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AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2034144 - RJ (2021/0397261-0)

RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN


AGRAVANTE : CACILDA AUGUSTA DE OLIVEIRA BRAULE PINTO
ADVOGADOS : WALTER COUBE LANGSDORFF NETO - RJ148385
BRENO BASTOS CEACARU - RJ160673
AGRAVANTE : PAULO CÉZAR SOARES DE MAGALHÃES
ADVOGADOS : EVELYN ORONA CLAUSSEN - RJ081728
DIEGO DE CARVALHO FREIRE - RJ207707
ELIAS SAMPAIO FREIRE - RJ207961
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
INTERES. : ADEJANILDES APARECIDA DA SILVA
ADVOGADO : ROSANA LOPES ALMEIDA - RJ084952
INTERES. : IVONE BARROS DE SOUZA E SILVA
ADVOGADO : SAULO ALEXANDRE MORAIS E SA - RJ135191
INTERES. : JORGE MIGUEL MAUAD
ADVOGADO : PAULO DE ALVARENGA FARIAS FILHO - RJ091241
INTERES. : MARISE ALVES TERRA SECA
ADVOGADO : RENATO DA FONSECA LIMA - RJ090121

DECISÃO

Trata-se de Agravos em Recursos Especiais interpostos pelos particulares (art.


105, III, "a", da Constituição da República) contra acórdão assim ementado (fls. 11.961-
11.964, e-STJ):

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS


ADMINISTRATIVOS. DANO AO ERÁRIO. AUDITORES FISCAIS.
RESTITUIÇÃO INDEVIDA DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS. NEPOTISMO.
RETARDAMENTO DE ATOS DE OFÍCIO. REVISÃO INDEVIDA DE
CRÉDITOS CONSTITUÍDOS. VIOLAÇÃO DE DEVERES FUNCIONAIS.
1. Remessa necessária e apelações contra sentença que julgou
procedente, em parte, ação de improbidade administrativa ajuizada pelo MPF em
face de auditores fiscais da Previdência Social e servidora administrativa, os quais
teriam permitido a restituição indevida de contribuições sociais pagas por empresa
de transporte, anulação irregular de notificações de fiscais lançadas em nome de
empresas fiscalizadas, nomeação de parentes para cargos comissionados com
subordinação direta, bem como o retardamento de atos de ofício tendentes a
beneficiar tais empresas.
2. Ação originada de elementos colhidos nos procedimentos
administrativos disciplinares nº 25000.002073/2001-66 e 37280.002553/2001-26,
processados perante o INSS. Conclusões encaminhadas ao MPF, dando ensejo à
instauração do inquérito civil nº 1.30.010.000164/2002-01 e ação penal nº

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023


Documento eletrônico VDA35266369 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
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200251040008284, na qual os ora apelantes foram denunciados pelos crimes de
peculato (art. 312 CP), prevaricação (art. 319 CP) e crime funcional contra a ordem
tributária previsto no art. 3º, III da Lei 8137/90.
3. Prescrição da ação não configurada. De acordo com o art. 23 da Lei
8429/92, a prescrição da ação de improbidade administrativa, em relação a
servidores públicos efetivos, ocorre “dentro do prazo prescricional previsto em lei
específica para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público,
nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.” O art. 142, §3º da Lei 8112/90,
por sua vez, determina que “os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-
se às infrações disciplinares capituladas também como crime”, circunstância que se
amolda ao caso concreto.
4. A aplicação da prescrição penal no âmbito da improbidade
administrativa cinge-se aos prazos prescricionais de acordo com a pena máxima
cominada em abstrato ao delito correspondente, sendo que as demais disposições
acerca da prescrição penal não devem incidir no âmbito da improbidade
administrativa, tais como as causas interruptivas do lapso prescricional, que podem
instituir as modalidades de prescrição intercorrente e a retroativa. (STJ, 1ª Turma,
ADRESP 1360873, Rel. Des. Fed. Conv. OLINDO MENEZES, DJE 22.02.2016;
STJ, 1ª Turma, EDAGREsp 1264612, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, DJE 12.05.2015).
5. Os crimes correspondentes aos atos ímprobos em tela, pelo quais os
réus foram denunciados nos autos da ação penal nº 200251040008284 tem prazos
prescricionais assim regulados: i) Peculato - art. 312 do CP, com pena máxima de 12
anos, cuja prescrição é de 16 anos; ii) Prevaricação - art. 319 do CP – pena máxima
01 ano, prescrevendo em quatro anos; iii) crime funcional contra a ordem tributária -
art. 3º, III da Lei 8.137/90 – com pena máxima 04 anos, com prescrição de 08 anos;
iv) estelionato previdenciário (171§ 3º. do Código Penal – pena máxima de 6 anos e
oito meses), com prescrição de12 anos. Cometidos os supostos atos ímprobos com
reflexos criminais entre 1999 e 2001, é certo que, ajuizada a presente em ação em
agosto de 2006, não estará prescrita, porquanto observados os prazos dispostos na
legislação penal aplicável, relativamente à prescrição penal em abstrato pela pena
máxima cominada.
6. Quanto aos atos efetivamente aplicados, tem-se a restituição indevida
de créditos de contribuições sociais à empresa Transporte Sideral LTDA,
ocasionando prejuízo de R$ 775.298,07 à Previdência Social.
A empresa Transporte Sideral havia formulado pedido de restituição
pelo suposto pagamento a maior de contribuições sociais, em decorrência
provimento judicial favorável obtido nos autos da ação de nº 95396378, ajuizada em
face do INSS. Encaminhado o requerimento para análise da Procuradoria do INSS
em Volta Redonda, consignou-se que, embora os valores pretendidos pela empresa
não estivessem corretos, houve erros na autuação que necessitavam ser retificados,
os quais propiciariam direito à compensação. Por consequência, foi indicada nova
análise dos cálculos por auditor fiscal, tarefa atribuída à ré Cacilda Augusta de
Oliveira Braule Pinto, que opinou pelo deferimento parcial do pleito, concedendo
restituição de R$ 1.5878.173,13. Os cálculos em questão foram encaminhados à
Seção de Orientação de Arrecadação e recebidos pela recorrente Adejanildes, então
Chefe de Seção de Orientação de Arrecadação, a qual exarou despacho de “visto”,
remetendo a documentação à Chefe do Serviço de Arrecadação (ré Marisa Alves
Terra Seca) para deferimento. A restituição foi ao final deferida pela Ré Marise e
homologada pelo réu P aulo Cezar Soares de Magalhães.
Ao que apurado pela Comissão de Procedimento Administrativo
Disciplinar, os cálculos elaborados possuíam inconsistências, o que ocasionou
diferença a maior de R$ 775.298,07 no que restituído à empresa.
7. A recorrente Adejanildes, embora investida em cargo em comissão,
não era, como os demais, auditora fiscal, e sim agente administrativa. Ainda que
eventualmente não tenha verificado de maneira detida os cálculos submetidos a seu
despacho, observa-se que sua atribuição era de mero impulsionamento do processo,

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não exercendo cognição exauriente quanto aos cálculos, ao contrário do que se
processou em relação aos auditores fiscais envolvidos. Tanto o é que em sede
disciplinar não lhe foi imposta a pena de demissão, tal como ocorrido com os demais
réus, tendo se submetido apenas à penalidade de suspensão, a evidenciar conduta
menos gravosa. Ausente o pressuposto da culpa grave/erro grosseiro, tampouco
dolo, razão pela qual deve ter sua condenação por improbidade administrativa
desconstituída.
8. Quanto aos demais envolvidos, não se revela possível o afastamento
de culpabilidade, uma vez que, na condição de auditores fiscais, detinham
conhecimentos técnicos para aferir eventuais inconsistências do que submetido à sua
apreciação. Existência de atuação consciente no sentido de deferir restituição de
valores a particular com base em cálculos notoriamente incorretos.
9. O segundo ato imputado se refere à revisão dos débitos de Viação
Elite LTDA (NFLDs 32.591.931-3 e 32.591.932-1), a despeito de já estarem
definitivamente julgados na última instância administrativa. A mencionada empresa
havia protocolado, em 21.05.1999, pedido de revisão das NFDLS 32.591.931-3 e
NFDL 32.591.932-1. Recebido o pleito pela ré Ivone Barros de Souza e Silva
(auditora fiscal), exarou despacho para convocar o recorrente Paulo Cezar Soares de
Magalhães a proceder à avaliação do pleito. O réu em questão exarou manifestação
no sentido de “retificar o débito objeto da NFDL 32591932, em bases mais sólidas,
visto que foram apontadas divergências entre as folhas de pagamento e as GRPS
recolhidas e, anular o débito objeto da NFDL 32591931-3, tendo em vista a presença
de vício insanável descrito nos itens 38 a 41 do presente relatório, com as
providências que couberem”. No entanto, remetido tal documento à Coordenadora
de Arrecadação e Fiscalização, verificou-se que as medidas recomendadas pelo
apelante e m sua manifestação não procediam, mormente ao se considerar que tais
débitos já haviam sido apreciados em todas as instâncias administrativas, não
cabendo mais revisão nesse âmbito. Por conseguinte, foi determinado o
prosseguimento da cobrança, sendo indeferido o pleito de revisão.
10. Ainda que o recorrente afirme que “exarou mero parecer, sem caráter
vinculante”, é certo que uma análise levada a efeito por um auditor fiscal investido
em cargo de chefia poderia influenciar quanto à cobrança de débitos. Possibilidade
de depreender que um pleito de revisão administrativa, quando já constituído o
crédito, não poderia ser objeto de apreciação, tampouco de efetivo deferimento da
pretensão veiculada. Recorrente que tinha conhecimento do equívoco cometido e,
ainda, assim, optou por atestar a procedência do pedido revisório da empresa, tendo,
à época, exarado minudente relatório sobre os motivos para tal tanto. Conduta
orientada para uma finalidade cuja ilicitude compreendia, sendo razoável manter a
imputação de dolo e consequente violação de princípios administrativos imposta
pela sentença.
11. A recorrente Ivone, por outro lado, embora investida em cargo de
Coordenadora de Arrecadação, teve sua participação resumida à elaboração de um
despacho, determinando que o pedido da empresa fosse analisado pelo auditor Paulo
Cezar Soares Magalhães. Na condição de coordenadora de arrecadação, caberia à
apelante analisar a plausibilidade mínima do pedido revisório antes de despacha-lo,
mormente ao se considerar que se referia a débito já julgado em definitivo na esfera
administrativa. Todavia, ainda que tenha agido de forma negligente em suas
funções, não há comprovação de dolo da ré, no sentido de estar deliberadamente
atuando para beneficiar a empresa, a despeito de, repise-se, não ter empregado o
obrigatório zelo no exercício de suas atribuições. Tanto o é que em sede disciplinar
não lhe foi imposta a pena de demissão, tal como ocorrido com os demais réus,
tendo se submetido apenas à penalidade de suspensão, a evidenciar conduta menos
gravosa. Não constatado dolo, razão pela qual deve ter sua condenação por
improbidade administrativa desconstituída.
12. O terceiro ato sob análise refere-se à suposta prática de nepotismo
pelo recorrente Paulo Cezar, que condição de Gerente Executivo da Previdência
Social de Volta Redonda (cargo ocupado de novembro de 1999 a fevereiro de 2002),

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manteve sob subordinação sua esposa, ré Marise Alves Terra Seca, ocupando cargo
em comissão de Chefe do Serviço de Arrecadação e Fiscalização (período de
15.02.2000 a 23.07.2001), bem como seu irmão José Eduardo Soares de Magalhães
(servidor sem vínculo efetivo com a Administração) no cargo de Chefe do Serviço
de Administração, entre 01.03.2000 e 08.04.2002. Em março de 1999, a ré Marise
Alves ajuizou medida cautelar de separação de corpos em face do ora recorrente, ao
passo que o pleito de divórcio consensual somente foi formulado em 25.10.2001,
com deferimento em 2002. Manutenção do vínculo civil conjugal com o recorrente,
mesmo que pudessem estar separados de fato. De igual forma, evidente a relação de
parentesco com o próprio irmão, mantido em cargo de subordinação direta no per
íodo que o recorrente atuou como Gerente Executivo. A alegação de que ausência de
competência para nomear ou exonerar qualquer servidor não impede a configuração
do ato ímprobo. Ainda que as portarias de nomeação/exoneração fossem emitidas
pelo respectivo Ministro da Previdência Social, é certo que o apelante, como gerente
executivo do INSS em Volta Redonda, tinha conhecimento e influência sobre as
nomeações para cargos em comissão na unidade.
13. A Súmula Vinculante nº 13 determina que “a nomeação de cônjuge,
companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica
investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo
em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração
pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas,
viola a Constituição Federal.” A manutenção de parentes como subordinados diretos
em cargos comissionados, ainda que esses sejam servidores efetivos, atinge o
princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, eficiência, moralidade,
legalidade e impessoalidade, configurando, portanto, ato de improbidade
administrativa na forma do art. 11 da Lei 8429/92. Réu que agiu conscientemente ao
indicar esposa e irmão para assunção de cargos comissionados que lhe eram
hierarquicamente subordinados, a evidenciar que direcionou sua conduta para atingir
finalidade vedada pela própria Constituição.
14. A quarta situação a ser analisada tem por objeto o retorno do
processo NFLD 35.007.378-3, pré inscrito em dívida ativa, em nome de Transporte
Excelsior LTDA, à fase administrativa, a empresa Transporte Excelsior LTDA foi
comunicada, em dezembro de 1999, acerca do conteúdo da NFLD 35.007.378-3,
consolidando débito de R$ 1.175.586,79. Em janeiro de 2000, foi apresentada
impugnação contra a referida NFDL (fls. 207-218). Analisada a impugnação,
decidiu-se, em setembro de 2000, por seu não acolhimento. Nesse momento, a ré
Marise havia exarado despacho manifestando ciência e concordância com o que
decidido, determinando-se o encaminhamento para inscrição do débito em dívida
ativa. Em novembro de 2000, a empresa autuada apresentou nova petição de
impugnação do débito, entretanto, com mesmo conteúdo da defesa anterior.
Recebida a nova impugnação, a ré Marise determinou andamento do pleito para
nova análise. Em verificação realizada por auditora fiscal distinta, apontou que, além
de intempestiva, a impugnação reproduzia os termos de defesa anterior, não tendo
sido cumprida, ainda, a exigência vigente à época de prévio depósito recursal para
rediscussão do débito. A despeito de tal informação, a recorrente Marise, enquanto
Chefe do Serviço de Arrecadação, solicitou novamente os autos, que no momento se
encontravam na Procuradoria do INSS, para realização de supostas diligências em
caráter urgente. O recorrente Jorge Mauad, à época Chefe Substituto de Dívida
Ativa, chancelou tal pedido. Finalmente, com a remessa do feito ao Coordenador
Geral de Cobrança, esse exarou parecer no sentido de que não haveria qualquer fato
novo que pudesse motivar a revisão do débito, prosseguindo para inscrição em
dívida ativa.
15. A solicitação de novas diligências pela ré Marise não foi
acompanhada de justificativa acerca das irregularidades a serem investigadas,
contando apenas com um parecer, lavrado pela ré Cacilda, em data anterior a

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qualquer solicitação da empresa, quanto a supostas inconsistências quanto a
remunerações pagas a empregados, diretores e prestadores de serviços. Os demais
setores consultados quanto à necessidade de tal revisão, em contrapartida, adotaram
posicionamento no sentido da ausência de justa causa para seu conhecimento e
processamento.
16. Atuação consciente e direcionada para postergar o andamento de
constituição de crédito tributário, sem devida motivação. O recorrente Jorge Mauad,
por sua vez, na condição de chefe da dívida ativa, opinou pelo retorno e realização
de diligências em procedimento já em vias de inscrição em dívida ativa, o qual não
possuía vício que recomendasse qualquer anulação. O fato de dispor ou não de
poderes para proceder efetivamente ao cancelamento do débito não impede a
configuração de improbidade, uma vez que era era possível ao réu, enquanto auditor
fiscal, reconhecer a inconsistência do pleito formulado pela empresa, considerando a
higidez do crédito.
17. O quinto ato em análise se refere à omissão na prática de ato de
ofício pelo réu Jorge Mauad, eis que, tendo fiscalizado a empresa Wandir de
Carvalho Empreendimentos Imobiliários S/A por três meses, lançou, no sistema
informatizado do INSS, a informação de que teria encerrado o trabalho sem qualquer
autuação. Em fiscalização posterior realizada por outro auditor, foi verificado que a
empresa padecia de irregularidades fiscais, acarretando a constituição de créditos
tributários pendentes.
18. A discrepância entre a fiscalização efetiva pelo réu e a posterior não
tem por cerne divergência de interpretação entre auditores, ou quanto a valores de
cada débito. A conduta do réu demonstra ausência completa de autuação de empresa
notoriamente devedora. Ausência de comprovação da justificativa apresentada pelo
recorrente, que alegou não ter tido tempo de efetuar efetiva fiscalização da empresa
no prazo que dispunha, razão pela qual teria sido compelido por superior hierárquico
a inserir, em sistema informatizado do INSS dado incorreto, com a suposta
incumbência de retificar tal informação depois.
Mesmo que houvesse prova de tal circunstância, ainda assim constituiria
ilícito passível de punição por improbidade administrativa a inserção de dado falso
em sistema de informações, mormente quando a informação falsa impacta a
fiscalização/arrecadação tributária. Consciência do caráter ilícito da conduta
praticada, tendo-a dirigido à persecução de finalidade ilícita, seja pela inserção de
dados falsos em sistema do INSS seja por eventual beneficiamento da empresa
fiscalizada.
19. O sexto ato em investigação se refere ao retardo/omissão na prática
de atos de ofício pela recorrente Cacilda, que teria retardado o oferecimento de
representação fiscal para fins penais em fiscalização levada a efeito na empresa Auto
Comercial Barra Mansa LTDA (NFLD 35.007.435-6), bem como postergado em 90
dias a entrega de NFLD referente à fiscalização realizada na empresa Viação Falcão
LTDA (35.007.434-8), não tendo observado a formalização adequada para tanto.
20. Incongruência das justificativas apresentadas pela ré, que alegou que
perseguição sofrida no ambiente de trabalho, bem como o acúmulo de tarefas,
levaram à prática de algumas atribuições com erro/atraso.
Razões insuficientes para afastar a ilicitude dos atos, tampouco o caráter
grave das condutas, notoriamente por envolver risco de que ilícitos criminais
pudessem prescrever em favor das empresas. A atuação da ré denota, no mínimo,
um desempenho pouco eficiente no exercício do cargo, bem como a consciência do
caráter ilícito das condutas em tela, não sendo plausível que, dada sua experiência
como auditora, tenha incorrido em mero erro funcional.
21. Afastamento da pena de suspensão de direitos políticos aplicada aos
réus, uma vez que não guarda qualquer congruência com as espécies de atos
praticados, que em nada se relacionam com atribuições políticas.
22. Reforma da sentença para excluir a condenação das recorrentes
Adejanildes Aparecida da Silva e Ivone Barros de Souza, bem como para suprimir
das sanções aplicadas aos demais réus a penalidade de suspensão de direitos

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políticos. Não provimento da remessa necessária.
23. Remessa necessária não provida. Recursos de apelação das rés
Adejanildes Aparecida da Silva e Ivone Barros de Souza providos. Recursos dos
réus Jorge Mauad, Marise Alves Terra Seca, Cacilda Augusta de Oliveira Braule
Pinto e Paulo Cezar Soares de Magalhães parcialmente providos, apenas para excluir
a penalidade de suspensão de direitos políticos.

Os Embargos de Declaração foram rejeitados (fls. 12.172-12.179 e 12.194-


12.201, e-STJ).
Cacilda Augusta de Oliveira Braule Pinto alega que houve violação, em
preliminar, dos arts. 489, § 1º, I a V, e 1.022, I e II, do Código de Processo Civil; e, no
mérito, dos arts. 10, I, X e XII, 11, I e II, 15 e 17, § 2º, todos da Lei 8.429/1992 e dos
arts. 142, caput e parágrafo único, 150, caput e §§ 1º e 4º, e 170 do Código Tributário
Nacional. Além de afirmar que houve omissão no acórdão recorrido, busca (fls. 12.550-
12.551, e-STJ):
b) reformar o acórdão proferido em sede de Apelação Cível/Reexame
Necessário, complementado pelos acórdãos de Embargos de Declaração, para que
seja reconhecido que havia a obrigatoriedade da Administração Pública de constituir
o crédito tributário não homologando as compensações cujos valores não haviam
sido fornecidos ao INSS reconhecendo que os acórdãos recorridos violaram os arts.
142, caput e parágrafo único; art. 150, caput e §§ 1º e 4º e art. 170 todos do código
tributário nacional e 15 e 17, § 2º da lei 8429/92.
c) reformar o acórdão proferido em sede de Apelação Cível/Reexame
Necessário, complementado pelos acórdãos de Embargos de Declaração, para afastar
a condenação da Recorrente por dano ao erário, decorrente da conduta de restituição
à empresa Transporte Sideral LTDA, em virtude ausência de comprovação de dano
ao Erário, por violação arts. 10, i, x e xii da lei 8.429/92 ou SUBSIDIARIAMENTE,
que se anule os acórdãos proferidos em embargos de declaração por violação art.
1.022, i e ii c/c 489, §1º, i a v, com a consequente aplicação do 1.025, ante as
omissões apontadas.
d) reformar o acórdão recorrido proferido em sede de apelação para
afastar a condenação da Recorrente pela violação ao próprio artigo 11, inciso II da
Lei 8.429/92, em virtude da inocorrência de dolo.

Por sua vez, o recorrente Paulo Cezar Soares de Magalhães aduz ofensa do art.
1.022, caput, II, parágrafo único, II, e 489, § 1º, IV, ambos do CPC; e, no mérito, do art.
23 da Lei 8.429/1992; do art. 142, caput e § 2º, da Lei 8.212/1991, e dos arts. 109 e 110
do Código Penal. Afirma que "(...) não há espaço para a aplicação dos prazos
prescricionais previstos na legislação penal diante da absolvição criminal" (fl. 12.276, e-
STJ) e que é indevida a restituição ao Erário, já que não houve a comprovação de dolo ou
de fraude. Além disso, pontua (fl. 12.277-12.292, e-STJ):

Assim, resta inequivocamente demonstrada a violação do disposto no


inciso II do art. 23 da Lei nº 8.429/92, no caput e § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90,
na medida em que há o trânsito em julgado na sentença penal absolutória, o que
torna aplicável o prazo disciplinado no inciso I do art. 142 da Lei nº 8.112/90,
ensejando a reforma do v. acórdão, complementado pelo acórdão em embargos de
declaração, afim de que seja reconhecida a prescrição dos atos de improbidade
imputados ao Recorrente, especificamente: i) restituição à empresa Transporte
Sideral LTDA, que gerou condenação por dano ao erário com base em culpa grave;
ii) revisão dos débitos de Viação Elite LTDA, na qual houve condenação por
violação de princípios; e iii) manutenção de parentes sob sua subordinação em
cargos comissionados (esposa e irmão), que importou em violação de princípios

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administrativos.
(...) Como se vê, apesar de reconhecer ter havido o trânsito em julgado
da ação penal, a decisão recorrida valeu-se indevidamente do art. 109 do Código
Penal para adotar o prazo previsto para a pena máxima em abstrato, em detrimento
as disposições do art. 110 do Código Penal, que leva em consideração a pena em
concreto, que no presente caso é ZERO, por ter sido absolutória.
(...) Assim, constata-se que, em verdade, o decisum recorrido acabou por
ignorar a necessária individualização da conduta, vez que inobstante para conduta
em discussão neste momento, restituição à empresa Transporte Sideral LTDA,
somente houve a constatação de conduta culposa e que a conduta dolosa somente foi
imputada as outras duas condutas, a de revisão dos débitos de Viação Elite LTDA e
a de manutenção de parentes sob sua subordinação em cargos comissionados.
(...) Assim, considerando que não há espaço para a aplicação dos prazos
prescricionais previstos na legislação penal, o que torna aplicável o prazo
disciplinado no inciso I do art. 142 da Lei nº 8.112/90. Portanto, na data da
propositura da ação civil pública de improbidade administrativa, em 17/08/2006 já
havia ocorrido a prescrição, tendo em vista que na restituição à empresa Transporte
Sideral LTDA, que gerou condenação por dano ao erário com base em culpa grave,
o conhecimento do fato deu-se em 15/05/2001.

Contrarrazões às fls. 12.578-12.588, e-STJ.


Contraminuta às fls. 12.806-12.813 e 12.821-12.826, e-STJ.
O parecer do Ministério Público Federal é pelo não conhecimento de ambos os
Agravos em Recursos Especiais, dada a ausência de impugnação das decisões de
inadmissibilidade (fls. 12.584-12.864, e-STJ).
Na petição de fls. 12.866-12.876, e-STJ, a Sra. Cacilda Augusta de Oliveira
Braule Pinto requer, com urgência, a concessão de efeito suspensivo "(...) dos efeitos da
condenação imposta a ora requerente, com fundamento na Lei nº 14.230/21 – cuja
aplicabilidade pretendida já foi determinada pelo STF em regime de repercussão geral
(Tema 1.199)" (fl. 12.875, e-STJ).
É o relatório.

Decido.

Os autos foram recebidos neste Gabinete em 2.12.2022.


Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública apresentada em face de ambos os
recorrentes e de outros agentes por improbidade administrativa, com base em suposta
restituição indevida à empresa Transporte Sideral Ltda., anulações irregulares de notas
fiscais, procrastinação de atos de ofício e da tramitação de processo administrativo para
beneficiar a empresa de transporte, bem como a ocorrência de nepotismo. O Tribunal de
origem manteve a condenação dos acusados e afastou somente a penalidade de suspensão
de direitos políticos.
Nas decisões de fls. 12.596-12.601 e 12.604-12.609, e-STJ, a Corte a quo
inadmitiu os Apelos Nobres das partes, pois não verificou a existência de afronta aos
dispositivos suscitados e, ainda, entendeu ser aplicável aos casos a Súmula 7/STJ.
Passo à análise conjunta dos Agravos, pois todos os agravantes incorrem no
mesmo equívoco, uma vez que os fundamentos das decisões de inadmissibilidade dos
Recursos Especiais não foram atacados adequadamente por nenhum deles.
A agravante Cacilda se limitou a discorrer sobre sua tese de ofensa aos arts.
489 e 1.022 do CPC, até mesmo no tópico cujo título indicaria se tratar do combate à

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Súmula 7/STJ, a qual, entretanto, não fora refutada.
É ônus da parte demonstrar o desacerto da decisão agravada, não se mostrando
suficiente a impugnação genérica dos fundamentos nela adotados. Ademais, cumpre
destacar que a referida orientação é aplicável também aos recursos interpostos pela alínea
"a" do inciso III do art. 105 da Constituição Federal de 1988.
A propósito:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL -


AÇÃO CONDENATÓRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA DA PRESIDÊNCIA
DESTA CORTE QUE NÃO CONHECEU DO RECLAMO, ANTE A AUSÊNCIA
DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO
AGRAVADA. INSURGÊNCIA DA PARTE DEMANDADA.
1. Consoante expressa previsão contida nos artigos 932, III, do CPC/15 e
253, I, do RISTJ e em razão do princípio da dialeticidade, deve o agravante
demonstrar, de modo fundamentado, o desacerto da decisão que inadmitiu o apelo
extremo, o que não aconteceu na hipótese. Incidência da Súmula 182 do STJ.
2. São insuficientes ao cumprimento do dever de dialeticidade recursal
as alegações genéricas de inconformismo, devendo a parte autora, de forma clara,
objetiva e concreta, demonstrar o desacerto da decisão impugnada. Precedentes.
3. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 1904123/MA, Rel. Min. MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, DJe 8/10/2021).

Conforme já assentado pela Corte Especial do STJ, a decisão de


inadmissibilidade do REsp não é formada por capítulos autônomos, mas por um único
dispositivo, o que exige que a parte agravante impugne todos os seus fundamentos.
A propósito:

PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.


IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DE TODOS OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO
RECORRIDA. ART. 544, § 4º, I, DO CPC/1973. ENTENDIMENTO RENOVADO
PELO NOVO CPC, ART. 932.
1. No tocante à admissibilidade recursal, é possível ao recorrente a
eleição dos fundamentos objeto de sua insurgência, nos termos do art. 514, II, c/c o
art. 505 do CPC/1973. Tal premissa, contudo, deve ser afastada quando houver
expressa e específica disposição legal em sentido contrário, tal como ocorria quanto
ao agravo contra decisão denegatória de admissibilidade do recurso especial, tendo
em vista o mandamento insculpido no art. 544, § 4º, I, do CPC, no sentido de que
pode o relator "não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não
tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada" - o que foi
reiterado pelo novel CPC, em seu art. 932.
2. A decisão que não admite o recurso especial tem como escopo
exclusivo a apreciação dos pressupostos de admissibilidade recursal.
Seu dispositivo é único, ainda quando a fundamentação permita concluir
pela presença de uma ou de várias causas impeditivas do julgamento do mérito
recursal, uma vez que registra, de forma unívoca, apenas a inadmissão do recurso.
Não há, pois, capítulos autônomos nesta decisão.
3. A decomposição do provimento judicial em unidades autônomas tem
como parâmetro inafastável a sua parte dispositiva, e não a fundamentação como um
elemento autônomo em si mesmo, ressoando inequívoco, portanto, que a decisão
agravada é incindível e, assim, deve ser impugnada em sua integralidade, nos exatos
termos das disposições legais e regimentais.
4. Outrossim, conquanto não seja questão debatida nos autos, cumpre
registrar que o posicionamento ora perfilhado encontra exceção na hipótese prevista

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no art. 1.042, caput, do CPC/2015, que veda o cabimento do agravo contra decisão
do Tribunal a quo que inadmitir o recurso especial, com base na aplicação do
entendimento consagrado no julgamento de recurso repetitivo, quando então será
cabível apenas o agravo interno na Corte de origem, nos termos do art. 1.030, § 2º,
do CPC.
5. Embargos de divergência não providos. (EAREsp 746.775/PR, relator
Ministro João Otávio de Noronha, relator p/ Acórdão Ministro Luis Felipe Salomão,
Corte Especial, DJe de 30/11/2018).

De modo semelhante, o agravante Paulo Cezar Soares de Magalhães


literalmente copia trechos de seu Recurso Especial, os quais não demonstram a
inaplicabilidade da Súmula 7/STJ, tampouco afastam os argumentos da decisão que o
inadmitiu.
É pacífico o entendimento de que, no "recurso com fundamento na Súmula 7
do STJ, é de rigor que, além da contextualização do caso concreto, a impugnação
contenha as devidas razões pelas quais se entende ser possível o conhecimento da
pretensão independentemente do reexame fático-probatório, mediante, por exemplo, a
apresentação do cotejo entre as premissas fáticas e as conclusões delineadas no acórdão
recorrido e sua tese recursal, a fim de demonstrar a prescindibilidade do reexame fático-
probatório" (AgInt no AREsp 1.135.014/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,
DJe 27.3.2020). Isso, no caso dos autos, indubitavelmente não ocorreu, o que faz incidir a
Súmula 182 do STJ.
Nessa linha:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO COMBATIDA. ART. 932, III, DO CPC/2015.
SÚMULA 7/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1.Em que pese a agravante ter, de fato, defendido a não incidência da
Súmula 7/STJ, não houve argumentação efetiva e voltada a afastar as conclusões da
decisão combatida, demonstrando quais os fatos admitidos pelo Tribunal de origem
que embasariam o seu direito, sem a necessidade de modificação das premissas
adotadas no acórdão recorrido.
2. Não basta a assertiva genérica de que não se pretende o reexame de
provas, ainda que seja feita breve menção à tese sustentada. É imprescindível o
cotejo entre o acórdão combatido e a argumentação trazida no recurso especial que
pudesse justificar o afastamento do referido óbice processual. Precedentes.
3. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp
1.716.481/PR, Rel. Ministro Og Fernandes, DJe 23/9/2021).

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS


DECLARATÓRIOS NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. COMPETÊNCIA. ALEGAÇÃO DE INTERESSE DA UNIÃO.
ANTIGOS ALDEAMENTOS INDÍGENAS. AUSÊNCIA. ALEGADA
VIOLAÇÃO AO ART. 1.022 DO CPC/2015. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS, NO
ACÓRDÃO RECORRIDO. INCONFORMISMO. AGRAVO INTERNO
IMPROVIDO. OMISSÃO. EXISTÊNCIA. TITULARIDADE DA ÁREA
RECLAMADA. CONTROVÉRSIA RESOLVIDA, PELO TRIBUNAL DE
ORIGEM, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE
REVISÃO, NA VIA ESPECIAL. RAZÕES DO AGRAVO QUE NÃO
IMPUGNAM, ESPECIFICAMENTE, A DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA
182/STJ. AGRAVO INTERNO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA
EXTENSÃO, IMPROVIDO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS,

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PARA SUPRIR A OMISSÃO APONTADA.
(...)
IV. Segundo a jurisprudência do STJ, "não basta a assertiva genérica de
que não se pretende o reexame de provas, ainda que seja feita breve menção à tese
sustentada. É imprescindível o cotejo entre o acórdão combatido e a argumentação
trazida no recurso especial que pudesse justificar o afastamento do referido óbice
processual" (STJ, AgInt no AREsp 1.463.467/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 29/06/2020).
V. Assim, interposto Agravo interno com razões que não impugnam,
especificamente, o aludido fundamento da decisão agravada - incidência da Súmula
7/STJ -, não prospera o inconformismo, em face da Súmula 182 desta Corte.
IV. Embargos de Declaração acolhidos para, suprindo a omissão
apontada, integrar o acórdão embargado, a fim de não conhecer do Agravo interno,
no ponto em que se discute o óbice da Súmula 7/STJ, por ausência de impugnação
específica, e, por conseguinte, conhecer parcialmente do Agravo interno, e, nessa
extensão, negar-lhe provimento.
(EDcl no AgInt no AREsp 1.694.099/SP, Rel. Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, DJe 29/4/2022).

Dessa maneira, não tendo sido infirmadas adequadamente as razões que


nortearam as decisões ora agravadas, não se pode acolher as irresignações.
Por fim, a petição de tutela provisória está prejudicada, pois, conforme
entendimento desta Corte, "não tendo o recurso ultrapassado o juízo de admissibilidade,
não pode a matéria de mérito ser objeto de exame, mesmo que a controvérsia seja objeto
de Recurso Repetitivo" (AgInt no REsp 1.814.371/SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe de 11/9/2020).
Ante o exposto, não conheço dos Agravos em Recursos Especiais de
Cacilda Augusta de Oliveira Braule Pinto e de Paulo Cezar Soares de Magalhães.
Publique-se.
Intimem-se.

Brasília, 07 de dezembro de 2022.

MINISTRO HERMAN BENJAMIN


Relator

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