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DIREITO CIVIL

Parte Geral – II

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Parte Geral – II
Carlos Elias

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Parte Geral – II.................................................................................................................................. 5
1. Sujeito de Direito.......................................................................................................................... 5
2. Dano Moral contra Ente Despersonalizado?......................................................................... 7
3. Personalidade Jurídica da Pessoa Natural. . ........................................................................... 8
4. Capacidade Jurídica. . ..................................................................................................................12
4.1. Noções Gerais...........................................................................................................................12
4.2. Capacidade de Direito............................................................................................................13
4.3. Capacidade de Fato ou de Exercício................................................................................... 14
4.4. Mecanismos de Proteção dos Incapazes. . ......................................................................... 17
5. Pessoas com Deficiência: Equívocos e Acertos do Estatuto............................................ 20
6. Tomada de Decisão Apoiada.. .................................................................................................. 22
7. Institutos de Amparo aos Incapazes..................................................................................... 24
7.1. Noções Gerais. . ......................................................................................................................... 24
7.2. Poder Familiar......................................................................................................................... 24
7.3. Família Substituta: Tutela, Adoção e Guarda do ECA...................................................... 26
7.4. Curatela.................................................................................................................................... 28
8. Indígena....................................................................................................................................... 29
9. Emancipação.. ............................................................................................................................. 30
10. Legitimação. . ..............................................................................................................................31
11. Morte Civil.................................................................................................................................. 32
12. Ausência..................................................................................................................................... 35
12.1. Noções Gerais. . ....................................................................................................................... 35
12.2. Procedimento da Ausência e da Morte Presumida. . ...................................................... 37
Questões de Concurso..................................................................................................................40
Gabarito............................................................................................................................................ 53

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Parte Geral – II
Carlos Elias

Apresentação
Bom dia, boa tarde, boa noite ou... boa madrugada! Rssss. Sei que não há hora para estu-
dar. O importante é você sempre manter-se focado nos seus objetivos.
Agora chegou a hora de avançarmos para tratar de pessoas naturais. Já aviso logo: eu vou
aprofundar! Eu quero que você esteja preparado para as questões mais difíceis, porque – lem-
bre-se disto – é nomeado quem consegue acertar as questões mais complexas.
E mais: quem sabe o mais naturalmente saberá o menos.
Então, vamos lá.

Resumo

Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os
exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu apro-
fundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com
as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familia-
ridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• Há dois tipos de sujeitos de direito: os entes personalizados e os entes despersonaliza-
dos. O espólio, por exemplo, é um ente despersonalizado, pois, embora não tenha perso-
nalidade jurídica, pode ter direitos e deveres;
• Para STJ, condomínio é ente despersonalizado e não pode sofrer dano moral pelo fato de
um condômino ter importunado a comunidade com festas barulhentas de madrugada;
• Condomínio edilício pode adquirir imóveis em hipóteses restritas, como no caso de ad-
judicação da unidade do condômino inadimplente;
• Personalidade jurídica é a aptidão de ter direitos e deveres. No caso da pessoa natural,
a personalidade jurídica surge com o nascimento com vida, resguardados os direitos do
nascituro desde a concepção;
• Apesar de haver três teorias sobre o início da personalidade (natalista, concepcionista e
da personalidade condicional), todas elas acabam chegando no mesmo resultado práti-
co. Todas, por exemplo, defendem a proteção de direitos da personalidade ao nascituro,
no que couber;
• A capacidade pode ser de duas espécies: de direito e a de fato;
• Capacidade de direito, de aquisição ou de gozo = medida da personalidade (o quanto a
pessoa pode ter direitos e deveres):
− Não existe incapacidade de direito, mas apenas de fato, pois quem tem personalida-
de jurídica necessariamente tem capacidade de direito;

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− Há quem defenda (e há provas de concurso nesse sentido) que personalidade e ca-


pacidade de direito se confundem ou se equiparam (apesar de não serem conceitos
sinônimos);
• Capacidade de fato ou de exercício = aptidão de EXERCER, por si só, atos da vida civil;
• A incapacidade (de fato) pode ser absoluta ou relativa;
• O único caso de incapacidade absoluta é o de quem tem idade inferior a 16 anos, tudo por
força da alteração feita pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015);
• A incapacidade relativa pode ser por menoridade (quem tem idade entre 16 e 18 anos)
ou por outros casos (pródigo, ébrio habitual, viciado em tóxico e quem não pode exprimir
a vontade);
• A legitimação é a exigência de requisito especial para determinados atos jurídicos por
força de lei. Ex.: para ser fiador, o cônjuge precisa do consentimento do outro (art. 1.647,
CC);
• Incapazes por menoridade são sujeitos a poder familiar ou tutela;
• Os demais incapazes são sujeitos a curatela;
• Há controvérsias sobre a aplicação da Tomada de Decisão Apoiada. A tendência é admi-
ti-la para pessoas com deficiência capazes;
• De acordo com o ECA, há dois tipos de família: a natural e a substituta. A substituta é
aquela que decorre de tutela, guarda ou adoção;
• A capacidade do indígena é disciplinada por lei especial;
• A emancipação pode ser voluntária, judicial ou legal:
− Emancipação voluntária: pais, por escritura pública, emancipam filho com idade a par-
tir de 16 anos (art. 5º, parágrafo único, I, CC);
− Emancipação judicial: juiz, ouvido o tutor, emancipa tutelado com idade a partir de 16
anos (art. 5º, parágrafo único, I, CC);
− Emancipação legal: menor fica emancipado ao se enquadrar em uma das quatro hipó-
teses legais: (1) casamento; (2) exercício de emprego público efetivo; (3) colação de
grau em ensino superior; (4) economia própria a partir dos 16 anos de idade (art. 5º,
parágrafo único, II ao V, CC);
• A morte civil pode ser natural (que corresponde com a morte cerebral) ou presumida.
Esta última pode ser sem declaração de ausência (casos do art. 7º do CC) ou com decla-
ração de ausência (quando lei autoriza a abertura da sucessão definitiva – art. 6º, CC);
• A ausência é um estado civil de quem desapareceu e que, nos termos do art. 22 e se-
guintes do CC, pode vir a ser declarado morto presumidamente.

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PARTE GERAL – II
1. Sujeito de Direito

Pessoas naturais
Entes personalizados
Pessoas jurídicas Ex.: espólio, massa
falida, fundo de
Não têm personalidade investimento,
jurídica, mas podem grupo de consórcio,
Quem pode ser titular de direitos e condomínio edilício
SUJEITO DE ser TITULAR Entes despersonalizados deveres (controvérsia)

DIREITOS de objetos de
direito ATENÇÃO: os conceitos de pes-
soas naturais e de pessoas jurí-
dicas não se confundem com
os conceitos de CPF e CNPJ

Meus amigos e minhas amigas, vamos começar por um dos temas mais cobrados em par-
te geral de Direito Civil: sujeito de direito.
Sujeito de direito opõe-se ao conceito de objeto de direito: aquele representa quem é titular
de um objeto. Sujeito de direito é quem pode ser titular de objetos. Há duas espécies de su-
jeitos de direitos: os entes personalizados, assim entendidos os que possuem personalidade
jurídica (pessoas naturais e pessoas jurídicas), e os entes despersonalizados, assim designa-
dos quem, embora não seja pessoa e, portanto, não tenha personalidade jurídica, podem ter
direitos e deveres. A situação de ente despersonalizado é excepcional e, em princípio, depende
de previsão no ordenamento (lei ou, eventualmente, princípios). O espólio é exemplo clássico,
pois representa o conjunto de bens deixados por uma pessoa falecida e, embora não seja uma
pessoa, pode ter direitos e deveres. Contra o espólio podem ser dirigidas ações judiciais, por
exemplo, para cobrar dívidas deixadas pelo finado. O inventariante é o “administrador” do espó-
lio. Outro exemplo é a massa falida, que é “administrada” pelo síndico e que não se confunde
com a sociedade empresária cuja falência foi decretada. A falência não extingue a sociedade,
mas apenas reúne o seu patrimônio sob a forma de um ente despersonalizado designado de
massa falida para efeito de repartição do patrimônio entre os credores na forma da lei falimen-
tar. Há outros entes despersonalizados, como os fundos de investimento (art. 1.368-C, CC),
o fundo de investimento imobiliário (art. 1º, Lei 8.668/93) e o grupo de consórcio (art. 3º, Lei
11.795/2008).
Uma das principais relevâncias práticas dessa distinção é a de que, para os entes desper-
sonalizados, o princípio da legalidade deve ser mais restrito: tudo lhe é proibido, salvo o permi-
tido em lei, nos costumes ou em princípios jurídicos (princípio da legalidade estrita). É diferen-
te do que sucede aos entes personalizados, que, por terem personalidade jurídica, tudo podem
fazer, salvo o vedado em lei (princípio da legalidade ampla). Assim, por exemplo, se um espólio
contratar um “pacote de viagem” em uma agência de turismo, esse contrato é nulo por escapar

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ao que a lei e o costume admitem para o espólio. Os entes despersonalizados possuem uma
capacidade de direito limitada a atividades estritamente vinculadas à sua natureza e à sua
finalidade. Eles jamais poderiam “adquirir patrimônio que não tivesse uma íntima relação com
a sua atividade” (Carnacchioni).
E como fica a figura do condomínio edilício?
Há controvérsias acerca da natureza jurídica do condomínio edilício.
Forte corrente doutrinária tem-no como pessoa jurídica, com apoio do enunciado n. 90/
JDC (“Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício”).
O STJ, porém, entende diversamente, classificando o condomínio edilício como um
ente despersonalizado (STJ, REsp 1736593/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe
13/02/2020).
De fato, o rol de pessoas jurídicas está nos arts. 41 ao 44 do CC sem incluir o condomínio
edilício. Este, ademais, nasce com o registro no cartório de registro de imóveis, foro inadequa-
do para pessoas jurídicas. Se o edifício ruir-se plenamente, o condomínio edilício é extinto, o
que soa estranho para uma pessoa jurídica (arts. 1.357, CC).
Ao nosso aviso, o condomínio edilício é um ente despersonalizado e, como tal, só podem
fazer aquilo que a lei, o costume ou os princípios jurídicos admitirem. A lei lhe autoriza, por
exemplo, a tornar-se proprietário de imóvel de condômino inadimplente por meio de procedi-
mento de adjudicação (interpretação extensiva do art. 63, § 3º, da Lei n. 4.591/64; interpre-
tação sistemática do art. 1.358-S, CC). Todavia, não poderia o condomínio sair a comprar e
revender imóveis fora desses casos de expropriação legal por inadimplência, pois não é dada
a liberdade dos que possuem personalidade jurídica. Condomínio pode contratar porteiros e
celebrar contratos afetos à sua atividade de administração da coisa (ex.: locação de áreas
comuns para empresas prestadoras de serviços aos condôminos), pois o costume e os princí-
pios gerais de direito credenciam-lhe.
Meu querido e minha querida, quero que você tome um cuidado: CPF e CNPJ NÃO neces-
sariamente têm conexão com os conceitos de pessoas natural e jurídica!

Não se pode confundir o conceito civil de pessoas (naturais e jurídicas) com os conceitos fis-
cais de CPF (Cadastro de Pessoas Físicas) e CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas).
Estes últimos são números cadastrais destinados a individualizar todos os potenciais contri-
buintes e – embora o CPF geralmente abranja pessoas naturais e o CNPJ, pessoas jurídicas
– o fato é que há diversas exceções. O CNPJ é destinado a contribuintes que, na sua atividade,
vinculam-se a fatos geradores típicos de pessoas jurídicas (como ISS, ICMS etc.), razão por que
há pessoas naturais, entes despersonalizados e, até mesmo, unidades integrantes de pessoas
jurídicas com CNPJ. O empresário individual, previsto no art. 966 do CC, é uma pessoa natural
que exerce atividade empresarial e, por isso, além do CPF, possui um CNPJ para que, sob este
último número cadastral, sejam vinculados os tributos gerados por sua atividade empresarial.

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O grupo de consórcio, embora seja um ente despersonalizado, deve ter CNPJ. Igualmente os
estabelecimentos de uma sociedade (popularmente, as várias filiais de uma pessoa jurídica)
e os órgãos públicos, embora sejam meras unidades de uma pessoa jurídica, devem ter CNPJ
(Instrução Normativa RFB n. 1.634/2016).

Como se vê, o fato de um ente ter CNPJ não significa que ele é pessoa jurídica. Daí decor-
rem consequências práticas. Por exemplo, ao fazer um pedido de penhora de bens no nome
de um empresário individual, convém que o credor informe ao juiz o CPF e o CNPJ do devedor
para que a busca de contas bancárias seja mais completa.
Quem dispõe sobre personalidade jurídica, direitos da personalidade, titularidade de direi-
tos e deveres é o Direito Civil, e não o Direito Tributário, de maneira que as discussões relativas
a legitimidade processual, bens penhoráveis e congêneres devem pautar-se no Direito Civil.
Não se nega que, com o CPF e o CNPJ, a identificação das pessoas é mais precisa por
se livrar do risco de homonímia. O próprio CPC já exige a indicação do CPF e do CNPJ do réu
como requisito da inicial (art. 319, II, CPC). Isso, no entanto, não implica que quem tenha CNPJ
necessariamente seja pessoa jurídica.

2. Dano Moral contra Ente Despersonalizado?


Dano moral Só PESSOA STJ negou condenação a
Tema
contra ente tem direito de danos morais em prol de
controverso
despersonalizado personalidade? CONDOMÍNIO EDILÍCIO.
Vamos para outra questão para aprofundar o tema de sujeito de direito!
Paira discussão acerca do cabimento de dano moral contra entes despersonalizados. De
um lado, há quem o nega por falta de personalidade jurídica. Só pessoas teriam direitos da
personalidade. De outro lado, há quem sustente o cabimento de dano moral contra os entes
despersonalizados, a depender do caso concreto.
Não há nada consolidado na jurisprudência.
Por ora, especificamente em relação ao condomínio edilício, prevalece o entendimento de
que não cabe dano moral.
Esse é o entendimento do STJ, que negou a um condomínio edilício (Condomínio Jardim
Morumbi de Presidente Prudente) o pedido de indenização por dano moral formulado contra
condôminos que haviam celebrado uma impactante festa (com som alto, nudez, intenso fluxo
de pessoas e banheiro químico) em desacordo com as normas do condomínio e em desres-
peito a uma liminar judicialmente concedida. Nesse caso, cada condômino poderia, individu-
almente, reivindicar indenização por dano moral, mas não o condomínio edilício (STJ, REsp
1736593/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 13/02/2020).
Há, porém, poucos julgados do STJ, de modo que não se pode afirmar que esse entendi-
mento já está pacificado lá.
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No caso de condomínio edilício, por exemplo, o TJSP negou dano moral ao condomí-
nio por falta de personalidade jurídica e reconheceu que apenas os condôminos poderiam
sofrer esse tipo de dano, como no caso de atraso na entrega das obras da área comum
(TJSP, Ap. 01313959720098260003/SP, 29ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Hamid Bdi-
ne, DJ 21/08/2014) ou de protesto indevido em nome do condomínio (TJSP, Ap. 0063460-
49.2009.8.26.0000, 29ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Maria Lúcia Pizzotti, j. 28/4/2014).
Temos, porém, que, embora os entes despersonalizados não tenham personalidade jurídica,
é-lhe facultado ter direitos e deveres naquilo em que a lei, os costumes e os princípios jurídicos
permitirem e, ao nosso sentir, aí deve-se incluir os direitos da personalidade no que couber.
Assim, por exemplo, havendo protesto indevido do condomínio edilício ou de um fundo de in-
vestimento imobiliário, temos por caracterizado o dano moral.
Para concurso, recomendo levar em conta o entendimento de que ente despersonalizado
não sofre dano moral, mas o assunto é controverso e uma questão nesse sentido merecia
ser anulada.

3. Personalidade Jurídica da Pessoa Natural


Teoria NATALISTA Protege o NASCITURO
(nascimento com VIDA) como futura pessoa

Teoria CONCEPCIONISTA Nascituro tem personalidade jurídica,


Personalidade Jurídica (concepção) mas somente a FORMAL
Início da
da pessoa natural
personalidade
( = todos os seres Teoria da PERSONALIDADE
jurídica (art. 2º, CC)
humanos) CONDICIONAL (nascimento Protege os direitos do
com vida = condição nascituro como direitos
suspensiva) sob condição suspensiva

Estende-se a ele, no que couber, os direitos da personali-


dade (ex.: nome, sepultamento, integridade física, imagem)
Natimorto

É objeto de direito. Ex.: pode ser objeto de


Natureza jurídica do pesquisa científica (Lei da Biossegurança)
Nascituro
embrião in vitro

É possível, desde que afete


Dano moral ao sua vida após o nascimento.
nascituro?

Obs.: NASCITURO não


pode ser proprietário.
Doações feitas a ele
possuem condição
suspensiva: seu
nascimento com vida

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UFA! Aprofundamos bem o tema de sujeito de direito. Até dava para a gente falar de temas
mais complexos, como a natureza jurídica de fundos de investimentos, mas isso não é neces-
sário agora.
Vamos agora para a pessoa natural, que, no Direito Brasileiro, corresponde a todos os se-
res humanos.
Talvez você pergunte: por que no Direito Brasileiro? Eu respondo: é que o conceito de pes-
soa natural pode variar em cada ordenamento jurídico. Por exemplo, em tempos mais antigos,
quando a escravidão manchava as sociedades mundiais, os negros não eram considerados
pessoas, e sim objetos de direito.
Antes de tudo, quero que você resolva a questão: certo ou errado?

001. (CESPE/MPE-PI/PROMOTOR/2012) Como o Código Civil exige o nascimento com vida


para a aquisição da personalidade civil, o nascituro não tem direito a indenização por danos
morais pela morte do pai.

E aí? Qual é a resposta?


Para responder, nós precisaremos definir o que é personalidade jurídica e tratar da situação
jurídica do nascituro. Antecipo, porém, que o gabarito é ERRADO, pois, em alguns casos, a ju-
risprudência admite indenização por dano moral em favor do nascituro, especialmente no caso
de morte de seu pai.
Errado.

E vamos começar com o conceito de personalidade jurídica.


Personalidade jurídica é a aptidão (a potencialidade) de ter direitos e deveres. Quem tem
personalidade é pessoa e, como tal, pode adquirir direitos e deveres. No Brasil Colônia, escra-
vos não tinham personalidade jurídica, pois não eram potenciais titulares de direitos; eram
objetos de direito. As mulheres, em várias sociedades da história, eram objetos de direito e,
portanto, não tinham personalidade jurídica.
Paira controvérsia sobre o início da personalidade jurídica, pois o art. 2º do CC, embora
diga que ela se inicia com o nascimento com vida, afirma que são protegidos os direitos do
nascituro desde a concepção. Ora, se o nascituro tem direitos, é porque ele teria personalidade
jurídica. Designa-se de nascituro o embrião em fase de gestação, de neonato quem acabou de
nascer com vida e de natimorto quem nasceu morto.
Há três principais teorias sobre esse tema, mas todas chegam ao mesmo resultado prático
com base em argumentos diversos. Não se pode dizer que uma prevalece sobre a outra diante
da fragmentação doutrinária.

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A primeira teoria é a natalista, que pontua o início da personalidade jurídica com o nasci-
mento com vida. Essa teoria é mitigada, pois protege o nascituro em razão de ele ser potencial-
mente uma futura pessoa. E, como ele é uma futura pessoa, deve-se-lhe estender a proteção
dos direitos da personalidade no que couber, como a integridade física, a honra etc.
A segunda teoria é a concepcionista, que finca o ponto inicial da personalidade com a con-
cepção, de maneira que o nascituro já teria personalidade jurídica. Nessa corrente, afirma-se
que há dois tipos de personalidade jurídica: (1) a personalidade formal, que é a aptidão de ter
direitos da personalidade; e (2) a personalidade material, que é a aptidão de ter direitos patri-
moniais. O nascituro, para essa teoria, somente teria direitos da personalidade e, portanto, só
teria personalidade formal. Não seria possível registrar um nascituro como titular de um imó-
vel, pois ele não teria personalidade material.
A terceira teoria é a da personalidade condicional, para a qual a personalidade jurídica sur-
ge com a concepção, mas fica sujeita a uma condição suspensiva: o nascimento com vida. Daí
decorre que os direitos da personalidade do nascituro podem ser protegidos diante da possibi-
lidade de proteção de situações jurídicas eventuais, como as sujeitas a condições suspensivas
(art. 130, CC).
Diante de tudo isso, vale a pena analisarmos algumas questões específicas em relação ao
natimorto e ao nascituro.
Vamos começar com o natimorto.
O natimorto (assim designado quem nasceu morto, ou seja, quem não respirou) não adqui-
re personalidade jurídica, mas, como ele era uma potencial pessoa, devem ser estendidos a es-
tes os direitos da personalidade no que couber. O médico não pode jogar no lixo um natimorto,
como se joga uma garrafa de água: natimorto não é um objeto de direito. Daí decorre que ao
natimorto deve-se assegurar proteção à sua integridade física, ao ritual fúnebre próprio (sepul-
tamento ou cremação), imagem (não se podem tirar fotos para divulgação na imprensa) e, até
mesmo, ao nome. O enunciado n. 1/JDC é nesse sentido: “a proteção que o Código defere ao
nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome,
imagem e sepultura”. No RCPN, embora o natimorto seja registrado em um livro diverso do de
nascimento e de óbito (Livro “C-auxiliar”), o registrador deve lançar o nome, se os pais indica-
rem. Seja como for, por falta de personalidade jurídica, o natimorto não adquire direitos patri-
moniais, embora desfrute de direitos da personalidade. Sob a ótica da teoria concepcionista,
até se poderia dizer que o natimorto teria personalidade formal, mas não material. O exercício
da tutela dos direitos da personalidade do natimorto deverá ser feito por seus familiares na
forma do parágrafo único do art. 12 e do parágrafo único do art. 20 do CC.
Agora, vamos falar de algumas questões envolvendo o nascituro.
O nascituro tem direitos da personalidade no que couber, por fundamentos diversos a de-
pender da teoria adotada (natalista, concepcionista e personalidade condicional).
Diante disso, indago: qual a natureza jurídica do embrião “in vitro” e do nascituro? Isso foi
perguntado em uma prova oral da AGU.

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Vamos lá.
O STF, valendo-se da teoria natalista, assentou que o nascituro é um ser a caminho da
vida (embrião em fase de gestação), e não é objeto de direito, de maneira que não pode ser
objeto de pesquisas científicas. O embrião in vitro, todavia, é objeto de direito por ser um em-
brião humano fora do útero e, portanto, sem estar a caminho de convolar-se em pessoa. É o
embrião humano armazenado em laboratório sob criopreservação (conservação a cerca de
-196 ºC) e, por ser objeto de direito, não tem direitos da personalidade, o que credencia a sua
utilização para fins científicos dentro das regras de bioética previstas na Lei de Biossegurança,
a Lei 11.105/2005 (STF, ADI 3510, Pleno, Rel. Min. Ayres Britto). O mesmo resultado prático
poderia ser obtido sob a ótica da teoria concepcionista (nascituro tem personalidade formal)
ou da personalidade condicional (proteção da situação jurídica de personalidade sob condição
suspensiva).
Outra coisa interessante: cabe dano moral em favor do nascituro?
Como o nascituro tem proteção de direitos da personalidade, é cabível dano moral contra
ele. O STJ, porém, tende a não admitir em situações de danos perpetrados durante a gestação
que não gere repercussão durante a vida da pessoa. Se alguém xinga o nascituro, inexiste dano
moral para o nascituro, pois este nada sentiu ou sofreu (embora os pais tenham sofrido dano
moral reflexo nesse caso). O STJ admite o dano moral contra o nascituro no caso de morte do
pai (ou da mãe) e lesão à saúde do nascituro. Se um médico ministra um remédio que ocasiona
má-formação física no nascituro, este sofreu danos moral e estético. Se, porém, um médico
equivocadamente diagnostica que a nascituro nascerá com Síndrome de Down, o nascituro
não sofreu dano moral algum, embora os pais o tenham padecido (STJ, REsp 1.170.239, 4ª T.,
Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 28/08/2013). Se alguém atropela mortalmente o pai de um nascitu-
ro, este, ao nascer, amargará essa ausência, o que é dano moral em proveito da criança.
É também cabível dano moral no caso de lesões à honra ao nascituro, se for feito de manei-
ra a gerar repercussões após o seu nascimento com vida. No famoso caso de um comediante
que, em programa televisivo, fez uma piada obscena contra uma cantora grávida – ofendendo
também o nascituro –, o STJ não analisou a questão jurídica relativa à caracterização do dano
moral em razão da falta de recurso específico nesse ponto. Apesar disso, como o STJ reputou
razoável o valor de R$ 50.000,00 fixado pela corte local a título de indenização por dano mo-
ral em favor do nascituro, ele deixou implícito que o nascituro pode sofrer dano moral numa
situação dessa, pois é presumível que a forma da ofensa (em rede televisiva) e a notoriedade
da sua mãe (cantora) presumidamente exporá o nascituro a constrangimentos durante a vida
(STJ, REsp 1487089, 4ª T., Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 28/10/2015).
Processualmente, temos que o nascituro tem legitimidade ativa para propor ações, desde
que representado por sua mãe, que é curadora dos seus direitos.
Mais uma coisa. Indago: cabe pagamento de seguro DPVAT no caso de aborto decorrente
de acidente de trânsito? Lembre-se de que o seguro DPVAT paga uma indenização de cerca de
R$ 13.500,00 para o caso de morte (de pessoa) em acidente de trânsito. A resposta é sim. É
cabível o pagamento do seguro DPVAT. É que, embora a lei do seguro DPVPAT fixe o pagamento do

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capital segurado no caso de morte, sem fazer menção a aborto, o nascituro tem personalidade
formal segundo a teoria concepcionista e, por isso, opera-se o fato gerador desse seguro obri-
gatório com o aborto provocado por acidente de trânsito (STJ, REsp 1415727, 4ª T., Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, DJe 29/09/2014).
Como nascituro possui direitos da personalidade (inclui o direito à integridade física), é as-
segurada à mulher gestante o direito a alimentos gravídicos para que o suposto pai contribua,
na proporção de sua capacidade financeira, para o custeio de uma gestação saudável. Com o
nascimento com vida, os alimentos gravídicos convertem-se em alimentos em favor da crian-
ça, conforme art. 6º, parágrafo único, da Lei de Alimentos Gravídicos (Lei 11.804/2008).
Uma última questão importante envolvendo nascituro: é possível fazer doação a ele?
Resposta: embora o art. 542 do CC admita a doação ao nascituro mediante aceitação do
seu representante legal, a falta de personalidade jurídica material impede o nascituro de tor-
nar-se proprietário de bens materiais, de maneira que o mais adequado é entender que essa
hipótese é uma doação sob condição suspensiva: se o nascituro nascer com vida, a doação
se aperfeiçoa.

4. Capacidade Jurídica
4.1. Noções Gerais
O quanto a pessoa pode
adquirir direitos e deveres
De direito Não existe incapacidade de
direito.
É a medida da
Capacidade
personalidade Aptidão para exercer, por si só, os
jurídica atos da vida civil
jurídica. Pode ser:
De exercício Há, excepcionalmente, hipóteses
de incapacidade

Meus queridos e minhas queridas, vamos a outro assunto importante para concurso.
É comum demais haver provas que fazem questões tentado confundir o candidato quanto
à definição de alguns conceitos de capacidade, fazendo confusão com o conceito de perso-
nalidade jurídica. Já vimos que personalidade jurídica é a aptidão de ter direitos e deveres. E
capacidade, o que é?
Vamos lá.
A capacidade jurídica é a medida da personalidade jurídica, é “a maior ou a menor extensão
dos direitos e deveres de uma pessoa”, como diria Maria Helena Diniz. Pode ser: de direito (que
mede a personalidade quanto à aquisição de direitos e deveres) ou de exercício (que mede a
personalidade quanto ao exercício do direito pessoalmente). Todos os indivíduos possuem
capacidade de direito, mas nem todos, a capacidade de fato. A única incapacidade existente
é a de fato, portanto. Ao se mencionar os “incapazes” na legislação, necessariamente se está

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reportando aos incapazes de fato. Diz-se que há capacidade plena quando a pessoa é capaz
de direito e de fato e há capacidade limitada quando a pessoa é incapaz de fato, embora seja
capaz de direito. As hipóteses de incapacidade de fato devem estar previstas em lei, pois a
regra é a de que todas as pessoas são capazes (a regra é a capacidade, e não a incapacidade).
Vamos tratar das duas espécies de capacidade jurídica: (1) a de direito e (2) a de fato.

4.2. Capacidade de Direito


TODAS as pessoas têm
Mede o quanto uma capacidade de direito
(art. 1º, CC). NÃO EXISTE Para alguns, confunde-se
pessoa é capaz de
INCAPACIDADE DE DIREITO. com personalidade jurídica.
adquirir direitos e
deveres
Capacidade
de direito
Personalidade jurídica
É quantificável. NÃO é quantificável. Ou
se tem, ou não se tem.
Umas pessoas têm
mais que outras

A capacidade de direito (= de gozo ou de aquisição) é a quantificação da personalidade jurí-


dica quanto à aquisição de direitos e deveres, é medir o quanto uma pessoa é capaz de adquirir
direitos e deveres. Todas as pessoas, sem exceção, têm capacidade de direito (art. 1º, CC).
Não existe incapacidade de direito. A capacidade de direito é inerente à personalidade jurídica:
esta é um conceito sem grau de quantificação (ou tem, ou não tem) que representa a aptidão
de ter direitos e deveres, ao passo que aquela é um conceito quantificável (tem-se maior ou
menor grau) que retrata o quanto a pessoa é apta a adquirir direitos e deveres. Daí decorre que
capacidade de direito e personalidade jurídica se confundem ou se equivalem. Todavia, não
se pode afirmar que os conceitos são sinônimos. E, embora não haja incapacidade de direito,
alguns indivíduos podem ter mais capacidade de direito do que outros, como um brasileiro, que
tem mais aptidão de ter direitos do que estrangeiros (ex.: estrangeiro tem limites em ter direi-
tos sobre empresa jornalística ou de radiodifusão, conforme art. 231 da CF, e sofrem restrições
para adquirir imóveis rurais, conforme Lei 5.709/1971 e art. 190 da CF).

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4.3. Capacidade de Fato ou de Exercício


Aptidão para exercer,
Capacidade de fato
por si só, os atos da
ou de exercício
vida civil

Só uma hipótese: idade


inferior a 16 anos (art. 3º, CC)
Absoluta

Incapacidade
(de fato)
Maior de 16 anos ou pessoa
com insuficiência de
AUTOGOVERNO
Relativa

A capacidade de fato é a aptidão de exercer, por si só, atos da vida civil. Como isso exige
idoneidade psíquica para a compreensão dos efeitos jurídicos do ato, há duas espécies de in-
capacidade: a absoluta e a relativa.
A incapacidade absoluta é o estado civil de quem não possui absolutamente nenhuma
idoneidade psíquica para a compreensão dos efeitos jurídicos do seu ato, ainda que por pre-
sunção. Após o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), só há uma hipótese de
incapacidade absoluta: quem tem idade inferior a 16 anos (art. 3º, CC). A menoridade represen-
ta uma presunção de ausência total de discernimento para os atos da vida civil. É presunção
absoluta: não admite prova contrária.
Meu amigo e minha amiga!!! Nesse ponto, cabe uma indagação: apesar de ser usado o
adjetivo “absoluta” para designar essa espécie de incapacidade, realmente há restrição para
todos os atos da vida civil? A resposta é um sonoro NÃO. Quando a lei ou princípios jurídicos
autorizarem, o absolutamente incapaz poderá praticar atos jurídicos sozinhos. Há, portanto,
exceções ao regime da incapacidade absoluta.
É evidente que a falta absoluta de idoneidade para compreensão dos efeitos jurídicos do
ato é uma ficção jurídica destinada à proteção do incapaz e, por ser uma presunção, ela só im-
pedirá a prática solitária de atos jurídicos quando houver razoabilidade. Os limites de exercício
a atos da vida civil não são absolutos. É preciso averiguar a natureza de cada ato jurídico en-
volvido e do direito envolvido para fixar se haverá ou não restrições ao absolutamente incapaz.
Ao se tratar de negócios jurídicos, por exemplo, nos quais o agente negocia os efeitos jurí-
dicos do seu ato, o absolutamente incapaz não pode praticá-lo sozinho, sob pena de nulidade
(art. 166, CC). Há exceções constitucionais e legais, a exemplo do trabalho por pessoa maior
de 14 anos na condição de aprendiz (art. 7º, XXXIII, CF) e do próprio trabalho de mirins de idade
inferior a essa mediante autorização judicial em atividades como de publicidade, cinema etc.
(arts. 149, II, ECA e 406, CLT).

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Todavia, ao se cuidar de ato jurídico stricto sensu, em que os efeitos jurídicos procedem da
lei, nem sempre haverá necessidade de idoneidade plena de discernimento para a sua prática,
de sorte que o absolutamente incapaz poderá, a depender do caso concreto, praticá-lo sozinho,
conforme art. 185 do CC, que só atrai as regras de negócios jurídicos quando o caso concreto
requerer. Ao nosso aviso, um adolescente de 14 anos que deu à luz poderia registrar sozinha
o nascimento do filho no RCPN, se estiver com a Declaração de Nascido Vivo (documento
subscrito pelo médico que fez o parto atestando o nascimento), pois aí se tem um ato jurídico
stricto sensu para o qual não se deve atrair a sanção de nulidade prevista para os negócios
jurídicos no art. 166 do CC.
E, quando se tratar de atos jurídicos stricto sensu ou negócios jurídicos relativos a direitos
da personalidade, o absolutamente incapaz poderá exercê-los sozinho ou, no mínimo, deverá
ser ouvido a depender do seu grau de compreensão e da natureza do direito envolvido. Para a
adoção, o maior de 12 anos deve consentir e o menor do que essa idade deve ser ouvido (art.
28, §§ 1º e 2º, ECA). Na tutela, o maior de 12 anos deve ser ouvido pelo tutor na forma do art.
1.740, III, do CC. Para a escolha de vestimentas, uma criança de um ano de idade não é ouvida
pelos pais (óbvio!), mas um adolescente de 14 anos deve ter a vontade determinante (salvo
algum caso excepcional, como o do mirim querer vestir-se de roupa de banho para ir a uma
cerimônia de casamento, por exemplo). Em igual sentido, o enunciado 138/JDC (“a vontade do
absolutamente incapaz (...) é juridicamente relevante na concretização de situações jurídicas
existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto”).
Ser absolutamente incapaz não significa ser privado do direito de praticar sozinho qualquer
ato da vida civil, pois há várias exceções admitidas pelo próprio ordenamento.
Vamos tratar agora da incapacidade relativa!!
A incapacidade relativa é o estado civil de quem possui uma idoneidade psíquica para a
compreensão dos efeitos jurídicos dos seus atos em nível inferior ao desejável. O relativamen-
te incapaz tem um grau de discernimento juridicamente relevante, mas em um grau reduzido
a reclamar mecanismos protetivos do Direito. Os casos de incapacidade relativa estão no art.
4º, CC: um de menoridade (idade entre 16 e 18 anos) e outras hipóteses de insuficiência de
autogoverno (toxicômanos, ébrio habitual, pródigo ou impossibilitado de exprimir a vontade).
Quanto ao caso de menoridade, reitere-se: a partir dos 16 anos, o adolescente torna-se
relativamente incapaz.
Em relação ao pródigo, temos o seguinte. Quem, por um desvio de personalidade, tem uma
compulsão a gastar o seu patrimônio é pródigo e, portanto, é relativamente incapaz. Não se
trata do mero perdulário ou daquele que, por ato próprio, quer despender seus recursos. Cui-
da-se daquele que adota esse comportamento de dilapidação patrimonial por um problema
psicológico, de reconhecimento médico. A prodigalidade não é propriamente um estado de
alienação mental, mas sim um desvio de personalidade ou um desvio comportamental condu-
cente a uma incontida dissipação patrimonial.

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No tocante ao caso dos toxicômanos e dos ébrios habituais, eu tenho algumas advertên-
cias para você.
Quem é viciado em tóxico (e aí também se incluem casos de uso abusivo de drogas lícitas)
ou é ébrio habitual enquadra-se como relativamente incapaz. Trata-se de situação de verdadei-
ra doença psicológica decorrente da dependência química. A incapacidade relativa do ébrio
habitual ou do drogadito depende de efetiva redução do discernimento da pessoa, pois pode
haver situações de ausência de prejuízo à capacidade de autogoverno.
A embriaguez ou o uso de drogas, por si sós, não são suficientes para alterar o estado civil
do indivíduo para relativamente incapaz. O transitório estado de êxtase provocado pelo uso es-
porádico (e não habitual) desses elementos não incapacita o indivíduo, que poderá livremente
praticar atos da vida civil. Quem se embriaga ocasionalmente, como o “ébrio social”, não se
torna incapaz. Os contratos e os demais atos que ele praticar serão plenamente válidos, salvo
se a embriaguez ou o entorpecimento foram involuntários. Incide aí a teoria da libera in causa,
segundo a qual quem voluntariamente se inebria obriga-se por todos os atos que praticar du-
rante o seu estado de obnubilação. Se, no Direito Penal – que, por princípio, só é ativado em
ultima ratio -, os embriagados respondem pelos crimes cometidos com base nessa teoria, é
inevitável que eles também respondam pelos seus atos civis com forte na mesma teoria. Em
igual sentido, Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias.
Seja como for, se alguém induz outrem a embriagar-se ou a drogar-se para facilitar o seu
convencimento na celebração de um negócio, é possível falar em violação da boa-fé e em
abuso de direito (art. 187, CC) a autorizar a declaração de nulidade do contrato (art. 166, VI,
CC), desde que o negócio possua grande expressão econômica, como no caso de alienação
de imóveis. Em contratos de consumo, esse raciocínio é potencializado por essa indução à
embriaguez poder ser tida como uma prática abusiva (art. 39, CDC). Seja como for, não se po-
derá caracterizar o abuso de direito nesses casos se a parte, após a embriaguez, adotar com-
portamento de consentimento tácito com o negócio praticado nessas condições, sob pena de
violação à boa-fé objetiva, que proíbe comportamentos contraditórios (venire contra factum
proprium). Para negócios de pequeno valor celebrado nesses ambientes de indução à embria-
guez, não é razoável essa intervenção estatal na autonomia da vontade e o negócio deve ser
tido por válido, pois de minimus non curat praetor (de coisas pequenas não cuida o jurista).
Se a embriaguez ou o entorpecimento privar a pessoa totalmente da capacidade de expri-
mir a vontade, o caso se enquadrará no inciso III do art. 4º do CC, que reputa como relativa-
mente incapaz quem, por causa transitória ou permanente, não pode exprimir a vontade. Essa
hipótese gera incapacidade relativa também.
Em suma, a embriaguez ou o entorpecimento só geram incapacidade relativa na forma do
inciso II do art. 4º do CC se puderem ser qualificadas como uma doença psíquica de depen-
dência e se reduzirem o discernimento. Se, nesse caso, a pessoa ficar privada de exprimir a
vontade, o fundamento da incapacidade relativa será o inciso III do art. 4º do CC, e não o inciso

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II desse dispositivo. A embriaguez ou o entorpecimento ocasionais não geram incapacidade e


só autorizam a invalidade do negócio jurídico se foram involuntários, em homenagem à teoria
da actio libera in causa.
Ainda não terminei. Tenho de falar do caso mais importante de incapacidade relativa, a
saber, a hipótese de “impossibilidade de exprimir a vontade”.
Quem não pode exprimir a vontade, por causa transitória ou permanente, é relativamente
incapaz. Foi o que o art. 4º do CC passou a prever após modificação feita pelo Estatuto da
Pessoa com Deficiência.
Nesses casos, incluem-se, por exemplo, quem é, a um só tempo, surdo, mudo e desconhe-
cedor de linguagem de sinais convencionalmente admitida no país. Também se inserem aí as
pessoas que estão em coma, sem qualquer condição de expor sua vontade.
Por esforço doutrinário, há de encaixar nessa hipótese também aqueles que possuem dis-
cernimento turvo, enevoado por qualquer motivo, seja uma patologia psicológica, seja um lap-
so momentâneo (como um estado catatônico decorrente de um susto). O mero fato de alguém
ser uma pessoa com deficiência mental é insuficiente para o enquadrar aí. A mera deficiência
psicológica não é causa de incapacidade, que só se configura quando a habilidade de auto-
governo da pessoa fica comprometida. Pessoas em estado de total desvario, que só falam
confusões sem conexão lógica alguma, deverão ser enquadradas como relativamente incapaz,
assim como aquelas cujo discernimento apresenta menor estado de obscuridade. Em outras
palavras, o art. 4º, III, do CC deve ser lido como se o advérbio “adequadamente” estivesse im-
plícito: é relativamente incapaz os que “não puderem adequadamente exprimir sua vontade”.
Essa interpretação extensiva do art. 4º, III, do CC – uma ligeira acrobacia hermenêutica – é im-
periosa para não deixar sem qualquer proteção jurídica aqueles cujo discernimento se turvou
por qualquer motivo e que precisa ser protegido, por exemplo, com a anulabilidade dos seus
negócios. Nesses casos, o juiz, ao nomear o curador, poderá outorgar-lhe a condição de repre-
sentante, e não de mero assistente, do relativamente incapaz, quando este não tiver condições
mínimas de compreender os atos jurídicos.

4.4. Mecanismos de Proteção dos Incapazes


Estende-se aos atos
NULIDADE dos negócios jurídicos jurídicos stricto sensu
praticados SEM REPRESENTAÇÃO no que couber
SUSPENSÃO do prazo da
prescrição e do prazo de usucapião
Mecanismos
Absolutamente Irrelevância jurídica de eventual
de proteção mentira a respeito de sua idade
incapaz
do incapaz Na doação pura, dispensa-se a
aceitação do seu representante
legal

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Só o relativamente incapaz
pode pleitear a anulabilidade
RELATIVAMENTE A anulação só livrará o
incapaz, salvo inviabilidade
INCAPAZ: negócio
material do objeto (ex.:
Nulidade x anulação jurídico ANULÁVEL indivisibilidade)
de negócio
ATENÇÃO:
jurídico praticados Exonera as outras partes do excepcionalmente pode-se
negócio aplicar o art. 184, CC
solidariamente pelo
incapaz ABSOLUTAMENTE Qualquer das partes pode
pleitear a anulação com base
INCAPAZ: negócio na INCAPACIDADE ABSOLUTA.
jurídico NULO Juiz pode decretar de ofício

Incapaz não é obrigado a restituir o


Salvo enriquecimento ilícito
que recebeu por uma obrigação que foi
invalidada

Incapaz pode cobrar de volta o valor pago


em razão de um jogo ou uma aposta,
caso tenha fracasso na sorte

Valor da indenização deve ser arbitrado


com base na equidade e em valor que
A responsabilidade civil do incapaz é não comprometa a sua sobrevivência
SUBSIDIÁRIA
Mecanismos de
proteção aplicados
Proteção dos bens do incapaz existentes
a QUALQUER tipo de
ao tempo do início da atividade
incapacidade
empresarial de que foi sucessor

Vedação do incapaz ser administrador de


pessoa jurídica

Anulabilidade do casamento

Obrigatoriedade de inventário e partilha


ou de divórcio na via judicial quando
houver herdeiro ou filho incapaz

Ser incapaz é, na verdade, ser protegido pelo Direito! Sim, o Direito Civil protege os incapa-
zes com regras específicas que os livram de sofrer prejuízos em atos da vida civil.
Vamos tratar disso.

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Por um lado, o ordenamento concede diversas proteções exclusivas ao absolutamente


incapaz, como: (1) a nulidade dos negócios jurídicos por ele pessoalmente praticados sem
representação, conforme art. 166, I, CC, o que se estende aos atos jurídicos stricto sensu no
que couber, conforme art. 185, CC; (2) a suspensão do prazo da prescrição extintiva, conforme
art. 198, I, CC, e do prazo de usucapião contra si, conforme art. 1.244, CC; (3) a irrelevância
jurídica de eventual mentira do absolutamente incapaz quanto à sua idade, pois o art. 180 do
CC somente pune o maior de 16 anos – que é relativamente incapaz – na hipótese de oculta-
ção dolosa da idade para praticar um negócio jurídico; (4) na doação pura ao absolutamente
incapaz, dispensa-se a aceitação do seu representante legal diante da presunção de aceitação
decorrente da ausência de prejuízo com a liberalidade, conforme art. 543, CC.
Por outro lado, há uma proteção exclusiva ao relativamente incapaz: a anulabilidade dos
negócios jurídicos praticados solitariamente por ele (art. 171, I, CC). No caso de absolutamen-
te incapaz, essa proteção é mais exasperada por envolver nulidade.
Conforme art. 105 do CC, a anulabilidade é uma proteção disponibilizada apenas ao re-
lativamente incapaz, de maneira que, em um negócio envolvendo mais de duas pessoas: (1)
somente o incapaz pode pleitear a anulabilidade, e não as demais partes; (2) a anulação do
negócio só livrará o incapaz do negócio, e não as demais partes, salvo se for materialmente
inviável, como sucede na hipótese de indivisibilidade do objeto do direito ou da obrigação co-
mum. Se, por exemplo, um adolescente de 16 anos e um adulto se comprometem a vender 100
canetas por R$ 100,00, somente o adolescente poderá pedir a anulação desse negócio, caso
em que o negócio será reduzido para isentar o adolescente da obrigação comum e, em conse-
quência, o adulto continuará obrigado a entregar 50 canetas em troca de R$ 50,00. Se, porém,
eles houvessem se comprometido a entregar um cavalo (bem indivisível), todo negócio seria
anulado diante da impossibilidade de fracionamento do objeto do negócio, caso em que não
apenas o adolescente será liberado da obrigação, mas também o adulto.
Por uma interpretação literal, essa regra do art. 105 do CC não se estende a casos de
absolutamente incapazes em razão da nulidade do negócio jurídico, que poderá ser pedida
pelas outras partes do negócio (aliás, o juiz pode até declarar a nulidade de ofício, conforme
art. 168, CC) e, em consequência, exonerará as demais partes do negócio. Temos, porém, que,
se o negócio for separável e se for possível presumir que essa seria a intenção das partes se
soubessem da nulidade, caberá a redução do negócio jurídico com base no art. 184, CC, de ma-
neira que somente o incapaz seria liberado da obrigação e os demais continuariam obrigados
na sua proporção.
Por fim, para qualquer tipo de incapacidade, há os seguintes mecanismos protetivos e de
responsabilização no CC: (1) o incapaz não é obrigado a restituir o que recebeu por uma obri-
gação que foi invalidada, salvo se houver enriquecimento sem causa, ou seja, se o incapaz teve
proveito, consoante arts. 181, 588, 589 e 824 do CC; (2) o incapaz pode cobrar de volta o valor
pago em razão de um jogo ou uma aposta, caso tenha fracasso na sorte, conforme art. 814, CC;
(3) a responsabilidade civil do incapaz é subsidiária e o valor da indenização deve ser arbitrado

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com base na equidade e em valor que não comprometa a sua sobrevivência, conforme art. 928,
CC; (4) proteção dos bens do incapaz existentes ao tempo do início da atividade empresarial
de que foi sucessor, conforme art. 974, § 2º, CC; (5) vedação do incapaz ser administrador de
pessoa jurídica, ex vi do art. 974, § 3º, I, CC; (6) anulabilidade do casamento – art. 1.550, IV,
CC; (7) obrigatoriedade de inventário e partilha ou de divórcio na via judicial quando houver
herdeiro ou filho incapaz – art. 2.016, CC, e arts. 610 e 733 do CPC; (7) vedação de citação na
pessoa de quem seja “mentalmente incapaz” ou “impossibilitado de recebê-la” (art. 245, CPC).
Meus amigos e minhas amigas, tenho só mais uma advertência. Há uma hipótese de fle-
xibilização dos mecanismos de proteções de incapazes. Trata-se de um caso para afastar a
proteção do “adolescente mala”, ou seja, aquele que mente a idade. Explico. A má-fé do relati-
vamente incapaz pode ser considerada contra si em razão de a sua vontade ser juridicamente
relevante. Por isso, o art. 180 do CC veda que o maior de 16 anos peça a invalidade de um
negócio jurídico se ele dolosamente ludibriou outrem quanto à sua idade.

5. Pessoas com Deficiência: Equívocos e Acertos do Estatuto


Esforço hermenêutico para encaixar no
art. 4º, III, do CC os casos em que há total
falta de discernimento (impossibilidade
de exprimir a vontade)

Invocar o princípio contra non


valentem agere non currit
Como garantir a suspensão da praescriptio (contra quem não
prescrição? pode agir, não corre a prescrição)
Pessoas com
Podem ser considerados
deficiência, em EPD alterou o rol de nulos com base na
regra, NÃO são incapacidades do CC dignidade da pessoa
Insegurança jurídica nos negócios humana ou na boa-fé
mais consideradas
jurídicos celebrados por PCD objetiva
INCAPAZES

Curatela só atinge questões Possibilidade de aplicação


patrimoniais? do art. 1.778 do CC

Amigos e amigas, eu tenho críticas quanto as mudanças feitas pelo Estatuto da Pessoa
com Deficiência no Código Civil.
De fato, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD) – Lei 13.146/2015 –, apesar dos avan-
ços na inclusão das pessoas com deficiência, incorreu em retrocesso gravíssimo ao modificar
o rol de incapacidade.
Em princípio, quem não possui discernimento mínimo para prática de atos jurídicos não
seria considerado mais incapaz, embora pudesse receber curadores.
O absurdo, porém, do texto legal vem sendo parcialmente atenuado pela doutrina, que, com
esforço hermenêutico, encaixa esses casos no inciso III do art. 4º do CC (impossibilitados de
exprimir a vontade).

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Esse arremedo hermenêutico, porém, reclama maior sofisticação para restaurar proteções
jurídicas que acobertavam os casos mais graves de total falta de discernimento, de total des-
vario, pois já não se os pode classificar como absolutamente incapazes.
Assim, para garantir a suspensão da prescrição a esses casos mais extremados de plena
falta de autogoverno, pode-se invocar o princípio contra non valentem agere non currit praes-
criptio (contra quem não pode agir, não corre a prescrição).
Para assegurar a nulidade dos negócios praticados por esses indivíduos com o discerni-
mento totalmente obscurecido, o esforço hermenêutico é mais largo e demandaria passear
princípios como o da dignidade da pessoa humana (que permitiria a nulidade em qualquer
negócio) ou da boa-fé objetiva (que credenciaria a nulidade apenas quando os terceiros bene-
ficiários do ato sabiam da falta de autogoverno), os quais poderiam autorizar a nulidade por
fraude a lei imperativa (art. 166, VI, CC). É inegável, de qualquer forma, a insegurança jurídica a
que foram expostos os negócios jurídicos.
Os motivos da exclusão das pessoas com deficiência do rol de incapazes foram o linguajar
estigmatizante (incapacidade) e a vedação da Convenção Internacional sobre os Direitos da
Pessoa com Deficiência de a deficiência ser causa de incapacidade. Trata-se de sofismas. Se
o verbete incapaz é estigmatizante, o correto seria cogitar em outro verbete menos agressivo,
pois não faria sentido afastar esse vocábulo só das pessoas com deficiência e deixá-los para
outras pessoas, como as crianças e os adolescentes. A Convenção, ao proibir a incapacidade
civil de pessoas com deficiência, referiu-se obviamente a casos de pessoas que, apesar da
deficiência, possuem idoneidade psíquica de autogoverno. A própria expressão “interdição”
quis ser abolida pelo EPD, mas tal não sucedeu, pois, além de ela ter deixado esse verbete no
título “Dos Interditos” da Seção I que encima o art. 1.767 do CC, o CPC/2015 entrou em vigor
posteriormente ao EPD com o incontido emprego dessa nomenclatura.
O EPD foi taxativo em afirmar que a curatela das pessoas com deficiência só atinge ques-
tões patrimoniais e negociais, de sorte que a pessoa com deficiência pode exercer plenamen-
te outros direitos, como os sexuais, reprodutivos e congêneres (arts. 5º, 84 e 85, EPD). Te-
mos, porém, que esses dispositivos devem ser interpretados restritivamente: ao mencionarem
“pessoas com deficiência” e a curatela, disseram mais do que queriam, pois não alcançam
as pessoas que se enquadrem no inciso III do art. 4º do CC (impossibilitados de exprimirem
adequadamente a vontade) e que, muito excepcionalmente, sequer possuem discernimento
para a compreensão dos atos não patrimoniais. Sem essa interpretação extensiva, ter-se-ia de
considerar revogado o crime de estupro de vulneráveis (art. 217-A, § 1º, CP) e de admitir que
pessoas em total desvario não pudessem ser contidas ao quererem praticar um ato manifes-
tamente nocivo (como sair desnudas pelas ruas). A interpretação extensiva é mais necessária,
porque o curador responde civilmente pelos atos do incapaz e, portanto, tem de possuir au-
toridade para conter condutas desarrazoadas deste. É nesse sentido que o art. 1.778 do CC
deve ser tido como compatível com o EPD ao estabelecer que o curador tem autoridade sobre
a pessoa e os bens do curatelado.

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Parte Geral – II
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Não se nega que os magistrados devem ser extremamente cautelosos e minimalistas ao


tratarem de interdição de pessoas por falta de discernimento. Privar a autogestão jurídica de
uma pessoa é quase uma morte civil. O EPD tem o mérito de ser um sonoro alerta para isso.
Todavia, uma penada não pode mudar a realidade, ainda que a pretexto de nobres intentos de
inclusão social, sob pena de exercício irresponsável de romantismo: quem não tem discerni-
mento mínimo para compreender um ato da vida civil precisa de proteção jurídica, o que se faz
com o regime da incapacidade civil.

6. Tomada de Decisão Apoiada


Pessoa nomeia, no mínimo, dois
É FACULTATIVO e solicitado pela apoiadores para auxiliar na sua
própria pessoa com deficiência tomada de decisão
Os apoiadores podem exercer ATOS
em nome da pessoa com deficiência,
bem como aconselhá-las Têm DEVER DE PRESTAR CONTAS
NÃO há NULIDADE ou ANULABILIDADE
no ato praticado sem a participação
Tomada dos apoiadores Ausência de previsão legal
Novo instituto
de Decisão
criado pelo EPD Incapacidade = curatela
Apoiada (TDA) (há, porém, quem defenda o contrário:
NÃO se aplica aos casos de
INCAPACIDADE! tema controverso)
Não há previsão de procedimento
específico. Aplica-se o procedimento Averba-se a TDA no Registro
geral de jurisdição voluntária Civil de Pessoas Naturais

O EPD acresceu o art. 1.783-A ao CC para instituir um novo instituto de amparo às pessoas
com deficiência, batizado como “Tomada de Decisão Apoiada” (TDA). A redação do dispo-
sitivo ficou atabalhoada, de modo a que a falta de precisão normativa dá margens às mais
diversas interpretações. O art. 84 do EPD estabelece que a pessoa com deficiência pode ser
submetida à curatela e assegura que ela, facultativamente, requeira a TDA. A TDA decorre de
pedido da própria pessoa com deficiência e é, portanto, facultativo (art. 85, § 2º, do EPD e art.
1.783-A do CC).
Enquanto a curatela destina-se a incapazes – no meio dos quais podem estar pessoas com
deficiência sem discernimento adequado –, a TDA destina-se a pessoas com deficiência que,
embora tenham discernimento para a prática dos atos, querem dois apoiadores para prestar-
-lhes auxílio. No mínimo, devem ser nomeados dois apoiadores, conforme o caput do art. 1.781
do CC, o que nos parece um exagero do legislador.
Ao nosso sentir, como a curatela para pessoas com deficiência física prevista no antigo art.
1.780 do CC foi revogada pelo EPD, infere-se que a TDA é sua substituta. Assim, se uma pes-
soa com deficiência física, por exemplo, não consegue deslocar-se com facilidade, ela poderia
pedir a TDA a fim de que os apoiadores pratiquem atos em seu nome e administre os seus
bens. Como os apoiadores devem prestar contas com periodicidade (arts. 1.756, 1.757, 1.781

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e 1.783-A, § 11, do CC e art. 84, § 4º, do EPD), é fato que eles não são meros conselheiros,
mas podem praticar atos em nome da pessoa com deficiência, além de também poderem ser
conselheiros da pessoa. Isso dependerá dos termos da nomeação judicial dos apoiadores. A
periodicidade dessa prestação de contas deve ser anual diante do art. 1.783-A, § 11, do CC e
do art. 84, § 4º, do EPD, e não bienal, pois esses dispositivos, nesse tema, afastam a incidência
dos arts. 1.757 e 1.781 do CC. E, embora terceiros possam exigir a assinatura dos apoiadores
em conjunto com a pessoa apoiada, a TDA não incapacita a pessoa com deficiência a praticar
ato jurídico algum, de maneira que, à míngua de previsão legal em sentido diverso, inexiste
qualquer fundamento legal para considerar nulo ou anulável atos praticados sem a participa-
ção dos apoiadores. Note que os arts. 166 e 171 do CC que preveem as hipóteses de nulidade
e de anulabilidade não contemplam os atos praticados por pessoa com deficiência sem a par-
ticipação dos apoiadores. Isso significa que não há relevância jurídica efetiva na previsão do §
6º do art. 1.783-A do CC no sentido de que, no caso de divergência de opinião entre os apoia-
dores e a pessoa apoiada, o juiz deve decidir a questão, pois a pessoa com deficiência não é
incapaz e, portanto, pode praticar livremente os atos da vida civil sozinha. No máximo, esse
preceito poderá amparar eventual ação de indenização contra o apoiador que, contra a vontade
expressa do apoiado e sem amparo na decisão judicial de que trata o § 6º do art. 1.783-A do
CC, pratica um ato jurídico danoso ao apoiado.
Em princípio, é possível que uma mesma pessoa com deficiência possua curadores e
apoiadores ao mesmo tempo, especificamente quando ela for tida por relativamente incapaz
para alguns atos jurídicos – caso em que atuará o curador – e quando ela requerer apoiador
para os demais atos jurídicos, para os quais ela é capaz civilmente.
Por inexistir um procedimento especial para a TDA, temos que deve ser aplicado o procedi-
mento geral de jurisdição voluntária disciplinado nos arts. 719 e seguintes do CPC.
Por fim, apesar da falta de previsão legal expressa, a TDA deverá ser averbada no Registro
Civil das Pessoas Naturais, no livro “E”, com anotação nos registros anteriores da pessoa com
deficiência, como no assento de nascimento, por força da incidência analógica dos arts. 89
e 106 da Lei 6.015/73. A única repercussão relevante que enxergamos é a de permitir que os
apoiadores comprovem poder praticar atos em nome da pessoa com deficiência a depender
da extensão dos poderes conferidos pelo juiz na sentença de sua nomeação. Essa publicida-
de, porém, não gera repercussões jurídicas relevantes, pois a pessoa com deficiência não se
torna incapaz e nem há como declarar inválidos os negócios jurídicos por ela praticados sem
a participação dos apoiadores.

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7. Institutos de Amparo aos Incapazes


7.1. Noções Gerais
Menores de 16 anos
Representação
Incapaz sem o MÍNIMO discernimento para
compreender os efeitos jurídicos do ato

Idade entre 16 e 18
Há discernimento, mas Incapaz com um mínimo de
Assistência discernimento
esse não é pleno

Meus queridos e queridas amigas, eu vou aprofundar aqui! Quem sabe o mais está prepa-
rado para o menos. A minha ideia é ir além dos meros conceitos básicos. Vamos lá!
Os incapazes necessitam de amparo para a prática de atos jurídicos, seja para serem repre-
sentados quando não tiverem o mínimo discernimento para a compreensão dos efeitos jurídicos
do ato (representação), seja para serem assistidos quando houver esse discernimento em grau
não pleno (assistência). Quando se tratar de incapacidade por menoridade, os institutos para a
outorga de poderes de representação ou de assistência são o poder familiar, a tutela e a guarda
prevista no ECA. Quando, porém, a incapacidade decorrer de motivos diversos da menoridade,
tem-se a curatela. Não se invoca aqui a TDA, pois esta não se aplica a casos de incapacidade.

7.2. Poder Familiar

Deveres patrimoniais e
Conjunto de direitos e deveres dos extrapatrimoniais
pais sobre os filhos

Vínculo jurídico que embasa a


REPRESENTAÇÃO e a ASSISTÊNCIA
Poder
dos filhos menores
familiar

MORTE do genitor ou do filho


Maioridade ou emancipação do filho
Casos de extinção: Adoção
Destituição do poder familiar

Meu amigo e minha amiga, vamos falar um pouco do poder familiar.

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Os pais, enquanto os filhos forem menores, possuem o poder familiar, que envolve mais
deveres do que direitos em relação ao filho. O poder familiar é o vínculo jurídico em razão do
qual os pais devem representar ou, no caso de incapacidade relativa, assistir os filhos menores
na prática de atos jurídicos e devem cumprir diversos outros deveres relacionados à gestão
patrimonial e extrapatrimonial dele (educação, sustento etc.). Os arts. 1.630 ao 1.638 e 1.689
ao 1.693 do CC contêm as regras basilares, ao lado dos arts. 21 ao 24, 155 ao 163, 199-B, 199-
C e 249 do ECA.
Quanto à gestão patrimonial, os pais são usufrutuários dos bens do filho e, portanto, não
precisam prestar contas periodicamente. Todavia, eles não podem praticar atos além da mera
administração sem autorização judicial, sob pena de nulidade. E, havendo conflito de interesse
entre os pais e filho menor – como no caso de uma assembleia de uma pessoa jurídica da qual
todos eles são sócios –, o juiz deve nomear um curador especial para a prática desses atos
(arts. 1.692 do CC e 72, I, do CPC).
Quanto às questões extrapatrimoniais, os pais devem garantir o bem-estar do filho no seu
desenvolvimento.
Mesmo no caso de os pais serem separados, o poder familiar subsiste para ambos os ge-
nitores, ainda que a guarda tenha sido outorgada a apenas um deles. A guarda apenas afasta
um dos efeitos do poder familiar: o de ter o convívio físico com o filho menor. A guarda dos pais
sobre os filhos está disciplina a partir do art. 1.583 do CC.
A extinção do poder familiar ocorre com a morte do genitor ou do filho, com a cessação
da incapacidade do filho (maioridade ou emancipação), com a adoção (caso em que os pais
adotantes passam ter o poder familiar) ou nas excepcionalíssimas hipóteses de destituição do
poder familiar, autorizada diante de grave descumprimento de deveres do poder familiar me-
diante decisão judicial fundada nas hipóteses do art. 1.638 do CC (castigo físico imoderado,
abandono, atos contra moral ou bons costumes ou reiteradas infrações aos deveres legais) ou
dos arts. 23, § 1º (crime doloso contra o filho com pena de reclusão), e 24 (descumprimento
injustificado dos deveres legais) do ECA. O art. 13 do ECA veda castigos físicos e quaisquer
outros tipos de maus-tratos à criança e ao adolescente, de sorte que essas práticas podem, a
depender do caso concreto, autorizar a perda do poder familiar também.
O poder familiar também pode ser suspenso judicialmente quando os pais não tiverem
condições de exercê-lo em razão de descumprimento dos seus deveres legais ou de terem sido
condenados, por sentença transitado em julgado, a crime com pena superior a dois anos (art.
1.637, CC).

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7.3. Família Substituta: Tutela, Adoção e Guarda do ECA


Menores sem pais com Menores que não estão
PODER FAMILIAR aptos para a adoção
Tutor é nomeado em processo Representa ou assiste o menor
judicial específico nos atos da vida civil
Tutela
Tipos de tutela: testamentária,
legítima, dativa

Regularização de situação Com autorização judicial, pode exercer a


Família fática de convívio representação ou a assistência
Guarda
substituta

Rompe os vínculos de Forma novo vínculo com os ADOTANTES


filiação biológica com todos os efeitos jurídicos da filiação
Adoção

O ECA designa de família natural o núcleo familiar composto pelo filho menor e, ao menos
um dos pais. Há também a família extensa ou ampliada, quando outros parentes integrarem
o núcleo, como nos casos de crianças que vivem com os pais e os avós na mesma residência
(art. 25, ECA). O poder familiar é o vínculo jurídico que ampara o mirim. Diz-se, porém, que há
família substituta quando o mirim é colocado em outro núcleo familiar no qual ele esteja vin-
culado a alguém por força de guarda, tutela ou adoção. A colocação em família substituta só
deve acontecer quando for extremamente necessário e de modo excepcional, ou seja, quando
há o binômio necessidade-possibilidade, pois o art. 19 do ECA dá preferência ao convívio da
criança e do adolescente sob a batuta dos seus pais biológicos, que possuem o poder familiar.
Vamos começar com a tutela!
A tutela é a forma de família substituta destinada a menores sem pais com poder familiar
ativo (orfandade e perda ou suspensão do poder familiar) e que não estejam hábeis para a ex-
cepcionalíssima medida de adoção. A disciplina central da tutela está nos arts. 1.728 ao 1.766
do CC e nos arts. 36 a 38 do ECA. O tutor é quem representa ou assiste o menor nos atos da
vida civil e depende de nomeação em processo judicial específico que deve observar os arts.
165 e seguintes do ECA e os arts. 759 e seguintes do CPC.
Há três tipos de tutela, a ser deferida preferencialmente na seguinte ordem: (1º) tutela
testamentária: aquela prevista no art. 1.729 do CC e no art. 37 do ECA e em razão da qual os
pais indicam o curador, por testamento ou por documento autêntico – assim entendido o que
contenha firma reconhecida ou certificação legal bem como o que seja incontroverso ou pro-
cedente de autoridade diplomática nos termos dos arts. 41 e 411 do CPC; (2º) tutela legítima:
aquela albergada pelo art. 1.731 do CC e que defere a tutela aos parentes consanguíneos do
menor com preferência aos ascendentes mais próximos e com extensão até os colaterais de
terceiro grau; (3º) tutela dativa: aquela hospedada no art. 1.732 do CC e que entrega a tutela
a pessoa idônea do domicílio do menor. Essa ordem, todavia, é flexível, pois, acima de tudo,
o juiz deve deferir a tutela com observância ao princípio do melhor interesse da criança e do

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adolescente. Se alguém se revela inapto a oferecer condições adequadas ao desenvolvimento


do menor ou se houver outra pessoa em melhores condições para o exercício da tutela, o juiz
não seguirá a ordem legal da tutela e prestigiará o que for mais vantajoso ao mirim, ainda que
tenha havido indicação pelos pais (art. 37, parágrafo único, ECA).
A tutela é um munus público, ou seja, é uma obrigação imposta por lei e não pode ser re-
cusada fora das hipóteses legais (no caso, as escusas do art. 1.736, CC). O tutor é obrigado a
exercer esse munus por, no mínimo, dois anos (art. 1.765, CC).
O tutor deve exercer a guarda do tutelado (art. 36, parágrafo único, ECA) e deve agir com
cautela, educar o pupilo, prestar-lhe alimentos (art. 1.740, I, CC) – admitido que os bens do me-
nor sirvam para o custeio da educação e do sustento (art. 1.746, CC) –, prestar contas bienal-
mente (art. 1.757, CC), entregar balanços anuais (art. 1.756, CC), requerer autorização judicial
para atos além da mera administração (arts. 1.746 e seguintes, CC). Há atos patrimoniais que,
mesmo com autorização judicial, seriam nulos, como os atos de alienação gratuita de bens do
incapaz (art. 1.749, CC).
No tocante à adoção, vamos também prosseguir.
A adoção é forma excepcionalíssima de colocação de mirim em família substituta e só
deve ser utilizada após esgotados os esforços para a sua manutenção na família natural ou
extensa (art. 39, ­§ 1º, ECA). Ela pressupõe a ausência prévia do poder familiar, seja por conta
de uma destituição, seja pela orfandade. A adoção rompe o vínculo de filiação biológico e for-
ma um novo vínculo com os adotantes com todos os efeitos jurídicos de filiação. A adoção
de menores de 18 anos está disciplinada nos arts. 39 e seguintes do ECA e deve observar o
procedimento judicial do art. 165 e seguintes do ECA.
Falta falar com a guarda de que trata o ECA.
A guarda prevista no art. 33 do ECA é uma forma de colocação em família substituta para
regularizar uma situação fática de convívio de um menor com alguém. É para regularizar a
posse de fato. Em regra, ela deve ter natureza temporária para regularizar uma posse de fato
até que o mirim seja sujeito a uma tutela ou a uma adoção. Somente de modo muito excepcio-
nal se poderá deferir a tutela fora das hipóteses de tutela ou adoção, quando houver alguma
situação bem peculiar de ausência dos pais. A guarda impõe ao guardião o dever de cuidado
do mirim e, mediante autorização judicial, o dever de representar ou assistir o menor em atos
da vida civil (art. 33, caput e § 2º, ECA). A guarda torna o mirim dependente para todos os efei-
tos jurídicos, inclusive previdenciários. Assim, no caso de órfãos que passam a ser cuidado
por um parente, o caminho adequado é a formalização dessa posse de fato mediante pedido
judicial de guarda e, posteriormente, o emprego das medidas tendentes à concessão da tutela
ou da adoção. É, porém, comum que órfãos fiquem sob a guarda de parentes por anos, sem a
evolução para o vínculo jurídico mais estável e amplo da tutela ou da adoção. É possível que
a guarda seja deferida a terceiros mesmo quando os pais estiverem no exercício do poder fa-
miliar, como no caso de os pais desaparecerem e o mirim ficar aos cuidados de um terceiro.

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A guarda do art. 33 do ECA distingue-se da guarda do art. 1.583 do CC apenas em relação


aos seus efeitos jurídicos, pois esta última é reservada para o caso de pais que não vivem
juntos e, portanto, envolve caso de menores cujos pais estão no exercício do poder familiar,
ao contrário da guarda do art. 33 do ECA, que trata de caso de uma família substituta. José
Fernando Simão (2016) lembra que, embora as duas espécies de guarda possuam efeitos jurí-
dicos diversos, elas representam um único instituto jurídico: a guarda, que regulariza a simples
companhia fática de uma pessoa. O próprio CC admite que a guarda seja deferida a terceiros,
se os pais não forem aptos (art. 1.584, § 3º). Como os institutos são iguais, embora as suas
causas e os seus efeitos sejam diversos, é viável a aplicação subsidiária das regras da guarda
do ECA à guarda do CC, e vice-versa.

7.4. Curatela
Aplica-se aos casos de
INCAPACIDADE fora da
menoridade

Depende do prévio
Curatela INTERDIÇÃO ( = jurisdição voluntária)
reconhecimento da
(dos incapazes)
INCAPACIDADE

ATENÇÃO: Só atinge os direitos Arts. 6º e 81, EPD x art. 1.778, CC


há curatela fora dos casos patrimoniais?
fora de incapacidade
(ex.: ausência, nascituro etc.)

Amigos e amigas, a incapacidade fora dos casos de menoridade merece nossa atenção.
Nos casos de incapacidade não decorrente de menoridade, o instituto de amparo destina-
do ao incapaz é a curatela. A curatela de incapazes está disciplinada a partir do art. 1.767 do
CC e nos arts. 84 ao 87 do EPD. A curatela é, na verdade, instituto de amparo mais amplo por se
aplicar também a situações que não sejam de incapacidade, como no caso de ausentes (art.
22, CC), de nascituro (art. 1.779, CC), de bens da herança destinados a quem não foi concebido
ainda (art. 1.800, CC), de bens da herança jacente (art. 1.819, CC).
A nomeação de curador de incapaz depende de prévio reconhecimento do estado civil
de incapaz, o que é feito por meio da interdição, que é o instituto destinado a reconhecer a
incapacidade. A interdição deve sujeitar-se ao procedimento especial de jurisdição voluntária
disciplinada a partir do art. 747 do CPC.
No caso de a incapacidade envolver pessoa com deficiência, os arts. 6º e 85 do EPD prevê
que a curatela só pode atingir direitos de natureza patrimonial, sem alcançar aspectos existenciais.
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Nesse ponto, reportamo-nos a crítica anteriormente lançada no sentido de que esses disposi-
tivos devem ser interpretados restritivamente diante da iniludível realidade de situações extre-
mas de total descontrole intelectivo de certos incapazes, a exigir que o curador tenha poderes
além do mero patrimônio. É nesse sentido que o art. 1.778 do CC pode ser tido como em pleno
vigor, por estender o poder do curador sobre a pessoa e os bens do curatelado. Essas regras
do EPD relativas aos limites da curatela (arts. 6º e 85), embora tenham sido previstas para
pessoas com deficiência, devem ser estendidas a todos os casos de curatela de incapazes por
interpretação extensiva lógica, mesmo quando inexistir deficiência.

8. Indígena
Regime de TUTELA exercido pela
FUNAI
Atos praticados sem a assistência
Disciplinada em lei Indígena NÃO
Capacidade civil da FUNAI são NULOS
especial (Estatuto integrado à
do indígena Pode pedir o afastamento do regime
do Índio) comunhão nacional de tutela atendidos os requisitos do
art. 9º do Estatuto do Índio

É importante falar ainda sobre os indígenas.


A capacidade civil dos indígenas é disciplinada por lei especial (art. 4º, parágrafo único,
CC). Não se pode, portanto, afirmar que os indígenas são incapazes, nem absolutamente, nem
relativamente, pois lei especial deve fixar um regime especial de capacidade civil dos indígenas.
Atualmente, é a Lei n. 6.001/1973 – Estatuto do Índio – que trata desse tema e que estatui
que os indígenas não integrados à comunhão nacional, ou seja, os que não vivem em contato
fora da sua comunidade ficam sujeitos a um regime de tutela, exercida por meio da FUNAI
(art. 7º do Estatuto do Índio e a Lei da FUNAI – Lei n. 5.371/1967), de modo que são nulos os
atos praticados por eles sem a assistência da FUNAI (art. 8º). Qualquer indígena pode pedir
judicialmente o afastamento desse regime tutelar para alcançar a capacidade civil, desde que
atenda aos requisitos do art. 9º do Estatuto do Índio (idade mínima de 21 anos, conhecimento
do idioma português, razoável compreensão dos usos e costumes e habilitação para o exer-
cício de atividade útil na comunhão nacional). Paira, porém, controvérsia doutrinária acerca
da recepção dessas normas do Estatuto do Índio pela CF/88, que assegurou aos indígenas a
manutenção de seus costumes e identidades culturais no art. 231. Há forte corrente doutriná-
ria a defender a capacidade plena dos indígenas, de maneira que os atos praticados por eles
dispensariam a assistência da FUNAI e seriam válidos, independentemente de o indígena estar
ou não integrado.

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9. Emancipação
Voluntária: feita pelos pais por Independe do
escritura pública consentimento do filho

Aquisição da capacidade Judicial: requerida pelo TUTOR Só pode ser deferida por
do menor de 18 anos decisão judicial
Emancipação civil plena por menor de
Casamento, colação de grau em
18 anos. Espécies: Legal: situações que se enqua- nível superior, cargo público
dram no rol do art. 5º, II a V, CC efetivo e economia própria

Emancipação é o instituto em razão do qual o incapaz por menoridade torna-se capaz. É


prevista no art. 5º do CC e com regras de registros públicos no art. 9º, II, do CC e nos arts. 13,
§ 2º, 29, IV, 89 e 90 da Lei 6.015/73. A emancipação civil tem efeito civis, mas não influi no
regime jurídico dos menores em outros ramos do Direito que tenham normas próprias. Assim,
por exemplo, o menor emancipado continua sendo inimputável penalmente (art. 27 do CP) e
inabilitado para dirigir (art. 140, I, do Código de Trânsito Brasileiro), pois há norma específica
que não se vincula à capacidade civil, e sim à idade da pessoa. A emancipação pode ser de três
espécies: voluntária, judicial e legal.
A emancipação voluntária se dá quando os pais, por escritura pública, determinam a eman-
cipação de filho com idade a partir de 16 anos, conforme art. 5º, parágrafo único, I, CC. Trata-se
de direito potestativo dos pais e, por isso, dispensa consentimento do filho. Há a presunção
de que os pais emanciparão o filho em proveito deste. É muito comum em situações em que o
adolescente de 16 anos vai estudar em cidade longe dos pais e, por isso, precisa de liberdade
para celebrar contratos sem participação dos pais. É também comum para viabilizar a realiza-
ção de inventário ou divórcio por escritura pública quando um dos herdeiros ou um dos filhos é
menor, visto que a via judicial é obrigatória para o inventário ou o divórcio quando há herdeiro
ou filho incapaz (arts. 610 e 733 do CPC).
A emancipação judicial ocorre quando o tutor requer judicialmente a emancipação de me-
nor a partir dos 16 anos, conforme art. 5º, parágrafo único, I, CC. A exigência de decisão judicial
decorre da ausência de presunção de que o ato será feito em proveito do menor, de maneira
que o juiz deve averiguar se a emancipação é proveitosa. Há, na verdade, uma suspeita de que
o tutor tenderá a agir egoisticamente para livrar-se do encargo por meio da emancipação, ra-
zão por que há a exigência de intervenção judicial.
A emancipação legal ocorre quando o menor se enquadra em uma das hipóteses dos inci-
sos II ao V do parágrafo único do art. 5º do CC: casamento, exercício de emprego público efeti-
vo, colação de grau em ensino superior e, a partir dos 16 anos, aquisição de economia própria a
partir de atividade profissional ou empresarial. E, apesar da omissão do texto do art. 5º do CC,
também deve ser entendido que há emancipação legal para a união estável por analogia, pois
seria inconstitucional deixar de estender regras de casamento para esse modelo de família se
não houver um justo motivo.

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O casamento de menor é admitido para maiores de dezesseis: basta a autorização dos


pais (art. 1.517, CC).
Quanto a emprego público efetivo, a mera nomeação ou a posse não são suficientes para a
emancipação; é necessário o exercício da função pública. E é preciso que se trate de emprego
público decorrente de aprovação em concurso público diante do adjetivo “efetivo” que é usado
pelo CC para designar o emprego público. A regra vale para qualquer emprego público efetivo
na Administração Direta ou Indireta, de modo a incluir também servidores públicos efetivos.
Sabe-se que as legislações de pessoal da Administração Pública costumam proibir o acesso
a cargos públicos efetivos antes dos 18 anos, mas, se houver alguma decisão judicial ou lei
flexibilizando, poderá haver essa hipótese de emancipação na prática.
A colação de grau em ensino superior também emancipa, embora se trate de caso raro.
A aquisição de economia própria só emancipa a partir dos 16 anos.
A emancipação legal decorre de lei e, portanto, se aperfeiçoa com o advento do fato previs-
to na lei. Isso significa que qualquer documento ou registro posterior terá natureza meramente
declaratória. Um juiz, por exemplo, poderia simplesmente negar o pedido de anulação de um
negócio jurídico feito por um adolescente se ele, por exemplo, já vive em união estável.
Para a notícia da emancipação acessar o registro civil de pessoas naturais, o oficial de
registro deve exigir um documento que, com fé pública, reconheça o fato legal emancipador.
No caso de colação de grau em ensino superior, de exercício de emprego público efetivo e de
casamento, o diploma, a certidão do órgão público e a certidão de casamento são respectiva-
mente títulos idôneos para registro. Em se tratando, porém, de economia própria, entendemos
que só uma decisão judicial poderia ser título apto a registro.

10. Legitimação
Exigência de requisitos
Só LEI pode exigir
Legitimação específicos para a prática
legitimação
de certos atos

ATENÇÃO: legitimação
NÃO é capacidade nem
personalidade

Meus caríssimos amigos e amigas, já falamos de dois conceitos importantes sobre pesso-
as naturais: personalidade jurídica e capacidade. Falta um conceito: o de legitimação.
Antes de tudo, resolva a questão.

002. (FCC/TJ-PA/2009) Sendo o ser humano sujeito de direitos e deveres, nos termos do dis-
posto no art. 1º do Código Civil, pode-se afirmar que:
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a) capacidade se confunde com legitimação.


b) todos possuem capacidade de fato.
c) capacidade é a medida da personalidade.
d) não existe mais de uma espécie de capacidade.
e) a capacidade de direito é sinônimo de capacidade limitada.

A resposta é a letra “C”. Como você já sabe, legitimação é diferente de capacidade. E lembre-se
de que não existe incapacidade de direito, mas apenas de fato. Por isso, falamos que, no caso
de uma pessoa não ter capacidade de fato (ser incapaz), ela tem uma capacidade limitada
(pois ela só tem a capacidade de direito). Se, porém, ela tem capacidade de fato, falamos que
ela tem capacidade plena (capacidade de direito e de fato).
Letra c.

Vamos tratar de legitimação.


Legitimação não se confunde com capacidade jurídica, nem com personalidade. É a exi-
gência de requisitos específicos para a prática de determinados atos jurídicos. É a aptidão
específica para determinados atos da vida civil. É uma capacidade especial para determinados
atos da vida civil. É preciso haver lei exigindo essa legitimação.
Como exemplo, pode-se citar a exigência de legitimação para: (1) a venda de imóvel ou a
prestação de fiança por pessoas casadas, que dependem de consentimento do cônjuge, salvo
casos do art. 1.647, CC; (2) a venda de bens a descendentes, que depende de consentimento
dos demais e do cônjuge, conforme art. 496, CC. Um outro exemplo é o de que o falido não
pode praticar atos em relação aos bens da massa falida, pois só o síndico da massa falida –
que não é dono dos bens – tem essa legitimidade enquanto correr o processo de falência.

11. Morte Civil


Real: morte BIOLÓGICA
Morte civil
SEM declaração de AUSÊNCIA Guerra após dois anos
(art. 7º, CC)
Risco de vida
Presumida COM declaração de AUSÊNCIA

Falecimento de 2 ou + pessoas
em uma mesma OCASIÃO sem Não haverá sucessão entre elas
Comoriência
se poder precisar QUEM MORREU
PRIMEIRO

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Chegando ao fim da nossa aula, vamos falar do fim das pessoas: a morte.
Cuidado! Aqui estamos falando de morte CIVIL!! Trata-se de um conceito do Direito e varia
no tempo e no lugar. Por exemplo, na Idade Média, quando alguém virava padre, era conside-
rado “morto” civilmente, pois já não poderia ter direitos e deveres na ordem civil. Teoricamen-
te, em um país de religião radical, poderia ser considerado morto quem se apostatasse da
fé oficial.
Vamos, então, ver como a morte é tratada no Brasil.
Antes, porém, quero que você resolva a questão de concurso.

003. (FGV/TJ-PI/2015) Maria tomou um voo comercial no Brasil com destino a Portugal. Após
a decolagem, a aeronave sofreu uma pane e o avião caiu no Oceano Atlântico. As equipes de
busca encontraram alguns destroços. Não encontraram corpos, mas não há qualquer indício
de sobrevivente. Pedro, marido de Maria, para receber o seguro de vida do qual é beneficiário,
poderá solicitar:
a) que seja declarada a morte presumida de Maria, pelas equipes de busca, em documen-
to escrito;
b) à seguradora o pagamento da indenização independentemente da declaração de morte de
sua esposa;
c) a decretação de ausência e a nomeação de curador para administrar os interesses da espo-
sa desaparecida;
d) ao Judiciário a declaração, por sentença, da morte presumida, com a fixação da data prová-
vel da morte de Maria;
e) à companhia aérea uma declaração oficial sobre o acidente para apresentar à seguradora e
requerer a indenização.

Você entenderá muito bem essa questão a partir do que vamos falar a seguir.
Letra d.

Vamos em frente!!
A morte civil é a forma de extinção da personalidade jurídica da pessoa natural. Ela pode
ser de duas espécies: (1) real, que coincide com a morte biológica, que ocorre com a cessação
da atividade cerebral, ou seja, com a morte encefálica, conforme art. 3º da Lei 9.434/97; (2)
presumida, que se aplica situações em que o corpo da pessoa desapareceu, de modo a não se
saber se houve ou não morte real. A morte presumida depende de previsão legal.
Há duas situações de morte presumida.
A primeira é a morte presumida sem declaração de ausência, que se configura quando há
extrema probabilidade de morte de uma pessoa na forma do art. 7º do CC. Isso ocorre
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quando, cessadas as buscas, não se encontra pessoa que: (1) desapareceu em situação de
perigo à vida que torne extremamente provável a morte ou, (2) não é encontrado após dois
anos do fim de uma campanha (guerra, guerrilhas etc.) e tenha sido feito prisioneiro ou tenha
desaparecido. Nesses casos, o juiz fixará a data provável da morte, de modo que a sentença
poderá autorizar o registro do óbito no Cartório.
A segunda hipótese é a de morte presumida com declaração de ausência. Nesse caso, o
momento da morte será aquele em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva, confor-
me art. 6º do CC.
Por fim, faça-se um destaque. O art. 88 da Lei n. 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos –
LRP) prevê a “justificação do óbito”, permitindo que o juiz autorize o registro do óbito de pessoa
que desapareceu em uma catástrofe ou em uma campanha, desde que esteja comprovada
a presença dela no local e que não seja possível encontrar o seu cadáver. Seja como for, há
quem sustente a subsistência desse procedimento, alegando que ele se aplicaria a situações
de certeza da morte de uma pessoa sem que se possa identificar o corpo, como na hipótese
de morte de alguém que é derretido ao cair dentro de um vulcão ou de quem desaparece em
uma explosão de um prédio. Segundo essa corrente, para a justificação de óbito, não há ne-
cessidade de fim de diligências de buscas nem de fixação de data provável da morte. Nessa
corrente, vacilam os seus autores entre considerar essa hipótese como de morte real, de morte
presumida ou de ambas as espécies de morte, a depender do caso concreto.
Preferimos seguir um caminho diverso: temos por revogado implicitamente o art. 88 da
LRP. Temos que essa hipótese cuidava do que, com o CC/2002, foi absorvido pelo art. 7º sob o
título de morte presumida sem declaração de ausência. Do ponto de vista histórico, o CC/1916
não previa morte presumida sem declaração de ausência. O art. 88 da LRP sobreveio, na déca-
da de 1970, para preencher essa lacuna da legislação civil. O NCC, por fim, reuniu, em si, todo o
tratamento da morte, com inclusão da presumida sem declaração de ausência. O NCC discipli-
nou, pois, inteiramente a matéria do art. 88 da LRP, com pontos coincidentes e divergentes. Por
exemplo, segundo o art. 7º do CC, no caso de campanha, a morte presumida só pode ocorrer
após 2 anos do seu fim, ao contrário do liberal parágrafo único do art. 88 da LRP.
Note que o art. 88 da LRP não tratava de morte real por um motivo: se o corpo não foi
identificado, há apenas um juízo de probabilidade (ainda que alto) de morte. Não há certeza
da morte. A pessoa pode vir a aparecer. O art. 88 da LRP tratava, pois, de morte presumida
sem ausência. Alerte-se que esse dispositivo só cuidava de casos em que não for encontrado
o cadáver, daí porque não se lhe pode aplicar a casos em que vestígios deste foi encontrado.
No caso de quem caiu em um vulcão ou de quem se despedaçou em uma explosão, se tiver
sido encontrado vestígios do cadáver com sinais de identificação (como DNA), tem-se morte
real, sem necessidade de aplicar o art. 88 da LRP. O oficial de registro não depende de decisão
judicial prévia para lavrar o assento de óbito, pois aí a morte é real. A pessoa competente po-
derá fazer a declaração de óbito na forma do art. 79 da LRP. E mais: o médico ou outro agente
competente poderiam atestar a morte para respaldar o oficial de registro.

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Quanto ao procedimento judicial a ser adotado para a morte presumida sem declaração de
ausência, diante da falta de litígio, era cabível o procedimento especial de jurisdição voluntária
da “justificação” sob a égide do CPC/1973, mas, como o CPC/2015 não o replicou, aplicar-se-
-á doravante o procedimento inonimado de jurisdição voluntária (art. 719, CPC/2015). O art.
2.043 do CC respeitou os procedimentos processuais previstos em normas especiais e que
dissessem respeito a institutos por ele disciplinados, a exemplo da justificação para o óbito
presumido à época do CPC/73.
Por fim, você já ouviu falar de comoriência? Vamos lá.
Comoriência significa a morte simultânea de duas ou mais pessoas. O art. 8º do CC pre-
sume a comoriência quando duas ou mais pessoas faleceram numa mesma ocasião sem se
poder identificar quem morreu em primeiro lugar. Isso pode ocorrer por eventos fáticos diver-
sos, desde que o momento do óbito de cada um dos comorientes seja o mesmo e inexista
possibilidade de identificar quem morreu primeiro. Se acontece um acidente mortal com um
avião e, na mesma ocasião, alguém tem um infarto em outro lugar do mundo, pode-se falar de
comoriência entre o passageiro daquele avião e o titular do coração fatigado, se não houver
como identificar quem morreu em primeiro lugar.
A principal utilidade da presunção de comoriência do art. 8º do CC é deixar claro que um
dos comorientes não será herdeiro do outro, visto que a transmissão hereditária ocorre com
a morte. Assim, se há comoriência de um casal sem filhos, o patrimônio de cada um será
transferido, por sucessão causa mortis, aos respectivos ascendentes que estiverem vivos, nos
termos do art. 1.829, CC. Se um deles tivesse morrido em primeiro lugar, os bens dele seriam
transferidos ao cônjuge que sobreviveu um pouco mais, de modo que, com a morte deste,
esses bens e os demais que lhe pertenciam se reverteriam em prol dos ascendentes deste
por herança.

12. Ausência
12.1. Noções Gerais
Desaparecer sem
deixar notícias

Deve ser REGISTRADO no Cartório


de Registro de Pessoas Naturais
É estado civil

Ausência
Precede à declaração
de MORTE PRESUMIDA

Se o ausente não
deixar bens, indaga-se: Há controvérsias

nomeia-se CURADOR?

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Em continuidade com o tema de morte presumida, temos de falar de ausência.


Ausência é o estado civil de quem desapareceu sem deixar notícias e, nos termos da lei,
pode ser declarado morto presumidamente. Como estado civil, a ausência é registrada no Car-
tório de Registro Civil das Pessoas Naturais após o seu reconhecimento por decisão judicial,
de maneira que, em certidão de nascimento atualizada da pessoa desaparecida, constará o
seu estado civil de ausente. A disciplina do ausente está nos arts. 9º, IV, e 22 ao 39 do CC, nos
arts. 744 e 745 do CPC e na Lei 6.015/73 (especialmente art. 94).
A ausência não implica incapacidade civil, ao contrário do que sucedia à época do CC/1916.
Ausência e incapacidade são institutos diversos. Negócios jurídicos feitos pelo ausente no
lugar desconhecido em que estiver não poderiam ser tidos por nulos ou anuláveis com funda-
mento nos arts. 166, I, ou 171, I, do CC, pois estes só se aplicam para negócios feitos por inca-
pazes. A invalidade desses negócios do ausente deve buscar fundamento em regras próprias
da ausência. Em princípio, os atos praticados pelo ausente são válidos, salvo – pensamos – se
for contraditório com algum ato praticado pelo curador que vier a ser nomeado para o ausente.
Como se verá mais abaixo, os bens do ausente são administrados por curador em um primeiro
momento, por inventariante e pelos herdeiros em uma segunda etapa, até que a sua proprie-
dade seja transferida aos herdeiros por sucessão causa mortis. Os negócios praticados pelo
ausente só serão nulos se forem contraditórios com os atos praticados no curso desses pro-
cedimentos, assegurado, porém, ao terceiro de boa-fé indenização contra o ausente em razão
de este ter dado causa à invalidade. Se, por exemplo, o curador vende um veículo do ausente
com autorização judicial destinada à preservação do patrimônio (ex.: evitar desvalorização) e,
posteriormente, o ausente vende esse mesmo veículo a um terceiro, qual o negócio prevalece-
rá? Temos que o negócio praticado pelo curador prevalece; o negócio do ausente será nulo; o
estado civil de ausência estava publicizado nos registros públicos; havia presunção absoluta
de ciência do terceiro que fez contrato com o ausente. Seja como for, esse terceiro poderia
pleitear indenização contra o ausente.
Se alguém desaparece sem deixar bens, indaga-se: é possível declarar-lhe a ausência e
nomear-lhe curador?
Parece-nos que a resposta é positiva. A ausência é um instituto que não se presta apenas
a questões patrimoniais. Ela é uma etapa prévia para, nos termos da lei, autorizar a declaração
de morte presumida, que é uma hipótese de extinção da pessoa natural. A morte presumida
é morte civil, com todos os seus efeitos civis, patrimoniais ou não. O cônjuge do ausente, por
exemplo, muda o estado civil para viúvo com a morte presumida e, portanto, não estará mais
impedido de casar. A declaração de ausência é necessária mesmo se o ausente não tiver bens.
Igualmente, a nomeação de curador do ausente também é fundamental, pois pode haver atos
não patrimoniais a serem praticados, como, por exemplo, ir a uma repartição pública para pres-
tar um esclarecimento (justificar a ausência na votação, recolher um diploma de universidade,
proteger a imagem do ausente que pode estar sendo atacada por injúrias na internet etc.).
Aliás, a curatela é fundamental até mesmo para representação do ausente diante de possíveis

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credores. A própria realização da sucessão causa mortis provisória e definitiva é necessária,


ainda que seja para declarar que o espólio é negativo ou é zero. Com apoio em Pontes de Mi-
randa, Fábio Tacachi Matte esclarece isso.
Há, porém, corrente a defender o contrário, sob o argumento de que, não havendo bens, não
há por que nomear curador, que, segundo o próprio título da Seção I que encerra os arts. 22 ao
25 do CC, diz respeito à “Curadoria dos Bens do Ausente” nem há motivos para declarar a au-
sência diante da inexistência de bens partilháveis. Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves (2016,
p. 389), com suporte em Fábio Ulhoa Coelho, asseveram que o “curador não é administrador do
ausente, mas dos bens dele”. Trata-se, porém, de uma visão restritiva e patrimonialista de um
instituto que, antes de mais nada, diz respeito à existência da pessoa natural, e não apenas ao
seu patrimônio. Temos que, mesmo não havendo bens, é cabível tanto a declaração de ausên-
cia quanto a nomeação de curador.

12.2. Procedimento da Ausência e da Morte Presumida


Se há ou não alguém constituído com
poderes especiais para a representa-
1) Curatela ção em TODOS os atos da vida civil

Três anos após o desaparecimento no caso de


Procedimento haver procuração com poderes suficientes
da AUSÊNCIA 2) Sucessão provisória Um ano após a publicação dos editais de arre-
Três fases:
cadação e de convocação nos demais casos
e da MORTE
PRESUMIDA
AUSENTE será considerado
3) Sucessão definitiva presumidamente MORTO

O procedimento da ausência está disciplinado a partir dos arts. 22 do CC e dos arts.


744 do CPC.
Vamos tratar disso.
O procedimento para a declaração de ausência pode ser dividido em três fases: (1) a da
curatela; (2) a da sucessão provisória; e (3) a da sucessão definitiva.
Vamos começar com a fase da curatela.
A fase da curatela está nos arts. 22 ao 25 do CC. Desaparecendo alguém sem deixar notí-
cias, há duas situações possíveis.
A primeira é a de o desaparecido ter deixado alguém com poderes suficientes para re-
presentá-lo em todos os atos da vida civil. Nesse caso, não há urgência na nomeação de um
curador, pois há um procurador com poderes suficientes para a gestão dos bens. Inexiste,
igualmente, motivos para apressar a declaração de sua ausência, pois, se uma pessoa deixa
procuração com poderes suficientes para outrem e, depois, desaparece, deve-se presumir que
essa ocultação é intencional e que é menor a probabilidade de ela ter morrido, pois não é co-
mum as pessoas prepararem-se para uma morte repentina. É provável que ela queira apenas
“dar um tempo” de todos e ficar em um lugar isolado. Por essa razão, nessa hipótese de
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desaparecimento com procuração suficiente, somente após 3 anos é que os interessados po-
derão pedir a declaração de ausência e, também, pedir a abertura da sucessão provisória (art.
26 do CC, que segue em vigor nessa parte). Nessa hipótese, como haverá a abertura da suces-
são provisória (que é um processo de inventário), não há necessidade de curador, pois caberá
ao inventariante a administração dos bens ou aos herdeiros que vierem a ser imitidos na posse.
A segunda situação é de quem desaparece sem deixar procuração ou deixando procura-
ção com poderes insuficientes. Aí há uma urgência em nomear alguém como administrador
dos seus bens. E mais: é maior a probabilidade de que realmente possa ter acontecido algum
sinistro mortal contra o desaparecido. Por isso, logo após o desaparecimento – sem haver um
prazo mínimo, desde que seja razoável no caso concreto –, os interessados poderão pedir ao
juiz a declaração de ausência do desaparecido e a nomeação de um curador (arts. 22 e 23, CC).
O curador seguirá esta ordem preferencial do art. 25 do CC: cônjuge (pessoa mais próxima do
ausente), pais (pessoas presumidamente mais experientes em razão da idade do que os des-
cendentes), descendentes (pessoas menos experientes) e terceiro a ser designado pelo juiz.
Declarada a ausência nesse caso, o juiz determinará que o curador proceda à arrecadação dos
bens do ausente, que nada mais é do que uma catalogação do patrimônio a ser homologada
judicialmente. Feita a arrecadação, o juiz determinará a publicação de editais de anúncio da
arrecadação e de convocação do ausente a serem publicados na internet na forma do art. 745
do CPC. A divulgação do edital persistirá por um ano, findo o qual os interessados poderão
pedir a abertura da sucessão provisória (art. 745, § 1º, CPC). Nesse ponto, o art. 26 do CC foi
parcialmente revogado pelo art. 745, § 1º, do CPC, pois a abertura da sucessão provisória pas-
sará a ser admitida após 1 ano da publicação dos editais da arrecadação e da convocação do
ausente, e não da mera arrecadação dos bens.
Agora, vamos para a fase da sucessão provisória.
Aberta a sucessão provisória (3 anos após o desaparecimento no caso de haver procu-
ração com poderes suficientes ou 1 ano após a publicação dos editais de arrecadação e de
convocação nos demais casos), far-se-á a partilha dos bens entre os herdeiros, mas sem se
transmitir a propriedade, pois ainda não houve a morte presumida do ausente. A sentença da
abertura provisória só produzirá efeitos 180 dias depois da sua publicação, mas, antes desse
prazo, já se poderá proceder ao inventário, à partilha e à abertura de testamentos (art. 28, CC).
Os herdeiros poderão, no entanto, imitir-se na posse dos bens mediante prestação de garan-
tia de restituição por meio de penhor, hipoteca ou, embora silencioso o caput do art. 30 do
CC, outra garantia idônea (alienação fiduciária, seguro-fiança etc.). Estão dispensados, porém,
dessa garantia para a imissão na posse os “familiares privilegiados” (cônjuge, ascendentes e
descendentes), que são herdeiros necessários e que, por serem os familiares mais próximos
do ausente, são tratados como presumidamente detentores do maior interesse em proteger o
ausente. O companheiro também deve ser incluído entre os familiares privilegiados para esse
efeito diante da isonomia constitucional entre casamento e união estável.

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Os familiares privilegiados poderão apropriar-se integralmente dos frutos dos bens, como
os aluguéis obtidos com os bens do ausente, ao passo que os demais parentes (os colaterais)
só poderão apropriar-se da metade, aplicando a outra metade em algum produto de investi-
mento e prestando contas anualmente desses valores ao juiz, conforme art. 33, CC. O motivo
desse tratamento diferenciado é a presunção de que os familiares privilegiados empregariam
os frutos em favor do ausente caso ele aparecesse, além do fato de que por serem eles her-
deiros necessários, o patrimônio do ausente já iria para eles de qualquer forma, ao menos em
relação à legítima. Os demais parentes, porém, presumidamente não teriam muita preocupa-
ção com o ausente caso ele retornasse diante do presumido afastamento afetivo e da falta da
condição de herdeiro necessário. A metade dos frutos de que eles podem se apropriar serviria
como remuneração pela gestão dos bens em cuja posse houve a imissão.
Aparecendo o de cujus, ele recuperará os bens e poderá reivindicar os valores dos frutos
que foram capitalizados em aplicações financeiras, salvo se o seu desaparecimento for injus-
tificável (art. 33, parágrafo único, CC).
Por fim, vamos para a fase da sucessão definitiva.
Após dez anos do trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória, os
interessados podem requerer a sucessão definitiva. É nesse momento que o ausente passa
a ser considerado morto presumidamente. O registro do seu óbito ocorrerá nesse momento
(arts. 6º e 37, CC). O falecido poderá, no entanto, recuperar os bens que ainda existirem ou os
sub-rogados (os que foram adquiridos como fruto da venda daqueles bens) se regressar nos
10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, conforme art. 39, CC.
A sucessão definitiva poderá ser deferida sem os procedimentos acima se o ausente tiver
oitenta anos de idade e já fizer mais de cinco anos que não se tem notícias dele, visto que a
presunção de seu falecimento é bem maior (art. 38, CC).

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QUESTÕES DE CONCURSO
004. (CESPE/AUDITOR-FISCAL/SEFAZ-DF/2020) O início da personalidade civil das pessoas
físicas ocorre com o nascimento com vida, enquanto o início da personalidade civil das pes-
soas jurídicas de direito privado ocorre com a inscrição do seu ato constitutivo no respectivo
registro, precedida de autorização ou aprovação do Poder Executivo, quando necessário.

A resposta está no art. 2º do CC:

Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, des-
de a concepção, os direitos do nascituro.
Certo.

005. (CONSULPLAN/PROCURADOR/PREFEITURA DE SUZANO-SP/2019/ADAPTADA) A


personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.

É cópia do art. 2º do CC. Confira-se:

Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, des-
de a concepção, os direitos do nascituro.
Certo.

006. (CESPE/DELEGADO/PC-GO/2017/ADAPTADA) Conforme a teoria natalista, o nascituro


é pessoa humana titular de direitos, de modo que mesmo o natimorto possui proteção no que
concerne aos direitos da personalidade.

Pela teoria natalista, o nascituro não é pessoa humana, mas sim uma futura pessoa. E, por ele
ser uma futura pessoa humana, ele terá proteção de direitos da personalidade, no que couber.
A questão está errada por afirmar que, por essa teoria, o nascituro é pessoa humana.
Errado.

007. (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPU/2015) Um nascituro, se representado por sua geni-


tora, pode ser um dos sujeitos envolvidos na referida relação jurídica, uma vez que, conforme o
ordenamento jurídico, a personalidade jurídica é adquirida na concepção.

A doutrina, independentemente da teoria adotada, admite, por diferentes motivos, que o nas-
cituro tenha proteção de direitos da personalidade, no que couber. Para a teoria natalista, o

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motivo é o fato de o nascituro ser uma futura pessoa. Para a teoria concepcionista, o motivo
é o nascituro já ser titular de personalidade jurídica. Para teoria da personalidade condicional,
o motivo é o nascituro já ter personalidade jurídica sujeita a uma condição suspensiva (o nas-
cimento com vida), de maneira que é necessário proteger essa situação jurídica condicional.
Praticamente ninguém na doutrina, porém, defende que o nascituro pode, como regra, ser um
dos sujeitos de relação jurídica, como, por exemplo, ser parte de contratos. Isso torna a ques-
tão errada.
Além do mais, a questão também está errada ao afirmar que a personalidade jurídica surge
com a concepção, pois o texto expresso do art. 2º do CC estabelece que a personalidade
jurídica surge com o nascimento com vida. Ainda que a teoria concepcionista preveja que a
personalidade jurídica surja com a concepção, isso não é pacífico, de maneira que uma ques-
tão objetiva de concurso não pode afirmar que a teoria adotada teria sido a concepcionista.
Questão assim teria de ser anulada por ter um gabarito controvertido na doutrina.
Errado.

008. (FVG/OFICIAL DE JUSTIÇA/TJ-RS/2020) Maria, grávida de 5 meses, preocupa-se com


a proteção dos direitos do seu futuro bebê. O marido de Maria, pai da criança, está hospitali-
zado em quadro de saúde gravíssimo e a relação de Maria com a família do seu marido não é
harmoniosa.
A afirmação que melhor reflete a situação do nascituro é:
a) nascituro goza de proteção jurídica;
b) nascituro tem personalidade civil plena;
c) nascituro não é titular de direitos subjetivos;
d) embrião e nascituro têm o mesmo tratamento legal;
e) material genético humano congelado é um nascituro.

a) Certa. O nascituro é protegido pelo nosso ordenamento.


b) Errada. Para teoria concepcionista, nascituro só tem personalidade formal (direitos da per-
sonalidade), e não personalidade material (direitos patrimoniais). Logo, não tem personalidade
jurídica plena.
c) Errada. Pode ser titular de direitos subjetivos, no que couber, como os direitos da personali-
dade.
d) Errada. Embrião in vitro é objeto de direito, ao contrário do nascituro (que é o embrião em
gestação e que é protegido juridicamente). Com base nisso, o STF admitiu a utilização do em-
brião in vitro para fins científicos dentro das regras de bioética previstas na Lei de Biosseguran-
ça, a Lei 11.105/2005 (STF, ADI 3510, Pleno, Rel. Min. Ayres Britto).
e) Errada. É objeto de direito; é o embrião in vitro.
Letra a.

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009. (CESPE/ADVOGADO/AGU/2015) Entre os direitos ressalvados pela lei ao nascituro es-


tão os direitos da personalidade, os quais estão entre aqueles que têm por objeto os atributos
físicos, psíquicos e morais da pessoa.

O nascituro tem direitos da personalidade por se cuidar de um ser humano em formação, es-
pecialmente os relacionados aos seus atributos físicos, psíquicos e morais. Ameaças à sua
integridade física, psíquica e moral devem ser coibidas.
Nesse sentido:
• o STJ admite dano moral em favor do nascituro nos casos de morte do pai ou de lesão à
saúde (STJ, REsp 1.170.239, 4ª Turma, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 28/08/2013);
• a Lei de Alimentos Gravídicos (Lei 11.804/2008) assegura ao nascituro o direito a pen-
são alimentícia;
• o STF distinguiu o embrião in vitro do nascituro: este, por ter direitos da personalidade
e por ser um embrião em gestão, não poderia ser objeto de pesquisas científicas, ao
contrário do embrião in vitro, que é um embrião em proveta e que pode ser objeto de
pesquisa científica na forma da Lei de Biossegurança – Lei 11.105/2005 (STF, ADI 3510,
Pleno, Rel. Min. Ayres Britto).
Igualmente, assim dispõe o enunciado n. 1/JDC: “Art. 2º A proteção que o Código defere ao
nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome,
imagem e sepultura”.
Certo.

010. (CESPE/AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO/TCE-RO/2013) Ao maior de dezoito anos


de idade a lei confere a capacidade de direito, o que significa que, ao completar dezoito anos,
o indivíduo estará apto à prática dos atos da vida civil pessoalmente, sem assistência ou re-
presentação.

A questão troca os conceitos de capacidade de fato x capacidade de direito. Como vimos, to-
das as pessoas, sem exceção, têm capacidade de direito (art. 1º, CC). Não existe incapacidade
de direito. Porém, a capacidade de fato, por exigir idoneidade psíquica e compreensão dos
efeitos jurídicos do ato, só se considera plenamente adquirida aos 18 anos.
Errado.

011. (CONSULPLAN/PROCURADOR/PREFEITURA DE SUZANO-SP/2019/ADAPTADA)


Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil, sendo certo que tal afirmação refe-
re-se à capacidade de exercício.

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Essa afirmação, que é reprodução do art. 1º do CC, se refere à capacidade de direito, e não à
capacidade de exercício.
Capacidade de direito ou de aquisição é a medida da personalidade: todo mundo que tem
personalidade jurídica tem capacidade de direito, porque pode ter direitos e deveres. Por isso,
toda pessoa é capaz de direitos e deveres (art. 1º do CC). Não existe incapacidade de direito.
Capacidade de fato ou de exercício é a aptidão de exercer, por si só, atos da vida civil. Nem
toda pessoa é capaz de fato, como se dá nos casos de incapacidade absoluta (art. 3º, CC) e de
incapacidade relativa (art. 4º, CC).
Errado.

012. (CESPE/AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO/TCE-PA/2016) Será considerada absoluta-


mente incapaz a pessoa que, por causa permanente, não puder exprimir sua vontade, caso em
que necessitará de representante legal para exercer os atos da vida civil.

É relativamente incapaz (art. 4º, III, do CC). Só há um absolutamente incapaz: quem tem menos
de 16 anos. Veja os arts. 3º e 4º do CC:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de
16 (dezesseis) anos.
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV – os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
Errado.

013. (FCC/ANALISTA JURÍDICO DE DEFENSORIA/DPE-AM/2019) De acordo com a atual


redação do Código Civil, com as modificações operadas pela Lei Brasileira de Inclusão da Pes-
soa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015), são relativamente incapazes
a) as pessoas maiores de 16 e menores de 18 anos e os pródigos.
b) todas as pessoas menores de 18 anos.
c) somente as pessoas maiores de 16 e menores de 18 anos, os ébrios habituais, os viciados
em tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido.
d) somente as pessoas que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido.
e) todas as pessoas maiores de 16 e menores de 18 anos que tenham sido emancipadas.

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A alternativa “A” é a única condizente com os arts. 3º e 4º do CC:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de
16 (dezesseis) anos.
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV – os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
Letra a.

014. (FCC/ANALISTA JUDICIÁRIO/TRF-3ª REGIÃO/2019) Ricardo, maior de 16 anos, não


consegue, por causa permanente, exprimir sua vontade. Nesse caso, de acordo com o Código
Civil, Ricardo
a) é absolutamente incapaz de exercer pessoalmente os atos da vida civil, não correndo contra
ele a prescrição.
b) é absolutamente incapaz de exercer pessoalmente os atos da vida civil, mas contra ele corre
a prescrição.
c) é incapaz, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer, não correndo contra ele
a prescrição.
d) é incapaz, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer, mas contra ele corre a
prescrição.
e) não é incapaz, absoluta ou relativamente, mas contra ele não corre a prescrição.

A letra “D” é a única condizente com o art. 4º, III, e 198, I, do CC:

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:


I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV – os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I – contra os incapazes de que trata o art. 3 o;
II – contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III – contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Letra d.

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015. (CESPE/ANALISTA/TRE-ES/2010) Os pais podem conceder emancipação a filho que


tenha completado dezesseis anos de idade.

É o art. 5º, parágrafo único, I, do CC:

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática
de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, inde-
pendentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver
dezesseis anos completos;
Certo.

016. (MPE-GO/PROMOTOR/MPE-GO/2019/ADAPTADA) A menoridade cessa aos dezoito


anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Ces-
sa, para os menores, a incapacidade: I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do
outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sen-
tença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II – pelo casamento; III
– pelo exercício de emprego público efetivo; IV – pela colação de grau em curso de ensino su-
perior; V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

Trata-se do art. 5º do CC, que trata das hipóteses de emancipação. A emancipação pode ser:
• Voluntária: pais, por escritura pública, emancipam filho maior de 16 anos;
• Judicial: juiz, após ouvir tutor, emancipa maior de 16 anos;
• Legal: hipóteses legais dos incisos II ao V do parágrafo único do art. 5º (casamento,
exercício de emprego público efetivo, colação de grau em ensino superior e economia
própria de maior de 16 anos).
Confira o art. 5º do CC:

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática
de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, inde-
pendentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver
dezesseis anos completos;
II – pelo casamento;
III – pelo exercício de emprego público efetivo;
IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;
V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que,
em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
Certo.

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017. (CESPE/AUXILIAR JUDICIÁRIO/TJ-PA/2020) Segundo regra geral do Código Civil, a me-


noridade cessa a partir do momento em que o sujeito completa dezoito anos de idade, poden-
do a incapacidade cessar antes disso. A incapacidade do(a) menor com dezesseis anos de
idade completos cessará se houver
a) autorização dos pais mediante instrumento público, desde que homologado pelo Poder
Judiciário.
b) nomeação do(a) menor para o exercício de emprego público efetivo.
c) estabelecimento civil ou comercial em função do qual ele(a) tenha economia própria.
d) casamento, desde que seja resultante de gravidez.
e) comprovação de conclusão do ensino médio.

a) Errada. Não há necessidade de homologação judicial (art. 5º, parágrafo único, I, CC).
b) Errada. Não é a nomeação, e sim o exercício de emprego público efetivo (art. 5º, parágrafo
único, III, CC).
c) Certa. É o art. 5º, parágrafo único, V, CC.

V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que,
em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
d) Errada. Casamento é causa de emancipação legal independentemente de gravidez (art. 5º,
parágrafo único, II, CC).
e) Errada. Não há essa causa legal de emancipação no art. 5º, parágrafo único, do CC.
Confira o art. 5º do CC:

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática
de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, inde-
pendentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver
dezesseis anos completos;
II – pelo casamento;
III – pelo exercício de emprego público efetivo;
IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;
V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que,
em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
Letra c.

018. (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2016/ADAPTADA) A emancipação voluntária dos pais é ato revo-


gável, com efeitos a partir do ato de revogação.

Não há previsão de revogação, de modo que, uma vez ocorrida a emancipação voluntária, o
estado civil do menor passa a ser o de capaz. A emancipação é, pois, irrevogável. Somente
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no caso de invalidade do ato de emancipação é que esse menor poderia voltar a ser incapaz,
pois a invalidade, em regra, cassa todos os efeitos jurídicos desse ato. É o que ocorreria, por
exemplo, no caso de invalidação do ato de emancipação por vício de vontade (como erro, dolo,
coação etc.), conforme ensina o enunciado n. 397/JDC (“A emancipação por concessão dos
pais ou por sentença do juiz está sujeita à
desconstituição por vício de vontade”).
Errado.

019. (CESPE/ANALISTA/STM/2010) O menor que for emancipado aos dezesseis anos de


idade em razão de casamento civil e que se separar judicialmente aos dezessete anos retorna-
rá ao status de relativamente incapaz.

A emancipação é irrevogável. Além do mais, a dissolução do vínculo matrimonial opera efeitos


ex nunc, a menos que se trate de um caso de anulação.
Errado.

020. (CESPE/ANALISTA MINISTERIAL/MPE-PI/2018) De acordo com o Supremo Tribunal


Federal (STF), a alteração do prenome e do gênero (sexo) no registro civil de pessoas transgê-
nero somente poderá ser realizada se houver autorização judicial e comprovação da realização
de cirurgia de transgenitalização pelo(a) interessado(a).

STF entende que não há necessidade de autorização judicial nem de cirurgia (STF, ADI 4275,
Tribunal Pleno, Rel. Min, Marco Aurélio, DJe 07-03-2019). Aliás, com base nesse entendimento
do STF, o CNJ autorizou a mudança de sexo por pedido do interessado ao Cartório de Registro
Civil das Pessoas Naturais nos termos do Provimento n. 73/2018 – CN/CNJ.
Errado.

021. (CESPE/AUDITOR DE CONTROLE INTERNO/CGE-CE/2019) Constitui característica ou


atributo do direito da personalidade
a) o mínimo existencial.
b) a proporcionalidade.
c) a livre expressão.
d) a alteridade.
e) o caráter extrapatrimonial.

Atributos da personalidade são características que individualizam a pessoa, a saber: (1) nome;
(2) capacidade; (3) domicílio; (4) fama; e (5) estado. Trata-se, portanto, de conceito que envolve
direitos da personalidade e, por isso, é marcado pelo seu caráter extrapatrimonial, o que atrai
a letra “E” como gabarito.
Letra e.

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022. (CESPE/AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO/TCE-PA/2016/ADAPTADA) A proteção


dos direitos da personalidade positivada no Código Civil é aplicável, na medida do possível,
à associação civil, que sofre dano moral em caso de grave violação a sua imagem e hon-
ra objetiva.

Pessoas jurídicas de direito privado, como as associações, podem sofrer dano moral, conforme
Súmula n. 227/STJ (“A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”). Isso decorre do fato de que os
direitos da personalidade se aplicam, no couber, às pessoas jurídicas, conforme art. 52 do CC:

Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
Certo.

023. (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR/TJ-AM/2019) Na


hipótese de dois cônjuges, com idades diferentes, terem falecido na mesma ocasião e não
ser possível identificar com precisão quem faleceu primeiro, deve-se presumir que a morte do
comoriente mais velho precedeu a do mais novo.

É o art. 8º do CC:

Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum
dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
Errado.

024. (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2014) Os ausentes, desde que assim declarados por sentença ju-
dicial, são considerados absolutamente incapazes pela lei.

Ausência não gera incapacidade civil. Ausência é um estado civil da aquela pessoa que desa-
pareceu sem deixar notícias e que, nos termos da lei, pode vir a ser declarado morto presumi-
damente. A disciplina da ausência está nos arts. 22 e seguintes do CC.
Errado.

025. (MPE-GO/PROMOTOR/MPE-GO/2019/ADAPTADA) A existência da pessoa natural ter-


mina com a morte. Presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a
abertura de sucesso definitiva, sendo que a morte presumida pode ser declarada sem decreta-
ção de ausência quando for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida
ou se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois
anos após o término da guerra.

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Trata-se dos arts. 6º e 7º do CC, que tratam da morte civil. A morte civil extingue a pessoa natu-
ral e pode ser: (1) morte natural: é a morte cerebral; e (2) morte presumida: é para hipóteses em
que a pessoa desapareceu e, portanto, não há como identificar se houve não morte cerebral.
A morte presumida pode ser de duas espécies: (2.1.) morte presumida sem decretação de au-
sência: o juiz fixa uma data provável da morte e ocorre as hipóteses do art. 7º do CC; e (2.2)
morte presumida com decretação de ausência: ocorre quando a lei autoriza a abertura da su-
cessão definitiva (art. 6º, CC).
Veja os arts. 6º e 7º do CC:

Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes,
nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I – se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos
após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida
depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do faleci-
mento.
Certo.

026. (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015) A legislação civil brasileira admite o reconhecimento de mor-


te sem a existência de cadáver e sem a necessidade de declaração de ausência.

Trata-se do caso de morte presumida com ou sem decretação de ausência (arts. 6º e 7º, CC).
Certo.

027. (CESPE/JUIZ/TJ-AM/2016/ADAPTADA) O reconhecimento da morte presumida, quan-


do for extremamente provável a morte de quem estava com a vida sob risco, independe da
declaração da ausência.

Trata-se de uma hipótese de morte presumida sem decretação de ausência (art. 7º, I, do CC).
Ocorre, por exemplo, no caso de uma pessoa que havia embarcado em um avião que desapa-
receu enquanto sobrevoava o mar. É extremamente provável a morte dessa pessoa que estava
com a vida sob risco. Somente após o esgotamento das buscas, o juiz poderá, a requerimento
dos interessados, reconhecer a morte presumida sem decretação de ausência e fixar uma data
provável da morte (art. 7º, parágrafo único, CC).

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A fixação de uma data provável é essencial, pois é esse dia que será considerado como o da
morte, o que será útil para definir a lei que regerá as regras sucessórias (art. 1.787, CC) e que
fixará a alíquota do Imposto de Transmissão Causa Mortis e de Doações (ITCMD).
Certo.

028. (CESPE/DELEGADO/PC-GO/2017/ADAPTADA) Na hipótese de desaparecimento do


corpo de pessoa em situação de grave risco de morte, como, por exemplo, no caso de desastre
marítimo, o reconhecimento do óbito depende de prévia declaração de ausência.

Como a morte é extremamente provável aí pelo fato de a pessoa estar em situação de risco à
vida, admite-se aí a morte presumida sem decretação de ausência na forma do art. 7º, I, do CC.
Errado.

029. (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2014) Não se admite declaração de morte presumida sem decre-


tação de ausência.

O art. 7º do CC prevê hipóteses de morte presumida sem decretação de ausência.


Errado.

030. (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2014) A comoriência pode ser reconhecida ainda que os óbitos


não tenham decorrido de um único acidente.

Comoriência é quando duas pessoas morrem exatamente no mesmo momento (na mesma
hora, minuto e segundo). A consequência prática disso é que, se os comorientes eram paren-
tes, nenhuma deles terá herdado nada um do outro, visto que, por força do princípio da Saisine
(art. 1.784, CC), a herança se transmite no momento da morte. Se um deles tivesse morrido em
primeiro lugar, o outro teria herdado os bens do outro, ainda que viesse a óbito poucos segun-
dos depois.
O art. 8º do CC estabelece uma presunção de comoriência quando duas pessoas morrem na
mesma ocasião sem que se possa identificar quem morreu primeiro. É o caso, por exemplo,
de duas pessoas que estavam em um avião e que faleceram com o acidente aéreo, sem que
se possa identificar quem expirou em primeiro lugar. Nesse caso, há uma presunção legal de
comoriência.
Para essa presunção, basta que a morte ocorra “na mesma ocasião” (tempo), e não “no mesmo
evento” (lugar). Isso significa que, se duas pessoas que estavam em dois países diferentes e
vêm a óbito no mesmo momento por doenças pessoais (ex.: um por infarto e outro por um mal
súbito qualquer), se não for possível precisar o exato horário, minuto e segundo da morte de

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cada um, presumir-se-á a comoriência aí, visto que ambos morreram na mesma ocasião. Por
isso, a questão está errada.
Por fim, confira-se o art. 8º do CC:

Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum
dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
Certo.

031. (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015) A comoriência é a presunção de simultaneidade de óbitos e


o seu reconhecimento depende da demonstração de que os comorientes faleceram nas mes-
mas condições de tempo e local, não se podendo comprovar qual morte precedeu às demais.

Não há necessidade de a morte ter ocorrido no mesmo local para haver comoriência. Basta
que a morte dos comorientes tenha ocorrido na mesma ocasião (tempo) sem que se possa
especificar quem faleceu em primeiro lugar.
Errado.

032. (CESPE/PROCURADOR/PGE-PI/2014) Comoriência corresponde à simultaneidade do


falecimento de duas ou mais pessoas, sendo impossível determinar-se qual delas morreu pri-
meiro. Nesse contexto, é dispensável que as mortes decorram do mesmo evento fático, sendo
essencial apenas o momento dos óbitos.

O importante para a presunção de comoriência prevista no art. 8º do CC é a indefinição tem-


poral da morte dos comorientes (“mesma ocasião”). É irrelevante se as mortes ocorreram em
locais diferentes ou por fatos diversos.
Certo.

033. (CESPE/JUIZ/TJ-PA/2019) De acordo com o Código Civil, devem ser averbados em re-
gistro público:
I – os casamentos, as sentenças que declararem sua nulidade e as sentenças que decretarem
o divórcio.
II – os atos judiciais que declararem ou reconhecerem filiação.
III – os atos extrajudiciais que declararem ou reconhecerem filiação.
IV – as emancipações por sentença do juiz.
Estão certos apenas os itens
a) I e II.
b) I e IV.
c) II e III.
d) I, III e IV

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DIREITO CIVIL
Parte Geral – II
Carlos Elias

À luz dos arts. 9º e 10 do CC, somente as hipóteses indicadas nos itens II e III configuram atos
de averbação.
Expliquemos melhor o assunto.
Há dois atos praticados no Registro Civil das Pessoas Naturais: os atos de registro e os atos
de averbação.
Os atos de registro dizem respeito a uma situação jurídica registral principal, como o registro
do nascimento, de casamento, de óbito, de emancipação, de interdição, de ausência e de morte
presumida. O art. 9º do CC lista os atos de registro.
Já os atos de averbação aludem a alterações de uma situação jurídica já registrada e, portanto,
tem natureza acessória. A averbação é para alterar um registro anterior. É o que se dá com a
averbação dos atos de desfazimento do casamento (divórcio, separação, restabelecimento
da sociedade conjugal e invalidação do casamento) e dos atos de reconhecimento de filiação
(que altera o assento de nascimento). O art. 8º do CC lista esses atos de averbação.
Do ponto de vista prático, os atos de registro, por serem atos de natureza principal e serem
mais complexos, costumam ter emolumentos mais caros do que os de averbação.
Confiram-se os arts. 9º e 10 do CC:

Art. 9º Serão registrados em registro público:


I – os nascimentos, casamentos e óbitos;
II – a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
III – a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
IV – a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.
Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:
I – das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação
judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal;
II – dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação;
Letra c.

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DIREITO CIVIL
Parte Geral – II
Carlos Elias

GABARITO
4. C 14. d 24. E
5. C 15. C 25. C
6. E 16. C 26. C
7. E 17. c 27. C
8. a 18. E 28. E
9. C 19. E 29. E
10. E 20. E 30. C
11. E 21. e 31. E
12. E 22. C 32. C
13. a 23. E 33. c

Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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