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INTRODUÇÃO

Quando o homem se propôs viver na colectividade herdou um conjunto de


problemas que sozinho não os possuía. Desde os primórdios da existência das
comunidades humanas face a um prejuízo sofrido exigia-se a reparação. Neste
sentido o nosso tema retrata sobre a “A responsabilidade objectiva à luz do
ordenamento jurídico angolano”. Pensamos enveredar por este desafio pelo
facto de que ainda temos uma comunidade que não encontra no ordenamento
jurídico a solução dos seus problemas, mas recorre muitas vezes à tradição local,
o que a nosso ver deve ser esclarecido até que ponto a responsabilidade deve ser
efectivada junto de um órgão jurisdicional.

Talvez as formas de reparar o dano não foram sempre as mesmas, nem tão
pouco os fundamentos da responsabilização, mas hoje existe uma ideia clara
sobre estes pressupostos. Neste contexto tivemos a oportunidade de escolher o
tema no sentido de apresentar de forma síntese até que ponto se pode falar em
responsabilidade civil objectiva.

É portanto, evidente que para que exista dano, necessariamente, deve


existir uma actuação anterior que deve ser provocada por uma pessoa física ou
pessoa jurídica. Isto representa o conjunto de relações que se estabelecem entre
os homens, assim a responsabilização pode ter várias origens, com base na
actuação do agente, ou da actividade que este exerce ou tem controlo.

O estudo do nosso tema foi sistematizado segundo uma metodologia


cronológica, que procurou estudar em primeira linha os fundamentos históricos
da responsabilidade civil, buscou-se em segundo plano o sentido da expressão
responsabilidade civil, procuramos tipificar, ou classificar a responsabilidade
civil e mostrar os pressupostos que determinam a efectivação da responsabilidade
civil. Depois procurou-se encontrar na ordem jurídica angolana, os fundamentos
da responsabilidade civil objectiva. Mostramos a metodologia utilizada, indo
para a conclusão e finalmente as referências bibliográficas.

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IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

Será que o ordenamento jurídico angolano, apresenta elementos normativos


que possam fundamentar a responsabilidade civil objectiva?

OBJECTIVOS DO ESTUDO

Objectivo geral

Estudar a responsabilidade civil objectiva na doutrina e na jurisprudência


angolana

Objectivos específicos

(1-) Conhecer a história da responsabilidade civil

(2-) Entender o conceito de responsabilidade civil

(3-) Fundamentar a responsabilidade civil no direito angolano

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

O estudo da responsabilidade civil é sempre um assunto que esta na


actualidade. Faz parte do quotidiano das pessoas, visto que todos nós estamos
obrigados a ter que estabelecer qualquer relação de qualquer natureza. Assim a
responsabilidade civil tem uma importância peculiar pelo facto de ser o meio
jurídico pelo qual qualquer pessoa pode recorrer no sentido de reaver o seu
direito prejudicado.

DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

O estudo terá por objecto analisar a eficácia jurídica sobre a


responsabilidade civil objectiva no ordenamento jurídico angolano

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DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS

Segundo Gonçalves, (2005, p. 41) “o vocábulo responsabilidade origina-


se do latim res-pondere que encerra a ideia de segurança ou garantia da
restituição ou compensação do bem sacrificado”.

Segundo, Stoco, (2004, p.120), [...] “pode-se dizer que a responsabilidade


civil traduz a obrigação da pessoa física ou jurídica ofensora de reparar o dano
causado por conduta que viola um dever jurídico preexistente de não lesionar
(neminem laedere) implícito ou expresso na lei”.

Designam-se como responsabilidade civil objectiva as situações em


que a constituição do sujeito em responsabilidade civil prescinde de
uma conduta culposa ou da prática de uma acto ilícito, podendo advir
mesmo da prática de um facto expressamente qualificado pela lei
como lícita.
(Prata, 2010, p. 1306)

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CAPÍTULO I

FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICO/CIENTÍFICA

1. GENERALIDADE SOBRE A RESPONSABILIDADE


CIVIL
1.1. Analisando os fundamentos históricos da
responsabilidade civil

A necessidade humana de ver reparado o dano causado no seu património


é inata, mas a forma da sua materialização foi variando ao longo da história, mas
tudo aponta que de início não havia regras, determinadas para se estabelecer o
quantum valia a reparação. Mas funcionava segundo a vontade do ofendido.
itálico sentido pode-se considerar a responsabilidade civil como um fenómeno
natural, isto é não dependeu de qualquer especulação científica, para a sua
afirmação, mas foi a ciência que teve de se afirmar a ele.

Num primeiro estágio de evolução histórica da responsabilidade civil,


comum a todos os povos, não se levava em consideração a culpa do agente
causador do dano, bastando, tão-somente, a acção ou omissão deste e o
prejuízo sofrido pela vítima para que aquele fosse responsabilizado. Nesta
época os costumes regiam as regras de convivência social, levando os
ofendidos a reagir de forma directa e violenta contra o causador do dano.
Essa acção lesiva do ofendido era exercida mediante a vingança coletiva,
caracterizada pela reação conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa
a um de seus componentes.

(Diniz, 2009, p. 11).


Tudo aponta que a responsabilidade civil existiu desde sempre. Mas,
surgiu de forma espontânea no grupo social, o que de certo modo, deve ser
considerado como acção directa ao dano sofrido. O homem tem um instinto
natural que o impele a reagir de forma imediata a qualquer agressão do meio. Se
nos colocarmos na época primitiva, quando ainda inexistia o Estado, certamente
que seria muito fácil entender que era mais viável actuar por mãos próprias, do

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que esperar que outra pessoa viesse resolver os nossos problemas. Foi pois com
este espirito que a vingança colectiva ou privada teve o seu início. Como ainda o
homem não tinha uma civilização exacta, foram os costumes locais, que
dominaram os métodos de reparação.

Segundo, Mazeaud (1981, p. 32) “historicamente, nos primórdios da


civilização humana, dominava a vingança colectiva, que se caracterizava pela
reacção em conjunto do grupo contra o agressor pela ofensa a um de seus
componentes”.

Portanto, a vingança colectiva era a forma mais adequada que as


comunidades primitivas adoptaram, no sentido de manter a coesão familiar. Veja-
se que o predomínio do grupo para a protecção de um dos seus elementos,
representa um espirito conservador do ambiente grupal. Assim, o agressor não
tinha como se defender, pelo facto de que a vítima tinha à sua disposição uma
força, que para além de agirem dentro do seu direito de reaver o dano causado,
excedia nessa reacção, podendo mesmo levar a situação além do dano. Havia
uma grande desproporcionalidade entre o que o agressor praticava e a reacção do
grupo.

A história da responsabilidade civil confundir-se-ia com a do próprio


homem, vez que assenta sobre uma das pilastras básicas do edifício do
direito privado, o princípio do neminem laedere. Entretanto, a vista dos
elementos conhecidos pode ser distribuída em períodos bem definidos
singularizados, por ideias que contribuíram para a construção do actual
aparato legislativo sobre a matéria.

(Bittar, 1985, p. 24).


É óbvio que a responsabilidade civil, por não possuir uma data exacta do
seu surgimento, encontra o seu substrato de existência na própria génese humana.
o que de certo modo indica que a responsabilidade existiu e existe com o homem.
É pois com este pensamento que se torna evidente que a sociabilidade deve ser
apontada como primeiro elemento do fenómeno indemnizatório. Isto resulta pelo
facto de que se olharmos o homem em estado de natureza, onde ainda não tem
contacto com nenhum outro homem, seria impossível ter que procurar uma forma

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de reparação, visto que não havia qualquer obstáculo que pudesse criar-lhe dal
dano. Isto se considerar o dano na vertente humana.

Segundo, Gonçalves, (2007, p. 56), “a vida selvagem não dava margem a


qualquer formalidade para que a vítima reagisse contra o agente causador do
prejuízo. O dano provocava a reacção imediata, instintiva e brutal do ofendido,
dominando, então, a vingança privada”.

Portanto, a vingança privada foi a primeira manifestação de reacção contra


o causador do dano, isto sucedia de forma bastante brusca, e, não havia
contrapeso, assim a vítima era brutalmente maltratado até onde chegasse a
vontade do ofendido, neste contexto não havia uma distinção entre a
responsabilidade civil e a responsabilidade penal, tudo se realizava segundo a
vontade do ofendido, da sua família ou do seu clã ou tribo. Contudo essa toda
desenvoltura de reparação praticada pelo homem primitivo, é considerado como
fase inicial, da responsabilização, dando mesmo uma empatia bastante grande,
pelo facto de como a vítima reagia. Podemos notar que todos os povos em
diferentes partes do planeta praticaram a retaliação, o que quer dizer que não
existe a indicação exacta do primeiro povo a ter que praticar esse instituto.

O talião, aplicado primeiramente pelos povos do Oriente Médio e depois


por outros que foram influenciados por eles, como os da bacia
mediterrânea (chegando à Roma do tempo da Lei das XII Tábuas, que é de
meados do século V a.C.), representou outro progresso, com a
reciprocidade que representava, entre ofensa e castigo – mesmo que hoje
pareçam chocantes preceitos como o contido no § 230 do Código de
Hammurabi (de começos do século XVIII a.C.), segundo o qual se a casa
construída ruísse e matasse o filho do proprietário, o filho do construtor
deveria ser morto.

(Noronha, 2007, p. 528).


Todavia, a doutrina tem identificado, os povos que mostraram as primeiras
civilizações, como sendo este os primeiros praticantes da retaliação. Veja-se que
a história registrou, efectivamente o médio oriente, como sendo a primeira
civilização humana, nestes se inclui o Egipto. As suas práticas, foram se
espalhando por toda região onde estes povos estabeleciam relações comerciais.
Mas isto não obsta a que outros povos também tenham praticado qualquer tipo de
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método para a reparação de um dano causado. Como Roma estabelecia várias
relações de comércio, com o oriente médio, então presume-se que foi ali onde
Roma se inspirou para elaborar a lei do talião.

Nos tempos primitivos, diante da lesão de um direito prevalecia o


princípio da vingança privada. A própria vítima ou seus familiares reagiam
contra o responsável. Quando surgiu a chamada pena de talião, olho por
olho, dente por dente, houve um progresso. Se, anteriormente, não havia
qualquer critério convencionado, a retribuição do mal pelo mesmo mal
estabelecia a medida da reparação. Esse critério, que surgiu
espontaneamente no meio social, chegou a ser consagrado por várias
legislações, inclusive pela Lei das XII Tábuas. A grande evolução na
matéria ocorreu com a composição voluntária, em que a vítima entrava em
acordo com o infractor, a fim de obter uma compensação pelo dano
sofrido. O resgate, que a vítima recebia, consistia em uma parcela em
dinheiro ou na entrega de um objecto. Tal critério foi institucionalizado
posteriormente e recebeu a denominação de composição tarifada. A Lei
das XII Tábuas estabeleceu o quantum ou valor do resgate. Com a Lex
Aquilia, inspirada na doutrina do pretor Aquiles, ocorreu um importante
avanço quanto à composição. Alem de definir mais objectivamente os
actos ilícitos, substituiu as penas fixas: o resgate deveria ser no valor real
da coisa.

(Nader, 2007, p. 345).


Se no princípio a vítima tinha legitimidade natural de fazer justiça por
mãos próprias, essa situação não permaneceu assim, sendo que aos poucos uma
entidade superior foi-se sobrepondo e edificando um corpo organizacional. A
vingança colectiva, representou um momento de descoberta das formas de
responsabilização. Quando surgiu a lei de talião, nada de novo foi trazido de
imediato pelo talião, mais simplesmente se reconheceu a legitimidade natural,
para a legitimidade formal. Talião dava os mesmos puderes que assistia a vítima
e ter que actuar contra o agressor na mesma proporção da agressão. Assim
podemos mesmo considerar talião como sendo muito agressivo, visto que quando
não havia talião a actuação das vítimas, parece-nos ser mais moderado em alguns
casos e agravados em outros, com o talião deve ser na mesma proporção, apesar
de ser quase a medida da pena, não valorizava a dignidade da pessoa humana.

Em sua fase inicial, inexistia diferenciação entre a responsabilidade civil e


a penal, aplicando-se a Lei de Talião. Não havia preceito genérico
prevendo a responsabilidade de quem causasse dano a outrem,

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prevalecendo a tipicidade das condutas, sem menção ao elemento culpa, o
qual era irrelevante para a caracterização da responsabilidade.

(Giordani, 2004, p. 5).


No entanto, com o surgimento da lei de talião veio legitimar a vingança
privada, mas não precisou os limites da actuação dos ofendidos perante o
agressor, de notar que durante a vigência da lei do talião, não existia
responsabilização que se baseasse uma determinada culpa, mas bastando para tal
o dano. Bastava a envolvência do indivíduo em uma conduta que de certo modo
provocasse danos na esfera privada de outrem, para se espoletar a figura da
retaliação. Nesta fase da desenvoltura da responsabilização tudo se confundia, no
sentido de que não havia nem responsabilização penal ou civil, como sucede
hodiernamente. Tudo era visto como responsabilidade e sempre era pessoal e
nunca patrimonial. Porque se atendermos no que sucede actualmente a
responsabilidade penal é pessoal, ao passo que a responsabilidade civil é
patrimonial.

A diferença entre o ilícito civil e o penal acentua-se nas consequências que


uma ou outra das violações acarreta: do ilícito civil deriva ou a execução
forçada, ou a obrigação de indemnização, ou de restituição, ou a
declaração de nulidade do acto; o ilícito penal, podendo produzir todos
esses resultados e consequências, provoca, além delas, uma consequência
especial, a pena. Numa palavra, o ilícito civil acarreta coação patrimonial e
o ilícito penal determina coação pessoal.

(Dias, 2006, p. 14).


É evidente a diferenciação entre a responsabilidade civil e a penal
actualmente, mas essa diferenciação não se fazia, nos primórdios da
responsabilização. Tudo se confundia, sendo sempre a vítima a ter que usar dos
seus meios para ver o seu direito reparado. Mas actualmente a responsabilidade
civil, assenta sobre as coisas, ao passo que a responsabilidade penal sobre as
pessoas. Essa construção diferencial, foi conquistado ao longo de um processo
lendo, que certamente veio dar enfase ao contexto actual.

Num primeiro estágio de evolução histórica da responsabilidade civil,


comum a todos os povos, não se levava em consideração a culpa do agente
causador do dano, bastando, tão-somente, a acção ou omissão deste e o
prejuízo sofrido pela vítima para que aquele fosse responsabilizado. Nesta

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época os costumes regiam as regras de convivência social, levando os
ofendidos a reagir de forma directa e violenta contra o causador do dano.
Essa acção lesiva do ofendido era exercida mediante a vingança coletiva,
caracterizada pela reacção conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa
a um de seus componentes.
(Diniz, Op. Cit., p. 11).

Portanto a responsabilidade em primeira linha tinha um pendor meramente


danoso, isto indica que não se especulava o agir humano, mas a causa do agir.
Nesta óptica de ideia se vislumbra um conceito básico de que se
responsabilizava, não só as acções humanas, como também qualquer dano que
viesse de um animal cujo dono fosse um homem. A reacção em grupo contra o
agressor era uma característica das comunidades primitivas, o que ainda hoje
acontece, quando um grupo da mesma família se une no sentido de cobrar a
reparação de um mal causado a um dos seus membros. Como podemos observar
a actuação colectiva, da família faz parte da ontologia humana. Neste sentido a
responsabilidade é uma consequência directa do dano, o que era relevante para os
antigos era o dano e não a conduta.

A história da responsabilidade civil entrelaça-se com a história da sanção.


O homem primitivo atribuía (e algumas tribos indígenas ainda o fazem), a
fenómeno da natureza punitiva, cominado por espíritos ou deuses. Nas
relações entre os homens, à ofensa correspondia a vingança brutal e
ilimitada, como se esta desfizesse a ofensa praticada.

(Barros & Lara, 2012, p. 68).


A doutrina considera que a sanção significou a mesma coisa que
responsabilidade e isto é verdade, uma vez que sancionar alguém, em termos
objectivo quer dizer responsabiliza-lo sobre determinada matéria ou facto. As
comunidades primitivas, possuíam os seus próprios dogmas e é evidente que
tenham fé na sua própria cultura, no sentido de que quem causasse dano a outrem
devia necessariamente ser responsabilizado de alguma maneira. Contudo a
reacção grupal, fazia parte dessa forma de tradição. Assim para eles a brutalidade
com que o grupo da vítima reagia contra o agressor, determinava de uma vez por
toda o dano sofrido.

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(…), O famoso princípio da lei de talião, de retribuição do mal pelo mal,
na verdade, é princípio da natureza humana, qual seja reagir a qualquer
mal injusto, perpetrado contra a pessoa, a família ou o grupo social. A
sociedade primitiva reagia com violência. O homem de todas as épocas
também o faria se não fosse reprimido pelo ordenamento jurídico.

(Venosa, 2010, p. 18).


A evidência da reacção com violência é constante em todos os tempos,
figura na mais alta qualificação do instinto humano. A lei do talião, não era uma
lei de valorização do castigo, mas impunha a medida igual do mal causado,
querendo mesmo enfatizar a morte em caso de o agressor ter causado a morte,
por parte da vítima. Veja-se que a lei do talião é a pura reacção bruta de
retribuição do mal pelo mal. No entanto, se o talião possuía essa característica, é
porque forjou-se nos costumes, como se não bastasse o Estado apenas fixou a
ideia reiterada e continuada que a comunidade praticava. Apesar de tudo isto o
talião veio revolucionar a reparação, pelo facto de que com o talião a vítima tinha
um limite de actuação, não sendo no entanto admitido excessos.

A reparação do mal pelo mal originou a pena de Talião, simbolizada pela


expressão olho por olho, dente por dente, na qual relevante era o facto de
se vingar (fase vindicta). Resquícios dessa responsabilização primitiva
podem ser encontrados no Código de Hammurabi instrumento legal no
qual nasceu a ideia de punir o causador do sofrimento e na Lei das XII
Tábuas.

(Lopes, 2003, p. 60).


Os primeiros documentos normativos conhecidos da antiguidade,
permeavam, uma ideia clara sobre a responsabilização ou a sanção. O agressor
deveria ser sancionado na medida do dano que tivesse causado. Os primeiros
extratos dessa norma é encontrado no código de Hammurabi, sendo um dos
escritos legislativo mais antigo que os romanos adoptaram. A expressão olho por
olho e dente por dente, expressa, um sentimento objectivo da responsabilização.
Neste contexto podemos verificar que antigamente nenhuma conduta causdora do
dano ficaria sem sanção. Este sentido a sanção era consequência directa do dano,
com um agravante, essa sanção pesava sobre o próprio agressor, só mais tarde é
que se estabeleceu a ideia de sacrificar os bens deste, passando a sanção sobre o
agressor em questões penais.

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Era a reparação do mal pelo mal, no que se estava falando em pura
vingança da vítima contra o ofensor pelo prejuízo ocasionado, sem que se
cogitasse de qualquer noção sobre culpa ou ressarcimento, no golpe pelo
golpe, como primeiro estágio ou a primeira forma de desagravo no seio
dos homens primitivos.

(Silva, 1974, p. 15).


Podemos notar que a fase primitiva, da responsabilidade civil, tinha uma
base essencialmente retributiva, no entanto inexistia a ideia de culpa, o que
representou um estágio bastante rudimentar, relativamente as situações
relacionadas com as questões de reparação do dano. É evidente que não havia
reparação, no seu verdadeiro sentido, mas sim a vingança grosso modo. A
vingança aparece sempre que seja a vítima a ter que fazer a justiça, esta prática
era normal perante a lei do talião. Isto demostra que durante a vigência do talião,
o Estado não tinha ainda um poder punitivo, deixando a sorte das vítimas, a
resolução concreta do facto.

O marco inicial da responsabilidade civil em Roma relaciona-se com


referido período, fazendo com que a retaliação, antes pertencente ao grupo
dominante, passasse a ser reconhecida e legitimada pelo Poder Público. É
a chamada vingança privada, ou vendetta. Vigorava a Lei de Talião,
sintetizada pela ideia de olho por olho, dente por dente. Bastava o dano
efetivamente sofrido pela vítima para provocar a reacção imediata,
instintiva e brutal do ofendido.
(Gonçalves, 2009, p. 4).

O poder público aparece como órgão regulador das relações sociais,


depois de muitos anos da existência do núcleo social. Neste contexto antes que o
estado aparecesse, para regular qualquer relação social, tudo se fazia segundo a
lei do mais forte. Assim foi o interesse primário da autoridade, legitimar este
interesse que anteriormente pertencia ao grupo, podemos no entanto entender que
a lei do talião, como norma, foi um avanço, mas como meio de resolução de
conflitos não. É neste sentido que considera-se que a responsabilização em Roma
teve seu ponto de partida na vingança privada ou colectiva.

A responsabilidade civil no direito romano tem seu ponto de partida na


vingança privada, forma primitiva, selvagem talvez, mas humana, da
reacção espontânea e natural contra o mal sofrido; solução comum a todos
os povos nas suas origens, para a reparação do mal pelo mal.

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(Lima, 1999, P. 19).
Este autor aponta uma realidade bastante convicta, uma vez que o ser
humano, tem uma capacidade de resposta imediata, a qualquer agressão do meio.
Quando se fala em vingança obviamente que está-se diante de uma verdade,
tendencialmente humana. É da génese do homem reagir a qualquer mal, sofrido,
pelo que a vingança privada ainda hoje se pratica, mesmo nas sociedades
consideradas civilizadas. Assim tudo indica que todos os povos tenham praticado
essa forma de reacção contra o mal sofrido.

A princípio, o dano escapava ao âmbito do direito, dominava a vingança


privada. Em um segundo passo, o uso consagra em regra jurídica o talião,
tendo-se apropriado o legislador da iniciativa particular, intervindo para
declarar quando e em que condições tem a vítima o direito de retaliação.
Em um terceiro momento, vem o período da composição, mais
conveniente do que cobrar a retaliação seria entrar em composição com o
autor da ofensa. Posteriormente, veio a concepção de responsabilidade, o
Estado assumiu, sozinho, a função de punir, surgindo a acção de
indemnização. A responsabilidade civil passou a ter lugar ao lado da
responsabilidade penal.

(Dias, 1994, p. 16).


Portanto, podemos enfatizar que a questão do dano sempre o ponto de
partida para a responsabilização e a culpa representa uma situação moderna,
razão pelo qual podemos mesmo afirmar que na antiguidade o direito no seu
verdadeiro sentido também não existia, assim a vingança privada era uma
cultura, uma tradição que na medida que o estado foi surgindo como autoridade
para regular as relações sociais, primeiro teve de observar os usos e legitima-los.

Segundo, Giordani, (2007, p. 5), «as legislações mais antigas, como o


Código de Hammurabi (2050 a.C.) e o Código de Manu (século XIII a.C.),
previam sanções baseadas na Lei do Talião, estabelecendo que o lesado pudesse
causar o mesmo mal ao agente responsável».

Todo manancial legislativo da antiguidade, previa de antemão, os


mecanismos de responsabilização. As sanções eram consoante o mal causado. Se
observarmos com muita atenção, nos apercebemos do facto de que o princípio do
talião, é a base essencial, para que se pudesse desenvolver todo manancial

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legislativo sobre a responsabilidade civil como penal. O facto de o ofendido ter
que causar o mesmo mal, que terá sofrido, fez com que a lei do talião fosse
considerada como lei da vingança colectiva.

O princípio do talião, encontrado com algumas variações de enunciados


nos códigos de Hamurabi de de Menu, bem como a lei mosaica e entre os
romanos na lei das XII tábuas, representa uma conquista civilizatória. De
facto, a mais conhecida fórmula do talião talvez seja aquela contida no
levítico (o que ferir qualquer dos seus companheiros, assim como fez,
assim se fará a ele, quebradura por quebradura, olho por olho, dente por
dente, qual for o mal que tiver feito, tal será o que há de sofrer.

(Rocha, Henriques Filho e Gazeta, 2007, p. 222).

O princípio do talião pode ser encontrado em vários escritos antigos, era a


expressão mais comum nos escritos bíblicos como sendo olho por olho, dente por
dente. Mas de entender que este princípio era desproporcional, relativamente a
medida da pena, visto que esta fase representou mais o pagamento do mal pelo
mal. O texto bíblico é mais preciso e concreto ao estabelecer os fundamentos do
talião, se o mal causado deve ser o mal a ter que sofrer, então o homem poderia
se acautelar mais nas suas acções, dando desta feita uma conjuntura relacional
mais satisfatória. Mas a maior conquista do talião foi o passo gigantesco, que se
deu, ao ser a autoridade estadual a indicar as linhas de segmento para a
responsabilização.

Para coibir abusos o poder público intervinha apenas para declarar quando
e como a vítima poderia ter o direito de retaliação, produzindo na pessoa
do lesante dano idêntico ao que experimentou. Na Lei das XII Tábuas
aparece significativa expressão desse critério na Tábua VII, lei 11ª Si
membrum rupsit, ni cume o pacit, tálio esto (se alguém fere a outrem, que
sofra a pena do Talião, salvo se existiu acordo). A responsabilidade era
objectiva, não dependia de culpa, apresentando-se apenas como uma
reacção do lesado contra a causa aparente de dano.

(Diniz, 2004, p. 10).


Portanto a responsabilidade primitiva era meramente objectiva, pelo que a
responsabilidade por culpa é uma situação moderna. Podemos ver que a lei das
Doze Tábuas prevalecia o acordo, como um meio de retirar a responsabilização
do agente. Apesar de o talião ser um meio violento de responsabilização, teve o
seu impacto social, porque foi determinante na avaliação do conteúdo da sanção.
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Isto implicava, sem qualquer método especulativo, observar-se o dano causado,
para que a vítima colocasse todas as suas energias, no sentido de ver este mal na
pessoa do agressor.

Neste período o Poder Público por vezes permanecia inerte, intervindo


apenas para declarar quando e como a vítima poderia ter o direito de
retaliação, para produzir no ofensor um dano idêntico ao que experimentou
Portanto, prevalecia no direito romano a responsabilidade objectiva,
fundada no princípio da equidade.

(Diniz, Op. Cit., p. 11).


É notório que durante a vigência da lei do talião, o poder público cuja que
não tinha nenhuma acção, face a qualquer situação entre os particulares. Neste
sentido o poder público era apenas um agente observador e poderia intervir em
casos em que a vítima extrapolava o princípio do talião, essencialmente quando
aplicava uma medida fora do dano sofrido. Assim se pode considerar que o
equilíbrio que a lei do talião trouxe, foi determinante para a estabilidade das
relações sociais.

[...] quando já existe uma soberana autoridade, o legislador veda à vítima


fazer justiça pelas próprias mãos. A composição económica, de voluntária
que era, passa a ser obrigatória, e, ao demais disso, tarifada. É quando,
então, o ofensor paga tanto por membro roto, por morte de um homem
livre ou de um escravo.

(Gonçalves, Op. Cit., p. 07).


Aos poucos o Estado foi modificando as formas de responsabilização, o
que representou a passagem lentamente vingança privada, para a composição
pública. Podemos no entanto entender que houve uma viragem, de
responsabilização pessoal, para a responsabilização patrimonial, a depender de
cada caso. Nesta época de desenvolvimento da responsabilidade o agente poderia
pagar em pecúnia, na medida das suas possibilidades. Mas a maior revolução em
termos de responsabilidade civil foi com a lex aquilia, que foi fundamental na
determinação, da responsabilidade pelo dano e da responsabilidade pela culpa.

A maior revolução nos conceitos jus-romanísticos em termos de


responsabilidade civil é com a Lex Aquilia, de data incerta, mas que se
prende aos tempos da República. Tão grande a revolução que a ela se
prende a denominação de aquiliana para designar-se a responsabilidade
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extracontratual em oposição à contratual. Foi um marco tão acentuado, que
a ela se atribui a origem do elemento ‘culpa’, como fundamental na
reparação do dano. A Lex Aquilia, bem assim a consequente actio ex lege
Aquilia, tem sido destacada pelos romanistas e pelos civilistas, em matéria
atinente à responsabilidade civil.

(Pereira, 1990, p. 8).


Portanto, a dinâmica da evolução do instituto da responsabilidade civil, foi
acompanhado tanto pelas sociedades como pela convergência antropológica das
raças, mas foi em certo modo em Roma onde o estandarte da afirmação do direito
deu seu mais elevado nível de aperfeiçoamento. Veja que com a Lex Aquilia,
houve um deslocamento, bastante grande parra que determinada pessoa fosse
chamada a responsabilidade. Nesta fase já era possível referir-se aos elementos
que estariam na base da responsabilização.

(...) foi um plebiscito aprovado provavelmente em fins do século III ou no


início do século II a.C., que possibilitou atribuir ao titular de bens o direito
de obter o pagamento de uma penalidade em dinheiro de quem tivesse
destruído ou deteriorado seus bens.

(Venosa, 2009, p. 17).


Foi um contributo da comunidade plebiscita, que tendo em atenção, as
atrocidades que a lei do talião propunha, e face a afastamento do impacto social,
que a responsabilização pessoal em vez de patrimonial dava, propôs-se um novo
paradigma, no sentido de responsabilizar as pessoas pela redução dos seus bens.
Assim quando a pessoa era detentor de determinados bens devias ser
responsabilizado, vendo seu património reduzido, mas se a pessoa não possuísse
tais bens era sacrificado de outra maneira.

Por volta do final do séc. III, a.c., um tribuno da plebe de nome Aquilius,
dirigiu uma proposta de lei aos conselhos da plebe, com vista a
regulamentar a responsabilidade por actos intrinsecamente ilícitos. Foi
votada a proposta, tornando-se conhecida pelo nome de Lex Aquilia. A
Lex Aquilia era na verdade plebiscito, por ter origem nos conselhos da
plebe. É lei de circunstâncias provocada pelos plebeus que desse modo se
protegiam contra os prejuízos que lhes causavam os patrícios, nos limites
de suas terras.

(Pereira, 1993, p. 234).

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A lex aquilia, foi uma homenagem, ao estudioso romano Aquilius, que foi
o protagonista da lei aquilia. Foi um projecto de lei que tendo como foco, a
protecção das propriedades da plebe, previa que quando um patrício causasse
danos a propriedade de um plebeu, fosse responsabilizado, na medida do dano
causado, mas sacrificando em contrapartida os seus bens. Dai surgiu a ideia
básica de que a responsabilidade civil, devia recair essencialmente sobre o
património. A proposta foi acolhida pela classe plebiscita, que depois de aprovar
enviou para a classe dos patrícios, que também acolheram a ideia e a
estabeleceram como lei. Foi uma conquista civilizacional, que pode ser
considerada como o momento mais importante de todo processo de evolução da
responsabilidade civil na antiguidade.

A Lex Aquilia veio a cristalizar a ideia de reparação pecuniária do dano,


impondo que o património do lesante suportasse os ónus da reparação, em
razão do valor da res, esboçando-se a noção de culpa como fundamento da
responsabilidade, de tal sorte que o agente se isentaria de qualquer
responsabilidade se tivesse procedido sem culpa. Passou-se a arbitrar o
dano à conduta culposa do agente.

(Diniz, 2011, p. 27).


Para muitos autores, a lex aquilia, também é responsável, pela
responsabilização pela culpa. Mais muitos dizem que não, porque em nenhum
momento esta lei fala sofre a culpa, tendo alguns escritos que nada têm a ver com
a culpa. Mas o mais interessante foi o facto da reparação pecuniária, o que ajudou
de certo modo entender que a responsabilidade quando civil, assenta no
património e se penal assenta na pessoa. Assim bastava que o agente agressor
tivesse património para que fosse de imediato levado a responder pelo dano por
meio deste património. A lex aquilia deu um impulso bastante grande, na
separação da responsabilidade civil e da responsabilidade penal.

Somente nos séculos que se sucederam à Idade Média (em especial o


século XVIII, durante o período do Iluminismo) é que houve a total
distinção entre a responsabilidade civil e penal, esta perante o Estado, com
imposição de penas, quando houvesse infração penal e aquela circunscrita
à sua função essencial de reparação de danos, no âmbito privado.

(Noronha Op. Cit., p. 528)

16
Passaram-se muitos anos em que a responsabilidade civil, quase que foi
esquecido, vindo a retomar a sua importância com o iluminismo. O iluminismo é
uma corrente filosófica, que tendo como fundamento um movimento intelectual
novo, que surgiu durante o século XVIII na Europa, que defendia o uso da razão
contra o antigo regime e pregava maior liberdade económica e política. As ideias
dos iluministas influenciou todo contexto social e com ela os fundamentos da
responsabilidade civil, foi então possível se esclarecermos quando é que a
responsabilidade civil era aplicada ou a responsabilidade penal. Foi um momento
determinante para se separar a responsabilidade civil fundada na culpa e no dano.

Já a Idade Moderna foi marcada pela mudança de paradigma no


fundamento da responsabilidade civil, que passou a se situar na quebra do
equilíbrio patrimonial causado pelo dano. Houve então uma transferência
do enfoque da culpa, como fenômeno centralizador da indemnização, para
o dano.

(Venosa, Op. Cit., p. 17).


Tudo indica que o fenómeno da responsabilidade civil, sofreu muitas
mutações, ora visto como direito civil do dano, que foi a primeira experiência
deste fenómeno, depois atendeu-se a culpa, devido a capacidade humana de fazer
alguma coisa, quando isto dependesse da vontade. A idade moderna é vista como
sendo o momento exacto em qua a determinação da responsabilidade civil por
culpa, veio a ser enfatizado com maior realce, visto que nesta fase houve muitas
mutações concerne a todo processo evolutivo do pensamento humano. Assim foi
possível distinguir em concreto entre a responsabilidade civil fundado no dano e
fundando na culpa.

A mudança de paradigma se deu principalmente em razão de alguns


factores como o surto do progresso, a industrialização e o aumento dos
danos, que levaram ao surgimento de novas teorias dentro da
responsabilidade civil, capazes de propiciar uma maior segurança às
vítimas. Daí o surgimento e estabilização da teoria do risco, vista sob o
aspecto objectivo, quando alguém sofre um dano, aquele que tira proveito
da actividade perigosa deve repará-lo, independentemente da existência de
culpa.

(Gonçalves Op. Cit., p. 09).

17
Como podemos notar o século XVIII, foi determinante, para se efectivar e
estabelecer os conceitos. Como se pode constatar, foi o período das luzes, em que
houve desenvolvimento em todos sectores da vida social. Como se não bastasse
também o direito seguiu essa dinâmica. No campo da responsabilidade civil este
enquadramento foi bastante ajuda a ponto de eliminar toda e qualquer
especulação relativamente a responsabilização que tivesse em conta o talião.
Podemos verificar que um dos fundamentos desta revolução no campo jurídico
foi a revolução francesa, que trazendo conceito bastante refinados sobre a
protecção da dignidade da pessoa humana, representou o fundamento, para que a
responsabilidade civil tivesse a estrutura que hoje tem.

O direito francês, aperfeiçoando pouco a pouco as ideias românticas,


estabeleceu nitidamente um princípio geral da responsabilidade civil,
abandonando o critério de enumerar os casos da composição obrigatória.
Aos poucos, foram sendo estabelecidos certos princípios, que exerceram
sensível influência nos outros povos, direito à reparação que houvesse
culpa, ainda que leve, separando-se a responsabilidade civil (perante a
vítima) da responsabilidade penal (perante o Estado); a existência da culpa
contratual (a das pessoas que descumprem as obrigações) e que não se liga
nem a crime nem a delito, mas se origina da negligência ou imprudência.

(Gonçalves, Op. Cit., p. 5).


Tudo aponta no facto de que o direito francês foi responsável para que
fosse possível abandonar os fundamentos romanísticos, dando desta maneira uma
linha modernizada das formas de responsabilização. Com o direito francês
colocou-se de lado toda e qualquer forma de composição voluntária, sendo agora
o Estado o único ente com capacidade para dirimir conflitos tanto no campo do
direito civil como no campo do direito penal. Assim no que concerne a
responsabilidade civil, o direito francês estabeleceu um critério médio, que
assenta sobre o agente causador do dano, deixando para segunda linha a
responsabilidade que encontrava sustentáculo no dano. Não queremos
obviamente enfatizar que a responsabilidade civil pelo dano foi abandonada pelo
direito francês, mas houve a necessidade de ver, quais as situações que se
enquadrariam no âmbito da culpa e quais no âmbito do dano. Houve uma
concreta diferenciação entre a responsabilidade penal, onde o ofendido
geralmente é o estado e a responsabilidade civil, onde o ofendido é um particular.
18
1.2. Significado geral de responsabilidade civil

O termo responsabilidade pode ter vários sentidos. Desde os primórdios


foi possível falar-se de responsabilidade com um sentido de ter capacidade de
cumprir com as nossas obrigações. Mais a raiz etimológica, certamente pode os
ajudar a entender até que ponto a responsabilidade pode ter um significado
ambíguo. Tanto pode entender a responsabilidade uma pertente social, como
numa vertente jurídica.

[...] o termo responsabilidade deriva do verbo latino respondere, de


spondeo, o qual correspondia à antiga obrigação contratual do direito
quiritário, romano, pela qual o devedor se vinculava ao credor nos
contratos verbais, por intermédio de pergunta e resposta spondesne mihi
dare Centum? Spondeo, ou seja, promete me dar um cento? Prometo.

(Azevedo, Diniz & Crispino, 2015, p. 56).

O termo latino respondere tinha uma conotação de relação contratual, mais


em sentido amplo responsabilidade pode ter um significado que indica o
comportamento de um indivíduo face a qualquer situação social, não apenas na
vertente contratual. Mas no âmbito jurídico a responsabilidade é o vínculo que
liga um agente causador de dano, ter a capacidade de reparar este dano. Neste
contexto a responsabilidade indica uma condição de coexistência pacífica,
quando cada pessoa se sinta evidentemente de ter que suportar as suas acções.

Segundo Abbagnano (2003, p. 855), “no âmbito filosófico,


responsabilidade é a possibilidade de prever os efeitos do próprio
comportamento e de corrigi-lo com base em tal previsão”.

Podemos notar que o sentido filosófico, tem um pendor mais abrangente,


porque privilegia o comportamento positivo de cada um poder prever os efeitos
do seu comportamento e consequentemente ter capacidade de responder por este
comportamento. Assim a responsabilidade representa uma situação de facto que
incide essencialmente no homem diligente, que tem a capacidade de entender e
responder pela sua conduta. As relações contratuais, é a capacidade de satisfazer
as exigências do contrato ou responder pelos danos do não cumprimento.

19
Segundo Stoco (2007, p. 111), “tanto pode ser sinônima de diligência e
cuidado, no plano vulgar, como pode revelar a obrigação de todos pelos actos
que praticam, no plano jurídico”.

No entanto a responsabilidade deve ser entendido, como uma forma de


comportamento, foi neste sentido que o autor acima se refere a responsabilidade
em sentido vulgar, para dizer que o dever de cuidado que cada pessoa deve ter,
no sentido de responder de orientar o seu comportamento segundo princípios
socialmente assetes. Assim a responsabilidade pode representar uma forma de
vida. Mas no campo jurídico a responsabilidade é tida como a condição
psicológica que cada pessoa tem ao assumir uma obrigação.

A expressão não surgiu para exprimir a obrigação de reparar um dano,


mas variou da expressão sponsio, da figura stipulatio, pela qual o devedor
confirmava ter com o credor uma obrigação que era, então, garantida por
uma caução ou responsor Por isto, o termo responsabilidade, inicialmente,
não se vinculava a ideia de compensação por um prejuízo causado, mas a
concepção romana de responsabilidade.

(Stoco, Idem, p. 112).


A responsabilidade representava a palavra dita. Isto implicava que o
devedor expressava junto do credor e outras testemunhas que tinha capacidade de
realizar o pagamento em tempo útil. No entanto, neste contexto a
responsabilidade nada tinha a ver com reparação de dano, mas ao facto de haver
um compromisso do devedor para satisfazer junto do credor a obrigação, sendo
para uma forma de expressar essa obrigação. Em Roma as palavras tinham um
significado bastante acabado, o que implicava o castigo ao devedor caso não
cumprisse sua palavra. Mas aos poucos a responsabilidade passou a ser tratado
como o meio jurídico que obriga qualquer indivíduo que tenha causado danos a
outrem a repará-lo.

[...] a responsabilidade civil, nós a diferenciamos da obrigação, surge em


face do descumprimento obrigacional. Realmente, ou o devedor deixa de
cumprir um preceito estabelecido num contrato, ou deixa de observar o
sistema normativo, que regulamenta sua vida. A responsabilidade nada
mais é do que o dever de indemnizar o dano.

(Limongi, 1977, p. 332).

20
A responsabilidade é a mesma coisa que indemnização. Assim a
responsabilidade surge a partir do momento em que uma pessoa em virtude de
sua acção ou omissão, cause danos fica imediatamente obrigado a reparar esse
dano. Neste sentido a responsabilidade civil é uma obrigação, que geralmente
sucede a não observância de um dever. Se nas relações contratuais, as partes tem
o dever de observar os trâmites do contrato, quando uma destas partes não
cumpre, obviamente que fica-lhe atribuído um dever de segunda ordem, que é o
dever de reparar o dano caso esse se tenha produzido.

Assim, a violação de um dever jurídico originário configura um ilícito


civil, que, quase sempre, gera um prejuízo a alguém, decorrendo daí um
novo dever jurídico, o de reparar o dano. Desta forma a “responsabilidade
civil é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano
decorrente da violação de um dever jurídico originário.

(Cavalieri Filho, 2009, p. 02).


Quando este autor aponta para um dever jurídico originário e sucessivo,
nos enquadra numa síntese de que a responsabilidade civil é sempre posterior.
Isto quer dizer que cada pessoa tem obrigações originários, que devem ser
localizados no relacionamento constante e ininterrupto e na observância dos
fundamentos jurídicos que norteiam e protegem a dignidade da pessoa humana.
todas estas obrigações ou deveres são originários, mas quando não se atende ou
se observa esses deveres ou obrigações, surge o respectivo dever secundário, que
é de reparar o dano, que certamente o descumprimento do dever originário tenha
causado a terceira pessoa. A responsabilidade civil, é o dever jurídico que se
impõe a uma pessoa de eliminar os prejuízos que uma pessoa sofreu em virtude
da sua conduta.

Com efeito, a responsabilidade expressa o comportamento do homem em


face de uma obrigação ou dever, isto é, traduz a posição daquele que não
executou o dever diante do qual se encontrava, qual seja, o de respeitar as
normas impostas pela convivência social. Nesta seara, a responsabilidade,
em seu sentido lato, pode resultar da violação de normas morais e de
normas jurídicas.

(Marton, apud Dias, OP. Cit., p. 5).

21
É evidente que a responsabilidade civil, diz respeito a toda e qualquer
situação social, que possa provocar uma redução na esfera jurídica de outrem.
Não importa se essa redução resulte de uma norma moral ou jurídica, mas
interesse o prejuízo causado e a pessoa que o causou. A responsabilidade civil
pode ser resultado da violação tanto de normas morais, como de normas
jurídicas. Neste contexto a responsabilidade civil é consequência directa da
violação de uma norma, mas é necessário que essa violação provoque danos.

Em sentido amplo, responsabilidade civil, tanto significa a situação


jurídica em que alguém se encontra de ter de indemnizar outrem quanto a
própria obrigação decorrente dessa situação, ou, ainda, o instituto jurídico
formado pelo conjunto de normas e princípios que disciplinam o
nascimento, conteúdo e cumprimento de tal obrigação. Em sentido estrito,
designa o específico dever de indemnizar nascido do facto lesivo
imputável a determinada pessoa.

(Amaral, 1998, p. 531).


Podemos no entanto reter que a responsabilidade civil se estudado no
sentido amplo, representa tanto a obrigação de reparar um dano causado, como o
conjunto de normas jurídicas que governam os fundamentos da
responsabilização. Assim a responsabilidade civil, é um fenómeno social, que
tem uma função meramente conciliadora, isto é busca reconfortar a desarmonia
criada pelo facto danoso. Uma situação que muitas vezes domina a
responsabilidade civil hodiernamente é a imputabilidade, isto implica que não
basta que o indivíduo provoque dano, mas que tenham capacidade de culpa, no
sentido de responder pelos seus actos.

Segundo, Costa, (2009, p.473) “a responsabilidade civil ocorre quando


uma pessoa deve reparar um dano sofrido por outra. Constitui uma fonte das
obrigações baseada no princípio do ressarcimento dos danos”.

A reparação do dano que uma pessoa tenha sofrido, constitui o culminar


ou limite, da responsabilidade civil. A responsabilidade civil, pode sim
representar uma fonte das obrigações, uma vez que pela responsabilidade civil,
uma das partes assume a categoria de credor e a outra de devedor. É credor neste
sentido a pessoa que sofreu danos e que espera que o causador deste dano o

22
indemnize. E é devedor o agente que se encontra na posição passiva, que assume
a posição de indemnizador. Para muitos autores que nós corroboramos não existe
obrigação de reparar se não houver dano.

Enquanto a responsabilidade civil ou patrimonial, no campo jurídico,


consiste na obrigação imposta, em certas condições, ao autor de um
prejuízo, de reparar este prejuízo, quer em natura, quer em seu equivalente,
a contrário sensu, a irresponsabilidade jurídica consiste, precisamente, no
estado de intangibilidade, característico da entidade que causa danos, mas
que, por qualquer motivo, não é obrigada a repará-lo. Opõe-se, desse
modo, a responsabilidade à irresponsabilidade.

(Cretella Júnior, 2002, p. 57).


A responsabilidade ocorre de duas formas essenciais, ora em natura, que
consiste em colocar o lesado uma situação equivalente, em que o mesmo se
encontrava antes do dano. A reparação em natura, quer dizer que o lesado lhe é
atribuído a mesma coisa que perdeu com a lesão. A reparação em seu
equivalente, geralmente é a chamada reparação em espécie, onde a reparação
acontece por meio da pecúnia, isto é haverá uma conversão do dano em dinheiro.
Se existe uma responsabilidade, certamente que há também a irresponsabilidade,
mesmo que a pessoa tenha causado dano, é o sucede que não se provarem outros
elementos essenciais para se justificar a responsabilidade, é o caso da culpa, por
exemplo na responsabilidade civil por culpa.

Juridicamente, a noção de responsabilidade também envolve o sentido


geral de obrigação, encargo, dever, compromisso, sanção, imposição,
apenas se cogita de responsabilidade jurídica quando há obrigação,
decorrente de compromisso ou acto praticado. Essa seria a distinção
fundamental entre responsabilidade civil e a responsabilidade moral, essa
ultima muito mais ligada ao campo das ideias, das regras morais impostas
pela sociedade. Ou seja, em princípio, toda actividade que acarreta um
prejuízo gera responsabilidade ou dever de indemnizar. [...] Os princípios
da responsabilidade civil buscam restaurar um equilíbrio patrimonial e
moral violado.

(Venosa, 2006, p. 01).


A responsabilidade no campo jurídico, pode ser interpretada de diferentes
maneiras. É uma obrigação, no sentido de ser um meio de obrigar uma pessoa a
responder pelos danos que a sua conduta tenha provocado a outrem. Também
pode ser vista como uma sanção, porque procura-se com a reparação sancionar o
23
agressor, no sentido de ele ter consciência de que se da próxima vez cometer o
mesmo comportamento poderá reparar novamente, sendo neste sentido uma
prevenção especial, visto que incide directamente na pessoa do infractor. Para
que haja responsabilidade é necessário que existe um dever a prior, que constitui
o consequente do dever de indemnizar. Veja-se que a responsabilidade civil,
incide sobre os bens do agressor, ao passo que a responsabilidade moral incide
sobre a consciência do agressor.

A responsabilidade civil parte do posicionamento que todo aquele que


violar um dever jurídico através de um acto lícito ou ilícito, tem o dever de
reparar, pois todos temos um dever jurídico originário o de não causar
danos a outrem e ao violar este dever jurídico originário, passamos a ter
um dever jurídico sucessivo, o de reparar o dano que foi causado. O acto
jurídico é espécie de facto jurídico.

(Cavalieri Filho, 2008, p. 2).


A responsabilidade civil, tanto pode surgir por meio de uma facto lícito
como de uma facto ilícito. São facto lícito geradores de responsabilidade civil,
aqueles que acarretam uma perigosidade muito grande, apesar de ser uma
actividade não proibida. É o caso paradigmático do facto de conduzir um
automóvel. Geralmente quando a responsabilidade nasce do facto lícito, diz-se
que é uma responsabilidade pelo risco. A responsabilidade por factos ilícitos é
aquela em que o agente não atende um princípio jurídico, que tutela um direito
subjectivo de outrem. A responsabilidade ilícita é baseada na culpa do agente.

Responsabilidade Civil é a expressão usada na linguagem jurídica para


diferenciá-la de outros tipos de responsabilidade, como a criminal, a
administrativa, a trabalhista, etc. Designa responsabilidade civil o dever de
reparação do dano injustamente causado a outrem, como provém da velha
máxima romana inserta no neminem laedere (não lesar a ninguém). A
responsabilidade civil é o tipo de responsabilidade que se apura para que
se possa exigir a reparação civil como pena imposta ao agente ou
responsável pelo acto ilícito com a indemnização do dano ou
ressarcimento das perdas ou prejuízos trazidos à pessoa vitimada pelo acto
ou omissão de alguém. A reparação civil é o resultado da responsabilidade
civil por dano de qualquer espécie com relação ao mal causado pela ofensa
à pessoa ou à coisa. É a reparação, no mundo moderno, sucedâneo à antiga
satisfação da vítima pela vingança ou, como fixava a Lei das XII Tábuas, a
retribuição do mal pelo mal.

(Melo, 2006, p. 149).

24
Portanto a responsabilidade civil, como meio de encontrar um equilíbrio
entre o causador do dano e o agente que tenha sofrido este dano, coloca-se no
mais alto nível de harmonização dos agentes sociais. Podemos no entanto
observar que a responsabilidade civil, é a única responsabilidade que incide sobre
o património do agressor, porque tem uma função reparadora, isto indica que
com a responsabilidade civil não se busca qualquer outra coisa, senão trazer o
status quo antes, que a vítima tenha sofrido. Se a princípio a responsabilidade era
entendida como a reparação do mal pelo mal, hodiernamente a responsabilidade é
entendida como o meio-termo de resolver os conflitos, onde geralmente uma das
partes tenha sofrido um prejuízo em função da conduta de outra. Assim a
responsabilidade civil, representa o próprio mecanismo indemnizatório em
concreto do dano causado.

1.3. Tipificação de responsabilidade civil

A tipificação da responsabilidade civil, encontra uma conotação muito


divergente, isto acontece porque cada autor aponta para uma classificação que a
seu ver se adequa a realidade social e a interpretação inter sociológica, assim
como os preceitos que norteiam as relações sociais de cada época. Mas apesar de
existir este pequeno equivoco, na equacionação da responsabilidade civil, muitos
são os autores que incidem sobre os mesmos tipos de responsabilidade, que se
consubstancia em responsabilidade civil contratual e não contratual e ainda a
responsabilidade civil subjectiva e responsabilidade civil objectiva, isto quando
aos seus fundamentos.

O dever jurídico pode surgir da lei ou da vontade dos indivíduos. Neste


último caso, os indivíduos criam para si deveres jurídicos, contraindo
obrigações em negócios jurídicos, que são os contratos e as manifestações
unilaterais de vontade. Se a transgressão se refere a um dever gerado em
negócio jurídico, há um ilícito negocial comumente chamado ilícito
contratual, por isso que mais frequentemente os deveres jurídicos têm
como fonte os contratos. Se a transgressão é pertinente a um dever jurídico
imposto pela lei, o ilícito é extracontratual, por isso que gerado fora dos
contratos, mais precisamente fora dos negócios jurídicos.

(Lyra, apud Cavalieri Filho, 2004, p. 37).

25
Quando se procura enquadrar a responsabilidade civil, em contratual e
extracontratual, tem-se em atenção a essência do agente agressor. Na responsabilidade
contratual, existe uma pré-relação entre as partes. Isto quer dizer que nas relações de
contrato, viola-se uma obrigação contratual, que é do conhecido imediato das partes,
visto que são as mesmas que traçam e estipulam essas regras, que decorrem do princípio
da autonomia da vontade, onde as partes são livres em traçarem a lei que vai reger o
contrato. Quando um contraente não observa aquilo que ele próprio se propôs a cumprir,
obviamente que comete um ilícito contratual, como tal a responsabilidade também é
contratual. Todo homem encontra-se vinculado a um dever geral de abstenção, isto é de
não violar direitos de outrem, este dever geral de abstenção implica necessariamente
que entre as partes não há qualquer contacto anterior a conduta danosa, a falta deste
contacto anterior, dá o nome a responsabilidade como sendo extracontratual.

Segundo, Costa, (2008, p. 90), “as espécies de responsabilidade são: a


responsabilidade contratual, a responsabilidade extracontratual, a
responsabilidade subjectiva e a responsabilidade objectiva”.

Portanto, ao se apontar a responsabilidade civil contratual, está-se diante


de uma situação comum das relações humanas, que por natureza se obrigam uns
aos outros no sentido de poderem satisfazer determinadas necessidades humanas,
que sem a intervenção de terceiros seria impossível satisfaze-los. Neste âmbito a
responsabilidade civil contratual é aquela que ocorre por incumprimento de um
contrato. A responsabilidade civil extracontratual tem outro fundamento, o não
contrato, isto quer dizer que a responsabilidade é originária.

Existem doutrinalmente diferentes classificações e distinções de


responsabilidade. Em termos gerais podemos sintetizar que consoante a
modalidade de incumprimento de certos tipos de obrigações podem
resultar consequências especiais. Se o incumprimento é ilícito a lei
determina que seja o lesante a suportar os prejuízos que cause ao lesado. É
o caso da responsabilidade civil por actos ilícitos, (responsabilidade civil
extra-contratual ou contratual, cujo regime esta previsto respectivamente
nos arts.483 e ss e 762 e ss do CC. Se o incumprimento de determinada
obrigação é lícita ou justificado trata-se de responsabilidade objectiva
também denominada por responsabilidade pelo risco o qual se encontra
prevista nos arts.499 e ss do CC. Este de responsabilidade civil tem origem
na constatação de que ocorrem danos independentemente de culpa. Teve
inicio na analise de acidentes de caminho-de-ferro, na confirmação de

26
existência de actividade perigosas em si mesmas e foi alargada aos
acidentes de trabalho e acidentes de viação terrestre.

(Matos, et. al., S/d, p. 256).


Em termos objectivos o nosso código civil, estabelece dois tipos de
responsabilidade civil, como acima se vê, mas mister destacar que a
responsabilidade civil fundada na culpa pensam nós que seja o foque da questão,
visto que a culpa tem sido a base das discussões para que efectivamente se
concretize o fenómeno da indemnização, porque afinal de conta responsabilidade
civil tem o mesmo alcance de indemnizar. Quando a responsabilidade civil sem
culpa apesar de caber na esfera jurídica da responsabilização, queremos trazer
aqui uma parte que talvez tem vindo a escapar, o caso da pessoa que dirigem em
termos concreto essa actividade.

Existem duas teorias que procuram explicar a razão de ser da


responsabilidade civil. A primeira é a teoria subjectiva, aplicada como
regra. Subjectiva porque parte do elemento subjectivo, culpabilidade, para
fundamentar o dever de reparar. Assim, só será responsável pela reparação
do dano aquele cuja conduta se provasse culpável. Não havendo culpa ou
dolo, não há que falar em indemnização. Na acção reparatória devem estar
provados pela vítima a autoria, a culpabilidade, o dano e o nexo causal. A
segunda teoria tem como fundamento não o elemento subjectivo
culpabilidade, mas o elemento objectivo dano, para ela basta haver dano,
para que sobrevenha o dever de reparar.

(Fuiza, Sá e Naves, 2003, p. 726).


É notório o contraditório entre as duas correntes, mas cada uma tem a sua
base de sustentabilidade, se fossem somente responsabilizado aquelas acções que
dependessem da culpa do agente, obviamente que muitas situações da vida
ficariam a mercê da responsabilização. Como também se fossem apenas
responsabilizadas todas acções independentemente da culpa, tendo como suporte
o dano, estaríamos perante situações de força maior e a quem seria chamado a
responsabilizar. Então entendemos que seja necessária a conciliação dos dois
elementos, dano e culpa.

Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objectiva é a


teoria do risco. Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma actividade
cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda
que sua conduta seja isenta de culpa. A responsabilidade civil desloca-se da

27
noção de culpa para a ideia de risco, ora encarada como “risco-proveito”,
que se funda no princípio segundo o qual é reparável o dano causado a
outrem em consequência de uma actividade realizada em benefício do
responsável (ubi emolumentum, ibi ónus); ora mais genericamente como
“risco criado”, a que se subordina todo aquele que, sem indagação de culpa,
expuser alguém a suportá-lo.

(Gonçalves, Op. Cit., p. 49).


No entanto, a responsabilidade civil objectiva, tendo como fundamentação
teórica a noção, de risco, querendo com isto dizer que a responsabilidade civil
objectiva, não há uma acção directa do agente que tem a obrigação de
indemnizar, mas sim uma relação perfeita da causa do dano. É bem sabido que
toda actividade humana represente um risco para terceiros, mas que a são
responsabilização requer que essa actividade colida com interesses alheios, no
sentido de causar prejuízos passíveis de reparação.

Essa dualidade seria um reflexo de um dos pilares do Estado Liberal,


segundo o qual a liberdade dos indivíduos, bem como a estipulação de
restrições e sanções ao exercício dessa liberdade, somente poderia ter por
fonte, ou um acto de autonomia privada ou uma regra legal, geral e
abstracta.

(Couto & Silva, 1997, P. 199).


A edificação da responsabilidade civil, obedeceu, um conjunto de
parâmetros, sendo que o liberalismo foi em parte determinante para a distinção
da responsabilidade civil contratual e extracontratual. Isto implica que a partir do
momento em que o estudo da liberdade pessoa na concretização dos contratos
passou a ser interpretado segundo o princípio da autonomia da vontade, permitiu
um avanço, significativo, na diferenciação dos dois tipos de responsabilidade
civil. A responsabilidade contratual encontra o seu sustento nas relações de
contrato, isto indica desde já que o contrato como fonte das obrigações, as
estipulações que as partes se propuserem constitui lei entre as mesmas, sendo que
a violação representa um ilícito contratual. Mas de entender que as relações
humanas não se resumes nos contratos, havendo um campo mais vasto de
relacionamento, que abarca todas relações de facto que podem ser encontrados
fora do âmbito contratual. Uma destas formas de compreender o relacionamento
é o conhecimento da lei, que protege, os direitos subjectivos de terceiros. Assim a

28
dicotomia responsabilidade civil contratual e extracontratual se afigura mais
consentâneo por ser as duas formas que se verificam no relacionamento entre as
pessoas.

O contrato é um instituto muito antigo nas relações humanas. Queremos


mesmo arriscar na ideia concreta de que o contrato existiu no tempo em que o
homem vivia em estado de natureza, depois acompanhou toda evolução da
história da humanidade, até ter a estrutura que tem hoje. Se atendermos as formas
da sua efectivação, em cada época o contrato teve uma forma, mas actualmente o
que vigora nos contratos é o princípio da autonomia da vontade, isto é o direito
cedeu espaço as partes no sentido de serem eles mesmo a determinar o conteúdo
do contrato e nas formas do seu cumprimento.

A responsabilidade será contratual quando: (...) quando tiver origem na


mora ou inadimplemento de uma obrigação derivada de um negócio
jurídico, seja unilateral ou bilateral. Referida modalidade de
responsabilidade civil baseia-se no dever de resultado, o que acarretará a
presunção da culpa pela inexecução previsível e evitável da obrigação
nascida da convenção prejudicial à outra parte.

(Rossi & Rossi, 2007, p. 16).


A responsabilidade contratual é consequência directa do inadimplemento
no cumprimento de uma obrigação. Nos contratos existe maior sentimento moral,
visto que os contraentes devem observar de forma espontânea, aquilo que
livremente celebraram. Olhando para o preceito do art.405º do CC, determina
que as partes dentro dos limites da lei têm a faculdade de fixar livremente o
conteúdo dos contratos, celebrar contratos, com conteúdo deferente daqueles que
a lei estipula, mas que fruto do princípio da autonomia da vontade, que se
encontra no art.398º do CC, onde se estabelece a ideia básica, contudo as partes
fixam o conteúdo positivo ou negativo. Vejamos que a obrigatoriedade do
cumprimento do contrato para além de ter um pendor moral, encontra um
enquadramento legal se atendermos ao art.406º do CC, onde se exige que o
contrato de ser cumprido pontualmente, e só haverá modificação ou extinção do
mesmo por mútuo acordo.

29
Segundo Ulpiano apud Rizzardo, (2006, p. 5), “est pactio duorum
pluriumve in idem placitum consensus”, isto é o mútuo consenso de duas ou mais
pessoas sobre o mesmo objecto”.

Como podemos ver nas palavras de Ulpiano, que é uma ideia muito antiga,
o contrato sempre foi tratado como um mútuo consenso. Se existiu um mútuo
consenso, entre duas pessoas, necessariamente cada uma destas partes tem
deveres e obrigações, o que efectivemente representa que o cumprimento deve
ser efectivado em tempo útil. Quando não se cumpri a obrigação, obviamente que
pode acarretar danos, sendo portanto eminente que seja reparado este dano.

Segundo, Nalin, (Op. Cit., p. 64), “a responsabilidade contratual também


dita de negocial ou obrigacional, consiste justamente na violação de um dever
contratual, previamente estabelecido em contrato que não deve ser quebrado
pelo sujeito contratual”.

Os contratos criam entre as parte uma obrigação objectiva. Isto significa


que nos contratos, as partes se vinculam a sua própria vontade, sendo que o
incumprimento pode indicar uma falta de respeito contra si mesmo. Assim a
responsabilidade contratual ou negocial, surge justamente pelo facto de que uma
das partes não cumpri voluntariamente o que foi estabelecido no contrato. O
princípio dos contratos para além de dar espaço para as partes celebrarem
livremente, também exige que este conteúdo fosse cumprido livremente, senão, a
parte que não observou a responder de forma extra, por via de indemnização.

Segundo, Moura, (2009, p. 38), “como o contrato estabelece um vínculo


jurídico entre os contraentes, costuma-se também dizer que na responsabilidade
contratual já existe uma relação jurídica entre as partes”.

Se na responsabilidade extracontratual diz-se que não existe nenhum


vinculo anterior a responsabilização, no responsabilidade contratual, as partes se
conhecem, perfeitamente, o que obviamente que ajuda na identificação das partes
e saber de imediato quem é responsável. Aponta-se que a relação jurídica
contratual, seja de qualquer natureza, pode encaminhar-se para a

30
responsabilidade, bastando que haja inadimplemento, ou mora no cumprimento
da obrigação. Todo atraso que se possa verificar no cumprimento de qualquer
contrato, traz um prejuízo a contraparte, sendo este prejuízo o fundamento da
indemnização.

Simplesmente, a expressão responsabilidade obrigacional é equívoca, por


não fazer uma destrinça entre o dever de prestar tendente do cumprimento
da obrigação, e o dever de indemnizar, correspondente ao seu não
cumprimento, além de não ser inteiramente líquida a aplicabilidade de
todo o regime da responsabilidade proveniente do não cumprimento das
obrigações negociais à violação das obrigações provenientes de outra
fonte.

(Andrade, 1974, p. 127).


Portanto a responsabilidade contratual, é toda aquela responsabilidade
forjada, nas relações de contrato. O rompimento de uma obrigação contratual,
pode ser determinante para provocar prejuízo a contraparte, o que certamente,
deve ser a parte causadora deste dano a ter que restituir este prejuízo. Assim a
responsabilidade contratual, tem uma dependência da existência entre as partes
uma relação negocial, isto implica que entre as partes, a obrigação de indemnizar
não surge do nada, não representa uma continuidade da relação jurídica.

Em todo processo de negociação, as partes se comprometem,


pessoalmente e observar um conjunto de ditames, que constitui as linhas mestras
da concretização do contrato. Isto implica que os sujeitos contratuais, estão
vinculados a uma norma, criada por eles mesmos. A liberdade contratual como
corolário, das obrigações contratuais, não dá legitimidade a nenhuma das partes
em incumprir, aquilo que as partes acordaram, no sentido de efectivar-se o
contrato. Assim a relação de contrato assume uma linhagem, que se afigura como
um tipo de relação em que as partes são responsáveis pela criação do conteúdo,
que os poderá na mesma seara obriga-los a indemnização em caso de infracção
dessa norma.

A responsabilidade contratual se oriunda de inexecução de negócio


jurídico bilateral ou unilateral, resulta, portanto de ilícito contratual ou seja
de falta de adimplemento ou da mora no cumprimento de qualquer
obrigação. É uma infracção a um dever especial estabelecido pela vontade

31
dos contraentes, por isso decorre de relações obrigacionais preexistentes e
pressupõe capacidade para contratar.

(Diniz, 1995, p. 110).


A responsabilidade contratual é vista como uma responsabilidade que não
se impõe, porque são as partes que devem, tal como se obrigaram a contratar, a
terem que observar o que se propuseram a cumprir com o contrato. É óbvio que a
responsabilidade geralmente surge da mora, ou do adimplemento na satisfação
das obrigações contratuais. Quando se diz que a responsabilidade contratual
pressupõe uma relação preexistente, significa que entre as partes em conflito no
sentido de buscar a reparação do dano provocado, já se conheciam, uma vez que
celebraram um negócio contratual, e segundo o preceito da liberdade contratual,
chegaram a um acordo, que na hora das tratativas, era favorável as partes, mas
que no decorrer da relação contratual, uma destas partes se inzoneira, sem que
para tal informe em tempo oportuno da sua condição a outro contraente, criando-
lhe desta forma transtornos avultados e perdas.

Segundo Neto, (2002, p. 49), “é chamada de responsabilidade


extracontratual ou aquiliana quando o acto ilícito não deriva de nenhum
contrato”.

A responsabilidade extracontratual, surge quando um agente descumpre o


dever geral de abstenção, que consiste em respeitar o direito alheio,
independentemente de conhecer tal direito ou não, por ser um direito que
encontra protecção legal. Numa lógica, mais esclarecedora a responsabilidade
civil extracontratual, tem um pendor meramente culposa. A vida prática ensinou-
nos que todos temos obrigações dever, neste contexto a observância de forma
escrupulosa dos direitos e liberdades de outrem constitui base essencial, para a
boa convivência social. Quando uma pessoa não observa essa ordem normativa e
consequentemente provoca danos a outrem, obviamente que deve ser chamado a
reparar.

Segundo Diniz, (2003, p. 427), “a responsabilidade delitual ou aquiliana


decorre de violação legal ou seja de lesão a um direito subjectivo ou da prática

32
de um acto ilícito, sem que haja nenhum vínculo contratual entre lesado e
lesante”.

Para que ocorra a responsabilização extracontratual ou aquiliana, basta que


o agente indemnizador, desrespeite um princípio normativo, que tutela em
concreto um direito subjectivo, ou qualquer outro ilícito, fora do âmbito
contratual. Portanto a responsabilidade delitual, resulta certamente de actos
culposos, violadores de direitos alheios ou de interesses juridicamente tutelados,
desde que essa violação tenha como efeito último um prejuízo concreto. Na
responsabilidade civil o dano nunca deve ser especulativo, mas a culpa ainda tem
essa característica. Assim a responsabilidade aquiliana, é aquela que foi
fundamentada por Aquilius, dando enfase, todas aquelas situações da vida em
que entre o lesante e o lesado não houve um contacto anterior a lesão.

Se o facto toma em consideração o valor moral e social do acto feito, a


responsabilidade é dita subjectiva. O juiz deve com efeito, para
determinar, analisar a conduta do autor do acto. Aquele que está em falta
será condenado à reparação. Se ao contrário o juiz busca unicamente a
pessoa capaz de assegurar a reparação e a condena somente porque o dano
é sobrevindo em certas condições, sem que existisse lugar de apreciar sua
conduta, a responsabilidade é dita objectiva. Condenar-se-á aquele que
criou o risco. Estas expressões não são muito claras, a de responsabilidade
objectiva é imaginada por oposição à de responsabilidade subjectiva e não
é eficaz, mas elas são consagrados pelo costume.

(Neto, 2008, p. 43).

Outro problema com que de tem deparado a doutrina é o paradigma, entre


responsabilidade subjectiva e responsabilidade objectiva. A responsabilidade subjectiva,
encontra repousada na culpa, isto é no elemento volitivo da conduta. Esta
responsabilidade surgiu numa época em que se mostrou necessário assentar, os
fundamento do comportamento humano no seu livre arbítrio, portanto a
responsabilização com base nesta teoria deve assumir uma orientação metodológica que
exigem do lesado trazer junto do órgão jurisdicional provas contundentes que sejam
suficiente de fundamentar essa culpa, caso contrário o lesado fica com os seus danos e
suporta-os sozinho.

33
Segundo, Soares, (1996, p.36), “a responsabilidade civil subjectiva se
baseia na capacidade de entendimento ético-jurídico e determinação volitiva,
adequada, que constitui pressuposto necessário para aplicação de determinação
sanção”.

Podemos no entanto reter que a responsabilidade subjectiva, deve ser


sempre declarada por um juiz, visto que necessita de uma avaliação que não
devem ser as partes a determinar tal capacidade. A capacidade de culpa que
constitui fundamento para a responsabilização subjectiva, é um conjunto de
valorações que dependem em grande medidas de determinados condicionalismos,
que podem resultar destes as questões éticas como jurídicas. Esta ideia foi
forjada, no sentido de separar todas situações que mesmo sejam praticados pelo
homem, não foram motivados, dando desta forma enfase a teoria da imputação
objectiva como determinante na valoração da conduta.

A doutrina objectiva, ao invés de exigir que a responsabilidade civil seja


resultante dos elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo de
causalidade entre uma e outro) assenta na equação binária cujos pólos são
o dano e a autoria do evento danoso. Sem cogitar da imputabilidade ou
de investigar a antijuridicidade do facto danoso, o que importa para
assegurar o ressarcimento é a verificação se ocorreu o evento e se dele
emanou prejuízo. Em tal ocorrendo, o autor do facto causador do dano é
o responsável.

(Pereira, Op. Cit., p. 35).

A responsabilidade civil objectiva foi fundamentada pelo facto de que a


dada altura, a sociedade viu-se obrigada a ter que tomar uma posição própria,
relativamente a responsabilização. Se a doutrina tradicional privilegiava o culpa,
deixando muitas situações concreta danosas impunes, a teoria objectiva veio
sanar essa falha, dano pendor ao dano em certos casos, para se justificar o dever
de indemnizar. Com este tipo de responsabilidade valoriza-se o resultado da
conduta e não as motivações que levaram a conduta. Existe aqui o desvalor da
conduta, dando valor ao seu resultado, parte-se de uma teoria de que a
responsabilidade é uma responsabilidade do resultado e não do agente.

34
Segundo, Diniz, (Op. Cit., p. 48), “a responsabilidade objectiva funda-se
num princípio de equidade, existente desde o direito romano: aquele que lucra
com uma situação deve responder pelo risco ou pelas desvantagens dela
resultante ubi emolumentum, ibi onus; ubi commoda, ibi incommoda”.

Como tudo indica a responsabilidade objectiva teve o seu apogeu com a


revolução industrial, apesar de ser já uma forma de responsabilização, que se
aplicava no direito romano. Quando a responsabilidade é objectiva indica
certamente que o responsabilizado não é ele quem pratica o facto danoso, mas é
responsabilizado pelo facto de ter um interesse direito naquela actividade. Esta
tem sido a razão pelo qual a responsabilidade objectiva também é chamada de
responsabilidade pelo risco. Assim toda pessoa que lucra com uma determinada
actividade deve responder pelos danos que essa actividade possa causar a
terceiros.
1.4. Pressupostos da responsabilidade civil

A responsabilidade civil não tem uma aplicação automática. Pelo que a


que ter em atenção um conjunto de mecanismos ou pressupostos que vão dar
sustento e eficácia na concretização da responsabilidade civil, seja do ponto de
vista subjectivo como objectivo. O nosso ordenamento jurídico não descreve com
clareza estes pressupostos, mas encontramos muitos extratos, onde é possível
retirar essa ideia. A doutrina com maior precisão mostrou em termos gerais estes
pressupostos.

Segundo, Schaffer, (S/d, p. 16), “os pressupostos da responsabilidade


civil são: a acção ou omissão ilícita (contrária a lei), a ocorrência de um dano
patrimonial ou extra patrimonial e o nexo de causalidade, que será o vínculo
entre a conduta ilícita e a efectivação do dano”.

Se entendermos que os pressupostos da responsabilidade civil sejam


simplesmente os apontados por este autor, seria como que negar um dos
pressupostos mais discutidos ao longo de toda história da responsabilidade civil,
que é a culpa. A discussão dos pressupostos da responsabilidade civil, limita nas

35
formas de actuação, no sentido de que um indivíduo seja chamado a responder.
Os pressupostos da responsabilidade civil devem estar cumulativamente, numa
situação de facto concreto, para que seja obviamente viável se aferir a
responsabilização.

Segundo, Fernandes, (2005, p. 15), “neste sentido são considerados


pressupostos da responsabilidade civil, a acção ou omissão, o dano, o elo de
causalidade entre acção/omissão e dano, e, por último, a culpa ou dolo do
agente causador do dano”.

A doutrina maioritária acredita que os pressupostos da responsabilidade


civil, são e devem ser a acção ou omissão, desde que seja subsumível a norma. O
dano é tido como elemento centro para se chamar a responsabilidade civil,
mesmo que para tal dependa de outros elementos, mas se este não estiver no
facto não há que se falar em indemnização. O agir humano deve representar,
força necessária e suficiente para se produzir o dano em causa. A culpa
representa o elemento valorativo da conduta humana, querendo simplesmente
dizer que o ser humano deve ter motivo para a realização da conduta danosa.

Segundo, Alvim, (1980, p. 194), “os requisitos ou pressupostos da


obrigação de indemnizar são três: o prejuízo, a culpa e o nexo causal. Tais
requisitos tanto dizem respeito à culpa aquiliana como à contratual”.

Podemos ter um entendimento bastante sumário, pelo facto de que este


autor ignora grosso modo a acção ou a omissão, que certamente sem eles não
existe qualquer sequência lógica no campo da responsabilidade civil. Logo para a
completude dos pressupostos da responsabilidade tangos acrescer este elemento
de tamanha importante, para que se possa buscar as condições de reparar o dano.
A culpa tanto pode ser analisada no âmbito da culpa tradicional ou aquiliana,
quando resulta da violação de uma norma, protectora de direitos difusos, ou da
culpa contratual, quando provem na não observância das regras estipuladas no
contrato.

36
O elemento primário de todo ilícito é uma conduta humana e voluntária.
Ou seja a lesão a bem jurídico cuja existência se verificará no plano
normativo da culpa está condicionada à existência, no plano naturalístico
da conduta, de uma acção ou omissão que constitui a base do resultado
lesivo.

(Stoco Op. Cit., p. 129).


A conduta humana constituiu durante muito tempo, um campo aberto para
as discussões científicas. Não havia em concreto distinção entre um facto
naturalístico e um facto humano. Se ignorava em parte esta situação, dano maior
enfase ao resultado produzido, nesta época todo direito era direito do resultado.
Mas com a vinda do pensamento liberal, certamente que houve um deslocamento
para um pensamento assente na diferenciação entre o facto natural e o facto
humano. Desta feita foi dado maior realce em termos de responsabilização os
facto humanos, sendo que este é o único capaz de pensar no que faz. Assim a
acção é considerada como primeiro elemento na discussão da responsabilidade
civil.

[...] o acto humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e


objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o facto de
animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de
satisfazer os direitos do lesado.

(Diniz, Op. Cit., p. 40).


A responsabilidade civil assume uma condição particularizada, visto que
não abrange somente, actos humanos, como também actos que possam ser
praticados por animais ou pessoas que determinada pessoa tenha controlo. Assim
pensamos que a responsabilidade civil engloba um conceito de acção mais
alargado, visto que mesmo as acções não humanas se enquadram nas situações de
responsabilidade civil objectiva.

Todavia, o acto ilícito também poderá ocorrer por omissão, quando


decorrer da infração a um dever (contratual ou extracontratual) de realizar
determinada conduta. A dúvida que surge é se a omissão pode causar um
prejuízo, pois, sendo uma atitude negativa a rigor não pode gerar, física ou
materialmente, o dano sofrido pelo lesado No entanto, a omissão adquire
relevância jurídica, e torna o omitente responsável, quando este tem o
dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir o resultado.

(Cavalieri Filho, Op. Cit., p. 24).


37
A conduta causadora de responsabilidade pode advir do fazer ou do non
fazer, querendo dizer que tantos actos comissivos ou omissivos, podem ser
passiveis de responsabilização. A omissão só tem relevância jurídica se for
equiparado a acção. Por esta razão a avaliação da omissão depende do dano
produzido, querendo dizer que nos casos de responsabilidade por amissão é
interessante que seja avaliado a culpa em concreto. Assim a conduta passível de
imputação em termos de responsabilidade civil, pode encontrar espeço tanto nas
acções, como nas omissões.

O dever de reparar o dano também poderá surgir de um acto que esteja em


dissonância com o aspecto social. Talvez a atitude do agente não esteja
ostensivamente contra a lei, mas sim contra seu sentido axiológico. Trata-
se dos actos praticados com abuso de direito.

(Rodrigues, 2007, p. 20).


Para este autor a responsabilidade ainda pode ser avaliada em função de
valores em termos axiológicos. Isto implica que para se poder responsabilizar o
indivíduo deve em certa medida praticar uma acção que contrasta os
fundamentos da sã convivência social. Isto sucede obviamente naquelas situações
em que se prática uma conduta prejudicial a outrem, em função de essa pessoa
que comete este ilícito se encontrar numa posição superior em relação ao lesado.
Assim a responsabilidade civil pode ser avaliada em função da revolta da
consciência social.

O dano é um elemento essencial à caracterização da responsabilidade civil


do agente. A expressão deriva do latim damnum, significando todo mal ou
ofensa que tenha uma pessoa causado a outrem, da qual possa resultar uma
deterioração ou destruição à coisa dele ou um prejuízo a seu património.

(De Plácido & Silva, 1984, p. 02).


O dano constitui um dos pressupostos da responsabilidade civil, que pela
sua exactidão, esteve presente em todos contornos da desenvoltura da
responsabilidade civil. O dano representa o mal que se causa ao lesado, é neste
contexto que hodiernamente este dano pode ser visto numa vertente patrimonial e
numa vertente moral. O dano patrimonial é avaliado em dano emergente e em
lucro cessante. Geralmente o dano moral não é quantificável, pelo que representa

38
sempre uma perda irreparável, mas que com certas adaptações se pode converter
em valor pecuniário.

Como um dos pressupostos da responsabilidade civil, o dano refere-se


sempre à diminuição de um bem juridicamente tutelado e pode ter cunho
patrimonial ou moral. O dano é (...) o prejuízo, de natureza individual ou
colectiva, económico ou não-económico, resultante de acto ou facto
antijurídico que viole qualquer valor inerente à pessoa humana, ou atinja
coisa do mundo externo que seja juridicamente tutelada.

(Noronha, Op. Cit., p. 473).


O dano é a avaliação em concreto dos prejuízos que determinada conduta
venha a provocar na esfera jurídica, de uma determinada pessoa. Portanto o dano
se refere a redução de um bem, que se encontra tutelado pela ordem jurídica,
sendo assim o dano tanto pode ocorrer na esfera jurídica de uma pessoa
individual, como na esfera jurídica de uma pessoa colectiva. Neste sentido o dano
assume uma desvalorização do bem jurídico que o direito procura defender,
como sendo a honra, a vida, o património e tantos outros bens que tendo
protecção legal, têm a tutela do instituto da responsabilidade civil. Se o dano
patrimonial, representa o prejuízo visível, do fundamento para se recorrer a
indemnização, o dano moral assume a parte sentimental de todo prejuízo sofrido,
neste vertente, a avaliação do dano deve ser sempre realizado olhando, para
responsabilizar o agente, não só em termos patrimonial, mas também em termos
morais.

Segundo, Gonçalves, (Op. Cit., p. 616), “o dano moral não é a dor, a


angústia, o desgosto, a aflição espiritual, a humilhação, o complexo que sofre a
vítima do evento danoso, pois esses estados de espírito constituem o conteúdo,
ou melhor, a consequência do dano”.

Podemos retirar deste autor um entendimento, bastante preciso, uma vez


que não se pode grosso modo considerar o dano moral, como a dor, a angústia, o
desgosto, a aflição espiritual, a humilhação. Mas deve se entender que estes
elementos configuram parte integrante do dano, ou melhor o dano moral pode ser
entende numa vertente maior. Mas se nos atermos perfeitamente, na avaliação do

39
dano moral, a que se ter em consideração, todos estes elementos, no sentido de se
equiparar estes valores espirituais, em pecúnia. Assim o dano moral, pensamos
nós que representam em parte uma perda, que pode mesmo estar acima do dano
patrimonial.

O nexo de causalidade é um elemento que deriva das próprias leis naturais.


Como a responsabilidade civil só existe em razão da relação de causa e
efeito existente entre acção ou omissão do agente e o dano, o nexo de
causalidade é o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do
exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano.

(Venosa, Op. Cit., p. 47).


Outro elemento que a doutrina procura discutir, relativamente aos
fundamentos da responsabilidade civil, é o nexo de causalidade, que representa a
ligação entre o conduta e o resultado. Geralmente o nexo causal, é a medida de
dois gumes, que determina até que ponto aquela acção foi idónea, para produzir
aquele resultado. Quando se fala em nexo de causalidade, é para separar,
resultados que ponham causar o mesmo dano, mas que provenha de outras
acções, involuntária. Neste sentido o nexo causal, deve ser determinante para que
se ponha imputar um resultado a determinada conduta.

Não basta, portanto, que o agente tenha praticado uma conduta ilícita;
tampouco que a vítima tenha sofrido um dano. É preciso que esse dano
tenha sido causado pela conduta ilícita do agente, que exista entre ambos
uma necessária relação de causa e efeito. Em síntese, é necessário que o
acto ilícito seja a causa do dano, que o prejuízo sofrido pela vítima seja
resultado desse acto, sem o qual a responsabilidade não correrá a cargo do
autor material do facto.

(Cavalieri Filho, Op. Cit., p. 46).


Como a qualquer acção corresponde um resultado, o nexo de causalidade,
é esta relação perfeita entre o que se fez e o que produziu. A relação natural de
causa-efeito, deve ser encontrada na relação entre o dano e a conduta. Caso não
haja essa ligação a responsabilidade civil fica automaticamente interrompido.
Essa cautela se faz necessário pelo facto de que qualquer conduta pode sofrer
desvio, de ordem conjuntural, que obviamente pode influenciar no resultado,
quando isto acontece, diz-se que houve o rompimento do nexo de causalidade,

40
sendo no entanto, esse resultado ser atribuído, não ao indivíduo, que inicialmente
praticou a acção, mas sim a uma força estranha a volitividade humana.

Culpa em sentido lato, é toda violação de dever jurídico. Em sentido


amplo, pode ser vista como a conduta voluntária contrária ao dever de
cuidado imposto pelo Direito, com a produção de um evento danoso
involuntário, porém previsto ou previsível.

(Beviláqua, 1979, p. 172).

Outro elemento de bastante discussão é a culpa, que devido a sua


caracterização como elemento ligado ao livre arbítrio, assume uma categoria que
determina um tipo específico e regra da responsabilidade civil. Assim a culpa é a
não observância de um comando, mas deste que se tenha conhecimento deste
comando. Neste contexto a culpa como elemento psicológico da conduta,
representa o interesse e a vontade de praticar aquela conduta e provocar aquele
prejuízo. Em direito civil a determinação da culpa é condição sine qua non, para
aqueles casos em que seja necessário a demostração deste elemento.

Segundo, Cavalieri Filho, (Ibidem, p. 35) “três são os elementos


imprescindíveis para a caracterização da culpa: a) conduta voluntária com
resultado involuntário; b) previsão ou previsibilidade e c) falta de cuidado,
cautela, diligência ou atenção”.

No entanto a culpa pode ser encontrada neste elementos apresentado, por


este autor, em conduta voluntaria, sendo que se colocam de partes todas condutas
involuntárias. A conduta diz-se voluntária, quando o indivíduo que a pratica tem
o uso da razão. Isto é ser capaz de discernir o seu comportamento. Ainda se
associa a voluntariedade, a previsibilidade, do resultado típico, o que certamente
consubstancia a ignorância em absoluto do resultado, isto diz-se que existe um
desvalor do resultado, estando simplesmente interessado na conduta. A falta de
cuidado, é enquadrado em todas aquelas situações em que o agente age
negligentemente ou impudentemente.

Portanto a responsabilidade civil para ser concretizada deve ser aplicada se


forem cumulativamente observados os seus pressupostos. A falta de um destes

41
pressupostos rompe de imediato a responsabilização, a não ser nos casos
especificados por lei. Como se a responsabilidade civil objectiva, aquela que se
efectiva simplesmente pela observação do dano.

42
2. A RESPONSABILIDADE OBJECTIVA À LUZ DO
ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO

2.1. O fundamento da responsabilidade civil objectiva

A responsabilidade civil objectiva, é aquela que aparece no nosso


ordenamento jurídico, não como um tipo regra, mas como um tipo
excepcional. É neste sentido que o art.483º nº2 do CC, estipula o seguinte:
só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos casos
especificados na lei. Portanto tudo aponta que em Angola o regime regra
para efeitos de responsabilidade civil é a comprovação da culpa. (Vide nº1
do art.483º CC).

Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objectiva é a


teoria do risco. Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma actividade
cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda
que sua conduta seja isenta de culpa. A responsabilidade civil desloca-se
da noção de culpa para a ideia de risco, ora encarada como “risco-
proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é reparável o dano
causado a outrem em consequência de uma actividade realizada em
benefício do responsável (ubi emolumentum, ibi onus); ora mais
genericamente como “risco criado”, a que se subordina todo aquele que,
sem indagação de culpa, expuser alguém a suportá-lo.

(Gonçalves, Op. Cit., p. 49).


A responsabilidade civil objectiva, como se afigura actualmente, é uma
concepção que surgiu no séc. XVIII, foi consequência directa da massificação
dos meios de produção e do aumento da mão-de-obra, ou do trabalho por conta
de outrem. Como com a industrialização a vida dos operários ficava cada vez em
risco, surgiu então a responsabilidade civil, para fazer face aos inúmeros casos
que de certo modo ficavam fora da responsabilidade se fossem analisados dentro
do âmbito da responsabilidade por culpa, ou subjectiva.

A teoria do risco firmou-se quando o direito Francês, acabou por admitir a


responsabilidade complexa por parte das coisas, a chamada teoria da culpa
na guarda, o qual antes admitia a presunção júris tantum de culpa por parte
do agente e passou a aceitar a presunção júris et de jure.

(Gonçalves, 1957, P. 309).

43
A teoria do risco não esteve desde então nas discussões dos factores ou
elementos que estariam a concretização da responsabilidade civil. Esta teoria
apareceu efectivamente com o direito Francês, que sistematizou e unificou o
direito Romano, dando moldura a determinados pontos que necessitavam de
alinhamento. É o caso da responsabilidade civil, que na altura estava elencado
aos elementos tradicionais, da responsabilidade aquiliana. Com a teoria do risco,
deixou-se claro que toda pessoa tem o direito de exercer qualquer actividade de
natureza diversa, por mais que seja uma actividade lícita, se provocar dano a
terceiro, o agente tem obrigação de reparar este dano. Neste sentido sucede em
concreto a responsabilidade atribuída a todas pessoas colectivas, bem como as
pessoas singulares que tiram proveito de uma determinada actividade. (Vide
arts.500º a 504º do CC).

Em princípio, toda actividade que acarreta prejuízo gera responsabilidade


ou dever de indemnizar. Haverá, por vezes, excludentes, que impedem a
indemnização, como veremos. O termo responsabilidade é utilizado em
qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar
com as consequências de um acto, ou negócio danoso. Sob essa noção,
toda actividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indemnizar.
Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de
princípios e normas que regem a obrigação de indemnizar.

(Venosa, Op. Cit., p. 01).


Com esta ideia tem-se presente que o ser humana, assim como qualquer
outro ser esta exposta ao risco. Não importa o meio em que se desenvolve
determinada actividade, mas pode ser passível de causar danos a terceiros. Como
o dano assenta na base do problema de toda discussão da responsabilidade civil, é
óbvio que toda pessoa que exerce qualquer actividade é susceptível de provocar
dano, o que certamente seja fundamento para a responsabilidade civil objectiva.
Na responsabilidade civil objectiva não existe especulação, provocou dano
repara. Isto implica necessariamente que encontrando-se essa condição,
provocou, causou prejuízo repare.

A responsabilidade, fundada no risco, consiste, portanto, na obrigação de


indemnizar o dano produzido por actividade exercida no interesse do
agente e sob seu controle, sem que haja nenhuma indagação sobre o

44
comportamento do lesante, fixando-se no elemento objectivo, isto é, na
relação de causalidade entre o dano e a conduta do causador.

(Savatier, 1939, p. 274).

Na responsabilidade pelo risco, a acção não é praticada pelo agente sobre


o qual recai a indemnização, mas por outros elementos que tendo relação de
subordinação ou dependência deste. É o concreto do art.502º do CC, que
estabelece o seguinte: Quem no seu próprio interesse utilizar quaisquer animais
responde pelos danos que eles causarem, desde que os danos resultem do perigo
especial que envolve a sua utilização. Este exemplo aplica-se directamente ao
criadores de cãos, que mesmo tendo pleno conhecimento que aquele animal, deve
estar sempre na jaula, por representar perigo e risco eminente, o libertam e
consequentemente este ataca qualquer pessoa, este sentido a responsabilidade do
dono do cão não deverá ser avaliado em função da eventual culpa do agente, mas
sim em função do prejuízo causado.

A doutrina objectiva, ao invés de exigir que a responsabilidade civil seja


resultante dos elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo de
causalidade entre uma e outro) assenta na equação binária cujos pólos são
o dano e a autoria do evento danoso. Sem cogitar da imputabilidade ou
de investigar a antijuridicidade do facto danoso, o que importa para
assegurar o ressarcimento é a verificação se ocorreu o evento e se dele
emanou prejuízo. Em tal ocorrendo, o autor do facto causador do dano é
o responsável.

(Pereira, Op. Cit., p. 35).

Podemos observar que a responsabilidade objectiva é mais simplificada,


pelo facto de que na sua aplicação basta que se verifique dois elementos
principais. Um deste elemento que serve desde já de base primária e o dano, se
houve dano, imediatamente surge o dever de reparar. Para que haja reparação
deve-se conhecer o agente responsável, que deverá ser o sujeito passivo da
indemnização, sendo assim basta que se encontre essa pessoa, para que seja
chamado a responder pelo dano, sem contudo serem avaliados outros elementos
que compõem uma situação concreta de prejuízo.

45
Segundo, Josserand, (1950, p. 444), “a evolução da responsabilidade
objectiva demonstra que o risco situa-se frequentemente e eficazmente a base da
responsabilidade aberta, e vence o conceito subjectivo da culpa, sem muitos
esforços e subterfúgios”.

Quando a responsabilidade civil se baseia no risco, isto é no dano, tudo


aponta na facilitação do problema, porque não será o prejudicado a ter que
realizar um conjunto de esforços, como acontece na responsabilidade subjectiva,
onde ele deve provar a culpa do agente causador do dano, para ter direito a
indemnização. Na responsabilidade objectiva o agente prejudicado matem-se
calmos, esperando Ipso facto que o agente responsável pelo dano tenha espirito e
consciência pessoa, no sentido de reparar o dano. É neste contexto que podemos
considerar que a responsabilidade objectiva é chamada de responsabilidade sem
muitas formalidades.

A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a ideia de risco,


ora encarada como risco-proveito, que se funda no princípio segundo o
qual é reparável o dano causado a outrem em consequência de uma
actividade realizada em benefício do responsável ubi emolumentum, ibi
onus, isto é, que aufere os cómodos (lucros) deve suportar os incómodos
ou riscos, ora mais genericamente, como risco criado, a que se subordina
todo aquele que, sem indagação de culpa, expuser alguém a suportá-lo, em
razão de uma actividade perigosa, ora, ainda, como risco profissional,
decorrente da actividade ou profissão do lesado, como ocorre nos
acidentes de trabalho.

(Gonçalves, OP. Cit., p. 66).

No ordenamento jurídico angolano, a responsabilidade civil objectiva


encontra acolhimento, como suplemento da responsabilidade civil subjectiva. Isto
indica que a responsabilidade objectiva aplica-se a factos especificado na lei.
Este é o entendimento exacto do nº2 do art.483º do CC. Assim a responsabilidade
objectiva aplica-se a um conjunto de casos restritos, que dizem respeito
geralmente a questão da comissão, de danos causados por animais, danos
causados por edifícios ou outras obras e danos causados por acidente de veículos.
O direito civil tratou de cuidar destas situações no sentido de dar a conhecer, que
a responsabilidade é um instituto muito sensível, que merece o máximo de

46
cuidado na sua aplicação, dando maior realce na averiguação do comportamento
e dando primazia de responsabilizar o agente pelo dano nos casos específicos.

47
CAPÍTULO II

OPÇÕES METODOLÓGICAS DO ESTUDO

2.1. Modo de investigação

A pesquisa usou o método descritivo porque procurou estudar a fundo de


forma teórica a responsabilidade civil objectiva com base no ordenamento
jurídico angolano.

2.2. Hipótese

Se, o ordenamento jurídico angola não apresentasse com clareza os


fundamentos da responsabilidade civil, Então, haveria muitas arbitrariedades na
aplicação destes tipos de responsabilidade.

2.3. Variável

No estudo em causa usou-se a variável dependente que tem enfoque na


responsabilidade civil, e, a variável independente que representa as condições de
admissibilidade para que determinada pessoa possa ser responsabilizada em
função do seu comportamento.

2.4. Objecto de estudo

O estudo teve por objecto de estudar, a responsabilidade civil do ponto de


vista teórico na ordem jurídica angolana.

2.5. Instrumento de investigação

A pesquisa foi realizada com base na observação de fenómenos,


acontecimentos e investigação relativamente, ao momento exacto da aplicação da
responsabilidade civil objectiva.

48
2.6. Processamento e tratamento da informação
O processamento de dados foi não paramétrico, visto que a análise foi
baseada na pesquisa científica e doutrinal.

49
CONCLUSÃO

O estudo realizado, no sentido de equiparar o ordenamento jurídico


angolano, a responsabilidade objectiva e contratual, foi eficiente, pelo
conhecimento que retiramos do estudo. Portanto, foi possível entender que a
responsabilidade civil tem uma história milenar, que a doutrina não tem em
concreto a data exacta em que a responsabilidade se manifestou pela primeira vez
nos agregados humanos. Mas tudo indica que a responsabilidade civil, representa
um instituto do direito civil, que maior preocupação apresenta, pela tamanha
utilidade que oferece as pessoas. Portanto foi possível compreender que o
ordenamento jurídico angolano, sistematizou as várias modalidades de
responsabilidade civil, sendo a responsabilidade subjectiva e objectiva, como as
que a norma retrata com pormenor.

Todavia a responsabilidade civil objectiva, tem fundamento no dano, isto


implica certamente que o dano se basta a si mesmo, bastando que seja conhecido
o causador daquele dano. Quando a lei subordina a reparação pelo dano, como
uma modalidade que se aplica quando assim a lei o determinar, o faz no sentido
de dar a entender que sempre que se estiver diante de uma situação danosa, a
primeira situação a ser analisada em o comportamento do agente, mas existe
situações concretas em que este comportamento nem se quer precisa ser
analisado, dando de imediato a obrigação de reparar. A responsabilidade
objectiva é uma consequência do Estado democrático de direito, onde a protecção
dos direitos difusos dos funcionários, assim como outros danos que a lei
expressamente determina, devem ser enquadrados essa categoria.

A responsabilidade contratual, encontra, a sua fundamentação nas relações


de contrato, não queremos dizer que esta responsabilidade seja um contrato, mas
decorre essencialmente, quando uma das partes não cumpre em tempo útil, o
estipulado no contrato. Em regra o contrato constitui lei entre as partes, a única
intervenção do estado nas relações de contrato, é a cláusula, geral de subordinar

50
os contraentes a lei, nos termos do art.280º do CC. Assim, é compreensível
aceitar que na responsabilidade contratual, não existe surpresa, pelo facto de que
o faltoso, é parte anterior a responsabilização.

Portanto o ordenamento jurídico angolano, procurou estabelecer as formas


pelas quais a responsabilidade tanto contratual, como objectiva, poderia ser
aplicada. Neste sentido é evidente que são clara as condições pelas quais um
agente é levado a repor um prejuízo causado, com base nestes dois tipos modelos
de responsabilização.

RECOMENDAÇÕES:

Depois do estudo efectuado e termos compreendido os fundamentos da


responsabilidade objectiva e contratual, tange-nos recomendar o seguinte:

1- Que sejam realizados mais estudos a respeito da responsabilidade civil;


2- Que haja por parte da Universidade iniciativas, que possam levar à
realização de palestras a todos os níveis, tanto dentro da Universidade
como fora dela;
3- Que os estudantes do curso de direito sejam levados junto dos tribunais,
no sentido de acompanhar in loco, em que casos é que é aplicado a
responsabilidade civil;
4- Que o legislador procure valorizar mais a responsabilidade fundada no
dano, pelo facto de que as situações baseadas no dano tendem a aumentar
cada dia que passa.

51
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