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UNIVERSIDADE PRIVADA DE ANGOLA

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGÍA CLÍNICA

INFLUÊNCIA DA DISFUNÇÃO FAMILIAR NA


DELINQUÊNCIA JUVENIL NO COMPLEXO ESCOLAR 4096
DO MUNICÍPIO DE CACUACO

Por:
Suzana José Adão Simões

Trabalho de fim do curso apresentado à Faculdade de Ciências Sociais


Humanas e Políticas da Universidade Privada de Angola como requisito
para obtenção do Grau de Licenciada em Psicologia Clínica

Luanda,2023
UNIVERSIDADE PRIVADA DE ANGOLA

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGÍA CLÍNICA

INFLUÊNCIA DA DISFUNÇÃO FAMILIAR NA DELINQUÊNCIA


JUVENIL NO COMPLEXO ESCOLAR 4096 DO MUNICÍPIO DE
CACUACO

Autora: Suzana José Adão Simões

Trabalho do Fim de Curso apresentado ao Departamento


de Psicologia Clínica da Universidade Privada de Angola,

como requisito para a obtenção do grau de Licenciatura em


Psicologia Clínica.

Orientadora: MSc. Darilys Sierra Labrador

Luanda 2023
TERMO DE APROVAÇÃO

INFLUÊNCIA DA DISFUNÇÃO FAMILIAR NA DELINQUÊNCIA JUVENIL


NO COMPLEXO ESCOLAR 4096 DO MUNICÍPIO DE CACUACO

Monografia apresentada à Universidade


Privada de Angola para Obtenção do
Titulo de Licenciada em Psicologia
Clínica

Aprovado em ___/___/2023

BANCA EXAMINADORA

Prof.

Presidente: ___________________________Assinatura ________________________

Prof.

1º Vogal: ____________________________Assinatura _________________________

Prof.

2º Vogal: ____________________________Assinatura_________________________

Prof.

Secretário: ___________________________Assinatura_________________________
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu esposo, pelo apoio incondicional, financeiro e emocional,
pela força e coragem que sempre proporcionou para a conclusão deste ciclo de
formação.

Aos meus filhos, pela coragem e carinho, que Deus vos abençoe, dizer-vos que a mamã
vos ama muito.

A minha família em geral, a todos que, direta ou indiretamente, estiveram sempre do


meu lado, os meus agradecimentos pelo apoio que me deram.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiro, a Deus, o Todo Poderoso, pelas ricas bênçãos e forças que sempre
me deu, pela coragem durante esta longa caminhada até a conclusão do curso.

Ao meu esposo, por tudo o quanto fez por mim nesta empreitada de minha formação.
Aos meus pais, pela força e coragem que prestaram em mim, para que não ficasse pelo
caminho.

Aos meus colegas que, direta ou indiretamente, aturaram as minhas chatices em todos
os momentos da nossa formação.

Aos professores em geral, e, em particular, a minha orientadora Dra. Darilys Sierra


Labrador, pela paciência e empenho, tudo de bom para essa equipa que participou nesse
ciclo de formação.

Bem haja UPRA, pela sua raiz de formação, que, no princípio parece amarga e no final
das coisas torna-se doce na sua plenitude. Obrigada a todos!
EPÍGRAFE

“O mundo não será destruído por aqueles que fazem o mal, mas por

aqueles que o olham e não fazem nada”.

Albert Einstein (1920)


ÍNDICE

TERMO DE
APROVAÇÃO ...........................................................................................III
DEDICATÓRIA .............................................................................................................I
V
AGRADECIMENTOS.....................................................................................................V
EPÍGRAFE…………………………………………………………………….……….VI
RESUMO.......................................................................................................................VII
ABSTRACT.................................................................................................................VIII
INTRODUÇÃO ................................................................................................................1
Problema ....................................................................................................................... 1
OBJECTIVOS ..................................................................................................................
3
Geral.............................................................................................................................. 3
Específicos .................................................................................................................... 3
CAPÍTULO: I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...........................................................
4
1.1 Caracterização da delinquência juvenil - Conceito de delinquência juvenil ……… 4

1.2 Factores impulsionadores da delinquência juvenil . A disfunção familiar……….. 8

1.3 Desvinculação familiar …………………………………………………………….11

1.4. Desenvolvimento da adolescência………………………………………….……..13

1.5. Disfunção familiar no desenvolvimento de uma criança …………………… 14


1.6. Os ambientes familiares pautados por actos de violência ……………………… 16

1.7. Os maus-tratos sofridos no seio familiar ….…………………………………….17

1.8. Dos maus-tratos físicos e psicológicos sofridos pelo menor ou jovem …….…….18
CAPÍTULO II: DESENHO METODOLÓGICO ...........................................................
20
CAPÍTULO III - APRESENTAÇÃO E ANALISE DOS RESULTADOS. ..................
28
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................
40
RECOMENDAÇÕES………………………………………………………………….41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................
42
ANEXOS……………………………………………………………………………….43

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela nº 1: Caracterização sociodemográfica da amostra…………………….......28

Tabela nº 2: Faixa etária………………………………………………………........28

Tabela nº 3: Nível académico……....………………………………………...….....29

Tabela nº 4: Religião.................................................................................................29
Gráfico 1: Classificação das famílias segundo o tamanho.……………….....…......30

Gráfico 2: Representação da composição familiar, segundo a ontogéneses.……....31

Gráfico 3: Representação dos subsistemas...………………………………...….....31

Gráfico 4: Representação das condições de habitação..……………………...........32

Gráfico 5: Representação do agregado familiar per capita.....……………....…..…33

Gráfico 6: Representação das famílias de acordo com o índice de superlotação......33

Tabela nº 5: Classificação das famílias segundo as fases que atravessam ….…......34


Tabela nº 6: Classificação das famílias de acordo as crises não transitórias...…….34

Tabela nº 7: Representação de a autoridade nas famílias ………….………….....35

Tabla nº 8: Representação da comunicação nas famílias ……….………………...36

Tabela nº 9: Resultados do FF-SIL …………………………………….………….37

Tabela nº 10: Análises das categorias de funcionamento familiar …….…….……38


RESUMO
O fenómeno da delinquência juvenil é complexo e formado por diversos factores que
influenciam no comportamento desviante de um jovem. As práticas parentais ineficazes
são a principal causa do desenvolvimento de comportamentos delinquentes dos jovens.
O objetivos do estudo foi de analisar a influência da disfunção familiar na delinquência
juvenil do Complexo Escolar 4096, no município de Cacuaco. Foi realizado um estudo
descritivo com um desenho não experimental-transversal. Participaram 30 adolescentes,
com idades compreendidas entre os 12 aos19 anos, durante o período de Agosto a
Dezembro de 2022. Os instrumentos utilizados para obtenção dos dados foram: Teste
de funcionamento familiar FF-SIL e uma Entrevista Semiestruturada. O estudo
permitiu constatar que os ambientes familiares disfuncionais contribuem decisivamente
para a vida de delinquência destes jovens. Entre os principais resultados está o facto de
o pai ser quem mais exerce a autoridade através da violência física, recorrendo
preferencialmente a agressão e castigos, o que resulta em comportamentos agressivos e
depressão. São maioritariamente famílias disfuncionais com dificuldades nas relações
interpessoais, e pode-se assegurar que tanto os jovens como os pais ou encarregados de
educação percecionam a violência de forma semelhante.

Palavras-Chave: delinquência juvenil, disfunção familiar.


ABSTRACT

The phenomenon of juvenile delinquency is complex and made up of several factors


that influence a youth's deviant behavior. Ineffective parenting practices are the main
cause of the development of juvenile delinquent behavior. The objective of the study
was to analyze the influence of family dysfunction on juvenile delinquency in the 4096
School Complex of Cacuaco municipality. A descriptive study with a non-
experimental-crosssectional design was carried out. Thirty adolescents participated,
ranging in age from 12 to 19 years old. During the period of August to December 2022.
The instruments used were as follows: FF-SIL Family Functioning Test and a Semi-
Structured Interview. The study finds that dysfunctional family environments contribute
decisively to the delinquent lives of these youths. Among the main results is the fact
that the father is the one who most exercises authority through physical violence,
preferably resorting to beatings and punishments, which results in aggressive behavior
and depression. These are mostly dysfunctional families, with difficulties in
interpersonal relationships, and it can be assured that both youth and parents or
guardians perceive violence in a similar way.

Keywords: juvenile delinquency, family dysfunction.


INTRODUÇÃO
A delinquência juvenil, uma realidade cada vez mais latente na
sociedade angolana, cujos contornos são preocupantes, refere-se aos
actos criminosos cometidos por menores de idade. É uma questão
que merece toda atenção, pois, é um problema muito complexo e,
acima de tudo, está a se tornar mais visível e desta forma torna-se
mais preocupante para as autoridades e qualquer sociedade.

A delinquência juvenil é um tema que tem merecido diversos e


profundos estudos e investigações, que se estendem pelos diversos
domínios das Ciências Sociais e Humanas como: a Psicologia, a
Sociologia e o Direito.

Problemática

Nas estatísticas de delinquência juvenil, o grupo etário mais


referenciado é o dos jovens dos 14 aos 15 anos de idade, mas, tem
sido registado uma tendência para o aumento dos jovens criminosos.
De facto, existe uma certa tendência para o aumento do número de
menores envolvidos em crimes, especialmente nos jovens com 15
anos. Entre estes registos, foram identificados: casos de furtos,
ofensas corporais, roubo, violação envolvendo menores, além de
centenas de casos de homicídio. Outrossim, há uma tendência
preocupante dos jovens para a violência física, o que está a causar
apreensão entre as autoridades policiais. Apesar destes registos e pelo
facto de estarem bem identificados, pouco ou nada se faz para acabar
com tal problema, o que significa ser importante e urgente uma
reforma a nível da justiça juvenil no país, no sentido de se criarem
mecanismos, primeiro; para a prevenção da delinquência e, segundo;
para a concepção de programas comunitários sociais.

Importância do Estudo

Apesar de Angola ser um país rico ao nível dos seus recursos naturais
e humanos, a verdade é que a maior parte da população vive em
condições de extrema pobreza. A guerra civil, o êxodo rural, a
inexistência de infraestruturas sociais, de meios e vias de
comunicação conduziram o país a uma catástrofe humanitária,
geradora de uma pesada desvalorização e desclassificação do
angolano.

As feridas causadas pela guerra tardaram a sarar. Como tal, neste


longo processo de cura os casos de corrupção, prostituição,
delinquência juvenil, abuso de drogas e de álcool têm aumentado
vertiginosamente. Embora tendo em vista a resolução destes flagelos,
o estado

11

e o governo angolano não conseguem dar resposta imediata e real às


necessidades básicas do povo. Deste modo, segundo Sousa (2006):

[...] a delinquência juvenil em Angola deve-se


em particular ao estado de “pré-delinquência
do menor, como aquela que engloba toda a
conduta desviante, cujas causas podem ser
multiformes: a pobreza, as condições de vida
sub-humanas dentro dos centros urbanos, as
dificuldades de acesso ao progresso
educacional, dificuldades de inserção no mundo
do trabalho (...) mais ainda as que estão ligadas
à própria pessoa do menor, como o desejo
incontrolado do consumismo, o uso de drogas,
o abuso de bebidas alcoólicas, que propiciam o
furto e a violência.

O mesmo autor acresenta:

A desadaptação juvenil é causada por múltiplas


formas de desvio de conduta e muitas vezes a
origem do comportamento criminal encontra as
suas causas em: fatores macro sociais, como as
transformações sociais, crises de estruturas e de
instituições tradicionalmente vocacionadas para
a socialização; em fatores micro sociais, como
a incapacidade e a desagregação da família e a
irradiação do próprio grupo social; e fatores
individuais de natureza psicopatológica e
ambiental, como dificuldades de socialização,
dificuldades com a figura de autoridade,
desadaptação escolar, desadaptação ao trabalho,
fuga e vagabundagem, associações em bandos
juvenis, prostituição e outros desvios” (Sousa,
2006).

Por se tratar de um fenómeno social, este trabalho, cujo tema é


delinquência juvenil, pretende explorar a temática através de três
prismas, tais como: conhecimento sobre o fenómeno, as causas da
delinquência juvenil e como a família influencia nestes
comportamentos.

Hipótese:

H1: As famílias disfuncionais, com dificuldades nas relações


interpessoais, influenciam na delinquência juvenil do Complexo
Escolar 4096, no município de Cacuaco.

Objectivo Geral:

• Descrever a influência da disfunção familiar na delinquência


juvenil no Complexo Escolar 4096 do município de Cacuaco.

Objectivos específicos:
• Caracterizar os elementos da estrutura familiar (composição
familiar, subsistemas familiares, condições de vida) nas
famílias estudadas.
• Identificar os elementos evolutivos da família (crises
familiares transitórias e não transitórias).
• Caracterizar elementos da dinâmica familiar (distribuição e
exercício de papéis, autoridade, enfrentamento de situações de
conflito e comunicação), bem como o carácter funcional ou
disfuncional da família.
Limitação e delimitação do estudo
Delimitar um estudo significa traçar limites ou estabelecer fronteiras
em relação ao fenómeno em estudo. Propor uma possível ordem na
relação entre os factos, explicando quais as variáveis estão envolvidas
na investigação e como elas se relacionam. Nesta perspetiva, a
pesquisa delimitou-se em analisar a influência da disfunção familiar
na delinquência juvenil do Complexo Escolar 4096, no município de
Cacuaco.

As principais limitações que enfrentamos fazem referência à ausência


dessa literatura no contexto familiar angolano.

Estrutura da investigação
O presente trabalho está estruturado da seguinte forma:
• Introdução: o problema, aborda os objetivos a questão que
norteia a pesquisa, a justificativa e sua importância para
futuros estudos do tema.
• Fundamentação teórica do tema: uma revisão bibliográfica de
várias teorias que debruçam sobre a delinquência juvenil e as
variáveis estudadas
• Desenho metodológico: a análise das técnicas e instrumentos
aplicados, a sua integração, a síntese da investigação
• Considerações Finais
• Recomendações para a abordagem futura do tema
• Referências bibliográficas
• Anexos: inclui os instrumentos

CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. Caracterização da delinquência juvenil – conceito de delinquência juvenil

Ao buscarmos uma definição de delinquência juvenil jamais podemos


ter a pretensão de que a mesma constitua uma caracterização estanque
e absoluta deste fenómeno em Angola, na medida em que, em
primeiro lugar, não existe consenso quanto à faixa etária que a mesma
abrange. Em segundo lugar, surge a dificuldade de saber se as ações
ou actos desviantes que não são delitos criminais podem ser
integrados neste conceito jurídico e criminológico. Além disso, a
doutrina diverge relativamente à classificação deste flagelo social.
(Dias, 1992)

Delinquência juvenil ou criminalidade juvenil, resolvemos alargar o


campo de estudo quanto à idade dos jovens em análise. A razão é
simples: se, por um lado, existe comprovação científica de que a
puberdade inicia, em geral, entre os 12 e os 14 anos, podendo
verificar-se antes; também sabemos que, hoje, a puberdade se
prolonga mais do que antigamente, pois o aumento da escolaridade
obrigatória permite ao jovem uma maior permanência no ensino e
uma tardia entrada no mercado laboral.

Com efeito, é aos 25 anos que a formação completa da personalidade


de um individuo ocorre. Nesta linha de raciocínio, e segundo o Dec-
Lei nº 401/82 de 23/9, é considerado jovem, para efeitos criminais, o
indivíduo entre os 16 e os 20 anos, com o qual se estabelece uma
regulamentação peculiar de correção. Podemos assim estabelecer uma
associação entre os jovens autores de crimes cujas idades se
compreendem na referida faixa etária e a Lei Tutelar Educativa, que
anui ao adolescente com idade compreendida entre os 12 e os 16 anos,
a prática de um “facto qualificado pela lei como crime”.

Assim, e com base na revisão da literatura, considera-se delinquência


juvenil um conjunto de actos ou comportamentos sociais desviantes,
cometidos por um jovem de idade compreendida entre os 12 e os 21
anos, suscetíveis de serem criminalizados por lei. A evolução da
personalidade de um individuo dependerá diretamente da sua idade,
pois a entrada na adolescência evidencia-se ainda mais com o passar
dos anos e a entrada em funcionamento acelerado das hormonas.
Sousa (2006)

Os adolescentes encontram-se particularmente permeáveis aos


factores externos, em particular aos estímulos supérfluos da sociedade
globalizada, veiculados incessantemente pelos meios de comunicação
de massas, erigidos sobre a premissa da busca do lucro fácil e das
elevadas audiências. A afirmação social a que os adolescentes tanto
almejam é influenciada por tais factores, que contribuem para um
desenvolvimento pessoal débil, para que o sucesso ambicionado na
fase adulta seja alicerçado em frágeis estruturas emocionais e
sentimentais. (Baptista, 2002).

Esta particularidade na formação do adolescente é também bastante


influenciada pelo préconceito de que o sucesso social na vida do
homem passa meramente pela ostentação e pela aquisição de bens, de
preferência, advindas de muito pouco trabalho individual.

Contudo, na maioria dos casos, prevalece nas famílias angolanas uma


profunda pobreza e uma enorme falta de acompanhamento parental,
aspetos que se refletem na ausência de uma figura que imponha
autoridade, que sirva de referência e que oriente os adolescentes face
aos desafios da vida. Pelo contrário, o ambiente é, em geral,
tremendamente pautado pela violência entre os membros da família
nuclear, vizinhança e comunidade em que os jovens estão inseridos.

Neste trabalho, considera-se a “delinquência” como resultado de


problemas na vinculação social do jovem com instituições como a
família e a escola, entre outras. Tendo em vista que estas instituições
são as representantes das normas sociais, logo, o desenvolvimento da
“delinquência juvenil” estará associado com o maior ou menor
controle que estas instituições exercem sobre o jovem.

A família, enquanto uma instituição de controle social, tem sido um


foco privilegiado nos estudos, os quais enfatizam principalmente a
existência de fragilidades nas composições familiares de adolescentes
que cometem actos infracionais. Estas fragilidades acarretam
dificuldades para a vinculação entre o jovem e a família, resultando
em um enfraquecimento do controle sobre o comportamento do
adolescente (Shoemaker, 1996).

O processo de socialização primária de crianças e adolescentes ocorre


no contexto familiar, que estabelece formas e limites para as relações
interpessoais e assim prepara o indivíduo para o convívio social mais
amplo. O grupo familiar tem um papel fundamental na constituição
dos indivíduos, atuando na construção da personalidade e
influenciando no comportamento individual através das práticas
educativas adotadas no âmbito familiar (Schenker & Minayo, 2003).
Apesar das mudanças que a família vem apresentando ao longo dos
anos, com o surgimento de novas composições familiares e alterações
nos papéis de seus integrantes, ela ainda é uma instituição sólida e
influente, mas flexível. É no ambiente familiar que os jovens
continuam buscando referências para construir sua identidade, tendo
os pais como modelos de identificação primária (Dessen, 2010).

Em Angola, o ensino básico é débil, infelizmente, e apesar dos


esforços que o Executivo tem feito para a atenuar a pobreza, por ora
ainda insuficientes, nas escolas a fraca formação dos pedagogos e a
conjuntura a que diariamente estão sujeitos resultam na ausência de
profissionais-modelo para o adolescente. A desmotivação que se
instala no espírito destes jovens traduz-se na sua classificação de
“falidos sociais”, ou mesmo de casos perdidos da nação. Neste
sentido, a escola e a família perdem o seu lugar de instituições
basilares para o desenvolvimento sadio dos jovens em sociedade.

Uma vez que a família e o Estado não satisfazem as necessidades


básicas dos jovens, facilmente estes enveredam pelo crime, integrando
gangues. Em Angola, na gíria (de surdina) estes grupos também se
designam “os senhores” ou os “miúdos de grupo”.
Nestes grupos de marginais, o adolescente encontra os seus
companheiros de “luta”, com os quais, de certa forma, se identifica
(Tomson, Barbara & Diedler 1975), na medida em que os membros
desta gangue são seus companheiros (nascidos e criados no mesmo
bairro ou área) e, de forma direta ou indireta, sofrem na pele o mesmo
estigma social. Estando juntos na pobreza, juntos estarão para o crime
que, erradamente, julgam ser a única via para obter o reconhecimento
social que sempre ambicionaram.

Em Angola, como noutras partes do mundo, os actos de delinquência


juvenil são fundamentalmente perpetuados em grupo. As idades dos
elementos das gangues são geralmente pouco díspares. Estes actos
desviantes e criminosos praticados por “menores” – usamos este
termo dado que a sua capacidade de discernimento não é tão clara
como a de um adolescente integrado numa sociedade mais organizada
e desenvolvida - deveriam ser julgados à face da lei como atos
praticados por inimputáveis. A verdade é que tal não sucedeu até
junho de 2015, altura em que, como suprarreferido, foi inaugurado o
primeiro Centro Educativo do País.

1.2. Factores impulsionadores da delinquência juvenil: a disfunção familiar

Dadas as características específicas da família, um dos seus objetivos


centrais reside no aperfeiçoamento exigido quanto às suas relações
internas e externas, que se fortalecerão uma vez que estejam
sustentadas no amor, no afeto, no companheirismo e em atos que
fortaleçam emocionalmente os seus membros.

É no âmbito familiar que as crianças vêm os seus progenitores e


responsáveis como entidades basilares das suas vidas. A
administração familiar é legalmente exercida pelo instituto do poder
paternal (no Direito angolano), daí que aos pais seja sempre atribuída
a obrigação de educar os filhos segundo a capacidade legal que lhes
foi atribuída. Consequentemente, essa capacidade implica o direito de
os progenitores exigirem dos filhos o cumprimento dos deveres que
lhes são imputados.

Apesar das agruras da vida, os progenitores e os tutores de menores


não poderão desistir do exercício pleno deste poder que lhes é
concedido para a educação e formação dos seus filhos ou tutelados.
De facto, é com base numa saudável inter-relação entre ambos que se
poderá formar uma identidade infantojuvenil e uma personalidade
equilibrada fortes, favorecendo a estabilidade emocional, preparando-
os para o desempenho, na idade adulta, de papéis sociais que lhes
serão exigidos e para contribuir para a construção de uma sociedade
menos dissemelhante, embora as condições económicas não
favoreçam as melhores condições de subsistência humana.
Os pais veem-se num conflito entre a necessidade de aplicação dos
bons princípios veiculados no seio familiar, por um lado; e a
incapacidade de os menores filtrarem as influências potencialmente
perniciosas associadas à utilização das tecnologias, como a televisão
ou a Internet, por outro lado. Ora, encontrando-se numa faixa etária
em que a sua personalidade está em plena formação e evolução, os
jovens apresentam-se como especialmente vulneráveis a estas
influências.

Assim, o exercício do poder paternal é ferido na sua génese e o dever


que os progenitores poderiam exigir dos seus filhos não é cumprido
na íntegra. O espaço para o diálogo entre os membros de uma família
deveria, e deve ser, mais amplo, assim como a generosidade entre os
seus membros na definição das regras que regem o lar.

A ética e a moral, conceitos que infelizmente parecem ter-se


extinguido com os longos anos de guerra, deverão ressurgir para que
construamos uma sociedade mais justa, equilibrada e solidária.
Infelizmente, nas discórdias familiares ainda impera o autoritarismo e
a violência verbal e física. Os progenitores não exercem o seu poder
paternal democraticamente, atuando sem coerência ou equilíbrio
quanto às decisões familiares (por exemplo, satisfazem os filhos com
bens materiais, não sabendo dizer “não” nas situações adequadas).

Na óptica da Teoria Interacionista no âmbito da Psicologia,


explicaremos a forma como a disfunção familiar pode conduzir o
adolescente à delinquência. Assim, segundo os estudos desenvolvidos
por Terence P. Thornberry & Marvin D. Krohn (2004) sobre a
marginalidade, observando-se a primeira infância do individuo até à
fase adulta, concluise que este poderá apresentar uma oscilação de
comportamentos antissociais ou delituosos ao longo do crescimento.
No entanto, poderá ainda ser influenciado pelo tipo de relacionamento
desenvolvido com as instituições sociais basilares da comunidade,
como a família, a igreja ou a escola.

Segundo Sousa (2006), a delinquência juvenil em Angola deve-se em


particular ao estado de “pré-delinquência do menor, como aquela que
engloba toda a conduta desviante, cujas causas podem ser
multiformes: a pobreza, as condições de vida sub-humanas dentro dos
centros urbanos, as dificuldades de acesso ao progresso educacional,
dificuldades de inserção no mundo do trabalho (...) mais ainda as que
estão ligadas à própria pessoa do menor, como o desejo incontrolado
do consumismo, o uso de drogas, o abuso de bebidas alcoólicas, que
propiciam o furto e a violência.

O mesmo autor acrescenta que, desadaptação juvenil é causada por


múltiplas formas de desvio de conduta e muitas vezes a origem do
comportamento criminal encontra as suas causas em: fatores macro
sociais, como as transformações sociais, crises de estruturas e de
instituições tradicionalmente vocacionadas para a socialização; em
fatores micro sociais, como a incapacidade e a desagregação da
família e a irradiação do próprio grupo social; fatores individuais de
natureza psicopatológica e ambiental, como dificuldades de
socialização, dificuldades com a figura de autoridade, desadaptação
escolar, desadaptação ao trabalho, fuga e vagabundagem, associações
em bandos juvenis, prostituição e outros desvios” (Sousa, ibidem).

Estes desvios são bem reveladores da necessidade urgente da


elaboração e aplicação de leis que protejam e previnam a incursão dos
jovens no mundo do crime. Normalmente, os principais tipos de crime
cometidos por estes jovens (muitos com idade inferior aos 16 anos)
são o furto, o roubo, o tráfico e o consumo de drogas, leves e pesadas.

A fim de avaliar a aplicabilidade desta teoria foram verificadas e


experimentadas, cumulativamente, três outras teorias, a saber:

• Teoria Desenvolvimentista: alicerça-se na trajectória do


indivíduo desde o nascimento até à morte, especificando-se as
fases e as variâncias da delinquência. Deste modo, as
oscilações comportamentais dependerão do tratamento
proporcionado ou negado ao indivíduo durante a fase do
crescimento. Comprovou-se desta forma que a delinquência é
um fator dinâmico ao longo da vida, podendo extinguir-se ou
ter continuidade.
• Teoria do Comportamento: explica-se por uma forte interação
bidirecional. Esta teoria advoga a influência sofrida pelo
indivíduo no meio em que está inserido, por um lado; e a
influência exercida pelo indivíduo no meio envolvente, por
outro. Ou seja, será a partir das interações vividas pelo
indivíduo no meio em que está inserido que a sua
personalidade sofrerá maior influência. Conforme a natureza
amigável ou não dessas interações, os atos delas decorrentes
assim se designarão de antissociais ou pró-sociais.
• Teoria das influências exercidas pelas estruturas sociais no
desenvolvimento da delinquência (Thornberry & Marvin
(2004). Esta teoria dá ênfase à influência que as interações
sociais negativas e/ou problemáticas exercem sobre a conduta
delitiva. Entre os exemplos mais prementes contam-se a
pobreza extrema; a impreparação dos pais face ao exercício do
poder paternal (frequentemente inaptos psicológica e
materialmente para educar um filho); escolas que não exercem
de forma plena e digna a sua missão de ensinar e contribuir
para a disciplina social; e vizinhos com características
criminais (ou seja, casos em que existam antecedentes ou
práticas desviantes e delitos). Ou seja, os meios precários
favorecem o surgimento e o desenvolvimento de uma
personalidade antissocial e violenta ou pró-social e
apaziguadora, consoante a forma como decorreu a interação
entre o indivíduo e o meio em que está inserido.

As três teorias em que se alicerça a teoria Interacionista demonstram


que a delinquência juvenil é ainda fruto do meio em que o indivíduo
está inserido, bem como das interrelações ocorridas nesse meio, daí
que essas relações influenciem a formação da personalidade e a
identidade da criança.

A família será sempre a instituição social de maior primazia. Como


vimos anteriormente, é no seu cerne que a gestão familiar deve
concretizar-se, pois a formação de cidadãos equilibrados e íntegros,
que contribuirão para uma sociedade mais harmoniosa, são
frequentemente o resultado do tipo de relação estabelecida, da
qualidade dessa relação e dos comportamentos que a mesma fomenta.

Por isso, se a dado momento a família carecer de meios de


subsistência, porém, se devido a um aumento substancial do
rendimento conseguir melhorar a qualidade de vida, tal contribuirá
para uma maior abertura ao conhecimento e à satisfação das
necessidades básicas, outrora inexistentes. Ora, esta melhoria das
condições de vida irá fortalecer emocional e afetivamente a
personalidade da criança, inibindo-a de enveredar pelo crime.

No entanto, sabemos que, independentemente das condições


financeiras, a gestão de um agregado familiar revela-se sempre uma
tarefa árdua no que respeita à educação dos descendentes e à
formação das suas personalidades. De facto, as relações desenvolvidas
pelos jovens com o exterior influenciam particularmente a qualidade
dos laços criados, bem como a forma como estes se estabelecem entre
os seus membros, contribuindo para o fortalecimento ou o
enfraquecimento do vínculo familiar entre os pares. Este argumento
coaduna-se com a tese de que quanto melhores forem as relações
travadas, quer a nível familiar quer social (mas essencialmente
familiar), mais profundo e de melhor qualidade será o vínculo entre os
elementos de uma família.

1.3. Desvinculação familiar

Ao rever a história de vida de um indivíduo, desde o nascimento até à


morte, não podemos negar a forte relação afetiva com os seus
progenitores, ou responsáveis, que influenciam profundamente a
formação saudável da sua personalidade, contribuindo para uma vida
adulta com menos problemas tanto a nível individual como coletivo.
Assim, Bowlby apud (Machado, 2004; Born, 2005) elaborou um
estudo sobre a Teoria da (Des)vinculação, designada por “Baltimore”,
cujo objectivo consistia em analisar em laboratório as comoções que
uma criança sofria ao ser exposta a uma situação que lhe suscitasse
determinado grau de ansiedade.
Os investigadores conseguiram distinguir três tipos de vínculos
familiares: o vínculo seguro – no qual se denota a felicidade das
crianças ao reverem os seus progenitores e, instantaneamente,
mostraram-se confortáveis (sensivelmente em 70% dos casos). De
salientar que o comportamento das mães perante as crianças fora
classificado como sensível e compreensível, de acordo com a reação
manifestada perante a aflição do filho.

O segundo tipo foi classificado como vínculo inseguro, pois ao


constatarem o regresso das suas mães as crianças continuaram
irritadas, chegando mesmo a evitá-las e a ignorálas (20% dos casos
analisados). A atitude da mãe foi classificada como insensível diante
dos anseios do filho e de repugnância ao toque do filho.

Por fim, o terceiro tipo foi definido como o vínculo ambivalente –


porque se constatou que as crianças se sentiam nervosas enquanto
estavam sozinhas e, mesmo com o regresso da mãe, continuavam
exasperadas e ansiosas, tendo havido uma demora no
restabelecimento da tranquilidade (em 10% dos casos). Nestes casos,
segundo Born (2005) a mãe foi considerada incongruente face às
necessidades do seu filho.

No que respeita à gestão familiar, este estudo (apesar de se ter cingido


a uma pequena amostra) permitiu avaliar e certificar emocional e
afetivamente a qualidade do desempenho da mãe ou responsável pela
criança segundo o tipo de trato que esta confere ao seu filho. Este
estudo veio dar maior crédito à primeira fase eriksoniana, também
conhecida como o estádio oral, pois a criança depende inteiramente
dos cuidados da mãe ou de outro adulto. Durante este estádio é de
capital importância que se recupere o vínculo familiar de modo a
suscitar na criança uma maior sensação de confiança. Daí, o
inconveniente em se adoptar atitudes inconsequentes e de desprezo,
que geram na criança sentimentos traumáticos de insegurança,
tornando-a num ser provavelmente agressivo e enraivecido para com
os seus companheiros. Por sua vez, as crianças cujo vínculo familiar é
ambivalente tornam-se manipuladoras – tentam captar para si todas as
atenções, através de ações e atitudes incongruentes, vulgarmente
caracterizadas como “disparates”, o que as transforma em seres
frágeis e dependentes, pelo que não se desenvolvem condignamente
no meio escolar e social.

Uma criança emocional e afetivamente segura apresenta um maior


grau de motivação ao progresso, adaptando-se e apresentando mais
facilidades no acolhimento das suas responsabilidades sociais. Não
nos restam dúvidas de que uma boa gestão familiar está subordinada a
fatores internos e externos, como já se refere, passíveis de potenciar a
delinquência no futuro.

1.4. Desenvolvimento da adolescência

A adolescência é considerada uma etapa de desenvolvimento (físico,


moral, espiritual e social) especial; com direito à proteção, à vida e à
saúde, mediante a efetivação das políticas públicas e define que se
responsabilize por estas ações (Gurgel et al., 2010). Sendo
considerada por Wieczorkiewicz & Souza (2010) uma população
prioritária no que se refere à atenção à saúde. “A palavra adolescência
deriva do verbo latino adolescere, significando crescer ou crescer até
a maturidade”. Na adolescência ocorrem profundas mudanças,
caracterizadas principalmente por crescimento rápido, conscientização
da sexualidade, estruturação da personalidade, adaptação ambiental e
integração social (Silva et al., 2012).

Nas alterações biológicas, ocorrem grandes transformações do corpo e


o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, sendo comum
o interesse pelo sexo e o início das primeiras relações sexuais.
Enquanto a adolescência inicial coincide com as primeiras
modificações corporais da puberdade, a adolescência final, tanto na
teoria como na prática, não estabelece critérios rígidos. Ser
adolescente seria sair da dependência da infância, buscando uma
independência na vida adulta, não uma independência sem restrições,
mas uma interdependência sadia com a sociedade, a escola a família e
o ambiente em que vivem (Minas Gerais, 2007).
Os adolescentes, nesta fase de transição, passam por dificuldades
relativas ao seu crescimento físico e amadurecimento psicológico,
sexualidade, relacionamento familiar, crise económica, violência, uso
e ou abuso de drogas, inserção no mercado de trabalho e outras. No
entanto, as experiências que eles vivenciam variam de acordo com a
sociedade que estão inseridos e de que forma esta vai reagir com este
adolescente. Na busca pela própria identidade e definição do papel de
jovem, em meio a tantas experiências é difícil assumir a
responsabilidade de seus comportamentos.

Acredita-se que na fase da adolescência, mais especificamente durante


a puberdade, o indivíduo sofre mudanças corporais e hormonais
significativas, fazendo com que o adolescente sinta-se preparado
fisicamente e interessado em ter relações sexuais. E são dessas
relações que frequentemente, podem ocorrer condutas desviantes
(Schwanke & Pinto, 2010, p. 156).

Guimarães e Witter (2006) reconhecem a sexualidade como um


comportamento de saúde psicológica que influencia pensamentos,
sentimentos, ações, relações interpessoais; o sentir-se saudável física e
psicologicamente. Para Maciel et al. (2012) o desenvolvimento da
sexualidade é fundamental para o crescimento da identidade adulta do
indivíduo, determinando sua autoestima, relações afetivas e inserção
na estrutura social, porém o adolescente na maioria das vezes é
incapaz de racionalizar as consequências futuras decorrentes do seu
comportamento sexual, deparando-se frequentemente com situações
de risco, como comportamentos desviantes.

1.5. Disfunção familiar no desenvolvimento de uma criança

De acordo com o que defendemos anteriormente, pequenas dúvidas


nos restarão quanto às causas e às consequências que uma “má”
gestão familiar, exercida por pais impreparados a nível emocional e
material, gera. Aliás, progenitores com estas características podem
mesmo motivar graves alterações psicológicas, físicas e intelectuais
no menor. Neste sentido, e segundo análises elaboradas sobre a
temática em apreço, uma débil gestão familiar pode refletir-se em
distintas formas de desvio no comportamento do menor. Em seguida,
apresentamos as mais representativas na perspectiva de Graça et al.
(2002):

• Desvios relativamente aos hábitos e às atividades próprias de


crianças inseridas numa faixa etária específica. Como
exemplos, refira-se a necessidade de um menor se masturbar
em idade imprópria, o receio de se deslocar a determinados
locais, o recurso à prostituição, o ingresso pelos caminhos da
marginalidade ou o uso excessivo da mentira;
• Desvios comportamentais próprios da idade, ou seja, atitudes e
comportamentos inadequados à faixa etária em que a criança
está inserida, como atividade sexual promíscua, ativa e/ou
excessiva; enurese noturna; uso abusivo de bebidas alcoólicas
e drogas; recurso habitual à violência, principalmente dirigida
a crianças;
• Desvios educativos, que permitem constatar a existência de
elevados graus de imaginação e curiosidade, embora num
quadro de desempenho escolar insatisfatório. No âmbito dos
desvios respeitantes à educação enunciamos ainda, a título de
exemplo, a dificuldade de concentração;
• Desvios emocionais e psicológicos, que se caracterizam pelo
surgimento, na criança, de depressões, tentativas de suicídio,
paralisia cerebral, epilepsia, desenvolvimento de fobias, baixo
nível intelectual e cognitivo e lesões autoinfligidas.

A nosso ver, é de capital importância referir que os desvios


enumerados não são exclusivos de uma má gestão familiar, mas
potenciados por uma débil gestão familiar. Ora, para minimizar este
drama teríamos que conjugar as várias Ciências Sociais e Humanas na
construção de instrumentos que nos permitissem avaliar as famílias e
os tipos de relações travadas no seu seio, passíveis de potenciar o
surgimento e o desenvolvimento de características desviantes na
personalidade da criança.
Embora um indivíduo possa enveredar pela delinquência durante
grande parte da sua vida, a verdade é que, devido a fatores que
posteriormente analisaremos, eventualmente nunca o fará. Na
verdade, de entre as várias causas passíveis de levar uma criança ou
adolescente a abdicar de uma vida sustentada no crime, salienta-se a
melhoria das condições de vida no seio familiar, resultantes de uma
situação material e financeira mais favorável (Thornberry & Marvin,
1998).

Por outro lado, quadros psicológicos mais sadios no contexto familiar


denotam frequentemente potencial para fortalecer laços outrora
quebrados pela pobreza no seio da família. Nesta linha de raciocínio,
também uma boa integração e desempenho escolares, a par de um
sadio relacionamento com a igreja e outras instituições sociais, poderá
contribuir de forma decisiva para que a má relação muitas vezes
desenvolvida com os pais ou tutores melhore significativamente. Para
esta realidade contribuirão ainda uma personalidade resiliente e a
implementação de programas sociais de responsabilidade estatal que
previnam e combatam efetivamente a delinquência juvenil, com um
forte investimento no capital humano dos jovens (e não só dos que
estão em risco), simultaneamente combatendo o preconceito e
almejando sempre a inclusão social como objetivo último (Thornberry
& Marvin, ibidem).

No âmbito das Ciências Sociais e Humanas, podemos afirmar que as


teorias e os conceitos são corolários elásticos e permeáveis,
suscetíveis de sofrer influências e alterações de fatores extrínsecos.
No caso em apreço apenas citamos algumas causas que inibem o
jovem de enveredar por uma vida de delinquência, não esquecendo a
personalidade da criança, distinta da dos seus pais. No entanto, a
elaboração deste trabalho mostra que uma gestão familiar pautada
pela negligência, por abusos e pela falência de afetos marca
fortemente a criança e o adolescente, refletindo-se de forma duradoura
na sua vida. Além disso, e segundo a teoria de Erikson, no âmbito do
desenvolvimento da personalidade e identidade da criança surgem
momentos em que esta possui a capacidade de discernir livremente
sobre o que é certo ou errado, à semelhança do que fazem os
indivíduos resilientes.

Neste sentido, conclui-se que não são meramente os fatores externos


negativos a influenciar e a conduzir à má gestão familiar. Com efeito,
esta poderá verificar-se na confluência das especificidades perniciosas
da personalidade de um indivíduo, pejadas por tendências criminosas,
com a ausência de valores morais e éticos da comunidade envolvente.

Assim, concluímos que para o sucesso da gestão familiar não se


exigem aos progenitores conhecimentos de Pedagogia ou mesmo de
Psicologia. Apenas se exige que transmitam mais amor, afeto e
carinho aos filhos ao longo da vida, já que o exercício da paternidade
se estende por uma vida inteira e não apenas até os filhos atingem a
maioridade ou quando julgamos terem a personalidade formada.

1.6. Os ambientes familiares pautados por actos de violência

Em consonância com o que referimos anteriormente, nos primeiros


anos de vida a qualidade do ambiente familiar em que a criança ou
adolescente estão inseridos influi de forma decisiva para um saudável
desenvolvimento emocional e psicossocial. Da análise de várias
investigações desenvolvidas por Pedro Strecht conclui-se que
menores que viveram circunstâncias traumáticas durante a infância a
partir dos seis anos desenvolveram personalidades e caracteres
propensos ao crime (Strecht, 2003).

É durante a infância e a adolescência que os pais devem estar mais


presentes e atentos às necessidades emocionais dos filhos, investindo
ilimitada e responsavelmente na satisfação das mesmas a fim de estes
desenvolverem uma personalidade forte e equilibrada.

Deste modo, ao viver desde sempre num ambiente familiar pejado de


todos os tipos de violência e insegurança, o menor é profundamente
afetado psicologicamente, assumindo comportamentos agressivos – a
seu ver normais – para com terceiros, satisfazendo os seus desejos por
via da coerção. Sendo este o género de educação que recebem dos
pais, estas crianças entendem que a violência é o único meio que
devem usar para serem valorizadas pela sociedade (Vesterdal, 1991).

1.7. Os maltratos sofridos no seio familiar

De acordo com Magalhães (2005), definimos maus-tratos como “a


forma de tratamento físico e (ou) emocional, não acidental e
inadequado, resultante de disfunções e carências nas relações entre
crianças ou jovens e pessoas mais velhas, num contexto de uma
relação responsabilidade, confiança ou poder. Podendo manifestar-se
por comportamentos ativos ou passivos. E, pela maneira reiterada
como geralmente acontecem, privam o menor dos seus direitos e
liberdades, afetando de forma concreta ou potencial, a sua saúde,
desenvolvimento (físico, psicológico e social) e dignidade”.

Matos & Figueiredo (2001) defendem ser necessário que se


verifiquem cumulativamente três preceitos elementares para que
consideremos se determinado ato poderá ser considerado como mau-
trato: 1) a intenção do ato, ou seja, se o propósito do agressor é o de
provocar lesões à criança ou ao jovem; 2) os resultados do ato, que se
configuram no ensejo de causar danos físicos ou psicológicos à
criança; 3) o juízo de valor sobre o ato, que se realiza a partir da
avaliação do comportamento desviante, atribuindo-lhe importância
pela forma como foi julgada.

Os mesmos autores acima citado defendem, ainda, que os diferentes


tipos de maus-tratos podem coexistir simultaneamente, ou mesmo
iniciarem-se por um ato de negligência e evoluir para casos mais
graves de maus-tratos. A negligência é um modelo passivo de
maltratos, manifestando-se através de um conjunto de erros cometidos
pelos progenitores na satisfação das necessidades dos menores.
Porém, não podemos confundir negligência com casos em que um dos
pais atrasa por instantes a hora de alimentar o filho ou de lhe mudar as
fraldas. Nestes casos, há uma omissão relativamente aos cuidados
adequados que devem ser prestados aos menores, não lhes infligindo
dor intencionalmente.
1.8. Maltratos físicos e psicológicos sofridos pelo menor ou jovem

Os maltratos físicos são aqueles infligidos aos menores, e em que as


lesões geradas pelos mesmos foram, ou são, causadas com a clara
intenção de os magoar, a partir de uma Acão ou omissão dos
progenitores e/ou responsáveis que possuam a guarda do menor, não
se coibindo de as maltratar (Ranião, 2007).

Por outro lado, e relativamente aos maltratos psicológicos, Peled &


Davis, apud Sani (2006) observaram três diferentes modos de atuação
por parte dos pais ou tutores, relativamente aos menores, no que se
refere a esta problemática familiar, a saber: 1) deixam-nos
estarrecidos, agredindo-os oralmente, oprimindo-os e atemorizando-
os, gerando-lhes a crença de que o mundo é demasiado perigoso; 2)
sujeitam-nos a viver em meios perniciosos; 3) submetem-nos a
modelos e papéis negativos e limitadores, fomentadores de uma
personalidade rígida, auto destruidora, violenta e antissocial.

Por sua vez, O’Hagan, apud Sani (2006) distingue entre maltratos
emocionais e psicológicos, defendendo que os abusos emocionais
causam um fraco desenvolvimento emocional e mental na criança e os
psicológicos afetam capacidades cognitivas como a memória, a
inteligência e a capacidade de concentração.

Neste sentido, não nos restam dúvidas de que os abusos emocionais e


psicológicos que as crianças/jovens sofrem ao longo das suas vidas,
principalmente no seio familiar, provocam traumas que influenciam
negativamente a sua auto-estima e o modo como estes lidarão com
terceiros em sociedade. Como já referimos, as ofensas são fomentadas
pelos pais ou responsáveis quando, ao invés de prestarem os cuidados
necessários às crianças, usam uma linguagem hostil, baseada no medo
e na intenção de expor o menor/jovem ao ridículo e ao abandono,
demonstrando uma ausência de valores que satisfaçam as reais
carências pessoais e emocionais dos menores/jovens.

É importante fazer referência sobre a violência doméstica que


constitui um grave problema em Angola, com vastas implicações
sociais, educacionais, económicas e psicológicas. Na verdade, e tendo
a oportunidade de verificar mais adiante, as situações de violência
doméstica e maus-tratos no seio da família conduzem frequentemente
ao abandono dos menores da casa dos pais ou dos tios, tornando-os
especialmente vulneráveis à influência de terceiros já pertencentes ao
mundo da delinquência.

Além disso, a necessidade de sobreviver torna o ingresso destes no


mundo do crime uma solução fácil para a satisfação das suas
necessidades imediatas. Walile (2012) acrescenta
outras razões para fenómeno, quase endémico na sociedade angolana:
“a desagregação da família tradicional, desestruturação
socioeconómica das famílias, a desorientação cultural e axiológica -
deturpação da escala de valores.

Capítulo II: Metodologia


2.1. Tipo de Pesquisa
Foi realizado um estudo descritivo cuja finalidade foi de descrever
como se manifestam as variáveis estudadas nos diferentes grupos
familiares da amostra, de forma a caracterizar o funcionamento
familiar em famílias com jovens com comportamentos delinquentes
no município de Cacuaco.

Desenho da investigação

Trata-se de um desenho não-experimental-transversal, uma vez que


não se procedeu à manipulação de variáveis, mas sim, à medição e
análise dessas variáveis, foram observadas situações já existentes, a
variável independente já ocorreu e o investigador não tem qualquer
controlo e não pode influenciá-la diretamente porque já aconteceu e
os seus efeitos também. Tratou-se de uma investigação transversal,
uma vez que os dados foram recolhidos num único momento, o seu
objetivo é descrever variáveis e analisar a sua incidência num
determinado momento.

Definição conceptual das variáveis


1. Estrutura: São as variáveis que definem a estrutura familiar
de acordo com um conjunto de indicadores e características
sociodemográficas dos seus membros, podemos falar de uma
estrutura constituída pela composição familiar, subsistemas
familiares, inserção sócio classista dos seus membros, simetria
social e condições de vida. A estrutura faz parte dos elementos
homeostáticos da família, é a mais estável e permanente, tende
a tornar-se resistente à mudança.
2. Dinâmica: A dinâmica faz parte dos elementos da
morfogénese da família, constitui o processo vivo e interativo
a partir do qual se produzem as mudanças, a adaptação às
crises, as trocas comunicativas e relacionais, é ainda menos
visível, onde se revelam os estilos comunicativos, as relações
triangulares e duais, o sistema emocional, os estilos afetivos, a
resolução dos conflitos e a mobilização das redes internas que
mantêm a estabilidade do sistema).
3. Evolutiva: A evolução da família é determinada pela sua
passagem por uma série de fases mais ou menos normativas e
específicas do ciclo de vida. As crises normativas ou
transitórias e as crises para normativas ou não transitórias são
provocadas por acontecimentos do macro contexto ou por
situações imprevisíveis.

Referem-se às mudanças transitórias vividas pela família e à


sua influência na estrutura familiar.

Definição operacional das variáveis:


1) Variáveis estruturais: São as variáveis que definem a
estrutura familiar de acordo com um conjunto de
indicadores e características sociodemográficas dos seus
membros.
Dentro das variáveis estruturais, a composição da família
é definida de acordo com a dimensão e a ontogénese.

De acordo com o tamanho, são classificadas em: família pequena,


média e grande.

• Pequena: 1 a 3 membros
• Média: 4 a 6 membros
• Grande: mais de 6 membros.

De acordo com a ontogénese classificam-se em: Nuclear, Extensa e


composta ou extensa.

• Nuclear: Constituída por pais casados ou não casados e os


seus descendentes constituem uma relação bigeneracional.
Dentro da família nuclear podemos encontrar;
• Família extensa: Constituída por mais de duas gerações,
até quatro: pais, filhos, netos e bisnetos;
• Família alargada, composta ou extensa: Quando coabitam
membros da família que não provêm das linhas geracionais
diretas, nem dos seus descendentes ou cônjuges, mas sim
pessoas sem um grau próximo de parentesco e
consanguinidade.

De acordo com a presença ou não de subsistemas familiares:

• Família monoparental: Um dos pais com filhos;


• Família biparietal: ambos os pais com os seus filhos;
• Família reconstituída: A característica de um ou ambos
os membros já terem tido pelo menos um casamento
anterior, quer tenham tido filhos ou não.

Condições de vida:

Refere-se ao ambiente quotidiano das pessoas, onde vivem, agem e


trabalham. Estas condições de vida são um produto das circunstâncias
sociais e económicas e do ambiente físico.

Condições de habitação: refere-se às condições estruturais da


habitação.

Bom: habitação sólida. Elementos diferenciados.

Bem conservada. Boa ventilação e iluminação.

Razoável: Habitação sólida. Elementos diferenciados. Boa iluminação


e ventilação.
Necessita de manutenção.

Mau: Habitação insegura (fissuras e/ou escoramento. Sem separação


clara entre os elementos. Iluminação e ventilação deficientes.

Família per capita: rendimento económico e sua utilização para a


satisfação das necessidades básicas da família.

Bom: satisfaz as suas necessidades de alimentação, lazer, educação e


meios para assegurar a higiene pessoal e ambiental.

Razoável: Algumas necessidades básicas não são satisfeitas ou são-no


apenas parcialmente. Mau: Têm sérias dificuldades em satisfazer as
suas necessidades de alimentação, lazer, educação e meios para
assegurar a higiene pessoal e ambiental.

Índice de sobrelotação: Depende do número de quartos de dormir e


do número de pessoas que neles dormem.

Bom: possível isolamento dos habitantes e separação por quartos de


dormir, em adolescentes, adultos de sexos diferentes, exceto casais.

Razoável: não é possível isolar os habitantes ou não há separação dos


quartos de dormir.
Mau: Não há isolamento dos habitantes ou não há separação dos
quartos de dormir.

Técnicas: Para a medição dos elementos da estrutura familiar, foi


utilizado o familiograma ou genograma, bem como a entrevista
familiar.

2. Variáveis evolutivas: referem-se às mudanças evolutivas vividas


pela família e à sua influência na estrutura familiar.

Crises familiares: expressão ou não de contradições entre a


organização funcional e estrutural da família e as exigências derivadas
de novos acontecimentos de vida que produzem desorganização no
seio da família, entre as quais se encontram:

Crises transitórias: São aquelas relacionadas com acontecimentos


normais e esperados no desenvolvimento familiar e que se regem
como pontos críticos de transição ao longo do ciclo de vida.

Crises não transitórias: São crises relacionadas com acontecimentos


acidentais, não diretamente relacionados com as fases do ciclo de
vida. Estas crises podem ser classificadas da seguinte forma:

Desmembramento: Separação temporária ou definitiva de um


membro da família, por exemplo: hospitalização prolongada,
abandono, separação conjugal, saída de casa para o estrangeiro ou
para outras províncias do país, morte prematura em relação ao ciclo
de vida, suicídio. Aumento: Adição de um ou mais membros da
família, por exemplo: regresso a casa, adoção, coabitação temporária.

Desmoralização: Crises caracterizadas pelo enfraquecimento dos


valores e princípios éticos e morais da família, por exemplo,
comportamento antissocial, prisão, escândalos comunitários.

Mudanças económicas importantes: tanto positivas como negativas,


por exemplo, perda de emprego, deterioração das condições de
habitação, perda de bens importantes como uma casa, herança.
Problemas de saúde: Gravidez indesejada, infertilidade, tentativa de
suicídio, perturbação psiquiátrica, acidentes, diagnóstico de doença
potencialmente mortal.

Técnicas: A entrevista familiar foi utilizada para medir as variáveis


evolutivas.

3. Variáveis dinâmicas: Referem-se aos elementos da morfogénese


da família, constituindo o processo vivo e interativo a partir do
qual ocorrem as mudanças.

Papéis: Conjunto de papéis e funções atribuídos e assumidos pelos


membros da família de acordo com um lugar pré-estabelecido, são
definidos culturalmente e são aprendidos através de modelos
disponíveis na própria família ou em pessoas próximas a ela. Existem
papéis parentais, genéricos e psicoemocionais.

Distribuição das tarefas domésticas: refere-se ao modo como as


responsabilidades são distribuídas no lar, que foram divididas
segundo a forma, o conteúdo e o número.

No que respeita à forma:

Indicador funcional: Tendência para o desempenho conjunto ou


colaboração.
Tendência para a generalização das funções ou para a cooperação.

Indicador disfuncional: Tendência para a dicotomia de funções. Não


distribuição das tarefas domésticas.

Em termos de conteúdo:

Indicador funcional: Não conformidade com o estereótipo sexual


tradicional.

Indicador disfuncional: Distribuição de acordo com o estereótipo


sexual tradicional.

Não está de acordo com o estereótipo sexual tradicional: Cada


membro do casal pode realizar cada actividade indistintamente, sem
divisão de tarefas por sexo.
De acordo com o estereótipo sexual tradicional: pressupõe uma
forma de pensar tradicionalista, determinada por um modelo cultural.
Os homens fazem trabalhos tradicionalmente masculinos e as
mulheres fazem trabalhos tradicionalmente femininos.

De acordo com o número:

Indicador funcional: equilíbrio de papéis.

Indicador disfuncional: sobrecarga de papéis. Equilíbrio de papéis:


consiste na distribuição equitativa das tarefas domésticas.

Sobrecarga de papéis: observa-se que alguns membros da família


suportam o peso das atividades domésticas.

Técnica: A entrevista familiar foi utilizada para medir os papéis.

Autoridade: A pessoa que exerce ou possui algum tipo de autoridade


no ambiente familiar é expressa principalmente no casal. A autoridade
familiar exprime-se principalmente no parceiro

Indicador funcional: Igualdade de autoridade entre homens e


mulheres. Refere-se a quando a administração do rendimento e a
tomada de decisões são partilhadas igualmente entre os membros. A
autoridade é partilhada igualmente entre os membros.

Indicador disfuncional: Dominância masculina ou dominância


feminina.

Técnicas: A entrevista familiar foi utilizada para medir a autoridade


familiar.

Comunicação familiar: Reflete os padrões de interação através dos


quais os membros da família interagem, trocam Membros de uma
família interagem, trocam mensagens com conteúdo afetivo,
informativo ou normativo Conteúdo afetivo, informativo ou
normativo. A adequação e a inadequação dos padrões de comunicação
familiar. Os padrões de comunicação familiar desempenham um papel
importante na funcionalidade ou disfuncionalidade da família.

Indicador funcional: Mensagens claras, precisas, diretas e


congruentes. Equilíbrio em função informativa, afetiva e reguladora.
Indicador disfuncional: Mensagens duplas, incongruentes -
Predominância de uma das funções.
Técnicas: para avaliar a comunicação, foram aplicados a entrevista e
o teste de funcionamento familiar (FF-SIL). Para determinar o
carácter funcional ou disfuncional das famílias em estudo, foram
utilizados os seguintes testes: o teste de funcionamento familiar (FF-
SIL). Seleção da amostra
Para cumprir o objetivo desta investigação a partir de um universo de
60 famílias, foi selecionada uma amostra não probabilística de
sujeitos, constituída por 30 famílias com jovens com comportamentos
delinquentes do município de Cacuaco. A seleção foi feita com base
nos critérios de inclusão e exclusão.
Critérios de inclusão:
Famílias em que pelo menos dois membros possam colaborar com a
pesquisa.
Disponibilidade e voluntariedade para participar na investigação.
Critérios de exclusão:
Jovem ou familiar (cooperante) com deficiências mentais ou
perturbações psiquiátricas graves.

Técnicas e Procedimentos de recolha de dados

Para atingir os objetivos do estudo foram aplicados os seguintes


instrumentos do estudo: foram selecionados tendo em conta as
variáveis que medem e os objetivos específicos para os quais estas
técnicas foram concebidas. Foi estabelecida uma combinação de
métodos quantitativos e qualitativos em articulando a chamada
triangulação metodológica, que não é mais do que a utilização ou
combinação de múltiplas técnicas, o que tende a reforçar a confiança
na interpretação.
Esta abordagem defende o critério de que a realidade é plural e, por
isso, a multiplicidade de métodos enriquece a compreensão do
fenómeno, conseguindo-se assim uma maior precisão e exatidão, uma
vez que é avaliada a partir de diferentes perspetivas metodológicas
que combinam métodos qualitativos e que combinam métodos
qualitativos e quantitativos. Para além disso, a observação também
esteve presente como técnica complementar ao longo do processo de
avaliação para uma melhor interpretação e compreensão dos
resultados.
Entrevista familiar
Foi utilizada, por ser considerada um método ideal e eficaz na procura
de informação. É um método de comunicação direta e imediata para
avaliar os resultados da avaliação. É através dela que se podem extrair
elementos como a história da família, acontecimentos significativos
que ocorreram na família, entre outros. Ao mesmo tempo, é o espaço
espaço no qual o terapeuta realiza suas intervenções. Tem a
particularidade de ser realizada por meio de um processo verbal que é
geralmente através de uma relação face a face entre pelo menos dois
indivíduos (entrevistador-entrevistado). Em particular, a entrevista
semiestruturada baseia-se num guia com uma série de perguntas
préestabelecidas.
Esta técnica permite obter informação rica, variada e direta; através
dela, avalia-se a perceção do funcionamento familiar. Através dela,
avalia-se a perceção do funcionamento familiar destas famílias,
permitindo a livre expressão do entrevistado e incentivando o
investigador a observar a linguagem extra verbal do entrevistado. O
investigador pode observar a linguagem extra verbal. É também útil
para integrar indicadores obtidos através de outras técnicas.
Teste de Funcionamento Familiar (FF-SIL)
Este instrumento foi utilizado para medir quantitativa e
qualitativamente a perceção do funcionamento familiar de cada
membro da família. Este instrumento mede a perceção do
funcionamento familiar apresentada por cada um dos membros da
família.
A sua aplicação é considerada necessária, uma vez que fornece
informações válidas e fiáveis sobre os processos relacionais da
família. processos relacionais na família.
Para o teste, foram selecionados 7 (sete) processos envolvidos nas
relações intrafamiliares: coesão, papéis, harmonia, comunicação,
afetividade, permeabilidade e adaptabilidade, que deram origem a 14
(catorze) afirmações que compõem o teste. Cada uma destas
dimensões trata de questões específicas, pois cada uma tem um
significado específico:
• Coesão: união física e emocional da família para lidar com
diferentes situações e tomar decisões sobre tarefas
quotidianas;
• Harmonia: correspondência dos interesses e necessidades
individuais com os da família num equilíbrio emocional
positivo;
• Comunicação: os membros são capazes de transmitir as suas
experiências e conhecimentos de forma clara e direta;
• Adaptabilidade: capacidade de mudar a estrutura de poder, as
relações de papéis e as regras numa numa situação que o exija;
• Afetividade: capacidade dos membros de experimentar e
demonstrar um sentimento de pertença;
• Papel: cada membro da família cumpre as responsabilidades e
funções negociadas pela família nuclear;
• Permeabilidade: capacidade de oferecer e receber
experiências de outras famílias e instituições. A pontuação
final é obtida a partir da soma dos pontos de cada item e
permite classificar a família em 4 tipos:
1. Família Funcional-----------------------------70 a 57 pontos
2. Família Moderadamente Funcional------- 56 a 43 pontos
3. Família Disfuncional------------------------- 42 a 28 pontos
4. Família Severamente Disfuncional-------- 27 a 14 pontos
Para realizar o estudo, foi necessário passar por várias etapas ou
procedimentos. Uma vez selecionadas as famílias, informou-se sobre
os objetivos do projecto a fim de solicitar o seu consentimento e
aprovação para participarem do estudo, o carácter voluntário da sua
participação, bem como os princípios éticos implicados no trabalho.
Deste modo, a amostra foi constiuída com vista a cumprir os
objectivos definidos na investigação, sendo constituída por 30
famílias com jovens delinquentes. A partir daí, iniciou-se a aplicação
do processo de avaliação familiar, na qual as técnicas selecionadas
foram aplicadas de forma organizada. A partir deste momento,
iniciou-se a aplicação do processo de avaliação familiar. Iniciou-se,
também, um processo em que as técnicas selecionadas foram
aplicadas de forma organizada, e, por fim, a aplicação dos
instrumentos selecionados. Após esta atividade e numa outra sessão,
foi aplicado o questionário de funcionamento familiar (FF-SIL), que
foi respondido individualmente por cada um dos membros da família.

Considerações éticas da investigação

Para a realização da investigação foram tidos em conta todos os


aspetos éticos que devem reger ou constituir a base de um processo de
investigação: a autorização das autoridades superiores, a aprovação ou
o consentimento de todas as pessoas envolvidas no processo da
investigação, explicando claramente a natureza e a finalidade da
investigação, bem como os objetivos da investigação, sensibilizá-los
para o carácter voluntário da sua participação e garantir-lhes também
o princípio da confidencialidade que todo o psicólogo e todas as
investigações devem ter.

No trabalho com as famílias, é importante ter em conta uma série de


aspetos e precauções, sobretudo no que diz respeito aos cuidados,
fundamentalmente na realização de técnicas e juízos que podem gerar
conflitos e julgamentos que possam prejudicar a integridade da
família, como o respeito pelas suas ideias, crenças, cultos e práticas
religiosas ou outras.
Qualquer acção levada a cabo sobre a família deve ter implícita a
melhoria da mesma.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A fim de analisar a informação e de poder compreender mais


claramente as particularidades e generalidades encontradas é realizado
um estudo sobre a influência da disfunção familiar na delinquência
juvenil no Complexo Escolar 4096 do município de Cacuaco.

1. Caracterização sociodemográfica da amostra

Tabela nº1 – Sexo


Sexo F.O. %

Masculino 30 100
Total 30 100

A amostra é composta por indivíduos do sexo masculino, como se


pode confirmar pela tabela acima.

Tabela nº2 – Faixa etária


Faixa etária F.O. %
12-13 8 27
14-15 10 33
16-17 6 20
18-19 6 20
Total 30 100

Quanto à faixa etária, maiores frequências registaram-se nas faixas


12-13, 14-15, com
27%, 33%, respetivamente ao passo que as menores se registaram nas
faixas, 16-17 e 1819 com 20% cada.

Tabela nº3 – Nível académico


Nível académico F.O. %
Ensino Primário 12 40
Ensino Secundário/Médio 18 60
Total 30 100
Os dados relativos ao nível académico dos indivíduos da amostra
revelam uma maior percentagem para os que referiram ter o Ensino
Secundário ou Médio, com 60%, seguidos dos que referiram ter o
Ensino Primário com 40%.

Tabela nº4 – Religião


Religião F.O. %
Católica 14 47
Não indicada 13 43
Protestante 3 10
Total 30 100

No quesito religião, a maioria (47%) referiu professar a religião


católica, seguidos dos que não indicaram a sua religião (43%), os
protestantes com 10% .

Descrição da composição familiar, dos subsistemas e das condições de vida

Composição familiar

Gráfico 1: Classificação das famílias segundo o tamanho.


Classificação das famílias segundo o tamanho.

70
60
50
Pequena
40
Média
30
Grande
20
10
0
Pequena Média Grande

Fonte: Anexo 1

Ao analisar a entrevista às famílias, obtiveram-se os seguintes


resultados: A maior percentagem de famílias são pequenas,
representando 63,3%, ou seja, famílias compostas por dois ou três
elementos. São muitas as causas na amostra em estudo que
condicionam esta situação, entre elas podemos referir a morte
prematura em relação ao ciclo de vida, a emigração, a viuvez e o
divórcio, como podemos verificar, os jovens têm poucas pessoas no
seu núcleo familiar. Há também 30% de famílias de tamanho médio e
6,7% de famílias alargadas. Os resultados encontrados na pesquisa
coincidem com estudos recentes sobre a família angolana, onde têm
sido documentadas transformações demográficas que afetam a
composição e a dinâmica familiar.

Gráfico 2. Representação da composição familiar, segundo a


ontogénese.
Classificação da família segundo a ontogénese.

13%

Nuclear
Extensa
Ampliada
Fonte: Anexo 2
23 , 3%
Como se pode observar no gráfico 2, 63,3% pertencem a63famílias
, 3%

nucleares, onde vivem juntas uma ou duas gerações de pais e filhos,


apenas 23,3% pertencem a famílias alargadas e 13% a famílias
extensas. Todos estes factos conduzem a uma das situações mais
agressivas para qualquer ser humano, a vivência de conflitos e
dificuldades de comunicação. Com isso, surge uma série de
manifestações de má saúde psicológica traduzidas em amargura,
ressentimento, apatia e desesperança, deteriorando a sua qualidade de
vida e influenciando o funcionamento disfuncional da família.

Gráfico 3: Representação dos subsistemas.

Subsistemas familiares

20%

Monoparental
Biparental
Reensamblada
53 ,3%
27 %
Fonte: Anexo 3
Em relação à classificação da família segundo a presença de
subsistemas familiares, verificámos que a maior percentagem pertence
a famílias monoparentais, com 53,3% constituídas por adultos sem
companheiro, fundamentalmente do sexo feminino com um ou mais
filhos, sendo o divórcio uma das causas que mais influencia esta
situação, para estes adultos a ausência de cônjuge significa a perda
irreparável da pessoa com quem conviveram - para o bem e para o
mal -, criaram uma família e tiveram descendência.

A comunicação, cujo sistema típico aparece na relação com a família.


Podemos inferir que os poucos subsistemas influenciam os
comportamentos delinquentes destes jovens e o seu funcionamento
familiar.

Gráfico 4: Representação das condições de habitação.


Condições de habitação

20%
Mal
Regular
Boa
3%

77%

Como se pode observar no gráfico 4, podemos dizer que a maior


percentagem de famílias vive em habitações que se encontram em
mau estado de conservação, com má ventilação e iluminação. Assim,
podemos inferir que as condições estruturais da habitação são um
fator de risco que pode influenciar o funcionamento familiar destes
jovens.

Gráfico 5: Representação do agregado familiar per capita


56 ,6%

Bom

Regular
30 %
Mal

Gráfico 6. Representação das famílias de acordo com o índice de


superlotação.

Classificação das famílias de acordo com o índice de sobrelotação

10% 3,4%

Bom
Regular
Mal

86,6%

Fonte: Anexo 6

Nas famílias estudadas, 86,6% estão sobrelotadas. Estes resultados


correspondem aos anteriores, onde se verifica que são geralmente
famílias pequenas, com péssimas condições estruturais da habitação e
com baixo per capita familiar, o que constitui um fator de risco que
dificulta o funcionamento familiar. (Ver Gráfico 6).

Depois de ter analisado os indicadores anteriores individualmente, é


possível descrever melhor a estrutura familiar: Em geral, é evidente a
presença de famílias pequenas e médias, principalmente nucleares,
monoparentais, com más condições de vida, com um nível muito mau
de solvência económica, bem como um elevado nível de sobrelotação.
É necessário esclarecer que estas condições estruturais e económicas
da família aparecem no seu indicador disfuncional, o facto de serem
maioritariamente famílias pequenas e médias, e maioritariamente
famílias monoparentais, é desfavorável para a amostra estudada, uma
vez que estamos a falar de jovens que precisam de apoio, companhia,
segurança e cuidados, é um importante fator de risco que os torna
vulneráveis a estes comportamentos.

Descrição das crises transitórias e das crises não transitórias Tabela 5:


Classificação das famílias segundo as fases que atravessam

Formação - Extensão 13
Contração

Crises familiares transitória No %

Dissolução 4
Total 5

-
Como se pode ver na tabela 7, 43,3% das famílias estão na fase de extensão. Nesta 1
fase, é importante a educação dos filhos, relações familiares respeitosas, boa
comunicação entre os seus membros.

Tabela 6. Classificação das famílias de acordo as crises não transitórias.


Crises familiares não transitórias No %

Incremento
Desmembramento
Desmoralização 18 60

Mudança económica importante 12 40

Problemas de saúde

Tabela 7. Representação de a autoridade nas famílias.


Posições de poder No de famílias %

Igualdade na toma de decisões 6 20

Predomínio da mulher 10 33.3

Predomínio do homem 14 46.6


Total 30 100

Na tabela 7 pode observar-se que nas famílias estudadas, a autoridade encontra-se


no seu indicador disfuncional, pois nestas famílias há um predomínio da
autoridade masculina, isto significa que a administração dos rendimentos e a
tomada de decisões recai sobre um membro do agregado familiar, e neste caso
46,6 por cento pertence ao homem, pois como o divórcio é frequente nas famílias
estudadas, é ele que fundamentalmente toma a maioria das decisões.

Tabela 8 Representação da comunicação nas famílias.


Comunicação No de famílias %

Comunicação funcional 5 16.7


25 83.3
Comunicação disfuncional

Total 30 100

Nas famílias estudadas, 83,3% delas apresentam uma comunicação


disfuncional, uma vez que os seus membros não são capazes de
transmitir as suas experiências e conhecimentos de forma clara e
direta e muito menos de falar sobre diferentes temas sem medo, pelo
que o seu modo de comunicação é fundamentalmente através de
insinuações. A comunicação tende a não ser direta e tem sempre
significados implícitos ou ocultos, e a sua função é fundamentalmente
informativa ou reguladora, deixando de lado a função afetiva, e a falta
de equilíbrio nestas funções causa disfuncionalidade. Ao mesmo
tempo, são muito frequentes as não-congruências entre mensagens e
ações ou as mensagens duplas, em que as mensagens verbais e não
verbais não coincidem. Os estilos negativos de comunicação
utilizados na família tendem a gerar conflitos e crises permanentes.
Os jovens são os mais afetados pela má comunicação, pois nesta fase
da vida a comunicação é uma das necessidades básicas e o seu sistema
típico surge na relação com a família, o que por sua vez influencia
negativamente o funcionamento familiar, pois não favorece o
desenvolvimento da família, mas sim a estagnação nas crises e a não
saída dos conflitos.
(Ver tabela 8) Referem:

• “Ninguém fala comigo em casa, é como se eu não existisse


por ser assim”.
• “Falar com eles é uma perda de tempo, porque me ignoram”.
• “Em minha casa, quando há um problema, não falam sobre
ele, agem como se nada se passasse”.

Tabela 9. Resultados do FF-SIL.


Diagnóstico No de famílias %

Família funcional 7 23.3


3 10
Família moderadamente funcional

Família disfuncional 18 60

2 6.7
Família altamente disfuncional

Total 30 100

Fonte: FF-SIL Teste de Perceção do Funcionamento Familiar

A Tabela 9 mostra que a maioria das famílias estudadas é disfuncional


(60% e 6%). Estes resultados estão em consonância com os resultados
obtidos nas técnicas anteriores, que mostram que os papéis estão mal
distribuídos, fundamentalmente relacionados com o modelo patriarcal,
os conflitos são evitados, a existência de qualquer problema é negada
e as estratégias de resolução são ineficazes, existe também uma
comunicação pouco clara e indireta, o que por sua vez causa
problemas nas relações afetivas e a autoridade permanece
fundamentalmente nas mãos do homem, o que causa desacordos
genéricos na tomada de decisões.

Como se pode observar na tabela 9, a amostra estudada afirma que


existe pouca coesão na sua família; 73% das pessoas estudadas
consideram que existe pouca união na sua família perante as
diferentes situações da vida quotidiana, bem como na tomada de
decisões relativamente às tarefas domésticas, Esta informação
coincide com os resultados encontrados na entrevista, onde se afirma
que nestas famílias existe uma tendência para uma dicotomia de
funções, sobrecarregando um dos membros da família e os papéis
aparecem de acordo com o estereótipo sexual tradicional. Podemos
então afirmar que existe um baixo grau de união, confiança,
valorização e respeito entre os membros da família, e que a qualidade
dos laços afetivos que os membros têm uns com os outros é
considerada disfuncional.

Outro dos indicadores estudados é a comunicação, que se encontra


disfuncional em 83% da amostra. É evidente que os membros destes
grupos não são capazes de transmitir as suas experiências e
conhecimentos de forma clara e direta, e muito menos de falar sobre
diferentes temas sem medo, pelo que o seu modo de comunicação é
principalmente através de insinuações. A comunicação tende a não ser
direta e tem sempre significados implícitos ou ocultos, havendo
muitas vezes falta de congruência entre mensagens e mensagens
duplas. 63% dos inquiridos afirmam que no seu lar reina a desarmonia
e que não há correspondência entre os interesses e as necessidades
individuais e os da família, pelo que não são respeitados e têm um
equilíbrio emocional negativo.

Tabela 10. Análises das categorias de funcionamento familiar.

Categorias de Funcionamento Valorização Famílias do estudo


familiar
(%)

Coesão Alta 12

Média 15

Baixa 73

Boa 10

Comunicação Regular 7

Má 83

Harmonia Harmonia 14
Baixa 23

Desarmonia 63

Conclui-se, a partir da análise desta técnica, que há um predomínio de


famílias disfuncionais na amostra estudada, sendo que, entre os
indicadores de funcionamento familiar mais afetados ou marcantes,
destacam-se os papéis, a comunicação, a adaptabilidade, a afetividade,
a coesão e a harmonia, com alterações notáveis também nas restantes
categorias de análise, resultados que se relacionam com outros
estudos realizados, onde as dimensões mais afetadas coincidem com
as anteriormente referidas.

Assim, estas famílias podem ser classificadas como: famílias


desvinculadas, com comunicação disfuncional, onde prevalece a
desunião e a desarmonia, com estruturas caóticas, pouca capacidade
de expressão, bem como poucas potencialidades e perspetivas de
mudança.
Considerações Finais
Predominam as famílias pequenas e médias, principalmente nucleares,
monoparentais, com más condições de vida, baixo nível de solvência
económica e elevado nível de sobrelotação.

Há um predomínio de famílias disfuncionais na amostra estudada,


sendo que, entre os indicadores de funcionamento familiar mais
afectados ou marcantes, destacam-se os papéis, a comunicação, a
adaptabilidade, a afetividade, a coesão e a harmonia, com alterações
notáveis também nas restantes categorias de análise, resultados que se
relacionam com outros estudos realizados, onde as dimensões mais
afetadas coincidem com as anteriormente referidas. Assim, estas
famílias podem ser classificadas como: famílias desvinculadas, com
comunicação disfuncional, onde prevalece a desunião e a desarmonia,
com estruturas caóticas, pouca capacidade de expressão, bem como
poucas potencialidades e perspetivas de mudança.

As crises normativas mais significativas são as relacionadas com a


fase de extensão da família. Predominam as crises paranómicas de
Desmoralização e Mudança económica importante.

Na maioria das famílias existe uma tendência para a dicotomia de


papéis, sendo estes desempenhados de acordo com o estereótipo
sexual tradicional, com uma sobrecarga de papéis. Na autoridade e na
tomada de decisões, o papel principal é ocupado pelo sexo masculino,
as principais áreas de conflito são no espaço doméstico e na
convivência, utilizam maioritariamente o evitamento ou a negação
como estratégia em situações de conflito e a comunicação surge como
um indicador disfuncional.

As famílias estudadas foram classificadas como disfuncionais de


acordo com as categorias do teste de funcionamento familiar,
incluindo a comunicação como a categoria mais afectada.

Recomendações
Tendo em conta a importância dada à família na sua função espiritual-
cultural, é necessário implementar um programa de intervenção com o
objetivo de orientar e fornecer ferramentas para a gestão adequada dos
jovens.

Explorar os espaços de orientação psicológica, dirigidos à população


em geral, através dos meios de comunicação de massa, com o objetivo
de resgatar os valores e a importância da família no cuidado dos
jovens.
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49-83.
ANEXOS
ANEXO 1

Formulário de consentimento informado.

Informamos que esta investigação está sendo realizada com o objetivo


de caracterizar os elementos da estrutura familiar (composição,
subsistemas familiares e condições de vida) nas famílias estudadas.

Para a qual solicitamos sua colaboração, ressaltando que caso não


deseje participar, você tem todo o direito de não:

Marque com uma X na opção desejada.

Você concorda em participar:

Sim ____

Não ____

Anexo 2

Guião de Entrevista semiestruturada.

Composição da família.

Presença de subsistemas familiares.

Condições de vida da família.

Histórico familiar.

Explorar quem toma a maioria das decisões na família.

Conhecer as funções desempenhadas por cada membro da família.

Estilos comunicativos e relacionamentos comunicativos.

Eventos significativos pelos quais estão passando.

Explorar crises transitórias e não transitórias, explicando


brevemente em que consistem.

Áreas de conflito.

Como lidar com conflitos.


Anexo 3
Teste de funcionamento da família. FF-SIL

Abaixo está uma série de situações que podem ou não ocorrer em uma
família. Precisamos que você classifique e marque com um (X) a
resposta de acordo com a frequência com que a situação ocorre.

Quase nunca (1) Raramente (2) Às vezes (3) Muitas


vezes (4) Quase sempre (5

1- As decisões são

tomadas.________________________________________________

para assuntos importantes da

família._________________________________________ 2- A

harmonia prevalece em minha

casa.______________________________________

1- Em minha família, todos cumprem suas


responsabilidades._______________________________________
_________________

2- As expressões de afeto fazem parte de nossa vida


cotidiana.______________________________________________
_________________

3- Nós nos expressamos sem situações, de forma clara e


direta._________________________________________________
_______________

4- Podemos aceitar as falhas dos outros e lidar com


elas.____________________________________________________
______________

5- Eles levam em conta as experiências de outra família em situações


difíceis.__________________________________________________
______________

6- Quando alguém da família tem um problema, os outros o


ajudam.__________________________________________________
______________

7- As tarefas são distribuídas de forma que ninguém fique


sobrecarregado._________________________________________
_________________

8- Os costumes familiares podem ser alterados em determinadas


situações.______________________________________________
_________________

9- Podemos discutir vários tópicos sem


medo._________________________________________________
________________ 12- Quando nos deparamos com uma situação
familiar difícil, podemos buscar ajuda de outras
pessoas._______________________________________________
___________

1- Os interesses e as necessidades de todos são


respeitados.___________________________________________
__________________

2- Mostramos nosso afeto uns pelos


outros.___________________________________

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