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DIREITO CIVIL

Família – Parte II

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Família – Parte II

Sumário
Carlos Elias

Apresentação. . .................................................................................................................................. 4
Família – Parte II.............................................................................................................................. 7
1. Casamento..................................................................................................................................... 7
1.1. Capacidade para Casamento. . ................................................................................................. 7
1.2. Procedimento para Casamento.. .......................................................................................... 10
1.3. Espécies de Casamento quanto à Celebração.................................................................. 14
1.4. Prova do Casamento............................................................................................................... 17
1.5. Efeitos do Casamento............................................................................................................ 20
1.6. Caracteres do Casamento......................................................................................................21
1.7. Pressupostos Matrimoniais (Plano da Existência).......................................................... 22
1.8. Impedimentos Matrimoniais................................................................................................ 23
1.9. Questão Especial: Casamento Avuncular (com Tios)...................................................... 24
1.10. Causas Suspensivas.. ............................................................................................................ 25
1.11. Invalidade do Matrimônio.................................................................................................... 27
1.12. Espécies de Casamento.. ...................................................................................................... 33
1.13. Extinção do Casamento.. ...................................................................................................... 35
1.14. Pacto Antenupcial................................................................................................................. 39
2. Regime de Bens..........................................................................................................................40
2.1. Considerações Gerais.............................................................................................................40
2.2. Regime Legal no Casamento e na União Estável. . ...........................................................40
2.3. Mudança do Regime de Bens............................................................................................... 41
2.4. Irretroatividade da Mudança do Regime de Bens........................................................... 42
2.5. Regime da Comunhão Universal.......................................................................................... 43
2.6. Regime da Comunhão Parcial.............................................................................................. 45
2.7. Regime da Separação Convencional, Voluntária, Absoluta ou Total...........................48
2.8. Regime da Separação Legal, Obrigatória ou Cogente....................................................49
2.9. Regime da Participação Final nos Aquestos.. ....................................................................51

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Carlos Elias

2.10. Vênia Conjugal (Outorga Conjugal)....................................................................................51


3. Relações de Parentesco........................................................................................................... 53
3.1. Limites Conceituais. . ............................................................................................................... 53
3.2. Parentes vs Cônjuge e Companheiros.. .............................................................................. 54
3.3. Parentesco quanto à Origem............................................................................................... 54
3.4. Parentesco quanto ao Grau e à Linha................................................................................ 54
3.5. Parentesco por Afinidade..................................................................................................... 55
4. Alimentos.................................................................................................................................... 55
4.1. Classificação quanto à Origem............................................................................................ 55
4.2. Titulares do Direito aos Alimentos Legítimos................................................................. 56
4.3. Classificação dos Alimentos Legítimos quanto à Natureza.........................................60
4.4. Alimentos Civis ou Côngruos...............................................................................................60
4.5. Alimentos Naturais, Necessários ou Indispensáveis......................................................61
4.6. Alimentos Compensatórios ou Prestação Compensatória............................................61
4.7. Características do Direito a Alimentos.............................................................................. 63
4.8. Características da Obrigação Alimentar........................................................................... 69
Questões de Concurso.................................................................................................................. 74
Gabarito............................................................................................................................................90

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Carlos Elias

Apresentação
Olá, queridos amigos e queridas amigas!!
Escute, desde logo: o ideal é você ler a teoria deste PDF e os comentários dos exercícios
que estão ao final. Separei tudo de forma milimetricamente calculada para você estar prepara-
do para enfrentar as provas.
Mais uma recomendação: faça você mesmo o seu resumo ou seu próprio mapa mental.
Não basta você ler o PDF; é fundamental você escrever o que você está aprendendo, pois isso
é que faz você fixar a matéria. Escrever o que você estuda te ajudará também a treinar para
as provas discursivas. Você é que precisa sistematizar o conhecimento. Não recomendo que
você busque resumos ou mapas mentais feitos por outras pessoas, a não ser que, posterior-
mente, você elabore o seu próprio resumo ou mapa mental. Eu, pessoalmente, prefiro fazer um
resumo a fazer um mapa mental. Eu fixo mais assim. Fique, porém, à vontade para adotar a
metodologia de sua preferência.
Vamos em frente!

Resumo

Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os
exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu apro-
fundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com
as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familia-
ridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• Casamento é vedado para quem tem menos de 16 anos (art. 1.520, CC);
• Entre os 16 e 18 anos, o casamento depende de consentimento do representante legal
(arts. 1.518 e 1.519, CC);
• O procedimento do casamento pode ser dividido em três fases: (1) fase da habilitação;
(2) fase da celebração; e (3) fase do registro. Tudo está nos arts. 1.525 ao 1.542 do CC
em conjunto com os arts. 67 ao 76 da LRP (Lei de Registros Públicos - Lei n. 6.015/1973);
• Casamento pode ser civil ou pode ser religioso com efeitos civis (art. 1.516, CC);
• Os pressupostos matrimoniais são os requisitos de existência do casamento: sem eles,
o casamento não existe juridicamente. São eles:
− Manifestação de vontade;
− Pessoas, ainda que do mesmo sexo;
− Celebração propriamente dita;
− Autoridade celebrante materialmente competente;

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Família – Parte II
Carlos Elias

• Os impedimentos matrimoniais correspondem às hipóteses do art. 1.521 do CC. O casa-


mento é proibido se houver algum impedimento matrimonial. Se ocorrer mesmo assim,
o casamento padecerá de nulidade (art. 1.548, II, CC);
• As causas suspensivas reportam-se às situações descritas no art. 1.523 do CC, nas
quais o casamento, se celebrado, poderá sujeitar-se a sanções de índole patrimonial;
• Só há uma hipótese de nulidade do casamento: a da violação a impedimento matrimo-
nial (art. 1.548, II, do CC);
• As hipóteses de anulabilidade (que, em nomenclatura doutrinária já superada, eram de-
signadas de “impedimentos dirimentes relativos ou privados”) estão arroladas no art.
1.550 do CC;
• Casamento putativo é a preservação dos efeitos do casamento inválido para o cônjuge
de boa-fé (o que ignorava o vício de invalidade do casamento) e os filhos, como a comu-
nicação de bens em razão do regime de bens (art. 1.561, CC);
• Casamento por procuração é aquele que foi celebrado com, ao menos, um dos nubentes
sendo representado por mandatário. De fato, a celebração do casamento pode ocorrer
com nubentes representados por mandatários, desde que a procuração tenha sido ou-
torgada por escritura pública e com poderes especiais (específicos), tudo conforme art.
1.542 do CC;
• O pacto antenupcial é o negócio jurídico por meio do qual os nubentes estabelecem as
regras patrimoniais (= o regime de bens) que vigorarão ao longo do casamento. Ele tem
de ser formalizado por escritura pública e só produz efeitos se o casamento vier a ocor-
rer (art. 1.653, CC);
• O CC prevê cinco regime de bens:
− Regime da comunhão universal;
− Regime da comunhão parcial, também chamado de regime legal;
− Regime da participação final nos aquestos;
− Regime da separação convencional de bens;
− Regime da separação legal de bens;
• Parentesco é disciplinado pelos arts. 1.591 ao 1.638 do CC e diz respeito àqueles que
podem ser considerados parentes e, portanto, podem ser juridicamente tidos por inclu-
sos do conceito jurídico de família. Daí decorrem consequências práticas, como direitos
hereditários e direito a pensão alimentícia;
• Quanto à origem (ou à causa jurídica), os alimentos podem ser: (1) legítimos ou familia-
res; (2) indenizativos; (3) convencionais;
• Quanto à natureza, os alimentos legítimos (ou familiares) podem ser classificados em1:
(1) alimentos civis ou côngruos; (2) alimentos naturais, naturais ou indispensáveis; e (3)
alimentos compensatórios;
1
Há doutrinadores que tratam as duas últimas espécies (os alimentos compensatórios e as rendas líquidas dos bens
comuns) fora da classificação acima, deixando-os como categorias avulsas. Temos, porém, que é didático deixá-los aqui

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• O direito aos alimentos é personalíssimo, incessível, imprescritível, impenhorável, in-


compensável, irrenunciável, intransacionável, atual e irrepetível;
• A obrigação alimentar é transmissível, divisível, condicional, recíproca, sucessiva (= sub-
sidiária) e complementar.

nesta classificação pelo fato de essas duas últimas categorias se distinguirem das outras pela particularidade de sua natu-
reza.

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FAMÍLIA – PARTE II
1. Casamento
1.1. Capacidade para Casamento

1.1.1. Regras Gerais

A idade núbil – a mínima para casamento – é de 16 anos. Em nenhuma hipótese é cabível


casamento por pessoa abaixo dessa idade por força do art. 1.520 do CC: é vedado o “casamen-
to infantil”. Antes da Lei n. 13.811/2019, era admitido esse casamento excepcionalmente no
caso de gravidez ou para evitar punição criminal. Veja os arts. 1.517 e 1.520 do CC:

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de am-
bos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.

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Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único do
art. 1.631.
Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil,
observado o disposto no art. 1.517 deste Código.

Antes, porém, de completar 18 anos, o casamento do menor depende de autorização o


seu representante legal, a qual pode ser revogada imotivadamente até o momento da cele-
bração do casamento (art. 1.517 e 1.518, CC). Se os pais dissentirem, será cabível suprimento
judicial, o qual deve ser dado pelo juiz sempre que não enxergar justa causa na negativa dos
pais (art. 1.517, parágrafo único, CC). Entendemos que também é cabível suprimento judicial
mesmo na hipótese de negativa unânime dos pais por interpretação extensiva do art. 1.517,
parágrafo, do CC. Veja os referidos preceitos:

Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização.
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz.

A autorização do representante legal de quem tem entre 16 e 18 anos pode ser tácita, in-
ferida por condutas compatíveis com o consentimento, a exemplo da conduta de ter assistido
à cerimônia (art. 1.555, § 2º, CC). Veja:

Art. 1.555. O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante le-
gal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz,
ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus herdeiros necessários.
§ 1º O prazo estabelecido neste artigo será contado do dia em que cessou a incapacidade, no pri-
meiro caso; a partir do casamento, no segundo; e, no terceiro, da morte do incapaz.
§ 2º Não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem assistido os representantes
legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo, manifestado sua aprovação.

O prazo decadencial para ser requerida a anulação do casamento do menor é de 180 dias,
contados da data em que o menor completou 18 anos ou, se o pedido for formulado pelo re-
presentante legal, da data do casamento (art. 1.555, CC).
Fazemos uma ressalva de nomenclatura. Apesar de o CC falar em autorização do repre-
sentante legal, devemos considerar também os casos de “assistente legal”, visto que maiores
de 16 anos são, em regra, assistidos, e não representados, por seus pais ou tutores.

1.1.2. Consequência do Casamento Infantil: Anulabilidade

O casamento de quem tem menos de 16 anos é anulável (e não nulo) por (art. 1.550, I, do
CC)2 e, por isso, pode ser convalidado:
2
No mesmo sentido é o Professor Flávio Tartuce (2019-A), que realça que a Lei n. 13.811/2019 não tratou o casamento infantil
como impedimento matrimonial nem mudou o regime de invalidade para o casamento infantil, que já era proibido fora dos
casos de gravidez e de extinção de punibilidade criminal (casos esses que já eram praticamente inaplicáveis na prática).

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• no caso de gravidez (art. 1551, CC ); 3

• pelo próprio cônjuge menor quando completar a idade núbil, exigida a autorização ex-
pressa ou tácita de seu representante legal ou o suprimento judicial enquanto ele não
completar 18 anos (art. 1.553 do CC e, por analogia, art. 1.555, § 2º, do CC);
• pelo transcurso do prazo decadencial de 180 dias na forma do art. 1.555 do CC.

Veja os dispositivos supracitados:

Art. 1.550. É anulável o casamento:


I – de quem não completou a idade mínima para casar;
II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III – por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV – do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;
V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do man-
dato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI – por incompetência da autoridade celebrante.
§ 1º Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada.
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil poderá contrair matrimônio,
expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.
Art. 1.553. O menor que não atingiu a idade núbil poderá, depois de completá-la, confirmar seu
casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária, ou com suprimento
judicial.
Art. 1.555. O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante le-
gal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz,
ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus herdeiros necessários.
§ 1º O prazo estabelecido neste artigo será contado do dia em que cessou a incapacidade, no pri-
meiro caso; a partir do casamento, no segundo; e, no terceiro, da morte do incapaz.
§ 2º Não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem assistido os representantes
legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo, manifestado sua aprovação.

1.1.3. União Estável por Menor de 16 Anos

Os vícios de validade do casamento se estendem também para a união estável diante da


equiparação (relativa) dos institutos. Apesar de o art. 1.723, § 1º, do CC só tratar de impedi-
mentos matrimoniais, deve-se entender que outros vícios de validade doo casamento tam-
bém são extensíveis para a união estável.
Daí se indaga: é cabível união estável de quem tem menos de 16 anos?
Entendemos que a união estável aí é anulável e é suscetível de convalidação por vontade
do próprio companheiro menor quando ele alcançar a idade núbil (exigida a autorização dos
seus pais se ele tiver menos de 18 anos). Enquanto não for anulada, a união estável mirim
produz todos os efeitos jurídicos.
3
Art. 1.551. Não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez.

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1.2. Procedimento para Casamento

O procedimento de casamento está disciplinado nos arts. 1.525 ao 1.542 do CC em conjun-


to com os arts. 67 ao 76 da LRP (Lei de Registros Públicos - Lei n. 6.015/1973).
Além disso, atos infralegais também devem ser levadas em conta, especialmente os que
disciplinam os serviços notariais e de registro (como os provimentos e códigos de normas
editadas pelo Tribunal de Justiça local por meio da Corregedoria-Geral de Justiça ou por ou-
tro órgão competente).
O procedimento pode ser dividido em três fases: (1) fase da habilitação; (2) fase da cele-
bração; e (3) fase do registro.

1.2.1. Habilitação

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Habilitação é fase em que se verifica se os nubentes estão juridicamente aptos a casar (=


se estão habilitados para tanto). Verifica-se se há ou não algum causa de invalidade do casa-
mento (arts. 1.548 e 1.550, CC), como a existência de impedimento matrimonial, o preenchi-
mento da idade mínima para casar etc.
O procedimento de habilitação está disciplinado nos arts. 1.525 ao 1.532 do CC e nos arts.
67 ao 69 da LRP e ocorre perante o cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN).
Há cinco fases do procedimento de habilitação:
• Documentação;
• Publicação de proclamas e impugnações;
• Certificado de habilitação; e
• Registro do certificado de habilitação.

1.2.2. Documentação

Quanto à fase da documentação, os nubentes requerem a habilitação perante o RCPN,


pagam os emolumentos e apresentam os documentos no art. 1.525 do CC e também em atos
infralegais (como as normas do Tribunal local aplicável aos cartórios). Tudo pode ser feito
eletronicamente (art. 67, § 4º-A, Lei de Registros Públicos - LRP). Esses documentos permitem
identificar as partes e avaliar a existência ou não de impedimento matrimonial.
Nesse momento também, as partes escolherão o regime de bens. Se quiserem um regime
diverso do legal, elas deverão apresentar a escritura pública de pacto antenupcial com essa
escolha (art. 1.640, parágrafo único, CC).
Veja os dispositivos supracitados:

Código Civil
Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de
próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos:
I – certidão de nascimento ou documento equivalente;
II – autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que
a supra;
III – declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem
não existir impedimento que os iniba de casar;
IV – declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais,
se forem conhecidos;
V – certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de
casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.
Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre
os cônjuges, o regime da comunhão parcial.

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Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes
que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazen-
do-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas.

Lei de Registros Públicos


Art. 67. Na habilitação para o casamento, os interessados, apresentando os documentos exigidos
pela lei civil, requererão ao oficial do registro do distrito de residência de um dos nubentes, que lhes
expeça certidão de que se acham habilitados para se casarem.
(...)

1.2.3. Proclamas e Impugnações

No tocante à fase da publicação de proclamas, estes são anúncios públicos do casamen-


to feitos por meio das divulgações de editais com o objetivo de viabilizar a apresentação de
impugnações.
Com a alteração dos arts. 67 e 69 da LRP por meio da Lei nº 14.382/2022, houve uma des-
burocratização do procedimento do casamento.
Segundo entendimento adotado pelos RCPNs, o procedimento passou a ser bem simples:
o oficial promove a “qualificação registral” do requerimento e da documentação, ou seja, avalia
se há ou não algum óbice jurídico.
Na ausência de obstáculos, o oficial promoverá a publicação eletrônica do edital de pro-
clamas e, em seguida, deverá expedir o certificado de habilitação em até 5 dias da referida
publicação.
Havendo obstáculos, o oficial submeterá o caso ao procedimento descrito no § 5º do art.
67 da LRP: nubentes serão ouvidos, Ministério Público se manifestará e juiz decidirá. Em caso
de decisão favorável ao casamento, seguir-se-á o procedimento: publicação eletrônica dos
proclamas e expedição do certificado de habilitação do casamento.
Esse é o entendimento oficial da Arpen/BR, entidade de classe dos RCPNs4 . Há, porém, na
doutrina, controvérsias sobre dois pontos principais5:
• (1) há ou não necessidade de aguardar o prazo de 15 dias após a publicação dos procla-
mas para a apresentação de eventual impugnação?; e
• (2) há ou não ainda obrigação de afixação de editais de proclamas na sede do cartório?

Essas questões virão a ser pacificadas na via infralegal nas normas de serviço dos Cartó-
rios ou em Provimento do CNJ.

4
Vide: https://arpenbrasil.org.br/wp-content/uploads/2022/08/Cartilha_Arpen_BR_1.pdf.
5
Para aprofundamento: OLIVEIRA, Carlos E. Elias de; TARTUCE, Flávio. Procedimento de casamento: como ficou após a Lei
do SERP (Lei nº 14.382/2022). Disponível em: https://www.migalhas.com.br/arquivos/2022/9/DB540D61C32CBF_Procedi-
mentodecasamento.pdf. Publicado em 6 de setembro de 2022.

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A rigor, os proclamas convocam terceiros a apresentarem impugnações, as quais consis-


tem em acusações da existência de algum impedimento matrimonial (art. 1.521, CC) ou de
alguma causa suspensiva (art. 1.523, CC).
No caso de impedimento matrimonial, como se trata de questão de ordem pública (por
gerar nulidade do casamento), o legitimado (que é qualquer pessoa capaz) pode apresentar
a oposição até a data da celebração do casamento (art. 1.522, CC). Aliás, também é dever do
próprio registrador apontar a existência de impedimento matrimonial se tiver ciência, tudo por
conta da natureza de ordem pública desse fato (art. 1.522, parágrafo único, CC).
No caso de causa suspensiva, não é qualquer pessoa que pode argui-la, porque não há in-
teresse público aí. Só parentes na linha reta (pais, avós, filhos, etc.) ou parentes colaterais até
o segundo grau (ex.: irmãos) podem alegar, admitidos também os por afinidade (ex.: sogro, en-
teado e cunhado). É o art. 1.524 do CC. A legislação não indica até quando a causa suspensiva
pode ser alegada. Preferimos entender que elas só podem ser alegadas até o momento da ce-
lebração do casamento em analogia ao art. 1.522, parágrafo único, do CC, pois, apesar de não
existir interesse público, a causa suspensiva objetiva proteger interesses privados de terceiros.

1.2.4. Certificado de Habilitação

Inexistindo qualquer impugnação, o registrador expedirá o certificado de habilitação, o qual


terá eficácia de 90 dias, dentro dos quais os nubentes poderão celebrar o casamento.

1.2.5. Celebração

A celebração do casamento é feita na forma dos arts. 1.533 ao 1.542 do CC.


É admitida a celebração em meio eletrônico a requerimento dos nubentes, por meio de sis-
tema de videoconferência que garanta a livre manifestação da vontade dos nubentes (art. 67, §
8º, LRP). Além disso, qualquer dos nubentes pode ser representado por mandato por escritura
pública na forma do art. 1.542 do CC.

1.2.6. Registro

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A ata da celebração do casamento deve ser registrada no Livro “B” do cartório do Registro
Civil das Pessoas Naturais. O registro do casamento (= o assento de casamento) deverá ter as
informações indicadas no art. 70 da LRP.

1.3. Espécies de Casamento quanto à Celebração

Quanto à celebração, há dois tipos de casamento: o civil e o religioso com efeitos civis.

1.3.1. Casamento Civil

O casamento civil é aquele em que a celebração é feita por um juiz de paz. Nesse caso, a
fase de habilitação ocorrerá antes da fase da celebração necessariamente.
A data da celebração do casamento é a data do casamento para todos os efeitos jurídicos,
de maneira que o registro posterior tem eficácia meramente declaratória (art. 1.514, CC). Veja
o referido preceito:

Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante
o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.

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1.3.2. Casamento Religioso com Efeitos Civis

O casamento religioso com efeitos civis é aquele em que a celebração é feita por uma au-
toridade religiosa, assim entendida qualquer um que seja oficial de alguma entidade religiosa
(independentemente da religião).
Em princípio, essa é a diferença central em relação ao casamento civil, razão por que o
caput do art. 1.516 do CC estabelece que ele tem de observar os mesmos requisitos do casa-
mento civil.
A legislação, porém, prevê duas hipóteses de casamento religioso com efeitos civis:
• Com prévia habilitação: a celebração do casamento ocorre depois da fase da habilita-
ção, caso em que a ata de celebração (assinada pela autoridade religiosa, pelos nuben-
tes e pelas duas testemunhas) deverá ser levada a registro em 90 dias da sua realização.
Passados os 90 dias, o registro dependerá de uma nova habilitação a fim de garantir que
não surgiu nenhum impedimento matrimonial (ex.: um dos nubentes casou com outra
pessoa).
• Sem prévia habilitação (= com habilitação posterior): a celebração do casamento ocorre
mesmo sem ter havido uma habilitação prévia. Nesse caso, para que a ata de celebração
do casamento religioso possa ser registrada e, assim, passe a ter efeitos civis, é neces-
sária a realização de uma habilitação. Feita a habilitação, as partes terão 90 dias para
promover o registro, sob pena de terem de fazer nova habilitação (art. 1.516, § 2º, do CC).

Feito o registro da ata de celebração religiosa do casamento nos moldes acima, os efeitos
jurídicos do casamento passam a ter eficácia retroativa à data de sua celebração (art. 1.515,
CC). É claro, porém, que se devem respeitar direitos de terceiros de boa-fé, pois o casamento
não era havia sido formalizado nem publicizado.
Caso não ocorra o registro da celebração religiosa do casamento, entendemos que a cele-
bração religiosa pode ser considerada uma prova do “objetivo de constituir família”, que é um
dos requisitos da união estável na forma do art. 1.723 do CC. Assim, se os demais requisitos
fáticos da união estável estiverem presentes (convívio público, contínuo, duradouro e more
uxorio), haverá união estável.

1.3.3. Curiosidade: o Casamento Islâmico na Inglaterra

Amigos e amigas, para fixação do modelo brasileiro, é conveniente fazermos uma


comparação.
Na Inglaterra6, vários muçulmanos celebram o casamento de acordo com a lei islâmica,
e não com a lei britânica. Trata-se do “nikah” (casamento islâmico). Antigamente, os tribunais ingleses
6
O jornal “The Guardian” noticiou que um tribunal inglês prolatou uma recente decisão sobre os casamentos islâmicos
(“nikah”) celebrados na Inglaterra. Não tivemos acesso ao inteiro teor do julgado citado nessa matéria, nem realizamos

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entendiam que esses casamentos eram inexistentes e, portanto, não havia repercussão finan-
ceira alguma para os consortes, pois a lei inglesa, e não a lei islâmica, é que deveria reger a
celebração de casamentos em solo britânico. As mulheres muçulmanas que pediam divórcio
ficavam sem nenhum direito desse casamento juridicamente inexistente. Agora, com o
julgado noticiado na matéria, foi reconhecido como nulo o “nikah”, mas, apesar disso, pelo que
se depreende, essa nulidade não impede que o casamento produza efeitos patrimoniais em
favor do casal. De qualquer forma, no ano de 2018, os muçulmanos estão sendo orientados a
celebrarem os dois casamentos: o civil, de acordo com a lei britânica para dar segurança jurí-
dica, e o religioso (o “nikah”), para satisfação de suas convicções de fé.
No Brasil, a lei brasileira rege casamentos celebrados no Brasil, de modo não se poderia
admitir a aplicação da lei islâmica, à semelhança do que foi noticiado na Inglaterra (art. 7º,
§ 1º, LINDB). Todavia, os nubentes religiosos teriam uma razoável alternativa da legislação
brasileira para conciliar fé, amor e direito.
É que o Código Civil brasileiro admite o casamento religioso com efeitos civis, o que per-
mite que uma autoridade religiosa celebre o casamento, desde que realize, no cartório, o pro-
cedimento de habilitação e o registro da ata da cerimônia (arts. 1.515 e 1.516, CC).
Se, todavia, o casamento for feito sem observância dessas formalidades, ele será ine-
xistente, por falta de um requisito de existência do casamento: uma autoridade celebrante.
Essa inexistência do casamento não geraria maiores problemas práticos, pois, no mínimo,
a cerimônia religiosa provaria uma união estável, que, em praticamente tudo, se equipara ao
casamento. Os consortes acabariam se beneficiando de praticamente todos os direitos do
casamento, como a comunicação do regime de bens e os direitos hereditários.
Portanto, o “nikah” (casamento islâmico) assim como outros conúbios puramente religio-
sos, se fossem celebrados no Brasil sem observância das regras de casamento religioso com
efeitos civis, seriam inexistentes, mas seriam uma prova de união estável a outorgar direitos
familiares aos consortes.

nenhum revolvimento da legislação britânica, pois o objetivo é, na verdade, focar como a legislação brasileira lidaria com os
casamentos islâmicos e com outros casamentos religiosos, e não estudar a legislação britânica.

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1.4. Prova do Casamento


1.4.1. Impossibilidade de Comprovação da Realização do Casamento

O mero fato de alguém aparentar ser casado não é suficiente para provar o casamento. Aí
pode haver união estável (art. 1.723, CC), mas não casamento. O legislador é mais rigoroso
do ponto de vista formal para a comprovação do casamento, tudo com base na máxima latina
“matrimonium non praesumitur” (casamento não se presume).
Por essa razão, o casamento é provado pela certidão de casamento (art. 1.543, caput, CC).
Trata-se do sistema da prova pré-constituída, que foi escolhida pelo nosso ordenamento.
Veja o referido preceito:

Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro.


Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie
de prova.

Só se admite outro meio de prova se for justificada a perda ou a falta do registro civil do
casamento, como algum incêndio que tenha destruído os livros do cartório onde havia sido re-
gistrado o casamento ou algum lapso do registrador na conservação dos livros (art. 1.543, CC).
Nesse caso, o casamento terá de ser provado em juízo, de modo a obter uma sentença que terá
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natureza meramente declaratória e que reconhecerá a eficácia do casamento retroativamente


à data de sua celebração, conforme art. 1.546 do CC:

Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do casamento resultar de processo judicial, o regis-
tro da sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que
respeita aos filhos, todos os efeitos civis desde a data do casamento.

São livres os meios de comprovar que realmente houve um casamento com todas as for-
malidades legais, na hipótese de, por algum motivo, o registro público ter-se perdido. Para
tanto, a parte poderá valer-se de documentos (como fotos de eventual certidão) e de outras
provas não documentais que comprovem a “posse do estado de casado”. A “posse do estado
de casado” consiste na presença dos seguintes elementos: (1) nomen: uso do nome de casa-
do; (2) tratactus: os consortes se tratavam como casados; e (3) fama: o casal tinha a reputação
de casado. Não se confunda com a união estável! Nesta os consortes não tentarão provar que
haviam casado formalmente e que se perdeu o registro civil do casamento!
Como o Poder Público é que cuida do registro civil (por meio de registradores, que são de-
legatários de serviço público), a perda do registro civil não pode prejudicar os particulares. Por
isso, o legislador estabelece duas facilidades probatórias.
A primeira é o princípio do in dubio pro matrimonio, segundo qual, em havendo dúvidas
entre as provas favoráveis e contrárias, presume-se que houve casamento, conforme art.
1.547 do CC:

Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo casamento, se os
cônjuges, cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados.

A segunda é a presunção de casamento em favor dos filhos bilaterais se os cônjuges-pais,


tendo posse do estado de casadas, já tiverem falecido ou não puderem manifestar sua von-
tade (art. 1.545, CC). Essa presunção é relevante, especialmente porque os filhos podem não
saber onde foi realizado o casamento dos pais para buscar uma segunda via da certidão de ca-
samento e não há mais como eles consultarem os pais para descobrir o local. Veja o preceito:

Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar
vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante
certidão do Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento
impugnado.

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1.4.2. Casamento de Brasileiro no Exterior

Se brasileiro casa no exterior perante o consulado brasileiro (que tem competência para a
prática de alguns atos dos serviços notariais e de registro em favor de brasileiros que estejam
no exterior, tudo à luz do art. 18 da LINDB), esse casamento é válido e eficaz. Todavia, para
ser eficaz perante terceiros no Brasil, o assento de casamento deverá ser registrado (rectius,
trasladado) para o cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais do 1º Ofício do domicílio do
casal ou, se este for desconhecido, do Distrito Federal na forma dos art. 1.544 do CC e art. 32
da LRP. Veja os referidos dispositivos:

Art. 1.544, CC. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autori-
dades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de
um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1 o
Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir.
Art. 32, LRP. Os assentos de nascimento, óbito e de casamento de brasileiros em país estrangeiro
serão considerados autênticos, nos termos da lei do lugar em que forem feitos, legalizadas as certi-
dões pelos cônsules ou quando por estes tomados, nos termos do regulamento consular.
§ 1º Os assentos de que trata este artigo serão, porém, transladados nos cartórios de 1º Ofício do
domicílio do registrado ou no 1º Ofício do Distrito Federal, em falta de domicílio conhecido, quando
tiverem de produzir efeito no País, ou, antes, por meio de segunda via que os cônsules serão obriga-
dos a remeter por intermédio do Ministério das Relações Exteriores.
§ 2º O filho de brasileiro ou brasileira, nascido no estrangeiro, e cujos pais não estejam ali a serviço
do Brasil, desde que registrado em consulado brasileiro ou não registrado, venha a residir no territó-
rio nacional antes de atingir a maioridade, poderá requerer, no juízo de seu domicílio, se registre, no
livro “E” do 1º Ofício do Registro Civil, o termo de nascimento.
§ 3º Do termo e das respectivas certidões do nascimento registrado na forma do parágrafo antece-
dente constará que só valerão como prova de nacionalidade brasileira, até quatro (4) anos depois
de atingida a maioridade.
§ 4º Dentro do prazo de quatro anos, depois de atingida a maioridade pelo interessado referido no §
2º deverá ele manifestar a sua opção pela nacionalidade brasileira perante o juízo federal. Deferido
o pedido, proceder-se-á ao registro no livro “E” do Cartório do 1º Ofício do domicílio do optante.

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§ 5º Não se verificando a hipótese prevista no parágrafo anterior, o oficial cancelará, de ofício, o
registro provisório efetuado na forma do § 2º.

Essa regra também vale para o brasileiro que se casar no exterior fora do consulado bra-
sileiro (como aquele que casa perante um cartório estrangeiro), mas, nesse caso, será neces-
sário que a certidão de casamento estrangeira se sujeite aos procedimentos de autenticação7
exigidos para documentos públicos estrangeiros a fim de viabilizar o traslado para o cartório
de Registro Civil de Pessoas Naturais do 1º Ofício do domicílio do casal ou, se for o caso, do
Distrito Federal.

1.5. Efeitos do Casamento

7
Documentos públicos estrangeiros exigem: (1) legalização ou consularização, atos por meio dos quais se reconhece a
competência da autoridade estrangeira que subscreveu o documento; (2) tradução por tradutor juramentado; e (3) registro
no Cartório de Títulos e Documentos. Isso é extraído dos arts. 32 e 148 da LRP, da Convenção da Apostila de Haia (Decreto
Legislativo n. 148/2015) e da Resolução n. 228/2016 – CNJ.
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O casamento gera efeitos pessoais, sociais e patrimoniais . 8

Embora se possa imputar certa imprecisão a essa classificação pelo fato de haver casos
de enquadramento duvidoso (ex.: a mudança do estado civil para casado ou a emancipação
têm efeitos pessoais e sociais ao mesmo tempo), temos que ela tem o mérito didático de ilu-
minar os desdobramentos jurídicos do casamento. Por isso, seguimos essa classificação nes-
ta obra, mas ressalvamos que algumas figuras poderiam ser enquadradas em outra categoria
diversa da aqui indicada.
Efeitos pessoais do casamento são os efeitos para as próprias pessoas dos cônjuges em
si mesmos considerados. Nesse âmbito, podem-se elencar:
• a existência de direitos e deveres matrimoniais para cada um dos consortes nos termos
do art. 1.566 do CC;
• os deveres em relação aos filhos, como o de criação, o de guarda, o de sustento e os
demais decorrentes do poder familiar, nos termos do art. 1.566, IV, do CC e do ECA.
• a possibilidade de absorver o sobrenome do outro conforme art. 1.565 do CC;
• igualdade de direitos entre cada um dos consortes, independentemente do sexo (art.
1.511 do CC e art. 226, § 5º, CF).

Efeitos sociais do casamento são os desdobramentos que atingem terceiros. São eles:
• a mudança do estado civil para casado e, no caso de frustração do casamento, à sujei-
ção ao posterior estado civil de separado ou divorciado;
• formação do vínculo de parentesco por afinidade na forma dos arts. 1.593 e ss do CC;
• a emancipação do cônjuge menor de idade (art. 5º, parágrafo único, II, CC).

Efeitos patrimoniais do casamento são os que implicam consequências econômi-


cas. São eles:
• a comunicação de bens em razão do regime de bens;
• o eventual recebimento de herança no caso de morte do outro consorte;
• o dever de alimentos entre cônjuges.

1.6. Caracteres do Casamento

8
Os professores Carlos Maluf e Adriana Maluf lembram que “do casamento resultam inúmeros efeitos jurídicos, que envol-
vem diversas esferas da vida dos cônjuges, manifestando-se em relação aos próprios cônjuges, em relação aos filhos e em
relação a terceiros” (Maluf e Maluf, 2018, p. 176).

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Há dois caracteres do casamento:


• solenidade: o casamento necessariamente tem de ocorrer por alguma das vias formais
previstas na legislação.
• dissolubilidade: o casamento pode ser dissolvido por meio do divórcio.

A diversidade de sexos não é mais um caractere do casamento dada a pacificidade na ad-


missão do casamento homoafetivo.

1.7. Pressupostos Matrimoniais (Plano da Existência)

Os pressupostos matrimoniais são os requisitos de existência do casamento: sem eles, o


casamento não existe juridicamente. São eles:
• Manifestação de vontade: não se admite o silêncio como expressão do consentimento
no casamento em razão do acentuado formalismo do casamento.
• Pessoas, ainda que do mesmo sexo: casamento é só entre pessoas, ainda que do mes-
mo sexo.
• Celebração propriamente dita: sem celebração na forma da lei, não há casamento. “A
hipótese não é meramente bizantina: Caio Mário reporta-se à sua vida profissional, onde
teve em suas mãos escritura pública de união matrimonial e instrumento particular de
casamento temporário” (Pereira, 2011, p. 143).
• Autoridade celebrante materialmente competente: seria inexistente um casamento cele-
brado, por exemplo, por um delegado de polícia, por faltar-lhe competência material. Se
a incompetência for territorial, ter-se-á anulabilidade, e não inexistência (art. 1550, VI, do
CC).

Entendemos que o fato de o casamento ser inexistente não impede que as partes tenham
preenchido os requisitos da união estável, o que, na prática, aliviará os prejuízos eventualmente
sofridos pelo casal com a declaração de inexistência do casamento.

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1.8. Impedimentos Matrimoniais

Os impedimentos matrimoniais correspondem às hipóteses do art. 1.521 do CC:

Art. 1.521. Não podem casar:


I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II – os afins em linha reta;
III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V – o adotado com o filho do adotante;
VI – as pessoas casadas;
VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte.

O casamento é proibido se houver algum impedimento matrimonial. Se ocorrer mesmo


assim, o casamento padecerá de nulidade (art. 1.548, II, CC).

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Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:
I – (Revogado) ;
II – por infringência de impedimento.

1.9. Questão Especial: Casamento Avuncular (com Tios)


Casamento entre colaterais é vedado até o terceiro, inclusive (art. 1.521, IV, do CC). É veda-
do o casamento avuncular, ou seja, o casamento com tio (que é parente colateral no 3º grau).
Entretanto, os arts. 1º ao 3º do Decreto-lei n. 3.200/1941, de forma bem excepcional,
admite o casamento entre parentes colaterais de 3º grau (tio com sobrinho) mediante prévia
autorização judicial, que previamente designará dois médicos para atestarem a inexistência
de risco à prole e a inexistência de outras inconveniências. Essa antiga norma segue em vigor
mesmo depois do CC, conforme Enunciado n. 98/JDC (“O inc. IV do art. 1.521 do novo Código
Civil deve ser interpretado à luz do Decreto-lei n. 3.200/41, no que se refere à possibilidade de
casamento entre colaterais de 3º grau”).
Por fim, a doutrina majoritária9 entende que a vedação do casamento avuncular se dá ape-
nas se houver parentesco sanguíneo, com o que concordamos pelo fato de o supracitado De-
creto-lei n. 3.200/1941 demonstrar preocupação com possíveis problemas genéticos em filhos
frutos de relacionamentos entre parentes, risco esse inexistente quando os parentes não são
do mesmo sangue.

9
Cita-se aqui Tartuce (2020, p. 66).

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1.10. Causas Suspensivas

As causas suspensivas reportam-se às situações descritas no art. 1.523 do CC, nas quais
o casamento, se celebrado, poderá sujeitar-se a sanções de índole patrimonial.
Em suma, há duas sanções patrimoniais previstas para o casamento realizado sob causa
suspensiva:
• o regime da separação legal de bens (art. 1.641, I, CC) e
• quando se tratar da causa suspensiva do art. 1.523, III, do CC, a hipoteca legal em pro-
veito dos filhos (art. 1.489, II, CC).

Veja os dispositivos citados:

Art. 1.523. Não devem casar:


I – o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do
casal e der partilha aos herdeiros;
II – a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses
depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;

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III – o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal;
IV – o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos,
com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem
saldadas as respectivas contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas
suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo,
respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no
caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na flu-
ência do prazo.
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I – das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;
III – de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.
Art. 1.489. A lei confere hipoteca:
I – às pessoas de direito público interno (art. 41) sobre os imóveis pertencentes aos encarregados
da cobrança, guarda ou administração dos respectivos fundos e rendas;
II – aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núpcias, antes de fazer o
inventário do casal anterior;
III – ao ofendido, ou aos seus herdeiros, sobre os imóveis do delinquente, para satisfação do dano
causado pelo delito e pagamento das despesas judiciais;
IV – ao coerdeiro, para garantia do seu quinhão ou torna da partilha, sobre o imóvel adjudicado ao
herdeiro reponente;
V – ao credor sobre o imóvel arrematado, para garantia do pagamento do restante do preço da
arrematação.

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1.11. Invalidade do Matrimônio


1.11.1. Considerações Gerais do Regime de Invalidade Matrimonial

O regime de invalidade do casamento previsto nos arts. 1.548 ao 1.564 do CC tem algumas
particularidades em relação ao regime geral de invalidade dos atos jurídicos (arts. 104 ao 185 do
CC), o que se justifica pelo elevado impacto do instituto em questões existenciais das pessoas.
À semelhança do regime geral de invalidade dos atos jurídicos, adota-se um regime bipar-
tido de invalidade: nulidade ou anulabilidade.
Todavia, à diferença do que se dá no regime geral de invalidades, o critério distintivo não
é propriamente a existência ou não de interesse público, e sim uma avaliação equitativa feita
pelo legislador acerca da conveniência ou não de permitir o convalescimento do casamento
inválido pela decadência ou por ato de vontade dos consortes.
Assim, por exemplo, a incompetência territorial da autoridade celebrante gera anulabilida-
de, apesar de aí está-se a tutelar um interesse público. Realmente seria muito oneroso sujeitar
um vício de pouca relevância como esse ao duro regime da nulidade.

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Além do mais, a nulidade do casamento não autoriza nenhuma declaração de ofício pelo
juiz (art. 1.549, CC), ao contrário do que sucede com os atos jurídicos em geral. A declaração
da nulidade depende de ação judicial a ser proposta pelo Ministério Público ou por qualquer
interessado (assim entendido quem tenha interesse econômico ou moral, como o caso de o
primeiro cônjuge pleitear a nulidade do segundo casamento do outro consorte por violação ao
impedimento matrimonial do art. 1.521, VI, CC).
Cabe uma constatação óbvia: dentre os vícios de consentimento previstos para os negó-
cios jurídicos em geral (erro, dolo, coação, lesão e estado de perigo), só a coação e o erro (e
com adaptação para focar o erro essencial quanto ao cônjuge em hipóteses taxativamente lis-
tadas no art. 1.557 do CC) geram anulabilidade do casamento, conforme art. 1.550, III, do CC.
Afinal de contas, os demais vícios prendem-se a causas meramente patrimoniais e, por isso,
são incompatíveis com o regime de invalidade do casamento. Realce-se que, no caso do dolo,
este está contemplado na hipótese de erro essencial quanto ao cônjuge.

1.11.2. Tutela de Boa-fé no Regime da Invalidade

A boa-fé objetiva foi observada no regime de invalidade do casamento, o que pode ser iden-
tificado em quatro hipóteses.
A primeira é a proteção do cônjuge de boa-fé e dos filhos sob a figura doutrinariamente
batizada de “casamento putativo” (art. 1.561, CC).
A segunda é que a eficácia retroativa da invalidação do casamento não pode prejudicar
terceiros de boa-fé que tenham adquirido, de boa-fé, bens (art. 1.563, CC). Trata-se de um
exemplo de aplicação do conceito doutrinário de “propriedade aparente”, que se estriba, entre
outros fundamentos, na tutela da boa-fé e de um de seus corolários (a teoria da aparência).
A terceira é o prestígio ao casamento celebrado por quem exerça publicamente a função
de juiz de paz (celebrando casamentos): a falta de sua competência material não acarretará a
declaração de inexistência nem de invalidade do casamento (art. 1.554, CC). Cuida-se de um
exemplo de aplicação da teoria da aparência, uma filha da boa-fé objetiva.
A quarta é a convalidação do casamento de mirim sem a idade mínima para casar ou ado-
lescente sem o consentimento do representante legal se sobrevier gravidez. A proteção do
nascituro é prestigiada aí, convalidando o casamento dos pais de modo a não comprometer a
integridade jurídica do seu futuro núcleo familiar (art. 1.551, CC).

1.11.3. Nulidade

Só há uma hipótese de nulidade do casamento: a da violação a impedimento matrimonial


(art. 1.548, II, do CC).

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1.11.4. Anulabilidade

Hipóteses

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As hipóteses de anulabilidade (que, em nomenclatura doutrinária já superada, eram desig-


nadas de “impedimentos dirimentes relativos ou privados”) estão arroladas no art. 1.550 do CC:

Art. 1.550. É anulável o casamento:


I – de quem não completou a idade mínima para casar;
II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III – por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV – do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;
V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do man-
dato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI – por incompetência da autoridade celebrante.
§ 1º Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada.
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil poderá contrair matrimônio,
expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.

Decadência

Casamento anulável convalesce se transcorrer o prazo decadencial respectivo. Os prazos


decadenciais estão nos arts. 1.555 e 1.560 do CC.

180 Dias (Solidez ou Higidez da Vontade)

O prazo de decadência de 180 dias previsto no art. 1.555 e no I do art. 1.560 do CC é curto
e reserva-se a hipóteses de anulabilidade vinculadas à solidez e à higidez da manifestação de
vontade. O prazo é pequeno, porque o legislador presume que, se alguém se mantém casado
por 180 dias, eventual falta de solidez ou higidez de sua manifestação foi suprida.
Esse prazo se aplica a estas hipóteses de anulabilidade:
• casamento por motivo de idade (arts. 1.550, I e II, e 1.555 do CC);
• incapacidade de consentir ou de manifestar a vontade de modo inequívoco, como o
caso de um nubente totalmente embriagado (art. 1.550, IV, CC); e
• casamento por mandatário após a revogação do mandato, desde que não haja poste-
rior coabitação (art. 1.550, V, CC).

Anos (Incompetência Territorial do Celebrante)

O prazo de decadência de 2 anos contemplado pelo II do art. 1.560 do CC aplica-se ao


casamento celebrado por autoridade incompetente territorialmente (art. 1.550, VI, CC).
Entendemos excessivo esse prazo; aliás, sequer entendemos razoável a anulação por vio-
lação a competência territorial. O adequado seria deixar questões de violação de competên-
cia territorial para repercussões meramente administrativas contra a autoridade celebrante

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(como eventual sanção disciplinar). Não há motivos para punir a parte com a anulabilidade
por conta desse fato de menor relevância.

Anos (Erro Essencial sobre o outro Cônjuge)

A decadência de 3 anos contemplada no inciso III do art. 1.560 do CC alcança apenas as


hipóteses de erro essencial sobre o outro cônjuge (arts. 1.550, III, 1.556 e 1.557 do CC). Veja
os preceitos:

Art. 1.550. É anulável o casamento:


I – de quem não completou a idade mínima para casar;
II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III – por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV – do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;
V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do man-
dato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI – por incompetência da autoridade celebrante.
§ 1º Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada. (Redação dada
pela Lei n. 13.146, de 2015) (Vigência)
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair matrimônio,
expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador.
Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos nu-
bentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:
I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhe-
cimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida
conjugal;
III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiên-
cia ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde
do outro cônjuge ou de sua descendência; (Redação dada pela Lei n. 13.146, de 2015) (Vigência)
IV – (revogado)
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da ce-
lebração, é de:
I – cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550;
II – dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;
III – três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557;
IV – quatro anos, se houver coação.
§ 1º Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezes-
seis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento,
para seus representantes legais ou ascendentes.
§ 2º Na hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulação do casamento é de cento e oitenta
dias, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebração.

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Anos (Coação)

A decadência de 4 anos contemplado no inciso IV do art. 1.560 do CC alcança apenas as


hipóteses de coação (arts. 1.550, III, e 1.558 do CC).
O legislador houve por bem colocar um prazo maior para a coação comparativamente ao
outro vício de consentimento que também enseja anulabilidade do casamento (o erro essen-
cial) em virtude da maior gravidade.

Convalidação tácita

O casamento anulável pode convalescer com condutas que, no contexto, sejam incompa-
tíveis com a vontade de anular. O CC arrolou hipóteses expressas nesse sentido, vedando que,
ainda que dentro do prazo decadencial, venha a ser pleiteada a anulação de casamento por:
• coação ou erro essencial, quando, mesmo ciente desse vício de consentimento, há co-
abitação (art. 1.559, CC).
• falta de consentimento dos representantes legais do incapaz, quando estes houve-
rem assistido à celebração ou expressado sua aprovação tácita de outra maneira (art.
1.555, § 2º, CC).
• revogação do mandato antes da celebração do casamento se, após a cerimônia, o man-
dante coabita com o outro consorte (art. 1.550, V, CC).

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1.12. Espécies de Casamento

Trataremos aqui das várias espécies de casamento de acordo com a nomenclatura doutri-
nariamente mais utilizada. Muitos desses conceitos já foram tratados em outra oportunidade,
mas aqui são arroladas sinteticamente para fins de sistematização.

1.12.1. Casamento Inexistente

Casamento inexistente é aquele que não preenche os requisitos de existência, ou seja, que
não observaram os pressupostos matrimoniais.

1.12.2. Casamento Nulo

Casamento nulo é aquele que esbarra em hipótese de nulidade de casamento (art.


1.548, CC).

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1.12.3. Casamento Anulável

Casamento anulável é aquele que incorre em hipótese de anulabilidade de casamento (art.


1.550, CC).

1.12.4. Casamento Putativo

Casamento putativo é a preservação dos efeitos do casamento inválido para o cônjuge de


boa-fé (o que ignorava o vício de invalidade do casamento) e os filhos, como a comunicação
de bens em razão do regime de bens (art. 1.561, CC).
Entendemos ser extensível esse conceito também para casos de casamento inexistente.

1.12.5. Casamento por Procuração

Casamento por procuração é aquele que foi celebrado com, ao menos, um dos nubentes
sendo representado por mandatário. De fato, a celebração do casamento pode ocorrer com
nubentes representados por mandatários, desde que a procuração tenha sido outorgada por
escritura pública e com poderes especiais (específicos), tudo conforme art. 1.542 do CC.

1.12.6. Procedimentos Simplificados de Casamento (Exceções ao Procedi-


mento Comum)

Há dois procedimentos de casamento: o comum e o simplificado.


O procedimento (comum) de casamento é o que vige como regra geral. Ele é demorado por
envolver as fases de habilitação, celebração e registro. Esse formalismo decorre da solenidade
do casamento.
Todavia, por conta de motivo de inviabilidade prática de qualquer dos nubentes se su-
jeitar a esse procedimento comum, são admitidas duas hipóteses de procedimentos sim-
plificados de casamento: (1) o casamento em caso de moléstia grave; e (2) o casamento
nuncupativo.
Trata-se de flexibilizações ao formalismo do casamento por conta de um dos nubentes es-
tar com doença grave ou à beira da morte e, portanto, não ter condições de aguardar o tempo
do procedimento comum de casamento.

Casamento no Caso de Moléstia Grave

O casamento no caso moléstia grave é aquele que adota o procedimento simplificado do


art. 1.539 do CC e é devido quando, por conta de alguma doença grave de um dos nubentes,
não é razoável aguardar a tramitação do procedimento comum de casamento.
Nesse caso, a celebração do casamento será feita perante uma autoridade celebrante ofi-
cial (como o juiz de paz) ou, na sua falta, perante o oficial de registro civil das pessoas naturais

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no local em que os nubentes estiverem, ainda que seja à noite no caso de urgência. Deverá
haver duas testemunhas. A ata de celebração será registrada em cinco dias no Cartório de
Registro Civil das Pessoas Naturais.
Como se vê, nesse procedimento, não há a fase de habilitação. Entendemos, porém, que o
registrador, ao receber o pedido de registro da ata da celebração do casamento, deverá exigir
documentos que permitam uma análise da eventual existência de algum impedimento matri-
monial e, em caso de positivo, deve suscitar dúvida ao juiz para decidir por aplicação analógica
do parágrafo único do art. 1.526 do CC.

Casamento Nuncupativo, “In Extremis” ou “In Articulo Mortis”

O casamento nuncupativo, “in extremis” ou “in articulo mortis” é o casamento sujeito ao


procedimento simplificado dos arts. 1.540 e 1.541 do CC em razão da situação de iminente
risco de morte de qualquer um dos nubentes e da inviabilidade de obter uma autoridade cele-
brante. Ele só deve ser utilizado quando os nubentes não tiverem conseguido uma autoridade
celebrante ou quando a espera por esta ser arriscada por conta da extrema urgência da situa-
ção. Em outras palavras, o casamento nuncupativo só deve ser utilizado quando o casamento
no caso de moléstia grave se afigurar temerário.
No casamento nuncupativo, os nubentes, podem manifestar sua vontade de casar-se dian-
te de seis testemunhas, sem qualquer autoridade celebrante oficial. Há aí uma cerimônia infor-
mal do casamento. Em seguida, no prazo de dez dias, as testemunhas comparecem em juízo
para declarar o fato a fim de que o juiz, analisando as provas e a presença dos requisitos legais,
homologue o casamento.
Nesse procedimento simplificado, não há uma autoridade celebrante oficial (a qual é subs-
tituída pela presença de seis testemunhas que serão ouvidas pelo juiz) nem uma fase de ha-
bilitação (que, na prática, é substituída pelo exame do juiz acerca da existência ou não de
impedimentos matrimoniais).

1.13. Extinção do Casamento


1.13.1. Considerações Gerais

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A invalidade, a morte e o divórcio constituem hipóteses de extinção do vínculo conjugal.


A separação judicial (ou extrajudicial), porém, apenas extingue a sociedade conjugal, sem
encerrar o vínculo conjugal.
Essa é a inteligência do art. 1.571, CC.

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I – pela morte de um dos cônjuges;
II – pela nulidade ou anulação do casamento;
III – pela separação judicial;
IV – pelo divórcio.
§ 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplican-
do-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.
§ 2º Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o
nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial.

1.13.2. Subsistência da Separação como uma Faculdade

Com a Emenda Constitucional n. 66/2010, que alterou o art. 226, § 6º, da CF, passou a ha-
ver controvérsia sobre a revogação ou não da separação (judicial ou extrajudicial).
A doutrina ficou pacífica no sentido de que o divórcio não depende mais de qualquer pra-
zo mínimo de prévia separação nem de qualquer motivação para ocorrer. Um casal pode se
divorciar imotivadamente no dia seguinte ao do casamento.
Há, todavia, controvérsia sobre a subsistência do instituto da separação após a supracita-
da alteração constitucional.
Prevaleceu o entendimento no sentido de que a separação judicial subsiste como uma fa-
culdade aos consortes e que ela pode ser requerida imotivadamente. Nesse sentido, é o Enun-
ciado n. 514/JDC (“A Emenda Constitucional n. 66/2010 não extinguiu o instituto da separação
judicial e extrajudicial”).
Por conta disso, o próprio CPC expressamente continuou a fazer menção expressa à sepa-
ração ao longo do seu texto. A propósito, quando da fase final do processo legislativo relativo
ao projeto do Código de Processo Civil, o então Senador Vital do Rêgo, que foi o relator desse
projeto, ao rejeitar todas as sugestões de exclusão do vocábulo “separação” do texto do novo
CPC, explicitou que a separação não foi extinta e citou o supracitado enunciado n. 514/JDC10.
Concordamos que a separação subsiste como uma faculdade aos cônjuges, que, se que-
rem apenas “dar um tempo” (= separar-se de fato com o objetivo de refletir se querem ou não
continuar o casamento com a mesma pessoa), poderão se valer dessa figura para formalizar
10
Fls. 28/29 do Parecer n. 956/2014 da Comissão Temporária do Código de Processo Civil sobre o Substitutivo da Câmara
dos Deputados (SCD) n. 166, de 2010 (Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4202793&t-
s=1594037236911&disposition=inline).

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a separação e, assim, cessar os efeitos do regime de bens. Caso eles decidam restaurar a so-
ciedade conjugal, eles não precisarão sujeitar-se à burocrática via do casamento; bastará eles
promoverem o restabelecimento da sociedade conjugal por escritura pública ou via judicial11.
Se o instituto da separação tivesse sido revogado, inexistiria essa ferramenta aos cônju-
ges que gostariam de apenas “dar um tempo”, obrigando-os a valer-se da via mais drástica
do divórcio ou a se valerem da via informal da “separação de fato”. Esta via informal gera in-
seguranças jurídicas especialmente para efeito de questões relativas ao regime de bens, pois,
apesar de a separação de fato cessar os efeitos do regime de bens, a data do seu início e de
seu fim nem sempre é fácil de ser comprovada.

1.13.3. Separação de Fato

A separação de fato é uma hipótese informal de dissolução da sociedade conjugal. Diz-se


informal, porque ela ocorre quando os cônjuges, sem formalizarem uma separação judicial
ou extrajudicial, cessam a convivência more uxorio (grosso modo, “o cônjuge sai de casa”, “o
ex-marido volta para casa da mãe”, etc.).
No que couber, a separação de fato tem de se equiparar à separação judicial ou extrajudicial,
razão por que ela cessa a eficácia do regime de bens (aplicação analógica do art. 1.576, CC12).
Além do mais, como a união estável é fruto da informalidade, o legislador permite que pes-
soas casadas que estejam separadas de fato formem união estável com outrem (art. 1.723,
§ 1º, CC).

11
Art. 1.577 do CC e Resolução n. 35/2007 – CNJ.
12
“Art. 1.576. A separação judicial põe termo aos deveres de coabitação e fidelidade recíproca e ao regime de bens.

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1.13.4. Separação Judicial ou Extrajudicial

Separação judicial ou extrajudicial é o ato formal por meio do qual se dissolve a sociedade
conjugal, sem, porém, romper o vínculo matrimonial. Grosso modo, pela separação, os cônju-
ges deixam de viver juntos, mas ainda continuam casados.
Como a separação decorre do fim da convivência more uxorio, ela faz cessar o regime de
bens, o dever de fidelidade recíproca, o dever de coabitação (art. 1.546, CC), além de autorizar
a realização de partilha dos bens comuns do casal (art. 1.545, CC) e a definição do regime de
guarda dos filhos (art. 1.583, CC).
Como, porém, o vínculo matrimonial não é rompido pela separação, o impedimento matri-
monial do art. 1.521, VI, do CC13 subsiste: pessoas separadas não podem se casar.
Admite-se apenas que pessoas casadas formem união estável pelo fato de que esta se
caracteriza pela informalidade (art. 1.723, § 1º, CC).

1.13.5. Divórcio

13
Impedimento matrimonial para pessoas casadas.

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O divórcio rompe o vínculo matrimonial: os casados passam a ser divorciados e, assim,


não estão mais sujeitos ao impedimento matrimonial do art. 1.521, VI, do CC. É claro que, se
não tiver havido prévia separação judicial, extrajudicial ou de fato, o divórcio também extingue
a sociedade conjugal.
O divórcio pode ser requerido imotivadamente e independentemente do tempo de
casamento.

1.13.6. Resquício da Relevância da Culpa no Direito de Família

Apesar de a culpa ser absolutamente irrelevante para a obtenção do divórcio ou da sepa-


ração, ela segue relevante para dois efeitos jurídicos:

a) perda do sobrenome de casado (art. 1.578, CC) e


b) estipulação de alimentos necessários ou naturais (arts. 1.694, § 2º, e 1.704, parágrafo único,
CC14).

1.14. Pacto Antenupcial

O pacto antenupcial é o negócio jurídico por meio do qual os nubentes estabelecem as


regras patrimoniais (= o regime de bens) que vigorarão ao longo do casamento. Ele tem de
ser formalizado por escritura pública e só produz efeitos se o casamento vier a ocorrer (art.
1.653, CC).
É dado prestígio à vontade dos consortes, que só não podem contrariar normas de ordem
pública por força do art. 1.655, CC.
Como o regime de bens de um casal pode interessar a terceiros (como a credores interes-
sados em saber se podem ou não penhorar bens em nome de qualquer um dos cônjuges), o
legislador exige que o pacto antenupcial seja facilmente acessível por qualquer pessoa por
meio do seu registro no Cartório de Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges. Esse regis-
tro é feito no Livro 3 (“Registro Auxiliar”) da serventia imobiliária (art. 1.657 do CC e arts. 178,
V, da LRP).
14
A propósito da plena constitucionalidade dos alimentos necessários, ver nosso artigo (https://www.conjur.com.br/
2020-jul-27/direito-civil-atual-alimentos-naturais-ex-conjuge-ou-parentes-culpados).

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2. Regime de Bens
2.1. Considerações Gerais

O CC prevê cinco regime de bens:


• Regime da comunhão universal.
• Regime da comunhão parcial, também chamado de regime legal.
• Regime da participação final nos aquestos.
• Regime da separação convencional de bens.
• Regime da separação legal de bens.

2.2. Regime Legal no Casamento e na União Estável


No casamento e na união estável, o regime da comunhão parcial de bens é o regime legal:
se não houver estipulação de outro regime de bens pelos nubentes, vigora o regime da comu-
nhão parcial (arts. 1.640 e 1.725, CC).
A forma de adotar outro regime, porém, distingue-se: no casamento, há necessidade de es-
critura pública de pacto antenupcial (art. 1.640, parágrafo único, do CC), ao passo que, na união
estável, basta mero contrato escrito, conhecido doutrinariamente como “contrato de convivên-
cia” (art. 1.725, CC).

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2.3. Mudança do Regime de Bens

No casamento, vigora o princípio da imutabilidade relativa do regime de bens na forma


dos arts. 1.639, § 2º, do CC e art. 734 do CPC (que estabelece um procedimento de jurisdição
voluntária especial para a alteração do regime de bens). Segundo ele, os consortes só podem
mudar o regime de bens mediante justa causa e decisão judicial. Nesse caso, ficam protegidos
direitos de terceiro.
Por conta dessa proteção de terceiros, o juiz pode exigir certidões de “nada consta” para
averiguar se há dívidas do casal, a fim de impedir que terceiros sejam prejudicados, tudo con-
forme Enunciado n. 113/JDC (“É admissível a alteração do regime de bens entre os cônjuges,
quando então o pedido, devidamente motivado e assinado por ambos os cônjuges, será obje-
to de autorização judicial, com ressalva dos direitos de terceiros, inclusive dos entes públicos,
após perquirição de inexistência de dívida de qualquer natureza, exigida ampla publicidade”).
O STJ chancela isso (STJ, AgInt no REsp 1379728/SP, 4ª Turma, Rel. Ministra Maria Isabel
Gallotti, DJe 21/08/2017).
Temos ressalva pessoal quanto à exigência de motivação (justa causa) para a alteração
do regime de bens, pois: (1) não há essa necessidade para o caso de mudança de regime de
bens na união estável; (2) a autonomia da vontade dos cônjuges não deveria ser condiciona-
da a qualquer controle do juiz pelo fato de direitos de terceiro já estarem protegidos; e (3) há
incoerência lógica em exigir justa causa para a mudança de bens se os consortes poderiam
divorciar-se e, depois, casar novamente escolhendo livremente outro regime de bens.
Temos também ressalva pessoal à necessidade de decisão judicial para a mudança de
regime de bens, pois, além de tal não ser necessário na união estável, terceiros já serão prote-
gidos juridicamente com a alteração do regime de bens independentemente de ela ter ocorrido
judicialmente ou não.
Reconhecemos, porém, que haveria necessidade de mudança legislativa para ser afasta-
da a via judicial e a exigência de motivação.
Na união estável, diante do seu caráter informal, é inviável exigir ação judicial para a mu-
dança do regime de bens, o que também torna inviável qualquer exigência de justo motivo. Por
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essa razão, para a mudança de regime de bens na união estável, basta um contrato escrito
entre os conviventes, tudo em respeito ao art. 1.725 do CC, que exige forma escrita para disci-
plinar regime de bens na união estável.

2.4. Irretroatividade da Mudança do Regime de Bens

Como o regime de bens começa a produzir efeitos com o casamento (art. 1.639, § 1º, do
CC), a alteração posterior desse regime de bens não poderá ter eficácia retroativa diante da
falta de autorização legal para tanto. O novo regime passa a ter eficácia a partir do trânsito em
julgado da sentença autorizadora da mudança (STJ, REsp 1300036/MT, 3ª Turma, Rel. Ministro
Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 20/05/2014). Diante disso, é lícito (e até conveniente) que o
casal realize a partilha dos bens no momento da alteração do regime de bens se o casal esti-
ver mudando o regime de bens para um mais restritivo (ex.: do regime da comunhão universal
para o da separação de bens) (STJ, REsp 1533179/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio
Bellizze, DJe 23/09/2015).
Raciocínio similar é para união estável. Não se pode dar eficácia retroativa a mudança
de regime de bens na união estável. Se for feita uma escritura pública adotando regime di-
verso do legal, ela só terá eficácia ex nunc, de modo que, até esse momento, fica em vigor o
regime legal de bens (STJ, AgInt no AREsp 1292908/RS, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andri-
ghi, DJe 27/03/2019; REsp 1752883/GO, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
DJe 01/10/2018; REsp 1597675/SP, Rel. 3ª Turma, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe
16/11/2016).

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2.5. Regime da Comunhão Universal


2.5.1. Definição

O regime da comunhão universal é disciplinado pelos arts. 1.667 ao 1.671 do CC.


Nele, em regra, todos os bens, mesmos os adquiridos gratuitamente, por herança ou antes
do casamento, se comunicam: são bens comuns.
Há, porém, exceções. As hipóteses do art. 1.668 do CC estabelecem os casos de bens
particulares mesmo no regime da comunhão universal de bens, a exemplo dos instrumentos
de trabalho e dos bens adquiridos com cláusula de incomunicabilidade.
Como se vê, o adjetivo “universal” não é tão apropriado assim para esse regime, pois há
exceções à regra geral da comunicabilidade do “universo” patrimonial dos consortes.

2.5.2. Casos Especiais

Valores de FGTS Depositados

No regime da comunhão universal, os valores acumulados a título de FGTS antes e du-


rante o casamento se comunicam, ainda que estejam depositados em conta bancária com
restrições de levantamento. Afinal de contas, esses valores são bens adquiridos pelo con-
sorte como retribuição por seu trabalho (STJ, REsp 781.384/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Aldir
Passarinho Junior, DJe 04/08/2009).

Indenização ou Pensão Mensal Decorrente de Seguro por Invalidez

Indenizações ou pensões mensais decorrentes de seguro por invalidez não se comunicam


nem mesmo no regime da comunhão universal. É que, como tais valores decorrem da incapacidade
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laboral do cônjuge (como uma tetraplegia), não é razoável permitir que os valores a título de
seguro por invalidez se comuniquem em favor do seu consorte, sob pena de comprometer o
sustento do consorte. Ademais, não é razoável presumir conexão, ainda que indireta, entre
esse proveito econômico e o casamento (STJ, REsp 631.475/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Hum-
berto Gomes de Barros, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi, DJ 08/02/2008).
Só temos ciência de um julgado do STJ. Recomendo que leve esse entendimento para o
concurso. O tema ainda poderá gerar discussão nessa Corte futuramente.
Temos ressalva pessoal em relação ao entendimento firmado no supracitado julgado,
pois a legislação não dá espaço para se excluir da comunicabilidade do regime da comu-
nhão de bens os valores de seguro por invalidez por falta de fundamento legal. As hipóteses
de bens particulares no regime da comunhão são apenas os previstos no art. 1.668 do CC.
Temos, pois, que todos os valores recebidos na constância do casamento a título de seguro
por invalidez têm de comunicarem-se. Somente pensões mensais recebidas após o fim do
casamento não deveriam se comunicar.
Além do mais, considerando que o seguro por invalidez se presta a substituir o salário
que provavelmente deixou de ser percebido pela pessoa, não nos parece haver razão para
excluir essa quantia da comunicação dos bens, pois o cônjuge haveria de ter direito à comu-
nicabilidade do salário. (REsp 1752883/GO, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
DJe 01/10/2018; REsp 1597675/SP, Rel. 3ª Turma, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe
16/11/2016).

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2.6. Regime da Comunhão Parcial

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2.6.1. Definição

O regime da comunhão parcial é disciplinado pelos arts. 1.658 ao 1.666 do CC.


Em regra, somente os bens adquiridos onerosamente ao longo do casamento se co-
municam. Ficam, pois, de fora os bens anteriores ao casamento bem como os adquiridos
gratuitamente ou por sucessão causa mortis na constância do casamento.
Há ainda outros bens particulares listados no art. 1.659 do CC, como os instrumentos
de trabalho.

2.6.2. Casos Especiais

Direito a Salários Futuros

O direito ao recebimento a salários futuros não se comunica na forma do inciso VI do


art. 1.659 do CC, mas, uma vez se tornando devido o pagamento do salário na constância
do casamento, a respectiva verba se torna bem adquirido ao longo do casamento e, portan-
to, se comunica (STJ, REsp 1.358.916/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe
15/10/2014).

Valores de FGTS

No regime da comunhão parcial de bens, os valores acumulados a título de FGTS du-


rante o casamento se comunicam, pois foram adquiridos onerosamente ao longo do casa-
mento (FGTS é espécie de remuneração paga em razão de um contrato de trabalho). Não
sucede o mesmo em relação aos valores acumulados a título de FGTS antes do início do
casamento, porque aí se trata de bem adquirido antes do casamento. Por essa razão, no
caso de eventual partilha pelo fim do casamento, somente se deve considerar como bem
comum o montante de FGTS acumulado na constância do casamento (STJ, AgInt no AREsp
331.533/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe 17/04/2018; REsp 758.548/
MG, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJ 13/11/2006).

Verbas Trabalhistas Recebidas após o Fim do Casamento

No regime da comunhão parcial, verbas trabalhistas recebidas após o fim do casamen-


to se comunicam se seu fato gerador tiver ocorrido ainda durante a vigência do regime de
bens, pois a data do fato gerador é o momento juridicamente relevante para a aquisição
do direito (STJ, AgRg no REsp 1.467.151/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Marco Buzzi, DJe de
23/4/2015).

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Prêmio de Loteria

No regime da comunhão parcial, prêmio de loteria se comunica por ser bem adquirido por
fato eventual nos termos do art. 1.660, II, do CC (REsp 1689152/SC, 4ª Turma, Rel. Ministro
Luis Felipe Salomão, DJe 22/11/2017). Além do mais, o prêmio de loteria decorre de um con-
trato oneroso aleatório (o contrato de aposta ou de jogo), razão por que não vemos razão para
afastar a sua comunicação. Não se trata de nenhuma doação.

Seguro por Invalidez por Conta de Acidente de Trabalho

No regime da comunhão parcial, seguro por invalidez recebido por conta de acidente de tra-
balho não se comunica por não poder ser considerado fruto ou rendimento do trabalho do cônju-
ge nos termos do inciso V do art. 1.660 do CC. É irrelevante se o pagamento do prêmio foi feito na
constância do casamento, pois a motivação da prestação paga pela seguradora é um dano per-
sonalíssimo sofrido por um dos consortes (STJ, REsp 848.998/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro João
Otávio de Noronha, DJe 10/11/2008). Recomendo que leve esse entendimento para o concurso.
Temos ressalva pessoal em relação a esse entendimento do STJ, pois o valor recebido a
título de seguro por invalidez não é uma doação, e sim um valor decorrente de uma relação ju-
rídica onerosa. O fato de se tratar de um fato personalíssimo não nos parece relevante, porque
não há previsão legal expressa para se excluir valores recebidos por motivos personalíssimos.

Proventos de Aposentadoria Pública (pelo INSS) devidos na Constância do


Casamento, mas Pagas Posteriormente em Razão de Ação Judicial

No regime da comunhão parcial, proventos de aposentadoria pública (INSS) que deveriam


ter sido pagos na constância do casamento se comunicam, ainda que o pagamento delas
ocorra após o fim do casamento em razão de decisão judicial. Nesse caso, se já tiver ocor-
rido a partilha de bens, será cabível pedido de sobrepartilha sobre esses valores (STJ, REsp
1651292/RS, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 25/05/2020).
De fato, créditos decorrentes de ações judiciais de índole previdenciária (ex.: cobrança
de aposentadoria) ajuizada na constância do casamento se comunicam, pois diz respeito a
valores cujo fato gerador se deu ainda durante a vigência do regime de bens (STJ, AgRg no
REsp 1547968/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Raul Araújo, DJe 16/02/2016; REsp 918.173/RS, 3ª
Turma, Rel. Ministro Massami Uyeda, DJe 23/06/2008).

Saldo de Previdência Complementar Fechada e Aberta

No regime da comunhão parcial, saldo de previdência privada complementar fechada não


se comunica por ser enquadrada como “pensões” nos termos do inciso VII do art. 1.659 do CC
(STJ, REsp 1477937/MG, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 20/06/2017).

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Concordamos com o entendimento acima, até porque eventual partilha do saldo da conta
de previdência privada complementar fechada poderá comprometer a finalidade futura de
garantir um complemento de aposentadoria. Fazemos uma ressalva: se, no decorrer do ca-
samento, ocorrer o saque dos saldos depositados em previdência privada complementar fe-
chada ou o pagamento de benefícios, temos que é forçosa a comunicação por se tratar de
proveito econômico obtido na constância do casamento de modo oneroso (= contraprestação
pelo serviço prestado pelo consorte).
Há tendência jurisprudencial em não se estender esse entendimento para previdência pri-
vada aberta, dado o seu caráter de aplicação financeira. Concordamos também com essa
tendência, visto que realmente essa forma de previdência serve mais para fins de aplicação
financeiro do que para fins de garantia de aposentadoria futura.

Comunicabilidade das Dívidas

No regime da comunhão parcial, as dívidas existentes até a separação de fato também se


comunicam (STJ, REsp 1477937/MG, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe
20/06/2017).

2.7. Regime da Separação Convencional, Voluntária, Absoluta ou


Total

No regime da separação convencional de bens, não há comunicação de bens. Não


há exceção.
Esse regime também é chamado de regime da separação voluntária, total ou absolu-
ta de bens.
Assim, quando o art. 1.647 do CC dispensa a outorga conjugal para o “regime da separação
absoluta”, ele está se referindo apenas ao regime da separação convencional, e não ao legal.

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2.8. Regime da Separação Legal, Obrigatória ou Cogente

2.8.1. Nomenclatura

Regime da separação legal é sinônimo de regime da separação obrigatória ou regime da


separação da separação cogente.
Por essa razão, quando o inciso I do art. 1.829 do CC afasta o cônjuge casado no regime
da separação obrigatória da concorrência hereditária com os filhos, ele está se referindo ape-
nas ao regime da separação legal de bens (e não do regime da separação convencional).
Igualmente o parágrafo único do art. 496 do CC se refere a esse regime quando, no caso
de venda a descendente, dispensa o consentimento do cônjuge casado no regime da separa-
ção obrigatória.

2.8.2. Cabimento

O regime da separação legal destina-se a proteger alguém em consideração de vulnerabi-


lidade patrimonial. É devido apenas nas três hipóteses do art. 1.641 do CC:

(1) cônjuge com mais de 70 anos;


(2) casamento com violação de causa suspensiva15; e
(3) casamento feito com suprimento judicial em favor de algum dos nubentes (como no caso de
adolescente de 16 anos que, por não ter conseguido o consentimento de ambos os pais, pediu au-
torização judicial com base no art. 1.519 do CC).

2.8.3. Comunicação de Bens

Em princípio, no regime da separação legal, nenhum bem deveria se comunicar, pois se


trata de uma “separação de bens”. Todavia, como o regime é imposto por lei, e não pela vontade,
15
As causas suspensivas estão no art. 1.523 do CC.

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passou a ser admitida a comunicação dos aquestos (bens adquiridos onerosamente ao longo
do casamento) por força da Súmula n. 377/STF.
Houve muita controvérsia, porém, se essa comunicação dependia de prova do esforço
comum diante do silêncio da súmula.
Atualmente, o STJ, de modo pacífico, dá interpretação restritiva a essa súmula e entende
que, no regime da separação legal, é preciso provar esforço comum, direto ou indireto, na
aquisição onerosa dos bens para se admitir a comunicação. Não se pode, pois, presumir o
esforço comum pelo simples fato do casamento. Trata-se de nova leitura da Súmula n. 377/
STF (STJ, EREsp 1623858/MG, 2ª Seção, Rel. Ministro Lázaro Guimarães – Desembargador
convocado –, DJe 30/05/2018).
O STJ, porém, não detalha como essa prova de esforço comum deve se dar. De um lado,
no voto do relator do julgado supracitado do STJ, foi afastada expressamente a presunção do
esforço comum. De outro, porém, é permitido que a prova “efetiva e relevante” da aquisição
onerosa seja direta ou indireta. Ao nosso sentir, ficou implícito que a contribuição poderia ser
em serviços domésticos ou em outras atividades econômicas. Por exemplo, se for provado o
recebimento de salário e seu uso nas despesas de casa, isso deve acabar sendo aceito como
prova de esforço comum de todos os imóveis do casal, por mais valioso que seja. Afinal de
contas, o outro consorte, com seus serviços e recursos, contribui para que o outro fique libe-
rado e confortado para adquirir bens.

2.8.4. Possibilidade de Pacto Antenupcial

Tendo em vista que, no regime da separação legal de bens, à luz da leitura flexibilizada da
Súmula n. 377/STF, é viável a comunicação dos bens adquiridos onerosamente na constância
do casamento se houver prova do esforço comum, indaga-se: é ou não viável que, por pacto
antenupcial, as partes afastem a totalmente essa comunicação?
Entendemos que sim, pois quem pode o mais pode o menos. Assim, é cabível que as
partes, por meio de pacto antenupcial, afastem os efeitos da Súmula n. 377/STF mesmo na
hipótese de prova do esforço comum. No mesmo sentido, ensina o professor Flávio Tartuce
(2020, p. 175), que lembra a concordância também de José Fernando Simão sobre o tema.
Não se trata de mudança de regime de bens para o regime da separação convencional! O
regime segue sendo o do legal (ainda que com um endurecimento da segregação patrimonial)
para todos os efeitos jurídicos, com inclusão da proibição do consorte de concorrer heredita-
riamente com filhos na forma do inciso I do art. 1.829 do CC. Se se tratasse de uma mudança
de regime de bens, chegaríamos à inadmissível conclusão de que, por pacto antenupcial, o
casal poderia driblar o inciso I do art. 1.829 do CC.

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2.8.5. Extensão para a União Estável

As hipóteses de regime da separação legal se aplicam também à união estável (STJ, REsp
646.259/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 24/08/2010).

2.9. Regime da Participação Final nos Aquestos

O regime da participação nos aquestos é regido pelos arts. 1.672 ao 1.686 do CC. É carac-
terizado pelo fato de que, ao longo do casamento, vigoram as regras de separação de bens,
mas, no momento do fim da sociedade conjugal, todos os bens adquiridos onerosamente ao
longo do casamento (os “aquestos”) se comunicam.
De uma forma simplificada, esse regime busca garantir algo próximo do regime da se-
paração de bens ao longo do casamento e algo próximo ao regime da comunhão parcial na
dissolução do casamento, como ensina Flávio Tartuce (2020, p. 216).

2.10. Vênia Conjugal (Outorga Conjugal)

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2.10.1. Fundamentos e Hipóteses

Com o objetivo de garantir ao cônjuge um mecanismo de controle da gestão patrimonial


sobre os bens e os atos jurídicos do outro consorte, o art. 1.647 do CC condiciona à vênia con-
jugal a validade de alguns negócios presumidamente trágicos à saúde financeira da família.
Vênia conjugal também pode ser chamada de outorga conjugal, autorização matrimonial,
outorga uxória (quando é da esposa) ou outorga marital (quando é do marido).
Como atos presumidamente trágicos à saúde financeira da família, o art. 1.647 do
CC escolheu:
• alienar ou onerar imóveis;
• discutir judicialmente direitos sobre esses imóveis;
• prestar fiança ou aval; e
• doar bens comuns ou bens que possam vir a integrar futura meação.

De fato, o imóvel costuma ser o arrimo da saúde financeira de uma família. Se não é o
local da moradia, costuma ser uma fonte de renda. Permitir que um cônjuge o aliene poderá
ameaçar a saúde financeira da família, dado o risco de esse cônjuge gastar o dinheiro com
futilidades. Não importa se o bem é comum ou particular, até porque, no regime da comu-
nhão parcial, os frutos dos bens particulares se comunicam! O consentimento do cônjuge é
indispensável. Rigorosamente, quando o bem é comum, o consorte não é um mero anuente,
e sim um alienante por também ser dono da coisa. Todavia, esse excesso de rigor não preci-
sa ser necessariamente levado em conta, porque o que importa é que haja o consentimento
do consorte.
Igual ameaça à saúde financeira da família há em um dos cônjuges se tornar fiador ou
avalista de alguém ou em ele doar bens.

2.10.2. Exceções à Exigência de Outorga Conjugal

No regime da separação convencional de bens, não se exige a outorga conjugal (art.


1.647 do CC).
Especificamente em relação à hipótese de alienar ou onerar imóveis, é também permitida
a dispensa da vênia conjugal se isso foi pactuado expressamente no pacto antenupcial de um
casal que adotou o regime da participação final dos aquestos (art. 1.656, CC).

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3. Relações de Parentesco

3.1. Limites Conceituais


Parentesco é disciplinado pelos arts. 1.591 ao 1.638 do CC e diz respeito àqueles que
podem ser considerados parentes e, portanto, podem ser juridicamente tidos por inclusos do
conceito jurídico de família. Daí decorrem consequências práticas, como direitos hereditários
e direito a pensão alimentícia.
Há quem alargue o conceito de família para alcançar quem não seja parente, mas, do pon-
to de vista técnico-jurídico, temos isso por indevido. O conceito jurídico de família alcança

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parentes e cônjuge ou companheiro. O que se pode (e se deve fazer) é admitir que terceiros
que, mesmo sem vínculo sanguíneo, possam vir a ser considerados parentes por algum vín-
culo socioafetivo, desde que as particularidades do caso justifique.

3.2. Parentes vs Cônjuge e Companheiros


Cônjuge e companheiro não são enquadrados dentro do conceito estrito de parente, que é
o adotado pelo Código Civil. Configuram um conceito próprio.
Enfim – é acaciano –, cônjuge não é parente, e sim cônjuge. Parentes são os pais (parente
de 1º grau), avós (parente de 2º grau) etc.

3.3. Parentesco quanto à Origem


Quanto à origem, o parentesco pode ser classificado como natural ou civil (art. 1.593, CC).
Diz-se civil, quando o parentesco decorre de outra origem. Nesse conceito, incluem-se o
parentesco por adoção, por socioafetividade e por técnicas de reprodução assistida heterólo-
ga (aquele que utiliza gametas de terceiros).
Parentesco natural é o que decorre de relação de consaguinidade. Diz-se natural, porque
é o dado pela natureza.
Parentesco civil é o que decorre de origem diversa do vínculo sanguíneo. Diz-se civil, por-
que procede de ficção jurídica do Direito Civil.

3.4. Parentesco quanto ao Grau e à Linha


Quanto à linha, o parentesco pode ser:
• Em linha reta: quando os parentes descendem um dos outros. Ex.: pai, avô, filho, etc. O
parentesco na linha reta é ilimitado.
• Em linha colateral ou transversal: quando os parentes provêm de um só tronco comum,
mas não descendem um do outro. Ex.: irmãos, tios, primos. O parentesco na linha cola-
teral limita-se ao 4º grau (primos ou filhos do sobrinho).

Quanto ao grau, o parentesco pode ser escalonado em graus a depender de quantas ge-
rações intermediárias houver (art. 1.594, CC).
Sob essa ótica, na linha reta ascendente, têm-se pais (1º grau), avós (2º grau), bisa-
vós (3ºgrau).
Na linha reta descendente, têm-se filhos (1º grau), netos (2º grau), bisnetos (3º grau), etc.
Na linha colateral, não existe parente colateral no 1º grau, pois necessariamente o parente
no 1º grau corresponde à linha reta (pais ou filhos). Assim, na linha colateral, como originários
dos pais, têm-se irmãos (2º grau), sobrinhos (3º grau), filhos dos sobrinhos (4º grau). Ainda,
na linha colateral, como originários dos avós, têm-se tios (3º grau) e primos (4º grau).

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3.5. Parentesco por Afinidade


O CC admite o parentesco por afinidade, oriundo do casamento ou da união estável, ao
preconizar que “cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da
afinidade” (art. 1.595, CC).
O parentesco por afinidade é ilimitado na linha reta (= abrange ascendentes e descenden-
tes do cônjuge ou do companheiro), mas limita-se ao 2º grau na linha colateral (= só abrange
os irmãos do cônjuge ou companheiro, ou seja, só vai até o cunhado).
Parentesco por afinidade não gera direito sucessório (art. 1.829, CC) nem direito a alimentos
(art. 1.697, CC): sogra ou cunhada não são herdeiras nem podem pleitear pensão alimentícia.
Há, porém, poucas relevâncias práticas no parentesco por afinidade.
A primeira relevância prática é a de que o parentesco por afinidade na linha reta subsiste
mesmo ante a dissolução do casamento (art. 1.595, § 2º, CC) e figura como impedimento ma-
trimonial (art. 1521, II, CC). Ex-marido não pode se casar com sogra (que nunca passa a ser
ex-sogra). Essa é a principal utilidade prática do parentesco por afinidade.
A segunda relevância a de que cunhado (parente colateral de segundo grau por afinidade)
goza de legitimidade para arguir causa suspensiva ao casamento (art. 1.524, CC). Essa é uma
das poucas utilidades práticas da figura de cunhado, a qual, como se vê, é de somenos impor-
tância prática e parece ser mais útil para nutrir sentimentos emulativos da cunhada. Não há
impedimento matrimonial nessa hipótese: é lícito o casamento com o(a) ex-cunhado.
A terceira é que o cunhado fica alcançado pela causa suspensiva dirigida em proteção de
uma pessoa sob curatela ou tutela: cunhado do tutor ou do curador não deve se casar com a
pessoa amparada enquanto houver o instituto de amparo ou houver pendências na prestação
de contas (art. 1.523, IV, do CC).
Além dessas hipóteses, a legislação faz, por vezes, menção a afins, como no § 1º do art.
786 do CC (vedar sub-rogação em favor da seguradora quando o causador do dano era pa-
rente na linha reta afins).

4. Alimentos
4.1. Classificação quanto à Origem

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Quanto à origem (ou à causa jurídica), os alimentos podem ser: (a) legítimos ou familiares;
(b) indenizativos; (c) convencionais.
Os alimentos legítimos ou familiares são os que decorrem de normas de Direito de Famí-
lia. São eles que estudaremos aqui.
Os alimentos indenizativos são aqueles que derivam de normas de Responsabilidade Civil
e que consistem em reparar os lucros cessantes sofridos pela vítima em razão da perda de
uma fonte de sustento. Como exemplo de alimentos indenizativos, há a pensão alimentícia
devida a quem se incapacitou para o trabalho (art. 950, CC) ou a quem perdeu um parente de
quem dependia financeiramente (art. 948, CC).
Os alimentos convencionais são aqueles que decorrem de um ato de vontade no âmbito
do Direito Civil, como um contrato ou um testamento. A título ilustrativo, se alguém se com-
promete voluntariamente a pagar um valor mensal a outrem com o objetivo de custear-lhe
a manutenção (o que pode ser feito por meio do contrato de constituição de renda previsto
no art. 803 e seguintes do CC), essa renda mensal configura alimentos convencionais. Outro
exemplo é o legado de alimentos por meio do qual o testador deixa uma pensão alimentícia
para o legatário (art. 1920, CC).
A classificação dos alimentos quanto à origem tem utilidade prática. É que, como o regi-
me jurídico de cada uma dessas espécies é diferente, a consequência prática também pode
ser diferente.
Por exemplo, há discussão se o meio coercitivo da prisão civil é extensível a qualquer tipo
de alimentos ou apenas aos alimentos familiares. O entendimento majoritário é que a prisão
civil não é para todos os tipos de alimentos.

4.2. Titulares do Direito aos Alimentos Legítimos

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Os alimentos legítimos (= familiares) se restringem ao ambiente familiar e, por isso, só é


devido entre parentes (excluídos os colaterais de 3º e 4º grau) e entre ex-consortes. Vamos
tratar dessas hipóteses.

4.2.1. Filhos Menores

O dever dos pais de pagar alimentos aos filhos menores é o seu poder familiar (arts. 1.590,
1.566, IV, 1.634, I16, 1.638, II17, e 1.723 do CC), e não o mero vínculo de parentesco.
Esse fato é importante para justificar o maior rigor dos juízes ao examinar eventual tenta-
tiva dos pais de se eximirem do dever de pagar alimentos sob a alegação de não terem con-
dições de pagar pensão alimentícia aos seus filhos. De fato, o art. 1.694 do CC leva em conta
a “possibilidade” (as condições financeiras) do alimentante para definir o dever de pagar ali-
mentos. Todavia, quando se trata de pais, esse dispositivo deve ser interpretado com maior
rigor, de maneira que somente situações excepcionais de incapacidade laboral dos pais de-
vem ser acolhidas como excludentes do dever de pagar alimentos, como na hipótese de pais
impossibilitados de trabalhar por alguma deficiência física. O mero desemprego ou a mera
desventura profissional do pai não podem ser consideradas excludentes, de modo que o juiz
deve arbitrar-lhe um valor de pensão alimentícia que garanta ao filho um padrão de vida simi-
lar ao do pai. Nesse caso, o pai terá de empreender alguma providência qualquer para obter
essa renda mínima, ainda que seja desempenhar alguma atividade econômica mais modesta.
O rigor aí se justifica pelo fato de ser um dever legal dos pais o de sustentar os filhos.

4.2.2. Filho Maior Incapaz

Apesar de não existir mais o poder familiar, é dever dos pais sustentar o filho maior inca-
paz, pois o art. 1.590 do CC18 equipara-o ao filho menor, de modo a atrair, por analogia a inci-
dência dos arts. 1.590, 1.566, IV, 1.634, I19, 1.638, II20, 1.723 do CC.
É o caso, por exemplo, do filho com deficiência intelectual severa que, mesmo após com-
pletar a maioridade, ainda depende financeiramente dos pais por estar inabilitado a exercer
atividades profissionais.
Nesse caso, os pais terão de cuidar dele e sustentá-lo como se fosse um filho menor.
Eventual alegação de impossibilidade dos pais como tentativa de escusar-se do dever de
pagar alimentos com fulcro no art. 1.694 do CC deverá ser examinada com o mesmo rigor
interpretativo que já expusemos, mais acima, ao tratar dos filhos menores.
16
Está implícito o dever de sustentar o filho no dever dos pais de dirigir “a criação” dos filhos.
17
A perda do poder familiar por deixar o filho em abandono traz implícito o dever dos pais de sustentar os filhos.
18
“Art. 1.590. As disposições relativas à guarda e prestação de alimentos aos filhos menores estendem-se aos maiores inca-
pazes.”
19
Está implícito o dever de sustentar o filho no dever dos pais de dirigir “a criação” dos filhos.
20
A perda do poder familiar por deixar o filho em abandono traz implícito o dever dos pais de sustentar os filhos.

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4.2.3. Netos ou outros Descendentes de Maior Grau

Netos ou outros descendentes de maior grau (como bisnetos) só tem direito de exigir alimen-
tos se inexistir parente mais próximo (o pai) ou se este estiver impossibilitado de prestar os ali-
mentos. O fundamento dos alimentos é, pois, as regras gerais de alimentos (arts. 1.694 e ss, CC).
Se, todavia, o neto ou outro ascendente for menor ou incapaz, o juiz deverá ser um pouco
mais rigoroso ao examinar eventual tentativa de escusa fundada na falta de condições finan-
ceiras, tendo em vista a aplicação do princípio do melhor interesse da criança e do adolescen-
te e a aplicação analógica do art. 1.590 do CC.

4.2.4. Ascendentes e Irmãos

Ascendentes e irmãos têm direito a alimentos com fundamento nos arts. 1.694 e ss do CC.
Não importa se o irmão é unilateral (com apenas um genitor em comum) ou bilaterais (com
ambos os genitores comuns e chamados também de irmãos germanos).
No caso de irmãos, o juiz deve ter uma postura interpretativa menos favorável ao prestí-
gio ao ócio ou à negligência, de maneira que: (1) em regra, os alimentos devem ser deferidos
apenas pelo tempo necessário à reinserção profissional do irmão, se viável; e (2) situações de
penúria do irmão causadas por histórico de negligência profissional do irmão, como na hipó-
tese de irmão que não aproveitou oportunidades de capacitação dadas desde a infância por
preferir o deleite (o carpe diem), devem ser consideradas com situação de culpa a autorizar a
fixação de alimentos naturais ou necessários, ou seja, os alimentos estritamente necessários
à sobrevivência do alimentado com fulcro no art. 1.694, § 2º, do CC.
Essa postura hermenêutica mais restritiva se justifica pela função social do Direito, que
não é cúmplice com opções por um estilo de vida leviana. Além do mais, uma visão de Direito
Comparado corrobora essa postura hermenêutica. De fato, alguns outros países negam di-
reito de alimentos entre irmãos, caso da França, da Alemanha e da Áustria, ou o limitam ao
mínimo necessário para a sobrevivência, caso da Itália (art. 439 do CC Italiano), conforme
lembram Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2016, pp. 753-754). No Brasil, em-
bora tenhamos optado por assegurar o direito de alimentos entre irmãos, tal deve ser deferido
pelos juízes com aquela postura hermenêutico menos complacente.

4.2.5. Ex-cônjuges ou Ex-companheiros: Regra da Transitoriedade dos Ali-


mentos

Ex-cônjuge ou ex-companheiro têm direito a alimentos com fundamento o dever assisten-


cial que vigora durante o casamento ou a união estável (arts. 1.566, III e 1.724, CC) e que, com
o fim dessa união, persiste na hipótese de algum dos ex-consorte ter ficado em situação de
necessidade em razão da sua dedicação à vida conjugal ou convivencial.

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Todavia, como a persistência do dever assistencial após o fim do casamento ou da união


estável é destinada apenas a dar amparo ao ex-consorte que se prejudicou financeiramente
por sua dedicação ao casamento, a jurisprudência pacificou que, em regra, os alimentos ao
ex-consorte devem ser temporários para durar o um prazo razoável para sua reinserção pro-
fissional, sob pena de “servir de fomento ao ócio ou ao enriquecimento sem causa” (STJ, RHC
95.204/MS, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 30/04/2018).
A exceção corre à conta de excepcionais hipóteses de inviabilidade de aquisição de auto-
nomia financeira, como nos casos de incapacidade laboral (STJ, AgInt no AREsp 1306626/SP,
4ª Turma, Rel. Ministro Marco Buzzi, DJe 19/12/2018).
Esse entendimento dialoga com a opção legislativa adotada em matéria previdenciária:
nem mesmo para fins de pensão por morte é assegurada uma pensão vitalícia se o (a) viúvo
(a) for jovem, conforme art. 222, VIII, “b”, da Lei n. 8.112/90 e art. 77, V, “c”, da Lei n. 8.213/1991.
Apesar desse entendimento do STJ, entendemos que o julgador deve levar em conta o
patrimônio com o qual o ex-cônjuge ficou após o fim do casamento e a dificuldade notória de
reinserção “digna” no mercado de pessoas que passaram muito tempo longe do mercado de
trabalho. Deve também tomar em consideração que, apesar de o ex-cônjuge não ter direito
à manutenção do padrão social desfrutado ao longo do casamento, ele deve ter um tempo
razoável para capacitar-se profissionalmente para buscar uma atividade profissional que lhe
proporcione uma condição social próxima à do casamento, especialmente se, ao longo do
casamento, ela abdicou totalmente da vida profissional para dedicar-se à família.

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4.3. Classificação dos Alimentos Legítimos quanto à Natureza

Quanto à natureza, os alimentos legítimos (ou familiares) podem ser classificados em21:
• alimentos civis ou côngruos;
• alimentos naturais, naturais ou indispensáveis; e
• alimentos compensatórios.

4.4. Alimentos Civis ou Côngruos


Alimentos civis ou côngruos são aqueles destinados a garantir a manutenção do alimen-
tado de acordo com o padrão socioeconômico do alimentante. Assim, por exemplo, se o ali-
mentante desfruta de alto padrão, o alimentado deverá receber um valor de alimentos que lhe
assegure fruir desse alto padrão.
21
Há doutrinadores que tratam as duas últimas espécies (os alimentos compensatórios e as rendas líquidas dos bens
comuns) fora da classificação acima, deixando-os como categorias avulsas. Temos, porém, que é didático deixá-los aqui
nesta classificação pelo fato de essas duas últimas categorias se distinguirem das outras pela particularidade de sua
natureza.

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Esses alimentos são ditos “côngruos”, porque objetivam estabelecer uma congruência
(correspondência) entre o padrão socioeconômico de cada uma das partes. São chamados
também de “civis”, porque não se limitam a garantir o mínimo que a natureza exige para o ser
humano. Se objetivassem assegurar apenas esse mínimo da “natureza”, os alimentos seriam
ditos “naturais”, e não “civis”.
O arbitramento (a fixação do valor) dos alimentos côngruos leva em conta o binômio ne-
cessidade-possibilidade mirando estender o padrão de vida do alimentante ao alimentado.
Em outras palavras, para o arbitramento do valor da pensão alimentícia, é preciso haver com-
provação da “necessidade do alimentado”, da “possibilidade do alimentante” e do “padrão
social do alimentante”.

4.5. Alimentos Naturais, Necessários ou Indispensáveis


Alimentos naturais, necessários ou indispensáveis são aqueles destinados a garantir a
manutenção do alimentado de acordo com aquilo que é indispensável para a sobrevivência,
e não de acordo com o padrão de vida do alimentante. O objetivo é garantir ao alimentado o
mínimo necessário para um ser humano viver com dignidade, levando em conta o parâme-
tro do homo medius (homem médio) do local. É verdade que o conceito de dignidade é bem
subjetivo, mas a ideia dos alimentos necessários ou naturais é que o alimentado tenha um
valor suficiente para ter o padrão de vida de uma classe econômica mais baixa (não é nem da
classe média nem da classe rica, para usarmos o conceito controverso de classes sociais).
O arbitramento dos alimentos naturais deve se guiar com essa diretriz.
Os alimentos naturais são exceção! A regra é que os alimentos sejam côngruos. Por se-
rem exceção, os alimentos naturais só cabíveis quando a lei assim estabelecer, o que ocorre
em dois casos:

a) culpa do alimentado pela situação de necessidade (art. 1.694, § 2º, CC); ou


b) culpa do ex-consorte pelo fim do casamento ou da união estável se se tratar de alimentos a ele
(art. 1.704, parágrafo único, CC).

4.6. Alimentos Compensatórios ou Prestação Compensatória


4.6.1. Fundamento e Definição

Não há fundamento legal expresso para os alimentos compensatórios, também chama-


dos de prestação compensatória. Eles são fruto de construção doutrinária e jurisprudencial
fundada na dignidade da pessoa humana, no princípio da solidariedade familiar e na vedação
ao abuso de direito. Rolf Madaleno foi o escultor desse conceito no Brasil com base em ex-
periências estrangeiras, como da Alemanha, França, Espanha, Argentina, Áustria, Dinamarca,
Reino Unido, Itália, Quebec, El Salvador (Madaleno, 2015, pp. 1055-1056).
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A jurisprudência já vem admitindo essa espécie de alimentos, embora esteja ainda ama-
durecendo os critérios de seu cabimento e de seu arbitramento.
Alimentos compensatórios são aqueles destinados a impedir uma abrupta queda do pa-
drão de vida do ex-consorte que, com o fim do relacionamento, ficará com um patrimônio
irrisório comparado com o do outro consorte. Daí se segue que os alimentos compensatórios
só são devidos se, com o fim da sociedade conjugal ou convivencial, o ex-consorte sofrer uma
drástica redução do padrão de vida.
É evidente que todo fim de relacionamento gera redução do padrão de vida. O que se quer
evitar é que o ex-cônjuge, por não ter ficado com nenhum bem ou com bem de pouca rele-
vância no momento da partilha dos bens do casal, sofra uma brutal queda do padrão de vida
a ponto de não mais conviver no mesmo meio social que, antes do casamento, desfrutava.
Grosso modo, censura-se que, com o divórcio e a partilha, o ex-cônjuge saia de uma mansão e
deixe de dirigir um carro importado para, abruptamente, ter de ir morar em uma choupana por
não ter ficado com nenhum bem.
A ideia por trás dos alimentos compensatórios é o de que o ex-consorte, ainda que não te-
nha direito à meação por conta do regime de bens escolhido, compartilhou a vida com o outro
por um tempo considerável, desfrutando de um alto padrão de vida, de maneira que ter de, por
conta do fim do relacionamento, rebaixar abruptamente esse padrão seria uma violência à sua
dignidade enquanto o outro ex-consorte seguirá com um alto patrimônio capaz de poupar-lhe
de igual redução abrupta. Está implícito também aí que esse ex-consorte abdicou de projetos
patrimoniais pessoais para se dedicar ao outro ex-consorte, razão por que esses sacrifícios
também mereciam uma compensação, ao menos para lhe poupar uma quebra brutal do pa-
drão de vida.

4.6.2. Cabimento

Os alimentos compensatórios não são a regra geral no ordenamento. Eles só devem ser
deferidos excepcionalmente quando houver drástica redução do padrão de vida de ex-cônjuge
em razão de manifesta desigualdade financeira ocorrida com a partilha de bens (STJ, REsp
1655689/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 19/12/2017).

4.6.3. Natureza Jurídica Indenizatória e Consequências Práticas (Descabi-


mento de Prisão Civil e outras)

Os alimentos compensatórios têm natureza indenizatória, pois almejam indenizar o ex-


-consorte pela expressiva queda do padrão de vida em razão do desequilíbrio econômico no
momento da partilha de bens por conta do divórcio.
Por conta dessa natureza indenizatória, os alimentos compensatórios:

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• não se equiparam aos alimentos naturais ou necessários, os quais, por estarem re-
lacionados à manutenção dos alimentados, podem ensejar a prisão civil como meio
coercitivo.
• não ensejam prisão civil (STJ, RHC 117.996/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio
Bellizze, DJe 08/06/2020);
• impedem a prisão civil se tiverem sido fixados pelo juiz em rubrica única com os ali-
mentos civis sem individualização dos valores (STJ, AgRg no RHC 49.753/SC, 4ª Tur-
ma, Rel. Ministro Antonio Ferreira, DJe 25/09/2014);
• não são sujeitos a revisão por posterior mudança do binômio necessidade-possibilida-
de, pois esse binômio é irrelevante para os alimentos compensatórios, que são arbitra-
dos pelo juiz com base no cotejo entre o patrimônio de cada um dos ex-consortes com
o fim do relacionamento.

4.7. Características do Direito a Alimentos

O direito aos alimentos é personalíssimo, incessível, imprescritível, impenhorável, incom-


pensável, irrenunciável, intransacionável, atual e irrepetível.

4.7.1. Personalíssimo

O direito aos alimentos, ou seja, o direito de requerer a condenação de outrem ao pagamen-


to de uma pensão alimentícia à luz do binômio necessidade-possibilidade é personalíssimo,
porque só pertence ao seu titular, que é indicado por lei (os consortes, os ascendentes, os

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descendentes e os irmãos). Trata-se de um direito da personalidade, pois é inerente à condição


de pessoa humana e se destina à sua sobrevivência digna. É dessa característica que decor-
rem algumas das próximas características do direito aos alimentos.

4.7.2. Incessível

Por ser personalíssimo, o direito aos alimentos (ou seja, o direito a pleitear alimentos de
outrem) não pode ser cedido a terceiros (art. 1.707, CC22).
Para efeito da característica da inacessibilidade, o direito aos alimentos não se confunde
com a prestação alimentar já vencida. Aquele é incessível; esta não!
O crédito alimentar já vencido, assim entendida a prestação da pensão alimentícia que já
venceu, pode ser cedido pelo alimentante com base no art. 286 e seguintes do CC, que trata da
cessão de crédito. É que a prestação já vencida já integra o patrimônio do adquirente.

4.7.3. Imprescritível

O direito aos alimentos não prescreve, é imprescritível (e aqui o vocábulo é empregado no


sentido mais amplo23). Isso significa que, ainda que o seu titular não pleiteie alimentos por
longo tempo, ele não perderá esse direito. Se um filho nunca pediu alimentos a seu pai apesar
de ter necessidade, ele poderá, a qualquer momento, exercer o seu direito aos alimentos, plei-
teando a condenação do pai aso alimentos. O seu direito não se perdeu com o tempo.
Para tal efeito, porém, não se pode confundir direito aos alimentos com a prestação alimen-
tar já vencido. Esta última é sujeita a prazo prescricional de dois anos (art. 206, § 2º, do CC).

4.7.4. Impenhorável

Por ser personalíssimo e por destinar-se à sobrevivência, os alimentos são impenhoráveis,


conforme art. 1.707 do CC. Ninguém pode penhorar os créditos relativos a pensões alimentí-
cias. Essa impenhorabilidade dialoga com a impenhorabilidade dos salários prevista no inciso
IV do art. 833 do CPC24, pois os ambas as parcelas se destinam ao custeio da sobrevivên-
cia da parte.
22
Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insus-
cetível de cessão, compensação ou penhora.
23
Entendemos que o mais adequado seria dizer que o direito aos alimentos não caduca, porque prescrever é a perda da pre-
tensão de um direito, e não do seu direito. Seja como for, no sentido mais amplo do termo – que é o empregado aqui pela
doutrina –, prescrição se refere à perda do direito aos alimentos.
24
Art. 833, IV, CPC: “os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as
pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento
do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º”.

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4.7.5. Atual

Os direitos aos alimentos são atuais no sentido de que eles objetivam ao recebimento de
valores alimentares para satisfação de necessidades atuais e futuras. Por essa razão, se o
alimentante pleiteia alimentos hoje, os valores a título de pensão alimentícia se destinarão a
custear suas despesas à época da propositura da ação. Aliás, é por essa razão que o alimen-
tado pode pleitear alimentos liminares (provisórios, provisionais ou gravídicos) e também tem
direito a que a sentença que fixa alimentos retroaja à data da citação por força do art. 13, § 2º,
da Lei de Alimentos (Lei n. 5.478/1968).
Não pode, pois, o alimentado pedir a condenação de alguém a pagar alimentos para custe-
ar despesas pretéritas: se ele não exerceu o direito aos alimentos antes, isso foi escolha dele.
Por isso, um filho com 17 anos que nunca pediu alimentos ao seu pai não pode, agora, pleitear
que, como uma espécie de “reembolso” ou “indenização” pela falta de pensão ao longo dos
seus anos de vida, o seu genitor seja condenado a pagar os alimentos que teriam sido devidos
durante todo esse tempo.

4.7.6. Incompensável

Compensação é o encontro de dívidas opostas e acarreta a extinção das obrigações (arts.


368 e ss, CC). Se eu te devo mil reais por um serviço prestado e se você também me deve mil
reais por um bem que vendi, essas dívidas se extinguem pela compensação. A compensação,
porém, não pode ocorrer quando a lei ou o acordo das partes assim prever, conforme arts. 373
e 374 do CC.
No caso dos alimentos, os arts. 373, II, e 1.707 do CC proíbem a compensação de uma
dívida de alimentos com outra, tudo com o objetivo de não comprometer o custeio da sobrevi-
vência do alimentado.
Os alimentos são, pois, incompensáveis.
A incompensabilidade dos alimentos não é absoluta. A jurisprudência admite, excepcio-
nalmente, a compensação, ainda que parcial, da dívida de alimentos no caso de o alimentante
ter custeado diretamente despesas vitais do alimentado. Em outras palavras, se o alimentan-
te pagar alguma dívida do alimentado que seja tida por indispensável a este e que teria de ser
coberta pelos alimentos, a compensação poderá vir a ser admitida. Diz-se “poderá”, porque
cabe ao juiz verificar o caso concreto para avaliar a essencialidade da dívida a ser compen-
sada e evitar abusos de direito por parte do alimentante que pretende subverter os alimentos
pecuniários em alimentos in natura.
Nesse sentido, o STJ já admitiu que o pai deduzisse do valor da pensão alimentícia os va-
lores com os quais ele pagou as despesas “atrasadas” de condomínio e de IPTU do imóvel em
que o filho menor morava com a mãe por empréstimo gratuito da avó (usufrutuária do imóvel)
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e do pai (nu proprietário). No caso concreto, estavam presentes os três requisitos acima: (1) a
dívida de condomínio e de IPTU foi tida por essencial; (2) o alimentante não agiu com abuso de
direito, pois arcou com uma despesa essencial para garantir a moradia dos alimentados; e (3)
o alimentado – ou o seu representante legal – não havia pagado as despesas de condomínio
e de IPTU do imóvel em que morava sem um justo motivo gratuitamente por generosidade da
avó paterna, o que denota uma má-fé sua e objetivo de se enriquecer sem justa causa, visto
que, no final das contas, a avó paterna haveria de arcar com as despesas reais do imóvel (STJ,
REsp 982.857/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministro Massami Uyeda, DJe 03/10/2008).

4.7.7. Irrenunciável e Intransacionável

Por ser personalíssimo e por ser um direito da personalidade, a regra é a de que o direito
aos alimentos não pode ser renunciado. É o que estatui o art. 1.707 do CC. Nada impede, po-
rém, que o alimentante não exerça o seu direito; afinal de contas, o direito aos alimentos é um
direito subjetivo, que, como tal, garante ao seu titular um facultas agendi (faculdade de agir). O
titular exerce o direito aos alimentos se quiser. É, porém, vedado renunciar esse direito. Essa é
a regra geral.

Casos Especiais

Renúncia dos Alimentos por Ex-Consorte: Validade se após o Fim do Rela-


cionamento

A irrenunciabilidade do direito a alimento prevista no art. 1.707 do CC só se aplica en-


quanto subsistir a relação jurídica geradora desse direito: o casamento, a união estável ou o
parentesco.
No caso de casamento ou união estável, finda essa relação jurídica (ex.: divórcio finda o
casamento), não se aplica o art. 1.707 do CC, porque já não há mais um direito genuíno aos
alimentos, e sim um rescaldo do dever assistencial entre os ex-consorte por reflexos do perí-
odo de convívio more uxorio. Há aí uma espécie de direito residual de alimentos, ao qual não
se aplica o art. 1.707 do CC. Por essa razão, é válida a renúncia ao direito alimentar após o fim
do relacionamento conjugal. A renúncia, porém, não pode ser tácita, mas deve ser expressa
e inequívoca, razão por que não configura renúncia a mera inércia no exercício do direito aos
alimentos, como no caso de ex-cônjuge que demora a pleitear alimentos após o divórcio (STJ,
REsp 1073052/SC, 4ª Turma, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 02/09/2013).
Enfim, é cabível a renúncia ao direito de alimentos por ex-consorte no momento da sepa-
ração, do divórcio ou da dissolução da união estável, caso em que será vedado a esse renun-
ciante pleitear futuramente alimentos (STJ, REsp 701.902/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, DJ 03/10/2005). A propósito, o enunciado n. 5 do encontro de juízes das varas de fa-

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mília de São Paulo dispõe: “no divórcio ou na dissolução da união estável não há impedimento
à renúncia ao direito a alimentos, pois a vedação à renúncia do art. 1.707 do Código Civil só se
aplica enquanto subsiste vínculo de direito de família” (Conjur, 2006).

Alimentos Pós-Divórcio

Se o ex-consorte não renunciou expressamente os alimentos, não há renúncia, pois a re-


núncia tácita é incompatível com a natureza alimentar desse direito.
Por isso, poderá o ex-consorte pleitear alimentos posteriormente ao fim do relacionamento
more uxorio. Trata-se do que o professor Flávio Tartuce denomina de “alimentos pós-divórcio”
(Tartuce, 2020, pp. 685-686). Há julgado da 3ª Turma do STJ nesse sentido, além de decisão
monocrática do Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva (STJ, REsp 1073052/SC, 4ª Turma, Rel.
Min. Marco Buzzi, DJe 02/09/2013), STJ, AREsp 327.128/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cue-
va, DJe 04/02/2014).
O problema, porém, será, no caso concreto, o ex-consorte provar os pressupostos para os
alimentos contra ex-consorte. É que, nesse caso, há necessário verificar se, no caso concreto,
era razoável supor que a necessidade do ex-consorte tem conexão com o estilo de vida ado-
tado ao longo do casamento ou da união estável e que não tenha transcorrido prazo razoável
para o seu reingresso no mercado de trabalho.
Por exemplo, se uma ex-esposa foi casada dos seus 20 até os seus 70 anos de idade até
o divórcio e se ela, ao longo do casamento, deixou de trabalhar para cuidar do lar, o fato de,
no momento do divórcio, ela não ter pleiteado alimentos é irrelevante. Não há renúncia tácita.
Poderá ela posteriormente reivindicar alimentos posteriormente, pois o dever alimentar do ex-
-marido deve durar até o resto da vida da ex-mulher. É que, nesse caso concreto, não é razoável
supor que uma mulher que ficou 50 anos fora do mercado de trabalho por conta do casamento,
consiga erguer-se profissionalmente para custear-se dignamente.
Se, porém, se tratasse de uma ex-esposa que só tinha ficado casado dos seus 20 anos até
os seus 30 anos, ela, no momento do divórcio, provavelmente só iria ter direito a alimentos
transitórios por cerca de 2 anos, tempo durante o qual ela deverá buscar reingressar-se no
mercado por sua conta e risco. Nesse caso, se ela vier a pedir alimentos dez anos depois do
fim relacionamento, não é lhe será devido qualquer pensão alimentícia pelo fato de o dever
alimentar do ex-marido ser, nesse caso, transitório. Se, porém, ela pleitear os alimentos dois
meses depois do fim do casamento, será razoável deferir-lhe pensão alimentícia por, no míni-
mo, 1 ano e dez meses.

4.7.8. Irrepetível

Fundamentos

A irrepetibilidade dos alimentos decorre da ideia de que o alimentado consome os valores


percebidos na satisfação de suas necessidades vitais, e não em atividades rentáveis nem em

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aumento de patrimônio. Por isso, seria incompatível com os alimentos o dever de o alimenta-
do restituir os alimentos pagos se posteriormente eles vierem a ser considerados indevidos:
o alimentante não pode pedir a repetição do indébito, não pode pedir de volta o que pagou.
Não há dispositivo legal expresso a amparar a irrepetibilidade; trata-se de construção dou-
trinária e jurisprudencial, que estende esse raciocínio da irrepetibilidade até para situações fora
do Direito Civil25.
A doutrina e a jurisprudência, porém, com razão, vêm acenando para a relativização da
irrepetibilidade, ainda que de forma paulatina. Cuidaremos de hipóteses de flexibilização mais
à frente ao tratarmos de casos especiais.

4.7.9. Questões Especiais

Redução ou Exoneração de Alimentos após Pagamento de Alimentos Limi-


nares

Fixados alimentos liminares (gravídicos, provisórios ou provisionais), indaga-se: a superve-


niência de sentença reduzindo o valor dos alimentos ou afastando totalmente o direito dos ali-
mentos teria ou não eficácia retroativa até a data da citação, de modo a autorizar que o credor
peça de volta tudo o que pagou a maior?
O STJ entende que só há essa eficácia retroativa até à data da citação em relação às par-
celas dos alimentos liminares que não foram pagas: o devedor fica liberado de pagá-las. Nes-
se caso, não há violação à irrepetibilidade dos alimentos, pois eles não foram efetivamente
pagos. Já em relação às parcelas já pagas, vigora a irrepetibilidade dos alimentos a afastar
o efeito retroativo. Essa é a inteligência da Súmula n. 621/STJ (“Os efeitos da sentença que
reduz, majora ou exonera o alimentante do pagamento retroagem à data da citação, vedadas a
compensação e a repetibilidade”).
Como se vê, o STJ, levando em conta a irrepetibilidade dos alimentos, deu interpretação
sistemática e restritiva ao art. 13, § 2º, da Lei de Alimentos (que preveem a retroatividade dos
alimentos fixados na sentença até à data da citação) bem como aos dispositivos que esta-
belecem que a execução provisória (aquela baseada em decisão judicial não transitada em
julgado) é risco do exequente, que, na hipótese de superveniente derrota no julgamento final
do processo, teria de restituir o que obteve e indenizar os danos causados (arts. 297, parágrafo
único, e 520, I a IV, CPC).
Na prática, o entendimento do STJ acaba por estimular que o credor evite pagar os ali-
mentos liminares na esperança de ser redimido com uma vindoura sentença favorável. Apesar
disso, concordamos com o STJ, que foi salomônico ao chegar a uma solução intermediária
25
É o caso, por exemplo, do Direito Administrativo: o STJ entende que o agente público não tem de restituir verbas de natureza
alimentar recebidas de boa-fé, como aquelas que decorrem de erro ou de má interpretação de normas pela Administração
Pública (STJ, REsp 1762208/RS, 2ª Turma, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe 28/11/2018).

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na matéria, conciliando a irrepetibilidade dos alimentos com a precariedade das execuções


provisórias.

4.8. Características da Obrigação Alimentar

A obrigação alimentar é transmissível, divisível, condicional, recíproca, sucessiva (= subsi-


diária) e complementar. Vamos estudar cada uma dessas características.

4.8.1. Transmissibilidade

A obrigação alimentar é transmissível à luz do art. 1.700 do CC. É preciso, porém, conciliar
essa característica com a natureza personalíssima da obrigação alimentar, especialmente por-
que, com a morte do alimentante, extingue-se o dever alimentar.
Na realidade, a melhor interpretação do art. 1.700 do CC é no sentido de que, em regra, a
transmissibilidade ocorre sobre os débitos vencidos até a data da morte do alimentante, asse-
gurado, porém, ao alimentado continuar recebendo os alimentos do espólio apenas na hipóte-
se de ele também ser herdeiro, tudo na forma do que explicaremos mais abaixo.

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Em outras palavras, se o alimentante morre, a regra é que os débitos alimentares vencidos


até este momento poderão ser cobrados do espólio pelo alimentante, que, salvo se for herdei-
ro, terá de buscar nova pensão alimentícia de outro parente vivo que tenha essa obrigação.

4.8.2. Divisibilidade

Regra Geral

No Direito das Obrigações, as obrigações, quanto à pluralidade de sujeitos, podem ser clas-
sificadas: (1) divisíveis – art. 257 do CC –; (2) indivisíveis – arts. 258 a 263 do CC; e (3) solidá-
rias – arts. 264 a 285 do CC.
Sob essa ótica e considerando as particularidades da obrigação alimentar, pode-se dizer
que, em regra, essa obrigação é divisível entre os parentes da mesma classe na forma dos arts.
1.696 ao 1.698 do CC26, observado o binômio necessidade-possibilidade. Trata-se da chamada
divisibilidade da obrigação alimentar.
Desse modo, havendo mais de um coobrigado na mesma classe dos arts. 1.696 ao 1.698
do CC, como os alimentos são fixados de acordo com o binômio necessidade-possibilidade, o
valor da pensão de cada coobrigado levará em conta esse critério. Se, por exemplo, os coobri-
gados são o pai e a mãe e se esta tem o dobro da renda daquele, o valor da pensão da mãe tem
de ser o dobro da quantia a ser paga pelo pai. Em outras palavras, se o filho precisa de três mil
reais para suas necessidades, a mãe pagará 2 mil reais de pensão, e o pai, mil reais. Por conta
da divisibilidade da obrigação alimentar, é descabido condenar apenas um dos pais a pagar,
sozinho, os 3 mil reais de pensão.

4.8.3. Exceção: Caso do Idoso como Alimentado

Conforme art. 265 do CC, solidariedade nunca se presume; decorre de lei ou da vontade
das partes. Por essa razão, à falta de previsão legal diversa, a regra geral é que a obrigação
alimentar é divisível.
Há, porém, uma exceção: a hipótese de o alimentado ser idoso!
Nesse caso, a obrigação alimentar será solidária, de modo que o idoso alimentado poderá
optar entre todos os coobrigados pelo alimento mesmo fora das classes dos arts. 1.696 ao
1.698 do CC (art. 12 do Estatuto do Idoso27). Pode também colocar todos os coobrigados no
26
No caso de alimentos fundados no parentesco, a primeira classe é dos ascendentes de primeiro grau (pais); a segunda é a
dos ascendentes de segundo grau (avós); etc. Cessados os ascendentes, a primeira classe é dos descendentes de primeiro
grau; a próxima classe será dos descendentes de segundo grau (netos); etc. Inexistindo descendentes ou ascendentes, a
primeira classe será a dos irmãos, último das classes dos coobrigados aos alimentos. Ressalva-se que há também alimen-
tos recíprocos entre os consortes (casamento ou união estável), mas, nesse caso, não há necessidade de categorização de
classes, pois só há um obrigado, o consorte.
27
Art. 12, Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso): “A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os presta-
dores”.

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polo passivo, de maneira que todos serão condenados a pagar solidariamente o valor da pen-
são alimentícia.
Há direito de opção ao idoso: ele pode pleitear o valor integral dos alimentos de que ne-
cessite apenas de um dos seus parentes coobrigados ou de todos conjuntamente de modo
solidário. Processualmente, pode colocar apenas um parente no polo passivo ou pode colocar
todos os parentes em litisconsórcio passivo com pedido de condenação solidária deles.
Assim, se um idoso precisa de R$ 2.000,00 para satisfação de suas necessidades, ele pode
pedir a pensão apenas de um dos netos, apesar de ele ter outros três netos.
Pode também, se quiser, colocar os quatro netos no polo passivo, exigindo que todos eles
sejam condenados solidariamente a pagar o valor de R$ 2.000,00 a título de pensão. Nesse
caso, havendo inadimplência, o avô constranger todos às medidas coercitivas (prisão civil, pe-
nhora etc.) até a obtenção do valor integral da pensão inadimplida.

4.8.4. Condicionalidade

O dever alimentar é condicional, pois está condicionado ao binômio necessidade-possibi-


lidade. Se este mudar, o dever de alimentos pode mudar ou até mesmo se extinguir. É, pois,
cabível ação de revisão ou de exoneração de alimentos da oscilação do binômio. O art. 1.699
do CC28, o art. 15 da Lei de Alimentos29 e o art. 505, I, do CPC30 chancelam isso.
Cabe uma advertência de índole processual: apesar de o art. 15 da Lei de Alimentos afir-
mar que a sentença que fixa alimentos não faz coisa julgada por poder ser revista diante de
superveniente alteração do binômio necessidade-possibilidade, é pacífico que essa sentença
faz coisa julgada formal.
Há, porém, controvérsia se essa sentença de alimentos forma coisa julgada material. Há
três correntes, como dá notícia Daniel Amorim Assumpção Neves (2020, pp. 880-881):
• a que defende a inexistência de coisa julgada material;
• a que advoga que há coisa julgada material envolvendo uma sentença que implicitamen-
te envolve uma cláusula rebus sic standibus; e
• a que entende que há coisa julgada material e que, à luz dos seus limites objetivos, a
imunização do julgado se dá apenas nos limites da causa de pedir originária.

A corrente atualmente majoritária é esta última, com a qual concordamos. A mudança


superveniente do binômio necessidade-possibilidade gera uma causa de pedir, não alcançada
28
“Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe,
poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.”
29
Art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a qualquer tempo ser revista, em face da modifi-
cação da situação financeira dos interessados.
30
Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo:
I – se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em
que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença;
II – nos demais casos prescritos em lei.

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pelos limites objetivos da coisa julgada anterior, a autorizar a propositura de uma ação revi-
sional ou de exoneração de alimentos. Isso vale para outras coisas julgadas nas relações de
trato-sucessivo, a exemplo da ação revisional de aluguel. Portanto, como ensina Daniel Neves
(2020, p. 881), “a sentença de alimentos ou da ação revisional de aluguel só pode ser modi-
ficada quando existir uma nova causa da pedir (novos fatos ou novo direito) que legitime tal
modificação”.

4.8.5. Reciprocidade

A obrigação alimentar é recíproca: um parente pode pedir alimentos a outro ou pode vir a
ser obrigado a pagar alimentos a esse outro, a depender de quem tenha necessidade. O deve-
dor hoje pode vir a ser credor amanhã. Consortes, ascendentes, descendentes e irmãos podem
pedir alimentos um aos outros. É o que se extrai dos arts. 1.694 e 1.696 ao 1.698 do CC, além
dos arts. 1.566, III e IV, 1.590, 1.703 e 1.724, CC.

4.8.6. Sucessividade (= Subsidiariedade) e Complementariedade31

Definição

A obrigação alimentar é sucessiva (= subsidiária) e complementar, pois só pode recair


sobre o parente de classe mais distante de modo sucessivo ou complementar, ou seja, só na
hipótese de inexistirem parentes de classe mais próxima ou se estes demonstrem impossi-
bilidade total ou parcial de prestar alimentos. Se a impossibilidade for parcial, os parentes da
classe seguinte deverão arcar com o complemento (natureza complementar). Trata-se dos
arts. 1.694 e 1.696 ao 1.698 do CC.

Caso dos Alimentos pelos Avós

É por força da sucessividade (= subsidiariedade) dos alimentos que se entende a Súmula n.


596/STJ: “A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente
se configurando no caso da impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais
[classe mais próxima do que os avós]”.
E, considerando que o dever originário de alimentos é dos pais, a aferição do valor dos ali-
mentos à luz do binômio necessidade-possibilidade deverá levar em conta prioritariamente o
padrão de vida dos pais, e não dos avós, conforme Enunciado n. 342/JDC:

Enunciado n. 342/JDC: “Observadas suas condições pessoais e sociais, os avós somente


serão obrigados a prestar alimentos aos netos em caráter exclusivo, sucessivo,
31
Nem todos os doutrinadores arrolam a sucessividade e a complementariedade como uma característica da obrigação ali-
mentar, embora a admitam implicitamente. Preferimos arrolar essa hipótese por ser mais didática aos estudos da matéria.

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complementar e não solidário quando os pais destes estiverem impossibilitados de fazê-


-lo, caso em que as necessidades básicas dos alimentandos serão aferidas, prioritaria-
mente, segundo o nível econômico-financeiro de seus genitores”.

Prisão Civil dos Avós por Inadimplemento de Alimentos

É ou não cabível prisão civil dos avós por inadimplemento de alimentos?


O STJ não admitiu a prisão civil em um caso em que os avós, além de idosos, haviam ofe-
recido um bem imóvel à penhora (STJ, HC 416.886/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
DJe 18/12/2017).
Entendemos que, se os avós forem idosos, não é devida a prisão civil, pois se trata de uma
medida extremamente drástica contra um idoso (que também é vulnerável) que assumiu uma
obrigação que originariamente eram dos pais. Outros meios executivos devem ser utilizados,
com inclusão da penhora de salário etc.

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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (CESPE/DEFENSOR/DPE-PE/2018/ADAPTADA) É possível o reconhecimento da união
estável entre pessoas do mesmo sexo, sendo vedado o casamento civil.

Tanto a união estável homoafetiva quanto o casamento civil homoafetivo são admitidas pela
jurisprudência em decorrência do julgamento da ADPF n. 132 pelo STF. Veja este julgado:

DIREITO DE FAMÍLIA, SUCESSÕES E PROCESSUAL CIVIL. UNIÃO HOMOAFETIVA.


RECONHECIMENTO. SUCESSÃO REGIDA PELAS LEIS N. 8.971/1994 E N. 9.278/1996.
AUSÊNCIA DE ASCENDENTES E DESCENDENTES DO DE CUJUS. PEDIDO INICIAL QUE SE
LIMITA A DIREITO REAL DE HABITAÇÃO SOBRE O IMÓVEL RESIDENCIAL. SENTENÇA QUE
O ACOLHE NOS MESMOS TERMOS. RECURSO DE APELAÇÃO. INEXISTÊNCIA. PROPRIE-
DADE PLENA. PEDIDO REALIZADO EM GRAU DE RECURSO ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE.
1. No Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, são reiterados os jul-
gados dando conta da viabilidade jurídica de uniões estáveis formadas por companhei-
ros do mesmo sexo. No âmbito desta Casa, reconheceu-se, inclusive, a juridicidade do
casamento entre pessoas do mesmo sexo (REsp 1.1833.78/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 25/10/2011), tendo sido essa orientação incor-
porada pelo Conselho Nacional de Justiça na Resolução n. 175/2013.
(...)
5. Recurso especial não provido.
(REsp 1204425/MG, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 05/05/2014)

Errado.

002. (CESPE/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-DFT/2019/ADAPTADA) Embora decorram da união ho-


moafetiva todos os direitos e deveres que emanam da união estável entre homem e mulher,
essa união não é considerada uma entidade familiar.

A família homoafetiva é plenamente admitida pelo STF e pelo STJ, os quais já admitem o ca-
samento ou a união estável entre pessoas do mesmo sexo (STJ, REsp 1204425/MG, 4ª Turma,
Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 05/05/2014).
Errado.

003. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) Não será permitido, em


qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade de dezesseis anos.

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É o art. 1.517 do CC após ser alterado pela Lei n. 13.811/2019:

Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil,
observado o disposto no art. 1.517 deste Código.
Certo.

004. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) O oficial do cartório


do registro civil está obrigado a declarar qualquer impedimento de cuja existência tiver co-
nhecimento.

É o parágrafo único do art. 1.522 do CC:

Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do casamento, por
qualquer pessoa capaz.
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum impe-
dimento, será obrigado a declará-lo.
Certo.

005. (FCC/JUIZ/TJ-PE/2015/ADAPTADA) Na habilitação para o casamento, se houver oposi-


ção de impedimento, o oficial
a) indeferirá o pedido de habilitação e remeterá o oponente e os nubentes às vias ordinárias
em juízo, para decisão do magistrado
b) encaminhará a oposição ao juiz, sem efeito suspensivo do procedimento, que, depois de
regular instrução e manifestação do Ministério Público, decidirá até a data do casamento.
c) encaminhará os autos, imediatamente, ao juiz, que intimará o oponente e os nubentes a
indicarem provas, que serão produzidas e, ouvido o Ministério Público, decidirá.
d) dará ciência do fato aos nubentes para que indiquem provas que desejam produzir, colhen-
do-as e em seguida remeterá os autos ao juiz que, ouvido o Ministério Público, decidirá.
e) dará ciência do fato aos nubentes, para que indiquem provas que desejam produzir e re-
meterá os autos ao juiz que decidirá depois da produção das provas pelo oponente e pelos
nubentes, com a participação do Ministério Público.

São os arts. 1.526 e 1.530 do CC e o art. 67, § 5º, da Lei n. 6.015/73 (Lei de Registros Públi-
cos - LRP):

Art. 1.526 [CC]. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a au-
diência do Ministério Público.

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Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiros, a habilita-
ção será submetida ao juiz.
Art. 1.530 [CC]. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição,
indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu.
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos
alegados, e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé.
Art. 67 [LRP]. Na habilitação para o casamento, os interessados, apresentando os documentos
exigidos pela lei civil, requererão ao oficial do registro do distrito de residência de um dos nubentes,
que lhes expeça certidão de que se acham habilitados para se casarem.
§ 1º Autuada a petição com os documentos, o oficial mandará afixar proclamas de casamento em
lugar ostensivo de seu cartório e fará publicá-los na imprensa local, se houver, Em seguida, abrirá
vista dos autos ao órgão do Ministério Público, para manifestar-se sobre o pedido e requerer o que
for necessário à sua regularidade, podendo exigir a apresentação de atestado de residência, firma-
do por autoridade policial, ou qualquer outro elemento de convicção admitido em direito.
§ 2º Se o órgão do Ministério Público impugnar o pedido ou a documentação, os autos serão enca-
minhados ao Juiz, que decidirá sem recurso.
§ 3º Decorrido o prazo de quinze (15) dias a contar da afixação do edital em cartório, se não apare-
cer quem oponha impedimento nem constar algum dos que de ofício deva declarar, ou se tiver sido
rejeitada a impugnação do órgão do Ministério Público, o oficial do registro certificará a circuns-
tância nos autos e entregará aos nubentes certidão de que estão habilitados para se casar dentro
do prazo previsto em lei.
§ 4º Se os nubentes residirem em diferentes distritos do Registro Civil, em um e em outro se publi-
cará e se registrará o edital.
§ 5º Se houver apresentação de impedimento, o oficial dará ciência do fato aos nubentes, para que
indiquem em três (3) dias prova que pretendam produzir, e remeterá os autos a juízo; produzidas
as provas pelo oponente e pelos nubentes, no prazo de dez (10) dias, com ciência do Ministério
Público, e ouvidos os interessados e o órgão do Ministério Público em cinco (5) dias, decidirá o
Juiz em igual prazo.
§ 6º Quando o casamento se der em circunscrição diferente daquela da habilitação, o oficial do
registro comunicará ao da habilitação esse fato, com os elementos necessários às anotações nos
respectivos autos.
Letra e.

006. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) O casamento realizado


no Brasil prova-se pela certidão de registro, não se admitindo, em qualquer hipótese, outra es-
pécie de prova.

Ao contrário do dito na questão, no caso de justificada perda ou falta do registro civil (ex.:
cartório onde foi feito o registro do casamento “pegou fogo”), é admissível qualquer outra
espécie de prova. É o art. 1.543 do CC:

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Família – Parte II
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Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro.
Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie
de prova.
Errado.

007. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) É pressuposto para o


reconhecimento da putatividade do casamento que tenha sido contraído de boa-fé por ambos
os cônjuges ou apenas por um deles.

O casamento putativo só se dá em favor dos filhos (cuja boa-fé é presumida) e do cônjuge de


boa-fé, conforme art. 1.561 do CC. Por isso, está correto o item. Veja o referido preceito:

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casa-
mento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§ 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e
aos filhos aproveitarão.
§ 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos
filhos aproveitarão.
Certo.

008. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP/2019/ADAP-


TADA) A sociedade conjugal termina
a) pelo divórcio que só pode ser concedido desde que haja partilha prévia de bens.
b) pela separação judicial que pode ou não pôr termo aos deveres de coabitação, fidelidade
recíproca e ao regime de bens.
c) pela morte de um dos cônjuges ou tentativa de morte.
d) pela nulidade ou anulação do casamento.
e) pelo abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo.

a) Errada. Divórcio pode ser concedido independentemente de partilha prévia. É o art. 1.581 do
CC:

Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens.

b) Errada. A separação judicial necessariamente põe termo ao regime de bem e aos deveres de
coabitação e de fidelidade recíproca, consoante art. 1.576 do CC:

Art. 1.576. A separação judicial põe termo aos deveres de coabitação e fidelidade recíproca e ao
regime de bens.
Parágrafo único. O procedimento judicial da separação caberá somente aos cônjuges, e, no caso de
incapacidade, serão representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão.

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c) Errada. Tentativa de morte não extingue casamento, mas apenas a morte, conforme art.
1.571 do CC:

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I – pela morte de um dos cônjuges;
II – pela nulidade ou anulação do casamento;
III – pela separação judicial;
IV – pelo divórcio.
§ 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-
-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.
§ 2º Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o nome
de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial.

d) Certa. É ao art. 1.571, II, do CC.


e) Errada. Para efeito de prova objetiva de concurso público, o abandono do lar não é hipótese
de extinção doa sociedade conjugal por não estar previsto no art. 1.571 do CC.
Letra d.

009. (CESPE/DEFENSOR/DPE-AC/2017/ADAPTADA) Optando pelo divórcio extrajudicial, os


nubentes poderão deliberar, na mesma escritura, sobre partilha de bens, guarda de filhos e
alimentos.

É vedada escritura pública de divórcio se houver filhos menores, razão por que não é viável
tratar de guarda de filhos na escritura, ao contrário do exposto na questão. É o art. 733 do CPC:

Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união estável,
não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados
por escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 73132.
§ 1º A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de
registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
§ 2º O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advogado
ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.
Errado.

010. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Presumem-se concebidos na cons-


tância do casamento os filhos havidos por fecundação artificial homóloga, salvo se faleci-
do o marido.
32
“Art. 731. A homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida
em petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão:
I – as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;
II – as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III – o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
IV – o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

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Parte final da questão está errada: a presunção vale mesmo se marido já tiver falecido. É o art.
1.597, III, do CC:

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:


I – nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II – nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, sepa-
ração judicial, nulidade e anulação do casamento;
III – havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV – havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de con-
cepção artificial homóloga;
V – havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
Errado.

011. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Em nenhuma hipótese pode alguém


vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento.

Pode no caso de erro ou falsidade do registro, conforme art. 1.604 do CC:

Art. 1.604. Ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo
provando-se erro ou falsidade do registro.
Errado.

012. (VUNESP/PROCURADOR/AVAREPREV-SP/2020/ADAPTADA) Cristiano casou-se com


Joana e com ela teve duas filhas antes de se divorciarem. Após o divórcio, Cristiano casou-se
com Matilde e teve 1 filho, Leonardo, e, após dez anos de casamento, em meio a uma discus-
são, Matilde afirmou que o filho do casal, Leonardo, era, na verdade, filho de João, colega de
trabalho de Matilde. Diante da situação hipotética e o previsto expressamente no Código Civil,
basta a confissão de Matilde para excluir a paternidade de Cristiano.

Não basta, conforme art. 1.602 do CC:

Art. 1.602. Não basta a confissão materna para excluir a paternidade.


Errado.

013. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) É suficiente o adultério da mulher, des-


de que por ela confessado, para ilidir a presunção legal da paternidade.

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Não basta, conforme art. 1.602 do CC:

Art. 1.600. Não basta o adultério da mulher, ainda que confessado, para ilidir a presunção legal da
paternidade.
Errado.

014. (VUNESP/PROCURADOR/AVAREPREV-SP/2020/ADAPTADA) Cristiano casou-se com


Joana e com ela teve duas filhas antes de se divorciarem. Após o divórcio, Cristiano casou-se
com Matilde e teve 1 filho, Leonardo, e, após dez anos de casamento, em meio a uma discus-
são, Matilde afirmou que o filho do casal, Leonardo, era, na verdade, filho de João, colega de
trabalho de Matilde. Diante da situação hipotética e o previsto expressamente no Código Civil,
a prova da impotência de Cristiano, para gerar, à época da concepção, ilide a presunção da
paternidade.

É o art. 1.599 do CC:

Art. 1.599. A prova da impotência do cônjuge para gerar, à época da concepção, ilide a presunção
da paternidade.
Certo.

015. (VUNESP/PROCURADOR/AVAREPREV-SP/2020/ADAPTADA) Cristiano casou-se com


Joana e com ela teve duas filhas antes de se divorciarem. Após o divórcio, Cristiano casou-se
com Matilde e teve 1 filho, Leonardo, e, após dez anos de casamento, em meio a uma discus-
são, Matilde afirmou que o filho do casal, Leonardo, era, na verdade, filho de João, colega de
trabalho de Matilde. Diante da situação hipotética e o previsto expressamente no Código Civil,
cabe a Cristiano contestar a paternidade de Leonardo e, no caso de morte de Cristiano, a ação
será extinta, não sendo possível às filhas de Cristiano prosseguir com a ação.

Realmente, cabe ao marido (Cristiano) contestar a paternidade presumida, conforme art. 1.601
do CC. Todavia, ao contrário do dito na questão, havendo a morte de Cristiano, as suas filhas
podem prosseguir na ação (art. 1.601, parágrafo único, do CC). Veja o referido preceito:

Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher,
sendo tal ação imprescritível.
Parágrafo único. Contestada a filiação, os herdeiros do impugnante têm direito de prosseguir na
ação.
Errado.

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016. (VUNESP/PROCURADOR/AVAREPREV-SP/2020/ADAPTADA) Cristiano casou-se com


Joana e com ela teve duas filhas antes de se divorciarem. Após o divórcio, Cristiano casou-se
com Matilde e teve 1 filho, Leonardo, e, após dez anos de casamento, em meio a uma discus-
são, Matilde afirmou que o filho do casal, Leonardo, era, na verdade, filho de João, colega de
trabalho de Matilde. Diante da situação hipotética e o previsto expressamente no Código Civil,
contestada a filiação, os herdeiros do impugnante não têm direito de prosseguir na ação.

Questão contraria o parágrafo único do art. 1.601 do CC:

Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher,
sendo tal ação imprescritível.
Parágrafo único. Contestada a filiação, os herdeiros do impugnante têm direito de prosseguir na
ação.
Errado.

017. (VUNESP/PROCURADOR/AVAREPREV-SP/2020/ADAPTADA) Cristiano casou-se com


Joana e com ela teve duas filhas antes de se divorciarem. Após o divórcio, Cristiano casou-se
com Matilde e teve 1 filho, Leonardo, e, após dez anos de casamento, em meio a uma discus-
são, Matilde afirmou que o filho do casal, Leonardo, era, na verdade, filho de João, colega de
trabalho de Matilde. Diante da situação hipotética e o previsto expressamente no Código Civil,
se iniciada a ação de prova de filiação por Leonardo, os eventuais herdeiros poderão continuá-
-la, mesmo após extinto o processo.

Parte final da questão está errada: não pode estar extinto o processo. Veja o parágrafo único
do art. 1.606 do CC:

Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando aos herdeiros, se
ele morrer menor ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão continuá-la, salvo se julgado
extinto o processo.
Errado.

018. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Contam-se, na linha reta, os graus de


parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de
um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.

É o art. 1.594 do CC:

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Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colate-
ral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo
até encontrar o outro parente.
Certo.

019. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Na linha colateral, a afinidade entre pa-


rentes não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.

Extingue-se sim. Não há, porém, a extinção na linha reta por afinidade após o fim do casamen-
to. É o art. 1.595, § 2º, do CC:

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.
§ 1 o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do côn-
juge ou companheiro.
§ 2 o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.
Errado.

020. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) No regime de comu-


nhão parcial de bens, entram na comunhão os bens adquiridos na constância do casamento
por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges.

É o art. 1.660, I, do CC:

Art. 1.660. Entram na comunhão:


I – os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de
um dos cônjuges;
II – os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior;
III – os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
IV – as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
V – os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do
casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.
Certo.

021. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) O regime de comunhão


universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges, mas os
proventos do trabalho pessoal de cada consorte estão excluídos da comunhão.

O art. 1.668 do CC prevê bens particulares, entre os quais estão os proventos de cada consorte,
conforme inciso V do art. 1.668 do CC. Por isso, está correto o item. Veja os arts. 1.667 e 1.668
do CC, além dos incisos V a VII do art. 1.659 do CC:

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Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e
futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.”

Art. 1.668. São excluídos da comunhão:


I – os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu
lugar;
II – os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a
condição suspensiva;
III – as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou
reverterem em proveito comum;
IV – as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunica-
bilidade;
V – Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.

Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:


V – os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI – os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII – as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
Certo.

022. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) No regime de participa-


ção final nos aquestos, integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao
casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento.

É o art. 1.673 do CC:

Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele
adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento.
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremen-
te alienar, se forem móveis.
Certo.

023. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) Qualquer que seja o


regime de bens do casamento, nenhum dos cônjuges pode, sem o consentimento do outro,
alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis.

No regime da separação convencional (= absoluta) ou no regime da participação dos aquestos


com previsão no pacto antenupcial, não há necessidade de consentimento conjugal. São os
arts. 1.647 e 1.656 do CC:

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Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, exceto no regime da separação absoluta:
I – alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II – pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III – prestar fiança ou aval;
IV – fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar fu-
tura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelece-
rem economia separada.

Art. 1.656. No pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos aquestos, poder-se-á
convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares.
Errado.

024. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019) Ana Lúcia e Heitor, ela com sessenta e cinco, ele com
sessenta e sete anos, casam-se pelo regime de comunhão universal, tendo antes estipulado
pacto antenupcial por escritura pública para adoção desse regime; dois anos depois arrepen-
dem-se e requerem judicialmente alteração do regime para o de comunhão parcial de bens. Em
relação a ambas as situações,
a) era possível a estipulação do pacto antenupcial, pois ambos não haviam atingido setenta
anos de idade; é possível também a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial
em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e
ressalvados os direitos de terceiros.
b) embora possível o pacto antenupcial, a alteração do regime de bens escolhido só é possível
após três anos de casamento, mediante autorização judicial, explicitação de motivos e ressal-
vados direitos de terceiros.
c) era possível a alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido de
ambos os cônjuges, sem especificação de razões, por se tratar de questões privadas do casal;
era possível o pacto antenupcial, mas por serem maiores de 65 anos somente para o regime
de separação de bens.
d) não era possível o pacto antenupcial porque Ana Lúcia já tinha 65 anos de idade, o que tor-
nava obrigatório o regime de separação de bens; a alteração do regime de bens era no caso
necessária, para o citado regime de separação de bens, prescindindo de autorização judicial.
e) era possível o pacto antenupcial, escolhendo qualquer regime, pois não haviam atingido
setenta anos; era possível alterar o regime de bens, a qualquer tempo, prescindindo de autori-
zação judicial, mas ressalvados direitos de terceiros.

Como nenhum dos consortes tinham de mais de 70 anos, o casal podia escolher o regime de
bens: o regime legal é apenas para quem tem mais de 70 anos (art. 1.641, II, CC). De qualquer

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forma, havendo motivos e respeitado os direitos de terceiros, o casal pode mudar o regime de
bens mediante pedido judicial (art. 1.639, § 2º, do CC e art. 734 do CPC). A alternativa “A” é a
que se adapta a isso, razão por que é o gabarito. Veja os referidos dispositivos:

Art. 1.639 [CC]. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus
bens, o que lhes aprouver.
§ 1 o O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento.
§ 2 o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado
de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de
terceiros.
Art. 1.641 [CC]. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I – das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;
III – de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.
Art. 734 [CPC]. A alteração do regime de bens do casamento, observados os requisitos legais,
poderá ser requerida, motivadamente, em petição assinada por ambos os cônjuges, na qual serão
expostas as razões que justificam a alteração, ressalvados os direitos de terceiros.
§ 1º Ao receber a petição inicial, o juiz determinará a intimação do Ministério Público e a publicação
de edital que divulgue a pretendida alteração de bens, somente podendo decidir depois de decorri-
do o prazo de 30 (trinta) dias da publicação do edital.
§ 2º Os cônjuges, na petição inicial ou em petição avulsa, podem propor ao juiz meio alternativo de
divulgação da alteração do regime de bens, a fim de resguardar direitos de terceiros.
§ 3º Após o trânsito em julgado da sentença, serão expedidos mandados de averbação aos car-
tórios de registro civil e de imóveis e, caso qualquer dos cônjuges seja empresário, ao Registro
Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins.
Letra a.

025. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) Na fixação da guarda


dos filhos, deve preponderar o princípio do melhor interesse da criança ou adolescente.

A doutrina e a jurisprudência são pacíficas em estabelecer o princípio do melhor interesse da


criança e do adolescente como diretriz para todas as questões relativas aos mirins, inclusive
para efeito de guarda. No caso de guarda, o CC faz referência à necessidade de atender aos
interesses do filho em vários momentos, como nos §§ 2º e 3º do art. 1.583 do CC:

Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.


§ 1º Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o
substitua (art. 1.584, § 5º) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício
de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder
familiar dos filhos comuns.

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§ 2º Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma equi-
librada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos
filhos.
I – (revogado);
II – (revogado);
III – (revogado).
§ 3º Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela que
melhor atender aos interesses dos filhos.
§ 4º (VETADO).
§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos
filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para
solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações
que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos.
Certo.

026. (CESPE/DEFENSOR/DPE-AC/2017/ADAPTADA) Será vedado ao juiz impor a guarda


compartilhada caso um dos genitores declare que não deseja exercer a guarda do menor.

É a parte final do § 2º do art. 1.584 do CC:

Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:


I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de se-
paração, de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar;
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão da distribui-
ção de tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe.
§ 1º Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado da guarda compar-
tilhada, a sua importância, a similitude de deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções
pelo descumprimento de suas cláusulas.
§ 2º Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos
os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
§ 3º Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda com-
partilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orien-
tação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar, que deverá visar à divisão equilibrada do
tempo com o pai e com a mãe.
§ 4º A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula de guarda unilateral ou
compartilhada poderá implicar a redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor.
§ 5º Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a
guarda a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferên-
cia, o grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade.

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DIREITO CIVIL
Família – Parte II
Carlos Elias
§ 6º Qualquer estabelecimento público ou privado é obrigado a prestar informações a qualquer dos
genitores sobre os filhos destes, sob pena de multa de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00 (qui-
nhentos reais) por dia pelo não atendimento da solicitação.
Certo.

027. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) A aplicação da guarda


compartilhada dos filhos depende da existência de consenso entre os genitores.

Não há necessidade de consenso. O juiz decretará a guarda compartilhada se não houver con-
senso, salvo desinteresse expresso de um dos pais (art. 1.584, § 2º, CC) ou motivo grave (art.
1.586, CC). Veja os dispositivos:

Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:


I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de sepa-
ração, de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar;
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão da distribuição
de tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe.
§ 2º Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos
os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.

Art. 1.586. Havendo motivos graves, poderá o juiz, em qualquer caso, a bem dos filhos, regular de
maneira diferente da estabelecida nos artigos antecedentes a situação deles para com os pais.
Certo.

028. (FCC/JUIZ/TJ-PE/2015/ADAPTADA) O pai e a mãe, enquanto no exercício do po-


der familiar,
a) são usufrutuários dos bens dos filhos e têm a administração dos bens dos filhos menores
sob sua autoridade.
b) não terão o usufruto nem a administração dos bens dos filhos menores, salvo por decisão
judicial, que dispensar a nomeação de um curador
c) só serão usufrutuários dos bens imóveis dos filhos depois do registro do usufruto no Serviço
de Registro de Imóveis, e, para administrar esses bens, deverão prestar caução idônea, exceto
se o juiz a dispensar.
d) têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade, mas não são usufru-
tuários desses bens, porque as respectivas rendas devem ser depositadas para entrega aos
filhos quando se tornarem capazes
e) são usufrutuários dos bens dos filhos, mas não têm a administração dos bens destes, por-
que devem ser entregues à administração de um curador.

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É o art. 1.689 do CC:

Art. 1.689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar:


I – são usufrutuários dos bens dos filhos;
II – têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade.
Letra a.

029. (FCC/JUIZ/TJ-PE/2015/ADAPTADA) Sendo várias as pessoas obrigadas a prestar


alimentos,
a) todas devem concorrer igualmente, e sendo intentada ação contra uma delas, poderão ser
chamadas as demais a integrar a lide.
b) todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos e deverão ser demandadas
em litisconsórcio passivo necessário.
c) nenhuma delas poderá ser demandada, enquanto o juiz não deliberar quem deverá prestá-los.
d) todas são devedoras solidárias, podendo o credor de alimentos demandar qualquer delas
para haver o de que necessita para sua sobrevivência.
e) todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra
uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

É a segunda parte do art. 1.698 do CC:

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de supor-
tar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas
obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e,
intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.
Letra e.

030. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) O direito à prestação


de alimentos entre os parentes, cônjuges ou companheiros é recíproco. Entre parentes, na
linha reta, é extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em
grau, uns em falta dos outros.

É o art. 1.696 do CC:

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.
Certo.

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031. (FUNDAÇÃO CEFETBAHIA/PROMOTOR/MPE-BA/2018/ADAPTADA) O dever de pres-


tar alimentos é recíproco, devendo recair sobre o parente com maior poder aquisitivo.

A segunda parte está errada por não ser um critério adotado pelo CC para definir os parentes
a serem obrigados a prestar alimentos. É o art. 1.696 do CC:

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.
Errado.

032. (CONSULPLAN/OFICIAL/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) A maioridade dos fi-


lhos não acarreta a exoneração automática da obrigação de prestar alimentos.

Não é automática! É preciso decisão judicial. É a Súmula n. 358/STJ (“O cancelamento de


pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante
contraditório, ainda que nos próprios autos”).
Certo.

033. (FUNDAÇÃO CEFETBAHIA/PROMOTOR/MPE-BA/2018/ADAPTADA) A maioridade ex-


tingue automaticamente o direito dos filhos de percepção dos alimentos pelos pais porque são
devidos com base na relação de parentesco.

Não há extinção automática! É preciso decisão judicial. Enquanto o filho é menor, o fundamen-
to do dever alimentar é o poder familiar. Com a maioridade, o fundamento passa a ser a rela-
ção do parentesco. Por isso, a maioridade não extingue automaticamente os alimentos. Veja
Súmula n. 358/STJ:

O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à


decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

Errado.

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GABARITO
1. E 12. E 23. E
2. E 13. E 24. a
3. C 14. C 25. C
4. C 15. E 26. C
5. e 16. E 27. C
6. E 17. E 28. a
7. C 18. C 29. e
8. d 19. E 30. C
9. E 20. C 31. E
10. E 21. C 32. C
11. E 22. C 33. E

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Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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