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O problema do livre-arbítrio é uma das questões filosóficas mais difíceis.

Por um lado, as
pessoas acreditam que escolhem (pelo menos) parte daquilo que fazem. Por outro lado, existem
as evidências e a explicação científica do mundo fundada no determinismo e no princípio da
causalidade universal. Será que é possível conciliar/compatibilizar a liberdade e o
determinismo?

Determinismo radical:
Tese: Não há livre-arbítrio porque todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores.
Argumentos: se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio. O determinismo
é verdadeiro. Logo, não temos livre-arbítrio.
Vantagens: Parecer estar de acordo com a perspetiva segundo a qual a ciência descreve a forma
como o mundo funciona - “todo o acontecimento é causado por acontecimentos anteriores” ou
“tudo tem uma causa”.
Desvantagens: É difícil provar que o livre-arbítrio é realmente uma ilusão. É difícil provar que
todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores. Não parece deixar espaço à
responsabilidade moral.

Libertismo:
Tese: Há livre-arbítrio, mas não haveria se todos os acontecimentos fossem efeitos de causas
anteriores.
Argumentos: Se todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores, então não há livre-
arbítrio. Há livre-arbítrio. Logo, nem todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores.
Vantagens: Parece estar de acordo com a forma como concebemos as nossas ações e a tomada
de decisões. Se temos liberdade, então temos responsabilidade.
Desvantagens: Nada nos garante que não possamos estar a viver sensações ilusórias e
enganadoras. Imaginar que a nossa mente, ou parte dela, possa funcionar fora das leis da
natureza e do cérebro, enquanto estrutura biológica, física e química não é plausível e contradiz
o que conhecemos através das neurociências.

Determinismo moderado:
Tese: Temos livre-arbítrio, mesmo que todos os acontecimentos sejam efeitos de causas
anteriores.
Argumentos: Todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores. Há livre-arbítrio.
Logo, é falso que, se todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores, então não há
livre-arbítrio.
Vantagens: Noção de livre-arbítrio e noção de responsabilidade. Somos responsáveis pelas
ações cuja causa são estados internos - crenças e desejos do agente.
Desvantagens: A distinção entre ações livres e não livres não é clara. Do facto de não sentirmos
qualquer constrangimento para fazer algo, não se segue que não estejamos mesmo
constrangidos, pois pode apenas dar-se o caso de não termos consciência dos nossos
constrangimentos. Não explica o comportamento compulsivo. Quem age compulsivamente
age de acordo com os seus próprios desejos e crenças, mas a ação não é livre. Uma pessoa com
a compulsão para roubar é uma pessoa cuja ação tem uma causa interna, ou seja, não consegue
resistir a um desejo mais forte do que ela. A sua ação é livre (causa interna) e não é livre (é
forçada). O determinismo contradiz-se.
Se todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores, então não há livre-arbítrio.
Todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores. Logo, não há livre-arbítrio.

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