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DIREITO CIVIL

Direito das Famílias – Parte I

Livro Eletrônico
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uso, não autorizada expressamente, seja ela onerosa ou não, sujeitando-se o transgressor às
penalidades previstas civil e criminalmente.

CÓDIGO:
231013019936

ROBERTA QUEIROZ

Mestre em Direito pela Universidade Católica de Brasília, com dissertação na área


de Direito Processual Civil – Negócios Jurídicos Processais. Especialista em Direito
Processual Civil, pela Universidade do Sul de Santa Catarina, em novembro de 2009.
Graduada em Direito, pela Universidade Católica de Brasília, em dezembro de 2005.
Foi professora universitária do curso de Direito da Universidade Católica de Brasília.
Docente nas disciplinas de Direito Civil e Direito Processual Civil desde 2007 para
pós-graduação, preparatório de Exame de Ordem e concursos das carreiras jurídicas.
Professora de cursos de aperfeiçoamento na advocacia em Direito Civil e Processo
Civil na Escola Superior da Advocacia de Brasília – ESA/DF. Coordenadora do curso
preparatório para Exame de Ordem do Gran Cursos Online. Advogada inscrita na
OAB-DF.

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Direito Civil
Direito das Famílias – Parte I
Roberta Queiroz

SUMÁRIO
Direito das Famílias – Parte I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1. Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2. Principiologia do Direito das Famílias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.1. Função Social das Famílias (226 CF). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2 Concepção Constitucional e Tipos de Família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3. Casamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.1. Impedimentos para o Casamento (1.521 – 1.522) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2. Causas Suspensivas de Casamento (1.523 – 1.524). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.3. Habilitação e Celebração de Casamento (1.525 – 1.532). . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.4. Provas do Cancelamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.5. Invalidade do casamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.6. Eficácia do Casamento (1.565 – 1.570) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.7. Dissolução do Casamento (1.571 – 1.582). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.8. Decisões Relevantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4. Regime de Bens (1.639 – 1.688) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.1. Princípios que Regem o Regime de Bens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.2. Regras Gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.3. Regras Específicas de Regimes de Bem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.4. Decisões Relevantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Questões de Concurso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Gabarito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Gabarito Comentado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

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Direito das Famílias – Parte I
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DIREITO DAS FAMÍLIAS – PARTE I

1. INTRODUÇÃO

Hoje é dia especial...


Hoje vamos falar de amor...
Vamos falar de felicidade... E não esqueça... como diz Lulu Santos:

Precisamente, conversamos sobre o conteúdo do artigo 1511 a 1783-A do Código Civil


– a parte linda de Direito das Famílias...
Vamos fracionar esse amável tema de Direito em dois encontros, primeiro falaremos
sobre casamento, depois o restante da matéria...
Então, como sempre, estamos seguindo a ordem do Código Civil...
• Direito das Famílias: artigos 1511 a 1783-A do Código Civil.
Vamos iniciar nossos trabalhos?

2. PRINCIPIOLOGIA DO DIREITO DAS FAMÍLIAS


Para começar, nada melhor do que recordar os ensinamentos do nosso professor amado
Pablito...

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A família é, sem sombra de dúvida, o elemento propulsor de nossas maiores felicidades e, ao


mesmo tempo, é na sua ambiência em que vivenciamos as nossas maiores angústias, frustrações,
traumas e medos.
Muitos dos nossos atuais problemas têm raiz no passado, justamente em nossa formação familiar,
o que condiciona, inclusive, as nossas futuras tessituras afetivas.
Somos e estamos umbilicalmente unidos à nossa família.
O conceito de família reveste-se de alta significação psicológica, jurídica e social, impondo-nos
um cuidado redobrado em sua delimitação teórica, a fim de não corrermos o risco de cair no
lugar-comum da retórica vazia ou no exacerbado tecnicismo desprovido de aplicabilidade prática.1

A parte do CC dedicada ao Direito das Famílias tem a peculiaridade de ser regido, em


sua maior parte, por regras existenciais.
A família, ao longo da história, teve diferentes formatos e interpretações. É um instituto
em constante evolução e isso decorre da própria evolução da sociedade. Compreender
a família impõe compreender o próprio contexto histórico em que inserida. Assim é que
o estudo do Direito de Família exige atualidade. Esse estudo abrange conteúdos como:
casamento, união estável, relações de parentesco, filiação, alimentos, bens de família,
tutela, curatela e guarda.
Para quem estuda Direito das Famílias, seja para vida, seja para a prova, a compreensão
dos princípios que a seguir serão expostos ajudará na solução de questões para as quais,
numa análise inicial, parece não haver regra aplicável.
Sobre o tema, Maria Berenice Dias explica que:

1
Stolze, Pablo; Pamplona Filho, Rodolfo Manual de direito civil – volume único / Pablo Stolze; Rodolfo Pamplona Filho. – 4.
ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

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o ordenamento jurídico positivo se compõe de princípios e regras cuja diferença não é apenas de
grau de importância. Acima das regras legais, existem princípios que incorporam as exigências
de justiça e de valores éticos que constituem o suporte axiológico, conferindo coerência interna
e estrutura harmônica a todo o sistema jurídico.2

A professora continua, acrescentando que:

os princípios são normas jurídicas que se distinguem das regras, não só porque têm alto grau de
generalidade, mas também por serem mandatos de otimização. Possuem um colorido axiológico
mais acentuado do que as regras, desvelando mais nitidamente os valores jurídicos e políticos
que condensam. Devem ter conteúdo de validade universal. Consagram valores generalizantes
e servem para balizar todas as regras, as quais não podem afrontar as diretrizes contidas nos
princípios3

Como se extrai das palavras de Maria Berenice, os princípios têm esse grau generalizante,
de modo que sua violação é mais ampla e, por conseguinte, mais grave que a violação de
uma regra. As regras, por sua vez, e como também ensina a referida professora:

são normas que incidem sob a forma “tudo ou nada”, o que não sucede com os princípios.
Quando, aparentemente, duas regras incidem sobre o mesmo fato, é aplicada uma ou outra,
segundo critérios hierárquico, cronológico ou de especialidade. Aplica-se uma regra e considera-
se a outra inválida. As regras podem ser cumpridas ou não, contêm determinações de âmbito
fático e jurídico com baixa densidade de generalização. Quando são admitidas exceções, não
se está frente a um princípio, mas de uma regra concorrente ou subordinada à outra que lhe é
incompatível ou contrária4

Conhecê-los e, sobretudo, compreendê-los fará a diferença na hora da prova e na vida


prática jurídica, para solução de casos concretos.
I – Princípio da Dignidade da pessoa humana tem previsão no artigo 1º da CF, que rege
todo o ordenamento civil – é um guia geral.
II – Princípio da Solidariedade é o epicentro do Direito das Famílias e está previsto no
artigo 3º da CF - no direito das famílias, a solidariedade é verificável na ideia de que todos
os membros de uma entidade familiar e cada um deles, considerados individualmente,
respondem por todos os demais e por cada um, de forma recíproca. Esse princípio não se
limita ao aspecto material, devendo ser concebido num sentido amplo, tendo um caráter
afetivo, social, moral, patrimonial e espiritual...
Como menciona Flávio Tartuce:

2
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 13ª edição. Salvador: Juspodivm, 2020.
3
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 13ª edição. Salvador: Juspodivm, 2020.
4
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 13ª edição. Salvador: Juspodivm, 2020.

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ser solidário significa responder pelo outro, o que remonta à ideia de solidariedade do direito das
obrigações. Quer dizer, ainda, preocupar-se com a outra pessoa. Desse modo, a solidariedade
familiar deve ser tida em sentido amplo, tendo caráter afetivo, social, moral, patrimonial,
espiritual e sexual.5

É um princípio de grande relevância, porquanto aplicável para diferentes questões


relacionadas ao direito de família, a saber:
• na responsabilidade civil dos pais em relação aos filhos (arts. 932, I e 933);
• na comunhão de vida instituída pela família, com a cooperação entre seus membros
(art.1.513);
• na mútua assistência moral e material entre os cônjuges (art. 1.566) e entre
companheiros (art. 1.724);
• na colaboração dos cônjuges na direção da família (art. 1.567); na obrigação dos
cônjuges a concorrerem, na proporção de seus bens e dos rendimentos para o sustento
da família (art. 1.568);
• na adoção (art. 1.618);
• no poder familiar (art. 1.630);
• no regime matrimonial de bens legal e o regime legal de bens da união estável é o da
comunhão dos adquiridos após o início da união (comunhão parcial), sem necessidade
de se provar a participação do outro cônjuge ou companheiro na aquisição (arts.
1.640 e 1.725);
• no dever de prestar alimentos, devido aos parentes, aos cônjuges ou companheiros
que poderão pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação (art. 1.694);
• no direito real de habitação, presente no art. 1.831, da lei civil, que tem como essência
a proteção do direito de moradia do cônjuge supérstite.
III – Princípio da Igualdade entre os filhos – artigo 227 da CF e 1.596 do CC. Não
existe diferença entre os filhos, sejam eles do casamento, adotados, fora do casamento,
filhos socioafetivos (decorre do afeto), filho é filho. Todos têm direitos iguais sobre a
herança dos pais.

Está superada antiga discriminação de filhos que constava no art. 332 do CC/1916, cuja lamentável
redação era a seguinte: “o parentesco é legítimo, ou ilegítimo, segundo procede, ou não de
casamento; natural, ou civil, conforme resultar de consanguinidade, ou adoção”. Esse dispositivo
já havia sido revogado pela Lei 8.560/1992, que regulamentou a investigação de paternidade dos

5
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.

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filhos havidos fora do casamento. Em suma, juridicamente, todos os filhos são iguais perante
a lei, havidos ou não durante o casamento. Essa igualdade abrange os filhos adotivos, os filhos
socioafetivos e os havidos por inseminação artificial heteróloga (com material genético de
terceiro). Diante disso, não se pode mais utilizar as odiosas expressões filho adulterino, filho
incestuoso, filho ilegítimo, filho espúrio ou filho bastardo. Apenas para fins didáticos utiliza-se
o termo filho havido fora do casamento, eis que, juridicamente, todos são iguais.6

IV – Princípio da Igualdade entre os cônjuges e companheiros – artigo 226 e 227 da


CF. Hoje não se fala mais sobre pátrio poder, mas em poder familiar. O poder que os pais
têm sobre os filhos é igual. O reflexo é em relação à guarda, por exemplo.
V – Princípio da não intervenção previsto no artigo 1.513 do CC: “ninguém pode intervir
no âmbito familiar”. Se houver, tem que ser mínimo e estritamente necessária.
Ainda relacionado ao princípio da não intervenção, temos que o § 7º da CF, seguido do
art. 1.565, §2º, os quais estabelecem que o planejamento familiar é de livre decisão do
casal, sendo vedada qualquer tipo de coerção. Essa vedação, entretanto, não impede que o
Estado incentive o controle de natalidade, planejamento familiar ou eduque as famílias por
meio de políticas públicas. Porém, a decisão final deve ser sempre do casal. O dispositivo
constitucional que trata do planejamento familiar foi regulamentado pela Lei n. 9.623/1996.
VI – Princípio do maior interesse da criança e do adolescente (art. 227, caput, da
CF/1988 e arts. 1.583 e 1.584 do CC)
Relativamente à criança e ao adolescente, esse é um princípio de ampla aplicação no
que diz respeito ao estabelecimento da guarda. No que se refere, por exemplo, à guarda
compartilhada, a leitura dos dispositivos legais, que serão mais bem analisados quando do
estudo dessa matéria, revelam que a guarda compartilhada tem prioridade em detrimento
da unilateral, e isso ocorre porque aquela se revela, em termos gerais, mais benéfica à
criança ou ao adolescente.
VII – Princípio da afetividade - Afetividade rege as relações familiares e, por isso, o
termo “Direito das Famílias” – pela pluralidade de formas de afeto. Por meio desse princípio,
temos, por exemplo, a análise da parentalidade socioafetiva. Veja as palavras da maravilhosa
Ministra Nancy:

JURISPRUDÊNCIA
A quebra de paradigmas do Direito de Família tem como traço forte a valorização
do afeto e das relações surgidas da sua livre manifestação, colocando à margem do
sistema a antiga postura meramente patrimonialista ou ainda aquela voltada apenas
ao intuito de procriação da entidade familiar. Hoje, muito mais visibilidade alcançam
as relações afetivas, sejam entre pessoas de mesmo sexo, sejam entre o homem e

6
IBIDEM

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a mulher, pela comunhão de vida e de interesses, pela reciprocidade zelosa entre os


seus integrantes. Deve o juiz, nessa evolução de mentalidade, permanecer atento às
manifestações de intolerância ou de repulsa que possam porventura se revelar em
face das minorias, cabendolhe exercitar raciocínios de ponderação e apaziguamento de
possíveis espíritos em conflito. A defesa dos direitos em sua plenitude deve assentar
em ideais de fraternidade e solidariedade, não podendo o Poder Judiciário esquivar-se
de ver e de dizer o novo, assim como já o fez, em tempos idos, quando emprestou
normatividade aos relacionamentos entre pessoas não casadas, fazendo surgir, por
consequência, o instituto da união estável. A temática ora em julgamento igualmente
assenta sua premissa em vínculos lastreados em comprometimento amoroso (STJ,
REsp 1.026.981/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04.02.2010, DJe 23.02.2010).

Podemos estabelecer algumas consequências do princípio da afetividade:


a) a igualdade entre todos os filhos, independentemente de sua origem (art. 227, § 6º, CF);
b) a adoção, como escolha afetiva, com plena igualdade de direitos em termos de filiação
(art. 227, §§ 5º e 6º, CF);
c) reconhecimento dos mais variados tipos de família, inclusive as famílias homoafetivas,
eudemonistas (cujo conceito será melhor trabalhado oportunamente) e a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes, dentre outras, consideradas todas
no amplo conceito de família constitucionalmente protegida (art. 226,CF);

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d) o direito à convivência familiar como prioridade absoluta da criança e do adolescente


(art. 227, CF).

2.1. FUNÇÃO SOCIAL DAS FAMÍLIAS (226 CF)

Pela importância desse tema, que decorre do princípio implícito de socialidade que rege
o direito civil como um todo, a função social da família é extraída do artigo 226 da CF, que
estabelece que a família é a base da sociedade, recebendo uma especial proteção do Estado.
Assim sendo, as relações familiares serão analisadas dentro do contexto social, dentro
daquilo que a sociedade hoje apresenta ao Estado.
Se a sociedade muda, é preciso que a concepção de família também seja alterada, para,
assim, atender ao ideal de realização de todos os integrantes da entidade familiar.

Assim, estaremos efetivando a função social das famílias.


Esse princípio é um reflexo do movimento de mudança do paradigma liberal-individualista,
apoiado fortemente na teoria positivista, para o paradigma social-personalista, representado
por teorias pós-positivistas que colocam a pessoa humana no centro das atenções. A
pessoa passa a ocupar o lugar que outrora foi destacado ao patrimônio, de forma que são
incorporados valores éticos e sociais para a interpretação e aplicação do Direito.

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Temos, então, que a família é a base da sociedade e que, além disso, tem uma função
social que deve ser considerada nas mais diversas interpretações que se façam sobre esse
instituto.

Em suma, não reconhecer função social à família e à interpretação do ramo jurídico que a estuda
é como não reconhecer função social à própria sociedade, premissa que fecha o estudo dos
princípios do Direito de Família Contemporâneo.7

2.2 CONCEPÇÃO CONSTITUCIONAL E TIPOS DE FAMÍLIA


A regra de ouro hoje quando se fala em Direito das Famílias é a pluralidade familiar.
Há variadas situações.
O artigo 226 da CF dispõe que família é decorrente de: casamento, união estável ou
família monoparental.
No entanto, o conceito de família não está engessado pela CF, devendo esse rol ser
interpretado como exemplificativo.
Podemos mencionar algumas classificações existentes na doutrina:
i. UNIPESSOAL – sozinho (single) - essa é uma classificação nem sempre aceita, na medida
em que para grande parte da doutrina, a família envolve pelo menos duas pessoas. Contudo,
já falamos, inclusive, sobre o entendimento sumular do STJ que estabelece proteção para
o bem de família da pessoa solteira, viúva e divorciada (Súmula 364/STJ: “O conceito de
impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas
solteiras, separadas e viúvas.)
ii. MATRIMONIAL – constituída pelo casamento - é aquela oriunda do casamento.
iii. INFORMAL – é aquela decorrente da união de pessoas com objetivo de constituição
de família. Como visto, a partir dos importantes julgados ADI 4.277 e ADPF 132, do STF,
se caracterizam pela união pública e notória entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos
diversos, com o objetivo de constituírem família.
iv. HOMOAFETIVA – unidos pelo amor independentemente do sexo – vale a pena mencionar
a ADPF n. 132/RJ, ADI n. 4.277/DF e REsp. 1183378/RS. Essa modalidade se aplica tanto à

7
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.

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união estável quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, para atender ao princípio da dignidade da pessoa humana. Conforme
será mais bem analisado em tópico próprio, as uniões de pessoas do mesmo sexo eram tratadas como sociedades de fato e analisadas
pelo Estado, quando promovidas ações judiciais para tanto, apenas no aspecto material, desconsiderando-se o afeto existente entre
os envolvidos. Os julgados mencionados constituem, assim, um marco na evolução do conceito de família e a realização do princípio da
dignidade da pessoa humana e concretização do direito à felicidade.
v. MONOPARENTAL – pelo pai + filho ou mãe + filho - é a entidade familiar constituída por qualquer um dos genitores com seus
filhos. A Constituição Federal, de forma expressa, em seu artigo 226, § 4º, faz referência a esse tipo de família para fins de proteção do
Estado: § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
vi. ANAPARENTAL – é a família caracterizada pela ausência dos genitores. Um exemplo que pode ser citado é a entidade familiar
constituída dos netos e avós, sem a presença dos pais. Ainda podemos citar irmãs ou irmãos que vivam juntos sem os pais, dentre
outros variados modelos.
vii. FAMÍLIA SOLIDÁRIA – é a irmandade: é uma classificação que se funda na ideia de afetividade e solidariedade. Por exemplo,
são situações em que pessoas idosas ou jovens se juntam com outras pessoas para morarem em determinado local, com objetivo de
solidariedade recíproca. Há, portanto, uma estrutura familiar, apesar de não haver certos efeitos como a partilha e alimentos. A base
é que uns cuidam dos outros.
viii. FAMÍLIA LABORAL: é a família que se forma no ambiente de trabalho.
ix. FAMÍLIA PARALELA OU SIMULTÂNEA: essa classificação precisa ser analisada com cuidado, na medida em que, pela análise do
entendimento jurisprudencial, há uma resistência muito grande a respeito do reconhecimento do que se denomina família paralela,
ou seja, formada paralelamente a uma outra família reconhecida, por exemplificando, uma pessoa casada e que mantenha a família
matrimonial passa a se relacionar de forma contínua, pública e notória com outra pessoa, com o objetivo também de constituir família.

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Direito das Famílias – Parte I
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É um tema complicado, que merece cuidado, já que vivemos a era do conceito de família
pautado na afetividade. Nesse ponto convido você a ler um acórdão brilhante do TJRS8
no qual houve o reconhecimento de união estável paralela ao casamento – dá uma olhada
na ementa:

JURISPRUDÊNCIA
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM. PLEITO DE
RECONHECIMENTO DO INSTITUTO. CABIMENTO. CONCOMITÂNCIA COM O CASAMENTO
QUE NÃO AFASTA A PRETENSÃO NO CASO. SENTENÇA REFORMADA. I. Presente prova
categórica de que o relacionamento mantido entre a requerente e o falecido entre
08/2000 e a data do óbito dele se dava nos moldes do artigo 1.723 do Código Civil, mas
também a higidez do vínculo matrimonial do de cujus até o mesmo momento. Caso
provada a existência de relação extraconjugal duradoura, pública e com a intenção de
constituir família, ainda que concomitante ao casamento e sem a separação de fato
configurada, deve ser, sim, reconhecida como união estável, mas desde que o cônjuge
não faltoso com os deveres do casamento tenha efetiva ciência da existência dessa
outra relação fora dele, o que aqui está devidamente demonstrado. Ora, se a esposa
concorda em compartilhar o marido em vida, também deve aceitar a divisão de seu
patrimônio após a morte, se fazendo necessária a preservação do interesse de ambas
as células familiares constituídas. Em havendo transparência entre todos os envolvidos
na relação simultânea, os impedimentos impostos nos artigos 1.521, inciso VI, e artigo
1.727, ambos do Código Civil, caracterizariam uma demasiada intervenção estatal,
devendo ser observada sua vontade em viver naquela situação familiar. Formalismo
legal que não pode prevalecer sobre situação fática há anos consolidada. Sentimentos
não estão sujeitos a regras, tampouco a preconceitos, de modo que, ao analisar as
lides que apresentam paralelismo afetivo, indispensável que o julgador decida com
observância à dignidade da pessoa humana, solidariedade, busca pela felicidade,
liberdade e igualdade. Deixando de lado julgamentos morais, certo é que casos como

8
https://www.tjrs.jus.br/novo/noticia/reconhecida-uniao-estavel-paralela-ao-casamento/

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Direito das Famílias – Parte I
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o presente são mais comuns do que pensamos e merecem ser objeto de proteção
jurídica, até mesmo porque o preconceito não impede sua ocorrência, muito menos
a imposição do “castigo” da marginalização vai fazê-lo. Princípio da monogamia e
dever de lealdade estabelecidos que devem ser revistos diante da evolução histórica
do conceito de família, acompanhando os avanços sociais. II. Reconhecida a união
estável e o casamento simultâneos, como no presente, a jurisprudência da Corte tem
entendido necessário dividir o patrimônio adquirido no período da concomitância em
três partes, o que se convencionou chamar de “triação”. Não se pode deixar de referir
que o caso se centrou mais no reconhecimento da união estável, de modo que inviável
afirmar aqui e agora, com segurança, quais são exatamente os bens amealhados no
período. Além disso, ao que tudo indica, a partilha de bens do falecido já foi realizada
entre os anteriores herdeiros, enquanto que os filhos maiores e capazes desse não
participaram do processo, mas apenas a cônjuge, razão pela qual não podem ter
seu direito atingido sem o exercício do contraditório e da ampla defesa. Ao juízo de
família, na ação proposta, compete apenas reconhecer ou não a existência da afirmada
relação estável da demandante com o de cujus e a repercussão patrimonial a que essa
faz jus, sendo que a extensão dos efeitos patrimoniais que são próprios à condição
de companheira deverá ser buscada em demanda própria. Apelação parcialmente
provida, por maioria.

x. FAMÍLIA POLIAFETIVA OU POLIAMOR: é a família com multiplicidade de membros,


fundada no que se denomina “não monogamia responsável”, que permite, a partir do exercício
da autonomia privada, a manutenção de relações plurais. No ano de 2012, começaram a
surgir escrituras públicas de união estável poliafetiva. Em razão dessas escrituras, ampliou-
se o debate sobre a proteção, pelo ordenamento jurídico pátrio, desse tipo de entidade
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familiar. A questão foi levada ao Conselho Nacional de Justiça - CNJ, por meio de um pedido
de providências, que objetivava proibir os cartórios de lavrarem essas escrituras públicas,
ante a ausência de amparo normativo. Essa controvérsia foi solucionada no ano de 2018,
quando o CNJ, no julgamento do pedido de providências n. 1459-08.2016.2.00.0000 houve
a proibição da lavratura dessas escrituras.

xi. FAMÍLIA MULTIESPÉCIE: é aquela constituída pelos seres humanos e seus animais
de estimação. É outra modalidade de família, cuja constituição e reconhecimento ainda
sofrem divergência. O indicativo de seu reconhecimento pelos tribunais pátrios começou a
ser delineado a partir de julgados que estabelecem o direito de visita dos animais, tratando-
os não mais apenas sob o ponto de vista apenas material. Nesse sentido, é importante
lembrar o julgado do STJ, de 2018, que decidiu sobre o direito de visita e custódia física
dos animais de estimação de um casal em processo de dissolução da união estável (REsp
1713167/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 19/06/2018,
DJe 09/10/2018).
xii. FAMÍLIA EUDEMONISTA: a expressão família eudemonista refere-se à prevalência
do amor nas configurações das entidades familiares constituídas. Segundo a maravilhosa
Maria Berenice Dias temos que:

A busca da felicidade, a supremacia do amor, a vitória da solidariedade enseja o reconhecimento


do afeto como único modo eficaz de definição da família e de preservação da vida. As relações
afetivas são elementos constitutivos dos vínculos interpessoais. A possibilidade de buscar formas
de realização pessoal e gratificação profissional é a maneira de as pessoas se converterem em
seres socialmente úteis 9

Maria Berenice diz, ainda, que “surgiu um novo nome para essa nova tendência de
identificar a família pelo seu envolvimento afetivo: família eudemonista, que busca a
felicidade individual vivendo um processo de emancipação de seus membros”10

9
Dias, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. / Maria Berenice Dias - 14. ed. rev. ampl. e atual. — Salvador: Editora
JusPodivm, 2021.
10
IBIDEM

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O que define família é o afeto. Hoje, então, fala-se da família eudemonista: pautada
no amor, no afeto, na busca pela felicidade.

Fique de olho na jurisprudência:

JURISPRUDÊNCIA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. Relação homoafetiva e entidade familiar – 1: A norma
constante do art. 1.723 do Código Civil — CC (“É reconhecida como entidade familiar
a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”) não
obsta que a união de pessoas do mesmo sexo possa ser reconhecida como entidade
familiar apta a merecer proteção estatal. Essa a conclusão do Plenário ao julgar
procedente pedido formulado em duas ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas,
respectivamente, pelo Procurador-Geral da República e pelo Governador do Estado do
Rio de Janeiro. Preliminarmente, conheceu-se de arguição de preceito fundamental
— ADPF, proposta pelo segundo requerente, como ação direta, tendo em vista a
convergência de objetos entre ambas as ações, de forma que as postulações deduzidas
naquela estariam inseridas nesta, a qual possui regime jurídico mais amplo. Ademais,
na ADPF existiria pleito subsidiário nesse sentido. Em seguida, declarou-se o prejuízo
de pretensão originariamente formulada na ADPF consistente no uso da técnica da
interpretação conforme a Constituição relativamente aos artigos 19, II e V, e 33 do
Estatuto dos Servidores Públicos Civis da aludida unidade federativa (Decreto-lei
220/75). Consignou-se que, desde 2007, a legislação fluminense (Lei n. 5.034/2007,

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art. 1º) conferira aos companheiros homoafetivos o reconhecimento jurídico de sua


união. Rejeitaram-se, ainda, as preliminares suscitadas. ADI 4277/DF, rel. Min. Ayres
Britto, 4 e 5.5.2011. (ADI-4277) (INF. 625/2011).
JURISPRUDÊNCIA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. ADOÇÃO PÓSTUMA. FAMÍLIA ANAPARENTAL. Para as adoções
post mortem, vigem, como comprovação da inequívoca vontade do de cujus em adotar,
as mesmas regras que comprovam a filiação socioafetiva, quais sejam, o tratamento
do menor como se filho fosse e o conhecimento público dessa condição. Ademais, o §
6º do art. 42 do ECA (incluído pela Lei n. 12.010/2009) abriga a possibilidade de adoção
póstuma na hipótese de óbito do adotante no curso do respectivo procedimento, com
a constatação de que ele manifestou, em vida, de forma inequívoca, seu desejo de
adotar. In casu, segundo as instâncias ordinárias, verificou-se a ocorrência de inequívoca
manifestação de vontade de adotar, por força de laço socioafetivo preexistente entre
adotante e adotando, construído desde quando o infante (portador de necessidade
especial) tinha quatro anos de idade. Consignou-se, ademais, que, na chamada família
anaparental - sem a presença de um ascendente -, quando constatados os vínculos
subjetivos que remetem à família, merece o reconhecimento e igual status daqueles
grupos familiares descritos no art. 42, § 2º, do ECA. Esses elementos subjetivos são
extraídos da existência de laços afetivos - de quaisquer gêneros -, da congruência de
interesses, do compartilhamento de ideias e ideais, da solidariedade psicológica, social
e financeira e de outros fatores que, somados, demonstram o animus de viver como
família e dão condições para se associar ao grupo assim construído a estabilidade
reclamada pelo texto da lei. Dessa forma, os fins colimados pela norma são a existência
de núcleo familiar estável e a consequente rede de proteção social que pode gerar para
o adotando. Nesse tocante, o que informa e define um núcleo familiar estável são os
elementos subjetivos, que podem ou não existir, independentemente do estado civil
das partes. Sob esse prisma, ressaltou-se que o conceito de núcleo familiar estável não
pode ficar restrito às fórmulas clássicas de família, mas pode, e deve, ser ampliado para
abarcar a noção plena apreendida nas suas bases sociológicas. Na espécie, embora os
adotantes fossem dois irmãos de sexos opostos, o fim expressamente assentado pelo
texto legal - colocação do adotando em família estável - foi plenamente cumprido, pois
os irmãos, que viveram sob o mesmo teto até o óbito de um deles, agiam como família
que eram, tanto entre si como para o infante, e naquele grupo familiar o adotando se
deparou com relações de afeto, construiu - nos limites de suas possibilidades - seus
valores sociais, teve amparo nas horas de necessidade físicas e emocionais, encontrando
naqueles que o adotaram a referência necessária para crescer, desenvolver-se e
inserir-se no grupo social de que hoje faz parte. Dessarte, enfatizou-se que, se a lei

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tem como linha motivadora o princípio do melhor interesse do adotando, nada mais
justo que a sua interpretação também se revista desse viés. (REsp 1.217.415-RS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/6/2012). (INF. 500)

3. CASAMENTO
O conteúdo, agora, abordará o casamento, que começa no CC no artigo 1.511.

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos
e deveres dos cônjuges.

Quando se fala no casamento, a busca é pela comunhão plena de vida.


A pauta é o afeto.
A temática de casamento acabou inaugurando as regras de família ( já pelo artigo 1.511).
Apesar de ser de 2002, o Código já nasceu velho, com algumas normas destinadas ao
casamento que já estão ultrapassadas.
Os artigos relacionados ao casamento são os 1.511 a 1582 do Código Civil.
O casamento é entre duas pessoas.
A situação do poliamor, como vimos, não está resguardada pelo Direito, ainda. Um
exemplo, seria a situação do Mr. Catra que faleceu e deixou vários filhos e várias “esposas”.
Até que ponto o Estado pode interferir no amor que se sente? Complicado, né?
Hoje já é possível o casamento entre uniões homoafetivas, mas isso só foi possível
devido ao reconhecimento jurisprudencial que, dentre outros, levou em consideração o
Princípio da Legalidade, que quer dizer “praticar atos de acordo com a lei”. E, como sabemos,
o particular pode tudo o que a lei não proíba.
Assim, um dos fundamentos do STJ e do STF para reconhecer a possibilidade de casamento
e união estável homoafetiva foi a lei, mesmo falando que casamento é entre homem e
mulher, a lei não proibiu e, sendo assim, é possível.
A gente sabe que a questão cultural também influencia muito no Direito das Famílias...
Observe a definição de casamento proposta por Flávio Tartuce: “união entre duas
pessoas, reconhecida e regulamentada pelo Estado, formada com objetivo de constituição
de uma família e baseado no vínculo do afeto”. 11
Pergunta comum em provas: existe hierarquia entre casamento e união estável? Não.
Não existe hierarquia entre entidades familiares.
Nas consequências, não há diferença.
Na formação, há diferença.

11
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.

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O casamento é constituído por meio da celebração, há uma certidão de casamento.


A união estável não tem ato celebrativo, decorre de uma convivência pública, contínua,
duradoura com o intuito de constituição de família.
O fim do casamento pode acontecer pela morte ou pelo divórcio.
O fim da união estável acontece pela morte ou pela dissolução.
Na morte, aplicam-se as mesmas regras para quem é cônjuge ou para quem é companheiro,
pois o STF declarou a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do CC, que trabalhava regras
diferenciadas para a morte de companheiro e questões de herança e veremos na aula de
sucessões.
Hoje é tudo igual, quanto a questões de herança seja no casamentou ou união estável,
seguindo a mesma regra do artigo 1.829 do CC.
A dificuldade comum existente, em muitos casos, é de se comprovar a união estável
no que tange ao lapso temporal (quando se iniciou exatamente a união), principalmente
para fins de partilha de bens.
O artigo 1.511 estabelece que o casamento é uma comunhão de vida, que tem como
pauta a igualdade entre os cônjuges, levando em consideração o casamento entre homem/
homem, homem/mulher, mulher/mulher.

E qual a natureza jurídica do casamento?

Para responder essa questão, há três teorias:


• Teoria institucionalista – casamento é uma instituição;
• Teoria contratualista – casamento é um contrato;
• Teoria mista ou eclética – casamento é uma instituição no conteúdo, mas um contrato
na formação (estipula-se uma vontade).

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É uma espécie de negócio jurídico, mas com regras específicas (monogamia, escolha
de vida...).
O casamento, independentemente da natureza jurídica que se adote para sua conceituação,
tem regras próprias de constituição, além de princípios específicos.
Assim é que se faz importante entender quais os princípios aplicáveis a esse instituto
e que muito auxiliam na interpretação da legislação pertinente.
São eles:
a) Princípio da monogamia: Segundo o princípio da monogamia, só é possível se casar
com uma única pessoa. Por esse princípio, afasta-se, então, a possibilidade do poliamor
para a celebração de casamento de mais de duas pessoas. Esse princípio é extraído do
art. 1.521, que estabelece que as pessoas já casadas não podem casar como outra pessoa
enquanto mantiverem essa condição prévia de casadas.
b) Princípio da liberdade de escolha: Segundo este princípio, é possível casar com
quem quiser, desde que essa pessoa também queira e desde que não haja impedimento,
previamente estabelecido em lei, conforme veremos em tópico próprio. Como exercício da
autonomia privada, prevalece de forma geral o princípio da liberdade de escolha.
c) Princípio da comunhão plena de vida: O casamento estabelece comunhão plena de
vida entre os cônjuges. É o que estatui de forma expressa o artigo 1511 do Código Civil.
Agora, vamos tratar algumas determinadas regras.
Existem as regras de disposições gerais sobre casamento (arts. 1.511 ao 1.516) e as
regras sobre capacidade para o casamento (arts. 1.517 ao 1.520).

Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração.


Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos
de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei.
Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão
de vida instituída pela família.

Ninguém pode “se meter” na vida familiar – esse é o princípio da não intervenção
na família.

Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante
o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.

Embora este art. 1.514 disponha que é casamento quando o homem e mulher manifestam
à vontade, a lei não proíbe; portanto, hoje, o casamento entre pessoas do mesmo sexo
é permitido. Não há impedimento para isso e também não há nenhuma peculiaridade
diferenciadora.

Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento
civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir
da data de sua celebração.

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Muitas pessoas fazem o casamento religioso com efeito civil. Faz-se toda a habilitação
para o casamento e, ao invés de fazer a celebração apenas civil, pode-se fazer a celebração
civil e, depois, religiosa, ou se pode fazer o religioso com efeito civil.

Obs.: Quando se fala em casamento religioso, pensa-se no casamento na igreja evangélica


ou católica. Aqui se refere ao casamento religioso celebrado em qualquer religião.
Não pode haver discriminação de crença nesse aspecto. Muito embora se deva pensar
dessa forma, ainda se vive muito preconceito religioso. Há várias religiões além da
evangélica e da católica. Temos casamento espírita, na umbanda, no candomblé e
em várias outras modalidades religiosas

Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para
o casamento civil.
§ 1º O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de
sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa
de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente a habilitação regulada
neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação.

Faz-se a habilitação, marca-se o casamento religioso com efeito civil, a celebração ocorre
ao mesmo tempo que a celebração religiosa e, depois, homologa-se em 90 dias.

Art. 1.516. § 2º O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código,
terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil,
mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532.

Pode acontecer de se fazer a habilitação para o casamento — que é um procedimento


em que se terá, ao final, a certidão de habilitação — e, depois, marcar o casamento religioso
com efeito civil.
Mas pode ocorrer o inverso: houve o casamento no religioso e, depois, se quer registrar
este casamento. Para isso, deve ser feita a submissão ao processo de habilitação.

Art. 1.516. § 3º Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos
consorciados houver contraído com outrem casamento civil.

Pessoas casadas não podem se casar.


Se a pessoa já tem um casamento civil e depois casa no religioso, é óbvio que não será
possível regularizar esse segundo casamento religioso, porque o casamento civil já existente
impede a existência de outros casamentos.
Então, em relação às questões das disposições gerais, observam-se alguns pontos:
• A celebração é gratuita;
• É possível casamento homoafetivo;

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• O casamento religioso deve ser observado em relação a qualquer religião e pode ser,
também, conjuntamente com casamento civil (art. 1.535).
Do casamento religioso, ainda, há a questão da habilitação, que é o procedimento de
verificação se as pessoas podem ou não se casar. Esse procedimento pode ser feito antes
do casamento religioso, havendo o casamento religioso com efeito civil e registro, ou depois,
havendo o casamento religioso, habitação e o registro.

Um ponto muito cobrado em prova, principalmente agora, é a questão da capacidade


para o casamento.
A primeira coisa que deve ser observada é que capacidade não se confunde com
legitimidade.
A pessoa pode casar-se? Sim. Ela tem capacidade para o casamento? Tem. Mas ela pode
se casar com o irmão? Não, porque não se tem legitimidade para este ato.
Então, a capacidade é algo geral; quando se fala de legitimidade, é algo específico para
um ato específico.
Quem pode casar?

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de
ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.

Quando se fala de 16 anos, fala-se da idade núbil.

Art. 1.517.
Parágrafo único. Se houver divergências entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único
do art. 1.631.

Se for entendido que a justificativa para anular o consentimento é injusta, pode-se


ajuizar ação contra os pais.
O Judiciário irá dirimir esse conflito. Os pais explicam os motivos para o juiz, que decidirá
se haverá casamento ou não, analisando se os motivos são justos ou não.

Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização.
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz.
Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade
núbil, observado o disposto no art. 1.517 desde Código.

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Então, na questão da capacidade para o casamento, existe a idade núbil (idade para o
casamento) de 16 anos. Se a pessoa se casa com 16 anos, ela estará emancipada (art. 5º
do Código Civil).
Mas, para se casar com 16 anos, é preciso a autorização dos pais. Quando os genitores
são divorciados e um detém a guarda e o outro o direito de visita, os dois continuam tendo
poder familiar sob os filhos. Quem tem a guarda não tem mais ou menos poder familiar do
que quem exerce o direito de visita.
Tanto é verdade, que o poder familiar continua sendo dos pais, e essa decisão é dos dois.
Se houver conflito entre os dois, vai para o Judiciário para o juiz decidir. O outro só perde
o poder familiar nas hipóteses previstas em lei; enquanto não perde, manda.
A autorização dos pais para o casamento de pessoa de 16 anos tem fundamento no
poder familiar — o poder que os pais possuem de controlar a vida dos seus filhos menores.
Se houver problema em relação à autorização, pode-se pedir o suprimento judicial.
A pessoa com 16 anos pode ser autor, mas não tem capacidade para estar em juízo por
ser considerada relativamente incapaz por conta da idade.
Assim, a pessoa não pode ajuizar ação sozinha e os seus pais não vão estar ao seu lado
na ação, porque eles também são réus.
O Código de Processo Civil dispõe que:

Art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar
em juízo.
Art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na
forma da lei.

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Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao:


I – incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os
daquele, enquanto durar a incapacidade.

O juiz chamará um curador especial para a pessoa de 16 anos que está movendo a ação
contra os pais, e quem será esse curador especial será a Defensoria Pública, ou até mesmo
o próprio advogado.
A autorização dos pais é revogável até a celebração (art. 1.518).
A partir dos 18 anos, se pode casar e divorciar, mas há regras que devem ser respeitadas.

3.1. IMPEDIMENTOS PARA O CASAMENTO (1.521 – 1.522)


Os arts. 1.521 e 1.522 do Código Civil apresentam as hipóteses de impedimento para
o casamento, isto é, as situações em que o casamento será proibido.
Assim, o artigo 1.521 do CC traz um rol taxativo dos que não podem se casar, considerando,
para tanto:
• impedimentos resultantes do parentesco (nos incisos I a V);
• impedimento resultante de casamento anterior ( inciso VI);
• impedimento decorrente de crime (inciso VII).
Nos termos da letra literal da lei (artigo 1.521, CC), não poderão casar:

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;


II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra
o seu consorte.

Cabe apontar que caso as hipóteses de impedimento sejam ignoradas e o casamento


ocorra, este será considerado nulo.

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Art. 1.521. Não podem casar:


I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;

De acordo com o inciso reproduzido acima, não pode haver o casamento entre pai e
filha(o) ou mãe e filho(a), seja o laço de parentesco natural (consanguíneo) ou civil (por
adoção ou socioafetividade).

Art. 1.521.
II – os afins em linha reta;

Os afins referem-se às pessoas que possuem laços de parentesco com o cônjuge de


determinada pessoa e, portanto, são consideras como parentes desta também.
Se Maria se casa ou constitui união estável com João, por exemplo, a mãe e o pai dele serão
seus sogros, o filho dele será seu enteado e o(a) irmão/irmã dele será seu/ seu cunhado(a).
Esse parentesco de Maria com os parentes de João é um parentesco denominado como
“parentesco por afinidade”. Segundo a lei, uma pessoa não pode casar com os parentes
afins em linha reta, ou seja, com o(a) sogro(a) ou o(a) enteado(a), pois estes possuem status
semelhante ao de pai/mãe e filho(a).
Observe que a legislação proíbe apenas o casamento de um indivíduo com os afins em
linha reta. Desse como, caso Maria quisesse casar-se com o irmão de João, não haveria
qualquer tipo de impedimento, pois os cunhados são afins colaterais.

Art. 1.521.
III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;

É importante destacar um aspecto importante quanto ao inciso IV: os colaterais de


terceiro grau, incluídos na proibição apresentada pelo inciso, dizem respeito aos tios e
sobrinhos. Apesar de o Código Civil proibir a união entre pessoas com esse grau de parentesco,
é relativamente comum que haja esse tipo de casamento, conhecido como “casamento
avuncular”.
Tal possibilidade se dá em razão da existência do Decreto-Lei n. 3.200/1941, em que se
determina que tio(a) e sobrinha(o) poderão contrair matrimônio perante a realização de
exames médicos que atestem que os nubentes se encontram em sanidade mental e que
não haverá prole defeituosa.
Ainda sobre esse tema, o enunciado aprovado pelo Conselho da Justiça Federal postula
que o inciso IV do art. 1.521 do novo Código Civil deve ser interpretado à luz do Decreto-
Lei n. 3.200/41 no que se refere à possibilidade de casamento entre colaterais de 3º grau
(Enunciado 98, I Jornada de Direito Civil).

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Permite-se, então, o denominado casamento avuncular, desde que observado o disposto


no Decreto-Lei 3.200/41.

Art. 1.521.
V – o adotado com o filho do adotante;

O adotado não pode se casar com o filho do adotante, pois eles são irmãos.

Art. 1.521.
VI – as pessoas casadas;
VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra
o seu consorte.”
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do casamento,
por qualquer pessoa capaz.
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum
impedimento, será obrigado a declará-lo.

Obs.: Em razão de se tratar de uma regra proibitiva, o rol apresentado pelo art. 1.521 do
Código Civil é considerado um rol taxativo, ou seja, as hipóteses que não se encontram
elencadas em seus dispositivos são hipóteses em que o casamento é permitido
Cabe apontar que as disposições presentes nos artigos reproduzidos acima também se
aplicam à união estável, conforme expressa o art. 1.723 do mesmo Código.

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.
§ 1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se
aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou
judicialmente.
§ 2º As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.

Para fins de prova é importante que você esteja atento a um detalhe: segundo expressa
o art. 1.521, inciso VI, a pessoa que é casada não poderá casar novamente – não importando
há quanto tempo esteja separada de fato de seu ex-cônjuge –, a menos que efetue o divórcio
em relação ao seu matrimônio anterior.
Em contrapartida, o art. 1.723, § 1º, expressa que a incidência do inciso VI não se aplicará
à união estável, ou seja, a pessoa casada que estiver separada de fato não poderá se casar,
mas poderá contrair união estável.

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Não há a determinação de um prazo mínimo para que seja considerada a existência da


separação de fato.

3.2. CAUSAS SUSPENSIVAS DE CASAMENTO (1.523 – 1.524)


Em continuidade, o Código Civil trata, em seus arts. 1.523 e 1.524, sobre as causas
suspensivas de casamento que, diferentemente das hipóteses apresentadas pelo art.
1.521, não impedem que o mesmo ocorra, mas impõem uma regra em relação ao regime
de bens que deverá ser seguido.
Inexoravelmente, ao se casar as pessoas devem escolher o regime de bens ao qual
estarão submetidas, caso isso não ocorra, a lei determina que será instituído o regime da
comunhão parcial de bens.
No entanto, aqueles que se casam mediante uma causa suspensiva devem, obrigatoriamente,
ser regidos pelo regime da separação obrigatória de bens.
Vejamos, a seguir, quais são as causas suspensivas de casamento:

Art. 1.523. Não devem casar:


I – o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens
do casal e der partilha aos herdeiros;

A fim de compreender o inciso apresentado acima, consideremos o seguinte exemplo:


Maria, casou-se com João, com quem teve três filhos e, meses após ficar viúva, se apaixonou
por Antônio, decidindo-se casar-se com o homem.
No entanto, em um contexto em que o inventário referente aos bens de João ainda
tenha sido realizado, caso Maria se case com Antônio sob o regime de comunhão universal
de bens, por exemplo, não haveria como distinguir quais bens são de João, quais são dos
herdeiros, quais são de Maria e quais são de Antônio.
Assim, para evitar que tal situação ocorra, a lei sugere que o viúvo ou a viúva que tiver
filho do cônjuge falecido não se case enquanto não tiver realizado o inventário dos bens
do casal e der partilha aos herdeiros.

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Se mesmo diante dessa situação a pessoa desejar se casar, o enlace deverá ser realizado
sob o regime da separação obrigatória de bens.

Art. 1.523.
II – a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses
depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;
III – o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal;

Do mesmo modo que ocorre em relação à viuvez, o Código Civil expressa que os divorciados
não devem se casar enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos
bens do casal.
No entanto, caso a pessoa deseje se casar mesmo diante dessa situação, será imposto
o regime de separação obrigatória de bens, que poderá ser alterado após a efetivação da
partilha de bens referente ao casamento anterior.

Art. 1.523.
IV – o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos,
com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem
saldadas as respectivas contas.

A fim de evitar que ocorra qualquer espécie de confusão patrimonial, não poderá
haver casamento entre o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos e a pessoa tutelada ou curatelada.
Nesse sentido, caso Joana seja tutora de Maria e a tutelada e seu filho se apaixonem,
o casamento não poderá ser realizado enquanto não cessar a tutela ou, caso os nubentes
não desejem esperar, deverá ser realizado sob o regime de separação obrigatória de bens.
Art. 1.523.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas
suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo,
respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada;
no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez,
na fluência do prazo.
Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser arguidas pelos parentes
em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo
grau, sejam também consanguíneos ou afins.

Em síntese, as causas suspensivas são causas dispostas a fim de que sejam evitadas
confusões sanguíneas e/ou patrimoniais.
Diferentemente do que ocorre em relação aos impedimentos, que podem ser podem
ser opostos por qualquer pessoa capaz, as causas suspensivas de casamento somente
podem ser opostas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes e pelos colaterais de
segundo grau, sejam estes consanguíneos ou afins.

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Obs.: Lembre-se: as regras relativas às causas suspensivas de casamento não impedem


que o mesmo ocorra, mas impõem a adoção do regime da separação obrigatória
de bens.

Após solucionada a situação suspensiva, o casal pode requerer a alteração do regime


de bens.

3.3. HABILITAÇÃO E CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO (1.525 – 1.532)


Para que um casamento possa celebrado é necessário, primeiramente, que os nubentes
passem por um processo de habilitação. Conforme previsto pelos arts. 1.525 a 1.532 do
Código Civil, o processo de habilitação visa a conferir a ambos os nubentes, a partir da
apresentação e análise de alguns documentos, uma certidão – com eficácia de 90 (noventa)
dias – para que o casamento seja celebrado:

Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes,
de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes
documentos:
I – certidão de nascimento ou documento equivalente;
II – autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial
que a supra;
III – declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e
afirmem não existir impedimento que os iniba de casar;
IV – declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais,
se forem conhecidos;
V – certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação
de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.

Realizada a apresentação dos documentos elencados pelo art. 1.525, o oficial do cartório,
a fim de dar publicidade ao ato, publicará por meio de edital a intenção dos nubentes em
efetuar o matrimônio.

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Estando cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527, reproduzidos a seguir, e


verificada a inexistência de fato obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de
habilitação com eficácia de 90 (noventa dias) a contar da data em que foi extraído.

Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a
audiência do Ministério Público.
Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, a habilitação
será submetida ao juiz.
Art. 1.527. Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante
quinze dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se
publicará na imprensa local, se houver.
Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação.
Art. 1.528. É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem
ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens.
Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração
escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde
possam ser obtidas.
Art. 1.530. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição,
indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu.
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos
fatos alegados, e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé.
Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a inexistência de fato
obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação.
Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído
o certificado.

Por sua vez, o processo relativo à celebração do casamento é expresso pelos arts. 1.533
a 1.542 do Código Civil:

Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela
autoridade que houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem
habilitados com a certidão do art. 1.531.
Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas,
presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as
partes e consentindo a autoridade celebrante, noutro edifício público ou particular.
§ 1º Quando o casamento for em edifício particular, ficará este de portas abertas durante o ato.
§ 2º Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo anterior e se algum dos contraentes
não souber ou não puder escrever.

Perceba que, quando a celebração do casamento se der na sede do cartório, bastará


que estejam presentes duas testemunhas; em contrapartida, caso a celebração ocorra em
edifício particular, serão necessárias quatro testemunhas.

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Diante da situação em que um dos nubentes não saiba ou não possa escrever, também
será preciso que haja a presença de quatro testemunhas.

Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com
as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de
que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nestes
termos: “De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes
por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”.
Art. 1.536. Do casamento, logo depois de celebrado, lavrar-se-á o assento no livro de registro.
No assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, as testemunhas, e o oficial do
registro, serão exarados:
I – os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência atual dos
cônjuges;
II – os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte, domicílio e residência atual
dos pais;
III – o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior;
IV – a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento;
V – a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro;
VI – o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas;
VII – o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório em cujas notas foi lavrada
a escritura antenupcial, quando o regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente
estabelecido.
Art. 1.537. O instrumento da autorização para casar transcrever-se-á integralmente na escritura
antenupcial.
Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes:
I – recusar a solene afirmação da sua vontade;
II – declarar que esta não é livre e espontânea;
III – manifestar-se arrependido.
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à
suspensão do ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia.
Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo
onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas
que saibam ler e escrever.
§ 1º A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por
qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado
pelo presidente do ato.
§ 2º O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro
em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo
a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o
casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham
parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau.

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Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade


judicial mais próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de:
I – que foram convocadas por parte do enfermo;
II – que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo;
III – que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por
marido e mulher.
§ 1º Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para
verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados
que o requererem, dentro em quinze dias.
§ 2º Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade
competente, com recurso voluntário às partes.
§ 3º Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos
interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos.
§ 4º O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges,
à data da celebração.
§ 5º Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer
e puder ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro.
Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com
poderes especiais.
§ 1º A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas,
celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da
revogação, responderá o mandante por perdas e danos.
§ 2º O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se representar no
casamento nuncupativo.
§ 3º A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias.
§ 4º Só por instrumento público se poderá revogar o mandato.

Conforme determina o art. 1.542 do Código Civil, é possível que um casamento seja
celebrado mediante procuração. Nesse sentido, caso o noivo ou a noite esteja vivendo
uma aventura no Camboja, por exemplo, e não possa estar presente na data marcada para
a celebração do casamento, uma procuração pode ser efetivada para que uma pessoa
escolhida pelo(a) nubente o substitua.
Cabe apontar que a procuração a ser utilizada para a celebração do casamento deve
consistir em uma procuração por instrumento público, isto é, deve ser uma procuração
realizada em cartório e que apresente poderes especiais autorizando o casamento.
É de conhecimento geral que, ao estabelecer uma procuração, uma pessoa confere
determinados poderes a outra.
No que se refere à procuração para a celebração de casamento, o art. 1.542, § 1º,
determina que a revogação do mandato não precisará chegar ao conhecimento do mandatário;

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porém, se o casamento for celebrado sem que o mandatário ou o outro contraente tenha
ciência da revogação, o mandante responderá pelas perdas e danos.
Perceba que assim como ocorre em relação à certidão de habilitação, a procuração
também produzirá efeitos por um período de 90 (noventa) dias.

Obs.: É comum que a banca tente confundir o candidato ao afirmar que tanto a certidão
de habilitação como a procuração de casamento possuem validade de 90 (noventa)
dias. Perceba que esta afirmação é equivocada, pois o prazo de 90 (noventa) dias
não se refere à validade dos documentos, e sim ao seu período de eficácia.
Dado o exposto, é importante lembrar que a validade de um documento ocorre
quando há o respeito aos requisitos exigidos por lei. A certidão de habilitação e a
procuração de casamento, por exemplo, deixarão de produzir seus efeitos passado
o prazo de 90 (noventa) dias, mas sua validade não cessará.

Ainda no que concerne ao tema, é importante apontar que os arts. 1.539 e 1.540
apresentam algumas regras em que haverá a flexibilização do processo de habilitação
e/ou celebração do casamento:

Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo
onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas
que saibam ler e escrever.
§ 1º A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por
qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado
pelo presidente do ato.
§ 2º O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro
em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.

Perceba que o artigo acima reproduzido determina que no caso de moléstia grave
de um dos nubentes, a autoridade celebrante presidirá o ato, perante duas testemunhas
que saibam ler e escrever, no local em que se encontrar o impedido. Tal flexibilização é
compreendida como uma flexibilização mínima das regras, pois para que esta ocorra é
necessário que os nubentes já estejam habilitados ao casamento.
Por sua vez, o art. 1.540 apresenta uma situação distinta, em que há a configuração de
uma flexibilização máxima das regras de habilitação e celebração de casamento:

Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo
a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o
casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham
parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau.

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Note que enquanto em uma celebração realizada em vias normais as testemunhas


podem ser parentes dos nubentes, no casamento realizando quando algum dos contraentes
estiver em iminente risco de vida, conhecido como “casamento in extremis vitae”, o ato
deverá ser efetuado na presença de seis testemunhas com quem os nubentes não tenham
parentesco em linha reta ou colateral, até segundo grau.
Cabe ressaltar, ainda, que diferentemente do que ocorre em relação ao casamento
celebrado no caso de moléstia grave de um dos nubentes, o art. 1.540 trata sobre uma
situação em que o casal não passou pelo processo de habilitação para o casamento.
Em sua continuidade, o Código Civil dispõe o seguinte:

Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade


judicial mais próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de:
I – que foram convocadas por parte do enfermo;
II – que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo;
III – que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por
marido e mulher.
§ 1º Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para
verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados
que o requererem, dentro em quinze dias.

Observe que, nesse caso, a verificação quanto à habilitação dos nubentes para a celebração
do casamento será realizada a posteriori, ou seja, após a realização do mesmo.

Art. 1.541
§ 2º Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade
competente, com recurso voluntário às partes.
§ 3º Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos
interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos.
§ 4º O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges,
à data da celebração.
§ 5º Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer
e puder ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro.

Em suma, existem duas hipóteses distintas de flexibilização das regras de habilitação


e celebração de casamento:
• a primeira refere-se ao caso de moléstia grave de um dos nubentes, situação em que
o casamento será celebrado havendo a habilitação dos noivos;
• a segunda hipótese diz respeito ao cenário em que um dos contraentes estiver em
iminente risco de vida, em que o casamento será celebrado – perante a presença de
seis testemunhas que não tenham parentesco com os nubentes em linha reta ou
colateral até o segundo grau, ou seja, que não sejam seus pais, avós, bisavós, filhos,

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netos, bisnetos, enteados, sogros, cunhados ou irmãos – mesmo sem que haja a
habilitação.
É importante lembrar que, no caso da segunda hipótese, as testemunhas deverão
comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em dez dias, para manifestar
a realização do casamento entre aquelas duas pessoas. A partir da realização dessas
declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se os contraentes
podiam ter-se habilitado e, verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, os
efeitos do casamento retroagirão à data de sua celebração.

Obs.: A hipótese prevista pelo art. 1.540 pode aparecer em provas com a denominação
de casamento nuncupativo, casamento in extremis vitae ou, ainda, casamento
in articulo mortis.

3.4. PROVAS DO CANCELAMENTO


Em relação às provas do casamento, o Código Civil expressa o seguinte:

Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro. Parágrafo único.
Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie de prova.
Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades
ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de
um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no
1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir.

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Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar
vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante
certidão do Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento
impugnado.
Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do casamento resultar de processo judicial, o
registro da sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como
no que respeita aos filhos, todos os efeitos civis desde a data do casamento.
Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo casamento, se os
cônjuges, cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados.

Existem, assim, três formas de comprovação do casamento:


i. certidão de registro do casamento;
ii. prova indireta, fundada na posse do estado de casado: para isso, são necessários 3
requisitos para sua comprovação: nomen (um cônjuge tem que utilizar o nome de outro
cônjuge); tractatus (é o tratamento dado entre as partes, como se casados fossem) e a
fama ou reputatio (a sociedade reconhece as partes como pessoas casadas);
iii. prova direta supletória: Supondo que o sujeito tenha se casado e se registrado, sendo
extraído uma certidão a qual foi perdida. Nesse caso, far-se-á prova direta complementar
ou supletória. Justificada a perda do registro civil, é admitida qualquer outra prova, como
o passaporte ou outros documentos que consignem a informação da condição de casado.

3.5. INVALIDADE DO CASAMENTO

A invalidade do casamento poderá ser configurada ao se estabelecer que esse casamento


é nulo ou anulável.
De modo resumido, o conceito geral de nulidade se relaciona à ocorrência de algo que
ofende o interesse público, enquanto a anulação ofende interesse privado, sendo assim,
menos grave.
Conforme determina o Direito Civil, não há prazo para que seja declarada a nulidade de
algo, dado que o que é nulo nunca se torna válido.
Por outro lado, em razão de se referir a algo que ofende o interesse particular, e não o
interesse público, o que é anulável pode se tornar válido com o passar do tempo, ou seja,
caso a pessoa que se sentiu prejudicada pelo ato não ajuíze ação dentro do prazo específico
a fim de que seja decretada a anulação, o ato se tornará válido.

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Eu não te dou o direito de errar isso!


Tenha atenção aos verbos utilizados para se referir à nulidade ou à anulação de um ato:
aquilo que é nulo não tem prazo para que seja declarado nulo, enquanto aquilo que é
anulável possui prazo específico para que seja decretada a anulação.

Em regra, quando algo é declarado nulo, os efeitos da nulidade retroagem à data da


prática do ato; em contrapartida, os efeitos relativos àquilo que é declarado anulado não
retroagem.
Ademais, em razão de ofender o interesse público, o que é nulo pode ser reconhecido
de ofício pelo juiz, enquanto o que é anulável não, pois se refere a uma ofensa ao interesse
particular.
Dado o exposto, o casamento nulo e o casamento anulável apresentam as seguintes
características:
CASAMENTO NULO (+ GRAVE) CASAMENTO ANULÁVEL (- GRAVE)
INTERESSE PÚBLICO INTERESSE PRIVADO
Refere-se ao casamento que ocorre mediante
Refere-se ao casamento que ocorre sob a
a violação das regras presentes nos arts. 1.521
incidência do art. 1.550 do Código Civil.
e 1.548 do Código Civil.
A declaração da nulidade ocorre por meio da A anulação se dá por meio da decretação em
ação declaratória de nulidade. ação anulatória.
A ação de nulidade pode ser proposta por A ação anulatória somente pode ser proposta
qualquer interessado, inclusive pelo Ministério pela parte interessada e possui prazo
Público, e é imprescritível. decadencial para tal.

Conforme expressa a letra da lei:

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:

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I - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei n. 13.146, de 2015) (Vigência)


II - por infringência de impedimento.
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente,
pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.
Art. 1.550. É anulável o casamento:
I – de quem não completou a idade mínima para casar;

Lembre-se de que, no Brasil, a idade mínima para que uma pessoa possa se casar é de
16 (dezesseis) anos.

Art. 1.550.
II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III – por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;

Os arts. 1.556 a 1.558, aos quais se refere o art. 1.550, inciso III, estabelecem o seguinte
a respeito do vício da vontade:

Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos
nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.

Existem diversas análises em relação ao que consiste em erro essencial contra a pessoa
do outro, sendo consolidado o entendimento de que, para que haja a configuração de
tal aspecto, o erro deve ser tal que torne insuportável a vida em comum do casal, como
pode ocorrer, por exemplo, em relação a alguém que case com determinado indivíduo
acreditando que ele seja uma pessoa honesta e de boa índole quando, na verdade, o sujeito
é um bandido perigoso.
Ao tratar sobre o erro essencial quanto à pessoa do outro é comum que haja a indagação
quanto às pessoas transsexuais. Conforme é de conhecimento geral, atualmente não há
a necessidade de que uma pessoa realize a cirurgia de transgenitalização ou que tenha
autorização judicial para que possa alterar o seu prenome nos registros em cartório, bastando
que efetue uma autodeclaração.
Nesse sentido, a pessoa que realiza a cirurgia de alteração de sexo (tanto do feminino
para o masculino como do masculino para o feminino) pode alterar seus registros sem que
haja a necessidade de apresentação de nenhuma informação adicional; sendo possível,
desse modo, que o cônjuge venha a ter conhecimento sobre o ato apenas após a celebração
do casamento.
Apesar de, em teoria, esta situação não consistir em algo passível de tornar a vida em
comum insuportável, algumas pessoas que se encontram diante desse tipo de situação
alegam o erro essencial sobre a pessoa com o intuito de invalidar o casamento.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:

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I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a
vida conjugal;
III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize
deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em
risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; (Redação dada pela Lei n. 13.146, de
2015) (Vigência)
IV – (Revogado). (Redação dada pela Lei n. 13.146, de 2015) (Vigência)

É importante estar atento(a) ao fato de que a impotência generandi, isto é, a impotência


para gerar filhos, não é causa de invalidação do casamento, pois, em gênese, o instituto
do casamento não foi criado para que filhos fossem concebidos, e sim para que houvesse
a regularização das relações sexuais.
Caso a impotência generandi seja um incômodo para um dos cônjuges, a saída será
o divórcio.
Resumindo:
i. Muitas vezes a anulação do casamento é preferível ao divórcio devido ao fato de não
ficar registrada no histórico do indivíduo, pois se você se divorcia, constará “divorciado”
em seus documentos.
ii. Lembre-se de que, em razão de ofender o interesse público, o casamento nulo nunca
se tornará válido, independentemente do tempo que passe. Em contrapartida, por ofender
apenas o interesse privado, o casamento anulável poderá se tornar válido se a parte ofendida
não agir dentro do prazo previsto em lei.
iii. Ocorrendo a validade do casamento, o mesmo somente poderá ser desfeito por meio
do divórcio ou caso ocorra a morte de um dos cônjuges, configurando o estado de viuvez
daquele que for sobrevivente.
Ainda no que se refere à anulação do casamento, a continuidade do Código Civil estabelece
o seguinte:

Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de


ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente
para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares.
Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode demandar a anulação
do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses
dos incisos III e IV do art. 1.557.

Cabe lembrar que a declaração de nulidade pode ser demandada por qualquer interessado
que seja capaz, inclusive pelo Ministério Público; já a anulação somente poderá ser demandada
pela parte interessada que incidiu em erro.

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No entanto, conforme expresso pelo artigo reproduzido acima, a coabitação, havendo


ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III e IV do art. 1.557.

Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da
celebração, é de:
I – cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550;
II – dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;
III – três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557;
IV – quatro anos, se houver coação.
§ 1º Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de
dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do
casamento, para seus representantes legais ou ascendentes.
§ 2º Na hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulação do casamento é de cento e
oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebração.

A tabela abaixo é apresentada com o intuito de facilitar a leitura do artigo 1.560:


Hipóteses de anulação do casamento Prazo de decadência
Quando a pessoa que casa ainda não houver completado a idade núbil
180 (cento e oitenta) dias
(dezesseis anos)
Quando o menor de idade que houver casado tenha realizado o ato
180 (cento e oitenta) dias
sem o consentimento dos pais
Quando for caso de vício de vontade por erro essencial 3 3 (três) anos
Quando for caso de vício de vontade por coação 4 (quatro) anos
Quando for caso de incapacidade 180 (cento e oitenta) dias
Quando for caso de revogação de procuração 180 (cento e oitenta) dias
Por incompetência da autoridade celebrante 2 (dois) anos

Mais uma vez vou repetir para ficar firme na sua mente:
O casamento anulável é aquele sujeito à convalidação. As hipóteses de anulabilidade
estão previstas no art. 1.550/CC e são elas:
• casamento de quem não completou a idade mínima para casar;
• casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante
legal;
• casamento por vício da vontade;
• casamento do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;
• casamento realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse
da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
• casamento por incompetência da autoridade celebrante.

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A) Casamento de quem não completou a idade mínima para casar: como vimos, após a
mudança legislativa que alterou a redação do artigo 1.520/CC, a idade mínima para casar
passou a ser 16 anos. Entretanto, se eventualmente o menor com idade inferior a 16 anos
conseguir se casar, esse casamento será anulável e não nulo. O prazo decadencial para ação
de anulação é de 180 dias (artigo 1.560, §1º, CC) e deve observar que:
• se proposta pelo próprio menor, começa a contar da data em que completar 16 anos;
• se proposta pelos demais legitimados, começa a contar da data do casamento.
• A ação anulatória, no caso, pode ser proposta (art. 1.552/CC):
• pelo próprio cônjuge menor;
• pelos seus ascendentes.
B) Casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal:
o casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu(s) representante(s)
legal(is), também é um casamento anulável. O prazo para propositura da ação anulatória
é de 180 dias (art. 1.555/CC) e deve observar que:
• se proposta pelo menor, começa a contar da data em que cessar a incapacidade;
• se proposta pelo representante legal, começa a contar a partir da data da celebração
do casamento;
• se, por fim, proposta por um herdeiro necessário, começa a contar da data do óbito
do menor.
O transcurso do prazo decadencial, sem que haja anulação, importará em sua convalidação
para todos os efeitos. É importante destacar o disposto no §2º do artigo 1.555/CC, que
estabelece que não se anulará o casamento quando da sua celebração houverem assistido
os representantes legais do incapaz ou tiverem, por qualquer motivo, manifestado sua
aprovação.
C) Casamento com coação moral: a lei prevê também que o casamento realizado com
coação moral será anulável. A coação moral, conforme art. 1.558/CC, ocorre quando o
consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado
temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus
familiares. Nessa situação, o prazo decadencial para a ação anulatória será de 4 anos,
contados da celebração do casamento (art. 1.560,IV/CC). A ação, no caso da coação moral, é
personalíssima, somente podendo ser proposta pelo coagido (art. 1.559/CC). O art. 1.559/
CC prevê, ainda, que na hipótese de coação, a coabitação, havendo ciência do vício, valida
o ato. É mais uma hipótese de convalidação.
D) Casamento com erro essencial: o vício de vontade consistente no erro essencial
também é hipótese de anulação do casamento. É importante destacar que para anulação do
casamento nessa hipótese de erro, é preciso que estejam reunidos os seguintes requisitos de

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forma cumulativa: erro essencial anterior ao casamento (hipóteses previstas no art. 1.557/
CC) + descoberta após o casamento + a descoberta torna a vida em comum insuportável.
Consoante art. 1.557/CC, considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:
• O erro que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal
que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge
enganado. A doutrina costuma citar, como exemplos de erro sobre a pessoa: casamento
com um dos gêmeos quando se pretendia com o outro; atividades de prostituição do
homem ou da mulher; perversão do instinto sexual; homossexualidade desconhecida;
• A ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável
a vida conjugal: um exemplo dessa hipótese seria o caso de a mulher descobrir, após
o casamento, que o marido era traficante de drogas;
• A ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize
deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz
de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência: a doutrina cita,
como exemplo, a hipóteses de hermafroditismo. Cabe destacar que o defeito físico,
citado nesse inciso, que enseja a anulação do casamento, é o defeito que impede o ato
sexual, ou seja, a incapacidade denominada coeundi ou incapacidade instrumental.
Isso significa que a chamada incapacidade generandi ou incapacidade de fecundação
(incapacidade para ter filhos) não é hipótese de anulação do casamento. O prazo
decadencial para anular o casamento por erro in persona é de 3 anos, contados da
celebração do casamento (art. 1.560, III/CC). Essa ação também é personalíssima (art.
1.559/CC). A coabitação posterior, sabendo do vício, convalida o casamento, salvo
nas hipóteses de defeito físico irremediável ou de moléstia grave (art. 1.559/CC).
E) Casamento do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento:
o casamento do incapaz de consentir ou de manifestar a sua vontade de modo inequívoco
pode ser anulado. Essa situação engloba o casamento dos ébrios habituais, alcoólatras,
viciados em tóxicos e daqueles que por causa transitória não puderem exprimir a sua
vontade. Nestes casos, o casamento será considerado anulável. Dessa forma, percebe-se
que o inciso IV do artigo 1.550 não foi revogado pelo Estatuto do Deficiente, que acrescentou
o § 2º ao mesmo artigo, segundo o qual “a pessoa com deficiência mental ou intelectual
em idade núbio poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por
meio de seu responsável ou curador”. Nesses casos, o prazo decadencial para anulação do
casamento também é de 180 dias, contados da celebração do casamento (art. 1560, I/CC).
F) Casamento realizado por procuração com revogação antes da celebração, mas sem
conhecimento do mandatário e do outro cônjuge: pode acontecer de a revogação outorgada
para o casamento ser revogada sem que o mandatário e o outro cônjuge tomem conhecimento
da revogação. Nessa hipótese, realizada a celebração, o casamento será anulável. O prazo da

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ação anulatória será decadencial de 180 dias, contados do momento em que o mandante
toma o conhecimento de que o casamento, a despeito da revogação do mandato, foi
celebrado (art. 1.560, §2º/CC). A legitimidade para a ação de anulação, nessa hipótese, é
apenas do mandante, em caráter personalíssimo, sendo o ato convalidado pela coabitação
(art. 1.550, V, CC).
G) Casamento realizado por autoridade relativamente incompetente: foi visto, quando
da análise do plano da existência do casamento, que a celebração feita por autoridade
absolutamente incompetente importa em inexistência do casamento. Já a celebração
realizada por autoridade relativamente incompetente ensejará a anulabilidade do ato.
A incompetência relativa do celebrante está relacionada à região em que pode celebrar
casamentos. Assim, um juiz de paz é investido pelo Estado dos poderes para celebração de
casamentos, tornando-se autoridade absolutamente competente para o ato. Porém, sua
competência tem limitação territorial, que, uma vez não observada, enseja a anulabilidade
do casamento. O prazo será decadencial de 2 anos, contados da data da celebração do
casamento (art. 1.560,II/CC). Sobre a incompetência da autoridade celebrante, é importante
destacar o disposto no art. 1.554/CC que trata da denominada teoria da aparência, aplicável
ao celebrante. Define o referido artigo que subsiste o casamento celebrado por aquele
que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de
casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil.
Por fim, quanto à invalidade do casamento, cabe destacar aquilo que é denominado
como CASAMENTO PUTATIVO, referente ao casamento que é nulo ou anulável, mas que
foi contraído de boa-fé.
A fim de compreender o casamento putativo, imagine a seguinte situação: Maria a João
se encontram por acaso e acabam se apaixonando perdidamente, decidindo se casarem;
contudo, algum tempo após estarem casados, descobrem que são irmãos. Perceba que,
nos termos da lei, esse casamento será declarado nulo. No entanto, em razão da falta de
conhecimento acerca do laço sanguíneo, isto é, em razão da boa-fé, os efeitos do casamento
– como o direito de pedir alimentos, de usar o sobrenome do outro e demais questões
relacionadas a situações que decorram dos efeitos do casamento – permanecerão em
relação aos cônjuges. O mesmo ocorrerá em relação ao casamento anulável: os efeitos do
casamento serão aplicáveis ao(s) cônjuge(s) de boa-fé, conforme dispõe o artigo 1.561:

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o
casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença
anulatória.
§ 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele
e aos filhos aproveitarão.

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§ 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só


aos filhos aproveitarão.

Veja que o casamento em si é inválido, mas os efeitos permanecem, só os efeitos!

3.6. EFICÁCIA DO CASAMENTO (1.565 – 1.570)


O casamento válido produz, então, vários efeitos, tanto no plano pessoal quanto no
social e patrimonial.
Podemos resumir os efeitos no seguinte esquema
A) Efeitos sociais do casamento:
• cria a família matrimonial;
• estabelece o vínculo de afinidade;
• acarreta a emancipação.
B) Efeitos pessoais:
• fidelidade mútua;
• coabitação;
• mútua assistência, respeito e consideração mútuos;
• igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges;
• sustento, guarda e criação dos filhos.
C) Efeitos patrimoniais:
• cria a sociedade conjugal;
• estabelece direito sucessório;
• dever de alimentar o outro cônjuge;
• institui o bem de família;
• estabelece o regime de bens entre o casal.
Os aspectos inerentes à eficácia do casamento são tratados pelos artigos 1.565 a 1.570
do Código Civil, reproduzidos a seguir:

Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes,
companheiros e responsáveis pelos encargos da família.
§ 1º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro.

Observe que um dos efeitos do casamento se dá em relação ao nome dos envolvidos,


podendo qualquer um dos nubentes – e não apenas a mulher – acrescer ao seu o sobrenome
do outro. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) autoriza, inclusive, a retirada de um dos
sobrenomes da pessoa (referente ao sobrenome do pai ou da mãe) para que seja efetuada
a inclusão do sobrenome do marido ou esposa.

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É importante frisar que ao acrescentar ou retirar o nome do marido ou esposa, a


pessoa deverá mudar toda a sua documentação. Muitas vezes tal aspecto gera situações
problemáticas. Imagine, por exemplo, que Maria aderiu ao sobrenome de João, com quem
teve cinco filhos. No entanto, após alguns anos de casamento, a mulher decidiu se separar
de João e voltar a utilizar seu nome de solteira, falecendo logo em seguida. Perceba que,
nessa situação, a certidão de óbito de Maria será emitida com seu nome de solteira, mas
a documentação dos seus filhos teria o seu nome de casada, o que possivelmente poderia
gerar grandes transtornos no momento de realizar o inventário.

Obs.: Em regra, após a realização do divórcio, a pessoa deve deixar de usar o nome de seu
ex-cônjuge, a menos que seja conhecida em seu ambiente de trabalho por aquele
sobrenome, hipótese em que terá o direito de continuar a utilizá-lo

Art. 1.565.
§ 2º O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por
parte de instituições privadas ou públicas.
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I – fidelidade recíproca;

Atualmente, o conceito de fidelidade é discutido tanto em relação à infidelidade carnal


quanto à infidelidade virtual. Em alguns casos, a infidelidade (seja carnal ou virtual) pode,
inclusive, gerar dano moral, sendo necessário, para tanto, que ocorra a demonstração de
efetivos danos à pessoa traída.
Existem decisões judiciais que condenam tanto o sujeito que traiu como o cumplice do
adultério, isto é, o ou a amante, ao pagamento do referido dano.

Art. 1.566.
II – vida em comum, no domicílio conjugal;
III – mútua assistência; IV – sustento, guarda e educação dos filhos;
V – respeito e consideração mútuos.
Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela
mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.
Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá
tendo em consideração aqueles interesses.
Art. 1.568. Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos
do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime
patrimonial.

Note que, conforme dispõe o artigo 1.568, o casal deve contribuir proporcionalmente na
manutenção do lar, ainda que essa manutenção não esteja relacionada ao aspecto financeiro.

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Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro podem
ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua profissão,
ou a interesses particulares relevantes.
Art. 1.570. Se qualquer dos cônjuges estiver em lugar remoto ou não sabido, encarcerado por mais
de cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou privado, episodicamente, de consciência,
em virtude de enfermidade ou de acidente, o outro exercerá com exclusividade a direção da
família, cabendo-lhe a administração dos bens.

Resumindo:
O casamento válido produz, então, vários efeitos, tanto no plano pessoal, quanto no
social e patrimonial.

EFEITOS
• EFEITOS SOCIAIS DO CASAMENTO
- cria a família matrimonial;
- estabelece o vínculo de afinidade;
- acarreta a emancipação.

• EFEITOS PESSOAIS
- fidelidade mútua;
- coabitação;
- mútua assistência e respeito e consideração mútuos;
- igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges;
- sustento, guarda e criação dos filhos.

• EFEITOS PATRIMONIAIS
- cria a sociedade conjugal;
- estabelece direito sucessório;
- dever de alimentar o outro cônjuge;
- institui o bem de família;
- estabelece o regime de bens entre o casal.

3.7. DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO (1.571 – 1.582)


Por fim, a dissolução do casamento é tratada pelos artigos 1.571 a 1.582:

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I – pela morte de um dos cônjuges;

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II – pela nulidade ou anulação do casamento;


III – pela separação judicial;
IV – pelo divórcio.
§ 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-
-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.
§ 2º Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o
nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial.

Interessante consignar que, no Brasil, até o ano de 1977, o casamento era considerado
indissolúvel, tendo essa situação mudado a partir da Emenda Constitucional n. 9, de 28
de julho de 1977, que alterou a Constituição Federal então vigente (CF de 1969), abrindo
espaço para o divórcio, ao ser alterado o § 1º do art. 175, que passou a permitir a dissolução
do matrimônio nos casos previstos em lei.
Na década de 70, ainda, surgiu a tal Lei do Divórcio (Lei n. 6.515, de 26 de dezembro
de 1977) que representou um marco importantíssimo e um alívio no Direito de Família ao
permitir, de forma expressa e categórica, o divórcio como forma de dissolução do vínculo
matrimonial.
Em tempo, importante entender que a sociedade conjugal é diferente de vínculo
matrimonial. Como mencionado, um dos efeitos do casamento é o estabelecimento
da sociedade conjugal, o que indica que o casamento (vínculo matrimonial) é algo mais
abrangente que a sociedade conjugal, estando esta contida naquele.

Pela sociedade conjugal, temos um conjunto de direitos e obrigações que ligam os


cônjuges, sendo certo que o vínculo matrimonial é muito maior.
Em razão disso, pode ocorrer a suspensão ou extinção da sociedade conjugal com
permanência do vínculo matrimonial, situação em que os direitos e obrigações cessam
(inclusive quanto ao regime de bens) mas persiste a proibição de novo casamento, porquanto
ainda existente o vínculo do matrimônio.
Nesse sentido, temos que o vínculo matrimonial só se dissolve, ou seja, o efetivo fim do
casamento somente ocorre nas seguintes hipóteses: morte de um dos cônjuges; anulação
do casamento e divórcio.

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Assim, a separação judicial põe fim à sociedade conjugal, mas não põe fim ao vínculo
matrimonial. Entendeu?
É fato que, conforme expressa o artigo reproduzido acima, a morte real e a morte
presumida colocam fim ao casamento, pois geram o estado de viuvez do cônjuge sobrevivente.
Segundo dispõe o Código, a dissolução do enlace também ocorrerá pela nulidade ou
anulação do casamento, pela separação judicial ou pelo divórcio.
No entanto, é importante destacar que a Emenda Constitucional n. 66/2010 estabeleceu
uma alteração quanto à questão do divórcio: anteriormente, para que fosse possível realizar
o pedido de divórcio, era necessário que o casal estivesse separado de fato por 2 (dois) anos
ou separado judicialmente por 1 (um) ano, como vimos.
A partir da referida emenda, o divórcio pode ser pedido a qualquer momento, sem que
haja a necessidade de espera.
Cabe apontar que a possibilidade existente nos dias atuais de que o divórcio seja realizado
“de cara” não significa que a separação judicial não exista mais.
Caso um casal decida se separar judicialmente, a sociedade conjugal ficará suspensa
até que o divórcio de fato seja realizado.
Nesse sentido, havendo apenas a separação judicial, os indivíduos detêm a possibilidade
de reatar o casamento sem que haja maiores problemas, diferentemente do que ocorre
quando acontece o divórcio: a partir deste, o casamento somente pode ser retomado caso
seja efetuado novamente, pois consiste em um procedimento que coloca um fim efetivo
à sociedade conjugal.

Obs.: Vale ressaltar que o divórcio é um direito potestativo, isto é, consiste em um direito
que não admite contestações. Nesse sentido, caso um dos cônjuges tome a iniciativa
de divórcio, sua decisão deve ser acatada e respeitada.
Em decorrência dessa característica, atualmente existem projetos para que o
procedimento seja impositivo, ou seja, para que o divórcio possa ocorrer por meio
do pedido de apenas uma das partes perante o cartório.
Em geral, a ação de divórcio é cumulada com a partilha de bens. No entanto, para
que o procedimento seja efetuado, não é obrigatório que seja realizada a partilha:
o divórcio pode ser concedido primeiro, inclusive liminarmente, sendo a partilha
discutida posteriormente.

Ainda no que se refere ao tema, é importante destacar que existem duas espécies
de divórcio:
• Divórcio consensual: ocorre quando ambas as partes estão de acordo em relação à
partilha de bens. Caso não haja o interesse de incapazes, o divórcio consensual pode
ser realizado no cartório.
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• Divórcio litigioso: ocorre quando não há concordância entre as partes acerca dos
aspectos que envolvem a partilha de bens.
Em sua continuidade, o Código Civil determina o seguinte:

Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao
outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável
a vida em comum.
Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a ocorrência de algum
dos seguintes motivos:
I – adultério;
II – tentativa de morte;
III – sevícia ou injúria grave;
IV – abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;
V – condenação por crime infamante;
VI – conduta desonrosa.
Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem evidente a impossibilidade
da vida em comum.
Art. 1.574. Dar-se-á a separação judicial por mútuo consentimento dos cônjuges se forem casados
por mais de um ano e o manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente homologada
a convenção.
Parágrafo único. O juiz pode recusar a homologação e não decretar a separação judicial se apurar
que a convenção não preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges.
Art. 1.575. A sentença de separação judicial importa a separação de corpos e a partilha de bens.
Parágrafo único. A partilha de bens poderá ser feita mediante proposta dos cônjuges e homologada
pelo juiz ou por este decidida.
Art. 1.576. A separação judicial põe termo aos deveres de coabitação e fidelidade recíproca e
ao regime de bens.
Parágrafo único. O procedimento judicial da separação caberá somente aos cônjuges, e, no caso
de incapacidade, serão representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão.
Art. 1.577. Seja qual for a causa da separação judicial e o modo como esta se faça, é lícito aos
cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato regular em juízo.
Parágrafo único. A reconciliação em nada prejudicará o direito de terceiros, adquirido antes e
durante o estado de separado, seja qual for o regime de bens.
Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de usar o
sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração
não acarretar:
I – evidente prejuízo para a sua identificação;
II – manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida;
III – dano grave reconhecido na decisão judicial.
§ 1º O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a qualquer momento,
ao direito de usar o sobrenome do outro.

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§ 2º Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de casado.


Art. 1.579. O divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos.
Parágrafo único. Novo casamento de qualquer dos pais, ou de ambos, não poderá importar
restrições aos direitos e deveres previstos neste artigo.
Art. 1.580. Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que houver decretado a
separação judicial, ou da decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos, qualquer
das partes poderá requerer sua conversão em divórcio.
§ 1º A conversão em divórcio da separação judicial dos cônjuges será decretada por sentença,
da qual não constará referência à causa que a determinou.
§ 2º O divórcio poderá ser requerido, por um ou por ambos os cônjuges, no caso de comprovada
separação de fato por mais de dois anos.

É importante que o candidato tome cuidado com o parágrafo 2º do artigo 1.580: em


razão do que é estabelecido pela Emenda Constitucional n. 66/2010, não há, atualmente,
a necessidade que seja comprovada separação de fato por mais de dois anos para que seja
possível requerer o divórcio.

Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens.

Conforme exposto anteriormente, em uma ação de divórcio cumulada com partilha


de bens, o juiz poderá conceder o divórcio imediatamente, sem que haja a aceitação ou o
consentimento do outro, e prosseguir com a partilha posteriormente.

Art. 1.582. O pedido de divórcio somente competirá aos cônjuges.


Parágrafo único. Se o cônjuge for incapaz para propor a ação ou defender-se, poderá fazê-lo o
curador, o ascendente ou o irmão.

3.8. DECISÕES RELEVANTES

JURISPRUDÊNCIA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. Relação homoafetiva e entidade familiar – 1: A norma
constante do art. 1.723 do Código Civil — CC (“É reconhecida como entidade familiar
a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua
e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”) não obsta que
a união de pessoas do mesmo sexo possa ser reconhecida como entidade familiar apta
a merecer proteção estatal. Essa a conclusão do Plenário ao julgar procedente pedido
formulado em duas ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas, respectivamente,
pelo Procurador-Geral da República e pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro.
Preliminarmente, conheceu-se de arguição de preceito fundamental — ADPF, proposta
pelo segundo requerente, como ação direta, tendo em vista a convergência de objetos

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entre ambas as ações, de forma que as postulações deduzidas naquela estariam


inseridas nesta, a qual possui regime jurídico mais amplo. Ademais, na ADPF existiria
pleito subsidiário nesse sentido. Em seguida, declarou-se o prejuízo de pretensão
originariamente formulada na ADPF consistente no uso da técnica da interpretação
conforme a Constituição relativamente aos artigos 19, II e V, e 33 do Estatuto dos
Servidores Públicos Civis da aludida unidade federativa (Decreto-lei 220/75).
Consignou-se que, desde 2007, a legislação fluminense (Lei n. 5.034/2007, art. 1º)
conferira aos companheiros homoafetivos o reconhecimento jurídico de sua união.
Rejeitaram-se, ainda, as preliminares suscitadas. ADI 4277/DF, rel. Min. Ayres Britto,
4 e 5.5.2011. (ADI-4277) (INF. 625/2011). Relação homoafetiva e entidade familiar –
2: No mérito, prevaleceu o voto proferido pelo Min. Ayres Britto, relator, que dava
interpretação conforme a Constituição ao art. 1.723 do CC para dele excluir qualquer
significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura
entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo
perfeito de família. Asseverou que esse reconhecimento deveria ser feito segundo as
mesmas regras e com idênticas consequências da união estável heteroafetiva. De
início, enfatizou que a Constituição proibiria, de modo expresso, o preconceito em
razão do sexo ou da natural diferença entre a mulher e o homem. Além disso, apontou
que fatores acidentais ou fortuitos, a exemplo da origem social, idade, cor da pele e
outros, não se caracterizariam como causas de merecimento ou de desmerecimento
intrínseco de quem quer que fosse. Assim, observou que isso também ocorreria quanto
à possibilidade da concreta utilização da sexualidade. Afirmou, nessa perspectiva,
haver um direito constitucional líquido e certo à isonomia entre homem e mulher: a)
de não sofrer discriminação pelo fato em si da contraposta conformação anátomo-
fisiológica; b) de fazer ou deixar de fazer uso da respectiva sexualidade; e c) de, nas
situações de uso emparceirado da sexualidade, fazê-lo com pessoas adultas do mesmo
sexo, ou não. ADI 4277/DF, rel. Min. Ayres Britto, 4 e 5.5.2011. (ADI-4277)ADPF 132/
RJ, rel. Min. Ayres Britto, 4 e 5.5.2011. (ADPF-132) (INF. 625/2011). Relação homoafetiva
e entidade familiar – 3: Em passo seguinte, assinalou que, no tocante ao tema do
emprego da sexualidade humana, haveria liberdade do mais largo espectro ante silêncio
intencional da Constituição. Apontou que essa total ausência de previsão normativo-
constitucional referente à fruição da preferência sexual, em primeiro lugar, possibilitaria
a incidência da regra de que “tudo aquilo que não estiver juridicamente proibido, ou
obrigado, está juridicamente permitido”. Em segundo lugar, o emprego da sexualidade
humana diria respeito à intimidade e à vida privada, as quais seriam direito da
personalidade e, por último, dever-se-ia considerar a âncora normativa do § 1º do
art. 5º da CF. Destacou, outrossim, que essa liberdade para dispor da própria sexualidade

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inserir-se-ia no rol dos direitos fundamentais do indivíduo, sendo direta emanação


do princípio da dignidade da pessoa humana e até mesmo cláusula pétrea. Frisou que
esse direito de exploração dos potenciais da própria sexualidade seria exercitável tanto
no plano da intimidade (absenteísmo sexual e onanismo) quanto da privacidade
(intercurso sexual). Asseverou, de outro lado, que o século XXI já se marcaria pela
preponderância da afetividade sobre a biologicidade. Ao levar em conta todos esses
aspectos, indagou se a Constituição sonegaria aos parceiros homoafetivos, em estado
de prolongada ou estabilizada união — realidade há muito constatada empiricamente
no plano dos fatos —, o mesmo regime jurídico protetivo conferido aos casais
heteroafetivos em idêntica situação. ADI 4277/DF, rel. Min. Ayres Britto, 4 e 5.5.2011.
(ADI-4277)ADPF 132/RJ, rel. Min. Ayres Britto, 4 e 5.5.2011. (ADPF-132) (INF. 625/2011).
Relação homoafetiva e entidade familiar – 4: Após mencionar que a família deveria
servir de norte interpretativo para as figuras jurídicas do casamento civil, da união
estável, do planejamento familiar e da adoção, o relator registrou que a diretriz da
formação dessa instituição seria o não-atrelamento a casais heteroafetivos ou a
qualquer formalidade cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa. Realçou que
família seria, por natureza ou no plano dos fatos, vocacionalmente amorosa, parental
e protetora dos respectivos membros, constituindo-se no espaço ideal das mais
duradouras, afetivas, solidárias ou espiritualizadas relações humanas de índole privada,
o que a credenciaria como base da sociedade (CF, art. 226, caput). Desse modo, anotou
que se deveria extrair do sistema a proposição de que a isonomia entre casais
heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganharia plenitude de sentido se
desembocasse no igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada família,
constituída, em regra, com as mesmas notas factuais da visibilidade, continuidade e
durabilidade (CF, art. 226, § 3º: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a
união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar
sua conversão em casamento”). Mencionou, ainda, as espécies de família
constitucionalmente previstas (art. 226, §§ 1º a 4º), a saber, a constituída pelo
casamento e pela união estável, bem como a monoparental. Arrematou que a solução
apresentada daria concreção aos princípios da dignidade da pessoa humana, da
igualdade, da liberdade, da proteção das minorias, da não-discriminação e outros. O
Min. Celso de Mello destacou que a consequência mais expressiva deste julgamento
seria a atribuição de efeito vinculante à obrigatoriedade de reconhecimento como
entidade familiar da união entre pessoas do mesmo sexo. ADI 4277/DF, rel. Min. Ayres
Britto, 4 e 5.5.2011. 320 (ADI-4277) ADPF 132/RJ, rel. Min. Ayres Britto, 4 e 5.5.2011.
(ADPF-132) (INF. 625/2011). Relação homoafetiva e entidade familiar – 5: Por sua vez,
os Ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cezar Peluso, Presidente, embora

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reputando as pretensões procedentes, assentavam a existência de lacuna normativa


sobre a questão. O primeiro enfatizou que a relação homoafetiva não configuraria
união estável — que impõe gêneros diferentes —, mas forma distinta de entidade
familiar, não prevista no rol exemplificativo do art. 226 da CF. Assim, considerou cabível
o mecanismo da integração analógica para que sejam aplicadas às uniões homoafetivas
as prescrições legais relativas às uniões estáveis heterossexuais, excluídas aquelas
que exijam a diversidade de sexo para o seu exercício, até que o Congresso Nacional
lhe dê tratamento legislativo. O segundo se limitou a reconhecer a existência dessa
união por aplicação analógica ou, na falta de outra possibilidade, por interpretação
extensiva da cláusula constante do texto constitucional (CF, art. 226, § 3º), sem se
pronunciar sobre outros desdobramentos. Ao salientar que a ideia de opção sexual
estaria contemplada no exercício do direito de liberdade (autodesenvolvimento da
personalidade), acenou que a ausência de modelo institucional que permitisse a
proteção dos direitos fundamentais em apreço contribuiria para a discriminação. No
ponto, ressaltou que a omissão da Corte poderia representar agravamento no quadro
de desproteção das minorias, as quais estariam tendo seus direitos lesionados. O
Presidente aludiu que a aplicação da analogia decorreria da similitude factual entre
a união estável e a homoafetiva, contudo, não incidiriam todas as normas concernentes
àquela entidade, porque não se trataria de equiparação. Evidenciou, ainda, que a
presente decisão concitaria a manifestação do Poder Legislativo. Por fim, o Plenário
autorizou que os Ministros decidam monocraticamente os casos idênticos ADI 4277/
DF, rel. Min. Ayres Britto, 4 e 5.5.2011. (ADI-4277)ADPF 132/RJ, rel. Min. Ayres Britto,
4 e 5.5.2011. (ADPF-132) (INF. 625/2011).
JURISPRUDÊNCIA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. ADOÇÃO PÓSTUMA. FAMÍLIA ANAPARENTAL. Para as adoções
post mortem, vigem, como comprovação da inequívoca vontade do de cujus em adotar,
as mesmas regras que comprovam a filiação socioafetiva, quais sejam, o tratamento
do menor como se filho fosse e o conhecimento público dessa condição. Ademais, o §
6º do art. 42 do ECA (incluído pela Lei n. 12.010/2009) abriga a possibilidade de adoção
póstuma na hipótese de óbito do adotante no curso do respectivo procedimento, com
a constatação de que ele manifestou, em vida, de forma inequívoca, seu desejo de
adotar. In casu, segundo as instâncias ordinárias, verificou-se a ocorrência de inequívoca
manifestação de vontade de adotar, por força de laço socioafetivo preexistente entre
adotante e adotando, construído desde quando o infante (portador de necessidade
especial) tinha quatro anos de idade. Consignou-se, ademais, que, na chamada família
anaparental - sem a presença de um ascendente -, quando constatados os vínculos
subjetivos que remetem à família, merece o reconhecimento e igual status daqueles

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grupos familiares descritos no art. 42, § 2º, do ECA. Esses elementos subjetivos são
extraídos da existência de laços afetivos - de quaisquer gêneros -, da congruência de
interesses, do compartilhamento de ideias e ideais, da solidariedade psicológica, social
e financeira e de outros fatores que, somados, demonstram o animus de viver como
família e dão condições para se associar ao grupo assim construído a estabilidade
reclamada pelo texto da lei. Dessa forma, os fins colimados pela norma são a existência
de núcleo familiar estável e a consequente rede de proteção social que pode gerar para
o adotando. Nesse tocante, o que informa e define um núcleo familiar estável são os
elementos subjetivos, que podem ou não existir, independentemente do estado civil
das partes. Sob esse prisma, ressaltouse que o conceito de núcleo familiar estável não
pode ficar restrito às fórmulas clássicas de família, mas pode, e deve, ser ampliado para
abarcar a noção plena apreendida nas suas bases sociológicas. Na espécie, embora os
adotantes fossem dois irmãos de sexos opostos, o fim expressamente assentado pelo
texto legal - colocação do adotando em família estável - foi plenamente cumprido, pois
os irmãos, que viveram sob o mesmo teto até o óbito de um deles, agiam como família
que eram, tanto entre si como para o infante, e naquele grupo familiar o adotando se
deparou com relações de afeto, construiu - nos limites de suas possibilidades - seus
valores sociais, teve amparo nas horas de necessidade físicas e emocionais, encontrando
naqueles que o adotaram a referência necessária para crescer, desenvolver-se e
inserir-se no grupo social de que hoje faz parte. Dessarte, enfatizou-se que, se a lei
tem como linha motivadora o princípio do melhor interesse do adotando, nada mais
justo que a sua interpretação também se revista desse viés. (REsp 1.217.415-RS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/6/2012). (INF. 500)
JURISPRUDÊNCIA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. CASAMENTO. PESSOAS. IGUALDADE. SEXO. In casu, duas
mulheres alegavam que mantinham relacionamento estável há três anos e requereram
habilitação para o casamento junto a dois cartórios de registro civil, mas o pedido foi
negado pelos respectivos titulares. Posteriormente ajuizaram pleito de habilitação
para o casamento perante a vara de registros públicos e de ações especiais sob o
argumento de que não haveria, no ordenamento jurídico pátrio, óbice para o casamento
de pessoas do mesmo sexo. Foi-lhes negado o pedido nas instâncias ordinárias. O Min.
Relator aduziu que, nos dias de hoje, diferentemente das constituições pretéritas, a
concepção constitucional do casamento deve ser plural, porque plurais são as famílias;
ademais, não é o casamento o destinatário final da proteção do Estado, mas apenas
o intermediário de um propósito maior, qual seja, a proteção da pessoa humana em
sua dignidade. Assim sendo, as famílias formadas por pessoas homoafetivas não são
menos dignas de proteção do Estado se comparadas com aquelas apoiadas na tradição

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e formadas por casais heteroafetivos. O que se deve levar em consideração é como


aquele arranjo familiar deve ser levado em conta e, evidentemente, o vínculo que mais
segurança jurídica confere às famílias é o casamento civil. Assim, se é o casamento
civil a forma pela qual o Estado melhor protege a família e se são múltiplos os arranjos
familiares reconhecidos pela CF/1988, não será negada essa via a nenhuma família que
por ela optar, independentemente de orientação sexual dos nubentes, uma vez que as
famílias constituídas por pares homoafetivos possuem os mesmos núcleos axiológicos
daquelas constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade das pessoas
e o afeto. Por consequência, o mesmo raciocínio utilizado tanto pelo STJ quanto pelo
STF para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da união estável
deve ser utilizado para lhes proporcionar a via do casamento civil, ademais porque a
CF determina a facilitação da conversão da união estável em casamento (art. 226, §
3º). Logo, ao prosseguir o julgamento, a Turma, por maioria, deu provimento ao recurso
para afastar o óbice relativo à igualdade de sexos e determinou o prosseguimento
do processo de habilitação do casamento, salvo se, por outro motivo, as recorrentes
estiverem impedidas de contrair matrimônio. REsp 1.183.378-RS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 25/10/2011. (INF. 486).
JURISPRUDÊNCIA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. CASAMENTO. ANULAÇÃO. DOMICÍLIO. EXTERIOR. Descabe a
homologação de sentença estrangeira de ação de anulação de casamento realizado no
Brasil - art. 7º, § 1º, da Lei de Introdução ao Código Civil - independentemente de os
cônjuges serem domiciliados fora do país. No caso, pretendia anular-se o casamento
no Japão devido aos impedimentos de bigamia. SEC 1.303-EX, Rel. Min. Fernando
Gonçalves, julgada em 5/12/2007. (INF. 341).

4. REGIME DE BENS (1.639 – 1.688)

O regime dos bens está diretamente relacionado às regras patrimoniais que têm incidência
no casamento ou na união estável, quer a relação seja estabelecida entre homem e mulher
ou entre casais homoafetivos.

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Basicamente, dado que durante a vida as pessoas acabam por adquirir bens – sejam
estes constituídos antes do casamento, durante ou depois do mesmo – o regime de bens
visa estabelecer as regras que irão reger o patrimônio das pessoas envolvidas no casamento
quando este vier a terminar, seja por meio do divórcio ou devido à morte de um dos cônjuges.
O importante a se ter em mente é que, em qualquer uma das situações de término,
ou seja, independentemente se o fim da relação se der razão de divórcio ou de morte, o
regime de bens adotado pelo casal terá reflexo sobre a partilha dos bens, de maneira que
este deverá ser escolhido com cautela.
O regime de bens é um dos efeitos patrimoniais do casamento.
É necessário que as pessoas tenham consciência da necessidade de se pensar nas
possíveis situações de divórcio e/ou morte no momento em que estiverem constituindo
o casamento ou a união estável, pois a escolha ou alteração do regime de bens adequado
poderá facilitar ou complicar suas vidas no futuro. Apesar de essa questão ser, na maioria
das vezes, compreendida como uma visão pessimista acerca do enlace, tal atitude se refere,
na verdade, a um planejamento de vida que deveria ser efetuado por todos.

Obs.: A título de lembrança, cabe apontar que não há hierarquia entre o casamento e a
união estável, sejam essas modalidades familiares decorrentes de uma união hétero
ou homoafetiva.
Para que seja possível compreender os aspectos inerentes à incidência do regime de
bens, é necessário, primeiramente, estar atento às diferenças existentes entre o casamento
e a união estável: enquanto o casamento possui um marco celebrativo, a partir do qual os
envolvidos recebem uma certidão que comprova a data de ocorrência da união; a união
estável é estabelecida pela convivência pública, contínua e duradoura entre duas pessoas que
possuam o intuito de constituição de família, não havendo nenhuma espécie de celebração
ou solenidade prevista em lei.

Obs.: Vale apontar que um namoro, por si só, não pode configurar a união estável em
razão de não haver o objetivo de constituição de família. No entanto, pode ocorrer
que as pessoas envolvidas em um namoro estejam vivendo uma situação tal que o
relacionamento venha a se transformar, em determinado momento, em uma união
estável. A partir desse ponto, a questão da incidência do regime de bens deverá
entrar em cena.
Devido ao fato de não haver o estabelecimento de um período mínimo para que a
união estável possa caracterizada, o regime de bens terá incidência sob o patrimônio dos
envolvidos qualquer que tenha sido o tempo do relacionamento. Tal aspecto acaba por
gerar certo desconforto quanto às situações em que a partilha de bens chega a juízo, pois
diferentemente do que ocorre em relação ao casamento, em que o ajuizamento de divórcio

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se dá por meio da junção da certidão do casamento, possuindo esta a data que constitui
o marco do início da relação conjugal a ser considerado para os fins de partilha, a união
estável não possui um marco claro de início, a menos que os companheiros elaborem um
documento estabelecendo uma data, o que não ocorre na maioria dos casos.
Desse modo, quando a união estável chega ao fim, cabe ao juiz reconhecer a sua existência
e, em acordo com a situação, estabelecer a data que marcará o início da união a fim de
possibilitar a dissolução da relação e a partilha dos bens adquiridos durante a constância
da união. No entanto, na maioria das vezes os indivíduos não concordam com o período
apontado pelo outro o que enseja longas brigas e buscas de provas robustas...
O estudo dos regimes requer a análise prévia dos princípios que os regem, a saber:
Princípio da autonomia privada: as partes poderão, como regra geral, escolher um
regime diferente do regime legal (exceção é o artigo 1.641/CC), inclusive adaptando os
regimes, desde que não viole norma de ordem pública. O art. 1.639 aduz ser lícito aos
nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes
aprouver. O exercício dessa autonomia privada se dá através de um contrato ou pacto.
Como esse pacto se dá antes da celebração do casamento (antes das núpcias), esse pacto
é chamado de pacto antenupcial, e terá eficácia a partir do casamento;
Princípio da indivisibilidade do regime de bens: o regime de bens é indivisível em
relação aos cônjuges, não podendo ser um regime de bens para um dos cônjuges e outro
regime para o outro cônjuge;
Princípio da variedade do regime de bens: a legislação prevê, de forma expressa, quatro
regimes de bens: comunhão parcial, comunhão universal, separação total e participação
final nos aquestos. Além de poder, em regra, escolher qualquer um desses regimes, é
possível aos nubentes mesclá-los para criar um regime novo, desde que não viole norma
de ordem pública;
Princípio da mutabilidade justificada: o Código Civil possibilita a alteração justificada
do regime de bens, desde que haja autorização judicial nesse sentido. O juiz apreciará as
razões de justificação de alteração do regime de bens, ficando ressalvados os direitos
de terceiros, os quais não experimentarão o regime de bens inicialmente fixado (art.
1.639,§2º/CC). O NCPC, no art. 734, trata das possibilidades e procedimentos especiais
quanto à alteração de regime de bens. Para promover a alteração de regime de bens, é
preciso que a petição inicial seja proposta por ambos os nubentes, sendo uma hipótese de
jurisdição voluntária. O §1º do art. 734 determina que, ao receber a petição inicial, o juiz vai
determinar a intimação do MP e a publicação de edital em que se divulgue essa pretendida
modificação do regime de bens. Após 30 dias da publicação do edital, o juiz poderá decidir
sobre a modificação do regime de bens. Os efeitos da alteração do regime de bens são ex
nunc, não retroagindo, portanto, tendo efeito a partir do trânsito em julgado da decisão
que alterou o regime de bens.

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Quanto ao tema em análise propriamente dito, o Código Civil brasileiro apresenta quatro
espécies de regime de bens que poderão incidir tanto sobre o casamento como sobre a união
estável: comunhão universal de bens, separação de bens, participação final nos aquestos
e comunhão parcial de bens.
Essas categorias de regime de bens devem ser divididas em dois grupos:

1 2

• comunhão • comunhão
universal de bens parcial de bens
• separação e bens (regime regra)
• participação final
nos aquestos

A começar pelo regime da comunhão parcial de bens, é necessário apontar que esse
consiste no regime-regra devido ao fato de se referir ao regime que é estabelecido
automaticamente pela lei quando não há a escolha do casal por qualquer outra espécie
de regime.
Em outros termos, se os indivíduos estão vivenciando uma união estável e não realizaram
nenhuma escolha documentada quanto ao tipo de regime de bens sob o qual desejariam
que a relação fosse estabelecida, estes estarão, automaticamente, sob a incidência da
comunhão parcial de bens.
Do mesmo modo, o casal que celebrou o casamento, mas não realizou qualquer tipo de
escolha sobre o regime de bens, terá o relacionamento regido pela comunhão parcial de
bens, em que se define que tudo aquilo que for adquirido onerosamente por um ou ambos
os cônjuges na constância do casamento ou da união estável deverá ser partilhado por dois,
ainda que o bem esteja apenas no nome de um.
Como se pode observar, os outros tipos de regime dependem de uma escolha do casal,
que será operada de maneira distinta a depender se a relação se trata de uma união estável
ou de um casamento, conforme indicado abaixo:
• União estável: diante da união estável, a escolha do regime de bens diverso da
comunhão parcial de bens deverá ocorrer por meio da realização, através de escritura
pública, de um pacto/contrato convivencial em que será estabelecido o tipo de regime
a ser contraído.
• Casamento: diante do casamento a escolha do regime de bens diverso da comunhão
parcial de bens deverá ocorrer através da instituição (em cartório) daquilo que é

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chamado de “pacto antenupcial”, documento em que se estabelece qual será o regime


de bens a ser contraído pelos nubentes.
É importante destacar que, enquanto o pacto convivencial é mais informalizado, não
apresentando nenhuma estrutura específica a ser seguida, a elaboração do pacto antenupcial
deverá obedecer às regras estabelecidas pelos artigos 1.653 a 1.657 do Código Civil:

Art. 1.653. É nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e ineficaz se não
lhe seguir o casamento.

Lembre-se de que a questão da nulidade está no campo das invalidades. Nesse sentido,
conforme estabelece o artigo reproduzido acima, o pacto antenupcial que não for realizado
por escritura pública será nulo, isto é, não possuirá validade. Observe, ainda, que o artigo
expressa que o referido pacto não produzirá efeitos caso o casamento não ocorra.
Questão de prova: Em uma questão elaborada pela FGV, a banca indagava o candidato
sobre a incidência do regime de bens quanto à seguinte situação: João e Maria haviam
se apaixonado e, pretendendo oficializar a relação por meio do casamento, realizaram o
processo de habilitação, marcaram a data de celebração da cerimônia e elaboraram, por
meio de escritura pública, o pacto antenupcial no qual se definia que contrairiam o regime
da separação de bens. No entanto, alguns dias antes do casamento, João sofreu um grave
acidente e teve que ficar internado durante meses no hospital, o que impediu a realização
da cerimônia. Quando o homem recebeu alta, o casal decidiu não mais se casar, mas apenas
viver sob união estável. Passados quinze anos, João decidiu terminar o relacionamento com
Maria e dissolver a união estável. No entanto, no momento da dissolução e partilha de bens,
o homem alegou que tudo aquilo que se encontrava em seu nome lhe pertencia, pois os
dois estariam vivendo sob o regime de separação de bens em razão ao pacto antenupcial
que haviam firmado anos antes. Perceba que a perspectiva de João quanto ao regime de
bens relativo à união estável do casal estava equivocada, pois apesar de o pacto ser valido,
em razão de ter sido realizado por escritura pública, este nunca chegou produzir efeitos,
pois o casal nunca se casou.
Portanto, o regime de bens referente à união estável de João e Maria consistia, na
verdade, na comunhão parcial de bens, de modo que tudo que foi adquirido onerosamente
pelo casal, ainda que esteja apenas em seu nome, teria que ser dividido em partes iguais.

Art. 1.654. A eficácia do pacto antenupcial, realizado por menor, fica condicionada à aprovação
de seu representante legal, salvo as hipóteses de regime obrigatório de separação de bens.
Art. 1.655. É nula a convenção ou cláusula dela que contravenha disposição absoluta de lei.
Art. 1.656. No pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos aquestos, poder-
se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares.

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Em regra, para que um bem imóvel de um dos cônjuges possa, por exemplo, ser alienado,
é preciso que haja a autorização de seu companheiro, ainda que se trate de bem particular.
No entanto, conforme estabelece o artigo acima, o pacto antenupcial que adotar o regime
de participação final nos aquestos poderá convencionar a livre disposição dos bens imóveis,
desde que estes sejam particulares.

Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito perante terceiros senão depois de
registradas, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.

Apesar de não ser um ponto costumeiramente cobrado em provas, cabe apontar que é
possível que sejam convencionadas determinadas cláusulas existenciais dentro do pacto
nupcial, desde que estas não sejam contra a lei. Nesse sentido, apesar de haver discussões
doutrinárias quanto a esse aspecto, há a possibilidade de que sejam estipuladas, por
exemplo, cláusulas a serem aplicadas em caso de traição.
Quando tratamos de regime de bens, observa-se os arts 1.639 a 1.688 do Código Civil.
E o que seria regime de bens?
Regime de bens é o conjunto de regras de ordem privada relacionadas com interesses
patrimoniais ou também econômicos resultantes da entidade familiar.
Observe que tudo aqui comentado ocorre entre a sociedade conjugal, esqueça, por
enquanto, situações decorrentes da morte...

4.1. PRINCÍPIOS QUE REGEM O REGIME DE BENS


• Autonomia da vontade: as partes escolhem o regime de bens, conforme o art. 1.639:

Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus
bens, o que lhes aprouver.

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§ 1º O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento.


§ 2º É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado
de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos
de terceiros.

Segundo a autonomia da vontade, é possível escolher o regime de bens antes do


casamento ou da união estável, passando a ter efeitos no ato do casamento ou da união
estável. E caso não se queira nenhum dos regimes? Há para estes uma aceitação tácita do
regime de comunhão parcial de bens.
É possível definir a incidência de um regime de bem não previsto em lei? Sabe-se que o
princípio da legalidade aponta que é possível fazer tudo o que a lei não proíba. Em vista
disso, é possível escolher outro regime, segundo o art. 331 da Jornada de Direito Civil.
• Indivisibilidade do regime de bens: apesar da possibilidade jurídica de escolher outro
regime não expresso em lei, não é possível estipular dois regimes distintos entre
o casal, devendo este ser único e indivisível;
• Variedade de regime de bens: o Código Civil prevê quatro possibilidade de regime de
bens. Todavia, no silêncio ocorrerá a comunhão parcial de bens, também chamada
de regime legal ou regime supletório;
• Mutabilidade justificada: é possível alterar o regime de bens, segundo o art. 1.639, §
2º. Nesse sentido, é possível realizar uma alteração por meio de autorização judicial
de pedido motivado por ambos os nubentes.
A ação de alteração de regime de bens é uma ação que segue jurisdição voluntária,
ocorrendo em Vara de Família.
Imagine o seguinte: Fulana casou e quer comprar uma casa por meio de um empréstimo
e vender um bem dela. Neste caso, Fulana deverá ter autorização de seu companheiro/
marido? Sim e Não! Sobre as regras, observe as disposições gerais do o art. 1.640 até o art.
1.652, mas veremos isso mais adiante...

4.2. REGRAS GERAIS


Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens
entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial.
Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes
que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial,
fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas.
Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente:

Casal homoafetivo também entre no artigo acima e nos incisos abaixo:

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Art. 1.642.
I – praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua
profissão, com as limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647;
II – administrar os bens próprios;
III – desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu
consentimento ou sem suprimento judicial;
IV – demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados
pelo outro cônjuge com infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647;
V – reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao
concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes,
se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos;
VI – praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente.

O art. 1.642 anota que um pode praticar atos sem o consentimento do outro. Ou seja,
há uma liberdade quanto aos atos que estão ligados à vida pessoal e à vida econômica de
cada pessoa. Já o art. 1.643 anota o seguinte:

Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro:


I – comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II – obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.

Observa-se no artigo acima e em seus incisos os atos relacionados à economia doméstica.


Exemplo: na compra de uma geladeira extremamente cara por meio de um financiamento
em caso de economia doméstica. E caso o financiamento não for pago? Ambos estão
obrigados a pagar. Para tanto, observe o artigo abaixo:

Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam solidariamente
ambos os cônjuges.

Veja que há obrigação solidária entre o casal. Isso quer dizer que ambos serão atingidos
na falta de pagamento do bem comprado.

Art. 1.645. As ações fundadas nos incisos III, IV e V do art. 1.642 competem ao cônjuge prejudicado
e a seus herdeiros.
Art. 1.646. No caso dos incisos III e IV do art. 1.642, o terceiro, prejudicado com a sentença
favorável ao autor, terá direito regressivo contra o cônjuge, que realizou o negócio jurídico, ou
seus herdeiros.

Então, nesta ação, o terceiro prejudicado terá direito de ação regressiva em face do
cônjuge que fez o negócio. E se quem contraiu a dívida tiver falecido, contra os herdeiros
caberá a ação regressiva.

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O cônjuge possui a capacidade de reivindicar bens comuns móveis e imóveis transferidos


pelo cônjuge ao concubino. Assim, se um cônjuge vendeu os bens, transferiu móveis ou
imóveis, prestou fiança, doação ou aval ao concubino sem autorização, o outro cônjuge
ou os herdeiros deste poderá empreender uma ação para reaver esses bens. Contudo, se
foi promovida a transferência de móveis ou de imóveis, prestou fiança, doação ou aval ao
concubino sem autorização e o terceiro se prejudicou, é possível haver uma ação regressiva
contra quem praticou o ato. E se for o amante, o cônjuge e os herdeiros prejudicados
podem empreender uma ação contra o concubino, este que não terá direito de regressão
contra aqueles.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização
do outro, exceto no regime da separação absoluta.

Escolhendo a separação de bens, é possível praticar atos sem autorização.

Art. 1.647.
I – alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II – pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;

O art. 73 do CPC estabelece que nas ações que discutam direitos reais imobiliários,
caso uma pessoa queira ser autora, ela precisa do consentimento do cônjuge. Não havendo
consentimento deste, o juiz poderá supri-lo. Mas, ao ajuizar uma ação que discuta direito real
de bem imóvel contra uma pessoa casada, deve-se levar o cônjuge para a ação, formando
um litisconsórcio passivo necessário.

Art. 1.647.
III – prestar fiança ou aval;
IV – fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura
meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem
economia separada.
Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos
cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la.
Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará
anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois
de terminada a sociedade conjugal.
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou
particular, autenticado.

Segundo o artigo acima, o ato será anulável, ofendendo o direito de um dos envolvidos. E
se há essa ofensa, torna-se necessário o ajuizamento de uma ação anulatória. Não ajuizando
a ação no prazo correto, o ato será convalidado.

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Obs.: o ato nulo nunca se torna válido, veja que estamos falando de anulabilidade.
Trata-se de um prazo decadencial de 2 (dois) anos que deve ser respeitado.
Esse prazo começa a contar a partir do fim da sociedade conjugal, que ocorre no divórcio
ou na morte.
E caso o cônjuge prejudicado venha a morrer, os herdeiros poderão ajuizar a ação.

Art. 1.650. A decretação de invalidade dos atos praticados sem outorga, sem consentimento,
ou sem suprimento do juiz, só poderá ser demandada pelo cônjuge a quem cabia concedê-la,
ou por seus herdeiros.

O cônjuge prejudicado pode aprovar o ato.


Aprovando o ato, este passará a ser válido.
Essa aprovação poderá ser feita de duas formas: ou por instrumento público (documento
feito no cartório) ou por instrumento particular.

Art. 1.651. Quando um dos cônjuges não puder exercer a administração dos bens que lhe incumbe,
segundo o regime de bens, caberá ao outro:
I – gerir os bens comuns e os do consorte;
II – alienar os bens móveis comuns;
III – alienar os imóveis comuns e os móveis ou imóveis do consorte, mediante autorização judicial.
Art. 1.652. O cônjuge, que estiver na posse dos bens particulares do outro, será para com este
e seus herdeiros responsável:
I – como usufrutuário, se o rendimento for comum;
II – como procurador, se tiver mandato expresso ou tácito para os administrar;
III – como depositário, se não for usufrutuário, nem administrador.

Obs.: Alienar bem imóvel somente é possível com o consentimento do outro.


Caso de prova: Maria possui um apartamento em Copacabana, presente do pai enquanto
ainda estava solteira. 10 anos depois de ganhar o apartamento, Maria conhece e se casa com
João no regime de comunhão parcial de bens. Nesse regime, o que foi adquirido onerosamente
na comunhão dos bens pertence aos cônjuges. Como o apartamento é um bem particular de
Maria, em eventual separação, o imóvel não entrará na partilha. Maria, investidora, vende o
apartamento para investir. Neste caso, Maria poderá vender o apartamento sem a outorga
de João? Não! Mesmo se tratando de bem particular, segundo o 1.647.
Todavia, se Maria estive casada em regime de separação absoluta de bens, ela poderia
vender o apartamento sem a outorga de João.
O art. 73 do CPC estabelece que nas ações que discutam direitos reais imobiliários,
caso uma pessoa queira ser autora, ela precisa do consentimento do cônjuge. Não havendo
consentimento deste, o juiz poderá supri-lo. Mas, ao ajuizar uma ação que discuta direito real

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de bem imóvel contra uma pessoa casada, deve-se levar o cônjuge para a ação, formando
um litisconsórcio passivo necessário.
Caso haja prática de um ato sem autorização, o cônjuge pode aprovar o ato, tornando-o
válido, quer por instrumento público ou particular. Não autorizando, o juiz poderá conceder
a autorização.
🍒 Sem autorização do cônjuge ou do juiz, o ato é anulado. O prazo para ajuizar a ação
anulatória tem como prazo decadencial 2 anos, contados do divórcio ou da morte, este
último tendo ação proposta pelos herdeiros.
A autorização do outro cônjuge é chamada de outorga conjugal. Essa outorga legitima
um dos cônjuges a praticar os atos do art. 1.647. E quando essa outorga é consentida pela
esposa, tem-se uma outorga uxória. E quando pelo marido, tem-se a outorga marital.
Quando o motivo da negatória for injusto, o juiz poderá autorizar.
Caso um imóvel seja alienado, ainda que o imóvel seja um bem particular adquirido
antes do casamento, quem alienou estará diante de um ato anulável.
Logo, a outorga conjugal legitima a alienação para que o ato seja válido.
O prazo de 2 (dois) anos é decadencial, contando ao fim do casamento.

Por ser prazo decadencial estamos diante de um direito potestativo.

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4.3. REGRAS ESPECÍFICAS DE REGIMES DE BEM


Na parte dos regimes de bem, devemos esquecer questões relacionadas com a morte
de um dos cônjuges.
Estamos falando de administração e partilha de bens dentro do casamento ou da união
estável; quando as pessoas se divorciam ou dissolvem a união estável...
É saber o que fica com quem e o que deve ser dividido – é a hora da briga, rsrsrsrs.

4.3.1. COMUNHÃO PARCIAL DE BENS (1.658 – 1.666)


Trata-se do regime mais comum, mais usado.
O regime da comunhão parcial de bens tem previsão nos arts. 1.658 a 1.666 do CC.
Trata-se aqui do regime legal, também chamado de regime supletório.
A regra básica é: constituem bens comuns (bens dos dois) os havidos durante o
casamento, desde que adquiridos onerosamente.
Imagine que, em determinado momento, Maria casou. A partir do casamento, há o
fenômeno do regime de bens que se estende até o seu fim (divórcio ou morte).
Tudo o que foi adquirido antes do casamento é particular, não sendo repartido com o
cônjuge em caso de divórcio.
Imagine ainda que: Maria, antes de casar, possuía o próprio apartamento e veículos.
Maria se casa com João, comprando, ao longo do casamento, em conjunto, outros bens.
O que é apenas de Maria é chamado de bens particulares (BP), enquanto os bens adquiridos
em comum e na constância do casamento são chamados de bens comuns (BC).
Muito possivelmente é possível encontrar três modalidades de bens:
• Bens particulares de um;
• Bens particulares do outro;
• Bens comuns.

Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os


bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento,
com as exceções dos artigos seguintes.
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
I – os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;

Bem sub-rogado continua sendo bem particular. Assim, havendo uma casa de R$
500.000,00 quando solteira, e, quando casada, Maria tenha comprado outra casa de mesmo
valor, ainda assim o valor da casa continua sendo um bem particular. Todavia, estando
casada, Maria recebe uma doação de seu pai, esse bem é apenas de Maria. Agora, estando

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casada em regime de comunhão parcial de bens, ocorre o falecimento do pai de Maria.


Neste caso, a herança é apenas de Maria.
Imagine a cena: Maria, casada com João, vende o seu apartamento particular para dar
entrada em uma cobertura que custa o dobro do valor. Neste caso, é feito um financiamento
para quitar o apartamento. Estando quitado, 15 anos depois há o divórcio. Aplicando a
regra, a partilha seria o seguinte. A parte de entrada da cobertura está sub-rogado no bem
particular de Maria. Todavia, o restante, bem comum, deve ser partilhado entre os cônjuges.
Noutro ponto, quando não houver como provar que o valor de entrada da cobertura
é exclusivo de Maria, é possível que está venha a perder parte do valor, por isso, cuidado,
conste tudo em documento.

Art. 1.659.
II – os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-
-rogação dos bens particulares;
III – as obrigações anteriores ao casamento;

Dívidas adquiridas na constância do casamento devem também ser partilhadas.

Art. 1.659.
IV – as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;
V – os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI – os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII – as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
Art. 1.660. Entram na comunhão:
I – os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome
de um dos cônjuges;

Ex.: O apartamento comprado está no nome do marido. Quitado o apartamento, ainda assim,
uma vez adquirido onerosamente no casamento, ele deverá ser partilhado.

Art. 1.660.
II – os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior;

Ex.: Maria ganha na loteria no curso do casamento, esconde o bilhete do marido, divorcia e,
após o divórcio, se apresenta como milionária. Neste caso, se o marido comprovar que Maria
ganhou na loteria ainda casada, haverá a comunhão de bens.

Art. 1.660.
III – os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
IV – as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;

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Imagine: Maria comprou um lote quando solteira. Casando com João, este propõe, depois
do casamento, construir uma mansão. Ocorre o divórcio e João quer dividir tudo, mas Maria
não aceita. Neste caso, nem João e nem Maria tem razão. O lote é de Maria e a benfeitoria
deve ser repartida.

Art. 1.660.
V – os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância
do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

Regras básicas:
• Exclui-se da comunhão: art. 1.659;
• Entram na comunhão: art. 1.660;
• Bem particular é: herança particular, doação particular;
• Bem comum: FGTS e loteria.

Imagine o seguinte: Maria não possuía nada antes do casamento. João, casado com Maria,
enquanto solteiro, não possuía nada. Casados, ambos moravam nos fundos da casa da mãe
de Maria. Anos depois, já concursados, Maria e João compraram a casa própria. Neste caso,
não há bem particular, e sim apenas bens comuns. Ou seja, temos aqui uma comunhão parcial
de bens sem bens particulares.

Meação: trata-se da metade dos bens.


Ela é retirada apenas dos bens comuns.
Ela ocorre apenas no divórcio, sendo 50% dos bens comuns para um e 50% para outro.
Não há como falar em meação em bens particulares.
O regime da comunhão de bens, lembre-se é o regime que prepondera no casamento
e na união estável.
O problema dentro da união estável decorre do conhecimento do momento exato em que
essa começa a existir, já que a união estável surge por um fato da vida, ou seja, a convivência
pública, contínua e duradoura com intuito de constituição família, não necessitando

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morar juntos e nem ter filhos. Em um julgado antigo do Tribunal do Rio Grande do Sul, um
casal ficou junto por alguns meses. O rapaz, nesse período, comprou um casamento, não
conseguindo comprar que o dinheiro do apartamento era particular. A moça ajuizou uma
ação de reconhecimento e dissolução de união estável e o juiz mandou partilhar o bem.

Resumindo:
O art. 1.660/CC traz um rol de bens comunicáveis, que são:
• bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em
nome de um;
• dos cônjuges;
• bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa
anterior;
• bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
• benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
• frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância
do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.
Existem bens que, entretanto, não se comunicam (incomunicáveis), estando excluídos,
portanto, da comunhão, conforme o art. 1.659/CC:
• bens que cada cônjuge já possuía ao se casar e os bens havidos por doação ou sucessão,
bem como os sub-rogados em seu lugar não se comunicam;
• bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em
sub-rogação dos bens particulares;
• obrigações anteriores ao casamento;

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• obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;


• bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
• proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
• Pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.

4.3.2. COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS (1.667 – 1.671)


A comunhão universal de bens tem previsão no art. 1.667 ao 1.671, do CC.
Esse regime deve ser escolhido no casamento por pacto antenupcial.
E, nesse regime, tudo é compartilhado.
No regime da comunhão universal, há plena comunhão de bens, comunicando-se os
bens anteriores, presentes e posteriores à celebração do casamento.
Ressalte-se que entram na comunhão, não apenas os bens, mas também algumas dívidas.
A comunhão é plena, mas não é absoluta, havendo bens incomunicáveis, evidentemente.
Imaginando que Maria se case com João. Enquanto na comunhão parcial de bens o
que será partilhado decorrerá dos bens adquiridos onerosamente durante o casamento,
no caso do regime de comunhão universal de bens, tudo o que foi conquistado antes do
divórcio deve ser partilhado.
Logo, tudo será bem comum, até mesmo os bens particulares construídos antes do
casamento.

Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes
e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.
Art. 1.668. São excluídos da comunhão:
I – os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu
lugar;

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A cláusula de incomunicabilidade é uma cláusula que impõe que o bem não se comunique
com o cônjuge.
Imaginando que Maria é casada com João. O pai de Maria quer doar para esta um
apartamento. Recebendo o apartamento, ele será de bem comum de Maria e João, mesmo
que este tenha sido doado antes do casamento (regime de comunhão universal de bens).
Contudo, o pai de Maria pode, ao doar o bem, constando uma cláusula de incomunicabilidade.
Essa cláusula define que o bem é apenas de Maria, não havendo partilhar em caso
de divórcio.

Art. 1.668.
II – os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada
a condição suspensiva;

Fideicomício é estudado no direito sucessório e ocorre quando, por exemplo, alguém


deixa um bem para uma prole eventual. Não existindo o bem, alguém precisa tomar conta
do bem, até que a prole venha a existir.

Art. 1.668.
III – as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou
reverterem em proveito comum;
IV – as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de
incomunicabilidade;
V – Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.
Art. 1.659: VI – os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII – as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
Art. 1.669. A incomunicabilidade dos bens enumerados no artigo antecedente não se estende
aos frutos, quando se percebam ou vençam durante o casamento.

Ex.: um apartamento de Maria que custa R$ 500.000,00 e possui cláusula de incomunicabilidade.


Desse apartamento, Maria recebe aluguéis. Quando recebidos na constância do casamento,
os aluguéis devem ser partilhados.

Art. 1.670. Aplica-se ao regime da comunhão universal o disposto no Capítulo antecedente,


quanto à administração dos bens.
Art. 1.671. Extinta a comunhão, e efetuada a divisão do ativo e do passivo, cessará a responsabilidade
de cada um dos cônjuges para com os credores do outro.

Na esfera dos bens comuns, entra:


• o que foi recebido por doação;
• o que foi recebido em herança.

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Não entrará comunhão universal quando o bem recebido houver uma cláusula de
incomunicabilidade.
Meação: trata-se da metade dos bens. Ela é retirada apenas dos bens comuns. Ela ocorre
apenas no divórcio, sendo 50% dos bens comuns para um e 50% para outro. Não há como
termos meação em bens particulares, já sabemos disso.

Havendo cláusula de incomunicabilidade, os frutos desses bens entram na meação.


Resumindo:
O artigo 1.668/CC elenca os bens que são excluídos da comunhão universal, a saber:
• bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados
em seu lugar;
• bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de
realizada a condição suspensiva;
• dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos,
ou reverterem em proveito comum;
• doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de
incomunicabilidade;
• bens de uso pessoal, livros, instrumentos de profissão, proventos de cada dos cônjuges,
pensões etc.
• em relação aos frutos, assim como a comunhão parcial, aplica-se a regra da comunhão
parcial, mesmo que retirados de bens incomunicáveis.
No regime da comunhão universal prevalece, igualmente, a regra de que a administração
dos bens compete ao casal.
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4.3.3. REGIME DE SEPARAÇÃO DOS BENS (1.667 – 1.671)


O regime da separação de bens poderá ser convencional ou obrigatório (legal).
Será convencional quando estipulado no pacto antenupcial e obrigatório quando
determinado por lei.
No regime da separação de bens, temos uma distinção dos patrimônios dos cônjuges,
que ficam destacados, tanto em relação à propriedade, quanto a posse e administração.
A regra básica é a de que não haverá comunicação de qualquer bem, seja ele posterior
ou anterior à união.
Como consequência, cabe a administração de cada bem ao seu proprietário exclusivo,
que, no caso da separação convencional, poderá aliená-lo ou gravá-lo com ônus real,
independentemente da outorga do outro cônjuge.
O regime da separação convencional de bens (separação absoluta de bens) tem como
regra os arts. 1687 a 1688.
Já o regime obrigatório pode ser lido no art. 1.641.
Na separação convencional de bens, o que for adquirido por um cônjuge é somente dele,
quer antes, quer no ínterim do casamento.
Nesse sentido, há apenas os bens particulares de cada um. Essa separação também é
chamada de regime de separação absoluta de bens.

Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva
de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.
Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção
dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto
antenupcial.

No caso de regime de separação de bens de cunho obrigatório, não há escolha, pois é


imposto pela lei nos seguintes casos:
• Quem casa mediante causas suspensivas: art. 1.523. Exemplo: Maria se divorcia de
João. Maria não fez a partilha. Sendo assim, Maria ainda poderá se casar, mas deverá
ser na separação universal de bens, lembra?
• Quem casa com mais de 70 (setenta) anos.
Existe uma situação peculiar: o casal começou um relacionamento em 1970 e foi viver
junto. Sessenta anos de união estável e tudo foi conseguido juntos em vida. Já bem velhinhos,
o marido sonha em ver a mulher vestida de noiva. Ambos marcam o casamento. Tendo mais
de 70 anos, a lei obriga, ainda assim, mesmo com 60 anos de união estável, a separação
obrigatória de bens.
• Quem para casar depender de suprimento judicial.

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É possível observar que a imposição da lei pode causar injustiça para o casal. Em vista
disso, observa-se o exemplo: Maria divorciou de João e casou com Pedro sem fazer a partilha
com João. Casados, a lei impõe para Maria e Pedro a separação obrigatória de bens. Tendo
sido feita a partilha, Maria vive com Pedro e angariam patrimônio juntos e ainda em separação
obrigatória de bens, estando tudo registrado no nome de Pedro. Havendo patrimônio em
comum, a fim de evitar injustiças, há uma Súmula n. 377 do STF (1964): no regime de
separação legal de bens, comunica-se os adquiridos na constância do casamento.

Ex.: João, de 80 anos, casa com Maria. Anos depois, Maria separa de João, afirmando que
não há nada a dividir, dado a imposição do regime imposto para o maior de 70 anos. Havendo
a dissolução do casamento em regime de separação obrigatória de bens, a Súmula acima
deverá ser observada, devendo haver uma meação.

Observa-se, ainda, que o STJ, em 2018, no Julgado do EResp 1.623.858, definiu que, no
regime da separação obrigatória de bens, comunica-se os adquiridos na constância do
casamento, desde que comprovado o esforço comum.
Diante do exposto acima pelo STJ, o esforço comum poderá presumido?
Não!
O esforço comum não poderá presumido, e sim efetivamente comprovado.
Presumindo o esforço comum, haveria uma ineficácia total da comunhão obrigatória de bens.
O STJ também possui julgados afirmando que as regras de separação legal devem ser
aplicadas em caso de união estável: Resp 646.259, TJ-RS, de relatoria do Ministro Luís
Felipe Salomão.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I – das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei n. 12.344, de 2010)
III – de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicia.

Separação absoluta de bens é a separação convencional, estipulada voluntariamente


entre as partes pelo pacto nupcial.

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Não há comunicação de bens adquiridos na constância do casamento.

4.3.4. REGIME NA PARTICIPAÇÃO FINAL DE AQUESTOS (1.672 – 1.686)


Esse regime é novidade no Código Civil, sendo utilizado por quem possui muito dinheiro
e busca uma margem de liberdade maior de gestão dos bens da pessoa.
Passados quase 20 anos desde a vigência do Código Civil de 2002, é possível dizer que
o regime da participação final nos aquestos ainda tem pouquíssima popularidade.
O regime na participação final dos aquestos substituiu o regime dotal do CC de 1916,
sendo importado da Suécia.
Trata-se de um regime que, durante o casamento, cada um possui os seus bens. É como
se, durante o casamento, houvesse uma separação convencional.
Contudo, quando ocorrer a dissolução do casamento, observa-se a proximidade muito
grande com a comunhão parcial de bens.
Isso ocorre porque caso haja algo em comum, esse bem deve ser partilhado. Assim,
no final do casamento, os cônjuges terão participação nos bens que eventualmente se
tenha colaborado para a aquisição. Para tanto, torna-se necessário comprovar o esforço
patrimonial.

Art. 1.672. No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio,
consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal,
direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.

Quando da dissolução do casamento, partilham-se os bens adquiridos, a título oneroso


e por ambos os cônjuges, na constância do casamento (aquestos).

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Com a dissolução do casamento, far-se-á um balanço contábil, na forma do artigo 1.674


que dá as linhas gerais do como fazer o cálculo para efeito de partilha.
Esse regime leva em consideração uma peculiaridade muito grande. Muitos chamam
esse regime de “contábil e complexo”.

4.4. DECISÕES RELEVANTES

JURISPRUDÊNCIA
DIREITO CIVIL. INEXISTÊNCIA DE MEAÇÃO DE VALORES DEPOSITADOS EM CONTA
VINCULADA AO FGTS ANTES DA CONSTÂNCIA DA SOCIEDADE CONJUGAL SOB O REGIME
DA COMUNHÃO PARCIAL. Diante do divórcio de cônjuges que viviam sob o regime da
comunhão parcial de bens, não deve ser reconhecido o direito à meação dos valores
que foram depositados em conta vinculada ao FGTS em datas anteriores à constância
do casamento e que tenham sido utilizados para aquisição de imóvel pelo casal durante
a vigência da relação conjugal. Diverso é o entendimento em relação aos valores
depositados em conta vinculada ao FGTS na constância do casamento sob o regime
da comunhão parcial, os quais, ainda que não sejam sacados imediatamente à separação
do casal, integram o patrimônio comum do casal, devendo a CEF ser comunicada para
que providencie a reserva do montante referente à meação, a fim de que, num momento
futuro, quando da realização de qualquer das hipóteses legais de saque, seja possível
a retirada do numerário pelo ex-cônjuge. Preliminarmente, frise-se que a cada doutrina
pesquisada no campo do Direito do Trabalho, um conceito e uma natureza diferentes
são atribuídos ao Fundo, não sendo raro alguns estudiosos que o analisam a partir de
suas diversas facetas: a do empregador, quando, então sua natureza seria de obrigação;
a do empregado, para quem o direito à contribuição seria um salário; e a da sociedade,
cujo caráter seria de fundo social. Nesse contexto, entende-se o FGTS como o “conjunto
de valores canalizados compulsoriamente para as instituições de Segurança Social,

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através de contribuições pagas pelas Empresas, pelo Estado, ou por ambos e que tem
como destino final o patrimônio do empregado, que o recebe sem dar qualquer
participação especial de sua parte, seja em trabalho, seja em dinheiro”. No que diz
respeito à jurisprudência, o Tribunal Pleno do STF (ARE 709.212-DF, DJe 19/2/2015,
com repercussão geral reconhecida), ao debater a natureza jurídica do FGTS, afirmou
que, desde que o art. 7º, III, da CF expressamente arrolou o FGTS como um direito dos
trabalhadores urbanos e rurais, “tornaram-se desarrazoadas as teses anteriormente
sustentadas, segundo as quais o FGTS teria natureza híbrida, tributária, previdenciária,
de salário diferido, de indenização, etc.”, tratando-se, “em verdade, de direito dos
trabalhadores brasileiros (não só dos empregados, portanto), consubstanciado na
criação de um ‘pecúlio permanente’, que pode ser sacado pelos seus titulares em
diversas circunstâncias legalmente definidas (cf. art. 20 da Lei 8.036/1990)”. Nesse
mesmo julgado, ratificando entendimento doutrinário, afirmou-se, quanto à natureza
do FGTS, que “não se trata mais, como em sua gênese, de uma alternativa à estabilidade
(para essa finalidade, foi criado o seguro-desemprego), mas de um direito autônomo”.
A Terceira Turma do STJ, por sua vez, já sustentou que “o FGTS integra o patrimônio
jurídico do empregado desde o 1º mês em que é recolhido pelo empregador, ficando
apenas o momento do saque condicionado ao que determina a lei” (REsp 758.548-MG,
DJ 13/11/2006) e, em outro julgado, estabeleceu que esse mesmo Fundo, que é “direito
social dos trabalhadores urbanos e rurais”, constitui “fruto civil do trabalho” (REsp
848.660-RS, DJe 13/5/2011). No tocante à doutrina civilista, parte dela considera os
valores recebidos a título de FGTS como ganhos do trabalho e pondera que, “no rastro
do inciso VI do artigo 1.659 e do inciso V do artigo 1.668 do Código Civil, estão igualmente
outras rubricas provenientes de verbas rescisórias trabalhistas, como o FGTS (Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço), pois como se referem à pessoa do trabalhador
devem ser tratadas como valores do provento do trabalho de cada cônjuge”. Aduz-se,
ainda, o “entendimento de que as verbas decorrentes do FGTS se incluem na rubrica
proventos”. Nesse contexto, deve-se concluir que o depósito do FGTS representa
“reserva personalíssima, derivada da relação de emprego, compreendida na expressão
legal ‘proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge’ (CC, art. 1559, VI)”. De fato, pela
regulamentação realizada pelo aludido art. 1.659, VI, do CC/2002 - segundo o qual
“Excluem-se da comunhão: (...) “os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge” -,
os proventos de cada um dos cônjuges não se comunicam no regime da comunhão
parcial de bens. No entanto, apesar da determinação expressa do CC no sentido da
incomunicabilidade, realçou-se, no julgamento do referido REsp 848.660-RS, que “o
entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça, reconhece que não se deve excluir
da comunhão os proventos do trabalho recebidos ou pleiteados na constância do

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casamento, sob pena de se desvirtuar a própria natureza do regime”, visto que a


“comunhão parcial de bens, como é cediço, funda-se na noção de construção de
patrimônio comum durante a vigência do casamento, com separação, grosso modo,
apenas dos bens adquiridos ou originados anteriormente”. Ademais, entendimento
doutrinário salienta que “Não há como excluir da universalidade dos bens comuns os
proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge (CC, art. 1.659, VI) (...) sob pena de
aniquilar-se o regime patrimonial, tanto no casamento como na união estável, porquanto
nesta também vigora o regime da comunhão parcial (CC, art. 1.725)”, destacando-se
ser “Flagrantemente injusto que o cônjuge que trabalha por contraprestação pecuniária,
mas não converte suas economias em patrimônio, seja privilegiado e suas reservas
consideradas crédito pessoal e incomunicável”. Ante o exposto, temse que o dispositivo
legal que prevê a incomunicabilidade dos proventos (isto é, o art. 1.659, VI, do CC/2002)
aceita apenas uma interpretação, qual seja, o reconhecimento da incomunicabilidade
daquela rubrica apenas quando percebidos os valores em momento anterior ou
posterior ao casamento. Portanto, os proventos recebidos na constância do casamento
(e o que deles advier) reforçam o patrimônio comum, devendo ser divididos em eventual
partilha de bens. Nessa linha de ideias, o marco temporal a ser observado deve ser a
vigência da relação conjugal. Ou seja, os proventos recebidos, por um ou outro cônjuge,
na vigência do casamento compõem o patrimônio comum do casal, a ser partilhado
na separação, tendo em vista a formação de sociedade de fato, configurada pelo
esforço comum dos cônjuges, independentemente de ser financeira a contribuição
de um dos consortes e do outro. Dessa forma, deve-se considerar o momento em que
o titular adquiriu o direito à recepção dos proventos: se adquiridos durante o casamento,
comunicam-se as verbas recebidas; se adquiridos anteriormente ao matrimônio ou
após o desfazimento do vínculo, os valores pertencerão ao patrimônio particular de
quem tem o direito a seu recebimento. Aliás, foi esse o raciocínio desenvolvido no
julgamento do REsp 421.801-RS (Quarta Turma, DJ 15/12/2003): “Não me parece de
maior relevo o fato de o pagamento da indenização e das diferenças salariais ter
acontecido depois da separação, uma vez que o período aquisitivo de tais direitos
transcorreu durante a vigência do matrimônio, constituindo-se crédito que integrava
o patrimônio do casal quando da separação. Portanto, deveria integrar a partilha”. Na
mesma linha, a Terceira Turma do STJ afirmou que, “No regime de comunhão universal
de bens, admite-se a comunicação das verbas trabalhistas nascidas e pleiteadas na
constância do matrimônio e percebidos após a ruptura da vida conjugal” (REsp 355.581-
PR, DJ 23/6/2003). No mais, as verbas oriundas do trabalho referentes ao FGTS têm
como fato gerador a contratação desse trabalho, regido pela legislação trabalhista.
O crédito advindo da realização do fato gerador se efetiva mês a mês, juntamente

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com o pagamento dos salários, devendo os depósitos serem feitos pelo empregador
até o dia 7 de cada mês em contas abertas na CEF vinculadas ao contrato de trabalho,
conforme dispõe o art. 15 da Lei n. 8.036/1990. Assim, deve ser reconhecido o direito
à meação dos valores do FGTS auferidos durante a constância do casamento, ainda
que o saque daqueles valores não seja realizado imediatamente à separação do casal.
A fim de viabilizar a realização daquele direito reconhecido, nos casos em que ocorrer,
a CEF deverá ser comunicada para que providencie a reserva do montante referente
à meação, para que, num momento futuro, quando da realização de qualquer das
hipóteses legais de saque, seja possível a retirada do numerário. REsp 1.399.199-RS,
Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
9/3/2016, DJe 22/4/2016. (INF. 581).
JURISPRUDÊNCIA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. Dissolução de união estável. Partilha de bens. Companheiro
sexagenário. Súmula 377 do STF. Bens adquiridos na constância da união estável. Partilha
igualitária. Demonstração do esforço comum dos companheiros para legitimar a divisão.
Necessidade. Prêmio de loteria. Fato eventual ocorrido na constância da união estável.
Necessidade de meação. O propósito recursal consiste em definir se, numa dissolução
de união estável de companheiro sexagenário, é necessário, para fins de partilha, a
prova do esforço comum, bem como se o prêmio de loteria, ganho no período da relação
conjugal, é comunicável ao parceiro. No caso em exame, a lide ganha especial relevo
por envolver sexagenário ao qual, por força do art. 258, parágrafo único, inciso II, do
Código Civil de 1916 (equivalente, em parte, ao art. 1.641, inciso II, do Código Civil de
2002), era imposto o regime de separação obrigatória de bens (recentemente, a Lei n.
12.344/2010 alterou a redação do art. 1.641, II, do CC, modificando a idade protetiva
de 60 para 70 anos). Nos ditames da súmula 377 do STF, aplicada ao caso em concreto,
“no regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância
do casamento” e, por conseguinte, apenas os bens adquiridos na constância da união
estável devem ser amealhados pela companheira. A partir de uma interpretação
autêntica, percebe-se que o Pretório Excelso também estabeleceu que somente
mediante o esforço comum entre os cônjuges (no caso, companheiros) é que se defere
a comunicação dos bens, seja para o caso de regime legal ou convencional (RTJ 47/614).
Dessa forma, a ex-companheira fará jus à meação dos bens adquiridos durante a união
estável, desde que comprovado o esforço comum. No entanto, em relação ao prêmio
lotérico, por se tratar de bem comum, em regra, ocorre sua comunicabilidade em favor
do casal, sendo que tal benesse não se confunde com as aquisições a título gratuito,
por doação, herança ou legado, que integram o patrimônio pessoal do donatário (CC,
art. 1.659). A loteria ingressa na comunhão sob a rubrica de “bens adquiridos por fato

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eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior” (CC/1916, art. 271,
II; CC/2002, art. 1.660, II). Com isso, no caso em que o prêmio de loteria foi recebido
por sexagenário durante relação de união estável, é de se observar que este deve ser
objeto de partilha com a ex-companheira pelas seguintes razões: a) é bem comum que
ingressa no patrimônio do casal, independentemente da aferição do esforço de cada
um, pouco importando se houve ou não despesa do accipiens; b) o próprio legislador
quem estabeleceu a referida comunicabilidade; c) a comunicabilidade é a regra, que
admite exceções, a depender do regime de bens, sendo que aquele de separação
legal do sexagenário é diverso do regime de separação convencional; d) a partilha dos
referidos ganhos com a loteria não ofenderia o desiderato da lei, já que o prêmio foi
ganho durante a relação, não havendo falar em matrimônio realizado por interesse ou
em união meramente especulativa. REsp 1.689.152-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
por unanimidade, julgado em 24/10/2017, DJe 22/11/2017. (INF. 616).
JURISPRUDÊNCIA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. Direito de Família. Emenda Constitucional n. 66/2010.
Divórcio Direto. Requisito Temporal. Extinção. Separação Judicial ou extrajudicial.
Coexistência. Institutos distintos. Princípio da autonomia da vontade. Preservação.
Legislação infraconstitucional. Observância. A Emenda Constitucional n. 66/2010
não revogou, expressa ou tacitamente, a legislação ordinária que trata da separação
judicial. O ponto nodal do debate consiste em analisar se o instituto da separação
judicial foi ab-rogado após o advento da Emenda à Constituição n. 66/2010. O texto
constitucional originário condicionava como requisito para o divórcio a prévia separação
judicial ou de fato. Por sua vez, a EC n. 66/2010 promulgada em 13 de julho de 2010
conferiu nova redação ao § 6º do art. 206 da Constituição Federal de 1988, a saber:
“o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”. A alteração constitucional não
revogou, expressa ou tacitamente, a legislação ordinária que regula o procedimento da
separação, consoante exegese do art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (DecretoLei n. 4.657/1942). Como se afere da sua redação, a Emenda
apenas facultou às partes dissolver direta e definitivamente o casamento civil, por
meio do divórcio – objeto de nova disciplina, tendo em vista a supressão do requisito
temporal até então existente. A supressão dos requisitos para o divórcio pela Emenda
Constitucional não afasta categoricamente a existência de um procedimento judicial
ou extrajudicial de separação conjugal, que passou a ser opcional a partir da sua
promulgação. Essa orientação, aliás, foi ratificada: (i) pelos Enunciados n.s 514, 515,
516 e 517 da V Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal (CJF), ocorrida
em 2010; (ii) pela nova codificação processual civil (Lei n. 13.102/2015), que manteve,
em diversos dispositivos, referências ao instituto da separação judicial (Capítulo X – Das

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Ações de Família – art. 693 e Capítulo XV – dos Procedimentos de Jurisdição Voluntária


– arts. 731, 732 e 733); (iii) pela Quarta Turma desta Corte Superior, por ocasião do
julgamento do REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 16/5/2017
– o que denota a pacificação da matéria pelos órgãos julgadores responsáveis pela
uniformização da jurisprudência do STJ no âmbito do direito privado. Portanto, até
que surja uma nova normatização, não se pode dizer que o instituto da separação foi
revogado pela Emenda n. 66/2010. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, por unanimidade, julgado em 15/8/2017, DJe 22/8/2017 (INF. 610).
JURISPRUDÊNCIA
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESNECESSIDADE DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU
RATIFICAÇÃO NA AÇÃO DE DIVÓRCIO DIRETO CONSENSUAL. Com a edição da EC 66/2010,
a nova redação do art. 226, § 6º, da CF - que dispõe que o casamento civil pode
ser dissolvido pelo divórcio - eliminou os prazos à concessão do divórcio e afastou
a necessidade de arguição de culpa, presente na separação, não mais adentrando
nas causas do fim da união, deixando de expor desnecessária e vexatoriamente a
intimidade do casal, persistindo essa questão apenas na esfera patrimonial quando da
quantificação dos alimentos. Criou-se, dessa forma, nova figura totalmente dissociada
do divórcio anterior. Assim, os arts. 40, § 2º, da Lei 6.515/1977 (Lei do divórcio) e 1.122,
§§ 1º e 2º, do CPC, ao exigirem uma audiência a fim de se conceder o divórcio direto
consensual, passaram a ter redação conflitante com o novo entendimento, segundo
o qual não mais existem as condições pré-existentes ao divórcio: de averiguação dos
motivos e do transcurso de tempo. Isso porque, consoante a nova redação, o divórcio
passou a ser efetivamente direto. A novel figura passa ser voltada para o futuro. Passa
a ter vez no Direito de Família a figura da intervenção mínima do Estado, como deve
ser. Vale relembrar que, na ação de divórcio consensual direto, não há causa de pedir,
inexiste necessidade de os autores declinarem o fundamento do pedido, cuidandose
de simples exercício de um direito potestativo. Portanto, em que pese a determinação
constante no art. 1.122 do CPC, não mais subsiste o referido artigo no caso em que o
magistrado tiver condições de aferir a firme disposição dos cônjuges em se divorciarem,
bem como de atestar que as demais formalidades foram atendidas. Com efeito, o art.
1.122 do CPC cuida obrigatoriamente da audiência em caso de separação e posterior
divórcio. Assim, não havendo mais a separação, mas o divórcio consensual direto e,
principalmente, em razão de não mais haver que se apurarem as causas da separação
para fins de divórcio, não cabe a audiência de conciliação ou ratificação, por se tornar
letra morta. Nessa perspectiva, a audiência de conciliação ou ratificação teria apenas
cunho eminentemente formal, sem nada a produzir. De fato, não se desconhece que
a Lei do Divórcio ainda permanece em vigor, discorrendo acerca de procedimentos

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da separação judicial e do divórcio (arts. 34 a 37, 40, §2º, e 47 e 48), a qual remete
ao CPC (arts. 1.120 a 1.124). Entretanto, a interpretação de todos esses dispositivos
infraconstitucionais deverá observar a nova ordem constitucional e a ela se adequar,
seja por meio de declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto,
seja como da interpretação conforme a constituição ou, como no caso em comento,
pela interpretação sistemática dos artigos. REsp 1.483.841-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro,
julgado em 17/3/2015, DJe 27/3/2015 (INF. 558).

Gente, socorro, terminamos casamento....


Mas nossa aula não acabou...
Hora de ler o resumo e lembrar de tudinho...

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RESUMO
Brasil, falamos um monte de coisa sobre casamentos e muitos temas são efetivamente
abordados em prova.
A banca ama cobrar esse tema...
Vamos para um singelo resumo???
Para começar, nada melhor do que recordar os ensinamentos do nosso professor amado
Pablito...

A família é, sem sombra de dúvida, o elemento propulsor de nossas maiores felicidades e, ao


mesmo tempo, é na sua ambiência em que vivenciamos as nossas maiores angústias, frustrações,
traumas e medos.
Muitos dos nossos atuais problemas têm raiz no passado, justamente em nossa formação familiar,
o que condiciona, inclusive, as nossas futuras tessituras afetivas.
Somos e estamos umbilicalmente unidos à nossa família.
O conceito de família reveste-se de alta significação psicológica, jurídica e social, impondo-nos um
cuidado redobrado em sua delimitação teórica, a fim de não corrermos o risco de cair no lugar-
comum da retórica vazia ou no exacerbado tecnicismo desprovido de aplicabilidade prática.12

I – Princípio da Dignidade da pessoa humana tem previsão no artigo 1º da CF, que rege
todo o ordenamento civil – é um guia geral.
II – Princípio da Solidariedade é o epicentro do Direito das Famílias e está previsto no
artigo 3º da CF - no direito das famílias, a solidariedade é verificável na ideia de que todos
os membros de uma entidade familiar e cada um deles, considerados individualmente,
respondem por todos os demais e por cada um, de forma recíproca. Esse princípio não se
limita ao aspecto material, devendo ser concebido num sentido amplo, tendo um caráter
afetivo, social, moral, patrimonial e espiritual...
Como menciona Flávio Tartuce:

ser solidário significa responder pelo outro, o que remonta à ideia de solidariedade do direito das
obrigações. Quer dizer, ainda, preocupar-se com a outra pessoa. Desse modo, a solidariedade
familiar deve ser tida em sentido amplo, tendo caráter afetivo, social, moral, patrimonial,
espiritual e sexual.13

III – Princípio da Igualdade entre os filhos – artigo 227 da CF e 1.596 do CC. Não
existe diferença entre os filhos, sejam eles do casamento, adotados, fora do casamento,

12
Stolze, Pablo; Pamplona Filho, Rodolfo Manual de direito civil – volume único / Pablo Stolze; Rodolfo Pamplona Filho. – 4.
ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
13
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.

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filhos socioafetivos (decorre do afeto), filho é filho. Todos têm direitos iguais sobre a
herança dos pais.
IV – Princípio da Igualdade entre os cônjuges e companheiros – artigo 226 e 227 da
CF. Hoje não se fala mais sobre pátrio poder, mas em poder familiar. O poder que os pais
têm sobre os filhos é igual. O reflexo é em relação à guarda, por exemplo.
V – Princípio da não intervenção previsto no artigo 1.513 do CC: “ninguém pode intervir
no âmbito familiar”. Se houver, tem que ser mínimo e estritamente necessária.
VI – Princípio do maior interesse da criança e do adolescente (art. 227, caput, da
CF/1988 e arts. 1.583 e 1.584 do CC)
VII – Princípio da afetividade - Afetividade rege as relações familiares e, por isso, o
termo “Direito das Famílias” – pela pluralidade de formas de afeto. Por meio desse princípio,
temos, por exemplo, a análise da parentalidade socioafetiva.

Pela importância da função social das famílias, que decorre do princípio implícito de
socialidade que rege o direito civil como um todo, a função social da família é extraída
do artigo 226 da CF, que estabelece que a família é a base da sociedade, recebendo uma
especial proteção do Estado.
Assim sendo, as relações familiares serão analisadas dentro do contexto social, dentro
daquilo que a sociedade hoje apresenta ao Estado.
Se a sociedade muda, é preciso que a concepção de família também seja alterada, para,
assim, atender ao ideal de realização de todos os integrantes da entidade familiar.
Assim, estaremos efetivando a função social das famílias. O
Esse princípio é um reflexo do movimento de mudança do paradigma liberal-individualista,
apoiado fortemente na teoria positivista, para o paradigma social-personalista, representado
por teorias pós-positivistas que colocam a pessoa humana no centro das atenções. A
pessoa passa a ocupar o lugar que outrora foi destacado ao patrimônio, de forma que são
incorporados valores éticos e sociais para a interpretação e aplicação do Direito.

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Temos, então, que a família é a base da sociedade e que, além disso, tem uma função
social que deve ser considerada nas mais diversas interpretações que se façam sobre esse
instituto.

Em suma, não reconhecer função social à família e à interpretação do ramo jurídico que a estuda
é como não reconhecer função social à própria sociedade, premissa que fecha o estudo dos
princípios do Direito de Família Contemporâneo.14

A regra de ouro hoje quando se fala em Direito das Famílias é a pluralidade familiar.
Há variadas situações.
O artigo 226 da CF dispõe que família é decorrente de: casamento, união estável ou
família monoparental.
No entanto, o conceito de família não está engessado pela CF, devendo esse rol ser
interpretado como exemplificativo.
O que define família é o afeto. Hoje, então, fala-se da família eudemonista: pautada
no amor, no afeto, na busca pela felicidade.

O conteúdo, agora, abordará o casamento, que começa no CC no artigo 1.511.

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos
e deveres dos cônjuges.

Os artigos relacionados ao casamento são os 1.511 a 1582 do Código Civil.


O casamento é entre duas pessoas.
Hoje já é possível o casamento entre uniões homoafetivas, mas isso só foi possível
devido ao reconhecimento jurisprudencial que, dentre outros, levou em consideração o

14
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.

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Princípio da Legalidade, que quer dizer “praticar atos de acordo com a lei”. E, como sabemos,
o particular pode tudo o que a lei não proíba.
Observe a definição de casamento proposta por Flávio Tartuce: “união entre duas
pessoas, reconhecida e regulamentada pelo Estado, formada com objetivo de constituição
de uma família e baseado no vínculo do afeto”. 15
Pergunta comum em provas: existe hierarquia entre casamento e união estável? Não.
Não existe hierarquia entre entidades familiares.

E qual a natureza jurídica do casamento?

Para responder essa questão, há três teorias:


• Teoria institucionalista – casamento é uma instituição;
• Teoria contratualista – casamento é um contrato;
• Teoria mista ou eclética – casamento é uma instituição no conteúdo, mas um contrato
na formação (estipula-se uma vontade).

É uma espécie de negócio jurídico, mas com regras específicas (monogamia, escolha
de vida...).
Agora, vamos tratar algumas determinadas regras.
Existem as regras de disposições gerais sobre casamento (arts. 1.511 ao 1.516) e as
regras sobre capacidade para o casamento (arts. 1.517 ao 1.520).

Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração.


Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos
de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei.

15
Tartuce, Flávio. Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020.

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Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão
de vida instituída pela família.

Ninguém pode “se meter” na vida familiar – esse é o princípio da não intervenção
na família.

Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante
o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.

Embora este art. 1.514 disponha que é casamento quando o homem e mulher manifestam
à vontade, a lei não proíbe; portanto, hoje, o casamento entre pessoas do mesmo sexo
é permitido. Não há impedimento para isso e também não há nenhuma peculiaridade
diferenciadora.

Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento
civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir
da data de sua celebração.

Muitas pessoas fazem o casamento religioso com efeito civil. Faz-se toda a habilitação
para o casamento e, ao invés de fazer a celebração apenas civil, pode-se fazer a celebração
civil e, depois, religiosa, ou se pode fazer o religioso com efeito civil.

Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para
o casamento civil.
§ 1º O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de
sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa
de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente a habilitação regulada
neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação.

Faz-se a habilitação, marca-se o casamento religioso com efeito civil, a celebração ocorre
ao mesmo tempo que a celebração religiosa e, depois, homologa-se em 90 dias.

Art. 1.516, § 2º O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código,
terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil,
mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532.

Pode acontecer de se fazer a habilitação para o casamento — que é um procedimento


em que se terá, ao final, a certidão de habilitação — e, depois, marcar o casamento religioso
com efeito civil.
Mas pode ocorrer o inverso: houve o casamento no religioso e, depois, se quer registrar
este casamento. Para isso, deve ser feita a submissão ao processo de habilitação.

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Art. 1.516, § 3º Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos
consorciados houver contraído com outrem casamento civil.

Pessoas casadas não podem se casar.


Se a pessoa já tem um casamento civil e depois casa no religioso, é óbvio que não será
possível regularizar esse segundo casamento religioso, porque o casamento civil já existente
impede a existência de outros casamentos.
Então, em relação às questões das disposições gerais, observam-se alguns pontos:
• A celebração é gratuita;
• É possível casamento homoafetivo;
• O casamento religioso deve ser observado em relação a qualquer religião e pode ser,
também, conjuntamente com casamento civil (art. 1.535).

Do casamento religioso, ainda, há a questão da habilitação, que é o procedimento de


verificação se as pessoas podem ou não se casar. Esse procedimento pode ser feito antes
do casamento religioso, havendo o casamento religioso com efeito civil e registro, ou depois,
havendo o casamento religioso, habitação e o registro.
Um ponto muito cobrado em prova, principalmente agora, é a questão da capacidade
para o casamento.
Quem pode casar?

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de
ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.

Quando se fala de 16 anos, fala-se da idade núbil.

Art. 1.517.
Parágrafo único. Se houver divergências entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único
do art. 1.631.

Se for entendido que a justificativa para anular o consentimento é injusta, pode-se


ajuizar ação contra os pais.
O Judiciário irá dirimir esse conflito. Os pais explicam os motivos para o juiz, que decidirá
se haverá casamento ou não, analisando se os motivos são justos ou não.

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Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização.
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz.
Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade
núbil, observado o disposto no art. 1.517 desde Código.

Então, na questão da capacidade para o casamento, existe a idade núbil (idade para o
casamento) de 16 anos. Se a pessoa se casa com 16 anos, ela estará emancipada (art. 5º
do Código Civil).
A autorização dos pais para o casamento de pessoa de 16 anos tem fundamento no
poder familiar — o poder que os pais possuem de controlar a vida dos seus filhos menores.
Se houver problema em relação à autorização, pode-se pedir o suprimento judicial.
A pessoa com 16 anos pode ser autor, mas não tem capacidade para estar em juízo por
ser considerada relativamente incapaz por conta da idade.
Assim, a pessoa não pode ajuizar ação sozinha e os seus pais não vão estar ao seu lado
na ação, porque eles também são réus.
O Código de Processo Civil dispõe que:

Art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar
em juízo.
Art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na
forma da lei.
Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao:
I – incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os
daquele, enquanto durar a incapacidade.

A autorização dos pais é revogável até a celebração (art. 1.518).

A partir dos 18 anos, se pode casar e divorciar, mas há regras que devem ser respeitadas.
Os arts. 1.521 e 1.522 do Código Civil apresentam as hipóteses de impedimento para o
casamento, isto é, as situações em que o casamento será proibido, conforme expresso a seguir:
Cabe apontar que caso as hipóteses de impedimento sejam ignoradas e o casamento
ocorra, este será considerado nulo.

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Art. 1.521. Não podem casar:


I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;

De acordo com o inciso reproduzido acima, não pode haver o casamento entre pai e
filha(o) ou mãe e filho(a), seja o laço de parentesco natural (consanguíneo) ou civil (por
adoção ou socioafetividade).

Art. 1.521.
II – os afins em linha reta;

Os afins referem-se às pessoas que possuem laços de parentesco com o cônjuge de


determinada pessoa e, portanto, são consideras como parentes desta também.
Observe que a legislação proíbe apenas o casamento de um indivíduo com os afins em
linha reta. Desse como, caso Maria quisesse casar-se com o irmão de João, não haveria
qualquer tipo de impedimento, pois os cunhados são afins colaterais.

Art. 1.521.
III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;

É importante destacar um aspecto importante quanto ao inciso IV: os colaterais de


terceiro grau, incluídos na proibição apresentada pelo inciso, dizem respeito aos tios e
sobrinhos. Apesar de o Código Civil proibir a união entre pessoas com esse grau de parentesco,
é relativamente comum que haja esse tipo de casamento, conhecido como “casamento
avuncular”.
Tal possibilidade se dá em razão da existência do Decreto-Lei n. 3.200/1941, em que se
determina que tio(a) e sobrinha(o) poderão contrair matrimônio perante a realização de
exames médicos que atestem que os nubentes se encontram em sanidade mental e que
não haverá prole defeituosa.

Art. 1.521.
V – o adotado com o filho do adotante;

O adotado não pode se casar com o filho do adotante, pois eles são irmãos.

Art. 1.521.
VI – as pessoas casadas;
VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra
o seu consorte.
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do casamento,
por qualquer pessoa capaz.

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Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum


impedimento, será obrigado a declará-lo.

Cabe apontar que as disposições presentes nos artigos reproduzidos acima também se
aplicam à união estável, conforme expressa o art. 1.723 do mesmo Código.

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.
§ 1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se
aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou
judicialmente.
§ 2º As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.

Para fins de prova é importante que você esteja atento a um detalhe: segundo expressa
o art. 1.521, inciso VI, a pessoa que é casada não poderá casar novamente – não importando
há quanto tempo esteja separada de fato de seu ex-cônjuge –, a menos que efetue o divórcio
em relação ao seu matrimônio anterior.
Em contrapartida, o art. 1.723, § 1º, expressa que a incidência do inciso VI não se aplicará
à união estável, ou seja, a pessoa casada que estiver separada de fato não poderá se casar,
mas poderá contrair união estável.

Não há a determinação de um prazo mínimo para que seja considerada a existência da


separação de fato.
Em continuidade, o Código Civil trata, em seus arts. 1.523 e 1.524, sobre as causas
suspensivas de casamento que, diferentemente das hipóteses apresentadas pelo art.
1.521, não impedem que o mesmo ocorra, mas impõem uma regra em relação ao regime
de bens que deverá ser seguido.
Inexoravelmente, ao se casar as pessoas devem escolher o regime de bens ao qual
estarão submetidas, caso isso não ocorra, a lei determina que será instituído o regime da
comunhão parcial de bens.

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No entanto, aqueles que casam mediante uma causa suspensiva devem, obrigatoriamente,
ser regidos pelo regime da separação obrigatória de bens.
Para que um casamento possa celebrado é necessário, primeiramente, que os nubentes
passem por um processo de habilitação. Conforme previsto pelos arts. 1.525 a 1.532 do
Código Civil, o processo de habilitação visa a conferir a ambos os nubentes, a partir da
apresentação e análise de alguns documentos, uma certidão – com eficácia de 90 (noventa)
dias – para que o casamento seja celebrado:

Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes,
de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes
documentos:
I – certidão de nascimento ou documento equivalente;
II – autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial
que a supra;
III – declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e
afirmem não existir impedimento que os iniba de casar;
IV – declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais,
se forem conhecidos;
V – certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação
de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.

Realizada a apresentação dos documentos elencados pelo art. 1.525, o oficial do cartório,
a fim de dar publicidade ao ato, publicará por meio de edital a intenção dos nubentes em
efetuar o matrimônio.

Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a
audiência do Ministério Público.
Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, a habilitação
será submetida ao juiz.

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Art. 1.527. Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante
quinze dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se
publicará na imprensa local, se houver.
Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação.
Art. 1.528. É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem
ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens.
Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração
escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde
possam ser obtidas.
Art. 1.530. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição,
indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu.
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos
fatos alegados, e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé.
Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a inexistência de fato
obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação.
Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído
o certificado.

Por sua vez, o processo relativo à celebração do casamento é expresso pelos arts. 1.533
a 1.542 do Código Civil:

Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela
autoridade que houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem
habilitados com a certidão do art. 1.531.
Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas,
presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as
partes e consentindo a autoridade celebrante, noutro edifício público ou particular.
§ 1º Quando o casamento for em edifício particular, ficará este de portas abertas durante o ato.
§ 2º Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo anterior e se algum dos contraentes
não souber ou não puder escrever.

Perceba que, quando a celebração do casamento se der na sede do cartório, bastará


que estejam presentes duas testemunhas; em contrapartida, caso a celebração ocorra em
edifício particular, serão necessárias quatro testemunhas.
Diante da situação em que um dos nubentes não saiba ou não possa escrever, também
será preciso que haja a presença de quatro testemunhas.
Conforme determina o art. 1.542 do Código Civil, é possível que um casamento seja
celebrado mediante procuração. Nesse sentido, caso o noivo ou a noite esteja vivendo
uma aventura no Camboja, por exemplo, e não possa estar presente na data marcada para
a celebração do casamento, uma procuração pode ser efetivada para que uma pessoa
escolhida pelo(a) nubente o substitua.

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Cabe apontar que a procuração a ser utilizada para a celebração do casamento deve
consistir em uma procuração por instrumento público, isto é, deve ser uma procuração
realizada em cartório e que apresente poderes especiais autorizando o casamento.
É de conhecimento geral que, ao estabelecer uma procuração, uma pessoa confere
determinados poderes a outra.
No que se refere à procuração para a celebração de casamento, o art. 1.542, § 1º,
determina que a revogação do mandato não precisará chegar ao conhecimento do mandatário;
porém, se o casamento for celebrado sem que o mandatário ou o outro contraente tenha
ciência da revogação, o mandante responderá pelas perdas e danos.
Perceba que assim como ocorre em relação à certidão de habilitação, a procuração
também produzirá efeitos por um período de 90 (noventa) dias.
Ainda no que concerne ao tema, é importante apontar que os arts. 1.539 e 1.540
apresentam algumas regras em que haverá a flexibilização do processo de habilitação
e/ou celebração do casamento:

Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo
onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas
que saibam ler e escrever.
§ 1º A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por
qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado
pelo presidente do ato.
§ 2º O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro
em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.

Perceba que o artigo acima reproduzido determina que no caso de moléstia grave
de um dos nubentes, a autoridade celebrante presidirá o ato, perante duas testemunhas
que saibam ler e escrever, no local em que se encontrar o impedido. Tal flexibilização é
compreendida como uma flexibilização mínima das regras, pois para que esta ocorra é
necessário que os nubentes já estejam habilitados ao casamento.
Por sua vez, o art. 1.540 apresenta uma situação distinta, em que há a configuração de
uma flexibilização máxima das regras de habilitação e celebração de casamento:

Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo
a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o
casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham
parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau.

Note que enquanto em uma celebração realizada em vias normais as testemunhas


podem ser parentes dos nubentes, no casamento realizando quando algum dos contraentes
estiver em iminente risco de vida, conhecido como “casamento in extremis vitae”, o ato

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deverá ser efetuado na presença de seis testemunhas com quem os nubentes não tenham
parentesco em linha reta ou colateral, até segundo grau.
Cabe ressaltar, ainda, que diferentemente do que ocorre em relação ao casamento
celebrado no caso de moléstia grave de um dos nubentes, o art. 1.540 trata sobre uma
situação em que o casal não passou pelo processo de habilitação para o casamento.
Em suma, existem duas hipóteses distintas de flexibilização das regras de habilitação
e celebração de casamento:
• a primeira refere-se ao caso de moléstia grave de um dos nubentes, situação em que
o casamento será celebrado havendo a habilitação dos noivos;
• a segunda hipótese diz respeito ao cenário em que um dos contraentes estiver em
iminente risco de vida, em que o casamento será celebrado – perante a presença de
seis testemunhas que não tenham parentesco com os nubentes em linha reta ou
colateral até o segundo grau, ou seja, que não sejam seus pais, avós, bisavós, filhos,
netos, bisnetos, enteados, sogros, cunhados ou irmãos – mesmo sem que haja a
habilitação.
É importante lembrar que, no caso da segunda hipótese, as testemunhas deverão
comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em dez dias, para manifestar
a realização do casamento entre aquelas duas pessoas. A partir da realização dessas
declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se os contraentes
podiam ter-se habilitado e, verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, os
efeitos do casamento retroagirão à data de sua celebração.
A hipótese prevista pelo art. 1.540 pode aparecer em provas com a denominação
de casamento nuncupativo, casamento in extremis vitae ou, ainda, casamento in
articulo mortis.

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Existem três formas de comprovação do casamento:


i. certidão de registro do casamento;
ii. prova indireta, fundada na posse do estado de casado: para isso, são
necessários 3 requisitos para sua comprovação: nomen (um cônjuge tem que
utilizar o nome de outro cônjuge); tractatus (é o tratamento dado entre as
partes, como se casados fossem) e a fama ou reputatio (a sociedade reconhece
as partes como pessoas casadas);
iii. prova direta supletória: Supondo que o sujeito tenha se casado e se registrado, sendo
extraído uma certidão a qual foi perdida. Nesse caso, far-se-á prova direta complementar
ou supletória. Justificada a perda do registro civil, é admitida qualquer outra prova, como
o passaporte ou outros documentos que consignem a informação da condição de casado.

INVALIDADE DO CASAMENTO
A invalidade do casamento poderá ser configurada ao se estabelecer que
esse casamento é nulo ou anulável.
De modo resumido, o conceito geral de nulidade se relaciona à ocorrência
de algo que ofende o interesse público, enquanto a anulação ofende interesse
privado, sendo assim, menos grave.
Conforme determina o Direito Civil, não há prazo para que seja declarada a nulidade de
algo, dado que o que é nulo nunca se torna válido.
Por outro lado, em razão de se referir a algo que ofende o interesse particular, e não o
interesse público, o que é anulável pode se tornar válido com o passar do tempo, ou seja,
caso a pessoa que se sentiu prejudicada pelo ato não ajuíze ação dentro do prazo específico
a fim de que seja decretada a anulação, o ato se tornará válido.
CASAMENTO NULO CASAMENTO ANULÁVEL
INTERESSE PÚBLICO INTERESSE PRIVADO
Refere-se ao casamento que ocorre
Refere-se ao casamento que ocorre sob
mediante a violação das regras presentes
a incidência do art. 1.550 do Código Civil.
nos arts. 1.521 e 1.548 do Código Civil.
A declaração da nulidade ocorre por meio A anulação se dá por meio da decretação
da ação declaratória de nulidade. em ação anulatória.
A ação de nulidade pode ser proposta A ação anulatória somente pode ser
por qualquer interessado, inclusive pelo proposta pela parte interessada e possui
Ministério Público, e é imprescritível. prazo decadencial para tal.

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Resumindo:
i. Muitas vezes a anulação do casamento é preferível ao divórcio devido ao fato de não
ficar registrada no histórico do indivíduo, pois se você se divorcia, constará “divorciado”
em seus documentos.
ii. Lembre-se de que, em razão de ofender o interesse público, o casamento nulo nunca
se tornará válido, independentemente do tempo que passe. Em contrapartida, por ofender
apenas o interesse privado, o casamento anulável poderá se tornar válido se a parte ofendida
não agir dentro do prazo previsto em lei.
iii. Ocorrendo a validade do casamento, o mesmo somente poderá ser desfeito por meio
do divórcio ou caso ocorra a morte de um dos cônjuges, configurando o estado de viuvez
daquele que for sobrevivente.
Hipóteses de anulação do casamento Prazo de decadência
Quando a pessoa que casa ainda não houver completado a idade núbil
180 (cento e oitenta) dias
(dezesseis anos)

Quando o menor de idade que houver casado tenha realizado o ato


180 (cento e oitenta) dias
sem o consentimento dos pais

Quando for caso de vício de vontade por erro essencial 3 3 (três) anos
Quando for caso de vício de vontade por coação 4 (quatro) anos
Quando for caso de incapacidade 180 (cento e oitenta) dias
Quando for caso de revogação de procuração 180 (cento e oitenta) dias
Por incompetência da autoridade celebrante 2 (dois) anos

Por fim, quanto à invalidade do casamento, cabe destacar aquilo que é denominado
como CASAMENTO PUTATIVO, referente ao casamento que é nulo ou anulável, mas que
foi contraído de boa-fé.

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A fim de compreender o casamento putativo, imagine a seguinte situação: Maria a João


se encontram por acaso e acabam se apaixonando perdidamente, decidindo se casarem;
contudo, algum tempo após estarem casados, descobrem que são irmãos. Perceba que,
nos termos da lei, esse casamento será declarado nulo. No entanto, em razão da falta de
conhecimento acerca do laço sanguíneo, isto é, em razão da boa-fé, os efeitos do casamento
– como o direito de pedir alimentos, de usar o sobrenome do outro e demais questões
relacionadas a situações que decorram dos efeitos do casamento – permanecerão em
relação aos cônjuges. O mesmo ocorrerá em relação ao casamento anulável: os efeitos do
casamento serão aplicáveis ao(s) cônjuge(s) de boa-fé, conforme dispõe o artigo 1.561:

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o
casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença
anulatória.
§ 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele
e aos filhos aproveitarão.
§ 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só
aos filhos aproveitarão.

Veja que o casamento em si é inválido, mas os efeitos permanecem, só os efeitos!


Os aspectos inerentes à eficácia do casamento são tratados pelos artigos 1.565 a 1.570
do Código Civil, reproduzidos a seguir:
O casamento válido produz, então, vários efeitos, tanto no plano pessoal, quanto no
social e patrimonial.

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EFEITOS
• EFEITOS SOCIAIS DO CASAMENTO
- cria a família matrimonial;
- estabelece o vínculo de afinidade;
- acarreta a emancipação.

• EFEITOS PESSOAIS
- fidelidade mútua;
- coabitação;
- mútua assistência e respeito e consideração mútuos;
- igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges;
- sustento, guarda e criação dos filhos.

• EFEITOS PATRIMONIAIS
- cria a sociedade conjugal;
- estabelece direito sucessório;
- dever de alimentar o outro cônjuge;
- institui o bem de família;
- estabelece o regime de bens entre o casal.

Por fim, a dissolução do casamento é tratada pelos artigos 1.571 a 1.582:

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I – pela morte de um dos cônjuges;
II – pela nulidade ou anulação do casamento;
III – pela separação judicial;
IV – pelo divórcio.
§ 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-
-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.
§ 2º Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o
nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial.

Interessante consignar que, no Brasil, até o ano de 1977, o casamento era considerado
indissolúvel, tendo essa situação mudado a partir da Emenda Constitucional n. 9, de 28
de julho de 1977, que alterou a Constituição Federal então vigente (CF de 1969), abrindo
espaço para o divórcio, ao ser alterado o § 1º do art. 175, que passou a permitir a dissolução
do matrimônio nos casos previstos em lei.

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Na década de 70, ainda, surgiu a tal Lei do Divórcio (Lei n. 6.515, de 26 de dezembro
de 1977) que representou um marco importantíssimo e um alívio no Direito de Família ao
permitir, de forma expressa e categórica, o divórcio como forma de dissolução do vínculo
matrimonial.
Em tempo, importante entender que a sociedade conjugal é diferente de vínculo
matrimonial. Como mencionado, um dos efeitos do casamento é o estabelecimento
da sociedade conjugal, o que indica que o casamento (vínculo matrimonial) é algo mais
abrangente que a sociedade conjugal, estando esta contida naquele.

Pela sociedade conjugal, temos um conjunto de direitos e obrigações que ligam os


cônjuges, sendo certo que o vínculo matrimonial é muito maior.
Em razão disso, pode ocorrer a suspensão ou extinção da sociedade conjugal com
permanência do vínculo matrimonial, situação em que os direitos e obrigações cessam
(inclusive quanto ao regime de bens) mas persiste a proibição de novo casamento, porquanto
ainda existente o vínculo do matrimônio.
Nesse sentido, temos que o vínculo matrimonial só se dissolve, ou seja, o efetivo fim do
casamento somente ocorre nas seguintes hipóteses: morte de um dos cônjuges; anulação
do casamento e divórcio.
Assim, a separação judicial põe fim à sociedade conjugal, mas não põe fim ao vínculo
matrimonial. Entendeu?
É fato que, conforme expressa o artigo reproduzido acima, a morte real e a morte
presumida colocam fim ao casamento, pois geram o estado de viuvez do cônjuge sobrevivente.
Segundo dispõe o Código, a dissolução do enlace também ocorrerá pela nulidade ou
anulação do casamento, pela separação judicial ou pelo divórcio.
No entanto, é importante destacar que a Emenda Constitucional n. 66/2010 estabeleceu
uma alteração quanto à questão do divórcio: anteriormente, para que fosse possível realizar
o pedido de divórcio, era necessário que o casal estivesse separado de fato por 2 (dois) anos
ou separado judicialmente por 1 (um) ano, como vimos.
A partir da referida emenda, o divórcio pode ser pedido a qualquer momento, sem que
haja a necessidade de espera.

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Cabe apontar que a possibilidade existente nos dias atuais de que o divórcio seja realizado
“de cara” não significa que a separação judicial não exista mais.
Caso um casal decida se separar judicialmente, a sociedade conjugal ficará suspensa
até que o divórcio de fato seja realizado.
Nesse sentido, havendo apenas a separação judicial, os indivíduos detêm a possibilidade
de reatar o casamento sem que haja maiores problemas, diferentemente do que ocorre
quando acontece o divórcio: a partir deste, o casamento somente pode ser retomado caso
seja efetuado novamente, pois consiste em um procedimento que coloca um fim efetivo
à sociedade conjugal.
Ainda no que se refere ao tema, é importante destacar que existem duas espécies
de divórcio:
• Divórcio consensual: ocorre quando ambas as partes estão de acordo em relação à
partilha de bens. Caso não haja o interesse de incapazes, o divórcio consensual pode
ser realizado no cartório.
• Divórcio litigioso: ocorre quando não há concordância entre as partes acerca dos
aspectos que envolvem a partilha de bens.
Em sua continuidade, o Código Civil determina o seguinte:

Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao
outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável
a vida em comum.
Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a ocorrência de algum
dos seguintes motivos:
I – adultério;
II – tentativa de morte;
III – sevícia ou injúria grave;
IV – abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;
V – condenação por crime infamante;
VI – conduta desonrosa.
Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem evidente a impossibilidade
da vida em comum.
Art. 1.574. Dar-se-á a separação judicial por mútuo consentimento dos cônjuges se forem casados
por mais de um ano e o manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente homologada
a convenção.
Parágrafo único. O juiz pode recusar a homologação e não decretar a separação judicial se apurar
que a convenção não preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges.
Art. 1.575. A sentença de separação judicial importa a separação de corpos e a partilha de bens.
Parágrafo único. A partilha de bens poderá ser feita mediante proposta dos cônjuges e homologada
pelo juiz ou por este decidida.

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Art. 1.576. A separação judicial põe termo aos deveres de coabitação e fidelidade recíproca e
ao regime de bens.
Parágrafo único. O procedimento judicial da separação caberá somente aos cônjuges, e, no caso
de incapacidade, serão representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão.
Art. 1.577. Seja qual for a causa da separação judicial e o modo como esta se faça, é lícito aos
cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato regular em juízo.
Parágrafo único. A reconciliação em nada prejudicará o direito de terceiros, adquirido antes e
durante o estado de separado, seja qual for o regime de bens.
Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de usar o
sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração
não acarretar:
I – evidente prejuízo para a sua identificação;
II – manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida;
III – dano grave reconhecido na decisão judicial.
§ 1º O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a qualquer momento,
ao direito de usar o sobrenome do outro.
§ 2º Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de casado.
Art. 1.579. O divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos.
Parágrafo único. Novo casamento de qualquer dos pais, ou de ambos, não poderá importar
restrições aos direitos e deveres previstos neste artigo.
Art. 1.580. Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que houver decretado a
separação judicial, ou da decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos, qualquer
das partes poderá requerer sua conversão em divórcio.
§ 1º A conversão em divórcio da separação judicial dos cônjuges será decretada por sentença,
da qual não constará referência à causa que a determinou.
§ 2º O divórcio poderá ser requerido, por um ou por ambos os cônjuges, no caso de comprovada
separação de fato por mais de dois anos.

É importante que o candidato tome cuidado com o parágrafo 2º do artigo 1.580: em


razão do que é estabelecido pela Emenda Constitucional n. 66/2010, não há, atualmente,
a necessidade que seja comprovada separação de fato por mais de dois anos para que seja
possível requerer o divórcio.

Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens.

Conforme exposto anteriormente, em uma ação de divórcio cumulada com partilha


de bens, o juiz poderá conceder o divórcio imediatamente, sem que haja a aceitação ou o
consentimento do outro, e prosseguir com a partilha posteriormente.

Art. 1.582. O pedido de divórcio somente competirá aos cônjuges.


Parágrafo único. Se o cônjuge for incapaz para propor a ação ou defender-se, poderá fazê-lo o
curador, o ascendente ou o irmão.

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O regime dos bens está diretamente relacionado às regras patrimoniais que têm incidência
no casamento ou na união estável, quer a relação seja estabelecida entre homem e mulher
ou entre casais homoafetivos.
O regime de bens é um dos efeitos patrimoniais do casamento.
Quanto ao tema em análise propriamente dito, o Código Civil brasileiro apresenta quatro
espécies de regime de bens que poderão incidir tanto sobre o casamento como sobre a união
estável: comunhão universal de bens, separação de bens, participação final nos aquestos
e comunhão parcial de bens.
Essas categorias de regime de bens devem ser divididas em dois grupos:
A começar pelo regime da comunhão parcial de bens, é necessário apontar que esse
consiste no regime-regra devido ao fato de se referir ao regime que é estabelecido
automaticamente pela lei quando não há a escolha do casal por qualquer outra espécie
de regime.

1 2

• comunhão • comunhão
universal de bens parcial de bens
• separação e bens (regime regra)
• participação final
nos aquestos

Em outros termos, se os indivíduos estão vivenciando uma união estável e não realizaram
nenhuma escolha documentada quanto ao tipo de regime de bens sob o qual desejariam
que a relação fosse estabelecida, estes estarão, automaticamente, sob a incidência da
comunhão parcial de bens.
Do mesmo modo, o casal que celebrou o casamento, mas não realizou qualquer tipo de
escolha sobre o regime de bens, terá o relacionamento regido pela comunhão parcial de
bens, em que se define que tudo aquilo que for adquirido onerosamente por um ou ambos
os cônjuges na constância do casamento ou da união estável deverá ser partilhado por dois,
ainda que o bem esteja apenas no nome de um.
Como se pode observar, os outros tipos de regime dependem de uma escolha do casal,
que será operada de maneira distinta a depender se a relação se trata de uma união estável
ou de um casamento, conforme indicado abaixo:
• União estável: diante da união estável, a escolha do regime de bens diverso da
comunhão parcial de bens deverá ocorrer por meio da realização, através de escritura
pública, de um pacto/contrato convivencial em que será estabelecido o tipo de regime
a ser contraído.

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• Casamento: diante do casamento a escolha do regime de bens diverso da comunhão


parcial de bens deverá ocorrer através da instituição (em cartório) daquilo que é
chamado de “pacto antenupcial”, documento em que se estabelece qual será o regime
de bens a ser contraído pelos nubentes.

Art. 1.654. A eficácia do pacto antenupcial, realizado por menor, fica condicionada à aprovação
de seu representante legal, salvo as hipóteses de regime obrigatório de separação de bens.
Art. 1.655. É nula a convenção ou cláusula dela que contravenha disposição absoluta de lei.
Art. 1.656. No pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos aquestos, poder-
se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares.

Em regra, para que um bem imóvel de um dos cônjuges possa, por exemplo, ser alienado,
é preciso que haja a autorização de seu companheiro, ainda que se trate de bem particular.
No entanto, conforme estabelece o artigo acima, o pacto antenupcial que adotar o regime
de participação final nos aquestos poderá convencionar a livre disposição dos bens imóveis,
desde que estes sejam particulares.

Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito perante terceiros senão depois de
registradas, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.

Apesar de não ser um ponto costumeiramente cobrado em provas, cabe apontar que é
possível que sejam convencionadas determinadas cláusulas existenciais dentro do pacto
nupcial, desde que estas não sejam contra a lei. Nesse sentido, apesar de haver discussões
doutrinárias quanto a esse aspecto, há a possibilidade de que sejam estipuladas, por
exemplo, cláusulas a serem aplicadas em caso de traição.
Quando tratamos de regime de bens, observa-se os arts 1.639 a 1.688 do Código Civil.
E o que seria regime de bens?
Regime de bens é o conjunto de regras de ordem privada relacionadas com interesses
patrimoniais ou também econômicos resultantes da entidade familiar.
Observe que tudo aqui comentado ocorre entre a sociedade conjugal, esqueça, por
enquanto, situações decorrentes da morte...

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Em relação aos regimes de bens temos os seguintes princípios:


• Autonomia da vontade: as partes escolhem o regime de bens, conforme o art. 1.639:
• Indivisibilidade do regime de bens: apesar da possibilidade jurídica de escolher outro
regime não expresso em lei, não é possível estipular dois regimes distintos entre
o casal, devendo este ser único e indivisível;
• Variedade de regime de bens: o Código Civil prevê quatro possibilidade de regime de
bens. Todavia, no silêncio ocorrerá a comunhão parcial de bens, também chamada
de regime legal ou regime supletório;
• Mutabilidade justificada: é possível alterar o regime de bens, segundo o art. 1.639, §
2º. Nesse sentido, é possível realizar uma alteração por meio de autorização judicial
de pedido motivado por ambos os nubentes.
Cuidado, pois em virtude do regime de bens, você pode ter limitações de atuações.

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COMUNHÃO PARCIAL DE BENS (1.658 – 1.666)


Trata-se do regime mais comum, mais usado.
O regime da comunhão parcial de bens tem previsão nos arts. 1.658 a 1.666 do CC.
Trata-se aqui do regime legal, também chamado de regime supletório.
A regra básica é: constituem bens comuns (bens dos dois) os havidos durante o
casamento, desde que adquiridos onerosamente.
Imagine que, em determinado momento, Maria casou. A partir do casamento, há o
fenômeno do regime de bens que se estende até o seu fim (divórcio ou morte).
Tudo o que foi adquirido antes do casamento é particular, não sendo repartido com o
cônjuge em caso de divórcio.
Imagine ainda que: Maria, antes de casar, possuía o próprio apartamento e veículos.
Maria se casa com João, comprando, ao longo do casamento, em conjunto, outros bens.
O que é apenas de Maria é chamado de bens particulares (BP), enquanto os bens adquiridos
em comum e na constância do casamento são chamados de bens comuns (BC).
Muito possivelmente é possível encontrar três modalidades de bens:
• Bens particulares de um;
• Bens particulares do outro;
• Bens comuns.

Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal,
na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes.
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
I – os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;

Regras básicas:
• Exclui-se da comunhão: art. 1.659;
• Entram na comunhão: art. 1.660;
• Bem particular é: herança particular, doação particular;
• Bem comum: FGTS e loteria.
Meação: trata-se da metade dos bens.
Ela é retirada apenas dos bens comuns.
Ela ocorre apenas no divórcio, sendo 50% dos bens comuns para um e 50% para outro.
Não há como falar em meação em bens particulares.
O regime da comunhão de bens, lembre-se é o regime que prepondera no casamento
e na união estável.

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O problema dentro da união estável decorre do conhecimento do momento exato em que


essa começa a existir, já que a união estável surge por um fato da vida, ou seja, a convivência
pública, contínua e duradoura com intuito de constituição família, não necessitando
morar juntos e nem ter filhos. Em um julgado antigo do Tribunal do Rio Grande do Sul, um
casal ficou junto por alguns meses. O rapaz, nesse período, comprou um casamento, não
conseguindo comprar que o dinheiro do apartamento era particular. A moça ajuizou uma
ação de reconhecimento e dissolução de união estável e o juiz mandou partilhar o bem.
Resumindo:
O art. 1.660/CC traz um rol de bens comunicáveis, que são:
• bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em
nome de um;
• dos cônjuges;
• bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa
anterior;
• bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
• benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
• frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância
do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.
Existem bens que, entretanto, não se comunicam (incomunicáveis), estando excluídos,
portanto, da comunhão, conforme o art. 1.659/CC:
• bens que cada cônjuge já possuía ao se casar e os bens havidos por doação ou sucessão,
bem como os sub-rogados em seu lugar não se comunicam;

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• bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em


sub-rogação dos bens particulares;
• obrigações anteriores ao casamento;
• obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal;
• bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
• proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
• Pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.

COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS (1.667 – 1.671)


A comunhão universal de bens tem previsão no art. 1.667 ao 1.671, do CC.
Esse regime deve ser escolhido no casamento por pacto antenupcial.
E, nesse regime, tudo é compartilhado.
No regime da comunhão universal, há plena comunhão de bens, comunicando-se os
bens anteriores, presentes e posteriores à celebração do casamento.
Ressalte-se que entram na comunhão, não apenas os bens, mas também algumas dívidas.
A comunhão é plena, mas não é absoluta, havendo bens incomunicáveis, evidentemente.
Imaginando que Maria se case com João. Enquanto na comunhão parcial de bens o
que será partilhado decorrerá dos bens adquiridos onerosamente durante o casamento,
no caso do regime de comunhão universal de bens, tudo o que foi conquistado antes do
divórcio deve ser partilhado.
Logo, tudo será bem comum, até mesmo os bens particulares construídos antes do
casamento.

Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes
e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.
Art. 1.668. São excluídos da comunhão:
I – os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu
lugar;

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A cláusula de incomunicabilidade é uma cláusula que impõe que o bem não se comunique
com o cônjuge.
Imaginando que Maria é casada com João. O pai de Maria quer doar para esta um
apartamento. Recebendo o apartamento, ele será de bem comum de Maria e João, mesmo
que este tenha sido doado antes do casamento (regime de comunhão universal de bens).
Contudo, o pai de Maria pode, ao doar o bem, constando uma cláusula de incomunicabilidade.
Essa cláusula define que o bem é apenas de Maria, não havendo partilhar em caso
de divórcio.

Art. 1.668.
II – os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada
a condição suspensiva;
Art. 1.668.
III – as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou
reverterem em proveito comum;
IV – as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de
incomunicabilidade;
V – Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.
Art. 1.659: VI – os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII – as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
Art. 1.669. A incomunicabilidade dos bens enumerados no artigo antecedente não se estende
aos frutos, quando se percebam ou vençam durante o casamento.
Art. 1.670. Aplica-se ao regime da comunhão universal o disposto no Capítulo antecedente,
quanto à administração dos bens.
Art. 1.671. Extinta a comunhão, e efetuada a divisão do ativo e do passivo, cessará a responsabilidade
de cada um dos cônjuges para com os credores do outro.

Na esfera dos bens comuns, entra:


• o que foi recebido por doação;
• o que foi recebido em herança;
Não entrará comunhão universal quando o bem recebido houver uma cláusula de
incomunicabilidade.
Meação: trata-se da metade dos bens. Ela é retirada apenas dos bens comuns. Ela ocorre
apenas no divórcio, sendo 50% dos bens comuns para um e 50% para outro. Não há como
termos meação em bens particulares, já sabemos disso.

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Havendo cláusula de incomunicabilidade, os frutos desses bens entram na meação.


Resumindo:
O artigo 1.668/CC elenca os bens que são excluídos da comunhão universal, a saber:
• bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados
em seu lugar;
• bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de
realizada a condição suspensiva;
• dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos,
ou reverterem em proveito comum;
• doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de
incomunicabilidade;
• bens de uso pessoal, livros, instrumentos de profissão, proventos de cada dos cônjuges,
pensões etc.
• em relação aos frutos, assim como a comunhão parcial, aplica-se a regra da comunhão
parcial, mesmo que retirados de bens incomunicáveis.
No regime da comunhão universal prevalece, igualmente, a regra de que a administração
dos bens compete ao casal.

REGIME DE SEPARAÇÃO DOS BENS (1.667 – 1.671)


O regime da separação de bens poderá ser convencional ou obrigatório (legal).
Será convencional quando estipulado no pacto antenupcial e obrigatório quando
determinado por lei.

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No regime da separação de bens, temos uma distinção dos patrimônios dos cônjuges,
que ficam destacados, tanto em relação à propriedade, quanto a posse e administração.
A regra básica é a de que não haverá comunicação de qualquer bem, seja ele posterior
ou anterior à união.
Como consequência, cabe a administração de cada bem ao seu proprietário exclusivo,
que, no caso da separação convencional, poderá aliená-lo ou gravá-lo com ônus real,
independentemente da outorga do outro cônjuge.
O regime da separação convencional de bens (separação absoluta de bens) tem como
regra os arts. 1687 a 1688.
Já o regime obrigatório pode ser lido no art. 1.641.
Na separação convencional de bens, o que for adquirido por um cônjuge é somente dele,
quer antes, quer no ínterim do casamento.
Nesse sentido, há apenas os bens particulares de cada um. Essa separação também é
chamada de regime de separação absoluta de bens.

Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva
de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.
Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção
dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto
antenupcial.

No caso de regime de separação de bens de cunho obrigatório, não há escolha, pois é


imposto pela lei nos seguintes casos:
• Quem casa mediante causas suspensivas: art. 1.523. Exemplo: Maria se divorcia de
João. Maria não fez a partilha. Sendo assim, Maria ainda poderá se casar, mas deverá
ser na separação universal de bens, lembra?
• Quem casa com mais de 70 (setenta) anos.
Existe uma situação peculiar: o casal começou um relacionamento em 1970 e foi viver
junto. Sessenta anos de união estável e tudo foi conseguido juntos em vida. Já bem velhinhos,
o marido sonha em ver a mulher vestida de noiva. Ambos marcam o casamento. Tendo mais
de 70 anos, a lei obriga, ainda assim, mesmo com 60 anos de união estável, a separação
obrigatória de bens.
• Quem para casar depender de suprimento judicial.
Observa-se, ainda, que o STJ, em 2018, no Julgado do EResp 1.623.858, definiu que, no
regime da separação obrigatória de bens, comunica-se os adquiridos na constância do
casamento, desde que comprovado o esforço comum.
Diante do exposto acima pelo STJ, o esforço comum poderá presumido?
Não!

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O esforço comum não poderá presumido, e sim efetivamente comprovado.


Presumindo o esforço comum, haveria uma ineficácia total da comunhão obrigatória de bens.
O STJ também possui julgados afirmando que as regras de separação legal devem ser
aplicadas em caso de união estável: Resp 646.259, TJ-RS, de relatoria do Ministro Luís
Felipe Salomão.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I – das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei n. 12.344, de 2010)
III – de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicia.

Separação absoluta de bens é a separação convencional, estipulada voluntariamente


entre as partes pelo pacto nupcial.
Não há comunicação de bens adquiridos na constância do casamento.

REGIME NA PARTICIPAÇÃO FINAL DE AQUESTOS (1.672 – 1.686)


Esse regime é novidade no Código Civil, sendo utilizado por quem possui muito dinheiro
e busca uma margem de liberdade maior de gestão dos bens da pessoa.
Passados quase 20 anos desde a vigência do Código Civil de 2002, é possível dizer que
o regime da participação final nos aquestos ainda tem pouquíssima popularidade.
O regime na participação final dos aquestos substituiu o regime dotal do CC de 1916,
sendo importado da Suécia.
Trata-se de um regime que, durante o casamento, cada um possui os seus bens. É como
se, durante o casamento, houvesse uma separação convencional.

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Contudo, quando ocorrer a dissolução do casamento, observa-se a proximidade muito


grande com a comunhão parcial de bens.
Isso ocorre porque caso haja algo em comum, esse bem deve ser partilhado. Assim,
no final do casamento, os cônjuges terão participação nos bens que eventualmente se
tenha colaborado para a aquisição. Para tanto, torna-se necessário comprovar o esforço
patrimonial.
Quando da dissolução do casamento, partilham-se os bens adquiridos, a título oneroso
e por ambos os cônjuges, na constância do casamento (aquestos).
Com a dissolução do casamento, far-se-á um balanço contábil, na forma do artigo 1.674
que dá as linhas gerais do como fazer o cálculo para efeito de partilha.
Esse regime leva em consideração uma peculiaridade muito grande. Muitos chamam
esse regime de “contábil e complexo”.

É uma breve recordação de temas abordados na aula de hoje...


Agora precisamos treinar bastante.
Aqui você vai fazer as questões sobre o tema da aula de hoje já cobradas na OAB pela
FGV, bem como questões mais antigas...
Respira e vai!!!!!
Logo após você responder, você encontrará o gabarito e o comentário.
Faça uma análise de quantas questões você acertou, se ficar abaixo de 80% de acerto,
volte e leia o material novamente e refaça as questões!
Tenha compromisso comigo, hein?!
Depois volte aqui e preencha esses dados...

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Divirta-se!!!!!

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QUESTÕES DE CONCURSO

001. (FGV/2023/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXXVII/PRIMEIRA FASE) Pedro e Joana


casaram-se pelo regime da comunhão parcial de bens. Na constância do casamento, Pedro
herdou ações e comprou um carro, enquanto Joana recebeu de doação um apartamento
e ganhou um prêmio de loteria.
Com base nessas informações, assinale a opção que indica, em caso de divórcio, os bens
que devem ser partilhados.
a) As ações e o apartamento.
b) O carro e o prêmio de loteria.
c) O carro e o apartamento.
d) As ações e o prêmio de loteria.

002. (FGV/2020/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXXI/PRIMEIRA FASE) Aldo e Mariane


são casados sob o regime da comunhão parcial de bens, desde setembro de 2013. Em
momento anterior ao casamento, Rubens, pai de Mariane, realizou a doação de um imóvel
à filha. Desde então, a nova proprietária acumula os valores que lhe foram pagos pelos
locatários do imóvel.
No ano corrente, alguns desentendimentos fizeram com que Mariane pretendesse se
divorciar de Aldo. Para tal finalidade, procurou um advogado, informando que a soma dos
aluguéis que lhe foram pagos desde a doação do imóvel totalizava R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais), sendo que R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) foram auferidos antes do
casamento e o restante, após. Mariane relatou, ainda, que atualmente o imóvel se encontra
vazio, sem locatários.
Sobre essa situação e diante de eventual divórcio, assinale a afirmativa correta.
a) Quanto aos aluguéis, Aldo tem direito à meação sob o total dos valores.
b) Tendo em vista que o imóvel locado por Mariane é seu bem particular, os aluguéis por
ela auferidos não se comunicam com Aldo.
c) Aldo tem direito à meação dos valores recebidos por Mariane, durante o casamento, a
título de aluguel.
d) Aldo faz jus à meação tanto sobre a propriedade do imóvel doado a Mariane por Rubens,
quanto sobre os valores recebidos a título de aluguel desse imóvel na constância do casamento.

003. (FGV/2019/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXX/PRIMEIRA FASE) Arnaldo, publicitário,


é casado com Silvana, advogada, sob o regime de comunhão parcial de bens. Silvana sempre
considerou diversificar sua atividade profissional e pensa em se tornar sócia de uma sociedade
empresária do ramo de tecnologia. Para realizar esse investimento, pretende vender um
apartamento adquirido antes de seu casamento com Arnaldo; este, mais conservador na
área negocial, não concorda com a venda do bem para empreender.
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Sobre a situação descrita, assinale a afirmativa correta.


a) Silvana não precisa de autorização de Arnaldo para alienar o apartamento, pois destina-
se ao incremento da renda familiar.
b) A autorização de Arnaldo para alienação por Silvana é necessária, por conta do regime
da comunhão parcial de bens.
c) Silvana não precisa de autorização de Arnaldo para alienar o apartamento, pois se trata
de bem particular.
d) A autorização de Arnaldo para alienação por Silvana é necessária e decorre do casamento,
independentemente do regime de bens.

004. (FGV/2019/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXVIII/PRIMEIRA FASE) Mônica, casada


pelo regime da comunhão total de bens, descobre que seu marido, Geraldo, alienou um imóvel
pertencente ao patrimônio comum do casal, sem a devida vênia conjugal. A descoberta
agrava a crise conjugal entre ambos e acaba conduzindo ao divórcio do casal.
Tempos depois, Mônica ajuíza ação em face de seu ex-marido, objetivando a invalidação
da alienação do imóvel.
Sobre o caso narrado, assinale a afirmativa correta.
a) O juiz pode conhecer de ofício do vício decorrente do fato de Mônica não ter anuído com
a alienação do bem.
b) O fato de Mônica não ter anuído com a alienação do bem representa um vício que
convalesce com o decurso do tempo.
c) O vício decorrente da ausência de vênia conjugal não pode ser sanado pela posterior
confirmação do ato por Mônica.
d) Para que a pretensão de Mônica seja acolhida, ela deveria ter observado o prazo prescricional
de dois anos, a contar da data do divórcio.

005. (FGV/2017/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXIII/PRIMEIRA FASE) Arlindo e Berta


firmam pacto antenupcial, preenchendo todos os requisitos legais, no qual estabelecem
o regime de separação absoluta de bens. No entanto, por motivo de saúde de um dos
nubentes, a celebração civil do casamento não ocorreu na data estabelecida.
Diante disso, Arlindo e Berta decidem não se casar e passam a conviver maritalmente. Após
cinco anos de união estável, Arlindo pretende dissolver a relação familiar e aplicar o pacto
antenupcial, com o objetivo de não dividir os bens adquiridos na constância dessa união.
Nessas circunstâncias, o pacto antenupcial é
a) válido e ineficaz.
b) válido e eficaz.
c) inválido e ineficaz.
d) inválido e eficaz.

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006. (FGV/2016/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXI/PRIMEIRA FASE) João e Maria


casaram-se, no regime de comunhão parcial de bens, em 2004. Contudo, em 2008, João
conheceu Vânia e eles passaram a ter um relacionamento amoroso. Separando-se de fato
de Maria, João saiu da casa em que morava com Maria e foi viver com Vânia, apesar de
continuar casado com Maria.
Em 2016, João, muito feliz em seu novo relacionamento, resolve dar de presente um carro
0 km da marca X para Vânia. Considerando a narrativa apresentada, sobre o contrato de
doação celebrado entre João, doador, e Vânia, donatária, assinale a afirmativa correta.
a) É nulo, pois é hipótese de doação de cônjuge adúltero ao seu cúmplice.
b) Poderá ser anulado, desde que Maria pleiteie a anulação até dois anos depois da assinatura
do contrato.
c) É plenamente válido, porém João deverá pagar perdas e danos à Maria.
d) É plenamente válido, pois João e Maria já estavam separados de fato no momento da
doação.

007. (FGV/2016/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XX/PRIMEIRA FASE) Juliana é sócia de


uma sociedade empresária que produz bens que exigem alto investimento, por meio de
financiamento significativo. Casada com Mário pelo regime da comunhão universal de bens,
desde 1998, e sem filhos, decide o casal alterar o regime de casamento para o de separação
de bens, sem prejudicar direitos de terceiros, e com a intenção de evitar a colocação do
patrimônio já adquirido em risco.
Sobre a situação narrada, assinale a afirmativa correta.
a) A alteração do regime de bens mediante escritura pública, realizada pelos cônjuges e
averbada no Registro Civil, é possível.
b) A alteração do regime de bens, tendo em vista que o casamento foi realizado antes da
vigência do Código Civil de 2002, não é possível.
c) A alteração do regime de bens mediante autorização judicial, com pedido motivado de
ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos
de terceiros, é possível.
d) Não é possível a alteração para o regime da separação de bens, tão somente para o
regime de bens legal, qual seja, o da comunhão parcial de bens.

008. (FGV/2016/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XX/PRIMEIRA FASE) Em maio de 2005,


Sérgio e Lúcia casaram-se pelo regime da comunhão parcial de bens. Antes de se casar, ele
já era proprietário de dois imóveis. Em 2006, Sérgio alugou seus dois imóveis e os aluguéis
auferidos, mês a mês, foram depositados em conta corrente aberta por ele, um mês depois
da celebração dos contratos de locação. Em 2010, Sérgio recebeu o prêmio máximo da

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loteria, em dinheiro, que foi imediatamente aplicado em uma conta poupança aberta por
ele naquele momento.
Em 2013, Lúcia e Sérgio se separaram. Lúcia procurou um advogado para saber se tinha
direito à partilha do prêmio que Sérgio recebeu na loteria, bem como aos valores oriundos
dos aluguéis dos imóveis adquiridos por ele antes do casamento e, mensalmente, depositados
na conta corrente de Sérgio.
Com base na hipótese narrada, assinale a afirmativa correta.
a) Ela não tem direito à partilha do prêmio e aos valores depositados na conta corrente
de Sérgio, oriundos dos aluguéis de seus imóveis, uma vez que se constituem como bens
particulares de Sérgio.
b) Ela tem direito à partilha dos valores depositados na conta corrente de Sérgio, oriundos
dos aluguéis de seus imóveis, mas não tem direito à partilha do prêmio obtido na loteria.
c) Ela tem direito à partilha do prêmio, mas não poderá pleitear a partilha dos valores
depositados na conta corrente de Sérgio, oriundos dos aluguéis de seus imóveis.
d) Ela tem direito à partilha do prêmio e dos valores depositados na conta corrente de
Sérgio, oriundos dos aluguéis dos imóveis de Sérgio, uma vez que ambos constituem-se
bens comuns do casal.

009. (FGV/2015/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XVIII/PRIMEIRA FASE) Roberto e Ana


casaram-se, em 2005, pelo regime da comunhão parcial de bens. Em 2008, Roberto ganhou
na loteria e, com os recursos auferidos, adquiriu um imóvel no Recreio dos Bandeirantes.
Em 2014, Roberto foi agraciado com uma casa em Santa Teresa, fruto da herança de sua
tia. Em 2015, Roberto e Ana se separaram.
Tendo em vista o regime de bens do casamento, assinale a afirmativa correta.
a) Os imóveis situados no Recreio dos Bandeirantes e em Santa Teresa são bens comuns e,
por isso, deverão ser partilhados em virtude da separação do casal.
b) Apenas o imóvel situado no Recreio dos Bandeirantes deve ser partilhado, sendo o imóvel
situado em Santa Teresa bem particular de Roberto.
c) Apenas o imóvel situado em Santa Teresa deve ser partilhado, sendo o imóvel situado
no Recreio dos Bandeirantes excluído da comunhão, por ter sido adquirido com o produto
de bem advindo de fato eventual.
d) Nenhum dos dois imóveis deverá ser partilhado, tendo em vista que ambos são bens
particulares de Roberto.

010. (FGV/2013/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO X/PRIMEIRA FASE) Amélia e Alberto são


casados pelo regime de comunhão parcial de bens. Alfredo, amigo de Alberto, pede que ele
seja seu fiador na compra de um imóvel.

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Diante da situação apresentada, assinale a afirmativa correta.


a) A garantia acessória poderá ser prestada exclusivamente por Alberto.
b) A outorga de Amélia se fará indispensável, independente do regime de bens.
c) A fiança, se prestada por Alberto sem o consentimento de Amélia, será anulável.
d) A anulação do aval somente poderá ser pleiteada por Amélia durante o período em que
estiver casada.

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GABARITO

1. b
2. c
3. b
4. b
5. a
6. d
7. c
8. d
9. b
10. c

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Direito Civil
Direito das Famílias – Parte I
Roberta Queiroz

GABARITO COMENTADO

001. (FGV/2023/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXXVII/PRIMEIRA FASE) Pedro e Joana


casaram-se pelo regime da comunhão parcial de bens. Na constância do casamento, Pedro
herdou ações e comprou um carro, enquanto Joana recebeu de doação um apartamento
e ganhou um prêmio de loteria.
Com base nessas informações, assinale a opção que indica, em caso de divórcio, os bens
que devem ser partilhados.
a) As ações e o apartamento.
b) O carro e o prêmio de loteria.
c) O carro e o apartamento.
d) As ações e o prêmio de loteria.

Questão abordada no encontro de hoje e faz referência a bens COMUNS.


Entram na comunhão os bens adquiridos na constância do casamento a título oneroso, ainda
que só em nome de um dos cônjuges; os bens adquiridos por fato eventual (como a loteria),
com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior, de acordo com o art. 1.660, I e II
do CC. Dessa forma, o carro entra na comunhão, vez que adquirido a título oneroso, bem
como prêmio de loteria que é fato eventual.
Letra b.

002. (FGV/2020/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXXI/PRIMEIRA FASE) Aldo e Mariane


são casados sob o regime da comunhão parcial de bens, desde setembro de 2013. Em
momento anterior ao casamento, Rubens, pai de Mariane, realizou a doação de um imóvel
à filha. Desde então, a nova proprietária acumula os valores que lhe foram pagos pelos
locatários do imóvel.
No ano corrente, alguns desentendimentos fizeram com que Mariane pretendesse se
divorciar de Aldo. Para tal finalidade, procurou um advogado, informando que a soma dos
aluguéis que lhe foram pagos desde a doação do imóvel totalizava R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais), sendo que R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) foram auferidos antes do
casamento e o restante, após. Mariane relatou, ainda, que atualmente o imóvel se encontra
vazio, sem locatários.
Sobre essa situação e diante de eventual divórcio, assinale a afirmativa correta.
a) Quanto aos aluguéis, Aldo tem direito à meação sob o total dos valores.
b) Tendo em vista que o imóvel locado por Mariane é seu bem particular, os aluguéis por
ela auferidos não se comunicam com Aldo.

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c) Aldo tem direito à meação dos valores recebidos por Mariane, durante o casamento, a
título de aluguel.
d) Aldo faz jus à meação tanto sobre a propriedade do imóvel doado a Mariane por Rubens,
quanto sobre os valores recebidos a título de aluguel desse imóvel na constância do casamento.

Questão abordada no encontro de hoje e faz referência a bens particulares e os frutos


oriundos de tais bens.

Art. 1.660. Entram na comunhão:


V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância
do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

Letra c.

003. (FGV/2019/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXX/PRIMEIRA FASE) Arnaldo, publicitário,


é casado com Silvana, advogada, sob o regime de comunhão parcial de bens. Silvana sempre
considerou diversificar sua atividade profissional e pensa em se tornar sócia de uma sociedade
empresária do ramo de tecnologia. Para realizar esse investimento, pretende vender um
apartamento adquirido antes de seu casamento com Arnaldo; este, mais conservador na
área negocial, não concorda com a venda do bem para empreender.
Sobre a situação descrita, assinale a afirmativa correta.
a) Silvana não precisa de autorização de Arnaldo para alienar o apartamento, pois destina-
se ao incremento da renda familiar.
b) A autorização de Arnaldo para alienação por Silvana é necessária, por conta do regime
da comunhão parcial de bens.
c) Silvana não precisa de autorização de Arnaldo para alienar o apartamento, pois se trata
de bem particular.
d) A autorização de Arnaldo para alienação por Silvana é necessária e decorre do casamento,
independentemente do regime de bens.

Não esqueça que estamos diante de uma questão que aborda o que um cônjuge pode fazer
em relação ao patrimônio, se precisa de autorização conjugal ou não.
No caso em tela, há necessidade de consentimento de Arnaldo, pela aplicação do artigo
1.647 do CC.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização
do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

Letra b.

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004. (FGV/2019/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXVIII/PRIMEIRA FASE) Mônica, casada


pelo regime da comunhão total de bens, descobre que seu marido, Geraldo, alienou um imóvel
pertencente ao patrimônio comum do casal, sem a devida vênia conjugal. A descoberta
agrava a crise conjugal entre ambos e acaba conduzindo ao divórcio do casal.
Tempos depois, Mônica ajuíza ação em face de seu ex-marido, objetivando a invalidação
da alienação do imóvel.
Sobre o caso narrado, assinale a afirmativa correta.
a) O juiz pode conhecer de ofício do vício decorrente do fato de Mônica não ter anuído com
a alienação do bem.
b) O fato de Mônica não ter anuído com a alienação do bem representa um vício que
convalesce com o decurso do tempo.
c) O vício decorrente da ausência de vênia conjugal não pode ser sanado pela posterior
confirmação do ato por Mônica.
d) Para que a pretensão de Mônica seja acolhida, ela deveria ter observado o prazo prescricional
de dois anos, a contar da data do divórcio.

Veja que essa questão aborda o tema da questão anterior, qual seja, alienação de bem
imóvel, mas agora após a alienação em si.
Lembre-se de que quando houver a alienação sem o consentimento ocorre a possibilidade
de anular o ato.
Não esqueça que quando for caso de anulabilidade, caso não seja esta decretada por decisão
judicial, o ato torna-se válido.
Portanto, o fato de Mônica não ter anuído com a alienação do bem representa um vício
que convalesce com o decurso do tempo, pois, contrariamente à nulidade, a anulabilidade
se convalesce com o tempo.
Letra b.

005. (FGV/2017/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXIII/PRIMEIRA FASE) Arlindo e Berta


firmam pacto antenupcial, preenchendo todos os requisitos legais, no qual estabelecem
o regime de separação absoluta de bens. No entanto, por motivo de saúde de um dos
nubentes, a celebração civil do casamento não ocorreu na data estabelecida.
Diante disso, Arlindo e Berta decidem não se casar e passam a conviver maritalmente. Após
cinco anos de união estável, Arlindo pretende dissolver a relação familiar e aplicar o pacto
antenupcial, com o objetivo de não dividir os bens adquiridos na constância dessa união.
Nessas circunstâncias, o pacto antenupcial é
a) válido e ineficaz.
b) válido e eficaz.
c) inválido e ineficaz.
d) inválido e eficaz.
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Amo essa questão e comentamos sobre ela aqui na aula.


Lembre-se de que o código civil prevê no artigo 1653 que é nulo o pacto antenupcial se
não for feito por escritura pública e ineficaz se não lhe seguir o casamento. Observe que,
neste caso, houve a celebração do pacto por escritura pública, portanto ele é válido, mas
como o casamento não aconteceu ele não produziu efeitos, entrando, portanto, na regra
da comunhão parcial de bens na união estável.
Letra a.

006. (FGV/2016/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XXI/PRIMEIRA FASE) João e Maria


casaram-se, no regime de comunhão parcial de bens, em 2004. Contudo, em 2008, João
conheceu Vânia e eles passaram a ter um relacionamento amoroso. Separando-se de fato
de Maria, João saiu da casa em que morava com Maria e foi viver com Vânia, apesar de
continuar casado com Maria.
Em 2016, João, muito feliz em seu novo relacionamento, resolve dar de presente um carro
0 km da marca X para Vânia. Considerando a narrativa apresentada, sobre o contrato de
doação celebrado entre João, doador, e Vânia, donatária, assinale a afirmativa correta.
a) É nulo, pois é hipótese de doação de cônjuge adúltero ao seu cúmplice.
b) Poderá ser anulado, desde que Maria pleiteie a anulação até dois anos depois da assinatura
do contrato.
c) É plenamente válido, porém João deverá pagar perdas e danos à Maria.
d) É plenamente válido, pois João e Maria já estavam separados de fato no momento da
doação.

Questão também maravilhosa e que tenta confundir o candidato com a redação do artigo
550 e a questão dos impedimentos para o casamento.
O artigo 550 do código civil diz que a doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser
anulada pelo outro cônjuge ou por seus herdeiros necessários, até 2 anos depois de dissolvida
a sua sociedade conjugal. Contudo, neste caso, doação é válida pois não há hipótese de
doação de cônjuge adúltero ao cúmplice visto que é possível inclusive a incidência de
união estável quando o cônjuge estiver separado de fato.
Assim se não há mais relação conjugal, não há impedimento para a doação.
Letra d.

007. (FGV/2016/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XX/PRIMEIRA FASE) Juliana é sócia de


uma sociedade empresária que produz bens que exigem alto investimento, por meio de
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financiamento significativo. Casada com Mário pelo regime da comunhão universal de bens,
desde 1998, e sem filhos, decide o casal alterar o regime de casamento para o de separação
de bens, sem prejudicar direitos de terceiros, e com a intenção de evitar a colocação do
patrimônio já adquirido em risco.
Sobre a situação narrada, assinale a afirmativa correta.
a) A alteração do regime de bens mediante escritura pública, realizada pelos cônjuges e
averbada no Registro Civil, é possível.
b) A alteração do regime de bens, tendo em vista que o casamento foi realizado antes da
vigência do Código Civil de 2002, não é possível.
c) A alteração do regime de bens mediante autorização judicial, com pedido motivado de
ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos
de terceiros, é possível.
d) Não é possível a alteração para o regime da separação de bens, tão somente para o
regime de bens legal, qual seja, o da comunhão parcial de bens.

Na aula de hoje trabalhamos demasiadamente este tema. Perceba que a cobrança está
em relação a possibilidade de alteração do regime de bens. Sabemos que de acordo com o
artigo 1639 do código civil é admissível alteração de regime de bens, mediante autorização
judicial, com pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões
invocadas e ressalvados os direitos de terceiro. Assim, a alteração do regime de bens
mediante autorização judicial com o pedido motivado é possível neste caso.

Art. 1.639, § 2º É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido
motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os
direitos de terceiros.

Letra c.

008. (FGV/2016/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XX/PRIMEIRA FASE) Em maio de 2005,


Sérgio e Lúcia casaram-se pelo regime da comunhão parcial de bens. Antes de se casar, ele
já era proprietário de dois imóveis. Em 2006, Sérgio alugou seus dois imóveis e os aluguéis
auferidos, mês a mês, foram depositados em conta corrente aberta por ele, um mês depois
da celebração dos contratos de locação. Em 2010, Sérgio recebeu o prêmio máximo da
loteria, em dinheiro, que foi imediatamente aplicado em uma conta poupança aberta por
ele naquele momento.
Em 2013, Lúcia e Sérgio se separaram. Lúcia procurou um advogado para saber se tinha
direito à partilha do prêmio que Sérgio recebeu na loteria, bem como aos valores oriundos
dos aluguéis dos imóveis adquiridos por ele antes do casamento e, mensalmente, depositados
na conta corrente de Sérgio.

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Com base na hipótese narrada, assinale a afirmativa correta.


a) Ela não tem direito à partilha do prêmio e aos valores depositados na conta corrente
de Sérgio, oriundos dos aluguéis de seus imóveis, uma vez que se constituem como bens
particulares de Sérgio.
b) Ela tem direito à partilha dos valores depositados na conta corrente de Sérgio, oriundos
dos aluguéis de seus imóveis, mas não tem direito à partilha do prêmio obtido na loteria.
c) Ela tem direito à partilha do prêmio, mas não poderá pleitear a partilha dos valores
depositados na conta corrente de Sérgio, oriundos dos aluguéis de seus imóveis.
d) Ela tem direito à partilha do prêmio e dos valores depositados na conta corrente de
Sérgio, oriundos dos aluguéis dos imóveis de Sérgio, uma vez que ambos constituem-se
bens comuns do casal.

Essa questão retrata a incidência do regime da comunhão parcial de bens e a existência


de bens particulares e bens comuns. No ano de 2005 houve o casamento pelo regime da
comunhão parcial de bens ponto entretanto o Sérgio já possuía 2 imóveis que, portanto,
são considerados bens particulares ponto no ano de 2006 houve o aluguel desses imóveis
que são bens particulares, mas vimos na aula de hoje que os frutos auferidos, no caso os
aluguéis, constituem bens comuns e devem ser partilhados. Em relação ao prêmio da loteria
também deve haver a partilha, visto se tratar de bem adquirido por fato eventual.

Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal,
na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes.
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
Art. 1.660. Entram na comunhão:
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior;
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância
do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

Letra d.

009. (FGV/2015/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO XVIII/PRIMEIRA FASE) Roberto e Ana


casaram-se, em 2005, pelo regime da comunhão parcial de bens. Em 2008, Roberto ganhou
na loteria e, com os recursos auferidos, adquiriu um imóvel no Recreio dos Bandeirantes.
Em 2014, Roberto foi agraciado com uma casa em Santa Teresa, fruto da herança de sua
tia. Em 2015, Roberto e Ana se separaram.
Tendo em vista o regime de bens do casamento, assinale a afirmativa correta.

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a) Os imóveis situados no Recreio dos Bandeirantes e em Santa Teresa são bens comuns e,
por isso, deverão ser partilhados em virtude da separação do casal.
b) Apenas o imóvel situado no Recreio dos Bandeirantes deve ser partilhado, sendo o imóvel
situado em Santa Teresa bem particular de Roberto.
c) Apenas o imóvel situado em Santa Teresa deve ser partilhado, sendo o imóvel situado
no Recreio dos Bandeirantes excluído da comunhão, por ter sido adquirido com o produto
de bem advindo de fato eventual.
d) Nenhum dos dois imóveis deverá ser partilhado, tendo em vista que ambos são bens
particulares de Roberto.

Mais uma questão abordando a partilha de bens em relação a casamento contraído sob o
regime da comunhão parcial de bens.
No caso apresentado houve o casamento no ano de 2005, Roberto ganhou na loteria no
ano de 2008 e com esses valores adquiriu um imóvel.
No ano de 2014, Roberto recebeu a herança de sua tia.
Observe que de acordo com as regras do código civil o bem recebido a título de doação ou
herança não se comunica com o cônjuge em caso de eventual divórcio. Contudo ao ganhar
na loteria adquirir o bem imóvel este deve ser incluído na comunhão, por se tratar de fato
eventual.

Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:


I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-
rogação dos bens particulares;
Art. 1.660. Entram na comunhão:
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior;

Letra b.

010. (FGV/2013/OAB/EXAME DE ORDEM UNIFICADO X/PRIMEIRA FASE) Amélia e Alberto são


casados pelo regime de comunhão parcial de bens. Alfredo, amigo de Alberto, pede que ele
seja seu fiador na compra de um imóvel.
Diante da situação apresentada, assinale a afirmativa correta.
a) A garantia acessória poderá ser prestada exclusivamente por Alberto.
b) A outorga de Amélia se fará indispensável, independente do regime de bens.
c) A fiança, se prestada por Alberto sem o consentimento de Amélia, será anulável.
d) A anulação do aval somente poderá ser pleiteada por Amélia durante o período em que
estiver casada.
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Questão que aborda os atos que os cônjuges devem praticar mediante autorização do outro,
basicamente o artigo 1647 do Código Civil.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização
do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura
meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem
economia separada.
Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos
cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la.
Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará
anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois
de terminada a sociedade conjugal.
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou
particular, autenticado.

Letra c.

Doutor, seja persistente e destemido.


O nosso jogo só termina com nossa OAB na mão!
Em frente e Enfrente!!!
Bj bj da profa.

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caminhos

crie

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