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DIREITO CIVIL

Responsabilidade Civil – Parte I

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Responsabilidade Civil – Parte I
Carlos Elias

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Responsabilidade Civil – Parte I................................................................................................... 5
1. Definição........................................................................................................................................ 5
2. Princípio da Independência das Instâncias de Responsabilidade (Penal,
Administrativa e Civil etc.). . ........................................................................................................... 6
2.1. Noções Gerais............................................................................................................................ 6
2.2. Exceções ao Princípio: Prescrição e Vinculação das Instâncias Civil e
Administrativa pelo Juízo Penal.. .................................................................................................. 7
2.3. Improbidade Administrativa e o Princípio da Independência das Instâncias........... 10
3. Responsabilidade Pressuposta.............................................................................................. 10
4. Sistemas de Dano Indenizável. . ............................................................................................... 11
5. Dano-Evento vs Dano-Prejuízo...............................................................................................12
6. Responsabilidade Sem Dano. . ..................................................................................................13
7. Teoria do Dano Punitivo............................................................................................................ 14
8. Regra da Irreparabilidade do Dano Evitável. . ...................................................................... 18
9. Transmissibilidade da Responsabilidade Civil.....................................................................19
9.1. Direito à Reparação.................................................................................................................19
9.2. Dever de Reparar.....................................................................................................................19
9.3. Casos Especiais.. ..................................................................................................................... 20
9.4. Responsabilidade do Incapaz.. ............................................................................................ 23
Questões de Concurso.................................................................................................................. 35
Gabarito.............................................................................................................................................51

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DIREITO CIVIL
Responsabilidade Civil – Parte I
Carlos Elias

Apresentação
Olá, querido(a)!
Não preciso dizer que Responsabilidade Civil despenca em concursos públicos. Você já
sabe disso.
Aprofundarei ao máximo, observando que o nosso foco é fazer você passar no concurso (e
não adquirir um doutorado ou um mestrado).
E resolveremos questões de concurso de modo a estimular em você a habilidade de “en-
frentar questões” e de modo a estudar o conteúdo com dinâmica.
NÃO FAÇA CORPO MOLE. JAMAIS!!! Você irá conquistar seu sonho com base no seu sacri-
fício. Leia os PDFs, faça suas anotações pessoais, acompanhe as questões e siga estudando.
Depois que você alcançar seu sonho poderá relaxar bastante!
Não há conquistas sem sacrifício!
Estamos juntos contigo, amigo(a)!

Resumo

Amigo(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios.
É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte-
údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De
nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros, se não tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• Responsabilidade civil é o conjunto de regras que disciplina o dever de indenizar. Res-
ponder civilmente é ser condenado a pagar indenização;
• Pelo princípio da independência das instâncias, a decisão em uma instância de respon-
sabilidade não vincula as demais, salvo um único caso: se o juízo penal decidir a autoria
ou a existência do fato (materialidade), essa decisão vinculará todas as demais instân-
cias (civil e administrativa) em razão do maior rigor probatório exigido para a instância
penal (art. 935, CC; art. 126, Lei n. 8.112/90; arts. 66 e 67, III, CPP);
• O conceito de “responsabilidade pressuposta” é utilizado para estimular a doutrina a
ampliar hipóteses de responsabilidade civil objetiva, a criar novas espécies de danos
indenizáveis e a fixar hipóteses de imprescritibilidades (como a de indenização por tor-
turas ocorridas na ditadura, caso em que, segundo o STJ, a grave violação a direito fun-
damental repeliria a prescrição);
• O Brasil adotou o sistema atípico de dano indenizável. Esse sistema não define os inte-
resses que, lesados, ensejam a reparação civil. Deixa, pois o dano indenizável para ser

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definido abertamente pela doutrina e pela jurisprudência. Isso permite a identificação


de novas categorias de danos indenizáveis, como o dano estético, o dano existencial, a
perda de uma chance etc.;
• Há corrente doutrinária a sustentar que a responsabilidade civil não depende da existên-
cia de dano, mas ela ainda não é a corrente majoritária;
• O Brasil não adotou a teoria do dano punitivo. Todavia, a função punitiva da indenização
é levada como um entre outros critérios no arbitramento da indenização por dano moral;
• A regra de irreparabilidade do dano evitável decorre do duty to mitigate the loss e permite
a redução do valor da indenização na hipótese de a vítima, com uma conduta de má-fé,
não ter evitado o dano ou o seu agravamento;
• O direito à indenização e o dever de indenizar são transmissíveis (art. 943, CC);
• A responsabilidade civil do incapaz é subjetiva, limitada (ou condicional), mitigada, equi-
tativa, subsidiária e sem envolver dever de ressarcir seu representante legal.

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RESPONSABILIDADE CIVIL – PARTE I


1. Definição

Conjunto de regras que


disciplina o dever
de indenizar

Em regra, depende da
Responsabilidade civil
ocorrência de um ilícito civil

É dever jurídico Decorre do descumprimento


secundário (Haftung) de uma obrigação (Schuld)

Responsabilidade civil é o conjunto de regras que disciplina o dever de indenizar. Respon-


der civilmente é ser condenado a pagar indenização.
Como regra, só se pode falar em responsabilidade civil se houver a prática de um ilícito
civil. Semelhantemente, só se fala em responsabilidade penal e administrativa na hipótese de
haver um ilícito penal ou administrativo. Alguém só é responsabilizado se praticou um ato ilíci-
to. Há, porém, exceções a essa regra, desde que haja lei específica. Há casos excepcionais de
responsabilidade civil por ato lícito, o que será abordado mais à frente.
Larenz afirmava que a responsabilidade é a sombra da obrigação (apud Gonçalves, 2011, p.
20-21). Afinal de contas, a regra é a de que só se fala em responsabilidade se houver a violação
de uma obrigação jurídica, que pode decorrer de lei ou de outro fato jurídico. Daí decorre que a
obrigação é um dever jurídico originário, ao passo que a responsabilidade é um dever jurídico
secundário ou sucessivo. Dito de outra forma, o fim primário de uma obrigação é a criação de
débito (schuld), ou seja, de um dever jurídico de cumprimento da obrigação, ao passo que o fim
secundário da obrigação é a responsabilidade (haftung): se o débito não for satisfeito, o credor
pode valer-se da responsabilidade civil.

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2. Princípio da Independência das Instâncias de Responsabilidade (Penal,


Administrativa e Civil etc.)
2.1. Noções Gerais

Obrigação de Responsabilidade
Sanção penal
índole penal penal

Decorre da violação Obrigação de índole Responsabilidade Sanção


Responsabilidade
de uma obrigação administrativa administrativa administrativa

Obrigação de Dever de
Responsabilidade civil
Direito Civil indenizar

Obs.: um mesmo fato Concomitantemente


pode desencadear
obrigação nas três
instâncias De modo independente

Vamos começar com uma questão:

001. (FCC/TRT-6ª/2018) A responsabilidade civil é independente da criminal, não se poden-


do questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas
questões se acharem decididas no juízo criminal.

O gabarito é “correto”, pois corresponde ao art. 935 do CC.


Certo.

Vamos tratar mais do tema.


Responsabilidade decorre da violação de uma obrigação. Se a obrigação é de índole pe-
nal (ex.: não matar), haverá responsabilidade penal, que implica punições penais (ex.: prisão).
Se a obrigação é de Direito Administrativo (ex.: servidor público tem de ser diligente), haverá
responsabilidade administrativa, da que decorre punições administrativas (ex.: demissão). Se
a obrigação é de Direito Civil, haverá responsabilidade civil, cuja consequência é indenização.
Há, ainda, outra instância de responsabilidade, como a político-administrativa nos casos de
crimes de responsabilidade (Lei n. 1.079/1950).
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Um mesmo fato pode caracterizar ilícito penal, administrativo e civil e, portanto, pode de-
sencadear responsabilização nas três instâncias concomitantemente e de modo independen-
te. O indivíduo pode ser absolvido em uma instância e ser condenado em outra, pois, em regra,
as instâncias de responsabilidade são independentes. Trata-se do princípio da independência
das instâncias. Há, porém, exceções, conforme trataremos a seguir.

2.2. Exceções ao Princípio: Prescrição e Vinculação das Instâncias


Civil e Administrativa pelo Juízo Penal

Prescrição da ação Só começa a correr após a


Exceções ao ex delicto sentença definitiva penal
princípio da
independência Vinculação das outras Decisão sobre autoria e
esferas à penal materialidade

Prazo decadencial inicia após o


Desfazimento da sentença civil: ação
trânsito em julgado da
Superveniência de rescisória
sentença penal
sentença penal que
decide autoria e
Desconstituição de ato administrativo
materialidade
sancionador: ação anulatória (5 anos)

Há dois aspectos de conexão entre as instâncias a excepcionar o princípio da independên-


cia das instâncias1.
O primeiro diz respeito ao fato de que a prescrição da ação de responsabilidade civil por
um fato que seja considerado ilícito penal (ação ex delicto) também só começa a correr após
a sentença definitiva do juízo penal (art. 200, CC). Há necessidade, porém, de instauração de
inquérito ou ação penal para essa suspensão. Veja este julgado:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE AUTO-


MOBILÍSTICO. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO PENAL.
ART. 200 DO CC/2002. INCIDÊNCIA. PRAZOS PRESCRICIONAIS DO CC/2002. ART. 2.028
DO CC/2002. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM. INEXISTÊNCIA. DIVER-
GÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA.
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o art. 200 do CC/2002 somente é afas-
tado quando, nas instâncias ordinárias, ficou consignada a inexistência de relação
1
Para aprofundamento, recomendamos a leitura de nosso artigo (“Conexões entre as instâncias penal, administrativa, civil
e improbidade: prescrição e efeito vinculante”. Disponível em: www.senado.leg.br/estudos. Acesso em 12 de setembro de
2018).

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de prejudicialidade entre as searas cível e criminal ou quando não houve a instauração


de inquérito policial ou de ação penal.
2. Em se tratando de responsabilidade civil ex delicto, o exercício do direito subjetivo da
vítima à reparação dos danos sofridos somente se torna plenamente viável quando não
pairam dúvidas acerca do contexto em que foi praticado o ato ilícito, sobretudo no que diz
respeito à definição cabal da autoria, que é objeto de apuração concomitante no âmbito
criminal. 3. Desde que haja a efetiva instauração do inquérito penal ou da ação penal, o
lesado pode optar por ajuizar a ação reparatória cível antecipadamente, ante o princípio
da independência das instâncias (art. 935 do CC/2002), ou por aguardar a resolução da
questão no âmbito criminal, hipótese em que o início do prazo prescricional é postergado,
nos termos do art.
200 do CC/2002.
4. A incidência do prazo prescricional previsto no CC/2002, por força da interpretação
sistemática do seu art. 2.028, significa a aplicação do regime do diploma corrente, o que
inclui a quantificação numérica do lapso prescricional em dias, meses ou anos, bem como
sua forma de contagem, seu termo inicial ou suas causas suspensivas e interruptivas.
5. Inexiste violação de ato jurídico perfeito ou do princípio “tempus regit actum” em decor-
rência da aplicação da lei nova, haja vista que a incidência do art. 200 do CC/2002 pos-
terga o próprio início do prazo prescricional e, antes que este tenha decorrido por inteiro,
o prescribente possui mera expectativa de direito à prescrição, não direito adquirido. 6. A
divergência jurisprudencial com fundamento na alínea “c” do permissivo constitucional,
nos termos do Código de Processo Civil de 1973 e do Regimento Interno desta Corte,
exige comprovação e demonstração da similitude fática entre os casos apontados, o que
não ocorreu na hipótese.
7. Rever as conclusões do acórdão recorrido acerca da existência de relação de prejudi-
cialidade concreta entre o inquérito penal arquivado na origem e o exercício da pretensão
reparatória do autor demandaria o exame de matéria fático-probatória que sequer consta
dos autos, o que é vedado em recurso especial, nos termos da Súmula n. 7 do Superior
Tribunal de Justiça.
8. Recurso especial não provido.
(STJ, REsp 1631870/SE, 3ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 24/10/2017).

O segundo refere-se à vinculação do juízo civil e administrativo ao penal quando este deci-
dir a autoria e a materialidade. De fato, a decisão em uma instância de responsabilidade não
vincula as demais, salvo um único caso: se o juízo penal decidir a autoria ou a existência do
fato (materialidade), essa decisão vinculará todas as demais instâncias em razão do maior
rigor probatório exigido para a instância penal (art. 935, CC; art. 126, Lei n. 8.112/90; arts. 66 e

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67, III, CPP). Assim, se o juízo penal absolver o indivíduo por entender que este não foi o autor,
o juízo civil é obrigado a acolher essa decisão fática. Se o juízo penal reconhecer que houve
legítima defesa (materialidade), esse fato tem de ser levado em conta pelo juízo civil neces-
sariamente.
Decisões penais por insuficiência de provas não vinculam as demais instâncias, pois não
representam um atestado de autoria ou de materialidade. Se o juízo penal absolver o indivíduo
por entender serem insuficientes as provas acerca da sua autoria ou da materialidade, essa
decisão não vincula as demais esferas, pois o juízo penal não decidiu a autoria ou a materiali-
dade, e sim absteve-se de decidir isso por falta de provas.
Decisão penal que absolve por atipicidade (reconhecer que fato não é crime) é irrelevante
para o juízo civil, pois não versa sobre autoria ou materialidade do fato.
As instâncias podem tramitar sem necessidade de suspensão. Todavia, a superveniência
de sentença penal decidindo a autoria ou a materialmente autoriza: (1) o desfazimento de sen-
tença cível contrária por meio de ação rescisória e (2) a desconstituição de ato administrativo
sancionador contrário por meio de ação anulatória no prazo decadencial de 5 anos contados a
partir do trânsito em julgado da sentença criminal. Leia este julgado:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. POLICIAL


MILITAR. EXCLUSÃO DA CORPORAÇÃO. SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA. REVISÃO DO
PROCESSO ADMINISTRATIVO. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Em observância ao princípio da actio nata, apenas com o trânsito em julgado da sen-
tença criminal surgiu a pretensão do agravado de postular a invalidação do ato adminis-
trativo que o excluiu da polícia militar, pelo que não há falar em prescrição no caso.
2. Agravo regimental não provido.
(STJ, AgRg no Ag 1.350.792/GO, 1ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 2/2/2011).

Ao nosso sentir, não importa se esse desfazimento será favorável ou contrário indivíduo, de
modo que seria cabível o desfazimento da sentença civil para desfazer a absolvição do réu na
ação de responsabilidade civil ou o desfazimento do ato administrativo com base no princípio
administrativo da autotutela para desfazer a absolvição do investigado.
No caso de responsabilidade civil, entendemos que o prazo decadencial de 2 anos da ação
rescisória só começa a correr do trânsito em julgado da sentença criminal, pois só aí nasce o
direito do interessado em desfazer a sentença. O fundamento da ação rescisória é a superve-
niência de prova nova (art. 966, VII, CPC), e o termo inicial se baseia no princípio da actio nata
e no art. 935 do CC, os quais afastariam a restrição temporal de 5 anos prevista no art. 975,
§ 2º, do CPC para a descoberta da prova nova. Desconhecemos julgado do STJ nesse tema.
Ademais, a doutrina é omissa. Por essa razão, deixamos a nossa opinião pessoal para você
fixar melhor o conteúdo.

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No caso de responsabilidade administrativa, ainda que a sentença penal não vincule o juízo
administrativo por ter sido fundada em insuficiência de prova, o prazo decadencial de 5 anos
para o desfazimento do ato administrativo sancionador começa a correr do trânsito em julga-
do da sentença criminal, pois só aí se esgotou o exame dos fatos (STJ, REsp 879.734/RS, 6ª
Turma, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe 18/10/2010).
Entendemos que o desfazimento do ato administrativo ou da sentença civil contrária à
superveniente sentença criminal consiste em uma invalidade, pois o ato a ser desconstituído
nasceu com base em uma qualificação fática juridicamente indevida.

2.3. Improbidade Administrativa e o Princípio da Independência das


Instâncias
Quanto à improbidade administrativa (Lei n. 8.429/1992), consideramo-la como ilícito civil-
-administrativo a deflagrar uma responsabilidade civil-administrativa contra agentes públicos e
particulares coautores, com sanções próprias que vão além da mera indenização por abranger
perda de cargo público e suspensão de direitos políticos. Essa natureza jurídica permite a apli-
cação dos dispositivos que tratam do efeito vinculante da sentença penal que decide a autoria
e a materialidade sobre a esfera civil e administrativa (art. 935, CC; art. 126, Lei n. 8.112/90;
arts. 66 e 67, III, CPP). Na doutrina administrativa, há controvérsia sobre a natureza jurídica da
responsabilidade decorrente de improbidade administrativa, oscilando entre natureza civil-po-
lítica e civil-administrativa, como ensinam Ronny Charles e André Holanda Jr. (2015).
Seja como for, a doutrina majoritária concorda com a presença de um ingrediente civil na
natureza dessa responsabilidade, o que confirma nossa tese da subordinação à decisão penal
em autoria e materialidade nos termos dos dispositivos retromencionados.

3. Responsabilidade Pressuposta

Só começa a correr após a


sentença definitiva penal
Pressupor a
responsabilidade
Responsabilidade Decisão sobre autoria e
de quem expõe
pressuposta materialidade
outros a risco com a
sua atividade
Prazo decadencial inicia após o
trânsito em julgado da
sentença penal

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O conceito de Responsabilidade Pressuposta foi elaborado pela civilista Giselda Hironaka.


Trata-se de um conceito aberto que pretende pressupor a responsabilidade de quem expõe
outros a riscos com sua atividade, cabendo-lhe, após indenizar, pleitear regresso contra os ver-
dadeiros culpados. A ideia é que a responsabilidade deve um pressuposto de toda sociedade,
de sorte que todos os indivíduos estejam protegidos diante de danos.
O conceito de responsabilidade pressuposta é utilizado para estimular a doutrina a ampliar
hipóteses de responsabilidade civil objetiva, a criar novas espécies de danos indenizáveis e a
fixar hipóteses de imprescritibilidades (como a de indenização por torturas ocorridas na ditadu-
ra, caso em que, segundo o STJ, a grave violação a direito fundamental repeliria a prescrição).
Sob o impulso dessas ideias, ao se tratar de danos indenizáveis, a doutrina tem avançado
para acatar novas espécies, além dos tradicionais dos danos materiais (que se dividem em da-
nos emergentes e em lucros cessantes) e dos danos morais. Entre as novas espécies de danos
indenizáveis que vêm sendo reconhecido pela jurisprudência, estão a perda de uma chance, a
perda do tempo livre e o dano existencial, sobre o qual nos debruçaremos mais à frente.

4. Sistemas de Dano Indenizável

Danos indenizáveis em rol


Sistema típico
taxativo na LEI

Sistemas de dano Rol legal é


indenizável exemplificativo

Admite novas categorias


Sistema atípico
de danos indenizáveis

Brasil

Há dois sistemas jurídicos acerca do dano indenizável.


O primeiro é o sistema típico, de acordo com o qual as hipóteses de danos indenizáveis
estão taxativamente catalogadas em lei. No direito alemão, “o § 823 do BGB menciona interes-
ses cuja lesão importa lesão indenizável, quais sejam: a vida, a integridade física, a saúde e a
propriedade” (Miragem, 2015, p. 158).
O segundo é sistema atípico, que foi adotado pelo Brasil. Esse sistema não define os in-
teresses que, lesados, ensejam a reparação civil. Deixa, pois o dano indenizável para ser

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definido abertamente pela doutrina e pela jurisprudência. Isso permite a identificação de novas
categorias de danos indenizáveis, como o dano estético, o dano existencial, a perda de uma
chance etc.

5. Dano-Evento vs Dano-Prejuízo

Conduta apta a ensejar a


Dano-evento
responsabilidade civil
Dever de Somente se
indenizar houver DANO
Consequência prejudicial
Dano-prejuízo
da conduta

Só há dever de indenizar se houver dano, assim entendido o somatório do dano-evento


com o dano-prejuízo2.
O dano-evento diz respeito à conduta do agente como apta a ensejar a responsabilidade
civil. É a violação do direito. Essa conduta pode ser ilícita ou lícita, mas, neste último caso, há
necessidade de lei específica, pois a responsabilidade por ato lícito é exceção.
O dano-prejuízo concerne ao resultado da conduta consistente em causar um prejuízo pa-
trimonial ou extrapatrimonial na vítima ou, quando se tratar de danos transindividuais – como
o dano moral coletivo ou o dano social –, na coletividade. É a consequência prejudicial. O da-
no-prejuízo permite calcular o valor da indenização.
Só há dever de indenizar se as duas espécies de danos estiverem presentes.3.
Se, por exemplo, alguém negligentemente quase abalroa um veículo estacionado, comete
um dano-evento (conduta é ilícita), mas não um dano-prejuízo (a conduta não resultou em pre-
juízo ao dono do veículo). Nesse caso, não há dever de indenizar.
Se, por outro lado, um funcionário é contratado para derrubar uma casa, ele causa um da-
no-prejuízo (a casa foi derrubada), mas não cometeu dano-prejuízo (a conduta do lícita).
Embora se trate de entendimento minoritário, há quem defenda responsabilidade civil ape-
nas com a presença do dano-evento e a dispensar o dano-prejuízo (Leal, 2017), o que, na verda-
de, representaria o desvirtuamento da responsabilidade civil para transformá-la em forma de
mera punição, e não de indenização. Essa tese minoritária defende a aplicação pura da teoria
do dano punitivo no Brasil, o que nos parece contrariar a legislação. Reportamos o leitor ao

2
Sobre os dois conceitos, recomendamos leitura da dissertação de mestrado e do artigo de Flumignan (2009 e 2015).
3
Por isso, esta questão de concurso de Promotor de Justiça foi considerada errada:
“(MPE-MG/Promotor de Justiça/2012) A função preventiva na responsabilidade civil consumerista prescinde o dano-evento e
exige o dano-prejuízo.”

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quanto exporemos mais abaixo sobre “responsabilidade sem dano” e sobre a “teoria do dano
punitivo”.

6. Responsabilidade Sem Dano

Pode ser usada Não gera indenização,


Responsabilidade
como prevenção ou pois indenização
por dano potencial
precaução? depende de dano

Responsabilidade
Corrente
civil sem dano
majoritária rejeita
essa hipótese de Dano é inafastável da responsabilidade civil
responsabilida-
de sem dano

Há controvérsia doutrinária sobre a possibilidade de haver responsabilidade civil sem dano.


De um lado, há uma corrente a defender que a responsabilidade pode ser utilizada como
forma de prevenção e precaução, de modo a evitar a ocorrência de um dano. Trata-se de uma
importação da ideia do princípio da prevenção e da precaução no direito ambiental. Assim,
alguém poderia ser responsabilizado civilmente mesmo sem ter causado um dano, com o ob-
jetivo de desestimulá-lo a ter condutas danosas a terceiros. Trata-se, na verdade, da utilização
da responsabilidade com o objetivo de punir alguém que está a adotar um comportamento
perigoso e capaz de vir a causar danos. Sob essa ótica, está a responsabilizar alguém por um
dano hipotético, iminente ou potencial. É como se estivesse a reparar um dano consistente na
ameaça de sobrevir um dano grave e irreversível. Nessa corrente, o conceito de responsabilida-
de é desvinculado ao de indenização, como alerta Teresa Ancona Lopez (2010, p. 1230).
De outro lado, a responsabilidade civil, por implicar um dever de indenizar, necessariamen-
te depende da existência de um dano. Sem dano, não há o que indenizar.
Preferimos essa segunda corrente. O dano é inafastável para a responsabilidade civil. Te-
mos que a prevenção deve ser buscada por meio de outros institutos ou de outros ramos do
Direito (como multa administrativa, direito penal ou até mesmo por novos institutos no direito
civil). Pode-se mudar o conceito de dano para abranger novas hipóteses, mas entendemos que
seria necessário lei nesse sentido.
Ademais, os casos que alguns autores da primeira corrente chamam de responsabilidade
civil sem dano são, na verdade, hipóteses de danos efetivos como fruto de novas concepções
da danos, como no caso de indenização por uma superexposição a um sinistro. Por exemplo,
se uma enfermeira se fura com uma agulha utilizada em um paciente e somente após alguns
dias descobre, com o resultado de exames, não ter sido infectada por meio nenhuma doença,
os sectários da primeira corrente afirmam que aí não teria havido dano, mas, mesmo assim,

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seria cabível a responsabilização civil do empregador. Discordamos dessa abordagem, pois


entendemos que aí houve sim dano: basta imaginar as noites mal dormidas e as angústias
sofridas pela enfermeira até a chegada da libertação emocional com o resultado dos exames
de sangue4.
Em última análise, a tese da responsabilidade sem dano baseia-se na adoção da teoria do
dano punitivo no Brasil, mesmo sem previsão legal e com base no manuseio tendencioso de
etéreos princípios jurídicos. Trataremos do dano punitivo mais à frente.

7. Teoria do Dano Punitivo

Indenização
fixada como
punição para
desestimular a
reiteração do ilícito Ex.: função PUNITIVA da
Teoria do responsabilidade civil
dano punitivo Não foi adotada
Admite sua
de modo PURO
aplicação mes- Ex.: danos morais
no Brasil, nem se
clada com ou- coletivos
admite sua aplica-
tros elementos
ção irrestrita
Ex..: um dos parâmetros
de arbitramento da
indenização por
dano moral

Amigos e amigas, resolvam esta questão:

002. (CESPE/TRT-10ª REGIÃO/2013) Atualmente o direito brasileiro é adepto à aplicação dos


danos punitivos (punitive damages) a fim de evitar a causação de danos aos consumidores por
falta de zelo do fornecedor.

O gabarito é “errado”. Em concurso público, o CESPE, a seu turno, fiel ao que a doutrina tradicio-
nal e majoritária afirma, não reconhece a adoção da teoria do dano punitivo no Brasil. Foi por
essa razão que a resposta da questão seguinte é “errado”.
Errado.
4
Sobre o tema, recomendamos leitura do artigo de Bruno Leonardo Câmara Carrá (2016), dividido em quatro textos na
Coluna online mantida pela Rede de Direito Civil Contemporâneo, que envolve pesquisadores de várias universidades e que
recebe a coordenação do Prof. Otávio Luiz Rodrigues Junior.

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Vamos explicar o tema com mais vagar.


A teoria do dano punitivo, também batizada de teoria do valor do desestímulo ou teoria do
punitive damage ou do exemplar damages, consiste em admitir que a indenização seja fixada
apenas como uma punição com vistas a desestimular o agressor e outras pessoas a reiterar o
ilícito. O dano punitivo é admitido nos EUA e já foi utilizado em vários casos, como numa con-
denação de uma grande rede de fast food a pagar uma indenização punitiva milionária a um
consumidor por este ter-se queimado com um café servido em temperatura excessiva.
A teoria do dano punitivo não foi adotada de modo puro no Brasil. Não é admitida a sua apli-
cação irrestrita no Brasil, conforme já decidiu o STJ (STJ, AgRg no Ag 850.273/BA, 4ª Turma,
Rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro – Desembargador Convocado –, DJe 24/08/2010).
Todavia, essa teoria tem sido admitida de modo mesclado com outros elementos. É o que
acontece, por exemplo, na utilização da função punitiva ou pedagógica da responsabilidade
civil como um dos parâmetros para a quantificação do valor da indenização por dano moral.
Igualmente, o dano moral coletivo configura, na verdade, um dano punitivo propriamente dito,
pois a coletividade, em si, não possui direito da personalidade.
Temos por indevido o uso oportunista de abertos princípios constitucionais para, sem pre-
visão legal, admitir o dano punitivo. Isso desequilibraria o sistema jurídico brasileiro de repres-
são, que reserva a tarefa de punir ao Direito Administrativo (ex.: multas infligidas pelos Procons
e pelas agências reguladoras) e ao Direito Penal (ex.: prisão, multas etc.) e deixa ao Direito Civil
apenas a tarefa de indenizar (reparar danos). Adicionar o dano punitivo ao Direito Civil sem pre-
visão legal é desajustar o calibre sancionador de todo o sistema brasileiro, ainda mais levando-
-se em conta que o valor do dano punitivo ficará entregue à subjetividade do julgador. O dano
punitivo, a nosso sentir, depende de lei, que consideraria as outras sanções administrativas e
penais para colocar limites ou parâmetros ao arbitramento do dano punitivo.
Para concursos públicos, pode-se afirmar que o Brasil não adotou a teoria do dano punitivo,
como já reconheceu neste julgado:

DIREITO COMERCIAL E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO


DE NÃO FAZER CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS. PROPRIEDADE
INDUSTRIAL. DESENHO INDUSTRIAL. IMPORTAÇÃO DESAUTORIZADA. DANOS MATE-
RIAIS SUPORTADOS. NÃO COMPROVAÇÃO. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO
1. Na hipótese de violação de direito exclusivo decorrente de propriedade industrial, a
procedência do pedido de condenação a perdas e danos, ainda que independa de efetiva
comercialização, não dispensa a demonstração de ocorrência de dano material efetivo.
2. O sistema brasileiro de responsabilidade civil não admite o reconhecimento de danos
punitivos, de modo que a adoção de medidas inibitórias eficazes para prevenir a concreti-
zação de dano material, seja pela comercialização, seja pela mera exposição ao mercado
consumidor, afasta a pretensão de correspondente reparação civil.
3. Recurso especial improvido.
(STJ, REsp 1315479/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 21/03/2017).

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Todavia, se for afirmado que, de modo parcial, a teoria do dano punitivo é acatada como
um dos critérios para o arbitramento do valor da indenização por dano moral, isso deve ser
aceito em concurso público, pois o STJ caminha nesse sentido, a exemplo deste caso, em que
o STJ, levando em conta a função punitiva da responsabilidade civil (conforme voto do ministro
relator),, aumentou para R$ 500.000,00 a indenização por dano moral devida ao Ex-Presidente
da República Fernando Collor em razão de a Editora Abril ter publicado em março de 2006 uma
reportagem que extrapolou da liberdade de expressão ao insultá-lo com a expressão “corrupto
desvairado”. Confira o julgado:

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA


JORNALÍSTICA OFENSIVA À HONRA. MODIFICAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO
EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. ELEVAÇÃO NECESSÁRIA, COMO DESESTÍMULO AO
COMETIMENTO DE INJÚRIA. CONSIDERAÇÃO DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS DOS
OFENSORES, DA CONCRETIZAÇÃO POR INTERMÉDIO DE VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
DE GRANDE CIRCULAÇÃO E RESPEITABILIDADE E DAS CONDIÇÕES PESSOAIS DO OFEN-
DIDO. PREVALECIMENTO DE VALOR MAIOR, ESTABELECIDO PELA MAIORIA JULGADORA
EM R$ 500.000,00.
1.- Matéria jornalística publicada em revista semanal de grande circulação que atribui a
ex-Presidente da República a qualidade de “corrupto desvairado”.
2.- De rigor a elevação do valor da indenização por dano moral, com desestímulo ao
cometimento da figura jurídica da injúria, realizada por intermédio de veículos de grande
circulação e respeitabilidade nacionais e consideradas as condições econômicas dos
ofensores e pessoais do ofendido, Ex-Presidente da República, que foi absolvido de acu-
sação de corrupção cumpriu suspensão de direitos políticos e veio a ser eleito Senador
da República.
3.- Por unanimidade elevado o valor da indenização, fixado em R$ 500.000,00 pelo enten-
dimento da D. Maioria, vencido, nessa parte, o voto do Relator, acompanhado de um voto,
que fixavam a indenização em R$ 150.000,00.
4.- Recurso Especial provido para fixação do valor da indenização em R$ 500.000,00 (qui-
nhentos mil reais).
(STJ, REsp 1120971/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe 20/06/2012).

No mesmo sentido, este julgado:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL. INDENIZA-


ÇÃO. DANO MORAL. HERDEIROS. LEGITIMIDADE. QUANTUM DA INDENIZAÇÃO FIXADO
EM VALOR EXORBITANTE. NECESSIDADE DA REDUÇÃO. RESPEITO AOS PARÂMETROS E
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. PRECEDENTES.
1. Cingindo-se, a hipótese em análise, a dano à imagem da falecida, remanesce aos her-
deiros legitimidade para sua defesa, uma vez que se trata da reparação de eventual sofri-
mento que eles próprios suportaram, em virtude dos fatos objeto da lide.

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2. O critério que vem sendo utilizado por essa Corte Superior na fixação do valor da inde-
nização por danos morais, considera as condições pessoais e econômicas das partes,
devendo o arbitramento operar-se com moderação e razoabilidade, atento à realidade da
vida e às peculiaridades de cada caso, de forma a não haver o enriquecimento indevido
do ofendido, bem como que sirva para desestimular o ofensor a repetir o ato ilícito.
3. A aplicação irrestrita das “punitive damages” encontra óbice regulador no ordena-
mento jurídico pátrio que, anteriormente à entrada do Código Civil de 2002, vedava o
enriquecimento sem causa como princípio informador do direito e após a novel codifica-
ção civilista, passou a prescrevê-la expressamente, mais especificamente, no art. 884
do Código Civil de 2002.
4. Assim, cabe a alteração do quantum indenizatório quando este se revelar como valor
exorbitante ou ínfimo, consoante iterativa jurisprudência desta Corte Superior de Justiça.
5. In casu, o Tribunal a quo condenou às rés em R$ 960.000, 00 (novecentos e sessenta
mil reais), tendo dividido o valor entre as rés, arcando cada uma das litisconsortes passi-
vas com o pagamento de R$ 480.000,00 (quatrocentos e oitenta mil reais) o que, conside-
rando os critérios utilizados por este STJ, se revela extremamente excessivo.
6. Dessa forma, considerando-se as peculiaridades do caso concreto, bem como os cri-
térios adotados por esta Corte Superior na fixação do quantum indenizatório a título de
danos morais, a indenização total deve ser reduzida para R$ 145.250,00 (cento e quarenta
e cinco mil, duzentos e cinquenta reais), devendo ser ele rateado igualmente entre as rés,
o que equivale a R$ 72.625,00 (setenta e dois mil, seiscentos e vinte e cinco reais) por
litisconsorte passiva.
7. Evidencia-se que a parte agravante não apresentou qualquer argumento capaz de infir-
mar a decisão monocrática que pretende ver reformada, razão pela qual entende-se que
ela há de ser mantida íntegra por seus próprios fundamentos.
8. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ, AgRg no Ag 850.273/BA, 4ª Turma, Rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro –
Desembargador Convocado, DJe 24/08/2010)

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8. Regra da Irreparabilidade do Dano Evitável

Dano que a vítima


poderia ter evitado
Duty to mitigate
the loss
Regra da Irrepara-
bilidade do Dano Irreparabilidade
Evitável (RIDE)
Boa-fé objetiva + vedação ao
abuso do direito
Os custos da mitigação
são levados em conta no
cálculo da indenização

Não pode ser indenizado o dano ou o agravamento de um dano que a vítima, se estivesse
de boa-fé, poderia ter evitado. Trata-se da regra da irreparabilidade do dano evitável (ride), que
decorre do duty to mitigate the loss.
O duty to mitigate the loss – que é o dever de o credor atenuar os prejuízos por força da boa-
-fé objetiva – justifica também a “regra de irreparabilidade do dano evitável”, segunda a qual a
vítima não terá direito a uma indenização por um dano ou por um agravamento de um dano se
ela, se agisse de boa-fé, poderia tê-lo evitado. Afinal de contas, é seu dever comportar-se para
impedir o aumento da dívida5. No mesmo sentido, é o enunciado n. 629/JDC: “A indenização
não inclui os prejuízos agravados, nem os que poderiam ser evitados ou reduzidos mediante
esforço razoável da vítima. Os custos da mitigação devem ser considerados no cálculo da
indenização”. Os fundamentos jurídicos são a vedação ao abuso de direito (art. 187, CC), a
boa-fé objetiva (arts. 113 e 422, CC) e o dever de indenizar (art. 403, CC).
Quem, por exemplo, sofre um corte profundo na pele por culpa de outrem pode pedir inde-
nização por dano moral e material levando em conta esse fato. Se, todavia, a vítima não vai ao
hospital para tratar o corte e, em razão disso, contrai uma infecção grave que a leva à morte,
a indenização não poderá levar em conta esse agravamento do dano, pois a morte poderia ter
sido evitada se a vítima tivesse ido ao hospital. Logo, o valor da indenização por dano moral
será bem mais suave do que seria arbitrado para o caso de morte, e, na indenização por dano
material, não se poderão considerar as despesas médicas com as complicações provocadas
pela infecção. No máximo, o dano material poderia abranger o valor que teria sido gasto com
o tratamento apenas do corte profundo em nome da vedação do enriquecimento sem causa.
O TJRS analisou este caso: empresa que adquire máquina quebrada não pode pleitear indeni-
zação por lucros cessantes pelo período de indisponibilidade dessa máquina, se não comprovar
que adotou medidas razoáveis e de boa-fé no sentido de evitar esse dano, seja adquirindo outra
5
Reportamo-nos a notável estudo de Daniel Pires Novais Dias (2018).

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máquina, seja contratando o serviço de um terceiro (TJRS, Apelação Cível n. 70025609579, Quin-
ta Câmara Cível, Rel. Des. Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 20/05/2009).

9. Transmissibilidade da Responsabilidade Civil


9.1. Direito à Reparação

Crédito provenien- Pode ser objeto de


Direito à reparação te de reparação civil transmissão e sucessão
= bem móvel causa mortis

O direito de crédito proveniente de uma responsabilidade civil é um bem móvel e, assim,


pode ser transmitido por ato entre vivos (cessão de crédito, na forma do art. 296 e seguintes
do CC) e também por sucessão causa mortis (art. 943, CC). Não importa se se trata de um di-
reito a uma indenização por dano material ou moral nem se a vítima já cobrou judicialmente o
seu direito. O direito de crédito nasce com o dano e, portanto, já pode ser objeto de transmitido
para terceiros pelo seu titular. A natureza personalíssima do dano moral diz respeito apenas
ao nascimento do direito à indenização (só a vítima pode sofrer o dano moral), e não a fatos
supervenientes relativos à circulação desse crédito.
Assim, quem sofreu um dano moral pode ceder o seu direito de crédito a terceiro na forma
do art. 296 e seguintes do CC, de modo que esse terceiro poderá propor a ação de indeniza-
ção pleiteando o crédito da indenização por dano moral. Isso pode ser útil como uma forma
de a vítima antecipar o recebimento de algum dinheiro de um terceiro que, acreditando poder
receber mais no Judiciário, tenha interesse em adquirir o crédito. Não se trata de negócio co-
mum, todavia.
O mais comum é a transmissão hereditária do direito de crédito. Se o de cujus não propôs
ação de indenização por dano material ou moral, os seus herdeiros poderão fazê-lo em razão
da transmissão causa mortis, desde que não tenha ainda operado a prescrição, cujo prazo con-
tinua a fluir contra os herdeiros (art. 196, CC).

9.2. Dever de Reparar

Por ato Assunção


entre vivos de dívidas
Dever de indenizar Pode ser
= dívida transmitida a 3º
Sucessão causa Até o limite
mortis da herança

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O dever de reparar um dano moral é uma dívida e, como tal, pode ser transmitida para ter-
ceiros por ato entre vivos na forma da assunção de dívida (arts. 299 e ss, CC) ou por sucessão
causa mortis (art. 943, CC). Os herdeiros, portanto, podem ser obrigados a pagar a indenização
por dano moral ou material causada pelo de cujus, assim como eles podem ser obrigados por
qualquer outra dívida dele, mas se deve respeitar as regras de direito sucessório, como a do be-
nefício de inventário: os herdeiros não respondem além dos limites da herança (art. 1.782, CC).

9.3. Casos Especiais


9.3.1. Alimentos Indenizativos

Suprir a
Indenização por
perda de uma
lucros cessantes
remuneração

É obrigação que
Alimentos
pode ser pleiteada
indenizativos
dos herdeiros

Direito de EXIGIR Não pode Morta a vítima,


alimentos haver trans- extingue-se
indenizativos missão o direito
causa mortis
Os alimentos indenizativos constituem uma indenização por lucros cessantes e são devi-
das para suprir a perda de uma remuneração de que se valia a vítima para seu sustento. Quem,
por exemplo, fica com incapacidade laboral (ex.: ficou tetraplégico ao ser atropelado) pode
pleitear do causado do dano pensão alimentícia a título de indenização no valor da renda perdi-
da (art. 950, CC). Igualmente, quem perde parente de quem dependia financeiramente pode pe-
dir do causador do dano pensão alimentícia para suprir a perda da remuneração (art. 948, CC).
O dever de pagar indenização em forma de alimentos indenizativos é uma obrigação e,
como tal, pode ser transmitida para os herdeiros por sucessão causa mortis. A vítima, portan-
to, pode pleiteá-la do espólio ou, se for o caso, dos herdeiros do causador do dano, se este
morreu, mas deverá respeitar o benefício do inventário, conforme arts. 943 e 1.782, CC. Leia
este julgado:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE ATO ILÍCITO. 1. ACI-


DENTE DE TRÂNSITO COM MORTE OCORRIDO NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL ANTE-
RIOR. TEMPUS REGIT ACTUM. 2. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. RESPONSABILIZAÇÃO QUE
SE TRANSFERE AOS HERDEIROS. ART. 1.526 DO CC/1916.

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1. Segundo a regra de direito intertemporal consagrada no princípio tempus regit actum,


aplica-se ao fato a lei vigente à época de sua ocorrência. No caso, tendo ocorrido o evento
danoso no ano de 1997, suas consequências jurídicas devem ser reguladas pelo Código
anterior.
2. A obrigação alimentar decorrente de ato ilícito - acidente de trânsito - transmite-se aos
herdeiros, nos termos do art. 1.526 do Código Civil de 1916 (art. 943 do Código atual),
uma vez que a regra do art. 402 do mesmo diploma legal, que prevê sua extinção com o
óbito do devedor, só tem aplicação quando o encargo for proveniente do Direito de Famí-
lia. Todavia, não respondem os herdeiros por valores superiores à força da herança.
3. Recurso especial provido.
(STJ, REsp 1326808/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe 01/06/2015).

Quanto ao direito de exigir os alimentos indenizativos, não pode haver transmissão causa
mortis pelo fato de a morte da vítima ser hipótese de extinção do direito. Morta a vítima, ex-
tingue-se o direito aos alimentos indenizativos (STJ, REsp 1320214/DF, 2ª Turma, Rel. Ministro
Castro Meira, DJe 29/08/2012).
Todavia, entendemos que, até a data da morte, o direito de crédito aos alimentos indeniza-
tivos que não foram cobrados pode ser transmitido aos herdeiros da vítima, respeitado o prazo
de prescrição. Se, por exemplo, João foi atropelado por negligência de Artur e, por ter ficado
tetraplégico, ficou incapaz para o trabalho que exercia e que lhe rendia R$ 4.000,00 por mês, ele
passa a ter direito de pleitear alimentos indenizativos nesse valor mensal. Se ele vem a falecer
dois anos depois sem ter cobrado a indenização, entendemos que os seus herdeiros poderão
pleitear o pagamento da pensão alimentícia indenizativa durante esses dois anos, pois o prazo
prescricional de 3 anos não se esvaiu (art. 206, § 3º, V, CC) (STJ, REsp 1326808/RS, 3ª Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, DJe 01/06/2015)
O raciocínio aqui tratado não se estende aos alimentos familiares (também batizados de
legítimos), que é devido entre parentes com base no Direito de Família. Nos alimentos fami-
liares, o direito de crédito só nasce depois de os alimentos serem cobrados judicialmente me-
diante prova dos requisitos legais (como o binômio necessidade-possibilidade)6. Se o parente
não cobrou, os seus herdeiros não poderão cobrar. Se, todavia, os alimentos familiares já ha-
viam sido fixados, mas estavam em atraso no momento da morte do alimentado, esse direito
de crédito, que nasceu com o vencimento, será transmissível causa mortis, como sucede com
os direitos de crédito em geral.

6
Os alimentos familiares cobrados judicialmente são devidos desde a citação da ação de alimentos (art. 13, § 2º, da Lei de
Alimentos – Lei n. 5.478/1968).

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9.3.2. Legitimidade Ativa dos Pais como Únicos Herdeiros da Vítima para a
Ação de Indenização por Dano Moral do Filho Falecido

Indenização por PAIS têm legitimidade Entendimento


dano moral sofrido ad causam como potencialmente lesivo
pelo filho falecido únicos herdeiros aos credores

Pais, como únicos herdeiros, podem ajuizar ação de indenização pelos danos morais que
o filho sofreu em vida (art. 943, CC). Na verdade, a titularidade é do espólio, mas, se os pais
forem os únicos herdeiros, o STJ já aceitou diante da falta de prejuízo. Não importa se o filho
havia ou não ajuizado a ação de indenização por dano moral, pois o espólio pode ajuizar ou
suceder processualmente falecido no caso de ação de indenização por dano moral (STJ, AgRg
no AREsp 326.485/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 01/08/2013; REsp 705.870/MA,
4ª Turma, Rel. Ministro Raul Araújo, DJe 23/04/2013; REsp 343.654/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro
Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 01/07/2002; REsp 978.651/SP, 1ª Turma, Rel. Ministra De-
nise Arruda, DJe 26/03/2009).
Essa orientação do STJ é pragmática e facilita o exercício do direito dos herdeiros, mas é
atécnico do ponto de vista formal e é potencialmente lesivo aos credores do de cujus, que, ao
buscarem os bens do de cujus no espaço legalmente dedicado à sucessão causa mortis (o
procedimento de inventário e partilha), não encontrarão informações acerca desse direito de
crédito do falecido, o qual poderia ser utilizado para pagamento da dívida no bojo do inventário.
Temos, pois, ressalvas à orientação do STJ.

9.3.3. Direito ou Dever à Reparação com Objeto do Inventário e a Partilha

Direito à indenização Direito de crédito

Dever de reparar Obrigação

Todos os herdeiros
Devem ser declarados no Dívida de respondem por ela até o
inventário como bens ou responsabilidade limite do seu quinhão
dívidas a serem partilhados civil hereditário

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O direito à indenização é um direito de crédito, e o dever de reparar é uma obrigação. Por


isso, eles devem ser declarados no inventário como bens ou dívidas a serem partilhados. Em
tese, nada impede que um direito de crédito seja, na partilha, outorgado apenas a um dos her-
deiros, o qual poderá propor a ação de indenização por dano sofrido pelo de cujus. Se esse
direito de crédito não tiver sido inventariado e partilhado, ele poderá sê-lo em sobrepartilha.
Quanto à dívida de responsabilidade civil, todos os herdeiros responderão por ela até o
limite do seu quinhão hereditário se o inventário e a partilha já tiverem findado.
Na prática, não é comum direitos ou deveres de indenizar serem arrolados nos inventários
e partilhas, ainda mais com o entendimento do STJ de que todos os herdeiros conjuntamente
teriam legitimidade ativa para cobrar o crédito de responsabilidade civil (STJ, AgRg no AREsp
326.485/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 01/08/2013).

9.4. Responsabilidade do Incapaz


9.4.1. Regra Geral

Subjetiva

Responde civilmente
Limitada (condicional)
em regime + brando
Responsabilidade civil
do incapaz
Responsabilidade
Equitativa
civil

Subsidiária

Sem direito de regresso con-


tra o seu representante legal

Veja a questão.

003. (CESPE/DELEGADO/PC-MA/2018/ADAPTADA) De acordo com o Código Civil, respon-


derá, em caso de reparação civil, o pai, objetivamente, pelos danos que forem causados pelo
filho menor, ressalvado o direito de ação regressiva daquele contra este.
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O gabarito é falso, pois pais não tem direito de regresso contra os filhos menores (art. 934, CC).
Errado.

004. (CESPE/JUIZ/TRF-5ª/2017) De acordo com o entendimento do STJ, a responsabilidade


civil do incapaz pela reparação de danos que houver causado, quando seus pais não tiverem
meios de repará-los, será
I – solidária, mas mitigada.
II – condicional.
III – subsidiária e equitativa.
IV – de eficácia diferida.
Estão certos apenas os itens
a) I e II.
b) I e III.
c) I e IV.
d) II e III.
e) III e IV.

O gabarito é letra “d”, porque a responsabilidade do incapaz por ato do pai é condicional (o
valor da indenização é condicionado a não comprometer sobrevivência do incapaz), mitigada
(a responsabilidade civil não pode subtrair o mínimo necessários à sobrevivência digna do
incapaz), subsidiária (só responde se pai não tiver recursos ou não for obrigado) e equitativa
(valor da indenização baseia-se na equidade).
Letra d.

005. (FCC/DEFENSOR/DPE-AP/2018) O incapaz que venha a causar dano tem responsabili-


dade subsidiária e condicional para a reparação.

O gabarito é “correto”, pelos motivos já citados da questão anterior.


Certo.

006. (FAURGS/JUIZ/TJ-RS/2016) O patrimônio do incapaz não pode servir ao pagamento da


indenização, cabendo exclusivamente aos pais, tutores ou curadores, conforme o caso, res-
ponder pelos danos que ele causar.

O gabarito é “errado”, pois o patrimônio do incapaz também pode responder de modo subsidi-
ário e com base na equidade.
Errado.

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Vamos tratar mais desse tema.


Após muita controvérsia doutrinária, o legislador brasileiro optou por permitir que os inca-
pazes fossem responsabilizados civilmente por seus atos, mas fixou um regime mais brando
em respeito à sua dignidade. Espelhou-se nos Códigos Civis da Alemanha (BGB), francês, por-
tuguês e italiano (Tartuce, 2018, p. 570). Embora um menor não possa ser preso diante de sua
inimputabilidade no Direito Penal (apesar de poder ser sujeito a medidas socioeducativas após
12 anos), ele pode ser condenado a indenizar no Direito Civil, com determinadas proteções. A
solução foi justa: há incapazes com fartos patrimônios que, sem comprometimento da sua
sobrevivência, podem indenizar prejuízos causados a terceiros. Isso não lhe ofenderia a digni-
dade, com um encarceramento no Direito Penal.
À luz dos arts. 927, 928, 932, I, e 934 do CC, a responsabilidade civil do incapaz é subjetiva,
limitada (ou condicional), mitigada, equitativa, subsidiária e sem envolver dever de ressarcir,
em direito de regresso, seu representante legal.

9.4.2. Subjetiva

Depende da
Subjetiva
demonstração de culpa
Responsabilidade civil
do incapaz
Excepcionalmente
pode responder de Pela teoria do risco
forma OBJETIVA

A responsabilidade do incapaz é subjetiva, porque é necessário provar culpa do incapaz em


causar o dano.
Aplica-se aí a regra geral do art. 927 do CC, de modo que, excepcionalmente, ela pode
responder objetivamente com base na teoria do risco (parágrafo único do art. 927, CC) se o
incapaz criar um risco além do normal com alguma atividade (ex.: uma criança perfura outrem
ao perder o controle de uma faca usada em uma brincadeira de “malabares” após um susto
causado por um terceiro).

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9.4.3. Limitada (ou Condicional), Mitigada e Equitativa

Indenização NÃO pode


Limitada
comprometer a sobrevivência do
(condicional)
incapaz ou de seus dependentes

Responsabilidade civil Não se baseia necessariamente na


Mitigada
do incapaz reparação integral

O juiz pode arbitrar o valor com


Equitativa base na equidade, e não
necessariamente na
dimensão do dano

É limitada ou condicional, porque o valor da indenização não poderá desfalcar o patrimônio


do incapaz a ponto de comprometer a sua sobrevivência ou de seus dependentes econômicos:
a indenização está condicionada à preservação do necessário. Trata-se de um “limite huma-
nitário” à indenização, na expressão do enunciado n. 39/JDC. Entendemos que, nesse ponto,
o juiz deverá preocupar-se em permitir que o incapaz fique com um patrimônio suficiente a
custear os estudos, a alimentação, a saúde e outras necessidades dentro do padrão social que
o incapaz, ao tempo do dano, tinha. Se o incapaz mantinha o padrão de classe média, não se
deve reduzir-lhe o padrão para o de uma classe socioeconômica menor. Deve-se também levar
em conta a preservação da sobrevivência de outras pessoas que eventualmente dependam do
patrimônio do incapaz, como irmãos e até mesmo os pais. Há casos de crianças com vasto
patrimônio recebido por doação que é utilizado para sustento próprio e de sua família.
É mitigada, porque a responsabilidade civil do incapaz não se baseia necessariamente na
reparação integral, pois ela não pode comprometer a sobrevivência digna dele.
É equitativa, porque o juiz arbitrar o valor da indenização com base na equidade, e não ne-
cessariamente na exata dimensão do dano causado pelo incapaz.

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9.4.4. Subsidiária

Não tiverem recursos


Só responde se os seus
representantes legais
Não tiverem obrigação
de indenizar
Responsabilidade civil Não se aplica a solidariedade
Subsidiária
do incapaz do art. 942 do CC

Não há litisconsórcio
necessário entre o incapaz
e o representante legal

É subsidiária, porque o incapaz só responde se seus representantes não tiverem recursos


para pagar a indenização ou, por algum motivo legal, não tiverem obrigação de indenizar. Não
se aplica a solidariedade prevista no parágrafo único do art. 942 do CC.
Do ponto de vista processual, não há litisconsórcio necessário entre o incapaz e o repre-
sentante: a vítima não precisa colocar os dois no polo passivo da ação. Entretanto, por con-
veniência processual, convém colocá-los no polo passivo em conjunto (litisconsórcio passivo
facultativo e simples), observado, porém, que o pedido contra o incapaz deve ser subsidiário,
ou seja, deve ser feito o pedido de condenar o incapaz a indenizar se o representante não
“puder”7 ou não tiver de indenizar (STJ, REsp 1436401/MG, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, DJe 16/03/2017).

9.4.5. Responsabilidade do Representante por Ato do Incapaz e Casos de


Responsabilidade Direta do Incapaz

Incapaz só responde se o
Principal representante não tiver meios
ou obrigação

Não se investiga culpa do


Responsabilidade do Objetiva
representante
representante por ato
do incapaz
Indenização correspondente à
extensão do dano

Integral

Proporcional à manutenção
de uma vida digna

7
Rectius, não ter meios para pagar a indenização.
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Representante do incapaz abrange não apenas os legais (pais no poder familiar, tutores
e curadores), mas também terceiros que, faticamente, assumiram essa condição, como na
hipótese de uma babá, de um amigo ou de estabelecimento de ensino que assume o cuidado
de uma criança.
Em regra, conforme arts. 928, 932, I e II, 933 do CC, os representantes legais respondem
pelos atos dos incapazes de forma principal, objetiva e integral: principal, pelo fato de que os
incapazes só respondem se os representantes não tiverem meios ou dever jurídico; objetiva,
porque não se investigará culpa do representante (como culpa in vigilando), embora obviamen-
te se pressuponha a culpa do incapaz para essa responsabilização do representante; integral,
porque o valor da indenização seguirá a regra geral da restitutio in integrum e corresponderá à
extensão do dano causado pelo incapaz (art. 944, CC). A propósito dessa indenização integral,
há controvérsia doutrinária. Preferimos a incidência da restitutio in integrum, pois, além de ine-
xistir disposição legal diversa, não é justo prestigiar os representantes em detrimento da víti-
ma, que muitas vezes depende da indenização para ter uma vida digna. Nossa corrente, porém,
é minoritária. Há o enunciado n. 39/JDC8 a estender o limite humanitário do parágrafo único
do art. 928 do CC para os representantes legais do incapaz, de modo que eles não poderão ser
privados do necessário para sua sobrevivência com a indenização.
Em dois casos, o incapaz poderá ser responsabilizado pessoalmente: (1) falta de recursos
do representante ou (2) falta de dever legal do representante. Uma terceira hipótese a autorizar
a responsabilização civil pessoal do incapaz pode ser mencionada: a do incapaz sem nenhum
representante legal existente, como um órfão sem tutor nomeado.
A primeira hipótese é constatada pela ausência de bens penhoráveis ou por qualquer outro
meio de prova do representante. Nada impede que a vítima ajuíze a ação diretamente contra o
incapaz, desde que comprove a pobreza dos representantes.
A segunda, porém, merece maiores reflexões, pois a legislação não é textual em prever a
isenção de responsabilidade do representante legal. Esses casos devem ser obtidos por infe-
rência, o que convém dividir os representantes em dois grupos: os pais e os demais.
Quanto ao pais, se não tiverem o poder familiar, eles não são representantes legais do fi-
lhos nem possuem dever de cuidado sobre eles (art. 1.634, CC), de modo que, por estarem fora
do texto do art. 932, I, do CC, não podem ser responsabilizados.
Quanto aos demais representantes legais, a sua responsabilidade está no inciso II do art.
932 do CC e refere-se aos tutores e curadores. Entendemos que só os tutores e curadores com
dever de cuidado sobre o incapaz podem ser responsabilizados, pois isso lhes assegura o po-
der de, com razoabilidade, disciplinar o incapaz. Não se pode, porém, responsabilizar o curador
ou o tutor que só tem dever de gestão patrimonial, pois o comportamento não patrimonial do
incapaz não está sob seu controle.
8
Enunciado n. 39/JDC: A impossibilidade de privação do necessário à pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de inde-
nização equitativa, informado pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. Como consequên-
cia, também os pais, tutores e curadores serão beneficiados pelo limite humanitário do dever de indenizar, de modo que a
passagem ao patrimônio do incapaz se dará não quando esgotados todos os recursos do responsável, mas se reduzidos
estes ao montante necessário à manutenção de sua dignidade.

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Em regra, a tutela e a curatela abrangem esse dever de cuidado, de modo que não há ne-
cessidade de previsão expressa na sentença. Há duas exceções. Em primeiro lugar, quando
se tratar de pródigo, a curatela se restringe a questões patrimoniais por força do art. 1.782 do
CC9, de maneira que só por ordem judicial expressa se poderá excepcionar essa regra e impor
também o dever de cuidado. Em segundo lugar, em se tratando de pessoa com deficiência que
apresente limitações de discernimento, a curatela também se restringe a questões patrimo-
niais e negociais à luz do art. 85 do EPD10, de modo que o dever de cuidado também dependerá
de sentença expressa afastando essa regra legal.
Por fim, foi criada a Tomada de Decisão Apoiada (TDA) no art. 1.783-A do CC, mas como
esse instituto de amparo à pessoa com deficiência não importa em dever de cuidado, mas se
restringe a questões patrimoniais e negociais, o apoiador não pode ser responsabilizado civil-
mente por ato da pessoa apoiada.
Responsabilidade civil presume o mínimo poder de controle do responsável. Se o curador,
tutor ou apoiador não têm poder de disciplinar o comportamento do incapaz (ex.: vedar-lhe
andar por lugares perigosos ou portar objetos perigosos), não se lhes pode responsabilizar
civilmente por atos da pessoa vulnerável (que não necessariamente é incapaz, conforme EPD).
Portanto, os pais só respondem por atos dos filhos menores e incapazes se tiverem o
poder familiar, ao passo que tutores e curadores só respondem por atos dos vulneráveis se
tiverem dever de cuidado sobre o incapaz além de questões meramente patrimoniais. Esse
dever de cuidado, no caso de pródigo ou de pessoas com pessoa deficiência, tem de estar pre-
visto textualmente na sentença para afastar as regras do art. 1.782 do CC e do art. 85 do EPD.
Apoiadores, a seu turno, nunca respondem por atos da pessoa com deficiência beneficiária da
TDA, pois não possuem dever de cuidado da pessoa do apoiado. Nesses casos em que o repre-
sentante legal do incapaz não tem dever legal de responder, o incapaz responderá civilmente
de modo direto na forma do art. 928, CC.

9.4.6. Direito de Regresso do Representante contra o Incapaz?

Ascendente NÃO cabe direito


Direito de regresso do do incapaz de regresso
representante Indenização correspondente à
contra o incapaz extensão do dano
Não
ascendente Duas correntes

Proporcional à manutenção de
uma vida digna

9
O EPD tencionou estender essa restrição da curatela a questões patrimoniais para todos os casos de incapazes por meio
da inserção de uma nova redação ao art. 1.772 do CC, mas, por desencontros de processos legislativos, o CPC entrou em
vigor poucos meses depois do EPD e revogou esse preceito. O professor Flávio Tartuce batizou esse fenômeno de “atrope-
lamento legislativo” (Tartuce, 2015).
10
EPD: Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015).

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Quando o representante legal (pai ou mãe, tutor ou curador) é ascendente do incapaz (pai,
avô etc.), não cabe direito de regresso contra o incapaz por previsão expressa do art. 934 do CC.
Se, todavia, não há esse parentesco de ascendência, há duas correntes possíveis.
A primeira é no sentido de que o incapaz não é obrigado a ressarcir seu representante legal
que não seja ascendente e que tenha suportado a indenização sozinho: o representante não
tem direito de regresso contra o incapaz (art. 934, CC). Embora o art. 934 do CC só se refira
aos pais para afastar-lhe o direito de regresso contra seus descendentes incapazes, o melhor
entendimento é o de estender esse dispositivo para qualquer representante legal que tenham
dever de cuidado, pois o controle dos atos dos incapazes está sob o seu comando e, portanto,
o risco de esses incapazes causarem danos a terceiros é desses representantes. Preferimos
esse entendimento.
A segunda corrente é no sentido do cabimento do direito de regresso contra o incapaz se
o representante não for ascendente, pois o texto do art. 934 do CC não faz nenhuma ressalva.
Bruno Miragem, por exemplo, entende assim (Miragem, 2015, p. 313).

9.4.7. Situações Especiais

Ressarcimento como Medida Socioeducativa

Desde que o ressarcimento


Quando o dano Incapaz responde pelo dano
seja determinado no
configura ato causado INTEGRALMENTE e
processo de aplicação de
infracional de forma DIRETA
medida socioeducativa

Conforme entendimento doutrinário majoritário, se o dano causado pelo menor de 18 anos


configurar ato infracional, não se aplicará a regra do art. 928 do CC e o menor responderá inte-
gralmente pelo dano causado e de forma direta, desde que essa medida de ressarcimento seja
determinada no próprio processo de aplicação de medida socioeducativa. Essa é a interpreta-
ção do art. 116 do ECA e está no enunciado n. 40/JDC:

Art. 928 O incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira subsidiária ou excepcionalmen-
te, como devedor principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem
atos infracionais, nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito das
medidas socioeducativas.

Nesse caso, os pais responderiam solidariamente pelo ato do menor por força dos arts.
932, I, e 942, parágrafo único, do CC. O ressarcimento aí é uma medida socioeducativa.
Em princípio, esse entendimento doutrinário só se aplica aos casos em que o ressarci-
mento do dano é imposto como uma medida socioeducativa no âmbito da Vara de Infância

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e Juventude e, portanto, não poderia ser aplicado em um processo civil comum envolvendo
pedido de indenização contra um incapaz por um dano que viesse a configurar ato infracional
à luz do ECA.
Leve para a prova o entendimento acima, porque é o majoritário. Todavia, ousamos divergir.
Mesmo no âmbito de um processo de medida socioeducativa, o art. 116 do ECA precisa ser
lido em conjunto com o art. 928 do CC em respeito à condição de vulnerabilidade de discerni-
mento do menor. Por exemplo, entendemos que o juiz não poderia determinar o ressarcimento
do dano de modo a comprometer a sobrevivência do infante infrator. O texto do art. 116 do ECA
não afastou o art. 928 do CC, de modo que valer-se de interpretação extensiva para restringir
direitos do menor violaria regras tradicionais de hermenêutica.

Menor Emancipado

Responsabilidade civil SOLI-


DÁRIA dos pais

Emancipação Pais têm direito de regresso


voluntária contra filho emancipado

Responsabilidade civil do
Indenização integral
emancipado

Emancipação Os pais NÃO responderão


judicial ou legal por nenhum ato

No caso de os pais emanciparem o filho menor de 18 anos (emancipação voluntária), eles


passam a ser equiparados coautores dos danos causados por ele enquanto não alcançada a
maioridade, razão por que os pais responderão civilmente de modo solidário (art. 942, parágra-
fo único, CC). Trata-se do enunciado n. 41/JDC (“a única hipótese em que poderá haver respon-
sabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do
art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil”). E como o filho menor não é mais incapaz,
ele terá de ressarcir os pais pelo fato de a proibição do direito de regresso só se aplicar a des-
cendentes incapazes na forma do art. 934, CC. Além do mais, o filho emancipado não se bene-
ficiará do regime brando do art. 928 do CC e, portanto, terá de pagar indenização integral pelos
danos causados, como qualquer pessoa capaz. A emancipação voluntária, portanto, acarreta
responsabilidade solidária do pai com o filho pelo valor integral do dano causado, assegurado
direito de regresso contra este.

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Se, porém, a emancipação for judicial ou legal (art. 5º, parágrafo único, CC), quem retirou o
manto da incapacidade do menor foi o juiz ou o legislador, e não os pais, razão por que os pais
não mais responderão por nenhum ato praticado pelo filho menor. A emancipação judicial ou
legal extingue a responsabilidade dos pais pelos filhos menores.

Responsabilidade dos Representantes do Incapaz: Questão da


“Autoridade e Companhia”

Não precisa estar ao lado Basta que ele esteja sob


do incapaz seus cuidados

Se o filho mora com


Responsabilidade Responsabilidade de ambos
Autoridade ambos os pais
dos representantes
e companhia
do incapaz
Só responde por culpa
(que é presumida)

Pai ou mãe sem guarda Duas correntes Responde objetiva


e solidariamente
com o outro

Os incisos I e II do art. 932 do CC responsabiliza os representantes por atos dos incapazes


que estejam “sob sua autoridade e em sua companhia”. Essa expressão gera divergências
interpretativas. O melhor entendimento é o de que não há obrigatoriedade de, no momento do
cometimento do dano, o representante estar ao lado do incapaz, ou seja, não há necessidade
de proximidade física, sob pena de isentar de responsabilidade o pai por um ato cometido por
um filho menor que estava brincando sozinho na rua (STJ, REsp 1436401/MG, 4ª Turma, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 16/03/2017). O importante é que o incapaz esteja direta ou
indiretamente sob os cuidados do representante, submetendo-se às suas ordens e educação.
Dessa forma, se um filho menor mora com ambos os pais, sempre se deve admitir a res-
ponsabilidade dos genitores.
Se, porém, os pais não coabitam, o tema fica mais complexo. Vamos falar disso no próxi-
mo subcapítulo.

Responsabilidade de Pai ou Mãe sem a Guarda

Há duas correntes sobre a natureza da responsabilidade do genitor sem a guarda por atos
do filho menor, tudo envolvendo a melhor interpretação dos arts. 932, I, e 933 do CC.
De um lado, sustenta-se que genitor sem a guarda só responde se tiver agido com culpa.
Essa culpa, porém, é presumida, mas admite prova em contrário. A mera separação dos pais
ou a falta da guarda do filho não é suficiente para afastar a presunção de culpa. Na prática,

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a responsabilidade do pai sem a guarda não seria objetiva, e sim subjetiva baseada na cul-
pa presumida. Essa leitura decorre do fato de o inciso I do art. 932 do CC em conjunto com
o art. 933 do CC responsabilizar objetivamente o pai ou a mãe por atos dos filhos menores
“que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia”. Esse entendimento vigora à época
do CC/1916 e seguiu em vigor no atual. Essa corrente é que prevalece no STJ. A propósito, o
STJ aplicou esse entendimento em um caso em que uma mãe havia comprado irregularmente
uma arma para a sua casa, mas, poucos dias depois, o filho adolescente que estava sob sua
guarda unilateral usou a arma para assassinar um desafeto. Nesse caso, o pai, que não tinha
a guarda, não foi condenado a indenizar os danos causados pelo filho por ter comprovado que
não incorreu em nenhum tipo de culpa (como culpa in vigilando). Só a mãe foi condenada (STJ,
REsp 777.327/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe 01/12/2009). Outros precedentes
do STJ seguem o mesmo sentido: STJ, AgInt no AREsp 1253724/PR, 3ª Turma, Rel. Ministro
Marco Aurélio Bellizze, DJe 15/06/2018; REsp 1146665/PR, 4ª Turma, Rel. Min. Massami Uye-
da, DJe 12/12/2011; AgRg no AREsp 220930/MG, 3ª Turma, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe
29/10/2012.
De outro lado, há a segunda corrente. Como o pai ou mãe sem guarda ainda tem o poder
familiar, eles continuam com deveres de cuidado sobre o filho. Por isso, ambos os pais res-
pondem objetiva e solidariamente pelos danos causados por seus filhos, ainda que qualquer
deles não tenha a guarda. A ideia subjacente está na teoria do risco: os pais devem assumir
os riscos de os filhos menores causarem danos a terceiros. A expressão “sob sua autoridade
e em sua companhia” do inciso I do art. 932 do CC é interpretado de modo amplíssimo. Nesse
sentido, está no enunciado n. 450/JDC (“Considerando que a responsabilidade dos pais pelos
atos danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa presumida, ambos os
genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais
atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclu-
siva de um dos genitores”).
O tema é complexo pelo laconismo da legislação. Concordamos com a primeira corrente,
mas por outros fundamentos. Argumentar que a responsabilidade do pai sem guarda é sub-
jetiva com base na culpa presumida é ir contra texto expresso de lei (arts. 932, I, e 933, CC).
Nem se poderia aplicar o art. 927, caput, do CC para respaldar a responsabilidade subjetiva,
pois esse dispositivo só se aplica à responsabilidade por ato próprio, e não por ato de terceiro.
Entendemos que o fundamento correto da primeira corrente é a interpretação da expressão
“sob sua autoridade e em sua companhia” do inciso I do art. 932 do CC não abrange casos de
genitores que, além de não ter a guarda do filho menor, não tinha – no caso concreto – poder
de influência efetiva no comportamento do menor, seja por meio de instruções verbais, seja
por controle das condutas do filho menor. Assim, por exemplo, se a mãe guardiã compra uma
arma e deixa ao alcance do filho menor, não haveria como o pai – sem a guarda – ter qualquer
poder de influência sobre o comportamento do filho de usar essa arma para matar terceiros.
Igualmente, se a mãe guardiã deixa o filho menor jogar futebol na rua com os amigos e o filho

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menor danifica um carro com uma “bolada”, o pai não guardião poderia ser responsabilizado
solidariamente com a mãe, se ele, ao menos, tinha contatos verbais com o filho, pois esse
comportamento do filho menor decorre mais das instruções recebidas do que do ato da mãe
de permitir algo natural: autorizar o filho jogar futebol. É preciso analisar cada caso concreto
para verificar se o genitor sem a guarda teve ou não poder de influência sobre o filho menor.
O ônus de prova é do próprio genitor não guardião, pois é de se admitir presunção relativa de
existência de poder de influência que, à luz das máximas da experiência.
Esse nosso entendimento encontra amparo neste julgado do STJ, no qual a mãe não guar-
diã que morava em outra cidade foi livre de responder pelo dano causado por seu filho de 17
anos, que, vivendo sob a guarda do pai, tomou um veículo sem autorização paterna e atrope-
lou acidentalmente duas pessoas. Nesse caso, apenas o pai foi responsabilizado, pois só ele
preenchia os requisitos de “autoridade e companhia” de que trata o inciso I do art. 932 do CC.
Nas palavras do Ministro João Otávio de Noronha, “os pais, ou responsável, que não exercem
autoridade de fato sobre o filho, embora ainda detenham o poder familiar, não respondem
por ele, nos termos do inciso I do art. 932 do Código Civil” (STJ, REsp 1232011/SC, 3ª Turma,
Rel. Ministro João Otávio de Noronha, DJe 04/02/2016)11. O mero fato de ser pai ou mãe com
poder familiar não é suficiente para a responsabilização objetiva do inciso I do art. 932 do CC,
pois é preciso haver os requisitos de “autoridade e companhia” de que trata esse dispositivo.
Quanto à segunda corrente, ela não nos parece técnica, por desprezar totalmente a expres-
são “sob sua autoridade e em sua companhia” do inciso I do art. 932 do CC e responsabilizar
indiscriminadamente o pai.
Seja como for, independentemente da corrente adotada, caberá ao genitor que pagou a in-
denização pleitear do outro genitor o reembolso do que pagou, seja de modo integral no caso
de a culpa ter sido exclusiva desse outro genitor, seja pela metade se não tiver havido culpa do
outro genitor (art. 283, CC).
Para concurso público, eventual questão objetiva sobre esse assunto deveria ser anulada
em razão da alta controvérsia. Entretanto, como você precisa marcar algo, eu recomendaria
que você seguisse tanto a primeira corrente (responsabilidade subjetiva) quanto o nosso en-
tendimento pessoal (responsabilidade objetiva que exige que o pai sem a guarda tenha poder
de influência sobre o filho), marcando, como verdadeira, assertivas que se alinhassem a uma
dessas duas correntes. É que, ao mesmo tempo que a primeira corrente tenha amparo em
vários julgados do STJ, o nosso entendimento pessoal se escora em julgado do STJ também
(STJ, REsp 1232011/SC, 3ª Turma, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, DJe 04/02/2016).

11
Em concurso público, o CESPE cobrou este entendimento, apontando como verdadeira esta assertiva:
(CESPE/Auditor Fiscal – TCE-SC/2016) De acordo com o entendimento do STJ, os pais que não exercem autoridade de fato
sobre o filho menor, ainda que detenham o poder familiar, não respondem por ato ilícito praticado pelo filho.

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Responsabilidade Civil – Parte I
Carlos Elias

QUESTÕES DE CONCURSO
007. (FUNDEP/PROMOTOR/MPE-MG/2019/ADAPTADA) O incapaz poderá ser demandado
pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-
-lo ou não dispuserem de meios suficientes.

São os arts. 928 e 932, I e II, do CC:

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se
privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II – o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
Certo.

008. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) O incapaz não responde pelos


prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou
não dispuserem de meios suficientes.

É o contrário: o incapaz responde nas hipóteses citadas na questão (art. 928, CC).
Errado.

009. (FCC/DEFENSOR/DPE-SP/2019/ADAPTADA) Os filhos incapazes respondem solidaria-


mente com seus pais pelos danos que causaram, desde que tenham bens próprios.

A responsabilidade do incapaz é subsidiária, e não solidária: ele só responde se seus responsá-


veis (como os pais) não tiverem meios suficientes (= não terem “dinheiro” para pagar) ou não
tiverem obrigação jurídica de pagar (= o que é raríssimo de ocorrer).
Errado.

010. (CRESCER/PROCURADOR/PREFEITURA DE JIJOCA DE JERICOACORA-CE/2019/


ADAPTADA) O incapaz possui responsabilidade subsidiária quando do cometimento de
atos ilícitos.

É o art. 928 do CC.


Certo.

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Responsabilidade Civil – Parte I
Carlos Elias

011. (CRESCER/PROCURADOR/PREFEITURA DE JIJOCA DE JERICOACORA-CE/2019/


ADAPTADA) São também responsáveis pela reparação civil os pais, pelos filhos menores ain-
da que não estejam sob sua autoridade e companhia.

Os pais só respondem se os filhos estiverem sob sua autoridade e sua companhia, ao contrário
do dito na questão. É o art. 932, I, do CC.
Errado.

012. (VUNESP/ADVOGADO/FITO/2020) Nos termos da atual jurisprudência do Superior Tri-


bunal de Justiça, os incapazes, quando praticarem atos que causem prejuízos, terão respon-
sabilidade.
a) subsidiária, condicional, mitigada e equitativa.
b) subsidiária, incondicional, mitigada e imparcial.
c) solidária, condicional, agravada e imparcial.
d) solidária, condicional, mitigada e equitativa.
e) solidária, incondicional, agravada e equitativa.

A responsabilidade do incapaz é:

a) subsidiária: o incapaz só responde se pais não tiverem “dinheiro” ou não tiverem obrigação jurídi-
ca – art. 928, CC);
b) condicional ou limitada: o valor da indenização é condicionado a não comprometer sobrevivência
do incapaz (art. 928, parágrafo único, CC);
c) mitigada: a responsabilidade civil não pode subtrair o mínimo necessários à sobrevivência digna
do incapaz (art. 928, parágrafo único, CC);
d) equitativa: o valor da indenização baseia-se na equidade (art. 928, parágrafo único, CC).

Letra a.

013. (CESPE/PROMOTOR/MPE-CE/2020/ADAPTADA) João foi gravemente agredido por Pe-


dro, de quinze anos de idade. Em razão do ocorrido, João pretende ajuizar ação de indenização
por danos materiais e morais contra Pedro e os pais deste, Carlos e Maria. No momento da
agressão, Carlos e Maria estavam divorciados e a guarda de Pedro era exclusiva de Maria.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o item subsequente:
A responsabilidade civil de Pedro pela reparação dos danos é subsidiária, em relação a seus
pais/responsáveis, e mitigada.

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Responsabilidade Civil – Parte I
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São os arts. 928 e 932, I e II, do CC.


Certo.

014. (CESPE/PROMOTOR/MPE-CE/2020/ADAPTADA) João foi gravemente agredido por Pe-


dro, de quinze anos de idade. Em razão do ocorrido, João pretende ajuizar ação de indenização
por danos materiais e morais contra Pedro e os pais deste, Carlos e Maria. No momento da
agressão, Carlos e Maria estavam divorciados e a guarda de Pedro era exclusiva de Maria.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o item subsequente:
Há litisconsórcio necessário entre Pedro e seus pais, em razão da responsabilidade solidária
entre o incapaz e seus genitores.

Do ponto de vista processual, não há litisconsórcio necessário entre o incapaz e o representan-


te: a vítima não precisa colocar os dois no polo passivo da ação. Entretanto, por conveniência
processual, convém colocá-los no polo passivo em conjunto (litisconsórcio passivo facultativo
e simples), observado, porém, que o pedido contra o incapaz deve ser subsidiário, ou seja, deve
ser feito o pedido de condenar o incapaz a indenizar se o representante não “puder”12 ou não
tiver de indenizar. Veja este julgado:

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM - PAIS PELOS ATOS
PRATICADOS PELOS FILHOS MENORES. ATO ILÍCITO COMETIDO POR MENOR. RESPON-
SABILIDADE CIVIL MITIGADA E SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ PELOS SEUS ATOS (CC, ART.
928). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO.
INOCORRÊNCIA.
1. A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária e mitigada
(CC, art. 928).
2. É subsidiária porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios
para ressarcir a vítima; é condicional e mitigada porque não poderá ultrapassar o limite
humanitário do patrimônio mínimo do infante (CC, art. 928, par. único e En. 39/CJF); e
deve ser equitativa, tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a priva-
ção do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz (CC, art. 928, par. único
e En. 449/CJF).
3. Não há litisconsórcio passivo necessário, pois não há obrigação - nem legal, nem por
força da relação jurídica (unitária) - da vítima lesada em litigar contra o responsável e
o incapaz. É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em
conta que os direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou de direito
12
Rectius, não ter meios para pagar a indenização.

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Responsabilidade Civil – Parte I
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(CPC,73, art. 46, II) intente ação contra ambos - pai e filho -, formando-se um litisconsór-
cio facultativo e simples.
4. O art. 932, I do CC ao se referir a autoridade e companhia dos pais em relação aos
filhos, quis explicitar o poder familiar (a autoridade parental não se esgota na guarda),
compreendendo um plexo de deveres como, proteção, cuidado, educação, informação,
afeto, dentre outros, independentemente da vigilância investigativa e diária, sendo irre-
levante a proximidade física no momento em que os menores venham a causar danos.
5. Recurso especial não provido.
(STJ, REsp 1436401/MG, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 16/03/2017).

Errado.

015. (CESPE/PROMOTOR/MPE-CE/2020/ADAPTADA) João foi gravemente agredido por Pe-


dro, de quinze anos de idade. Em razão do ocorrido, João pretende ajuizar ação de indenização
por danos materiais e morais contra Pedro e os pais deste, Carlos e Maria. No momento da
agressão, Carlos e Maria estavam divorciados e a guarda de Pedro era exclusiva de Maria.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o item subsequente:
A ação deve ser ajuizada exclusivamente em desfavor dos pais de Pedro, porque, conforme a
legislação, ele, por ser menor, não possui responsabilidade civil por seus atos.

Ao contrário do dito na questão, o menor tem responsabilidade civil, embora esta seja subsidi-
ária, condicional (ou limitada), mitigada e equitativa (arts. 928 e 932, I, do CC).
Errado.

016. (MPE-SC/PROMOTOR/MPE-SC/2019/ADAPTADA) Consoante o Código Civil, a emanci-


pação voluntária faz cessar a responsabilidade dos pais para com atos ilícitos de filho menor.

No caso de emancipação voluntária, o pai responde solidariamente com o filho menor por
força de interpretação extensiva do art. 942, parágrafo único, do CC (que fixa solidariedade
entre os coautores de um dano): os pais se consideram coautores dos atos do filho menor
que eles voluntariamente emanciparam. Trata-se do enunciado n. 41/JDC (“a única hipótese
em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido
emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil”). Alerte-se que,
se a emancipação tivesse sido judicial ou legal, aí sim o pais não mais responderiam pelos
atos desse filho menor: afinal de contas, foi o legislador ou o juiz que emancipou o menor, e
não os pais.
Errado.

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017. (CESPE/PROMOTOR/MPE-CE/2020/ADAPTADA) João foi gravemente agredido por Pe-


dro, de quinze anos de idade. Em razão do ocorrido, João pretende ajuizar ação de indenização
por danos materiais e morais contra Pedro e os pais deste, Carlos e Maria. No momento da
agressão, Carlos e Maria estavam divorciados e a guarda de Pedro era exclusiva de Maria.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o item subsequente:
A ação poderá ser ajuizada contra os pais de Pedro somente se for demonstrado que ele não
possui patrimônio para reparar o dano.

A responsabilidade dos pais por atos filhos menores sob sua autoridade e companhia é prin-
cipal: eles respondem em primeiro lugar, de modo que os filhos só respondem se seus pais
não puderem ou não tiverem de indenizar na forma do art. 928 do CC. É o contrário do exposto
na questão.
Errado.

018. (CESPE/PROMOTOR/MPE-CE/2020/ADAPTADA) João foi gravemente agredido por Pe-


dro, de quinze anos de idade. Em razão do ocorrido, João pretende ajuizar ação de indenização
por danos materiais e morais contra Pedro e os pais deste, Carlos e Maria. No momento da
agressão, Carlos e Maria estavam divorciados e a guarda de Pedro era exclusiva de Maria.
Acerca dessa situação hipotética, julgue o item subsequente:
A condição de guardião do filho menor é requisito essencial para a responsabilização por ato
praticado por incapaz, motivo pelo qual Carlos não possui legitimidade para figurar na ação de
responsabilidade civil.

Mesmo sem ter a guarda, o pai pode responder por danos causados pelo filho menor, pois a
jurisprudência dá interpretação extensiva ao inciso I do art. 932 do CC, que responsabiliza os
pais por ato dos filhos menores “sob sua autoridade e companhia”. É verdade que ainda há
certa controvérsia jurisprudencial para definir o alcance dessa expressão, mas, para efeito da
resolução da questão, é certo que há certa pacificidade da jurisprudência no sentido de que
a mera falta de guarda do pai sobre o filho menor não é suficiente, por si só, para o eximir da
responsabilidade civil. Portanto, o item está errado.
Acerca da responsabilidade do pai sem guarda do filho menor, há três correntes em conflito na
jurisprudência:

Responsabilidade civil subjetiva com base na culpa presumida do genitor sem guarda,
admitida a produção de prova para afastar essa presunção a depender do caso concreto
(STJ, REsp 777.327/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe 01/12/2009; AgInt no
AREsp 1253724/PR, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe 15/06/2018;

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Responsabilidade Civil – Parte I
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REsp 1146665/PR, 4ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe 12/12/2011; AgRg no AREsp
220930/MG, 3ª Turma, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe 29/10/2012);
Responsabilidade objetiva com base a teoria do risco. (Enunciado n. 450/JDC: “Conside-
rando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos meno-
res é objetiva, e não por culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder
familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que estejam
separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclusiva de um dos geni-
tores”).
Responsabilidade objetiva do genitor sem guarda desde que haja, no caso concreto, ele
exerça autoridade de fato sobre o filho menor (STJ, REsp 1232011/SC, 3ª Turma, Rel.
Ministro João Otávio de Noronha, DJe 04/02/2016).
A propósito, com base nessa última corrente, o CESPE considerou correta a seguinte
questão de concurso: “(CESPE/Auditor Fiscal – TCE-SC/2016) De acordo com o entendi-
mento do STJ, os pais que não exercem autoridade de fato sobre o filho menor, ainda que
detenham o poder familiar, não respondem por ato ilícito praticado pelo filho.

Errado.

019. (CESPE/PROCURADOR/PREFEITURA DE BOA VISTA-RR/2019/ADAPTADA) Tanto


pessoas físicas quanto pessoas jurídicas podem sofrer danos morais.

Dano moral é uma lesão a um direito da personalidade. Como pessoas jurídicas também tem
direitos da personalidade no que couber (art. 52 do CC), elas também podem sofrer dano mo-
ral. Veja, nesse sentido, o art. 52 do CC e a Súmula n. 227/STJ:

Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.

Súmula n. 227, STJ


A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

Certo.

020. (VUNESP/ADVOGADO/PREFEITURA DE SÃO ROQUE-SP/2020/ADAPTADA) A pessoa


jurídica não pode sofrer dano moral.

É o contrário do disposto na Súmula n. 227/STJ.


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021. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE FRANCISCO MORATO-SP/2020/ADAPTA-


DA) A pessoa jurídica não pode sofrer dano moral.

É o contrário do disposto na Súmula n. 227/STJ.


Errado.

022. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE RIBEIRÃO PRETO-SP/2020/ADAPTADA) A


pessoa jurídica de direito público pode ser titular de direito à indenização por dano moral rela-
cionado à ofensa de sua honra ou imagem.

Apesar de, em regra, as pessoas jurídicas poderem sofrer dano moral relativamente a lesões à
sua honra e à sua imagem, as pessoas jurídicas de direito público são exceções, pois elas não
dependem de sua honra ou de sua imagem para subsistir, e sim apenas da lei. Admitir o con-
trário seria uma subversão ao ordenamento jurídico. A questão está, pois, errada. Veja estes
julgados do STJ:

DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INFORMAÇÕES VEICULA-


DAS EM REDE DE RÁDIO E TELEVISÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL AJUI-
ZADA POR MUNICÍPIO CONTRA O PARTICULAR. IMPOSSIBILIDADE. DIREITOS FUNDA-
MENTAIS. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. RECONHECIMENTO LIMITADO.
1. A tese relativa à indenização pelo dano moral decorrente de ofensa à honra, imagem,
violação da vida privada e intimidade das pessoas somente foi acolhida às expressas no
ordenamento jurídico brasileiro com a Constituição Federal de 1988 (artigo 5º, incisos V
e X), que o alçou ao seleto catálogo de direitos fundamentais. Com efeito, por essa ótica
de abordagem, a indagação acerca da aptidão de alguém sofrer dano moral passa neces-
sariamente pela investigação da possibilidade teórica de titularização de direitos funda-
mentais, especificamente daqueles a que fazem referência os incisos V e X do art. 5º da
Constituição Federal.
2. A inspiração imediata da positivação de direitos fundamentais resulta precipuamente
da necessidade de proteção da esfera individual da pessoa humana contra ataques tradi-
cionalmente praticados pelo Estado. É bem por isso que a doutrina vem entendendo, de
longa data, que os direitos fundamentais assumem “posição de definitivo realce na socie-
dade quando se inverte a tradicional relação entre Estado e indivíduo e se reconhece que
o indivíduo tem, primeiro, direitos, e, depois, deveres perante o Estado, e que os direitos
que o Estado tem em relação ao indivíduo se ordenam ao objetivo de melhor cuidar das
necessidades dos cidadãos” (MENDES, Gilmar Ferreira [et. al.]. Curso de direito constitu-
cional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 222-223).
3. Em razão disso, de modo geral, a doutrina e jurisprudência nacionais só têm reconhe-
cido às pessoas jurídicas de direito público direitos fundamentais de caráter processual

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Responsabilidade Civil – Parte I
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ou relacionados à proteção constitucional da autonomia, prerrogativas ou competência


de entidades e órgãos públicos, ou seja, direitos oponíveis ao próprio Estado e não ao
particular. Porém, ao que se pôde pesquisar, em se tratando de direitos fundamentais
de natureza material pretensamente oponíveis contra particulares, a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal nunca referendou a tese de titularização por pessoa jurídica de
direito público. Na verdade, há julgados que sugerem exatamente o contrário, como os
que deram origem à Súmula n.
654, assim redigida: “A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da
Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado”.
4. Assim, o reconhecimento de direitos fundamentais - ou faculdades análogas a eles -
a pessoas jurídicas de direito público não pode jamais conduzir à subversão da própria
essência desses direitos, que é o feixe de faculdades e garantias exercitáveis principal-
mente contra o Estado, sob pena de confusão ou de paradoxo consistente em se ter, na
mesma pessoa, idêntica posição jurídica de titular ativo e passivo, de credor e, a um só
tempo, devedor de direitos fundamentais, incongruência essa já identificada pela jurispru-
dência do Tribunal Constitucional Alemão (BVerfGE 15, 256 [262]; 21, 362.
Apud. SAMPAIO, José Adércio Leite. Teoria da Constituição e dos direitos fundamentais.
Belo Horizonte: Del Rey, 2013 p. 639).
5. No caso em exame, o reconhecimento da possibilidade teórica de o município plei-
tear indenização por dano moral contra o particular constitui a completa subversão da
essência dos direitos fundamentais, não se mostrando presente nenhum elemento justi-
ficador do pleito, como aqueles apontados pela doutrina e relacionados à defesa de suas
prerrogativas, competência ou alusivos a garantias constitucionais do processo. Antes,
o caso é emblemático e revela todos os riscos de se franquear ao Estado a via da ação
indenizatória.
6. Pretende-se a responsabilidade de rede de rádio e televisão local por informações
veiculadas em sua programação que, como alega o autor, teriam atingido a honra e a
imagem da própria Municipalidade. Tal pretensão representa real ameaça a centros ner-
vosos do Estado Democrático de Direito, como a imprensa livre e independente, ameaça
que poderia voltar-se contra outros personagens igualmente essenciais à democracia.
7. A Súmula n. 227/STJ constitui solução pragmática à recomposição de danos de ordem
material de difícil liquidação - em regra, microdanos - potencialmente resultantes do abalo
à honra objetiva da pessoa jurídica. Cuida-se, com efeito, de resguardar a credibilidade
mercadológica ou a reputação negocial da empresa, que poderiam ser paulatinamente
fragmentadas por violações a sua imagem, o que, ao fim e ao cabo, conduziria a uma
perda pecuniária na atividade empresarial. Porém, esse cenário não se verifica no caso
de suposta violação à imagem ou à honra - se existente - de pessoa jurídica de direito
público.
8. Recurso especial não provido.

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(REsp 1258389/PB, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
17/12/2013, DJe 15/04/2014)
(...) AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL. IBAMA VERSUS PARTICULAR.
IMPOSSIBILIDADE. DIREITOS FUNDAMENTAIS. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.
(...)
(...)
4. O acórdão recorrido está em sintonia com o atual entendimento do STJ, consoante
o qual é impossível à pessoa jurídica de Direito Público (Administração Pública direta,
autarquias, fundações públicas), de índole não comercial ou lucrativa, ser vítima de dano
moral por ofensa de particular, já que constituiria subversão da ordem natural dos direitos
fundamentais. Precedentes.
(...)
(REsp 1505923/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
21/05/2015, DJe 19/04/2017)
(...)AÇÃO CIVIL PÚBLICA. VEICULAÇÃO DE PRODUTO COMERCIAL COM USO INDEVIDO
DO LOGOTIPO DO IBAMA. (...)
(...)
2. O acórdão recorrido está em consonância com a jurisprudência desta Corte no sentido
de que não cabe reparação por danos morais a pessoa jurídica de direito público, como
é o caso do IBAMA.
3. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1653783/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 24/10/2017, DJe 30/10/2017).

Errado.

023. (VUNESP/PROCURADOR/AVAREPREV-SP/2020/ADAPTADA) Os empresários indi-


viduais respondem pelos produtos postos em circulação desde que comprovada a sua cul-
pa ou dolo.

Ao contrário do exposto na questão, a responsabilidade dos empresários pelos produtos pos-


tos em circulação é objetiva: independe de culpa e dolo. É o art. 931 do CC:

Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as em-
presas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em
circulação.
Errado.

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024. (QUADRIX/ADVOGADO/CREA-TO/2019/ADAPTADA) Suponha‐se que João tenha cau-


sado dano patrimonial à Maria e, antes de ingressar com a ação de ressarcimento, tenha fale-
cido. Nesse caso, a responsabilidade civil de João, diante do seu falecimento, não será trans-
mitida aos herdeiros.

A responsabilidade civil é, na verdade, uma dívida que o causador do dano tem. E, como qual-
quer outra dívida, a responsabilidade civil é transmissível, ao contrário do exposto na questão.
O art. 943 do CC foi explícito nesse sentido, in litteris:

Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
Errado.

025. (FUNDEP/PROCURADOR/PREFEITURA DE CONTAGEM-MG/2019/ADAPTADA) Anali-


se o caso hipotético a seguir. Após consumir três garrafas de cerveja, João Donato retornava
para a sua residência, dirigindo o seu veículo automotor. Ao passar por um importante cru-
zamento no centro da cidade, o carro de João Donato foi atingido por um veículo automotor,
conduzido por Matilde Cássia, que cruzou a via, apesar de o sinal estar vermelho para ela. João
Donato foi submetido ao teste do bafômetro e foi apontado o consumo de álcool. Em razão do
ocorrido, Matilde pretende ver-se ressarcida dos prejuízos ocasionados pelo acidente.
Tendo como base a jurisprudência do STJ, assinale a alternativa correta.
a) A culpa de João Donato não pode ser presumida, tendo em vista ser hipótese de responsa-
bilidade subjetiva, que não prescinde da demonstração efetiva de culpa.
b) João Donato poderá ser presumido culpado, mas poderá isentar-se de responsabilidade,
caso comprove culpa exclusiva de Matilde.
c) Trata-se de hipótese em que se verifica responsabilidade objetiva de João Donato, tendo
em vista a direção de veículos automotores com consumo de álcool ser considerada ativida-
de de risco.
d) Matilde deverá ser ressarcida integralmente pelos danos sofridos, tendo em consideração
que a embriaguez ao volante gera presunção absoluta de culpabilidade, estando presentes os
demais pressupostos da responsabilidade civil.

Segundo a Tese da Culpa contra Legalidade, há presunção de culpa em desfavor daquele que,
após violar texto expresso de lei ou de regulamento, causa dano a outrem. É o caso, por exem-
plo, de quem dirige bêbado ou de quem ultrapassa o sinal vermelho; presume-se que ele seja
o culpado por acidentes de trânsito que venha a ocorrer. Essa presunção é relativa: admite-se
prova em sentido contrário. No caso da questão, como João dirigia bêbado, há presunção rela-
tiva de culpa dele pelo acidente; todavia, ele poderá repelir essa presunção se provar culpa ex-
clusiva da Matilda, que havia ultrapassado o sinal vermelho. A discussão de culpa é relevante,
pois a responsabilidade civil aí é subjetiva. Nesse sentido, veja este julgado:
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DIREITO CIVIL
Responsabilidade Civil – Parte I
Carlos Elias

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO EM RAZÃO DE ACIDENTE DE TRÂNSITO.


CONDUÇÃO DE MOTOCICLETA SOB ESTADO DE EMBRIAGUEZ. ATROPELAMENTO EM
LOCAL COM BAIXA LUMINOSIDADE. INSTRUÇÃO PROBATÓRIA INCONCLUSIVA SE A
VÍTIMA ENCONTRAVA-SE NA CALÇADA OU À MARGEM DA CALÇADA, AO BORDO DA
PISTA DE ROLAMENTO. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.
1. Em relação à responsabilidade civil por acidente de trânsito, consigna-se haver ver-
dadeira interlocução entre o regramento posto no Código Civil e as normas que regem
o comportamento de todos os agentes que atuam no trânsito, prescritas no Código de
Trânsito Brasileiro. A responsabilidade extracontratual advinda do acidente de trânsito
pressupõe, em regra, nos termos do art. 186 do Código Civil, uma conduta culposa que,
a um só tempo, viola direito alheio e causa ao titular do direito vilipendiado prejuízos, de
ordem material ou moral. E, para o específico propósito de se identificar a conduta impru-
dente, negligente ou inábil dos agentes que atuam no trânsito, revela-se indispensável
analisar quais são os comportamentos esperados e mesmo impostos àqueles, estabe-
lecidos nas normas de trânsito, especificadas no CTB. 2. A inobservância das normas
de trânsito pode repercutir na responsabilização civil do infrator, a caracterizar a culpa
presumida do infrator, se tal comportamento representar, objetivamente, o comprome-
timento da segurança do trânsito na produção do evento danoso em exame; ou seja, se
tal conduta, contrária às regras de trânsito, revela-se idônea a causar o acidente, no caso
concreto, hipótese em que, diante da inversão do ônus probatório operado, caberá ao
transgressor comprovar a ocorrência de alguma excludente do nexo da causalidade, tal
como a culpa ou fato exclusivo da vítima, a culpa ou fato exclusivo de terceiro, o caso
fortuito ou a força maior.
3. Na hipótese, o ora insurgente, na ocasião do acidente em comento, em local de pouca
luminosidade, ao conduzir sua motocicleta em estado de embriaguez (o teste de alcoo-
lemia acusou o resultado de 0,97 mg/l - noventa e sete miligramas de álcool por litro de
ar) atropelou a demandante. Não se pôde apurar, com precisão, a partir das provas pro-
duzidas nos autos, se a vítima se encontrava na calçada ou à margem, próxima da pista.
3.1 É indiscutível que a condução de veículo em estado de embriaguez, por si, representa
o descumprimento do dever de cuidado e de segurança no trânsito, na medida em que
o consumo de álcool compromete as faculdades psicomotoras, com significativa dimi-
nuição dos reflexos; enseja a perda de autocrítica, o que faz com que o condutor subes-
time os riscos ou os ignore completamente; promove alterações na percepção da reali-
dade; enseja déficit de atenção; afeta os processos sensoriais; prejudica o julgamento e
o tempo das tomadas de decisão;
entre outros efeitos que inviabilizam a condução de veículo automotor de forma segura,
trazendo riscos, não apenas a si, mas, também aos demais agentes que atuam no trân-
sito, notadamente aos pedestres, que, por determinação legal (§ 2º do art. 29 do CTB),
merece maior proteção e cuidado dos demais. 3.2 No caso dos autos, afigura-se, pois,
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Responsabilidade Civil – Parte I
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inarredável a conclusão de que a conduta do demandado de conduzir sua motocicleta em


estado de embriaguez, contrária às normas jurídicas de trânsito, revela-se absolutamente
idônea à produção do evento danoso em exame, consistente no atropelamento da vítima
que se encontrava ou na calçada ou à margem, ao bordo da pista de rolamento, em local
e horário de baixa luminosidade, após a realização de acentuada curva.
Em tal circunstância, o condutor tem, contra si, a presunção relativa de culpa, a ensejar a
inversão do ônus probatório. Caberia, assim, ao transgressor da norma jurídica compro-
var a sua tese de culpa exclusiva da vítima, incumbência em relação à qual não obteve
êxito.
4. Recurso especial improvido.
(REsp 1749954/RO, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 26/02/2019, DJe 15/03/2019)

Letra b.

026. (NC-UFPR/PROCURADOR/PREFEITURA DE CURITIBA-PR/2020/ADAPTADA) Se o ato


ilícito ensejador do dever de reparação também configurar uma infração penal, a responsabili-
dade civil requer o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

As instâncias são independentes; logo, o juízo cível não precisa aguardar o término do proces-
so penal. Essa é a regra geral. Entretanto, há as seguintes principais interrelações: (1) juízo
criminal vincula o cível quanto à autoria e à materialidade (art. 935 do CC), o que também en-
volve decisão acerca da existência de excludentes de ilicitude, nomeadamente do estado de
necessidade, da legítima defesa, do estrito cumprimento do dever legal e do exercício regular
de direito (art. 65, CPP); e (2) o prazo prescricional da ação de indenização decorrente de fato
criminoso (= ação ex delictoI) fica paralisado enquanto não sobrevier trânsito em julgado do
processo penal, conforme art. 200 do CC; e (3) o juízo cível pode suspender a tramitação do
processo cível até o fim do processo penal, se este já estiver em curso, consoante art. 64, pa-
rágrafo único, do CPP. Veja os dispositivos:

Art. 200, CC. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá
a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
Art. 935, CC. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais
sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem de-
cididas no juízo criminal.
Art. 64, CPP. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá
ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil.
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o
julgamento definitivo daquela.

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Art. 65, CPP. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em
estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito.
Errado.

027. (CESPE/DEFENSOR/DPE-AC/2017/ADAPTADA) A respeito da ação civil ex delicto, o


prazo prescricional para o ajuizamento de ação de reparação civil deduzida contra o autor de
homicídio inicia-se a partir do dia do acidente de trânsito.

O início do prazo prescricional da ação ex delicto dá-se com o trânsito em julgado da sentença
penal, e não com a data do acidente. É o entendimento do STJ em conjunto com o art. 200 do
CC. Veja este julgado:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILI-


DADE CIVIL. DANO MORAL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO PENAL. CAUSA IMPEDITIVA
DA PRESCRIÇÃO. ART. 200 DO CC/2002. OCORRÊNCIA. TERMO A QUO DA PRESCRIÇÃO.
1. Ação indenizatória que versa sobre o pagamento de indenização por danos morais e
materiais em decorrência de acidente de trânsito.
2. O termo inicial a quo para ajuizamento da ação civil ex delicto, com o objetivo de repa-
ração de danos, somente começa a fluir com a partir do trânsito em julgado da ação
penal. Precedentes do STJ. 3.
Agravo interno não provido.
(STJ, AgInt no REsp 1737584/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 31/08/2018)

Errado.

028. (VUNESP/ADVOGADO/PREFEITURA DE SÃO ROQUE-SP/2020/ADAPTADA) Maria,


grávida de 9 meses, juntamente com seu esposo José, estavam caminhando na rua, quando
foram atropelados por Carlos. José faleceu imediatamente em razão do atropelamento. Veri-
ficou-se que o atropelamento se deu em razão de Carlos não ter realizado as devidas manu-
tenções em seu veículo que estava com defeitos no sistema de frenagem. O atropelamento
ocorreu no dia 01.03.2003. Carlos foi condenado por homicídio culposo e cumpriu pena. Em
02.03.2019, Joaquim, filho de Maria e José, na época do acidente, nascituro, nascido um dia
após a morte do pai, assistido por aquela, ajuizou ação de indenização por danos morais con-
tra Carlos. Acerca do caso hipotético, é possível afirmar corretamente que
Carlos não pode ser demandado, tendo em vista que já foi condenado criminalmente pelo fato,
em razão da vedação do bis in idem.

As instâncias penal e civil são independentes na forma dos arts. 935 do CC e 64 do CPP.
Errado.

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029. (NC-UFPR/PROCURADOR/PREFEITURA DE CURITIBA-PR/2020/ADAPTADA) Em ca-


sos de crimes, só é lícito falar em reparação civil da vítima ou de seus herdeiros nos casos de
infrações penais dolosas.

As instâncias civis e penais são independentes, de modo que, como a responsabilidade civil se
satisfaz com a presença de culpa (ainda que leve), é irrelevante, para esse efeito, se o fato se
caracteriza como infração penal dolosa.
Errado.

030. (NC-UFPR/PROCURADOR/PREFEITURA DE CURITIBA-PR/2020/ADAPTADA) A res-


ponsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a exis-
tência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando essas questões se acharem decididas
no juízo criminal.

É o art. 935 do CC.


Certo.

031. (NC-UFPR/PROCURADOR/PREFEITURA DE CURITIBA-PR/2020/ADAPTADA) A res-


ponsabilidade civil é independente da criminal, cabendo ao juiz cível um completo reexame
do caso – podendo inclusive divergir da decisão criminal quanto a autoria e materialidade
do delito.

Juízo cível não pode contrariar decisão do juízo criminal acerca da autoria ou da existência do
fato (= materialidade do delito), ao contrário do exposto na questão. É o art. 935 do CC.
Errado.

032. (CESPE/DEFENSOR/DPE-AC/2017/ADAPTADA) O dever de indenizar no âmbito cível


pode resultar de culpa grave ou leve, mas não de culpa levíssima.

Em regra, qualquer culpa, mesmo a levíssima, pode ensejar a responsabilidade civil: o art. 186
e 927 do CC não fazem distinção alguma entre o grau de culpa:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos espe-
cificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.

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Responsabilidade Civil – Parte I
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A exceção ocorre apenas quando houver lei em sentido contrário. Por exemplo, o STJ, interpre-
tando o art. 392 do CC (que só admite responsabilidade civil do generoso por dolo), equipara
o conceito de dolo ao de “culpa grave” nos casos de “carona”, tudo conforme a Súmula n. 145/
STJ. Veja:

Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato
aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das
partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.

Súmula n. 145, STJ


No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente res-
ponsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

Errado.

033. (CESPE/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-DFT/2019/ADAPTADA) O abuso do direito é um ato


lícito, porém indenizável.

Abuso de direito é um ato ilícito, conforme art. 187 do CC:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Errado.

034. (CESPE/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-DFT/2019/ADAPTADA) O abuso do direito prescinde


da discussão sobre a boa-fé objetiva.

Ao contrário do exposto na questão, a definição de abuso de direito no art. 187 do CC exige


análise da boa-fé, além de outros elementos (bons costumes e fins econômicos e sociais).
Errado.

035. (CESPE/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-DFT/2019/ADAPTADA) Para a caracterização do


abuso do direito, basta o critério objetivo finalístico.

O conceito de abuso de direito previsto no art. 187 do CC exige a verificação do respeito aos
fins sociais e econômicos, à boa-fé e aos bons costumes (critério finalístico). Como não há
necessidade de perquirir culpa ou dolo, esse critério finalístico é objetivo, e não subjetivo. Daí
o enunciado n. 37 das JDC estabelece: “A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito

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independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico”. A questão seguiu


esse enunciado.
Certo.

036. (PREF. RONDONÓPOLIS-MT/PROCURADOR/2020/ADAPTADA) A responsabilidade ci-


vil decorrente do abuso do direito independe de culpa, e fundamenta-se somente no critério
objetivo-finalístico.

É o enunciado n. 37/JDC.
Certo.

037. (PREF. RONDONÓPOLIS-MT/PROCURADOR/2020/ADAPTADA) O abuso de direito é


uma categoria jurídica autônoma em relação à responsabilidade civil. Por isso, o exercício abu-
sivo de posições jurídicas desafia controle independentemente de dano.

O abuso de direito é um ato ilícito e, como tal, pode atrair várias reações (remédios) do ordena-
mento, como a responsabilidade civil, a invalidade (ex.: nulidade de cláusulas abusivas), as tute-
las inibitórias (obrigações de não fazer) etc. Veja este enunciado das Jornadas de Direito Civil:

Enunciado n. 539 da JDC


O abuso de direito é uma categoria jurídica autônoma em relação à responsabilidade civil.
Por isso, o exercício abusivo de posições jurídicas desafia controle independentemente
de dano.

Certo.

038. (CESPE/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-DFT/2019/ADAPTADA) Para a configuração do abu-


so do direito, é suficiente o reconhecimento da culpa em sentido estrito.

A culpa não é um requisito do abuso de direito, conforme art. 187 do CC.


Errado.

039. (CESPE/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-DFT/2019/ADAPTADA) Para a caracterização do


abuso do direito, há a necessidade da demonstração da existência de dolo por parte do agente.

O dolo não é um requisito do abuso de direito, conforme art. 187 do CC.


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Responsabilidade Civil – Parte I
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GABARITO
7. C 18. E 29. E
8. E 19. C 30. C
9. E 20. E 31. E
10. C 21. E 32. E
11. E 22. E 33. E
12. a 23. E 34. E
13. C 24. E 35. C
14. E 25. b 36. C
15. E 26. E 37. C
16. E 27. E 38. E
17. E 28. E 39. E

Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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