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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DE

FAMÍLIA E SUCESSÕES

MÓDULO Maio – !"!# – Direito de Família I


Coordenadora:

Professora Daniela de Carvalho Mucilo




Tutora:

Professora Karina Oliveira Adaniya

SEJAM BEM-VINDOS(AS)!

A Pós-Graduação em Direito de Família e Sucessões do Damásio tem sua


excelência direcionada a todos e todas que possuem o interesse em se
especializar e se aprimorar nas áreas Familiarista e Sucessória, com
orientação dos maiores especialistas do país, proporcionando sólidos
conhecimentos teóricos e práticos aos alunos.
Ao longo do curso, contamos com a contribuição de professores renomados,
que são responsáveis por construir a mais atualizada doutrina e jurisprudência.
Evoluímos na constante e dinâmica reflexão sobre o Direito de Família e das
Sucessões, ofertando uma visão atual e crítica sobre toda a matéria.
Neste módulo, faremos um estudo aprofundado do Direito de Família,
abordando os seguintes tópicos durante as aulas:
• Divórcio. Aspectos Pessoais e Patrimoniais. Cláusulas Regulatórias do
Divórcio. Partilha conjugal;
• Curatela. Regime das Incapacidades. Procedimento. Tomada de
Decisão Apoiada;
• Teoria Geral do Regime de Bens nocasamento e na união estável.
Efeitos na dissolução. Pacto Antenupcial e Pós Nupcial. Alteração do regime de
bens;
• União Estável. Caracterização. Contato de União Estável. Efeitos.
Famílias simultâneas;
• Guarda de filhos. Espécies (unilateral, compartilhada, alternada e nidal).
Regime de Convivência. Alienação Parental;
• Filiação. Formas de seu reconhecimento. Voluntária e compulsória.
Negatória de Paternidade. Tutelas de proteção;
• Aspectos tributários do Direito das Famílias e das Sucessões.
Tributação na Partilha. Planejamento Tributário.

Conte conosco para quaisquer dúvidas, sugestões e/ou esclarecimentos!

Vamos juntos!

Bons estudos!

SUMÁRIO

DIVÓRCIO: ASPECTOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS. CLÁUSULAS


REGULATÓRIAS DO DIVÓRCIO. PARTILHA CONJUGAL. ............................ 5

NOÇÕES GERAIS .................................................................................................................... 5


LEGISLAÇÃO ........................................................................................................................ 25

JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................. 25
LEITURA SUGERIDA .............................................................................................................. 29
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................... 30
CURATELA. REGIME DAS INCAPACIDADES. PROCEDIMENTO. TOMADA
DE DECISÃO APOIADA. .................................................................................. 32

NOÇÕES GERAIS .................................................................................................................. 32


LEGISLAÇÃO ........................................................................................................................ 52

JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................. 53
LEITURA SUGERIDA .............................................................................................................. 61

LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................... 61


TEORIA GERAL DO REGIME DE BENS NO CASAMENTO E NA UNIÃO
ESTÁVEL. EFEITOS DA DISSOLUÇÃO. PACTO ANTENUPCIAL E
PÓSNUPCIAL. ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS .................................... 63

NOÇÕES GERAIS .................................................................................................................. 63


LEGISLAÇÃO ........................................................................................................................ 76
JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................. 77

LEITURA SUGERIDA .............................................................................................................. 83


LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................... 84
UNIÃO ESTÁVEL. CARACTERIZAÇÃO. CONTRATO DE UNIÃO ESTÁVEL.
EFEITOS . FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS. ........................................................... 86

NOÇÕES GERAIS .................................................................................................................. 86


LEGISLAÇÃO ........................................................................................................................ 93

JURISPRUDÊNCIA ................................................................................................................. 93

LEITURA SUGERIDA ............................................................................................................ 102


LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................. 102
GUARDA DE FILHOS. ESPÉCIES (UNILATERAL, COMPARTILHADA,
ALTERNADA E NIDAL). REGIME DE CONVIVÊNCIA. ALIENAÇÃO
PARENTAL. GUARDA DE SERES SENCIENTES. ....................................... 104

NOÇÕES GERAIS ................................................................................................................ 104


LEGISLAÇÃO ...................................................................................................................... 118

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................... 118


LEITURA SUGERIDA ............................................................................................................ 126
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................. 126
FILIAÇÃO. FORMAS DE SEU RECONHECIMENTO. VOLUNTÁRIA E
COMPULSÓRIA. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. TUTELAS DE
PROTEÇÃO. ................................................................................................... 128

NOÇÕES GERAIS ................................................................................................................ 128


LEGISLAÇÃO ...................................................................................................................... 140
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................... 140

LEITURA SUGERIDA ............................................................................................................ 146


LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................. 146
ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES.
TRIBUTAÇÃO NA PARTILHA. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. ............... 147

NOÇÕES GERAIS ................................................................................................................ 147


LEGISLAÇÃO ...................................................................................................................... 153
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................... 153
LEITURA SUGERIDA ............................................................................................................ 157
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................. 158

DIVÓRCIO: ASPECTOS PESSOAIS E PATRIMONIAIS. CLÁUSULAS


REGULATÓRIAS DO DIVÓRCIO. PARTILHA CONJUGAL.

Introdução
Anteriormente a legislação brasileira estabelecia a obrigatoriedade do
ajuizamento de ação de separação judicial ou da lavratura antecedente de uma
escritura de separação extrajudicial, como pressuposto necessário para a
posterior concessão da dissolução do vínculo conjugal pela conversão da
separação judicial em divórcio.
A Emenda Constitucional 66/2010 veio permitir o divórcio a qualquer tempo,
sem necessidade de prévia separação de fato ou de corpos e de um tempo
mínimo de casamento, com o provimento direto do divórcio e sem prévia
postulação de uma antecedente separação judicial ou extrajudicial.
Hoje, a ação de divórcio pode ser ajuizada diretamente, e engloba não apenas
a dissolução do matrimônio mas também a discussão de outros pontos
fundamentais que rodeiam o térmnio da relação conjugal, como a guarda dos
filhos, convivência e alimentos da prole e dos cônjuges.

Definição
Segundo Rolf Madaleno:
“O divórcio enseja o término da sociedade conjugal e dissolve o casamento
válido (CC, art. 1.571, IV e §1º) e não modifica os deveres dos pais com
relação aos filhos (CC, art. 1.579), e tampouco o novo casamento de qualquer
dos pais, ou de ambos poderá importar em restrições aos direitos e deveres
(CC, art. 1579 , parágrafo único) como no tocante aos alimentos devidos pelos
pais à sua prole, não sendo causa de redução da pensão alimentícia, salvo

provenha de descendência da nova união, como não deve alterar os alimentos


ao ex-cônjuge” 1.
Rodrigo da Cunha Pereira explica que o divórcio “É uma das formas de
dissolução do casamento, assim como a morte e a anulação” 2. Nesse sentido:
“O divórcio foi introduzido no Brasil em 1977 pela emenda Constitucional nº 09
e regulamentada pela Lei nº 6.515/77 precedida de uma longa batalha política
legislativa, liderada pelo então Senador Nelson Carneiro. A Constituição da
República de 1988, art. 226, parágrafo 6º reproduziu o sistema dual de
dissolução do casamento, repetindo a velha fórmula. Apenas reduziu os prazos
para dois anos para a concessão do divórcio direto e de um ano para a
conversão da separação judicial em divórcio” 3.

Os aspectos pessoais
Mudança de nome
Após a sentença de divórcio caberá aos ex-cônjuges a escolha acerca da
retirada ou manutenção do sobrenome de casado.
De acordo com a doutrina:
“o acréscimo do sobrenome era tido como um ato simbólico da ‘fusão de almas’
decorrente do casamento. Contudo, o autor considera isso um equívoco, pois
“misturar os nomes pode significar mesclar e confundir as identidades. O nome
é um dos principais identificadores do sujeito e constitui, por isso mesmo, um
dos direitos essenciais da personalidade. Misturá-los significa não preservar a
singularidade” 4.
Para Rolf Madaleno:

1
MADALENO, Rolf. Direito de Família.11º ed.Forense, 2021.
2
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões. São Paulo,
Ed. Saraiva. 2018.
3
Ibidem.
4
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. Teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

“O uso do nome depois de divorciada é uma faculdade, e não uma obrigação,


podendo renunciar ao patronímico esponsal a qualquer tempo, mediante
demanda de alteração de cláusula de divórcio , muito embora se mostre muito
mais sensato e econômico a mulher requerer no próprio processo de divórcio a
averbação do retorno ao seu nome de solteira, valendo o mesmo para o
homem, na hipótese de ele haver acrescentado ao seu nome de solteira ,
valendo o mesmo para o homem” 5.
A Constituição Federal não estabeleceu, de forma direta, a proteção ao nome
da pessoa natural, muito embora o faça de maneira indireta, ao tutelar o direito
de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização cabível (artigo 5º, V);
bem como ao proteger a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da
honra e da imagem das pessoas (5º, X, CF).
Segundo Mário Luiz Delgado:
“O parágrafo 2º do artigo 1.571 do CC permitiu, expressamente, a manutenção
do nome de casado, pelo cônjuge divorciado, em tutela do seu direito ao nome
(direito da personalidade), seja pelo divórcio direto, seja pelo divórcio-
conversão, em inexistindo renúncia a esse direito, salvo no caso da perda
determinada por sentença judicial em face dessa última espécie de divórcio,
regulada na forma do artigo 1.578. Esse dispositivo estabeleceu a perda
condicionada do direito de uso do sobrenome pelo cônjuge declarado culpado
mediante critérios objetivamente considerados a contrario sensu, a partir do
elemento volitivo do cônjuge inocente que haveria de, expressamente, requerer
a não conservação, pelo ex-consorte, daquele direito”.6
Por essas razões, é inconstitucional (artigo 5º, X, CF) a perda ao direito do uso
do nome de casado, estabelecida pelo artigo 1.578 do CC, quaisquer que
sejam as razões.

5
MADALENO, Rolf. Direito de Família.11ª ed.Forense, 2021.
6
DELGADO, Mário Luiz. É prerrogativa do cônjuge mudar ou manter o nome de casado após o
divórcio. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-fev-04/processo-familiar-prerrogativa-
conjuge-mudar-ou-manter-nome-casado Acesso em: 28 abr. 2023.

Com a dissolução do casamento, deixaram de existir os motivos identificadores


da relação conjugal, e, pelo contrário, com a atual sistemática de decreto
objetivo do divórcio, deixando os cônjuges de viver em comunhão plena de vida
e de serem reconhecidos como uma unidade familiar, não há sentido para a
mantença do nome de casado7.
Assim sendo, temos que a utilização do nome após o divórcio é uma
faculdade, e não uma obrigação, podendo ocorrer a renúncia ao patronímico a
qualquer tempo, seja diretamente no divórcio, ou mediante posterior demanda
de alteração de cláusula de divórcio.

Cláusulas Regulatórias do Divórcio


Nos termos do artigo 731 do Código de Processo Civil, a homologação do
divórcio, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em petição
assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão:
I – as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;
II – as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III – o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas;
IV – o valor da contribuição para criar e educar os filhos.
Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta depois
de homologado o divórcio.
A contestação deve ficar restrita ao foco do divórcio e respeitante aos aspectos
complementares do casamento, como discussão sobre alimentos, guarda de
filhos e partilha de bens.
Guilherme Nogueira da Gama e Cláudia Stein comungam da opinião de que a
realização da partilha dos bens comuns e a mudança de sobrenome do
casado, não são essenciais para o divórcio, podendo ser acomodados em

7
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. Editora Forense. 5ª edição.

outro momento processual, não sendo adequado postergar a obtenção do


divórcio por questões relacionadas a divisão do patrimônio.8
Havendo necessidade e dependência alimentar, a pensão alimentícia pode ser
discutida no divórcio, exceto que já tenha sido discutida em ação alimentar
própria e específica. Assim, o juiz decretará o divórcio e igualmente regulará
as demais questões vinculadas ao casamento por ele dissolvido, fixando
alimentos quando necessário e devido e regulamentando a guarda e visitas da
prole, assim como promovendo a partilha de bens.

Os aspectos patrimoniais
Partilha de bens
Conforme ensina o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira, a partilha de bens:
“É a divisão ou repartição de bens ou patrimônio segundo a relação jurídica
que se formou, em tantas porções quanto forem os beneficiários, Até que se
concretize a partilha, ou seja, até a individualização das quotas, aplica-se ao
todo as regras inerentes ao condomínio”9.
A partilha pode se dar em decorrência da dissolução do vínculo conjugal, da
liquidação de uma sociedade, em razão da morte em um processo de
inventário ou mesmo numa partilha em vida. A partilha pode ser feita de forma
judicial ou extrajudicial, realizada em Juízo ou por escritura pública em Cartório
de Notas, desde que se consensual10.
No mesmo sentido:
“Partilha é a divisão dos bens comuns ou conjugais, por força da dissolução do
casamento. A partilha pode ser amigável ou litigiosa.Partilha amigável ou
consensual é aquela fixada pelas partes, somente cabendo ao julgador a

8
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito Civil, Família. São Paulo: Atlas, 2008, p.
299.
9
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. 7 coisas que você precisa saber sobre partilha de bens.
Disponível em: https://www.rodrigodacunha.adv.br/7-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-
partilha-de-bens/ Acesso em: 28 abr. 2023.
10
Idem.

recusa de sua homologação se não houver a preservação dos interesses de


um dos cônjuges ou de sua prole. Partilha litigiosa ou contenciosa é aquela
deliberada pelo juiz”11.
No momento do divórcio várias questões devem ser discutidas, entre elas a
divisão dos bens, a guarda dos filhos, pensão alimentícia, o sobrenome
dentre outras. Mas o ideal é que os temas sejam discutidos em ações
apartadas, devido à diversidade de partes, ao rito de processamento, às
provas diversas a serem produzidas para a resolução de cada questão, etc.
O artigo 1.581 do CC elucida que o divórcio pode ser permitido independente
da partilha do patrimônio. Havendo partilha de forma consensual, não há
necessidade de ajuizamento no judiciário, podendo realizar-se no cartório de
notas. Se o bem for indivisível, ou existindo disputa em relação à parte ou ao
todo do patrimônio, poderá ser determinada a venda judicial dos bens,
dividindo-se entre as partes12.
Segundo Ana Beatriz Saraiva Oliveira:
“Aquele que estiver na posse deve pagar ao outro um montante relativo ao
usufruto, sob pena de caracterizar enriquecimento ilícito. Contudo se o
cônjuge e os filhos estiverem recebendo alimentos, o usufruto configura
“alimentos in natura”, não existindo a obrigação de prestação” 13.
Conforme Rolf Madaleno:
“Procedida a partilha a escritura pública do divórcio consensual constituirá
título hábil para o registro imobiliário e para o registro civil, bem como para o
levantamento e transferência de valores existentes em contas-correntes, de
investimento e de poupança, depósitos a prazo e aplicações em instituições

11
LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil - Vol.5.(livro eletrônico).
12
SARAIVA, Ana Beatriz. Partilha de bens na Ação de divórcio. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/partilha-de-bens-na-acao-de-divorcio/208352286 Acesso
em: 28/04/2023.
13
Idem.

financeiras, formalização de transferência de propriedade de bens e direitos


junto a órgãos públicos” 14 .
Até a efetiva partilha dos bens estes ficarão em estado de mancomunhão. A
mancomunhão se caracteriza como a situação jurídica da propriedade dos
bens em relação ao casal. Estes os pertencem de forma igual, sem qualquer
distinção ou divisão ou preferência.
No momento da dissolução da sociedade conjugal, os bens ficam na posse de
um dos cônjuges, usufruindo de bens que possui titularidade dúplice.

Alimentos
Definição
Sobre os alimentos, o Prof. Rodrigo da Cunha Pereira ensina:
“É o pagamento periódico sem qualquer contraprestação de serviço ou trabalho
à pessoa para a sua mantença. É denominada também de alimentos e pode
ser transitória ou permanente. É uma contribuição de assistência que decorre
do vínculo de parentesco, da conjugalidade (casamento ou união estável) ou
deixada em cláusula testamentária, ato ilícito ou de uma relação contratual” 15.
Para Yussef Said Cahali:
“A pensão alimentícia compreende “as prestações devidas, feitas para que
aquele que as recebe possa subsistir, isto é, manter sua existência, realizar o
direito à vida, tanto física (sustento do corpo) como intelectual e moral (cultivo e
educação do espírito, do ser racional)” 16.
Decorre do vínculo de parentesco, da declaração de vontade ou da prática de
ato ilícito, que é devida por aquele denominado alimentante, que dispõe de

14
MADALENO, Rolf. Direito de Família.11ª Ed.Forense, 2021.
15
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões Ilustrado. São
Paulo. Ed. Saraiva. 2018.
16
CAHALI, Yussef Said Cahali – Dos Alimentos. 6ª edição – São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009. p. 16

recursos, à outra parte, denominada alimentado, que está impossibilitada de


prover-se às próprias expensas.
De acordo com a doutrina:
“a característica fundamental da obrigação alimentar está na íntima relação
entre o direito aos alimentos e o direito à vida, sendo pois justo que o grupo
social ao qual o indivíduo pertença lhe forneça subsídios para sobreviver se ele
de outra forma não puder obtê-los” 17.
No mesmo sentido, complementa a jurisprudência:
“A obrigação alimentar funda-se no princípio da dignidade humana previsto no
art. 1º, III da CF e no princípio da solidariedade, previsto no art. 3º, que se
impõem à organização da sociedade brasileira. A família como base da
sociedade, regulada no art. 226 da referida CF, faz tornar os efeitos jurídicos
da prestação alimentar fundados no direito/dever de solidariedade. A legislação
infraconstitucional estabelece os contornos para a sua prestação, destacando-
se a importância dos artigos 1.694 e o art 1.710 do CC, além do art. 22 do ECA
e os artigos 11 a 14 do Estatuto do Idoso, além da Lei de Alimentos (Lei
5.478/68)”18.

Pensão Alimentícia para os Filhos


Conforme Rolf Madaleno: “O dever alimentar tem origem distinta da obrigação
de sustento, pois se vincula ao poder familiar, ao parentesco das pessoas
menores e incapazes” 19.
Assim, a obrigação de alimentos resultante do parentesco terá como
pressuposto o estado de necessidade do alimentando e a possibilidade do

17
SANTIAGO DANTAS, Francisco Clementino de. Direito de Familia e das Sucessões, Rio de
Janeiro, Forense, 1991.
18
Página 1162 do Diário de Justiça do Distrito Federal (DJDF) de 11 de Janeiro de 2022.
Número do processo: 0707846-11.2021.8.07.0005 Classe judicial: ALIMENTOS - LEI
ESPECIAL Nº 5.478/68 (69)
19
MADALENO, Rolf. Direito de Família.11ª Ed.Forense, 2021.

alimentante de ministrá-lo, sem com isso desatender-lhe as próprias


necessidades, sendo uma obrigação recíproca e vitalícia entre os parentes20.
O conceito de alimentos abrange não somente a prestação atinente à
alimentação, mas também necessidades outras como saúde, habitação,
educação, vestuário, lazer, etc.
Acerca da prestação alimentícia convencional nos ensina Denise Damo Comel:
"(...) o dever dos pais é prestar os alimentos in natura, quer dizer, é prover em
espécie os alimentos ao filho, ao passo que a obrigação alimentar se cumpre,
de regra, mediante prestações periódicas geralmente em dinheiro” 21.
Na relação entre pais e filhos menores de dezoito anos e, portanto, ainda sob o
poder familiar, há um dever alimentar ilimitado, que vai ao extremo até de exigir
a venda de bens pessoais dos pais para assegurar por todas as formas o
constitucional direito à vida, onde todos os esforços devem ser envidados pelos
genitores para atender toda a sorte de necessidades dos filhos ainda menores
e incapazes.
A maioridade civil não impede que os filhos continuem sendo credores de
alimentos, agora não mais por vínculo do poder familiar, e da presunção
absoluta de necessidade, mas com base na relação de parentesco. O
CPC/2015 abandonou a previsão de medida cautelar de alimentos provisionais;
além disso, reconheceu que a demanda de alimentos deve observar o
regramento da lei especifica, sendo a aplicação do Código processual apenas
subsidiária.

Os alimentos provisórios estão previstos na Lei de Alimentos; pela leitura do


art. 2.º, caput, depreende-se que o rito desta lei se aplica apenas nos casos em
que há prova pré-constituída da obrigação alimentar. Os alimentos provisórios
estão previstos no art. 4.º, caput, da Lei: o juiz apenas poderá fixar alimentos

20
COMEL, Denise Damo. Do poder familiar, RT: São Paulo, 2003, p.101.
21
Ibidem.

provisórios se o autor trouxer, em seu pedido, prova pré-constituída do


parentesco ou da obrigação alimentar.

Pensão entre ex-cônjuges e ex-companheiros.


Também pela relação conjugal e pela união estável existe a obrigação
alimentar decorrente da mútua assistência preconizada pelo artigo 1.566, inciso
III, do Código Civil.
Com o fim do casamento, termina, via de regra, o dever de mútua assistência.
Ocorre que, no caso de um dos cônjuges ou dos companheiros se achar,
quando do término do relacionamento, incapaz para o trabalho e desprovido
dos recursos necessários para a sua subsistência poderá se habilitar a receber
alimentos.
Em outras palavras, ao cônjuge em situação de vulnerabilidade econômica
sobrevém o direito de receber verba alimentar suficiente à mantença de seu
padrão de vida e condição social22.
O STJ firmou o entendimento e jurisprudência no sentido de que os alimentos
aos ex-cônjuges tem caráter excepcional e transitório, por isso, devem ser
fixados apenas por prazo determinado, que seja suficiente para permitir ao
alimentando recolocar-se no mercado de trabalho e prover seu sustento pelo
próprio esforço23.

22
ZANIN, Izabelle Antunes. WATANABE, Ricardo Key. Lei assegura direitos ao cônjuge
hipossuficiente após o divórcio. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-ago-
18/opiniao-lei-assegura-direitos-parte-hipossuficiente-
divorcio#:~:text=Com%20a%20ruptura%20do%20matrim%C3%B4nio,sempre%20atuou%20co
mo%20seu%20provedor). Acesso em: 28 abr. 2023.
23
STJ. Exoneração de pensão alimentícia não depende só de prova sobre necessidade e
possibilidade. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Exoneracao-de-pensao-
alimenticia-nao-depende-so-de-prova-sobre-necessidade-e-possibilidade.aspx. Acesso em: 26
abr. 2023.

Para Mário Delgado:


“Com a evolução da obrigação alimentar entre cônjuges, ao longo dos últimos
anos no Brasil, notadamente no que tange à substituição do binômio tradicional
necessidade/possibilidade pelo trinômio contemporâneo da
necessidade/possibilidade/razoabilidade e que trouxe aos alimentos devidos
entre ex-cônjuges o conceito de excepcionalidade, que repudia a anacrônica
presunção de que aquele que recebe os alimentos possa permanecer inerte
(quando tenha capacidade laboral), deixando ao outro a perene obrigação de
sustentá-lo. Em outras palavras, não basta que o devedor tenha possibilidade
de pagar e que o credor tenha necessidade de receber os alimentos. É preciso
investigar se o pagamento de um cônjuge a outro, por longo tempo, é também
razoável” 24.
Outrossim, não mais se presume a necessidade da mulher aos alimentos.
Trata-se de uma revolução social, aportada com a emancipação da mulher na
relação conjugal entre os cônjuges com a Carta Política de 1988.
Assim, o pagamento de pensão a ex-cônjuge deve representar uma exceção,
pelo tempo mínimo necessário para que o necessitado busque os seus
próprios recursos, salvo naqueles casos em que comprovadamente o
alimentando demonstre não ter capacidade para o trabalho.
Afinal, os alimentos não podem servir como supedâneo de “aposentadoria” ao
cônjuge que se mantém omisso e que não procura, por seu próprio esforço,
obter os meios necessários à sobrevivência.
Como pressupostos da obrigação alimentar, temos que nos termos do art 1.695
do CC são devidos alimentos quando quem os pretende não tem bens

24
DELGADO, Mário Luiz. Pensão Alimentícia entre cônjuges é categoria em extinção.
Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2017-jul-26/mario-delgado-pensao-alimenticia-entre-conjuges-
extincao. Acesso em: 28 abr. 2023.

suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele,
de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem prejuízo de seu sustento.
Conforme Carlos Alberto Dabus Maluf:
“Vê-se dessa forma que está presente o binômio necessidade de um versus
possibilidade do outro, reforçando o fato de que a ideia do instituto não é a
exploração do próximo, em decorrência da falta de trabalho volitivo ou esforço
pessoal de uma das partes, mas sim a proteção da vida daquele que se
encontra impossibilitado de prover o sustento pessoal por motivo de doença,
incapacidade para o trabalho ou idade avançada. Logo, é necessário que o
alimentante disponha de recursos econômicos para fazer jus à prestação
alimentar, sem que haja prejuízo ao seu próprio sustento” 25.
Assim, quando o alimentante possuir apenas os recursos indispensáveis à
própria subsistência não há falar em prestação alimentar.

Alimentos gravídicos
Em 2008 foi editada a Lei n. 11.804 para disciplinar o direito da gestante de
receber alimentos e a forma de seu exercício.
Antes do advento da lei, já se reconhecia a possibilidade de o nascituro atuar
em juízo em prol de seus interesses; a jurisprudência há tempos vinha
admitindo, em seu favor, formas de proteção não expressamente previstas na
lei.
Para Enio Zuliani, com a lei:
“[...] a família se fortalece contra o abandono precoce e, ainda que não seja
alentador, vale a pena apostar que o futuro cidadão protegido pela nova lei,
sentindo que o Direito, ao contrário do pai biológico que resistiu ao dever de

25
MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de família. Ed. Saraiva. 2º ed.2018.

voluntariamente prestar alimentos, prestou-lhe solidariedade em fase difícil,


certamente terá razões para aprimorar sua civilidade”.26
Sob a perspectiva do jurisdicionado, a inserção legislativa pode ter caráter
educacional e estimular maior número de pedidos a título de alimentos
gravídicos em razão do ampliado conhecimento sobre a possibilidade de tal
pleito.
Obviamente as hipóteses e os requisitos para a concessão liminar de alimentos
gravídicos não foram alteradas pela superveniência do CPC/2015. Assim, é
mantida a possibilidade de concessão liminar de alimentos quando verificada a
existência de indícios de paternidade (art. 6.º, Lei n. 11.804/2008), devendo a
tutela provisória ser concedida independentemente dos requisitos exigidos no
CPC.

Guarda e Convivência Familiar


Carlos Alberto Dabus Maluf nos ensina:
“A guarda é um direito e ao mesmo tempo um dever dos genitores de terem
seus filhos sob seus cuidados e responsabilidade, zelando pela sua educação,
alimentação, moradia, e, representa ainda um elemento constitutivo do poder
familiar, exercido por ambos os genitores, para a proteção dos filhos menores
de 18 anos, na constância do casamento ou da união estável, ou ainda sob a
forma de guarda compartilhada ou por um deles, em face da dissolução da
sociedade conjugal ou da união estável” 27.
Os artigos 1.583 e seguintes do Código Civil e, em especial nos artigos 33 e
seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente estaleceram previsão sobre
a guarda. O Código Civil estabelece que não há mudança no relacionamento
entre pais e filhos em caso de divórcio (artigo 1.579 e 1.632).

26
ZULIANI, Enio Santarelli. Alimentos. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, n.
29, mar.-abr. 2009.
27
MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família. 2º ed. Saraiva.2018.

Cabe aos pais o direito de estar com os seus filhos, para cuidá-los e vigiá-los,
e, em contrapartida, têm os filhos a obrigação de viver em casa com seus
progenitores, sendo dever dos pais dirigir a formação da sua prole,
encaminhando-a para a futura vida adulta e social28.
Durante o casamento , o poder familiar e a guarda são exercidos pelos pais,
mas com ruptura do convívio entre os genitores, ou a sua inexistência, é
necessário a definição da guarda legal da criança, respeitando o melhor
interesse do menor, podendo ser compartilhada (como regra) ou unilateral
(excepcionalmente).
Conforme Paulo Lobo:
“A separação dos cônjuges ou companheiros não deve significar
automaticamente a separação de pais e filhos. O princípio do melhor interesse
da criança trouxe-a ao centro da tutela jurídica, prevalecendo os seus
interesses sobre o dos pais em conflito” 29.

No que diz respeito à guarda, importante destacar que o Supremo Tribunal de


Justiça (“STJ”) fixou o entendimento de que “a guarda compartilhada é
modalidade de guarda a ser peremptoriamente fixada pelo Poder Judiciário
sempre que os genitores se apresentarem aptos ao exercício do poder familiar
e desejarem exercer o múnus”30.
Ou seja, a guarda unilateral só pode ser aplicada excepcionalmente, caso um
dos genitores não deseje exercer a guarda ou não se mostre apte ao exercício
da guarda.
Inclusive, o STJ determinou que “Não existe qualquer óbice à fixação da
guarda compartilhada na hipótese em que os genitores residem em cidades,

28
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família, 5ª Edição, Editora Forense, 2013.
29
LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11 º ed.São Paulo. Saraiva, 2021.
30
STJ, REsp 1.877.358-SP, TERCEIRA TURMA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgamento
4/5/2021, DJe 6/5/2021.

estados ou, até mesmo, países diferentes, máxime tendo em vista que, com o
avanço tecnológico, é plenamente possível que, a distância, os pais
compartilhem a responsabilidade sobre a prole, participando ativamente das
decisões acerca da vida dos filhos”.
Prevalece, nesse sentido, o princípio do melhor interesse da criança, que tem o
direito de ser cuidado tanto pelo pai quanto pela mãe, de receber influências
tanto maternas quanto paternas, para que se desenvolva, para que sua
personalidade se forme e para que se construa como sujeito de direitos.
A guarda deve ser estabelecida de acordo com o melhor interesse da criança,
garantindo-lhe o desenvolvimento pleno e saudável dentro da convivência
familiar com ambos os genitores.

Divórcio extrajudicial
A Lei nº 11.441, de 4.01.2007, incluiu no ordenamento jurídico o divórcio
indireto e o direto extrajudicial. Com efeito, dentre outras modificações,
acrescentou ao Código de Processo Civil de 1973 o art. 1.124-A, que tratava
desta modalidade de realização do divórcio.
O CPC/2015 contempla o divórcio consensual, juntamente com a separação
consensual e a extinção consensual da união estável em seu art. 733: “O
divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união
estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos
legais, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as
disposições de que trata o art. 731”.
Embora a lei diga que não pode ser efetuado o divórcio extrajudicial com filhos
menores há essa possibilidade, desde que as ações judiciais sejam
previamente realizadas, dirimindo as questões sobre a guarda, pensão,
alimentos e convivência. Nesse sentido, encontra-se o provimento 40/2012,
Capítulo XIV, item 86.1 da Corregedoria de São Paulo, que dispõe:

“86.1. Se comprovada a resolução prévia e judicial de todas as questões


referentes aos filhos menores (guarda, visitas e alimentos), o tabelião de notas
poderá lavrar escrituras públicas de separação e divórcio consensuais.”
Para o divórcio extrajudicial, imprescindíveis a presença e a assinatura de
advogado comum ou individual das partes, cuja qualificação ficará inserida na
escritura pública.
Não se requer a interferência do juiz no ato, providenciando-se de imediato a
averbação junto ao registro civil do casamento. A respeito, reza o § 1º do art.
733 do CPC/2015: “A escritura não depende de homologação judicial e
constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento
de importância depositada em instituições financeiras”.
Segundo a doutrina:
“No tocante ao advogado, não se faz necessária a apresentação de
procuração. Não comparecendo a parte com advogado, o tabelião aconselhará
a sua procura perante a defensoria pública, ou, não havendo, a Seccional da
Ordem dos Advogados do Brasil, nos estritos termos dos arts. 8º e 9º da Res.
nº 35 do CNJ. Sobre a necessidade de advogado, é expresso o § 2º do art.
733: “O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem
assistidos por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura
constarão do ato notarial”.31
Se presente o advogado ao ato, não se exigirá a exibição do instrumento
procuratório. No entanto, se outorgada procuração com poderes específicos,
não se exige a presença dos consortes. Como em qualquer ato elaborado por
escritura pública, é admitida a representação.
Conveniente a prévia apresentação de minuta, para o exame do tabelião,
seguindo-se a lavratura do ato.

31
LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11 º ed.São Paulo. Saraiva, 2021.

Divórcio unilateral
Podemos conceituar o divórcio unilateral ou impositivo como um ato de ruptura
conjugal efetuado por uma das partes sem o consentimento da outra, no qual
o solicitante pode efetuar o pedido a qualquer momento.
Dessa forma, é possível que seja realizado o divórcio unilateral com a
manifestação de vontade de apenas um dos cônjuges em se divorciar,
diretamente perante o Ofício de Registro Civil32.
Maria Berenice Dias, ao comentar sobre o assunto, esclarece que, por se tratar
de um direito potestativo, “não é necessária a concordância do par para a sua
decretação. Basta haver o desejo de somente um dos cônjuges, que não
precisa justificar o pedido, para buscar o divórcio via ação judicial”33.
Para Flávio Tartuce, reconhecido o divórcio como um direito potestativo, “não
há como haver resistência da outra parte, que se encontra em estado de
sujeição”. A única opção do outro cônjuge é aceitar e sujeitar-se ao direito
daquele que deseja o divórcio”.34
Conforme vêm reconhecendo doutrina e jurisprudência, desde a alteração
constitucional, o divórcio passou a consubstanciar verdadeiro direito potestativo
de quaisquer dos cônjuges, passível de exercício de maneira incondicionada,
dependente, tão só, do querer íntimo dos consortes, ou de atribuição do
culpado pelo fim do relacionamento”.35
Nesse sentido, está a jurisprudência:
DIVÓRCIO – Decretação antecipada por decisão parcial de mérito,
prosseguindo-se o feito em relação à controvertida partilha de bens –
Insurgência de um dos cônjuges, sob alegação de risco de prejuízo patrimonial

32
ROMERO, Leonardo Dalto. Divórcio unilateral extrajudicial. Disponível em:
https://ibdfam.org.br/artigos/1759/Div%C3%B3rcio+unilateral+extrajudicial Acesso em: 28 abr.
2023
33
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 12. ed. Salvador: JusPodvim, 2021.
34
TARTUCE, Flávio. Direito civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. v. 5: Direito de
família.
35
REsp. 1.782.820-MG. Relatora Ministra Nancy Andrighi. DJ de 07.05.2019.

– Não acolhimento – término da sociedade conjugal incontroverso nos autos,


sendo o divórcio um direito potestativo do cônjuge – Aplicação do art. 356, I do
CPC – Possibilidade – Existência de meios próprios, que não a manutenção do
casamento, para garantir proteção patrimonial do cônjuge em relação aos bens
a serem partilhados – Decisão mantida, nos termos do art. 252 do RITJSP –
Recurso improvido36.
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE DIVÓRCIO UNILATERAL -
DECRETAÇÃO LIMINAR DO DIVÓRCIO - POSSIBILIDADE. 1. A Emenda
Constitucional n. 66/2010 alterou a redação do art. 226, § 6º, da Constituição
da Republica, tornando o divórcio um direito potestativo, de forma que basta a
manifestação de um dos cônjuges para sua efetivação, não sendo necessária
sequer a prévia partilha dos bens. 2. Frente à anuência da agravada, não é
razoável impor aos cônjuges que aguardem o deslinde da ação. 3. Recurso
provido37.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIVÓRCIO LIMINAR. DIVÓRCIO IMPOSITIVO.
TUTELA PROVISÓRIA DA EVIDÊNCIA. POSSIBILIDADE. DIREITO
POTESTATIVO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A Emenda
Constitucional 66/2010 promoveu uma mudança de paradigma no Direito de
Família, ao suprimir os requisitos temporais para dissolução do casamento e
simplificar o processo para cessação do vínculo conjugal. Ao passo que se
diminui a intervenção estatal na vida privada, privilegia-se a autonomia da
vontade e a dignidade da pessoa humana em regular sua vida amorosa e
afetiva. 2. Em que pese o legislador não ter incluído a hipótese do divórcio no
inciso IV do artigo 311 do Código de Processo Civil dentre as hipóteses de
concessão liminar, deve-se realizar uma interpretação integrativa quando

36
Agravo de Instrumento nº 2190994-53.2020.8.26.000. Relator: Álvaro Passos, 2ª Câmara de
Direito Privado. Data da publicação: 23.09.2020.
37
TJ-MG - AI: 10000205885007001 MG, Relator: Alexandre Victor de Carvalho, Data de
Julgamento: 07/12/2021, Câmaras Cíveis / 2ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
09/12/2021

desnecessário o contraditório. 3. No pedido de decretação do divórcio em sede


de tutela de evidência, a declaração de vontade de um dos cônjuges é
suficiente e a defesa contra o pedido possui apenas caráter protelatório,
autorizando-se a antecipação da tutela. 4. O deferimento liminar do divórcio
privilegia a celeridade do processo e prestigia a autonomia da vontade nas
relações intersubjetivas. 5. Recurso conhecido e provido38.
Dessa forma, tanto a nossa doutrina quanto a jurisprudência já reconhecem o
direito potestativo ao divórcio. Em uma relação em que não há mais afeto e
felicidade, é necessário que se permita o divórcio de uma forma mais célere e
menos burocrática.39

Divórcio Unilateral Extrajudicial


Considerando o movimento contemporâneo de desjudicialização, o Tribunal de
Justiça do Estado de Pernambuco, por meio de sua Corregedoria-Geral de
Justiça, editou o Provimento nº 6, de 26 de abril de 2019, de autoria do
Desembargador Jones Figueirêdo Alves, trazendo a possibilidade do divórcio
unilateral pela via extrajudicial.
Com tal provimento, os cônjuges poderiam comparecer ao Cartório de Registro
Civil para que fosse efetuado o divórcio extrajudicial.
Após a entrada em vigor do provimento pernambucano, o Corregedor Nacional
de Justiça, Ministro Humberto Martins instaurou Pedido de Providências
0003491-78.2019.2.00.0000 em desfavor da Corregedoria-Geral de Justiça do
Estado de Pernambuco, entendendo que haveria empecilhos ao mesmo.
Em sua decisão, o Corregedor Nacional entendeu que haveria dois óbices ao
provimento estadual. Primeiramente, ele apontou que não reconhece o divórcio

38
TJ-DF 07204488320208070000 - Segredo de Justiça 0720448-83.2020.8.07.0000, Relator:
EUSTÁQUIO DE CASTRO, Data de Julgamento: 08/10/2020, 8ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 23/10/2020 . Pág.: Sem Página Cadastrada.
39
ROMERO, Leonardo Dalto. Divórcio unilateral extrajudicial. Disponível em:
https://ibdfam.org.br/artigos/1759/Div%C3%B3rcio+unilateral+extrajudicial Acesso em: 28 abr.
2023

unilateral como um direito potestativo e que não haveria consenso entre os


cônjuges, mas sim um litígio, e por isso deveria ser encaminhado ao Poder
Judiciário. O outro ponto se referia à competência para legislar sobre direito
civil e direito processual civil, que é exclusiva da União, por meio de lei federal.
Logo, não poderia tal matéria ser tratada por meio de um provimento estadual,
que é um ato administrativo.40
Ademais, a decisão não observou o princípio da isonomia, pois teria sido
criada uma forma de divórcio existente apenas no estado de Pernambuco.
Diante do exposto, foi determinado à Corregedoria-Geral de Justiça do Estado
de Pernambuco que revogasse o Provimento nº 6/2019, e o próprio Conselho
Nacional de Justiça editou a Recomendação nº 36, de 30.05.201941.

Projeto de Lei nº 3.457/2019


Após a decisão do Corregedor Nacional de Justiça proibindo o divórcio
unilateral nos Ofícios da Cidadania, um grupo de juristas, formado pelos
professores Flávio Tartuce, Mário Luiz Delgado, José Fernando Simão, além
do próprio Desembargador Jones Figueirêdo Alves, resolveu propor um projeto
de lei tratando do divórcio unilateral.
O projeto visa acrescentar o art. 733-A ao Código de Processo Civil, buscando
assim afastar aqueles impedimentos apontados na decisão do Corregedor
Nacional de Justiça.42
A valorosa lição de José Fernando Simão e Mário Luiz Delgado esclarece que:
“o pedido de divórcio direto por averbação fica restrito, exclusivamente, à
dissolução do vínculo, sem possibilidade de cumulação de qualquer outra
providência. Outras questões, como alimentos, partilha de bens, medidas
protetivas etc., devem ser judicializadas e tratadas no juízo competente, porém

40
Ibidem.
41
Ibidem.
42
Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/137242.
Acesso em 28 abr. 2023.

com a situação jurídica das partes já estabilizada e reconhecida como de


pessoas divorciadas. Ou seja, a averbação do divórcio não repercute em
nenhum outro direito patrimonial ou existencial. Só evita que a pessoa se veja
compelida a postular uma providência judicial que não tem qualquer outra
função senão a de dissolver o vínculo”. 43
Assim, a questão dos alimentos, guarda dos filhos e partilha dos bens serão
discutidos em momento posterior e não influenciarão o pedido.

Constituição Federal – artigos 1º, 3º e art 5º.


Emenda Constitucional 66/2010.
Lei 6.515/1977.
Lei 11.441/2011.
Código Civil - artigos 50, 206, 1.031, 1,523, 1.566, inciso III, 1571 a 1.582,
1.591, 1.592, 1.641, 1.694 1.639 e1.694, 1.695, 1.702, 1.704 e 1.710.
Código de Processo Civil – artigos 531, 731 e 733 e 911 a 913.
Estatuto da Criança e do Adolescente – artigo 22.
Lei de Alimentos – Lei 5.478/68.

002196-40.2022.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Dissolução
Relator(a): Clara Maria Araújo Xavier

43
DELGADO, Mário Luiz. SIMÃO, José Fernando. Impedir a declaração unilateral de
divórcio é negar a natureza das coisas. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-mai-
19/processo-familiar-barrar-declaracao-unilateral-divorcio-negar-natureza-coisas Acesso em 28
abr. 2023.

Comarca: São Paulo


Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 13/04/2022
Data de publicação: 13/04/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIVÓRCIO CUMULADO COM
PEDIDO DE ALIMENTOS. insurgência contra decisão que fixou alimentos
provisórios no patamar de R$ 25.000,00, sem prejuízo da manutenção do plano
de saúde em favor da requerente, bem como determinou o bloqueio de metade
dos ativos e do valor mantido a título de previdência privada, além do bloqueio
para transferência dos veículos descritos nos autos. Cabimento em parte.
Alimentos entre ex-cônjuges que tem caráter excepcional. Ausência de prova
cabal da impossibilidade da agravada prover o próprio sustento. Não
demonstrada a necessidade do recebimento do montante indicado. Redução
dos alimentos provisórios para o patamar de 12 salários-mínimos, que são
devidos durante o curso do processo ou até que seja proferida nova decisão
judicial em sentido diverso. Bloqueio de bens. Inexistência de pedido. Decisão
"extra petita". Configuração. Decisão reformada. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.

1045296-11.2018.8.26.0224
Classe/Assunto: Apelação Cível / Dissolução
Relator(a): José Rubens Queiroz Gomes
Comarca: Guarulhos
Órgão julgador: 7ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 13/04/2022
Data de publicação: 13/04/2022
Ementa: APELAÇÃO. Ação de DIVÓRCIO c.c guarda e alimentos. Sentença
de parcial procedência. Inconformismo da parte autora. Pretensão de
majoração da obrigação ao filho menor. Obrigação alimentar para o caso de
emprego formal fixada com equilíbrio e em atenção ao binômio

necessidade/possibilidade. Elementos constantes dos autos que permitem a


majoração para o caso de desemprego ou trabalho informal. Recurso a que se
dá parcial provimento.

1008639-71.2020.8.26.0007
Classe/Assunto: Embargos de Declaração Cível / Dissolução
Relator(a): Carlos Alberto de Salles
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 13/04/2022
Data de publicação: 13/04/2022
Ementa: Divórcio. ARBITRAMENTO DE ALUGUÉIS PELO USO EXCLUSIVO
DE BEM COMUM. Insurgência em face de acórdão em apelação. ERRO
MATERIAL. Não verificação. Pretensão manifestamente infringente.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.

1008272-78.2020.8.26.0223
Classe/Assunto: Apelação Cível / Partilha
Relator(a): Rui Cascaldi
Comarca: Guarujá
Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 11/04/2022
Data de publicação: 11/04/2022
Ementa: PARTILHA DE BENS – Ação julgada procedente pelo juízo originário
– Inconformismo manifestado pela autora – Juízo originário que entendeu por
bem determinar que o débito do financiamento do imóvel fica partilhado
igualmente, cabendo a cada parte o pagamento de metade das parcelas com
vencimento em data posterior ao divórcio – Alegação recursal no sentido de
que não se pode conceber uma dívida em comum por tantos anos em uma
sociedade conjugal desfeita - Cabimento – Partilha que deve abranger apenas

os direitos derivados do contrato de compra e venda, consubstanciados nas


parcelas que foram amortizadas durante o período do casamento – Réu que se
propõe a ficar com o imóvel, ser por ele responsável e manter adimplida todas
as despesas dele advindas – Partes, contudo, que são corresponsáveis no
período entre o divórcio e a citação - Sentença reformada – Recurso
parcialmente provido.

1041786-54.2017.8.26.0602
Classe/Assunto: Embargos de Declaração Cível / Dissolução
Relator(a): Edson Luiz de Queiróz
Comarca: Sorocaba
Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 08/04/2022
Data de publicação: 08/04/2022
Ementa: Embargos de declaração em apelação cível. Ação de divórcio c.c.
partilha de bens. Sentença de parcial procedência com decreto do divórcio
do casal, retorno da autora ao uso do nome de solteira e para determinar a
partilha de bens. Irresignação de ambas as partes. Recurso da autora não
provido, com determinação, e recurso do réu parcialmente provido. Oposição
de aclaratórios sob alegação de omissão, pois não enfrentados expressamente
os precedentes do STJ e do TJSP apontados. Não ocorrência de vícios.
Configuração de pretensão de reanálise do julgado. Ausentes as hipóteses
capituladas no artigo 1.022 do CPC/2015. Prequestionamento. Não há violação
direta e frontal a dispositivos legais e constitucionais. Matéria discutida
considerada prequestionada. Embargos rejeitados.

2198328-07.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Dissolução
Relator(a): José Aparício Coelho Prado Neto
Comarca: São José do Rio Preto

Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito Privado


Data do julgamento: 24/03/2022
Data de publicação: 24/03/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO – Ação de Divórcio Litigioso - Decisão
que indeferiu a tutela antecipada para decretação do divórcio do casal -
Inconformismo do autor, alegando que o divórcio é um direito potestativo e
incondicional, ou seja, depende da vontade de uma das partes – Cabimento -
Divórcio que é direito potestativo, sendo que a partir da Emenda Constitucional
nº 66/2010, não é mais necessária a discussão acerca da culpa -Possibilidade,
portanto, da concessão da tutela pleiteada para decretação do divórcio, diante
da desnecessidade de concordância da outra parte - Recurso provido.

2293413-20.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Casamento
Relator(a): Alexandre Marcondes
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 22/02/2022
Data de publicação: 22/02/2022
Ementa: Agravo de instrumento. Ação de Divórcio c.c. partilha de bens,
regulamentação de guarda, alimentos e visitas. Decretação liminar do divórcio.
Possibilidade (E.C. nº 66/2010). Direito potestativo da parte. Agravada que
expressamente concordou com o pedido de divórcio. Decisão reformada.
Recurso provido.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 14ª ed. São Paulo:
Ed. Juspodivm, 2020.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Volume 5, 38º ed. São
Paulo, Saraiva, 2021.

GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 6: Direito de


Família, 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11º ed. São Paulo. Saraiva, 2021

MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família. Saraiva.2018.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões.


São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva. 2016.

TARTUCE, Fernanda. Processo Civil no Direito de Família. Teoria e Prática.


5º ed. Método. 2021.


MADALENO, ROLF. OBRIGAÇÃO, DEVER DE ASSISTÊNCIA E ALIMENTOS
TRANSITÓRIOS. Disponível em:
https://www.rolfmadaleno.com.br/web/artigo/obrigacao-dever-de-assistencia-e-
alimentos-transitorios. Acesso em 28 abr. 2023.

ANGELO, Tiago. Manifestação de uma parte é suficiente para a decretação


do divorcio. https://www.conjur.com.br/2021-fev-16/manifestacao-parte-
suficiente-decretacao-divorcio. Acesso em 28 abr. 2023.

DELGADO, Mário Luiz. Pensão Alimentícia entre cônjuges é categoria em


extinção. https://www.conjur.com.br/2017-jul-26/mario-delgado-pensao-
alimenticia-entre-conjuges-extincao. Acesso em 28 abr. 2023.

Pensão alimentícia para ex-cônjuge tem caráter temporário reafirma STJ.


https://www.conjur.com.br/2017-nov-24/pensao-alimenticia-ex-conjuge-carater-
temporario-reafirma-stj. Acesso em 28 abr. 2023.

TARTUCE, Flavio. Divórcio Unilateral ou Impositivo.


https://www.migalhas.com.br/coluna/familia-e-sucessoes/305087/o-divorcio-
unilateral-ou-impositivo. Acesso em 28 abr. 2023.

VILLAS BOAS, Renata Malta. O divórcio pode ser concedido sem que haja
prévia partilha de bens. http://estadodedireito.com.br/o-divorcio-pode-ser-
concedido-sem-que-haja-previa-partilha-de-bens/. Acesso em 28 abr. 2023.



CURATELA. REGIME DAS INCAPACIDADES. PROCEDIMENTO. TOMADA


DE DECISÃO APOIADA.

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência


A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo foram assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.
O Congresso Nacional aprovou o Decreto Legislativo 186, de 9 de julho de
2008, sendo que os atos internacionais entraram em vigor para o Brasil, no
plano jurídico externo, em 31 de agosto de 2008.
O propósito da Convenção é “promover, proteger e assegurar o exercício pleno
e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas
as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente”
(art. 1, primeira parte).
Em 06 de julho de 2015 foi sancionada a Lei 13.146, que instituiu a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também denominada
Estatuto da Pessoa com Deficiência, tendo como base a Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência é destinada “a
assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e
das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua
inclusão social e cidadania” (art. 1º).

O Estatuto da Pessoa com Deficiência


A Lei nº 13.146/2015 seguiu as diretrizes elencadas no art. 3º da Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, as quais se sustentam nos
seguintes princípios: o respeito pela dignidade inerente, pela independência da
pessoa, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e autonomia
individual; a não discriminação; a plena e efetiva participação e inclusão na

sociedade; o respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com


deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade; a igualdade
de oportunidades; a acessibilidade; a igualdade entre o homem e a mulher e o
respeito pelas capacidades em desenvolvimento de crianças com deficiência e
respeito pelo seu direito de preservar sua identidade.
Neste tema Rosa e Nelson Nery ensinam:
“Embora a lei preconize a proibição de a pessoa com deficiência ser submetida
a tratamento ou institucionalização forçada, se estiver sob curatela poderá ter
seu consentimento suprido (EPD art. 11), após, entretanto, lhe ter sido
assegurada sua participação, no maior grau possível, para a obtenção de seu
consentimento. A lei instiga a todos o cumprimento de deveres para com os
deficientes, especificando atos e atividades relacionadas com o tratamento de
deficientes, como, por exemplo, exorta a família, médicos e serviços públicos e
privados a empregar cuidado extra para a obtenção de eventual autorização
para a submissão do deficiente a pesquisa científica, mormente se em situação
de tutela ou curatela (EPD art, 12 e § 2.º), ressalvadas evidentemente as
hipóteses de estado de necessidade (risco de morte e emergência de saúde),
quando então o tratamento pode ser ministrado, sem o consentimento do
paciente, em estado emergencial, mas, então, segundo protocolos médicos. A
lei fala no “direito ao exercício da capacidade legal em igualdade de condições
com as demais pessoas” (EPD art. 84), dispondo especificamente sobre a
pessoa submetida à curatela, ressalvando que tal situação não implica
exposição pública da situação pessoal do curatelado (EPD art.86).44
A referida lei consolidou as premissas trazidas pela Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – CDPC,
representando notável avanço para a proteção da dignidade da pessoa
portadora de ausência ou disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou

44
NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Leis Civis e Processuais Civis
Comentadas. 4ª ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2015.

anatômica. As inovações buscam e retratam a evolução pela inclusão social


e ao direito à cidadania plena e afetiva45.
Segundo Cristiano Chaves de Farias:
“Para atingir os fins a que se propõe, nos termos de seu art. 1º, a nova Lei
brasileira tem como principais missões assegurar e promover, “em condições
de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por
pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”. 46
Rodrigo da Cunha Pereira ao comentá-la, assevera que ela representa a
“consolidação e reconhecimento do valor e princípio da dignidade da pessoa
humana” e que ao alterar e revogar diferentes artigos do Código Civil relativos
à capacidade da pessoa traduziu “em seu texto toda a evolução e noção de
inclusão social” 47.
A fim de possibilitar a inclusão da pessoa com deficiência, considerada como
aquela “que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas” (art. 2º, caput, da Lei nº 13.146/2015), foi
necessária, por um lado, a revisão do conceito de deficiência.
No que diz respeito à avaliação biopsicossocial, determinada pela nova lei,
Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista
Pinto comentam:
“É aquela que considera aspectos sociais que circundam o deficiente, além, por
óbvio, de dados médicos capazes de demonstrar sua incapacidade. Na
avaliação psicossocial há, portanto, a junção desses dois aspectos na

45
MIGALHAS. Análise objetiva das principais alterações advindas do Estatuto da Pessoa
com Deficiência (lei 13.146/15). Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/275942/analise-objetiva-das-principais-alteracoes-
advindas-do-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia--lei-13-146-15. Acesso em: 28 abr. 2023.
46
FARIAS, Cristiano Chaves de; CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Estatuto
da Pessoa com Deficiência: comentado artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2018. p. 25.
47
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2ª ed. Forense, 2020.

abordagem do deficiente, superando-se nessa linha de raciocínio, o simples


modelo biológico, para se considerar, em acréscimo, fatores sociais outros
como nível de escolaridade, profissão, composição familiar, etc” .48
Um dos temas profundamente alterados pela Lei n. 13.146/2015 é o referente
à capacidade civil. Houve, aí, uma verdadeira revolução. Deu-se nova
redação aos arts. 3º e 4º do Código Civil, que tratam, respectivamente, dos
absolutamente e dos relativamente incapazes.49
Conforme Zeno Veloso:
“A Lei n. 13.146/2015 veio quebrar um antiquíssimo entendimento: o que
relacionava e vinculava deficiência mental com incapacidade jurídica. A partir
dessa lei, a pessoa com deficiência - seja física, mental, intelectual ou
sensorial - tem de ser considerada plenamente capaz, não pode sofrer
qualquer restrição, preconceito ou discriminação por isso. A não ser que não
possa exprimir a sua vontade, e, então, é enquadrada não mais como
absolutamente incapaz, mas como relativamente incapaz, sendo-lhe
nomeado um curador num processo judicial, e esta medida é considerada
excepcional. Note-se: a incapacidade relativa não decorre, inexoravelmente,
da deficiência, em si e por si só, mas pela circunstância de o portador de
deficiência estar impossibilitado de manifestar a sua vontade. Mais: o ato
praticado pelo curatelado sem a assistência do curador não é nulo, mas
anulável (CC, art. 171, I)”50.
As pessoas antes sujeitas à interdição em razão de enfermidade ou
deficiência passam, por força da nova lei, a serem consideradas plenamente
capazes. Essa garantia reconhece uma presunção geral de plena capacidade
a favor das pessoas com deficiência, o que somente por meio de relevante

48
FARIAS, Cristiano Chaves de; CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Estatuto
da Pessoa com Deficiência: comentado artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2018.
49
VELOSO, Zeno. Estatuto da pessoa com deficiência: Uma nota crítica. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-uma-nota-
critica/338456458 . Acesso em: 28 abr. 2023.
50
Ibidem.

inversão probatória sucederia à incapacidade, excepcional e amplamente


justificada. Inexistindo para estes, ressaltasse a incapacidade absoluta51.
Nesse passo, o Estatuto inova no Instituto da Curatela, que reconhece o
direito da pessoa com deficiência ao exercício de sua capacidade legal em
igualdade de condições com as demais pessoas, passando a ter o caráter de
medida excepcional, extraordinária, devendo ser adotada somente quando e
na medida em que for necessária52.
O deficiente, o enfermo ou o excepcional, sendo pessoa plenamente capaz,
poderá celebrar negócios jurídicos sem qualquer restrição, pois não mais se
aplicam as invalidades previstas nos artigos 166, I e 171, I do Código Civil.
Tomando-se por base tais alterações, não há mais que se falar em
impedimentos para os deficientes em constituir união estável ou celebrar
casamento, permitindo a expectativa de inclusão social, uma vez que a
incapacidade antes prevista, não mais possui aplicabilidade.
A partir da edição da lei 13.146/15, somente os menores impúberes é que
estariam contemplados com a regra protetiva do art. 198, I, do aludido
Código, já que os demais deixaram de compor o rol de seu art. 3º.
O Prof. Paulo Lôbo, sustenta que, a partir da entrada em vigor do
Estatuto,"não há que se falar mais de 'interdição', que, em nosso direito,
sempre teve por finalidade vedar o exercício, pela pessoa com deficiência
mental ou intelectual, de todos os atos da vida civil, impondo-se a mediação
de seu curador. Cuidar-se-á, apenas, de curatela específica, para
determinados atos" 53.
Na medida em que o Estatuto é expresso ao afirmar que a curatela é
extraordinária e restrita a atos de conteúdo patrimonial ou econômico,

51
MIGALHAS. Análise objetiva das principais alterações advindas do Estatuto da Pessoa
com Deficiência (lei 13.146/15). Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/275942/analise-objetiva-das-principais-alteracoes-
advindas-do-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia--lei-13-146-15. Acesso em: 28 abr. 2023.
52
Idem.
53
LÔBO. Paulo. Direito Civil, Famílias. 7º ed, Saraiva, 2017.

desaparece a figura da "interdição completa" e do" curador todo-poderoso e


com poderes indefinidos, gerais e ilimitados"54.
Mas, por óbvio, o procedimento de interdição (ou de curatela) continuará
existindo, ainda que em uma nova perspectiva, limitada aos atos de conteúdo
econômico ou patrimonial, conforme o entendimento do Prof Rodrigo da
Cunha Pereira55.

Da igualdade e da não discriminação


Consoante menciona o Estatuto: “Toda pessoa com deficiência tem direito à
igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma
espécie de discriminação” (art. 4º).
Conforme Cristiano Chaves de Farias:
“Com efeito, considera-se discriminação em razão da deficiência “toda forma
de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito
ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício
dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência,
incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias
assistivas” (art. 4º, § 1º).56
Insere-se como discriminação a recusa de adaptações razoáveis e de
fornecimento de tecnologias assistivas.
O Estatuto relaciona que a pessoa com deficiência não está obrigada à fruição
de benefícios decorrentes de ação afirmativa (art. 4º, § 2º).
Cristiano Chaves de Farias pondera:

54
GAGLIANO, Pablo Stolze. É o fim da interdição? Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/e-o-fim-da-interdicao-artigo-de-pablo-stolze-
gagliano/304255875 Acesso em: 28 abr. 2023.
55
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2ª ed. Forense, 2020.
56
FARIAS, Cristiano Chaves de; CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Estatuto
da Pessoa com Deficiência: comentado artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2018.

“O Estatuto contempla ainda que “a pessoa com deficiência será protegida de


toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura,
crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante” (art. 5º),
considerando os especialmente vulneráveis: a criança, o adolescente, a
mulher, o idoso e a pessoa com deficiência (art. 5º, parágrafo único). Ademais,
“é dever de todos comunicar à autoridade competente qualquer forma de
ameaça ou de violação aos direitos da pessoa com deficiência” (art. 7º); e “se,
no exercício de suas funções, os juízes e os tribunais tiverem conhecimento de
fatos que caracterizem as violações previstas nesta Lei, devem remeter peças
ao Ministério Público para as providências cabíveis” (art. 7º, parágrafo
único)”.57
O Professor Cristiano ainda nos ensina:
“Ao deixar de ser confundida com atributos pessoais, abandona-se a
naturalização” da deficiência, que passa a ser reconhecida enquanto opressão
social, na medida em que se compreende que a inacessibilidade aos direitos
fundamentais, na verdade, resulta dos obstáculos físicos, atitudinais, linguís-
ticos, culturais, econômicos etc., erigidos pela própria sociedade”.58
Assim, finalmente a pessoa com deficiência passou a ser visualizada enquanto
sujeito de direitos. Afastadas as barreiras sociais existentes no meio, o
indivíduo se torna capaz de levar uma vida independente.
A resposta adequada à exclusão social, econômica e cultural da pessoa com
deficiência deixa de ser a implementação das medidas de caridade e passa
pela sua proteção como uma questão de direitos humanos.

Capacidade civil
O art. 6o, caput, da Lei n. 13.146/2015 institui que “a deficiência não afeta a
plena capacidade civil da pessoa”, enquanto o art. 84, caput, da mesma lei,

57
Ibidem.
58
Ibidem.

estabelece que “a pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao


exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais
pessoas”.

O argumento que as pessoas com deficiência não teriam autonomia necessária


para decidirem a respeito de si mesmas, condizente com o ultrapassado
modelo médico, revela-se geralmente falacioso quando submetido a uma
análise criteriosa.
Para Flávia Piva de Almeida Leite:
“Ao considerar autonomia a possibilidade de decidir por si mesmo, de tomar as
próprias decisões, é forçoso concluir que a pessoa com deficiência ostenta
essa qualidade. É necessário não confundir a possibilidade de fazer escolhas
com a aptidão para, pessoalmente e sem auxílio, colocar em prática certos atos
ou executar determinadas ações”.59
Nesse sentido, o Estatuto estabelece que, em regra geral, toda pessoa com
deficiência tem capacidade para exercer os seus direitos. Vale observar que a
lei não faz distinção quanto ao tipo de deficiência, de modo que estão incluídas
nesse preceito as pessoas com deficiência mental e intelectual.
Para Augustina Palacios:
“Significa dizer que não cabem eventuais restrições à capacidade civil com
base em critério médico, ou seja, a existência de um diagnóstico não é
fundamento bastante para justificar restrições ao exercício de direitos, uma vez
que tal diagnóstico não significa necessariamente risco de produzir danos em si
mesmo ou ao patrimônio”.60

59
LEITE, Flávia Piva de Almeida Coord. Comentários ao Estatuto da Pessoa com
Deficiência – Lei n. 13.146/2015 / 2. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019.
60
Cf. PALACIOS, Agustina; KRAUT, Alfredo Jorge. Artículos 31 a 50. In: LORENZO, Miguel
Federico de; LORENZETTI, Pablo (Coords.). Código Civil y Comercial de la Nación
comentado. Buenos Aires: Rubinzal – Culzoni Editores, 2014, p. 126-128

Além disso, de forma expressa, a Convenção da ONU determinou no art. 12


que “os Estados-Partes reconhecerão que as pessoas com deficiência gozam
de capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas em
todos os aspectos da vida”, ou seja, fixou presunção geral de capacidade de
exercício em favor de todas as pessoas com deficiência.
Conforme Flávia Piva de Almeida Leite:
“Assim, a plena capacidade de exercício dos atos e negócios jurídicos passa a
ser o novo paradigma acerca da autonomia moral da pessoa com deficiência.
Por esse motivo, as situações descritas nos incisos do do art. 6º da Lei n.
13.146/2015 têm caráter meramente enunciativo, uma vez que as hipóteses
em que ela poderá agir pessoalmente e sem a necessidade de representação
atualmente são a regra, e não a exceção”61.

Da Curatela
De acordo com a doutrina, o instituto da curatela destina-se a suprir a
incapacidade das pessoas para a prática de atos da vida civil, protegendo os
incapazes maiores ou emancipados, que são representados por um curador.
Assim, a curatela é um encargo conferido a alguém, para ter sob a sua
responsabilidade uma pessoa maior de idade, que não pode reger sua vida
sozinha e, em especial, administrar os seus bens62.
Sendo assim, com o advento da Lei n. 13.146/2015 a curatela passou a ser
"medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às
circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível", restringindo-se
aos "atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial" (art. 84,
§ 3º e art. 85, caput).

61
LEITE, Flávia Piva de Almeida Coord. Comentários ao Estatuto da Pessoa com
Deficiência – Lei n. 13.146/2015 / 2. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019.
62
MADALENO, Rolf. Direito de família. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 1793.

Definição
Para Rodrigo da Cunha Pereira:
“ Do Direito Romano curare, cuidar, olhar, velar. É um dos institutos de
proteção aos incapazes , compondo uma trilogia assistencial, ao lado da tutela
e do poder familiar, guarda. É o encargo conferido judicialmente a alguém para
que zele pelos interesses de outrem, que não pode administrar seus bens e
direitos em razão de sua incapacidade ou uma insanidade permanente ou
temporária, que inviabiliza o discernimento, entendimento e compromete o
elemento volitivo do sujeito”63.
O sujeito passivo é indivíduo maior de 18 (dezoito) anos, incapaz para os atos
da vida civil, elencados no rol do art. 1.767, do CC, ou seja, aqueles que, por
causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade, os ébrios
habituais, os viciados em tóxicos e os pródigos.
Para Rolf Madaleno:
“São características da curatela: caráter publicista, ou seja, o Estado dever
zelar pelos interesses dos incapazes; é medida assistencial; objetiva suprir a
capacidade do curatelado, ou melhor, quando a incapacidade não pode ser
suprida pelos pais ou pela tutela; não é definitiva, mas sim temporária, uma vez
que só pode perdurar enquanto houver a necessidade; certeza da
incapacidade, quer dizer, somente pode ser decretada por meio de
procedimento judicial”64.
Podem ser curadores as pessoas que tenham relação direta com o curatelado,
tal como seus pais, irmãos, cônjuge e filhos. Na ausência deles, o Ministério
Público poderá suprir a ausência65.

63
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Família e Sucessões Ilustrado.2º ed, Ed.
Saraiva 2017.
64
MADALENO, Rolf. Direito de família. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.
65
Diferença entre Curatela e Tutela. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/noticias/diferenca-entre-curatela-e-tutela/830113094 Acesso em:
28 abr. 2023.

Os sujeitos ativos da curatela são denominados, por sua vez, curadores.


Nesse sentido, o legislador dispôs sobre a ordem preferencial de escolha do
curador em seu art. 1.775, do CC, no entanto o rol, como na tutela, não é
vinculativo, porquanto deve-se verificar o melhor para o curatelado.
A curatela da pessoa com incapacidade para os atos da vida civil passou a se
restringir aos atos negociais e patrimoniais.
A curatela, em sua atual configuração jurídica, visa prestar assistência ao
incapaz, zelar por suas rendas e seus bens e tomar as decisões de seu
interesse, devendo prestar contas, em juízo, dos rendimentos, despesas e
bens do interditado66.
Ademais, como com refere Maria Berenice Dias,
“o atual escopo da curatela é ser uma medida protetiva extraordinária,
proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, com a menor
duração possível (EPD, art. 84, § 3º), restringindo-se aos aspectos de natureza
negocial e patrimonial. Assim, a curatela não mais atinge os direitos pessoais,
ou seja, não mais impede o casamento nem o exercício do poder familiar, e
assegura à pessoa com deficiência o direito de trabalhar, de votar, de ser
testemunha e de obter documentos oficiais que sejam do seu interesse”.67

O juiz concederá a curatela e indicará os atos para os quais a mesma será


necessária. Assim, nos termos do artigo 755, I do Código de Processo Civil, o
juiz nomeará curador e fixará expressamente os limites da curatela.
Cabe ao curador, independentemente de autorização judicial, representar o
curatelado nos atos da vida civil, receber as rendas e pensões, fazer-lhe as
despesas de subsistência, bem como as de administração, conservação e
melhoramentos de seus bens.

66
MADALENO, Rolf. Manual de Direito de Família. Forense: 2017, p. 524.
67
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 14ª ed. Juspodivum, 2020.

Nos termos do art 1.774 do CC aplicam-se à curatela as disposições


concernentes à tutela.
Segundo Rolf Madaleno:
“Assim, os curadores não podem conservar em seu poder dinheiro dos
curatelados além do necessário para as despesas ordinárias com seu sustento
e administração de seus bens (artigo 1.753 do CC), devendo eventuais valores
decorrentes de objetos e móveis serem convertidos em títulos ou obrigações e
recolhidos ao estabelecimento bancário oficial ou aplicado na aquisição de
imóveis, conforme for determinado. O mesmo destino deverá ter o dinheiro
proveniente de qualquer outra procedência (parágrafo 2º do referido
artigo 1.753)”.68
Isso significa que o curador não terá a livre movimentação de contas bancárias
e ativos financeiros do curatelado, tendo acesso somente às rendas existentes,
provenientes de benefícios previdenciários ou salários, que deverão ser
utilizados para as despesas ordinárias. Em havendo sobras, estas deverão ser
depositadas em conta bancária. Esse é o entendimento que se faz da análise
sistemática dos artigos 1.747 e 1.753 do Código Civil, c.c. artigos 1.774 e 1781
do mesmo código69.
Conforme Maria Berenice Dias:
“Por último, o curador deverá apresentar balanços anuais e prestar contas a
cada dois. Esta obrigação tem previsão legal (artigos 1.755, 1.756 e 1.757, c.c.
artigo 1.774, todos do Código Civil e artigo 84, parágrafo 4º, da Lei 13.146/15),
sendo inerente ao próprio exercício da administração de coisas alheias, não
podendo ser dispensada sob o fundamento de idoneidade dos curadores,

68
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.
69
OLIVEIRA, Rogerio Alvarez de. O exercício da curatela e os deveres e obrigações do
curador. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-jan-07/mp-debate-exercicio-curatela-
deveres-obrigacoes-curador Acesso em: 28 abr. 2023.

principalmente em razão da existência de bens, com patrimônio cuja gestão


deve ser fiscalizada em benefício do incapaz”.70
Os valores que existirem em banco oficial, ou seja, depositados em conta
judicial, somente poderão ser levantados por ordem judicial para as despesas
com o sustento do incapaz, desde que devidamente comprovadas, ou para
administração de seus bens, dentre outros, nos termos do artigo 1.754 do CC71.

Curatela Especial
O Código Civil de 2002, inovou ao trazer o que chamamos de curatela
especial, tendo como sujeito passivo: primeiramente, o nascituro até o
nascimento na hipótese do pai ser falecido e a mãe não deter o poder
familiar, se não houver poder familiar com o nascimento passará a ser
tutelado, pelo art. 1.779 do CC72.
Além da curatela do nascituro, prevê o CC (arts 22 à 25) nomeação de
curador ao ausente que desapareceu de seu domicílio sem deixar notícia ou
representante para administrar os seus bens, até o ausente retornar ou a
seus herdeiros. Esta curadoria objetiva a administração dos bens do ausente.

Autocuratela e curatela mandato


Sobre a autocuratela e curatela mandato Maria Berenice Dias ensina:
“É admissível a eleição antecipada do curador, pelo próprio curatelado,
enquanto plenamente capaz. É o que se chama de autocuratela. Possível,
inclusive, a curatela compartilhada, quando a pessoa com deficiência pode

70
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 14ª ed. Juspodivum, 2020.
71
OLIVEIRA, Rogerio Alvarez de. O exercício da curatela e os deveres e obrigações do
curador. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-jan-07/mp-debate-exercicio-curatela-
deveres-obrigacoes-curador Acesso em: 28 abr. 2023.
72
BÔAS, Camila Nunes Villas. Tutela e Curatela. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/tutela-e-
curatela/535334021#:~:text=O%20C%C3%B3digo%20Civil%20de%202002,houver%20poder%
20familiar%20com%20o Acesso em: 28 abr. 2023.

escolher mais de uma pessoa como curador. Também o juiz pode nomear mais
de um curador. É uma forma de suavizar o árduo trabalho com o exercício da
curatela e dividir responsabilidades. A tomada de decisão apoiada pode ser
determinada judicialmente, para a prática de determinado negócio jurídico, o
que não se pode chamar de curatela” 73.
O mandato cessa com a curatela ou do mandante ou do mandatário (CC 682
II). No entanto, apesar do silêncio legal, vem sendo sustentada a possibilidade
da outorga de mandato permanente ou procuração preventiva, que recebe o
nome de autotutela: uma pessoa capaz firma uma declaração de vontade para
quem, diante de uma situação de incapacidade, previsível ou não, organize sua
futura curatela.
A autocuratela permite que a pessoa designe quem gostaria que a protegesse
e cuidasse.
Segundo Thaís Câmara Maia Fernandes Coelho:
“A autocuratela é o instrumento que possibilita uma pessoa capaz, mediante
um documento apropriado, deixar de forma preestabelecida questões
patrimoniais e existenciais de forma personalizada, para serem implementadas
em uma eventual incapacidade como, por exemplo, um coma. Segundo ela, a
autocuratela é uma forma de evitar conflitos, pois impediria as discussões
judiciais entre familiares sobre quem seria o melhor curador para aquele
incapaz” 74.
Já para Nelson Rosenvald:
“o raio da autocuratela como negócio jurídico atípico, amplia o seu perímetro
em dois pontos: primeiro, as diretivas antecipadas são apropriadas para a
manifestação de orientações futuras quanto aos cuidados quanto à saúde do

73
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 14ª ed. Juspodivum, 2020.
74
COELHO, Thaís Câmara Maia Fernandes. Autocuratela evita discussões entre familiares.
Disponível em:
http://ibdfam.org.br/noticias/6078/Autocuratela+evita+discuss%C3%B5es+judiciais+entre+famili
ares. Acesso em 28 abr. 2023.

paciente, porém, pode não ser interpretado como o espaço adequado para que
alguém exteriorize as suas preocupações quanto a questões afetivas e
existenciais, que envolvam a sua intimidade ou o espaço familiar de
privacidade; segundo, a autocuratela na versão mais ampla da CDPD permite a
pessoa não apenas a programação futura de sua esfera existencial, como
também lhe faculta a organização e administração de sua dimensão
patrimonial, mesmo que esse enfoque econômico seja acessório, no sentido de
que a escolha de um curador que eficazmente zele pela manutenção de um
certo padrão de vida será a garantia de que o curatelado preservará o seu
padrão financeiro e, consequentemente, terá acesso a um tratamento
condigno. Evidentemente, ao tempo que as condições psíquicas da pessoa
demonstrem a necessidade da curatela, o projeto pessoal será submetido a um
controle de legitimidade em dois níveis: primeiro, abstratamente será aferido se
o conteúdo do ato de autodeterminação não ofende o ordenamento jurídico;
segundo, concretamente será avaliado se as condições de saúde da pessoa
demandam uma correção qualitativa ou quantitativa dos limites por ela
previamente apresentados à atuação do curador” 75.
Esta possibilidade pode beneficiar pessoas idosas, que não disponham de
condições físicas, senão com muito sacrifício, de se locomover, a fim de gerir
os seus bens. A vantagem em relação à procuração consiste no fato de esta
perder sua eficácia caso o outorgante incida em alguma das causas de
curatela.

75
ROSENVALD, Nelson. Os confins da autocuratela. Disponível em:
https://www.nelsonrosenvald.info/single-post/2017/05/16/Os-confins-da-autocuratela. Acesso
em 28 abr. 2023.

Curatela e Interdição
Estabelecendo relação com a curatela apontamos que esta ocorre após a
interdição, que é o processo judicial, onde se visa apurar a incapacidade de
uma pessoa.
Contudo, vale ressaltar que muitos advogados e operadores do Direito tem
substituído o termo “ação de interdição” por “ação de curatela”, o que melhor se
coaduna com a Lei 13.146/2015.
Assim, após a declaração de interdição/curatela, a pessoa será submetida à
curatela, lhe sendo nomeado um curador.
No documento de curatela está descrito o nome do curado e os atos que
poderá realizar pelo interditado.
O procedimento para se decretar ou declarar a interdição está disciplinado a
partir do art. 747 e vai até o art. 756 do Código de Processo Civil de 2015, com
a aplicação de vários dispositivos para a curatela, que se estendem do art. 759
ao art. 763, § 2º, do mesmo diploma.
Arnaldo Rizzardo nos ensina:
“Relativamente à petição inicial, encerra o art. 749: “Incumbe ao autor, na
petição inicial, especificar os fatos que demonstram a incapacidade do
interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da
vida civil, bem como o momento em que a incapacidade se revelou.” Havendo
urgência, o parágrafo único aponta para a possibilidade da curatela provisória:
“Justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando
para a prática de determinados atos”.76
Continua Arnaldo Rizzardo:
“É de capital importância instruir a inicial com alguma prova da incapacidade,
como atestado médico, ou laudo circunstanciado, com a descrição minuciosa
do estado clínico e a conclusão sobre o tipo de doença mental. Se induvidosa

76
RIZZARDO, Arnaldo. Direitos de Família , 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.

esta prova, e mais a inspeção judicial do juiz, é possível dispensar a perícia,


pois seria uma redundância a confecção de novo laudo. Sobre essa prova
inicial, há exigência do art. 750 da lei processual de 2015: “O requerente
deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas alegações ou informar a
impossibilidade de fazê-lo”. Se não conseguida a prova, por dificuldades como
econômicas, comunica-se o fato ao juiz, viabilizando a obtenção através de
recursos do Poder Público. Cabe a anexação, também, de documentos
pessoais do interditando e da pessoa que promove a curatela, como os
concernentes à filiação, à identidade, ao cadastro na Receita Federal, à
residência e domicílio, e outros pertinentes à idoneidade e ao patrimônio”.77
O juiz designará audiência, quando entrevistará o interditando, conforme o art.
751: “O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o
juiz, que o inquirirá minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens,
vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe
parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para praticar
atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas”.
Conforme a doutrina:
“Reputa-se de grande importância a audiência de entrevista. Será este o
momento em que o juiz aferirá, de perto, o estado e as condições do
interditando. Explicava Eduardo Sócrates Castanheira Sarmento a técnica que
deveria empregar o juiz: “As perguntas e respostas são reduzidas a auto que
passará a ser peça indispensável do processo. Além das perguntas
formalmente exigidas, recomenda-se que as indagações não sejam genéricas
nem desconexas, devendo obedecer ao plano de desenvolvimento lógico,
contido nos fundamentos de pedido vestibular”.78
Uma boa entrevista deve registrar as observações relativas à atitude do
interrogando, seus gestos e expressões, suas reações, seu relacionamento

77
Ibidem.
78
Ibidem.

com os parentes, sua afetividade, sobre seu patrimônio, para que se possa
aferir, efetivamente, se é capaz de se governar.
O juiz deve formar uma ideia da realidade do interditando, lançando-a a termo
nos autos. Cabe-lhe também examinar fisionomicamente a pessoa que está à
sua frente, descrevendo o aspecto externo, as reações, a postura e outras
circunstâncias dignas de nota.

Tomada de Decisão Apoiada


A tomada de decisão apoiada é um procedimento judicial, de iniciativa da
própria pessoa com deficiência, que dele se valerá quando pretender a
obtenção de auxílio de terceiros para realizar certos atos de sua vida.
Comentando a matéria, refere Nelson Rosenvald que
“na tomada de decisão apoiada, o beneficiário conservará a capacidade de
fato, não sofrendo restrição alguma acerca de sua plena capacidade. Ele
será apenas privado de legitimidade para praticar episódicos atos da vida
civil. Prossegue o autor: “assim, esse modelo poderá beneficiar pessoas
deficientes com capacidade psíquica plena, porém com impossibilidade física
ou sensorial”, sendo este instituto responsável pela eliminação da função
antes exercida pelo artigo 1.780 do Código Civil, que restou totalmente
revogado”.79
Pelo artigo 1.783-A do Código Civil, para formular pedido de tomada de
decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem
apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os
compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o
respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem
apoiar (§ 1º).

79
ROSENVALD, Nelson. A tomada de decisão apoiada. Primeiras linhas sobre o novo
modelo jurídico promocional da pessoa com deficiência. Famílias nossas de cada dia.
Anais do Congresso Brasileiro de Direito de Família. Belo Horizonte: IBDFAM, 2016. p. 506.

O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser


apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio
previsto no caput do artigo 1.783-A (§ 2º).
Para Rolf Madaleno:
“Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o
juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após a oitiva do Ministério Público,
ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. A
decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros,
sem restrições, desde que esteja inserido nos limites do apoio acordado (§
4º)”.80
Terceiro com que a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar
que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por
escrito, sua função em relação ao apoiado (§ 5º).
Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não
adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer
pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz (§ 7º).

Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a


pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação do
apoio (§ 8º).
A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo
firmado em processo de tomada de decisão apoiada.
Conforme a doutrina:
“Neste novo sistema da tomada de decisão apoiada, por iniciativa da pessoa
com deficiência são nomeadas pelo menos duas pessoas idôneas "com as
quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio
na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e

80
MADALENO, Rolf. Direito de família. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022

informações necessários para que possa exercer sua capacidade." Note-se


que a tomada de decisão apoiada não se relaciona, necessariamente, com o
portador de transtorno mental, podendo ser requerida por qualquer sujeito
classificável como deficiente nos termos do Estatuto” 81
Assim, o portador de transtorno mental pode constituir em torno de si uma rede
de sujeitos baseada na confiança que neles tem, para lhe auxiliar nos atos da
vida. Justamente o oposto do que podia antes acontecer, em algumas
situações de curatela fixadas à revelia e contra os interesses do portador de
transtornos mentais.
Destaque-se, portanto, que a tomada de decisão apoiada poderá ser diferente
para cada sujeito, já que o termo que for apresentado é que especificará os
limites do apoio. Um questionamento que pode surgir no que toca ao “prazo de
vigência do acordo” é se pode ele ser indeterminado.
Paula Távora Vítor, analisando na legislação europeia medidas que seguem a
mesma lógica da tomada de decisão apoiada, “ afirma que a determinação
mais comum nelas é pelos prazos determinados, embora, na prática, haja
tendência em perpetuá-las”82.
Dúvida que pode surgir também é se o sujeito, ao requerer a tomada de
decisão apoiada, tem a sua capacidade afetada de alguma forma.
No caso brasileiro a tomada de decisão apoiada parece não implicar em perda
da capacidade do sujeito que a requer, mas sim em caminho que oferece
reforço à validade de negócios por ele realizados83.

81
REQUIÃO, Maurício. Conheça a tomada de decisão apoiada,
novo regime alternativo à curatela. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-set-
14/direito-civil-atual-conheca-tomada-decisao-apoiada-regime-alternativo-curatela#_ftn1
Acesso em: 28 abr. 2023.
82
VÍTOR, Paula Távora. A administração do património das pessoas com capacidade
diminuída. Coimbra: Coimbra, 2008, p.175-176.
83
REQUIÃO, Maurício. Conheça a tomada de decisão apoiada,
novo regime alternativo à curatela. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-set-
14/direito-civil-atual-conheca-tomada-decisao-apoiada-regime-alternativo-curatela#_ftn1
Acesso em: 28 abr. 2023.

Conforme Armaldo Rizzardo:


“A tomada de decisão apoiada’ não se restringe apenas aos vulneráveis
portadores de deficiências ou problemas mentais, mas estende-se aos
deficientes em geral, nos campos da saúde física, intelectual; e nos sentidos,
constando a abrangência no art. 2º do mencionado diploma: Considera-se
pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma
ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas. Não é considerada a
pessoa plenamente incapaz, pois mantém algum entendimento e poder de
decisão, expressando manifestações da vontade”.84
É que, em se tratando de negócio realizado com base e nos limites do acordo
da tomada de decisão apoiada, não haverá brecha para invalidação do mesmo
por questões relativas à capacidade do sujeito apoiado (artigo 1783-A, §4°).
Em busca de maior segurança pode, inclusive, o terceiro com quem se negocia
solicitar que os apoiadores contra assinem o contrato ou acordo, especificando
a sua função em relação ao apoiado (artigo 1783-A, §5°).85
Assim sendo, o papel do apoiador deve ser positivo ao sujeito que ele apoia,
sendo aquele destituído a partir de denúncia fundada feita por qualquer pessoa
ao Ministério Público ou ao juiz, caso haja o apoiador com negligência ou
exerça pressão indevida sobre o sujeito que apoia (artigo 1783-A, §7°).

Código Civil - artigos 1.767 a 1.783

84
Direitos de Família / Arnaldo Rizzardo. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
85
REQUIÃO, Maurício. Conheça a tomada de decisão apoiada,
novo regime alternativo à curatela. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-set-
14/direito-civil-atual-conheca-tomada-decisao-apoiada-regime-alternativo-curatela#_ftn1
Acesso em: 28 abr. 2023.

Lei 13.146/2015 (Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência


(Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Lei 10.216/2001 (Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras
de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental).
Decreto 6.949/2009 (Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência)

PROCESSO
AgInt no AREsp 1809508/GO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL 2020/0337075-0
RELATOR(A)
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI (1145)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
22/11/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 25/11/2021
EMENTA
AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE
PRESTAÇÃO DE CONTAS. VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. NÃO OCORRÊNCIA. ART. 84, § 4°, DO ESTATUTO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO DISSOCIADA DO
ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA N. 284 DO STF. ALEGAÇÃO DE COISA
JULGADA. REEXAME FÁTICO DOS AUTOS. SÚMULA N. 7 DO STJ.
CURADOR. DEVER DE PRESTAR CONTAS.
1. O acórdão recorrido analisou todas as questões necessárias ao deslinde da

controvérsia, não se configurando omissão, contradição ou negativa de


prestação jurisdicional.
2. A deficiência na fundamentação do recurso especial no tocante ao art. 84, §
4°, do Estatuto da Pessoa com Deficiência atrai a incidência da Súmula n.
284/STF.
3. Não cabe, em recurso especial, reexaminar matéria fático-probatória
(Súmula n. 7/STJ).
4. "Escolhido o curador ('a curatela deve ser atribuída a quem melhor possa
atender aos interesses do curatelado' - CPC/15, art. 755, § 1°), assim como na
tutela, deverá haver a prestação de contas de sua administração, haja vista
estar ele na posse de bens do incapaz (CC, arts. 1.755, 1.774 e 1.781)" (REsp
1.515.701/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 2.10.2018, DJe de 31.10.2018) 5. Agravo interno a que se nega
provimento.

PROCESSO
REsp 1795395/MT
RECURSO ESPECIAL 2019/0029747-0
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
04/05/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 06/05/2021
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ESTATUTO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULA 7/STJ. AÇÃO DE INTERDIÇÃO. AUDIÊNCIA DE

INTERROGATÓRIO OU ENTREVISTA. INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO


PÚBLICO. DESNECESSIDADE. CURADOR ESPECIAL. INTIMAÇÃO
PESSOAL. NECESSIDADE. NULIDADE. DEVER DE DEMONSTRAÇÃO DE
PREJUÍZO. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. COMPARECIMENTO DO
INTERDITANDO. DESNECESSIDADE. TOMADA DE DECISÃO APOIADA.
FIXAÇÃO DE OFÍCIO PELO JUIZ. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE
REQUERIMENTO. PESSOA COM DEFICIÊNCIA. LEGITIMIDADE
EXCLUSIVA. CURATELA COMPARTILHADA. FIXAÇÃO DE OFÍCIO PELO
JUIZ. IMPOSSIBILIDADE. OBRIGATORIEDADE. AUSÊNCIA.
1- Recurso especial interposto em 17/8/2018 e concluso ao gabinete em
14/3/2019.
2- O propósito recursal consiste em dizer se: a) é nula a convalidação de atos
processuais sem o deferimento de nova vista ao curador especial; b) foi
indevida a nomeação de curadora ao interditado em virtude da existência de
conflito de interesses; c) é obrigatória a redução a termo das perguntas e
respostas efetivadas em audiência de instrução; d) o acórdão considerou mero
atestado médico como laudo pericial; e) há nulidade por ter o Tribunal estadual
negado a realização de perícia pleiteada pelo curador especial; f) o curador
especial, em ação de interdição, deve ser prévia e pessoalmente intimado da
designação da audiência de instrução, sob pena de nulidade; g) é obrigatória a
presença do interditando na audiência de instrução; h) na ação de interdição, é
obrigatória a participação do Ministério Público, de defensor e de curador
especial na audiência de interrogatório ou entrevista; e i) é obrigatória a fixação
pelo juiz, de ofício, das medidas de tomada de decisão apoiada e
de curatela compartilhada.
3- No que diz respeito às teses relativas (a) à existência de conflito de
interesses entre curador e curatelado, (b) à nulidade em virtude da não redução
a termo das perguntas e respostas efetivadas em audiência, (c) à
impossibilidade de convalidação de atos processuais sem o deferimento de
nova vista ao curador especial, (d) à nulidade em virtude da ausência de

participação de defensor na audiência de interrogatório, (e) à negativa de


realização de perícia pleiteada pelo curador especial e (f) à necessidade de
nomeação de curador especial para o interrogatório do interditando, tem-se, no
ponto, inviável o debate, porquanto não se observa o indispensável
prequestionamento.
4- Derruir a conclusão a que chegou o Tribunal a quo, verificando se foi ou não
realizada perícia judicial, demandaria o revolvimento de fatos e provas, o que é
vedado pelo enunciado da Súmula 7 do STJ.
5- Não há que se falar em nulidade do processo por ausência de intervenção
do Ministério Público na audiência de interrogatório, seja porque o Parquet foi
devidamente intimado, dando-se por ciente, seja porque não houve
demonstração de efetivo prejuízo.
6- Na ação de interdição, é imprescindível a constituição de advogado ou
nomeação de curador especial ao interditando, porquanto não se admite
processo de interdição sem defesa.
7- Nomeado curador especial, é necessária a sua intimação pessoal para a
prática dos atos processuais.
8- Esta Corte Superior perfilha o entendimento de que "mesmo nas hipóteses
em que se configuram os vícios mais graves, como é a nulidade por falta de
intimação pessoal do curador especial, eles serão reconhecidos somente
quando devidamente demonstrado o prejuízo suportado pela parte, em
homenagem ao princípio da pas de nullité sans grief" (AgInt no REsp
1720264/MG, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/09/2018, DJe 21/09/2018).
9- O exame sobre a ocorrência de prejuízo deve se circunscrever apenas ao
ato de intimação e à sua validade, devendo-se perquirir somente se a
intimação efetivada por meio oficial distinto daquele previsto em lei impediu a
ciência inequívoca da decisão pela parte.
10- Não restando demonstrado o prejuízo suportado em virtude da alegada
ausência de intimação pessoal, não há como se reconhecer a apontada
nulidade.

11- Na ação de interdição, muito embora seja possível a convocação do


interditando, não é obrigatório o seu comparecimento na audiência de
instrução, máxime tendo em vista que este já foi interrogado anteriormente em
audiência.
12- Conforme se extrai da interpretação sistemática dos parágrafos § 1º, § 2º e
§ 3º do Art. 1.783-A, a tomada de decisão apoiada exige requerimento da
pessoa com deficiência, que detém a legitimidade exclusiva para pleitear a
implementação da medida, não sendo possível a sua instituição de ofício pelo
juiz.
13- A curatela compartilhada é instituto desenvolvido pela jurisprudência que
visa facilitar o desempenho da curatela ao atribuir o munus a mais de um
curador simultaneamente.
14- Muito embora as normas jurídicas e os entendimentos fixados acerca da
guarda compartilhada devam servir de norte interpretativo para a exata
compreensão e aplicação da curatela compartilhada, deve-se respeitar não só
as peculiaridades de cada instituto, mas também as disposições legislativas
próprias que regulam cada uma das matérias.
15- Ao contrário do que ocorre com a guarda compartilhada, o dispositivo legal
que consagra, no âmbito do direito positivo, o instituto
da curatela compartilhada não impõe, obrigatória e expressamente, a sua
adoção. A redação do novel art. 1.775-A do CC/2002 é hialina ao estatuir que,
na nomeação de curador, o juiz "poderá" estabelecer curatela compartilhada,
não havendo, portanto, peremptoriedade, mas sim facultatividade.
16- Não há obrigatoriedade na fixação da curatela compartilhada, o que só
deve ocorrer quando (a) ambos os genitores apresentarem interesse no
exercício da curatela, (b) revelarem-se aptos ao exercício do munus e (c) o juiz,
a partir das circunstâncias fáticas da demanda, considerar que a medida é a
que melhor resguarda os interesses do curatelado.
17- Em virtude do caráter rebus sic stantibus da decisão relativa à curatela, não
há óbice a que se pleiteie, nas vias ordinárias, a fixação

da curatela compartilhada ou que, futuramente, comprovada a inaptidão


superveniente da curadora para o exercício do munus, o decisum proferido
neste feito venha a ser modificado.
18- Recurso especial conhecido em parte e, nesta extensão, não provido.

PROCESSO
REsp 1927423/SP
RECURSO ESPECIAL 2020/0232882-9
RELATOR(A)
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
27/04/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 04/05/2021
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. CURATELA. IDOSO. INCAPACIDADE
TOTAL E PERMANENTE PARA EXERCER PESSOALMENTE OS ATOS DA
VIDA CIVIL. PERÍCIA JUDICIAL CONCLUSIVA. DECRETADA A
INCAPACIDADE ABSOLUTA. IMPOSSIBILIDADE. REFORMA LEGISLATIVA.
ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. INCAPACIDADE ABSOLUTA
RESTRITA AOS MENORES DE 16 (DEZESSEIS) ANOS, NOS TERMOS DOS
ARTS. 3° E 4° DO CÓDIGO CIVIL. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. A questão discutida no presente feito consiste em definir se, à luz das
alterações promovidas pela Lei n. 13.146/2015, quanto ao regime das
incapacidades reguladas pelos arts. 3º e 4º do Código Civil, é possível declarar
como absolutamente incapaz adulto que, em razão de enfermidade
permanente, encontra-se inapto para gerir sua pessoa e administrar seus bens
de modo voluntário e consciente.

2. A Lei n. 13.146/2015, que instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência,


tem por objetivo assegurar e promover a inclusão social das pessoas com
deficiência física ou psíquica e garantir o exercício de sua capacidade em
igualdade de condições com as demais pessoas.
3. A partir da entrada em vigor da referida lei, a incapacidade absoluta para
exercer pessoalmente os atos da vida civil se restringe aos menores de 16
(dezesseis) anos, ou seja, o critério passou a ser apenas etário, tendo sido
eliminadas as hipóteses de deficiência mental ou intelectual anteriormente
previstas no Código Civil.
4. Sob essa perspectiva, o art. 84, § 3º, da Lei n. 13.146/2015 estabelece que o
instituto da curatela pode ser excepcionalmente aplicado às pessoas
portadoras de deficiência, ainda que agora sejam consideradas relativamente
capazes, devendo, contudo, ser proporcional às necessidades e às
circunstâncias de cada caso concreto.
5. Recurso especial provido.

2262757-80.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Curatela
Relator(a): Fernanda Gomes Camacho
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 5ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 25/03/2022
Data de publicação: 25/03/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO.TOMADA DE DECISÃO APOIADA.
PRESTAÇÃO DE CONTAS. Pai idoso. Obrigação de prestação de contas
devida pelo administrador de seus bens. Art. 533, caput, do CPC.
Pedido de prestação de contas que não foi genérico, prestação restritiva ao
período de administração pelo réu dos bens do genitor das
partes. Decisão mantida. Recurso não provido.

2188040-97.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Curatela
Relator(a): Alexandre Coelho
Comarca: Limeira
Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 21/03/2022
Data de publicação: 21/03/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO – CURATELA – TOMADA DE
DECISÃO APOIADA – PRINCÍPIO DA ELASTICIDADE – Em pedido
de curatela, deparando-se o juiz com circunstâncias indicativas do cabimento
em tese da tomada de decisão apoiada e não sobrevindo risco à pessoa com
deficiência, mostra-se cabível primeiro cogitar em conversão do processo
antes de instituir a curatela provisória, mediante aplicação do princípio da
elasticidade, segundo o qual todo modelo legal de procedimento é
suscetível de alguma modificação se o caso concreto assim recomendar - Caso
em que a se trata de pessoa com retardo mental leve aos 33 anos de idade, a
qual trabalha sob vínculo de emprego e convive afetivamente com outra
pessoa, situação na qual sua genitora pediu para ser sua curadora –
Decisão recorrida que, diante de tais circunstâncias, determinou prévia
intimação da deficiente para se manifestar sobre eventual interesse em tomada
de decisão apoiada, hipótese na qual o processo precisaria de algumas
adaptações, se convergentes os interesses das partes – Inconformismo da
autora – Rejeição – Ausência dos requisitos legais para a instituição da
curatela provisória antes do contraditório – Artigo 300, do Código de Processo
Civil – Curatela que passou a ser medida extraordinária, limitada e temporária -
Elasticidade procedimental plenamente justificada na espécie, à luz dos
interesses tutelados na Lei Brasileira de Inclusão e na preferência legal de se
preservar ao máximo a autonomia da pessoa com deficiência -
Decisão mantida - Decisão mantida – NEGARAM PROVIMENTO AO
RECURSO.

GONCALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro, volume 6: direito de


família, 19. ed. – São Paulo: Saraiva, 2021.

LEITE, Flávia Piva de Almeida Coord. Comentários ao Estatuto da Pessoa


com Deficiência - Lei nº 13.146n. 13.146/2015. 2. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.

LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11º ed. São Paulo. Saraiva, 2021

MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família. Saraiva.2018.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões.


São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.

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TARTUCE, Fernanda. Processo Civil no Direito de Família. Teoria e Prática.


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BRAGA, Isadora. Os impactos do Estatuto da Pessoa com Deficiência para


o Instituto da Curatela. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/54653/os-impactos-do-estatuto-da-pessoa-com-
deficiencia-para-o-instituto-da-curatela. Acesso em 28 abr. 2023

LISITA, Kelly Mora Oliveira. Direito das Famílias. Tomada de Decisão


Apoiada (TDA). Curatela e Tutela e breves Análises Jurídicas. Disponível
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https://jus.com.br/artigos/96554/direito-das-familias-tomada-de-decisao-
apoiada-tda-curatela-e-tutela-em-breves-analises-juridicas
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SILVA PINTO. Larissa. Tomada de Decisão Apoiada na Perspectiva do


Direito de Família. Disponível em:
https://ibdfam.org.br/index.php/artigos/1583/A+Tomada+de+Decis%C3%A3o+A
poiada+na+Perspectiva+do+Direito+de+Fam%C3%ADlia
Acesso em 24/04/2022

REQUIÃO, Maurício. Conheça a tomada de decisão apoiada,


novo regime alternativo à curatela. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2015-set-14/direito-civil-atual-conheca-tomada-
decisao-apoiada-regime-alternativo-curatela#_ftn1 Acesso em: 28 abr. 2023.

SANTIAGO, Patrícia. Curatela do Idoso Incapaz. Documentops necessários


para a propositura da ação. Disponível em:
https://advpatriciasantiago.jusbrasil.com.br/artigos/787272433/curatela-do-
idoso-incapaz-documentos-necessarios-para-propositura-da-acao
Acesso em: 28 abr. 2023.

TEORIA GERAL DO REGIME DE BENS NO CASAMENTO E NA UNIÃO


ESTÁVEL. EFEITOS DA DISSOLUÇÃO. PACTO ANTENUPCIAL E
PÓSNUPCIAL. ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS

O Código Civil estipula cinco diferentes regimes matrimoniais de bens: o


regime da separação convencional de bens, o regime da separação obrigatória
de bens, o regime de comunhão universal de bens, o regime de comunhão
parcial de bens e o regime de participação final dos aquestos.

Regime de Separação Convencional de bens


Neste regime existe total independência patrimonial entre os cônjuges e cada
um conserva a propriedade dos bens já existentes em seu nome e daqueles
adquiridos durante o casamento, inclusive sobre a sua administração.
O regime da separação de bens decorre de convenção entre as partes, por
meio do pacto antenupcial, e nele cada cônjuge conserva, o domínio, a posse
e a administração de seus bens, tanto sobre os presentes como em relação
aos futuros.
Para Rolf Madaleno:
“Em favor do regime da separação de bens estão a independência patrimonial
e a liberdade de atuação de cada um dos esposos, próprio e adequado para
proclamar a perfeita igualdade de armas e de equiparação dos cônjuges, pois
usualmente os consortes deveriam conservar e desenvolver suas próprias e
preexistentes riquezas ou acervos, isto quando não visto sob o prisma
ideológico e cultural, ou pelo viés de correntes feministas que se desvinculam
dos aspectos econômicos das uniões afetivas. Como feição negativa, o regime
de separação de bens se mostra injusto para o cônjuge que ficou encarregado
das obrigações domésticas e dos cuidados da prole ou que ajudou no
desenvolvimento das atividades profissionais do seu parceiro e que assim

carece de ingressos próprios, mostrando no fundo que o regime de separação


de bens é incompatível para casamentos entre cônjuges que não distribuem
igualitariamente as tarefas caseiras, nem guardam uma simetria material e
tampouco projetam uma igualdade de oportunidades”.86
Existe neste regime a separação do patrimônio dos cônjuges, que exercerão
individual e exclusivamente a administração de seus bens, podendo, inclusive,
livremente aliená-los ou gravá-los (art. 1.687, CC), sejam estes móveis ou
imóveis (art. 1.647, CC).
A professora Maria Berenice Dias resume bem a situação quando declara que
“o casamento não repercute na esfera patrimonial dos cônjuges, podendo cada
um livremente alienar e gravar de ônus real os seus bens”. Entretanto, esta
“incomunicabilidade” não afasta a obrigação mútua de assistência entre os
cônjuges; afinal, o casamento cria uma comunhão plena de vida, mesmo sob a
égide do regime de separação de bens.87
Assim, ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do
casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo
estipulação em contrário no pacto antenupcial (art. 1.688, CC).

Separação obrigatória de bens


Dentro do regime de separação de bens, há hipóteses expressamente
previstas de separação, instituídas, sobretudo, com o escopo de proteger os
bens de cada cônjuge em certas situações, ou por motivos de ordem pública,
ou como forma de punição por infringência a certos impedimentos de menor
relevância.
De acordo com o artigo 1.641 do Código Civil, a lei impõe o regime de
separação obrigatória às pessoas que o contraírem o matrimônio com

86
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.
87
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.

inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; àss


pessoa maiores de 70 (setenta) anos; a todos os que dependerem, para casar,
de suprimento judicial.
Arnaldo Rizzardo nos ensina:
“Insta lembrar que a Lei nº 12.344, de 9.12.2010, elevou a idade para setenta
anos, sendo que, pela versão originária do Código, ficava em sessenta anos. A
alteração teve em conta a liberdade que se deve assegurar aos que pretendem
casar, podendo dispor de seu futuro, constituindo uma opção a possibilidade de
contrair núpcias com uma pessoa mais interessada em interesses patrimoniais.
No entanto, permanece a ofensa em a pessoa dispor de sua vida. É
incontroverso que se impôs uma parcela de interdição às pessoas com tal
idade.A mudança de idade teve em conta a evolução da medicina e da
qualidade da saúde, que trouxe avanços na integridade física e mental do ser
humano, apesar de atingir setenta ou mais anos.88
Assim, visa a lei prevenir situações de casamentos de pessoas com excessiva
diferença de idade, quando a mais nova nada mais procura que servir-se do
casamento para conseguir vantagem econômica.

Regime de Comunhão Universal de Bens


No regime da comunhão universal de bens ocorre uma fusão entre os bens
trazidos para o casamento pelo casal, formando uma única massa.
O regime da comunhão universal de bens importa a comunicação de todos os
bens dos cônjuges, sejam presentes ou futuros. Em outras palavras, tudo o que
tinham ao casar e tudo o que adquirirem durante o casamento, seja a título
oneroso ou gratuito, entra para a comunhão, formando-se um patrimônio
comum.

88
RIZZARDO, Arnaldo. Direitos de Família – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.

No dizer de Pontes de Miranda, na comunhão universal de bens são


concebidos dois princípios:
“I – Tudo que há e que entra para o acervo dos bens do casal fica
indistintamente, como se fora possuído ou adquirido, ao meio, por cada um: os
bens permanecem indivisos na propriedade unificada dos cônjuges, a cada um
dos quais pertence metade imaginária que só se desligará da outra quando
cessar a sociedade conjugal; II – Tudo que cada cônjuge adquire se torna
comum no mesmo momento em que se operou a aquisição: é o casal, e não
eles, que adquire”.89
O regime vem regulamentado pelo CC nos artigos 1.667 a 1.671.
O CC, no seu art. 1.668, informa que são excluídos da comunhão: I – os bens
doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade2 e os sub-rogados
em seu lugar; II – os bens gravados de fideicomisso3 e o direito do herdeiro
fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; III – as dívidas
anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos
(preparativos), ou reverterem em proveito comum; IV – as doações
antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de
incomunicabilidade; V – os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659 do
CC.
A exclusão não se estende aos frutos dos referidos bens que venham a ser
percebidos, ou vencidos, na constância do casamento (art. 1.669, CC).

Regime de Comunhão Parcial de Bens:


É o regime legal. Neste regime comunicam-se os bens que sobrevierem ao
casal, na constância do casamento (art. 1.658, CC), com exceção dos
seguintes bens: I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe
sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-

89
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito de Família. São Paulo:
Max Limonad, 1947. t. 2.

rogados em seu lugar; II - os bens adquiridos com valores exclusivamente


pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; III - as
obrigações anteriores ao casamento; IV - as obrigações provenientes de atos
ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; V - os bens de uso pessoal, os
livros e instrumentos de profissão; VI - os proventos do trabalho pessoal de
cada cônjuge; VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas
semelhantes (art. 1.659, CC).
Para Rolf Madaleno:
“O regime da comunhão restrita, limitada ou parcial de bens é o regime oficial
do Código Civil para o casamento e para a união estável (art. 1.640 e art.
1.725), quando ausente, ineficaz, nulo ou anulado o pacto antenupcial ou o
contrato de convivência, e nesse regime formam-se três massas de bens: os
bens de um cônjuge/convivente, os bens do outro cônjuge/convivente e os
bens comuns de ambos. Com as núpcias ou a instituição da união estável
comunicam-se os bens comuns, ficando excluídos da comunhão parcial,
quando findo o casamento ou a união estável, os bens ressalvados pelos
artigos 1.659 e 1.661 do Código Civil”.90
Nesse tipo de regime são incomunicáveis os bens adquiridos antes do
casamento e qualquer bem recebido por doação ou herança, dentre outros.
Ressalte-se que antes da Lei 6.515/1977 prevalecia o regime legal da
comunhão universal de bens, estabelecendo a comunicação de todo o conjunto
patrimonial dos cônjuges.
O artigo 1.640 do CC estalece o regime legal da comunhão parcial de bens na
falta de convenção dos nubentes ou sendo ela nula ou ineficaz.
Segundo o art. 1.660 do CC, entram na comunhão: I – os bens adquiridos na
constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos
cônjuges; II – os bens adquiridos por fato eventual (v.g., ganhar na loteria), com

90
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.

ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; III – os bens adquiridos


por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; IV – as
benfeitorias1 em bens particulares de cada cônjuge; V – os frutos dos bens
comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do
casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão.

Regime de Participação final dos aquestos.


Trata-se de um regime misto, pois no curso do casamento aplicam-se, em
síntese, as regras da separação.
É um regime de separação de bens, no qual cada consorte tem a livre e
administração do seu patrimônio pessoal, dele podendo dispor quando for bem
móvel e necessitando da outorga do cônjuge se imóvel.
Apenas na hipótese de ocorrer a dissolução da sociedade conjugal será
verificado o montante dos aquestos levantados à data de cessação da
convivência (CC, art. 1.683).
Para Gediel Claudino Araújo Júnior:
“Em outros termos, durante o casamento cada cônjuge age como se tivesse
sido adotado o regime da separação de bens, mantendo administração
exclusiva sobre seus bens (adquiridos ou não durante o casamento), podendo,
inclusive, aliená-los livremente se forem móveis (art. 1.673, parágrafo único,
CC), sendo que igual direito pode ser estendido aos bens imóveis por meio de
cláusula expressa no pacto antenupcial (art. 1.656, CC). Todavia, vindo
eventualmente o casal a requerer o divórcio, deverá ser apurado o montante
dos aquestos, isto é, o valor total dos bens onerosamente adquiridos pelos
cônjuges durante o casamento (balanço contábil e financeiro), como se esse

observasse o regime da comunhão parcial, dividindo-se os bens apurados na


proporção de 50% (cinquenta por cento) para cada um”.91
Conforme a disposição do artigo 1.672 do CC Civil só ingressam na
participação final nos aquestos os bens adquiridos a título oneroso.
Assim diz a doutrina:
“O regime patrimonial de participação final nos aquestos toma o espaço
ocupado pela letra morta do regime dotal previsto no Código Civil de 1916, e,
infelizmente, o novo regime matrimonial prenuncia igual destino do regime
sucedido, fadado ao esquecimento e ao banimento pelo total desuso, por sua
difícil operacionalidade”, como bem apontou Sérgio Gischkow Pereira.92
De acordo com os artigos 1.685 e 1.686 do Código Civil, no caso de morte do
cônjuge a sua meação é transmitida aos seus herdeiros, a serem convocados
pela ordem de vocação hereditária.

União estável
Na união estável os companheiros podem estabelecer, por meio de um
contrato escrito, qual será o regime de bens eleito para a união.
O contrato estabelecido pelos companheiros pode ser feito por instrumento
particular ou instrumento´público, sendo que nele os contratantes são livres
para estabelecer sobre os seus bens, desde que estas regras não contrariem
disposições absolutas da lei (art. 1.655, CC).
Na falta de um pacto aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o
regime da comunhão parcial de bens, consoante norma expressa do art. 1.725
do CC: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-

91
ARAÚJO JÚNIOR, Gediel Claudino. Prática no direito de família 13. ed. São Paulo: Atlas,
2021.
92
PEREIRA, Sérgio Gischkow. Direito de Família: aspectos do casamento, sua eficácia,
separação, divórcio, parentesco, filiação, regime de bens, alimentos, bem de família,
união estável, tutela e curatela. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de


bens”
Segundo Gediel Claudino Araújo Júnior:
“Assim, os companheiros são coproprietários dos bens adquiridos de forma
onerosa na constância do relacionamento, contudo não há qualquer ilegalidade
na escrituração em nome de apenas um dos companheiros, fato que pode
gerar dificuldades na ocorrência de venda não autorizada. Se o terceiro tinha
conhecimento da existência da união estável, o negócio é anulável; caso
contrário, se o terceiro desconhecia que o bem foi adquirido durante união
estável, o negócio será válido, cabendo à parte prejudicada ação de
indenização contra o seu companheiro.93
As restrições impostas aos casados, como a outorga uxória para prática de
atos que envolvam o patrimônio comum, também se estendem aos que vivem
em união estável, perdurando até ao fim do relacionamento.

Efeitos do Regime de Bens na União Estável


A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça – STJ concluiu que a definição
de regime de bens em união estável por escritura pública não retroage.
Segundo o entendimento “é de que a escolha do regime de comunhão de bens
em uma união estável por contrato escrito produz efeitos ex nunc, e cláusulas
que estabeleçam a retroatividade desses efeitos são inválidas”.94
Segundo o ministro Antonio Carlos Ferreira, relator do caso, “no período
anterior à celebração do contrato, deve vigorar o regime legal da comunhão
parcial de bens”.
A posição do relator foi acompanhada pelos ministros Luís Felipe Salomão,
Marco Buzzi e Maria Isabel Gallotti. A ministra acrescentou em voto-vista que a

93
ARAÚJO JÚNIOR, Gediel Claudino. Prática no direito de família 13. ed. – São Paulo: Atlas,
2021.
94
STJ, AREsp 1.631.112.

alteração do regime de bens durante a união estável depende de autorização


judicial, nos moldes do que prevê o § 2º do artigo 1.639 do Código Civil.
Para o ministro Raul Araújo, que teve voto vencido, se a união estável se
iniciou e perdurou até o momento em que, pela primeira vez, o casal decide
adotar um regime de comunhão de bens, então não se trata de alteração do
mesmo. Logo, é possível conferir efeitos retroativos a essa posição.95
Para a Tabeliã Priscila Agapito, que entende que o posicionamento do STJ vai
contra os desejos e a boa-fé da maioria,
“A união estável é situação de fato. A lei sempre previu a informalidade e é
assim que a maioria dos casais vive. Ao perceberem que há a necessidade de
formalizarem a relação por um contrato, por qualquer motivo que seja (uma
inclusão no plano de saúde, no clube, ou em uma previdência) são
surpreendidos ao dizermos pra eles que só podem pactuar daqui para frente,
que o regime livremente escolhido (maioria das vezes o da separação total de
bens) só poderá valer doravante”96.
Nos filiamos ao entendimento da Dra. Priscila Agapito, considerando que o
ideal seria que os conviventes tivessem liberdade para estipular, em seu
próprio caso, os efeitos acerca da retroatividade do regime de bens.

Reza o art. 1.571 do Código Civil: “A sociedade conjugal termina:I – pela morte
de um dos cônjuges;II – pela nulidade ou anulação do casamento;III – pela
separação judicial;IV – pelo divórcio.”

95
IBDFAM. STJ: Definição de regime de bens em união estável por escritura pública não
retroage; especialistas comentam. Disponível em:
https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+regime+de+bens+e
m+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAblica+n%C3%A3o+retroage%3B+
especialistas+comentam Acesso em: 28 abr. 2023.
96
Idem.

E o § 1º do referido artigo 1.571 do CC dispõe: “O casamento válido só se


dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a
presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.”
Assim, há a dissolução da sociedade conjugal (art. 1.571) e do vínculo conjugal
(§ 1º do art. 1.571).
Já a declaração da ausência, por força da regra do § 1º, também constitui
causa de dissolução do vínculo, podendo-se considerar a ausência a partir do
ato do juiz que a declara.
Para Arnaldo Rizzardo:
“A sociedade conjugal pode deixar de existir, isto é, o casamento como
manifestação real ou concretização da união entre marido e mulher pode
terminar, permanecendo, todavia, o vínculo. E, na ordem do art. 1.571, fica
dissolvida a união ou sociedade conjugal por um daqueles quatro fatores –
morte de um dos cônjuges, nulidade ou anulação do casamento, separação
judicial e divórcio. Já em face do § 1º, dissolve-se o vínculo, deixando de existir
o casamento, com a morte ou o divórcio. Apenas estas duas formas dissolvem
o vínculo, autorizando o novo casamento, o que não se dá com a separação
judicial, e tendo em conta que a nulidade ou a anulação, segundo será visto
logo abaixo, não constituem fatores de dissolução. Correta a explicação de
Maria Helena Diniz, mantendo-se em face do novo Código: “A separação
judicial dissolve a sociedade conjugal, mas conserva íntegro o vínculo,
impedindo os cônjuges de convolar novas núpcias, pois o vínculo matrimonial,
se válido, só termina com a morte de um deles ou com o divórcio”.97
O divórcio dissolve a sociedade conjugal e autoriza os consortes a se
casarem novamente.

97
RIZZARDO, Arnaldo. Direitos de Família – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.

A morte de um dos cônjuges traz como resultado a dissolução tanto da


sociedade conjugal como do vínculo. É a primeira causa contemplada no art.
1.571 do CC.
Já com relação a anulação do casamento, Arnaldo Rizzardo explica:
“Com a sentença de anulação , firma-se a existência de um vício originário no
ato de constituição do matrimônio. Não se dissolve, pois, na verdade, não se
formou o ato matrimonial. Aparentemente existia o vínculo, mas a sentença
desvendou o impedimento ou vício que lhe tira a validade, portando efeito
retroativo, ou indo até o momento da formação. Apenas no casamento putativo
ressalvam-se os efeitos, de acordo com a presença da boa-fé de um ou de
ambos os cônjuges. Mas, é uma forma de desconstituição daquilo que se
constituiu indevidamente, ou que não podia se constituir. Já na dissolução por
morte, separação ou divórcio, dissolve-se ou resolve-se a partir de um
momento determinado, sendo o fator acarretante superveniente”.98
Assim, no caso de anulação ou nulidade, não constitui propriamente causa de
dissolução. Trata-se, do reconhecimento da existência de um vício originário na
formação do vínculo.

Pacto Antenupcial
Antes de celebrado o casamento, aqueles que pretendem casar podem
estipular por meio de um pacto antenupcial o regime que melhor atendem os
seus interesses, não podendo estipular cláusula que contravenha disposição
absoluta de lei (CC, art. 1.655)
Se não for estipulado o pacto antenupcial, vigorará entre os cônjuges o regime
da comunhão parcial (CC, art. 1.640).

98
Ibidem.

Para Débora Gozzo, o pacto antenupcial “é um negócio jurídico de direito de


família”, isso porque, como observa João Andrades Carvalho, “não se trata de
uma liberdade sem limites, ou de um desmesurado direito de agir. Há um
espaço legal que não pode ser invadido nem desrespeitado pelos nubentes”.99
Somente existe o pacto antenupcial em função do casamento, ao qual se
vincula intimamente nos termos art. 1.653 do CC.
Não há um prazo previsto na lei entre a celebração do pacto e o casamento.
Admite-se que decorra, inclusive, qualquer lapso de tempo. Mas os efeitos
dependem da realização do casamento.
O pacto antenupcial pode conter as mais variadas cláusulas, seja de caráter
patrimonial ou não patrimonial. Aos nubentes se faculta estipularem o conteúdo
que desejarem, dentro dos limites da lei, desde que não haja contrariedade à
ordem pública, ou ofensa aos bons costumes. (art. 1.655 do CC).
Nesse contexto, a doutrina é unânime acerca das vantagens de se realizar um
pacto antenupcial, em suma, porque durante a constância do relacionamento o
casal terá mais:
“Liberdade: podendo abordar quaisquer questões que envolvam o
relacionamento, desde que não pactuem cláusulas que contrariem a lei,
renúncia a questões envolvendo dever de assistência, guarda dos filhos e
proibindo futuro pedido de divórcio ou dissolução de união estável.
Segurança jurídica: pois é possível deixar o instrumento o mais detalhado
possível e tratar de quaisquer questões que possam geram conflitos, inclusive
na convivência familiar, facilitando a conciliação”100.

99
GOZZO, Débora. Pacto antenupcial. São Paulo: Saraiva, 1992.
100
BONILHA, Natalia. Os benefícios dos pactos pré e pós-nupcial. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-out-29/natalia-bonilha-beneficios-pactos-pre-pos-nupcial.
Acesso em: 29 abr. 2023.

Pacto pós-nupcial
O pacto pós nupcial é realizado posteriormente ao casamento como no caso
da mudança do regime de bens vigente, mediante autorização judicial.
Além da utilização nos casos de alteração no regime de bens, importante
ressaltar a possibilidade de utilização dos pactos pós-nupciais para casos de
retificação de registro civil, em que houve erro material no registro específico.
O nosso CC aponta o pacto pós-nupcial se encontra nso art. 1.639,§2º do
CC/02 e no art. 734 do CPC.
Considerando a falta de previsão legislativa, o pacto pós-nupcial poderá ser
lavrado após autorização judicial específica. É o que determinou o Superior
Tribunal de Justiça no julgamento do Recuso Especial – RESP101 1300205: “o
pacto pós-nupcial […] em nossa legislação, depende de aprovação do Poder
Judiciário para que seja válido.” 102

O nosso CC prevê a possibilidade de ser alterado o regime de bens no curso


da relação conjugal, como prescreve o artigo 1.639, § 2º, em pedido judicial
motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas
e ressalvados os direitos de terceiros, não sendo necessário promover a
relação discriminada dos bens dos cônjuges.
De acordo com o CC a alteração do regime matrimonial será sempre judicial,
devendo a sentença que acolheu a modificação do regime ser averbada no
Cartório de Registro de Imóveis.

101
SUPERIOR Tribunal de Justiça. REsp 1300205. Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA. Data da Publicação20/04/2015. Disponível em: stj.jus.br. Acesso em: 01/05/2022.
102
Artigo – O pacto pós-nupcial: para, após autorização judicial, estabelecer o regime de
bens que constará na transcrição de casamento celebrado na Inglaterra. Disponível em:
https://recivil.com.br/artigo-o-pacto-pos-nupcial-para-apos-autorizacao-judicial-estabelecer-o-
regime-de-bens-que-constara-na-transcricao-de-casamento-celebrado-na-inglaterra/ Acesso
em: 29 abr. 2023.

Como regra, entendia-se que a mudança no regime de bens do casamento não


tinha efeito retroativo. Mas, de acordo com recente decisão do STJ, “se a
retroatividade é benéfica para a coletividade, não prejudica terceiros e nem
produz desequilíbrio, deve ser admitida”103.
No caso oriundo de referida decisão, um casal procurou a Justiça pleiteando a
modificação do regime de bens da sociedade conjugal de separação total para
comunhão universal. Alegaram que o regime não mais atendia aos seus
interesses, já que a relação se consolidou e ambos construíram o patrimônio
juntos. Nas instâncias de origem, foi entendido que a alteração do regime de
bens deferida possui eficácia a partir do trânsito em julgado, com efeitos "ex
nunc". O casal recorreu ao STJ e o pleito foi atendido, ao considerar o Tribunal
Superior que as partes estavam voluntariamente casadas no regime de
separação e, valendo-se da autonomia da vontade, pediram a alteração após
anos de convivência "certamente harmônica e feliz" com o objetivo de ampliar a
união. Destacou-se, ainda, que a alteração para comunhão universal
dificilmente traria prejuízo a terceiros, já que o casamento se fortalece com o
novo regime adotado e todos os bens passam a ensejar penhora por eventuais
credores. Assim, concluiu o Relator que se a retroatividade é benéfica para a
coletividade, não prejudica terceiros e nem produz desequilíbrio, deve ser
admitida104.

Código Civil – artigos 1571 a 1582, 1.639 a 1.688

103
MIGALHAS. STJ: Mudança no regime de bens do casamento tem efeito retroativo.
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/385402/stj-mudanca-no-regime-de-bens-
do-casamento-tem-efeito-retroativo Acesso em: 29 abr. 2023.
104
Ibidem.

PROCESSO
REsp 1922347/PR
RECURSO ESPECIAL 2021/0040322-7
RELATOR(A)
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
07/12/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 01/02/2022 REVJUR vol. 533 p. 143
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL SOB O REGIME DA SEPARAÇÃO
OBRIGATÓRIA DE BENS. COMPANHEIRO MAIOR DE 70 ANOS NA
OCASIÃO EM QUE FIRMOU ESCRITURA PÚBLICA. PACTO
ANTENUPCIAL AFASTANDO A INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 377 DO STF,
IMPEDINDO A COMUNHÃO DOS AQUESTOS ADQUIRIDOS
ONEROSAMENTE NA CONSTÂNCIA DA CONVIVÊNCIA. POSSIBILIDADE.
MEAÇÃO DE BENS DA COMPANHEIRA. INOCORRÊNCIA. SUCESSÃO DE
BENS. COMPANHEIRA NA CONDIÇÃO DE HERDEIRA. IMPOSSIBILIDADE.
NECESSIDADE DE REMOÇÃO DELA DA INVENTARIANÇA.
1. O pacto antenupcial e o contrato de convivência definem as regras
econômicas que irão reger o patrimônio daquela unidade familiar, formando o
estatuto patrimonial - regime de bens - do casamento ou da união estável, cuja
regência se iniciará, sucessivamente, na data da celebração do matrimônio ou
no momento da demonstração empírica do preenchimento dos requisitos da
união estável (CC, art. 1.723).
2. O Código Civil, em exceção à autonomia privada, também restringe a

liberdade de escolha do regime patrimonial aos nubentes em certas


circunstâncias, reputadas pelo legislador como essenciais à proteção de
determinadas pessoas ou situações e que foram dispostas no art. 1.641 do
Código Civil, como sói ser o regime da separação obrigatória da pessoa maior
de setenta antos (inciso II).
3. "A ratio legis foi a de proteger o idoso e seus herdeiros necessários dos
casamentos realizados por interesse estritamente econômico, evitando que
este seja o principal fator a mover o consorte para o enlace" (REsp
1689152/SC, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
24/10/2017, DJe 22/11/2017).
4. Firmou o STJ o entendimento de que, "por força do art. 258, § único, inciso
II, do Código Civil de 1916 (equivalente, em parte, ao art. 1.641, inciso II, do
Código Civil de 2002), ao casamento de sexagenário, se homem, ou
cinquentenária, se mulher, é imposto o regime de separação obrigatória de
bens. Por esse motivo, às uniões estáveis é aplicável a mesma regra, impondo-
se seja observado o regime de separação obrigatória, sendo o homem maior
de sessenta anos ou mulher maior de cinquenta" (REsp 646.259/RS, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 22/06/2010, DJe
24/08/2010).
5. A Segunda Seção do STJ, em releitura da antiga Súmula n. 377/STF,
decidiu que, "no regime de separação legal de bens, comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento, desde que comprovado o esforço
comum para sua aquisição" EREsp 1.623.858/MG, Rel. Ministro Lázaro
Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª região), Segunda Seção,
julgado em 23/05/2018, DJe 30/05/2018), ratificando anterior entendimento da
Seção com relação à união estável (EREsp 1171820/PR, Rel. Ministro Raul
Araújo, Segunda Seção, julgado em 26/08/2015, DJe 21/09/2015).
6. No casamento ou na união estável regidos pelo regime da separação
obrigatória de bens, é possível que os nubentes/companheiros, em exercício
da autonomia privada, estipulando o que melhor lhes aprouver em relação aos

bens futuros, pactuem cláusula mais protetiva ao regime legal, com o


afastamento da Súmula n. 377 do STF, impedindo a comunhão dos aquestos.
7. A mens legis do art. 1.641, II, do Código Civil é justamente conferir proteção
ao patrimônio do idoso que está casando-se e aos interesses de sua prole,
impedindo a comunicação dos aquestos. Por uma interpretação teleológica da
norma, é possível que o pacto antenupcial venha a estabelecer cláusula ainda
mais protetiva aos bens do nubente septuagenário, preservando o espírito do
Código Civil de impedir a comunhão dos bens do ancião. O que não se mostra
possível é a vulneração dos ditames do regime restritivo e protetivo, seja
afastando a incidência do regime da separação obrigatória, seja
adotando pacto que o torne regime mais ampliativo e comunitário em relação
aos bens.
8. Na hipótese, o de cujus e a sua companheira celebraram escritura pública de
união estável quando o primeiro contava com 77 anos de idade - com
observância, portanto, do regime da separação obrigatória de bens -,
oportunidade em que as partes, de livre e espontânea vontade,
realizaram pacto antenupcial estipulando termos ainda mais protetivos ao
enlace, demonstrando o claro intento de não terem os seus bens comunicados,
com o afastamento da incidência da Súmula n. 377 do STF. Portanto, não há
falar em meação de bens nem em sucessão da companheira (CC, art. 1.829, I).
9. Recurso especial da filha do de cujus a que se dá provimento.
Recurso da ex-companheira desprovido.

PROCESSO
REsp 1888242/PR
RECURSO ESPECIAL 2020/0197101-1
RELATOR(A)
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA

DATA DO JULGAMENTO
29/03/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 31/03/2022
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DIVÓRCIO.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL.
EMENTA. TRANSCRIÇÃO. COTEJO ANALÍTICO. FALTA. BEM IMÓVEL.
ACESSÃO. BENFEITORIA. PRESUNÇÃO LEGAL JURIS TANTUM.
CONJUGE VARÃO. CAUSA. PECULIARIDADE. COPROPRIETÁRIO.
TERCEIRO. UNIÃO CONJUGAL. COMUNHÃO PARCIAL DE
BENS. INTERRUPÇÃO. ÔNUS DA PROVA. DESLOCAMENTO. TEORIA DA
CARGA DINÂMICA. APLICAÇÃO. POSSIBILIDADE.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Cinge-se a controvérsia a definir se a atribuição dinâmica do ônus probatório
acerca da realização de acessões/benfeitorias em imóvel de propriedade do
cônjuge varão, objeto de eventual partilha em ação de divórcio, pode afastar a
presunção do art. 1.253 do Código Civil de 2002 ("Toda construção ou
plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua
custa, até que se prove o contrário.").
3. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de origem
motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a
aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no sentido
pretendido pela parte.
4. A divergência jurisprudencial com fundamento na alínea "c" do permissivo
constitucional requisita comprovação e demonstração, esta, em qualquer caso,
com a transcrição dos trechos dos acórdãos que configurem o dissídio,
mencionando-se as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos

confrontados, não se oferecendo como bastante a simples


transcrição de ementas, sem realizar o necessário cotejo analítico a evidenciar
a similitude fática entre os casos apontados e a divergência de interpretações
(arts. 1.029, § 1º, do CPC/2015 e 255, § 1º, do RISTJ).
5. Para dar concretude ao princípio da persuasão racional do juiz, insculpido no
art. 371 do CPC/2015, aliado aos postulados de boa-
fé, de cooperação, de lealdade e de paridade de armas previstos no novo
diploma processual civil (arts. 5º, 6º, 7º, 77, I e II, e 378 do CPC/2015), com
vistas a proporcionar uma decisão de mérito justa e efetiva, foi introduzida a
faculdade de o juiz, no exercício dos poderes instrutórios que lhe competem
(art. 370 do CPC/2015), atribuir o ônus da prova de modo diverso entre os
sujeitos do processo quando diante de situações peculiares (art. 371, § 1º, do
CPC/2015). A instrumentalização dessa faculdade foi denominada pela
doutrina processual teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova ou teoria
da carga dinâmica do ônus da prova.
6. No caso dos autos, a participação do cônjuge varão como coproprietário do
imóvel em cujas acessões/benfeitorias foram realizadas faz presumir também o
esforço comum do cônjuge virago na sua realização (art. 1.660, I e IV, do
CC/2002), além de que ocorreram interrupções no vínculo matrimonial, são
peculiaridades que autorizam a dinamização do ônus probatório para o
recorrente (art. 371, § 1º, do CPC/2015).
7. Recurso especial não provido.

PROCESSO
EDcl no AgInt no AREsp 640912 / DF
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL
2014/0345360-8
RELATOR(A)
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI (1145)

ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
22/11/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 25/11/2021
EMENTA
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ACOLHIMENTO. SUCESSÃO. REGIME DE
BENS.
CÔNJUGE. CONDIÇÃO DE HERDEIRO. RECONHECIMENTO.
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, o cônjuge, qualquer que
seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário.
2. A exceção prevista no artigo 1.641 do Código Civil refere-se ao regime de
separação legal de bens, nos casos em que há concorrência com
descendentes.
3. Embargos de declaração acolhidos.

PROCESSO
AgInt nos EDcl no AREsp 1875691 / PR
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL
2021/0110277-9
RELATOR(A)
Ministro RAUL ARAÚJO (1143)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
14/03/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 25/03/2022

EMENTA
DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO
E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM. REQUISITOS PARA
UNIÃO ESTÁVEL NÃO EVIDENCIADOS. MODIFICAÇÃO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 7/STJ. QUALIFICAÇÃO COMO UNIÃO ESTÁVEL/FAMÍLIA
PARALELA. IMPOSSIBILIDADE. DECISÃO DE ACORDO COM A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. "A jurisprudência do STJ e do STF é sólida em não reconhecer como união
estável a relação concubinária não eventual, simultânea ao casamento, quando
não estiver provada a separação de fato ou de direito do parceiro casado"
(AgRg no AREsp 748.452, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 23/2/2016, DJe de 7/3/2016).
2. Na hipótese, o Tribunal de origem concluiu que "não se pode afirmar que a
convivência entre o falecido e a demandante era socialmente reconhecida e
tinha o objetivo de constituição de uma família, quando a própria autora sabia
que ele possuía uma família constituída, embora aqui o negue, o que torna
ausente o requisito da fidelidade, igualmente importante para caracterizar a
união estável, ainda mais quando a infidelidade era de conhecimento da
apelante".
3. A pretensão de modificar o entendimento firmado, acerca da ausência dos
requisitos para a configuração da união estável, demandaria o
revolvimento do acervo fático-probatório, o que é inviável em sede de recurso
especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
4. Agravo interno a que se nega provimento.

LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11º ed. São Paulo. Saraiva, 2021

MADALENO, Rolf. Manual de direito de família. 4. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2022.

MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família. Saraiva.2018.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões.


São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva. 2016.

RIZZARDO, Arnaldo. Direitos de Família. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense,


2019.

TICIANELLI, Maria Figueira Rossi. BARBIERO, Priscila Cristiane. Direito de


Família em Cases. O Conflito pelas lentes de seus advogados, Ed. Juruá,
2020.

ROMANO, Rogério Tadeu. A dissolução da sociedade conjugal e a


dissolução do vínculo matrimonial. Consequências. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/51293/a-dissolucao-da-sociedade-conjugal-e-a-
dissolucao-do-vinculo-matrimonial-consequencias
Acesso em 29 abr. 2023.

SANTOS, Carolina Edith Mosmann. O pacto antenupcial e a separação total


de bens e o desejo das partes de não serem herdeiros um do outro.
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-notariais-e-
registrais/348860/o-pacto-antenupcial-a-separacao-total-de-bens
Acesso em 29 abr. 2023.

SANTOS, Wallace Costa dos. O casamento civil e os regimes de bens


matrimoniais. Disponível em:
https://ibdfam.org.br/artigos/1483/O+casamento+civil+e+os+regimes+de+bens+
matrimoniais. Acesso em 29 abr. 2023.

VASCONCELOS, Antonio José Telles de. Mudança do regime de bens do


casamento não precisa ter alterações profundas.
https://www.conjur.com.br/2020-ago-05/vasconcellos-alteracao-regime-bens-
casamento. Acesso em 29 abr. 2023

IBDFAM. STJ: Definição de regime de bens em união estável por escritura


pública não retroage; especialistas comentam. Disponível em:
https://ibdfam.org.br/noticias/9432/STJ%3A+Defini%C3%A7%C3%A3o+de+reg
ime+de+bens+em+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+por+escritura+p%C3%BAbli
ca+n%C3%A3o+retroage%3B+especialistas+comentam Acesso em: 28 abr.
2023.

BONILHA, Natalia. Os benefícios dos pactos pré e pós-nupcial. Disponível


em: https://www.conjur.com.br/2021-out-29/natalia-bonilha-beneficios-pactos-
pre-pos-nupcial. Acesso em: 29 abr. 2023.

MIGALHAS. STJ: Mudança no regime de bens do casamento tem efeito


retroativo. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/385402/stj-
mudanca-no-regime-de-bens-do-casamento-tem-efeito-retroativo Acesso em:
29 abr. 2023.

UNIÃO ESTÁVEL. CARACTERIZAÇÃO. CONTRATO DE UNIÃO ESTÁVEL.


EFEITOS . FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS.

Introdução
A união estável sempre foi reconhecida como um fato jurídico e no mundo
contemporâneo assume um papel relevante como entidade familiar na
sociedade brasileira.
A primeira norma a tratar do assunto foi o Decreto-lei 7.036/1944, que
reconheceu a companheira como beneficiária da indenização no caso de
acidente de trabalho de que foi vítima o companheiro.
A Constituição Federal de 1988 veio efetivamente reconhecer, no seu art. 226,
§ 3.º, a união estável, nos seguintes termos: “para efeito de proteção do
Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento”.

Definição
O Prof. Rodrigo da Cunha Pereira nos dá um conceito de união estável, como
sendo, “a relação afetivo-amorosa entre um homem e uma mulher, não
adulterina e não incestuosa, com estabilidade e durabilidade, vivendo sob o
mesmo teto ou não, constituindo família sem vínculo do casamento civil”105 .
Já para Álvaro Villaça de Azevedo, a união estável é: “A convivência não
adulterina nem incestuosa, duradoura, pública e contínua, de um homem e de
uma mulher, sem vínculo matrimonial, convivendo como se casados fossem,
sob o mesmo teto ou não, constituindo, assim, sua família de fato”106.

105
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias, 2ª ed. Ed. Forense, 2020.
106
Azevedo, Álvaro Villaça. União Estável, artigo publicado na revista advogado nº 58,
AASP, São Paulo, Março/2000.

Por fim, Francisco Eduardo Orciole Pires e Albuquerque Pizzolante dizem


ser “meio legítimo de constituição de entidade familiar, havida, nos termos
estudados, por aqueles que não tenham impedimentos referentes à sua
união, com efeito de constituição de família”.107

União estável. Caracterização


O Código Civil, em seu artigo 1.723 estabeleceu “É reconhecida como entidade
familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de
família”.
Assim sendo, entre os elementos fundamentais para o reconhecimento da
união estável são: publicidade, continuidade da relação, durabilidade e objetivo
de constituir família.
Cumpre ressaltar que o artigo não menciona prazo mínimo de convivência
como critério para caracterização desta entidade familiar, abandonando de
vez o que dispunha a Lei nº 8.791/94.
Para Rolf Madaleno:
“Dentre os pressupostos de configuração da união estável está a convivência
pública, no sentido de, preferencialmente morarem juntos, mantendo vida em
comum, em comunhão plena, como para o casamento registra igual exigência
o artigo 1.511 do Código Civil, sob o mesmo teto, à semelhança do
matrimônio, onde a coabitação é dever expresso do casamento, conforme
artigo 1.566, inciso II, do Código Civil, salvo justificadas exceções”.108
A continuidade da convivência também reflete a sua estabilidade e seriedade.

107
Pizzolante, Francisco Eduardo Orciole Pires e Albuquerque. União Estável no sistema
jurídio brasileiro. São Paulo: Atlas, 1999.
108
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família. 4. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.

A união estável é aquela moldada à semelhança do casamento, na qual os


conviventes têm a indubitável intenção de constituir família. Por conta disso,
não são configurados como união estável simples namoros.
Em seu artigo 1.724, o novo Código Civil estabelece que as relações entre os
companheiros devem se pautar pelos deveres de lealdade, respeito,
assistência, de guarda, sustento e educação dos filhos.
A regulamentação sobre os deveres das relações pessoais entre
companheiros vem tipificada no art. 1.724 do Código Civil, e prevê os deveres
de lealdade, respeito e assistência, guarda, sustento e educação dos filhos.
De acordo com Euclides de Oliveira se “comparado ao texto do art. 2º da
Lei 9.278/96, nota-se que o CC acrescenta o dever de “lealdade” entre os
companheiros, mantidos os demais deveres constantes dessa lei” 109.
A lealdade vai além do compromisso de fidelidade afetiva, abrange um amplo
dever de respeito e de consideração devida mutuamente entre os
companheiros, no propósito de perpetuarem a sua relação afetiva110.

Por contrato de convivência na união estável a doutrina de Francisco José


Cahali entende como sendo “o instrumento pelo qual os sujeitos de uma união
estável promovem regulamentações quanto aos reflexos da relação, que
serão tratadas adiante quando analisado o conteúdo das disposições
contratuais entre os conviventes” 111.

109
OLIVEIRA, Euclides Benedito de. União estável: do concubinato ao casamento: antes
e depois do novo código civil. São Paulo: Método, 2003.
110
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
111
Cahali, Francisco José. Contrato de convivência na união estável. São Paulo: Saraiva,
2002.

Sua finalidade se resume em tratar os assuntos pertinentes às relações


patrimoniais entre as partes que vivem em união estável.
A previsão para realização deste contrato, estipulada no § 2º, do art. 5º da Lei
nº 9.278/96, foi mantida pelo Código Civil de 2002, em seu artigo 1.725112.
Sobre esta matéria, esclarece Rodrigo da Cunha Pereira:
“Indagava-se, com o advento da Lei n. 8.971/94, se era possível estabelecer
tais pactos. Devemos pensar que se as pessoas são livres para estabelecer
pacto antenupcial, da mesma forma, e por analogia, poderão também
preestabelecer os rumos da economia e patrimônio dessas relações, sem
com isso afrontar a referida Lei. Se há essa liberdade para fazê-lo no
casamento, da mesma forma poderá haver também para as relações
estáveis. Ademais, a Lei n. 9.278, de 16 de maio de 1996, respondeu de vez
essa questão. Mesmo tendo sido vetados os arts. 3º e 4º, que tratava
especificamente de registro de contratos entre os sujeitos de uma união
113
estável, não há nenhuma proibição de fazê-lo” .
Ao contrário, o art. 5º dessa Lei, em seu caput e § 2º, previu a estipulação de
contratos escritos, até mesmo para estabelecer disposições contrárias a ela.
Entretanto, cumpre ressaltar que a simples celebração de um contrato de
convivência, não é suficiente para caracterização da união estável 114.
Para explicitar melhor o tema, ensina Francisco José Cahali:
“Que o contrato de convivência não possui, porém, força para criar a união
estável, e, assim, tem a sua eficácia condicionada a caracterização, pelas
circunstâncias fáticas, da entidade familiar em razão do comportamento das
partes. Vale dizer, a união estável apresenta-se como condicio juris ao pacto,

112
FILHO, Washington Luiz Gaiotto. A União Estável no Ordenamento Jurídico Brasileiro.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-uniao-estavel-no-ordenamento-juridico-
brasileiro/111589809 Acesso em: 29 abr. 2023
113
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e União estável. 9º ed. Saraiva, 2016.
114
FILHO, Washington Luiz Gaiotto. A União Estável no Ordenamento Jurídico Brasileiro.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-uniao-estavel-no-ordenamento-juridico-
brasileiro/111589809 Acesso em: 29 abr. 2023

de tal sorte que, se nela inexistir, a convenção não produz os efeitos nela
projetados” 115.
A eleição de um regime patrimonial, através do contrato de convivência, define
as regras entre o casal, reduzindo as possibilidades de conflitos e aumentando
o seu nível de resolução.
É válido relatar que esta modalidade de contrato não exige muitas
formalidades quanto à sua celebração. A única exigência legal é de que o
contrato seja escrito.
No contrato de convivência os companheiros podem dispor de tudo, desde que
não contrariando as normas legais.
Sobretudo, em se tratando de um contrato, como tal deverá observar as regras
e princípios gerais dos contratos para que gere os seus legais e jurídicos
efeitos.
Para o prof. Francisco José Cahali,
"além das regras gerais de validade dos atos jurídicos, por ser uma contratação
específica com fim determinado (regulamentação contratual dos efeitos
decorrentes da união estável), o contrato de convivência submete-se a
elementos essenciais próprios, especialmente considerados que a
caracterização da relação representada requisito essencial de eficácia do
pacto" 116.
Já de acordo com a Profª. Maria Berenice Dias:
“O contrato obrigatoriamente terá efeito retroativo, em relação à existência da
união estável, o que não retroage é o regime de bens quando é eleito outro
regime que não seja o da comunhão parcial de bens. Não há possibilidade de
ser atribuído efeito retroativo a regime de bens mais restritivo, por afrontar

115
CAHALI, Francisco José. Contrato de convivência na união estável. São Paulo:
Saraiva, 2002.
116
Ibidem.

direitos já adquiridos. Ou seja, sem contrato, o regime é da comunhão parcial.


Descabido eleger o regime de separação, desde o início da união".117

As famílias simultâneas podem ser conceituadas como composições familiares


onde o indivíduo demonstra o seu afeto para uma ou mais pessoas, dessa
forma, ocasionando núcleos familiares distintos e concomitantes118.
Portanto, nas famílias paralelas há dois ou mais núcleos familiares, com um
membro comum. Por isso mesmo rotulada também de entidades familiares
simultâneas. No poliamorismo há ocorrência de relação afetiva entre todos os
seus membros, formando tão somente uma única célula familiar.
No Brasil vige e sempre vigeu o princípio da monogamia para a as entidades
familiares formadas pelos laços do casamento.
Para Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka:
“Os núcleos concorrentes das famílias simultâneas podem ser representados
através de duas uniões estáveis ou de um casamento e uma união estável,
mas nunca com dois casamentos, o que é tipificado como crime de bigamia
pelo art. 235 do Código Penal”.119
Note-se que os filhos das uniões paralelas não poderão ser prejudicados,
posto a Constituição já ter, no ano de 1988, estabelecido a total igualdade
entre eles, tenham eles nascido durante a constância do matrimônio ou não.
Especialmente na pensão por morte, boa parte dos Tribunais tem o
entendimento de que, onde existe o casamento e não houve separação de fato
ou de direito, tem se atribuído o benefício previdenciário apenas para a relação

117
DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias. 2021
118
Famílias simultâneas e seus efeitos jurídicos. Disponível em:
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/55873/famlias-simultneas-e-seus-efeitos-
jurdicos Acesso em: 29 abr. 2023
119
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; TARTUCE, Flávio. FAMÍLIAS PARALELAS.
VISÃO ATUALIZADA. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, vol. 13, n. 2, jul./dez. 2019.

formal, alegando que o outro relacionamento não possui intenção de constituir


família.120
Renata Miranda Goecks e Vitor Hugo Oltramari defendem o reconhecimento
oficial das uniões paralelas desenvolvidas dentro do princípio da boa-fé e
afirmam que descabe ao Estado negar a realidade e pretender que a
concomitância de relações seja algo distante do Direito de Família. Ana
Carolina Brochardo Teixeira e Renata de Lima Rodrigues admitem por igual as
relações paralelas, conquanto elas cumpram, reciprocamente, funções
familiares na vida uma das outras, porque o princípio da monogamia,
historicamente, está atrelado aos mandamentos da segurança jurídica e tutela
prioritária do patrimônio, fatores que ficaram em segundo plano no
ordenamento brasileiro, que, na atualidade, prioriza a realização direta da
dignidade humana.121
Ressalte-se que na união estável paralela ao casamento sempre faltarão ao
conjunto afetivo os requisitos da fidelidade e da exclusividade na coabitação.
Além disso, o Supremo Tribunal Federal, na Repercussão Geral 529, decidiu
por maioria, nos termos do voto do relator Ministro Alexandre de Moraes,
vencidos os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Rosa Weber, Cármen
Lúcia e Marco Aurélio, negar provimento ao recurso extraordinário e fixar a
seguinte tese: “A preexistência de casamento ou de união estável de um dos
conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1.723, § 1°, do Código Civil,
impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período,
inclusive para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de
fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico brasileiro”.

120
TRF-3 – ApCiv: 00087679520114039999 SP, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL
INÊS VIRGÍNIA, Data de Julgamento: 24/06/2019, SÉTIMA TURMA, Data de Publicação: e-
DJF3 Judicial 1 DATA:04/07/2019
121
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo; RODRIGUES, Renata de Lima. O direito das famílias
entre a norma e a realidade. São Paulo: Atlas, 2010. p. 137.

Constituição Federal – artigo 226, §3º.


Código Civil – artigos 1.511,1. 521 inciso VI, 1.639, 1.723 a 1.727, 1.790 inciso
III, 1829, inciso III e 1838.
Resolução 175 CNJ


PROCESSO
REsp 1916031/MG RECURSO ESPECIAL
2021/0009736-8
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
03/05/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 05/05/2022
EMENTA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE
RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA
COM PARTILHA. OMISSÃO E ERRO DE FATO. INOCORRÊNCIA. ERRO DE
FATO QUE, AINDA QUE EXISTENTE, NÃO FOI DECISIVO AO RESULTADO
DO JULGAMENTO. ACÓRDÃO SUSTENTADO EM OUTROS FATOS E
PROVAS. ALEGADA UNIÃO ESTÁVEL PARALELA AO CASAMENTO.
PARTILHA NO FORMATO DE TRIAÇÃO. INADMISSIBILIDADE.
RECONHECIMENTO DA UNIÃO ESTÁVEL QUE PRESSUPÕE AUSÊNCIA
DE IMPEDIMENTO AO CASAMENTO OU SEPARAÇÃO DE FATO.

PARTICULARIDADE DA HIPÓTESE. RELAÇÃO INICIADA ANTES DO


CASAMENTO DO PRETENSO CONVIVENTE COM TERCEIRA PESSOA E
QUE PROSSEGUIU NA CONSTÂNCIA DO MATRIMÔNIO. PERÍODO
ANTERIOR AO CASAMENTO. UNIÃO ESTÁVEL RECONHECIDA. PARTILHA
NOS MOLDES DA SÚMULA 380/STF, EXIGINDO-SE PROVA DO ESFORÇO
COMUM. PERÍODO POSTERIOR AO CASAMENTO. TRANSMUDAÇÃO
JURÍDICA EM CONCUBINATO IMPURO. SOCIEDADE DE FATO
CONFIGURADA. REPERCUSSÃO PATRIMONIAL RESOLVIDA SOB A ÓTICA
DO DIREITO OBRIGACIONAL. PARTILHA NOS MOLDES DA SÚMULA
380/STF, TAMBÉM EXIGIDA A PROVA DO ESFORÇO COMUM.
CIRCUNSTÂNCIAS NÃO APURADAS PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS.
REMESSA DAS PARTES À FASE DE LIQUIDAÇÃO. POSSIBILIDADE.
1- Ação proposta em 16/05/2016. Recurso especial interposto em 03/02/2020 e
atribuído à Relatora em 03/02/2021.
2- Os propósitos do recurso especial consistem em definir se: (i) houve erro de
fato ou omissão relevante no acórdão recorrido; (ii) se, na hipótese de união
estável em que um dos conviventes é casado com terceiro (união
estável concomitante ao casamento), é admissível a partilha no formato de
triação.
3- Conquanto o acórdão recorrido realmente não tenha examinado o alegado
erro de fato, não há que se falar em omissão na hipótese em que o erro de
fato, ainda que reconhecido como existente, não é decisivo para o resultado do
julgamento, uma vez que o acórdão recorrido está assentado também em
outros fatos e provas e o fato erroneamente considerado não foi determinante
para a conclusão obtida. Precedentes.
4- É inadmissível o reconhecimento de união estável concomitante ao
casamento, na medida em que àquela pressupõe a ausência de impedimentos
para o casamento ou, ao menos, a existência de separação de fato, de modo
que à simultaneidade de relações, nessa hipótese, dá-se o nome de
concubinato. Precedentes.

5- Na hipótese em exame, há a particularidade de que a relação que se


pretende seja reconhecida como união estável teve início anteriormente ao
casamento do pretenso convivente com terceira pessoa e prosseguiu por 25
anos, já na constância desse matrimônio.
6- No período compreendido entre o início da relação e a celebração do
matrimônio entre o convivente e terceira pessoa, não há óbice para que seja
reconhecida a existência da união estável, cuja partilha, por se tratar
de união iniciada e dissolvida antes da Lei nº 9.278/96, deverá observar a
existência de prova do esforço direto e indireto na aquisição do patrimônio
amealhado, nos termos da Súmula 380/STF e de precedente desta Corte.
7- No que se refere ao período posterior à celebração do matrimônio,
aquela união estável se transmudou juridicamente em um concubinato impuro,
mantido entre as partes por 25 anos, na constância da qual adveio prole e que
era de ciência inequívoca de todos os envolvidos, de modo que há a
equiparação à sociedade de fato e a repercussão patrimonial dessa sociedade
deve ser solvida pelo direito obrigacional, de modo que também nesse período
haverá a possibilidade de partilha desde que haja a prova do esforço comum
na construção patrimonial, nos termos da Súmula 380/STF.
8- Ausente menção, pelas instâncias ordinárias, acerca da existência de provas
da participação direta ou indireta da recorrente na construção do patrimônio,
sobre quais bens existiriam provas da participação e sobre quais bens
comporão a meação da recorrida, impõe-se a remessa das partes à fase de
liquidação, ocasião em que essas questões de fato poderão ser
adequadamente apuradas.
9- Recurso especial conhecido e parcialmente provido, a fim de julgar
parcialmente procedente o pedido para: (i) reconhecer a existência de união
estável entre 1986 e 26/05/1989; (ii) reconhecer a existência de relação
concubinária impura e sociedade de fato entre 26/05/1989 e 2014, devendo a
partilha, em ambos os períodos e a ser realizada em liquidação de sentença,

observar a necessidade de prova do esforço comum para a aquisição do


patrimônio e respeitar a meação da recorrida, invertendo-se a sucumbência.

PROCESSO
REsp 1963885/MG
RECURSO ESPECIAL 2021/0243045-2
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
03/05/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 05/05/2022
EMENTA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO PRINCIPAL DE
ALIMENTOS, RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL E
PARTILHA DE BENS. AÇÃO DE OPOSIÇÃO. PRETENSÃO DE
RECONHECIMENTO DA PROPRIEDADE SOBRE IMÓVEL QUE SE
PRETENDE SEJA PARTILHADO ENTRE OS CONVIVENTES. PEDIDO DE
IMISSÃO NA POSSE. POSSIBILIDADE. DECORRÊNCIA LÓGICA DO
ACOLHIMENTO DO PEDIDO FORMULADO NA OPOSIÇÃO. INEXISTÊNCIA
DE DISCUSSÃO SOBRE DIREITO POSSESSÓRIO, A SER TRATADA EM
AÇÃO AUTÔNOMA. INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
INTERESSE DE INCAPAZ. INOCORRÊNCIA. MERO INTERESSE INDIRETO
OU MEDIATO DO INCAPAZ QUE NÃO É LEGITIMADO A FIGURAR COMO
PARTE OU INTERVENIENTE NO PROCESSO. DISCUSSÃO RESTRITA À
PARTILHA DE BENS ENTRE OS GENITORES. AUSÊNCIA DE DIREITO
PRÓPRIO DO INCAPAZ. SENTENCIAMENTO DA OPOSIÇÃO
PREVIAMENTE E EM SEPARADO DA AÇÃO PRINCIPAL. POSSIBILIDADE.

AUSÊNCIA DE RISCO DE DECISÕES CONFLIANTES. DESNECESSIDADE


DA PRÁTICA DE ATOS PROCESSUAIS CONJUNTOS. INCOMPETÊNCIA DO
JUÍZO DA FAMÍLIA. NECESSIDADE DE EXAME DE DIREITO LOCAL.
SÚMULA 280/STF. DIREITO DE RETENÇÃO DA COISA POR
BENFEITORIAS. MATÉRIA NÃO SUSCITA NA CONTESTAÇÃO À
OPOSIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME. PRECLUSÃO. QUESTÃO A
SER EXAMINADA EM AÇÃO PRÓPRIA. GRATUIDADE JUDICIÁRIA.
DEFERIMENTO À LUZ DOS FATOS E PROVAS DA CAUSA.
IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME.
1- Ação proposta em 10/04/2018. Recurso especial interposto em 15/04/2021 e
atribuído à Relatora em 31/08/2021.
2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se haveria impedimento à
oposição na hipótese em que o opoente pleiteia a imissão na posse no imóvel
que é objeto da controvérsia; (ii) se seria necessária a intervenção do Ministério
Público na hipótese em que reside incapaz no imóvel em disputa na oposição;
(iii) se seria admissível o julgamento da oposição antecipadamente e em
sentença distinta da que seria proferida na ação principal; (iv) se o juízo da
vara de família seria competente para apreciar a oposição proposta
incidentalmente à ação principal de alimentos, reconhecimento e extinção
de união estável e partilha de bens; (v) se seria admissível, na hipótese, o
exercício do direito de retenção pela oposta; (vi) se estão presentes os
requisitos para a concessão do benefício da gratuidade judiciária à opoente.
3- Se o pedido formulação na oposição é de reconhecimento da propriedade de
bem imóvel sobre o qual controvertem as partes na ação de partilha originária,
não há óbice procedimental ao acolhimento do pedido de imissão na posse,
também formulado na oposição, que está compreendido no pedido principal,
atende à regra do art. 682 do CPC/15 e é uma decorrência lógica da
procedência do pedido de reconhecimento da propriedade sobre o bem imóvel,
de modo que eventual debate sobre direitos possessórios sobre o bem deverá
ocorrer em ação própria.

4- Para que haja a necessária intervenção do Ministério Público, nos termos do


art. 178, II, do CPC/15, não basta que apenas interesses indiretos ou mediatos
do incapaz sejam potencialmente atingidos, na medida em que deve o incapaz,
além de ser parte ou interveniente do processo, ser também potencialmente
interessado em razão de direito próprio, mas não em virtude de direito
alegadamente existente de seus genitores.
5- Conquanto seja desejável pelo sistema processual que a oposição e a ação
originária sejam sentenciadas conjuntamente, a teor do art. 685 do CPC/15,
não há óbice para que a oposição, que é prejudicial à ação principal, seja
julgada em primeiro lugar, em sentença autônoma, especialmente na hipótese
em que não exista risco de prolação de decisões conflitantes ou na qual não
haja a necessidade de prática de atos processuais conjuntos.
6- É inviável o recurso especial que versa sobre competência quando, para o
exame da transgressão da lei federal, for necessário o prévio exame das regras
existentes em lei de organização judiciária do respectivo Estado, que se
consubstanciam em direito local apto a atrair a incidência da Súmula 280/STF.
Precedentes.
7- Não arguido o direito de retenção da coisa por benfeitorias no momento da
contestação, descabe o exame da matéria em momento posterior em virtude
da ocorrência de preclusão, sem prejuízo de a matéria vir a ser objeto de ação
própria. Precedente.
8- Estabelecido pelo acórdão recorrido, a partir de determinadas premissas
fáticas fixadas diante da prova produzida, que a parte preenche os requisitos
para concessão do benefício da gratuidade judiciária, descabe o reexame da
matéria em recurso especial diante do óbice da Súmula 7/STJ.
9- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não provido,
com majoração de honorários.

PROCESSO
EDcl no AgInt no REsp 1951698 / RS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL 2021/0238653-9
RELATOR(A)
Ministro FRANCISCO FALCÃO (1116)
ÓRGÃO JULGADOR
T2 - SEGUNDA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
11/04/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 18/04/2022
EMENTA
PROCESSO CIVIL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA E
CONDENATÓRIA. RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL E INCLUSÃO
DA AUTORA COMO BENEFICIÁRIA DE PENSÃO POR ÓBITO. RECURSO
ESPECIAL. DIVERGÊNCIA NÃO COMPROVADA. AUSÊNCIA DE
INDICAÇÃO PRECISA DO DISPOSITIVO DE LEI OBJETO DE
DIVERGÊNCIA. SÚMULA N. 284 DO STF. AGRAVO INTERNO. DECISÃO
MANTIDA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO.
I - Na origem, trata-se de ação declaratória e condenatória, ajuizada contra o
Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul - IPERGS, objetivando
a declaração de existência de união estável e a inclusão da autora como
beneficiária de pensão por óbito do ex-companheiro. A sentença julgou o feito
extinto por ilegitimidade passiva em relação ao pedido declaratório e, por
prescrição, em relação à pretensão condenatória. No Tribunal a quo, foi
negado provimento ao recurso. O recurso especial foi inadmitido no STJ, e o
agravo interno interposto dessa decisão, improvido.
II - Segundo o art. 1.022 do Código de Processo Civil de 2015, os embargos de
declaração são cabíveis para esclarecer obscuridade;

eliminar contradição; suprir omissão de ponto ou questão sobre as quais o juiz


devia pronunciar-se de ofício ou a requerimento; e/ou corrigir erro material.
III - Conforme entendimento pacífico desta Corte: "O julgador não está obrigado
a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha
encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. A prescrição trazida pelo
art. 489 do CPC/2015 veio confirmar a jurisprudência já sedimentada pelo
Colendo Superior Tribunal de Justiça, sendo dever do julgador apenas
enfrentar as questões capazes de infirmar a conclusão adotada na decisão
recorrida." (EDcl no MS n. 21.315/DF, relatora Ministra Diva Malerbi
(Desembargadora convocada TRF 3ª Região), Primeira Seção, julgado em
8/6/2016, DJe 15/6/2016).
IV - Não há que se falar em deficiência de fundamentação da decisão que, a
partir da análise dos argumentos da peça recursal de agravo interno -
identificados e detalhados no relatório - conclui, de maneira fundamentada, que
"as alegações apresentadas não são suficientes para infirmar a conclusão
alcançada, que deve ser mantida por seus próprios fundamentos" (fl. 1.350).
V - Quanto às alegações de suficiência da demonstração do dissídio, o acórdão
afirmou ainda que (fl. 1.351): "Da análise do recurso especial, observa-se que o
recorrente não aponta qual o dispositivo infraconstitucional objeto de
interpretação divergente pelos julgados em confronto, desbordando da previsão
contida no art. 105, III, c, da CRFB, o que impede a apreciação dessa parcela
recursal pelo Superior Tribunal de Justiça."
VI - Note-se que, se o recurso é inapto ao conhecimento, a falta de exame da
matéria de fundo - mérito do dissídio - impossibilita a própria existência de
omissão quanto a esta matéria. Nesse sentido: EDcl nos EDcl no AgInt no RE
nos EDcl no AgInt no REsp n. 1.337.262/RJ, relator Ministro Humberto Martins,
Corte Especial, julgado em 21/3/2018, DJe 5/4/2018; EDcl no AgRg no AREsp
n. 174.304/PR, relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma,
julgado em 10/4/2018, DJe 23/4/2018; EDcl no AgInt no REsp n. 1.487.963/RS,
relator Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 24/10/2017, DJe

7/11/2017.
VII - A pretensão de reformar o julgado não se coaduna com as hipóteses de
omissão, contradição, obscuridade ou erro material contidas no art. 1.022 do
CPC/2015, razão pela qual inviável o seu exame em embargos de declaração.
Nesse sentido: EDcl nos EAREsp n. 166.402/PE, relator Ministro Luis Felipe
Salomão, Corte Especial, julgado em 15/3/2017, DJe 29/3/2017; EDcl na Rcl n.
8.826/RJ, relator Ministro João Otávio De Noronha, Corte Especial, julgado em
15/2/2017, DJe 15/3/2017.
VIII - Cumpre ressaltar que os aclaratórios não se prestam ao reexame de
questões já analisadas com o nítido intuito de promover efeitos modificativos ao
recurso. No caso dos autos, não há omissão de ponto ou questão sobre as
quais o juiz, de ofício ou a requerimento, devia pronunciar-se, considerando
que a decisão apreciou as teses relevantes para o deslinde do caso e
fundamentou sua conclusão.
IX - Embargos de declaração rejeitados.

PROCESSO
AgInt no AREsp 1631112 / MT
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2019/0359603-6
RELATOR(A)
Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA (1146)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
26/10/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 14/02/2022
EMENTA

CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. UNIÃO


ESTÁVEL.REGIME DE BENS. CONTRATO COM EFEITOS EX NUNC.
DECISÃO MANTIDA.
1. Conforme entendimento desta Corte, a eleição do regime de bens da união
estável por contrato escrito é dotada de efetividade ex nunc, sendo inválidas
cláusulas que estabeleçam a retroatividade dos efeitos patrimoniais do pacto.
Precedentes.
2. Agravo interno a que se nega provimento.

LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11ª ed. São Paulo. Saraiva, 2021

MADALENO, Rolf. Manual de direito de família. 4. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2022.

MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família. Saraiva.2018.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões.


São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva. 2016.

CORREIA, Flavia Cristina Jerônimo. A união estável e seus reflexos na


partilha de bens.
https://ibdfam.org.br/artigos/1167/+Uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+e+seus+refl
exos+na+partilha+de+bens. Acesso em 29 abr. 2023.

Famílias simultâneas e seus efeitos jurídicos. Disponível em:


https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/55873/famlias-simultneas-e-
seus-efeitos-jurdicos Acesso em: 29 abr. 2023

FILHO, Washington Luiz Gaiotto. A União Estável no Ordenamento Jurídico


Brasileiro. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/a-uniao-estavel-
no-ordenamento-juridico-brasileiro/111589809 Acesso em: 29 abr. 2023

GUARDA DE FILHOS. ESPÉCIES (UNILATERAL, COMPARTILHADA,


ALTERNADA E NIDAL). REGIME DE CONVIVÊNCIA. ALIENAÇÃO
PARENTAL. GUARDA DE SERES SENCIENTES.

A guarda é um direito e um dever dos genitores de terem seus filhos sob seus
cuidados, zelando pela sua educação, alimentação e moradia.
Ainda, pode-se referir o que preceitua a ilustre Maria Berenice Dias:
“O critério norteador na definição da guarda é a vontade dos genitores. No
entanto, não fica exclusivamente na esfera familiar a definição ele quem
permanecerá com os filhos em sua companhia. Pode a guarda ser deferida a
outra pessoa, havendo preferência por membro da família extensa que revele
compatibilidade com a natureza da medida e com quem tenham afinidade e
afetividade (CC 1.584 § 5º). No que diz com a convivência dos filhos com o
genitor que não detém a guarda, prevalece o que for acordado entre os pais
(CC 1.589)” 122.
Tanto o Código Civil Brasileiro quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente
atendem ao princípio constitucional da proteção integral da criança e do
adolescente.
São duas as espécies de guarda previstas no ordenamento civil pátrio: a
guarda unilateral e a guarda compartilhada.

GUARDA UNILATERAL
Esta modalidade atribui a apenas um dos genitores a guarda do menor, com o
estabelecimento de regime de convivência com o genitor não guardião.
Para Carlos Alberto Dabus Maluf:

122
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 14ª ed. Ed. Juspodivm, 2020.

“Consoante o previsto no art. 1.583 do CC, “a guarda será unilateral ou


compartilhada. § 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só
dos genitores ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda
compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres
do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder
familiar do filho comum”. 123
O Código Civil de 2002 prevê em seu artigo 1.583 a possibilidade de adoção da
guarda unilateral como modalidade secundária, sendo a regra a adoção da
guarda compartilhada.
Ou seja, a guarda unilateral atualmente é exceção em nosso ordenamento
jurídico, devendo ser aplicada apenas se um dos genitores não desejar exercer
a guarda ou se, desejando, não estiver apto ao exercício.
Do contrário, o correto é que seja aplicada a guarda compartilhada.
Pensando na hipótese excepcional de ser aplicada a guarda unilateral, o
genitor escolhido deve ser aquele que demonstre maior aptidão para
propiciar à prole afeto nas relações parentais e com o grupo familiar; saúde e
segurança, e por fim, educação, nos termos dos incisos do parágrafo 2º do
artigo 1.584 do CC/02.
Conforme Dimas Messias de Carvalho:
“A concessão da guarda unilateral poderá ser requerida, por consenso entre
os genitores, ou por qualquer um deles, em ação autônoma de separação, de
divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar, bem como
pode ser decretada pelo juiz, em atenção às necessidades específicas do
menor e seu interesse, tentando o magistrado sempre conciliar a distribuição
do tempo da criança ou adolescente com seus genitores, nos termos dos
incisos do artigo 1.584 do CC”.124

123
MALUF, Carlos Alberto Dabus. MALUF, Adriana do Rego Freitas Dabus Maluf. Curso de
direito de família.– 4. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2021.
124
Ibidem.

A adoção excepcional deste regime deve ser sempre complementada pelo


direito de convivência do genitor não guardião da criança.
Tal direito é respaldado em nossa legislação, de modo que, por ser direito da
criança e dever dos pais, não pode encontrar qualquer tipo de impedimento
levantado pelo guardião que, caso assim proceda, corre o risco de perder a
guarda através de meios processuais pertinentes ao caso.
Segundo Wald “Conforme a visão da doutrina, o regime ideal de visitas seria
aquele em que se preserve tanto quanto o possível as relações afetivas
existentes entre pais e filhos”. 125
Para Welter: “É necessário repisar ainda na afirmação de que a atribuição da
guarda a apenas um dos genitores não acarreta a perda do poder familiar por
aquele que não a detiver, assim como “obriga o genitor não guardião a
supervisionar os interesses do filho (CC 1.583 § 3º). Também lhe é concedido
o direito de fiscalizar sua manutenção e educação (CC 1.589)”. 126
É possível então concluir que a circunstância de não deter a guarda do menor
não pode excluir o outro genitor do exercício do poder familiar. Afinal, o
direito à convivência com a criança por ambos os pais não é um direito
subjetivo do menor e de seus pais, mas sim direito fundamental dos
envolvidos, constante nos princípios estatuídos no artigo 227 da Carta
Magna.

GUARDA COMPARTILHADA
Sobre a guarda Maria Berenice Dias nos ensina:

125
WALD, Arnold. O Novo Direito de Família. 14ª edição revista e atualizada. São Paulo:
Saraiva, 2002, pg. 173.
126
WELTER, Pedro Belmiro. Guarda Compartilhada: um jeito de conviver e ser-em-
família. Guarda Compartilhada. Coordenadores: COLTRO, Antônio Carlos Mathias e
DELGADO, Mário Luiz. São Paulo: Método; 2009; pg. 62.

“A expressão guarda, por veicular um significante muito mais de objeto do que


de sujeito, tende a desaparecer. Atualmente, de modo muito mais adequado,
fala-se em convivência familiar” 127.
Maria Helena Diniz salienta que a guarda
“é um conjunto de relações jurídicas existentes entre o genitor e o filho menor,
decorrentes do fato de estar sob o seu poder e companhia, assumindo a
responsabilidade de sua criação, educação e vigilância, cabendo-lhe decidir
sobre a educação do menor, sua formação religiosa, competindo ao outro
genitor, que não a possui, o direito de visita e o de fiscalizar a criação do filho,
não tendo poder decisório” 128.
A lei define guarda unilateral (CC 1.583 § 1.º): é a atribuída a um só dos
genitores ou a alguém que o substitua. A guarda exclusiva a um dos genitores
decorre: do consenso de ambos (CC 1.584, I) ou quando um dos genitores
declarar ao juiz que não deseja a guarda compartilhada (CC 1.584 § 2.º).
Claramente a preferência é pela guarda compartilhada. E, encontrando-se
ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, é aplicada a guarda
compartilhada (CC 1.584 § 2.º).
Segundo Grisard Filho: O instituto da guarda compartilhada, como já se disse,
visa a “atenuar o impacto negativo que a ruptura conjugal tem sobre o
relacionamento entre pais e filhos” 129 .
A modalidade compartilhada de guarda deverá ser fixada nos termos dos
incisos do artigo 1.584 do Código Civil de 2002, podendo ser aplicada
inclusive nos casos em que não há acordo entre os genitores ou quando
redividirem em cidades diferentes.
Não só a doutrina como também a jurisprudência entendem que esta é a
melhor forma de proteger os interesses do menor, de modo a tornar a

127
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 14ª ed. Ed. Juspodivm, 2020.
128
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Direito de Família. 38 ed. Ed.
Saraiva, 2021.
129
Waldyr Grisard Filho. Guarda compartilhada. 5. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 132.

separação de seus genitores um evento menos gravoso para o menor


envolvido.
Conforme Baptista:
“A preferência do legislador por esta modalidade de guarda também pode ser
atribuída, portanto, à maior garantia do efetivo exercício do poder parental
pelos genitores. Como bem definido pela doutrina, os fundamentos da guarda
compartilhada são de ordem constitucional e psicológica, visando
130
basicamente garantir o interesse do menor” .
Com a aplicação desta forma de guarda, o genitor que não vive sob o mesmo
teto de seu descendente tem assegurado o livre exercício do poder familiar,
participando, assim, de maneira muito mais efetiva na vida de seu filho.
A sua verdadeira finalidade é possibilitar, aos pais que não mais convivem
com os seus filhos, a manutenção dos vínculos afetivos, mesmo após a
ruptura da relação conjugal.

GUARDA ALTERNADA
Tal modalidade de guarda não foi positivada em nossa legislação civil,
considerando-se a adoção do sistema dual pelo legislador, conforme possível
se extrair do artigo 1.583 do Código Civil de 2002.
Apesar de não encontrar respaldo na legislação brasileira, devemos citá-la
haja vista que é moderadamente adotada apenas em casos pontuais e, mais
importante, comumente confundida com a guarda compartilhada no Brasil.
Para entender a guarda alternada, podemos citar a definição trazida por
Waldyr Grisard Filho, que a entende da seguinte forma:
“A guarda alternada caracteriza-se pela possibilidade de cada um dos pais de
ter a guarda do filho alternadamente, segundo um ritmo de tempo que pode
ser um ano escolher, um mês, uma semana, uma parte da semana, ou uma

130
BAPTISTA, Silvio Neves. Guarda Compartilhada. Editora Edições Bagaço; 2011; pg. 35.

repartição organizada dia a dia e, consequentemente, durante esse período


de deter, de forma exclusiva, a totalidade dos poderes-deveres que integram
o poder paternal. No termo do período os papéis invertem-se”131 .
Consequentemente, esta modalidade propõe que o tempo da criança seja
igualmente dividido entre seus genitores, alternando-se entre a residência
paterna e a materna, em espaços de tempo pré-determinados, que poderiam
ser eleitos pelos genitores de acordo com sua vontade (quinzenal, mensal,
semestral ou anual).
Segundo Waldyr Grisard Filho:
“Desta maneira, apesar de a guarda não ser de apenas um o tempo todo,
também não é compartilhada entre os genitores, detendo apenas um deles,
em determinado tempo, a guarda total e unilateral do filho que se encontra
sob seu poder.Portanto, o genitor que detenha a guarda alternada é no
espaço de tempo em que a exerce titular integral do poder familiar e dos
direitos e deveres que o compõem. Existe assim, uma alternância na
titularidade da guarda”.132
Esta modalidade ainda contempla uma forma diferente para sua adoção, que,
visando amenizar a ansiedade da criança com a constante mudança entre as
residências de seus genitores, possibilita que as crianças continuem morando
sempre na mesma casa, mantendo assim a rotina com a qual estão
acostumadas.

GUARDA NIDAL
Na guarda nidal, que também não foi prevista em nosso ordenamento jurídico
mas vale a pena ser citada, a criança permanece no mesmo local onde residia
antes do divórcio dos pais, devendo estes se alternarem para com o filho estar.

131
Waldyr Grisard Filho. Guarda compartilhada. 5. ed. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 140.
132
Ibidem.

Uma das vantagens do estabelecimento dessa modalidade é que a criança não


precisará alterar entre as residências paterna e materna.
Segundo Alvarenga:
“É uma modalidade segundo a qual os filhos permanecem em casa fixa e quem
se muda para ela em determinados períodos são os pais. É um tipo raro,
devido a uma serie de inconvenientes, entre eles a necessidade de três
residências, ou seja, uma para os filhos que permanecem em residência fixa e
uma para cada um dos pais” 133.
Este modelo de guarda não possui previsão na legislação civil brasileira, mas é
reconhecida pela doutrina.

O direito à convivência familiar é reconhecido constitucionalmente (art. 227), e


assegurado, no plano infraconstitucional, pelo art. 19 do ECA.
Todos os filhos devem ser tratados de forma igual, sendo havidos no
casamento ou fora dele, ou adotados. A igualdade, aqui, é um princípio da
proteção da criança e do adolescente.
A igualdade de tratamento está prevista no art. 20 do ECA e tem por finalidade
evitar o que ocorria em épocas passadas ainda que recentes, em que o filho
havido fora do casamento era enjeitado, e comumente chamado de bastardo.
Como afirmam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, “ser filho de
alguém independe de vínculo conjugal válido, união estável, concubinato ou
mesmo relacionamento amoroso adulterino, devendo todos os filhos ser
tratados da mesma forma” 134.

133
ALVARENGA, Altair Resende de; CLARISMAR, Juliano. Sistemas de Guarda no Direito
Brasileiro. Revista do Curso de Direito do UFMG.
134
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil, 2ª ed,
Saraiva, 2018.

A positivação desse princípio é importante para lhe dar destaque. À luz de uma
Constituição que traz a isonomia como garantia fundamental (art. 5º, caput) e a
dignidade da pessoa humana como fundamento (art. 1º, III).
O Código Civil também trata da questão do poder familiar nos arts. 1630 e
1631.
Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “Do poder familiar
atribuído aos pais decorre deveres. Assim, na forma do disposto no art. 22 do
ECA, “aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais”.135
Tendo vista que o poder familiar não deixa de existir com o divórcio ou a
dissolução da união estável (Código Civil, art. 1632), os pais continuam
responsáveis pelo sustento e educação mesmo após o desfazimento do laço
matrimonial. Isso vale para qualquer dos pais que contrair novas núpcias ou
união estável (Código Civil, art. 1636).136

O conceito legal da Síndrome de Alienação Parental é disposto no art. 2.º da


Lei 12.318, de 2010, no qual é definido: “Considera-se ato de alienação
parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente
promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham
a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que
repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este”.
A Lei da Alienação Parental exemplifica alguns sintomas da síndrome:“Art. 2.º
[...] Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além

135
Ibidem
136
Ibidem

dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros: I – realizar campanha de
desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade; II – dificultar o exercício da autoridade parental; III – dificultar
contato de criança ou adolescente com genitor; IV – dificultar o exercício do
direito regulamentado de convivência familiar; V – omitir deliberadamente a
genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente,
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI – apresentar falsa
denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou
dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII – mudar o
domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência
da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com
avós”
Segundo Andréia Calçada:
“o genitor alienador é tido como um produto do sistema ilusório, onde todo seu
ver se orienta para a destruição da relação dos filhos com o outro genitor. Em
sua deturpada visão, o controle total dos seus filhos é uma questão de vida ou
morte. O genitor alienador não é capaz de individualizar, de reconhecer em
seus filhos seres humanos separados de si. Muitas vezes, é um sociopata, sem
consciência moral. É incapaz de ver a situação de outro ângulo que não o seu,
especialmente sob o ângulo dos filhos. Não distingue a diferença entre dizer a
verdade e mentir”.137
Para Maria Berenice Dias, “a Síndrome de Alienação Parental pode ser
chamada de implantação de falsas memórias, pois o alienador passa a incutir
no filho falsas ideias sobre o outro genitor, implantando por definitivo as falsas
memórias”.138

137
CALÇADA, Andréia. Falsas acusações de abuso sexual e a implantação de falsas
memórias. São Paulo: Equilíbrio, 2008.
138
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4. ed. São Paulo: RT, 2007.

Já de acordo com Douglas Philip Freitas:


“A Lei da Alienação Parental segue a linha adotada pela recente produção
jurídica familista, que é a do reconhecimento da inabilidade dos operadores
jurídicos em tratar todas as questões correlatas ao direito de família. Logo, a
presença e atuação da equipe multidisciplinar torna-se cada vez mais salutar e
imprescindível para a formação do convencimento do juiz e a resolução do
litígio”.139
A Lei da Alienação Parental é um dos maiores avanços jurídicos familistas
recentes, porém tem sido utilizada de forma indevida, por vezes, para
prejudicar genitores que não praticam a alienação.

ALIENAÇÃO PARENTAL BILATERAL


A prática da alienação parental, não raras vezes, é promovida por ambos os
genitores, ou por aqueles que exercem a função de guarda do menor.
Em situações dessa natureza, as soluções para resolução ou minoração dos
efeitos da alienação parental tornam-se virtualmente impossíveis.
Geralmente, crianças que sofrem alienação parental bilateral desenvolvem
transtornos psicológicos severíssimos.
A doutrinadora Lenita Pacheco Lemos Duarte assevera muito bem estas
consequências “admoesta a necessidade de terapia não só da criança, mas
também dos pais e dos demais envolvidos, como no caso por ela indicado,
havia o envolvimento e a prática alienatória, além do pai e da mãe, da avó”.140
Nesses casos, as ferramentas apresentadas pelo direito e a simples fixação de
períodos de convivência tornam-se inócuos, pois ambos os genitores praticam
a alienação parental. É necessário tratamento e mudança por parte de ambos
os genitores, em prol do filho.

139
FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010 4ª ed.
rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015.
140
DUARTE, Lenita Pacheco Lemos. A angústia das crianças diante dos desenlaces
parentais. Edição especial. Rio de Janeiro: Ed Lumen Juris, 2013.

Lei Ordinária 14.340/2022


A Lei 14.340/2022, aprovada em 18 de maio de 2022, alterou a Lei de
Alienação Parental para modificar procedimentos relativos à esta, bem como
alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente, para estabelecer
procedimentos adicionais para a suspensão do poder familiar.
Acerca dessas mudanças, como nos explica o Professor Conrado Paulino:
“A primeira delas diz respeito à execução das convivências familiares
assistidas, tão importantes em situações de risco, principalmente quando
existem denúncias de abuso sexual. Apesar da manutenção do termo
“visitação” no parágrafo único do artigo 4° da Lei, termo inadequado ao direito
contemporâneo, a alteração, em primeiro plano, passa a exigir que o ambiente
forense mantenha espaços adequados para que a convivência assistida possa
ser exercida. Trata-se, inclusive, de uma possibilidade em que, em um
ambiente normalmente impessoal e pouco acolhedor, possamos criar um
refúgio para que esse momento seja vivenciado de maneira mais humanizada.
Além disso, a modificação também qualifica a rede de proteção da criança.
Infelizmente, não eram raros os deferimentos de convivências assistidas sob
supervisão de algum integrante do outro núcleo familiar. Imaginemos, nessa
linha, alguém que esteja sendo acusado ou acusada de abusar sexualmente da
prole e, no tempo escasso de convívio, é fiscalizado(a) pelo acusador ou por
alguém de sua confiança. Essa opção acarretaria, invariavelmente, um
elemento de estresse e verdadeira deturpação do direito da criança. A partir de
agora, essa convivência ocorrerá em ambiente forense ou em entidades
conveniadas com a Justiça, sendo essa última uma ótima oportunidade de, fora
do espaço jurídico, termos uma inteiração mais adequada, com melhores
potencialidades de proteção à integridade emocional da criança.
Quanto às perícias psicológicas ou biopsicossociais, tão importantes para a
identificação da prática alienadora, a alteração legislativa reforça a nomeação
de peritos privados, na esteira do que prevê o artigo 465 do diploma processual

civil 2, quando da ausência ou insuficiência de serventuários responsáveis para


a realização do estudo, inserção realizada no novo § 4° do artigo 5° da Lei
12.318/2010. Além disso, os processos cujo laudo psicológico ou
biopsicossocial esteja pendente há mais de seis meses terão prazo de três
meses para a apresentação da avaliação requisitada, a partir da publicação da
alteração legislativa.
Outra alteração promovida foi a revogação do inciso VII do artigo 6º. da Lei
12.318/2010, que possibilitava ao juiz, em ação autônoma ou incidental,
suspender a autoridade parental.
Tendo como premissa a necessidade, fundamentada nos artigos 24 e 155 e
seguintes do ECA, do ajuizamento de ação própria para a suspensão ou a
destituição do poder familiar, a alteração apenas declara a impossibilidade de
que o pedido de suspensão seja realizado nos autos que versam sobre a
prática alienadora. Mesmo assim, em ação autônoma perante o Juizado da
Infância e da Juventude, nosso sentimento é o de que, apesar da revogação do
inciso em questão, nada impede que sua declaração tenha como premissa a
prática alienadora.
Outra questão foi a inserção do § 2° ao artigo 6° da Lei da Alienação Parental,
estabelecendo que, nas hipóteses de determinação de acompanhamento
psicológico ou biopsicossocial – medida que já estava prevista no inciso IV do
artigo em comento –, será necessária a submissão a “avaliações periódicas,
com a emissão, pelo menos, de um laudo inicial, que contenha a avaliação do
caso e o indicativo da metodologia a ser empregada, e de um laudo final, ao
término do acompanhamento”141.

141
ROSA, Conrado Paulino da. As mudanças na Lei 14.340/2022 e a superação das
mentiras sobre a alienação parental. Disponível em:
https://ibdfam.org.br/artigos/1815/As+mudan%C3%A7as+na+Lei+14.340+2022+e+a+supera%
C3%A7%C3%A3o+das+mentiras+sobre+a+aliena%C3%A7%C3%A3o+parental Acesso em:
29 abr. 2023.

No geral, a doutrina considerou que as alterações promovidas na Lei


12.318/2010 pela a Lei 14.340/2022 possibilitarão uma melhora na garantia
dos direitos daqueles a quem a Constituição Federal destina proteção
especial142.

Projeto de Lei 6.371/2019 (Pela Revogação da Lei da Alienação Parental)


A autora da proposta, deputada Iracema Portella (PP-PI), explica que muitos
especialistas e membros das comunidades jurídica e científica alegam que
essa lei tem servido, em grande medida, como instrumento para que pais que
abusaram sexualmente dos seus filhos possam exigir a manutenção da
convivência com estas crianças, inclusive as retirando da presença das
mães.143
Iracema Portella detalha ainda que a denúncia de abuso sexual vem, muitas
vezes, desacompanhada de vestígios físicos, especialmente quando as vítimas
são crianças ou adolescentes, visto que os abusadores costumam praticar atos
libidinosos com penetração de digital, manipulação das partes íntimas e sexo
oral, sendo estas práticas perversas de difícil comprovação judicial.
“Nem sempre, mediante perícia e outros meios, consegue-se extrair a prova
necessária do abuso praticado. O denunciante passa a ser considerado
alienante à vista de ter apresentado denúncia não comprovada contra o genitor
abusador (tida como falsa para obstar ou dificultar a convivência dele com a
criança ou adolescente) e este consegue a manutenção da convivência com o
filho menor, passando, por vezes, a repetir com o menor os mesmos abusos já
praticados”, lamenta a parlamentar.144

142
Idem.
143
Agência Câmara de Notícias. Projeto revoga a Lei de Alienação Parental. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/noticias/631131-projeto-revoga-a-lei-de-alienacao-parental/ Acesso
em: 29 abr. 2023.

144
Ibidem.

A CF, nos termos do artigo 225, § 1º, VII, dispõe sobre o direito animal ao tratar
do direito ao meio ambiente.
A Carta Magna dispõe que todos tem o direito de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, sendo este, um bem de uso comum do povo e
imprescindível à boa qualidade e saúde de vida.
São considerados seres sencientes os animais em geral, e em especial, os
animais de estimação.
O Tabelião Thomas Nosch Gonçalves destaca que
“o casamento tem deixado de ser apenas um instrumento de reprodução, a
família matrimonializada não existe mais. Então hoje existe toda uma situação
progressista no sentido de que a família feliz não é aquela que
necessariamente tem fins biológicos. A ideia é da felicidade como um todo, o
que inclui os animais de estimação”.145
Desta maneira, ele defende o estabelecimento de guarda de animais em
lavratura por escritura pública na dissolução da união estável ou do divórcio.
Segundo o Tabelião, “Existem dados afirmando que todos os anos crescem
esses arranjos de famílias multiespécie e das famílias substituindo eventuais
filhos biológicos ou adotivos.146
Em casos de divórcio o cônjuge estabelece vínculos com o animal e um
rompimento pode trazer um abalo tanto para a pessoa e para o pet.
Então, embora não tenhamos legislação específica sobre a guarda
compartilhada de animais de estimação, os nossos Tribunais caminham para
este entendimento, resguardando o direito dos animais e de seus donos.

145
Família multiespécie e a guarda de animais sencientes em divórcio extrajudicial é
tema de artigo do IBDFAM. Disponível em https://cnbmg.org.br/familia-multiespecie-e-a-
guarda-de-animais-sencientes-em-divorcio-extrajudicial-e-tema-de-artigo-do-ibdfam/ Acesso
em 29 abr. 2023.
146
Ibidem.

Constituição Federal – artigos 225, 227.


Código Civil – artigos 1.583 a 1.590, 1.596, 1.630 a 1638.
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) – artigos 19, 33.
Lei 12.318/2010 (Dispõe sobre a alienação parental).

PROCESSO
AgInt no CC 175997/ES AGRAVO INTERNO NO
CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2020/0299395-3
RELATOR(A)
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144)
ÓRGÃO JULGADOR
S2 - SEGUNDA SEÇÃO
DATA DO JULGAMENTO
27/10/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 05/11/2021
EMENTA
AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DIREITO CIVIL E
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO
ESTÁVEL, GUARDA DOS FILHOS E DIREITO DE VISITA.
1. Agravo interno interposto no curso do conflito de competência suscitado pelo
convivente (ora agravado) para definição do juízo competente
(Comarca de Guarapari - ES - ou Manhuaçu - MG) para processar e julgar as
demandas envolvendo o casal (declaração de união estável, guarda das filhas
e direito de visita).
2. As duas filhas do casal, nascidas em 2013 e 2015, estão

na guarda provisória do convivente na Cidade de Guarapari, desde o


rompimento da união estável.
3. Aplicação dos princípio do melhor interesse da criança, nos termos do art.
147, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), e da
Súmula 383/STJ ("A competência para processar e julgar as ações
conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do
detentor de sua guarda").
4. Competência fixada no juízo da Comarca de Guarapari, onde exercida
a guarda provisória das filhas pelo convivente. Precedentes da Segunda
Seção.
5. Rejeição da arguição de suspeição do Subprocurador-Geral da República
formulada pela agravante.
6. Manutenção da decisão monocrática agravada, com fixação da competência
no juízo da Comarca de Guarapari.
7. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

PROCESSO AgInt nos EDcl no REsp 1857050 / SP AGRAVO INTERNO


NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL
2020/0005882-0
RELATOR(A)
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
23/08/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 26/08/2021
EMENTA
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ESPECIAL.AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA

DETERMINAÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS EM FAVOR DO GENITOR


ALIMENTANTE. GUARDA COMPARTILHADA.
1. À luz do disposto no § 5º do artigo 1.583 do Código Civil incluído pela Lei
13.058/2014 ?, "a guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a
supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão,
qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações
e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações
que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a
educação de seus filhos".
2. Tal norma positivou a viabilidade da propositura de ação de exigir
contas de verba alimentar, cujo propósito não reside em apurar um saldo
devedor a ensejar eventual execução (dada a irrepetibilidade dos valores
pagos a esse título), mas sim o exercício do direito-dever ? daquele que não
detém a guarda ? de fiscalização da aplicação dos recursos destinados ao
menor, o que poderá dar azo, caso comprovada a má administração da pensão
alimentícia, a um pedido de alteração da guarda ou a um futuro processo para
suspensão ou extinção do poder familiar do ascendente guardião (REsp
1.911.030/PR, Relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
01.06.2021, pendente de publicação).
3. O manejo da citada ação ? que deve seguir o rito ordinário ?
reclama a existência de guarda unilateral que inviabilize (ou dificulte) a ciência
do alimentante sobre as reais necessidades materiais e imateriais do
alimentando e o exclusivo intento de proteção do bem estar do menor,
vedando-se "eventual acertamento de contas, perseguições ou picuinhas com
a(o) guardiã(ão)", bem como a "apuração de créditos ou a
preparação de revisional" (REsp 1.814.639/RS, Relator Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, Relator para Acórdão Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma,
julgado em 26.05.2020, DJe 09.06.2020).
4. Na hipótese dos autos, a guarda exercida pelos genitores é compartilhada,
tendo ambos, portanto, convivência cotidiana (habitual) com o menor.

Outrossim, na inicial, o autor não apontou nenhum fato indicativo de danos à


educação e à saúde física ou psicológica da criança ? que conta, atualmente,
com cinco anos de idade ?, mas apenas a recusa da mãe em matriculá-la em
escola de maior custo. Por outro lado, mostrou-se contrariado com as boas
condições da moradia da ré (que exerce a atividade profissional de terapeuta
ocupacional), a aquisição de veículo automotor, a utilização de roupas e
acessórios (supostamente de marcas luxuosas) e a realização de tratamentos
estéticos de beleza.
5. Nesse contexto, a pretensão formulada na inicial não se enquadra na
hipótese prevista no § 5º do artigo 1.583 do Código Civil, revelando-se,
portanto, manifesta a carência da ação de exigir contas, ante a inadequação da
via eleita.
6. Agravo interno não provido.

PROCESSO
REsp 1931097/SP
RECURSO ESPECIAL 2021/0100550-2
RELATOR(A)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
10/08/2021
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 16/08/2021
EMENTA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE GUARDA.
PREVENÇÃO. HABEAS CORPUS RECEBIDO COMO TUTELA PROVISÓRIA
ANTECEDENTE. DECISÃO PRECLUSA. INCIDENTE APTO A GERAR A
PREVENÇÃO.INCIDENTE PREVISTO NO ART. 71 DO RISTJ.

JULGAMENTO DE APELAÇÃO PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA.


AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA PARTE SOBRE A INCLUSÃO DO
PROCESSO EM PAUTA. INVIABILIZAÇÃO DE SUSTENTAÇÃO ORAL.
NULIDADE. JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO STJ. CONVALIDAÇÃO PELA
REPUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO QUE JULGOU A APELAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. NORMA COGENTE. VIOLAÇÃO AO CONTRADITÓRIO,
À AMPLA DEFESA E AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. FATO NOVO
POTENCIALMENTE RELEVANTE NOTICIADO NA PRIMEIRA
OPORTUNIDADE APÓS A REGULARIZAÇÃO DAS INTIMAÇÕES DA PARTE.
IMPOSSIBILIDADE DE EXAME DA QUESTÃO NO RECURSO ESPECIAL.
DETERMINAÇÃO DE ATIVIDADE INSTRUTÓRIA COMPLEMENTAR ANTES
DO REJULGAMENTO DA APELAÇÃO. POSSIBILIDADE. MEDIDA
COMPATÍVEL COM A NULIFICAÇÃO DO JULGAMENTO. SUPOSTA
MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DAS FILHAS ADOLESCENTES EM RESIDIR
COM A GENITORA. CIRCUNSTÂNCIA FÁTICA QUE DEVE SER
CONSIDERADA NO REJULGAMENTO DA APELAÇÃO. DISTANCIAMENTO
TEMPORAL DOS ESTUDOS PSICOSSOCIAIS QUE BASEARAM AS
DECISÕES DE MÉRITO. REALIZAÇÃO DE NOVO ESTUDO PSICOSSOCIAL.
NECESSIDADE.
1- Ação proposta em 04/12/2014. Recurso especial interposto em 19/12/2019 e
atribuído à Relatora em 20/05/2021.
2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se é nulo o acórdão que
julgou a apelação em virtude de o patrono de uma das partes não ter sido
intimado previamente da sessão de julgamento;
(ii) se, ausente o consenso entre os pais acerca da guarda, devem ser levadas
em consideração as manifestações de vontade externadas pelas filhas
adolescentes.
3- Recebido o habeas corpus anteriormente impetrado pela parte como
pedido de tutela de provisória antecedente, por se vislumbrar que a pretensão
era de atribuição de efeito suspensivo a recurso especial, em decisão

acobertada pela preclusão, descabe impugnar a distribuição do próprio recurso


especial por prevenção, pois o art. 71 do RISTJ dispõe que a prévia
distribuição de incidente torna preventa a competência do relator para todos os
feitos posteriores referentes ao mesmo processo.
4- É nulo o julgamento de recurso perante o Tribunal na hipótese em que uma
das partes, após regularizar a sua representação processual, não foi
previamente intimada da inclusão do processo em pauta e, em razão disso,
teve suprimido o seu direito de sustentar oralmente as razões recursais.
Precedentes de todas as Turmas do Superior Tribunal de Justiça.
5- O vício decorrente da ausência de intimação do patrono da parte para a
sessão de julgamento e, consequentemente, da inviabilização de sua
sustentação oral em hipótese prevista em lei não é mera formalidade
dispensável e não é suscetível de convalidação pela simples republicação do
acórdão com a correta intimação, mas, ao revés, é dever dos julgadores,
imposto de forma cogente a todos os Tribunais, em observância aos princípios
constitucionais do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal.
6- Se a parte, na primeira oportunidade que tiver de falar nos autos após a
regularização das suas intimações, alega a existência de fato novo
potencialmente relevante e apto a influenciar o julgamento da apelação,
consubstanciado na suposta e posterior manifestação de vontade das
adolescentes em residir com a genitora, é admissível que esta Corte,
além de nulificar o julgamento realizado sem a regular intimação da parte,
também determine a realização de atividade instrutória suplementar, a
fim de que seja apurada a existência do fato novo noticiado e a atual aptidão
dos pais para o exercício da guarda, sobretudo na hipótese em que as
decisões de mérito se basearam em estudos psicossociais realizados em
momento temporalmente distante do atual.
7- Recurso especial conhecido e provido, a fim de: (i) anular todos os atos
processuais após a juntada da procuração da recorrente; (ii) determinar que
seja realizada atividade instrutória complementar, realizando-se novo estudo

psicossocial para apurar a existência do alegado fato novo e a atual aptidão


dos pais para o exercício da guarda unilateral.
8- Prejudicado o exame dos recursos interpostos pelo recorrido na TP
2.507/SP, mantida a tutela provisória deferida até a conclusão do estudo
psicossocial e rejulgamento da apelação interposta.

REsp: 1713167 SP 2017/0239804-9


Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Órgão Julgador: T4 - QUARTA TURMA
Data de Julgamento: 19/06/2018
Data de Publicação: DJe 09/10/2018
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL.
ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. AQUISIÇÃO NA CONSTÂNCIA DO
RELACIONAMENTO. INTENSO AFETO DOS COMPANHEIROS PELO
ANIMAL. DIREITO DE VISITAS. POSSIBILIDADE, A DEPENDER DO CASO
CONCRETO. 1. Inicialmente, deve ser afastada qualquer alegação de que a
discussão envolvendo a entidade familiar e o seu animal de estimação é
menor, ou se trata de mera futilidade a ocupar o tempo desta Corte. Ao
contrário, é cada vez mais recorrente no mundo da pós-modernidade e
envolve questão bastante delicada, examinada tanto pelo ângulo da
afetividade em relação ao animal, como também pela necessidade de sua
preservação como mandamento constitucional (art. 225, § 1, inciso VII -
"proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade"). 2. O Código Civil, ao definir a
natureza jurídica dos animais, tipificou-os como coisas e, por conseguinte,
objetos de propriedade, não lhes atribuindo a qualidade de pessoas, não
sendo dotados de personalidade jurídica nem podendo ser considerados
sujeitos de direitos. Na forma da lei civil, o só fato de o animal ser tido como
de estimação, recebendo o afeto da entidade familiar, não pode vir a alterar

sua substância, a ponto de converter a sua natureza jurídica. 3. No entanto,


os animais de companhia possuem valor subjetivo único e peculiar, aflorando
sentimentos bastante íntimos em seus donos, totalmente diversos de
qualquer outro tipo de propriedade privada. Dessarte, o regramento jurídico
dos bens não se vem mostrando suficiente para resolver, de forma
satisfatória, a disputa familiar envolvendo os pets, visto que não se trata de
simples discussão atinente à posse e à propriedade. 4. Por sua vez, a guarda
propriamente dita - inerente ao poder familiar - instituto, por essência, de
direito de família, não pode ser simples e fielmente subvertida para definir o
direito dos consortes, por meio do enquadramento de seus animais de
estimação, notadamente porque é um munus exercido no interesse tanto dos
pais quanto do filho. Não se trata de uma faculdade, e sim de um direito, em
que se impõe aos pais a observância dos deveres inerentes ao poder familiar.
5. A ordem jurídica não pode, simplesmente, desprezar o relevo da relação do
homem com seu animal de estimação, sobretudo nos tempos atuais. Deve-se
ter como norte o fato, cultural e da pós-modernidade, de que há uma disputa
dentro da entidade familiar em que prepondera o afeto de ambos os cônjuges
pelo animal. Portanto, a solução deve perpassar pela preservação e garantia
dos direitos à pessoa humana, mais precisamente, o âmago de sua
dignidade. 6. Os animais de companhia são seres que, inevitavelmente,
possuem natureza especial e, como ser senciente - dotados de sensibilidade,
sentindo as mesmas dores e necessidades biopsicológicas dos animais
racionais -, também devem ter o seu bem-estar considerado. 7. Assim, na
dissolução da entidade familiar em que haja algum conflito em relação ao
animal de estimação, independentemente da qualificação jurídica a ser
adotada, a resolução deverá buscar atender, sempre a depender do caso em
concreto, aos fins sociais, atentando para a própria evolução da sociedade,
com a proteção do ser humano e do seu vínculo afetivo com o animal. 8. Na
hipótese, o Tribunal de origem reconheceu que a cadela fora adquirida na
constância da união estável e que estaria demonstrada a relação de afeto

entre o recorrente e o animal de estimação, reconhecendo o seu direito de


visitas ao animal, o que deve ser mantido. 9. Recurso especial não provido.

LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11ª ed. São Paulo. Saraiva, 2021

MADALENO, Rolf. Manual de direito de família. 4. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2022.

MALUF, Carlos Alberto Dabus. Curso de Direito de Família. Saraiva.2018.

MARZAGÃO, Silvia Felipe. XAVIER, Marília Pedroso. NEVARES, Ana Luiza


Maia. Coronavírus. Impactos no Direito de Família e das Sucessões, Ed.
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PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de Direito de Família e Sucessões.


São Paulo, Ed. Saraiva. 2018.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Divórcio. São Paulo, 5º Ed. Saraiva. 2016.

LISITA, Kelly Moreira Oliveira. Direito das Famílias e a Guarda de Pessoa


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PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Novas concepções para a guarda de filhos.


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ROSA, Conrado Paulino da. As mudanças na Lei 14.340/2022 e a


superação das mentiras sobre a alienação parental. Disponível em:
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+e+a+supera%C3%A7%C3%A3o+das+mentiras+sobre+a+aliena%C3%A7%C
3%A3o+parental Acesso em: 29 abr. 2023

FILIAÇÃO. FORMAS DE SEU RECONHECIMENTO. VOLUNTÁRIA E


COMPULSÓRIA. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. TUTELAS DE
PROTEÇÃO.

A filiação é o vínculo de parentesco que se estabelece entre pais e filhos,


sendo designada, do ponto de vista dos pais, como relação de paternidade e
maternidade.
O art. 227, § 6º, da nossa CF estabelece a absoluta igualdade de direitos entre
os filhos, desvinculando-os da situação conjugal dos pais, além de vedar
qualquer discriminação .
O nosso CC menciona em seu artigo 1.596, o princípio da igualdade da filiação,
ao prescrever terem todos os filhos, havidos ou não da relação de casamento,
ou por adoção, os mesmos direitos e qualificações.
Para Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochardo Teixeira:
“A atribuição do status de filho pode se dar de diversas maneiras: a) por meio
do estabelecimento de presunções; b) mediante reconhecimento voluntário; c)
mediante reconhecimento judicial, que ocorre por meio das ações de estado.
Nesse contexto, faz-se necessário seu estudo, além de aprofundar em cada
uma das formas de reconhecimento, voluntário ou judicial, o que passa pela
análise das filiações presumida, biológica e socioafetiva”.147
A paternidade decorrente de relação matrimonial se prova pela simples
demonstração do estado de casado. Prevalece aqui a presunção de
paternidade do marido.

147
TEPEDINO, Gustavo. TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo . Fundamentos do direito civil:
direito de família. – 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2022.

Filiação Jurídica
A filiação jurídica pode ser natural ou por outra origem, como a adoção,
reprodução assistida heteróloga ou socioafetiva, conforme o nosso CC, no
art. 1.593, ao dispor que o parentesco civil ocorre por outra origem e não
apenas pela adoção.
A filiação natural ou biológica tem origem na consanguinidade,
estabelecendo-se a filiação pelos laços de sangue entre pais e filhos.
Conforme o Prof. Vitor Frederico Kümpel:
“Em regra, portanto a mãe é aquela que gesta e dá a luz a criança, na medida
em que os fenômenos da fecundação, gestação e parto tendem a nadar juntos.
No entanto, o registrador não preside o parto, motivo pelo qual, a priori, não
sabe, de antemão, quem de fato deu a luz à criança. É justamente por isso que
a Declaração de Nascido Vivo adquire especial importância na determinação
da maternidade: sendo o documento lavrado na ocasião do nascimento, por
quem o presenciou, tem por efeito provar o fato do nascimento, mas também
atribuir determinado nascido vivo à respectiva parturiente, presumidamente
mãe da criança. Portanto é por meio da Declaração de Nascido Vivo que o
registrador civil qualifica a maternidade do registrando” 148.
O art. 1.597 estabelece os casos de presunção de paternidade dos filhos
concebidos na constância do casamento. Assim, o CC prevê dois critérios: um
temporal e o outro decorrente do biodireito.
O critério temporal estabeleceu o período mínimo de gravidez de 180 dias e o
período máximo de gestação de 300 dias.

148
KÜMPEL, Vitor Frederico et al. Tratado Notarial e Registral Vol. II, 1ª edição. São Paulo:
YK editora, 2017, p.584.

O segundo critério para a determinação da presunção pater is remete ao


biodireito, tem em vista as inovações tecnológicas que permitem a reprodução
assistida.
Conforme Carlos Alberto Dabus Maluf:
“Com base no art. 1.597, inciso III, presumem-se concebidos na constância do
casamento os filhos havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que
falecido o marido. Já o inciso IV prevê que os filhos havidos, a qualquer tempo,
quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção
artificial homóloga e no inciso V os filhos havidos por inseminação artificial
heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido”.149
A legislação civil tentou acompanhar a evolução da medicina genética e
regula parcialmente a reprodução assistida homóloga, que também configura
filiação biológica e a heteróloga, uma das espécies de filiação por outra
origem.
De acordo com Paulo Lôbo:
“a paternidade biológica presume o estado de filiação, dessa forma a
investigação da origem biológica é essencial para a atribuição da paternidade
ou maternidade. Entretanto, nos casos em que o estado de filiação não-
biológica já está devidamente comprovado que foi constituído na convivência
familiar duradoura, a origem biológica não prevalecerá, pois esta não se pode
contrapor ao estado de filiação já consolidado (art. 227, CF/88)”150.

A reprodução assistida e a filiação


O art. 1.597 do CC menciona acerca da fecundação artificial homóloga e
heteróloga e inclusive realizada após a morte do doador.
Segundo Carlos Alberto Dabus Maluf:

149
MALUF, Carlos Alberto Dabus et al. Curso de Direito de Família, 4ª edição, Ed. Saraiva,
São Paulo, 2021.
150
LÔBO, Paulo Luiz Neto. Direito Civil: Famílias. 11ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2021.

“Na fecundação homóloga considera-se por presunção filho do marido, mesmo


após a sua morte, com o congelamento de seu sêmen. (incisos III e IV do
referido artigo) e na fecundação heteróloga, presume-se a filiação do marido,
em razão de seu consentimento prévio (inciso V do art. 1.597 do CC). (...)
O art. 1.597, em seu art. IV do CC prevê a presunção de paternidade do filho
nascido a qualquer tempo, no caso de embriões excedentários de inseminação
artificial homóloga. Cumpre ressaltar, que há conflito entre o artigo e a Lei
11.105/2005, eis que menciona o prazo de 03 anos para a utilização do referido
embrião”151.
A Lei 11.105/2005 menciona no seu art. 5º sobre os destinos dos embriões não
implantados.
De outra parte, de acordo com o art. 1.799 I, do CC, podem ainda ser
chamados a suceder os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas
pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão.
Para Carlos Alberto Dabus Maluf:
“Em face dos princípios constitucionais que regem a igualdade dos filhos e do
direito ao planejamento familiar, entendemos que fere a Carta Magna impor ao
filho gerado pela reprodução artificial post mortem o direito único à sucessão
testamentária” 152.
Outra questão muito debatida é a necessidade da declaração de vontade do
doador na utilização do material genético após a sua morte.
O consentimento das partes é fundamental, pois a reprodução é um direito
personalíssimo.
Já com relação ao estado da mulher ao se submeter a reprodução assistida
com relação ao material genético do falecido, o enunciado 106 do CJF
estabeleceu:

151
MALUF, Carlos Alberto Dabus et al. Curso de Direito de Família, 3ª edição, Ed. Saraiva,
São Paulo, 2018.
152
MALUF, Carlos Alberto Dabus et al. Curso de Direito de Família, 4ª edição, Ed. Saraiva,
São Paulo, 2021.

“Para que seja presumida a paternidade do marido falecido, será obrigatório


que a mulher, ao se submeter a uma das técnicas de reprodução assistida com
o material genético do falecido, esteja na condição de viúva, sendo obrigatória,
ainda, a autorização escrita do marido para que se utilize seu material genético
após sua morte”. 153
Cumpre ressaltar, que a Resolução CFM nº 2.168/2017 garante o anonimato
do doador de gametas ou embriões, não havendo relação parental entre o
doador e o filho gerado.
Conforme Mariana Chaves: “O Brasil, entretanto, vem deixando a regulação da
matéria da procriação medicamente assistida (PMA) a cargo da deontologia
médica. Não parece ser a decisão mais acertada”. Assim, é necessário que
seja criada legislação adequada a regular a reprodução assistida, visando
resguardar a liberdade, a dignidade da pessoa humana e a pluralidade familiar.
Filiação Socioafetiva
Para Dimas Messias de Carvalho:
“A socioafetividade como espécie da filiação, caracterizada pela convivência,
afetividade e pela estabilidade nas relações familiares é cada vez mais
marcante na evolução do direito de família, considerando a doutrina que a
verdade real é o fato de o filho gozar da posse do estado de filho, que prova o
vínculo parental civil de outra origem, atribuindo um papel secundário à
verdade biológica” 154.
A nova tendência da família moderna é a formação baseada na afetividade,
esta origina-se na convivência e reciprocidade de sentimentos.
Paulo Lôbo afirma que:
“O afeto não é fruto da biologia. Os laços de afeto e de solidariedade derivam
da convivência familiar e não do sangue. A história do direito à filiação
confunde-se com o destino do patrimônio familiar, visceralmente ligado à

153
Enunciado 106 do Centro de Estudos Judiciários do Conselho de Justiça Federal.
154
CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das Famílias. 8º ed.Saraiva, 2020.

consanguinidade legítima. Por isso, é a história da lenta emancipação dos


filhos, da redução progressiva das desigualdades e do quantum despótico, na
medida da redução da patrimonialização dessas relações” 155.
Atualmente não é possível pensar na família sem a presença do afeto, que
impulsiona as relações familiares desenvolvidas no cuidado, carinho, proteção
e respeito, permitindo que o ser humano se torne mais solidário.
Conforme Paulo Lôbo:
“Toda paternidade é necessariamente socioafetiva, podendo ter origem
biológica ou não; ou seja, a paternidade socioafetiva é gênero do qual são
espécies a paternidade biológica e a não-biológica. Tradicionalmente, a
situação comum é a presunção legal de que a criança nascida biologicamente
dos pais que vivem unidos em casamento adquire o status jurídico de filho.
Paternidade biológica aí seria igual a paternidade socioafetiva. Mas há outras
hipóteses de paternidade que não derivam do fato biológico, quando este é
sobrepujado por outros valores que o Direito considera predominantes” 156.
A paternidade socioafetiva deriva do vínculo decorrente da relação socioafetiva
verificada entre pais e filhos, ou entre o filho e somente um deles, que dispõe
como fundamento o afeto, o sentimento presente entre eles.

Reconhecimento Voluntário ou Compulsório


O reconhecimento da paternidade no Direito brasileiro é voluntário ou
compulsório, operando-se o modo espontâneo pelas formas expostas pelo
artigo 1.609 do Código Civil de 2002.
Segundo Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochardo Teixeira:

155
LÔBO. Paulo Luiz Neto . Direito Civil: Famílias. 11ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2021.
156
Ibidem.

“Como prescreve o artigo 1.607 do Código Civil, os filhos havidos fora do


casamento devem ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente,
mas, para que o assento de nascimento contenha a identificação do pai e da
mãe, devem promover o registro em conjunto ou separadamente, podendo ser
feito esse reconhecimento comparecendo diretamente no registro do
nascimento (CC, art. 1.609, inc. I); por escritura pública ou escrito particular,
que fica arquivado em cartório (CC, art. 1.609, inc. II); por testamento, ainda
que incidentalmente manifestado (CC, art. 1.609, inc. III); e por manifestação
direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o
objeto único e principal do ato que o contém (CC, art. 1.609, inc. IV)”157.
Assim, o reconhecimento do filho pode ser feito a qualquer tempo, mesmo
antes do seu nascimento, durante a vida deste ou até depois de sua morte,
com as ressalvas do parágrafo único do artigo 1.609 do Código Civil.
É condição legal para o reconhecimento de filho maior de idade o
consentimento deste para a perfilhação.
A escritura pública ou escrito particular também é forma de reconhecimento
que pode ser feita diretamente pelo pai ou por meio de procurador, constituído
por poderes especiais.
A Lei 8.560/1992 introduziu no Brasil a averiguação oficiosa da paternidade e
conferiu legitimidade processual ativa ao Ministério Público para proposição da
ação de investigação de paternidade.
Para Gustavo Tepedino e Ana Carolina Brochardo Teixeira:
“A ação de investigação de paternidade é promovida em nome da instituição do
Ministério Público, atuando no polo ativo da relação jurídico-processual, e não
como mero representante do incapaz, como substituto processual, a tanto
autorizado pelo § 4º do artigo 2º da Lei 8.560/1992,82 nada impedindo a quem
tenha legítimo interesse, como no caso da genitora do menor, de também

157
TEPEDINO, Gustavo. TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo . Fundamentos do direito civil:
direito de família. – 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2022.

intentar a investigação com o objetivo de obter o reconhecimento da


paternidade (art. 2º, § 5º, da Lei 8.560/1992)”.158
O reconhecimento forçado ou judicial decorre de uma sentença que é resultado
de uma ação de investigação de paternidade, esta declara que o autor é filho
do investigado, estando obrigado às imposições legais.
A legitimidade ativa é do filho enquanto viver, posto que a ação é imprescritível,
passando aos herdeiros, se morrer menor ou incapaz.
Ajuizada a ação pelo filho, os herdeiros podem continuá-la, se o investigante
falecer no curso da lide, nos termos do art. 1606 do CC.
O reconhecimento no registro de nascimento, na forma do inciso I, do art.1.609
do Código Civil é modo mais comum.
Nas palavras de Caio Mário:
“O reconhecimento por escritura pública ou documento particular (inciso II do
art. 1.609) pode ser realizado pelo pai diretamente, ou por procurador investido
de poderes especiais e expressos. A Lei facilita a concessão do “status” ao
filho, sem a necessidade da efetivação de ato formal, ao autorizar o
reconhecimento através de escrito particular a ser arquivado em Cartório. Este,
no entanto, deve conter os mesmos requisitos reclamados para a escritura
pública, trazendo a qualificação do declarante, do filho, ou seja, é indispensável
que seja possível aquilatar que se busca estabelecer afiliação. A perfilhação
deve ser o objeto específico do escrito, a fim de se manter a segurança e
estabilidade. Admiti-la de modo incidente ou acessório, como se dá com a
escritura pública, é ensejar manobras”159 .
Vale dizer que o reconhecimento de filho, em testamento, é irrevogável, ainda
que o testamento venha a ser revogado posteriormente. Em qualquer hipótese,
o reconhecimento da filiação prevalecerá.

158
Ibidem.
159
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Volume V: Forense, 2020.

Em 14 de agosto de 2019, a Corregedoria Geral de Justiça do CNJ editou o


Provimento n. 83/2019, que altera o anterior Provimento n. 63/2017, em
especial quanto ao tratamento do reconhecimento extrajudicial da
parentalidade socioafetiva.
Trata-se de uma das principais modificações, pois a regra anterior não limitava
o reconhecimento extrajudicial quanto ao critério etário, atingindo agora apenas
os adolescentes, assim definidos pelo art. 1º da Lei n. 8.069/1990 como as
pessoas com idade entre 12 e 18 anos, e adultos.

O art. 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que: “O


reconhecimento de estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e
imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem
qualquer restrição, observado o segredo de justiça”.
Assim, o dispositivo é informado pela Constituição Federal que, tendo como
fundamento da República a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), e molda
toda a disciplina da filiação ao interesse maior da criança.
A tudo isso se somam os avanços científicos em matéria de genética,
descoberta da metodologia de impressões digitais de DNA que permitem
determinar a paternidade com confiabilidade absoluta.
Para a doutrina:
“ O fato é que, sob a ótica da Constituição, as ações de estado, expressão
processual dos direitos da personalidade, são imprescritíveis. A pessoa poderá,
a qualquer tempo, ajuizar ação de impugnação da paternidade, de molde a
cancelar a presunção legal e, mediante a ação de investigação de paternidade
– que poderá ser cumulada à ação negatória – determinar o vínculo biológico
de filiação. Acrescente-se a tal construção a tendência do próprio ordenamento
pré-constitucional à ampliação da verdade real em tema de filiação. Com efeito,

já anteriormente à Constituição de 1988, a Lei 7.250/1984 admitiu o


reconhecimento do filho havido fora do matrimônio pelo cônjuge separado de
fato há mais de cinco anos, contribuindo para atenuar a presunção pater is est,
processo evolutivo que se consolidaria com a igualdade constitucional dos
filhos. No que concerne às causas justificadoras da negação de paternidade,
não há mais nenhuma limitação a seu respeito, de modo que é amplo o rol
probatório a ser utilizado”.160
O Código Civil manteve apenas uma das restrições acima referidas, a que diz
respeito à legitimidade processual que, segundo o art. 1.601, cabe ao marido.
No que concerne ao prazo, também o art. 1.601 prevê que a contestação da
presunção de paternidade é imprescritível, o que acompanha o entendimento já
esboçado, vez que se trata de ação de estado.
Fato é que:
“Existem algumas restrições previstas nos arts. 1.599, 1.600 e 1.602. Somente
a impotência para gerar, à época da concepção, pode afastar a presunção de
paternidade (CC, art. 1.599). Esta restrição se justifica na medida em que a
presunção atinge também aqueles que sofram de impotência coeundi, mas que
utilizem técnicas de reprodução assistida (CC, art. 1.597, III e IV). Cabe,
porém, observar que mesmo a impotência generandi não poderá ser alegada
se se tratar de presunção decorrente de fecundação assistida heteróloga (CC,
art. 1.597, V). Além disso, nem o adultério da mulher, nem a sua confissão
podem, só por si, ilidir a presunção de paternidade (CC, arts. 1.600, 1.602).
Contudo, poderão integrar o acervo probatório na contestação da paternidade
presumida”.161

160
TEPEDINO, Gustavo. TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo . Fundamentos do direito civil:
direito de família. – 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2022.
161
DIAS. Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 15 ed. Ed. Juspodivm, 2021.

Conforme o critério biológico, pai é quem contribui com o material genético.


Nas palavras de Maria Berenice Dias, “para a Biologia, pai sempre foi
unicamente quem, por meio de uma relação sexual, fecunda uma mulher que,
levando a gestação a termo, dá à luz um filho”.162
Afirma ainda Maria Berenice Dias que “as transformações mais recentes por
que passou a família, deixando de ser unidade de caráter econômico, social e
religioso para se aprofundar fundamentalmente como grupo de afetividade e
companheirismo, imprimiram considerável reforço ao esvaziamento biológico
da paternidade”.163
A pretensão quanto ao reconhecimento da partenidade / maternidade será
deduzido por meio de um processo de conhecimento em que o juiz, irá
declarar a existência (ou inexistência) da relação jurídica.
Temos inúmeras decisões que afirmam a impossibilidade de que o pai, sabedor
da ausência de vínculo genético quando do registro, posteriormente intente
demanda declaratória negativa quanto à relação filial.
Ocorre, porém, que muitas vezes o pai, autor da demanda, traz em sua causa
de pedir circunstância diversa. Se não aduz hipótese que ensejaria a
revogação vedada em lei, deve ser-lhe permitido o trâmite da ação. Como bem
pondera Rolf Madaleno.164
Rolf Madaleno ainda esclarece:
“[a] impugnação da paternidade precisará ser mais bem construída na evolução
do Direito de Família e ser sustentada só em fatores capazes de justificar
ponderadamente a exclusão do estado de filiação socioafetiva, usualmente
porque o pai registral acreditava se tratar de seu filho biológico e, portanto, fora

162
Idem.
163
Idem.
164
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família – 4. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.

induzido a erro, e, ademais, sempre teve escasso contato pessoal com o filho
meramente registral, como nesse sentido já vêm demonstrando os pretórios
brasileiros, ao negarem a desconstituição do registro civil apenas pela
inexistência de origem biológica na filiação quando presentes sólidos laços de
convivência e afetividade”.165
Quanto ao vínculo biológico, a evolução tecnológica da medicina, com o
aperfeiçoamento do exame de DNA, facilitou sobremaneira o exame do liame
genético entre as partes.
Como bem pondera Paulo Lôbo,
“o objeto da tutela do direito ao conhecimento da origem genética é assegurar
o direito da personalidade, na espécie direito à vida, pois os dados da ciência
atual apontam para a necessidade de cada indivíduo saber a história de saúde
de seus parentes biológicos próximos para prevenção da própria vida”.166
Nos termos do art. 1.597, I a V, do Código Civil, a paternidade jurídica é
imposta por presunção.
O Código Civil de 2002, dispõe nos arts. 231 e 232, que: “a) quem se nega a se
submeter a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa;
b) a recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se
pretendia obter com o exame”.
O STJ aprovou o Enunciado n. 301 de sua Súmula: “em ação investigatória, a
recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris
tantum de paternidade.
Assim, caso o réu se recuse a efetuar o exame , há de se aplicar o Enunciado
n. 301 da Súmula do STJ, de forma que recai para si o ônus da prova e a
presunção de veracidade dos fatos alegados na peça exordial; “uma vez não

165
Ibidem
166
LOBO, Paulo Luiz Netto. Saraiva, Direito Civil. Famílias. 2021.

provado o vínculo biológico e nem o afetivo, a procedência do pedido é medida


que se impõe.167

Constituição Federal – artigos 225, 227.


Código Civil – artigos 1.593 a 1629.
ECA (Lei 8069/90) – art. 19, 26, 27, 48, 50, 197.
Lei 13.509/2017
Lei 12.127/2009
Resolução 289/2019 do CNJ

PROCESSO
AgInt no AREsp 1908062 / MS
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2021/0166517-3
RELATOR
Ministro MARCO BUZZI (1149)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
25/04/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 29/04/2022

167
Súmula n 302 do STJ. Disponível emm:
https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-
2011_23_capSumula301.pdf Acesso em: 29 abr. 2023

EMENTA
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL ? AÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE C/C FIXAÇÃO DE ALIMENTOS ?
DECISÃO DA PRESIDÊNCIA DESTA CORTE QUE NÃO CONHECEU DO
RECLAMO. INSURGÊNCIA RECURSAL DO REQUERIDO.
1. A parte agravante refutou, nas razões do agravo em recurso especial, a
aplicação da Súmula 83/STJ, não incidindo, portanto, o óbice da Súmula
182/STJ. Provimento do agravo interno e análise, de plano, do agravo em
recurso especial.
2. As questões postas à discussão foram dirimidas pelo órgão
julgador de forma suficientemente ampla, fundamentada e sem omissões,
portanto, deve ser afastada a alegada violação aos artigos 489 e 1.022 do
CPC/15. Precedentes.
3. O acórdão recorrido está em harmonia com a orientação desta Corte no
sentido de que a recusa injustificada da parte de se submeter ao
exame de DNA induz presunção relativa de paternidade, nos termos da Súmula
301/STJ.
4. Restou assentado pela Corte local a premissa de que o ora recorrente
adotou comportamento desidioso, com reiteradas recusas em proceder à
realização do exame de DNA, o que gerou presunção de paternidade. Derruir
tal constatação demandaria reexame de matéria fático-probatória, providência
vedada na presente instância recursal, nos termos da Súmula 7/STJ.
5. Agravo interno provido para reconsiderar a decisão da Presidência de fls.
372-374, e-STJ. Agravo em recurso especial desprovido.

PROCESSO
AgInt no AREsp 1792208 / BA
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0306360-8
RELATOR

Ministro MOURA RIBEIRO (1156)


ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
14/03/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 18/03/2022
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. RECUSA IMOTIVADA NA REALIZAÇÃO
DO TESTE DE DNA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO
VERIFICADA. CERCEAMENTO DE DEFESA PELA NÃO
PRODUÇÃO DE PROVA ORAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 283 DO STF.
PRETENSÃO RECURSAL QUE ENVOLVE O REEXAME DE PROVAS.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA.
AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Aplica-se o NCPC a este julgamento ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos
recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões
publicadas a partir de 18 de março de 2016)serão exigidos os
requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC.
2. Não há como acolher a alegação de ofensa ao art. 1.022 do NCPC quando o
órgão julgador examina expressa e adequadamente os temas em relação aos
quais a parte alegou omissão de julgamento.
3. A alegação de cerceamento de defesa pela não realização de prova oral foi
refutada pelo Tribunal estadual com base em argumentos não impugnados nas
razões do recurso especial, o que atrai a incidência da Súmula nº 283 do STF.

4. A alteração das conclusões do acórdão recorrido no tocante a aplicação da


presunção juris tantum de paternidade exigiria reapreciação do acervo fático-
probatório da demanda, o que não admite a Súmula nº 7 do STJ.
5. Não se pode conhecer o recurso especial pela alínea c do permissivo
constitucional, quando ausente similitude fática entre os acórdãos
confrontados.
6. Agravo interno não provido.

PROCESSO
REsp 1867308/MT RECURSO ESPECIAL
2020/0065503-9
RELATOR
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (1147)
ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
03/05/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 11/05/2022
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. PROCESSUAL CIVIL.
AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. LEGITIMIDADE. GENITOR.
INTRANSMISSIBILIDADE. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL.
IMPOSSIBILIDADE. VONTADE. AUSÊNCIA DE ERRO. SOCIOAFETIVIDADE.
ART. 1.593 DO CÓDIGO CIVIL. CONFIGURAÇÃO. EXAME DE DNA POST
MORTEM. FILIAÇÃO. INALTERABILIDADE. DIREITO INTRANSMISSÍVEL.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. A socioafetividade é contemplada pelo art. 1.593 do Código Civil, no
sentido de que "o parentesco é natural ou civil, conforme resulte da

consanguinidade ou outra origem".


3. A autora não se desincumbiu do ônus de afastar a inequívoca vontade do
falecido em registrar filho como seu, bem como descaracterizar a filiação
socioafetiva, demonstrada nos autos em virtude do tratamento conferido ao
menor e o conhecimento público dessa condição.
4. A paternidade socioafetiva realiza a própria dignidade da pessoa humana
por permitir que um indivíduo tenha reconhecido seu histórico de vida e a
condição social ostentada, valorizando, além dos aspectos formais, como a
regular adoção, a verdade real dos fatos.
5. A posse de estado de filho, que consiste no desfrute público e contínuo da
condição de filho, restou atestada pelo juízo primevo, cuja sentença merece ser
restabelecida.
6. O falecido não realizou em vida exame de DNA que pudesse contestar a
relação filial socioafetiva que perdurou por três anos, até o advento de sua
morte.
7. A legitimidade ordinária ativa da ação negatória de paternidade compete
exclusivamente ao pai registral por ser ação de estado, que protege direito
personalíssimo e indisponível do genitor (art. 27 do ECA), não comportando
sub-rogação dos avós, porquanto direito intransmissível.
8. Eventual reconhecimento de paternidade biológica em nada altera a
realidade socioafetiva ex ante em virtude do instituto da multiparentalidade.
9. Recurso especial provido.

PROCESSO
AgInt no AgInt no AREsp 1939961 / SC
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL
2021/0244236-7
RELATOR
Ministro MOURA RIBEIRO (1156)

ÓRGÃO JULGADOR
T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
25/04/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 28/04/2022
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL.
RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO NEGATÓRIA DE
PATERNIDADE C/C ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. REVISÃO.
PRETENSÃO RECURSAL QUE ENVOLVE O REEXAME DE PROVAS.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7 DO STJ.
AUSÊNCIA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO. PRECEDENTES. SÚMULA Nº
83 DO STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Aplica-se o NCPC a este julgamento ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos
recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões
publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os
requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC.
2. A alteração das conclusões do acórdão recorrido exige reapreciação do
acervo fático-probatório da demanda, o que faz incidir o óbice da Súmula nº 7
do STJ.
3. Nos termos da jurisprudência desta Corte, não é possível a desconstituição
do registro civil de nascimento quando o reconhecimento da paternidade foi
efetuado sem nenhum tipo de vício que comprometesse a vontade do
declarante. Precedentes da Terceira Turma. Precedentes. Incidência da
Súmula nº 83 do STJ.
4. Agravo interno não provido.

LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11ª ed. São Paulo. Saraiva, 2021
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família. 4. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2022.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias. Forense, 2021.

DIAS, Maria Berenice. Investigação de Paternidade e a Questão da Prova.


Disponível em:
https://ibdfam.org.br/artigos/23/Investiga%C3%A7%C3%A3o+de+paternidade+
e+a+quest%C3%A3o+da+prova. Acesso em 29 abr. 2023

MOLD, Cristian Fetter. A nova lei de investigação de paternidade em


parentes consanguíneos do suposto pai e o custeio da prova pericial
https://ibdfam.org.br/artigos/1680/A+nova+lei+de+investiga%C3%A7%C3%A3o
+de+paternidade+em+parentes+consangu%C3%ADneos+do+suposto+pai+e+
o+custeio+da+prova+pericial. Acesso em 29 abr. 2023

- PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Famílias Ectogenéticas e o Contrato de


geração de filhos.
https://www.conjur.com.br/2018-ago-19/processo-familiar-familias-
ectogeneticas-contrato-geracao-filhos. Acesso em 29 abr. 2023

SCAGLIONI, Verônica Betim. Filiação no ordenamento Jurídico brasileiro.


https://www.migalhas.com.br/depeso/279517/filiacao-no-ordenamento-juridico-
brasileiro. Acesso em 29 abr. 2023.

ASPECTOS TRIBUTÁRIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES.


TRIBUTAÇÃO NA PARTILHA. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO.

O Direito de Família e Sucessões possui vários pontos de ligação com o


Direito Tributário. Diante das situações do dia a dia do âmbito familiar
ocorrerão diversas possibilidades de incidências, o que justifica a conexão
entre as áreas.
De outra parte, o planejamento tributário se mostra necessário, visando evitar
riscos e de forma a preservar o patrimônio da família.
Dentro desta análise, busca-se a maior economia tributária possível, bem como
a adoção de estratégias, levando em conta o regime de bens entre os
cônjuges, a partilha do patrimônio e a quantidade de herdeiros.

ITCD
Segundo o art. 155, I, da CF/88, compete aos Estados-membros e ao Distrito
Federal instituir imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de
quaisquer bens ou direitos.
Embora o imposto deva ser instituído pela lei ordinária de cada ente tributante,
a Constituição estabelece que a lei complementar trace normas gerais a serem
observadas por todos eles.
Para Hugo de Brito Machado Segundo:
“Realmente, após a CF/88, as transmissões onerosas e entre vivos de bens
imóveis passaram à competência dos Municípios, que as tributam com o ITBI.
Aos Estados foram reservadas apenas as transmissões decorrentes da morte
(p. ex., decorrentes de herança) e as doações. Os arts. 35 e seguintes do CTN,

portanto, devem ser vistos com esse cuidado, e aplicam-se, dentro do possível,
tanto ao ITBI como ao ITCD”.168
Os fatos que podem ser colhidos como “geradores” do dever de pagar o ITCD,
pelas leis estaduais,que são as transmissões de quaisquer bens e direitos
(móveis ou imóveis), desde que decorrentes de doação ou morte.
Assim, caso a transmissão decorra da morte (causa mortis), incidirá o ITCD,
independentemente de serem os bens móveis ou imóveis.
Hugo de Brito Machado Segundo explica:
“As transmissões inter vivos e onerosas de bens e direitos não estão
abrangidas no âmbito de incidência do ITCD. Submetem-se ao ITBI, caso
digam respeito a bens imóveis (CF/88, art. 156, II), ou ao ICMS, caso se trate
de coisa móvel destinada ao comércio (CF/88, art. 155, II). Na hipótese de
transmissão de coisa móvel não destinada ao comércio (p. ex., venda eventual
de um relógio entre dois “particulares” não comerciantes), não há incidência de
nenhum desses impostos”.169
O fato gerador do ITCD é a transmissão, vale dizer, a mudança na propriedade
do bem ou do direito.
Para Eduardo Sabbag:
“No caso da herança, ou do legado, essa transmissão ocorre no momento da
morte do de cujus. Não importa se o imposto só vem a ser formalizado e
exigido algum tempo depois. Isso é relevante para determinar a legislação
aplicável, pois pode ocorrer de o sujeito morrer e a alíquota do imposto ser
alterada posteriormente. Nesse caso, o imposto será devido pela alíquota
vigente na ocasião da morte, e não pela alíquota posteriormente alterada”.170

168
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário 12. ed. – Barueri [SP]:
Atlas, 2022.
169
Ibidem.
170
SABBAG, Eduardo. Direito Tributário Essencial. 8. ed. – Rio de Janeiro: Forense;
MÉTODO, 2021.

Relativamente à transmissão de imóveis e dos direitos a eles relativos, o ITCD


é devido ao ente tributante (Estado ou Distrito Federal) onde estiver localizado
o bem.
A base de cálculo será o valor venal dos bens transferidos. Isso significa que o
imposto será calculado mediante a aplicação de um percentual sobre o valor
dos bens transferidos.
Eduardo Sabbag ainda explica:
“As alíquotas, mesmo naqueles Estados em que as adotam de forma
progressiva, são baixas (média de 4%), se comparadas às de outros países do
mundo (média de 20%), e, pior que isso, começam a incidir a partir de bases
também muito baixas, muitas vezes considerando, para o efeito de aplicação
de cada faixa, o valor total do espólio, e não o montante”.171
As alíquotas do ITCD, assim como os demais elementos formadores da
obrigação tributária correspondente, devem ser estabelecidas na lei do ente
tributante.

Imposto sobre transmissão de bens imóveis (ITBI)


Os Municípios têm competência para instituir imposto sobre transmissão inter
vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis (CF/88, art. 156, II).
O Distrito Federal também pode instituir esse imposto, com base na
competência que lhe confere o art. 147 da CF/88.
Segundo Eduardo Sabbag:
“A exigência de que a transmissão seja por ato oneroso e inter vivos é feita
para diferenciar o âmbito de incidência do ITBI em relação ao âmbito do
imposto estadual incidente sobre transmissões causa mortis e sobre doações
(CF/88, art. 155, I). Se o imóvel for transferido em virtude da morte (p. ex.,
como herança), ou por doação, é devido o ITCD ao Estado-membro. Se,

171
Ibidem.

diversamente, o imóvel for objeto de transmissão entre pessoas vivas, e essa


transmissão for onerosa, incide o ITBI, devido ao Município”.172
A base de cálculo do ITBI é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos, ou
seja, o valor pelo qual os mesmos poderiam ser negociados em condições
normais de mercado.
Hugo de Brito Machado Segundo menciona:
“O lançamento do ITBI, em regra, é feito por declaração. O contribuinte leva ao
conhecimento da autoridade os elementos de fato indispensáveis à feitura do
lançamento, e esta então calcula o imposto devido, notificando o contribuinte
para pagá-lo ou impugná-lo, nos termos dos arts. 145 e 148 do CTN”.173
O imposto é devido ao Município no qual o bem está localizado e tem como
contribuinte qualquer das partes na operação tributada.

Na exordial do divórcio, o autor deve descrever e valorar todos os bens do


casal, assim como mencionar expressamente o passivo, indicando sua origem
e saldo devedor.
O bens particulares adquiridos durante o casamento, qualquer que seja a sua
origem, também devem ser mencionados, com escopo de possibilitar a
regularização do registro.
“O autor deve, ainda, apresentar proposta de divisão dos bens e/ou dos
encargos, respeitando o regime de bens pactuado quando do casamento. Não
obstante a literalidade das normas previstas nos arts. 1.575 e 1.576 do CC, no
sentido de que o regime de bens termina apenas com a sentença que decreta

172
SABBAG, Eduardo. Direito Tributário Essencial. 8. ed. – Rio de Janeiro: Forense;
MÉTODO, 2021.
173
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário 12. ed. – Barueri [SP]:
Atlas, 2022.

o divórcio, doutrina e jurisprudência têm se firmado no sentido de que é a


“separação de fato” do casal que põe fim ao regime de bens; ou seja, bens
adquiridos após a separação fática do casal não entram na partilha, embora
devam ser mencionados na petição inicial a fim de se evitarem futuros
problemas na sua regularização”.174
A falta de acordo quanto à partilha dos bens e das obrigações em aberto levam
algumas ações de divórcio a se arrastarem na justiça por anos.
“Tal fato costuma trazer prejuízos não só aos cônjuges, mas também para
terceiros e eventual prole, razão pela qual o legislador permite que o juiz
decrete o divórcio judicial, até mesmo em antecipação de tutela (como já se
argumentou), sem decidir sobre a divisão dos bens do casal, relegando a
discussão sobre a partilha dos bens para ação própria. Nesse sentido, o art.
1.581 do CC, aplicável ao caso: “O divórcio pode ser concedido sem que haja
prévia partilha de bens”.175
No momento da partilha poderá incidir o ITCMD, de competência estadual ou o
ITBI , que deve ser recolhido no Município onde se localiza o imóvel.
Caso a divisão dos bens seja igualitária não haverá o recolhimentos de tributos,
sendo o recolhimento devido caso a divisão do patrimônio seja desigual.

A conduta adotada pelo contribuinte ao planejar a herança em vida ou dos


herdeiros no momento da partilha dos bens poderá gerar a cobrança de
diferentes impostos.
Assim, é indispensável conhecer detalhadamente a realidade (patrimônio) da
pessoa, antes de realizar o planejamento tributário.

174
MADALENO, Rolf. Manual de direito de família / Rolf Madaleno. – 4. ed. – Rio de Janeiro:
Forense, 2022.
175
Ibidem.

De acordo com o artigo 155 da Constituição da República, compete aos


Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre transmissão causa mortis
e doação, de quaisquer bens ou direitos.
A morte, tomada como o instante de abertura da sucessão, seja legítima, seja
testamentária, é o momento da ocorrência do fato gerador do ITCMD.
Conforme Gladston Mamede:
“Portanto, por se tratar de tributo estadual ou distrital, estará submetido à
legislação do respectivo Estado ou do Distrito Federal, nos moldes acima,
podendo haver diferenças que beneficiem ou agravem os impactos tributários
da sucessão. Noutras palavras, é possível que a sucessão tenha um custo
menor neste Estado do que naquel’outro, o que se descobre debruçando-se
sobre as respectivas legislações e regulamentos, tomando por conta a
natureza dos bens e demais elementos envolvidos na transmissão em razão da
morte. Detalhe: não é uma mera questão de alíquotas, mas envolve questões
outras, como definição de hipóteses de incidência tributária, isenções fiscais,
regimes definidos, obrigações acessórias e muito mais. Tudo isso deve ser
con- siderado pelo consultor fiscal na hora de avaliar os méritos ou deméritos
das opções jurídicas para a sucessão”.176
É preciso considerar que mesmo a situação tributária de base (ou elementar)
da sucessão causa mortis pode conhecer variações e, assim, pode haver
cenários melhores e piores, considerando as variações entre Estados.
“A implementação das propostas formuladas pelo planejamento sucessório cria
um impacto que poderá ser maior ou menor, conforme as condições dadas em
cada caso. Há alternativas que conduzem a uma carga tributária maior, mas
igualmente a operações mais complexas e burocráticas, trazendo custos
indiretos. Em oposição, há alternativas que são mais interessantes por seu
menor ou por seu melhor reflexo fiscal, por serem mais simples e fáceis de

176
MAMEDE, Gladston. Holding Familiar e suas vantagens. 14º ed, São Paulo: Atlas, 2021.

serem implementadas, entre outros fatores. O planejamento sucessório deve


ser a manifestação da vontade soberana do cliente, ainda que nos limites do
Direito”. 177
Assim é fundamental que seja efetuado o planejamento tributário, visando a
economia para a família, analisando analiando o melhor momento para o
recolhimento do imposto.

Constituição Federal – artigos 155, 156 , 147.


Código Tributário Nacional (CTN) – artigos 35, 145, 148.
Código Civil – artigos 1575, 1576, 1581.

2281643-30.2021.8.26.0000
Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / ITBI - Imposto de Transmissão
Intervivos de Bens Móveis e Imóveis
Relator(a): Silva Russo
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 15ª Câmara de Direito Público
Data do julgamento: 20/05/2022
Data de publicação: 20/05/2022
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO SE SEGURANÇA COM
PEDIDO LIMINAR - ITBI - Município de São Paulo - Pedido de isenção quanto
ao recolhimento de ITBI - Alegação de que houve partilha igualitária de bens e

177
Ibidem.

impossibilidade de cobrança do aludido imposto antes da ocorrência do fato


gerador - Indeferimento da liminar - Não cabimento - Probabilidade do direito
alegado caracterizado pela documentação carreada aos autos, que aparentam
demonstrar a divisão igualitária dos bens do casal - Precedente desta C. Corte
- Risco de dano caracterizado na cobrança de imposto, em tese, indevido -
Preenchimento dos requisitos para a concessão da tutela de urgência -
Suspensão da exigibilidade do crédito como medida de rigor, a teor do art. 151,
IV, do CTN - Decisão reformada - Agravo provido.

1061021-63.2021.8.26.0053
Classe/Assunto: Apelação / Remessa Necessária / ITBI - Imposto de
Transmissão Intervivos de Bens Móveis e Imóveis
Relator(a): Raul De Felice
Comarca: São Paulo
Órgão julgador: 15ª Câmara de Direito Público
Data do julgamento: 18/05/2022
Data de publicação: 18/05/2022
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL e REEXAME NECESSÁRIO - Mandado de
Segurança – ITBI – Município de São Paulo – Sentença que concedeu a
segurança para afastar a tributação do ITBI sobre a partilha do bem, transferido
em separação consensual – Inexistência de ato oneroso (venda ou
transmissão) – Não ocorrência da hipótese prevista no art. 156, II da
Constituição Federal - Divisão amigável do patrimônio do casal através de
consenso que não caracteriza onerosidade, tampouco, transmissão, mas mera
divisão patrimonial – Precedentes deste Tribunal de Justiça - Sentença mantida
– Recursos oficial e voluntário do município não providos.

PROCESSO
AgInt no AREsp 1676655 / RS
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2020/0056270-6
RELATOR
Ministro OG FERNANDES (1139)
ÓRGÃO JULGADOR
T2 - SEGUNDA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
15/02/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 25/02/2022
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL.TRIBUTÁRIO. ITCMD. VGBL. NATUREZA DE SEGURO.
INTERPRETAÇÃO DO ART. 794 DO CÓDIGO CIVIL. RECURSO
DESPROVIDO.
1. O Tribunal de origem negou provimento ao recurso interposto pela parte ora
agravante por entender que as aplicações em VGBL se caracterizariam como
seguro de pessoas, segundo a Superintendência de Seguros Privados - Susep,
não se enquadrando nas hipóteses de incidência do tributo previstas no art. 2º
da Lei estadual n. 8.821/1989, que trata das hipóteses de incidência do imposto
- ITCD.
2. Há recentes decisões monocráticas, em ambas as Turmas da Primeira
Seção, que negaram provimento ao recurso especial do Estado do Rio Grande
do Sul, em casos análogos, reconhecendo que o "denominado plano VGBL,
nos termos do art. 794 do Código Civil, tem natureza de contrato de seguro de
vida, não integrando o acervo hereditário do de cujus, para todos os fins de
direito, o que afasta, por consequência, a incidência do ITCMD" (AREsp
756.611/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe 22/2/2021). A propósito: AREsp

1.766.626/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 6/5/2021; REsp


1.904.243/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 23/2/2021; e AREsp
1.755.009/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe 17/12/20.
3. Precedente recente da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça de
que com a morte do segurado, sobreleva o caráter securitário do plano VGBL,
sobretudo com a prevalência da estipulação em favor do terceiro beneficiário,
como deixa expresso o art. 79 da Lei 11.196/2005. (REsp n. 1.961.488/RS,
relatora Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em
16/11/2021, DJe de 1711/2021).
4. Agravo interno a que se nega provimento.

PROCESSO
AgInt no REsp 1941030 / RS
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL
2021/0074351-6
RELATOR
Ministro BENEDITO GONÇALVES (1142)
ÓRGÃO JULGADOR
T1 - PRIMEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO
14/03/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 18/03/2022
EMENTA
TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO
FISCAL. ITCD. DIFERENÇA DE ALÍQUOTA. LANÇAMENTO
COMPLEMENTAR. DISCUSSÃO JUDICIAL. DECADÊNCIA AFASTADA.
1. A Primeira Turma do STJ entende que a contagem do prazo decadencial
para o Fisco lançar o crédito tributário somente se inicia com a consolidação da
relação jurídica do ITCD, que, no caso, se dá com o trânsito em julgado da

decisão proferida nos autos do Inventário, visto que, durante a pendência da


discussão judicial acerca da alíquota aplicável, não poderia o Estado lavrar o
auto de lançamento para constituir o crédito tributário. Precedentes: AgInt no
AREsp 1.488.490/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 25/10/2021, DJe 24/11/2021; AgInt no REsp 1.926.495/RS, Rel.
Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
14/06/2021, DJe 16/06/2021; AgInt no AREsp 1.627.416/RS, Rel. Ministro
SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/04/2021, DJe
29/04/2021.
2. Agravo interno não provido.

LOBO, Paulo Luiz Netto . Famílias. 11ª ed. São Paulo. Saraiva, 2021

MADALENO, Rolf. Manual de direito de família. 4. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2022.

MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário. 12. ed.


Barueri Atlas, 2022.

MAMEDE, Gladston. Holding Familiar e suas vantagens. 14º ed, São Paulo:
Atlas, 2021.

SABBAG, Eduardo. Direito Tributário Essencial. 8. ed. Rio de Janeiro:


Forense; MÉTODO, 2021.


BATISTA, Juliana Marchiote. Quais impostos devo pagar na partilha de
bens? https://jmarchiote.jusbrasil.com.br/artigos/840874370/quais-impostos-
tenho-que-pagar-na-partilha-de-bens. Acesso em 29 abr. 2023

MANSANI, Danielle. Tributação incidente sobre partilha em divórcio.


ITCMD ou ITBI. https://mansanimartins.adv.br/2021/04/07/tributacao-incidente-
sobre-partilha-em-divorcio-itcmd-ou-itbi/. Acesso em 29 abr. 2023

TARBINE, Maruan. Tribuitação na holding familiar.


https://maruantarbine.com.br/a-tributacao-na-holding-familiar/. Acesso em 29
abr. 2023.

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