Você está na página 1de 46

INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS
DE
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS
Ano letivo 2019/2020
Autoria:
Ana Carolina Sequeira, Gonçalo Avelãs Nunes, Hélder Branco e Luís Araújo

• SIGLAS E ABREVIATURAS USADAS


• CRP – Constituição da República Portuguesa
• CC – Código Civil
• CT – Código do Trabalho

Parte I: INTRODUÇÃO AO DIREITO


• A lei
o fonte primária de direito
• O direito português é formado pelas normas jurídicas vigentes em Portugal
• No nosso sistema jurídico, a lei assume-se como a única fonte direta de direito –
art. 1º, n.º 1, do CC – isto significa que as normas jurídicas são criadas pelos
órgãos do Estado com competência normativa atribuída pela CRP
• Em geral, lei é o conjunto das normas jurídicas escritas, gerais e abstratas, de
origem estadual
o Espécies e hierarquia normativa
 Há diversas espécies de leis, consoante a sua natureza e origem
 Estas espécies não têm igual valor normativo, havendo umas que
prevalecem sobre outras, condicionando-as no seu conteúdo
 Esquematicamente, a hierarquia das leis no direito interno é
expressa na seguinte pirâmide normativa:
• CRP (lei suprema)
o Estabelece os princípios fundamentais da nossa
sociedade em matéria política, social e económica
o Art. 112º da CRP – fixa as espécies de leis
admitidas, o seu valor normativo na hierarquia das

1
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

normas, e a competência dos órgãos do Estado


para as emitir
• Leis (da Assembleia da República) e Decretos-lei (do
Governo)
o Estão no mesmo patamar (têm igual valor
normativo), apesar de haver algumas matérias
reservadas pela CRP para a Assembleia da
República (art. 164º e 165º da CRP)
• Decretos legislativos regionais (das Assembleias
Legislativas da Madeira e dos Açores)
o leis sobre matérias de interesse específico de uma
região autónoma (que adaptam o regime nacional
às suas especificidades), criadas pela sua
Assembleia Legislativa Regional, com âmbito
regional (só vigoram nessa região) - art. 112º, n.º
4, e 227º, n.º 1, al. a), b) e c) da CRP
• Regulamentos
o atos normativos destinados a concretizar o
regime jurídico estabelecido por qualquer uma das
espécies de leis superiores; cada regulamento
menciona expressamente a lei que regulamenta-
art. 112º, n.º 7, CRP
o Podem ser emitidos por vários órgãos estaduais:
Governo, Assembleias Legislativas Regionais,
Governos Regionais, e Autarquias locais
o Vigência
 Entrada em vigor: a lei começa a produzir os seus efeitos na data
em que ela própria fixar ou, na falta de fixação, 5 dias seguidos
após a sua publicação no jornal oficial do Estado (Diário da
República) – art. 5º, n.º 2, do CC e art. 2º, n.º 2, da lei 74/98 de 11
de Novembro
 Cessação de vigência: a lei deixa de produzir os seus efeitos, em
regra, por revogação; a revogação é feita por uma norma jurídica

2
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

de um diploma posterior (norma revogatória), com hierarquia


igual ou superior, que determina a supressão da norma existente
(norma revogada) ou dispõe de modo incompatível com ela; a
revogação pode ser total ou parcial, consoante revogue toda uma
lei, ou apenas uma ou algumas das suas normas; a cessação de
vigência das leis transitórias não decorre de revogação, mas de
caducidade (resultado do decurso do tempo de vigência fixado na
própria lei).
 Aplicação da lei no tempo – a lei aplica-se apenas aos factos
novos e relações jurídicas que se vierem a constituir após a data
da sua entrada em vigor (princípio da não retroatividade da lei);
no entanto, o art. 12º, n.º 1 e 2, CC permite ainda a aplicação de
uma lei nova a relações jurídicas pré-existentes, mas só quanto
aos efeitos que se produzirem após a entrada em vigor da lei nova
(sem atingir factos passados); excecionalmente, a lei nova pode
determinar a sua aplicação a factos passados ou a efeitos
anteriormente produzidos (a não ser que se tratem de normas de
direito penal que definam crimes ou normas de direito fiscal que
criem impostos, por imposição dos art. 29º, n.º 1 e 3, e 103º, n.º 3,
da CRP)
o Interpretação e integração
 A justa aplicação das normas jurídicas pressupõe a sua correta
interpretação; interpretar uma norma jurídica implica, não só,
considerar o seu teor textual (a chamada “letra da lei”), mas
também reconstituir o pensamento legislativo subjacente
(“espírito da lei”), pela análise das suas circunstâncias históricas,
do seu enquadramento sistemático (contexto e relação com outras
normas jurídicas vigentes) e principalmente da sua
intencionalidade normativa (fundamento que levou à adoção
daquela solução legal e objetivos práticos que ela visa atingir); a
interpretação tem como limite o texto legal, não podendo ser
admitidas interpretações que não têm cabimento nas palavras
escolhidas pelo legislador – art. 9º, n.º 1, 2 e 3, do CC

3
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

 Na falta de norma legal aplicável a um caso concreto (lacuna


legal), há que tentar a resolução do caso por via da aplicação da
norma jurídica que regula casos análogos (analogia legis) ou, se
tal não for possível, do recurso aos princípios jurídicos vigentes –
art. 10º, n.º 1, 2 e 3, do CC
• Sistema jurídico português
o Direito interno (legislação criada pelo Estado português)
 Direito público (regula as relações entre os particulares e o
Estado, em que este age no exercício das suas prerrogativas de
autoridade pública):
• Direito Constitucional – CRP (princípios fundamentais)
• Direito Administrativo – normas jurídicas que regulam a
Administração Pública (direta, indireta e autónoma)
• Direito Fiscal – normas jurídicas que instituem os
impostos e disciplinam o seu lançamento, liquidação e
cobrança
• Direito Penal – normas jurídicas que prevêem os crimes e
os punem com pena de prisão ou multa
 Direito privado (regula as relações entre particulares ou entre
particulares e o Estado, mas em que este intervém sem poderes de
soberania)
• Direito civil – direito privado comum (generalidade das
relações jurídicas entre cidadãos)- a fonte principal é o
CC
• Direito comercial (e das sociedades) – normas jurídicas
especiais que regem a atividade comercial (atos de
comércio e comerciantes)
• Direito do trabalho – normas jurídicas especiais que
regulam o contrato de trabalho e a relação jurídica laboral
(e ainda a regulamentação coletiva): CT
o Direito internacional (normas jurídicas criadas pelas instâncias
supranacionais ou por convenções e tratados internacionais que vigoram
em Portugal)

4
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

 Direito comunitário – direito emanado dos órgãos competentes da


União Europeia, que vigora em Portugal, nos termos do art. 8º,
n.º 4, da CRP (prevalecendo sobre toda a legislação nacional,
com exceção da CRP)
• Tratados constitutivos da União Europeia
• Regulamentos comunitários – diplomas legais diretamente
aplicáveis aos Estados membros e seus cidadãos (regime
uniforme, geral e obrigatório) – ex: Regulamento(UE) n.º
2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho de
27/04/2016 relativo à proteção da dados pessoais
• Diretivas comunitárias – diplomas que vinculam os
Estados membros a adotar normas jurídicas em certas
matérias, com respeito por certas orientações legislativas,
ficando a sua aplicabilidade dependente da sua
concretização e transposição para o direito interno – ex:
Diretiva 2014/26/EU do Parlamento Europeu e do
Conselho sobre direitos de autor e cópia privada
 Direito internacional público – normas jurídicas que resultam da
celebração (ou ratificação) de tratados e convenções
internacionais por Portugal com outros Estados ou entidades
internacionais (ONU, NATO); vigoram em Portugal após a sua
publicação em Diário da República, segundo o art. 8º, n.º 1 a 3,
da CRP- ex: LULL e LUC (Regime uniforme em matéria de
letras, livranças e cheques adotado nas Convenções de Genebra
de 1930 e 1931)
• Normas jurídicas e a sua articulação
o Normas gerais/especiais/excecionais
 Cada norma jurídica tem o seu âmbito de aplicação, isto é, regula,
na sua generalidade e abstração, um certo número de casos
concretos da mesma maneira; por vezes, parece que um caso
concreto cabe na previsão de várias normas legais, mas, na
verdade, só uma delas é aplicável; para saber qual a norma

5
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

adequada, há que conjugar as normas em questão e perceber se o


seu âmbito de aplicação é geral, especial ou excecional:
• As normas gerais instituem uma regra, baseando-se nos
princípios gerais de direito, aplicando-se a todas as
relações jurídicas da mesma espécie (salvo as previstas
em normas especiais e excecionais);
o exemplo: o art. 405º do CC estabelece o princípio
da liberdade contratual, permitindo que os sujeitos
possam livremente celebrar os negócios jurídicos
segundo o seu interesse
• As normas jurídicas especiais regulam uma sub-espécie
de relações jurídicas que, pelas suas caraterísticas e
especificidades, merecem uma adaptação do regime geral
(a regulamentação dessas relações jurídicas é diferente,
mas não oposta à regra geral); prevalecem sobre as gerais,
por serem mais adequadas às particularidades das relações
previstas;
o exemplo: o art. 317º, b) do CC (prazo especial de
prescrição) é uma norma especial face ao art. 309º
do CC (prazo geral de prescrição)
Digite o texto aqui • As normas jurídicas excecionais são as que contemplam
uma regulamentação oposta à regra geral (por razões de
justiça e segurança jurídica), aplicando-se a um número
limitado de casos excecionais dentro das relações
jurídicas dessa espécie; prevalecem sobre as gerais;
o exemplo: o art. 875º do CC (exigência de forma
na venda de imóveis) contém uma exceção ao
princípio da liberdade de forma dos negócios
jurídicos (art. 219º do CC)
o normas imperativas/facultativas.
• Normas imperativas – impõem ao destinatário a adoção
de um comportamento obrigatório, que pode ser:

6
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

o uma ação (deve…)- normas precetivas – ex: art.


1069º CC
o uma omissão (não pode…) – normas proibitivas–
ex: art. 1025º CC
• Normas facultativas – não estabelecem uma disciplina
obrigatória
o Interpretativas – definem o sentido de outras
normas ou de cláusulas negociais - ex: art. 1022º e
1023º CC
o Supletivas – estabelecem um regime jurídico
opcional, na medida em que os destinatários
podem afastar a sua aplicação através de
estipulação em contrário – ex: art. 1026º CC

• Parte II: RELAÇÃO JURÍDICA CIVIL


• A relação jurídica
o Conceito
 Relação da vida social disciplinada pelo direito com a atribuição
de um direito subjetivo a um dos sujeitos intervenientes
o Estrutura
 Relação jurídica simples: um dos sujeitos tem um direito
subjetivo (sujeito ativo) e o outro tem a correspondente obrigação
(sujeito passivo)
 Relação jurídica complexa: cada sujeito tem, simultaneamente,
vários direitos e obrigações (entre outros vínculos jurídicos)
 Os direitos subjetivos podem ser de duas espécies:
• poder de exigir ou pretender de outrem um certo
comportamento ativo ou omissivo (direito subjetivo em
sentido estrito) – estes direitos geram um dever jurídico
para a contraparte, ou seja, na obrigação de adotar o
comportamento devido (obrigação em sentido técnico)-
exemplo: o direito ao preço do vendedor (contrato de

7
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

compra e venda) implica uma obrigação de pagar o preço


por parte do comprador
• poder de produzir efeitos jurídicos na esfera da outra
parte, mesmo contra a sua vontade (direito potestativo)-
estes direitos geram uma situação de sujeição; exemplo: o
direito do inquilino de fazer cessar o contrato de
arrendamento, por denúncia (o senhorio nada pode fazer
para impedir que o contrato cesse)
o Elementos
 Sujeitos - 2 ou mais pessoas, singulares ou coletivas, entre quem
se estabelece a relação
 Objeto- cada direito subjetivo recai diretamente sobre uma
prestação (direitos obrigacionais), uma coisa (direitos reais), uma
pessoa (direito da família) ou até outros direitos
 Facto jurídico- Acontecimento que dá origem à relação jurídica
(pode ser um facto natural ou humano, voluntário ou não)
 Garantia - Meios de tutela jurídica dos direitos previstos na lei
que funcionam através do recurso aos tribunais (sistema
monopolista de justiça pública), podendo ser usados pelo titular
do direito para defesa e reação contra violações ao seu direito
• Os sujeitos de direito
o Conceitos:
 Personalidade jurídica é a qualidade que se traduz na
possibilidade de ser tratado como um sujeito pelo direito,
assumindo-se como titular de relações jurídicas
 Capacidade jurídica (ou de gozo) define a amplitude da esfera
jurídica do sujeito jurídico, delimitando os direitos e deveres de
que uma pessoa pode ser titular – todos os detentores de
personalidade jurídica têm capacidade jurídica, mas essa
capacidade será maior ou menor, consoante das circunstâncias
 Capacidade de exercício é a possibilidade de exercer
autonomamente os seus direitos, cumprir as suas obrigações e

8
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

assumir em seu nome novos direitos e obrigações na celebração


de negócios jurídicos
 Exemplos: uma criança tem personalidade jurídica tal como um
adulto, mas a sua capacidade jurídica é menor do que o adulto
(por exemplo, a lei não lhe permite casar ou fazer testamento),
além de que não tem capacidade de exercício para gerir, por si
mesma, os seus próprios direitos e deveres (sendo os seus pais,
como representantes legais, que o fazem em seu nome e no seu
interesse)
o O direito reconhece duas espécies de sujeitos:
 Pessoas singulares: pessoas físicas (seres humanos), com
dignidade reconhecida pelo art. 1º da CRP
 Pessoas coletivas: organizações formadas por pessoas e bens que,
por razões práticas, são tratadas pelo direito como sujeitos
autónomos, distintos das pessoas que as constituem, tendo em
vista a prossecução de finalidades socialmente úteis e legítimas
o Pessoas singulares
• A personalidade jurídica das pessoas singulares adquire-
se com o nascimento completo e com vida- art. 66º, n.º 1,
CC- e termina com a morte – art. 68º, n.º 1, CC
• As pessoas singulares têm uma capacidade jurídica
tendencialmente plena, isto é, podem ser sujeitos de
quaisquer espécies de relações jurídicas de caráter pessoal
e patrimonial (art. 66º, n.º 1, CC), salvo as exceções
previstas na lei (incapacidades absolutas para casar,
perfilhar ou fazer testamento- art. 1601º, 1602º, 1850º,
2189º CC- e incapacidades relativas para fazer doações,
disposições testamentárias e vendas: art. 953º, 2192º a
2198º, 876º, 877º, 1714º CC)
• As pessoas singulares adquirem a sua capacidade de
exercício com a maioridade (18 anos, à face da lei
portuguesa- art. 122º do CC) ou com a emancipação
(casamento de um menor com mais de 16 anos)- art. 129º,

9
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

130º, 132º e 133º do CC; até lá, os menores não podem


exercer direitos, cumprir obrigações e celebrar negócios
jurídicos por si mesmos (pois, como refere o art. 123º do
CC, não têm capacidade de exercício), devendo ser
representados nesses atos pelos seus pais ou por um tutor
(art. 124º do CC); os negócios jurídicos realizados pelos
menores, sem estarem devidamente representados, são
inválidos (mais precisamente anuláveis, nos termos do art.
125º do CC), com exceção dos mencionados no art. 127º
do CC (negócios que os menores podem celebrar por si
mesmos)
• Em regra, as pessoas maiores de idade têm capacidade de
exercício plena, mas há exceções previstas na lei: é o caso
do regime dos maiores acompanhados; a pessoa maior de
idade que, por razões de saúde, deficiência ou pelo seu
comportamento, esteja impossibilitada de exercer pessoal
e conscientemente os seus direitos ou cumprir os seus
deveres fica sujeita a uma medida judicial de
acompanhamento (art. 138º e 139º CC), que se traduz na
necessidade de se fazer acompanhar pelo acompanhante
na prática de certos atos essencialmente patrimoniais,
definidos em concreto pelo tribunal (que podem passar
pelo exercício de responsabilidades parentais,
representação na celebração de negócios jurídicos,
administração de bens, etc.) tendo em vista a realização
dos interesses do acompanhado (art. 145º e 147º do CC)
o Pessoas coletivas
 Noção geral: Designam-se de pessoa coletiva as organizações
constituídas por pessoas (singulares ou coletivas) e bens para a
prossecução de uma finalidade legítima (comum aos participantes
ou da sociedade em geral), a que o direito atribui personalidade
jurídica, por razões práticas de funcionalidade e atendendo à sua
utilidade social

10
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

 Espécies (de direito privado) e respetiva aquisição de


personalidade jurídica:
• Associações – art. 167º a 184º CC
o Organização de pessoas (associados) que
contribuem com bens ou serviços para a realização
de finalidades não lucrativas, comuns ou coletivas
(sociais, culturais, artísticas, recreativas….)
o Constituição: escritura pública + publicação – art.
168º CC
o Reconhecimento normativo – a personalidade
jurídica decorre automaticamente da lei, após a
celebração da escritura pública de constituição -
art. 158º, n.º 1, CC
• Fundações – art. 185º a 194º CC
o Organizações constituídas por uma pessoa, que
dispõe de parte do seu património (em vida ou por
sua morte), para a realização de fins coletivos de
relevante interesse social (promoção das artes e
ciências, assistência social e humanitária…)
o Constituição: escritura pública ou testamento
o Reconhecimento por concessão – a personalidade
jurídica é atribuída por ato de autoridade pública
(art. 158º, n.º 2, e 188º CC)
• Sociedades comerciais– art. 980º CC e CSC
o Organizações constituídas por pessoas (sócios),
que se obrigam a contribuir com bens e serviços
para a exploração em comum de uma atividade
comercial (pois as sociedades que exploram
atividades económicas não comerciais não têm
personalidade jurídica), tendo em vista a obtenção
de lucro (finalidade lucrativa comum), adotando
um dos modelos organizativos previstos na lei (as

11
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

mais comuns são sociedades por quotas e


anónimas)- art. 980º CC + art. 1º, n.º 2, CSC
o Constituição: documento particular com
assinaturas presencialmente reconhecidas + registo
comercial e publicação – art. 5º e 7º, n.º 1, CSC
o Reconhecimento normativo: a personalidade
jurídica surge automaticamente com o registo
comercial do contrato de sociedade- art. 5º CSC
 Capacidade jurídica (ou de gozo): as pessoas coletivas estão
limitadas na sua capacidade jurídica, como decorre do art. 160ºdo
CC: não podem ser sujeitos em relações jurídicas próprias das
pessoas singulares (relações matrimoniais e de família, relações
sucessórias, por exemplo), nem podem ser sujeitos em relações
jurídicas que não se destinam, direta ou indiretamente, à
realização da finalidade para a qual se constituíram (segundo este
princípio de especialidade do fim, a pessoa coletiva só pode
praticar os atos necessários ou convenientes à prossecução da sua
finalidade), além de também lhes serem vedadas por lei certas
relações jurídicas
 Capacidade de exercício: as pessoas coletivas agem sempre
através de pessoas físicas, vinculando-se pela atuação em seu
nome das pessoas singulares que exercem funções de
representação legal nos termos da lei e dos estatutos
 Responsabilidade civil da pessoa coletiva pelos atos ou omissões
dos seus representantes, agentes ou mandatários nos mesmos
termos em que os comitentes respondem por ato ou omissão dos
comissários (art. 165º, 500º e 800º do CC)
sai até aqui
• O facto jurídico
o Facto jurídico é todo o acontecimento suscetível de produzir efeitos
jurídicos, em particular, os que dão origem ao surgimento de relações
jurídicas
o Modalidades:

12
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

 Factos jurídicos naturais (não humanos): eventos que ocorrem


por força da natureza (o decurso do tempo, uma tempestade, por
exemplo)
 Factos (humanos) involuntários: acontecimentos relativos ao ser
humano, mas que este não consegue controlar (nascimento ou
morte, por exemplo)
 Factos jurídicos (humanos) voluntários: atos praticados por seres
humanos no exercício da sua autonomia, que a lei valora como
resultado da vontade consciente do sujeito; dividem-se em duas
espécies:
• Simples atos jurídicos:
o Atuações humanas voluntárias cujos efeitos
jurídicos decorrem diretamente da lei (ex lege),
independentemente da vontade do sujeito – as
consequências jurídicas do ato praticado
produzem-se porque a lei assim determina, sem ter
em consideração se elas foram ou não previstas e
desejadas pelo sujeito
• Negócios jurídicos
o Os negócios jurídicos são factos voluntários
constituídos por uma ou mais declarações de
vontade dos sujeitos, visando alcançar certos
resultados práticos com a cobertura do direito, e a
que este atribuindo efeitos jurídicos em
consonância com a vontade manifestada pelas
partes. Os efeitos jurídicos que derivam dos
negócios jurídicos são aqueles que os sujeitos
querem, e que a lei assume como seus, de acordo
com a sua vontade manifestada.
o O negócio jurídico é um mecanismo jurídico de
auto-determinação da personalidade e de
satisfação de interesses dos sujeitos de direito que
se baseia no princípio da autonomia privada,

13
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

segundo o qual os sujeitos jurídicos devem estar


habilitados a gerir a sua esfera jurídica pessoal e
patrimonial segundo a sua vontade, dentro nos
limites estabelecidos por lei.
o A declaração negocial é o comportamento humano
através do qual um sujeito expressa a sua vontade
de produzir certos efeitos práticos juridicamente
tutelados; a declaração negocial pode ser expressa
ou tácita, de acordo com o art. 217º do CC (é
expressa sempre que é emitida por palavras, por
escrito ou qualquer outro meio direto e imediato
de expressão da vontade e tácita se ela se pode
deduzir de factos jurídicos concludentes praticados
pelo sujeito que, com toda a probabilidade, a
revelam, não podendo o silêncio valer como
declaração negocial).
o Simples atos jurídicos
 Podem ser lícitos ou ilícitos, consoante sejam consentidos ou
proibidos pela ordem jurídica; os atos ilícitos geram, em regra,
responsabilidade civil (art. 483º e seguintes do CC), a qual se
traduz no dever de indemnizar os danos causados com a prática
do ato; para surgir este dever é essencial que o ato, além de
ilícito, seja culposo, isto é, manifeste uma atitude censurável e
reprovável do seu autor, o que se verifica sempre que existe dolo
(consciência e intenção de provocar os danos) ou negligência
(falta de cumprimento de um dever jurídico de cuidado, exigível
de acordo com as circunstâncias, para evitar os danos).
o Negócios jurídicos
 Espécies: os negócios jurídicos assumem uma de duas espécies,
de acordo com o número e modo de articulação das declarações
negociais:
• Negócios jurídicos unilaterais
o Estes negócios são compostos por uma ou mais
declarações de vontade (paralelas), que se dirigem

14
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

num mesmo sentido; a conclusão destes negócios


não pressupõe qualquer ato de aceitação, pelo que
se considera haver uma só parte (ainda que possa
ser constituída por vários sujeitos)
o Só podem ser celebrados os negócios jurídicos
unilaterais especificamente previstos na lei
(princípio da tipicidade, consagrado no art. 457º
do CC)
o Exemplos: testamento (negócio jurídico unilateral
através do qual uma pessoa singular dispõe de
todos ou de alguns dos seus bens para depois da
morte, previsto no art. 2179º, n.º 1, do CC), e a
promessa pública (negócio jurídico unilateral
através do qual alguém se vincula publicamente a
realizar uma certa prestação a favor de quem
pratique certo facto ou se encontre em
determinada situação, previsto no art. 459º do CC)
• Negócios jurídicos bilaterais ou contratos
o Os contratos são negócios jurídicos que integram,
pelo menos, duas declarações de vontade com
conteúdo oposto, mas convergente, produzindo um
resultado jurídico unitário
o Os sujeitos intervenientes satisfazem os seus
interesses com um acordo negocial resultante da
conjugação de uma proposta e uma aceitação: a
proposta é a declaração negocial que exprime a
vontade de contratar em certas condições,
enquanto a aceitação é a declaração negocial que
expressa a concordância com as condições
negociais propostas pela outra parte
(exemplificando: o contrato de compra e venda
resulta de uma proposta de venda de um produto a
determinado preço e da aceitação de compra desse
produto a esse preço); para que haja contrato, é

15
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

necessário que as partes estejam de acordo quanto


a todas as condições contratuais
o Vale, em matéria de contratos, o princípio da
liberdade contratual (art. 405º do CC), segundo o
qual os sujeitos são livres de celebrar os contratos
que quiserem (mesmo que não estejam previstos
na lei, o que é o caso dos contratos atípicos), com
o conteúdo que melhor realize os seus interesses,
desde que não ultrapassem certos limites legais
o Exemplos de contratos previstos e regulados no
CC (contratos típicos):
 compra e venda (art. 874º e ss. CC)
 doação (art. 940º e ss CC- Nota: a doação é
um contrato, e não um negócio jurídico
unilateral, uma vez que o negócio só fica
completo com a aceitação do donatário)
 sociedade (art. 980º e ss CC)
 locação (art. 1022º e ss CC)
 comodato (art. 1129º e ss CC)
 mútuo (art. 1142º e ss CC)
 contrato de trabalho (art. 1152º e ss CC)
 Classificações dos negócios jurídicos:
• Onerosos/gratuitos
o Os negócios jurídicos onerosos contemplam
atribuições patrimoniais para ambas as partes, que
mantém entre si uma relação de correspectividade
(ideia de contrapartida ou retribuição), de modo a
que ambas visam retirar vantagens económicas da
sua celebração; já os gratuitos são motivados por
um espírito de liberalidade, isto é, uma das partes
pretende beneficiar a outra, realizando uma
atribuição patrimonial sem qualquer contrapartida
o Exemplos: são onerosos os contratos de compra e
venda e locação; são gratuitos os contratos de

16
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

doação e comodato; o contrato de mútuo pode ser


oneroso e gratuito, consoante haja, ou não,
vencimento de juros remuneratórios (art. 1145º do
CC).
• Formais/consensuais
o O critério distintivo entre negócios formais e
consensuais é o da exigência legal de
determinadas formalidades para celebração do
negócio jurídico
o Em princípio, a declaração negocial pode ser
emitida por qualquer meio idóneo para revelar a
vontade do sujeito em negociar, não tendo que se
observar qualquer formalismo específico; assim
resulta do art. 219º do CC, que consagra o
princípio da liberdade de forma na celebração dos
negócios jurídicos; só excecionalmente, é que a lei
exige que declarações negociais revistam certas
formalidades para serem válidas e produzirem os
seus efeitos, tendo em vista a garantia dos
interesses dos intervenientes (designadamente por
visarem maior ponderação e certeza probatória),
como é o caso dos contratos de compra e venda e
doação de bens imóveis (art. 875º e 947º do CC),
do contrato de arrendamento por prazo superior a
6 meses (art. 1069º do CC), do contrato de mútuo
superior a 2.500,00€ (art. 1143º do CC) e do
testamento (art. 2204º a 2206º do CC)
o Classificam-se como consensuais todos os
negócios para cuja celebração a lei não exige uma
forma específica de expressão da declaração
negocial para esta ser válida (regidos pelo
princípio da liberdade de forma) e como formais
os negócios que devem ser celebrados com
observância de formalidades específicas, nos

17
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

termos da lei (exceções ao princípio da liberdade


de forma)
 Invalidade dos negócios jurídicos
• Os negócios jurídicos, para produzirem os seus efeitos
jurídicos, têm de ser válidos, o que pressupõe o
preenchimento dos requisitos legais de substância e
forma; a falta ou irregularidade de algum dos
pressupostos previstos na lei como elementos essenciais
do negócio jurídico acarreta, como consequência, a sua
invalidade
• A invalidade tem duas modalidades, nulidade e
anulabilidade, previstas nos art. 285º e seguintes do CC,
que diferem pela gravidade dos vícios causadores e pelo
regime jurídico
• Nulidade
o a nulidade é a forma de invalidade mais grave,
sendo causada pela infração a regras legais
fundadas em motivos de interesse público:
 incapacidades de gozo de direitos (art.
2190º, 2192 a 2198º, 953º do CC)
 falta de idoneidade do objeto negocial (art.
280º do CC)
 violação de normas legais imperativas (art.
294º do CC)
 desrespeito por normas legais que exigem
certa forma para o negócio jurídico (art.
220º do CC).
o Os negócios nulos não produzem os seus efeitos,
sem necessidade de declaração por sentença
judicial; a nulidade é insanável, podendo ser, a
todo o tempo, invocada por qualquer interessado
ou declarada oficiosamente pelo tribunal, nos
termos do art. 286º do CC; a declaração de

18
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

nulidade por sentença judicial tem efeito


retroativo, implicando a restituição de todas as
prestações que tiverem sido realizadas pelas partes
em resultado do negócio nulo (art. 289º do CC).
• Anulabilidade
o A anulabilidade é a sanção prevista na lei para o
incumprimento de certas normas legais, destinadas
a proteger os interesses privados das partes:
 É o caso das incapacidades de exercício,
em particular da menoridade: os atos
praticados pelo menor sem estar
devidamente representado são anuláveis,
segundo o art. 125º do CC
o A anulabilidade não impede o negócio jurídico de
produzir os seus efeitos, mas implica a
possibilidade de anulação retroativa por sentença
judicial num determinado período de tempo
(geralmente, de 1 ano a contar da data da
celebração ou conhecimento do negócio, salvo se
o negócio ainda não estiver cumprido, pois, nesse
caso, a anulabilidade pode ser arguida a todo o
tempo, como refere o art. 287º do CC); isto
significa que, passado o período de tempo previsto
na lei para a sua impugnação judicial, o negócio
deixa de poder ser anulado (bem como se os
interessados com legitimidade para anular o
negócio o vierem a confirmar posteriormente,
conforme admite o art. 288º do CC); por outro
lado, a anulação do negócio só pode requerida ao
tribunal por certas pessoas especificamente
previstas na lei (e não por qualquer interessado),
nem pode ser declarada oficiosamente pelo
tribunal

19
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

o A anulação judicial do negócio tem como efeito a


restituição retroativa de todas as prestações
efetuadas, como resulta do art. 289º do CC
• O objeto da relação jurídica
o O objeto da relação jurídica consiste na realidade factual ou jurídica
sobre que incidem diretamente os poderes do titular do direito subjetivo
o Podem ser objeto de relações jurídicas as coisas, prestações, pessoas e
direitos:
 Coisas
• são considerados como coisas, para o direito, os objetos
fisicamente apreensíveis (coisas corpóreas), mas certos
bens sem realidade física, como as obras de um autor
(coisas incorpóreas)
• As coisas podem ser imóveis (prédios rústicos e urbanos,
partes de prédios, águas, árvores e arbustos, enumerados
no art. 204º do CC) ou móveis (todos os restantes, tal
como os define o art. 205º do CC).
• As coisas são objeto das relações jurídicas reais (direito
das coisas - livro III do CC); em especial, o direito de
propriedade permite ao proprietário o uso, fruição e
disposição da coisa
 Prestações
• Prestação é um comportamento humano que o sujeito
passivo (o devedor) está obrigado a realizar para
satisfação do interesse do titular do direito subjetivo
(credor). Esse comportamento pode consistir na entrega
de uma coisa fungível (de que o melhor exemplo é o das
prestações pecuniárias, traduzidas no pagamento de uma
quantia em dinheiro) ou infungível (entrega de coisa certa
e determinada), ou numa prestação de facto positivo
(realização de uma ação) ou negativo (abstenção ou
omissão de certos actos).

20
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

• O objeto das relações jurídicas obrigacionais (direito das


obrigações – livro II do CC) é sempre a prestação (mesmo
quando se trata de uma prestação de entrega de coisa, pois
o direito do credor não recai sobre a coisa, mas sobre a
conduta do devedor)
 Pessoas
• Nas relações jurídicas familiares (direito da família – livro
IV do CC), por vezes, é a pessoa que constitui o objeto da
relação jurídica; tal sucede com direitos dos pais sobre os
filhos.
 Direitos
• Há relações jurídicas em que o direito subjetivo recai
sobre outro direito do sujeito passivo; é o caso da hipoteca
sobre um direito de usufruto (art. 688º, n.º 1, al. e) do CC)
ou o penhor de direitos de crédito (art. 680º do CC).
• A garantia da relação jurídica.
o A garantia é o elemento implícito da relação jurídica que garante o
cumprimento dos deveres jurídicos, concebendo-se como o conjunto de
providências sancionatórias previstas na lei para satisfação do direito
subjetivo do titular ativo, em caso de ameaça ou violação do seu direito
o Estes meios de garantia estão cometidos aos tribunais, órgãos de
soberania a quem cabe administrar a Justiça, com obediência à lei e ao
direito (princípio de proibição da justiça privada)
o A Constituição garante a todos os cidadãos o direito de acesso aos
tribunais (art. 20º da CRP), isto é, o direito de obter, em prazo razoável,
uma decisão judicial definitiva (com força de caso julgado) que aprecie a
pretensão regularmente formulada em juízo, bem como a possibilidade
de a executar.
o Para fazer valer os seus direitos subjetivos violados ou ameaçados, o
sujeito ativo tem de instaurar uma ação judicial em que venha alegar a
sua situação e pedir ao tribunal que reconheça o seu direito e o faça
cumprir (princípio do pedido, segundo o qual a iniciativa processual
pertence aos particulares). A todo o direito subjetivo corresponde uma

21
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

ação adequada a fazê-lo valer em tribunal, a prevenir e reparar a sua


violação, a realizá-lo coercivamente, ou a tomar as providências
necessárias para evitar a sua violação.

• PARTE III: RELAÇÃO OBRIGACIONAL


• Noção, estrutura e elementos da relação obrigacional
o As relações jurídicas obrigacionais são disciplinadas pelo direito no livro
II do Código Civil (Direito das Obrigações), caraterizando-se pela sua
estrutura, assente em vínculos jurídicos de natureza obrigacional entre os
sujeitos:
 O sujeito ativo – credor- detém um direito de crédito, isto é, o
poder de exigir do sujeito passivo um certo comportamento (ação
ou omissão)
 O sujeito passivo – devedor – tem uma dívida ou obrigação (em
sentido técnico), que se traduz no dever jurídico de adotar esse
certo comportamento para satisfazer o interesse do credor
o O art. 397º do CC descreve obrigação como o vínculo jurídico pelo qual
uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação
o Os direitos de crédito são direitos relativos, vinculando apenas o devedor
(pessoa certa e determinada) e não terceiros
o A prestação é, então, a conduta que o devedor deve tomar; pode consistir
numa ação ou omissão (vigorando o princípio da liberdade na fixação do
conteúdo da prestação a prestação, desde que lhe esteja subjacente
qualquer interesse do credor digno de proteção legal, como refere o art.
398º, n.º 1 e 2, do CC
o O cumprimento da obrigação fica dependente da vontade do devedor,
mas, se este não cumprir voluntariamente, o credor pode recorrer à via
judicial para exigir o cumprimento da obrigação e promover a sua
realização coativa (através de penhora e venda de bens em ação
executiva)
o Na prática, a relação obrigacional não tem apenas um direito de crédito e
a correspondente obrigação, sendo composta por diversos vínculos

22
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

jurídicos, muitas vezes até de diferente natureza (relação jurídica


complexa)
• Sujeitos
o A relação obrigacional pode ter apenas um devedor e um credor, ou ter
vários devedores e credores; diz-se singular no primeiro caso, e plural se,
do lado ativo ou passivo, há mais do que uma pessoa
o As obrigações plurais, com mais do que um devedor e/ou mais do que
um credor, estão, em regra, submetidos ao regime da conjunção, ou seja,
a cada sujeito cabe uma fração do crédito ou do débito global, que é
repartido entre eles (geralmente, em igual proporção); exemplificando, se
A e B emprestam 200€ a C, A só poderá exigir de C 100€, e B igual
(conjunção activa); se D empresta 200€ a E e F, E só está obrigado a
pagar 100€ e F também (conjunção passiva)
o Excecionalmente, as obrigações com pluralidade de sujeitos
ativos/passivos podem estar submetidas a um regime de solidariedade,
previsto nos art. 512º e ss. do CC:
 De acordo com o art. 512º do CC, a obrigação é solidária quando
cada um dos vários devedores responde pela prestação integral e
esta a todos libera (solidariedade passiva), ou quando cada um
dos credores tem a faculdade de exigir, por si, só, a prestação
integral e esta libera o devedor para com todos eles (solidariedade
ativa); exemplificando, se A e B emprestam 200€ a C, quer A,
quer B, poderão exigir de C os 200€ (solidariedade activa); se D
empresta 200€ a E e F, poderá exigir os 200€ a qualquer deles (E
ou F) (solidariedade passiva).
 O regime da solidariedade só vale se tal estiver previsto na lei
quanto a certa espécie de obrigações (como é o caso do art. 497º
do CC) ou se as partes tiverem estipulado esse regime quando
celebraram o negócio jurídico do qual surgiu a obrigação - art.
513º do CC
 A solidariedade passiva tem particular interesse prático, sendo
frequentemente estipulada entre as partes, pois permite ao credor
exigir de qualquer dos devedores a prestação por inteiro (e
nenhum deles se pode escusar, invocando a divisão de

23
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

responsabilidades, como referem os art. 518º e 519º do CC);


note-se, todavia, se um dos devedores realizar integralmente a
prestação, fica com o direito de regresso sobre os restantes
devedores, para reaver a parte da prestação que lhes competia
(art. 524º do CC)
• A prestação
o A prestação define-se como o comportamento positivo ou negativo que o
devedor está obrigado a adotar para a satisfação do interesse do credor
o De acordo com o art. 398º do CC, n.º 1 e 2, o conteúdo da prestação pode
ser livremente estabelecido pelas partes, desde que corresponda a um
interesse legítimo do credor e não ultrapasse certos limites fixados por lei
o Para que a obrigação se constitua validamente, a prestação terá que
cumprir os requisitos previstos nos art. 401º e 280º do CC, sob pena de
nulidade do negócio constitutivo: terá de ser física e legalmente possível
(no momento de constituição), terá de ser determinada ou, pelo menos,
determinável segundo um critério fixado por lei, pelas partes ou pelo
tribunal, e não poderá ofender normas legais imperativas, os princípios
de ordem pública e os bons costumes
o Modalidades de prestação
 Segundo o seu conteúdo, as prestações podem consistir no dever
de entrega de uma coisa ou no dever de praticar um determinado
facto
• A prestação de coisa consiste no dever de entrega ao
credor de uma ou mais coisas, fungíveis (determinadas
por qualidade e qualidade) ou infungíveis (coisas certas e
determinadas)
o Se a coisa for uma quantia em dinheiro, chama-se
a essa obrigação pecuniária
• A prestação de facto pode consistir na prática de um facto
positivo, uma ação ou atividade, ou negativo, uma
abstenção ou omissão.
• Factos jurídicos constitutivos

24
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

o A relação obrigacional surge por efeito de um dos seguintes factos


jurídicos (constitutivo):
 Um simples ato jurídico previsto na lei como gerador de certa
obrigação (por exemplo, a prática de um ato ilícito tem como
consequência o surgimento de uma obrigação legal de indemnizar
os danos causados)
 Um negócio jurídico em que uma das partes assume uma
obrigação (é o caso dos contratos de compra e venda, sociedade,
locação, mútuo, prestação de serviço e contrato de trabalho)
o Responsabilidade civil extracontratual por factos ilícitos
 A nossa lei impõe ao sujeito que pratica um facto ilícito a
obrigação de reparar os danos causados por esse facto; essa
obrigação decorre diretamente da lei (mesmo contra a vontade do
sujeito que pratica o facto) por força de um princípio jurídico de
responsabilidade civil por factos ilícitos
 Considera-se facto ilícito todo o comportamento humano
voluntário que viola o direito subjetivo de outrem ou contraria o
disposto nas normas e princípios jurídicos vigentes
 A responsabilidade civil extracontratual não pressupõe a
existência de uma relação jurídica contratual prévia entre os
sujeitos (lesante e lesado), abrangendo apenas os casos de
violação de direitos absolutos (direitos de personalidade,
propriedade e outros direitos reais); por oposição, a
responsabilidade contratual é aquela que decorre do
incumprimento de obrigações no âmbito de uma relação
contratual existente
 A responsabilidade extracontratual por factos ilícitos está prevista
no art. 483º e ss. do CC, fundando-se no preenchimento
cumulativo dos seguintes requisitos materiais:
• Facto ilícito - Em primeiro lugar, o agente tem que
praticar um facto ilícito, isto é, um ato humano voluntário
que viola direitos subjetivos absolutos de outrem ou
normas legais destinadas a proteger interesses de outras
pessoas (art. 483º, n.º 1, do CC)

25
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

• Culpa - Além de ilícito, o ato tem que ser culposo, ou


seja, executado com dolo (consciência e intenção de
provocar os danos) ou negligência (violação de um dever
objetivo de cuidado, legalmente imposto em função das
circunstâncias – também chamada de mera culpa) – art.
483º, n.º 1, e 487º, n.º 1, do CC; excecionalmente, a lei
prescinde da verificação da culpa em certos casos
previstos na lei, designados de responsabilidade civil pelo
risco (art. 483º, n.º 2, e 499º e ss. do CC)
• Danos - do facto ilícito e culposo devem resultar danos
patrimoniais (prejuízos no património do lesado) e não
patrimoniais (lesões na pessoa do lesado, na sua
integridade física e moral) – art. 483º, n.º 1 e 496º, n.º 1,
do CC; nos danos indemnizáveis incluem-se, nos termos
do art. 564º, n.º 1, do CC, além dos prejuízos imediatos
(danos emergentes), os benefícios que o lesado deixou de
obter em consequência da lesão (lucros cessantes)
• Nexo de causalidade adequada - Os danos provocados
foram uma consequência direta do facto ilícito, sendo
previsível, à luz das regras da experiência comum, que
eles surgissem da prática daquele facto - art. 563º do CC
 A responsabilidade civil nas pessoas coletivas
• A responsabilidade civil extracontratual também faz
impender sobre pessoas coletivas o dever de indemnizar
os danos causados pelas pessoas singulares que praticam
os atos em seu nome (os seus representantes legais) e por
sua conta (os trabalhares e colaboradores), nos termos do
art. 500º, n.º 1 e 2, do CC: a pessoa coletiva responde,
independentemente de culpa (o que significa que não tem
que se aferir se houve dolo ou negligência quanto a ela),
pelos danos causados por pessoa singular no exercício de
funções atribuídas pela pessoa coletiva, desde que estejam
reunidos quanto a essa pessoa singular todos os

26
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

pressupostos da obrigação de indemnizar constantes do


art. 483º, n.º 1, do CC (ilicitude, culpa, dano e nexo de
causalidade); nestes casos, a pessoa coletiva responde
perante o lesado pelos danos causados, mas poderá ser
reembolsada pela pessoa singular que praticou o facto
ilícito (conforme o art. 500º, n.º 3, do CC)
o Contratos em especial
 Compra e venda
• Compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a
propriedade de uma coisa ou direito mediante o
pagamento de um preço (art. 874º do CC)
• Os efeitos jurídicos decorrentes deste tipo contratual são,
além da transmissão da propriedade da coisa ou direito do
vendedor para o comprador, duas obrigações: a obrigação
de entregar a coisa, que impende sobre o vendedor, e a
obrigação de pagar o preço, que recai sobre o comprador
(art. 879º do CC)
• Trata-se, portanto, de um contrato oneroso, em que ambas
as partes realizam atribuições patrimoniais correspetivas
• O contrato de compra e venda de bens móveis pode ser
feito por qualquer meio, de acordo com o princípio da
liberdade de forma (art. 219º do CC), e o de bens imóveis
tem de ser realizado através de escritura pública ou
documento particular autenticado, nos termos do art. 875º
do CC
• Todos os aspetos que as partes não tiverem previsto serão
regulados pelas normas supletivas constantes dos art. 880º
e seguintes do CC.
 Sociedade
• As sociedades são a espécie mais comum de pessoas
coletivas de direito privado (art. 158º do CC); a sua
constituição é feita através da celebração de um contrato
de sociedade (art. 980º do CC)

27
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

• O contrato de sociedade é o negócio jurídico através do


qual duas ou mais pessoas se obrigam a contribuir com
bens ou serviços para o exercício em comum de uma
atividade económica (que não seja de mera fruição), a fim
de repartirem entre si os respetivos lucros (art. 980º do
CC)
• Da celebração deste contrato, surge, para cada um dos
sócios, entre outras, uma obrigação de realizar a prestação
acordada (em dinheiro, bens ou em serviços) a favor da
sociedade criada
• Embora o art. 981º diga que o contrato de sociedade não
está, em regra, sujeito a forma especial, o art. 7º, n.º 1, do
Código das Sociedades Comerciais (CSC) exige um
documento escrito com reconhecimento presencial de
assinaturas para a constituição de sociedades comerciais e
civis sob a forma comercial
 Locação
• A locação é o contrato pelo qual uma das partes se obriga
a ceder o gozo de uma coisa, durante um determinado
período de tempo, mediante o pagamento de uma
retribuição (art. 1022º do CC)
• A locação assume duas modalidades consoante o seu
objeto: arrendamento, se versar sobre coisa imóvel, e
aluguer, se incidir sobre coisa móvel (art. 1023º do CC)
• Da locação, decorrem obrigações para ambas as partes: o
locador tem a obrigação de entregar a coisa locada e
assegurar o gozo ao locatário para os fins a que esta se
destina (art. 1031º do CC); por sua vez, o locatário tem a
obrigação de pagar a renda ou aluguer convencionados,
além de outras previstas no art. 1038º do CC
• A locação é um contrato oneroso, uma vez que as partes
recebem uma contrapartida patrimonial

28
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

• configura, em princípio, um negócio consensual, sem


formalidades definidas legalmente para a sua celebração,
salvo o arrendamento de prédios urbanos com duração
superior a 6 meses, que tem que ser realizado por
documento escrito (art. 1069º do CC).
 Mútuo
• O contrato de mútuo é um negócio jurídico pelo qual uma
das partes (mutuante) empresta à outra uma (mutuário)
uma quantia em dinheiro, ou outra coisa fungível, ficando
esta obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade (art. 1142º do CC)
• A eficácia obrigacional do mútuo centra-se na obrigação
de restituir a quantia mutuada (ou a coisa fungível
mutuada, se for o caso), a cargo do mutuário, e na
eventual obrigação de pagar os juros respetivos
• A gratuitidade ou onerosidade do mútuo decorre
diretamente da vontade das partes expressa no contrato: se
as partes convencionarem o vencimento de juros
remuneratórios, como contrapartida económica da
disponibilidade do capital mutuado, o mútuo é oneroso; se
o mutuante empresta a quantia mutuada sem exigir
qualquer retribuição, para beneficiar o mutuário, o mútuo
é gratuito. Na dúvida, o mútuo presume-se oneroso (art.
1145º, n.º 1, do CC)
• Quanto à forma, o mútuo de quantias até 2500,00€ não
necessita de observar qualquer formalidade, mas se
superar esse valor terá que ser celebrado por documento
escrito assinado, pelo menos, pelo mutuário, e se ascender
a mais de 25000,00€, só será válido se constar de escritura
pública ou documento particular autenticado (art. 1143º
do CC)
 Prestação de serviço

29
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

• O contrato de prestação de serviço, previsto no art. 1154º


do CC, é aquele em que uma das partes se obriga a
proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho
intelectual ou manual, com ou sem retribuição.
• Este tipo negocial engloba 3 modalidades: contrato de
mandato, contrato de depósito, e contrato de empreitada
(art. 1155º do CC).
• Em especial, o contrato de empreitada é aquele em que
alguém se obriga a realizar uma certa obra mediante um
preço (art. 1207º do CC). Trata-se de um contrato oneroso
e consensual.

• Garantias das obrigações


o Garantia geral
 A garantia é o elemento da relação jurídica obrigacional que se
reporta aos meios de reação contra o incumprimento da
obrigação.
 O património do devedor é considerado a garantia geral das
obrigações (art. 601º do CC), na medida em que, não sendo a
obrigação voluntariamente cumprida, o credor está legitimado a
promover a ação creditória, que culminará com a penhora e venda
dos bens do devedor suficientes para permitir o pagamento da
dívida não cumprida, tal como refere o art. 817º do CC
 Esta garantia diz-se geral porque assiste a qualquer credor
o Garantias especiais
 Além da garantia geral, os credores podem garantir-se contra o
incumprimento da obrigação mediante a constituição de garantias
especiais, que lhes concedem a possibilidade de atacar o
património de terceiros (garantias pessoais) ou lhes atribuem o
direito de ser pago, com preferência em relação aos restantes
credores, pelo valor de certos bens do devedor ou de terceiro
(garantias reais)

30
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

 Estas garantias derivam, geralmente, da vontade das partes


manifestada na celebração de negócios jurídicos, mas também
podem resultar da lei (é o caso dos privilégios creditórios) ou de
uma decisão judicial (por exemplo, a hipoteca judicial)
 A fiança como garantia pessoal
• As garantias pessoais reforçam a hipótese de
cumprimento coercivo da obrigação pela
responsabilização pessoal de um terceiro, que passa a
responder, com o seu património, pela dívida do devedor
• A fiança é uma garantia constituída por um terceiro
(fiador) que assegura, com todo o seu património, o
cumprimento da obrigação, ficando pessoalmente
responsável perante o credor (art. 627º, n.º 1, do CC). A
obrigação do fiador é acessória e subsidiária da obrigação
do devedor: a acessoriedade determina que a fiança tenha
o mesmo âmbito da obrigação do devedor e sofra as
mesmas vicissitudes da esta (art. 627º, n.º 2, 631º, 632º e
651º do CC); a subsidiariedade concretiza-se na existência
de um benefício de excussão prévia que possibilita ao
fiador recusar o cumprimento da obrigação enquanto não
forem excutidos todos os bens do devedor (art. 638º, n.º 1,
do CC).
 Garantias reais: hipoteca e penhor
• As garantias reais são, como o nome indica, direitos reais
que têm por função garantir o cumprimento de
obrigações, atribuindo ao credor a faculdade de se fazer
pagar pelo valor de um certa coisa, móvel ou imóvel (do
devedor ou de terceiro), com preferência sobre os demais
credores, em caso de incumprimento da obrigação
garantida. A sua importância prática reside
essencialmente na sequela, isto é, na possibilidade de
executar o bem sobre que incide a garantia mesmo que ele
se encontre no património de terceiros, mas também na

31
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

preferência no pagamento que a garantia lhe concede,


permitindo-lhe pagar-se totalmente do valor do bem em
primeiro lugar.
• A hipoteca é a garantia real que confere ao credor o
direito de ser pago pelo valor de certos bens imóveis (ou
equiparados), pertencentes ao devedor ou a terceiro, com
preferência sobre os demais credores (art. 686º do CC). A
hipoteca pode ter origem legal, judicial ou voluntária (art.
703º do CC), sendo, neste último caso, constituída por
contrato ou negócio unilateral nos termos do art. 712º do
CC; mas, em qualquer dos casos, só produz os seus
efeitos se estiver registada na Conservatória do Registo
competente (art. 687º do CC). Constituída a hipoteca, ela
passa a onerar o bem sobre que incide, assegurando ao
credor que, em caso de incumprimento da obrigação
garantida, este poderá sempre executar esse bem,
pagando-se pelo valor que obtiver com a sua venda
judicial (pois a lei proíbe que o credor possa ficar com a
coisa hipotecada para si – art. 694º do CC), mesmo que o
bem hipotecado pertença a terceiros (note-se que a
hipoteca não pode impedir a transmissão do bem
hipotecado – art. 695º do CC).
• O penhor é outra garantia real que confere ao credor a
satisfação do seu crédito, com preferência sobre os demais
credores, pelo valor de certa coisa móvel ou de certos
direitos, pertencentes ao devedor ou a terceiro (art. 666º,
n.º 1, do CC). Quanto ao objeto, o penhor pode recair
sobre coisas móveis (salvo automóveis, navios e
aeronaves que são considerados equiparados aos imóveis)
e ainda sobre direitos de crédito e outros não hipotecáveis.
O penhor de coisas constitui-se por negócio jurídico, mas
só produz efeitos pela entrega da coisa ou de documento
que confira a sua disponibilidade exclusiva (art. 669º do

32
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

CC); a própria existência do penhor pressupõe a detenção


material da coisa empenhada (segundo o art. 677º do CC,
a restituição da coisa empenhada extingue o penhor). Os
poderes do credor pignoratício resumem-se à satisfação
do seu direito de crédito por via da venda judicial, ou
extrajudicial, da coisa empenhada, em caso de
incumprimento da obrigação (art. 675º do CC).
o Efetivação das garantias
 A ordem jurídica coloca à disposição do credor os meios judiciais
necessários para realizar coativamente a prestação devida ou
obter um resultado, tanto quanto possível, equivalente ao
cumprimento da obrigação pelo devedor: esses meios traduzem a
chamada ação creditória
 A ação creditória é composta, em regra, por uma fase declarativa
e por uma fase executiva
• A fase declarativa (ação declarativa de condenação)
destina-se a obter o reconhecimento da existência da
dívida e a condenação do devedor a cumpri-la, e pode ser
dispensada sempre que o credor tenha na sua posse um
título executivo, isto é, um documento escrito que ateste a
existência da obrigação e o seu conteúdo.
• Na fase executiva (ação executiva), o tribunal vai efetivar
a responsabilidade patrimonial do devedor, apreendendo e
vendendo bens do devedor de valor suficiente, através da
penhora e venda executiva, para depois proceder ao
pagamento da dívida exequenda (se a obrigação era
originariamente pecuniária ou se o credor vem exigir a
indemnização pelos danos causados com o
incumprimento, por impossibilidade superveniente da
prestação); noutros casos, a execução tem como objetivo a
apreensão e entrega coativa de coisa certa e determinada
que o devedor estava obrigado a entregar (art. 827º do

33
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

CC), ou a prestação de facto fungível por terceiro à custa


do património do devedor (art. 828º do CC).
 Havendo garantias especiais das obrigações, não é só o devedor e
o seu património que poderão ser chamados a responder pela
satisfação coativa da obrigação; adicionalmente, também pode ser
executado para pagamento da dívida ao credor o património do
fiador (havendo fiança) ou o bem de um terceiro onerado com a
garantia real (hipoteca ou penhor)
• Cumprimento
o Noção, efeitos e princípios gerais
 O cumprimento da obrigação corresponde à realização da
prestação devida, nos termos do art. 762º, n.º 1, do CC.
 Cumprida da obrigação, a relação obrigacional respetiva
extingue-se
 A obrigação deve ser cumprida segundo os princípios da
pontualidade (a prestação deve ser realizada integralmente e tal
como foi acordado ou fixado - art. 762º, n.º 1, e 763º, n.º 1, do
CC) e da boa fé (devedor e credor devem agir de modo leal,
honesto e correto - art. 762º, n.º 2, do CC)
o Legitimidade
 A prestação pode ser efetuada pelo devedor ou por terceiro (só
podendo o credor recusar o cumprimento de terceiro se houver
acordo expresso nesse sentido ou a substituição o prejudicar,
designadamente por se tratar de prestação infungível - art. 767º,
n.º 1 e 2 do CC)
 A prestação tem de ser feita ao credor ou ao seu representante
(legal ou voluntário), de acordo com o disposto no art. 769º do
CC; a prestação feita a terceiro não extingue a obrigação, exceto
se o credor consentiu previamente ou vem a ratificar (art. 770º, al.
a) e b) do CC), por isso se diz que “quem paga mal, paga duas
vezes”.
o Lugar do cumprimento
 A obrigação deve ser cumprida, em regra, no domicílio do
devedor (art. 772º do CC), a não ser que se trate de obrigação

34
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

pecuniária (caso em que o pagamento da quantia em dinheiro


deverá ocorrer no domicílio do credor à data do cumprimento,
como refere o art. 774º do CC) ou de obrigação de entrega de
coisa móvel (devendo a coisa ser entregue no lugar em que se
encontrava na data de celebração do negócio, conforme dispõe o
art. 773º, n.º 1, do CC).
o Tempo do cumprimento
 Geralmente, as obrigações têm uma data certa para o
cumprimento, a qual é definida pelas partes, por lei ou por
decisão judicial (obrigações a termo ou a prazo); estas obrigações
vencem-se automaticamente, na data estabelecida ou decorrido o
período de tempo fixado, sem necessidade de interpelação (art.
805º, n.º 2, al. a) do CC)
 Designam-se de obrigações puras aquelas em que não há uma
data ou prazo definido para o seu cumprimento; estas obrigações
podem ser cumpridas e exigidas a todo o tempo, segundo o
disposto no art. 777º, n.º 1 do CC; para exigir o cumprimento, o
credor tem de proceder a uma interpelação do devedor, judicial
ou extrajudicial, assim tornando a obrigação exigível, como
decorre do art. 805º, n.º 1, do CC
o Prova do cumprimento
 A prova de que a prestação foi pontualmente realizada pode ser
feita através de um recibo ou quitação, isto é, do documento
escrito em que o credor declara ter recebido a prestação para
satisfação do seu direito de crédito
 O art. 787º, n.º 1 e 2 do CC atribui ao devedor o direito à
quitação, o que significa que o credor incorre no dever de o
emitir, caso isso lhe seja solicitado no momento em que o
cumprimento é feito, ou posteriormente. Se o credor se negar a
emitir a quitação, o devedor pode recusar-se a cumprir enquanto
não lhe for oferecida a quitação, nos termos do n.º 2 deste artigo.
• Incumprimento
o Noção e imputabilidade

35
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

 O incumprimento de uma obrigação consiste na não realização


pontual da prestação devida
 Se a prestação não é efetuada em termos adequados, tal pode
dever-se a culpa do devedor (dolo ou negligência), ou então ser
motivado por circunstâncias alheias à sua vontade – no primeiro
caso, falamos de incumprimento imputável ao devedor, no
segundo, de incumprimento não imputável ao devedor
 A responsabilidade do devedor é excluída sempre que o
incumprimento, nas suas mais variadas formas, deriva de facto de
terceiro ou de caso fortuito ou de força maior (art. 790º e
seguintes do CC)
o Incumprimento imputável ao devedor
 O incumprimento da obrigação imputável ao devedor constitui
um facto ilícito, punido pelo art. 798º do CC com a obrigação de
indemnizar os danos causados; estamos perante uma espécie de
responsabilidade civil contratual, em que o facto ilícito é a
violação do direito de crédito; assim, para que surja obrigação de
indemnizar, é necessário que se verifiquem todos os pressupostos
legais da responsabilidade civil por factos ilícitos (facto ilícito,
culpa, danos e nexo de causalidade), embora a culpa do devedor
se presuma, nos termos do art. 799º, n.º 1, do CC (cabendo a este
o ónus da prova do contrário)
 O incumprimento culposo pode assumir uma de três modalidades,
consoante o efeito: pode constituir mora, incumprimento
definitivo, ou cumprimento defeituoso
• Mora
o A mora corresponde a um atraso no cumprimento
da obrigação, verificado por causa imputável ao
devedor (art. 804º, n.º 2 do CC)
o Para que haja mora, não basta que a prestação não
tenha sido efetuada no tempo devido, ter-se-á de
concluir também que a prestação ainda é possível
e o credor mantém o interesse nela (caso contrário,

36
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

haverá incumprimento definitivo)- art. 804º, n.º 2,


e 808º, n.º 1, do CC
o A mora inicia-se com o vencimento da obrigação,
o qual ocorre na data fixada pelas partes, pela lei
ou pelo tribunal, no caso de obrigações a prazo
(art. 805º, n.º 2, al. a) do CC), ou depois de
interpelado o devedor para cumprir, nas
obrigações puras (art. 805º, n.º 1, do CC)
o O devedor em mora continua obrigado a realizar a
prestação devida, mas, além dela, fica obrigado a
indemnizar os danos causados com o atraso, nos
termos do art. 804º, n.º 1, do CC. Estes danos são
determinados em concreto, exceto nas obrigações
pecuniárias; nestas, os danos correspondem a juros
de mora (art. 806º do CC), calculados com base
numa taxa anual fixada na lei ou no negócio
jurídico (taxa anual : 365 dias x número de dias de
atraso)
o A mora cessa por cumprimento da obrigação e
ainda por conversão em incumprimento definitivo;
nos termos do art. 808º do CC, a mora converte-se
em incumprimento definitivo sempre que: 1. o
credor perde objetivamente o interesse na
prestação (objetivamente, no sentido em que uma
pessoa média, naquelas circunstâncias, deixaria de
ter interesse na prestação em causa); ou 2. o credor
faz um ultimato ao devedor, concedendo-lhe um
prazo razoável para cumprir, sob pena de, não
cumprindo, se dar a obrigação por definitivamente
não cumprida (interpelação admonitória), e o
devedor, mesmo assim, não cumpre.
• Incumprimento definitivo
o Esta forma de incumprimento verifica-se sempre
que a prestação se torna impossível, que o credor

37
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

perde objetivamente o interesse que tinha nela, ou


que o devedor em mora não cumpre a obrigação
no prazo razoável que lhe é fixado pelo credor na
interpelação admonitória, desde que, em qualquer
dos casos, tal se verifique por culpa do devedor –
art. 801º, n.º 1, e 808º, n.º 1 e 2, do CC
o Em princípio, a consequência do incumprimento
definitivo é a que está prevista, em geral, no art.
798º do CC: o devedor responde pelos danos
causados, ou seja, fica obrigado a indemnizar os
prejuízos que o incumprimento da obrigação
causou ao credor (responsabilidade pelo interesse
contratual positivo, visando repor a situação que
existiria se a obrigação tivesse sido cumprida);
todavia, em contratos sinalagmáticos (que
originam obrigações recíprocas ou correspetivas
para as partes), o credor pode, em alternativa,
recusar-se a realizar a prestação estipulada como
contrapartida contratual (ou exigir a sua
restituição, se já a tiver prestado) e resolver o
contrato, exigindo ao devedor uma indemnização
pelos danos que sofreu com a celebração do
contrato (responsabilidade pelo interesse
contratual negativo, visando a reposição da
situação que existiria se nunca tivesse feito o
contrato)- art. 801º, n.º 2, do CC
• Cumprimento defeituoso
o Há cumprimento defeituoso da obrigação se a
prestação, embora realizada na altura devida, não
está de acordo com as estipulações das partes,
sendo os vícios, deficiências ou desconformidades
da prestação imputáveis ao devedor
o Esta espécie de incumprimento encontra-se
prevista, em geral, nos art. 798º e 799º, n.º 1, do

38
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

CC (gerando a obrigação de indemnizar os danos


provocados pela não realização da prestação nos
termos devidos), e, em especial, nos contratos de
compra e venda (art. 905º e seguintes, 913º e
seguintes do CC) e de locação (art. 1032º e
seguintes do CC).

• PARTE IV – DIREITO DO TRABALHO


• Direito do Trabalho
o Noção
 O Direito do Trabalho é o ramo do direito constituído pelo
conjunto de normas e princípios jurídicos que regulam as relações
laborais
o Especialidade
 Trata-se de um ramo do direito privado especial, que se
autonomizou do direito civil para dar à relação jurídica laboral
uma regulamentação mais adequada aos interesses em conflito,
garantindo ao trabalhador uma proteção legal reforçada dos seus
direitos e liberdades fundamentais (tendo-se constatado
sociologicamente que o trabalhador é a parte mais vulnerável
nesta relação jurídica)
 O Direito do Trabalho carateriza-se ainda pela admissibilidade de
regulamentação coletiva das relações laborais, conjugando a
disciplina legal criada pelos órgãos estaduais com as normas
jurídicas criadas através das convenções coletivas do trabalho,
celebrados entre sindicatos e associações representantes dos
trabalhadores e empregadores de um certo setor de atividade (art.
56º, n.º 3, CRP e 485º CT)
 Imperatividade
• As normas de direito do trabalho são imperativas apenas
no sentido em que impedem o estabelecimento de
condições contratuais mais desfavoráveis para o
trabalhador; a lei laboral garante ao trabalhador um

39
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

estatuto mínimo, sendo lícita a estipulação contratual de


direitos e garantias superiores aos previstos na lei (art. 3º,
n.º 3 e 4, do CT)
o Fontes
 O direito do trabalho encontra-se condensado nas seguintes
fontes (por ordem hierárquica):
• CRP
• Direito internacional vigente
o Direito Comunitário (Regulamentos e Diretivas
Comunitários)
o Convenções internacionais – em especial,
convenções da OIT (organização internacional do
Trabalho, pertencente à ONU)
• Leis gerais da república (Leis e Decretos-Lei)
o Código do Trabalho- Lei 7/2009 de 12/02
(atualizada até 2019)
o Outras leis laborais
• Regulamentos - Instrumentos de regulamentação coletiva
do trabalho (desenvolvimento e concretização das leis
laborais para um ou vários setores de atividade
económica) – art. 1º e 2º CT
o Convenções coletivas de trabalho – art. 496º, n.º 2
e 3, CT
 Espécies: acordos celebrados entre
associações representativas dos
trabalhadores e empregadores de um
determinado setor de atividade (contrato
coletivo de trabalho), entre uma associação
sindical e algumas entidades patronais
concretas (acordo coletivo de trabalho), ou
entre um sindicato e uma entidade patronal
(acordo de empresa)

40
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

 Procedimento: obtido um acordo entre os


intervenientes, após negociações, esse
acordo deve ser reduzido a escrito,
subscrito pelos representantes das partes,
depositado no Ministério do Trabalho e
publicado no BTE
o Acordos de adesão – art. 504º CT
o Portarias de extensão e portarias de condições de
trabalho – art. 514º e 517º CT
o Decisões arbitrais em processos de arbitragem
voluntária
• Usos laborais (que não contrariem o princípio da boa fé) –
art. 1º CT
• Contrato de trabalho
o noção e caraterísticas
 art. 11º CT- contrato
• negócio jurídico bilateral, formado por duas declarações
de vontade, livre e esclarecida
• celebrado por uma pessoa singular, na qualidade de
trabalhador, e outro sujeito (pessoa singular ou coletiva),
na qualidade de empregador
• do qual surgem as seguintes obrigações:
o o trabalhador fica obrigado a prestar a sua
atividade, no âmbito da organização e sob a
autoridade do empregador (subordinação jurídica
do trabalhador ao empregador, ficando vinculado
ao cumprimento de ordens e instruções do
empregador) – art. 128º CT
o o empregador fica obrigado a pagar uma
retribuição – art. 127º CT
o requisitos de conteúdo e de forma
 a validade do contrato de trabalho pressupõe o cumprimento dos
requisitos gerais de conteúdo dos negócios jurídicos

41
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

• personalidade, capacidade de gozo e exercício dos


sujeitos – art. 13º CT
• idoneidade do objeto negocial – art. 280º do CC
(possibilidade física e legal, determinabilidade, licitude,
conformidade com a ordem pública e os bens costumes)
 princípio de liberdade de forma – art. 219º CC e art. 110º CT –
com exceções, em particular, nos contratos a prazo (art. 141º CT)
e a tempo parcial (art. 153º CT)
o modalidades de contrato de trabalho
 contrato de trabalho a tempo integral/a tempo parcial: consoante
o tempo de trabalho semanal, nos termos do art. 150º do CT
 contrato sem termo/a termo resolutivo: consoante haja ou não
estipulação de um prazo de duração da relação laborar; em
princípio, o trabalhador é admitido como efetivo, por contrato de
trabalho sem termo; excecionalmente, o art. 140º CT admite a
celebração de contratos de trabalho a termo tendo em vista o
suprimento de necessidades temporárias especificamente
previstas na lei
• Relação jurídica laboral
o Direitos e deveres principais do empregador:
 direito a exigir a prestação laboral do trabalhador, com as
seguintes prerrogativas (correlativas à subordinação jurídica do
trabalhador):
• Poder diretivo – 97º CT: determinação da função do
trabalhador (segundo a categoria profissional respetiva) e
conformação da prestação em concreto – 118º CT
• poder disciplinar – 98º e 328º CT: aplicação de sanções
por conduta incorreta (repreensão, repreensão registada,
suspensão com perda de retribuição, despedimento sem
indemnização)
• Poder regulamentar – 99º CT: regulamentos internos
 Dever de pagamento pontual da retribuição (salário) – art. 127º
CT

42
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

• Forma do cumprimento – em dinheiro – art. 276º CT


• Lugar do cumprimento – no local de trabalho ou outro
acordado – 277º CT
• Tempo do cumprimento – o salário constitui uma
prestação periódica que se vence por um período certo e
igual (geralmente o mês, mas também pode ser a semana
ou quinzena), devendo ser pago na data do vencimento ou
em dia útil anterior – art. 278º CT
o Direitos e deveres principais do trabalhador:
 dever de prestar a sua atividade sob autoridade do empregador
(prestação de trabalho subordinado) – art. 128º CT
• Tempo de trabalho – art. 197º, 198º, 199º, 200º, 203º,
214º, 232º, 237º, 238º CT
o Período normal de trabalho: o trabalhador obriga-
se a exercer a sua atividade durante um certo
período de tempo, geralmente diário (não podendo
exceder 8h diárias e 40h semanais)
o Além das pausas e do tempo de descanso no
período diário, o trabalhador tem direito a
descansos semanais (é obrigatório gozar 1 dia de
descanso por semana, em regra ao domingo,
podendo acrescer-lhe mais 1 ou ½ dia como
compensação de aumento de horas de trabalho
diário) e a feriados obrigatórios
o O trabalhador tem também direito a férias (22 dias
úteis, atribuídos no dia 1/01 de cada ano,
relativamente ao trabalho prestado no ano anterior;
no ano da celebração do contrato, após seis meses
de trabalho efetivo, 2 dias por cada mês completo)
• Regime de faltas- art. 248º, 249º, 255º, 256º CT
o Faltas justificadas – as faltas consideram-se
justificadas se forem fundadas nos motivos
especificamente previstos no art. 249º do CT

43
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

(doença, casamento, óbito de familiar, assistência


a filhos..) e desde que sejam comunicadas com a
antecedência de 5 dias (se previsíveis) ou logo que
seja possível (o trabalhador terá ainda de
apresentar comprovativo do facto justificativo, nos
15 dias seguintes, se tal lhe for exigido pela
entidade patronal); as faltas justificadas não
afetam os direitos do trabalhador, mas, em certos
casos (doença, acidente de trabalho ou assistência
a familiar) implica perda de retribuição
o Faltas injustificadas – as restantes (não
justificadas) constituem violação do dever de
assiduidade e determinam perda de retribuição e
desconto na antiguidade (embora se admita a
substituição por dias de férias ou trabalho
suplementar)
 Direito à retribuição– art. 127º, b), 258º, 262º do CT
• pagamento do salário e ainda de:
o férias remuneradas (12º mês) – art. 264º, n.º 1, CT
o subsídio de férias e subsídio de Natal (13º e 14º
meses) – art. 263º e 264º, n.º 2, CT
o outras remunerações, devidas por isenção de
horário, prestação de trabalho noturno ou
suplementar- art. 265º, 266º, 268º CT
• Suspensão e cessação da relação laboral
o Suspensão do contrato de trabalho
 Impossibilidade temporária de prestação, não imputável a
nenhuma das partes: art. 294º e 295º CT (mantém-se em vigor os
direitos e os deveres que não pressuponham a prestação efetiva
de trabalho)
 Suspensão individual por facto respeitante ao trabalhador:
impossibilidade de prestação da atividade laboral por período

44
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

superior a 1 mês (doença, serviço militar, nomeação..) – art. 296º


CT
 Suspensão coletiva por motivo respeitante à entidade
empregadora (paralisação da empresa e crise empresarial – art.
298º e 309º CT)
 Acordo das partes: licença sem vencimento e pré-reforma – art.
317º e 318º CT
 Decisão unilateral do trabalhador por não pagamento pontual da
retribuição – art. 325º CT
o Cessação do contrato de trabalho – art. 340º CT
 Caducidade – art. 343º CT – o contrato cessa automaticamente
pelos seguintes factos:
• Decurso do prazo estipulado, nos contratos a termo
• Por impossibilidade superveniente da prestação laboral
(morte ou extinção do empregador, encerramento da
empresa)
• Com a reforma do trabalhador
 Revogação– art. 349º CT - por mútuo acordo, devendo constar
esse acordo de documento escrito assinado por ambos
 Por iniciativa do trabalhador:
• Denúncia (cessação do contrato de trabalho por livre
vontade do trabalhador, estando, no entanto, obrigado ao
cumprimento de um prazo de aviso prévio) – art. 400º e
401º CT
• Resolução (por incumprimento das obrigações do
empregador, designadamente, do pagamento do salário) –
art. 394º CT
 Por iniciativa do empregador:
• Despedimento por justa causa – art. 338º e 351º CT
o Considera-se justa causa de despedimento o
comportamento culposo do trabalhador que, pela
sua gravidade e consequências, torne impossível a
subsistência da relação laboral (por exemplo,

45
INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS EMPRESAS

SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS – 2019.2020

desobediência ilegítima, faltas não justificadas,


violência contra outros trabalhadores, lesão de
interesses patrimoniais sérios da empresa…)
o Para ser lícito, o despedimento sem justa causa
deve seguir um procedimento estritamente
previsto na lei, destinado a assegurar o exercício
dos direitos de defesa do trabalhador
• Despedimento coletivo – art. 359º CT (despedimento de
vários trabalhadores da empresa em razão de
encerramento ou redução da atividade da empresa por
motivos de mercado, estruturais ou tecnológicos)
• Despedimento por extinção do posto de trabalho – art.
367º CT (despedimento de um trabalhador com base na
extinção do posto de trabalho devida a motivos de
mercado, estruturais ou tecnológicos)
• Despedimento por inadaptação – art. 373º CT
(inadaptação superveniente ao posto de trabalho)
 Consequências do despedimento ilícito (art. 381º a 385º CT)
• o empregador é obrigado a indemnizar o trabalhador de
todos os danos causados, a compensá-lo pela perda de
retribuição e a reintegrá-lo (ou, em alternativa, a
indemnizá-lo pela não reintegração)- art. 389º, n.º 1, 390º,
391º e 392º CT)

46

Você também pode gostar