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Romantismo

- Revoluções burguesas mudam o perfil da sociedade


europeia no início do séc. XIX. A burguesia (a classe do
povo), liderando as transformações sociais e
econômicas, ganha poder político e passa a buscar
uma arte na qual possa reconhecer-se.

 Revolução Gloriosa (1688-1689): fim da monarquia


O absoluta na Inglaterra;
 Revolução Industrial (1750): empresários / capitalistas
nascimento X proletariado, substituição da produção artesanal
pela industrial, nova classe social (o proletariado),
do consolidação do capitalismo como novo sistema
econômico;
Romantismo  Revolução Francesa (1789-1790): o povo de Paris pega
em armas e, à força, transforma em realidade os ideais
defendidos pelos filósofos iluministas; o homem
transforma-se em cidadão, tomada de poder político
pela burguesia, Declaração de Independência dos
Estados Unidos);

- As grandes mudanças políticas, econômicas e sociais


iniciadas por essas revoluções seriam consolidadas ao
longo do século seguinte e deveriam, forçosamente,
afetar toda a produção cultural, nas artes e a
literatura.
- O liberalismo econômico (livre concorrência entre os indivíduos, sem a intervenção
do Estado) e o liberalismo político (oportunidades iguais para todos, independente
da classe social, garantia dos direitos do indivíduo em relação ao Estado), “Não há
regras nem modelos”, diz Victor Hugo.

- Valorização, na obra literária, do indivíduo e toda a sua complexidade emocional,


abolindo o controle racional. Heróis que precisam superar obstáculos de toda
natureza para se qualificarem são exemplos. A literatura difunde os valores burgueses
(liberalismo burguês, espírito de lutas e revolução que envolveu a sociedade
portuguesa no séc. XIX).

- O movimento romântico interpreta a realidade pelo filtro da emoção e,


combinando a originalidade ao subjetivismo, a expressão das emoções definirá os
princípios na nova produção artística (forte influência inglesa e francesa).

Os escritores românticos, escrevendo para viver, procuram conciliar dois objetivos:


divulgar os valores da burguesia e divertir os leitores, cujo número aumenta
consideravelmente (difusão do jornal, aumento do nº de pessoas alfabetizadas e
consolidação da burguesia).
Características do movimento
• Nacionalismo, historicismo e
medievalismo: exaltação dos valores e
Subjetivismo, emocionalismo,
dos heróis nacionais, passado histórico
confessionalismo: expressão direta das
emoções, poesia como confissão sincera e medieval;
de estados de alma do poeta,
exacerbação dos sentimentos; • Valorização das fontes populares
(folclore): pesquisa e registro das
Pessimismo: geralmente atitudes narrativas orais e canções populares,
negativas em relação à vida, essas também são fontes de inspiração,
individualismo e egocentrismo
(inadaptação), spleen (melancolia) do utilização literária da tradição popular
poeta inglês Lord Byron; como uma da manifestações do
nacionalismo romântico;
Escapismo: tédio de viver (mal-do-
século) conduz à fuga da realidade • Crítica social: posição combativa,
(lugares exóticos, passado misterioso, opondo-se ao valores burgueses e
narrativas fantásticas, sobrenatural), culto
da imaginação (devaneio, sonho, delírio), denunciando as injustiças sociais, e esse
ambientes noturnos, desejo da morte; engajamento ocorre principalmente na
última fase do Romantismo.
Arcadismo Romantismo
Predomínio da razão Predomínio da emoção

Objetivismo Subjetivismo

Universalismo; nativismo Nacionalismo

Maior contenção formal Maior liberdade formal

Vocabulário e sintaxe com influência lusitana Vocabulário e sintaxe mais brasileiros

Gosto pelo decassílabo e pelo soneto Gosto pelas redondilhas

Imitação da cultura clássica greco-latina Valorização da cultura popular

Natureza como pano de fundo para os idílios Natureza mais real, que interage com o eu
amorosos lírico
Busca de equilíbrio, racionalismo Sentimentalismo; estados de almas tristes e
melancólicos
Classicismo X Romantismo
Inteligência, razão, objetividade, • Sentimento, sensibilidade, subjetividade,
impessoalidade, culto à Antiguidade pessoalidade, culto à Idade Média (cristianismo),
greco-romana (mitologia pagã), equilíbrio, arrebatamento, exaltação;
disciplina, clareza, ordem;
• Homem: certezas não existiam, era levado à
Homem: busca constante por certezas e
verdades; equilibrado, saudável, moralista insatisfação e à angústia, cheio de traumas,
e disciplinado, demonstra grande prazer indisciplinado, instável, egocêntrico, pessimista e
pela vida em sociedade; sem preocupações morais, herói individualista e
solitário;

Mulher: inatingível, deusa, refletia o amor • Mulher: sem perder sua divindade, ainda vista como
divino;
ser angelical, mas possuía outra face, a de sedutora;

• Amor: sentimental e sensual, não platônico,


Amor: visto como algo racional; podendo se materializar através da mulher fatal;

• Natureza: espaços fechados e abandonados, como


cemitérios e igrejas, ao lado de paisagens rudes e
Natureza: locais abertos e paisagens agrestes (refletindo o estado da alma do
bucólicas. Romantismo).
Primeira geração: conservam
características clássicas; temas ligados
ao nacionalismo (Portugal: romance
histórico e medieval; Brasil:
indianismo);

As Segunda geração (Ultrarromantismo):


exagero do subjetivismo e do
gerações emocionalismo (tédio, melancolia,
devaneio, sonho, desejo da morte),
românticas mal-do-século (pessimismo
generalizado);

Terceira geração: engajamento nas


questões sociais e políticas da época;
mantém o sentimentalismo e o tom
emocional, porém menos exaltados.
Romantismo em
Portugal
• Início do séc. XIX (crises políticas e econômicas):
- Bloqueio Continental entre Portugal e Inglaterra (exigência
da França, em 1807);

Portugal: - Corte portuguesa foge para o Brasil (1811);


- Fortalecimento do comércio entre Brasil e Inglaterra;

um país - Portugal perde mercado, entra em crise (Revolução Militar


em 1818, Revolta do Porto, em 1820, Revolta de Vila França,
1828, liderada por d. Miguel, irmão de D. Pedro, que
sem rei e restabeleceu o Absolutismo);
- Constituição de 1822, fruto da vitoriosa revolução liberal do
em crise Porto, institui a liberdade de imprensa e a separação dos
poderes (Poder Legislativo atribuído a representantes eleitos
– corte);
- 07/09/1822, Independência do Brasil, mas em 1825, D.
Pedro I é reconhecido como herdeiro do trono português;
- Lutas políticas e guerra civil entre conservadores
(absolutistas) e liberais (favoráveis a uma nova monarquia
constitucional), entre 1828 e 1834;
- Regeneração (1851), período da história portuguesa de
conciliação política, com o apoio de liberais e conservadores
em torno de programas de governo sobre o ensino técnico, a
industrialização, a construção de ferrovias e rodovias e a
colonização das possessões portuguesas na África.
• Marco inicial do Romantismo português:
publicação, em Paris, do poema “Camões”, em
1825, de Almeida Garrett, uma espécie de
biografia sentimental do famoso poeta-soldado.
Mas o Romantismo firma-se como movimento
literário a partir de 1836, com a criação da revista
Panorama, na qual se publicam textos claramente
românticos de importantes escritores
portugueses;

• Mudanças de estilo e de temas ao longo das


quatro décadas de duração do Romantismo na
literatura portuguesa, e evolução em três
momentos conforme se sucederam as gerações
dos autores, com exceção de Almeida Garrett e
Camilo Castelo Branco, cujas produções tiveram
vida longa e ultrapassaram os limites das gerações
em que são incluídos.
• Traços clássicos, recuperação do passado histórico
português (medieval) acentuando o caráter nacionalista de
suas obras.

• Almeida Garrett: tom confessional e até exibicionista;


poeta, prosador e dramaturgo, introduziu as ideias do
Primeiros movimento em Portugal. Folhas caídas (poema), Viagens
na minha terra (prosa de ficção que mistura relato de
românticos viagens, diário íntimo, ensaio, reportagem jornalística e
romance) e Frei Luís de Souza (obra-prima da dramaturgia
portugueses romântica e uma das principais de todo o teatro português,
é uma tragédia em três atos, por meio da qual o autor
aproveita a vida do escritor quinhentista Manuel de Sousa
Coutinho para desenvolver o nacionalismo histórico, moral
e psicológico).

• Alexandre Herculano: participante ativo nas lutas políticas


de sua época, mais importante como prosador que como
poeta, dedica-se a recriar a história portuguesa em
romances ficcionais com traços comuns de heroísmo e
bravura (histórias ambientadas na Idade Média); literatura
como espaço de reflexão. Eurico, o presbítero (romance
histórico de assunto monástico) e A voz do profeta.
Destino
Como a abelha corre ao prado,
Quem disse à estrela o caminho Como no céu gira a estrela
Que ela há de seguir no céu? Como a todo o ente o seu fado
A fabricar o seu ninho Por instinto se revela,
Como é que a ave aprendeu? Eu no teu seio divino
Quem diz à planta – “Floresce!” – Vim cumprir o meu destino...
E ao mudo verme que tece Vim, que em ti só sei viver,
Sua mortalha de seda Só por ti posso morrer.
Os fios quem lhos enreda?
Almeida Garrett
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há de pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! Não mo disse ninguém.
Este inferno de amar
Só me lembra que um dia formoso
Este inferno de amar – como eu amo! – Eu passei... Dava o Sol tanta luz!
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi? E os meus olhos, que vagos giravam,
Esta chama que alenta e consome, Em seus olhos ardentes os pus.
Que é a vida – e que a vida destrói – Que fez ela? Eu que fiz? – Não no sei;
Como é que se veio atear, Mas nessa hora a viver comecei...
Quando – ai quando se há de apagar?
Almeida Garrett

Eu não sei, não me lembra: o passado,


A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... – foi um sonho –
Em que jaz tão serena a dormir!
Oh! Que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! Despertar?
Eurico, o presbítero (1844)
A ação desse romance transcorre na época em que a Península
Ibérica é invadida pelos árabes (séc. VIII), antes da formação do reino
português.
Apaixonado por Hermengarda (filha do duque da Cantábria), mas
repelido pelo pai dela, Eurico, desesperado, refugia-se na vida
sacerdotal, procurando afogar sua frustração amorosa.
A invasão dos árabes, porém, desperta-o de seu retiro e inflama-o.
Disfarçado em um misterioso cavaleiro negro, participa corajosamente
das batalhas em defesa da Espanha, que não consegue resistir aos
inimigos. Mas o amor por Hermengarda estava adormecido e ressurge
violentamente quando eles se encontram.
A situação de Eurico (sacerdote celibatário) impossibilita a união.
Desesperado, Eurico se lança à luta decidido a morrer. Hermengarda
enlouquece.
• Décadas de 1840 a 1850: realização efetiva dos
ideais estéticos românticos, liberdade de criação,
entrega total ao subjetivismo e à imaginação;

• Transbordamento emocional e pessimista,


irracionalismo, tédio, melancolia, desespero,
O egocentrismo (Mal-do-século) e a inadaptação
social, escapismo, fantasia, sonho, desejo da
Ultrarromantismo morte.

Português (2ª • Lord Byron (poeta inglês): exaltação dos


sentimentos arrebatadores, isolamento da
Geração) sociedade (incompreensão).

• Camilo Castelo Branco: visão crítica, alterna


produção de novelas (tragédia amorosa) e sátira
(exageros românticos ridicularizados). É
considerado o criador da novela passional.
Romance-folhetim (Mistérios de Lisboa),
romance de amor trágico (Amor de perdição,
Amor de salvação), romance-sátiro (A queda de
um anjo), romance de costumes provincianos
(Novelas do Minho), romance histórico (O
judeu), romances de mistério, terror (Coisas
espantosas).
“O noivo do sepulcro”,
(...)
de Antônio Augusto Soares de Passos
E ao som dos pios do cantar funéreo,
Depois de três dias de seu E à luz da lua de sinistro alvor,
sepultamento, o fantasma de um Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
homem sai da tumba para lamentar a Foi celebrado, d’infeliz amor.
ausência da mulher amada e cobrar o
amor eterno que ela lhe tinha jurado.
Quando risonho despontava o dia,
Surge então o fantasma da
amada e lhe revela que também Já desse drama nada havia então,
morrera, sucumbindo à dor de sua Mais que uma tumba funeral vazia,
perda. Podem, assim, realizar na Quebrada a lousa por ignota mão.
morte a união que não fora possível
em vida. Porém, mais tarde, quando foi volvido
Esse poema nos dá uma medida
Das sepulturas o gelado pó,
dos excessos e do gosto duvidoso
Dois esqueletos, um ao outro unido,
comuns no Ultrarromantismo.
Foram achados num sepulcro só.
• Camilo Castelo Branco: escreveu durante quarenta anos uma das mais vastas obras
individuais da literatura portuguesa; dedicou-se a diversos gêneros, como a narrativa de
ficção (novelas e contos), o teatro, a poesia, a historiografia, o jornalismo; no ano em que
publicou seu mais importante romance, “Amor de perdição” (1862), publicou também
mais cinco romances, uma peça de teatro e um livro de memórias. Essa produção tão
extensa também era repleta de altos e baixos: parte de sua obra atendia à grande
demanda de aventuras folhetinescas (longa narrativa de caráter popular, cujos capítulos
eram publicados semanalmente nos jornais, usando a técnica do corte em momentos
decisivos de ação para manter o interesse do leitor e garantir a venda das edições
anteriores), cheias de enredos mirabolantes, de mistério, de revelações e reviravoltas nem
sempre verossímeis.

• “Amor de perdição” (1862) é considerado o romance passional modelar do


Ultrarromantismo, e seu autor o escreveu em 15 dias, quando estava preso na cadeia da
Relação do Porto por causa do complicado caso amoroso com Ana Plácido. Baseado num
caso verídico – a vida de um tio que, no começo do século, estivera preso na mesma
cadeia da Relação -, o livro reflete o estado de espírito do autor e possui evidentes
elementos autobiográficos.
• Após a década de 1860, surgem romances sem os exagero
passional das décadas de 1840 e 1850 (Segunda Geração),
com personagens e enredo mais cuidadosamente construídos
e aprofundamento psicológico das mesmas. Essa Terceira
Terceira Geração mantém ainda o subjetivismo romântico, e
prenunciam, em muitos aspectos, o Realismo dos anos 1870.

geração • João de Deus: poeta de extrema sensibilidade que retoma a

romântica tradição lírica portuguesa no que ela tem de mais belo e


sedutor: o idealismo amoroso e a visão espiritualizada da
mulher, que recobrem um erotismo tenso e sublimado.
portuguesa
• Júlio Dinis (pseudônimo de Joaquim Guilherme Gomes
Coelho): vida curta (32 anos), mas obra considerável pela
extensão e pelas qualidades literárias. Em sua ficção, visão
otimista da vida e o ser humano. Romance de tema
contemporâneo, tentando reaproximar a visão romântica e a
realidade que inspira o autor (vida no campo, simples,
felicidade doméstica; características pré-realistas: ambiente
burguês, lentidão na narrativa, agudas e detalhadas descrições
do ambiente e da realidade exterior, caracterização psicológica
e moral dos personagens). As pupilas do senhor reitor (1867),
Uma família inglesa (1868), Serões da província (1870),
Poesias (1873), teatro, ensaio e jornalismo.
As pupilas do Senhor Reitor (1867)
Daniel se preparava para ingressar no seminário quando o reitor descobre
seu inocente namoro com a pastorinha Margarida. Seu pai, então, manda-o
para a cidade estudar medicina.
Quando retorna à sua pequena cidade natal, Daniel é um médico homeopata
– e um impulsivo namorador, que nem se lembra de sua ex-namorada de
juventude. Já Margarida, que se tornou professora de crianças, nunca o
esquecera. Sua irmã, Clara, é noiva de Pedro, irmão de Daniel. Este encanta-
se pela futura cunhada e tenta conquistá-la. Ela, de início, gosta das
investidas, mas depois de pensar nas consequências, arrepende-se. Ele e
Clara marcam um encontro no jardim da casa dela, e são surpreendidos por
Pedro. Margarida é quem salva Daniel, colocando-se no lugar de Clara – e
envolvendo-se em um escândalo que compromete sua reputação.
Impressionado pela abnegação da moça, Daniel finalmente se lembra do
amor da infância. Agora apaixonado por Margarida, o rapaz muito insiste até
ter seu amor finalmente aceito pela ex-namorada.

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