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DIREITO CIVIL

Sucessões – Parte II

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Sucessões – Parte II
Carlos Elias

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Sucessões – Parte II........................................................................................................................ 5
1. Sucessão Testamentária. . ........................................................................................................... 5
1.1. Noções Gerais............................................................................................................................. 5
1.2. Vedação ao Testamento Conjuntivo. . .................................................................................... 5
1.3. Testamento vs Codicilo............................................................................................................ 5
1.6. Flexibilizações no Testamento Público................................................................................ 7
1.7. Capacidade de Testar. . .............................................................................................................. 8
1.8. Espécies de Testamento. . ........................................................................................................ 9
1.9. Disposições Testamentárias.. ................................................................................................ 11
1.10. Legado.......................................................................................................................................16
1.11. Direito de Acrescer. . ............................................................................................................... 18
1.12. Substituições Testamentárias.............................................................................................19
1.13. Extinção do Testamento.. ..................................................................................................... 22
Questões de Concurso.................................................................................................................. 36
Gabarito............................................................................................................................................ 70

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Sucessões – Parte II
Carlos Elias

Apresentação
Olá!
Escute, desde logo: o ideal é você ler a teoria deste PDF e os comentários dos exercícios
que estão ao final. Separei tudo de forma milimetricamente calculada para você estar pre-
parado para enfrentar as provas.
Mais uma recomendação: faça você mesmo o seu resumo ou seu próprio mapa mental.
Não basta você ler o PDF; é fundamental você escrever o que você está aprendendo, pois
isso é que faz você fixar a matéria. Escrever o que você estuda te ajudará também a treinar
para as provas discursivas. Você é que precisa sistematizar o conhecimento. Não recomen-
do que você busque resumos ou mapas mentais feitos por outras pessoas, a não ser que,
posteriormente, você elabore o seu próprio resumo ou mapa mental. Eu, pessoalmente, pre-
firo fazer um resumo a fazer um mapa mental. Eu fixo mais assim. Fique, porém, à vontade
para adotar a metodologia de sua preferência.
Vamos em frente!

Resumo

Amigos e amigas, quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para
os exercícios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu
aprofundar o conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiarida-
de com as questões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não
tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• A sucessão testamentária decorre da vontade manifestada em testamento ou em
codicilo;
• Codicilo é menos formal e se dedica a bens de pequeno valor e a questão não patri-
moniais;
• Testamento é mais solene e pode abranger qualquer disposição patrimonial ou não
patrimonial;
• É vedado o testamento conjuntivo (dois testamentos, de pessoas diferentes, em um
mesmo instrumento);
• STJ admite flexibilizar algumas solenidades do testamento de modo excepcional,
como a quantidade de testemunhas, especialmente que, no caso concreto, não hou-
ver suspeitas de fraudes;
• Incapaz não pode testar, salvo o maior de 16 anos de idade;
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• Incapacidade superveniente do testador é irrelevante: o que importa é se o testador era


capaz ao tempo do testamento;
• Há três formas ordinárias do testamento: (1) público; (2) particular; e (3) cerrado;
• Há três formas especiais de testamento: (1) marítimo; (2) aeronáutico; e (3) militar;
• A cláusula de inalienabilidade abrange a de impenhorabilidade e a de incomunicabilida-
de;
• É preciso haver justa causa para a imposição de cláusula restritiva da propriedade sobre
a legítima (deserdação bona mente);
• O direito de acrescer entre os sucessores testamentários ocorre automaticamente se,
na redação da cláusula testamentária, o testador nomear mais de um sucessor para
uma mesma herança ou legado sem individualizar o quinhão de cada um;
• Há três espécies de substituição testamentária: a vulgar, a recíproca e a fideicomissória;
• A extinção do testamento pode ser classificada como:
− Extinção Normal: corresponde ao cumprimento do testamento. O testamento é feito
para ser cumprido. Se tal ocorre, ele se extingue pelo seu caminho normal;
− Extinção Anormal: refere-se à extinção do testamento por um motivo que não é a sua
vocação natural, ou seja, quando ele se extingue por hipótese diversa do seu cumpri-
mento. A extinção anormal pode se dar nestas hipóteses:
◦ Invalidade: abrange casos de nulidade ou anulabilidade;
◦ Redução testamentária: é uma hipótese de extinção parcial do testamento;
◦ Ineficácia: alcança as hipóteses de revogação, rompimento e caducidade.

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SUCESSÕES – PARTE II
1. Sucessão Testamentária
1.1. Noções Gerais
A sucessão testamentária é a que decorre de manifestação de última vontade do falecido,
expressada mediante testamento ou codicilo. Por essa via sucessória, a partilha dos bens do
falecido seguirá a vontade que, em vida, o falecido por uma desses instrumentos. Não é admi-
tido outro instrumento que não o testamento ou o codicilo diante do formalismo exigido pelo
Código Civil diante da seriedade da sucessão testamentária.

1.2. Vedação ao Testamento Conjuntivo


O art. 1.863 do CC veda o testamento conjuntivo, também chamado de testamento conjun-
to ou de mão comum, que é o testamento feito por duas ou mais pessoas no mesmo ato (no
“mesmo papel”). Não podem duas pessoas fazerem o testamento em um mesmo ato! Não se
podem formalizar dois testamentos em um único instrumento.
Não importa se o testamento conjuntivo é simultâneo (ambos os testadores favorecem
simultaneamente um terceiro), recíproco (um testador beneficia o outro, e vice-versa) ou cor-
respectivo (um testador beneficia o outro na mesma proporção em foi beneficiado).
Nada impede, porém, que cada pessoa faça um testamento diferente, em atos diferentes
(em “papéis diferentes”), beneficiando quem quer que seja.
O motivo da proibição do testamento conjuntivo é que permitir que duas pessoas, no mes-
mo instrumento, façam um testamento viola a natureza personalíssima do testamento, cuja
eficácia é vinculada a questões personalíssimas, como a possibilidade de revogar,
Zeno Veloso (2017) lembra que vários países também vedam o testamento conjuntivo
(como França, Portugal, Espanha, Japão, Argentina e Chile), mas que a Alemanha admite o
testamento conjuntivo se for feito por cônjuges.

1.3. Testamento vs Codicilo


1.3.1. Principal Distinção

Testamento é o negócio jurídico unilateral por meio do qual a pessoa manifesta sua última
vontade para a partilha do seu patrimônio e para outras questões não patrimoniais. O legisla-
dor é muito formalista para o testamento, exigindo várias cautelas formais (testemunhas, por
exemplo) em razão da seriedade do ato.
Já o codicilo é, por assim dizer, um “pequeno testamento”, por envolver questões de me-
nor monta. É, mais tecnicamente, o negócio jurídico unilateral por meio do qual uma pessoa

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expressa sua última vontade para a partilha de bens móveis de pequeno valor ou para ques-
tões não patrimoniais, como seu enterro (art. 1.881, CC). Como o codicilo lida com questões
de menor monta, o legislador dispensou-o do rigoroso formalismo do testamento. O codicilo
pode ser realizado por mero instrumento particular (por um mero escrito particular). Não
há necessidade de testemunhas nem de outra formalidade adicional, tudo conforme art.
1.881 do CC.

1.3.2. Codicilo: Aplicação Subsidiária das Regras de Testamento

O codicilo pode tratar de questões patrimoniais de pequeno valor e, portanto, no que cou-
ber e no que for omisso o regramento específico, deve respeitar todas as regras de proteção
da legítima e da higidez da vontade do disponente no testamento, como as regras relativas à
redução testamentária, ao rompimento, à revogação etc.

1.3.3. Interação entre Testamento e Codicilo: Revogação

De um lado, como o testamento é mais abrangente, ele pode revogar codicilo, conforme
reconhece o art. 1.884 do CC.
De outro lado, se o testamento lida com questões próprias do codicilo, indaga-se: o codicilo
poderia revogar essas partes do testamento?
O tema é controverso.
Entendemos positivamente, pois, nessas questões de valor, o testamento é, materialmente,
um codicilo, embora formalmente seja um testamento. Advertimos que, em regra, o codicilo
não pode revogar o testamento. A exceção corre à conta daquelas partes do testamento que
lidou com questões de pequeno valor ou questões não patrimoniais que poderiam ser tratadas
em codicilo. No mesmo sentido do que defendemos, estão Cristiano Chaves de Farias e Nel-
son Rosenvald (Farias e Rosenvald, 2020, pp. 433-434).
Há, porém, respeitados doutrinadores que anunciam a inaptidão do codicilo para revogar um
testamento, sem, porém, enfrentar especificamente a exceção que mencionamos acima (a de o
codicilo revogar apenas as cláusulas do testamento que lidou com matéria própria de codicilo).

1.3.4. Revogação Tácita de Codicilo com Superveniente Testamento

A superveniência de testamento revoga codicilo anterior, salvo se este for expressamente


confirmado no testamento. O legislador resolveu presumir que, ao manifestar a sua última
vontade de modo mais formal (por testamento), o testador revogou o codicilo anterior, salvo
previsão expressa e diversa no testamento. É o art. 1.884 do CC. O motivo disso é que, ao es-
colher uma via extremamente formal para suas disposições de última vontade (o testamento),
o testador se esqueceu ou desprezou os seus “escritos simples” que tratavam de questões de
pequena monta ou de questões não patrimoniais.

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Diferente é o raciocínio no caso dois testamentos. O testamento posterior não revoga o


anterior pelo simples silêncio, pois ambas são vias extremamente formais e, por isso, não se
deve presumize 10/03/2016).
Em outros casos de ação de confirmação, registro e cumprimento de testamento, o STJ
admitiu a confirmação de testamento particular assinado por 2 testemunhas apenas (STJ,
REsp 1432291/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva DJe 08/03/2016; REsp
1583314/MG, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 23/08/2018). Seja como for, se não
houver sequer a assinatura de uma testemunha instrumentária no testamento particular, ele
deve ser considerado nulo diante da gravidade da irregularidade formal, ainda que terceiros
aleguem ter presenciado o ato (STJ, REsp 1639021/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas
Bôas Cueva, DJe 30/10/2017).
Não é, porém, possível flexibilizar indiscriminadamente as formalidades do testamento
particular, especialmente se houver elementos que levantem suspeitas. A falta, por exemplo,
de assinatura do próprio testador, por exemplo, impede a confirmação do testamento por ser
nulo (se o testador escreveu e não assinou) ou inexistente (se testador sequer escreveu a cé-
dula apócrifa).
Ademais, como não é admitida a assinatura “a rogo” no testamento particular diante da
obrigatoriedade legal da assinatura do testador na cédula, tem-se que cegos, analfabetos e
pessoas incapazes de escrever (assinar) só podem fazer testamento público (arts. 1.865,
1.867 e 1.876, §§ 1º e 2º, do CC).
Questão interessante é saber se o testador pode, no lugar de assinar de próprio punho,
lançar apenas a sua impressão digital. O STJ admite como válido o testamento particular com
a impressão digital quando não houver suspeitas contra a lucidez e a livre vontade do testa-
dor. Com base nisso, o STJ confirmou um testamento particular com a impressão digital do
testador no caso em que todas as três testemunhas eram unânimes acerca da livre vontade
do testador (STJ, REsp 1633254/MG, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 18/03/2020).
Com esse julgado, ficaram superadas as divergências que havia no âmbito do STJ1.

1.6. Flexibilizações no Testamento Público


Mesmo no caso de testamento público, irregularidades formais não devem gerar invalida-
de do testamento se há segurança probatória acerca da efetiva manifestação de vontade.
Assim, no caso de as testemunhas instrumentárias do testamento público serem funcio-
nários do cartório que não presenciaram efetivamente a declaração, embora tal prática ca-
racterize irregularidade administrativa por parte do tabelião capaz de autorizar repreensões
disciplinares, não há falar em invalidade do testamento público pelo fato de inexistir elementos
probatórios que comprometam a fidedignidade da cédula. Trata-se de uma irregularidade
1
Havia precedentes antigos que negavam a impressão digital como substituta da assinatura de próprio punho (STJ, REsp
1618754/MG, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 13/10/2017).

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formal incapaz de invalidar o testamento público (STJ, REsp 1419726/SC, 3ª Turma, Rel. Minis-
tro Marco Aurélio Bellizze, DJe 16/12/20142).
Igualmente, no caso de testamento público cujo testador é cego, é requisito formal que essa
condição seja consignada na cédula e que haja duas leituras em voz alta: uma pelo tabelião ou
seu substituto e outra por uma das testemunhas (art. 1.867, CC). O STJ entendeu que a falta
da segunda leitura em voz alta (a feita pela testemunha) e a ausência de menção expressa à
condição de cego seriam meras irregularidades incapazes de invalidar o testamento público se
inexistirem outros elementos probatórios que coloquem em suspeição a fidedignidade das de-
clarações (STJ, REsp 1677931/MG, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 22/08/2017).
Cita-se, ainda, outros julgados que flexibilizaram requisitos formais de somenos importância no
caso concreto: STJ, AgInt no REsp 1521371/MG, 4ª Turma, Rel. Ministro Marco Buzzi, DJe 03/04/2017;
AgRg no REsp 1401087/MT, 3ª Turma, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, DJe 13/08/2015.

1.7. Capacidade de Testar


1.7.1. Requisito

Diante do caráter personalíssimo do testamento, o legislador considera inapto a fazer tes-


tamento não apenas os incapazes, mas também “os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno
discernimento” (art. 1.860, CC). Por conta disso, ainda que uma pessoa não se enquadre nas
hipóteses de incapacidade absoluta ou relativa (arts. 3º e 4º, CC), se ela não exibir lucidez ple-
na no momento da lavratura do testamento, ela é incapaz.
Há apenas uma exceção: quem tem mais de 16 anos pode testar, apesar de serem relati-
vamente incapazes.
Havendo incapacidade para testar, o testamento será nulo.

1.7.2. Irrelevância de Mudança Posterior do Estado

Para aferir a validade do testamento à luz da capacidade de testar, o que importa é o mo-
mento da lavratura do testamento. É irrelevante a posterior mudança da capacidade de testar;
fatos posteriores relativamente à capacidade são desinfluentes.
De fato, à luz do art. 1.861 do CC, a incapacidade superveniente não invalida o testamento,
tampouco capacidade posterior não valida testamento feito por incapaz.
De um lado, se, no momento da prática do ato, a pessoa era apta a testar, o testamento é
válido, ainda que, posteriormente, ela se torne incapaz. Se o testador perde totalmente seu dis-
cernimento e, portanto, não tem mais condições de revogar um testamento, isso é irrelevante,
até porque, se ele tivesse morrido, o testamento já teria produzido efeito.
2
No caso concreto analisado pelo STJ, a tabeliã que praticava reiteradamente a irregularidade de colocar seus funcionários
para assinarem instrumentos como testemunhas instrumentárias apesar de não presenciarem os atos acabou perdendo a
delegação por outras irregularidades. Funcionário de cartório pode ser testemunha instrumentária, desde que presencie o ato.

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De outro lado, se o testador era incapaz no momento da elaboração do testamento, este


é nulo (art. 1.860, CC). Caso o testador incapaz convalesça e se torne capaz, cumpre-lhe fa-
zer outro testamento, já que aquele que ele fez no seu período de falta de lucidez é nulo e
irremediável.

1.8. Espécies de Testamento


O testamento pode assumir dois tipos de formas: a ordinária ou a especial.
As formas ordinárias de testamento são os testamentos público, particular e cerrado (art.
1.862, CC).
As formas especiais são os testamentos marítimo, aeronáutico e o militar (art. 1.886, CC).
Não se pode criar outro tipo de testamento sem respaldo legal, visto que o CC adota o regi-
me da taxatividade das espécies de testamento por conta da solenidade do ato (art. 1.887, CC).

1.8.1. Formas Ordinárias

Testamento Público, de Forma Pública ou de Forma Aberta

Disciplinado pelos arts. 1.864 ao 1.867 do CC, o testamento público, de forma pública ou
de forma aberta é aquele que é formalizado por uma escritura pública, ou seja, que é redigido
por um tabelião.
É exigido, no mínimo, duas testemunhas instrumentárias, além de ter de ser lido em alta
voz pelo tabelião perante o testador e perante as testemunhas (fato que – recomenda-se –
deve ser consignado na escritura pública).
Se o testador for surdo, ele terá de ler o testamento ou, se não souber ler, designará uma
pessoa para ler no seu lugar diante das duas testemunhas (art. 1.866, CC).
Cegos só podem fazer testamentos públicos, pois a intermediação do tabelião – que é um
agente público – reduzirá o risco de fraudes (art. 1.867, CC).
É claro que o tabelião, o testador, e as testemunhas têm de assinar a escritura. Todavia,
se o testador não puder ou não souber assinar, é permitido que qualquer testemunha assine a
rogo do testador, fato que será declarado pelo tabelião na escritura (art. 1.865, CC).

Testamento Particular, Hológrafo ou Privado

Regra Geral

Disciplinado nos arts. 1.876 ao 1.880 do CC, o testamento particular, hológrafo3 ou privado
é aquele redigido e lido pelo próprio testador.
Não pode ter rasusas ou espaços em branco, se tiver sido redigido de modo mecânico, sob
pena de facilitar fraudes e adulterações (art. 1.876, § 2º, CC).
3
Diz-se hológrafo, porque ele é todo (“holo”) escrito pelo testador (grafado – “grafo”).

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É exigida a presença de 3 testemunhas instrumentárias, tudo com o objetivo de garantir a


fidedignidade do instrumento (art. 1.876, § 1º, do CC). Não há incongruência alguma do CC em
relação ao fato de ter exigido apenas 2 testemunhas para o testamento público, pois, nesta, o
tabelião acaba exercendo o papel de mais uma testemunha, de modo que a manifestação de
vontade do testador se faz diante de três pessoas.
No futuro, quando da morte do testador, essas testemunhas serão ouvidas e, caso atestem
a fidedignidade do testamento, este será confirmado. À falta das testemunhas (que podem
ter morrido, por exemplo), o juiz pode confirmar o testamento com base em outros elementos
probatórios da veracidade da cédula testamentária (art. 1.878, CC).
O idioma do testamento particular pode ser estrangeiro, desde que as testemunhas o com-
preendam (art. 1.880, CC).

Testamento Particular de Emergência

É viável o testamento particular sem testemunha alguma se o testador consignar alguma


circunstância excepcional, caso em que o juiz verificará a procedência dessas circunstâncias
e aferirá a veracidade do instrumento pelos elementos probatórios disponíveis (art. 1.879, CC).
Trata-se do que a doutrina designa de testamento particular de emergência ou, simplesmente,
testamento de emergência.

Testamento Cerrado, Secreto ou Místico

Disciplinado pelos arts. 1.868 ao 1.875 do CC, o testamento cerrado, secreto ou místico é
aquele que, embora tenha sido escrito pelo testador (ou por outrem a seu rogo), é aprovado e
lacrado pelo tabelião de notas.
Para tanto, o testador, diante de duas testemunhas, tem de entregar a cédula para o tabe-
lião, o qual, logo após a última palavra escrita na cédula, lavrará o auto de aprovação e lacrará
o testamento.
O testamento, já lacrado, será devolvido ao testador após o tabelião consignar, em seus
livros, a prática do ato de aprovação do testamento (art. 1.874, CC).

1.8.2. Formas Especiais

Testamento Marítimo

Disciplinado pelos arts. 1.888 ao 1.892 do CC, o testamento marítimo é o lavrado pelo co-
mandante da embarcação perante duas testemunhas com registro no diário de bordo. Segue-
-se, no que couber, as regras do testamento público ou cerrado, caso em que o comandante
atuará como se fosse o tabelião.

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Esse tipo de testamento só é admitido em favor de passageiros da embarcação, desde que


esta não esteja embarcada em porto onde era viável lavrar um testamento na forma ordinária
(arts. 1.889 e 1.892, CC).
Todavia, sob pena de caducidade, eles têm o dever de, em até 90 dias do desembarque em
terra, fazer um testamento na forma ordinária, salvo – é óbvio – se o testador tiver falecido
antes disso (art. 1.891, CC).

Testamento Aeronáutico

O testamento aeronáutico, mutatis mutandi, segue as mesmas regras do testamento marí-


timo (arts. 1.888 ao 1.892, CC).

Testamento Militar

Regra Geral

O testamento militar é disciplinado nos arts. 1.893 ao 1.896 do CC e se destina a hipóteses


em que militares ou pessoas a serviço das Forças Armadas que, estejam em situação excep-
cional (vinculada à sua atividade) sem condições de lavrar um testamento perante um tabe-
lião. Nesse caso, sob a presença de 2 ou 3 testemunhas, o comandante, o oficial de saúde ou,
na hipótese de o testador ser o mais graduado, o oficial substituto fará o papel de um tabelião
e lavrará um testamento militar.
Todavia, sob pena de caducidade, o testador tem o dever de lavrar testamento na forma
ordinária nos 90 dias posteriores à cessação da circunstância excepcional, salvo se o testa-
mento tiver sido redigido de próprio punho pelo testador perante duas testemunhas e tiver sido
apresentado ao auditor na forma do art. 1.894 do CC.

Testamento Nuncupativo Verbal

De modo muito excepcional, é admitido o testamento nuncupativo verbal, assim entendido


aquele por meio do qual o testador declara verbalmente a sua última vontade perante duas
testemunhas. Tal só é admitido se o testador estiver em combate ou ferido. Caso, porém, ele
sobreviva à guerra ou convalesça, o testamento caduca (art. 1.896, CC).

1.9. Disposições Testamentárias


Ao regulamentar as disposições testamentárias, apontando as diretrizes que devem ser se-
guidas na análise das cláusulas do testamento, os arts. 1.897 ao 1.911 do CC tratam de quatro
grupo de questões: (1) elementos acidentais do negócio jurídico; (2) regras de interpretação;
(3) cláusula restritiva da propriedade; e (4) invalidade de disposição testamentária.

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Com exceção desta última – que será objeto de análise em outra ocasião -, passamos à
análise do assunto.

1.9.1. Cláusula Restritiva da Propriedade

Definição

Como se dá sobre qualquer liberalidade, o testador pode impor cláusula restritiva da pro-
priedade sobre a deixa testamentária.
Há três cláusulas restritivas da propriedade: inalienabilidade, incomunicabilidade e impe-
nhorabilidade. A primeira, por presunção legal, já abrange as duas últimas (art. 1.911, CC).

Sub-Rogação Real

O bem clausulado só poderá ser convertido em outro por conta de desapropriação ou de


autorização judicial que leve em conta a conveniência econômica do sucessor, mas, nesse
caso, a cláusula restritiva da propriedade recairá sobre o novo bem, ou seja, haverá a sub-roga-
ção real (art. 1.911, parágrafo único, CC).

Cláusula Restritiva sobre Bem da Legítima (Art. 1.848, CC): Deserdação


Bona Mente e Cancelamento por Perda da Justa Causa

Embora o testador, em regra, só possa dispor da sua parte disponível quando tem herdeiros
necessários, o art. 1.848 do CC, com olhos na proteção do próprio herdeiro necessário, auto-
riza que o testador imponha uma cláusula restritiva da propriedade sobre bens da legítima,
desde que apresente uma justa causa para tanto. Por exemplo, se um filho sofre de gravíssimo
vício de entorpecentes e tende a ter comportamento perdulário para alimentar o vício, o pai, por
testamento, poderia impor uma cláusula de inalienabilidade sobre esse imóvel apresentando
essa justa causa, supondo-se que esse imóvel integra a legítima.
Essa hipótese é conhecida na doutrina como deserdação bona mente, pois, em princípio,
está limitando os direitos do herdeiro necessário sobre a legítima por um bom motivo.

Questões Especiais
Cancelamento da Cláusula Restritiva da Propriedade com Base na Função
Social

Em regra, a cláusula restritiva da propriedade só pode ser cancelada com a morte do su-
cessor, salvo previsão de termo ou condição resolutiva para momento anterior. Jamais esse
gravame será transmitido para depois da morte do sucessor (STJ, REsp 1641549/RJ, 4ª Turma,
Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe 20/08/2019).
Excepcionalmente, porém, mesmo sem fundamento legal expresso, o STJ admite o can-
celamento da cláusula com fundamento social se, no caso concreto, o juiz verificar que isso

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será mais proveitoso para o sucessor (STJ, REsp 1422946/MG, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 05/02/2015).
É o caso, por exemplo, do sucessor que, tendo recebido uma fazenda como legado com cláusu-
la de inalienabilidade, está passando fome por não ter o menor traquejo com a exploração de ativida-
des agrárias. Nesse caso, se ele comprovar que tem aptidão para se mudar para cidade e começar
novas atividades econômicas, o juiz pode autorizar o cancelamento da cláusula de inalienabilidade.

Doação de Bem da Legítima a Herdeiro Necessário com Cláusula Restritiva


da Propriedade

Como o art. 1.848 do CC exige justa causa para a imposição de cláusula restritiva da pro-
priedade sobre bem da legítima no caso de testamento, deve-se, por analogia, estender esse
dispositivo para casos de doação de bens da legítima a herdeiro necessário, pois, em ambos
os casos (testamento ou doação), há uma liberalidade. Não estender, por analogia, o referido
preceito seria admitir a burla à exigência de justa causa pela via da doação.
Nesse sentido, o STJ, analisando caso de doação a descendentes e enfatizando que aí há
uma antecipação de legítima na forma do art. 544 do CC, decidiu pela necessidade de haver
justa causa para justificar a imposição de uma cláusula restritiva da propriedade (STJ, REsp
1631278/PR, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 29/03/2019).
Alerta-se para o fato de que, se a doação ao descendente viesse da parte disponível do doador
(o que ocorre se houver previsão expressa de dispensa de colação na forma do art. 2.005, CC4),
não haveria necessidade de justa causa, porque o art. 1.848 do CC se restringe a bens da legítima.

Cancelamento da Cláusula Restritiva da Propriedade pela Perda da Justa


Causa no Caso de Bens da Legítima

O STJ admite que, judicialmente, o herdeiro necessário pleiteie o cancelamento da cláusula


restritiva da propriedade imposta sobre bem da legítima se comprovar que a justa causa desa-
pareceu (STJ, REsp 1631278/PR, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 29/03/2019).

1.9.2. Elementos Acidentais no Testamento

Condição: Permissão para Herdeiro ou Legatário

Testador, ao deixar uma herança (patrimônio) ou um legado, pode estabelecer uma condi-
ção suspensiva ou resolutiva (art. 1.897, CC).
4
Essa dispensa pode ocorrer depois de prático o ato (Oliveira, 2020-B).

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Termo

Vedação para Herdeiro

No caso de herança testamentária, apesar de ser admitido condição suspensiva ou re-


solutiva, o art. 1.898 do CC proíbe o uso de termo suspensivo ou resolutivo, com exceção da
hipótese de substituição fideicomissória.
A nulidade da cláusula testamentária que prevê termo para herdeiro não implica invalidade
de toda a cláusula! O art. 1.898 do CC apenas o considera “não escrito”, razão por que a heran-
ça testamentária se transmitirá sem qualquer termo suspensivo ou resolutivo.
O motivo é que termo só deveria ser usado pelo testador em caso de substituição fideico-
missória. Permitir para qualquer hipótese desfiguraria esse instituto.
Além do mais, o termo sobre herança (que é um patrimônio, e não uma coisa individuali-
zada) afrontaria uma regra antiga do Direito Romano no sentido de que herança não deve ficar
sujeita a termos, pois, “uma vez herdeiro, herdeiro para sempre” (semel heres semper heres”).
A regra decorre, em última análise, do princípio da perpetuidade da propriedade5 e da função
social (que desaconselha o engessamento da circulação de imóveis para atender a caprichos
de quem já morreu).
Clóvis Beviláqua, porém, critica a falta de coerência do CC, pois, apesar de ter proibido o
termo para a herança testamentária, admite que esta seja sujeita à condição. O pai do CC/1916
afirmava que, “para sermos lógicos, deveríamos considerar também como não escrita a condi-
ção resolutiva, que trona função temporária a instituição do herdeiro na qualidade de continu-
ador da pessoa do de cujus”.

Permissão para Legado

Apesar de ser proibido o termo para a herança, o art. 1.924 do CC admite termo (como uma
data ou um prazo) para o legado.
O motivo da distinção é o fato de que, no caso de herança testamentária, o sucessor é
titular de um patrimônio (o que envolve ativos e passivos), de maneira que soaria inconve-
niente essa condição ser temporária. Quando, porém, se trata de legado, o sucessor é titular
apenas de uma coisa específica e, por isso, poderá fruir dela de forma mais adequada dentro
do termo legal.

1.9.3. Regras de Interpretação

Dúvida Interpretativa (Art. 1.899, CC)

Havendo dúvida na interpretação de uma cláusula, deve-se buscar aquela que mais bem
assegure a vontade do testador (art. 1.899, CC). Trata-se de um desdobramento do princípio da
vontade soberana do testador.
5
Farias e Rosenvald, 2016, p. 438.

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Erro Acidental quanto à Pessoa ou ao Objeto (Art. 1.903, CC)

Erro gera anulação do testamento (arts. 1.903 e 1.909, CC).


Todavia, se for viável, com base em outros documentos ou em fatos inequívocos, for viável
sanar erros na designação do sucessor ou da coisa legada, o juiz deve fazê-lo, tudo em nome
do princípio da conservação do negócio jurídico e do princípio da vontade soberana do testa-
dor. Di-lo o art. 1.903 do CC.

Presunção de Rateio Pro Rata (Art. 1.904, CC)

À semelhança da lógica adotada para doações conjuntivas (art. 551, CC) e obrigações divi-
síveis (art. 257, CC), presume-se que a deixa testamentária deve ser rateada em partes iguais
(pro rata) entre os cossucessores, se o testador não individualizou a fração de cada um (art.
1.904, CC).

Presunção de Unidade na Designação Coletiva (Art. 1.905, CC)

No caso de designação coletiva (ou seja, no caso de o testador nomear cossucessores in-
dicando um grupo) em conjunto com designação individual, deve-se presumir que cada grupo
representa uma quota da deixa testamentária, impendentemente da quantidade de membros
(art. 1.905, CC). Ex.: “deixo um apartamento a João, a Maria e aos filhos de Patrícia”. Nesse
caso, João e Maria terão, cada um, 1/3 do apartamento, ao passo que os filhos da Patrícia fi-
carão com o último 1/3 do apartamento (porção essa que será rateado igualmente entre todos
os filhos da Patrícia).

Rateio do Remanescente da Parte Disponível (Arts. 1.906 e 1.907, CC)

Em regra, o remanescente da parte disponível será rateado entre os herdeiros legítimos


(art. 1.906, CC).
A exceção corre à conta da hipótese em que o testador tiver designado herdeiros testa-
mentários sem especificar o quinhão deles, pois, nesse caso, será rateado entre eles aquilo
que sobrar da parte disponível após a contemplação dos herdeiros com quinhões determina-
dos (art. 1.907, CC).

Exemplo: “instituo João como meu herdeiro testamentário e deixo 10% do meu patrimônio a
Manoel”. Nesse caso, considerando que eu tinha herdeiro necessário e que, portanto, a minha
parte disponível é de 50% do meu patrimônio, tem-se que 10% irá para Manoel e 40% (o resto
da parte disponível) para João, ao passo que a legítima será partilhada entre os herdeiros
necessários segundo as regras da sucessão legítima.

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Disposição para Generalidade De pessoas (Art. 1.902, CC)

Se o testador faz disposição em favor de uma generalidade de pessoas, como aos pobres
ou às entidades filantrópicas, presumir-se-á que a sua vontade foi contemplar a generalidade
de pessoas de seu domicílio, salvo manifesta prova em contrário (art. 1.902, caput, CC).
E, nesse caso, as entidades privadas preferirão às públicas, o que se justifica pelo fato de
estas já serem custeadas pelos impostos (art. 1.902, parágrafo único, CC).

1.10. Legado
1.10.1. Definição

Legado é a deixa testamentária que consiste em uma coisa ou em uma fração ideal de uma
coisa. Decorre, pois, de uma sucessão a título singular. Distingue-se da herança (em sentido
estrito), que corresponde a um patrimônio (ativos e passivos) ou a uma fração dele.
Nos arts. 1.912 ao 1.940 do CC, o legislador esmiúça o assunto do legado.

1.10.2. Espécies

Legado de Coisas Certa Alheia e de Coisa Comum

É ineficaz (e, portanto, gera caducidade) o legado de coisas certas que não pertençam ao
testador no momento da morte (arts. 1.912 e 1.939, II e III, CC). Não importa se o testador sa-
bia que coisa certa pertencia a terceiros. Testador não pode legar coisas alheias.
Nada, porém, impede que o testador, sabendo que uma coisa certa seja de terceiro, estabe-
leça que o testamenteiro tente adquiri-la com os recursos do espólio a fim de entregá-la ao le-
gatário. Nesse caso, o legado de coisa certa alheia será eficaz, pois o testador não está dispon-
do de coisa alheia, e sim determinando o uso de seus recursos para adquirir determinado bem.
Se, todavia, o testador for condômino da coisa certa legada (legado de coisa comum), o
testamento será eficaz apenas em relação à sua fração ideal na coisa (art. 1.914, CC).

Sublegado, Legado de Coisa do Sucessor ou Legado com Encargo de Entre-


gar Coisa a Outrem

Testador pode deixar um legado a alguém com o encargo de que este entregue coisa de
sua própria propriedade (sublegado) a outrem (sublegatário). Ex.: deixo o apartamento do Rio
de Janeiro (legado) a Manoel (legatário) com o encargo de que este transfira a sua casa de São
Paulo (sublegado) a Maria (sublegatária).
Se o legatário não quiser cumprir o encargo, presume-se que ele renunciou à deixa testa-
mentária (art. 1.913, CC).
Se, porém, o legatário quiser cumprir o encargo, ele, salvo disposição contrária do testador,
terá direito a pleitear, em regresso, contra os demais coerdeiros, o reembolso do sublegado
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(art. 1.935, CC). A presunção da lei é a de que o ônus financeiro do sublegado não pode ser
suportado pelo legatário, salvo se o testador expressamente o tiver previsto.

Legado de Coisa Genérica

Nada impede que o testador ordene que seja adquirida uma coisa genérica pelos herdeiros
a fim de ser entregue ao legatário. Nesse caso, na verdade, o testador está deixando uma coi-
sa especificada apenas pelo gênero e a quantidade. Caberá ao testamenteiro adquirir a coisa,
individualizando-a (concentração) usando os recursos do espólio.

Exemplo: “deixo um cavalo de tal qualidade a João”. Caberá ao testamenteiro comprar um


cavalo com a qualidade indicado pelo testador para entregar ao João.

Legado de Coisa Singularizada

Se o testador deixar uma coisa singularizada de sua propriedade, é irrelevante se ela tiver
reduzido em quantidade: a disposição testamentária será eficaz até onde ela existir entre os
bens do falecido.
Suponha que Manoel deixe 1 tonelada de grãos de minha fazenda para João, mas, quando
de abertura da sucessão, só há 500Kg de grãos. O legado será eficaz só até esses 500 Kg que
sobraram (art. 1.916, CC).

Legado de Alimentos

O legado pode consistir em alimentos in natura ou em espécie, na forma do art. 1.920 do


CC. Ter-se-á aí uma hipótese de alimentos voluntários.

Legado de Usufruto

Se o legado for um usufruto sobre um determinado bem, presume-se que ele é vitalício,
salvo previsão diversa no testamento (art. 1.921, CC).

Legado de Imóvel

No caso de o legado ser um imóvel, as benfeitorias feitas no imóvel legado estão incluídas,
mas não outros imóveis que tenham sido adquiridos em proximidade com o imóvel legado. A
exceção dá-se se houver previsão em contrário (art. 1.922, CC).

Legado de Dinheiro

No caso de o legado ser dinheiro, só se poderá cobrar juros desde o dia em que for consti-
tuído em mora a pessoa obrigada a pagar o valor (art. 1.925, CC).
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Legado em Renda ou Pensão Periódica

Presume-se que a renda ou a pensão prevista a título de legado sejam devidas desde a data
da morte do testador (art. 1.926, CC).

Legado Alternativo

No caso de legado alternativo, a escolha é, em regra do herdeiro ou, se este morrer, aos
seus sucessores (arts. 1.932 e 1.933, CC).

1.11. Direito de Acrescer


1.11.1. Definição

Na sucessão testamentária, o direito de acrescer é o direito que um sucessor testamentá-


rio tem de receber a quota de outro que não pôde ou não quis receber a deixa testamentária.
É o caso, por exemplo, de não aceitação da deixa testamentária, de premoriência, de exclusão
sucessória por indignidade ou de falta de vocação hereditária (ex.: art. 1.801, CC).
O tema é disciplinado nos arts. 1.941 do CC.

1.11.2. Cabimento e as Conjunções na Redação do Testamento

Em regra, o direito de acrescer ocorre automaticamente se, na redação da cláusula testa-


mentária, o testador nomear mais de um sucessor para uma mesma herança ou legado sem
individualizar o quinhão de cada um. O legislador presume que, ao deixar de individualizar a
porção, o testador quer que haja o direito de acrescer entre os sucessores por ele indicados
para ficar com a deixa testamentária.
A exceção corre à conta dos casos em que o testador expressamente prevê o contrário, o que
pode ocorrer quando o testador simplesmente proíbe o direito de acrescer ou quando ele nomeia
um substituto (hipóteses de substituição testamentária), tudo conforme arts. 1.941 e 1.942 do CC.
Para sistematizar as formas de redação da cláusula testamentária que admitem ou não o direi-
to de acrescer, a doutrina especifica três tipos de conjunções utilizadas na redação de testamentos:
• Conjunção verbal ou verbis tantum: é quando se individualiza o quinhão de cada suces-
sor em uma mesma disposição testamentária, ou seja, em um mesmo período, em um
mesmo parágrafo. Em outras palavras, é “verbalizado” o quinhão de cada um no texto
da cláusula testamentária. A “voz” é o elemento de conjunção (de ligação) entre os su-
cessores. Imagine que, em um parágrafo do testamento, escrevo: “deixo 70% dos meus
bens a João e os outros 20% dos meus bens para Artur”;
• Conjunção real ou re tantum: é quando um mesmo bem é endereçado a dois sucessores
em cláusulas diferentes. Em outras palavras, a coisa (a res) foi o elemento de conjunção
(de ligação) entre os sucessores. Imagine que, em um testamento, no primeiro pará-
grafo, escrevo: “deixo o apartamento n. X para Artur”. No segundo parágrafo, escrevo:
“deixo o apartamento n. X para Manoel”;

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• Conjunção mista ou re et verbis: é quando, em um mesmo parágrafo, um bem é en-


dereçado a dois sucessores sem a individualização do quinhão de cada um. Suponha
que, em um parágrafo do testamento, escrevo: “deixo o apartamento n. Y para Afonso e
Thiago”.

A utilidade prática dessa classificação doutrinária é distinguir quando há ou não direito


de acrescer.
Não há direito de acrescer na conjunção verbal, pois o testador especificou a quota de cada
sucessor. O STJ chancela isso (STJ, REsp 566.608/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Castro Filho, DJ
17/12/2004; STJ, REsp 1674162/MG, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe
26/10/2018).
Já, no caso de conjunção real ou de conjunção mista, há direito de acrescer por se presumir
que o testador quisesse esse direito de acrescer, salvo previsão expressa em contrário pelo
testador (art. 1.941 e 1.942, CC).
Podemos fazer este resumo:
• Há direito de acrescer em:
− Mesmo objeto + mais de uma pessoa + sem individualização:
◦ Conjunção real ou “re tantum”: disposições ou frases diferentes;
◦ Conjunção mista ou “re et verbis”: mesma disposição ou frase;
• Não há direito de acrecer em:
− Mesmo objeto + mais de uma pessoa + com individualização:
◦ Conjunção verbal ou “verbis tantum”: testador especifica a quota de cada herdeiro/
legatário testamentário.

1.12. Substituições Testamentárias


Substituição testamentária dá-se quando o testador indica alguém para “substituir” (substi-
tuto testamentário) um sucessor que não possa6 ou não queira7 receber a deixa testamentária
(sucessor inicial). O “substituto testamentário” substitui o “sucessor inicial”.
O tema é disciplinado nos arts. 1.947 ao 1.960 do CC.
Há três espécies de substituição testamentária: a vulgar, a recíproca e a fideicomissória.

1.12.1. Substituição Vulgar, Ordinária ou Direta

Substituição vulgar, ordinária ou direta ocorre quando o testador indica um ou mais suces-
sor substituto para o caso de um ou mais sucessores iniciais não quererem ou não poderem
receber a deixa testamentária (art. 1.947, CC).

6
É o caso, por exemplo, de premoriência, de exclusão sucessória por indignidade ou de falta de vocação hereditária (ex.: art.
1.801, CC).
7
É o caso de não aceitação da deixa testamentária.

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A substituição vulgar pode ser singular (ou simples) ou coletiva.


Se houver apenas um sucessor substituto, tem-se uma substituição vulgar singular ou sim-
ples. Ex.1: “deixo um apartamento a João (“sucessor inicial”), mas, caso ele não queira ou não
possa receber, o bem deve ir para Manoel (“substituto testamentário”)”. Ex.2: “deixo uma casa
a Maria e a Joaquim (“sucessores iniciais), mas, na hipótese de qualquer deles não querer ou
não poder receber, o seu quinhão deve reverter-se a Manoel (“substituto testamentário”).
Se, porém, houver dois ou mais sucessores substitutos, há uma substituição vulgar cole-
tiva. Ex.: “deixo o imóvel para João (“sucessor inicial”), mas, na hipótese de ele não querer ou
não poder, o bem deverá ir para Afonso, Rodolfo e Bruno (“substitutos testamentários”)”.

1.12.2. Substituição Recíproca

Substituição recíproca dá-se quando o testador indica mais de uma pessoa como bene-
ficiária de uma deixa testamentária e nomeia-as como substitutas testamentárias uma das
outras. Não se trata de uma categoria autônoma de substituição, e sim de uma de uma subs-
tituição vulgar em que os substitutos testamentários coincidem com os sucessores iniciais. É
prevista no art. 1.948 do CC.
A substituição recíproca pode ser geral ou particular.
Diz-se geral, quando todos os sucessores iniciais são substitutos uns dos outros. Ex.: “dei-
xo o apartamento a Maria, Joaquim e João, mas, na hipótese de qualquer deles não querer ou
não poder, o seu quinhão deverá reverter-se em favor dos demais”. Em termos de efeitos práti-
cos, a substituição vulgar geral assemelha-se ao direito de acrescer: a diferença prática é que,
no direito de acrescer, não há necessidade de previsão expressa por ela ser uma decorrência
legal em razão do fato de a redação da cláusula testamentária ter-se valido de uma conjunção
real ou mista.
Diz-se particular, quando apenas alguns dos sucessores iniciais são substitutos uns dos
outros. Ex.: “deixo a casa a Bruno, Patrícia, Maria e Raimundo, mas, na hipótese de qualquer
deles não querer ou não poder, o seu quinhão deverá reverter-se em favor de Bruno”.

1.12.3. Substituição Fideicomissária

Definição

A substituição fideicomissária dá-se quando o testador deixa um bem a um fiduciário com


um termo ou condição resolutivos e estabelece que, com a ocorrência desse termo ou condi-
ção resolutivos, a deixa seja transmitida ao fideicomissário.
É o caso do avô (fideicomitente) que quer deixar um apartamento para quando o seu futu-
ro neto (fideicomissário) vier a completar 18 anos, neto esse que sequer foi concebido ainda.
Nesse caso, o avô nomeia a filha (fiduciária) como fiduciária para, na condição de proprietária
resolúvel do bem, “cuidar” deste até que o neto complete a maioridade.
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O fiduciário, pois, é titular de um direito de propriedade resolúvel (art. 1.359, CC).


Há, pois, duas transmissões de bens: a transmissão hereditária ao fiduciário e, depois, a
transmissão em favor do fideicomissório. Do ponto de vista tributário, haveria aí dois fatos ge-
radores de ITCD: o primeiro por uma sucessão causa mortis e o segundo por uma transmissão
gratuita decorrente da extinção do direito do fiduciário. Essa é a principal distinção da substi-
tuição fideicomissória em relação às substituições vulgar ou recíproca.
Fiduciário é aquele que recebe o bem sob termo ou condição resolutivos. Diz-se fiduciário,
porque, em princípio, o testador confia nele (tem fidúcia) para “cuidar” da deixa testamentária
que, na verdade, deverá ser transmitida ao fideicomissário quando se implementar o termo ou
a condição resolutivos.
O testador é também chamado de fideicomitente, pois é ele quem dá a tarefa (quem co-
missiona) o fiduciário a “cuidar” do bem até o momento adequado de transferi-lo ao fidei-
comissório.
Fideicomissório é o destinatário final da deixa testamentária.

Fideicomissário como Concepturo

A substituição fideicomissória se destina a beneficiar pessoas que ainda não foram


concebidas.
Por isso, a regra é a de que o fideicomissório não pode ter sido concebido no momento da
abertura da sucessão: tem de ser um concepturo (= nondum conceptus). Di-lo o caput do art.
1.952 do CC.
Todavia, em prestígio à vontade soberana do testador e à conservação do negócio jurídi-
co, o parágrafo único do art. 1.952 do CC preserva o testamento se o fideicomissário já tiver
nascido ao tempo da morte do testador, com uma adaptação: no lugar de ser transferida a pro-
priedade ao fiduciário sob termo ou condição resolutivos, será transferido apenas o usufruto
com esses termo ou condição resolutivos. A propriedade da deixa testamentário, a seu turno,
será transferida diretamente ao fideicomissório, pois, como ele já foi concebido, ele já pode ser
beneficiário com bens.

Limitação ao Segundo Grau

É vedado que o testador estabeleça mais do que essas duas transmissões, pois o art.
1.911 do CC, condenando a predestinação da cadeia dominial pela vontade de uma única pes-
soa, proibiu a substituição fideicomissária além do segundo grau (art. 1.959, CC).

Classificação

Quanto ao momento de extinção do direito do fiduciário, a substituição fideicomissária


pode ser classificada como:
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• Vitalícia: quando o direito do fiduciário se extingue com a morte deste;


• Condicional: quando o direito do fiduciário se extingue por uma condição resolutiva;
• A termo: quando o direito do fiduciário se extingue por um termo diferente da morte8.

1.13. Extinção do Testamento


1.13.1. Classificação (Extinção Normal e Anormal)

Cumprimento do
Normal
testamento

Nulidade
Extinção
Invalidade

Anulabilidade

Redução
Anormal
testamentária
Caducidade

Ineficácia Revogação

Rompimento

A extinção do testamento pode ser classificada como:


• Extinção Normal: corresponde ao cumprimento do testamento. O testamento é feito
para ser cumprido. Se tal ocorre, ele se extingue pelo seu caminho normal;
• Extinção Anormal: refere-se à extinção do testamento por um motivo que não é a sua vo-
cação natural, ou seja, quando ele se extingue por hipótese diversa do seu cumprimento.
A extinção anormal pode se dar nestas hipóteses:
− Invalidade: abrange casos de nulidade ou anulabilidade;
− Redução testamentária: é uma hipótese de extinção parcial do testamento.
− Ineficácia: alcança as hipóteses de revogação, rompimento e caducidade.
8
A morte é um termo, por ser um evento futuro e incerto (embora a doutrina a designe como um termo incerto, pois o seu
momento de ocorrência não é conhecido de antemão).

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1.13.2. Invalidade

Regras Gerais

Como os demais atos jurídicos, o testamento precisa observar as normas de ordem públi-
co para passar incólume pelo plano da validade, sob pena de incorrer em nulidade ou em anu-
labilidade. Para ser válido, o testamento tem de nascer respeitando o ordenamento jurídico.
Vamos sistematizar as hipóteses de anulabilidade e de nulidade do testamento.
Antes, porém, antecipamos um alerta: apesar de o testamento ser um negócio jurídico,
há particularidades no seu regime de invalidade em relação aos demais negócios jurídicos,
a exemplo da existência de prazo decadencial para os casos de nulidade e das diferenças de
hipóteses de invalidade. Trataremos disso mais à frente.

Anulabilidade

O testamento pode ser anulado quando houver erro, dolo ou coação, conforme art.
1.909 do CC.
O referido dispositivo não faz menção a outros vícios que, para os negócios jurídicos em
geral, geram anulabilidade, como a lesão, o estado de perigo e a fraude contra credores. Daí se
indaga: o testamento poderia ser anulado por esses vícios?
Entendemos que não pelo fato de esses vícios serem inaplicáveis ao testamento. De um
lado, o testador não se obriga a prestação alguma, de modo que soa inviável falar em lesão
ou em estado de perigo (os quais censuram manifesta desproporção de prestação). De outro
lado, no procedimento da sucessão causa mortis, os credores são pagos antes de se cumprir
qualquer cláusula testamentária de índole patrimonial, de maneira que se torna inviável em fa-
lar em fraude contra credores (que presume um negócio jurídico feito pelo devedor insolvente).
É verdade que o testador poderia reconhecer uma dívida inexistente como forma de “preju-
dicar” um credor, mas, nesse caso, não haveria uma fraude contra credores, e sim uma simu-
lação, que, a nosso sentir, atrai a nulidade da cláusula testamentária, e não sua anulabilidade9.

1.13.3. Nulidade

O testamento é nulo quando violar norma de ordem pública. As principais hipóteses de


nulidade do testamento podem ser assim sistematizadas:
• Art. 166, CC: hipóteses gerais de nulidade dos negócios jurídicos, como objeto ilícito,
ressalvadas as particularidades abaixo;
• Art. 1.860, CC: incapacidade civil do testador, com a ressalva de que maiores de 16 anos,
ainda que sejam relativamente incapazes, já podem testar por força do art. 1.860, pará-
grafo único, CC;
9
Nesse ponto, ousamos pensar diferente de uma das maiores autoridades em Direito Sucessório, o Professor José Fernando
Simão, que defende, nessa hipótese de reconhecimento de dívida inexistente, “a deixa é anulável também, apesar da ausên-
cia de menção legal, e, por analogia, aplica-se o prazo de 4 anos do parágrafo único do art. 1.909” (Simão, 2020, p. 1570)

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• Art. 1.863, CC: testamento conjuntivo;


• Arts. 1862 ao 1.885, CC: inobservância das formalidades e das restrições de conteúdo
dos testamentos e do codicilo;
• Art. 1.900 do CC e outros dispositivos: nulidade de disposições testamentárias.

1.13.4. Decadência para Declarar Invalidade do Testamento (Arts. 1.859 e


1.909, Parágrafo Único, CC)

Com o objetivo de impedir a eternização de litígios, o legislador optou por estabelecer um


regime de invalidade especial para o testamento, fixando prazo decadencial tanto para hipóte-
ses de nulidade e de anulabilidade.
Para ambos os casos de invalidade, opera-se a decadência após 5 anos do registro do
testamento (art. 1.859, CC10). Chama-se a atenção para o fato de que o termo inicial é apenas
a data do registro do testamento, ato que, em procedimento jurisdicional especial (arts. 735,
§ 2º, 736 e 737, CPC), é praticado pelo juiz com o objetivo de garantir o amplo acesso ao con-
teúdo da cédula a terceiros.
Passados os 5 anos, o testamento fica imune a qualquer impugnação quanto à sua valida-
de, mesmo para casos de nulidade absoluta.
Como se vê, testamento, ainda que nulo, pode convalescer com o tempo, o que representa
uma exceção à regra geral do art. 169 do CC, segundo a qual os negócios jurídicos nulos nunca
convalescem pelo tempo.
Cabe uma advertência. Quando se tratar de anulabilidade, o convalescimento do testamen-
to pode ocorrer antes do quinquênio acima. É que, para anular o testamento por erro, dolo ou
coação, o parágrafo único do art. 1.909 do CC estabelece um prazo decadencial de 4 anos da
data da ciência do vício pelo interessado.
Alertamos que o termo inicial aí é da data da ciência do interessado, evento incerto que,
em tese, poderia acontecer décadas depois da abertura e do registro do testamento, ou seja,
muito depois de já ter expirado o prazo decadencial do art. 1.859 do CC, que se aplica também
a nulidade.
Não se pode, porém, chancelar uma interpretação absurda dessa.
De fato, como a interpretação não pode resultar em absurdos11, deve-se repelir qualquer
interpretação do art. 1.909 do CC que credencie pleitos de anulabilidade além do prazo deca-
dencial previsto para nulidade, visto que esta – por veicular interesse público – é mais grave
do que aquela.

10
O art. 1.859 do CC dispõe o seguinte: “extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado
da data do registro”. Zeno Veloso chama a atenção para o fato de que esse dispositivo propositalmente se valeu de termo
genérico (validade) que abrange tanto a nulidade quanto a anulabilidade, de maneira que, “como a lei não distingue [os tipos
de invalidade], não cabe ao intérprete distinguir” (Veloso, 2003, p. 21).
11
Como lembrava Teixeira de Freitas (2000, p. 122) – citando brocardos latinos clássicos listados por Simão Vaz Barbosa
Lusitano – “interpretação se deve fazer, que não resulte absurdo” (interpretatio facienda est, ut ne sequatur absurdum)

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Por isso, a melhor interpretação do art. 1.909 do CC é a de que esse preceito não se sobre-
põe ao art. 1.859 do CC, de maneira que jamais se poderá pleitear a anulação do testamento por
erro, dolo ou coação depois de escoado o prazo de 5 anos da data do registro do testamento.
Assim, se o interessado tomar ciência de um erro no testamento antes mesmo do registro
do testamento, o prazo decadencial para anulação será de 4 anos e começará a correr da data
dessa ciência. Como consequência, decairá o direito de anular o testamento na forma do art.
1.859 do CC, sem necessidade de, para tal efeito, invocar o art. 1.909 do CC.
Se, porém, o interessado tomar ciência desse erro três anos depois do registro do testa-
mento, deverá ser aplicado apenas o prazo decadencial do art. 1.859 do CC, de maneira que, ao
completar 5 anos do registro do testamento, terá decaído o direito de anular o testamento por
erro. Será aí inaplicável o prazo decadencial do parágrafo único do 1.909 do CC, pois ele daria
uma sobrevida a esse direito de anular, o que seria um absurdo jurídico diante do fato de até
mesmo as nulidades já terem convalescido.
Essa nos parece a melhor interpretação dos preceitos acima. E, nesse ponto, inferimos ter
o amparo de respeitados doutrinadores que, ao defenderem a necessidade de alteração do
malsinado parágrafo único do art. 1.909 do CC, censuram que o direito de anular sobreviva ao
de declarar nulo. É o caso de Mauro Antonini (2012, p. 2269) e de Zeno Veloso (2003, p. 24)12.

1.13.5. Decadência para Declarar Invalidade do Testamento (Arts. 1.859 e


1.909, Parágrafo Único, CC)

Com o objetivo de impedir a eternização de litígios, o legislador optou por estabelecer um


regime de invalidade especial para o testamento, fixando prazo decadencial tanto para hipóte-
ses de nulidade e de anulabilidade.
Para ambos os casos de invalidade, opera-se a decadência após 5 anos do registro do
testamento (art. 1.859, CC13). Chama-se a atenção para o fato de que o termo inicial é apenas
a data do registro do testamento, ato que, em procedimento jurisdicional especial (arts. 735,
§ 2º, 736 e 737, CPC), é praticado pelo juiz com o objetivo de garantir o amplo acesso ao con-
teúdo da cédula a terceiros.
Passados os 5 anos, o testamento fica imune a qualquer impugnação quanto à sua valida-
de, mesmo para casos de nulidade absoluta.
Como se vê, testamento, ainda que nulo, pode convalescer com o tempo, o que representa
uma exceção à regra geral do art. 169 do CC, segundo a qual os negócios jurídicos nulos nunca
convalescem pelo tempo.
12
Aliás, Zeno Veloso (2003, p. 24), com autoridade, defende que a alteração legislativa deveria ser feita de modo a que o termo
inicial do quadriênio decadencial do parágrafo único do art. 1.909 do CC deveria ser a data da abertura do testamento.
13
O art. 1.859 do CC dispõe o seguinte: “extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado
da data do registro”. Zeno Veloso chama a atenção para o fato de que esse dispositivo propositalmente se valeu de termo
genérico (validade) que abrange tanto a nulidade quanto a anulabilidade, de maneira que, “como a lei não distingue [os tipos
de invalidade], não cabe ao intérprete distinguir” (Veloso, 2003, p. 21).

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Cabe uma advertência. Quando se tratar de anulabilidade, o convalescimento do testamen-


to pode ocorrer antes do quinquênio acima. É que, para anular o testamento por erro, dolo ou
coação, o parágrafo único do art. 1.909 do CC estabelece um prazo decadencial de 4 anos da
data da ciência do vício pelo interessado.
Alertamos que o termo inicial aí é da data da ciência do interessado, evento incerto que, em
tese, poderia acontecer décadas depois da abertura e do registro do testamento, ou seja, muito de-
pois de já ter expirado o prazo decadencial do art. 1.859 do CC, que se aplica também a nulidade.
Não se pode, porém, chancelar uma interpretação absurda dessa.
De fato, como a interpretação não pode resultar em absurdos14, deve-se repelir qualquer inter-
pretação do art. 1.909 do CC que credencie pleitos de anulabilidade além do prazo decadencial
previsto para nulidade, visto que esta – por veicular interesse público – é mais grave do que aquela.
Por isso, a melhor interpretação do art. 1.909 do CC é a de que esse preceito não se sobre-
põe ao art. 1.859 do CC, de maneira que jamais se poderá pleitear a anulação do testamento por
erro, dolo ou coação depois de escoado o prazo de 5 anos da data do registro do testamento.
Assim, se o interessado tomar ciência de um erro no testamento antes mesmo do registro
do testamento, o prazo decadencial para anulação será de 4 anos e começará a correr da data
dessa ciência. Como consequência, decairá o direito de anular o testamento na forma do art.
1.859 do CC, sem necessidade de, para tal efeito, invocar o art. 1.909 do CC.
Se, porém, o interessado tomar ciência desse erro três anos depois do registro do testa-
mento, deverá ser aplicado apenas o prazo decadencial do art. 1.859 do CC, de maneira que, ao
completar 5 anos do registro do testamento, terá decaído o direito de anular o testamento por
erro. Será aí inaplicável o prazo decadencial do parágrafo único do 1.909 do CC, pois ele daria
uma sobrevida a esse direito de anular, o que seria um absurdo jurídico diante do fato de até
mesmo as nulidades já terem convalescido.
Essa nos parece a melhor interpretação dos preceitos acima. E, nesse ponto, inferimos ter
o amparo de respeitados doutrinadores que, ao defenderem a necessidade de alteração do
malsinado parágrafo único do art. 1.909 do CC, censuram que o direito de anular sobreviva ao
de declarar nulo. É o caso de Mauro Antonini (2012, p. 2269) e de Zeno Veloso (2003, p. 24)15.

1.13.6. Diferença Prática entre Anulabilidade e Nulidade do Testamento

Na prática, duas são as distinções práticas em reputar um testamento como anulável, e


não como nulo:
• não caberá decretação, de ofício, pelo juiz, da anulabilidade, ao contrário do que se dá
com a nulidade (arts. 168, parágrafo único, e 177 do CC);
• o prazo decadencial do direito de anular (art. 1.909, parágrafo único, CC) poderá se ope-
rar antes do prazo decadencial geral previsto tanto para o direito de anular quanto para
o de declarar nulo (art. 1.859, CC), tudo conforme já exposto.
14
Como lembrava Teixeira de Freitas (2000, p. 122) – citando brocardos latinos clássicos listados por Simão Vaz Barbosa
Lusitano – “interpretação se deve fazer, que não resulte absurdo” (interpretatio facienda est, ut ne sequatur absurdum)
15
Aliás, Zeno Veloso (2003, p. 24), com autoridade, defende que a alteração legislativa deveria ser feita de modo a que o termo
inicial do quadriênio decadencial do parágrafo único do art. 1.909 do CC deveria ser a data da abertura do testamento.

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1.13.7. Ineficácia do Testamento

Redução Testamentária

Definição e Natureza Jurídica (Invalidade ou Ineficácia)

Se o testador dispuser do patrimônio além da parte disponível – avançando, pois, sobre a


legítima –, o testamento é nulo ou ineficaz nesse excedente e, em consequência, o juiz deve de-
terminar a “redução testamentária” nos termos dos arts. 1.967 e 1.968 do CC. Não se declara a
nulidade ou a ineficácia de todo o testamento, mas apenas da parte excedente, tudo em respei-
to ao princípio da conservação do negócio jurídico, que já prevê a redução do negócio jurídico
nulo como regra geral no art. 184 do CC e que encontra uma norma específica nesse caso.
Entendemos que, em regra, o avanço sobre a legítima caracteriza uma hipótese de ineficá-
cia do testamento nessa parte exorbitante, pois somente se caracteriza a infração por um fato
superveniente à sua lavratura, ou seja, pela constatação, no momento da morte (após a confec-
ção do testamento), da existência herdeiros necessários e da insuficiência do patrimônio do de
cujus. De modo excepcional, pode-se falar em invalidade da parte exorbitante do testamento
(nulidade), especificamente se a cédula textualmente determinar que, ainda que haja herdeiros
necessários, a disposição testamentária abrangerá mais do que a parte disponível.
A discussão da natureza jurídica da redução testamentária (ineficácia ou nulidade) é bizan-
tina: o que importa é que se aplicará a redução testamentária.

Como se Fará a Redução?

O testador pode determinar como ocorrerá essa redução (art. 1.967, § 2º, CC). Se, porém,
ele for silente, a redução deve recair, de modo igual, sobre todas as quotas daqueles que foram
nomeados herdeiros testamentários, pois estes foram contemplados pelo testador com uma
fração do patrimônio deste (herança), e não com uma coisa individualizada ou individualizável
(legado). Em não sendo suficiente, a redução deverá recair sobre os legados de modo igual.
Como o legado consiste em uma coisa individualizável (à diferença da herança testamentá-
ria, que consiste em uma fração da herança), o art. 1.968 do CC estabelece regras específicas
para o caso de o legado ser um imóvel (“prédio) indivisível. Se o imóvel legado for divisível, não
há complexidade: basta desmembrar o imóvel na proporção da redução testamentária. Caso,
porém, o imóvel for indivisível, deve-se observar se a redução testamentária alcança mais ou
menos do que ¼ do valor do imóvel, ou seja, se a redução é expressiva:
• Redução expressiva: o legatário perderá, em favor dos herdeiros legítimos, o imóvel
legado, mas poderá reclamar, em dinheiro, o valor excedente ao que deveria incidir a
redução;

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• Redução inexpressiva: o legatário ficará com o imóvel legado, mas terá de repor, em di-
nheiro, o valor correspondente à redução.

Em qualquer caso (redução expressiva ou inexpressiva), se o legatário for também herdeiro


necessário, este poderá ficar com a imóvel legado se quiser inteirar a sua legítima com a parte
que seria abrangida pela redução testamentária.
Cabe um exemplo. Se a redução testamentária deveria ser de 60 mil reais para recair
sobre um imóvel indivisível de valor de 100 mil reais, a redução é expressiva, pois alcançaria
mais de ¼ do imóvel. Nesse caso, o imóvel ficará no monte-mor para ser partilhado entre os
herdeiros necessários, mas estes deverão pagar 40 mil reais ao legatário (diferença entre va-
lor do imóvel e valor da redução testamentária). Se, porém, o legatário for um dos herdeiros
necessários, ele poderá, se quiser, ficar com o imóvel inteiro se o seu quinhão, na sucessão
legítima, for de, no mínimo, 60 mil reais.

Revogação do Testamento

Definição

Enquanto estiver vivo, o testador pode revogar o seu testamento nos termos dos arts.
1.959 ao 1.972, CC. Tal decorre do princípio da vontade soberana do testador, segundo o qual
esta vontade deve ser sempre respeitada.

Revogação Expressa e Tácita

A revogação pode ser expressa ou tácita. Diz-se expressa quando novo testamento textu-
almente determina a revogação do testamento anterior (art. 1.969, CC). Esse comando pode
ser genérico: “ficam revogados todos os testamentos anteriores” (STJ, REsp 1694394/DF, 3ª
Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 26/03/2018).
Diz-se tácita quando há incompatibilidade de conteúdo entre o novo testamento e o an-
terior (ex.: os dois dispõem sobre o mesmo bem) ou quando há dilaceração, consentida pelo
testador, do testamento cerrado ou particular (o art. 1.972 do CC, é aplicável, por analogia,
ao testamento particular).

Revogação Expressa ou Parcial

A revogação pode ser total (revoga integralmente testamento anterior) ou parcial (revoga
apenas parte das disposições do testamento anterior).

Instrumento Revogador: Testamento de qualquer Modalidade e Codicilo?

Novo testamento, ainda que de outra modalidade, pode revogar o anterior, pois não há
hierarquia de formas entre os testamentos. Ex.: testamento particular pode revogar testa-
mento público.

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O problema é definir se um codicilo pode revogar um testamento. Entendemos que, apesar


do silêncio legal, codicilo pode revogar as disposições de testamento que tratem de matérias
próprias de codicilo, pois o que importa é o respeito à forma mínima legalmente exigida para
o conteúdo. Assim, codicilo pode revogar disposições de testamento que dispunham sobre
bens de pequeno valor. Trata-se de uma decorrência do que chamamos de princípio da forma
englobante: o testamento é forma mais rigorosa que engloba as hipóteses de codicilo. Isso
está implícito no art. 183 do CC.

Rompimento do Testamento

Noções Gerais

O rompimento do testamento ocorre na hipótese de o testador, no momento da lavratura


do ato, ignorar a existência de descendentes ou outros herdeiros necessários ou na hipótese
de ele não os ter, desde que esse herdeiro sobreviva ao testador (arts. 1.973 ao 1.975 do CC).
Em outras palavras, o rompimento só sucede nas hipóteses de herdeiro necessário ignorado
ou de herdeiro necessário desconhecido que sobreviva ao testador16. Ex.: testador deixa todo
seu patrimônio a um amigo, mas (1) posteriormente vem a ter um filho ou (2) ignora que ele já
tinha um filho fruto de um relacionamento casual no passado.
Trata-se de uma hipótese de ineficácia, e não de invalidade, por decorrer de um fato super-
veniente à lavratura do testamento. Invalidades são problemas genéticos do negócio: decor-
rem de violações ao ordenamento no momento do nascimento do ato jurídico.
O fundamento das hipóteses de rompimento do testamento é que o legislador presumiu
que a vontade implícita do testador seria outra, caso soubesse da existência desses herdei-
ros necessários ou caso já os tivesse: presume-se que o testador haveria de ter outra postura
testamentária se soubesse que só poderia dispor de metade do patrimônio. Não está em jogo
aqui nenhuma presunção de proximidade familiar ou afetiva que levaria o testador a prestigiar
o herdeiro necessário desconhecido, e sim a presunção de que a vontade mortuária seria di-
ferente se a parte disponível não fosse a integralidade dos bens, e sim apenas metade. Clovis
Bevilaqua (1959, pp. 964-965) era certeiro, in verbis:

(...) se o indivíduo faz o seu testamento, quando não tem descendente sucessível, ou não o conhece,
distribuirá seus bens de um certo modo; e, se, depois, se reduzirem as suas liberalidades à meta-
de, já o testamento não exprime a sua vontade. Muitos legados deixariam de ter sido feito, muitas
16
O legislador tratou do descendente desconhecido ou superveniente no art. 1.973 do CC e deixou estender essas regras para
os demais herdeiros necessários (ascendentes ou cônjuge) no art. 1.974 do CC por um motivo: a hipótese de superveniên-
cia de herdeiro necessário só calha para descendente. Biologicamente, não há ascendente superveniente nem tampouco
há razoabilidade em romper o testamento pela superveniência de um cônjuge (um casamento posterior). Acontece que,
com a parentalidade socioafetiva, é possível que alguém venha a ter pai socioafetivo posteriormente à lavratura de um
testamento. É possível, pois, haver “pai superveniente” ao testamento. Para esses casos, entendemos também ser viável o
rompimento do testamento, pois a lógica de justiça aí é a mesma para a do caso de descendente superveniente, tudo con-
forme a máxima romana “ubi eadem ratio, ibi eadem ius” (onde há a mesma lógica, há a mesma regra).

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determinações teriam calado, se soubesse que apenas disporia da metade de seus bens. É, pois,
justo que se considere roto o seu testamento, deixando-lhe a liberdade de fazer outro, se quiser. A
situação não é a mesma do que, sabendo que tem herdeiros necessários, redige o seu testamento,
como se os não tivesse. O que assim procede infringe conscientemente a lei, contra a qual ergue
a sua vontade; a lei não lhe consente o excesso, mas lhe respeita o direito. Aquele a quem aparece
descendência antes inexistente ou ignorada, não violou lei alguma, dispondo da totalidade de seu
patrimônio, usou de um direito reconhecido; as circunstâncias é que mudaram, e, com elas, mudou
o seu estado de espírito em relação ao destino de seus bens para depois da morte.

Carlos Maximiliano (1952, p. 191) igualmente era lapidar, in litteris:

1.343 – Rompe-se o ato de última vontade, em havendo descendente. sucessível, se o disponente no


momento de testar ignorava que ele existisse, ou o julgava morto. Nada prevalece: nem a instituição
de herdeiros nem os legados, ainda mesmo que as liberalidades caibam na metade disponível. A lei
estabelece a presunção juris et de jure de que o falecido não contemplaria com a sua herança a tercei-
ros, se soubesse da existência, atual ou em futuro próximo, de pessoa ligada a ele pelos mais estreitos
vínculos de sangue. Na verdade, o de cujus, ante a certeza de ter sucessores imediatos, pelos menos
diminuiria o número e a importância dos legados, e, na impossibilidade de saber qual ele preferiria e
a quanto reduziria os benefícios, parece justo não manter nenhum, sobretudo, porque, em regra, nada
transmite espontaneamente a estranhos nem a parentes remotos, quem possui prole viva.

O rompimento do testamento é, na verdade, uma hipótese de revogação presumida ou legal


do testamento. Era por essa razão que o próprio CC/1916 disciplinava a ruptura do testamento
dentro do capítulo de revogação do testamento. A expressão “rompimento do testamento” é
novidade do CC/2002.

Sobrevivência do Herdeiro Necessário Ignorado ou Superveniente

Se, no momento da morte do testador, o herdeiro necessário ignorado ou desconhecido for


premorto, não há rompimento do testamento por força do art. 1.973 do CC. Afinal de contas,
nesse caso, para efeito sucessório, não haverá falar em legítima e, portanto, não se poderá
falar que o estado de espírito do testador teria sido diferente.

Irrelevância da Superveniência de Descendente se já Havia, ao Menos um


outro Conhecido, no Momento do Testamento

É certo que, se o testador não tinha nenhum herdeiro necessário conhecido no momento
da elaboração do testamento, a superveniência ou a descoberta de um herdeiro necessário
acarreta rompimento do testamento (art. 1.973, CC).
O problema se dá quando o testador tinha, ao menos, um herdeiro necessário conhecido.
Nesse caso, indaga-se: se o testador sabia de descendentes ou de outros herdeiros necessá-
rios no momento de testar, a superveniência de outros (ex.: nasceu um novo filho ou um novo
neto) causaria o rompimento do testamento?
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O STJ entende que não, pois só há ruptura do testamento se, no ato de testar, o disponen-
te não tinha herdeiro necessário algum ou ignorava a existência de qualquer um. É que, se o
disponente tinha e sabia de, ao menos, um herdeiro necessário, ele já tinha consciência da
existência da legítima como parte indisponível no testamento. É irrelevante se ele vier a ter, re-
conhecer ou descobrir novo descendente ou herdeiro necessário, pois o seu estado de espírito
não mudaria diante da consciência de que a parte disponível era apenas de metade do patrimô-
nio (REsp 1273684/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe 08/09/2014; REsp 594.535/
SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Hélio Quaglia Barbosa, DJ 28/05/2007; AgRg no REsp 1273684/RS,
3ª Turma, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe 04/05/2012; REsp 240.720/SP, 4ª Turma, Rel. Minis-
tro Aldir Passarinho Junior, DJ 06/10/2003).
O entendimento do STJ deve ser aplicado em qualquer hipótese em que o testador já tinha,
ao menos, um herdeiro necessário, pois a razão de ser do instituto da revogação do testamen-
to é a presunção de que, se o testador soubesse que só poderia dispor de metade dos bens,
ele teria outro estado de espírito na confecção do testamento. A razão de ser não é proteger a
legítima, pois, para tanto, já há o instituto da “redução testamentária” (art. 1.967, CC).

Cabimento de Cláusula Afastando o Rompimento de Testamento?

Indaga-se: seria possível o testador afastar o rompimento do testamento dizendo ser irre-
levante o aparecimento de algum descendente ou outro herdeiro necessário?
Apesar do silêncio legal, temos por plenamente viável essa cláusula para afastar o rompi-
mento testamentário previsto nos arts. 1.973 e 1.974 do CC, pois a finalidade desse instituto é
proteger a vontade presumida do testador. Ora, se o testador textualmente externou sua vonta-
de, não há motivos para presumir que sua vontade seria diferente.
Nessa hipótese, a única consequência do aparecimento do herdeiro necessário desconhe-
cido será a redução testamentária para lhe assegurar a proteção da legítima na forma do art.
1.967 do CC.

Consequência do Rompimento do Testamento: Redução Testamentária ou


Ineficácia Total?

Indaga-se: o rompimento do testamento implica a ineficácia total do testamento no tocan-


te às disposições patrimoniais ou acarreta apenas a redução testamentária para respeitar a
legítima do herdeiro necessário ignorado ou superveniente?
Há ineficácia total, pois o instituto do rompimento se assenta sob o pressuposto de que,
se o testador soubesse da existência de herdeiro necessário e, portanto, soubesse que ape-
nas metade do patrimônio é parte disponível, o seu estado de espírito seria outro. Em outras
palavras, há uma presunção absoluta de que o testador não iria testar do modo como fez se
soubesse da existência do herdeiro necessário.

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DIREITO CIVIL
Sucessões – Parte II
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O próprio texto do art. 1.973 do CC, à semelhança do antigo art. 1.750 do CC/1916, é tex-
tual em anunciar a ruptura do testamento “em todas as suas disposições”. Nas palavras de
Clóvis Bevilaqua (1979, p. 964), com a descoberta ou a superveniência do novo herdeiro neces-
sário, “o estado de espírito [do testador] sofre mudança radical, não pode ser o mesmo que era
ao tempo da factura do testamento, e este rompe-se, não podendo subsistir as liberalidades,
quanto à legítima do descendente, nem quanto à porção disponível”.
Não se pode confundir o instituto do rompimento do testamento com o da redução testa-
mentária. Este último se volta à proteção da legítima na forma do art. 1.967 do CC, cortando,
apenas, os avanços excessivos do testador para além da sua parte disponível.

Imunidade de Disposições Testamentárias Não Patrimoniais

Por ter a finalidade de proteger o interesse patrimonial do herdeiro necessário desconhe-


cido ou futuro, o rompimento não retira a eficácia do testamento no tocante às disposições
não patrimoniais, como nas cláusulas de reconhecimento de filho ou de reabilitação de indigno
(enunciado n. 643/JDC17).

Prova do Desconhecimento da Existência de Herdeiros Necessários

Declaração Expressa vs outros Elementos Probatórios

No testamento, convém que o testador consigne se sabe ou não da existência de herdeiros


necessários. Quando se cuidar de testamento público, é dever do tabelião lançar essa informa-
ção na cédula diante do seu dever de blindar juridicamente os atos jurídicos.
Se, porém, o testador for silente, é admitida a produção de outros meios de prova acerca da
sua ignorância quanto à existência de herdeiro necessário.
A declaração do testador na cédula testamentária não tem força probatória absoluta. Pode
ser infirmada diante de outros elementos probatórios robustos. De fato, ainda que o testador,
na cédula, declare desconhecer outro descendente, não há rompimento se outros elementos
probatórios demonstrarem que ele sabia dessa existência (STJ, REsp 1615054/MG, 3ª Turma,
Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 10/08/2017). Afinal de contas, não se pode negar que essas
declarações lançadas no testamento decorrem, muitas vezes, do receio do testador de externar
a terceiros a existência de um filho oriundo de um relacionamento amoroso sensível (como um
adultério), de modo que devem ser admitidas outras provas capazes de refutar essa declaração.

Falta de Reconhecimento Oficial

O rompimento do testamento ocorre com o desconhecimento ou a superveniência de her-


deiro necessário (art. 1.973, CC)
17
Enunciado n. 643/JDC: “Art. 1.973: O rompimento do testamento (art. 1.973 do Código Civil) se refere exclusivamente às
disposições de caráter patrimonial, mantendo-se válidas e eficazes as de caráter extrapatrimonial, como o reconhecimento
de filho e o perdão ao indigno”.

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Desconhecimento acerca da existência de herdeiro necessário não se confunde com a


falta de formalização do vínculo de parentesco. Por isso, o prévio conhecimento de descen-
dente, ainda que esse parentesco ainda não tenha sido oficializado, não acarreta rompimento
do testamento por falta de previsão no art. 1.973 do CC (STJ, REsp 985.093/RJ, 3ª Turma, Rel.
Ministro Humberto Gomes de Barros, Rel. p/ Acórdão Ministro Sidnei Beneti, DJe 24/09/2010).

Pendência de Ação de Investigação de Paternidade

Se havia ação de investigação de paternidade em curso quando o testamento foi lavrado,


não haverá ruptura do testamento se a ação vier a ser julgada procedente. É que, nesse caso,
o testador já sabia do possível descendente, de modo que, se ele quisesse contemplá-lo, pode-
ria ter expressado tal desejo no testamento. Não se pode falar em “revogação presumida” do
testamento (= rompimento) nesses casos. O STJ, embora de forma indireta, endossa esse en-
tendimento (STJ, REsp 1615054/MG, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 10/08/2017).

Caducidade do Testamento

Definição

Caducidade do testamento é a perda da eficácia18 de um testamento em razão de um fato


superveniente que implica a perda do seu objeto, do sujeito ou da razão de ser da forma do
testamento especial.

Caducidade do Testamento vs Caducidade do Legado

O Código Civil não menciona expressamente a expressão “caducidade de testamento” nem


sistematiza as suas hipóteses tampouco dá definições. Tal tarefa é deferida à doutrina. De
fato, nas palavras de Orosimbo Nonato:

Foge o legislador brasileiro, de avisado e sábio, às definições. (...).


(...)
Conspiram todos [os doutrinadores italianos e franceses citados por Orosimbo Nonato] em que
devam as leis guardar caráter positivo. São comandos e ordens para a solução de conflitos de inte-
resses.
A pensão de extrair dessas ordens construções jurídicas cabe à doutrina. Só a ela, pois, como obser-
va Angelesco, pertence o trabalho de síntese, de definição.
(...)
Cabe ao doutrinador elevar-se das disposições positivas e particulares do texto legal as definições
e generalizações. Se o legislador se entregasse também a esse trabalho, retiraria da lei elementos
básicos à sua aplicação e durabilidade na tentativa baldia e vã de angustiar em fórmulas a comple-
xidade e expansão da vida jurídica.
(...)
18
No vernáculo, caducar significa perder a força ou decair.

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Entretanto, sente-se o legislador às vezes na necessidade de manifestação de princípios superiores,


índices de sua orientação em temas de relevância e momento e elementos de interpretação para a
afirmação de regras cabedais de direito.” (Nonato, 1957-A, p. 57).

O Código Civil apenas menciona expressamente a “caducidade do legado” (arts. 1.939 e 1.940,
CC), que, na verdade, é uma espécie de caducidade do testamento com foco apenas no legado.
Caducidade de testamento é expressão mais ampla, pois abrange também hipóteses de
testamento sem legado.
Portanto, ao tratarmos abaixo de caducidade do testamento também abrangeremos a ca-
ducidade de legado.

Caducidade Parcial do Testamento

A caducidade do testamento pode ser parcial, quando apenas uma parte separável dele ca-
ducar. Se, por exemplo, ocorrer a caducidade de um legado, o testamento subsistirá nas demais
cláusulas, se elas forem separáveis. Trata-se do velho adágio utile per inutile non viatiatur (“o
útil não é invalidado pelo inútil”), como lembra o genial Professor Zeno Veloso (2003, p. 264).
Nesse sentido, se testador deixar duas coisas como legados e apenas uma delas perecer
antes da abertura da sucessão, subsiste o testamento quanto à outra coisa: a caducidade do
testamento aí é parcial, conforme art. 1.940 do CC.

Caducidade por Perda do Objeto

Se o objeto do testamento (a herança testamentária ou o legado) se perder, o testamento


caduca, porque obviamente não tem como ser cumprido.
Estes são os casos principais de caducidade por perda de objeto:
• Desfiguração ou perecimento posterior da coisa legada (art. 1.939, I e III, CC). Ex.: após
fazer um testamento deixando um carro a outrem, eu desfiguro o carro jogando-o em
uma máquina trituradora de veículo; e
• Perda ou perecimento posterior da propriedade da coisa legada (art. 1.912 e 1.939, II e
III, CC): se testador não é dono da coisa na data da morte (ex.: vendeu a coisa, perdeu
a coisa em execução judicial ou perdeu a propriedade por evicção), obviamente não há
como cumprir o testamento, o que gera caducidade;
• Inventário negativo: se o testador tiver deixado mais dívidas do que bens, o testamento
caducará, pois, após pagar os credores, não sobrará bem algum a ser entregue o suces-
sor testamentário (herdeiro testamentário ou legatário).

Caducidade por Perda do Sujeito

Se o sucessor (herdeiro testamentário ou legatário) não puder ou não quiser receber a dei-
xa testamentária, o testamento caduca.
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A exceção corre à conta em que houver direto de acrescer (arts. 1.941 ao 1.946, CC) ou
substituição testamentária (arts. 1.947 ao 1.960, CC), caso em que não haverá caducidade do
testamento pelo fato de a deixa testamentária se reverter em favor do terceiro (o coerdeiro
com direito de acrescer ou o substituto testamentário).
Eis os casos principais de caducidade por perda do sujeito:
• Exclusão do herdeiro testamentário ou do legatário: dá-se no caso de indignidade (arts.
1.814 ao 1.818 e 1.939, IV, CC). É inviável caducidade por deserdação, pois, como esta
decorre de vontade manifestada no testamento (art. 1.964, CC), soa incompatível que o
testador deserde um herdeiro necessário e, ao mesmo tempo, contemple-o em um tes-
tamento. Se havia algum testamento anterior ao da deserdação, o caso é de revogação
do testamento anterior, e não de caducidade;
• Renúncia à herança ou ao legado (arts. 1.804 ao 1.813 e 1.913, CC): se sucessor recusar
deixa testamentária sem haver direito de acrescer ou substituição testamentária, não há
quem transferir a deixa testamentária e, por isso, há caducidade do testamento;
• Premoriência (art. 1.939, V, CC): se o sucessor for pré-morto quando da abertura da su-
cessão testamentária, é evidente que ele não pode receber a deixa testamentária.

Caducidade por Perda da Razão de Ser da Forma do Testamento Especial

No caso de testamento especial (militar, marítimo e aeronáutico), a legislação flexibiliza


formalidades próprios do testamento na forma ordinária por conta da situação de inviabilidade
de acesso a um tabelião para a lavratura de um testamento público. Todavia, em respeito à ra-
zão de ser dessa flexibilização formal, o legislador exige providências posteriores para preser-
var os efeitos do testamento especial ou o sujeita a uma condição resolutiva. Não cumpridas
essas providências ou implementada a condição resolutiva, o testamento especial caduca.
São estas as hipóteses de caducidade pela perda da razão de ser da forma do testamento:
• Testamento especial escrito: se o testador – sobrevivendo à situação excepcional – não
elaborar um testamento na forma ordinária nos 90 dias seguintes, há caducidade do tes-
tamento especial, tudo na forma dos arts. 1.891 e 1.895 do CC. A lei exige providências
posteriores para preservar os efeitos do testamento especial escrito;
• Testamento nuncupativo verbal: se o testador sobreviver à guerra ou convalescer ao fe-
rimento, o testamento caduca (art. 1.896, CC). A lei sujeita o testamento nuncupativo
verbal a uma condição resolutiva.

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Sucessões – Parte II
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (VUNESP/DELEGADO/PC-SP/2018) Pedro, cantor de sucesso de apenas dezessete
anos, preocupado com seus bens, decide fazer um testamento. Sobre a situação hipotética,
assinale a alternativa correta.
a) Caso algum herdeiro necessário não beneficiado pelo testamento decida impugnar a valida-
de do testamento de Pedro, o prazo é de quatro anos, contado o prazo da data do seu registro.
b) Se Pedro decidir fazer o testamento particular, ele deve ser escrito de próprio punho. Se for
público, pode ser de próprio punho ou por processo mecânico.
c) Serão nulas as disposições de Pedro se ele favorecer as testemunhas do testamento.
d) Pedro pode fazer o testamento conjuntivo com seu irmão para beneficiar seus pais.
e) Por ser relativamente incapaz, Pedro não pode testar, exceto se assistido por seus pais ou
representantes legais.

a) Errada. A decadência é de 5 anos do registro do testamento, conforme art. 1.859 do CC:

Art. 1.859. Extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado o
prazo da data do seu registro.

b) Errada. Testamento particular e público não precisam ser de próprio punho; podem por pro-
cesso mecânico (arts. 1.876 e 1.864, parágrafo único, CC). Lembre-se que, no caso de testa-
mento público, quem redige a cédula é o tabelião, e não o testador. Veja os referidos preceitos:

Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:


I – ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as de-
clarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos;
II – lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas testemunhas, a um
só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e do oficial;
III – ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo
tabelião.
Parágrafo único. O testamento público pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem
como ser feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde
que rubricadas todas as páginas pelo testador, se mais de uma.
Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mediante processo
mecânico.
§ 1 o Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e assinado por
quem o escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever.
§ 2 o Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco, deven-
do ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas, que
o subscreverão.

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Sucessões – Parte II
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c) Certa. São os arts. 1.801, II, e 1.900 do CC:

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I – a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus
ascendentes e irmãos;
II – as testemunhas do testamento;
III – o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do côn-
juge há mais de cinco anos;
IV – o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o
que fizer ou aprovar o testamento.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suce-
der, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e
o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.
Art. 1.900. É nula a disposição:
I – que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que este disponha, também por
testamento, em benefício do testador, ou de terceiro;
II – que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar;
III – que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a terceiro;
IV – que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado;
V – que favoreça as pessoas a que se referem os arts. 1.801 e 1.802.

d) Errada. Testamento conjuntivo é vedado em qualquer hipótese

Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo.

e) Errada. A partir dos 16 anos, pessoa já pode testar, conforme parágrafo único do art.
1.860 do CC:

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno dis-
cernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.
Letra c.

002. (VUNESP/DELEGADO/PC-SP/2018) Sobre a exclusão da sucessão, assinale a alternati-


va correta.
a) Aquele que caluniou em juízo o autor da herança não será admitido a suceder, ainda que o
ofendido o tiver reabilitado em testamento de forma expressa.
b) Aquele que, por meios fraudulentos, inibir o autor da herança de dispor livremente de seus
bens por ato de última vontade será excluído da sucessão, bastando, para tanto, decisão ad-
ministrativa do juiz.

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c) O direto de demandar a exclusão do herdeiro extingue-se em quatro anos, a contar da data


de abertura do testamento.
d) Os descendentes do herdeiro excluído sucedem como se ele morto fosse antes da abertura
da sucessão, uma vez que são pessoais os efeitos da exclusão.
e) O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que dos bens da he-
rança houver percebido, sem direito a indenização pelas despesas com a conservação deles.

a) Errada. Se houver reabilitação expressa em testamento, afasta-se a indignidade ou em outro


ato autêntico, conforme arts. 1.814, II, e 1.818 do CC:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:


I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste,
contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime
contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor
livremente de seus bens por ato de última vontade.
Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a
suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico.
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do
ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite
da disposição testamentária.

b) Errada. Embora a hipótese citada seja uma de indignidade (art. 1.814, III, CC), a exclusão do
herdeiro por indignidade depende de sentença judicial em ação a ser proposta no prazo deca-
dencial de 4 anos da morte, conforme art. 1.815 do CC:

Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será de-
clarada por sentença.
§ 1º O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, conta-
dos da abertura da sucessão.
§ 2º Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para demandar a
exclusão do herdeiro ou legatário.

c) Errada. É o § 1º do art. 1.814 do CC.


d) Certa. É o art. 1.816 do CC:

Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem,
como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens
que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.

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e) Errada. Para evitar enriquecimento sem causa, o herdeiro excluído tem direito a ser indeniza-
do pelas despesas de conservação, conforme parágrafo único do art. 1.817 do CC:

Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos
de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos her-
deiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos.
Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os frutos e rendimentos que dos bens
da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação
deles.
Letra d.

003. (FCC/JUIZ/TJ-PE/2015/ADAPTADA) João, que possui dois filhos -José e Joaquim -em
2010, doou a José, com dispensa de colação, alguns imóveis que totalizaram R$ 2.000.000,00
e que representavam 25% de seu patrimônio, avaliado em R$ 8.000.000,00. Por testamento,
lavrado em 2012, João deixa parte de seus bens, distribuídos em legados, também a José e
sem prejuízo de sua legítima. Aberta a sucessão de João, em 2014, verificou-se que os bens
deixados a José, no testamento, equivaliam a R$ 3.000.000,00, e o patrimônio do testador se
reduzira a R$ 6.000.000,00. Segundo o que dispõe o Código Civil,
a) o testamento de João é nulo, porque não respeitou a legítima dos filhos
b) tanto as doações como os legados são válidos, porque respeitaram a legítima dos filhos
que deverá, respectivamente, ser calculada no momento da doação e no momento da abertura
da sucessão.
c) José terá de optar entre receber os legados ou permanecer com os bens doados, salvo se
os trouxer à colação, porque não se admite que o ascendente beneficie um mesmo descen-
dente com doações e legados, que ultrapassem o disponível calculado na data da abertura
da sucessão.
d) a cláusula que dispensou o donatário da colação tornou-se ineficaz, porque somados os
legados e as doações, João desrespeitou a legítima de Joaquim.
e) haverá necessariamente redução das disposições testamentárias para que a legítima de
Joaquim seja respeitada, levando-se em conta as doações e os legados.

Em 2010, como a doação com dispensa de colação foi feita respeitando a parte disponível à
época da liberalidade, ela é válida (arts. 544 e 2005, parágrafo único, CC). Logo, José não tem
de colacionar os 2 milhões que recebeu em doação naquela época. No testamento, João pode
dispor livremente de 50% do seu patrimônio na data de sua morte (parte disponível), pois a
outra metade é a legítima, que pertence aos herdeiros necessários (arts. 1.789, 1.846, 1.847 e
1.967 do CC). Se o testamento dispusesse além da parte disponível (que é calculada na data

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da morte do falecido), ele teria de sofrer redução testamentária (art. 1.967 do CC). Por essa
razão, como, no caso da questão, João só dispôs de metade do seu patrimônio à data da morte
(ou seja, de 3 milhões), o testamento é válido, de maneira tanto a doação feita a José quanto o
legado deixado a ele são válidos, tudo conforme a letra “B”.
Letra b.

004. (FCC/JUIZ/TJ-PE/2015/ADAPTADA) Antônio, que possui três filhos, foi condenado cri-
minalmente pelo Tribunal do Júri, por tentativa de homicídio contra seu pai, Serafim, que possui
outro filho. Nesse caso, Antônio
a) não poderá ser admitido a suceder nos bens deixados por morte de Serafim, ainda que
este o tenha expressamente reabilitado em testamento, porque a sentença criminal o impede
de suceder.
b) será excluído da sucessão de Serafim, independentemente de demanda de exclusão, por-
que a condenação criminal a supre, e os bens que lhe caberiam serão distribuídos, em partes
iguais, entre os filhos e o irmão de Antônio.
c) será excluído da sucessão de Serafim, desde que procedente demanda de exclusão, e os
bens que lhe caberiam serão destinados aos filhos do excluído, como se ele morto fosse antes
da abertura da sucessão
d) poderá ser deserdado, mas não excluído da sucessão de Serafim, porque o crime se deu na
modalidade tentada.
e) será excluído da sucessão de Serafim, desde que procedente demanda de exclusão, e os
bens que lhe caberiam serão destinados ao irmão de Antônio.

A tentativa de homicídio é causa de exclusão do herdeiro por indignidade (art. 1.814, I, do CC).
Essa exclusão não é automática, mas depende de ação a ser proposta após a abertura da su-
cessão (art. 1.815, CC). Havendo exclusão de um herdeiro por indignidade, é cabível o direito
de representação em favor de seus filhos, pois tal hipótese se equipara ao de premoriência
(art. 1.816, CC). Sob essa ótica, a única alternativa compatível é a letra “C”.
Letra c.

005. (CESPE/JUIZ/TJ-BA/2019) À luz do Código Civil e da teoria das invalidades dos atos e
negócios jurídicos, a elaboração de testamento conjuntivo nas modalidades simultânea, recí-
proca ou correspectiva é ato eivado de vício de
a) anulabilidade em qualquer uma das três modalidades.
b) nulidade em qualquer uma das três modalidades.
c) ineficácia em qualquer uma das três modalidades.

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d) nulidade, nas modalidades recíproca e correspectiva, e anulabilidade na modalidade


simultânea.
e) anulabilidade, na modalidade correspectiva, e nulidade nas modalidades recíproca e simultânea.

É nulo em qualquer um desses 3 casos de testamento conjuntivo (art. 1.863 do CC).

Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo.


Letra b.

006. (CESPE/AUDITOR/SEFAZ-RS/2019) Décio, plenamente capaz, faleceu e deixou um tes-


tamento cerrado, escrito a rogo por sua amiga Leila e assinado por ele — testamento válido,
pois aprovado, antes de seu falecimento, por tabelião, na presença de duas testemunhas. Dé-
cio era casado e tinha três filhos com sua esposa, com quem vivia, além de uma filha adulterina
com sua concubina.
Considerando essa situação hipotética e as disposições do Código Civil, Décio pode nomear
como herdeiro testamentário
a) uma das testemunhas do seu testamento.
b) sua esposa e sua concubina.
c) sua filha adulterina.
d) o cônjuge de Leila.
e) o tabelião que aprovou o testamento.

a) Errada. Art. 1.801, II, do CC proíbe.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I – a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus
ascendentes e irmãos;
II – as testemunhas do testamento;
III – o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do côn-
juge há mais de cinco anos;
IV – o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o
que fizer ou aprovar o testamento.

b) Errada. Embora Décio pudesse nomear sua esposa como herdeira, não o pode em relação à
concubina por força do art. 1.801, III, do CC.

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:


I – a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus
ascendentes e irmãos;

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II – as testemunhas do testamento;
III – o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do côn-
juge há mais de cinco anos;
IV – o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o
que fizer ou aprovar o testamento.

c) Certa. Não há proibição para nomear o filho como herdeiro, independentemente da origem
da filiação.
d) Errada. Art. 1.801, I, do CC proíbe.
e) Errada. Art. 1.801, IV, do CC proíbe.
Letra c.

007. (CESPE/JUIZ/TJ-CE/2018) Conforme classificação doutrinária, a herança, antes da for-


malização da partilha, pode ser considerada um bem de indivisibilidade
a) convencional e uma universalidade de fato.
b) convencional e uma universalidade de direito.
c) legal e uma universalidade de direito.
d) legal e uma universalidade de fato.
e) natural e uma universalidade de direito.

Herança é indivisível por lei e se enquadra no conceito de universalidade de direito (arts. 91 e


1.791, parágrafo único, CC).

Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dota-
das de valor econômico.
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança,
será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio.
Letra c.

008. (CESPE/DEFENSOR/DPE-PE/2018) Joaquim, que era casado com Sônia no regime de


comunhão parcial de bens, faleceu deixando apenas uma casa adquirida onerosamente quan-
do do casamento. O falecido não deixou bens particulares. O casal residia no imóvel e não teve
filhos, mas Joaquim tinha um filho de relacionamento anterior. Acerca dessa situação hipoté-
tica e dos direitos sucessórios, assinale a opção correta.
a) Por ter sido o imóvel adquirido onerosamente na constância do casamento, o filho de Joa-
quim não concorre na sucessão legítima, sendo Sônia a única herdeira do imóvel.

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b) Sônia concorre na sucessão legítima com o filho de Joaquim, mas não terá direito à sua
cota-parte do imóvel decorrente do regime de bens do casamento.
c) Tendo sido a casa adquirida na constância do casamento, Sônia concorre na sucessão legí-
tima com o filho de Joaquim, inclusive com o direito de habitação.
d) Sônia não concorre na sucessão legítima com o filho de Joaquim, mas tem o direito real de
habitação.
e) Conforme jurisprudência do STJ, Sônia somente tem o direito real de habitação se proceder
ao registro no cartório de imóveis.

a) Errada. À luz do art. 1.829, I, do CC, quando há descendentes, o cônjuge ou o companheiro


supérstite só partilha a herança com eles quanto aos bens particulares deixados pelo falecido
(direito sucessório), de modo que, quanto aos bens comuns, o viúvo só terá direito à meação (di-
reito de família). No caso, só há uma casa adquirida onerosamente ao longo do casamento: me-
tade dela é meação de Sônia e a outra metade é herança a ser partilhada apenas entre os filhos
do de cujus (no caso, só há um filho, a quem se adjudicará a herança). Veja este julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. CÔNJUGE SOBREVIVENTE.


REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. HERDEIRO NECESSÁRIO. EXISTÊNCIA DE
DESCENDENTES DO CÔNJUGE FALECIDO. CONCORRÊNCIA. ACERVO HEREDITÁRIO.
EXISTÊNCIA DE BENS PARTICULARES DO DE CUJUS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.829, I,
DO CÓDIGO CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA.
(...)
2. Nos termos do art. 1.829, I, do Código Civil de 2002, o cônjuge sobrevivente, casado
no regime de comunhão parcial de bens, concorrerá com os descendentes do cônjuge
falecido somente quando este tiver deixado bens particulares.
3. A referida concorrência dar-se-á exclusivamente quanto aos bens particulares constan-
tes do acervo hereditário do de cujus.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1368123/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 08/06/2015).

b) Errada. Ver comentário à letra “A”.


c) Errada. Ver comentário às letras “A” e “D”.
d) Certa. Conforme exposto na letra “A”, o cônjuge não concorre com os filhos. Ademais, indepen-
dentemente do regime de bens, o viúvo tem direito real de habitação sobre o imóvel destinado à
residência da família, desde que seja a única dessa natureza a inventariar (art. 1.831, CC).

Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem pre-
juízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel
destinado à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.

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Seja como for, independentemente do regime de bens, o viúvo tem direito real de habitação
sobre o imóvel destinado à residência da família, desde que seja a única dessa natureza a in-
ventariar (art. 1.831, CC).

Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem pre-
juízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel
destinado à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.

e) Errada. O direito real de habitação decorre de lei e, portanto, independe de registro no Cartó-
rio de Imóveis. Veja este julgado do STJ:

CIVIL. DIVÓRCIO. NULIDADE. ALEGAÇÃO. JULGAMENTO DO MÉRITO.


CELERIDADE E ECONOMIA PROCESSUAL. ARTIGO 249, § 2º DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. PARTILHA DE BENS. SEPARAÇÃO JUDICIAL. ACORDO HOMOLOGADO. DISSOLU-
ÇÃO DE CONDOMÍNIO. INADEQUAÇÃO DA VIA. ERRO DE DIREITO EM RELAÇÃO À PROVA
ABSTRATAMENTE CONSIDERADA. CONSTITUIÇÃO DE DIREITO REAL DE HABITAÇÃO.
TRANSCRIÇÃO NO REGISTRO. DIREITO DE FAMÍLIA. PRESCINDIBILIDADE.
(...)
II – O acordo homologado judicialmente, nos autos de ação de divórcio, em que fica con-
vencionado que um dos divorciandos permanecerá residindo num dos imóveis do casal,
com isenção de quaisquer ônus, pelo tempo que desejar, renunciando, inclusive, ao direito
à pensão, implica na constituição do direito real de habitação, sendo desnecessário o
registro em cartório, conforme se extrai da redação dos artigos 715 c/c 748 do Código
Civil, bem como do artigo 167, I, 7, da Lei 6015/75.
Recurso provido.
(REsp 282.716/SP, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em
21/02/2006, DJ 10/04/2006, p. 168).

Letra d.

009. (CESPE/ANALISTA/STJ/2018) O cônjuge supérstite casado no regime de comunhão


universal de bens não concorre, na herança, com os descendentes.

É o art. 1.829, I, do CC.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, pa-
rágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;

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II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;


III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais.
Certo.

010. (CESPE/ANALISTA/STJ/2018) João, ao falecer, deixou Maria, sua esposa, com quem
era casado sob o regime de comunhão parcial de bens, e dois filhos. Ao tempo do seu passa-
mento, ele possuía alguns bens comuns com sua esposa e outros particulares.
Nessa situação hipotética, conforme a jurisprudência dos tribunais superiores,
Maria concorrerá na herança com os descendentes de João somente quanto aos bens particu-
lares constantes no acervo hereditário.

À luz do art. 1.829, I, do CC, quando há descendentes, o cônjuge ou o companheiro supérstite


só partilha a herança com eles quanto aos bens particulares deixados pelo falecido (direito
sucessório), de modo que, quanto aos bens comuns, o viúvo só terá direito à meação (direito
de família). Veja este julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. CÔNJUGE SOBREVIVENTE.


REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. HERDEIRO NECESSÁRIO. EXISTÊNCIA DE
DESCENDENTES DO CÔNJUGE FALECIDO. CONCORRÊNCIA. ACERVO HEREDITÁRIO.
EXISTÊNCIA DE BENS PARTICULARES DO DE CUJUS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.829, I,
DO CÓDIGO CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA.
(...)
2. Nos termos do art. 1.829, I, do Código Civil de 2002, o cônjuge sobrevivente, casado
no regime de comunhão parcial de bens, concorrerá com os descendentes do cônjuge
falecido somente quando este tiver deixado bens particulares.
3. A referida concorrência dar-se-á exclusivamente quanto aos bens particulares constan-
tes do acervo hereditário do de cujus.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1368123/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 08/06/2015).

Certo.

011. (CESPE/ANALISTA/STJ/2018) É reconhecido o direito sucessório do cônjuge sobrevi-


vente separado de fato há mais de dois anos, caso ele prove que, sem culpa sua, a convivência
se tornou impossível.

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É o art. 1.830 do CC.

Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo
da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de
dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa
do sobrevivente.
Certo.

012. (CESPE/ANALISTA/STJ/2018) João, ao falecer, deixou Maria, sua esposa, com quem
era casado sob o regime de comunhão parcial de bens, e dois filhos. Ao tempo do seu passa-
mento, ele possuía alguns bens comuns com sua esposa e outros particulares.
Nessa situação hipotética, conforme a jurisprudência dos tribunais superiores, caso tenha
sido beneficiada por testamento deixado por João, Maria perderá automaticamente o direito
à legítima.

Sucessão legítima – a que decorre de lei – não se confunde com a testamentária. Maria,
além da deixa testamentária (sucessão testamentária), também receberá seu quinhão na
sucessão legítima (art. 1.788, CC). E, como Maria é herdeira necessária (art. 1.845, CC), a
legítima – que é a metade do patrimônio do de cujus – não pode ser objeto de testamento.

Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o
mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a su-
cessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
Errado.

013. (CESPE/JUIZ/TJ-PR/2017) César, casado sob o regime da comunhão universal de bens,


separou-se de fato de sua esposa, Lina, em 2003. No ano de 2005, após o falecimento de seus
pais, César iniciou união estável com Lídia. Posteriormente, no ano de 2006, Hugo, irmão de
César, que não possuía vínculo matrimonial ou de convivência, sem descendentes, faleceu, dei-
xando bens. Iniciado o processo de inventário por César, Lina ingressou pleiteando o reconheci-
mento da sua qualidade de meeira. Considerando essa situação hipotética à luz do Código Civil,
do entendimento doutrinário sobre o tema e da jurisprudência do STJ, assinale a opção correta.
a) Segundo a ordem de vocação hereditária estabelecida no Código Civil, César não é herdei-
ro de Hugo.
b) A separação de fato de César e Lina é causa que enseja o encerramento do regime de bens
entre eles.
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c) A união estável havida entre César e Lídia não é reconhecida pelo ordenamento jurídico.
d) Com o falecimento de Hugo, a transmissão da herança ao herdeiro ocorrerá mediante a
imissão na posse, a qual, entretanto, será condicionada ao ajuizamento, pelo interessado, de
manifestação nesse sentido.

a) Errada. Como César é irmão de Hugo e como este não possuía outro parente sucessível
mais próximo na ordem de vocação hereditária do art. 1.829 do CC, César é herdeiro (inciso IV
do art. 1.829 e arts. 1.840 ao 1.842, CC).

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o fale-
cido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo
único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais.
Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de
representação concedido aos filhos de irmãos.
Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um
destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.
Art. 1.842. Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os unilaterais.

b) Certa. A separação de fato faz cessar a eficácia do regime de bens por interpretação exten-
siva do art. 1.575 do CC.

Art. 1.575. A sentença de separação judicial importa a separação de corpos e a partilha de bens.
Parágrafo único. A partilha de bens poderá ser feita mediante proposta dos cônjuges e homologada
pelo juiz ou por este decidida.

Veja ainda estes julgados do STJ:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. BENS E DIREITOS EM ESTADO


DE MANCOMUNHÃO (ENTRE A SEPARAÇÃO DE FATO E A EFETIVA PARTILHA). PATRIMÔ-
NIO COMUM ADMINISTRADO EXCLUSIVAMENTE POR EX-CÔNJUGE.
(...)
3. Como de sabença, a administração do patrimônio comum do casal compete a ambos
os cônjuges (artigos 1.663 e 1720 do Código Civil). Nada obstante, a partir da separação
de fato ou de corpos (marco final do regime de bens), os bens e direitos dos ex-consor-
tes ficam em estado de mancomunhão – conforme salienta doutrina especializada -, for-
mando uma massa juridicamente indivisível, indistintamente pertencente a ambos.
(...)
(REsp 1274639/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
12/09/2017, DJe 23/10/2017)
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RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. REGIME DE BENS.


COMUNHÃO PARCIAL. PREVIDÊNCIA PRIVADA. MODALIDADE FECHADA.
CONTINGÊNCIAS FUTURAS. PARTILHA. ART. 1.659, VII, DO CC/2002.
BENEFÍCIO EXCLUÍDO. MEAÇÃO DE DÍVIDA. POSSIBILIDADE. SÚMULA N. 7/STJ. PRECLU-
SÃO CONSUMATIVA. FUNDAMENTO AUTÔNOMO.
(..)
6. Na partilha, comunicam-se não apenas o patrimônio líquido, mas também as dívidas e
os encargos existentes até o momento da separação de fato.
(...)
(REsp 1477937/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, jul-
gado em 27/04/2017, DJe 20/06/2017)
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL. FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. EXTINÇÃO.
REGIME DE BENS. COMUNHÃO PARCIAL. VALORIZAÇÃO DE COTAS SOCIAIS. CAPITALIZA-
ÇÃO. CONTA RESERVA. ART. 1.660, V, DO CÓDIGO CIVIL. CONCEITO DE FRUTO. INCOMPATIBI-
LIDADE. NÃO COMUNICABILIDADE. VALOR. QUOTA. INTEGRALIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL.
(...)
5. O valor do capital social integralizado de determinada empresa é parâmetro adequado
para a partilha especialmente quando a separação de fato do casal, ocasião em que finda
o regime de bens, ocorre em momento muito próximo à sua constituição.
(...)
(REsp 1595775/AP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, jul-
gado em 09/08/2016, DJe 16/08/2016).

c) Errada. É cabível união estável de pessoas formalmente casadas com terceiros apenas se
estiverem separadas de fato (art. 1.723, § 1º, CC).

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada
na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplican-
do a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.
§ 2º As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.

d) Errada. A transmissão hereditária ocorre no momento da morte, conforme princípio da Sai-


sine (art. 1.784, CC).

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários.
Letra b.

014. (CESPE/ANALISTA/TRF-1ª/2017) A doação de ascendente para descendentes importa


adiantamento do que lhes couber por herança, porém não importará adiantamento se o doador
expressamente dispensar a colação.

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Doação de ascendente a descendente implica antecipação de herança, salvo se, além da dis-
pensa expressa de colação, tiver sido respeitada a legítima, calculada ao tempo da doação
(arts. 544 e 2.005, CC). A questão foi anulada, porque não deixou explícita a necessidade de
respeitar a legítima.

Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamen-


to do que lhes cabe por herança.
Art. 2.005. São dispensadas da colação as doações que o doador determinar saiam da parte dispo-
nível, contanto que não a excedam, computado o seu valor ao tempo da doação.
Parágrafo único. Presume-se imputada na parte disponível a liberalidade feita a descendente que, ao
tempo do ato, não seria chamado à sucessão na qualidade de herdeiro necessário.
Anulada.

015. (CESPE/PROMOTOR/MPE-RR/2017) Com relação ao direito sucessório e suas implica-


ções, julgue os itens a seguir.
I – Herança corresponde ao conjunto de bens deixado pelo falecido e engloba tanto os bens
positivos quanto os bens negativos.
II – Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos, contados a partir da data do
seu falecimento.
III – Na hipótese de doação de imóvel de ascendente a descendente, quando do falecimen-
to daquele, o bem deverá, em regra, ser trazido à colação, sob pena de ser considerado
bem sonegado.
Assinale a opção correta
a) Apenas os itens I e II estão certos.
b) Apenas os itens I e III estão certos.
c) Apenas os itens II e III estão certos.
d) Todos os itens estão certos.

I – Correto. É a definição doutrinária de herança.


II – Incorreto. É a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao do falecimento, conforme art. 41
da Lei n. 9.610/98.

Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1º de janeiro do
ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil.
Parágrafo único. Aplica-se às obras póstumas o prazo de proteção a que alude o caput deste artigo.

III – Correto. Doação de ascendente a descendente é antecipação de herança e, por isso, tem
de ser colacionado pelo donatário, sob pena de este sofrer a pena de sonegação (arts. 544 e
2.002, CC).

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Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamen-


to do que lhes cabe por herança.
Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para
igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação.
Letra b.

016. (CESPE/DEFENSOR/DPE-AC/2017) Aos setenta anos de idade, Roberto, viúvo, com três
filhos maiores, sendo um deles incapaz, pretende firmar testamento a fim de dispor, após sua
morte, dos bens de que é proprietário.
Nessa situação,
a) a sucessão testamentária só poderá ser realizada mediante testamento público.
b) Roberto só poderá dispor, no testamento, de até vinte e cinco por cento de seus bens.
c) a sucessão testamentária depende da anuência dos filhos capazes e do representante legal
do incapaz.
d) a idade de Roberto não é fato impeditivo para firmar testamento.
e) a existência de filho incapaz impede a sucessão testamentária.

a) Errada. O testamento pode ser público, particular ou cerrado, conforme art. 1.862 do CC.

Art. 1.862. São testamentos ordinários:


I – o público;
II – o cerrado;
III – o particular.

b) Errada. Só pode dispor até de 50% do patrimônio por ter herdeiros necessários (os filhos),
conforme arts. 1.789 e 1.845 do CC.

Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

c) Errada. Não há essa exigência legal.


d) Certa. Qualquer pessoa capaz pode testar, independentemente da idade (art. 1.857, CC).

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte
deles, para depois de sua morte.
§ 1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.
§ 2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador
somente a elas se tenha limitado.

e) Errada. Não há essa proibição legal.


Letra d.

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017. (CESPE/PROCURADOR/PGE-AM/2016) O herdeiro excluído da herança poderá, a


qualquer tempo, demandar o reconhecimento do seu direito sucessório por intermédio da
ação de petição de herança.

A ação de petição de herança só pode ser proposta dentro do prazo prescricional, e não a
qualquer tempo. O prazo prescricional é de 10 anos. Veja este julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. AÇÃO DE PETIÇÃO DE


HERANÇA. FILIAÇÃO RECONHECIDA E DECLARADA APÓS A MORTE DO AUTOR DA
HERANÇA. TERMO INICIAL. TEORIA DA ‘ACTIO NATA’. DATA DO TRÂNSITO EM JUL-
GADO DA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE.
1. Controvérsia doutrinária acerca da prescritibilidade da pretensão de petição de
herança que restou superada na jurisprudência com a edição pelo STF da Súmula n.º
149: “É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição
de herança.”.
2. Ausência de previsão, tanto no Código Civil de 2002, como no Código Civil de 1916,
de prazo prescricional específico para o ajuizamento da ação de petição de herança,
sujeitando-se, portanto, ao prazo geral de prescrição previsto em cada codificação
civil: vinte anos e dez anos, respectivamente, conforme previsto no art. 177 do CC/16
e no art. 205 do CC/2002.
3. Nas hipóteses de reconhecimento ‘post mortem’ da paternidade, o prazo para o
herdeiro preterido buscar a nulidade da partilha e reivindicar a sua parte na herança
só se inicia a partir do trânsito em julgado da ação de investigação de paternidade,
quando resta confirmada a sua condição de herdeiro. Precedentes específicos desta
Terceira do STJ.
4. Superação do entendimento do Supremo Tribunal Federal, firmado quando ainda
detinha competência para o julgamento de matérias infraconstitucionais, no sentido
de que o prazo prescricional da ação de petição de herança corria da abertura da
sucessão do pretendido pai, seguindo a exegese do art. 1.572 do Código Civil de
1916. 5. Aplicação da teoria da ‘actio nata’. Precedentes.
6. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
(REsp 1368677/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 05/12/2017, DJe 15/02/2018).

Errado.

018. (CESPE/ANALISTA/FUNPRESP-JUD/2016) A respeito das obrigações, dos contratos,


dos atos unilaterais, do reconhecimento dos filhos e da sucessão, julgue o item subsequente.

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Sucessões – Parte II
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Embora os maiores de dezesseis anos de idade possam testar, esse ato será passível de anu-
lação se ausente a assinatura do representante legal.

Não há assinatura de representante legal nem de assistente; o testamento é feito mediante


declaração de vontade solitária do testador, ainda que ele tenha 16 anos. É o art. 1.860 do CC.

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno
discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.
Errado.

019. (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2016) A propósito do direito das sucessões, com fundamento


nos dispositivos legais, na doutrina e no entendimento jurisprudencial pátrio, assinale a op-
ção correta.
a) A herança é considerada um bem divisível, antes mesmo da partilha.
b) O filho do autor da herança tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens rece-
bidos por doação, a título de adiantamento da legítima, ainda que não tenha sido concebido ao
tempo da liberalidade.
c) O cônjuge supérstite pode opor o direito real de habitação aos irmãos do cônjuge falecido,
caso eles já fossem, antes da abertura da sucessão, coproprietários do imóvel em que ela e o
marido residiam.
d) O testador só poderá dispor de um terço da herança no caso de haver herdeiros necessários.
e) O cumprimento de legado de coisa que se determine pelo gênero é impossibilitado quando
a coisa não mais existir entre os bens deixados pelo testador.

a) Errada. É indivisível até a partilha (art. 1.791, parágrafo único, CC).

Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança,
será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio.

b) Certa. Os filhos têm de colacionar os bens recebidos a título de doação, ainda que a doação tenha
sido feito antes do nascimento dos irmãos. O objetivo é igualar a legítima. Veja este julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DAS SUCESSÕES. INVENTÁRIO. 1. OMISSÃO DO ACÓR-


DÃO RECORRIDO. INEXISTÊNCIA. 2. DOAÇÃO EM VIDA DE TODOS OS BENS IMÓVEIS
AOS FILHOS E CÔNJUGES FEITA PELO AUTOR DA HERANÇA E SUA ESPOSA. HERDEIRO
NECESSÁRIO QUE NASCEU POSTERIORMENTE AO ATO DE LIBERALIDADE. DIREITO À
COLAÇÃO. 3. PERCENTUAL DOS BENS QUE DEVE SER TRAZIDO À CONFERÊNCIA. 4.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

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(...)
2. Para efeito de cumprimento do dever de colação, é irrelevante o fato de o herdeiro ter
nascido antes ou após a doação, de todos os bens imóveis, feita pelo autor da herança
e sua esposa aos filhos e respectivos cônjuges. O que deve prevalecer é a ideia de que
a doação feita de ascendente para descendente, por si só, não é considerada inválida
ou ineficaz pelo ordenamento jurídico, mas impõe ao donatário obrigação protraída no
tempo de, à época do óbito do doador, trazer o patrimônio recebido à colação, a fim de
igualar as legítimas, caso não seja aquele o único herdeiro necessário (arts. 2.002, pará-
grafo único, e 2.003 do CC/2002).
3. No caso, todavia, a colação deve ser admitida apenas sobre 25% dos referidos bens,
por ter sido esse o percentual doado aos herdeiros necessários, já que a outra metade
foi destinada, expressamente, aos seus respectivos cônjuges. Tampouco, há de se cogi-
tar da possível existência de fraude, uma vez que na data da celebração do contrato de
doação, o herdeiro preterido, ora recorrido, nem sequer havia sido concebido.
4. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1298864/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 19/05/2015, DJe 29/05/2015).

c) Errada. O direito real de habitação ao viúvo só recai sobre imóvel que pertencesse ao de
cujus ou ao casal, e não a terceiros. Por isso, se os irmãos do de cujus eram donos do imóvel,
não há falar em direito real de habitação. Veja este julgado do STJ:

CIVIL. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. INOPONIBILIDADE A TERCEIROS COPROPRIETÁ-


RIOS DO IMÓVEL. CONDOMÍNIO PREEXISTENTE À ABERTURA DA SUCESSÃO. ART. ANA-
LISADO: 1.611, § 2º, do CC/16.
1. Ação reivindicatória distribuída em 07/02/2008, da qual foi extraído o presente recurso
especial, concluso ao Gabinete em 19/03/2010.
2. Discute-se a oponibilidade do direito real de habitação da viúva aos coproprietários do
imóvel em que ela residia com o falecido.
3. A intromissão do Estado-legislador na liberdade das pessoas disporem dos respec-
tivos bens só se justifica pela igualmente relevante proteção constitucional outorgada
à família (art. 203, I, da CF/88), que permite, em exercício de ponderação de valores, a
mitigação dos poderes inerentes à propriedade do patrimônio herdado, para assegurar
a máxima efetividade do interesse prevalente, a saber, o direito à moradia do cônjuge
supérstite.
4. No particular, toda a matriz sociológica e constitucional que justifica a concessão do
direito real de habitação ao cônjuge supérstite deixa de ter razoabilidade, em especial
porque o condomínio formado pelos irmãos do falecido preexiste à abertura da suces-
são, pois a copropriedade foi adquirida muito antes do óbito do marido da recorrida, e não
em decorrência deste evento.

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5. Recurso especial conhecido e provido.


(REsp 1184492/SE, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
01/04/2014, DJe 07/04/2014).

d) Errada. É metade (art. 1.789 do CC)

Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.

e) Errada. É o contrário (art. 1.915, CC).

Art. 1.915. Se o legado for de coisa que se determine pelo gênero, será o mesmo cumprido, ainda
que tal coisa não exista entre os bens deixados pelo testador.
Letra b.

020. (CESPE/ANALISTA/TRE-PI/2016) Assinale a opção correta acerca das relações de


parentesco.
a) A morte faz cessar o parentesco por afinidade na linha reta.
b) Os afins de um cônjuge se vinculam com os afins do outro até o segundo grau.
c) Pelo casamento, há parentesco por finalidade entre o marido e a mãe da esposa.
d) O casamento putativo, por presença da boa-fé, reflete no parentesco por afinidade.
e) Na linha transversal, o parentesco por afinidade é considerado até o terceiro grau.

Questão anulada. Justificativa da banca:

Não há opção correta, uma vez que a utilização do termo “finalidade” prejudicou o entendimento da
opção apontada como gabarito (letra c).

a) Errada. Em regra, a morte extingue o parentesco por afinidade apenas na linha colateral, mas
nunca na linha reta (art. 1.595, § 2º, CC).

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.
§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do côn-
juge ou companheiro.
§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.

b) Errada. Não vínculo de afinidade nessa hipótese. Só há vínculo de afinidade de um dos côn-
juges com os parentes do outro (art. 1.595, CC).
c) Errada. Questão foi anulada por falar em parentesco por “finalidade”, o que não existe. O
correto é parentesco por “afinidade”. Houve erro de digitação. Se a questão tivesse falado em
parentesco “por afinidade”, ela estaria correta, pois a sogra é parente por afinidade (art. 1.595,
§ 1º, CC).

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Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.
§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do côn-
juge ou companheiro.
§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.

d) Errada. O casamento putativo só produz efeitos em relação aos filhos e ao cônjuge de


boa-fé até a data da invalidação, de maneira que não se poderá falar em vínculo de afinidade
(art. 1.561, CC). Está errada a questão.

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casa-
mento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
§ 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e
aos filhos aproveitarão.
§ 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos
filhos aproveitarão.

e) Errada. Só até o segundo grau, ou seja, só até cunhados (irmãos do consorte), conforme art.
1.595, § 1º, CC.
Anulada.

021. (CESPE/JUIZ/TJ-AM/2016) Em relação ao direito das sucessões, assinale a opção correta.


a) Não havendo descendentes ou ascendentes, os herdeiros colaterais do autor da herança
concorrem com o cônjuge sobrevivente.
b) Em se tratando de casamento sob o regime de comunhão parcial de bens, o cônjuge su-
pérstite concorrerá com os descendentes do cônjuge falecido apenas em relação aos bens
particulares deste.
c) Será rompido o testamento válido se o legatário for excluído da sucessão ou falecer antes
do legante.
d) Não goza da igualdade de condições com filho legítimo o filho adotado no ano de 1980, se a
morte do autor da herança tiver ocorrido antes da vigência da Lei n.º 10.406/2012.
e) Tratando-se de sucessão colateral, o direito de representação estende-se ao sobrinho-neto
do autor da herança.

a) Errada. O cônjuge herda sozinho (arts. 1.829, III, e 1.838 do CC).

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, pa-
rágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;

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II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;


III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais.
Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge
sobrevivente.

b) Certa. À luz do art. 1.829, I, do CC, quando há descendentes, o cônjuge ou o companheiro


supérstite só partilha a herança com eles quanto aos bens particulares deixados pelo falecido
(direito sucessório), de modo que, quanto aos bens comuns, o viúvo só terá direito à meação
(direito de família). Veja este julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. CÔNJUGE SOBREVIVENTE.


REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. HERDEIRO NECESSÁRIO. EXISTÊNCIA DE
DESCENDENTES DO CÔNJUGE FALECIDO. CONCORRÊNCIA. ACERVO HEREDITÁRIO.
EXISTÊNCIA DE BENS PARTICULARES DO DE CUJUS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.829, I,
DO CÓDIGO CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA.
(...)
2. Nos termos do art. 1.829, I, do Código Civil de 2002, o cônjuge sobrevivente, casado
no regime de comunhão parcial de bens, concorrerá com os descendentes do cônjuge
falecido somente quando este tiver deixado bens particulares.
3. A referida concorrência dar-se-á exclusivamente quanto aos bens particulares constan-
tes do acervo hereditário do de cujus.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1368123/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 08/06/2015).

c) Errada. Os casos citados são de caducidade do legado (art. 1.939, IV e V, CC), e não de rom-
pimento do testamento (arts. 1.973 ao 1.975, CC).

Art. 1.939. Caducará o legado:


I – se, depois do testamento, o testador modificar a coisa legada, ao ponto de já não ter a forma nem
lhe caber a denominação que possuía;
II – se o testador, por qualquer título, alienar no todo ou em parte a coisa legada; nesse caso, cadu-
cará até onde ela deixou de pertencer ao testador;
III – se a coisa perecer ou for evicta, vivo ou morto o testador, sem culpa do herdeiro ou legatário
incumbido do seu cumprimento;
IV – se o legatário for excluído da sucessão, nos termos do art. 1.815;
V – se o legatário falecer antes do testador.
Art. 1.973. Sobrevindo descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não o conhecia quan-
do testou, rompe-se o testamento em todas as suas disposições, se esse descendente sobreviver
ao testador.

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Art. 1.974. Rompe-se também o testamento feito na ignorância de existirem outros herdeiros
necessários.
Art. 1.975. Não se rompe o testamento, se o testador dispuser da sua metade, não contemplando os
herdeiros necessários de cuja existência saiba, ou quando os exclua dessa parte.

d) Errada. A CF equiparou os filhos, independentemente de sua origem (adotiva ou não). Logo,


após a CF, passou a haver igualdade de condições para todos os filhos, ao contrário do dito
pela questão. Veja este julgado:

PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. CIVIL. ADOÇÃO
OCORRIDA SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. FALECIMENTO DE ASCENDENTE
BIOLÓGICO. DIREITO SUCESSÓRIO. LEI VIGENTE À ÉPOCA DA ABERTURA DA SUCESSÃO.
APLICAÇÃO. EXCLUSÃO LEGÍTIMA DOS ADOTADOS. ART. 227, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERA. PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE OS FILHOS. INTERPRETAÇÃO CONFORME.
1. Afasta-se a alegada violação do art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido, inte-
grado pelo julgado proferido nos embargos de declaração, dirime, de forma expressa,
congruente e motivada, as questões suscitadas nas razões recursais.
2. A adoção constituída na vigência do Código Civil de 1916, consoante o disposto nos
arts. 376 e 378, não extinguia o vínculo de parentesco natural, preservando, assim, o
direito sucessório do adotado com relação aos parentes consanguíneos.
3. Não há direito adquirido à sucessão, que se estabelece por ocasião da morte, pois é
nesse momento em que se dá a transferência do acervo hereditário aos titulares, motivo
pelo qual é regulada pela lei vigente à data da abertura (art. 1.577 do Código Civil de 1916
e art. 1.787 do Código Civil de 2002).
4. In casu, quando do falecimento da avó biológica, vigia o art.
1.626 do Código Civil de 2002 (revogado pela Lei n. 12.010/2009), segundo o qual a
adoção provocava a dissolução do vínculo consanguíneo. Assim, com a adoção, ocorreu
o completo desligamento do vínculo entre os adotados e a família biológica, revelando-se
escorreita a decisão que os excluíra da sucessão porquanto, na data da abertura, já não
eram mais considerados descendentes.
5. A interpretação do art. 227, § 6º, da Constituição Federal, que instituiu o princípio da
igualdade entre os filhos, veda que, dentro da família adotante, seja concedido, com fun-
damento em dispositivo legal do Código Civil de 1916, benefício sucessório extra a deter-
minados filhos que implique reconhecer o direito de participar da herança dos parentes
adotivos e dos parentes consanguíneos.
6. Recurso especial desprovido.
(REsp 1477498/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 23/06/2015, DJe 30/06/2015).

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e) Errada. Na linha colateral, só há direito de representação ao sobrinho para concorrer com os


irmãos (art. 1.853, CC).

Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos filhos de
irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem.
Letra b.

022. (CESPE/ANALISTA/TRE-GO/2015) Márcia, casada com Tito e proprietária de grande


fortuna, faleceu por causas naturais. Nessa situação, Tito poderá administrar a herança até
que um inventariante seja nomeado pelo juiz.

É o art. 1.797, I, do CC.

Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança caberá, sucessivamente:


I – ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão;
II – ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um nessas
condições, ao mais velho;
III – ao testamenteiro;
IV – a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos antecedentes, ou
quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao conhecimento do juiz.
Certo.

023. (CESPE/ANALISTA/TJ-DFT/2015) O direito real de habitação do cônjuge ou companhei-


ro sobrevivente recai sobre o imóvel em que residia o casal, desde que seja o único dessa na-
tureza e que integre o patrimônio comum ou particular do cônjuge ou companheiro falecido no
momento da abertura da sucessão. Esse direito persiste mesmo quando o imóvel pertencer a
terceiros em copropriedade com o extinto.

Está errada a parte final da questão: se pertencer a terceiros, não há direito real de habitação.
Veja este julgado do STJ:

CIVIL. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. INOPONIBILIDADE A TERCEIROS COPROPRIETÁ-


RIOS DO IMÓVEL. CONDOMÍNIO PREEXISTENTE À ABERTURA DA SUCESSÃO. ART. ANA-
LISADO: 1.611, § 2º, do CC/16.
1. Ação reivindicatória distribuída em 07/02/2008, da qual foi extraído o presente recurso
especial, concluso ao Gabinete em 19/03/2010.
2. Discute-se a oponibilidade do direito real de habitação da viúva aos coproprietários do
imóvel em que ela residia com o falecido.

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3. A intromissão do Estado-legislador na liberdade das pessoas disporem dos respec-


tivos bens só se justifica pela igualmente relevante proteção constitucional outorgada
à família (art. 203, I, da CF/88), que permite, em exercício de ponderação de valores, a
mitigação dos poderes inerentes à propriedade do patrimônio herdado, para assegurar
a máxima efetividade do interesse prevalente, a saber, o direito à moradia do cônjuge
supérstite.
4. No particular, toda a matriz sociológica e constitucional que justifica a concessão do
direito real de habitação ao cônjuge supérstite deixa de ter razoabilidade, em especial
porque o condomínio formado pelos irmãos do falecido preexiste à abertura da suces-
são, pois a copropriedade foi adquirida muito antes do óbito do marido da recorrida, e não
em decorrência deste evento.
5. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 1184492/SE, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
01/04/2014, DJe 07/04/2014).

Errado.

024. (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015) No que se refere à exclusão da herança por indignidade, as-


sinale a opção correta.
a) A reabilitação, em testamento ou em outro ato autêntico, é ato personalíssimo do ofendido.
b) O rol das causas enumeradas na lei civil para exclusão da herança por indignidade é exem-
plificativo — numerus apertus.
c) O ato infracional equiparado ao homicídio doloso praticado por menor de dezoito anos de
idade contra ascendente não é causa de indignidade hábil à exclusão da herança.
d) Como os efeitos da sentença que decreta a indignidade são pessoais, o excluído terá direito
ao usufruto e à administração dos bens que couberem a seus filhos.
e) O direito de demandar a exclusão do herdeiro extingue-se em quatro anos, contados a partir
da data em que ocorrer o fato objeto da indignidade.

a) Certa. É o que decorre do art. 1.818 do CC.

Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a
suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico.
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do
ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite
da disposição testamentária.

b) Errada. A doutrina entende que é taxativo o rol legal por se tratar de norma restritiva de direi-
to. O rol dos atos de indignidade está no art. 1.814 do. CC.

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Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:


I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste,
contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime
contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor
livremente de seus bens por ato de última vontade.

c) Errada. É causa sim, por se enquadrar no inciso I do art. 1.814 do CC, que condena atentados
contra a vida do de cujus.
d) Errada. É o contrário (art. 1.816, parágrafo único, CC).

Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem,
como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens
que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.

e) Errada. É contado a partir da abertura da sucessão (art. 1.815, § 1º, CC).

Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade, será de-
clarada por sentença.
§ 1º O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, conta-
dos da abertura da sucessão.
§ 2ª Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem legitimidade para demandar a
exclusão do herdeiro ou legatário.
Letra a.

025. (CESPE/ANALISTA/TJ-DFT/2015) Situação hipotética: Isabela e Pedro, casados sob


o regime de comunhão universal de bens, tiveram dois filhos. Isabela, antes de contrair ma-
trimônio com Pedro, amealhou patrimônio no valor de R$ 600.000. Durante o casamento, o
casal constituiu vasto patrimônio. Assertiva: Nessa situação, com o falecimento de Isabela,
Pedro não concorrerá com os descendentes e, portanto, não terá direito à parcela da herança
da falecida.

Pedro só tem direito à meação por conta da comunicação decorrente do regime de bens (di-
reito de família), mas, sobre a outra metade do patrimônio – que comporá o acervo hereditário
– não irá concorrer, na sucessão causa mortis, com os filhos por força do art. 1.829, I, do CC.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo

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único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particu-
lares;
II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais.
Certo.

026. (CESPE/JUIZ/TJ-DFT/2015) De acordo com a jurisprudência do STJ, assinale a opção


correta relativamente ao direito das coisas e ao direito das sucessões.
a) O ato inter vivos de disposição patrimonial representado pela cessão gratuita da meação
aos herdeiros constitui cessão de direitos hereditários, para a qual é dispensada a escritu-
ra pública.
b) A acessão artificial configura modo de aquisição originária da propriedade imóvel, razão
pela qual não é devida indenização ao possuidor que tenha semeado e plantado, ainda que de
boa-fé, em terreno alheio.
c) A jurisprudência considera que o instrumento de compra e venda configura justo título, apto
a ensejar a declaração de usucapião ordinária, pois o promitente comprador tem o direito à ad-
judicação compulsória do imóvel independentemente do registro e, quando registrado, o com-
promisso de compra e venda passa a integrar a categoria de direito real pela legislação civil.
d) A legislação civil não conferiu ao cônjuge sobrevivente, casado sob o regime de separação
convencional, a condição de herdeiro necessário que concorre com os descendentes do côn-
juge falecido.
e) Caso sobrevenha descendente sucessível ao testador, o qual não era conhecido quando da
elaboração do ato, não será possível o rompimento do testamento em todas as suas disposi-
ções, ainda que o referido descendente sobreviva ao testador.

a) Errada. Meação – a metade dos bens comuns pertencente ao cônjuge supérstite em ra-
zão do regime de bens do casamento – não é herança e, portanto, não se está a falar aqui de
cessão de direito hereditário art. 1.793 do CC. O STJ, porém, entendeu que a meação atrai o
art. 108 do CC e, por isso, a sua cessão exige escritura pública. O art. 108 do CC estabelece
o seguinte:

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre
imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

O STJ entendeu que esse dispositivo se estenderia aos casos de cessão de meação (pelo viúvo
ou viúva) aos herdeiros, conforme este julgado.

SUCESSÕES. RECURSO ESPECIAL. MEAÇÃO. ATO DE DISPOSIÇÃO EM FAVOR DOS HER-


DEIROS. DOAÇÃO. ATO INTER VIVOS. FORMA. ESCRITURA PÚBLICA.

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Sucessões – Parte II
Carlos Elias

1. Discussão relativa à necessidade de lavratura de escritura pública para prática de ato


de disposição da meação da viúva em favor dos herdeiros.
2. O ato para dispor da meação não se equipara à cessão de direitos hereditários, prevista
no art. 1.793 do Código Civil, porque esta pressupõe a condição de herdeiro para que
possa ser efetivada.
3. Embora o art. 1.806 do Código Civil admita que a renúncia à herança possa ser efeti-
vada por instrumento público ou termo judicial, a meação não se confunde com a herança.
4. A renúncia da herança pressupõe a abertura da sucessão e só pode ser realizada por
aqueles que ostentam a condição de herdeiro.
5. O ato de disposição patrimonial representado pela cessão gratuita da meação em favor
dos herdeiros configura uma verdadeira doação, a qual, nos termos do art. 541 do Código
Civil, far-se-á por Escritura Pública ou instrumento particular, sendo que, na hipótese, deve
ser adotado o instrumento público, por conta do disposto no art. 108 do Código Civil.
6. Recurso especial desprovido.
(REsp 1196992/MS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
06/08/2013, DJe 22/08/2013).

Preferimos dissentir da decisão acima do STJ, pois meação é uma universalidade de direito e
não é considerada bem imóvel pelo direito civil. É diferente da herança, que é bem imóvel (art.
80, II, CC).

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:


I – os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II – o direito à sucessão aberta.
b) Errada. Acessão, para doutrina majoritária, é forma de aquisição originária. Todavia, o item
contraria o art. 1.255 do CC, que estabelece dever de indenizar.

Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário,
as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.

c) Certa. É a Súmula n. 239/STJ alinhada ao art. 1.417 do CC.

Súmula n. 239, STJ


O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de
compra e venda no cartório de imóveis.

Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, cele-
brada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire
o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.
d) Errada. O cônjuge é herdeiro necessário, independentemente do regime de bens (art.
1.845, CC).

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

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Sucessões – Parte II
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e) Errada. É contrário ao art. 1.973 do CC.

Art. 1.973. Sobrevindo descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não o conhecia quan-
do testou, rompe-se o testamento em todas as suas disposições, se esse descendente sobreviver
ao testador.
Letra c.

027. (CESPE/DEFENSOR/DPE-PE/2015) Considerando que Luciana e Carlos sejam casados


em regime de comunhão parcial de bens há dez anos e tenham um filho, julgue o seguinte item.
Se Carlos falecer sem deixar bens particulares, Luciana terá direito a uma quota equivalente à
que por lei for atribuída ao filho.

Viúva que era casada sob o regime da comunhão parcial só concorre com os filhos sobre os
bens particulares do de cujus, de modo que o item está errado. É a leitura do art. 1.829, I, do CC
pelo STJ. Veja este julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. CÔNJUGE SOBREVIVENTE.


REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. HERDEIRO NECESSÁRIO. EXISTÊNCIA DE
DESCENDENTES DO CÔNJUGE FALECIDO. CONCORRÊNCIA. ACERVO HEREDITÁRIO.
EXISTÊNCIA DE BENS PARTICULARES DO DE CUJUS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.829, I,
DO CÓDIGO CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA.
(...)
2. Nos termos do art. 1.829, I, do Código Civil de 2002, o cônjuge sobrevivente, casado
no regime de comunhão parcial de bens, concorrerá com os descendentes do cônjuge
falecido somente quando este tiver deixado bens particulares.
3. A referida concorrência dar-se-á exclusivamente quanto aos bens particulares constan-
tes do acervo hereditário do de cujus.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1368123/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 08/06/2015).

Errado.

028. (CESPE/ADVOGADO/AGU/2015) Situação hipotética: João recebeu de seu avô, por doa-
ção pura e simples, com cláusula de impenhorabilidade e incomunicabilidade, o imóvel no qual
reside. Anos mais tarde, João faleceu. Assertiva: Nessa situação, a transmissão do referido
imóvel aos herdeiros necessários de João se dará com a cláusula restritiva, devendo a sua
alienação ocorrer por autorização judicial.

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Sucessões – Parte II
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Com a morte do donatário, a cláusula restritiva da propriedade se extingue automaticamente;


não é transmitida para os sucessores. Veja este julgado:

TESTAMENTO. INALIENABILIDADE.
COM A MORTE DO HERDEIRO NECESSÁRIO (ART. 1721 DO CC), QUE RECEBEU BENS
CLAUSULADOS EM TESTAMENTO, OS BENS PASSAM AOS HERDEIROS DESTE, LIVRES E
DESEMBARAÇADOS.
ART. 1723 DO CÓDIGO CIVIL.
(REsp 80.480/SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em
13/05/1996, DJ 24/06/1996, p. 22769).

Errado.

029. (CESPE/DEFENSOR/DPE-RN/2015) Acerca do direito das sucessões, assinale a op-


ção correta.
a) A declaração de indignidade do herdeiro faz que ele seja excluído da sucessão, de modo
que, se o herdeiro excluído possui descendentes, estes não podem sucedê-lo em seu lugar,
mesmo sendo possível, no caso concreto, o direito de representação.
b) O princípio da saisine, que regula a abertura da sucessão, também se aplica integralmente
aos legatários.
c) A cessão, pelo coerdeiro, de seu direito sobre um bem imóvel integrante do acervo heredi-
tário, considerado individualmente, antes da partilha, é hipótese de nulidade de pleno direito.
d) Situação hipotética: João faleceu sem deixar descendentes, ascendentes ou cônjuge, mas
deixou quatro irmãos, sendo três deles bilaterais e um unilateral. Assertiva: Nesse caso, a he-
rança será partilhada em razão do número de vínculos sanguíneos existentes entre os herdei-
ros e o de cujus; dessa forma, cada irmão bilateral receberá dois sétimos da herança; e o irmão
bilateral, um sétimo.
e) A capacidade sucessória testamentária passiva, consistente na nomeação de legatário sob
condição suspensiva, deverá ser observada no momento da realização do testamento.

Questão anulada. Justificativa da banca:

A repetição da expressão “irmão bilateral” prejudicou o julgamento objetivo da opção apontada


como gabarito preliminar.
a) Errada. O direito de representação é admitido no caso de pré-morto (art. 1.851, CC), indigno
(art. 1.816, CC) ou deserdado (art. 1.961, CC), ao contrário do dito no item. Herdeiro indigno ou
deserdado é tido como pré-morto, o que autoriza o direito de representação. Não há, porém,
direito de representação no caso de renúncia à herança (art. 1.855, CC).

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Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem,
como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.
Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens
que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens.
Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido a suce-
der em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.
Art. 1.855. O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes.
Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos
os casos em que podem ser excluídos da sucessão.

b) Errada. Conforme doutrina majoritário, não se aplica integralmente o princípio da Saisine


aos legatários, mas só aos herdeiros (arts. 1.784 e 1.923, § 1º, CC).

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários.
Art. 1.923. Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa certa, existente no acervo,
salvo se o legado estiver sob condição suspensiva.
§ 1º Não se defere de imediato a posse da coisa, nem nela pode o legatário entrar por autoridade própria.
§ 2º O legado de coisa certa existente na herança transfere também ao legatário os frutos que pro-
duzir, desde a morte do testador, exceto se dependente de condição suspensiva, ou de termo inicial.
c) Errada. É de ineficácia, e não de nulidade (art. 1.793, § 2º, CC).

Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o coerdeiro, pode ser
objeto de cessão por escritura pública.
§ 1º Os direitos, conferidos ao herdeiro em consequência de substituição ou de direito de acrescer,
presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente.
§ 2º É ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança
considerado singularmente.
§ 3º Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de
bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade.

d) Errada. Quando há apenas irmãos como herdeiros, cada irmão bilateral recebe o dobro do
quinhão devido a cada irmão unilateral (art. 1.841, CC). Se um irmão unilateral recebe “x”, sig-
nifica que um irmão bilateral recebe “2x”. Considerando que há 3 irmãos bilaterais e 1 único
irmão unilateral, tem-se que este último receberá 1/7 da herança, ao passo que cada um dos
outros irmãos bilaterais ficará com 2/7 da herança. A questão foi anulada apenas porque, por
erro de digitação, o examinador escreveu “irmão bilateral” na última frase quando seu desejo
era escrever “irmão unilateral”.

Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um
destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.
e) Errada. A capacidade sucessória testamentária é aferida no momento da abertura da suces-
são (art. 1.798, CC).

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Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura


da sucessão.
Anulada.

030. (CESPE/ANALISTA/TJ-DFT/2015) Situação hipotética: João e Maria, casados entre si,


faleceram em virtude de acidente aéreo, não tendo sido possível verificar a precedência dos
óbitos. Nenhum dos dois deixou testamento nem possui ascendentes ou descendentes vivos.
Assertiva: Nesse caso, a sucessão será verificada separadamente para os colaterais até o
quarto grau de cada um dos falecidos, de modo que as respectivas heranças sejam mantidas
nas famílias consanguíneas correspondentes.

Houve comoriência nesse caso (art. 8º, CC), o que faz presumir que ambos morreram no mes-
mo momento. A consequência é que um não será herdeiro do outro (art. 1.784, CC) e, portanto,
o patrimônio de cada um será transmitido hereditariamente para a respectiva família de ori-
gem, conforme exposto na questão.

Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum
dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testa-
mentários.
Certo.

031. (CESPE/ANALISTA/TJ-DFT/2015) A aceitação da herança pode se dar por declaração


expressa, tácita ou presumida. A renúncia, no entanto, deve constar expressamente de instru-
mento público ou termo judicial.

São os arts. 1.805 (aceitação expressa ou tácita), 1.806 (renúncia) e 1.807 (aceitação presu-
mida) do CC.

Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita,
há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.
§ 1º Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente
conservatórios, ou os de administração e guarda provisória.
§ 2º Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais
coerdeiros.
Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo
judicial.

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Sucessões – Parte II
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Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias
após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pro-
nunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita.
Certo.

032. (CESPE/ANALISTA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/2014) O direito de representação é


possível na linha transversal em favor dos filhos de irmão do falecido quando estes concorre-
rem com irmãos do de cujus.

É o art. 1.853 do CC.

Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos filhos de
irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem.
Certo.

033. (CESPE/AUDITOR/TC-DF/2014) Conforme o Código Civil brasileiro, é expressamente


proibido que herança de pessoa viva seja objeto de contrato

É o art. 426 do CC, que veda o pacto de corvina, também chamado de pacto sucessório.

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Certo.

034. (INÉDITA/2020) Diante da solenidade do testamento, jamais se poderá admitir um


testamento particular com apenas uma testemunha instrumentária, pois o mínimo legal é
de 3 testemunhas.

Apesar de serem exigidas, no mínimo, 3 testemunhas instrumentárias no testamento parti-


cular (art. 1.876, § 1º, CC), o STJ admite que, se inexistirem suspeitas quanto à fidedignida-
de do testamento particular, a assinatura do testador com apenas 1 testemunha é suficiente
(STJ, AgRg no AREsp 773.835/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, DJe
10/03/2016).
Errado.

035. (VUNESP/JUIZ/TJ-SP/2019) Augusto, que tem um vultoso patrimônio, foi condenado


criminalmente por lesão corporal seguida de morte, de que foi vítima Josué. O processo

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criminal durou 18 meses; transitada em julgado a sentença, o condenado empreendeu fuga,


e, após um ano, foi morto resistindo à prisão. Josué, quando de sua morte, tinha um filho,
Rodolfo, com 15 anos de idade. Augusto era viúvo e não convivia em união estável, só tendo
como parentes dois tios e dois sobrinhos. Nesse caso, a herança de Augusto será
a) recebida pelos dois tios e pelos dois sobrinhos, mas não responderão eles pela indeni-
zação, porque a dívida fundada na responsabilidade civil não se transmite com a herança.
b) recebida pelos dois sobrinhos, aproveitando-lhes a prescrição iniciada, mas responderão
pela indenização devida a Rodolfo, nos limites da força da herança, proporcionalmente ao
que se atribuir a cada um, se a ação indenizatória for proposta depois da partilha.
c) recebida pelos dois sobrinhos, mas nada será devido a Rodolfo a título de indenização,
porque a morte não resultou direta e imediatamente da atuação de Augusto.
d) considerada jacente e, antes da vacância, será paga a indenização devida a Rodolfo, pas-
sando depois os bens ao município em que se situarem, aos quais, porém, não aproveita a
prescrição iniciada.

Em primeiro lugar, quando concorrerem tios e sobrinhos na sucessão causa mortis legítima,
prevalece os sobrinhos, de maneira que só estes receberão a herança: os tios nada receberão
(art. 1.843, CC).
Em segundo lugar, os herdeiros respondem pelas dívidas do de cujus dentro da força da heran-
ça: trata-se do chamado benefício de inventário (art. 1.792, CC).
Por fim, a prescrição iniciada contra uma pessoa continua a fluir contra o seu sucessor
(art. 196, CC).
Com base nisso, tem-se que, no caso, o gabarito é a letra “B”.
Letra b.

036. (VUNESP/JUIZ/TJ-SP/2019) Falecendo uma pessoa, cuja herança monta R$


12.000.000,00, sem descendentes, ascendentes, cônjuge ou convivente, mas que possuía cin-
co irmãos, sendo premorto um deles, deixando mãe viva, que não era mãe do hereditando; dois
irmãos bilaterais e dois unilaterais, sendo um desses unilaterais também já falecido, deixando
dois filhos. Cada irmão
a) bilateral receberá R$ 4.000.000,00, o irmão unilateral receberá R$ 2.000.000,00, e os sobri-
nhos R$ 1.000.000,00 cada um, nada recebendo a mãe do irmão premorto.
b) sobrevivente receberá R$ 4.000.000,00, e nada receberão os sobrinhos e a mãe do ir-
mão premorto.
c) receberá R$ 3.000.000,00, e os sobrinhos receberão cada um R$ 1.500.000,00.
d) e a mãe do premorto receberão R$ 2.400.000,00, e os sobrinhos, R$ 1.200.000,00 cada um.

No caso, os herdeiros mais próximos do de cujus são irmãos, os quais serão os herdeiros. Entre
os irmãos, os bilaterais (os que têm os mesmos pais do de cujus) têm direito a receber o dobro
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Sucessões – Parte II
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dos irmãos unilaterais (art. 1.841, CC). Além do mais, se um dos irmãos for premorto, os filhos
dele têm direito de representação e, assim, repartirão o quinhão que seria devido (art. 1.853,
CC). Na espécie, como há dois irmãos bilaterais e dois unilaterais, isso significa que cada irmão
bilateral tem direito a 2/6 da herança, ao passo que cada irmão unilateral tem direito a 1/6. Con-
siderando que um dos irmãos unilaterais é premorto e que este deixou dois filhos (sobrinhos do
de cujus), estes poderão, por força do direito de representação, repartir entre si o quinhão que
seria devido ao premorto, de modo que cada sobrinho do de cujus terá direito a 1/12 da herança.
Como a herança é de 12.000.000,00, daí decorre que: (1) cada irmão bilateral receberá R$
4.000.000,00; (2) o irmão unilateral sobrevivo receberá R$ 2.000.000,00; e (3) cada sobrinho,
por direito de representação, ficará com R$ 1.000.000,00. A mãe do irmão unilateral premorto
não é herdeira, pois não é parente do de cujus.
Letra a.

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GABARITO
1. c 13. b 25. C
2. d 14. Anulada 26. c
3. b 15. b 27. E
4. c 16. d 28. E
5. b 17. E 29. Anulada
6. c 18. E 30. C
7. c 19. b 31. C
8. d 20. Anulada 32. C
9. C 21. b 33. C
10. C 22. C 34. E
11. C 23. E 35. b
12. E 24. a 36. a

Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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