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LITERATURA

REALISMO/NATURALISMO
1. INTRODUÇÃO conhecem o golpe fatal em 1922, com a Semana de
Arte Moderna.
A poesia do final da década de 1860 já anunci-
ava o fim do Romantismo; Castro Alves, Sousândra- 2. MOMENTO HISTÓRICO
de e Tobias Barreto faziam uma poesia romântica na
O Realismo reflete as profundas transforma-
forma e na expressão, mas os temas estavam voltados
ções econômicas, políticas, sociais e culturais da se-
para uma realidade político-social. O mesmo se pode
gunda metade do século XIX. A Revolução Industrial
afirmar de algumas produções do romance românti-
iniciada no século XVIII entra numa nova fase, ca-
co, notadamente a de Manuel Antônio de Almeida,
racterizada pela utilização do aço, do petróleo e da
Franklin Távora e Visconde de Taunay. Era o pré-
eletricidade; ao mesmo tempo, o avanço científico
Realismo que se manifestava.
leva às novas descobertas nos campos da Física e da
Na década de 70, surge a chamada escola de
Química. O capitalismo se estrutura em moldes mo-
Recife, com Tobias Barreto, Sílvio Romero e outros,
dernos, com o surgimento de grandes complexos in-
aproximando-se das idéias européias ligadas ao Posi-
dustriais; por outro lado, a massa operária urbana
tivismo, ao Evolucionismo e, principalmente, à filo-
avoluma-se, formando uma população marginalizada
sofia alemã. São os ideais do Realismo que
que não partilha dos benefícios gerados pelo progres-
encontravam ressonância no conturbado momento
so industrial mas, pelo contrário, é explorada e sujeita
histórico vivido pelo Brasil, sob o signo do abolicio-
a condições subumanas de trabalho.
nismo, do ideal republicano e da crise da Monarquia.
Esta nova sociedade serve de pano de fundo
Em 1857, o mesmo ano em que no Brasil era
para uma nova interpretação da realidade, gerando
publicado “O guarani”, de José de Alencar, na Fran-
teorias de variadas posturas ideológicas. Numa se-
ça, é publicado “Madame Bovary”, de Gustave Flau-
qüência cronológica, temos o Positivismo, de Augus-
bert, considerado o primeiro romance realista da
te Comte, preocupado com o real-sensível, o fato,
literatura universal. Em 1865, Claude Bernad publica
defendendo o cientificismo no pensamento filosófico
“Introdução à Medicina Experimental”, com uma te-
e a conciliação da “ordem e progresso” (a expressão,
se sobre a hereditariedade. Em 1867, Émile Zola pu-
utilizada na bandeira republicana do Brasil, é de ins-
blica “Therese Raquin”, inaugurando o romance
piração comtiana); o Socialismo científico de Karl
naturalista.
Marx e Friedrich Engels, a partir da publicação do
No Brasil, considera-se 1881 como o ano i-
Manifesto do Partido Comunista, em 1848, definindo
naugural do Realismo. De fato, esse foi um ano fértil
o materialismo histórico (“o modo de produção da
para a literatura brasileira, com a publicação de dois
vida material condiciona o processo de vida social,
romances fundamentais, que modificaram o curso de
político e intelectual em geral”- K. Marx) e a luta de
nossas letras: Aluísio Azevedo publica O Mulato, o
classes; o Evolucionismo de Charles Darwin, a partir
primeiro romance naturalista do Brasil; Machado de
da publicação, em 1859, de “A origem das espécies”,
Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, o
livro em que ele expõe seus estudos sobre a evolução
primeiro romance realista de nossa literatura.
das espécies pelo processo de seleção natural, negan-
Na divisão tradicional da história da literatura
do, portanto a origem divina defendida pelo Cristia-
brasileira, o ano considerado data final do Realismo é
nismo.
1893, com a publicação de Missal e Broquéis, ambos
O Brasil também passa por mudanças radicais,
de Cruz e Sousa, obras inaugurais do Simbolismo.
tanto no campo econômico como no político-social,
No entanto, é importante salientar que 1893 registra o
no período compreendido entre 1850 e 1900, embora
início do Simbolismo, mas não o término do Realis-
com profundas diferenças materiais, se comparadas
mo e suas manifestações na prosa, com os romances
às da Europa. A campanha abolicionista intensifica-
realistas e naturalistas, e na poesia, com o parnasia-
se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/70)
nismo. Basta lembrar que D. Casmurro, de Machado
tem como conseqüência o pensamento republicano -
de Assis, é de 1900; Esaú e Jacó, do mesmo autor, é
o Partido Republicano foi fundado no ano em que es-
de 1904. Olavo Bilac foi eleito “príncipe dos poetas”
sa guerra acabou; a Monarquia vive uma vertiginosa
em 1907. A Academia Brasileira de Letras, templo
decadência. A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o
do Realismo, é de 1897. Na realidade, nos últimos
problema dos negros, mas criou uma nova realidade.
vinte anos do século XIX e nos primeiros vinte anos
O fim da mão-de-obra escrava e a sua substituição
do século XX, temos três estéticas que se desenvol-
pela mão-de-obra assalariada, agora representada pe-
vem paralelas: o Realismo/ Naturalismo/ Parnasia-
las levas de imigrantes europeus que vinham traba-
nismo; o Simbolismo e o Pré-Modernismo, que só
lhar na lavoura cafeeira, originou uma nova
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economia voltada para o mercado externo, mas agora  O homem é encarado como produto da ra-
sem a estrutura colonialista. ça, do meio e do ambiente;
 As personagens são semelhantes entre si, na
3. CARACTERÍSTICAS DO REALISMO E DO
medida em que apresentam desequilíbrios
NATURALISMO característicos de sua condição;
Antes das principais características, é impor-  Preferência por ambientes em que predo-
tante conhecer a diferença entre Realismo e Natura- minem a miséria.
lismo. Romance Realista: cultivado no Brasil por
A obra realista volta-se às relações sociais, ob- Machado de Assis, é uma narrativa mais preocupada
servando costumes, relacionamento familiar e amoro- com a análise psicológica, fazendo crítica à sociedade
so, corrupção das grandes instituições, como o a partir do comportamento de determinados persona-
Estado, a Igreja, a família, o casamento etc. gens. É interessante constatar que os cinco romances
O Naturalismo é também realista, só que re- da fase realista de Machado apresentam nomes pró-
presenta uma tendência mais voltada ao cientificis- prios em seus títulos - Brás Cubas; Quincas Borba;
mo, com aplicação das teorias científicas em voga na D. Casmurro; Esaú e Jacó; Aires -, revelando a clara
época, dando ênfase, nas personagens, ao instintivo e preocupação com o indivíduo. Por outro lado, o ro-
patológico, ou seja, considerando o homem em sua mance realista analisa a sociedade “por cima”, ou se-
condição animal. Daí, a produção literária naturalista ja, seus personagens são capitalistas, pertencem à
apresentar o chamado experimental ou romance de classe dominante; mais uma vez nos voltamos para a
tese. obra de Machado e percebemos que Brás Cubas não
São estas as características gerais: produz, vive do capital, o mesmo acontecendo com
 Crítica ao homem e à sociedade; Bentinho; já Quincas Borba era louco e mendigo até
 Surgimento do romance social, psicológico receber uma herança; o único dos personagens cen-
e de tese; trais de Machado que trabalhava era Rubião (profes-
 Narração de fatos partindo da observação; sor em Minas), mas recebe a herança de Quincas
 Presença da sexualidade nas obras; Borba, muda-se para o Rio e não trabalha mais, vi-
 Objetivismo: a linguagem deve ser clara e vendo do capital. O romance realista é documental,
não conter dados subjetivos; retrato de uma época.
 Ao contrário dos românticos, autor e obra Romance Naturalista: cultivado no Brasil por
procuram ser contemporâneos, isto é, não Aluísio Azevedo e Júlio Ribeiro; o caso de Raul
se pode partir da experimentação com algo Pompéia é muito particular, pois seu romance “O A-
distante de nós; teneu” ora apresenta características naturalistas, ora
 Racionalismo; realistas, ora impressionistas. A narrativa naturalista
 Linguagem simples e abundância de descri- é marcada pela forte análise social a partir de grupos
ções para que o leitor possa ter a imagem o humanos marginalizados, valorizando o coletivo. In-
mais próxima possível; teressa também notar que os títulos dos romances na-
 Apresentação da realidade em preocupa- turalistas apresentam a mesma preocupação: O
ções morais; mulato, O cortiço, Casa de pensão, O ateneu. Há in-
 As personagens são, em geral, seres que clusive, sobre o romance O Cortiço, a tese de que o
encontramos no mundo real; aparece a lin- principal personagem não é João Romão, nem Berto-
guagem de baixo calão, os vícios humanos leza, nem Rita Baiana, nem Pombinha, mas sim o
etc. próprio cortiço ou, como afirma Antônio Cândido, “o
 Preferência por enredos que envolvam am- romance é o nascimento, vida, paixão e morte de um
bientes sociais em desequilíbrio. cortiço”. Por outro lado, o naturalismo apresenta ro-
Além dessas, a obra essencialmente naturalista mances experimentais; a influência de Darwin se faz
apresenta as seguintes características: sentir na máxima naturalista segundo a qual o homem
 Ânsia de explicar tudo cientificamente; é um animal. Portanto, antes de usar a razão, deixa-se
 Determinismo com relação à atitude das levar pelos instintos naturais, não podendo ser repri-
personagens (nenhum tudo depende de sua mido em suas manifestações instintivas, como o se-
vontade; pode haver imposição do meio, da xo, pela moral da classe dominante. A constante
hereditariedade física e psicológica etc.) repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto natu-
 O homem e os outros elementos da nature- ralista, em conseqüência, esses romances são mais
za são vistos como sujeitos às mesmas leis ousados e erroneamente tachados por alguns de por-
da evolução; nográficos, apresentando descrições minuciosas de
atos sexuais, tocando, inclusive, em temas então pro-
ibidos, como o homossexualismo: tanto o masculino,

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como em “O Ateneu”, quanto o feminino em “O cor- Advertência da Nova Edição
tiço”. “Este foi o meu primeiro romance, escrito aí
vão muitos anos. Dado em nova edição, não lhe alte-
4. MACHADO DE ASSIS
rei a composição nem o estilo, apenas troco dois ou
Estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro, três vocábulos, e faço tais ou quais correções de orto-
que resolves em mim tantos enigmas.” grafia. Como outros que vieram depois, e alguns con-
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu a 21 tos e novelas de então, pertence à primeira fase da
junho de 1839 no Morro do Livramento, Rio de Ja- minha vida literária.”
(ASSIS, Machado de. Ressurreição. São Paulo, Edigraf, s.d. p. 09)
neiro. Seu pai era brasileiro, mulato e pintor de pare-
des; sua mãe era portuguesa da ilha de Açores e
lavadeira. Freqüentou por pouco tempo uma escola Ou então esta advertência para uma das reedi-
pública, onde aprendeu as primeiras letras; aos 16 ções de Helena:
anos já freqüentava a tipografia de Paula Brito, onde
se publicava a revista Marmota Fluminense, em cujo Advertência
número de 21 de janeiro de 1855 sai o poema “Ela”: “Esta nova edição de Helena sai com várias
era a estréia de Machado de Assis nas letras. No ano emendas de linguagem e outras, que não alteram a
seguinte, começa a trabalhar como aprendiz de tipó- feição do livro. Ele é o mesmo da data em que com-
grafo, depois revisor, ao mesmo tempo em que cola- pus e imprimi, diverso do que o tempo me foi depois,
bora com artigos em vários jornais da época. Em 12 correspondendo, assim, ao capítulo da história do
de novembro de 1869, casa-se com Carolina Xavier meu espírito, naquele ano de 1876.
de Novais, portuguesa de boa cultura, irmã do poeta Não me culpeis pelo que lhe achardes roma-
Faustino Xavier de Novais, amigo de Machado. nesco. Dos que então fiz, este me era particularmente
Em 1873, é nomeado primeiro oficial da Se- prezado. Agora mesmo, que há tanto me fui a outras
cretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Co- e diferentes páginas, ouço um eco remoto ao reter es-
mércio e Obras Públicas. Como servidor público, tas, eco de mocidade e fé ingênua. E claro que, em
teve uma carreira meteórica que lhe deu tranqüilidade nenhum caso, lhes tiraria a feição passada: cada obra
financeira; já em 1892 era Diretor-Geral do Ministé- pertence ao seu tempo”.
(ASSIS, Machado de.)
rio da Viação. Em 1897, Machado é eleito presidente
da recém-fundada Academia Brasileira de Letras Observa-se, portanto, que o próprio autor nos
(também chamada “Casa de Machado de Assis”), dá a dimensão exata das fases de sua obra, assumindo
concretizando o velho sonho de reunir a elite dos es- uma posição paternal ao comentar e se desculpar das
critores da época em um fechado clube literário. obras da primeira fase, nostalgicamente relembradas
Após a morte de sua esposa, o romancista ra- como uma época de fé ingênua, ingenuidade esta
ramente saía; sua saúde, extremamente abalada pela perdida ao trilhar novos caminhos: “me fui a outras e
epilepsia, por problemas nervosos e por uma gaguez diferentes páginas”, ou seja, páginas realistas.
progressiva, contribuía para o seu isolamento. Morre No entanto, apesar de romanescos, os roman-
em 1908, a 29 de setembro, em sua confortável casa ces e contos dessa época já indicavam algumas carac-
do Cosme Velho. terísticas que mais tarde se consolidariam na obra de
Costuma-se dividir a obra de Machado de As- Machado: o amor contrariado, o casamento por inte-
sis em duas fases distintas: a primeira fase apresenta resse, uma ligeira preocupação psicológica e uma le-
o autor ainda preso a alguns princípios da escola ro- ve ironia.
mântica, sendo, por isso, chamada de fase romântica
ou de amadurecimento; a segunda apresenta o autor Machado de Assis – Primeira Fase
completamente definido dentro das idéias realistas, Na fase romântica, suas poesias prendem-se
sendo, portanto, chamada de fase realista ou de matu- aos padrões de autores românticos ou mesmo de al-
ridade. Machado foi romancista, contista e poeta, a- guns árcades. São poemas sem grande preocupação
lém de deixar algumas peças de teatro e inúmeras formal, embora se perceba sempre uma linguagem
críticas, crônicas e correspondências. bem cuidada; a temática é amorosa ou nacionalista,
principalmente em seu livro “Americanas”, onde é
5. MACHADO DE ASSIS ... E UMA LEVE I- mais perceptível a influência de Gonçalves Dias.
RONIA Nessa primeira fase, Machado produziu três livros de
poesias e, na fase realista, apenas um volume. Nos úl-
Machado de Assis foi um ótimo crítico literá-
timos 20 anos de sua vida, quando é mais intensa a
rio, principalmente de sua própria obra. Portanto, na-
produção da prosa realista, ele não mais escreve po-
da melhor do que o próprio autor para nos dar
emas.
algumas idéias sobre a evolução de seus romances e
contos, da fase romântica para a fase realista:

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Machado de Assis - Segunda Fase Um apólogo
Na segunda fase, Machado é um perfeito par- Era uma vez uma agulha, que disse a um nove-
nasiano, fazendo sonetos metrificados, rimados, nu- lo de linha:
ma linguagem apuradíssima, revelando uma profunda  Por que está você com esse ar, toda cheia de
preocupação formal; exalta o conceito da “arte pela si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa
arte” e tematicamente assume uma postura filosófica neste mundo?
e pessimista, lembrando a poesia de Raimundo Cor-  Deixe-me, senhora.
reia e Olavo Bilac. Seus sonetos mais famosos são  Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque
“Círculo Vicioso”, “Soneto de Natal” e “A Carolina”. lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que
É neste item que Machado de Assis realmente sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
nos interessa, pois à prosa realista pertencem as ver-  Que cabeça. A senhora não é alfinete, é a-
dadeiras obras-primas do romancista e contista. A gulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o
análise psicológica dos personagens, o egoísmo, o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Impor-
pessimismo, o negativismo, a linguagem correta, te-se com a sua vida, e deixe a dos outros.
clássica, as frases curtas, a técnica dos capítulos cur-  Mas você é orgulhosa.
tos e da conversa com o leitor são as principais carac-  Decerto que sou.
terísticas dos textos realistas, ao lado de uma análise
 Mas por quê?
da sociedade e da crítica aos valores românticos.
 É boa! Porque coso. Então os vestidos e en-
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, além de
feites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
ser o primeiro romance realista de nossa literatura, é
uma obra inovadora, revolucionária, com uma série  Você? Esta agora é melhor. Você é que os
de posições que distinguiriam as obras-primas ma- cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito
chadianas. O livro é revolucionário a partir da sua eu?
própria estrutura: são memórias, mas póstumas! Ou  Você fura o pano, nada mais; eu é que coso,
seja, o narrador rememora sua vida após a morte, ge- prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
rando, desta forma, um defunto-autor - a narração é  Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pa-
feita em 1ª pessoa. Qual o objetivo de Machado ao no, vou adiante, puxando por você, que vem atrás,
criar um narrador que já está morto? Ora, para narrar obedecendo ao que eu faço e mando...
sua vida com total isenção, Brás Cubas teria que estar  Também os batedores vão adiante do impe-
totalmente desvinculado de qualquer relação com a rador.
sociedade, com a própria vida. A morte favorece um  Você imperador?
total descomprometimento, uma total sinceridade.  Não digo isso. Mas a verdade é que você
Brás Cubas, ao iniciar a narração, já está morto, en- faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mos-
terrado e ... comido pelos vermes. Observe a dedica- trando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e
tória do livro: ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes Estavam nisto, quando a costureira chegou à
do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava
memórias póstumas.” em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé
Com o verbo no passado: roeu. O que significa de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira,
que Brás Cubas não é mais nada, não existe, não deve pegou o pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfi-
satisfações a ninguém, é livre, soberano absoluto para ou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra
pintar a vida, pintar as pessoas, pintar-se: iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a
“... não sei se lhe meti algumas rabugens de melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis
pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com como os galgos de Diana - para dar a isto uma cor
a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é di- poética. E dizia a agulha:
fícil antever o que poderá sair desse conúbio.”  Então, senhora linha, ainda teima no que
Os contos da fase realista seguem, em linhas dizia há pouco? Não repara que esta distinta costurei-
gerais, as mesmas diretrizes dos romances, guardadas ra só se importa comigo: eu é que vou aqui entre os
as diferenças de um gênero para outro. Sempre há a dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
preocupação psicológica, a fronteira entre a loucura e A linha não respondia nada; ia andando. Bura-
a lucidez, a ironia social e política. co aberto pela agulha era logo enchido por ela silen-
ciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está
para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela
não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andan-
do. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se
ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pa-
no. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para
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o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até ográfico em que se confundem realidade e ficção. O
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o bai- autor estudou em um colégio interno - o Colégio Abí-
le. lio - cujo diretor apresentava uma figura autoritária e
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A monarquista; o personagem narrador, no romance,
costureira que a ajudou a vestir-se, levava a agulha recorda seus tempos de aluno no Colégio Ateneu, cu-
espetada no corpinho, para dar algum ponto necessá- jo diretor também apresentava uma figura autoritária
rio. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e e monarquista. O diretor do Ateneu, professor Aris-
puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, tarco A. de Ramos era odiado pelos alunos. Ele trata-
alisando, abotoando, acolchetando. A linha, para mo- va os alunos de acordo com o seu nível social e
far da agulha, perguntou-lhe: econômico.
 Ora agora, diga-me, quem é que vai dançar A obra “O Ateneu” apresenta aspectos realistas
com ministros e diplomatas, enquanto você volta para e naturalistas; realistas, quando o narrador enfatiza o
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das evolucionismo ou darwinismo nas relações entre alu-
mucamas? Vamos, diga lá. nos e diretor/alunos e, também, quando apresenta nas
Parece que a agulha não disse nada; mas um atitudes do diretor Aristarco a hipocrisia nas relações
alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, sociais burguesas. Os aspectos naturalistas impõem-
murmurou à pobre agulha: se no determinismo (representado pela influência do
 Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir meio e das circunstâncias) e no evolucionismo (a luta
caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, en- pela “sobrevivência” dentro do Ateneu, onde preva-
quanto aí ficas na caixinha da costura. Faze como eu, lecia a “lei do mais forte”).
que não abro caminho para ninguém. Onde me espe- Alguns historiadores da literatura não enqua-
tam, fico. dram a obra nem no Realismo nem no Naturalismo,
Contei esta história a um professor de melan- por esta fugir à exatidão descritiva e à frieza destes
colia que me disse, abanando a cabeça:  Também dois estilos. Estes historiadores julgam a obra “O A-
eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária! teneu” como sendo impressionista, uma vez que re-
(ASSIS, Machado de - Contos. Rio de Janeiro, Agir, 1963) flete a impressão que a realidade despertou no artista.
A propósito do texto Na literatura, o impressionismo caracteriza-se:
a) Quantas personagens aparecem no conto?  pelo registro de impressão de coisas e fatos
Quantas falam? provocados no espírito e na lembrança da
b) Você diria que este conto de Machado de Assis personagem;
se aproxima da fábula?  por importar mais as emoções e impressões
c) A quem você daria razão: à agulha ou à linha? que a ação;
Por quê?  pela memória do narrador, que reporta tudo
d) Beto Guedes e Ronaldo Bastos compuseram a ao leitor;
música “O sal da terra”; leia atentamente o fragmento  o narrador é onisciente e conhece o interior
abaixo e compare-o ao conto de Machado de Assis. das personagens.
“Vamos precisar de todo mundo  pela subjetividade da narrativa e os porme-
um mais um é sempre mais que dois nores importarem mais que a descrição do
Para melhor juntar as nossas forças todo.
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora b) Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo
Para merecer quem vem depois.” (1857 - 1913) - por ser dos poucos escritores que vi-
viam de suas publicações, alterna romances românti-
6. AUTORES E OBRAS
cos, os quais denominava “comerciais”, de consumo,
a) Raul Pompéia - Como escritor, Raul Pom- com os naturalistas da nova tendência, pelos quais
péia pertence a um grupo de homens de letras que se deve ser reconhecido.
notabilizaram em nossa literatura, graças a um único Seguindo Émile Zola e Eça de Queirós, o autor
livro. O valor literário da obra “O Ateneu” superou escreve “romances de tese”, com clara conotação so-
todas as outras publicações do autor. cial. Percebe-se a preocupação com as classes margi-
“O Ateneu” é um livro de memórias, denomi- nalizadas, a crítica ao conservadorismo, ao clero, à
nado por Raul Pompéia como “Crônica de Sauda- classe dominante e a defesa declarada do ideal repu-
des”. Foi publicado em 1888, em folhetim, em “A blicano. Na postura materialista, positivista, há a va-
gazeta de notícias”. lorização dos instintos naturais na comparação dos
personagens a animais. Para o autor, a degradação da
Raul Pompéia em “O Ateneu” optou por um classe social marginalizada dá-se pela pressão social
personagem narrador - Sérgio - que liberta sua cons- e pelo determinismo, teoria considerada válida.
ciência, produzindo uma espécie de romance autobi-

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Para alguns críticos, o defeito de sua obra natu- lancolicamente pelas bordas de um frasco de xarope
ralista reside no fato de as personagens reduzirem-se Larose, que lhe fizera as vezes de castiçal”.
a meras caricaturas, meros tipos, esquemas sem vida (Aluísio de Azevedo, Casa de Pensão)
interior; ao mesmo tempo, sua grande virtude está no Responda:
poder de retratar grupos humanos. Bons objetos de a) Os textos A e B, extraídos de romances de esti-
estudo são seus romances naturalistas: O mulato, um los de épocas (ou escolas literárias) diferentes,
marco inicial desse estilo, Casa de pensão e O corti- teriam algum ponto em comum? Justifique a
ço. Entre seus romances românticos, que seguem a resposta.
receita folhetinesca, estão: Uma lágrima de mulher, ______________________________________
sua estréia, Memórias de um condenado, Filomena ______________________________________
Borges, A mortalha de Alzira e outras.
c) Inglês de Sousa (1853 - 1918), inicialmente ______________________________________
voltado para o romance romântico regionalista, torna _____________________________________
evidente sua filiação ao naturalismo com sua obra O
missionário, em que retoma a polêmica a respeito do b) A que estilo de época pertence o texto A? Cite
celibato clerical como se influenciada pelas teorias uma característica desse estilo que se compro-
determinista e positivista. ve pelo texto.
d) Adolfo Caminha (1867 - 1897) tem na obra ______________________________________
O bom crioulo sua ênfase naturalista em que baseia o ______________________________________
enredo no homossexualismo entre marinheiros. Em A
normalista e Tentação revela a sociedade corrompida ______________________________________
e amoral. ______________________________________
e) Domingos Olímpio (1850 – 1906) pertence
ao “ciclo das secas”. Em sua obra Luzia-Homem, há c) O texto B pertence a um romance realista ou
uma seqüência de cenas naturalistas da seca nordesti- naturalista? Justifique sua resposta.
na. Retrata a penúria dos retirantes, a rudeza do am- ______________________________________
biente semi-árido e a secura dos homens. ______________________________________
ESTUDO DIRIGIDO ______________________________________

1 ______________________________________
Texto A
“E uma sala em quadro, toda ela de uma alvura 2
deslumbrante, que realça o azul celeste do tapete de Olhos de Ressaca
rico recamado de estrelas e a bela cor de ouro das Enfim, chegou a hora da encomendação e da
cortinas e do estofo dos móveis. A um lado, duas es- partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o de-
tatuetas de bronze dourado representando o amor e a sespero daquele lance consternou a todos. Muitos
castidade sustentam uma cúpula oval de forma ligei- homens choravam também, as mulheres todas. Só
ra, donde se desdobram até o pavimento bambolins Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si
de cassa finíssima. Doutro lado, há uma lareira, não mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A
de fogo, que o dispensa nosso ameno clima flumi- confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou al-
nense, ainda na maior força do inverno. Essa chaminé guns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixona-
de mármore cor-de-rosa é meramente pretexto para o damente fixa, que não admira lhe saltassem algumas
cantinho de conversação” lágrimas poucas e caladas...
(José de Alencar, Senhora). As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela:
Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a
Texto B gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a
“O quarto respirava todo um ar triste de des- amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a re-
mazelo e boêmia. Fazia má impressão estar ali: o tinha também. Momento houve em que os olhos de
vômito de Amâncio secava-se no chão, azedando o Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem
ambiente; a louça que servira ao último jantar, ainda pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos,
coberta de gordura coalhada, aparecia dentro de uma com a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar
lata abominável, cheia de contusões e roída de ferru- também o nadador da manhã.
Dom Casmurro. São Paulo, Moderna.
gem. Uma banquinha, encostada à parede, dizia com
seu frio aspecto desarranjado que alguém estivera aí a a) Que atitude de Capitu chamou a atenção de
trabalhar durante a noite, até que se extinguira a vela, Bentinho, fazendo que ele passasse a observá-
cujas últimas gotas de estearina se derramavam me- la mais atentamente?

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______________________________________ EXERCÍCIOS
______________________________________
1 Todas as características enunciadas a seguir per-
______________________________________ tencem à obra de ficção de Machado de Assis,
______________________________________ exceto:
a) Preocupação em analisar o mundo interior das
b) Por que pareceu a Bentinho que o cadáver de personagens.
Escobar exercia grande atração sobre Capitu? b) Sondagem dos motivos secretos do comporta-
______________________________________ mento humano.
______________________________________ c) Visão pessimista e desencantada do relaciona-
mento humano.
______________________________________ d) Análise do comportamento humano sempre à
______________________________________ luz das teorias deterministas.

c) Ao falar do choro de Capitu, Bentinho se refe-


re a “algumas lágrimas poucas e caladas...” 2 (UNEB-BA) Considere os seguintes fragmentos:
Que sentido tem o adjetivo caladas nessa pas- I. Combinam-se personagens e interesses com o
sagem? O que insinua Bentinho com ele? exclusivo objetivo do casamento: é assim que a
______________________________________ ideologia burguesa acaba por condicionar as
conveniências de classe, mal disfarçadas pelo
______________________________________ idealismo com base em virtudes abstratas, as-
______________________________________ sumido pelo escritor.
II. Estruturalmente, a forma do romance busca re-
______________________________________ novação: a intriga cede lugar à análise psicoló-
d) José Dias tinha dito, certa vez, que Capitu ti- gica ou social, com vistas ao conhecimento das
nha “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. causas profundas do comportamento seja do in-
Esse comentário encontra justificativa no com- divíduo, seja da classe a que pertence.
portamento de Capitu na cena do velório? Por III. Empresta-se um verniz medieval às façanhas
quê? de nossos nativos, como se a civilização pré-
______________________________________ cabralina constituísse nossa gloriosa Idade Mé-
dia.
______________________________________ As afirmações
______________________________________ a) I e II referem-se à prosa realista, e III, à ro-
mântica.
______________________________________ b) I refere-se à prosa romântica, e II e III, à rea-
e) Em que passagem do texto se justifica o título lista.
“Olhos de Ressaca”? E o que insinua Bentinho c) I e III referem-se à prosa romântica, e II, à rea-
com essa comparação? lista.
______________________________________ d) I refere-se à prosa realista, e II e III, à românti-
ca.
______________________________________ e) I e III referem-se à prosa realista, e II, à ro-
______________________________________ mântica.

______________________________________
3 Das afirmações abaixo, assinale a única que pode
ser considerada correta quanto ao Realismo.
a) Apesar das intenções criticas, acabou fazendo a
apologia da família burguesa e do catolicismo.
b) Desenvolveu uma literatura voltada principal-
mente para os problemas rurais, denunciando o
abandono e a pobreza do interior do Brasil.
c) Criou o romance regionalista, exaltando a vida
no interior do país e valorizando as raízes na-
cionais.
d) Procurou analisar com objetividade e senso
crítico os problemas sociais e humanos.

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4 Com relação ao Naturalismo, é válido afirmar III - Observa-se o predomínio da razão e da ob-
que: servação sobre o sentimento e a imaginação.
a) Acentua a influência do meio ambiente para a) I, II, III.
ressaltar que o ser humano é capaz de superá-la b) I e II .
e criar seu próprio modo de vida. c) I e III.
b) Destaca bastante o papel do meio social e dos d) II.
caracteres hereditários na explicação do com-
portamento humano.
c) É oposto ao Realismo, pois julga que a literatu- 8 Use (R) se a característica for realista; (P) se for
ra não deve se preocupar com problemas soci- parnasiana; (N) se for naturalista e (F) se for de
ais. outra Escola:
d) Demonstra grande preocupação em analisar o ( ) Preocupação científica.
ser humano do ponto de vista estritamente psi- ( ) Perfeição da forma.
cológico, isolando-o do meio social. ( ) Exploração de temas exóticos.
( ) Predomínio do sujeito e sentimentalismo.
( ) Determinismo (materialista).
5 (UFMS-MS) A propósito do Naturalismo, julgue ( ) Pastoralismo e bucolismo.
os itens: ( ) Tentativa de alcançar a impassibilidade.
1 O ser é retratado como produto do meio. ( ) Culto do contraste
2 O escritor evita julgar ações e personagens de
um ponto de vista ético e moral, pois seu intui-
to é expor e analisar cientificamente a realida- 9 Numere a primeira coluna de acordo com a se-
de. gunda, considerando obra e autor:
3 É um tipo de Realismo que tenta explicar ro-
manticamente a conduta e o modo de ser dos ( ) O mulato
personagens. ( ) O Missionário 1. Machado de Assis
4 No Brasil, o romance naturalista exalta o ho- ( ) O bom crioulo 2. Raul Pompéia
mem meta físico, em oposição ao homem ani- ( ) Helena 3. Aluízio Azevedo
mal, cujas ações e intenções o escritor ( ) A carne 4. Adolfo Caminha
condena. ( ) O cortiço 5. Inglês de Sousa
5 Tem como características, entre outras, o de- ( ) O ateneu 6. Júlio Ribeiro
terminismo biológico, a tematização do pato- ( ) A normalista
lógico e a aplicação do método experimental. ( ) Quincas Borba

6 (F.M.Santa Casa-SP) A ficção realista de Ma- GABARITO


chado de Assis, no século XIX:
a) Inaugura a literatura regionalista de problemá- Estudo Dirigido
tica existencial.
1
b) Continua uma literatura de caráter cientificista
a) Sim. Ambos procuram retratar ambientes (no
iniciada no Naturalismo.
caso, opostos).
c) Antecipa o romance moderno de linha intros-
b) Romantismo. A linguagem desenhada, o ambi-
pectiva.
ente rico.
d) Cria uma literatura que retrata os conflitos das
c) Naturalista. A preferência por ambientes po-
camadas populares.
bres.
e) Incorpora a temática da oposição entre meio
urbano e meio rural. 2
a) O modo como Capitu olhava o corpo de Esco-
bar, “tão apaixonadamente fixa’”.
7 (F.C. CHAGAS) Assinale a alternativa em que b) Porque parecia que ela não conseguia afastar-
estão indicados os textos que analisam correta- se do cadáver.
mente alguns aspectos do romance realista. c) Caladas pode referir-se à intenção de Capitu de
I - As personagens independem do julgamento do esconder os sentimentos, não permitindo que
narrador, reagindo cada uma de acordo com a os outros soubessem o que existia dentro dela.
sua própria vontade e temperamento. Com isso, o narrador insinua que Capitu pare-
II - A linguagem é poeticamente elaborada nos di- cia estar tentando esconder alguma coisa que
álogos, mas procura alcançar um tom coloqui- gostaria de poder dizer abertamente.
al, com traços de oralidade, nas partes
narrativas e descritivas.
Editora Exato 19
d) Sim. Porque Capitu disfarça suas emoções;
mas desta vez, para Bentinho, pelo menos, ela
não conseguiu ser tão dissimulada como cos-
tumava ser. A emoção era forte demais e ela se
compromete com suas lágrimas tão sentidas,
fazendo que o marido começasse a suspeitar de
sua fidelidade.
e) “Momento houve (...) nadador da manhã”. Ele
insinua que Escobar também fora atraído, tra-
gado pelos olhos de Capitu.
Exercícios
1 D
2 C
3 D
4 B
5 C, C, E, E, C
6 C
7 C
8 N, P, P, F, R, F, P, F
9 3/5/4/1/6/3/2/4/1

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