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- Por esta via a questão da hierarquia das normas de produção jurídica, em rigor,
deveria abarcar todo o sistema de fontes ou processos de criação de Direito. Mas
não é isso o que na realidade sucede. Desde logo, encontram-se à partida dele
excluídos os atos provenientes da “autonomia privada”.
PRINCÍPIO DA HIERARQUIA
- Esta questão que acabamos de analisar remete-nos para uma outra: a da
multiplicação ou pluralidade de processos de criação jurídica, ao cabo e ao resto, a
questão da pluralidade do ordenamento jurídico: normas provenientes do poder
estadual, dos órgãos das regiões autónomas, do poder local, dos órgãos
internacionais, dos órgãos da União Europeia, etc.
- O princípio da hierarquia dos processos de produção jurídica espelha desde logo a
“autoridade” do órgão criador de normas.
- No caso do procedimento legislativo, dispõe o artigo 112.º, n.º 1 da CRP que são
“atos legislativos” “as leis, os decretos-leis e os decretos-leis regionais”, para logo
acrescentar, no seu n.º 5, que “[n] enhuma lei pode criar outras categorias de atos
legislativos ou conferir a atos de outra natureza o poder de, com eficácia externa,
interpretar, integrar, modificar, suspender ou revogar qualquer dos seus preceitos.”
- Existem atos legislativos que não contêm nenhuma “norma jurídica”. Reentram
nesta categoria a aprovação do Orçamento Geral do Estado, a adesão a certos
tratados de direito internacional ou a decisão sobre a conclusão de um tratado de
paz. (cf. Artigos 106.º e 161.º/g) e i) da CRP).
- Afirma que todos os atos jurídicos – públicos, promulgados sob a forma de lei, prevalecem
sobre todos os outros atos jurídico - públicos de hierarquia inferior, detendo uma dimensão
“positiva” e “negativa”, especialmente no confronto com os normativos da administração
pública e, em particular, os regulamentos. A dimensão positiva traduz-se na exigência de
observância e aplicação da lei (“precedência de lei”). A dimensão negativa na proibição do
desrespeito e violação de lei (“prevalência de lei”).
Princípio da “reserva de lei”
- Nesta aceção, o princípio significa que certas matérias, pelo seu objeto e conteúdo, só
podem ser decididas pelo parlamento. Ou seja, existem determinadas leis do Estado que
têm necessariamente de ser aprovadas pela Assembleia da República e outro cujo
monopólio parlamentar não é apenas de aprovação, mas também de iniciativa.
- A título meramente exemplificativo, a Lei do Orçamento do Estado é da iniciativa do
Governo, mas a competência da sua aprovação é reservada à Assembleia da República (cfr.
artigos 106.º e 161.º/g) da CRP)
- O mesmo se diga em relação à Lei das Grandes Opções do Plano (cfr. artigo 161.º/g) da
CRP).
- Essas duas leis correspondem não ao “processo legislativo comum”, mas a um “processo
legislativo especial”, e como tal vêm inseridas na ordenação sistemática do Regimento da
Assembleia da República (vide, artigos 205.º e ss do RAR). Mas tratando-se de um processo
de revisão constitucional a iniciativa de propositura e de aprovação configura-se já como
monopólio da Assembleia da República (vide, artigos 285.º e 286.º da CRP).
https://files.diariodarepublica.p
t/1s/2022/12/25102/00090003
77.pdf
- É esta posição de preeminência da Assembleia da República, expressa nos princípios de
“reserva de lei” e “primazia de lei”, face aos decretos-leis e regulamentos provenientes do
executivo, que justifica, entre nós, a existência de uma “reserva de lei qualificada” em favor
do parlamento.
-Uma reserva de lei parlamentar que tem vindo a ser ampliada em sucessivas leis de revisão
constitucional, e que se desdobra ainda numa “reserva de competência legislativa
absoluta” e “reserva de competência legislativa relativa”, nos termos e por força do
disposto nos artigos 161.º, 164.º e 165.º da Constituição.
- Designa-se reserva de parlamento o conjunto de matérias ou de âmbitos materiais que
devem ser objeto de regulação de um ato legislativo editado pelo parlamento.
- Na estrutura constitucional portuguesa nem sempre a reserva de lei significa que o
parlamento deva, ele próprio, disciplinar determinadas matérias. Nuns casos, embora se
preveja na constituição a competência do parlamento para legislar sobre certas matérias,
pode o Governo (artigo 165.º) ser autorizado a emanar decretos-leis incidentes sobre essas
mesmas matérias. O mesmo acontece com as leis de autorização de decretos legislativos
regionais (artigo 227.º). Fala-se aqui de reserva relativa.
- Noutros casos, a Constituição exige a intervenção da lei para definir ou fixar o regime
jurídico de certas matérias, mas não estabelece a obrigatoriedade de reserva de lei
parlamentar. Nestes casos impõe-se uma reserva de ato legislativo, sendo indiferente que
se trate de lei formal da AR ou de decreto-lei do Governo.
- No ordenamento constitucional português existe reserva de decreto-lei quando a
disciplina jurídica de determinados assuntos deve pertencer a um decreto-lei do Governo,
com exclusão da intervenção de outros atos legislativos (artigo 199.º da CRP).
- Fala-se em reserva de lei reforçado quando o regime jurídico de certas matérias está
contido em leis com algumas das dimensões individualizadas no artigo 112.º/3 da
Constituição e a que corresponde uma forma jurídica específica – a forma de lei reforçado
(artigo 112.º/3 e 68.º da CRP).
- Atrás distinguiu-se entre reserva absoluta e reserva relativa para separar os casos de
necessária e inderrogável regulação de certas matérias por lei formal do parlamento (artigo
164.º da CRP) e os casos em que certas matérias, de competência reservada da Assembleia
da República, podem ser reguladas por decreto-lei (autorizado) do governo (artigo 165.º da
CRP) ou por decreto legislativo regional (autorizado) das assembleias legislativos regionais
(artigo 227.º da CRP).
- Deve, porém, referir-se um outro sentido atribuído à distinção entre reserva absoluta e
reserva relativa. Existirá uma reserva absoluta ou reserva de densificação total quando a
Constituição exige que determinadas matérias sejam disciplinadas na sua totalidade pela lei;
haverá reserva relativa ou reserva de densificação parcial quando a lei se limita a definir as
“bases” ou o “regime jurídico geral” (cfr. artigo 165.º/d), e) e h), consentido o seu
desenvolvimento quer através de decreto-lei, quer através de atos regulamentares.
- De acordo com o exposto, as únicas “reservas de lei” constitucionalmente individualizadas
são as seguintes:
Eleições dos titulares dos órgãos de soberania Estado e capacidade das pessoas
Organização, funcionamento e processo do Tribunal Definição dos crimes, penas, medidas de segurança
Constitucional e respetivos pressupostos, bem como processo
criminal
Organização da defesa nacional, definição dos Regime geral de punição das infrações disciplinares,
deveres dela decorrentes e bases gerais da bem como dos atos ilícitos de mera ordenação
organização, do funcionamento, do reequipamento social e do respetivo processo
e da disciplina das Forças Armadas
Definição dos limites das águas territoriais, da zona Bases do sistema de proteção da natureza, do
económica exclusiva e dos direitos de Portugal aos equilíbrio ecológico e do património cultural
fundos marinhos contíguos
Bases do sistema de ensino Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das
taxas e demais contribuições financeiras a favor das
entidades públicas
Eleições dos deputados às Assembleias Legislativas das Definição dos sectores de propriedade dos meios de
regiões autónomas produção, incluindo a dos sectores básicos nos quais seja
vedada a atividade às empresas privadas e a outras
entidades da mesma natureza
Eleições dos titulares dos órgãos do poder local ou outras Meios e formas de intervenção, expropriação,
realizadas por sufrágio direto e universal, bem como dos nacionalização e privatização dos meios de produção e
restantes órgãos constitucionais solos por motivo de interesse público, bem como critérios
de fixação, naqueles casos, de indemnizações
Estatuto dos titulares dos órgãos de soberania e do poder Regime dos planos de desenvolvimento económico e
local, bem como dos restantes órgãos constitucionais ou social e composição do Conselho Económico e Social
eleitos por sufrágio direto e universal
Criação, extinção e modificação de autarquias locais e Bases da política agrícola, incluindo a fixação dos
respetivo regime, sem prejuízo dos poderes das regiões limites máximos e mínimos das unidades de
autónomas exploração agrícola
Restrições ao exercício de direitos por militares e agentes Sistema monetário e padrão de pesos e medidas
militarizados dos quadros permanentes em serviço
efetivo, bem como por agentes dos serviços e forças de
segurança
Regime de designação dos membros de órgãos da União Organização e competência dos tribunais e do
Europeia, com exceção da Comissão Ministério Público e estatuto dos respetivos
magistrados, bem como das entidades não
jurisdicionais de composição de conflitos
Regime do sistema de informações da República e do Estatuto das autarquias locais, incluindo o regime
segredo de Estado das finanças locais
RESERVA ABSOLUTA – Art. 164.º da CRP RESERVA RELATIVA – Artigo 165.º da CRP
Regime de finanças das regiões autónomas Bases do regime e âmbito da função pública
Regime das forças de segurança Bases gerais do estatuto das empresas públicas e
das fundações públicas
Regime da autonomia organizativa, administrativa e Definição e regime dos bens do domínio público;
financeira dos serviços de apoio do Presidente da
República
•Leis constitucionais;
•Leis reforçadas;
•Decretos-leis primários;
•Decretos-Leis autorizados;
•Decretos-Leis de desenvolvimento;
•Decretos-Leis reservados;
- A iniciativa de lei é atribuída às assembleias legislativas regionais nos termos e por força do
disposto no n.º 1 do artigo 226.º da Constituição. A competência de aprovação, de acordo
com essa mesma disposição, é atribuída à Assembleia da República. Se esta última rejeitar o
projeto ou lhe introduzir alterações, o mesmo deverá ser remetido à respetiva assembleia
legislativa regional para apreciação e emissão de parecer. Elaborando este a Assembleia da
República procederá então à respetiva discussão e deliberação final (artigo 226.º/2 e 3 da
CRP).
- Assim, o estatuto político-administrativo de cada Região Autónoma é aprovado por uma lei
da Assembleia da República.
Decretos – Leis Decretos – Leis Decretos – Leis Decretos – Leis Decretos – Leis
primários Autorizados de Reservados de transposição
[artigos 112.º/1 e 2 [artigo 112.º/2 e Desenvolvimen [artigos 198.º/2 da de diretivas
e 198.º/1/a da CRP] 198.º/1/b da CRP] CRP]
to comunitárias
[artigos 112.º/1 e 2 [artigo 112.º/9 da
e 198.º/1/c da CRP] CRP].
-As matérias a que se referem devem encontrar-se enunciadas no respetivo estatuto político-
administrativo; e
PROJETOS DE LEI
- A iniciativa legislativa dos deputados e dos grupos parlamentares toma, entre nós, a
designação de “projetos de lei”, distinguindo-se assim da iniciativa legislativa do
Governo, das assembleias legislativas regionais ou dos grupos de cidadãos eleitores,
iniciativas exteriores ao parlamento, que tomam, por isso, o nome de “propostas de lei”.
https://app.parlamento.pt/webutils/do
cs/doc.pdf?path=6148523063484d364c
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fich=dfabd7e0-4973-4edf-a7b8-7cf54cc
0d915.docx&Inline=true
PROPOSTAS DE LEI
- As propostas de lei correspondem à iniciativa legislativa proveniente do governo, dos
grupos de cidadãos eleitores ou das assembleias legislativas regionais no quadro da
assembleia da república.
https://app.parlamento.pt/webutils/docs/do
c.pdf?path=6148523063484d364c79396863
6d356c6443397a6158526c63793959566b78
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357357059326c6864476c32595338314e575
669593249345953316a4f4755314c54526a5
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e903.docx&Inline=true
DELIBERAÇÃO E APROVAÇÃO
- Na base do princípio da separação de poderes, à Assembleia da República compete
essencialmente a função legislativa.
- Durante muito tempo a função legislativa foi encarada como uma função “natural” dos
parlamentos enquanto assembleias representativas. O parlamento é, por excelência, a
sede da função legislativa.
- Neste sentido, a favor dos parlamentos, opera em quase todos os ordenamentos uma
reserva de funções constitucionais garantidas – “reserva de lei parlamentar” – que não
se verifica em sentido contrário, isto é, a favor do Governo e da administração pública.
DEBATE PÚBLICO
- A discussão e votação dos projetos ou propostas de lei ocorrem, em geral, em três
fases, no plenário e em comissão, sendo em ambos os casos pública.
APROVAÇÃO FINAL
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- Esta não é precedida de discussão, podendo, todavia, cada grupo parlamentar, produzir uma declaração
de votação oral por tempo não superior a dois minutos, sem prejuízo da faculdade de apresentação por
qualquer deputado ou grupo parlamentar de uma declaração de voto escrita nos termos regimentais.
- Após a “votação final global” do projeto ou proposta de lei, realizada em plenário, o texto será objeto de
“redação final” em comissão, que não poderá alterar o seu sentido e conteúdo, limitando-se a aperfeiçoar e
a sistematizar o texto e o seu estilo, mediante deliberação sem votos contra.
-Não obstante, certas leis da Assembleia da República requerem hoje maiorias de aprovação que se
afastam do princípio geral estabelecido no n.º 3 do artigo 116.º da Constituição, isto é, a maioria relativa.
Reentram nesta categoria algumas das leis estruturantes do sistema político, já que a Constituição impõe a
sua aprovação por uma maioria reforçada de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria
absoluta dos deputados em efetividade de funções.
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INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA
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PROMULGAÇÃO E VETO
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- Deste modo, antes da promulgação, o presidente da República pode fazer duas coisas:
Estas duas hipóteses constituem processos diversos, que importa especificar. Um insere-se num processo
de fiscalização preventiva da constitucionalidade de normas, o outro no exercício de um direito de veto por
motivos de oportunidade política, e que se traduz ainda numa “faculte d´empêcher”, isto é, numa
competência “negativa” (e não “positiva”), atribuída ao presidente da República, enquanto “tutor” e
“garante” do regular funcionamento das instituições democráticas. ( vide, artigo 120.º da CRP).
FISCALIZAÇÃO PREVENTIVA
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-O primeiro desses processos insere-se numa atividade de fiscalização preventiva da
constitucionalidade de normas, integrantes de determinados diplomas sujeitos a
promulgação, ratificação ou assinatura.
- Deste modo, são objeto de controle, nos termos e por força do disposto no n.º 1 do
artigo 278.º da Constituição, as normas constantes:
• De tratados e acordos internacionais;
• De decreto enviado para promulgação como lei orgânica, lei ou
decreto-lei;
• De decreto legislativo regional .
- A apreciação do Tribunal Constitucional é restrita à apreciação da “questão de
constitucionalidade”, não abrangendo, portanto, qualquer tipo de legalidade ou
inconstitucionalidade indireta. Este entendimento funda-se no caráter algo
excecional do controle preventivo. Ao Tribunal Constitucional compete-lhe
apreciar normas e não diplomas.
-A iniciativa do pedido de fiscalização não preclude o exercício do veto político por parte do
presidente da República ou do representante da República (artigos 136.º/1 e 4 e 233.º/ 2
da CRP). Se assim o entenderem, estes podem exercer o seu direito de veto político,
solicitando nova apreciação do diploma pela assembleia respetiva ou comunicando-o ao
Governo. Pelo contrário, o exercício do veto político preclude a iniciativa de fiscalização
preventiva, no sentido de evitar que o Tribunal Constitucional seja arrastado para o debate
político emergente do exercício do direito de veto.
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- Neste último caso, trata-se não de um veto político, exercido nos termos do
disposto nos artigos 136.º e 223.º da Constituição, mas de um “veto vinculado” por
questões de constitucionalidade, um veto que deverá ser expresso, e que tem por
fundamento a própria decisão do Tribunal Constitucional.
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PUBLICAÇÃO
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- A promulgação traduz-se num “ato declarativo” da força jurídica obrigatória da lei. Revela-se,
assim, como um “ato de vontade” do presidente da República, a quem compete
constitucionalmente a promulgação das leis, dos decretos-leis e dos decretos regulamentares.
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- A publicação informa o público da existência da lei (ou ato jurídico-público). Só a partir
da publicação a lei pode produzir efeitos jurídicos. Por isso a não publicação não torna a
lei inexistente, mas apenas ineficaz.
- É o que dispõe o artigo 169.º da Constituição. A nova redação conferida ao artigo 169.º
na revisão constitucional de 1997 eliminou, deste modo, o instituto da “ratificação dos
decretos-leis” como até então vinha designado o instituto de apreciação parlamentar
dos atos legislativos.
- Objeto de apreciação são, pois, todos os decretos-leis, à exceção dos decretos-leis
reservados, e exclusivamente para efeitos de:
- Cessação de vigência;
- Alteração;´
- Suspensão.
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OBRIGADA
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