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DIREITO CIVIL

Parte Geral – I

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Parte Geral – I
Carlos Elias

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Parte Geral – I................................................................................................................................... 5
1. Constitucionalização do Direito Civil....................................................................................... 5
2. Diretrizes Teóricas do Código Civil. . ......................................................................................... 6
3. Corolários da Boa-Fé Objetiva.................................................................................................. 7
3.1. Proibição da Venire contra Factum Proprium..................................................................... 7
3.2. Supressio. . .................................................................................................................................. 8
3.3. Surrectio..................................................................................................................................... 9
3.4. Tu Quoque.................................................................................................................................. 9
4. Teoria do Inadimplemento Mínimo........................................................................................ 10
5. Duty to Mitigate the Loss ou Dever de Mitigar as Próprias Perdas. . ...............................12
6. Alguns Princípios Gerais de Direito........................................................................................13
6.1. Princípio do Aviso Prévio a uma Sanção.............................................................................13
6.2. Princípio da Proteção Simplificada do Agraciado............................................................15
6.3. Princípio da Proteção Simplificada do Luxo...................................................................... 17
Questões de Concurso...................................................................................................................19
Gabarito............................................................................................................................................ 35

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Parte Geral – I
Carlos Elias

Apresentação
Olá, meus amigos e minhas amigas!
O foco da aula de hoje é tratar de alguns pressupostos essenciais do Direito Civil. Isso
não é cobrado com tanta frequência nos concursos. Todavia, quando esse tema é exigido em
prova, a maior parte dos candidatos deixa de responder, o que fará você ficar em vantagens
no concurso. Lembre-se de que não basta passar no concurso; é necessário você também ser
nomeado. Isso significa que acertar questões que os demais candidatos deixam em branco é
uma vantagem significativa.

Resumo

Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os
exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu apro-
fundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com
as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familia-
ridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• A Constitucionalização do Direito Civil é um movimento que estabelece que o Direito
Civil deve ser submetido ao Direito Constitucional, o que implica a despatrimonialização
(a pessoa humana é mais importante do que o patrimônio no Direito Civil), a repersona-
lização (pessoa não é mero agente econômico, e sim algum com direito à dignidade) e
a eficácia horizontal dos direitos fundamentais (a possibilidade de aplicação de normas
e princípios constitucionais diretamente em relações de Direito Civil);
• O Código Civil foi elaborado com base em três diretrizes teóricas: eticidade (valorização
da boa-fé objetiva), socialidade (valorização da função social) e operabilidade (o Código
foi redigido de modo a ser didático e com texto aberto a diversas interpretações);
• São corolários da boa-fé objetiva: (1) a proibição da venire contra factum proprium; (2) a
supressio; (3) a surrectio; (4) o tu quoque;
• Se o devedor cumpriu parcela substancial da dívida, não cabe a resolução do contrato
em nome da teoria do adimplemento substancial (= teoria do inadimplemento mínimo);
• O credor não pode adotar conduta oportunista que aumente o valor da dívida em razão
da duty to mitigate the loss;
• Princípio do aviso prévio a uma sanção: é necessário notificar a pessoa previamente a
uma sanção. Ex.:
− Prisão civil de alimentos;
− Busca e apreensão em alienação fiduciária ou leasing;

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− Consolidação de imóvel alienado fiduciariamente;


− Cancelamento de seguro ou plano de saúde por inadimplência;
− Negativação no Serasa, ainda que seja a partir de negativação feita no CCF, que é um
cadastro de acesso restrito;
− outros casos;
• Princípio da proteção simplificada do agraciado: direito civil não dá prestígio ao agracia-
do. Ex.:
− dispensa de consilium fraudis na fraude contra credores;
− interpretação restritiva;
− formalismo;
− inaplicabilidade de vício rebiditório e de evicção;
− transportador só responde por culpa grave ou dolo no caso de carona;
− outros;
• Princípio da proteção simplificada do luxo: direito civil não dá prestígio a luxo. Ex.:
− possuidor de boa-fé não pode exigir indenização por benfeitorias voluptuárias;
− quorum é mais rigoroso no condomínio edilício para a realização de benfeitorias voluptu-
árias;
− móveis suntuosos que guarnecem bem de família podem ser penhorados;
− benfeitorias voluptuárias não são indenizáveis em desapropriação
− outros.

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PARTE GERAL – I
1. Constitucionalização do Direito Civil

Todos os institutos devem


ser lidos à luz dos princípios
e regras constitucionais

Dignidade da pessoa
Despatrimonialização
humana > patrimônio
Constitucionalização
do Direito Civil
Indivíduo (e não o
Repersonalização patrimônio) = CENTRO
da tutela jurídica

Eficácia horizontal dos Aplicação entre


direitos fundamentais particulares

Amigos e amigas, o Direito Civil atual mudou bastante. Falamos muito de um Direito Civil
Constitucional na atualidade.
A ideia é a de que todas as instituições de Direito Civil devem ser lidas à luz dos princípios
e das regras constitucionais, conforme metodologia doutrinária conhecida como Constitucio-
nalização do Direito Civil ou como “Direito Civil Constitucional”.
Essa metodologia (ou movimento) encontra berço no pensamento do jurista italiano Pietro
Perlingieri e se insurge contra os fundamentos antigos do direito civil clássico para, nas pa-
lavras do professor da UERJ Carlos Nelson Konder, defender um direito civil capaz de ser um
verdadeiro instrumento de “emancipação das pessoas e de transformação social, rumo a uma
comunidade mais justa e solidária”. O professor da UERJ Gustavo Tepedino e a professora Ma-
ria Celina Bodin de Moraes foram os principais responsáveis por trazer essa metodologia para
a doutrina brasileira, que conta atualmente com a adesão de autores do porte do professor
Paulo Luiz Neto Lôbo e Luiz Edson Fachin.
Por essa metodologia, condena-se a visão individualista em que se assentava o Código Civil
de 1916. Miguel Reale costumava afirmar que havia duas leis fundamentais no País: o Código Ci-
vil, que era a “constituição do homem comum”, e a Constituição Federal, que estrutura o Estado.
Essa concepção não retrata, porém, a perspectiva constitucional do Direito Civil, que fixa a Cons-
tituição Federal como a única lei fundamental, à qual deve estar subordinado todo o direito civil.
A propósito, conforme destaca o professor Paulo Lôbo, a Constitucionalização do Direito
Civil implica colocar o indivíduo, e não o patrimônio, no centro da tutela jurídica e a não mais
enxergar o indivíduo como um mero homos economicus, perspectiva essa que é conhecida
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como Repersonalização e Despatrimonialização do Direito Civil. Enaltece-se, assim, a dignida-


de da pessoa humana como vetor de condução do Direito Civil.
Em suma, pode-se atribuir ao movimento da constitucionalização do Direito Civil as prin-
cipais diretrizes: (1) despatrimonialização: o centro da tutela jurídica é a dignidade da pessoa
humana, e não o patrimônio; (2) repersonalização: a pessoa não é mais vista como um mero
agente econômico, e sim como o centro da tutela do direito; (3) eficácia horizontal dos direitos
fundamentais: os direitos fundamentais, que tradicionalmente eram aplicados apenas nas rela-
ções entre Estado e indivíduo (vertical), devem também ser aplicados a relações entre particu-
lares (horizontal), a exemplo do princípio do contraditório antes de excluir associado por justa
causa (art. 57, CC) ou de infligir uma sanção a condômino (art. 1.337, CC).
Uma outra consequência é a de que o Direito Civil Constitucional prestigia normas com
cláusulas abertas e conceitos jurídicos indeterminados, os quais dão liberdade ao civilista para
acoplar os casos concretos aos princípios constitucionais.
Os contornos do Direito Civil Constitucional foram bem resumidos no documento conheci-
do como “Carta de Curitiba”, no qual os Grupos de Pesquisa de Direito Civil dos Programas de
Pós-Graduação das Faculdades de Direito da Universidade Federal do Paraná e da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro editaram seis proposições que, em suma, realçam a aplicação dos
direitos fundamentais entre particulares, a rejeição do método de subsunção, a supremacia do
paradigma principiológico, a mudança do ensino jurídico e a sobrevalorização da dignidade da
pessoa humana (FACHIN e TEPEDINO, 2006).

2. Diretrizes Teóricas do Código Civil

Prestigia a FUNÇÃO
SOCIAL do direito em
Socialidade
oposição ao
INDIVIDUALISMO

Diretrizes teóricas
Eticidade Boa-fé objetiva
do CC/2002

Fácil manuseio pelo


Operabilidade
operador do direito

Alinhada à perspectiva constitucional do Direito Civil, é preciso recordar que o novo Código
Civil foi elaborado pela comissão de juristas coordenada por Miguel Reale sob três Diretrizes
Teóricas, que também são conhecidas como baldrames axiológicos do Código Civil.
A primeira foi a Socialidade, segundo a qual o novo diploma prestigia a função social do
Direito em oposição ao individualismo marcante do anterior Código.

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A segunda é a Eticidade, de acordo com a qual a boa-fé objetiva foi prestigiada pelo novo
Código, ao exigir condutas éticas dos indivíduos.
A terceira é a Operabilidade, à luz da qual o novo Código buscou ser facilmente manuseá-
vel pelos operadores do Direito, do que dá exemplo tanto a reunião dos prazos prescricionais
nos arts. 205 e 206 do Código quanto a utilização de conceitos jurídicos indeterminados e de
cláusulas abertas para permitir que o texto normativo satisfaça às necessidades advindas das
transformações sociais futuras.

3. Corolários da Boa-Fé Objetiva


Como ensina o professor lusitano Menezes Cordeiro, a boa-fé objetiva condena o exercício
de posições jurídicas contraditórias, do que podem ser extraídas várias figuras parcelares da
boa-fé objetiva, dos quais trataremos de quatro mais abaixo, a saber: a proibição da venire con-
tra factum proprium, supressio, surrectio e tu quoque. Trata-se de uma decorrência do princípio
da confiança.

3.1. Proibição da Venire contra Factum Proprium

Proibição de conduta
contraditória

Proibição de venire contra


Boa-fé objetiva São ilícitas as condutas
factum proprium
que frustem a LEGÍTIMA
EXPECTATIVA criada pela
conduta anterior

De acordo com a venire contra factum proprium, também batizada como princípio da proi-
bição do comportamento contraditório, em nome da boa-fé objetiva, devem ser consideradas
ilícitas condutas que frustrem a legítima expectativa criada por uma conduta anterior. Para
ilustrar, o STJ não admitiu o pedido, feito pela esposa, de anulação de uma promessa de com-
pra e venda de imóvel feito pelo marido sem a outorga uxória, pois a esposa, em ação judicial
anterior proposta por terceiro em busca do imóvel, havia denunciado a lide ao promitente com-
prador, a fim de que este integrasse a lide como litisdenunciado (STJ, REsp 277.284, 4ª T., Rel.
Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 12/03/2001).

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3.2. Supressio

Perda de um Cria LEGÍTIMA


Boa-fé objetiva Supressivo direito em razão EXPECTATIVA
da INÉRCIA em terceiro

Supressivo e
É DIFERENTE da
prescrição
prescrição
coexistem

A supressio consiste na perda de um direito em razão de inércia capaz de criar uma legítima
expectativa em terceiro. Um dos primeiros casos em que se aplicou a supressio foi na Alemanha,
no início do século XX, quando a Corte alemã decidiu que um credor perdeu o direito à correção
monetária por ter-se mantido inerte em exigi-la durante o período de dois meses em uma época
de vertiginosa espiral inflacionária. O STJ, entre outros casos, já aplicou a supressio para condenar
um proprietário de uma padaria a pagar indenização de R$ 15.000,00 a uma moradora do mesmo
prédio em razão dos barulhos provocados pelos maquinários durante a madrugada. Nesse caso,
a padaria havia alegado que a convenção do condomínio previa apenas a destinação comercial
das unidades autônomas. Todavia, o STJ entendeu que o condomínio e, consequentemente, os
demais condôminos perderam o direito de exigir essa destinação exclusivamente comercial, por
terem sido omissos durante muitos anos diante da ostensiva ocupação residencial de uma mo-
radora (STJ, REsp 1096639/DF, 3ª T., Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 12/02/2009).
Outro caso de supressio ocorre quando, em um contrato de compra e venda de combustí-
vel, há cláusula exigindo um volume mínimo de aquisição mensal. Suponha que, nesse caso,
o comprador realize, sem qualquer insurreição do comprador, pedidos mensais em volume
inferior ao mínimo contratual durante todo o tempo de vigência contratual. Ao final do contrato,
o vendedor não poderá posteriormente pleitear a multa contratual estabelecida pelo descum-
primento do consumo mínimo em nome da supressio, conforme decidiu o STJ (REsp 1374830/
SP, 3ª T., Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 03/08/2015).
A supressio nada tem a ver com a prescrição. Os institutos coexistem. No exemplo acima,
ainda que não esteja prescrita a pretensão de cobrança da multa pelo descumprimento do
consumo mínimo, operou-se a supressio contra o vendedor.

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3.3. Surrectio

Aquisição de um
direito em razão de Legítima expectativa no
condutas antijurídicas autor dessas condutas
Boa-fé objetiva Surrectio reiteradas

É o contrário
da supressio

A surrectio consiste na aquisição de um direito em razão de condutas antijurídicas reitera-


das com a capacidade de criar a legítima expectativa no autor dessas condutas. É o contrário
da supressio. Maria Helena Diniz afirma que surrectio e supressio são faces da mesma moeda.
Por exemplo, no caso acima do condomínio, pode-se afirmar que, sob a ótica da moradora,
houve surrectio, pois ela adquiriu o direito de imprimir destinação residencial à sua unidade
autônoma em razão de sua conduta reiterada de descumprir a convenção condominial. Igual-
mente, no caso acima de compra de combustível, a conduta reiterada do comprador de violar
a cláusula de consumo mínimo rendeu-lhe a surrectio.

3.4. Tu Quoque

Veda que alguém se


beneficie da própria Ex: exceptio non
Boa-fé objetiva Tu quoque torpeza, baseado adimpleti contractus
em norma que ele (art. 476, CC/2002)
mesmo violou

O tu quoque, a seu turno, veda que alguém se aproveite da própria torpeza, exigindo direitos
com base em uma norma que ele violou. A exceptio non adimpleti contractus, prevista no art.
476 do Código Civil, é um exemplo. Ainda a título de exemplo, Nelson Rosenvald e Cristiano
Chaves citam interessante caso julgado por tribunal português. Nesse caso, a corte lusitana
entendeu que era incabível a alegação de inexistência de um contrato de compra e venda de
veículo por parte do comprador, pois este, anteriormente, havia retido dolosamente o contrato
que lhe fora enviado para assinatura.

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4. Teoria do Inadimplemento Mínimo

Função social

Vedação ao
enriquecimento
sem causa
Fundamentos
Teoria do
Boa-fé
INADIMPLEMENTO
MÍNIMO ou adimplemento
substancial Afasta a medida
Vedação ao
drástica da resolução
abuso de direito
contratual

Meus caros e minhas caras, ainda há outra teoria que vocês precisam conhecer. Trata-se
da teoria do inadimplemento mínimo.
Com fundamento na função social (arts. 421 e 2.035, parágrafo único, CC), na vedação ao
abuso de direito (art. 187, CC), na boa-fé (arts. 113 e 422, CC) e na vedação ao enriquecimento
sem causa (art. 884, CC), o Direito brasileiro acolhe a teoria do adimplemento substancial, tam-
bém batizada de teoria do inadimplemento mínimo ou da substantial performance.
Em suma, a referida teoria condena a medida drástica da resolução1 do negócio jurídico
quando a parte tiver descumprido apenas uma parcela pequena (daí o nome “inadimplemento
mínimo”) do contrato após já ter honrado com uma parcela substancial da dívida. A aferição da
expressividade do adimplemento deve levar em conta aspectos não apenas quantitativos, mas
também qualitativos (conforme enunciado n. 586/CJF). E, nesse juízo, deve-se atentar para a
dimensão da consequência do inadimplemento no caso concreto e para o grau de importân-
cia da parte inadimplida, como lembra o Ministro Sidnei Beneti2. A aferição da dimensão do
inadimplemento – se é mínimo ou não – sempre dependerá da análise dos casos concretos
diante da inexistência de um critério prévio e fixo para tanto.
O objetivo é a manutenção do negócio jurídico nesses casos em que o devedor adimpliu
substancialmente a dívida, ou seja, teve uma performance substancial na execução do contra-
to, de modo que o seu inadimplemento foi mínimo.
Alerte-se que essa teoria não implica extinção da dívida, mas apenas afasta a adoção de
medidas desproporcionais pelo credor, como a resolução do contrato. Isso significa que o cre-
dor poderá servir-se dos meios ordinários de cobrança da dívida, seja os extrajudiciais – como
o protesto ou a inscrição do nome do devedor em cadastros de inadimplentes (como o Serasa)
–, seja os judiciais, como uma ação de cobrança.
1
Resolução é uma hipótese de extinção do contrato por inadimplemento. O verbete “resolver” também significa “acabar”. Por isso,
é usual a frase “vamos resolver o problema” com o significado acabar com o problema. Resolver o contrato é extinguir o contrato.
2
REsp 1215289/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/02/2013, DJe 21/02/2013.

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Se, por exemplo, alguém vende um imóvel por preço a ser pago em 100 prestações, não é
razoável que o vendedor pleiteie a resolução do contrato se o comprador, após ter pago, por
exemplo, 99 prestações, descumpriu apenas a última. O adimplemento foi substancial.
Interessante exemplo é dado pelo notável professor da USP Otávio Luiz Rodrigues Junior,
que, com apoio em Edwart Errante3, lembra que uma empreiteira tem o direito de receber o
valor dos seus serviços se, diante de um projeto arquitetônico apresentado pelo dono da obra
para a construção de uma casa, somente cometeu uma falha: deixou de instalar as maçanetas
de duas portas na forma indicada no projeto. Dada a insignificância desse inadimplemento
diante de toda a obra, a teoria do inadimplemento mínimo impedirá a resolução do contrato,
mas permitirá que seja cobrado apenas a indenização por perdas e danos cabíveis (o valor das
maçanetas e o custo da instalação por terceiros). O dono da obra terá de pagar o preço pactu-
ado, do qual se poderá deduzir apenas o valor dessa indenização.
O STJ analisou outro caso interessante e entendeu que o não pagamento da última parce-
la do prêmio de um seguro de dano não teria implicado a extinção do contrato de seguro, de
modo que o segurado tinha o direito de cobrar o pagamento da cobertura securitária diante de
um acidente ocorrido com o seu veículo. A seguradora só poderá cobrar o valor dessa parcela
inadimplida (REsp 76.362/MT, 4ª Turma, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 01/04/1996).
Ressalva-se que esse julgado antigo não retrata exatamente a orientação mais atual do STJ,
que tende a admitir a resolução do contrato sempre que o segurador tiver notificado previa-
mente o segurado para purgar a mora, ou seja, para pagar a prestação atrasada, independente-
mente da dimensão do inadimplemento (REsp 318.408/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Humberto
Gomes de Barros, DJ 10/10/2005).
Há controvérsia acerca da aptidão da teoria para, além de impedir a extinção do contrato,
coibir a adoção de meios de cobrança que sejam considerados excessivos.
Por exemplo, a jurisprudência oscilou bastante em definir se, nos casos de financiamento
de veículos com alienação fiduciária em garantia, a teoria do adimplemento substancial seria ou
não admissível a execução de uma garantia fiduciária por meio da busca e apreensão do bem e
da consequente consolidação da propriedade fiduciária. O STJ, após um considerável período
de precedentes estendendo a teoria para inibir esse meio executivo, pacificou o entendimento
em sentido contrário, definindo que a teoria não obsta a execução da busca e apreensão e da
consolidação do bem. O fundamento principal foi o de que a boa-fé e a função social do con-
trato seriam desvirtuadas se o credor perdesse o direito de executar uma garantia essencial ao
seu crédito com fundamento em autorização legal expressa (o Decreto-Lei n. 911/67), o que
comprometeria o “desenvolvimento da economia nacional” (STJ, REsp 1622555/MG, 2ª Seção,
Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Ministro Marco Aurélio Belizze, DJe 16/03/2017).
Sob essa perspectiva, a teoria do inadimplemento substancial não pode infertilizar nenhu-
ma garantia das obrigações, como propriedades fiduciárias, hipotecas, penhores etc. A teoria
3
O caso é lembrado pelo Ministro Antonio Carlos Ferreira no seu voto proferido neste julgado: REsp 1581505/SC, 4ª Turma,
Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe 28/09/2016.

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apenas impede a resolução do contrato, mas não a cobrança da dívida por todos os meios
coercitivos disponíveis, com execução das garantias da dívida.
Temos por acertada a opção do STJ sob a ótica do Direito Civil Constitucional, cujos con-
tornos já definimos ao tratarmos da Parte Geral. Impedir a execução de garantias da dívida
geraria diversos efeitos indesejados, como o aumento dos preços dos produtos como forma
de compensar a inadimplência (de modo que os bons pagadores pagarão pelas extravagância
dos maus pagadores) e a insegurança no mercado de investimentos diante da lembrança de
que é extremamente comum haver venda de títulos mobiliários lastreados em créditos com
garantia (a exemplo do Certificado de Recebível Imobiliário, que é vendido na Bolsa de Valores
e que geralmente se lastreiam em créditos garantidos por alienação fiduciária em garantia
de imóveis).

5. Duty to Mitigate the Loss ou Dever de Mitigar as Próprias Perdas


Credor tem o dever de mitigar
as próprias perdas

Duty mitigate the loss


Vedação a comportamento
oportunista por parte do
Boa-fé objetiva
CREDOR, às custas
do DEVEDOR

Amigos e amigas, tenho por importante que você conheça algumas outras teorias relevan-
tes. A primeira delas é a teoria da substantial performance.
Não é apenas o devedor, mas também o credor quem deve observar a boa-fé objetiva. O
duty to mitigate the loss, também chamado de dever de mitigar as próprias perdas, estabe-
lece que o credor não pode adotar conduta oportunista que estimule o aumento da dívida
com o objetivo de obter proveitos. Compete, pois, ao credor adotar comportamentos que
colabore para que a dívida não se avoluma demasiadamente. Nas palavras do enunciado
n.169/CJF, “o princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do pró-
prio prejuízo”.
Assim, por exemplo, viola o duty to mitigate the loss quem, esperando obter um proveito
econômico considerável, aguarda dois anos para executar uma multa diária de R$ 1.000,00
fixada por um juiz para que o órgão de cadastro de inadimplentes (como o Serasa) apasse
uma negativação indevida. O credor da multa diária (astreintes) agrediu a boa-fé ao manter
uma omissão oportunista ao longo de dois anos, com o objetivo de conseguir um proveito eco-
nômico de mais de R$ 730.000,00 por um lapso do órgão cadastral. O juiz, diante disso, pode
reduzir o valor total das astreintes diante da sua exorbitância por força da boa-fé objetiva e do
art. 814, parágrafo único, CPC.

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Temos que, em nome do duty to mitigate the loss, é cabível a redução dos juros excessivos
cobrados por uma instituição financeira por uma dívida de cheque especial, especialmente
quando essa instituição manteve silêncio por longo período a fim de cobrar um montante exor-
bitante. Em nome da boa-fé objetiva, competia à instituição financeira, ao menos, contatar o
devedor, informando-lhe dos juros estratosféricos a que ele estava exposto. Como se sabe, os
juros do cheque especial são vertiginosamente superiores aos de um empréstimo pessoal.
Enquanto aqueles chegam a mais de 500% a.a., estes últimos ficam na casa dos 60% a.a. Se o
banco houvesse comunicado o devedor, é provável que ele tivesse tentado obter um emprésti-
mo pessoal, ainda que em outro banco, para estancar essa sangria mortal. Temos que, nessas
hipóteses, seria cabível a redução da dívida para o montante equivalente ao da taxa de juros de
um empréstimo pessoal, tudo em nome do duty to mitigate the loss.
É evidente que, em outras situações de mútuos bancários, como naqueles em que alguém
contrai um empréstimo e posteriormente incorre em inadimplência, não se pode invocar o duty
to mitigate the loss para reduzir o valor dos encargos decorrentes da mora, pois, como alertou o
Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, “o estado de inadimplência e o crescimento da dívida é de
responsabilidade exclusiva do mutuário e não de um comportamento omissivo do mutuante”
(STJ, REsp 1489784/DF, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 03/02/2016).

6. Alguns Princípios Gerais de Direito


Entre os vários princípios gerais de direito, destacamos três aqui que são extremamente
úteis para “decorar” inúmeras regras do Direito Civil. Esses três princípios estão na base da
elaboração de várias regras do Código Civil e das leis extravagantes, além de serem o suporte
de vários precedentes do STJ mesmo quando inexistia lei.
Sobre esses princípios, tivemos a oportunidade de escrever três artigos, que, aqui, serão
resumidos de forma sistemática. Se você tiver mais tempo, leia o artigo completo para apro-
fundamento. Estes são os artigos, todos disponíveis no site www.flaviotartuce.adv.br/artigos_
convidados:
• “O Princípio do Aviso Prévio a uma Sanção”;
• “O princípio da proteção simplificada do luxo, o princípio da proteção simplificada do
agraciado e a responsabilidade civil do generoso”.

6.1. Princípio do Aviso Prévio a uma Sanção


Permitir a pessoa
Princípio do AVISO Dever de notificar Deriva dos princípios
possa defender-se,
PRÉVIO a uma sanção antes de aplicar do CONTRADITÓRIO e
justificar-se ou
uma SANÇÃO da BOA-FÉ OBJETIVA
preparar-se

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Parte Geral – I
Carlos Elias

Em regra, antes de infligir qualquer sanção a um pessoa, deve-se notifica-la previamente a


fim de que ela possa se defender, se justificar ou simplesmente se preparar. Por sanção, deve-se
entender qualquer restrição de direito imposta a uma pessoa. Esse é o princípio do aviso prévio
a uma sanção, que decorre do princípio do contraditório (que se aplica a relações entre particu-
lares) e da boa-fé objetiva.
São vários os exemplos de aplicação desse princípio (e é importante você gravar esses
exemplos):
• Prisão civil do devedor de alimentos: é necessário citar pessoalmente o devedor previa-
mente para, em três dias, pagar a dívida ou justificar sua inadimplência (art. 528, CPC);
• Busca e apreensão de veículo alienado fiduciariamente ou objeto de leasing: a ação
de busca e apreensão só pode ser ajuizado se, antes, o devedor tiver sido notificado
mediante envio de carta registrada com aviso de recebimento (AR) sem necessidade de
que o próprio devedor tenha sido quem assinou o AR (art. 2º, § 2º, DL 911/1969);
• Consolidação da propriedade no procedimento de execução extrajudicial de dívida ga-
rantida por alienação fiduciária em garantia sobre imóvel: é necessária notificação pré-
via do devedor para, em 15 dias, purgar a mora (pagar a dívida atrasada), notificação
essa que é feita pelo Cartório de Imóveis (art. 26, Lei n. 9.514/97);
• Cancelamento de plano de saúde por inadimplemento do cliente: é necessária notifica-
ção prévia (art. 13, II, da Lei n. 9.656/1998);
• Cancelamento do seguro de vida por inadimplemento do segurado: é necessária noti-
ficação prévia. Não há lei, mas jurisprudência do STJ (STJ, REsp 316.552/SP, 2ª Seção,
Rel. Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJ 12/04/2004);
• Negativação do nome do devedor em cadastro de inadimplentes: é forçosa a notifica-
ção prévia por parte do órgão cadastral, sob pena de causar dano moral (art. 43, § 2º, do
CDC; STJ REsp 1061134/RS, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 01/04/2009);
• Negativação do nome do devedor em cadastro de inadimplentes de consulta ampla
(como o Serasa) a partir de informações extraídas de negativação feita no Cadastro de
Emitentes de Cheques sem fundos (CCF): é necessária notificação prévia do devedor
para comunicar que o seu nome, que estava negativado em um cadastro de inadimplen-
tes de consulta bem restrita (como o CCF) irá ser lançado em um cadastro de inadimple-
mentos de consulta ampla (como o SERASA), sob pena de causar dano moral (STJ, REsp
1578448/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 12/04/2019);
• Ação de despejo:

O procedimento do despejo prevê que, antes da ordem judicial de despejo, o inquilino inadimplente
tem o direito de, após ser citado, purgar a mora: trata-se do chamado depósito elisivo (art. 61, 8 §
3º, e art. 62, II, da Lei n. 8.245/91).

• Corte de energia ou de água por inadimplência:

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a medida drástica do corte do fornecimento de energia elétrica ou de água só poderá ser feito me-
diante notificação prévia, conforme art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995 (STJ, REsp 1342608/SP, 2ª
Turma, Rel. Ministro Og Fernandes, DJe 27/09/2017). Se, porém, houver situação de emergência, a
suspensão da energia elétrica é permitida sem prévio aviso, pois há urgência a justificar esse ato
(art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/1995.

• Suspensão do cartão de crédito em razão da negativação do nome do cliente em ca-


dastro de inadimplentes por outras dívidas:

a administradora do cartão de crédito não pode automaticamente, sem prévia notificação, suspender o
cartão de crédito de um consumidor em razão de algum outro credor ter inscrito o nome do consumidor
em cadastro de inadimplentes. O aviso prévio é essencial. Trata-se de conduta abusiva que causa dano
moral ao consumidor (STJ, REsp 592.908/MG, 4ª Turma, Rel. Ministro Barros Monteiro, DJ 20/02/2006).

• Aplicação da multa de 10% contra o devedor na fase de cumprimento de sentença com


base no art. 523 do CPC: a aplicação da multa do art. 523 do CPC depende de prévia in-
timação do devedor para pagar a dívida em 15 dias na fase de cumprimento de sentença
(art. 523, CPC);
• Pedido de falência: depende de prévio protesto, que pode ser o protesto especial para
fins falimentar ou até mesmo o protesto comum, desde que este tenha cumprido todos
os requisitos do protesto especial com inclusão da identificação de quem recebeu a
notificação (Súnula n. 361/STJ; STJ, REsp 1052495/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Massami
Uyeda, DJe 18/11/2009).

6.2. Princípio da Proteção Simplificada do Agraciado


Agraciado =
Princípio da proteção O direito protege o Prevalece a
benefício de negócio
SIMPLIFICADA agraciado, mas não função social
jurídico negócio
do agraciado lhe dá prestígio do negócio
jurídico GRATUITO

O Direito Civil protege o agraciado (aquele que é beneficiado por um negócio jurídico gra-
tuito), mas sem lhe dar prestígio. Vejam os exemplos práticos:
• Fraude contra credores:

Na caracterização da fraude contra credores, o consilium fraudis é dispensado diante de negócios


gratuitos, pois, entre prestigiar o beneficiário de uma liberalidade e os credores, o direito prefere
prestigiar estes últimos diante da função social (art. 158, CC). Se, porém, se tratar de um negócio
oneroso, o consilium fraudis é requisito essencial.

• Interpretação restritiva: “Negócios gratuitos devem ser interpretados restritivamente


(art. 114, CC). De fato, seria injusto permitir que o beneficiário de uma liberalidade ado-
tasse interpretações extensivas e, com isso, prejudicasse o generoso”;

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• Formalidades para negócios gratuitos:

O fato de a liberalidade somente trazer ônus ao generoso exige que ela se exteriorize por uma
forma que assegure, ao máximo, certeza do seu ânimo. O beneficiário da liberalidade não é pres-
tigiado do ponto de vista formal, razão por que a legislação se inclina – há exceções! – a consi-
derar os negócios jurídicos gratuitos como solenes, a exemplo da fiança e da doação, que devem
ser escritas (arts. 541 e 819, CC).

• Vícios redibitórios e evicção:

O princípio da garantia, que estabelece que o adquirente de um bem tem direito à higidez da coisa
(garantia em caso de vício redibitório) e do direito sobre a coisa (garantia em caso de evicção),
somente é aplicável para contratos onerosos, conforme arts. 441 e 447 do CC. Beneficiários de
gratuidade não podem exigir juridicamente essa garantia de qualidade da coisa ou do direito
sobre a coisa. O generoso, porém, deve responder por indenização apenas no caso de dolo por
força do art. 392 do CC.

• Concessão generosa de prorrogação de prazo de pagamento:

À luz do art. 372 do CC, a concessão obsequiosa de um prazo adicional para o pagamento de
uma dívida (prazo de favor) não implica renúncia ao direito do credor de utilizar essa dívida para,
por meio da compensação, extinguir outra. Seria realmente injusto que o beneficiário da benes-
se pudesse executar judicialmente o generoso por uma outra dívida, sem que este último, em
defesa, pudesse opor a compensação. A concessão de um prazo de favor afasta a mora (juros
moratórios, multas etc.), mas jamais o direito de o credor valer-se da obrigação dilatada para
invocar a compensação.

• Responsabilidade do cedente na cessão de crédito gratuita:

Conforme art. 295 do CC, o cedente responde pela existência do crédito na cessão onerosa,
independentemente de culpa ou dolo. Se, porém, a cessão for gratuita, o cedente generoso só
responde por dolo. Essa regra harmoniza-se com a lógica de justiça da tutela da gratuidade e se
afina com as disposições relativas à evicção (art. 447, CC) e à responsabilidade civil do generoso
(art. 392, CC).

• Pagamento indevido por meio de transferência gratuita de um imóvel: “quem adquire


gratuitamente imóvel de quem o havia obtido como fruto de pagamento indevido não é
protegido prestigiosamente: poderá perder o bem (art. 879, parágrafo único, CC)”;
• Carona (transporte gratuito de pessoas): generoso só responde por culpa grave ou dolo
(Súmula n. 145/STJ).

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6.3. Princípio da Proteção Simplificada do Luxo


O direito protege
Princípio da proteção
situações de Padrão de luxo:
SIMPLIFICADA
luxo, mas não lhe homem médio
do agraciado
dá prestígio

O Direito Civil protege situações de luxo (aquelas que estão acima da média), mas sem lhe
dar prestígio. Vejam os exemplos práticos:
• Benfeitorias voluptuárias e posse:

O possuidor de boa-fé não pode exigir que elas sejam indenizadas, embora possa levantá-las se for
possível, ao contrário que se dá com as benfeitorias necessárias e úteis (art. 1.219, CC). Em outras
palavras, se um possuidor de boa-fé despende R$ 1.000,00 com a troca da fiação elétrica (benfeitoria
necessária), R$ 4.000,00 com a ampliação do quarto (benfeitoria útil) e R$ 500.000,00 com a contrata-
ção de um famoso pintor para colorir o teto da sala ao estilo da Capela Sistina (benfeitoria voluptuária),
ele – ao ser desapossado do bem por um terceiro com melhor direito – poderá reivindicar a indeniza-
ção pelas benfeitorias necessárias e úteis com direito de retenção, mas não poderá exigir que o reivin-
dicante indenize-lhe as benfeitorias voluptuárias (“o luxo”), ou seja, as obras que excedem o padrão do
homo medius. Esse possuidor poderá apenas, se possível, “levantar” essa benfeitoria luxuosa, como
levar a lâmina do teto contendo a pintura e rebocando o teto para restituir-lhe a normalidade. O Direito
protege o luxo, mas não o prestigia, conforme o princípio da proteção simplificada do luxo.

• Quorum mais rigoroso em condomínio edilício:

Para a realização de benfeitorias voluptuárias em condomínios, não basta o consentimento da maio-


ria dos condôminos, ao contrário do que sucede com benfeitorias úteis – que se satisfazem com
essa maioria absoluta (art. 1.341, inciso I, CC) – e com as benfeitorias necessárias – que sequer
reclamam autorização dos condôminos se não importarem em despesas excessivas (art. 1.341, §§
1º ao 4º, CC). Benfeitorias voluptuárias, por serem “luxos”, reivindicam um quorum mais rigoroso de
dois terços dos condôminos (art. 1.341, inciso I, do CC). Em outras palavras, benfeitorias que repre-
sentam “luxos” não são prestigiadas como as demais benfeitorias, o que reflete mais uma aplicação
do princípio da proteção simplificada do luxo.

• Redução equitativa indenização (art. 944, parágrafo único, CC):

Quando há manifesta desproporção entre o grau de culpa e o dano, o juiz pode reduzir o valor da
indenização equitativamente. Assim, se um indivíduo abalroa o seu veículo contra um carro de luxo
cujo conserto custará cinquenta vezes mais o valor que corresponderia à reparação de um carro
comum, é viável aplicar o art. 944, parágrafo único, do CC para permitir o valor da indenização seja
reduzido para um patamar mediano. Isso, porque o luxo ostentado pelo titular do veículo acaba por
expor os demais a um risco acima da média. Se, porém, a colisão tivesse sido provocada dolosa-
mente por inveja do condutor do veículo comum, a indenização deveria ser o elevadíssimo valor do
orçamento, pois o grau de culpa será proporcional ao dano. É nesse sentido que o direito protege o
luxo, mas não lhe dá prestígio, conforme o princípio em pauta.

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• Móveis suntuosos em imóvel protegido pela impenhorabilidade do bem de família:

Em regra, os móveis que guarnecem o imóvel residencial do devedor são impenhoráveis por serem
bem de família. Excepciona-se essa blindagem de impenhorabilidade se esses móveis forem “obras
de arte e adornos suntuosos” (art. 2º, Lei n. 8.009/1990). É que esses bens representam “luxos”, ou
seja, excedem o limite do padrão do homo medius e, portanto, não podem receber a mesma defe-
rência jurídica que repousa sobre os demais móveis. Trata-se de mais um exemplo de aplicação do
princípio da proteção simplificada do luxo.

• Benfeitorias volupturárias em desapropriação:

Na desapropriação por utilidade pública ou para reforma agrária, as benfeitorias voluptuárias não
são indenizadas em dinheiro, ao contrário do que sucede com as benfeitorias necessárias e úteis
(art. 26, Decreto-Lei n. 3.365/41; arts. 5º, XXIV, 184, § 1º, CF; art. 5º, § 1º, da Lei n. 8.629/1993).

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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (VUNESP/AUXILIAR JUDICIÁRIO/TJ-PA/2014) É correto afirmar que o direito civil disci-
plina, objetivamente, as relações jurídicas.
a) de índole constitucional, que norteiam e limitam outras leis esparsas, hierarquicamente
inferiores.
b) entre as pessoas e a Administração Pública, inexistindo codificação específica no direito
brasileiro.
c) entre os diversos órgãos da Administração Pública, inclusive entre os órgãos do Poder Exe-
cutivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.
d) relativas às pessoas, aos bens e a suas relações, havendo codificação específica no direito
brasileiro.
e) concernentes às pessoas, bens, fatos jurídicos, obrigações, empresas e relações familiares
e de direito sucessório, inexistindo codificação específica no direito brasileiro.

a) Errada. Item define o Direito Constitucional.


b) Errada. Item define o Direito Administrativo e, além disso, erra ao afirmar que não existe uma
codificação específica para o Direito Civil.
c) Errada. Item define o Direito Administrativo.
d) Certa. O Direito Civil é o ramo do direito destinado a regular as relações privadas em geral,
o que abrange pessoas, bens, relações jurídicas, família e sucessões. No Código Civil, há um
capítulo dedicado a “empresas”, pois o Código Civil unificou as obrigações civis com as obri-
gações empresariais. No Brasil, o Código Civil concentra as principais regras de Direito Civil. O
item “d” é o mais compatível com isso e, por isso, é o gabarito.
e) Errada. Questão erra ao afirmar que não existe uma codificação específica para o Direito
Civil.
Letra d.

002. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 promoveu a unificação do Direito Privado, com exceção do direito das obrigações,
onde manteve a autonomia do Direito Civil e do Direito Empresarial.

O direito das obrigações foi unificado, de modo que relações obrigacionais civis e empresariais
se sujeitam às mesmas regras.
Errado.

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003. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca-


racteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo-
bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística,
sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em
relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
O legislador brasileiro de 2002, ao optar pela grande codificação, unificou o direito das obriga-
ções, bem como revogou totalmente o Código Civil de 1916 e parcialmente o Código Comercial.

Realmente houve unificação do direito obrigacional, de maneira que as obrigações civis e co-
merciais sujeitam-se às mesmas regras gerais. Por exemplo, a regra de limite da cláusula penal
a 100% prevista no art. 412 do Código Civil se aplica tanto para obrigações de particulares não
empresários quanto para obrigações contraídas entre empresários. Ademais, o art. 2.045 do
CC/2002 revogou totalmente o CC/1916 (Lei n. 3.017/1916) e apenas uma parte do Código
Comercial (Parte Primeira do Código Comercial, Lei n. 556/1850). Confira-se o dispositivo:

Art. 2.045. Revogam-se a Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – Código Civil e a Parte Primeira do
Código Comercial, Lei n. 556, de 25 de junho de 1850.
Certo.

004. (AOCP/FESF-SUS/ADVOGADO/2010) Os princípios norteadores do atual Código Civil


Brasileiro são
a) Boa-fé, Eticidade e Operabilidade.
b) Socialidade, Legalidade e Operabilidade.
c) Socialidade, Eticidade e Operabilidade.
d) Eticidade, Legalidade e Morabilidade.
e) Efetividade, Adequação e Boa-fé.

As diretrizes teóricas (= os princípios norteadores) do Código Civil Brasileiro de 2002 são a


socialidade, a eticidade e a operabilidade, conforme doutrina.
Letra c.

005. (FCC/DEFENSOR/DPE-ES/2016) Darei apenas um exemplo. Quem é que, no Direito Civil


brasileiro ou estrangeiro, até hoje, soube fazer uma distinção, nítida e fora de dúvida, entre pres-
crição e decadência? Há as teorias mais cerebrinas e bizantinas para se distinguir uma coisa
de outra. Devido a esse contraste de ideias, assisti, uma vez, perplexo, num mesmo mês, a um
Tribunal de São Paulo negar uma apelação interposta por mim e outros advogados, porque en-
tendia que o nosso direito estava extinto por força de decadência; e, poucas semanas depois,
ganhávamos, numa outra Câmara, por entender-se que o prazo era de prescrição, que havia sido
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interrompido! Por isso, o homem comum olha o Tribunal e fica perplexo. Ora, quisemos pôr termo
a essa perplexidade, de maneira prática, porque o simples é o sinal da verdade, e não o bizantino
e o complicado. Preferimos, por tais motivos, reunir as normas prescricionais, todas elas, enume-
rando-as na Parte Geral do Código. Não haverá dúvida nenhuma: ou figura no artigo que rege as
prescrições, ou então se trata de decadência. Casos de decadência não figuram na Parte Geral,
a não ser em cinco ou seis hipóteses em que cabia prevê-la, logo após, ou melhor, como com-
plemento do artigo em que era, especificamente, aplicável. (REALE, Miguel. O projeto de Código
Civil: situação atual e seus problemas fundamentais. São Paulo: Saraiva, 1986. p. 11-12).
Essa solução adotada no Código Civil de 2002 se vincula:
a) à diretriz fundamental da socialidade.
b) à abolição da distinção entre prescrição e decadência.
c) à diretriz fundamental da eticidade, evitando soluções juridicamente conflitantes.
d) ao princípio da boa-fé objetiva, que garante a obtenção do julgamento esperado pelo ju-
risdicionado.
e) à diretriz fundamental da operabilidade, evitando dificuldades interpretativas.

Entre as diretrizes teóricas do Código Civil de 2002 (eticidade, socialidade e operabilidade), a


operabilidade é aquela que levou a Comissão de Juristas coordenada pelo professor Miguel
Reale a redigir um Código Civil que fosse facilmente manuseável (operável) pelos juristas (ope-
radores do Direito). Em decorrência disso, o Código Civil adotou uma sistematicidade, de que
é exemplo a reunião de todos os prazos prescricionais no art. 205 e 206 do Código Civil com
o objetivo de livrar os juristas de debates para definir qual o prazo é prescricional ou decaden-
cial. Ressalva-se que houve apenas uma falha nessa sistematização: o art. 1.032 do CC prevê
um prazo de prescrição de 2 anos durante o qual o sócio retirante ainda responde por dívidas
sociais. A questão em pauta trata da operabilidade, o que atrai o item “E” como resposta.
Letra e.

006. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como nor-


ma de conduta leal e ética aplicável às obrigações contratuais, sentido idêntico ao utilizado,
em matéria de direitos reais, na classificação da posse como sendo de boa-fé ou de má-fé.

O erro está na última parte: a posse de boa-fé ou de má-fé no direito das coisas segue o princí-
pio da boa-fé subjetiva, assim entendida aquela que verifica se a intenção da pessoa é moral-
mente boa ou não. É o art. 1.201 do CC:

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição
da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em con-
trário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.

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Já a boa-fé objetiva não foca na intenção da pessoa, e sim na análise da compatibilidade da


conduta dela com os padrões éticos da sociedade.
O fato de o CC ter valorizado a boa-fé objetiva não significa que ele tenha desprezado a boa-fé
subjetiva, que ainda segue aplicável em vários casos, como na definição de posse de boa-fé ou
de má-fé em matéria de direito das coisas.
Errado.

007. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como um


estado psicológico pelo qual o agente, de forma crédula, desconhece as reais circunstâncias
do ato praticado.

A questão aí trata da boa-fé subjetiva, e não da objetiva.


Errado.

008. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como nor-


ma de conduta de acordo com os ideais de honestidade e lealdade, devendo as partes con-
tratuais agir conforme um modelo de conduta social, sempre respeitando a confiança e os
interesses do outro.

Trata-se da definição da boa-fé objetiva, que é aquela que afere a compatibilidade da conduta
da pessoa (independentemente de seu estado anímico) com os padrões éticos da sociedade.
Certo.

009. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta ausên-


cia de má-fé.

É incompleto definir a boa-fé objetiva como a mera ausência de má-fé, pois a boa-fé subjetiva
também decorre da falta de má-fé. Por isso, errado o item.
Errado.

010. (FGV/MPE-RJ/2014/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta tendo con-


teúdo idêntico ao da boa-fé subjetiva.

O conteúdo é diferente: boa-fé objetiva avalia a conduta, e não a intenção do agente.


Errado.

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011. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca-


racteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo-
bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística,
sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em
relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
O Código Civil de 2002 contém várias cláusulas gerais, das quais são exemplos a função social
do contrato, a boa-fé objetiva e a probidade que devem reger os contratantes, a função social
da propriedade e a ordem pública.

O uso de palavras com campo semântico aberto, que permite diversas interpretações por con-
ter certo grau de indeterminação, é a característica marcada dos conceitos jurídicos indetermi-
nadas e das cláusulas gerais (ou cláusulas abertas). Essas duas técnicas de redação legisla-
tiva são bem parecidas.
A distinção é a que, no conceito jurídico indeterminado, a indeterminação está apenas definição
da norma (= o conceito é indeterminado), e não na consequência de sua violação, a exemplo da
expressão “atividade de risco” prevista no parágrafo único do art. 927 do CC. Definir o que seja
“atividade de risco” envolve certo grau de indeterminação, mas a consequência jurídica é certa:
a responsabilidade objetiva. A indefinição está apenas no pressuposto da norma (conteúdo, a
definição), e não no seu consequente (consequência prática).
Já na cláusula geral, a indeterminação está tanto na definição quanto na consequência prática.
É o caso, por exemplo, da expressões “função social”, “boa-fé objetiva”, “probidade”, “devido
processo legal”. Tanto a definição desses conceitos quanto as suas consequências são aber-
tas, o que dá grande margem de manobra ao jurista. A indefinição está tanto no pressuposto
da norma quanto no consequente4.
Na prática, porém, é comum haver mistura entre as duas técnicas de redação legislativa acima,
especialmente porque ambas têm em comum o objetivo de dar maior liberdade à atividade
interpretativa do jurista.
Certo.

012. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) Cláusulas gerais, princípios e concei-


tos jurídicos indeterminados são expressões que designam o mesmo instituto jurídico.

Embora as duas expressões sejam parecidas por representarem técnicas de redação legislativa que
dão maior liberdade ao jurista, elas não são iguais: a cláusula geral é que envolve indeterminação no
pressuposto e no consequente da norma, ao passo que o conceito jurídico indeterminado só tem
indeterminação no pressuposto. Reportamo-nos ao exposto nos comentários da questão anterior.
Errado.

4
Para aprofundamento, recomendamos obra do jurista Rodrigo Reis MAZZEI (2005) e da jurista Sabrina Dourado FRANÇA
ANDRADE (2011).

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013. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) O princípio da eticidade, paradig-


ma do atual direito civil constitucional, funda-se no valor da pessoa humana como fonte
de todos os demais valores, tendo por base a equidade, boa-fé, justa causa e demais
critérios éticos, o que possibilita, por exemplo, a relativização do princípio do pacta sunt
servanda, quando o contrato estabelecer vantagens exageradas para um contratante em
detrimento do outro.

A eticidade é exigir que, nas relações de direito civil, as partes adotem comportamento compa-
tível com a ética. Isso permite que contratos com cláusulas abusivas sejam invalidados, o que
representa uma flexibilização do pacta sunt servanda. A questão está, pois, correta.
Certo.

014. (MPE-MG/PROMOTOR/MPE-MG) Assinale a alternativa CORRETA:


É possível afirmar que a adoção do sistema de cláusulas gerais no Código Civil de 2002
reverencia:
a) O princípio da boa-fé objetiva.
b) O princípio da eticidade.
c) O princípio da sociabilidade.
d) O princípio da operabilidade.

A operabilidade é a diretriz teórica que estabelece que o CC/2002 deveria ser redigido de modo
a ser de fácil manuseio pelo operador do Direito. Dela decorre, de um lado, a sistematicidade
(de que é exemplo a concentração dos prazos prescricionais nos arts. 205 e 206 do CC) e, de
outro lado, o emprego de técnicas de redação aberta das normas por meio das cláusulas ge-
rais e dos conceitos jurídicos indeterminados. Por isso, a resposta é letra “D”.
Letra d.

015. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca-


racteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo-
bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística,
sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em
relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
Os conceitos jurídicos indeterminados não estão indicados na lei, decorrendo, apenas, de valo-
res éticos, morais, sociais, econômicos e jurídicos.

Os conceitos jurídicos indeterminados estão no texto da lei também, pois representam uma
técnica de redação legislativa: a lei é escrita usando palavras de definição aberta (indetermina-
da) para dar margem de manobra ao jurista.
Errado.
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016. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca-


racteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo-
bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística,
sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em
relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
O Código Civil de 2002 divide-se em Parte Geral, Parte Especial e Livro Complementar.

A divisão do CC/2002 é esta: Parte Geral (arts. 1 a 232), Parte Especial (arts. 233 a 2027) e
Livro Complementar (arts. 2028 a 2046).
Certo.

017. (NC-UFPR/DEFENSOR/DPE-PR/2014/ADAPTADA) A técnica legislativa moderna se ca-


racteriza pela presença de conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que dão mo-
bilidade ao sistema. Todavia, a codificação do Direito Civil exige, também, o trato da casuística,
sob pena de se incorrer em um vazio normativo específico para determinadas situações. Em
relação ao Código Civil de 2002, julgue esta afirmativa:
Os vetores estruturantes do Código Civil de 2002 são os da socialidade, da eticidade, da siste-
maticidade e da operabilidade.

As diretrizes teóricas do CC/2002 são a eticidade, a socialidade e a operabilidade. Dentro des-


ta última, está a sistematicidade. A questão cita as três diretrizes e, ainda que não houvesse
necessidade, especifica a sistematicidade, de modo que ela está correta.
Certo.

018. (CESPE/DEFENSOR/DPE-TO/2013/ADAPTADA) A operacionalidade do direito civil está


relacionada à solução de problemas abstratamente previstos, independentemente de sua ex-
pressão concreta e simplificada.

A operabilidade do direito civil foca entregar ao jurista a aptidão de resolver casos concretos,
de acordo com suas particularidades, de uma maneira mais justa e compatível com a digni-
dade da pessoa humana. Não se busca, portanto, dar uma solução abstrata a todos os casos
concretos de forma indistinta, ao contrário do afirmado na questão.
Errado.

019. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 utilizou a técnica legislativa das normas abertas, razão pela qual o processo de aplica-
ção do Direito depende exclusivamente do raciocínio dedutivo e silogístico.
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O uso de normas abertas (por meio das técnicas de redação legislativa do “conceito jurídico
indeterminado” e das “cláusulas abertas”) reduz o raciocínio dedutivo e silogístico (os quais
são mais usuais para normas fechadas) e amplia o espaço para o raciocínio da razoabilidade
e da ponderação de princípios.
Errado.

020. (MPT/PROCURADOR/MPT/2017/ADAPTADA) O Código Civil de 2002 positivou em


seus artigos valores inerentes à pessoa humana, que passaram a orientar a interpretação de
institutos do Direito Civil, como, por exemplo, a boa-fé objetiva como elemento das relações
contratuais. Essa mudança de paradigma decorre do que se tem chamado de constitucionali-
zação do Direito Civil.

A questão trata adequadamente da constitucionalização do Direito Civil, que preconiza a sub-


missão desse ramo do Direito à Constituição Federal e da qual decorre a eficácia horizontal
dos direitos fundamentais (aplicação destes em relações entre particulares), a repersonaliza-
ção (pessoa humana não é mais um mero agente econômico, e sim o titular de dignidade) e
a despatrimonialização (a dignidade da pessoa humana é mais importante do que a tutela do
patrimônio).
Certo.

021. (LEGALLE/PROCURADOR/PREFEITURA DE SILVEIRA MARTINS-RS/2014) Atual-


mente é possível se falar em um novo Direito Civil, marcado, especialmente, pelos seguintes
elementos, EXCETO:
a) Privatização do Direito Civil.
b) Constitucionalização do Direito Civil.
c) Humanização do Direito Civil.
d) Normatização da biotecnologia.
e) Unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito Comercial.

Não há falar em privatização do Direito Civil, e sim na sua publicização, assim entendida a ten-
dência de serem editadas normas de ordem pública para proteger pessoas vulneráveis em con-
tratos civis. Por isso, o gabarito é a letra “A”. No mais, acresça-se que o novo Direito Civil é mar-
cado pela sua constitucionalização (movimento que o subordina à Constituição Federal), pela
sua humanização (há uma valorização da dignidade da pessoa humana), pela normatização da bio-
tecnologia (a legislação tende a regulamentar a biotecnologia, de que são exemplos a presunção

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de paternidade no caso de reprodução assistida nos termos do art. 1.597, III a V, do CC, a Lei de
Biossegurança e a Resolução n. 63/2017 – CNJ, que trata da paternidade no caso de reprodução
assistida) e pela unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito Comercial (as
regras de obrigações do Livro das Obrigações se aplicam para relações civis ou empresariais).
Letra a.

022. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 resguardou a igualdade por meio da visão abstrata do sujeito de direitos, considerado
em razão das normas jurídicas, e não em face de suas circunstâncias concretas.

Não tem uma visão abstrata do sujeito, e sim concreta, pois busca adequar-se às particularida-
des de cada pessoa na garantia dos seus direitos. O próprio uso de cláusulas abertas e conceitos
jurídicos indeterminados como técnicas de redação legislativa se destinam a dar maior mobili-
dade ao jurista para, diante de cada caso concreto, dar uma solução mais justa, humana e digna.
Errado.

023. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 adotou a concepção de sistema fechado, uma vez que permitido o diálogo apenas
com a Constituição Federal e com as normas especiais de direito privado.

O sistema é aberto: o diálogo do direito civil é com todos os ramos do Direito e com todas as
normas (até com tratados internacionais), e não apenas com a Constituição Federal, ao con-
trário do dito na questão.
Errado.

024. (FCC/DEFENSOR/DPE-RS/2014/ADAPTADA) O sistema de codificação do Código Civil


de 2002 estabeleceu a visão antropocêntrica ao Direito Privado, da qual é exemplo a previsão
normativa dos direitos da personalidade.

O Código Civil colocou a dignidade da pessoa humana no centro de sua tutela, o que retrata
uma visão antropocêntrica, conforme letra “D”. O homem é o centro, e não mais o patrimônio
(visão patrimonialista).
Certo.

025. (CESPE/CONCILIADOR/TJ-BA/2019) Assinale a opção que indica o princípio segundo o


qual o que estiver estipulado entre as partes tem força de lei, uma vez que o contrato vincula
os envolvidos no seu devido cumprimento.
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a) princípio da função social do contrato


b) princípio da força obrigatória do contrato
c) princípio da boa-fé subjetiva
d) princípio da proibição de comportamento contraditório
e) princípio da boa-fé objetiva

O princípio da força obrigatório do contrato estabelece que as partes estão obrigadas a cum-
prir aquilo que pactuaram e é conhecido pela expressão latina pacta sunt servanda (que po-
deria ser traduzida como “pacto tem de ser cumpridos” ou “o pacto faz lei entre as partes”). O
item “b” é o correto, portanto.
Letra b.

026. (MPE-MT/PROMOTOR/MPE-MT/2012/ADAPTADA) Os efeitos do princípio nemo venire


contra factum próprio podem ser identificados no Código Civil brasileiro de 2002 e no Código
Civil de 1916 por meio de interpretação de algumas regras específicas, entre outras regulado-
ras dos contratos e dos negócios jurídicos.

O princípio da proibição do comportamento contraditório (princípio do nemo venire contra fac-


tum proprium) não está positivada expressamente, mas decorre da conjugação de vários dis-
positivos do Código Civil que exige a observância da boa-fé e da função social, como os arts.
187, 421 e 422.
Certo.

027. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A operabilidade determinou a adoção de


soluções normativas para a facilitação da interpretação, aplicação e adaptação do Direito, o
que se verifica na adoção das normas abertas como técnica legislativa.

A adoção de normas abertas como técnica de redação legislativa se destina a facilitar o


manuseio do Código Civil pelo jurista, o que representa uma das ideias da diretriz teórica da
operabilidade.
Certo.

028. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A socialidade implicou a funcionaliza-


ção dos modelos jurídicos, fazendo prevalecer os valores coletivos sobre os individuais, sem
que sejam desconsiderados os valores inerentes à pessoa, o que se verifica na previsão do
instituto do abuso de direito.

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A socialidade é o prestígio dado à função social do direito, afastando o individualismo exa-


cerbado e exigindo compromissos com os valores coletivos. A questão segue essa linha e,
por isso, está correta.
Certo.

029. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A eticidade provocou a opção antropo-


cêntrica da codificação civil, implicando a prevalência de critérios éticos sobre os de nature-
za formal, o que se verifica nos institutos da lesão e do estado de perigo.

A eticidade exige condutas éticas dos indivíduos, fazendo a valorização da pessoa (antro-
centrismo) prevalecer sobre o mero interesse patrimonial (patrimonialismo). A lesão (art.
157, CC) e o estado de perigo (art. 156, CC) exemplificam isso, pois permitem anular negó-
cios jurídicos quando uma pessoa assumiu prestação manifestamente desproporcional por
uma situação de vulnerabilidade.
Certo.

030. (FCC/DEFENSOR/DPE-PR/2012/ADAPTADA) A igualdade formal determinou o trata-


mento igualitário dos sujeitos de direitos e o afastamento de regimes tutelares, o que se
verifica no afastamento de um regime de proteção dos incapazes, presentes na anterior co-
dificação civil.

Errado. O CC prestigia uma igualdade material, que busca dar proteção a quem está em situa-
ção de vulnerabilidade. Os incapazes, por exemplo, seguem sob a proteção do regime de poder
familiar, tutela ou curatela. Errado, pois, o item.
Errado.

031. (FCC/TRE-PR/2017/ADAPTADA) A teoria do adimplemento substancial foi expressa-


mente prevista na legislação civil e sua adoção evita a resolução do contrato, quando ocorrer
inadimplemento mínimo.

A teoria do adimplemento substancial não tem previsão textual na legislação, mas decorre da
vedação ao abuso de direito (art. 187, CC), da boa-fé objetiva (arts. 113 e 422, CC) e da função
social (art. 421, CC).
Errado.

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032. (VUNESP/PROCURADOR/PREF. MOGI DAS CRUZES-SP/2016/ADAPTADA) Sobre a su-


pressio ou o comportamento contraditório, é possível afirmar que pode ser considerado como
abuso de direito por omissão reiterada.

A supressio é a perda de um direito em razão de uma inércia prolongada (omissão reiterada)


que, no caso concreto, gere uma legítima expectativa em outrem. A ruptura dessa legítima ex-
pectativa configura um abuso de direito. Por isso, é correto dizer que a supressio é um abuso
de direito por omissão reiterada.
Certo.

033. (CESPE/DEFENSOR/DPU/2010/ADAPTADA) O pagamento realizado reiteradamente


pelo devedor em local diverso do ajustado em contrato é um exemplo do que se denomina
supressio.

O art. 330 do CC prevê que o pagamento reiterado em lugar diverso do pactuado faz presumir re-
núncia ao direito de exigir o pagamento no lugar pactuado. Isso é um exemplo de supressio, pois
a omissão reiterada do credor em exigir a observância do pagamento no lugar contratado cria
uma legítima expectativa no devedor de que este poderá continuar pagando no mesmo lugar.
Certo.

034. (CESPE/ANALISTA/ADVOCACIA/EBC/2011/ADAPTADA) O princípio da boa-fé objetiva


contratual tem, entre outras funções, a de limitar o exercício de direitos subjetivos, sobre a qual
incidem a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos próprios, daí
derivando os seguintes institutos: tu quoque, venire contra facutm proprium, surrectio e supressio.
Este último assegura a possibilidade de redução do conteúdo obrigacional pactuado, pela inércia
qualificada de uma das partes, ao longo da execução do contrato, ao exercer direito ou faculda-
de, criando para a outra a legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela prerrogativa.

A questão arrola os quatro corolários da boa-fé objetiva, que são decorrência da teoria dos
atos próprios (segunda a qual é ilícito contrariar um ato próprio). Ela também define adequada-
mente a supressio, que implica a perda de um direito pelo seu não exercício prolongado com a
capacidade de criar uma legítima expectativa na outra parte.
Certo.

035. (FCC/DEFENSOR/DPE-MA/2015) Bruno adquiriu um veículo mediante contrato de alie-


nação fiduciária, em 300 parcelas no valor de R$ 200,00 (duzentos reais) cada. Bruno pagou
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pontualmente as parcelas até que, faltando apenas seis prestações para o adimplemento, não
teve condições de realizar o pagamento. Diante da impontualidade de Bruno, a instituição fi-
nanceira ajuizou ação de busca e apreensão do veículo. Na condição de defensor público atu-
ando em favor de Bruno, para defendê-lo neste pedido de busca e apreensão, é correta a alega-
ção de abuso do direito por parte da instituição financeira por aplicação da
a) autonomia da vontade.
b) vedação de cláusula comissória.
c) exceção do contrato não cumprido.
d) vedação legal de busca e apreensão em alienação fiduciária.
e) teoria do adimplemento substancial.

A questão é antiga. O gabarito dela à época foi letra “E”. Todavia, atualmente, essa questão se-
ria anulada. Trazemos essa questão aqui para chamar a atenção para o entendimento atual do
STJ. O STJ, nos casos de financiamento de veículos com alienação fiduciária em garantia, não
mais admite a aplicação da teoria do adimplemento substancial para impedir a execução de
uma garantia fiduciária por meio da busca e apreensão do bem e da consequente consolidação
da propriedade fiduciária. O fundamento principal é o de que a boa-fé e a função social do con-
trato seriam desvirtuadas se o credor perdesse o direito de executar uma garantia essencial ao
seu crédito com fundamento em autorização legal expressa (o Decreto-Lei n. 911/67), o que
comprometeria o “desenvolvimento da economia nacional” (STJ, REsp 1622555/MG, 2ª Seção,
Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Ministro Marco Aurélio Belizze, DJe 16/03/2017).
Letra e.

036. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) A surrectio refere-se a um di-


reito que não exercido durante determinado lapso de tempo não poderá mais sê-lo, por con-
trariar a boa-fé.

A questão define a supressio.


Errado.

037. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) A surrectio é considerada a ou-


tra face da supressio, ou seja, acarreta o nascimento de um direito em razão da continuada
prática de certos atos.

A questão define corretamente esse corolário da boa-fé objetiva.


Certo.

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038. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) O tu quoque está relacionado à


proteção de uma parte contra aquela que pretende exercer uma posição jurídica em contradi-
ção com o comportamento assumido anteriormente.

A questão define o venire contra factum proprium, e não o tu quoque. Este último censura que
uma pessoa, após violar uma norma, tente se aproveitar dessa situação posteriormente. A ideia
é a de que ninguém pode se aproveitar da própria torpeza. O exemplo clássico de repressão
ao tu quoque é a chamada “exceptio non adimpleti contractus” (exceção de contrato não cum-
prido), segunda a qual a parte que descumpre a prestação (= viola uma norma) não querer se
beneficiar do contrato exigindo que a outra cumpra a contraprestação. Essa outra parte pode se
recusar a pagar a contraprestação, alegando que o contrato foi cumprido (= exceptio non adim-
pleti contractus). A exceptio non adimpleti contractus está prevista no art. 476 do CC:

Art. 476. Nos contratos bilaterais [= contratos em que ambas as partes têm obrigação: prestação
e contraprestação], nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o
implemento da do outro.
Errado.

039. (BANPARÁ/ADVOGADO/BANPARÁ/2017/ADAPTADA) O venire contra factum proprium


proíbe que uma pessoa faça contra outra o que não faria contra si mesmo, consistindo em
aplicação do mesmo princípio inspirador da exceptio non adimpleti contractus.

Questão define equivocadamente o tu quoque: esta é a proibição de alguém se aproveitar da


própria torpeza.
Errado.

040. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE CERQUILHO-SP/2019) “A possibilidade de se


considerar suprimida uma obrigação contratual, na hipótese em que o não exercício do direito
correspondente, pelo credor, gere no devedor a justa expectativa de que esse não exercício se
prorrogará no tempo”.
Qual é o instituto a que se refere a citação?
a) Supressio.
b) Prescrição.
c) Impossibilidade jurídica do pedido.
d) Decadência.
e) Surrectio.

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Questão define a supressio, que é a perda de um direito em razão de uma inércia prolongada
com a capacidade de criar uma legítima expectativa em outrem.
Letra a.

041. (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015/ADAPTADA) Os negócios jurídicos que estabeleçam benefí-


cio devem ter interpretação ampla.

A interpretação de negócios jurídicos gratuitos (que são aqueles que estabelecem um benefí-
cio patrimonial a outrem sem contraprestação) tem de ser restritiva, e não extensiva (ampla),
conforme art. 114 do CC. O mesmo se dá com as renúncias a direitos: também têm de ser
interpretadas restritivamente (art. 114, CC). Trata-se de um exemplo do princípio da proteção
simplificada do agraciado, de maneira que aquele que será beneficiado com a liberalidade é
protegido, mas sem prestígio. Se faço uma doação a uma pessoa, esse contrato será interpre-
tado de forma restritiva: não poderá o agraciado “tentar” obter maior benefício por meio de
uma interpretação extensiva.
Errado.

042. (IESES/OFICIAL DE CARTÓRIO/TJMS/ 2014) Para fins de prazo civil considera-se Meado:
a) Em qualquer mês, o seu décimo quinto dia, com exceção do mês de fevereiro, o qual será
considerado o décimo quarto dia.
b) A metade do prazo que a lei prever.
c) Em qualquer mês, o dia quinze, independentemente de que o vencimento venha a cair
em feriado.
d) Em qualquer mês, o seu décimo quinto dia, e se dia do vencimento cair em feriado, conside-
rar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.

Para negócios jurídicos (como contratos), a palavra “meado” sempre é o 15º dia, independente-
mente do mês envolvido. E, se o dia do vencimento cair em dia não útil, presume-se sua prorro-
gação para o dia útil seguinte. Se, por exemplo, estabeleço que o pagamento do preço será em
meado de fevereiro, a data de vencimento será 15/FEV e, caso esse dia seja feriado, considera-se
que ele está prorrogado para o primeiro dia útil seguinte. Trata-se do art. 132, caput e § 1º, do CC:

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o
dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.

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§ 2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.


§ 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se
faltar exata correspondência.
§ 4º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.
Letra d.

043. (VUNESP/ADVOGADO/SPTRANS/2012) Considerando o Código Civil de 1916 (CC/1916)


e o Código Civil de 2002 (CC/2002), assinale a alternativa correta acerca da contagem de prazos.
a) Prevalecem os prazos do CC/2002, na medida em que este revogou o CC/1916.
b) Prevalecem os prazos do CC/1916, em respeito ao ato jurídico perfeito.
c) Se reduzido o prazo pelo CC/2002 e transcorrido, na data de sua entrada em vigor, mais da
metade do tempo estabelecido no CC/1916, prevalece o prazo da nova lei.
d) Se reduzido o prazo pelo CC/2002 e transcorrido, na data de sua entrada em vigor, mais da
metade do tempo estabelecido no CC/1916, prevalece o prazo da lei anterior.
e) Se houve alteração de prazo pelo CC/2002, dever-se-á considerar a média dos prazos, a con-
tar da vigência do novo código.

Trata-se do art. 2.028 do CC:

Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de
sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.
O enunciado n. 299/JDC tem a mesma dicção:

299 – Art. 2.028. Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código Civil
de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que transcorrido
mais de metade deste na data da entrada em vigor do novo Código. O novo prazo será
contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o tempo anteriormente decor-
rido, salvo quando o não aproveitamento do prazo já decorrido implicar aumento do prazo
prescricional previsto na lei revogada, hipótese em que deve ser aproveitado o prazo já
decorrido durante o domínio da lei antiga, estabelecendo-se uma continuidade temporal.

Letra d.

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DIREITO CIVIL
Parte Geral – I
Carlos Elias

GABARITO
1. d 16. C 31. E
2. E 17. C 32. C
3. C 18. E 33. C
4. c 19. E 34. C
5. e 20. C 35. e
6. E 21. a 36. E
7. E 22. E 37. C
8. C 23. E 38. E
9. E 24. C 39. E
10. E 25. b 40. a
11. C 26. C 41. E
12. E 27. C 42. d
13. C 28. C 43. d
14. d 29. C
15. E 30. E

Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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