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O Romantismo- o triunfo

do individuo e da emoção
Escola Secundária Alcaides Faria
O Romantismo
Rui Costa- 11ºH
Barcelos
2021/22
O Romantismo
Escola Secundária Alcaides Faria
Romantismo em Portugal- Artes
Rui Costa nº26 11ºH
Trabalho de pesquisa acerca do Romantismo
Professor Carlos Ribeiro
Barcelos
2021/22
Índice
1. Introdução……………………………………………………………………………………………………………………….2
2. Nascimento do Romantismo
2.1. Origem etimológica da palavra “Romantismo”………………………………………………………………………………..4
2.2. Contextualização do Romantismo……………………………………………………………………………………………..5
2.3. Conceito de Romantismo……………………………………………………………………………………………………….6
2.4. As Escolas pelo Mundo…………………………………………………………………………………………………………7
3. Características gerais- as diferentes facetas do Romantismo
3.1. Características……………………………………………………………………………………………………………………8
3.2. Temas abordados nas obras românticas……………………………………………………………………………………...9
3.3. Fases do Romantismo……………………………………………………………………………………………………….....11
4. As manifestações românticas nas diferentes áreas da arte
4.1. Pintura…………………………………………………………………………………………………………….....................13
4.2. Arquitetura……………………………………………………………………………………………………………………….16
4.3. Escultura…………………………………………………………………………………………………………………………17
5. Romantismo em Portugal
5.1. Contextualização do romantismo em Portugal……………………………………………………………………………...19
5.2. Arquitetura romântica em Portugal…………………………………………………………………………………………..20
5.2.1. Palácio da Pena- análise de uma obra…………………………………………………………………………………….24
5.3. Pintura romântica em Portugal………………………………………………………………………………………………..30
5.4. Escultura romântica em Portugal……………………………………………………………………………………………..34
6. Conclusão………………………………………………………………………………………………………………,……..38
7. Agradecimentos………………………………………………………………………………………………………………39
8. Bibliografia…………………………………………………………………………………………………………………….40
Origem etimológica da palavra
“Romantismo”
A designação “Romantismo” de facto tem uma origem intrigante que remete
aos velhos romances da cavalaria- as narrativas de honra e do mesmo modo
bravura que circulavam no decorrer da Idade Média. Surgiu, portanto, com
base no surgimento das primeiras histórias entre donzelas e cavaleiros, em
verso, às quais são nomeados de “romance” deriva do advérbio
latino romanice. O termo “romântico” era usado como definição de uma visão
nostálgica do passado e foi incentivado pelo regresso ao estilo gótico na área
da arquitetura.
Nos finais do século XVIII, um grupo de pensadores e escritores oriundos da
Alemanha começaram a utilizar este termo no sentido de coloca-lo em
antítese ou oposição ao classicismo. Romântico passava então a designar
tudo o que é produzido pela imaginação desordenada, aquilo que é
inacreditável e que reflete um gosto artístico irregular.

Doc.1 Codex Manesse- manuscrito


iluminado-”O amor cortês”- pintura
alusiva do amor cortês
Contextualização
Revolução industrial- impulso para o desenvolvimento das nações

Revoluções burguesas relacionadas com os ideias iluministas

Dissolução dos regimes absolutistas

Romantismo-
Contextualização A nível social crescia um sentimento de nacionalismo

A nível filosófico apelava-se àquilo que nos era fornecido pelas


emoções e novas correntes de pensamento surgiram como a filodofia
de Kant, Schelling e o pessimismo de Schopenhaeur

A revolução francesa é o clímax do inicio de uma nova corrente onde


se valorizava a superioridade da natureza.
Romantismo Doc.2 O perfil romântico
“É nos sonhos que os Românticos se refugiam; é neles
O Romantismo foi um movimento cultural abrangente que se manifestou em ramos como a que fazem a experiência da verdade, precipitando o
literatura, a música, a arquitetura, as artes plásticas, a filosofia e a própria mentalidade. visível no invisível… a razão nunca pode fazer mais do
que pôr em ordem e, sempre provisoriamente, os
materiais produzidos pela imaginação.”
Surgiu nos finais do século XVIII (1790), na Alemanha, no cerne do movimento Sturn Und F. Furet, O Homem Romântico, Ed. Presença
Drang (Tempestade e Paixão). Desenvolveu-se, de seguida, na Inglaterra, atingindo França
como uma reação contra a arte académica, espalhando-se no final na Europa e nas
Américas.

Caracterizou-se, no geral, por valorizar a espontaneidade, a paixão e o amor, o sonho e o


idealismo, o sentimento e o misticismo, o inconsciente e o racional. Todos estes atributos
contrariavam as regras do neoclassicismo.

O artista acreditava que a arte não se baseava na imitação simples da realidade, mas sim da
interpretação individual, atribuindo a primazia ao conteúdo e não à forma.

Todo este movimento esteve sob o signo do sentimento e da liberdade onde decorreu a
revalorização das raízes históricas das nacionalidades.

a partir do idealismo revolucionário a criação do herói popular e romântico- um ser de mal


com o mundo e que diz não compreender este, entregando-se aos sentimentos, rompendo
com as normas éticas e sociais e que se refugia, com frequência na Natureza ou no Doc.3 O protótipo do herói
passado. romântico, retrato a óleo de
Lord Byron envergando um
Concomitantemente, nas artes, o Romantismo foi considerado a expressão da traje tradicional dos Balcãs, de
ideologia liberal. autoria de Thomas Philippe
c.1835
As Escolas pelo Mundo
O Romantismo foi um movimento que atingiu diversos ramos e até mentalidade e assumiu as mais diversas formas nos diversos países.

França Alemanha
Inglaterra
O romantismo era observado como a antítese Sobressaíram-se artistas como Caspar
Os autores tiveram posições
do Classicismo o que fez com que os criticios David Friedrich e Philipp Otto Runge, cujo
ligeiramente diferenciadas como Tuvuner
das exposições do Salon colocassem Delacroix quadros estavam imbuídos de fé religiosa
e Jonh Martin. Pintararam ambos a
e Ingres em polos diferenciados. Delacroix foi como do mesmo modo o gosto pelo
beleza terrivel que a natureza assume
destacado pelo seu tradicionalismo. Já Ingres medieval- medievalismo. Deu-se principal
quando as suas forças poderosas se
adotou temas de espírito romântico como por destaque também aos Nazarenos
manifestam, muitas vezes representando
exemplo, os seus quadros representado haréns. responsáveis por impulsionarem a arte
sentimentos humanos como o caso de
Apesar destes contrastes as fronteiras que alemã e a manifestação de um surto de
Jonh Constable.
delimitada os dois estilos era pouco nítida. sentimentos nacionalistas.

Portugal
Espanha
Nas artes plásticas, o Romantismo América
A figura principal foi, sem dúvida, Goya, cujo
português nunca alcançou o brilho que Os românticos americanos
representou temas como a guerra, a psique
teve na literatura, não chegando a definir evidenciaram-se nas paisagens da
humana, a loucura, a superstição, sobrenatural
um programa com objetivos próprios. Escola do Rio Hudson. Liderado por
e o macabro. O seu espirito romântico foi
Almeida Garret foi sem dúvida o Thomas Cole e Asher B. Durand, esse
evidente no conjunto de gravuras intitulado de
paradigma dos escritores românticos influente grupo de artistas celebrou a
Caprichos.
portugueses, obtendo sucesso com a beleza natural da sua terra.
obra: “Frei Luis de Sousa”.
Características gerais
Oposição ao racionalismo e otimismo imposto pelo neoclassicismo

Influenciado pela corrente liberal e os ideais iluministas

Valorizava os ideários da liberdade, da igualdade e direitos que reconheciam o individuo

Exaltação da liberdade e a interioridade ou o egocentrismo

Isolamento da alma em comunhão com a natureza e o individualismo

Forte tendência par a idealização complementada com o recurso à emoção, misticismo,


imaginação, sonho, o inconsciente e o sentimentalismo (herói romântico)

Valorização do sublime, grotesco e o absurdo sobressaindo-se a espontaneidade e a


subjetividade

Repúdio pelo presente e refúgio no passado, nomeadamente na Idade Média

Nacionalismo com exaltação dos heróis nacionais

Byronismo, tendência que advém de Lord Byron


Temas
Temas associados ao horror, à loucura, à violência e ao sobrenatural, dando
primazia à liberdade e à reflexão individual, dando mais relevância ao
conteúdo do que propriamente a forma.
Doc. 6 O papel da paisagem na pintura romântica
“ A paisagem como que é submetido à presença
Exaltação das raízes históricas e dos heróis nacionais (misticismo antigo- contemplativa daqueles vultos que, de costas, serão
cenário medieval) representados como uma espécie de irreconhecíveis
silhuetas que transferem a sua dimensão subjetiva para um
plano que é o de uma Natureza que o acolhe até ao ponto de
confirmar esse equilíbrio final entre o exterior e o interior.
Friedrich reconhece que, com nas diz, “uma paisagem
Exaltação do poder da natureza sobre os humanos e a paisagem envolta pela bruma (…) desperta a imaginação”. O que se vê
é, afinal, uma certa invisibilidade da paisagem onde a nossa
imaginação”. O que se vê é, afinal, uma certa invisibilidade
da paisagem onde a nossa imaginação projeta um outro
olhar que perscruta outras realidades.
Temáticas relacionadas com a guerra e acontecimentos nacionais
F. Guimarães, Artes Plásticas e Literatura. Do Romantismo
ao Surrealismo

Os românticos preocuparam-se em retratar da melhor forma os seus medos


irracionais e o amor
Temas- obras de arte

Doc. 7 Demiurgo- Blake- obra criada Doc.9 O Beijo- Auguste Rodin-


Doc.8 Os fuzilamentos do Três de Maio, 1808- Obra criada em
em 1794. Esta imagem imponente da Obra criada em 1814 Devido
1882. Este quadro ilustra uma atrocidade cometida pelas forças
criação do Universo destinava-se à sua fluidez e ao seu
francesas durante a Guerra Peninsular, quando as tropas
inicialmente ao frontispício da Europa de dinamismo, o Beijo
napoleónicas ocupavam a Espanha. Destaca-se notoriamente o
Blake. Destaca-se aqui os raios de luz é uma representação clássica
sofrimento (pathos), o dramatismo e uma luminosidade noturna.
que Blake gostava de usar como forma do amor. Na verdade,
de representar o estado de espirito dos Rodin não gostava muito da sua
seus quadros. Aqui, um sol vermelho dá obra.
um tom funesto, enquanto Unriaen
examina um universo imperfeito.
Fases do Romantismo
Na 1º geração de artistas românticos os atributos centrais adotados viram a ser o lirismo, a
subjetividade, o sonho, o absurdo e o exótico. Devido ao facto de se refugiarem no passado das
suas nacionalidades basearam-se do mesmo modo no nacionalismo que se destacou na coletânea
de redações e documentos relevantes de caracter fundacional e relacionados com o nascimento de
uma nação. Há, portanto, de um certo modo o regresso à Idade Média e à vida rural, a criação de
Nacionalista um novo protótipo e de uma nova idealização acerca do mundo e da própria mulher e a fuga da
realidade e escapismo, ou seja, os artistas mergulhavam na sua imaginação e retratavam um certo
conteúdo com base nos seus sentimentos. A mulher era considerada como uma musa, ele era de
facto amada e desejada, todavia não poderia haver contacto físico, sobressaindo-se o amor
platónico que foi bastante representado na Idade Média.

A 2º geração de artistas românticos foi delineada pelo acentuar do sentimento pessimista que
persuadia as pessoas naquela época e um certo gosto pela morte ou o melancólico, a religiosidade
Ultrarromântica ou até mesmo o naturalismo onde superiorizavam as forças da natureza relativamente aos seres
humanos. Por um lado, a mulher era alcançada, mas o inquietante e a infelicidade ainda emergia
nos corações dos românticos.

Por último, a 3º geração caracterizou-se por retratar a transição para outra nova corrente literária, o
Renovação
realismo, a que denuncia os vícios e os males da sociedade.  Há o rompimento com o exagero e o
romântica pessimismo da geração anterior, e a valorização de um contato mais próximo com a realidade.
As manifestações românticas nas
diferentes áreas da arte
Pintura romântica
Doc. 10 A aguarela na pintura romântica
O processo apelidado de “aguarela” não
conheceu o seu verdadeiro desenvolvimento
senão na escola inglesa, entre o fim do século
Foi a área onde obteve uma melhor performance e expressão do ideal do romantismo. XVIII e a primeira metade do século XIX. Durante
este período relativamente breve, uma grande
quantidade de pintores importantes utilizaram
este meio para se expressarem. Primeiramente, a
Obteve o seu auge entre 1820 e 1850, teve fortes influências nos finais do século XVIII aguarela foi utilizada como processo de
por parte dos Nazarenos e os Pré-Rafaelitas. coloração: aplicavam-se, com precaução, finas
camadas de cor sobre desenhos previamente
executados com detalhe, a tinta ou a lápis. Os
pintores amantes de aguarela empenharam-se
O pintor romântico esforçava-se por lutar pela livre expressão do seu eu pessoal. neste procedimento, estabelecendo uma
verdadeira tradição (…). Entre os pioneiros que
reconheceram e exploraram as possibilidades da
A respeito do nível técnico notou-se a preferência do uso do pincel, a intensidade das aguarela, contam-se Paul Sandby (1731- 1809),
cores e a luz das linhas. que combinou, brilhantemente, as opacidades e
as transparências; Cozens (1752- 1797) que
utilizou sobretudo a qualidade da transparência
em obras de grande amplidão e com um grande
As obras tinham uma certa vivacidade e movimentação.
sentido atmosférico; Thomas Girtin (1775- 1802)
que a aplicou em paisagens (…) com grande
Os temas retratados na pintura desta corrente foi diversificada. Umas ocupavam-se por precisão de detalhes (…); Joseph Turner (1755-
retratar aquilo que era tradicional e nacional (como históricas, literárias, mitológicas e o 1851) que explorou até aos limites as novas
retrato e outra inseriam-se em temas totalmente revolucionários tendo como base o técnicas das camadas transparentes, do
mundo do sonho e do fantástico, a utilização de monstros, costumes e comunidades “grattage” e da aplicação com esponja,
exóticas, a vida popular, os próprios animais, o contexto político-social daquela época incorporando-lhe cor opaca. Na paisagem, Jonh
(revoluções liberais) e o naturalismo (decalcando-se a relevância extrema da natureza Constable (1776-1837) realizou esboços com
relativamente ao ser humano que nada pode fazer). Tudo isto baseou-se em colocar aguarela, cheios de espontaneidade e frescura
num pedestal elevado a importância da paisagem que sempre foi retratada (…).
emocionalmente, estabelecendo um contacto entre o estado espírito do pintor e o Outros autores mais recentes contribuíram,
exterior. também, para o progresso da técnica da aguarela.
Traduzido de: Le Manuel des
Artistes, Ed. Bordas
Características específicas da pintura em diversas
obras relevantes

Doc.11 Paisagem como Doc.12 Alegoria realista- A Doc.13 Iluminação irreal, Doc.14 Trocadilho visual- Chuva, Vapor
Drama- Vale de Aosta, de liberdade conduzindo o povo, de misticismo, monstros e o e Velocidade- O Grande Caminho- de-
Turner. Realça-se a presença de Delacroix pânico- O Colosso, de Goya Ferro do Ocidente, de Constable
nevasca, avalanche e a trovoada
Características específicas da pintura em diversas
obras relevantes

Doc.15 A contemplação masculina e Doc.16 Luz Doc.17 Contornos suaves- Deming’s Point, Doc.18 Formas repetidas
feminina- O Banho Turco, de Jean- irradiante- O rio Hudson, de Thomas Cole (triangulares)- Mar de Gelo, de
August- Dominique Ingres Demiurgo, de Blake Friedrich
Arquitetura romântica Doc.19 A sátira do historiador e crítico
italiano, Camilo Bolto
“Em Itália, os teóricos de arte
Quebra-se com as regras das academias neoclássicas, adotando-se, portanto, a preferência
aconselham a utilizar, para os teatros, o
pelo sentimentalismo. estilo mourisco; para as igrejas, o estilo
gótico; para as entradas das cidades, o
estilo grego; para as Bolsas, o estilo
À arquitetura estavam inerentes propriedades como a irregularidade, o efeito de luz, o romano; para os edifícios públicos, o
movimentos dos planos e o pitoresco da decoração muitas vezes excessiva. estilo municipal da Idade Média; para as
nossas habitações, o estilo inglês
“Tudor” ou da renascença italiana e
Houve a preferência em recordar o passado, reavivando estilos históricos, nomeadamente da francesa”.
Idade Média e até de outras culturas. (revivalismo e historicismo) Em Architettura del Medioevo in Itália,
1880

Surgiram deste modo representações onde se exaltavam o misticismo e repudiavam o


presente.

Inspiraram-se nomeadamente em estilos relacionados com o neogótico e o neorromânico


(medievalismo). Houve ainda assim a presença do neorrenascimento, neobizantino e
neobarroco, embora não tão evidentes.

Recorreu-se a exotismos como por exemplo o neoárabe e o neo-hindu.

A concentração de vários formulários artísticos num mesmo edifício contribui bastante para a
construção de faustosos monumentos. A esta tendência designamos de ecletismos. Doc.20 Pavilhão Real de Brighton, em
Inglaterra
Escultura romântica
Foi a disciplina menos bem sucedida a nível formal e temático, ocupando assim um
lugar secundário.

Os materiais mais usufruídos foram o mármore e o bronze, havendo espaço ainda


para a utilização da madeira, terracota e outros materiais de preços mais reduzidos.

Debruça-se sobre algumas temáticas relacionadas ao herói romântico, à mulher, ao


erotismo e ao amor, aos animais, ao misticismo, cenas alegóricas e fabulosas, ou
personagens ligadas à história (historicismo) ou à literatura.

Adotaram uma disciplina que apelasse ao movimento, ao dramatismo, o exotismo a


expressividade e no fundo uma subjetividade. Ocorria-se bastante aos jogos de
textura, as superfícies aparentemente inacabadas e propositadamente indefinidas,
abertas sempre à reflexão daquele que perceciona. Revela-se, portanto, nas
esculturas um certo dinamismo e uma tensão dramática.
Doc.21 Ugolino e os seus filhos de Jean-Baptiste
Carpeaux
O tema desta obra romântica muito intensa é derivado
do canto 33 do Inferno de Dante, em que o poeta
descreve como o conde Ugolino della Gherardesca,
traidor pisano, seus filhos e seus netos foram
encarcerados em 1288, e acabaram morrendo de
fome. Carpeaux capturou a angústia do pai mordendo
as mãos por desespero e o gesto de seus filhos que
oferecem a ele seus próprios corpos como alimento.
Romantismo em Portugal
A literatura romântica alcançou um brilho que se destaca das artes plásticas, cujo Doc.22 O Romantismo nas diversas áreas da arte em
nunca se estabeleceu um programa com objetivos próprios ou específicos. Portugal
A literatura foi um dos primeiros domínios onde a sensibilidade romântica começo por “Um aspeto inovador do lirismo escultural é a atenção
se expressar. Contrariando as normas do neoclassicismo desenvolvendo-se às dadas às composições históricas, sejam elas provenientes
margens das regras e dos arquétipos clássicos. Negou, portanto, a noção de de lendas nacionais, dramas sociais ou de atos humanos
géneros rígidos dos clássicos compondo-se géneros novos ou até mistos. Apresenta como a guerra. Com efeito, os escultores do nossos
primeiro romantismo procuraram seguir as narrativas
sempre uma natureza melancólica, dinâmica e outonal (locus horrendus) realçando
extraordinárias dos cronistas e escritores, criando no
muitas vezes o amor e a perdição a que este leva o ser humano. Como principais baixo-relevo uma quadra descritiva, por vezes redundando
autores deu-se especial destaque a Alexandre Herculano e Almeida Garrett. no confronto bélico.
Apelando ao sobrenatural sustentando-se no entanto num
facto da sua época, Vítor Bastos executa a “Cólera
O paradigma da arquitetura romântica em Portugal é sem sombra de dúvida os Morbus”, enquanto o pintor Francisco Metrass,
projetos do Palácio da Pena, marcado pela figura do rei D. Fernando II. Surgiram em intensamente dominado por uma corrente espiritual, realiza
primeiro lugar os revilalismos historicistas e na segunda metade do século XIX os o drama exasperante “Só Deus”. Estas obras são
exotismos. Por último, presenciou-se a predominação de ecletismos. manifestos de autores inspirados, no verdadeiro sentido do
termo, cuja originalidade deve ser realçada no contexto da
arte romântica portuguesa.”
A pintura romântica persuadiu o espirito dos artistas portugueses tardiamente, onde Arte Portuguesa- Porto Editora
se destacaram autores como Luís Pereira Meneses, Cristiano da Silva, Leonel
Marques e Miguel Ângelo Lupi.

Por último, na escultura houve principal renome por parte de autores como Simões
de Almeida ou até mesmo Soares dos Reis.
Contextualização do Romantismo em Portugal
A situação traumática da sociedade portuguesa nas primeiras décadas do século XIX- até à vitória
liberal de 1834- teve consequências que viriam a causar uma “revolução” na visão e prática artística. Doc.23 A introdução da estética
Foi desde a ida da família real e da corte para o Brasil e o ocorrer de todo o processo revolucionário romântica em Portugal
cujo atinge seu clímax em 1820, que se proliferou no modo de pensar dos artistas as ideias “A introdução da estética romântica em
Portugal ficou a dever-se a Vieira Portuense,
libertadoras e inovadoras do Romantismo. No fundo, não foge ao mesmo contexto dos diversos
que em viagem pelo estrangeiro nos finais
estados, todavia expande-se pelo país anos mais tarde relativamente a países como França, do século XVIII estabeleceu contacto com as
Alemanha ou Inglaterra. ideias do romantismo alemão e inglês. A
Neste período, Portugal enfrentou momentos de turbulência e decadência política. Em 1820, exaltação de cenas dramáticas da história
aconteceu a revolta do exército – período que ficou conhecido como Vintismo. E, em 1832, ocorreu inseridas num fundo de paisagem
a Guerra Civil Portuguesa. Num cenário desolador, sob grande influência francesa, no berço (enquadramento ideal de uma composição
propagador do Romantismo, muitos românticos portugueses iniciaram um novo ciclo de romântica), ou então a evocação de
manifestações artísticas. O ideal romantismo começou por surgir principalmente na literatura com a personagens da ficção histórica portuguesa,
participação de Herculano e Almeida Garrett num projeto estético e político que se traduzirá numa representadas em composições de feição
clássica, denunciam entre nós o novo
modernidade possível. A partir das obras destes autores esclareceu-se os traços dominantes desta
género, que Domingos Sequeira também
nova abertura ao sensível, e da sua correspondência num “quadro de proposição política cultivou. Porém não parece que estas obras
democrática. Apenas mais tarde esta corrente toca noutros aspetos e áreas da arte. Foi António tenham tido sequência imediata na arte
Manuel da Fonseca um dos primeiros nomes da vaga de oitocentos, contudo ainda estava alheio à portuguesa.”
temática do romantismo, prezando o neoclassicismo idealizado como na obra “Eneias Salvando seu As Belas- Artes do Romantismo em Portugal
Pai Enquises” (mitologia clássica) Para o desenvolvimento das artes plásticas foi relevante a criação
de academias responsáveis pela formação o de alguns artistas considerados. Por trás deste
crescimento este envolvido D. Fernando II, adotando uma atividade mecenática. Foi o exemplo da
fundação setembrista das academias das Belas-Artes, em Lisboa e Porto. A cadência seria marcada
por Auguste Roquemont com o quadro “O Folar (costumes do Minho). Como se perceciona, o novel
do século XIX chega com os românticos e com o triunfo da monarquia constitucional.
Arquitetura Romântica em Portugal
Doc.24 Estação do
Rossio- Localizado
A arquitetura portuguesa do período romântico teve uma extensão
no coração de
cronológica maior do que se esperava. A par daquilo que se Lisboa, apresenta
verificou pela Europa o responsável pelo seu surgimento foi mais uma fachada do
uma vez efetuada por via de autores ingleses, mas sempre com estilo neo-
uma consciência longínqua do valor ético que expressava. manuelino. É uma
importante estação e
destina-se a ligar
Uma das principais figuras que estão no cerne do desenvolvimento Lisboa e Sintra.
do movimento arquitetónico romântico foi o rei D. Fernando II de
Saxe-Coburgo Gotha.

Para além de influências do neomanuelino e o neomourisco,


também exploraram correntes como a arte árabe, o gótico em geral
e a arte indiana. Doc.25 Salão
Neoárabe da
Podemos considerar como exemplos de monumentos relacionados Associação
com o Romantismo: o Palácio de Monserrate, a Praça dos Touros Comercial do
no campo pequeno, o Palácio do Buçaco e igualmente a estação do Porto, Gonçalves
Rossio, pelo que se pode designar a cultura da Gare que cresceu e Sousa, 1868
bastante devido à expansão dos caminhos férreos.

Os exotismos começaram a surgir com maior incidência na segunda


metade do século XIX em projetos de cariz privado e na própria
decoração interior debruçando-se nomeadamente no neoárabe e o
neomourisco. Já os ecletismos obtiveram o seu apogeu no final do
século XIX e inícios do século XX.
Principais edifícios com influências neoárabes

Doc.26 Praça de Touros do Campo Pequeno – António Doc.27 Quinta do Relógio – António Tomás da Doc.28 Salão Nobre do Palácio da Bolsa/ atual
José Dias da Silva em Lisboa Fonseca em Sintra Associação Comercial do Porto em Gustavo de
Sousa
Principais edifícios com influência neogótica

Doc.29 Elevador da Santa Justa-


Raul Mesnier de Ponsard – Lisboa Doc.30 Capela dos Doc.31 Igreja de Reguengos de
Pestanas – Albano Cascão no Monsaraz – António José Dias da
Porto Silva em Reguengos de Monsaraz
Principais edifícios com marcas do neomanuelino

Doc.33 Hotel Palácio do Buçaco – Luigi Manini em Doc.34 Quinta da Regaleira – Luigi Manini –
Doc.32 Palácio Nacional da Pena – Barão Von
Buçaco Sintra
Eschwege e D. Fernando II rei de Portugal em
Sintra
Palácio Nacional da Pena Doc.35 D. Fernando de
Saxe-Coburgo e Gotha. Foi
um dos homens mais cultos
Seria difícil falar de romantismo português sem apresentar esta do nosso pais e dominava
monumentalidade. Falo do Palácio Nacional da Pena o paradigma e expoente diversas línguas. Sempre teve
máximo da arquitetura romântica aqui em Portugal. a sua vida ligada à arte,
A origem desta construção está no ano, 1838, quando D. Fernando II adquire, enquanto autor, colecionador
através dos seus próprios meios financeiros, o antigo Mosteiro Jeronimita de e um verdadeiro mecenas.
Nossa Senhora da Pena (criado no século XVI) e os terrenos adjacentes, na
serra de Sintra. Determinado a reutilizar o arruinado mosteiro como um retiro de
férias para a família real, foi posteriormente persuadido a ampliar o local com a
construção de um verdadeiro paço acastelado romântico, o Palácio Novo. No
processo de toda a construção reavivou-se temas como os Descobrimentos e
de uma variedade de correntes artísticas que modelaram a história de Portugal.
A área envolvente ao palácio é sem sombra de dúvidas deslumbrante cujo é
frequentemente invadida pelo denso nevoeiro. Tudo isto no sentido de apelar a
força avassaladora que a natureza exerce sobre o ser humano e ao surgimento
de emoções que vão para além dos nossos limites cognitivos a priori.
O projeto da construção foi entregue ao mineralogista germânico barão de Doc.36 A reação de um visitante
Eschwege, amador de arquitetura e que certamente trouxe influência do “Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a
romantismo de outras áreas da Europa. Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto, e nunca vi
Em Sintra, os trabalhos decorreram rapidamente e a obra estaria quase nada, nada, que valha a Pena. É a cousa mais bela
concluída em 1847, segundo o projeto encomendado ao alemão, todavia ainda que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de
teve intervenções importantes que elevaram os níveis artísticos e decorativos, Klingsor – e, lá no alto, está o Castelo do Santo
por parte do príncipe consorte. Esta participação foi decisiva para o Graal.“
aprimoramento das artes conectando com a Idade Média e o passado do nosso Richard
país. Strauss
O Romantismo inerente no Palácio- parte exterior
A obra do Palácio da Pena pode ser considerada de facto “um imenso laboratório de ensaio da
arquitetura e artes aplicadas na procura de recriação da tradição portuguesa dentro de um espirito de
influencia fortemente germânica”. Neste momento encontra-se retratado a história da cultura e das
artes em Portugal, prestigiando o sentimento nacionalista e o reforço da identidade nacional em pleno
século XIX. Estruturalmente o palácio divide-se em várias alas que se dispõem de forma irregular e
orgânica a partir do restauro do mosteiro composto de capela, claustro e torre. Ainda relativamente à
planta podemos realçar o volume de formas variadas e a várias alturas, e com paredes curvas e
semicurvas, reentrantes e salientes.
No que diz respeito, ao estilo que sobressai ao olhar de quem aprecia, temos como novidade o
revivalismo arquitetónico, recorrendo ao Manuelino. Este foi um passo importante para o surgimento
de inúmeros edifícios relacionados como o neomanuelino. Do mesmo modo, D. Fernando II
preocupou-se em revitalizar a herança mourisca que desde os primórdios da nação influenciou certas
áreas. Surgiu, portanto, aquilo a que designamos de neomourisco, que foi um ato revolucionário na
consciência moderna. Não estiveram de fora influências germânicas, indianas (neo-hindus) e o
próprio neogótico. Acentuou-se a presença de aspetos exóticos, marítimos e naturalísticos presentes
frequentemente em abóbodas ou arcos. Tal como a nível mundial, o Romantismo português sempre
teve como principal ideário o repudio pelo presente o que consequentemente originou a recriação de
uma Idade Média imaginário, adotando-se, portanto, um revivalismo da arquitetura dos castelos
medievais.
À decoração revivalista acrescentam-se outras propriedades ainda mais originais, de carácter
esotérico, isto é, místico como o monumental pórtico do Tristão que dá acesso a uma paisagem única Doc.37 Palácio da Pena
e ladeada de vegetação exótica plantada e os espaços onde os moradores ocupavam os tempos-
livres. Exalta-se também a relevância que a policromia exerce sobre o palácio como a presença de
azulejos e cores variadas (rosa, branco, amarelo).
O Romantismo inerente no Palácio- parte interior

O interior está repleto de evidências que promovem


os gostos românticos, criado e desenvolvido na
influência da burguesia, classe que se elevou
socialmente, contendo um grande estatuto
económico. Houve uma maior preocupação no que
diz respeito à noção de conforto, de intimidade e de
privacidade. As dimensões das divisões da casa
reduzem-se, criando novidade a nível “atmosférico
ou ambiental”. Dentro do palácio revelam-se
características como: a grande quantidade de
portas, abóbodas, arcos e janelas muitas delas
ligadas ao neomanuelino; as novas funcionalidades
atribuídas aos móveis, de cujo qual o conforto e a
intimidade estão relacionados; as paredes que
muitas vezes estavam forrados a tecido,
apresentando padrões variados; a própria
luminosidade que dá à vivência quotidiana “decors”
de conforto para as diferentes alturas do dia. Tudo
isto com o objetivo de atribuir à habitação uma Doc.38 Salão Nobre Doc.39 Abóbada do quarto da dama
dimensão afetiva, apelando aos sentimentos e Era o grande espaço de receção e de companhia
emoções. Destaca-se principalmente os exotismos. entretenimento do Palácio. Uma das A abóbada apresenta motivos clássicos
características particulares deste salão é a em estuque.
interdependência formal entre arquitetura,
decoração de interiores e mobiliário. Verifica-se
o recurso a ecletismos típicos do século XIX.
O neomanuelino- Palácio da Pena
No palácio da Pena reavivou-se
arquitetonicamente o período
mais revelante e original da
história da arquitetura
portuguesa, o Manuelino.
Vejamos nos seguintes
documentos onde esta corrente
está bem presente. Algumas das
características relacionadas com
o gótico-manuelino são:
- o gótico final, o plateresco e o
mudéjar hispânicos;
-o naturalismo (troncos,
ramagens, flores, conchas, algas,
corais, boias, cordas);
-o exotismo das colunas e
colunelos torsos ou espiralados
-a heráldica régia de D. Manuel
-a simbólica cristã Doc.40 Claustro manuelino Doc.41 Sala de jantar- a ideia de Doc.42 Óculo da janela
-relacionada com os (1511) de dois pisos. Paredes do “salão-festa”- Refeitório do neomanuelina do Salão
Descobrimentos portugueses pátio revestidas com azulejos antigo mosteiro, adaptado por Nobre. Aqui destaca-se a
-arcos ogivais e abóbadas que hispano-árabes. Apresenta galeria D. Fernando a Sala de Jantar do presença de elementos
proporcionam a ideia de “salão- que se abrem para um pátio núcleo privado do palácio. A régios, cristãos e
festa” central quadrado através de arcos sala mostra as abóbodas der naturalísticos.
de volta inteira no piso inferior e nervuras manuelinas do século
de arcos de segmento no piso XVI.
superior.
O neomourisco- Palácio da Pena
Do mesmo modo que o estilo neomanuelino foi reavivado na construção do Palácio da Pena. D. Fernando II reconhecia a importante
herança mourisca na história de Portugal, o que se diferenciava dos hábitos da sua Viena natal. O neomourisco foi um reflexo do fascínio
pelo exótico da cultura e a arte dos países do Oriente que se expandiu pela Europa nomeadamente a partir de finais do século XVIII. Várias
fontes de inspiração foram utilizadas, incluindo a arte do Império Otomano, do Norte da África e Andaluzia, do Médio Oriente e do Império
Mogol na Índia.

Doc.43 Salão Árabe- A Sala de Visitas do rei D. Doc.44 Terreiro da Porta Férrea- Porta do Doc.45 Azulejos
Fernando II, usualmente conhecida por Sala Árabe, Alhambra. O acesso ao recinto do palácio faz-se de padrão
fazia parte dos aposentos privados do palácio, através da Porta do Alhambra, que D. Fernando II mourisco. O
servindo para receção dos amigos e familiares mais mandou erguer intencionalmente. É um elemento debaixo apresenta
íntimos. A designação que lhe é atribuída deve-se aos neomourisco, em que um arco mais pequeno se um padrão
diversos motivos mouriscos da sua pintura mural a insere noutro maior, ambos de volta abatida e Hispano-
fresco e têmpera. ultrapassada, numa clara alusão à arquitetura mourisco.
islâmica da Península Ibérica e do Norte de África.
O terraço do Tritão
Um dos pórticos e elementos mais interessantes no meio desta
monumentalidade toda, está o arco do Tristão, o que fornece ao túnel e
ao terraço uma entrada única. Depara-se aqui com os diversos volumes
do Palácio Novo, dando especial realce às duas torres que ladeiam uma
janela revestida de elementos decorativos, suportada por Tristão. Este é
a figura central do Pórtico da Criação do Mundo envolvido num arco
conopial. A origem deste ser é intrigante e apresenta algumas teorias.
Muitos apresentam que a leitura interpretativa do portal de cima para
baixo nos remete à teoria da evolução das espécies, formulada por
Charles Darwin, cujo defendia que a vida teria surgido na água (parte
inferior) e apenas depois no meio terrestre (parte superior). Há quem
diga também que a figura do Tristão refere-se a uma mitologia local que
afirmava a existência deste monstro numa gruta das praias da região ou
até mesmo ao ser a que Luis Vaz Camões se refere na sua obra-prima,
figura ligada ao tema dos Descobrimentos.

Doc.46 O Pórtico que fornece acesso ao terraço do


Tritão, contrastando o espaço fechado daquele com a
vastidão da paisagem.
Pintura Romântica em Portugal
A pintura não foi uma vertente artística onde o romantismo se implementou com incidência o que fez com que o seu surgimento fosse
responsável pela atuação de jovens artistas.

Devido a este afastamento com o contexto europeu não existem programas consistentes nem objetivos concretos, conduzindo de um
certo modo ao individualismo, na medida em que cada um exprimia livremente os seus sentimentos. Notou-se, do mesmo modo, a
tendência para a proliferação dos sentimentos dos artistas em telas pequenas, o que poderia dar uma sensação de que as obras
estavam incompletas.

A proliferação do romantismo no contexto português apenas teve sentido na vitória do liberalismo em 1834.

A inovação deveu-se a alguns artistas estrangeiros que cultivaram nomeadamente a pintura de género e de paisagem. Esta influência
aproximou a paixão dos artistas portugueses ao naturalismo enquanto expressão formal e temática.

Foi imprescindível para este culminar a criação de uma Academia de Belas Artes no decorrer do reinado de D. Maria II.

O romantismo na pintura anuncia-se na obra de Domingos Sequeira, sentindo-se depois nas obras de Tomás da Anunciação, com a
reprodução paisagística, de Luís Meneses com o foco no retrato e finalmente com Francisco Metrass na exaltação histórica.
Pinturas românticas- obras

Doc.47 Retrato de D. Miguel I de Doc.48 O Vitelo de Tomás de Anunciação Doc.49 Procissão de Augusto Roquemont
José Batista Ribeiro Este autor desde muito cedo revelou grande propensão Roquemont foi dos primeiros pintores a fixar na tela cenas de
. D. Miguel está retratado em meio para o desenho e nos seus cadernos infantis não são raros costumes populares. Na Procissão encontram-se
corpo, voltado a três quartos à surgiam esboçados bichos e árvores (carácter naturalista). minuciosamente tratados todos os aspetos que entram num
direita para onde dirige o olhar, rosto Na obra para além do paisagismo e do naturalismo cortejo religioso minhoto.
jovem e imberbe e a cabeça conseguimos ver como destaque um vitelo ao qual incide
descoberta. Ostenta a insígnia e uma maior iluminação relativamente a qualquer outro plano
colar de ouro de cavaleiro do ramo da obra.
espanhol da Ordem Honorífica do
Tosão do Ouro. Exalta-se aqui a
harmonia do cromatismo.
Augusto de Metrass

Doc.50 Autorretrato de
Augusto de Metrass, 1851

Doc.51 Só Deus
“Nesta mulher seminua, em último esforço agarrada
a um tronco quebrado der árvore, entre rochedos
sobre os quais galopa uma impetuosa corrente, o Doc.52 Camões na Gruta de Macau (esquerdo) e Só Deus (direito)
filhito nu e aterrorizado apertado contra o peito já Estas duas telas executadas por Augusto de Metrass podem ser consideradas com o expoente
lívido, está mais poderosa imagem do romantismo máximo do romantismo português. Conjugando tonalidades escuras e o gosto pela paisagem,
português.” dá-se especial realce ao dramatismo e o naturalismo inerente nas duas obras. Por um lado,
José-Augusto França, 1990- A arte em Portugal no Camões na Gruta de Macau (lado esquerdo) pela temática e feitura e Só Deus (lado esquerdo)
século XIX, vol.1, Lisboa, Bertrand Ed. consegue transmitir através da sua paginação original um enorme dramatismo.
Domingues Sequeira
Doc. 54 O Milagre de Ourique e Junot Protegendo
a Cidade de Lisboa são duas das obras mais
emblemáticas de Domingues Sequeira. Realçam-se
aqui as temáticas históricas executadas com
frequência por este autor. Repara-se que o autor
recorre bastante à imaginação e ao misticismo
nacional como o próprio milagre que teria acontecido
no decorrer da Batalha de Ourique. Sobressai-se
também a representação de obras baseadas em
temas mais recentes como as invasões francesas.

Doc.53 Autorretrato por


Domingues Sequeira
Escultura Romântica em Portugal

A escultura romântica em Portugal, seguindo as tendência no contexto europeu, foi no,


entanto um período pobre, devido ao apego que se registou aos cânones neoclássicos.

São exemplos de escultores românticos ou contemporâneos do Naturalismo: Vitor


Bastos, Alberto Nunes, Soares dos Reis Costa Mota Tio e também Simões de Almeida,
que nalgumas peças esporádicas utilizaram mais talvez o sentimentalismo do que
propriamente a estética romântica.

O pequeno êxito que se registou na escultura romântica portuguesa deveu-se à


influência de artistas estrangeiros como Camels, Davioud e Robert.

Dependendo das encomendas oficiais e o gosto tradicional e académico, os escultores


mostravam, nas suas obras, a continuidade de alguns cânones clássicos, mas ao
mesmo tempo, inovaram nos temas, aplicando uma expressividade cada vez mais Doc.55 Célestin Anatole Calmels (1822-
pormenorizada e realista e baseado nalguns tratamentos técnicos. 1906) foi um escultor francês, que passou
grande parte da sua vida em Portugal.
Esculturas românticas- obras

Doc.56 Amor maternal de Doc.57 Adónis combatendo um


Anatole Célestin Calmels- javali de António Manuel da Doc.58 A união faz a força de José
grupo em mármore-1859 Fonseca- Bronze- em 1862 Joaquim Teixeira Lopes
O assunto e estilo da obra O grupo revela um episódio Consegue-se observar um homem
suscitam problemas controverso nas fontes eruditas, sentado num rochedo dobra a perna
interessantes pois se a neste caso o argumento é extraído direita na tentativa vã de cortar um
indumentária é clássica, a forma do livro X das “Metamorfoses” de feixe a meio. Este símbolo faz a
e o tema não pertencem à Ovídio, conforme assinala o catálogo leitura alegórica da peça, cujo sentido
mitologia alegórica. Esta obra é da 5º exposição da Academia de moral encontra, não na tradição
comunicativa que nos atrai para Lisboa. erudita da antiguidade mas na
uma relação afetuosa. vulgaridade de um ditado popular, a
Vitor Bastos

Doc.59 Vítor Bastos

Doc.61 Luís de Camões | Estátua de Bronze de


Victor Bastos (1860)
Doc.60 Arco da Rua Augusta
O primeiro monumento a erguer-se em Lisboa depois
Ao mesmo tempo que exalta heróis nacionais, de igual forma
da estátua equestre de D. José foi precisamente o
sublinha a relevância alegórica do valor, do génio e
dedicado a Camões. Vitor Bastos, além de
nomeadamente da glória.
homenagear o Vate, colocado em lugar de destaque,
também passou para a pedras alguns homens
ligados à literatura e mais ou menos contemporâneos
do Poeta: Fernão Lopes, Pedro Nunes, João de
Barros, Zurara, Castanheda, Quevedo, Jerónimo
Corte Real e Sá de Meneses.
Soares dos Reis
Doc.63 O Desterrado é sem dúvida
o paradigma da escultura
oitocentista romântica em Portugal.
Executado por Soares dos Reis, em
1874, foi a prova final do pensionato
de escultura que o artista em Roma.
Obra de síntese em relação ao seu
tempo, O Desterrado harmoniza
entre si valores realistas
(evidenciados na pormenorização
do seu virtuosismo técnico), valores
idealistas (na forma canónica do nu
e na sua beleza idealizada) e
valores românticos ( na
expressividade nostálgica e sofrida),
que fazem dela o símbolo do seu
século. Esta estátua conduz à
subjetividade quando na análise
Doc.62 Retrato de Soares dos destacam-se os que indicam que
Reis (1881), por Marques de esta evoca a nostalgia da pátria
Oliveira sentida pelo autor, enquanto outros
consideram-na como símbolo da
saudade nacional. O Desterrado
exprime, com invulgar sensibilidade,
a solitária e introspetiva inquietação
de toda uma geração de intelectuais
que observaram, impotentes, a
estagnação e a decadência do país.
Conclusão
-O século XIX foi marcado pela doutrina do liberalismo, que desde 1789 fluía pelos países europeus com intensidade, provocando conflitos e, do mesmo
modo, proporcionando uma nova forma de pensar. Com os ideais libertários do liberalismo, começou a surgir o culto à liberdade, ao individuo, à igualdade e
no fundo disto tudo um sentimento nacionalista. A natureza e a emoção foram assuntos que se enraizaram na sociedade europeia daquela época. O século
XIX foi de igual forma marcado pela revolução industrial e pelo nascimento da cultura da Gare.
-O Romantismo foi a manifestação dos ideias liberais daquela época. Apelava-se o subjetivismo, a natureza, o individuo, a liberdade criadora, a fantasia e a
imaginação, o nacionalismo, entre outras propriedades. Outra faceta desta corrente foi sem dúvida o repúdio da razão e do presente, sempre reavivando a
história do passado, nomeadamente a Idade Média. A sua implantação foi dificultada devido ao conservadorismo pelo neoclassicismo, mas a emoção acabou
por triunfar. Foi um movimento cultural que abrangeu diversos ramos da arte e a literatura.
-Surgiu, nos finais do século XVIII, na Alemanha, acabando por se desenvolver, na Inglaterra, França, o resto da Europa e as Américas.
-O Romantismo fundamentou-se na liberdade criadora. Os autores românticos debruçaram-se em temas como o amor, o horror, a loucura, a violência, o
misticismo, o sexual ou erótico, a exaltação dos heróis nacionais e o passado. No fundo baseava-se numa reflexão de quem retrava e não seguia um cânone.
-A pintura romântica foi antiacadémica, individualizada e emotivo, expressando-se essencialmente pelo realce do cromatismo e do tema retratado. Entre todos
os ramos da arte foi aquela que, no geral, se destacou melhor. Destacaram-se autores como Francisco de Goya, Eugène Delacroix e Friedrich Caspar David.
-A arquitetura romântica caracteriza-se sem fonte de dúvida pelos revivalismos historicistas, pelos exotismos e pelo ecletismo que vigoraram até finais do
século.
-A escultura seguiu os mesmos padrões estéticos da pintura exaltando o dramatismo e a liberdade. Deve-se especial destaque a autores como François
Rude, Auguste Prèault e Jean-Batiste Carpeaux.
-A música foi marcada pela teatralidade e pelo grandioso. Coexistiram a expressão musical intima e idílica, de inspiração bucólica, patente no
desenvolvimento da melodia com uma expressão musical mais próxima do teatral, quase bélico, percetível no sinfonismo e no apogeu da ópera.
-Em Portugal, o Romantismo não alcançou nas artes plásticas o brilho que se registou nas letras. A literatura e as artes destacaram-se pela sua liberdade
criadora, o sentimento nacionalista, a exaltação do herói romântico e da história de Portugal e o recurso à emoção. A proliferação do romantismo nas belas
artes no nosso país, deve-se em grande parte a artistas estrangeiros que trouxeram influências da Europa.
-O Romantismo surgiu em Portugal num período de turbulência e decadência politica, no cerne do confronto entre os liberais e os absolutistas.
-O paradigma da arquitetura romântica em Portugal é sem sombra de dúvida o Palácio da Pena que dão lugar aos revivalismos historicistas, recorrendo ao
neomanuelino, os ecletismos, a diversidade no cromatismo e aos exotismos implantando características neoárabes ou neo-hindus.
-A pintura romântica acarretou basicamente as mesmas abordagens implementadas pela Europa sobressaindo-se figuras como Luís Pereira Menéres,
Cristiano da Silva, Leonel Marques, Miguel Ângelo Lupi, Augusto Metrass e Domingos Sequeira.
-Na escultura houve principal renome a artistas como Soares dos Reis, autor do Desterrado, Vítor Bastos e Simões Almeida.
Agradecimentos

Antes de concluir
definitivamente o meu
trabalho gostava de
reconhecer sem sombra de
dúvida o papel que Dr.
Natalina Sá, minha mãe,
exerceu na minha qualidade
de aprendizagem. Fico
eternamente grato por me dar
a possibilidade de apreciar
presencialmente o Palácio da
Pena em Sintra e o Santuário
do Sagrado Coração de
Jesus em Viana do Castelo.
Dedico, deste modo, esta
apresentação à minha mãe
que se esforçou, para atingir
os meus objetivos e elaborar
um trabalho mais bem
conseguido.
Bibliografia
Grande Enciclopédia da pré-história à época contemporânea- DK- arte
Preparação para o Exame Final Nacional- exame História da Cultura e das Artes- 11ºano
Resumos História A- Elementos
Arte Portuguesa- História essencial- Paulo Pereira/ Temas e Debates (4º edição)
Missão: História 8º ano- Porto Editora
Um novo Tempo da História 11ºano- Parte 2- Porto Editora
As belas-artes do romantismo em Portugal e Arte portuguesa- Porto Editora
História da Cultura e das Artes 2ºparte 11ºano- Porto Editora
História da Arte Portuguesa- Direção de Paulo Pereira- Volume II
Parque e Palácio da Pena- Guia Oficial Scala
Arte Portuguesa- Porto Editora- Ana Lídia Pinto, Fernanda Meireles e Manuela Cernadas Cambotas
História da Arte em Portugal- O romantismo- Alfa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo_em_Portugal
https://www.portugues.com.br/literatura/astresfasesromantismo.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Carpeaux
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Rude
https://en.wikipedia.org/wiki/Antoine-Augustin_Pr%C3%A9aulthttps://pt.wikipedia.org/wiki/Bayreuth_Festspielhaus
https://www.ebiografia.com/beethoven/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_van_Beethoven
https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$richard-wagner
https://pt.slideshare.net/Silviaptavares/romantismo-pintura-em-portugal
https://www.todoestudo.com.br/literatura/romantismo-em-portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_do_Romantismo_em_Portugal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Domingos_Sequeira
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_da_Anuncia%C3%A7%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Augusto_Metrass
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estilo_neoisl%C3%A2mico
Bibliografia
https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=antigos%20estudantes%20ilustres%20-%20ant%c3%b3nio%20soares%20dos%20reis
Videos:
https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7898/e520345/historia-a-11-ano
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https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7900/e526112/historia-da-cultura-das-artes-11-ano
https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7900/e526433/historia-da-cultura-das-artes-11-ano

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