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1. Administração Pública (AP) - são os órgãos, pessoas jurídicas e agentes públicos que
exercem a função administrativa visando à satisfação das necessidades coletivas
(interesse público). Em sentido subjetivo (formal ou orgânico) é o conjunto de órgãos,
pessoas jurídicas e agentes públicos (Administração Direta e Indireta) aos quais a lei
atribui o exercício da função administrativa do Estado. A Administração Pública Direta
(interna ou centralizada - APD) está dentro das entidades federativas (entidades
estatais, pessoas políticas - União, Estados Federados, municípios e Distrito Federal) e
seus órgãos. A Administração Pública Indireta (API) é composta de pessoas jurídicas
separadas, com personalidade jurídica própria, chamadas de entidades
administrativas, como as autarquias, as empresas públicas, as sociedades de economia
mista e as fundações públicas. Em sentido objetivo (material ou funcional) é a própria
função administrativa (atividade administrativa), as atividades necessárias ao serviço
público em geral (serviço público, intervenção na ordem econômica e social, policia
administrativa e fomento público), exercidas pelas pessoas jurídicas, órgãos e agentes
públicos para consecução dos objetivos do Governo. A função administrativa é a
atividade concreta e imediata (atos concretos e executórios) exercida pela AP para a
consecução do interesse público. Todos os Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário)
de todas as entidades federativas (União, Estados Federados, Distrito Federal e
Municípios) têm necessidade de praticar atividades administrativas, exercer a função
administrativa, ainda que restritos à sua organização e ao seu funcionamento.
6. Poder disciplinar - é o poder de, na forma da lei, apurar infrações e aplicar penalidades
aos servidores públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina administrativa; que é o
caso das que com ela contratam (como as concessionárias de serviço público).
Corresponde ao poder-dever de punição administrativa ante o cometimento de faltas
funcionais ou violação de deveres funcionais por agentes públicos. Não se confunde com
o poder da mesma de punir a conduta de particulares (ex: multa de trânsito) nem com o
poder punitivo do Estado em caso de crime, realizado através da Justiça Penal.
7. Poder regulamentar (poder normativo) - poder de, na forma da lei, editar atos
normativos (regulamentos, decretos, portarias, instruções, circulares, ordens de serviço e
resoluções, editais, etc.) complementares à lei, para sua correta execução, ou de expedir
decretos autônomos sobre matéria de sua competência não disciplinada na lei.
11. A autoridade, no uso dos seus poderes, deve seguir os princípios administrativos,
que são divididos em expressos (explícitos, constitucionais) do Direito
Administrativo - Constituição federal, Art. 37, caput – “A APD e API de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência” – e
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princípios reconhecidos (implícitos) do Direito Administrativo – da finalidade
pública, da supremacia (preponderância) do interesse público sobre o interesse privado;
da indisponibilidade do interesse público; da autotutela, da continuidade do serviço
público, da razoabilidade e da proporcionalidade, da motivação - princípios específicos
da Administração Indireta - Princípio da reserva legal, da especialidade e do controle
finalístico ou tutela administrativa - e outros princípios que se aplicam ao Direito
Administrativo - da segurança jurídica, da motivação, da boa-fé, do devido processo
legal, da ampla defesa e do contraditório, da inafastabilidade do Poder Judiciário e
outros.
15. Princípio da moralidade - o administrador público deve ter estar de boa-fé, atuar
com ética, honestidade, legitimidade, probidade, atendendo ao interesse público
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(princípio da finalidade pública), não sendo lícito utilizar-se de meios legais para atingir
fins ilegítimos, ainda que implícitos na lei (Lei 9784/99, art. 2º, § único, IV e D 1171/94 -
Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil Federal).
26. Motivo - são as razões de fato e de direito que geram a vontade do agente quando da
prática do ato administrativo, que servem de fundamento, que impulsionam a
manifestação de vontade do agente administrativo. Motivo de fato: é a situação de fato
(circunstância, acontecimentos) que enseja o ato e determina a sua edição. Ex: na
desapropriação de terreno, é a falta de terreno para a construção de escola na
comunidade. Motivo de direito é a previsão legal como ensejadora da vontade
administrativa. Há previsão legal da desapropriação por utilidade pública, para a criação
da escola. A motivação é a exposição dos motivos que determinaram a prática do ato, a
exteriorização dos motivos que levaram a Administração a praticar o ato, a declaração
escrita desses motivos. Segue o princípio da motivação, onde o administrador público
deve justificar sua ação administrativa, indicando os fatos (pressupostos de fato) que
ensejam o ato e os preceitos jurídicos (pressupostos de direito) que autorizam sua
prática. Deriva do princípio da transparência (princípio da publicidade). Lei 9784/99, art.
2º, § único, VIII, art. 50; CF, art. 93, X. A doutrina majoritária entende que, para fins de
controle, tanto os atos vinculados quanto os discricionários devem ser motivados. Na sua
falta, haverá vício na forma (exteriorização do motivo do ato). Não há dúvida que
devemos motivar os atos que a lei exigir e os atos de conteúdo decisório que podem
interferir em direito individual. Há casos claros de inexigibilidade da motivação: cargos em
comissão, de livre nomeação e exoneração - regra de previsão constitucional (art. 37, II).
Teoria dos motivos determinantes – quando a Administração declara o motivo que
determinou a prática do ato, fica vinculada a este. Ex.: cassação de licença para advogar
fundamentada com o motivo X: quando falso, anula-se a cassação, mesmo que haja
outro motivo.
27. Finalidade – é o objetivo a ser alcançado pelo ato administrativo. Em sentido amplo
(genérico), é a satisfação do interesse público. Em sentido estrito (específico), é o
objetivo definido para o ato. No exemplo da desapropriação, é a construção de escola
pública, o aumento do número de vagas.
28. Objeto – no seu aspecto jurídico (conteúdo), é a alteração da situação jurídica que
o ato administrativo se propõe a processar (criação, resguardo, transferência,
modificação, extinção ou declaração de direitos). Ex.: desapropriação do terreno; no seu
aspecto físico (objeto propriamente dito), é o objeto concreto do ato. Ex.: o terreno.
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29. Competência - é o poder-dever atribuído pela legislação ao agente para o
desempenho específico de suas funções. No exemplo da desapropriação, será o chefe
do Poder Executivo (Presidente, Governador ou prefeito) que expedirá o ato
expropriatório.
37. Atos normativos - são atos de comando abstrato, geral e impessoal, sem
destinatários determinados, regulando uma quantidade indeterminada de pessoas que se
encontram na mesma situação jurídica abrangida por seus preceitos. Ex.: regulamentos,
regimentos, resoluções, deliberações, instruções normativas, pareceres normativos e
portarias de conteúdo geral. São contrários aos atos individuais, concretos ou especiais,
que regulam situações jurídicas concretas, tendo destinatários individualizados, certos,
mesmo que coletivamente, criando-lhes situação jurídica particular, gerando direitos
subjetivos para seus destinatários, criando-lhes encargos administrativos pessoais. Estes
últimos são atos enunciativos, negociais e punitivos;
40. Atos negociais - são atos que, a pedido do interessado, contêm declaração de
vontade da Administração apta a concretizar negócio jurídico ou deferir faculdade ao
particular, nas condições impostas ou consentidas pelo Poder Público (ato unilateral com
vontade bilateral). Ex.: licença, permissão e autorização. A licença é o ato vinculado,
com presunção de definitividade, de natureza declaratória, por meio do qual a
Administração, quando satisfeitos todos os requisitos legais, confere ao interessado
consentimento para o desempenho de certa atividade. Resulta de um direito subjetivo do
interessado, vinculado à lei, razão pela qual a Administração não pode negá-la e, uma
vez expedida, traz a presunção de definitividade. Ex: licença para construir, para
funcionamento de estabelecimento comercial, para exercer profissão regulamentada em
lei, etc. A permissão é o ato discricionário e precário (pode ser revogado a qualquer
tempo) pelo qual a AP consente na execução de serviços de utilidade pública ou no uso
especial de bem público, para atendimento de interesses concorrentes entre o
permitente, permissionário e o usuário. Há sempre a necessidade de atendimento de
interesses coletivos concorrentes. Ex: bancas de jornal, transporte público individual
(táxi). A autorização é ato administrativo discricionário e precário pelo qual a
Administração consente que o particular exerça atividade ou utilize bem público no seu
próprio interesse. A autorização é quase igual à permissão, a única diferença é que
predomina o interesse particular do autorizatário (se não houver interesse público o ato é
nulo por desvio de finalidade). Ex: permite a utilização de uma praça pública para
realização de uma festa junina; autoriza o uso de uma calçada por um restaurante para
que coloque as mesas naquele local; autorização para estacionamento de veículos
particulares em terreno público; autorização para porte de arma, etc.
41. Atos punitivos (sancionatórios) - são os que contêm uma sanção imposta pela
Administração àqueles que infringem disposições legais, regulamentares ou ordinatórias
dos bens ou serviços públicos, que são as infrações administrativas. Visam a punir e
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reprimir as condutas irregulares dos servidores (poder disciplinar – atuação interna) e
particulares (poder de polícia – atuação externa). Ex.: multas administrativas, interdição
administrativa, destruição de coisas, advertência, suspensão, demissão.
43. Atos vinculados – são aqueles em que todos os elementos do ato (competência,
forma, finalidade, motivo e objeto) estão definidos de forma na lei (vinculados à lei), sem
deixar qualquer margem de liberdade ao administrador para escolher o momento
oportuno e a conveniência para a Administração. Ex.: lançamento de um tributo. Na
ocorrência do fato gerador, não pode o fiscal decidir se é oportuno ou conveniente o seu
lançamento; há apenas um único e possível comportamento do fiscal: lançar, sobe pena
de estar cometendo ilegalidade por omissão e ser punido por isto;
44. Atos discricionários – são aqueles em que a Administração pode praticar com
liberdade de escolha do mérito do ato (mérito administrativo), nos termos e limites da
lei, quanto ao seu objeto (conteúdo) e seu motivo (modo de realização, oportunidade,
conveniência, justiça e eqüidade). Ex.: desapropriação de terreno. Desapropria-se
quando, preenchidos os requisitos legais, for oportuno e conveniente para a
Administração.
46. Atos de império – são praticados de ofício pela AP, sem requerimento ou anuência
dos administrados, pela supremacia, pelo poder de império (ius imperii), impostos
coercitivamente aos servidores e administrados. Decorrem do Ex: atos de polícia
(apreensão de bens, embargo de obra, multa), regulamento, tombamento,
desapropriação, etc.
47. Atos de gestão - são praticados no mesmo plano jurídico dos particulares, sem uso
da supremacia da Administração, intervindo a vontade do particular, voltados para a
gestão da coisa pública (ius gestionis). Exemplos: licenças, permissões e autorizações,
contratos em geral, etc.
48. Atos de expediente - são destinados a dar andamento aos processos e papéis que
tramitam pelas repartições públicas, de mera rotina interna, sem forma especial, sem
competência decisória. Ex.: ato de abertura de prazo para recorrer de decisão
administrativa.
53. Extinção dos atos administrativos - extinção normal ou natural – acontece quando o
ato teve a sua execução material, atingiu o objetivo, chegou ao seu termo final, ou foi
extinto por implemento de condição resolutiva. Ex.: concessão e gozo de férias por
servidor, termo final de autorização por prazo certo, recomeço da contagem dos prazos
após fim de greve, etc. Extinção anormal – a extinção objetiva (desaparecimento do
objeto) acontece quando desaparece o objeto material do ato (e não o objeto elemento
do ato administrativo, que é objeto jurídico-normativo). Ex.: O fim do imóvel tombado
(desabamento) extingue o ato administrativo de tombamento. A extinção subjetiva
(desaparecimento do sujeito) ocorre com o desaparecimento do sujeito que se
beneficiou do ato, sobre o qual recai a manifestação de vontade da administração
(elemento subjetivo do ato). Ex.: a morte do permissionário. Sendo as permissões, em
regra, intransferíveis, extingue o ato por falta do elemento subjetivo. A caducidade
acontece quando norma jurídica superveniente é contrária àquela que respaldava a
prática do ato precário, impedindo a eficácia deste (salvo direito adquirido). Difere da
revogação, porque não houve vontade da Administração. Exemplo: autorização para uso
de um bem público. Se, supervenientemente, é editada lei que proíbe tal uso privativo por
particulares, o ato anterior, de natureza precária, sofre caducidade, extinguindo-se. Ex:
bingos – as autorizações foram concedidas com base na norma em vigor. A medida
provisória superveniente tornou essas autorizações incompatíveis. O desfazimento
volitivo acontece quando há manifestação de vontade do administrador ou do
administrado. São a renúncia, a cassação, contraposição, anulação (ou invalidação) e
revogação. A renúncia acontece quando o beneficiado desiste do ato de forma expressa.
A cassação acontece quando o beneficiário descumpre condições legais que permitem a
manutenção de ato negocial (vinculado ou discricionário) e de seus efeitos. Ex.:
advogado frauda o sistema previdenciário e é cassado (perda da licença). A
contraposição é a perda dos efeitos de um ato em virtude da prática de outro, cujos
efeitos são incompatíveis com o anterior. São atos com efeitos contrapostos. Ex: a
exoneração de um servidor extingue os efeitos da sua nomeação. A anulação ou
invalidação é a extinção do ato administrativo em virtude da existência de vício de
legalidade. A revogação é a extinção de ato administrativo discricionário, legítimo e
eficaz por não mais convir sua existência. Acontece quando as razões de conveniência e
oportunidade, justiça e equidade que existiam na feitura do ato não subsistem.
54. Anulação e revogação dos atos administrativos – Súmula do STF, enunciado 346 –
"A AP pode declarar a nulidade dos seus próprios atos” – enunciado 473 - "A
Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados dos vícios que os tornem
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, a ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial". É uma decorrência do princípio da legalidade.
55. A anulação refere-se ao vício de legalidade e pode ser realizada pela AP (de oficio ou
mediante provocação - princípio da autotutela administrativa e da legalidade – CF, art. 37,
caput - controle interno) ou pelo Poder Judiciário (mediante provocação – princípio da
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inafastabilidade do controle judicial – CF, art. 5º, XXXV). A anulação do ato terá efeito ex
tunc (a declaração da nulidade do ato irá retroagir a data da sua feitura, e todos os
efeitos que o ato gerou serão apagados, voltando ao status quo ante). Tanto os atos
vinculados, quanto os atos discricionários são passiveis de anulação. Devemos lembrar
que vige a presunção de legalidade, legitimidade e veracidade do ato, valendo este
até que seja declarada a sua nulidade. Mesmo anulado o ato, o princípio da boa-fé e a
teoria da aparência, resguardam os efeitos já produzidos em relação aos terceiros de
boa-fé. Ex.: a anulação da investidura do servidor não afeta os atos que praticou com
terceiros de boa-fé. Requisitos para que o ato praticado por quem não tem
competência tenha validade em relação a terceiros - 1º) o terceiro tem que estar de
boa-fé (princípio da boa-fé); 2º) o sujeito tem que ter aparência de agente público (teoria
da aparência); 3º) o ato tem que ser praticado em situação de normalidade (sem guerra,
calamidade pública, enchente, terremoto, maremoto, estado de defesa, estado de sítio,
intervenção federal, etc.). Isto não significa que o ato nulo gere direito adquirido. O
ato de investidura é inválido e não há direito adquirido para o servidor (direito à
nomeação, direito a tempo de serviço, férias, anuênio, etc., todos estes efeitos serão
apagados). Mas os atos praticados para os terceiros de boa-fé (recebimento dos
impostos, expedição de certidões, sentenças prolatadas, etc.) serão válidos.
56. Na revogação o ato é legal, mas se tornou inoportuno e / ou inconveniente para a AP.
Somente esta pode reanalisar o mérito administrativo (oportunidade e conveniência,
justiça e eqüidade) e por isso somente a Administração pode decidir revogar o ato
administrativo (o Poder Judiciário só pode realizar a revogação no exercício da sua
função administrativa). A revogação do ato terá efeito ex nunc (o ato deixará de existir, e
os efeitos gerados pelo ato até então serão preservados). Somente os atos
discricionários são passíveis de revogação.
57. A AP controla seus próprios atos em toda a sua plenitude, isto é, sob os aspectos da
legalidade, oportunidade, conveniência, justiça e eqüidade.
58. Existem duas teorias em Direito Administrativo sobre a validade do ato - pela teoria
monista, o ato administrativo pode válido ou nulo (não há como convalidar). Pela teoria
dualista, o ato administrativo pode ser válido, anulável (sujeito à convalidação), nulo
(não há como convalidar).
59. A AP, deparando com o ato nulo, deverá anulá-lo, salvo 1) quando houver “fato
consumado”, que por interesse público, entende-se melhor não invalidar - a
desconstituição do ato geraria agravos maiores ao interesse público do que sua
permanência. Prevalece o princípio do interesse público sobre o da legalidade
estrita; Ex: o loteamento irregularmente licenciado só vem a ser descoberto depois que
inúmeras famílias regularmente edificaram neste. Os efeitos da invalidação significaria o
retorno ao status quo ante, com a expulsão de todas as famílias e ressarcimento dos
prejuízos ocasionados pela AP; 2) por decurso do tempo (decadência) – quando
escoar o prazo legal para a Administração invalidar o ato (cinco anos – DL 20910/32; Lei
n° 9784/99, art. 54). Este art. é a positivação do princípio da segurança jurídica ou da
estabilidade das relações jurídicas.
60. A Administração, Pública, deparando com ato válido e discricionário que se tornou
inoportuno e inconveniente, não irá revogá-lo quando - 1) extintos naturalmente e
exauridos os seus efeitos - Ex.: ato defere férias a servidor – gozadas as férias, o ato
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está consumado, exauridos estão seus efeitos; 2) atos vinculados, pois em relação a
estes o administrador não tem liberdade de atuação. Exemplo: licença profissional
legalmente regulamentada não pode ser retirada do mundo jurídico por
discricionariedade da Administração. 3) direitos adquiridos – CF, art. 5°, XXXVI -
através da concretização de ato normativo ou da criação de ato concreto, vinculado ou
discricionário, nasce direito adquirido ao ato ou aos seus efeitos, incorporando-se ao
patrimônio jurídico do destinatário. Ex.: ato de investidura do servidor (nomeação + posse
+ exercício) gera direito ao exercício da função pública. 4) atos integrativos de um
procedimento administrativo - opera-se a preclusão do ato anterior pela prática de ato
sucessivo. Ex.: licitação - não pode ser revogado o ato de adjudicação na licitação
quando já celebrado o respectivo contrato. 5) os denominados enunciativos ou meros
atos administrativos, pois estes não criam direito, apenas atestam, certificam, declaram
situação preexistente ou exaram juízo de valor como os atestados, registros, certidões e
pareceres.
62. Meios de controle dos atos administrativos – na AP, o administrado tem o direito de
petição ou representação (art. 5º, XXXIV, "a") e processo administrativo, onde o
contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal devem ser garantidos (CF, art. 5º,
LIV e LV). No Poder Judiciário, para anulação dos atos administrativos concretos, há o
mandado de segurança (CF, art. 5º, LXIX, e Lei 1533/51), ações comuns (ordinárias e
sumárias) e especiais, ação popular (CF, art. 5º, LXXIII; Lei 4.717/65, art. 2º) e ação
civil pública (CF, 129, III e lei 7347/85). Pode-se responsabilizar criminalmente por
abuso de autoridade (Lei 4.898/65) e civilmente por improbidade administrativa (CF,
art. 37, § 4º; 85, V e lei 8429/92). A Constituição Federal garante o direito à informação e
o direito à obtenção de certidões dessas informações (CF, Art. 5º XXXIII, LX, XIV, XXXIV,
b). Para a obtenção de informações pessoais e retificação destas, cabe habeas data
(CF, art. 5º, LXXII). Quando não couber habeas data, caberá mandado de segurança. Se
for ato normativo que viole diretamente a Constituição, caberá recurso extraordinário,
ação direta de inconstitucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade e
argüição de descumprimento de preceito fundamental. Se o ato normativo for
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contrário à lei, caberá recurso especial para o STJ. Quando houver omissão legislativa
da AP, caberá mandado de injunção ou ação de inconstitucionalidade por omissão.
O controle judicial normalmente é posterior ao ato, e à produção do ato
administrativo. Excepcionalmente prévio (MS preventivo, liminar em ação popular, ação
civil pública, ação cautelar, etc.).
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atendimento do princípio da impessoalidade, da moralidade, da eficiência e da finalidade
pública (CF, art. 37, XXI).
67. Obrigatoriedade do procedimento licitatório – a CF, art. 37, XXI diz que “ressalvados
os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições
a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá
as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do
cumprimento das obrigações”.
68. Lei de licitações e contratos administrativos – são regulados pela Lei 8666/93. Há
disposições gerais (art. 1º a 19), artigos sobre licitação (art. 20 a 53) e contratos
administrativos (art. 54 a 80). Há ainda sanções administrativas e tutela judicial (art.
81 a 108) e recursos administrativos (art. 109). É necessária a leitura desses artigos
para a compreensão dos institutos e dos casos concretos.
69. Princípios da licitação - A Lei 8666/93, art. 3º, enumera os princípios incidentes no
procedimento licitatório - legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade,
publicidade, probidade administrativa, vinculação ao instrumento convocatório e
julgamento objetivo. São específicos da licitação - procedimento formal - impõe a
necessária obediência ao rito legal e as fases estabelecidas pela legislação, constituindo
direito público subjetivo a sua fiel observância (Lei 8666/93, art. 4º). Não se confunde
com formalismo inútil, não há anulação por mera imperfeição formal (pas de nullité sans
grief). Sigilo na apresentação das propostas - devassar o conteúdo de proposta é
crime (Lei 8.666/93, art. 94) e improbidade administrativa (Lei 8429/92, art. 10, VIII). O
princípio assegura a competitividade do certame (princípio correlato) e a observância
da igualdade (isonomia) entre os licitantes. Vinculação ao edital (ao instrumento
convocatório) - o instrumento convocatório (edital ou convite) constitui a lei interna da
licitação e, por isso, vincula aos seus termos tanto a Administração como os particulares.
Julgamento objetivo - as regras de julgamento devem ser prévias (edital) e objetivas,
claras e induvidosas. Tipo de licitação deve estar claro (maior preço, melhor técnica,
etc.). O edital deve ser claro o suficiente para que se conheça antes o critério de
julgamento que será usado. Adjudicação compulsória ao vencedor - conhecido o
resultado do julgamento e realizada a adjudicação, se a Administração vier a contratar,
deverá fazê-lo com o vencedor do certame. Não poderá a Administração dar início a nova
licitação, revogar a anterior ou protelar a contratação, salvo se presente o interesse
público.
72. Audiência pública - excepcionalmente, a fase externa começa com audiência pública,
nas hipóteses que contemplam contratação futura cem vezes superior ao limite imposto
para a concorrência de obras e serviços de engenharia (150 milhões de reais – art. 39).
73. Ato convocatório (edital ou carta-convite) - o edital deve ser divulgado interna e
externamente, admitindo-se a publicação resumida na segunda hipótese (aviso do edital).
O prazo de convocação dos interessados está na lei 8666/93, art. 21 e lei 10520/02,
art. 4º, V - quarenta e cinco nos concursos, trinta dias nas concorrências, quinze dias nas
tomadas de preço e leilão; oito dias úteis no pregão e cinco dias úteis nos convites. Ele
deve conter: objeto da licitação; prazo e condições para a assinatura do contrato;
sanções em razão do inadimplemento; local onde poderá ser examinado o projeto básico
e o projeto executivo, critérios para participar da licitação e para o julgamento, condições
de pagamento, exigência de seguros, dentre outras cláusulas obrigatórias (Lei 8666/93,
art. 40 e incisos). O prazo para a impugnação do edital e seus termos expira, para o
licitante, no segundo dia útil, e para o cidadão, no quinto dia útil que anteceder a abertura
dos envelopes de habilitação nas concorrências ou dos envelopes com as propostas nos
convites, tomadas de preços, concursos e leilões (Lei 8666/93, art. 41, §§ 1º e 2º).
Deixando de fazê-lo, não mais poderá impugná-lo. A carta-convite é o instrumento
convocatório utilizado para chamar interessados a participar da licitação quando adotada
a modalidade “convite”. A carta-convite é enviada diretamente aos interessados e não
precisa ser publicada, devendo, entretanto, ser fixada cópia em local apropriado (art. 22,
§ 3º). Aplicam-se à carta-convite, no que for cabível, as disposições relativas ao edital,
especialmente quanto à identificação do objeto da licitação, critério de julgamento, e
demais condições cujo conhecimento seja indispensável.
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75. Classificação das propostas – é a análise das propostas pela comissão, quanto ao
seu conteúdo, se são factíveis e atendem aos requisitos do edital, sob pena de
desclassificação. O exame das propostas e a conseqüente classificação poderão ensejar
a realização de perícias, exames, testes, para a verificação da exeqüibilidade da proposta
apresentada. A proposta inidônea será desclassificada.
76. Julgamento das propostas – é a escolha da proposta vencedora pela comissão, dentre
as propostas selecionadas na classificação. O julgamento deve ser objetivo, e acordo
com os critérios de avaliação descritos no edital e seguir o tipo de licitação adotado
(menor preço, melhor técnica, preço e técnica, maior lance ou oferta – art. 45 e lei
10520/02, art. 4°, X). Para o julgamento do tipo “melhor técnica” empregam-se três
envelopes: um para a documentação - habilitação, outro para a técnica a ser empregada,
e o terceiro contendo a proposta. A Administração, selecionando a melhor técnica, deverá
em seguida eleger o melhor preço, negociando, se caso, com o vencedor para que
prevaleça o menor preço apresentado. A licitação de menor preço é utilizada quase
sempre. A de melhor técnica e de técnica e preço são reservadas para serviços de
natureza intelectual (projetos, consultorias) e excepcionalmente utilizadas para o
fornecimento de bens, execução de obras ou prestação de serviços. Por fim, o tipo maior
lance ou oferta refere-se, exclusivamente, ao leilão. Havendo empate, aplicasse o critério
da preferência deferida a bens ou serviços produzidos no Brasil (Lei 8666/93, art. 45, §
2º); mantido o empate, aplicasse o sorteio.
79. Adjudicação - O licitante que teve a sua proposta acolhida como a vencedora (seja em
razão do preço, da técnica, da técnica e preço, ou lance) terá direito ao futuro contrato. A
adjudicação produz os seguintes efeitos jurídicos: 1) impede a Administração de proceder
à abertura de outra licitação com idêntico objeto; 2) confere ao vencedor o direito de
preferência à contratação futura. Trata-se de mera expectativa de direito já que é incerta
a formalização do contrato ou direito se a contratação efetivamente se realizar; 3) vincula
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o vencedor nos termos do edital e da proposta consagrada; 4) sujeita o vencedor
(adjudicatário) às penalidades previstas no edital se não assinar o contrato no prazo
estabelecido; 5) libera todos os demais participantes, inclusive as garantias por eles
oferecidas.
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para a aplicação da teoria da imprevisão 1) a anormalidade dos fatos, a imprevisibilidade
destes e a ausência de desejo das partes para a sua ocorrência; 2) o rompimento do
equilíbrio econômico-financeiro capaz de inviabilizar o contrato. Constituem causas
justificadoras da inexecução: Caso fortuito - evento decorrente da vontade do homem
que repercute negativamente na execução do contrato, impondo, não por desejo das
partes (em especial do contratado), obstáculo intransponível, que não pode ser evitado.
Exemplos: greve, paralisação de trabalhadores, rebeliões, conturbações sociais, etc.
Força maior - evento decorrente da força da natureza que, por ausência de qualquer
intenção das partes, impõe obstáculo à execução regular do contrato, sem que possa ser
evitado. Exemplos: enchentes, inundações, tufões, vendavais, etc. Fato do príncipe - é
todo ato geral, imprevisível, do Poder Público que, incidindo indireta ou reflexamente no
contrato, onera de modo substancial a sua execução ou impõe obrigação insuportável
para o contratado, como, por exemplo, a de a proibição ou o aumento do imposto de
importação de produtos cujo fornecimento tenha sido contratado. Fato da administração
- é o ato da Administração que, incidindo diretamente sobre o contrato, impede a sua
regular execução, como na interrupção prolongada e imotivada de pagamentos devidos
ao contratado ou na não-liberação de área ou objeto necessário à execução do contrato.
Interferências imprevistas - fatos materiais imprevistos, mas existentes ao tempo da
celebração do contrato, como diversidade de terrenos conhecidos somente no curso da
execução de uma obra pública, tornando ainda mais complexa e onerosa a execução do
contrato.
87. Modalidades de contratos em espécie - contrato de obra pública - tem por objeto
uma construção, uma reforma ou uma ampliação de obra pública; a celebração, via de
regra, depende de licitação; a remuneração devida ao contratado (contraprestação a ser
arcada pela Administração) pode ser (art. 6º, VIII, a e e): 1) por empreitada: a
contraprestação (remuneração) é previamente fixada por preço certo, ainda que: a) por
preço unitário - é preço certo por unidade. Ex.: R$ 10.000,00 por casa, não se sabendo
ao certo o número de casas que serão feitas. b) por preço global - é preço certo, sendo
reajustado de acordo com a necessidade, pago em prestações. Ex.: 100 casas por R$
1.000.000,00 com reajuste de acordo com variações de preço do material, custo do
serviço, etc.; c) por preço integral - é preço certo e cujo pagamento se dará ao final.
Ex.: R$ 1.000.000,00 para a construção de 100 casas, onde o empreiteiro terá que
ajustar a obra ao preço dado. 2) por tarefa: a contraprestação é devida na proporção em
que é realizada a obra, periodicamente, após medição da Administração. contrato de
serviço - é todo ajuste que tem por objeto a prestação de uma atividade, pelo contratado,
à Administração. Os serviços podem ser comuns ou técnicos profissionais
(generalizados ou especializados): 1) Serviços comuns: independem de habilitação
específica, especial e não são privativos de categoria profissional, devendo ser
contratados sempre por licitação, salvo se dispensável em razão do valor do contrato.
Ex.: contrato para pintar um prédio. 2) Serviços técnico-profissionais: exigem
habilitação especial; que pode ser o registro do profissional ou a conclusão de curso
técnico ou universitário. Podem ser generalizados ou especializados: a) Serviços
técnico-profissionais generalizados: carecem de habilitação profissional, mas não
exigem para seu exercício conhecimentos técnicos incomuns. Exigem licitação.
Exemplos: serviços de engenharia, arquitetura, advocacia. c) Serviços técnico-
profissionais especializados: carecem de habilitação profissional e exigem o emprego
de conhecimentos técnicos e científicos incomuns, podendo autorizar a contratação direta
ante a inexigibilidade da licitação. A contratação direta exige, além da qualificação, a
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notória especialização do profissional (Lei 8666/93, art. 25, § 1º). A Lei de Licitações
arrola os serviços que considera técnicos profissionais especializados: estudos,
planejamentos, projetos, consultorias, auditorias, fiscalização, gerenciamento, supervisão
de obras, patrocínio de causas judiciais ou administrativas, etc. Ex.: advogado para
promover uma sustentação oral em tribunais superiores (STF, STJ) ou distantes
(tribunais internacionais, tribunais ou comarcas longe da entidade federativa, etc.).
Contrato de gerenciamento - trata-se do contrato pelo qual o Poder Público transfere ao
contratado a condução de um empreendimento (assessoria, consultoria, fiscalização),
conservando a Administração, porém, a capacidade decisória (os serviços que deverão
ser contratados, os custos, a imposição de penalidades, etc.). É atividade de mediação,
serviço técnico-profissional especializado, comum nas grandes obras (como nas
hidroelétricas, rodovias, etc.). Será o particular o controlador, condutor, gerenciador da
obra, atuando como mediador. Nesta espécie de contrato, a Administração remunera o
custo e a comissão devida pelos serviços do contratado, que tem amplas atribuições:
contrata pessoas, adquire bens e equipamentos, executa os serviços. O contrato de
gerenciamento não se confunde com a figura da "Administração contratada" (que foi
objeto de veto presidencial, foi proibida), onde não há previsão do custo final e a
ausência de controle pela Administração. Contrato de fornecimento (contrato de
compras) - são os contratos de compra que prevêem a aquisição de bens móveis pela
Administração, tais como materiais ou produtos de qualquer natureza. Identificam-se aos
contratos de compra regidos pelo direito privado. As aquisições devem ser licitadas, salvo
se o valor autorizar a dispensa de licitação. Pode ser de três modalidades: 1) integral:
exaure-se com a entrega de uma só vez da coisa adquirida; 2) parcelada: é entrega
parcelada, de uma quantidade pré-determinada, em um número de vezes pré-
determinado, com uma entrega final pré-estipulada; 3) fornecimento contínuo: a
entrega e o pagamento é sucessivo, de acordo com a necessidade, ou com datas e
quantidades prefixadas, mas sem quantidade ou termo final. Os contratos de
concessão e permissão do serviço público, de concessão de uso de bem público,
convênios e consórcios, contratos de gestão, termos de parceria e contratos de
programa serão estudados no momento oportuno.
88. Bens públicos - é o conjunto de bens pertencentes a pessoas jurídicas de direito público
- União, Distrito Federal, Estados-Membros, Municípios, autarquias e fundações pública
de direito público - NCC, art. 98. A Constituição enumera bens da União (art. 20), dos
Estados e Distrito Federal (art. 26), e dos Municípios (os remanescentes - vias de
circulação, praças, logradouros públicos, etc). Há controvérsia quanto à natureza jurídica
dos bens das pessoas jurídicas de direito privado da AP (empresas públicas e as
sociedades de economia mista e fundações públicas de direito privado): 1) todos os bens
são públicos; 2) são públicos somente os que prestam serviço público; 3) públicos ou
privados, não importa, o que importa é se estão afetados ao serviço público.
89. Domínio público – conjunto de bens públicos; Domínio eminente - Poder geral do
Estado sobre tudo quanto esteja em suas linhas territoriais, poder esse, decorrente de
sua soberania. Não tem qualquer relação com o domínio de caráter patrimonial, mas sim,
disponibilidade potencial sobre os bens (ex., poder de estabelecer limitações
administrativas, desapropriações etc.). Divide-se em três categorias (Diogo de Figueiredo
Moreira Neto) 1) bens públicos; 2) bens privados; 3) bens não sujeitos ao regime normal
da propriedade como, por exemplo, o espaço aéreo e as águas (denominados adéspotas
ou res nullius)
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90. quanto à sua destinação , os bens públicos podem ser (NCC, art. 99): 1) bens de uso
comum - são de utilização ordinária pelos particulares, destinados à coletividade,
indistintamente (ruas, avenidas, praças, rodovias, mares, rios - desde que o uso não seja
prejudicial ao interesse público), independentemente de qualquer concordância pela
Administração, podendo ocorrer excepcionalmente o uso extraordinário ou sujeito a
condições e restrições especiais (fechamento excepcional de uma rua, utilização de uma
praça pública para comícios, festas folclóricas, religiosas); 2) bens de uso especial -
prestam-se à execução de serviços públicos, destinados à fruição exclusiva do Poder
Público (repartições públicas) ou à fruição geral (repartições públicas, escolas,
universidades, hospitais, teatros, museus, parques, etc.); 3) dominicais (ou dominiais) -
não possuem destinação específica, exercendo o Poder Público os mesmos poderes de
um proprietário particular. Exemplos podem ser dados por exclusão (terras devolutas,
prédios públicos desativados, bens móveis inservíveis etc). Há quem faça diferença entre
bens dominicais e dominiais Bens dominicais – noção de caráter residual, ou seja, todos
aqueles que não estejam nas demais categorias de bens públicos (de uso comum e
especial). Bens dominiais – forma genérica, indicando em sentido amplo todos os bens
que formam o domínio público, sem levar em conta sua natureza ou destinação (José
dos Santos Carvalho Filho).
91. Afetação e desafetação – afetação é a destinação específica dos bens públicos de uso
comum ou de uso especial. A retirada dessa destinação, com a inclusão do bem dentre
os dominicais (sem destinação específica), corresponde à desafetação. A afetação de
bens pode decorrer de fato natural (rios, mares), da própria natureza do bem (rodovias,
estradas, praças e avenidas), de imposição legal ou de ato administrativo. A desafetação
dependerá de lei, ato administrativo seguido de autorização legislativa ou de fato natural,
como ocorre no desabamento de prédio público afetado. O não-uso do bem não impõe a
desafetação (divergência).
92. Regime jurídico dos bens públicos - os bens públicos são gravados de
inalienabilidade relativa (ou alienabilidade nos termos da lei ou alienabilidade
condicionada) – CC, art. 100 e 101; Lei 8666/93, art. 17 a 19; Lei 9636/98, art. 23 a 29,
(União); CF, art. 225, §5º, imprescritibilidade (CF, art. 183, § 3°, e 191, § único, e DL
9760/46, art. 200; STF, Súmula 340); impenhorabilidade (CF, art. 100, CC, art. 1420) e
não-oneração. A inalienabilidade é relativa, porquanto se admite a transferência de
domínio dos bens dominicais (exige-se lei autorizativa, avaliação prévia e licitação).
93. Aquisição de bens pela Administração – podem ser adquiridos através da compra,
doação, dação em pagamento, permuta, acessão, transmissão de herança (sucessão),
usucapião, desapropriação, confisco, investidura, registro de parcelamento do solo (Lei
6766/79) e a perda de bens em razão de ilícito penal (art. 5º, XLVI, “ b”; CP, art. 91, II, “a”
e “b” – instrumentos e produto do crime para a União; art. 243 e § único – terras com
cultivo de psicotrópicos e bens apreendidos em decorrência do tráfico ilícito de
entorpecentes) e de ato de improbidade administrativa (Lei 8429/92, art. 12, inciso I).
94. Alienação de bens pela Administração – quando bens imóveis poderá ser feita por 1)
compra e venda - dependerá de autorização legislativa, que promove a desafetação,
transformando-o em dominical e autoriza a venda, de avaliação prévia e de licitação
(caso de dispensa – Lei 8666/93, art. 17), realizada na modalidade de concorrência ou
leilão - Lei 8.666/93, art. 17, I e 19; 2) retrocessão - que ocorre sempre que a
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Administração não mais necessita do bem expropriado e o particular o aceita em retorno;
3) investidura - incorporação à área do particular de área resultante de obra pública ou
de qualquer área inaproveitável - Lei n. 8.666/93, art. 17, § 3º; 4) concessão de domínio
– terras devolutas da União, Estados e Municípios - CF, art. 188, § 1º; e 5) legitimação
de posse - uso prolongado por particular de terra devoluta ou de área pública, seja para
cultivo ou edificação residencial, que permite a transferência de domínio - Lei 4.504/64
(Estatuto da Terra), art. 97 - aplicável à União. Quando bens móveis depende de
avaliação prévia e de licitação, sem lei autorizativa. O leilão é a modalidade obrigatória
para a venda de bens inservíveis, apreendidos ou penhorados (Lei n. 8.666/93, art. 22, §
5º e 17, § 6º), nas demais hipóteses, concorrência. Hipóteses de dispensa de licitação:
doação, permuta, venda de ações através da Bolsa de Valores, venda de títulos, venda e
compra praticada na Administração Indireta e venda de bens sem destinação ou
utilização previsível. O Supremo Tribunal Federal suspendeu, por inconstitucionalidade,
em decisão liminar, parte do dispositivo no que diz com os Estados, Distrito Federal e
Municípios (inciso I, letras b, c e § 1º do art. 17).
95. Modos de uso privativo de bens públicos - autorização de uso - decorre de ato
administrativo, discricionário, precário (diz-se que a autorização é simples), e por ele a
Administração consente ou apenas permite e faculta o uso do bem pelo particular, de
modo a não prejudicar o interesse público e atender ao interesse predominante do
particular, prescindindo de requisitos especiais (autorização legislativa e licitação). A
autorização, por vezes, é deferida com prazo de duração (diz-se que a autorização é
qualificada), conferindo direitos ao particular enquanto vigente. A revogação do ato antes
do término de seu prazo pode ensejar o direito à indenização; permissão de uso -
decorre de ato administrativo discricionário, precário, negocial, e por ele a Administração
consente que o particular utilize o bem, satisfazendo interesse de ambos (o interesse
público e o interesse privado são convergentes). Enquanto vigente, a permissão confere
direitos ao particular, e, em regra, não deve ser deferida com exclusividade (ex.:
instalações, bancas de jornais e revistas em logradouros públicos). O particular não
detém mera faculdade de utilização, mas sim dever de usar o bem, sob pena de
caducidade, já que também incide interesse público. A permissão pode ser condicionada
a prazo certo de duração (permissão qualificada ou condicionada). Sempre que reunir a
natureza de contrato, e não de ato administrativo, deve ser precedida de licitação ;
concessão de uso - decorre de contrato administrativo sujeito à prévia licitação,
podendo a utilização ser remunerada ou gratuita para o particular (ainda que remunerada
não equivale á locação, porque regida por normas de direito público). Atribui direito
pessoal de uso do bem público; é realizada intuitu personae e não admite, em regra,
transferência a terceiros. Converge o interesse público e o do particular, e quando
incidente sobre bens de uso comum há de respeitar a destinação do bem (v. g.,
mercados municipais, parques de exposição); concessão de direito real de uso - DL
271/67 - igualmente decorre de contrato sujeito a prévia licitação, conferindo direito real
(transmissível) e necessitando inscrição no Registro de Imóveis onde o bem estiver
matriculado. Pode ser gratuita ou onerosa, operando-se por escritura pública ou termo
administrativo, dependentes de registro. É transmissível por ato inter vivos ou causa
mortis, revertendo a posse para a Administração se não cumprido o fim a que se destina
(natureza resolúvel - fins específicos de urbanização, industrialização, edificação, cultivo
ou qualquer outra exploração de interesse social); cessão de uso - contrato que prevê a
transferência da posse (não transfere a propriedade e não gera direito real) de um bem
de uma entidade para outra entidade ou órgão público (divergência quanto a
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possibilidade de ser pessoa jurídica de direito privado). Dispensa autorização legislativa
quando operada dentro da mesma entidade. Para José dos Santos Carvalho Filho, a
autorização legal é desnecessária, porque se encontra nos limites do poder de gestão. As
condições de uso e o prazo, que tanto poderá ser determinado como também
indeterminado, são fixados no termo lavrado, possuindo o contrato a natureza de "ato de
colaboração entre repartições públicas" (Hely Lopes Meirelles); concessão de uso
especial para fins de moradia – CF, 183 c/c MP 2220/01 - concessão de uso especial
de uso em bens públicos ocupados até 30/06/01, para fins de moradia. A concessão
poderá ser administrativa ou judicial, desde que ocorra recusa do Poder Público detentor
do domínio. Sendo da União ou dos Estados, o Município deverá certificar a localização e
a destinação dada por aqueles que ocupem o imóvel. A sentença que instituir a
concessão será levada ao registro no Cartório de Registro de Imóveis em que se achar
matriculado o imóvel. O direito de concessão é transferível por ato inter vivos ou causa
mortis, mas se extingue se o concessionário adquirir propriedades ou concessão de outro
imóvel ou alterar a destinação do imóvel objeto da concessão para fins de moradia. São
requisitos: 1) possuir o imóvel (área máxima de 250 metros quadrados); 2) ser destinado
à moradia própria ou dos familiares do requerente (homem ou mulher,
independentemente do estado civil); 3) será gratuita; 4) o requerente não deve ser
proprietário ou concessionário de outro imóvel urbano ou rural; 5) o prazo de ocupação é
de, no mínimo, cinco anos, sem oposição ou interrupção. Os imóveis com mais de 250
metros quadrados, ocupados até 30/06/01, coletivamente e com a finalidade de moradia,
também podem ser objeto de concessão (art. 2º). O Poder Público poderá, no entanto,
em qualquer das hipóteses (ocupação individual ou coletiva), assegurar o direito em área
diversa da ocupada. Assim será se o imóvel ocupado for: a) de uso comum do povo; b)
destinado a projeto de urbanização; c) de interesse especial (defesa nacional,
preservação ambiental); d) reservado a obras futuras (represas e obras congêneres); e e)
localizado em vias de circulação; autorização de uso para fins comerciais - MP
2220/01 - será gratuita e discricionária, desde que o imóvel público, ocupado pelo prazo
de cinco anos até 30/06/01, não possua mais de 250 metros quadrados. A autorização
somente é concedida pela AP, e para a contagem do prazo de cinco anos poderá ser
computado período ocupado por terceiro, desde que contínuo.
96. Uso privado de bens públicos (Regime Jurídico Privado) - enfiteuse ou aforamento (art.
49, § 3º, ADCT c/c artigos 12 a 16, Lei 9636/98 c/c artigos 99 a 124, DL 9760/46 c/c art.
2.038, CC); locação (Lei 8245/91 c/c artigos 86 a 98, DL n.º9760/46 c/c art. 62, §3º, Lei
n.º 8.666/93) – oneroso; comodato (art. 579, CC) – gratuito.
97. Bens públicos em espécie - terra devoluta – CF, art. 20, II e 26, IV c/c DL 9760/46, art.
5º - terra devoluta significa terra devolvida, terra sem proprietário. No sentido jurídico,
corresponde à área de terra cuja propriedade não é detida pelo particular nem utilizada
pelo Poder Público. A Constituição, nos art. 20, II, e 26, IV, determina à União a
propriedade das terras devolutas, indispensáveis à defesa das fronteiras, fortificações e
construções militares, das vias federais de comunicação e da preservação ambiental; aos
Estados, as demais não incluídas no rol de bens pertencentes à União. Integra o
patrimônio público e, por não possuir qualquer destinação (com exceção das terras
devolutas situadas na faixa de fronteira - art. 20, §2º, CF), a categoria de bens
dominicais. Processo discriminatório terras privadas e devolutas - Lei 6383/76 - é
realizada em duas fases distintas: administrativa e judicial: convocação, mediante edital,
de todos os interessados; 2) apresentação de títulos de propriedade, informações,
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documentos etc., a fim de comprovar o domínio por eventuais titulares; 3) para os
documentos julgados “conformes” pelo Poder Público (separação das terras de domínio
induvidoso), lavra-se o “termo de reconhecimento” 4) Não havendo composição possível
(seja porque houve atentado com a alteração de divisas, seja porque não foram
localizados os possíveis proprietários, ou por ser infrutífero o procedimento
administrativo), promove-se a necessária ação judicial (ação discriminatória, fase judicial
do processo discriminatório, pelo rito sumário); 5) concluído o processo, registram-se as
terras discriminadas, momento em que não mais haverá terra devoluta mas, apenas,
terra pública; Plataforma continental - a plataforma continental (que integra o patrimônio
da União) compreende "o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além
de seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território
terrestre, até o bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de duzentas
milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar
territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa
distância" (o conceito é ofertado pela Lei 8617/93, art. 11, e está longe de ser facilmente
compreendido). À União pertence a plataforma e sobre ela o País exerce a sua
soberania, assegurando-se, porém, a outros Estados a possibilidade de utilização
(colocação de cabos e dutos), desde que concorde o Governo brasileiro. A Convenção
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, disciplina os critérios de fixação de
limites da plataforma continental. Terras ocupadas pelos índios - as terras necessárias
à sobrevivência das populações indígenas que as habitam pertencem à União e são
inalienáveis, indisponíveis e demarcadas administrativamente. A posse permanente é
assegurada aos índios tendo em conta a sua sobrevivência física e cultural,
assegurando-lhes, ainda, o instituto do usufruto exclusivo. Terrenos de marinha – art.
20, VII, CF c/c DL 9.760/46, art. 2º - pertencem ao domínio da União, compreendendo
"todos os que, banhados pelas águas do mar ou dos rios navegáveis, em sua foz, vão até
a distância de 33 metros para a parte das terras, contados desde o ponto em que chega
o preamar médio" (Aviso Imperial de 1833). O domínio deferido à União busca assegurar
a defesa nacional, conquanto seja admitida a incidência de leis municipais quando
localizados na área urbana ou urbanizável; aforamento – ADCT, art. 49, §3º, c/c DL
9.760/46, art. 103; Praias (fluviais e marítimas) – art. 20, III; terrenos marginais – CF,
art. 20, III c/c DL 9.760/46, art. 4º e STF, Súmula 479; Ilhas - CF, art. 20, IV c/c 26, II (DL
9.760/46, art. 127) - podem ser lacustres ou fluviais, conforme estejam em lagos ou em
rios de águas comuns. Marítimas, quando havidas no mar; oceânicas ou costeiras, se
distantes ou na costa. As fluviais e lacustres pertencem à União se localizadas na faixa
de fronteira, em rios que cortam ou servem de divisa a mais de um Estado-Membro, por
exclusão pertencendo aos Estados-Membros aquelas que não integram o patrimônio da
União. Ainda que à União pertença determinada ilha, nada impede que os
Estados-Membros ou Municípios venham a ter terras em seu interior.
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