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Questões Constitucionais Essenciais

das Regiões Autónomas


Procedimento de aprovação/alteração do Estatuto Político-Administrativo das RA:

Fase da Iniciativa: Envio para a AR: Votação Final:

A AR discute e aprova o projeto de estatuto enviado pela AL


e remete-o para a promulgação do PR (cfr: art.168/6, f))
Existe uma reserva de
iniciativa a favor das
Assembleias Legislativas das AR discute e rejeita o projeto Depois de recebido o parecer
RA. Após a redação do de estatuto e reenvia-o para da AL, a AR volta a discutir e
projeto de estatuto pela AL, a AL para apreciação e a votar a proposta de
este deve ser enviado para a emissão de parecer desta estatuto, aprovando ou
AR rejeitando (cfr: art.168/6, f)).
Se aprovar, envia ao PR para
promulgação

A AR discute e aprova com Depois de recebido o parecer


alterações o projeto de da AL sobre as alterações
estatuto e reenvia-o para a introduzidas, a AR a AR volta
AL para apreciação e emissão a discutir e a votar a
de parecer desta proposta de estatuto,
aprovando ou rejeitando (cfr:
art.168/6, f)). Se aprovar,
envia ao PR para
promulgação

ATENÇÃO: a emissão do parecer da AL é obrigatória em caso de rejeição ou de aprovação com


alterações, mas o parecer não é vinculativo. Por exemplo, no caso da introdução de alterações,
o parecer da AL pode ser negativo, no sentido de discordar com as alterações introduzidas, mas
a AR não fica por isso impedida de aprovar na mesma a proposta de Estatuto.

Valor Reforçado do Estatuto Político-Administrativo e Reservas Estatutárias:

O Estatuto Político Administrativo das RA é uma lei de valor reforçado, ou seja, qualquer norma
proveniente de lei, decreto-lei ou decreto legislativo regional que contrarie o disposto no
Estatuto padecerá de ilegalidade (art.280/2, b) e c) ou art.281/1, c) e d)).

O Profº Paulo Otero chama ao Estatuto a mais reforçada das leis ordinárias reforçadas, pois
quaisquer outras leis de valor reforçado que “choquem” com o Estatuto, serão também elas
ilegais por violação do Estatuto político-administrativo.
Há matérias que estão reservadas aos Estatutos:

● Pormenorização ou densificação dos poderes das RA (227/1), incluindo o elenco de


matérias sobre as quais pode incidir a autonomia legislativa (228/1)
● Definição de traços caracterizadores do estatuto dos titulares dos órgãos de governo
das RA (art.231/1)

Atenção: fora destas matérias, qualquer regulação normativa inserida nos estatutos regionais
não beneficia da força jurídica, nem do regime procedimental de aprovação e alteração de
matérias estatutárias (decisão do TC).

Competências Legislativas das Assembleias Legislativas das RA:

Há 4 áreas de competência legislativa das AL: competência reservada, competência autorizada,


competência de desenvolvimento, competência estatutária.

competência competência competência de competência


reservada autorizada desenvolvimento estatutária
Sobre estas matérias, A AR pode autorizar Tem que existir uma O poder legislativo
se a AR ou o GOV a AL da RA a legislar lei de bases prévia e previsto no
legislarem, os seus sobre matérias do o desenvolvimento art.227/1, a), tem
atos serão art.165, nos termos não pode estar na como fundamento
organicamente do art.227/1, b). reserva de matérias
inconstitucionais. competência da AR. expressamente
A leitura do As leis de autorização (art.227/1, c) previstas nos
art.232/1 define a têm sempre de estatutos.
competência definir o sentido a O desenvolvimento é
exclusiva da AL: imprimir pelo apenas válido, claro Se a matéria não
● Art.227/1, i) delegado no está, para o âmbito estiver prevista,
● Art.227/1, l) exercício da regional da respetiva então a RA não pode
● Art.227/1, n) competência RA. legislar – será
● Art.227/1, p) autorizada. organicamente
● Art.227/1, q) Qualquer disposição incompetente.
Sempre que uma RA que viole a lei de
solicitar autorização, bases padecerá de Nas matérias dos
esta deve apresentar ilegalidade por estatutos, as RA
um anteprojeto do violação de lei de podem legislar em
DLR a autorizar valor reforçado. sentido contrário aos
(art.227/2). atos legislativos da
AR e do GOV – a lei
O DLR pode ser alvo da República passará
de apreciação pela a ser inaplicável.
AR nos termos do
art.169 (art.227/4)
Questão da Lei de Bases Superveniente:

Se dada matéria, sobre a qual a Assembleia Legislativa de uma RA legislou por DLR nos termos
do art.227/1, a), vier a ser alvo de uma lei de bases aprovada pela AR, então o DLR anterior
terá de ser conforme a lei de bases. Se o DLR não for conforme a nova lei de bases, então
aquele padecerá de ilegalidade superveniente – é esta uma garantia da prevalência do Direito
do Estado e do Princípio da Unidade Nacional.

Ex: Em 2019, a AL dos Açores aprova o decreto-legislativo regional X sobre a matéria Y.


Em 2020, a AR aprova uma lei de bases Z do regime jurídico da matéria Y.
Se o DLR X for contrário à lei de bases Z, o DLR X será ilegal (por violação de lei de valor
reforçado). O facto do DLR X ser anterior não releva.
O que a AL dos Açores agora poderá fazer é desenvolver a lei de bases Z, nos termos do
art.227/1, c).

Limites à Autonomia das Regiões Autónomas:

O Prof.º Paulo Otero identifica os seguintes limites:

● O art.225/3 determinando que a autonomia regional não afeta a integridade da


soberania do Estado e que se exerce no quadro da Constituição, veio estabelecer,
segundo o princípio geral de que a validade dos atos das RA depende da conformidade
com a CRP, o quadro genérico limitativo da autonomia.
● A autonomia não pode por em causa as soluções materiais ou imposições
procedimentais impostas pela CRP
● A autonomia não pode afetar a natureza unitária do Estado, nem a integridade da
soberania (Acórdão do TC: “o caráter unitário do Estado […] exige que a legislação
sobre matérias com relevo imediato para a generalidade dos cidadãos seja produzida
pelos órgãos de soberania”)
● A existência de interesses regionais em áreas materiais reservadas aos órgãos de
soberania nunca habilita o exercício de poderes decisórios das regiões autónomas
quando a competência estiver reservada aos órgãos de soberania
● A autonomia regional não pode prejudicar os compromissos internacionais assumidos
pelo Estado português
● A autonomia tem sempre de se harmonizar com a existência de interesses nacionais
que justifiquem a prevalência do Direito do Estado relativamente a opções legislativas
regionais.

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