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Por: Aurélio Tinga - ESJ

NOÇÕES DE DIREITO

Conceito de Norma Jurídica

Norma jurídica – é uma regra de conduta imperativa, geral e abstracta imposta


de forma coerciva pelo Estado, isto é, comando geral e abstracto, regulador da
conduta humana e cuja violação suscita, tendencialmente uma sanção.

Estrutura da Norma Jurídica

A norma jurídica tem uma estrutura que tem no seu conjunto seguintes
elementos:

Previsão ou hipótese

É a parte da regra onde está a situação jurídica, ou seja, consiste na descrição


da situação de facto que, a verificar-se efectivamente produz certas e
determinadas consequências jurídicas. São, pois, as situações da vida que se
espera que venham a acontecer (previsíveis).

Estatuição ou Consequência

São consequências jurídicas emergentes do facto ocorrido pela situação


descrita na previsão. Dito de outro modo, é a parte da regra que estabelece
certo efeito jurídico para a representação da previsão, ou seja, á consequência
legal.

Ex1: art. 227 do CC – “Quem negoceia com outrem para a conclusão de um


contrato deve, (…) sob pena de responder pelos danos que culposamente
causar ao outrem.

Previsão – quem negoceia com outrem


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Estatuição – responder pelos danos que culposamente causar ao outrem.

Ex2: art. 131 CP – Quem matar outra pessoa é punido com pena de prisão de 8
a 16 anos.

Previsão – quem matar outra pessoa

Estatuição - é punida com pena de prisão de 8 a 16 anos.

Ex3: art. 130 do Código Civil: "Aquele que perfizer 18 anos de idade adquire
plena capacidade de exercício de direito, ficando habilitado a reger a sua
pessoa e a dispor dos seus bens".

Previsão - Aquele que fizer 18 anos de idade.

Estatuição - Adquire plena capacidade de exercício de direitos, ficando


habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens.

EX4: nº1 do art. 284 da Constituição Portuguesa: "A Assembleia pode rever a
Constituição decorridos 5 anos sobre a data da publicação da última lei de
revisão ordinária".

Previsão - Se já tiver decorrido 5 anos sobre a data de publicação da última lei


de revisão ordinária

Estatuição - A Assembleia da República pode rever a Constituição.

EX5: art.122 do Código Civil: "É menor quem não tiver completado 18 anos de
idade".

Previsão - Quem não tiver completado 18 anos

Estatuição - É menor
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Uma norma jurídica pode ter mais de uma previsão e mais de uma estatuição
ou ainda pode começar com a estatuição e terminar com a previsão.

Ex1: se a obrigação puder ser liquidada em 2 ou mais prestações a falta de


realização de uma delas importa o vencimento de todas.

Previsão: a falta de prestação mensal numa devida liquidável em 2 ou mais


prestações (…),

Estatuição: quando tal falta de pagamento ocorre o vencimento de todas as


prestações.

Ex2: artigo 1323 do CC. “Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel
perdida e souber a quem pertence, deve restituir o animal ou a coisa a seu
dono ou avisar este do achado, se não souber a quem pertence, deve anunciar
o achado pelo modo mais conveniente, atendendo ao valor da coisa e as
possibilidades locais, ou avisar as autoridades, observados os usos da terra,
sempre que os haja (…)”.

Previsao1: aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber
a quem pertence…

Estatuição1: deve restituir o animal ou a coisa a seu dono ou avisar este do


achado.

Previsão2: se não souber a quem pertence

Estatuição2: , deve anunciar o achado pelo modo mais conveniente,


atendendo ao valor da coisa e as possibilidades locais, ou avisar as
autoridades, observados os usos da terra, sempre que os haja (….).
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FONTES DE DIREITO

A palavra fontes provém do latim, fons, fontis e significa nascente de água. No


âmbito de nossa Ciência é empregada como metáfora, como observa Du
Pasquier, pois “remontar à fonte de um rio é buscar o lugar de onde as suas
águas saem da terra; do mesmo modo, inquirir sobre a fonte de uma regra
jurídica é buscar o ponto pelo qual sai das profundidades da vida social para
aparecer na superfície do Direito”.1

Assim, a expressão fontes de Direito, em sentido técnico jurídico designa os


modos de formação e revelação das normas jurídicas, ou seja, como as normas
surgem, como é que se processa a formação da ordem jurídica vigente, como é
que extinguem determinadas normas jurídicas etc..

As principais fontes de Direito


No sentido técnico-jurídico, são geralmente referidas como fontes do Direito
as seguintes:
- A Lei;
- O Costume;
- A Doutrina;
- A jurisprudência;

No entanto nem todos os sistemas jurídicos obedecem mesma caracterização


pois, a doutrina entende também que as fontes de Direito que não se esgota
nas quatro (4) apontados na medida em que considera também que o direito
natural, a equidade, a moral, a religião e os casos que não sejam contrários a
Lei são fontes do Direito - artigo 3, e 4 do Código Civil.

A lei e o costume tem a ver com a criação ou formação das normas jurídicas,
enquanto a jurisprudência e a doutrina tem a ver com a sua revelação apenas.
os tribunais, os notários, os estudiosos do Direito não criam a lei, mas sim
procuram conhece-la e destaca-la.

1
Paulo Nader, Introducao ao Estudo de Direito, pag
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Assim, a lei e o costume são fundamentalmente modos de formação e por


isso recebem o nome de fontes Juris Essendi, ou fontes directas ou fontes
imediatas enquanto que a jurisprudência e a doutrina são modos de revelação
e por isso são chamados de fontes Juris Cognoscendi (fontes de
conhecimento) ou fontes indirectas ou mediatas.

A Lei como fonte De Direito


A lei ocupa o primeiro lugar entre as fontes de Direito. A lei fruto de uma das
funções do Estado, e é a função legislativa do Estado que atribui a um órgão
competências Legislativa por excelência – artigos 133, 134, 168 nº 1, 178 todos
da CRM.

Como se sabe, devido a razões históricas, o Direito moçambicano herdou ou


adoptou o sistema de direito português de é da raiz do sistema Romano
germano que é, sobretudo, um direito codificado.

Pelo contrario, no sistema de direito de raiz Anglo-saxonico ou Comnon Law, a


jurisprudência desempenha o mesmo primordial que a lei: aqui existe uma
relevância dos tribunais na produção de leis.

Ex, no Reino Unido não tem Constituição escrita utiliza o sistema de


precedente - Case Law.
O nosso Código Civil consagra no seu artigo 1 que a Lei é fonte Principal do
Direito ou fonte imediata em Moçambique.

A Lei
A palavra ou a expressão lei, mesmo restrita ao domínio do direito, assume
quatro (4) significados principais que são:
- Sentido latíssimo
- Sentido lato
- Sentido intermedio
- Sentido restrito
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Em sentido latíssimo lei significa o direito ou regra; por ex: quando dissemos a
lei proíbe, a lei impõe.

Em sentido lato lei também significa regra jurídica criada por certa forma,
criada por decisão e imposição de uma autoridade com poderes para tal.

Em sentido intermedio lei, por oposição ao regulamento, abrange as leis da AR


e os decretos do CM.
Em sentido restrito, lei designa os diplomas aprovados pela Assembleia
Republica nos termos do nº 1 do artigo 178 da CRM. Ex, Lei da Família.

Também podemos ter outras classificações ou sentidos da palavra lei,


nomeadamente:
- Lei como um texto ou diploma, instrumento onde repousam regras jurídicas
com qualificados atributos ou pressuposto.
- Lei em sentido material corresponde ao acto normativo oriundo de órgão que
constitucionalmente detêm a competência para o efeito.
- Lei em sentido formal ou solene é aquela que lei provem da AR, enquanto
órgão que constitucionalmente detêm Competências para o efeito – artigo 178
da CRM.

No Direito moçambicano, são leis em sentido formal ou solene a CRM, as leis


saídas de Assembleia da república e são leis em sentido material as que
provem do governo ou Conselho de Ministros.
Nos termos dos nº 1 e 4 do artigo 209 da CRM, os actos normativos do
Conselho de Ministros revestem a forma de decreto-lei e de decretos e as
demais decisões do CM tornam a forma de resolução. Portanto, o decreto-lei e
o decreto são leis em sentido material, embora formalmente não o sejam.

Nos termos do artigo 157 da CRM, os actos normativos do Presidente da


República assumem a forma de decreto presidencial e as demais decisões no
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âmbito das competências constitucionais revestem a forma de despacho e são


publicadas no Boletim da República (BR).

De acordo com o disposto no artigo 181 da CRM, os actos legislativos da


Assembleia da República assumem a forma de lei e as demais deliberações
revestem a forma de resolução e são publicadas no Boletim da República (BR).

Os actos normativos oriundos dos Municípios e Autarquias designam-se por


posturas que podem incidir sobre o lixo, estradas, comércio informal
bombeiros etc...

Os Conselhos Municipais ou Conselhos Autárquicos poderes tem poder


executivo e legislativo – artigos 286,e 289 ambos da CRM.

A Hierarquia das Leis


A organização do sistema jurídico, a necessidade de algumas leis se ocuparem
dos aspectos gerais e outros dos pormenores e a possibilidade de surgirem
conflitos entre as leis justificam que estas sejam dispostas num sistema
piramidal hierarquizado que tem, no seu vértice, a lei mais importante e, nos
escalões sucessivamente inferiores, as leis cada vez menos importantes.
Como se disse, em sentido material, a palavra “lei” é utilizada para referir todo
e qualquer diploma que contenha normas jurídicas de âmbito geral.
No ordenamento jurídico moçambicano os actos normativos segundo a ordem
de importância decrescente eles obedecem a seguinte hierarquia:
1- A Constituição da Republica de Moçambique
2- Tratados e convenções internacionais
3- Leis ordinárias da Assembleia da Republica
4- Decretos-leis
5- Decretos regulamentares
6- Resolução do Conselho de Ministros
7- Portarias
8- Despachos normativos
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Em obediência a essa hierarquia dos actos normativos, havendo uma situação


de conflitos entre dois actos normativos (normas), torna-se necessário saber
qual deles prevalece, qual o diploma a aplicar.
A regra geral é de que a lei de grau inferior não poderá dispor contra a norma
de uma lei de grau superior. Assim, em caso de contrariedade entre o
conteúdo de duas ou mais leis, a lei de valor hierárquico superior provoca a
cessação da vigência da lei de valor hierárquico inferior, por revogação desta.
Existem alguns princípios subjacentes à hierarquia das leis, que ajudam a
resolver qualquer questão de conflito. Em síntese, esses princípios são os
seguintes:
a) As leis especiais prevalecem sobre as leis gerais;
b) A lei de grau inferior não pode dispor contra norma de uma lei de grau
superior;
c) A hierarquia das leis respeita a hierarquia dos órgãos de que são
emanadas;
d) Os actos legislativos dos órgãos de administração nacional prevalecem
sobre os actos legislativos dos órgãos de administração regional ou local
e ambos sobre as leis dos órgãos corporativos.

A Constituição
Segundo o Prof. Castro Mendes, a constituição é a Lei fundamental do Estado
que fixa os grandes princípios da organização politica e da ordem jurídica em
geral e os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos.
A constituição é designada lei fundamental, pois ai estão consagrados e
protegidos os direitos, garantias e deveres fundamentais do cidadão e
estabelecidas as regras de organização e funcionamento dos órgãos estaduais
superiores, nomeadamente os que exercem o poder legislativo, pelo que é
evidente que assume uma posição de supremacia sobre as leis ordinárias
(emanadas por qualquer órgão estadual no exercício do poder legislativo).

Assim, as normas jurídicas contidas nas leis ordinárias que contrariem os


preceitos da constituição padecem do vicio de inconstitucionalidade, não
podendo ser aplicadas pelos Tribunais ou outros órgãos aplicadores do direito.
O nosso país rege-se por uma constituição escrita designada Constituição da
Republica de Moçambique (CRM) que vigora desde 25 de Junho de 1975, logo
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após a independência. Foi revista em 1990 e em 2004 e em 2018 foi aprovada


uma lei constitucional que altera alguns dispositivos constitucionais – Lei
nº.1 /2018, de 12 de Junho

As normas constitucionais prevalecem sobre as demais, ou seja, tem um valor


hierárquico superior as de quaisquer outras - Lei MAE.

2- Tratados e Convenções Internacionais


São leis emanadas de organizações Internacionais das quais Moçambique faz
parte.
É discutível a posição das leis internacionais dentre os actos normativos que
acima elencamos.
Algumas Constituições colocam os tratados e convenções internacionais num
nível supraconstitucional (acima da constituição), outras no plano para
constitucional (ao mesmo nível hierárquico que a constituição) e outras ainda
num nível infraconstitucional (abaixo da constituição e ao mesmo nível que as
leis ordinárias).
Da interpretação do nºs 1 e 2 do artigo 18 da CRM as leis internacionais são
infraconstitucionais e, portanto, estão ao mesmo nível que os actos
normativos infraconstitucionais emanados da Assembleia da Republica e do
Governo, conforme dispõe o nº 2 de artigo 18 da CRM, ou seja, os tratados
normativos ocupam, na hierarquia das leis, posição intermédia entre a
constituição, as leis e os decretos-leis.
Os tratados ou convenções internacionais não pedem violar a constituição.
Igualmente, as leis, Decretos-leis e decretos não podem contrariar os tratados
normativos.

3- Leis
Nas leis ordinárias intervêm o poder legislativo para a produção de lei strito
sensu. Trata-se de lei em sentido formal ou solene e tem a ver com o
mecanismo clássico de produção legislativa.
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Processo de produção das leis e regulamentos.

a) Iniciativa
Segundo o artigo 182 da CRM a iniciativa de Lei compete aos Deputados, aos
grupos parlamentares, através de projecto de lei (iniciativa parlamentar), ao
Presidente da Republica e ao Governo (Conselho de Ministros), por via de
proposta de lei (iniciativa governamental).

b) Discussão e votação
Entregue o projecto ou proposta de lei na Assembleia da Republica, e sendo
aceite e inscrito na ordem do dia do parlamento, haverá uma apresentação
perante o plenário, podendo os deputados apresentar propostas de alterações
(emenda, substituição, aditamento ou eliminação).

As propostas ou projectos de leis, uma vez admitidos, são enviados às


comissões parlamentares especializadas que deverão elaborar parecer
devidamente fundamentado.

No Plenário, tanto a discussão como a votação passam primeiro pela


generalidade (a discussão incide sobre os princípios e o sistema de cada
projecto ou proposta de lei e a votação incide sobre cada um dos diplomas
apresentados) e, posteriormente, pela especialidade (a discussão versa sobre
cada um dos artigos, números ou alíneas), estando, ainda prevista a votação
final e global – nºs 1 e 2 do artigo 183 da CRM.

Nos termos do nº.1 do art.186 a AR só pode deliberar validamente achando se


presente mais da metade dos seus membros. As deliberações da Assembleia
da Republica são tomadas por mais de metade dos votos dos deputados
presentes – nº 2 do artigo 186 da CRM.

c) Promulgação
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Após a aprovação pela Assembleia da Republica, os projectos ou propostas são


enviadas ao Presidente da Republica para a promulgação sendo que a falta de
promulgação determina a inexistência jurídica de lei n.º 1 e 2 3 e 4 do art. 162
da CRM.

A promulgação é o acto pelo qual o Presidente da Republica atesta


solenemente a existência da lei e intima ou ordena que ela seja observada.

Através do acto de promulgação o Presidente da Republica declara que um


determinado diploma, elaborado por um órgão constitucionalmente
competente, passa a valer como lei. O Presidente da Republica através da
promulgação, exerce o controlo jurídico formal e material dos actos praticados
no exercício do poder legislativo. A falta de promulgação determina a
inexistência jurídica do acto.

É através da promulgação que o Presidente da Republica aprecia a


conveniência e oportunidade de um acto normativo, bem como a sua
legalidade e conformidade com a Constituição da Republica.

A promulgação não é um mero acto de fiscalização da regularidade da sua


elaboração, é também um acto de natureza politica, podendo o Presidente da
Republica vetar a lei – nº 3 e 4 do artigo 162 da CRM.

O veto significa a discordância por parte do Presidente da Republica acerca do


acto legislativo ou por razoes de falta de conveniência ou de demérito daquele
acto ou pelo facto de ser ilegal ou inconstitucional.

C) A Publicação
A publicação é o meio de levar a lei ao conhecimento dos seus destinatários.
Para poderem ser aplicadas, para terem eficácia, as leis têm de ser publicadas.
A lei só se torna obrigatória apos a sua publicação em Boletim da Republica. A
falta de publicação acarreta a ineficácia da lei, nos termos do nº. 1 e 2 do art.
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162 e alínea a) do n.º1 do artigo 143 ambos da CRM conjugado com o nº. 1 do
artigo 5 do Código Civil.

O Artigo 143 da Constituição da República de Moçambique elenca os actos


sujeitos a publicação no Boletim da República, fixando a consequência da
ineficácia jurídica para a falta de publicação.

A presunção de que a lei em vigor é devidamente conhecida por quem a deva


respeitar é que determina o princípio segundo o qual, a ignorância da lei não
justifica a falta do seu cumprimento e nem isenta das sanções nelas
estabelecidas, consagrado no Artigo 6 do Código Civil.

D) Entrada em Vigor

A ultima fase do processo legislativo é a que respeita a entrada em vigor da lei,


ou seja, o inicio da vigência das normas constantes do diploma legal.

Com a publicação complementam se todos os requisitos de entrada em vigor


de lei, mas entre a publicação e a entrada em vigor da lei há sempre um lapso
de tempo a que se chama vacatio legis.
Vacatio legis é, portanto, o período que medeia entre a publicação e a entrada
em vigor de uma lei.

A regra geral consta do nº2 do artigo 5 do Código Civil que estabelece que
“entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei fixar
ou, na falta de fixação, o que for determinado em legislação especifica”.

A legislação especial é, no caso moçambicano, a que está contida na Lei nº


6/2003, de 18 de Abril (Lei da vacacio legis). Esta lei estabelece no n.º 1 do seu
Artigo 1 que, as leis entram em vigor 15 dias após a sua publicação no Boletim
da República, salvo quando o próprio dispositivo legal em questão determina
outro prazo para a sua entrada em vigor. Acrescenta ainda o n.º 2 do Artigo 1
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da citada lei que, o prazo em referência conta da efectiva publicação das leis e
demais diplomas legais, sendo este que neles deve constar.

2 - Os Decretos –Leis

São elaborados pelo governo e versam sobre matérias de exclusiva


competência da AR mediante leis de autorização legislativa provinda da AR,
nos termos dos artigos 180, 181 e 209 e de al c) do nº. 1 do art 143 todos da
CRM, sendo assinados e mandados publicação pelo Presidente da Republica -
nº.3 do art.209 CRM.

3 - Decretos
São actos normativos emanados pelo executivo no desempenho das suas
competências constitucionalmente estabelecidas com o objectivo principal de
levar acabo as suas atribuições.

Os decretos podem ser elaboras pelo PR , (Decretos Presidenciais ) ou pelo


Governo nos termos do disposto no art. 157 conjugado com o nº.1 do art 209
ambos da CRM.

4 - Regulamentos
Também são actos do poder executivo para facilitar a execução das leis, as
quais a sua vigência e obrigatoriedade tem tal necessidade. As autarquias
locais gozam igualmente do puder regulamentos -art 286 de CRM, podendo
elaborar regulamentos e posturas.

Cessação da Vigência das Leis – art.7 do Código Civil


Vimos já como entra em vigor uma lei. As leis, em principio, fazem-se para
durar. Quando o legislador as formula, fa-lo normalmente para que tenham
uma duração indefinida, permanecendo em vigor até que sejam suprimidas
por outras leis. Mas nem sempre é assim, pois há leis que contem desde logo
um fim temporal previsto, um limite à sua vigência e quando chega esse termo
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a lei deixa de vigorar. Também não é assim porque o próprio direito é mutável,
sendo por isso que, uma lei que entra em vigor, há de, eventualmente, deixar
de vigorar.
Assim, temos duas formas de cessação da vigência de uma lei, como resulta da
analise do vertido no artigo 7 do Código Civil:(i) Caducidade e (ii) Revogação

Caducidade - consiste no termo de vigência da lei em consequência da


verificação de um facto previsto pela própria lei, ou quando esta estabelece
um prazo de duração (leis temporárias). Nº 1 do artigo 7 do Código Civil
A caducidade da lei acontece nos seguintes casos:
- Estamos perante uma lei temporária e é o próprio diploma legal que
determina a data em que a mesma deixará de vigorar; assim, quando chega
aquela data, a lei caduca. Aqui a lei estabelece expressamente no seu texto o
prazo durante o qual se mantiverá em vigor, caducando logo que esse período
de tempo decorrer.
- Estamos perante uma lei temporária que determina a sua vigência até a data
em que será revista por um outro diploma legal; deste modo quando entrar
em vigor esse novo diploma, a lei antiga deixará de vigorar e se não houver
novo diploma, mantem-se a lei vigente.
- Estamos perante uma lei que se destina a regular uma determinada realidade
e esta, definitivamente, deixa de existir, tornando inútil a lei então existente,
como por exemplo uma lei para expo 2020 ou para o Africano de 2020.
Na caducidade não existe manifestação da vontade do legislador e resulta de
causas intrínsecas ou circunstancias inerentes a própria lei.

Revogação - consiste no termo da vigência da lei em consequência da entrada


em vigor de uma nova lei de valor hierárquico igual ou superior. É, pois o
afastamento da lei por outra lei de valor hierárquico igual ou superior – nºs 2,
3 e 4 do artigo 7 do Código Civil.
Constitui o processo normal de cessação de vigência de uma lei e resulta de
uma nova manifestação de vontade do legislador por meio de uma nova lei,
expressa ou implicitamente oposta á contida em uma lei anterior.
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Quanto extensão ou alcance, a revogação pode ser total ou parcial. À


revogação total chama-se abrogação e à revogação parcial da lei chama-se
derrogação, conforme sejam revogadas todos as disposições de uma lei ou só
parte deles.

Quanto á forma, a revogação pode ser expressa ou tácita. A revogação é


expressa quando é a própria lei revogatória que identifica a lei revogada e
pode faze-lo identificando a lei revogada ou as disposições revogadas de
determinada lei, pela expressa referência à sua identificação.
Expressa quando a nova lei concretamente declara que fica revogada, no todo
ou em parte, determinada lei anterior.
A revogação tácita verifica-se quando, sem haver revogação expressa, as
normas da lei posterior são incompatíveis com as da lei anterior. Nesse caso
prevalece a lei nova, revogando a anterior, uma vez que não podem subsistir
duas leis contraditórias, dando se preferência à que exprime a vontade mais
recente do legislador.
No caso de revogação tácita e tratando-se do confronto entre leis gerais e
especiais, interessa fixar as seguintes regras:
- A lei geral não se revoga a lei especial, excepto se outra for a intenção
inequívoca do legislador – nº 3 do artigo 7 do Código Civil.
Chama-se lei especial à lei cuja previsão se insere na de outra lei (lei geral),
como caso particular para estabelecimento de um regime diferente.

Exemplo, o artigo 218 do Código penal dispõe que “Aquele que tiver coito com
qualquer pessoa, contra sua vontade, por meio de violência física, de
veemente intimidação, ou de qualquer fraude, que não constitua sedução, ou
achando-se a vitima privada do uso da razão, ou dos sentidos, comete o crime
de violação e será punido com a pena de prisão maior de 2 a oito anos”. Mas o
artigo 222 do mesmo diploma legal, prevê a violação, dispondo agora que as
penas serão substituídas pelas imediatamente superiores (…) al. f)” se a
violação for cometida por pessoal pertencente às forças armadas,
paramilitares, policia ou segurança privada”.
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Temos assim no exemplo anterior que a norma do artigo 222, na sua previsão,
já cabia na do artigo 218, de tal modo que se não existisse o artigo 222 o caso
nele previsto caía inteiramente no âmbito do artigo 218. O que o artigo 222 faz
é selecionar uma hipótese particular (especial) das muitas que cabiam no
artigo 218 para estabelecer um regime de punição diferente em relação com
aquele.

- A lei especial revoga a lei geral - lex specialis derroget legi generlli.
A lei especial destina-se a regulamentar matérias disciplinares, casos especiais,
que necessitam de disciplina diferente da prevista na lei geral.

Quid júris se uma lei que revogara outra é, por sua vez revogada. Tal facto
implicará, por si só, a vigência da primeira lei revogada?

Existe no Código Civil o principio de não repristinação. Quando o legislador


revoga uma lei revogatória de outra anterior não se dá, como regra, a
repristinação, ou seja, o renascimento da lei que anteriormente tinha sido
revogada. Por outras palavras, a revogação da lei revogatória não importa o
renascimento da lei que esta revogara - nº.4 do artigo 7 do CC. Em algumas
situações a lei nova pode determinar o efeito repristinatório.
Assim, temos que a repristinação é a restauração automática de uma lei já
revogada, pelo facto da revogação da lei que a revogou.

Exemplo, supõe se a sucessão de três leis – (A), (B) e (C). A lei (B) revogou a lei
(A) e a lei (C), por sua vez, revogou a lei (B). O facto de a segunda lei (B),
revogatória da primeira (A), ser por sua vez revogada pela terceira (C), não
opera a repristinação da primeira, isto é, não a faz renascer, não põe de novo
em vigor a primeira lei (A).

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