – anastacio.nascimento007@gmail.com
25/02/22
DIREITO DAS SUCESSÕES
1.Aspectos acadêmicos:

2.Referências bibliográficas:
● CARLOS ROBERTO GONÇALVES. Direito Civil Brasileiro. Vol. VII. Saraiva.
● PABLO STOLZE GAGLIANO/RODOLFO PAMPLONA FILHO. Novo Curso de Direito Civil.
Vol. VII. Saraiva.
● CRISTIANO CHAVES DE FARIAS/NELSON ROSENVALD. Curso de Direito Civil –
Sucessões, Vol. VII, JusPodivm.
● SILVIO VENOSA. Direito Civil – Sucessões. Vol. VII. Atlas.
● PAULO LÔBO. Sucessões. Saraiva.
● CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA. Instituições de Direito Civil. Vol. VI. Forense.
● PAULO NADER. Curso de Direito Civil – Direito das Sucessões. Vol. VI. Forense.
● EUCLIDES DE OLIVEIRA/SEBASTIÃO AMORIM. Inventário e Partilha – Teoria e Prática.
Saraiva.

3.Contextualização da disciplina:

Código Civil (Lei 10.406/2002). Livro V da Parte Especial. Artigos 1.784 a 2027.

Títulos:
Da Sucessão em Geral. Artigos 1784 a 1828.
Da Sucessão Legítima. Artigos 1829 a 1856.
Da Sucessão Testamentária. Artigos 1857 a 1990.
Do Inventário e da Partilha. Artigos 1991 a 2027.

4.Notícia histórica do fenômeno sucessório:


Sociedades mais primitivas: desconhecimento ou proibição. Civilização romana: a origem
religiosa da propriedade privada como fundamento sociológico do fenômeno sucessório. Idade
moderna: dois princípios: a) a sucessão como efeito da propriedade privada (art. 5º, XXII, da
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Constituição). Grande autonomia testamentária. b) a sucessão como proteção à família (art. 5º,
XXX, da Constituição). Imposição legal.

5.Conceito de Direito das Sucessões:


“Disciplina que estuda o modo de adquirir, a título universal ou singular, bens e direitos que
passam de uma pessoa que morre, aos que lhe sucedem, isto é, ocupam sua posição jurídica.”
(Caio Mário).

A sucessão se dá em decorrência da morte de alguém ou pode ser um ato inter vivos, seja por
vontade das partes, seja por força da lei. Sucessão é a transferência, é a transmissão,
substituição de uma pessoa por outra no titular de um domínio, e não pode ser confundida com
herança, que é um acervo patrimonial, que se transmite de um a outro em decorrência da morte
{que enseja a sucessão}. Cumpre ressaltar que os direitos individuais não podem ser transmitidos
a terceiros, portanto, não poderão ser transmitidos com a sucessão.

6.Comentários iniciais:
a) A morte e o princípio da saisine: o Direito das Sucessões passa a incidir a partir da morte de
alguém, é o autor da herança, o “de cujus” (personae de cuiús successione agitur). Art. 1784
do Código Civil: “Aberta a sucessão (o momento da morte), a herança transmite-se, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.” Princípio da saisine (droit de saisine): século
XIII (Paris). Também no Direito Germânico antigo (Der tote erbt den lebenden). A transmissão
dos bens aos herdeiros é imediata, ope legis, e se dá no momento da morte. A partilha
posterior não é atributiva da propriedade. Diferença da abordagem romana: (Delatio –
hereditas iacens – acquisitio). Comriência (art. 8º): herdeiro comoriente não herda. Prova
indireta da morte: justificação (CCB, art. 7º, CPC, art. 719, LRP, art. 88). Ausência (artigos 22 a
39 do Código): as regras sucessórias passam a incidir com a abertura da sucessão provisória
(art. 28), ainda que a morte do ausente só seja legalmente presumida depois.

b) Os artigos 1786, 1788 e 1789 do Código Civil: A sucessão legítima como uma imposição
legal, em favor de familiares próximos (art. 1829), ressalvado o caso de deserdação (art. 1961).
A sucessão testamentária como autonomia de vontade do autor da herança (disposição de
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última vontade). Morte “ab intestato”: incidência da sucessão legítima. Morte com herdeiros
necessários (art. 1845): possibilidade de testamento apenas sobre a metade dos bens. Morte
com testamento parcial, inválido ou caduco: em tudo o que não for abrangido pelo testamento,
ou em que este não puder ser cumprido, voltam a incidir as regras da sucessão legítima.
Sucessão a título universal (herança). Artigos 89 a 91. Sucessão a título singular: legado (só
existe em testamento).
c) Objeto do Direito das Sucessões: bens e direitos patrimoniais. Não os direitos da
personalidade, nem os personalíssimos do direito de família (a educação dos filhos, a
assistência moral, a fidelidade etc.). Observação sobre os alimentos: a obrigação já definida e
existente transmite-se com a herança (art. 1700). Validade de disposições testamentárias de
natureza não patrimonial: a reabilitação do indigno (art. 1818), o reconhecimento de filho (art.
1609, III), a nomeação de tutor (art. 1729, p. único).
04/03/22
DIREITO DAS SUCESSÕES: COMENTÁRIOS INICIAIS
Na aula passada, a propósito do conceito do Direito das Sucessões, começamos a fazer vários
comentários, fundamentais para a compreensão subsequente da matéria.
a) A morte e o princípio da saisine.
b) Os artigos 1786, 1788 e 1789 do Código Civil.
c) Objeto do Direito das Sucessões: bens e direitos patrimoniais. Não os direitos da
personalidade, nem os personalíssimos do direito de família (a educação dos filhos, a
assistência moral, a fidelidade etc. Observação sobre os alimentos: a obrigação já definida e
existente transmite-se com a herança (art. 1700). Validade de disposições testamentárias de
natureza não patrimonial (art. 1857, § 2º): a reabilitação do indigno (art. 1818, o
reconhecimento de filho (art. 1609, III), a nomeação de tutor (art. 1729, p. único).
d) Dívidas do falecido: art. 1792: “O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
demonstrando o valor dos bens herdados.”
- Princípio da irresponsabilidade “ultra vires hereditatis”
- O ônus da prova será sempre do herdeiro. Nos inventários judiciais (CPC, art. 610 a 658),
sempre existirá avaliação dos bens nas partilhas administrativas, extrajudiciais (Lei 11.441/2007.
Resolução 35/2007/CNJ), a questão do valor dos bens tem maior importância.
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e) Lugar e tempo da sucessão. Lei aplicável. Quanto ao lugar, vale o art. 1785, “a sucessão
abre-se no lugar do último domicílio do falecido. A regra define a competência para o inventário
judicial (prevenção, CPC, art. 59). Não vale para as partilhas administrativas. Bens de
estrangeiro situados no país. Aplicação da lei brasileira em benefício de cônjuge e filhos
brasileiros CF/88, art. 5º, XXXI. DL. 4657/42 (LINDB), art. 10, § 1º. Quanto à lei no tempo, rege
a sucessão a lei vigente ao tempo da abertura daquela.
f) Prazo de inventário e partilha. Art. 1796 alude a um prazo de 30 dias. Atualmente, vale o CPC
(Lei 13.105/2015), art. 611: 2 meses. O prazo, no entanto, não tem natureza prescricional ou
decadencial. A qualquer tempo a partilha pode e deve ser feita. Eventual incidência de multa.
Lei 8927/88 – Paraná (ITCMD), art. 18.
g) A figura do administrador provisório. Art. 1797. Leva em conta o inventário judicial. Trata do
administrador provisório dos bens da herança, antes da nomeação (e da assinatura do
compromisso) do inventariante. A previsão se justifica nos casos de demora no ajuizamento de
inventário, legitima os atos de conservação e é fundamento de eventual responsabilidade civil.
I – cônjuge ou companheiro (desde que convivente); II -herdeiro na posse dos bens (se houver
vários, o mais velho); III – o testamenteiro; IV – qualquer pessoa de confiança do juiz.

CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS


Artigos 1793 a 1795 do Código Civil. Noção preliminar de indivisibilidade da herança. Art. 1791:
“A herança defere-se como um todo unitário, mesmo que vários sejam os herdeiros. Parágrafo
único: Até a partilha, o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será
indivisível e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio.”

Por causa da saisine, existindo vários herdeiros, eles recebem o acervo inteiro, a universalidade
dos bens, mas não sabem ainda qual será o seu quinhão e, sobretudo, quais bens “caberão” no
seu quinhão.

A cessão de direitos hereditários é a possibilidade, excepcional, de disposição desse direito,


antes da partilha. É o que diz o art. 1793, caput: “O direito à sucessão aberta, bem como o
quinhão de que disponha o coerdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.” (Porque o
direito à sucessão aberta é imóvel por determinação legal – art. 80, II). Não é exatamente uma
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compra e venda porque não é alienação de coisa certa, é cessão de universalidade (ou fração
ideal de universalidade). O resultado prático será muito parecido ao de uma compra e venda
porque, em regra, a cessão é onerosa.

Duas possibilidades:
1.O herdeiro cede seu quinhão inteiro, sem saber, ainda, quais os bens que o integrarão. Neste
caso, deve sempre dar preferência aos demais herdeiros, nos termos dos artigos 1794 e 1795.

2.Todos os herdeiros cederam seus direitos sobre coisa certa do acervo.

Curiosamente e a opção do legislador não é boa técnica legislativa, os §§ 2º e 3º do art. 1793, ao


invés de destacarem as condições em que uma cessão pode ser regularmente feita, referiram-se
a duas situações em que a cessão é considerada ineficaz. E são situações de ineficácia (não de
invalidade), porque os termos da partilha posteriormente feita, podem ratificar uma cessão
irregular, feita anteriormente por um dos herdeiros.

§ 2º - “É ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da
herança considerado singularmente.” Exemplo: no acervo hereditário existe uma casa. São três
os herdeiros. Como é que apenas um dos herdeiros, antes da partilha, vai ceder a sua parte (1/3
da casa) a alguém, se ele nem sabe se a casa vai lhe ser atribuída na partilha? Por isso tal
cessão será, a princípio, ineficaz.

§ 3º - “Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro,
de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade.” Usando a mesma
situação acima, como é que apenas um dos herdeiros, antes da partilha, vai ceder a casa inteira
do acervo hereditário a alguém? Ele não sabe se a casa vai lhe ser atribuída na partilha. A
alienação de bem certo do acervo, em regra pela atuação do inventariante, antes da partilha, só é
eficaz com a autorização judicial, como ressalvado no texto legal.

Observações: 1. Art. 1793, § 1º: a substituição testamentária e o direito de acrescer são fatos
supervenientes, ligados à sucessão testamentária, que podem acrescentar algo ao quinhão
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original de um herdeiro. Se ele cedeu seus direitos antes, o acréscimo posterior não está
abrangido na cessão feita. 2. Cessão de direitos hereditários feita antes do falecimento do autor
da herança é nula, por força do art. 426 do Código: “Não pode ser objeto de contrato a herança
de pessoa viva.” 3. A inconstitucionalidade do art. 1790 do Código.
11/03/22
A VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
O Código Civil regula a vocação hereditária, isto é, a legitimidade para sucedê-lo nos artigos 1798
a 1803. A regra geral do artigo 1798, em sua aparente simplicidade, “legitimam-se a suceder as
pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão”, revela uma certa
precariedade em face da medicina moderna e as técnicas de reprodução humana assistida.

Em linhas gerais, e nessa parte sequer há controvérsia doutrinária, o Direito brasileiro não
reconhece a vocação hereditária a animais. É bem verdade que as modernas legislações
europeias começam a reconhecer a alguns animais de estimação a condição de seres
sencientes, e não simplesmente bens móveis semoventes, no sentido de atribuir-lhes um
tratamento jurídico diferenciado. Mas mesmo essa categorização não transforma animais em
sujeitos de direito; pelo menos por enquanto. A única forma de envolver animais na questão
sucessória é, mediante testamento, atribuir a alguma pessoa herança ou legado e impor a ela, em
caso de aceitação, o encargo (elemento acidental do negócio jurídico, art. 136 do Código) de
cuidar de certo animal.

Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da


abertura da sucessão.

Para receber herança ou legado exige-se a condição humana e estar vivo. Herdeiro pré-morto e
comoriente não herda, salvo o direito de representação, nos termos do art. 1851 e seguintes do
Código. Em relação ao nascituro, preservam-se seus direitos sucessórios para quando vier a
nascer com vida, pela figura da reserva de quinhão em inventário (art. 650 do Código de
Processo Civil). Quanto ao embrião, o posicionamento predominante no Direito Brasileiro, na
linha da ADIn 3510/2008/STF, é o de que não tem ainda direitos sucessórios, não podendo ser
equiparado ao nascituro. Pessoalmente, no entanto, tenho minhas dúvidas quanto a esta
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conclusão no caso de reprodução assistida post mortem, mas há uma certa perplexidade
doutrinária a respeito, além da lacuna legislativa.
O artigo 1799 traz uma ampliação da legitimidade sucessória na sucessão testamentária. No
inciso I, admite disposição testamentária em favor de prole eventual, em favor de “filhos, ainda
não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se à
sucessão". A gestação, no entanto, deverá iniciar-se no prazo máximo de dois anos, a contar da
abertura da sucessão, sob pena de caducidade (art. 1800, §4º, do Código). Notem como o
Código, em vários momentos, como aqui, confunde concepção com início de gravidez.
Atualmente, são coisas distintas. Além disso, existe a interessante questão de se saber se a
adoção, para evitar a caducidade da disposição, supre a filiação biológica. O entendimento
predominante, até por força de princípio constitucional, é no sentido afirmativo, salvo se houver
disposição restritiva específica a respeito, por parte do testador. Os outros dois incisos deste art.
1799 se referem a pessoas jurídicas, tanto as existentes, que o testador quer beneficiar, quanto
as que ele manda constituir, sob a forma de fundação, com o seu patrimônio disponível ou parte
dele, na forma do que dispõe o art. 62 e seguintes do Código.

Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:


I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas
ao abrir-se a sucessão;
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de
fundação {pessoa jurídica que ainda não existe formalmente} {nasce em função da herança
deixada pelo falecido}.

Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente {filho ainda não concebido}, os bens da
herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, ao curador nomeado pelo juiz.
§ 1° Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à pessoa cujo filho o
testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pessoas indicadas no art. 1.775.
§ 2° Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado, regem-se pelas
disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que couber.
§ 3° Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os frutos e
rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador.
§ 4° Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro
esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos
herdeiros legítimos.
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O art. 1801 do Código, em 4 incisos, afasta a legitimidade de certas pessoas para suceder, na
sucessão testamentária. Os incisos I, II e IV se referem a pessoas que, direta ou indiretamente,
participaram da elaboração do testamento. A Lei afasta a possibilidade de serem beneficiadas
nele, porque poderiam influir na liberdade que o testador deve ter no dispor de seus bens para
depois da morte. A proibição estende-se aos familiares próximos de tais pessoas. A maior
atenção, todavia, deve ser dada ao inciso III, sobretudo porque sua redação desastrada criou um
abismo entre o que o legislador disse e o que quis dizer. Literalmente, dispõe: “Não podem ser
nomeados herdeiros nem legatários...o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa
sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos.” A expressão “concubino” é
historicamente pejorativa. O que o legislador quis proibir é que cúmplice de adultério fosse
beneficiado em testamento. Só isso.
A referência ao prazo de 5 anos de separação de fato, e à ausência de culpa do testador, por
essa separação, são inadequadas. Primeiro porque cabe ao juiz, em cada caso concreto, avaliar
o caráter adulterino de uma relação, independente do tempo transcorrido; em segundo lugar,
porque é operacionalmente inviável ressuscitar a discussão de culpa por uma separação de fato,
quando um dos cônjuges já faleceu (na falta de prova clara a esse respeito ao tempo da
separação). Por tudo isso, é mais acertada a conclusão expressa no Enunciado 269 do III Ciclo
de Jornadas de Direito Civil: a proibição não se aplica às uniões estáveis, pouco importa a
questão do tempo de separação.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os
seus ascendentes e irmãos {proibidos de concorrer};
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do
cônjuge há mais de cinco anos {o amante do falecido, salvo se este já estiver separado de fato
há mais de 5 anos};
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como
o que fizer ou aprovar o testamento.

Os dois artigos subsequentes complementam a lógica do tema, como visto até aqui. São nulas as
disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, mesmo que
dissimuladas sob a forma de contrato oneroso (ex. uma confissão de dívida que não existe), ou
por interposta pessoa, que é uma forma clássica de simulação. Não podendo beneficiar a
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“amante”, o testador testa em favor da mãe dela. Reparem no Parágrafo único deste art. 1802:
interposta pessoa pode ser qualquer indivíduo, mas a simulação precisará, aí, ser provada,
mesmo que indiretamente. Se beneficiados forem os parentes ali mencionados (da pessoa não
legitimada a suceder), a simulação, em grande parte, se presume. O art. 1803 só reafirma um
imperativo constitucional (art. 227, § 6º). O filho que o testador teve, mesmo com a cúmplice do
adultério, pode ser beneficiado em testamento, até porque também é herdeiro necessário, na
qualidade de descendente. Claro, então, que não será interposta pessoa no sentido da
simulação.

Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a
suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os
irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.

VOCAÇÃO HEREDITÁRIA - ESQUEMA COMPLEMENTAR


DIREITO DE REPRESENTAÇÃO (ARTIGOS 1851 a 1856)
1.NA LINHA DESCENDENTE
A - Autor da herança
/ \
/ \
/ \
Filho vivo B C - Filho pré-morto
/ \
C¹ C² - Filhos de C, netos do autor da herança

2.NA LINHA COLATERAL


Irmão Irmão pré-morto
Autor da herança - A -----------B-------------C
/ \
C¹ C² - Filhos de C, sobrinhos do autor da herança

ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DE HERANÇA


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Tais negócio jurídicos estão regulados, conjuntamente, no Código Civil, nos artigos 1804 a 1813.
Na doutrina, para melhor sistematização e compreensão, são tratados separadamente, e é assim
que passamos a, sinteticamente, comentá-los.

Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a
abertura da sucessão.
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à
herança.

ACEITAÇÃO DE HERANÇA:
É negócio jurídico unilateral, informal e não receptício, que é muito mais uma confirmação da
vontade de recolher a herança, porque, em razão do princípio da saisine (art. 1784), não é pela
aceitação que se dá a transmissão. A doutrina, por isso, critica os termos do art. 1804, caput:
“Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão....” Está ambíguo porque a transmissão,
operada pela saisine, não é provisória.

Não admite condição ou termo, é irrevogável (impossibilidade de arrependimento, não confundir


com invalidade) e indivisível, com as ressalvas, em relação a esta última característica, dos §§ 1º
e 2º do art. 1808. Explicando melhor: ou bem se aceita a todo quinhão hereditário, ou bem não se
aceita. Não tem como ficar escolhendo bens. Mas se um sucessor concorrer, numa mesma
sucessão, com títulos sucessórios diversos, ele pode aceitar um e renunciar ao outro. Exemplo:
se o autor da herança faz um testamento dizendo: “Deixo ao meu filho A, além da legítima, a
metade do meu patrimônio disponível”, este herdeiro A, além de herdeiro legítimo, porque é filho,
é também herdeiro testamentário (a metade da disponível). Poderá, então, aceitar uma das
massas hereditárias e renunciar à outra. Não que tenha que fazê-lo. O Código o permite. Da
mesma forma, se o autor da herança disser: “Deixo ao meu filho A, além da legítima, a casa da
rua X.” Este sucessor, A, concorre com dois títulos diversos: é herdeiro legítimo porque é filho, e é
legatário em razão da deixa testamentária em seu favor. Poderá, então, aceitar a um dos
benefícios e renunciar ao outro, se quiser.

TIPOS DE ACEITAÇÃO:
a) Expressa: a lei exige apenas declaração escrita (art. 1805, caput)
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Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando
tácita, há de resultar tão-somente de atos exclusivos e próprios da qualidade de herdeiro.

b) Tácita: atos próprios da qualidade de herdeiro (art. 1805, caput, com a ressalva do § 1º) A
jurisprudência em geral tem entendido que a defesa até judicial de bens da herança, é sinal de
que o herdeiro a aceitou. Ceder direitos hereditários também, porque você só cede o que
considera seu. Tomar a iniciativa do inventário, nem sempre. Há decisões nos dois sentidos.
Existe uma espécie de superfetação no § 1º, quando dispõe que, proceder ao funeral do falecido,
ou praticar atos de conservação e guarda provisória não induzem aceitação. Tudo vai depender
do que acontecer dentro de dez anos (vide observação abaixo)
Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando
tácita, há de resultar tão-somente de atos exclusivos e próprios da qualidade de herdeiro.
§ 1° Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado {qualquer
um poderia providenciar o funeral, não é ato próprio de herdeiro}, os meramente conservatórios,
ou os de administração e guarda provisória.
§ 2º Não importa igualmente a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais
co-herdeiros.

c) Presumida: o herdeiro, instado a se manifestar sobre se aceita, ou não, a herança, silencia


(art. 1807). O silêncio é entendido como aceitação.
Observação: há uma preocupação excessiva no Direito Brasileiro com a aceitação (vestígio,
talvez, do Direito Romano onde, em muitos casos, a transmissão se dava com a aceitação). Ao
cabo de dez anos da abertura da sucessão, independentemente do tipo de aceitação, ela se
considera aceita porque o herdeiro decaiu do direito de renunciar.
Aceitação ou renúncia por terceiros interessados.
Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte
dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele,
se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita.
A aceitação pode ser feita tanto pela própria pessoa, como por outros de maneira indireta
{curador, credor, país}.
18/03/22
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ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DE HERANÇA
Tais negócio jurídicos estão regulados, conjuntamente, no Código Civil, nos artigos 1804 a 1813.
Na doutrina, para melhor sistematização e compreensão, são tratados separadamente, e é assim
que passamos a, sinteticamente, comentá-los.

ACEITAÇÃO DE HERANÇA:
É negócio jurídico unilateral, informal e não receptivo, que é muito mais uma confirmação da
vontade de recolher a herança, porque, em razão do princípio da saisine (art. 1784), não é pela
aceitação que se dá a transmissão. A doutrina, por isso, critica os termos do art. 1804, caput:
“Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão....” Está ambíguo porque a transmissão,
operada pela saisine, não é provisória.

Não admite condição ou termo, é irrevogável (impossibilidade de arrependimento, não confundir


com invalidade) e indivisível, com as ressalvas, em relação a esta última característica, dos §§ 1º
e 2º do art. 1808. Explicando melhor: ou bem se aceita a todo quinhão hereditário, ou bem não se
aceita. Não tem como ficar escolhendo bens. Mas se um sucessor concorrer, numa mesma
sucessão, com títulos sucessórios diversos, ele pode aceitar um e renunciar ao outro. Exemplo:
se o autor da herança faz um testamento dizendo: “Deixo ao meu filho A, além da legítima, a
metade do meu patrimônio disponível”, este herdeiro A, além de herdeiro legítimo, porque é filho,
é também herdeiro testamentário (a metade da disponível). Poderá, então, aceitar uma das
massas hereditárias e renunciar à outra. Não que tenha que fazê-lo. O Código o permite. Da
mesma forma, se o autor da herança disser: “Deixo ao meu filho A, além da legítima, a casa da
rua X.” Este sucessor, A, concorre com dois títulos diversos: é herdeiro legítimo porque é filho, e é
legatário em razão da deixa testamentária em seu favor. Poderá, então, aceitar a um dos
benefícios e renunciar ao outro, se quiser.

TIPOS DE ACEITAÇÃO:
a) Expressa: a lei exige apenas declaração escrita (art. 1805, caput)
b) Tácita: atos próprios da qualidade de herdeiro (art. 1805, caput, com a ressalva do § 1º) A
jurisprudência em geral tem entendido que a defesa até judicial de bens da herança, é sinal de
que o herdeiro a aceitou. Ceder direitos hereditários também, porque você só cede o que
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considera seu. Tomar a iniciativa do inventário, nem sempre. Há decisões nos dois sentidos.
Existe uma espécie de superfetação no § 1º, quando dispõe que, proceder ao funeral do falecido,
ou praticar atos de conservação e guarda provisória não induzem aceitação. Tudo vai depender
do que acontecer dentro de dez anos (vide observação abaixo)
c) Presumida: o herdeiro, instado a se manifestar sobre se aceita, ou não, a herança, silencia
(art. 1807). O silêncio é entendido como aceitação.

Observação: há uma preocupação excessiva no Direito Brasileiro com a aceitação (vestígio,


talvez, do Direito Romano onde, em muitos casos, a transmissão se dava com a aceitação). Ao
cabo de dez anos da abertura da sucessão, independente do tipo de aceitação, ela se considera
aceita porque o herdeiro decaiu do direito de renunciar.

CLASSIFICAÇÃO DA ACEITAÇÃO QUANTO À PESSOA QUE A MANIFESTA:


1.Direta: pelo próprio herdeiro.
2.Indireta:
a) pelos sucessores do herdeiro (art.1809). A expressão: “...a menos que se trate de vocação
adstrita a uma condição suspensiva ainda não verificada.” É uma situação muito difícil de
acontecer, e só se refere à herança testamentária, não à legítima. Se no testamento, por
exemplo, se dispõe: “Deixo a Beltrano a metade do meu patrimônio disponível, se ele se formar
em Direito”, criou-se uma condição suspensiva ao recebimento. Se Beltrano faleceu antes de se
formar, a disposição caduca, porque o direito potestativo de aceitar a herança não passou a seus
filhos (era ele, Beltrano, que tinha que formar-se em Direito).

b) por mandatário (art. 653. É negócio que admite representação convencional)

c) por pais, tutores ou curadores (arts. 1691, 1748, II, e 1781)

d) por credores do herdeiro (art. 1813). Se o herdeiro renuncia à herança, só para não ter
patrimônio para pagar suas dívidas, a renúncia é fraudulenta. O Código não quis usar a
expressão “fraude contra credores”, porque a situação não pressupõe insolvência deste herdeiro,
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nem exige ação pauliana. Os credores deste herdeiro poderão, autorizados pelo juiz, aceitar a
herança em seu lugar.

RENÚNCIA DE HERANÇA:
É negócio jurídico unilateral, formal (o art. 1806, exige que seja feita por escritura pública ou
termo judicial, em geral nos autos de inventário, mas há a ressalva do art. 1913, envolvendo a
situação raríssima de legado de coisa alheia, onde a lei admite renúncia tácita), não receptício e
com efeitos retroativos (art. 1804, parágrafo único).

Não admite condição ou termo, é irrevogável e indivisível, com as ressalvas dos §§ 1º e 2º do art.
1808.

TIPOS DE RENÚNCIA:
A classificação, aqui, é por si imprópria. A doutrina trata de renúncia abdicativa e renúncia
translativa quando, na verdade, renúncia é só a primeira. O herdeiro não deseja receber o seu
quinhão (e ninguém poderia ser compelido a receber patrimônio que não deseja), e este quinhão
retorna ao monte (ao acervo hereditário), para ter a destinação prevista em lei. O § 2º do art.
1805 a isso se refere, embora com redação totalmente inadequada. Renúncia não é cessão! A
impropriamente chamada renúncia translativa, na verdade, camufla uma dupla negociação,
porque o suposto “renunciante” indica outro herdeiro específico a quem quer favorecer. A rigor,
então, aceita a herança e depois a cede gratuitamente a terceiro. Haverá dupla incidência
tributária.

EFEITOS DA RENÚNCIA:
Estão descritos nos artigos 1810 e 1811 do Código Civil. Na renúncia, a parte do renunciante
acresce aos demais herdeiros do mesmo grau (situação onde existe direito de acrescer na
sucessão legítima). Não há direito de representação na renúncia! Este aspecto é muito
importante. Se o renunciante for o único do seu grau, ou se todos os demais do seu grau
renunciarem, os filhos virão à sucessão por direito próprio e por cabeça.

Análise do esquema:
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A
/ \
/ \
/ \
(filho) B C (filho)
/ \ / \
/ \ / \
(netos) b¹ b² c¹ c² (netos)

A título de conclusão dessa parte da matéria, reparam que renunciar à herança é, tecnicamente,
um ato de disposição patrimonial. Aliás, disposição patrimonial imobiliária, porque o direito à
sucessão aberta é imóvel por determinação legal (art. 80, II). Exige capacidade de exercício e
autorização judicial, se os pais quiserem renunciar a uma herança pelo filho menor (art. 1691).
Nesta perspectiva, tutores e curadores, nem com autorização judicial poderiam fazê-lo, à luz do
art. 1749, II, embora haja certa controvérsia doutrinária a respeito. A renúncia admite
representação e exige autorização conjugal, se casado for o renunciante, nos termos do art.
1647, I, do Código. Por fim, em interpretação extensiva do art. 426, só se cogita de renúncia de
herança depois de aberta a sucessão, e não antes.

_________________________________
INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO
Sob o título “Dos Excluídos da Sucessão”, os artigos 1814 a 1818 do Código Civil tratam da
indignidade. Indiretamente, tratam também da deserdação, instituto a fim, regulado lá na
Sucessão Testamentária, nos artigos 1961 a 1965.

A indignidade é um conceito mais amplo, porque se aplica a qualquer sucessor. A deserdação,


somente aos herdeiros necessários. A explicação (ou justificativa) de ambas, todavia, é igual:
certos atos, violentos ou ofensivos, contra o autor da herança ou seus familiares próximos, são
moralmente incompatíveis com a pretensão dele receber herança ou legado. A lei não pode
admitir, para ficarmos num exemplo cinematográfico, que se mate uma pessoa para receber a
herança dela.
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Casos de indignidade (art. 1814):
I – Homicídio doloso, consumado ou tentado, contra o autor da herança, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente, quer na condição de autor, coautor ou partícipe. Fica
afastado, assim, como hipótese de indignidade, o homicídio culposo. Dois aspectos importantes:

a) não é necessária a prévia condenação penal, porque são dimensões distintas de incidência do
ordenamento jurídico (ainda que isso pareça contraditório com o princípio constitucional da
presunção de inocência (CF/88, art 5º, LVII). Evidentemente, no entanto, a absolvição expressa
na esfera penal afastará também a indignidade. b) a possibilidade de decisões contraditórias na
esfera civil e penal, na linha do disposto no art. 935 do Código Civil, pode recomendar o
sobrestamento da ação de exclusão (Código de Processo Penal, art.64) até a decisão criminal
definitiva.

II - Acusação caluniosa, em juízo, contra o autor da herança, seu cônjuge ou companheiro, ou


incorrer, contra eles, em crime contra sua honra. A redação nos remete aos tipos penais da
denunciação caluniosa (Código Penal, art. 339) e dos crimes contra a honra (Código Penal, art.
138 a 140), mas o texto do inciso não é bom. Na primeira parte, contenta-se com a expressão
"acusado caluniosamente em juízo”; na segunda, alude a “incorrer em crime contra a honra”,
dando a entender que não há necessidade de condenação criminal, na primeira parte (sequer a
tipificação da denunciação propriamente dita), e que há necessidade de prévia condenação
penal, na segunda parte, pelo crime contra a honra. Numa interpretação sistemática da lei, se
nem no caso mais grave de homicídio exige-se a prévia condenação penal, nos casos do inciso II
ela também não seria exigível. Mas o entendimento doutrinário não é pacífico a respeito.

III – Violência ou meio fraudulento que inibe ou obsta o autor da herança de livremente dispor dos
seus bens para depois da morte. Aqui a referência legal é bastante aberta e flexível, abrangendo
condutas, criminosas ou não, de coagir o autor da herança a fazer ou deixar de fazer testamento
de certa maneira, ocultar ou destruir o testamento, adulterá-lo, ou ainda criar empecilhos ao seu
cumprimento.
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A exclusão por indignidade não exige manifestação prévia do autor da herança (o que é óbvio no
caso de homicídio consumado), mas exige ação específica promovida por qualquer interessado
naquela sucessão, no prazo decadencial de quatro anos a contar da abertura da sucessão (art.
1815). Não é algo que se decida em simples incidente de inventário. Se o ato de indignidade for
posterior à morte, o prazo tem que começar da data do ato, e não da morte, porque não se pode
exigir de alguém o exercício de um direito antes dele nascer. Havia grande polêmica doutrinária
sobre a legitimidade ativa do Ministério Público para tal demanda. A Lei 13.532/2017, ao
acrescentar o § 2º ao art. 1815, pôs fim à celeuma, ao dispor que, no caso do inciso I do art.
1814, o Ministério Público tem esta legitimidade.

Os dois artigos seguintes do Código Civil, o 1816 e o 1817, tratam dos efeitos da exclusão por
indignidade. O primeiro esclarece que são pessoais os efeitos da exclusão, “os descendentes do
herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.” Ao aludir à
representação (art. 1851), parece claro que isso só se aplica à sucessão legítima, não à
testamentária. Se tais descendentes do excluído forem menores, o excluído não terá, sobre essa
massa de bens, usufruto ou administração, nem poderá recebê-los por herança, se algum desses
descendentes vier a falecer. São os chamados bens ereptícios. O art. 1817 contém uma
disposição curiosa: alude à validade das alienações onerosas a terceiros de boa-fé, e dos atos de
administração praticados antes da sentença de exclusão. Se ele é considerado como se fosse
pré-morto, não faria sentido ressalvar a validade de atos praticados depois da abertura da
sucessão. A lógica do artigo, no entanto, é que é necessário proteger terceiros de boa-fé que
contratam com este indigno, sem saber da sua condição. Ele, de todo modo, se sujeita a
indenizar os demais herdeiros por prejuízos causados, assim como terá de devolver frutos e
rendimentos obtidos, posto ser (pelo menos a partir da citação) considerado possuidor de má-fé.

Por fim, o art. 1818 trata da reabilitação do indigno. A palavra “reabilitação” tem, aqui, o sentido
de perdão. Pode ocorrer que o autor da herança, depois da prática do ato de indignidade contra
ele, se manifesta por testamento ou outro ato autêntico (obviamente não será o caso do homicídio
consumado), perdoando o autor do ato (seu herdeiro ou legatário). Tal manifestação de vontade
afasta a exclusão por indignidade. É a reabilitação expressa. De forma semelhante, se o autor da
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herança, mesmo ciente do ato de indignidade cometido por um dos seus sucessores, mesmo
assim o contempla em testamento, é porque o perdoou. É a chamada reabilitação tácita.

DESERDAÇÃO
A deserdação é instituto típico da sucessão testamentária, regulada nos artigos 1961 a 1965 do
Código Civil. É analisada aqui, nesse momento, por conta da grande afinidade que tem com o
instituto da indignidade. É o ato pelo qual o autor da herança, por testamento e com expressa
alusão à causa, priva herdeiros necessários de sua legítima.

Além das três situações descritas no art. 1814, o art. 1962 se refere aos casos de ascendentes
deserdando seus descendentes, e o art. 1963 se refere aos casos de descendentes deserdando
seus ascendentes. Na análise comparativa de ambos, o texto é praticamente idêntico. Com certo
esforço gramatical, poderiam ser reduzidos a um só dispositivo: I – ofensa física; II – injúria grave;
III – relações ilícitas (com madrasta/padrasto ou cônjuge/companheiro do descendente); IV –
desamparo em caso de alienação/deficiência mental ou grave enfermidade. Dois destaques, aqui:
a) a difusa palavra “relações ilícitas”, evidentemente aponta para aquelas de natureza sexual; b) o
legislador não especificou casos em que o cônjuge (também herdeiro necessário), poderia ser
deserdado. Há dois entendimentos doutrinários: pelo primeiro, ao cônjuge só se aplicariam os
casos do art. 1814. Pelo segundo, mais aconselhável, as situações descritas nos artigos 1962/63
aplicam-se também ao cônjuge. É uma interpretação sistemática da lei.

O art. 1964 do Código Civil dispõe que: “Somente com expressa declaração de causa pode a
deserdação ser ordenada em testamento.” A lei sugere, portanto, que a enumeração legal seja
taxativa, o que deve ser entendido com certo cuidado. Existem, aqui, referências a conceitos
abertos, de hermenêutica flexível: o alcance de obstar ou inibir o autor da herança de dispor dos
seus bens, o alcance de injúria grave, o alcance das relações ilícitas (mesmo circunscritas às de
conteúdo sexual), etc. Por fim, quanto a este artigo, para a maior parte da doutrina, a falta ou
inadequação da causa, mencionada pelo testador, não leva por si à nulidade da disposição
testamentária. Embora descaracterize a deserdação, pode ser compreendida como intenção do
autor da herança de excluir o suposto “deserdado” da porção disponível da herança.
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O último artigo do Código que trata da deserdação, o 1965, em sua literalidade dispõe que cabe
ao interessado provar a veracidade da causa alegada pelo testador. Em termos práticos, a
deserdação exige ação própria, não podendo simplesmente ser declarada no curso de um
inventário judicial. O parágrafo único define o prazo decadencial de quatro anos, a contar da data
da abertura do testamento, o que é uma expressão dúbia. A doutrina majoritária tem entendido
que o prazo se conta a partir da data de apresentação do testamento ao Poder Judiciário.

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HERANÇA JACENTE E PETIÇÃO DE HERANÇA

HERANÇA JACENTE

A situação de herança jacente está regulada no Código Civil, artigos 1819 a 1823. No art. 1819
encontramos os parâmetros do instituto: “Falecendo alguém sem deixar testamento, nem herdeiro
legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a
guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou
à declaração de sua vacância.” No Código de Processo Civil, os artigos 738 a 743 dedicam-se ao
tema na perspectiva processual.

O que se focaliza, aqui, é a situação em que uma pessoa falece, deixa bens, mas não há
herdeiros conhecidos, nem legítimos, nem testamentários. A lei prevê, então que, se a situação
chegar ao conhecimento do Poder Judiciário, por provocação, por exemplo, da autoridade policial
ou do Ministério Público, deve ser instaurado o procedimento de herança jacente, no qual o juiz
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nomeia um curador para, essencialmente, arrecadar os bens e, sob a supervisão do juiz, praticar
atos de conservação dos mesmos. Segue-se a publicação de editais em ambiente virtual, ou pelo
menos três, um a cada trinta dias, para que eventual herdeiro se habilite. Havendo habilitação do
herdeiro (demonstração de que, de fato, ele tem essa condição), o procedimento converte-se em
inventário, com a adjudicação dos bens ao habilitado. Nesta fase há a possibilidade, também, de
habilitação de credores do falecido, porque, também aqui, os bens que uma pessoa deixa ao
falecer respondem pelo pagamento das dívidas que ele deixa em aberto.

Ao término dessa fase, não havendo habilitações pendentes (passado um ano da publicação do
primeiro edital, ou decorridos cinco anos da abertura da sucessão), o juiz declara a herança
vacante. (CPC, art. 743 c/c CCB, art. 1822). A declaração de vacância marca a incorporação de
tais bens ao Poder Público (Município ou Distrito Federal, conforme a situação dos bens).
Subsidiariamente, à União Federal.

Um detalhe prático, aqui, que quero destacar, e que muitas vezes inviabiliza o mecanismo
exposto acima. O Poder Público não é herdeiro legítimo. A ele não se aplica o princípio da
saisine. O Poder Público só arrecada o vago. Isso quer dizer que, desde a abertura da sucessão,
os bens que o falecido deixou, sem herdeiros conhecidos, são particulares (não são públicos
ainda) e, portanto, usucapíveis por terceiros. Fácil imaginar a grande possibilidade de alguém
simplesmente se apossar dos bens, antes de instaurar-se o procedimento da herança jacente.
Esse é o entendimento amplamente dominante na doutrina. Cuidado, nessa parte, com o
entendimento minoritário de Paulo Lôbo, Direito Civil – Sucessões. Saraiva.

PETIÇÃO DE HERANÇA
Os artigos 1824 a 1828 do Código Civil tratam de uma demanda típica do direito das sucessões
que é a petição de herança. Tal demanda nasceu da práxis forense, no curso do século XX,
sendo gradativamente incorporada pela doutrina e pela jurisprudência, ainda que não houvesse
previsão legislativa específica a respeito dela. Nesse sentido, os artigos do Código são novidade.
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O artigo 1824 contém uma boa síntese conceitual: “O herdeiro pode, em ação de petição de
herança, demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da
herança, ou parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.”
Trata-se, fundamentalmente, de um herdeiro preterido (que deveria participar de uma sucessão,
mas não participou), reclamando a devolução da herança, ou de parte dela, contra quem a
recolheu. Notem, desde logo, que a demanda não cabe a legatários. Como o legatário é sucessor
a título singular, se ele não recebe o bem que deveria receber por força do testamento, ele terá,
contra os herdeiros, ação reivindicatória, ou ação de cobrança, ou ação para cumprimento de
obrigação de fazer, conforme a natureza do legado. Nunca ação de petição de herança!

O primeiro aspecto que chama atenção, no texto do artigo, é que o autor visa “obter a restituição
da herança, ou parte dela...” Para entender as duas possibilidades, o mais fácil é raciocinarmos
com exemplos.
1) Imaginem o autor da herança casado, com dois filhos que, em razão de uma relação
extraconjugal, tem um terceiro filho, que mantém escondido da família “oficial”. Ele falece. A viúva
e os dois filhos começam a providenciar a partilha de bens quando são surpreendidos com a
notícia da existência do terceiro filho. Não havendo acordo, este terceiro filho entra com a ação de
petição de herança reclamando a sua parte na herança do pai. Ele, adulterino ou não, por ser
filho, herda em igualdade de condições (o mesmo quinhão) dos outros dois. Na ação, portanto,
ele reclama parte da herança.

2) Imaginem três irmãos já adultos, um dos quais, em certo período da vida, muda de cidade, se
afasta dos outros dois, por conta de algum projeto pessoal, e vem a ter um filho. Retornando
depois à sua cidade de origem, volta a conviver com os irmãos e participar dos negócios “da
família”. Aí falece. Os dois irmãos, na falta de outros herdeiros do falecido, recolhem a herança na
qualidade de colaterais. Ou por má-fé, ou por ignorância, o único filho do falecido é preterido.
Sabendo depois que seu pai morreu, na falta de acordo com os “tios”, entra com a ação. Ele
reclama a devolução da herança toda que o pai lhe deixou, por ser filho único. Ele está em
primeiro lugar na ordem de vocação hereditária, prefere aos colaterais. Por isso a lei abre as duas
possibilidades. Tudo está a depender da qualidade sucessória do autor em face dos réus da
demanda. O artigo 1825 refere-se à mesma coisa.
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A ação de petição de herança é uma ação real e universal. Real porque se fundamenta na
propriedade, dirigida contra quem está na posse da herança. Universal porque envolve uma
universalidade de bens. Ou a herança toda, ou fração ideal da herança, o que continua sendo
universalidade. Reparem que, neste pormenor, existe uma diferença conceitual com a ação
reivindicatória, que se refere a bem individualizado ou individualizável. Tradicionalmente, a posse
dos réus tinha que ser pro herede, ou seja, os réus tinham que estar na posse da herança na
qualidade de sucessores hereditários. Quando o artigo 1824 dispõe: “...contra quem, na qualidade
de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua...” afastou tal requisito. Seria a situação da viúva que
permanece na posse dos bens, muito mais como meeira do que herdeira. Normalmente, contudo,
a posse dos réus continua sendo pro herede. O artigo 1827, por exemplo, continua se referindo
ao réu como “herdeiro aparente”.

Quando há herdeiro preterido, que tem prova pré-constituída da sua qualidade de herdeiro (por
exemplo, certidão de nascimento com o nome do falecido pai, mesmo em se cuidando de filho
adulterino), e existe inventário judicial pendente, não há necessidade de promover-se ação de
petição de herança. Basta habilitar-se, na qualidade de herdeiro, pleiteando a sua admissão. É
disso que trata o art. 628 do Código de Processo Civil. Mesmo sem haver essa
prova-pré-constituída, ou se ela for precária, ou ainda, se for impugnada pelos demais herdeiros,
o juiz os encaminhará às vias ordinárias, mas poderá reservar quinhão, preservando o direito
sucessório daquele herdeiro. Quando não há inventário judicial pendente, nem prova
pré-constituída da condição de herdeiro, aí tem lugar a ação de petição de herança (obviamente,
quando não há acordo). Nestes casos, falta de prova pré-constituída da qualidade de herdeiro,
será necessária uma cumulação de pedidos, por exemplo: Ação de investigação de paternidade
cumulada com petição de herança; ação declaratória de união estável cumulada com ação de
petição de herança. O segundo pedido, de caráter sucessório, é subordinado ao acolhimento do
primeiro.

A doutrina, em sua ampla maioria, tem entendimento no sentido de que a ação de petição de
herança sujeita-se ao prazo decenal, por aplicação do art. 205 do Código Civil, a contar da
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abertura da sucessão. Há entendimentos minoritários sustentando a imprescritibilidade da
demanda (Orlando Gomes, Giselda Maria F.N. Hironaka), principalmente ao argumento de que a
ação de estado, objeto do primeiro pedido, não prescreve. São interessantes as observações
feitas, a propósito, por Caio Mário da Silva Pereira em suas Instituições, vol VI.

Os artigos 1826 e 1827 tratam dos efeitos do acolhimento da demanda. O réu vencido deverá, no
todo ou em parte, devolver os bens da herança que recolheu, ou indenizar o autor pelo valor dos
que não existirem mais em seu poder; deverá também devolver frutos e rendimentos de tais bens
porque, na melhor das hipóteses a partir da citação, será possuidor de má-fé. Implicitamente, o
acolhimento de uma ação de petição de herança implica na anulação da partilha anterior, que
eventualmente tenha sido feita.

Três detalhes finais: 1) O parágrafo único do art. 1827 ressalva a eficácia das alienações
anteriores, feitas pelo réu, herdeiro aparente vencido, a título oneroso, a terceiros de boa-fé. A
disposição tem a mesma lógica do art. 1817. Tanto aqui, quanto lá na indignidade, há
necessidade de proteger a boa-fé de terceiros, que não tem obrigação legal de conhecer a
condição jurídica futura de quem lhe aliena um bem. 2) O caput do art. 1827 admite que a ação
de petição de herança possa ser proposta contra o herdeiro aparente que a recolheu e terceiros
que estejam em poder dos bens. A questão exige certo cuidado. Incluir terceiros no pólo passivo
da demanda pode tornar a questão probatória tão complexa (sobre eventual boa-fé na sua posse)
que inviabilizará a demanda. Mas é uma análise a ser feita com as circunstâncias de cada caso.
3) O artigo 1828 alude a uma hipótese em que o herdeiro aparente, réu vencido na ação de
petição de herança, de boa-fé cumpriu um legado, que o autor da herança instituiu em seu
testamento. Por exemplo: entregou a casa da rua X a Beltrano, conforme orientação
testamentária. Posteriormente vencido na ação de petição de herança, teria de devolver todos os
bens. Mas o legado, se regularmente instituído, de todo modo teria que ser cumprido, pouco
importa que o tenha sido pelo herdeiro aparente, ou pelo verdadeiro sucessor, vencedor da ação
petitória. Daí o sentido da ressalva legal.
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