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Regente: Professor Reis Novais Realizado por: André Fontes

Direito Constitucional II
Resumo-esquema de apoio à frequência
A função legislativa
Atos legislativos (art. 112º/1) são as leis (AR), decretos-leis (Governo) e decretos
legislativos regionais (assembleias legislativas regionais [regiões autónomas]).

Princípio da tipicidade da lei (art. 112º/5): só é lei tudo aquilo que respeite a força
(112º/5) e forma (112º/1) estabelecidas pela CRP. Do art. 112º/5 retira-se que:
• A CRP é a verdadeira fonte da lei;
• A lei não pode ser interpretada, integrada, modificada, suspendida ou revogada
com eficácia externa por atos não legislativos, nem tal esta pode autorizar
(ligação entre a posição hierárquica da lei no Ordenamento e a sua aptidão para
revogar e resistir à revogação por outros atos não legislativos);
• Só a CRP pode determinar as formas e categorias dos atos legislativos;
• Certos tipos de deslegalização (operação em que uma lei dá natureza
regulamentar a normas que tinham valor e forma legal) são proibidos.

Competência legislativa:
• Genérica: O Governo (198º/1) e a AR (161º c.)) podem legislar sobre todas as
matérias, menos aquelas que sejam de competência reservada do outro órgão.
O domínio/âmbito concorrencial corresponde a todas estas matérias que
tanto a AR como o Governo podem legislar. É alternado entre os órgãos, pois a
lei ou decreto-lei posterior revoga “ anterior – têm igual valor e concorrem entre
si com base na regra cronológica (112º/2).
• Reservada absoluta: Faculdade da AR e do Governo legislar sobre um
conjunto de matérias, com a exclusão dos demais órgãos legislativos. AR: 161º,
164º; Governo: 198º/2.
• Reservada relativa: Integra matérias da competência legislativa da AR
(165º/1), mas que pode autorizar o Governo a legislar mediante uma
autorização legislativa (165º/2 ss.) e sobre algumas das matérias às
assembleias legislativas regionais (227º/2); mas, como órgão normalmente
competente, pode ainda assim posteriormente chamar a si o exercício delegado
revogando a autorização. As leis de aprovação são aprovadas por maioria
simples. O Governo pede autorização para legislar em matéria de competência
relativa através de uma proposta de lei de autorização legislativa – esta não
pode contrariar as diretivas da AR nem revogar atos legislativos da AR sobre a
mesma matéria, a menos que autorizado a tal. É habitual que o pedido venha
acompanhado por um ante-projeto de decreto-lei a autorizar; sendo que a
apresentação de um anteprojeto é no entanto obrigatória nos pedidos
referentes às assembleias legislativas regionais.

Leis de valor reforçado (112º/3): Atos legislativos que tratem de uma matéria que
lhes é exclusivamente reservados e sejam produzidos, revogados, alterados ou suspensos
por um processo formal agravado face ao procedimento legislativo comum. São as leis
orgânicas (166º/2), leis que precisam de aprovação por maioria de ⅔ (168º/6) e as leis
que sejam pressuposto normativo necessário de outras leis ou que por outras devam
ser respeitadas (ex.: moção [166º/4], leis de autorização legislativa, leis de bases).
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• Reforçadas em sentido próprio: rigidificadas pelo procedimento (orgânicas,


aprovadas por maioria de ⅔);
• em sentido impróprio: imposição constitucional relações de hierarquia
substancial sobre outros atos legislativos (bases, leis de autorização
legislativa);
• Duplamente reforçadas: enquadram-se em ambas as categorias anteriores,
tendo um procedimento agravado de produção logo uma maior rigidez do que a
legislação comum e vinculam materialmente o conteúdo de outras leis (lei do
Orçamento de Estado, leis orgânicas que revestem a natureza de leis de bases
e/ou enquadramento).

Leis orgânicas (166º/2): objeto de reserva material (166º/2 conj. 164º + 255º) –
matérias político-institucionais de âmbito nacional, dtos. Fundamentais de natureza política,
matérias relativas à autonomia territorial (natureza eleitoral, financeira e organizativa);
requisitos formais – título específico (“lei orgânica”) e numeração privativa (166º/2),
aprovação por maioria absoluta (168º/5); controlo de mérito – veto qualificado (136º/3;
após veto político, a confirmação requer a maioria de ⅔ dos deputados presentes desde que
superior à maioria absoluta); fiscalização preventiva – alargamento dos órgãos
competentes a iniciar o processo ao PM e a 1/5 dos deputados (278º/4), promulgação
temporalmente vedada ao PR durante 8 dias após envio do diploma ao PM e grupos
parlamentares (prazo de reflexão para suscitar fiscalização preventiva), e caso o processo se
venha a desencadear, até ao TC se pronunciar (278º/7).

Leis de bases: princípios e diretrizes genéricas, devendo ser desenvolvidas e


concretizadas por legislação subordinada comum (198º/1 c) no caso de decretos-leis do
Governo; 227º/1 no caso de igual tarefa das assembleias legislativas regionais). São
hierarquicamente superiores a nível material à legislação que as desenvolve (112º/2 conj.
227º/1 e 4). Devem ser gerais e abstratas (18º/3).

Leis-quadro/enquadramento: regulam o conteúdo ou formas de aprovação de outras


leis. Têm valor reforçado face às leis que regulam (112º/2; desrespeito – ilegalidade).

Processo legislativo parlamentar:


• 1ª fase: iniciativa legislativa: cabe aos Deputados, Governo, Assembleias
legislativas regionais e grupos de cidadãos (167º/1). Limites: “cláusula-travão”
- proibição de apresentação de projetos ou propostas de lei que envolvam, no ano
económico em curso, um aumento da despesa ou diminuição da receita do Estado
previstas no Orçamento (167º/2); as ALR só podem apresentar propostas de lei
que incidam sobre matérias de competência da AR que digam total ou parcialmente
respeito às mesmas regiões (167º/1); a iniciativa reconhecida aos cidadãos
observa certos limites [ver nota rodapé Blanco Morais, pág. 444].
• 2ª fase: apreciação e votação: processo de apreciação dos atos na AR. Plenário
(168º) – discussão na generalidade (âmbito geral do projeto/proposta); discussão
na especialidade (observação ao pormenor do conteúdo); votação final global
(decisão de envio p/ promulgação).
• Referenda ministerial: controlo político do Governo sobre os atos do PR,
traduzindo-se na assinatura do PM e dos ministros competentes na razão da
matéria (140º/1; falta de referenda – inex. do ato). A recusa de referenda só
ocorreria em situações muito excecionais, caso contrário poderia estar em causa o
“regular funcionamento das instituições democráticas” (195º/2).
• Publicação (119º/1 c)): obrigatória no Diário da República, sob pena de ineficácia
do ato (119º/2). Regime de publicação (Lei 74/98) o prazo de publicação conta-se a
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partir do dia imediato ao da sua disponibilização no site da INCM (2º/4 L.74/98). O


início da vigência ocorre na data fixada no diploma que não pode ser o dia da
publicação (2º/1); se este nada disser, após o prazo de vacatio legis de 5 dias
(2º/2) contados a partir do dia da publicação.

As alterações da Constituição
Alterações:

• Expressas - intenção de modificação da norma constitucional e costuma


resultar na alteração do próprio texto.

• Tácitas - modificação do sentido normativo da Constituição, mas não teve na


sua origem uma intenção de alteração.

Reforma constitucional: alteração constitucional efetuada de acordo com as regras


estabelecidas na própria Constituição (284º – 289º).

• Revisão constitucional – alteração parcial da Constituição que pretende


conservar a mesma Constituição, adaptando-a às novas situações e objetivos
mas mantendo em vigor o núcleo da Constituição material.

• Transição constitucional – produz alterações profundas e globais na ordem


jurídico-constitucional, levando ao surgimento de uma nova Constituição em
sentido material.

Rutura constitucional: alteração que desrespeita as regras estabelecidas na


Constituição

• Revolução – rutura global da ordem constitucional com substituição integral por


uma nova Constituição material e formal.

• Rutura revolucionária – rutura parcial da ordem constitucional afetando alguns


dos aspetos relevantes da Constituição material em vigor, podendo dar ou não
origem a uma nova Constituição.

• Rutura não-revolucionária – rutura parcial na ordem constitucional mas que


não produz alterações sensíveis na Constituição material vigente.

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