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DIREITO CIVIL
Parte Geral – III
Carlos Elias
Sumário
Apresentação..................................................................................................................3
Parte Geral – III. ...............................................................................................................4
1. Direitos da Personalidade............................................................................................4
2. Pessoas Jurídicas........................................................................................................ 7
2.1. Pressupostos Existenciais e Teorias.......................................................................... 7
2.2. Surgimento da Pessoa Jurídica. ................................................................................9
2.3. Espécies de Pessoa Jurídica................................................................................... 10
2.4. Situações Especiais................................................................................................ 14
2.5. Classificação das Pessoas Jurídicas quanto à Estrutura. . ....................................... 18
2.6. Representação das Pessoas Jurídicas.................................................................... 19
2.7. Caso da Sociedade Anônima: Adoção da Teoria da Aparência................................. 19
2.8. Efeitos do Registro................................................................................................ 20
2.9. Desconsideração da Personalidade Jurídica.......................................................... 20
2.10. Extinção da Pessoa Jurídica................................................................................. 28
2.11. Direitos da Personalidade da Pessoa Jurídica.. .......................................................29
Resumo......................................................................................................................... 31
Questões de Concurso...................................................................................................35
Gabarito........................................................................................................................43
Gabarito Comentado. .....................................................................................................44
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Parte Geral – III
Carlos Elias
Apresentação
Olá, amigo(a)!
Agora, vamos falar sobre direitos da personalidade e de pessoas jurídicas. Prepare-se, por-
que eu pretendo aprofundar naquilo que é importante para você passar e ser nomeado no
concurso!
Vamos em frente!
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1. Direitos da Personalidade
Aluno(a), há muita gente que não tem dinheiro e nenhum outro patrimônio material. Qual-
quer um, porém, tem algo valiosíssimo: os direitos da personalidade, como a honra, a ima-
gem etc.
O Código Civil trata da matéria a partir do art. 11. Vale a pena conferir os dispositivos. Aqui,
vamos tratar dos aspectos principais que são cobrados em prova. E, para começar, quero que
você resolva esta questão:
Os direitos da personalidade são direitos existenciais, ou seja, são direitos inerentes à con-
dição de pessoa. O titular desse direito coincide com o seu objeto: a pessoa é titular de si
mesma (o que abrange o próprio corpo e os elementos imateriais que a compõe, como a honra,
a imagem etc.). Não há um catálogo exaustivo de direitos da personalidade (não há rol de ti-
pologia de “numerus clausus”), pois, com base nos princípios constitucionais e nas constantes
mudanças sociais, novos direitos da personalidade podem ser identificados.
1
Letra a.
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Por ser inerente à condição de pessoa, os direitos da personalidade possuem estas
características, as quais são inferidas do art. 11 do CC e dos princípios gerais do orde-
namento: indisponibilidade (o titular não pode abrir mão deles), inalienabilidade (titular
não pode transferir a terceiros), imprescritibilidade (não há perda nem aquisição pelo
sua vida), oponibilidade erga omnes (são direitos absolutos e, portanto, toda a coletivida-
de deve respeitá-los).
Há, porém, exceções a algumas dessas características quando houver lei ou suporte
plo da possibilidade de doação gratuita de órgãos após a morte (art. 14, CC) e, se não
houver riscos à saúde, em vida (observada, neste caso, a Lei n. 9.434/1997). Além disso,
ainda que não haja permissão legal expressa, é viável a flexibilização das características
quando houver suporte principiológico. E haverá esse suporte quando a limitação volun-
aos direitos da personalidade não deve ser geral nem permanente, consoante enunciado
4/JDC. Assim, por exemplo, embora não haja previsão legal expressa, qualquer pessoa
pode fazer tatuagem e furar a orelha para colocar o brinco, porque isso atende ao suporte
principiológico retrocitado. Há, porém, situações mais complexas, como, por exemplo,
sexo nos registros públicos. O STJ é pacífico em admitir essa prática e autoriza que a
pessoa obtenha um novo assento de nascimento contendo novo nome e novo sexo com
direito a não divulgação dessa mudança nas certidões expedidas (STJ, REsp 737.993/MG,
4ª T., Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 18/12/2009).
E quanto ao morto? Ele tem direitos da personalidade? Seria possível que alguém tire uma
“selfie” de um cadáver e expor nas redes sociais?
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É claro que não! Isso geraria dano moral por ofensa a direitos da personalidade.
De fato, mesmo depois de falecido, os direitos da personalidade da pessoa devem ser
protegidos. A proteção desses direitos deve ser pleiteada por seus familiares nos termos do
parágrafo único do art. 12 e do parágrafo único do art. 20 do CC. A proteção aí não é a direitos
da personalidade do próprio familiar, e sim do falecido, como a imagem, a fama, o respeito aos
restos mortais etc. Esses familiares podem ser chamados de lesados indiretos por estarem
protegendo direitos da personalidade do falecido, e não direitos da personalidade próprios.
Apesar de serem considerados lesados indiretos, esses familiares agem em nome próprio
Entre os legitimados para a proteção dos direitos da personalidade, estão não apenas o
cônjuge, mas também o companheiro (Enunciado 275/JDC), além dos parentes na linha reta
em qualquer grau e os parentes colaterais até o quarto grau (art. 12, parágrafo único, CC).
Quando, porém, se tratar de direitos da personalidade do falecido relacionados à sua imagem
ou às suas produções autorais (escritos ou palavras), os parentes colaterais não terão legiti-
midade para a proteção desses direitos, pois o parágrafo único do art. 20 do CC se atém aos
parentes na linha reta e ao ex-consorte (cônjuge ou companheiro). O parágrafo único do art. 20
do CC afasta a regra geral de legitimação do art. 12, parágrafo único, para essas espécies de
direitos da personalidade, conforme enunciado 5/JDC.
Como o ordenamento valoriza o vínculo de afetividade em maior grau do que o biológico,
é de reconhecer-se, a depender do caso concreto, a legitimidade de pessoas que mantinham
vínculo afetivo com o morto para a proteção de direitos da personalidade deste. Não se pode
negar a legitimidade a um noivo, a um namorado, a um enteado, a um padrasto ou a um amigo
íntimo para a proteção de alguns direitos da personalidade do falecido. Essas pessoas devem
ser consideradas lesadas indiretas se o tipo de lesão ao direito da personalidade guarda cone-
xão com o grau de afetividade que havia com o falecido.
O rol de legitimados do art. 12, parágrafo único, e do art. 20, parágrafo único, do CC pode
ser flexibilizado para abranger terceiros que, por seu vínculo afetivo com o parente, possam ser
considerados lesados indiretos de um direito da personalidade do falecido, segundo um juízo
de razoabilidade. Em igual sentido, estão Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves (2016, p. 211).
Por fim, como fica a proteção (a tutela) dos direitos da personalidade?
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A proteção dos direitos da personalidade pode dar-se por meio de tutelas específicas de
obrigação de fazer ou de não fazer, a exemplo de uma ordem judicial de retirada de uma pos-
tagem ofensiva em uma página da internet.
Pode também dar-se por meio de indenização por danos sofridos. O dano moral é, por defi-
nição, uma violação a um direito da personalidade e, por isso, é indenizável. Há, porém, outros
danos indenizáveis que podem ser cumulados com o dano moral e que também decorrem de
violações de direitos da personalidade, como o dano estético (que decorre do grau de deforma-
ção física do corpo) e o dano existencial (que atinge o projeto de vida de uma pessoa).
2. Pessoas Jurídicas
Vamos em frente!!!
Pessoa jurídica é um ente invisível que possui personalidade jurídica. Há três pressupostos
existenciais da pessoa jurídica: (1) a vontade humana que lhe dá origem; (2) observância das
2
Letra b.
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condições legais para a sua criação; (3) licitude do objeto. Trata-se de elementos essenciais à
personificação da pessoa jurídica.
Há ainda quem acrescente dois outros requisitos: (a) a capacidade jurídica reconhecida
pela legislação e (b) a organização de pessoas ou a afetação de um patrimônio a um fim espe-
cífico. Temos, porém, que esses dois já estão implícitos naqueles três pressupostos existen-
ciais retrocitados.
Acerca de sua natureza jurídica, há dois grupos de teorias: (1) teoria negativista: nega a
existência concreta da pessoa jurídica e considera-a apenas um patrimônio sem sujeito; (2)
teoria afirmativista: preconiza a existência concreta de grupos sociais com interesses próprios
com personalidade jurídica.
Entre os sectários da teoria afirmativista, há outras duas vertentes. A primeira é a teoria
da ficção, segundo a qual só o homem, por essência, pode ser titular de relações jurídicas,
pois tem existência real e psíquica, de sorte que as pessoas jurídicas seriam fruto da criação
humana, que lhe atribui direitos por mera ficção jurídica mediante lei (ficção legal) ou doutrina
(ficção doutrinária). Savigny defendia a teoria da ficção legal.
A segunda espécie de teoria afirmativista é a teoria da realidade, à luz da qual a pessoa
jurídica é uma realidade social, com existência própria e distinta da de seus membros. A teoria
da realidade se divide em três subespécies.
A primeira é a teoria da realidade objetiva, teoria da realidade orgânica ou teoria organicis-
ta, para a qual as pessoas jurídicas são organismos sociais com existência e vontade próprias.
Ela se equivoca ao esquecer-se da relevância da vontade dos sócios de uma sociedade.
A segunda é a teoria da realidade técnica, segundo a qual a existência da pessoa jurídica
é real e concreta, mas dependente de atos técnicos, como o registro.
A terceiro é a teoria da realidade das instituições jurídicas, que preconiza que a pessoa
jurídica é derivada do direito, assim como a personalidade jurídica da pessoa natural. Sob essa
ótica, a pessoa jurídica é uma instituição jurídica, consistente em agrupamentos de pessoas ou
massa patrimonial dotadas de objetivos próprios, por força da vontade das pessoas naturais
que lhe deram vida com base na permissão do Direito. É uma espécie de mistura das demais
teorias. A quarta é a teoria institucionalista, em conformidade com a qual a pessoa jurídica pas-
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sa a existir desde o momento em que há uma organização de pessoas ou bem com finalidade
comum. Mesmo que a lei não reconheça personalidade jurídica a essas instituições, o fato é
que elas já exercem atos na vida social com base em uma espécie de “personalidade moral”.
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Aluno(a), agora é hora de estudarmos quais são as espécies de pessoas jurídicas. Resolva
esta questão agora:
Let’s go!
As pessoas jurídicas podem ser de direito público ou de direito privado.
De um lado, as pessoas jurídicas de direito público são previstas nos arts. 40 ao 43 e
podem ser: (1) de direito público externo, quando regida por normas de Direito Internacional
Público, como a República Federativa do Brasil e os organismos internacionais – ONU, OIT etc.;
e (2) de direito público interno, quando se cuida dos entes sujeitos ao regime jurídico do direi-
to administrativo, a saber os entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios)
e as respectivas autarquias (o que abrange as associações públicas disciplinadas na Lei n.
11.107/2005, as agências reguladoras, as fundações públicas etc.).
3
Letra b.
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falta para tanto), como sucede nas sociedades de responsabilidade limitada (arts. 980-A, § 6º,
e 1.052, CC).
Agora, é tempo de falar da Associação.
As associações consistem na reunião de pessoas sem fins econômicos. Em princípio, uma
associação pode ter lucro com suas atividades, mas esse fato, por si só, não descaracteriza a
sua finalidade não econômica. Só haveria fim econômico se os lucros fossem rateados entre
os membros da associação, o que não sucede. O lucro é reinvestido na própria atividade da
associação. Obviamente, as associações podem contratar serviços, inclusive de seus asso-
ciados, remunerando-os por isso. Essa remuneração, porém, não representa distribuição de
lucros, e sim remuneração para todos os efeitos jurídicos. Se fossem dividendos, o associado
poderia, por exemplo, deixar de pagar imposto de renda, a depender da lei tributária. Mas, como
é remuneração, cumpre-lhe pagar a exação de renda pertinente. A disciplina das associações
está a partir do art. 53 do CC.
Vamos agora para as fundações.
A fundação é um patrimônio afetado a uma das finalidades do parágrafo único do art. 62
do CC, que lista diversas hipóteses de fins não lucrativos, como fins de assistência social, de
educação, de promoção da democracia, de atividades religiosas etc. Apesar de o parágrafo
único do art. 62 do CC se valer do advérbio “somente”, há corrente no sentido de que esse rol
de finalidades é exemplificativo, de maneira que outras finalidades não lucrativas podem auto-
rizar a criação de uma fundação. É o caso, p. ex., das “fundações de caráter esportivo” (Nelson
Rosenvald e Cristiano Chaves).
Essa corrente de ampliar ilimitadamente o rol de fins para a criação de fundação, todavia,
parece-nos contrariar expressamente o próprio CC, que é expresso em usar o advérbio “somen-
te”, além de desconsiderar dois fatos relevantes: (1) esse entendimento permitiria contornar o
veto presidencial ao inciso X do art. 62 do CC, que haveria de autorizar a criação de fundação
para fins de “habitação de interesse social”, mas que foi tida por inconveniente no veto presi-
dencial por autorizar o ingresso de fundações no mercado de habitação com privilégios tribu-
tários que distorceriam a concorrência com empresas do segmento; (2) há interesse público
nas fundações, e o Estado gasta recursos financeiros e de pessoal na sua fiscalização, como
por meio do Ministério Público, de maneira que seria desarrazoado permitir que um particular
imponha gastos ao Poder Público com uma fundação de irrelevante interesse social.
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Exemplo: imagine uma fundação para estimular as pessoas a ficarem olhando o vento.
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Tem de se enquadrar em
uma das PJs do art. 44
Lei pode prever Serviços sociais
É associação sob
Situações
ECAD regime jurídico
especiais
especial
Empresa
pública e sociedade São sociedades
de econômia mista
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Aluno(a), vale a pena aprofundarmos um pouco para enfrentar algumas situações especiais.
Em primeiro lugar, vamos falar dos Serviços Sociais Autônomos.
Os serviços sociais autônomos constituem o Sistema “S”, que empreende atividades de
interesse público. Os serviços sociais autônomos são entes de cooperação, enquadrando-se
como uma entidade paraestatal4 (ao lado das organizações sociais, das OSCIPs e das entida-
des de apoio). Como exemplos, citem-se: Serviço Social Autônomo Associação das Pioneiras
Sociais (Lei nº 8.246/1991), Serviço Social Autônomo Agência de Promoção de Exportações
do Brasil – Apex/Brasil (Lei nº 10.668/2003), Serviços Social Autônomo Agência Brasileira
de Desenvolvimento Industrial – ABDI (Lei nº 11.080/2004), Serviço Social do Transporte” –
SEST (Lei nº 8.706/1993), Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte” – SENAT (Lei nº
8.706/1993), Serviço Social da Indústria – SESI (Decreto-Lei nº 9.403/1946) e Serviço Nacional
de Aprendizagem dos Industriários – SENAI (Decreto-Lei nº 4.048/1942).
Há controvérsia se os serviços sociais autônomos são ou uma categoria específica de
pessoa jurídica de direito civil ou não.
Considerando que o rol de pessoas jurídicas de direito privado está no art. 44 do Código
Civil e que só uma lei federal poderia criar novas espécies diante da competência privativa da
União para legislar sobre direito civil, temos que não há como considerar o serviço social au-
tônomo como uma categoria própria de pessoa jurídica de direito privado. Ele é apenas autori-
zado por lei específica (de qualquer dos entes federativos). Essa lei é de Direito Administrativo,
e não de Direito Civil, e destina-se a investir a iminente pessoa jurídica de direito privado com
algumas prerrogativas próprias do regime de Direito Público (como a viabilidade de receber
tributos, mais especificamente as contribuições parafiscais).
Assim, os serviços sociais autônomos precisam se enquadrar em uma das espécies de
pessoas jurídicas de direito privado do art. 44 do CC, tudo conforme destacado pela juíza Tânia
Mara Ahualli5. Como eles não possuem fins econômicos e desempenham uma atividade de
4
Diz-se “paraestatais”, porque se trata de pessoas jurídicas de Direito Privado que estão ao lado do Estado na execução de
atividades de interesse público. Não integram a Administração Pública (nem mesmo a indireta), mas são fomentadas pelo
Estado em razão de sua finalidade de interesse público. Também são chamadas de “entes de cooperação” no Direito Admi-
nistrativo.
5
Decisão neste processo: TJSP, 1VRPSP, Pedido de Providências nº 1072206-93.2017.8.26.0100, Juíza Tânia Mara Ahualli,
DJ 26/09/2017 (Disponível em https://www.kollemata.com.br/rcpj-servico-social-autonomo-paraestatal-pessoa-juridica-
-sui-generis-inconstitucionalidade-via-admin.html).
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É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos
ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores
autônomos ou profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou
atividades similares ou conexas.
O art. 8º da CF reitera isso:
Trata-se de uma associação com um nome e uma disciplina especiais nos termos da le-
gislação trabalhista e da CF.
Em terceiro lugar, sigamos para tratar do ECAD, que vela pelo pagamento das retribuições
devidas aos autores pelo uso de suas obras por terceiros. O Escritório Central de Arrecadação
e Distribuição – ECAD é, na realidade, uma associação sob regime jurídico especial que en-
volve a atribuição de poder de polícia e de outros que só a lei poderia dar. Não é uma pessoa
jurídica fora do art. 44 do CC. O art. 99 da Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610/1998) é textual:
A arrecadação e distribuição dos direitos autorais relativos à execução pública de obras musicais
e literomusicais e de fonogramas será feita por meio das associações de gestão coletiva criadas
para este fim por seus titulares, as quais deverão unificar a cobrança em um único escritório central
para arrecadação e distribuição, que funcionará como ente arrecadador com personalidade jurídica
própria (...).
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Em quinto lugar, tome um cuidado especial com o seguinte: há qualidades de direito tri-
butário ou administrativo outorgados a determinadas pessoas jurídicas, como as de micro-
empresa, empresa de pequeno porte, organização social (OS), organização da sociedade civil
de interesse público (OSCIP). Não se trata de espécies de pessoas jurídicas, mas de meras
qualidades que concedem um regime jurídico especial para alguma das pessoas jurídicas de
que trata o art. 44 do CC. Assim, por exemplo, as sociedades podem ser qualificadas como
microempresa ou empresa de pequeno porte se se enquadrarem nos requisitos legais (Lei
Complementar n. 123/2006). As associações e as fundações, a seu turno, podem se qualifica-
rem como OS ou OSCIP nos termos das leis respectivas (Leis n.s 9.637/1998 e 9.790/1999).
Por fim, quero falar sobre uma situação especial: a dos fundos. O ordenamento jurídico
admite entes despersonalizados, assim entendidos os que, não tendo personalidade jurídica,
podem ter direitos e deveres. O espólio é o exemplo clássico.
A sofisticação das relações jurídicas tem despertado outras hipóteses. E muitas delas en-
volve a utilização da figura do patrimônio de afetação para segregar um patrimônio de uma
pessoa jurídica (geralmente a incumbida da administração) a fim de compor um ente desper-
sonalizado. É o que ocorre com o fundo de investimento imobiliário (Lei n. 8.668/1993) e o
grupo de consórcio (art. 3º, Lei º 11.795/2008).
Isso também ocorre com diversos fundos que são criados para operacionalizar interesses
públicos.
É preciso verificar a lei de cada fundo para definir a natureza jurídica, que pode oscilar de
uma mera segregação patrimonial de uma pessoa jurídica (como o FAR e o FGE, que só tem
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fins contábeis) até a formação de um ente despersonalizado (como o FGP e o FAEP) ou, até
mesmo, de uma pessoa jurídica (como uma fundação).
No caso dos fundos de investimento, eles são entes despersonalizados, são considerados
condomínios de natureza especial e estão regidos genericamente pelos arts. 1.368-C ao 1.368-
F do CC. Alguns fundos de investimento possuem leis específicas, como o fundo de investi-
mento imobiliário (Lei n. 8.668/1993).
Se o fundo constituir um ente despersonalizado ou uma pessoa jurídica, é ele quem deve
figurar como parte em contratos e em outros atos jurídicos, ainda que sob a representação de
alguma pessoa jurídica que o administre. Afinal, ele tem aptidão para ter direitos e deveres por
força de lei, apesar de não ter personalidade jurídica6. Se, porém, ele for uma mera segregação
patrimonial, é a pessoa jurídica titular dos bens que praticará atos jurídicos. O tema, porém,
é controverso e há serventias notariais e de registro que se recusam a colocar o nome do fun-
do que não seja pessoa jurídica como parte em atos jurídicos, mesmo quando eles são entes
despersonalizados.
Isso basta para ficarmos com uma visão adequada das espécies de pessoas jurídicas.
6
O fato de não ter personalidade jurídica limita a sua liberdade: só lhe é permitido praticar atos que a lei ou os costumes
autorizam (legalidade estrita), ao contrário da legalidade ampla estendida às pessoas naturais e jurídicas.
7
A EIRELI envolve uma pessoa (o titular) na sua estrutura, e não bens, razão por que é uma universitas personarum, e não
uma universitas bonorum.
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Meu amigo e minha amiga, você sabe que as pessoas jurídicas são invisíveis. Daí tiramos
o seguinte problema: como uma pessoa jurídica pode assinar um contrato ou fazer algum ato?
Naturalmente, ela precisará ser representada. Vamos falar sobre isso.
Como ente invisível, a pessoa jurídica depende de algum indivíduo para praticar atos em
nome dela. Em regra, o administrador – assim nomeado segundo as regras internas da pes-
soa jurídica – tem poderes para praticar atos em nome da pessoa jurídica, como assinar um
cheque, por exemplo, salvo se extrapolar os poderes definidos no ato constitutivo (que pode
proibi-lo, p. ex., de assinar cheques em nome da pessoa jurídica). Cabe aos terceiros verificar o
ato constitutivo da pessoa jurídica para verificar se há ou não vedação ao administrador para
a prática do ato. Se o administrador praticar um ato além (= ultra) dos seus poderes (= vires),
esse ato não vinculará a pessoa jurídica. Trata-se do que se chama Teoria Ultra Vires, sediada
nos arts. 47 e 1.015 do CC. O CC não adotou a Teoria da Aparência, que se opõe à teoria ultra
vires, por prestigiar terceiros de boa-fé.
Apesar da adoção da Teoria Ultra Vires pelo CC, ela deve ser flexibilizada com as seguintes
ressalvas, extraídas do Enunciado 219/JDC:
(a) o ato ultra vires não produz efeito apenas em relação à sociedade;
(b) sem embargo, a sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo;
(c) o Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes implícitos dos
administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os quais
não constituem operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade;
(d) não se aplica o art. 1.015 às sociedades por ações, em virtude da existência de regra
especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II, Lei n. 6.404/76).
O mero fato de ser sócio de uma pessoa jurídica não lhe outorga poderes de representação
dela. É preciso que esse sócio seja administrador, encargo que pode ser outorgado a quem não
é sócio também.
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Parte Geral – III
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A teoria ultra vires não foi adotada para as sociedades anônimas por existir dispositivo di-
verso na Lei das Sociedades Anônimas (LSA – Lei n. 6.404/1976) a afastar, nesse ponto, o CC:
o art. 158, II, da LSA, ao responsabilizar civilmente o administrador por ato de violação da lei ou
do estatuto, afasta o parágrafo único do art. 1.015 do CC.
Nesse sentido, o enunciado n. 219/JDC dispõe:
(...) não se aplica o art. 1.015 às sociedades por ações, em virtude da existência de regra
especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II, Lei n. 6.404/76).
Assim, os atos ultra vires praticados pelo administrador vinculam a sociedade anônima,
assegurado, porém, a esta pleitear indenização contra o administrador.
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Parte Geral – III
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Chegamos agora na parte que mais é cobrada em concurso no tema de pessoa jurídica: a
chamada desconsideração da personalidade jurídica.
Antes de tudo, veja esta questão e responda:
Letra c.
Nos relembra que a desconsideração atinge qualquer sócio ou o administrador (ainda que não
seja sócio) nas hipóteses da lei. Vamos estudar a matéria.
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Parte Geral – III
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É exceção e tem de ser prevista em lei específica ou, no caso de dívidas trabalhistas, em
princípio constitucional.
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2.9.2. Teoria Maior
A teoria maior da desconsideração jurídica é a regra geral e está no art. 50 do CC. Ela se
aplica a qualquer pessoa jurídica, desde que esteja presente o seguinte requisito: o inadimple-
mento e o abuso da personalidade jurídica. O mero inadimplemento não é suficiente. Não há
necessidade de insolvência ou falência.
Esse abuso da personalidade jurídica deve necessariamente enquadrar-se em um desvio
de finalidade ou em uma confusão patrimonial.
O desvio de finalidade se dá quando os membros da pessoa jurídica desviam o objeto so-
cial da pessoa jurídica com a intenção de fraudar os credores. Nas palavras do § 1º do art. 50,
É a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos
de qualquer natureza.
Não basta a mera expansão ou alteração da finalidade original da atividade econômica específica
da pessoa jurídica (§ 5º do art. 50, CC).
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Parte Geral – III
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É preciso haver o propósito de lesar credores ou praticar ilícitos. Como se vê, o desvio de
finalidade depende da presença de um requisito subjetivo (a intenção de fraudar), o que autori-
za designar essa hipótese como teoria maior subjetiva.
Trata-se de situação difícil de ser provada e caracterizada. Se uma sociedade com o objeto
social de prestar cursos de capacitação passa a exercer a venda de lanches, esse desvio de
finalidade só autorizará a desconsideração da personalidade jurídica se houver intenção de
prejudicar os credores. Se essa mudança finalística decorreu de sobrevivência financeira, não
há má-fé e, portanto, é descabida a desconsideração.
A confusão patrimonial ocorre quando, de fato, os bens da pessoa jurídica se confundem
com os dos sócios, ou seja, quando não há, de fato, separação entre os patrimônios. Aí não
há necessidade de prova de intenção de fraudar; basta a prova do fato objetivo da confusão
patrimonial, razão por que essa hipótese é designada de teoria maior objetiva. Os incisos I a III
do § 2º do art. 50 do CC especificam três hipóteses em que a confusão patrimonial é admitida:
8
OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. A Lei da Liberdade Econômica: diretrizes interpretativas da nova Lei e Aná-
lise detalhada das mudanças no Direito Civil e no Registros Públicos. Disponível em: www.flaviotartuce.adv.br/
artigos_convidados. Elaborado em 21 de setembro de 2019-B, p. 15.
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são patrimonial, é certo que, mesmo se esse cumprimento não for repetitivo (ex.: a sociedade, com
seus próprios recursos, paga uma única dívida pessoal dos sócios), estará configurada a confusão
patrimonial. A única cautela que se deve ter aí é com o fato de que a dívida paga deve ser econo-
micamente relevante à luz do princípio da proporcionalidade, pois de minimis non curat praetor9.
Por ilustração, se a pessoa jurídica pagou uma única conta de telefone no valor de R$ 100,00 do
sócio, é desproporcional categorizar tal fato como uma “confusão patrimonial”. Se, porém, a pessoa
jurídica pagou uma conta de R$ 20.000,00 do sócio, aí haveria proporcionalidade. Igualmente, se a
pessoa jurídica pagou inúmeras contas pequenas do sócio (ex.: inúmeras contas de telefone), aí já
haveria proporcionalidade diante do fato de que o somatório dos valores das contas assume valor
econômico relevante. Enfim, a adequação típica não é meramente formal, mas deve ser também
material, ou seja, substancial: tem de haver relevância financeira no ato de confusão patrimonial.
Encerramento irregular das atividades da PJ não é, por si só, motivo para a desconsideração
da pessoa jurídica, pois isso não representa confusão patrimonial nem desvio de finalidade
(Enunciado n. 282/JDC; STJ, EREsp 1306553/SC, 2ª Seção, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe
12/12/2014).
A dissolução ou encerramento irregular de pessoa jurídica ocorre quando os seus sócios “fe-
cham” as portas sem adotar o procedimento formal para a extinção da pessoa jurídica previsto
no art. 51 do CC (dissolução, liquidação e cancelamento do registro). Não se pode presumir
ato abusivo nessa conduta, pois frequentemente tal ocorre em razão da crise financeira da em-
presa, que não dispõe de recursos sequer para a contratação de profissionais para a realização
dessa operação formal de encerramento.
Esclareça-se que a Súmula n. 435/STJ cuida de redirecionamento de execução fiscal com base
na interpretação dos arts. 134 e 135 do CTN, que versam sobre responsabilização pessoal,
e não de desconsideração da personalidade jurídica.
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2.9.3. Teoria Menor
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incorre em confusão patrimonial com esta, de modo que a esposa, por ocasião da partilha de
bens decorrentes de divórcio, poderá reivindicar penhora de bens da pessoa jurídica para ga-
rantir a sua meação sobre o patrimônio ocultado. O fundamento legal são os arts. 187 e 50, CC.
E você já ouviu falar da desconsideração indireta? Vamos falar dela.
Desconsideração indireta é permitir que respondam pela dívida de uma pessoa jurídica os
bens de uma outra que, com o objetivo de frustrar credores, mantenha confusão patrimonial
ou desvio de finalidade com a pessoa jurídica devedora. Não importa o vínculo jurídico man-
tido entre essas pessoas jurídicas (societário, joint venture etc.), pois ele é meramente formal
diante do abuso de direito. Essa hipótese autoriza que entes do mesmo grupo econômico
respondam por dívidas uma das outras, desde que seja provado o abuso da personalidade
jurídica. O mero fato de ser integrante do mesmo grupo econômico não é suficiente para a
desconsideração indireta (art. 50, § 4º, CC; e STJ, REsp 1266666/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy
Andrighi, DJe 25/08/2011).
Há ainda a desconsideração expansiva.
Desconsideração expansiva é a desconsideração de uma pessoa jurídica para atingir o pa-
trimônio de “pessoas” que, com o intento fraudulento de frustrar os credores, mantêm-se escon-
didos, atuando como um verdadeiro “sócio escondido”. Não se deve empregar a expressão “só-
cio oculto” aí para não causar confusão com a expressão técnica utilizada em tipos societários
legítimos, como a sociedade em conta de participação (formada por sócios ostensivos e ocul-
tos). Nesse caso, a desconsideração da pessoa jurídica expande-se para atingir os bens desses
sócios escondidos. Assim, por exemplo, se uma pessoa, por algum meio fraudulento, logra criar
uma sociedade da qual serão sócios dois “laranjas” (pessoas que nem sabem disso) para viver
a subtrair o patrimônio dessa pessoa jurídica, os credores desta poderão pedir a desconsidera-
ção para atingir os bens desse indivíduo fraudador, que é um “sócio ardilosamente escondido”.
Igualmente, a gente pode falar da teoria da sucessão de pessoas jurídicas como uma so-
fisticação da teoria da desconsideração.
A teoria da sucessão de pessoas jurídicas é uma sofisticação da desconsideração da per-
sonalidade jurídica para permitir que os bens de pessoa jurídica que sucedeu uma outra pos-
sa ser responsabilizado nos casos que essa sucessão ocorreu com abuso de direito, como
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Errado.
Há várias hipóteses de dissolução e uma delas é a administrativa, que decorre de ato adminis-
trativo que cassa a autorização de funcionamento da pessoa jurídica, conforme estudaremos
mais abaixo.
A extinção de uma pessoa jurídica deve atravessar três etapas: dissolução, liquidação e
cancelamento do registro (art. 51, CC). Só com esse último ato ocorre a efetiva extinção do
ente. Sobre a extinção da PJ, consultem-se os arts. 46, VI (registro da PJ com condições de ex-
tinção da PJ e destino do patrimônio), 54, VI (condições de dissolução no estatuto da associa-
ção), 61 (destino do patrimônio da associação), 69 (extinção da fundação) e 1.033 (hipóteses
de dissolução da sociedade) do CC.
A dissolução é a fase de anúncio de que a pessoa jurídica começará o seu processo de
encerramento (daí o verbete dissolução). A dissolução deve ser averbada no registro público
para divulgação a terceiros. Há as seguintes modalidades de dissolução: (1) convencional: de-
corre de deliberação dos membros, conforme quórum estatutário ou legal; (2) administrativa:
ocorre quando há cassação da autorização para funcionamento; (3) legal: ocorre quando a lei
determina; (4) judicial: deriva de decisão judicial; (5) natural: falecimento de membro, sem que
seja reconstituída a pluralidade de membros. No caso de associação, o estatuto pode afastar a
intransmissibilidade da condição de associado (art. 56, CC), de maneira que, havendo a morte
dos associados (que é uma causa natural), não haverá dissolução da pessoa jurídica.
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de direito privado no caso de ofensa à sua honra objetiva, como sucede nas hipóteses de di-
vulgações de mensagens falsas contra a qualidade dos serviços prestados por uma pessoa
jurídica ou na hipótese de negativação indevida do nome de uma pessoa jurídica no cadastro
de inadimplentes. A pessoa jurídica possui honra objetiva, assim entendida a reputação social
(a reputação perante a coletividade), mas não honra subjetiva, que é a percepção que a pessoa
tem sobre si mesma. Somente as pessoas naturais possuem honra subjetiva, por serem seres
humanos, e não entes invisíveis como a pessoa jurídica.
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RESUMO
Amigo(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios.
É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o con-
teúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões.
De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com
a bola.
Seja como for, o ideal é você ler toda a teoria, e não só o resumo, para, depois, ir às ques-
tões.
O resumo desta aula é este:
• Os direitos da personalidade são direitos existenciais, ou seja, são direitos inerentes à
condição de pessoa;
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Parte Geral – III
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• Proteção dos direitos da personalidade: (1) tutela de obrigação de fazer ou de não fazer;
(2) indenização por dano moral;
• Dano moral: é a violação de um direito da personalidade;
• Pessoa jurídica é um ente invisível que possui personalidade jurídica;
• Pressupostos existenciais da pessoa jurídica: (1) a vontade humana que lhe dá origem;
(2) observância das condições legais para a sua criação; (3) licitude do objeto;
• Entre as teorias acerca da natureza jurídica da pessoa jurídica, prevalece a teoria da
realidade técnica, segundo a qual a existência da pessoa jurídica é real e concreta, mas
dependente de atos técnicos, como o registro;
• Espécies de pessoas jurídicas:
− Pessoa jurídica (PJ) de Direito Público externo: as regidas por Direito Internacional
cos (art. 44, CC);
• Sociedade: união de pessoas com finalidade lucrativa. Casos em que pode ter apenas
1 sócio: (1) sociedade limitada (art. 1.052, §§ 1º e 2º, CC); e (2) outros casos legais,
como subsidiária integral (art. 251, Lei n. 6.404/76) e sociedade unipessoal de advoca-
cia (art. 15, Lei n. 8.906/94);
• A pessoa jurídica é representada pelo administrador nos limites dos poderes do estatuto
social ou do contrato social. Atos praticados além dos poderes (ultra vires) não vinculam
à pessoa jurídica (teoria Ultra Vires), conforme arts. 47 e 1.015 do CC;
• A Teoria Ultra Vires foi adotada pelo CC, mas pode ser flexibilizada se a assembleia rati-
ficar o ato ultra vires do administrador ou se o administrador tiver atuado de acordo com
poderes implícitos;
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• Não se aplica isso para sociedade anônima, que possui regra própria no art. 158, II, da
Lei n. 6.404/76: a teoria Ultra Vires não foi adotada para sociedade anônima;
• Desconsideração da personalidade jurídica: é a suspensão temporária da autonomia
patrimonial da pessoa jurídica;
• A extinção de uma pessoa jurídica deve atravessar três etapas: dissolução, liquidação e
cancelamento do registro (art. 51, CC);
• Direitos da personalidade se aplicam, no que couber, a pessoas jurídicas;
• Pessoas jurídicas de direito privado podem sofrer dano moral;
TEORIA MAIOR Requisitos (ao menos um dos Confusão patrimonial (teoria maior objetiva)
seguintes requisitos)
Desvio de finalidade (teoria maior subjetiva)
É exceção e tem de ser prevista em lei específica ou, no caso de dívidas trabalhistas, em
princípio constitucional.
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QUESTÕES DE CONCURSO
Questão 1 (CESPE/ADVOGADO/AGU/2015) Entre os direitos ressalvados pela lei ao nas-
cituro estão os direitos da personalidade, os quais estão entre aqueles que têm por objeto os
atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa.
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a) São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas
que forem regidas pelo direito internacional público.
b) São pessoas jurídicas de direito privado, dentre outras, as associações públicas.
c) As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito público interno.
d) Os Territórios não são pessoas jurídicas de direito público interno.
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uma empresa decidiram dissolvê-la após a morte de um deles, mas não deram baixa na
junta comercial. Assertiva: Nessa situação, tal fato, por si só, não dá ensejo à aplicação
pessoa jurídica - de cujo devedor seja sócio - a responsabilidade patrimonial por dívida da
pessoa física.
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ção da personalidade jurídica abarcam duas teses majoritariamente aceitas pela doutrina
uma sociedade personificada, de modo a atingir o patrimônio dos seus sócios para o pa-
gamento de uma obrigação inadimplida: a primeira considera necessário que tenha ocor-
fusão patrimonial.
Considerando o entendimento doutrinário majoritário e a jurisprudência dominante do STJ, as-
sinale a opção que indica, respectivamente, a denominação dada à segunda teoria de que trata
o texto apresentado e o ramo do direito ao qual ela se aplica no ordenamento jurídico brasileiro
excepcionalmente.
a) teoria menor da desconsideração/direito civil
b) teoria menor da desconsideração/direito ambiental
c) teoria maior objetiva da desconsideração/direito civil
d) teoria maior subjetiva da desconsideração/direito do consumidor
e) teoria maior objetiva da desconsideração/direito do consumidor
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sumidor e a legislação ambiental afastam, em todos os casos por eles regulados, a discussão
acerca do desvio de finalidade.
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GABARITO
1. C 28. E
2. E 29. C
3. E 30. c
4. E 31. E
5. C 32. C
6. E 33. E
7. c 34. C
8. E 35. C
9. E 36. E
10. C 37. b
11. C 38. C
12. b 39. C
13. C 40. E
14. E 41. b
15. C
16. d
17. a
18. E
19. E
20. C
21. C
22. C
23. E
24. E
25. C
26. E
27. E
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GABARITO COMENTADO
Questão 1 (CESPE/ADVOGADO/AGU/2015) Entre os direitos ressalvados pela lei ao nas-
cituro estão os direitos da personalidade, os quais estão entre aqueles que têm por objeto os
atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa.
Certo.
O nascituro tem direitos da personalidade por se cuidar de um ser humano em formação, es-
pecialmente os relacionados aos seus atributos físicos, psíquicos e morais. Ameaças à sua
integridade física, psíquica e moral devem ser coibidas. Neste sentido:
a) o STJ admite dano moral em favor do nascituro nos casos de morte do pai ou de lesão à
saúde (STJ, REsp 1.170.239, 4ª Turma, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 28/08/2013);
b) a Lei da Alimentos Gravídicos (Lei n. 11.804/2008) assegura ao nascituro o direito a pensão
alimentícia;
c) o STF distinguiu o embrião in vitro do nascituro: este, por ter direitos da personalidade e por
ser um embrião em gestão, não poderia ser objeto de pesquisas científicas, ao contrário do
embrião in vitro, que é um embrião em proveta e que pode ser objeto de pesquisa científica
na forma da Lei de Biossegurança/Lei n. 11.105/2005 (STF, ADI 3510, Pleno, Rel. Min. Ayres
Britto).
Igualmente, assim dispõe o enunciado n. 1/JDC:
Art. 2º A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direi-
tos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.
Errado.
Trata-se de hipótese de dano moral presumido (dano moral in re ipsa), assim entendido aquele
que dispensa de prova de prejuízo porque a experiência demonstra que há dano pela só ocor-
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rência do fato. O dano moral presumido é uma decorrência das regras da experiência, que é
meio de prova baseado em admitir como provado “aquilo que geralmente acontece” (id quod
plerumque accidit) e que é previsto no art. 375 do CPC. No caso de publicação não autorizada
da imagem da pessoa para fins econômicos, a jurisprudência entende haver dano moral presu-
mido e, portanto, dispensa a prova do prejuízo. É a Súmula n. 403/STJ:
Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de
pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Errado.
Ao contrário do afirmado na questão, a regra é a de que os direitos da personalidade não po-
dem ser limitados voluntariamente (art. 11, CC). A exceção se dá quando houver lei (art. 12,
CC) ou quando houver razoabilidade. A propósito deste último caso, a doutrina estabelece dois
condicionantes:
• A limitação não pode ser geral nem permanente, conforme enunciado n. 4/JDC:
O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não
seja permanente nem geral;
• Deve-se observar a vedação ao abuso de direito, à boa-fé objetiva e aos bons costumes,
conforme enunciado n. 139/JDC:
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Errado.
A regra é a de que os direitos da personalidade não podem ser limitados, salvo lei ou razoabili-
dade (art. 11, CC). Não importa se é ou não vantajoso economicamente.
Certo.
Há dano moral presumido (dano moral in re ipsa) no caso de ofensa à dignidade da pessoa
humana, porque a experiência demonstra que, nestes casos, há violação de direito da persona-
lidade. É o que decide o STJ, que admitir, independentemente de qualquer prova adicional, inde-
nização por dano moral a favor das pessoas que tiveram de desocupar temporariamente suas
residências por acidente ocorrido em obras no Rodoanel Mário Covas em São Paulo (gasoduto
da Petrobras rompeu durante obras feitas pela empresa DERSA/Desenvolvimento Rodoviário
S/A). Ser obrigado a desocupar a própria moradia é uma ofensa à dignidade da pessoa huma-
na, o que faz presumir o dano moral. O STJ fixou, como indenização por dano moral, o valor de
R$ 500,00 por cada dia de comprovado afastamento do lar. Veja este julgado:
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Parte Geral – III
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Errado.
O ato de disposição pode ser revogado a qualquer tempo, conforme art. 14, parágrafo único,
do CC:
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no
todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
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Parte Geral – III
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Letra c.
É o art. 14 do CC:
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no
todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Errado.
Não há necessidade de averbação no cartório para a proteção do pseudônimo. A proteção do
pseudônimo usado para atividades lícitas é a mesma dada ao nome independentemente de
qualquer procedimento adicional, conforme art. 19 do CC:
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.
Errado.
Não há essa exceção: nome não pode ser empregado para exposição ao desprezo público de
modo algum. É o art. 17 do CC:
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações
que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
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Parte Geral – III
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Certo.
Trata-se do art. 20 do CC:
Certo.
Essa substituição é admitida pelo art. 58 da Lei de Registros Públicos/LRP (Lei n. 6.015/73):
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos
notórios.
Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou
ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de
juiz competente, ouvido o Ministério Público.
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Letra b.
O STF entendeu que, independentemente de cirurgia de transgenitalização e de decisão judicia,
o transgênero tem direito à mudança do seu assento de nascimento no Cartório de Registro
Civil das Pessoas Naturais, com alteração de seu nome e de seu sexo. Confira-se:
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Parte Geral – III
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Nessa linha, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio do o Provimento n. 73/2018/
CN/CNJ, disciplinou esse procedimento diretamente no Cartório, de maneira que toda pessoa
capaz e maior pode, por simples pedido acompanhado de alguns documentos e declarações,
requerer essa alteração diretamente no Cartório.
Certo.
Trata-se do art. 8º, § 1º, da Lei Antimanicomial (Lei n. 10.216/2001):
Art. 8º A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente
registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento.
§ 1º A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada
ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido,
devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.
§ 2º O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável
legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.
Errado.
Se houver autorização do titular, é permitido o uso das informações genéticas da pessoa para
outros fins, conforme enunciado n. 405/JDC (“As informações genéticas são parte da vida
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privada e não podem ser utilizadas para fins diversos daqueles que motivaram seu armazena-
mento, registro ou uso, salvo com autorização do titular”).
Certo.
A questão espelha o entendimento do STF, que prestigiou a liberdade de expressão e, assim,
no caso de publicação de biografias, afastou a exigência de prévia autorização do biografado,
admitido, porém, que este, posteriormente, se valha de medidas para atacar eventuais abusos.
Confira-se:
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Letra d.
Segundo o STJ, a pessoa jurídica de direito público não pode sofrer dano moral porque a titu-
laridade de honra ou de imagem não é compatível com sua natureza. Ela depende apenas da
lei para existir e funcionar, e não de sua imagem ou honra. É diferente do que se dá com as
pessoas jurídicas de direito privado, que podem sofrer dano moral no caso de violação de sua
honra objetiva. Afinal de contas, é inegável que a pessoa jurídica de direito privado depende de
sua reputação para ter sucesso nas suas atividades.
Exemplo: uma empresa de restaurante não sobreviverá no mercado se for indevidamente asso-
ciada a uma reputação de desprezo com as regras de higiene alimentar.
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Por isso, o gabarito é “D” por ser a única alternativa compatível com o que foi exposto.
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Letra a.
a) Certa. Corresponde ao art. 42 do CC:
Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas
que forem regidas pelo direito internacional público.
b) Errada. Associação pública é pessoa jurídica de direito público interno, conforme art. 41,
IV, do CC. Ela é uma espécie de autarquia decorrente de um consórcio público envolvendo a
edição de leis dos entes federativos consorciados, tudo nos termos da Lei n. 11.107/2005.
Confira-se o art. 41 do CC, que lista as pessoas jurídicas de direito privado:
c) Errada. As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito privado, conforme art. 44,
IV, do CC. Confira-se esse dispositivo:
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d) Errada. Os Territórios são pessoas jurídicas de direito público, conforme art. 41, II, do CC.
Errado.
Não existe entidades de caráter privado com estrutura de direito público, o que faz a questão
se tornar errada. E, se existisse, ela seria uma pessoa jurídica de direito privado, pois se trata
de entidade “de caráter privado”. Na realidade, o que há é pessoa jurídica de direito público com
estrutura de direito privado, a qual é considerada pessoa jurídica de direito público e, por força
do parágrafo único do art. 41 do CC, sujeitam-se, no que couber, às regras do Código Civil.
Errado.
A regra é a intransmissibilidade inter vivos (ex.: negócios jurídicos) ou causa mortis (ex.: suces-
são legítima ou testamentária) da condição de associado, salvo previsão diversa do estatuto.
É o art. 56 do CC.
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Certo.
Trata-se do art. 60 do CC:
Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um
quinto) dos associados o direito de promovê-la.
Certo.
Trata-se do art. 58 do CC:
Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido
legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto.
Certo.
Trata-se do art. 57 do CC:
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em pro-
cedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.
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Errado.
A destinação do patrimônio da associação irá para entidade similar definida pelo estatuto ou,
no silêncio deste, por deliberação dos associados, ao contrário do indicado na parte final da
questão. Confira-se o art. 56 do CC:
Errado.
Fundação é caracterizada por ser uma massa patrimonial afetada a um dos fins não econômicos
do art. 62, parágrafo único, do CC. Não é uma união de pessoas, ao contrário do exposto na ques-
tão. É uma universitas bonorum (universalidade de bens), e uma universitas personarum (universa-
lidade de pessoas). É diferente do que se dá, por exemplo, com as sociedades e as associações,
as quais são uma união de pessoas (universitas personarum). Confira-se o art. 62 do CC:
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação
especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de
administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou
de assistência.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de:
I – assistência social;
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Certo.
Fundação pode ser instituída por escritura pública ou por testamento (em qualquer das suas
espécies, seja o testamento público, seja o particular, seja o cerrado), tudo conforme o art. 62
do CC.
Errado.
O Ministério Público (estadual ou do Distrito Federal e Territórios) tem dever de fiscalização
apenas as fundações privadas nos termos do art. 66 do CC. Não há qualquer previsão no
Código Civil para o Parquet fiscalizar fundações constituídas como autarquias, especialmen-
te porque estas são pessoa jurídica de direito público e, como tal, não são regidas pelas
regras de fundação do Código Civil, e sim pelas normas de direito administrativo. Confira-se
o art. 66 do CC:
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Errado.
Realmente, o CC adotou a teoria ultra vires como regra. Ela, porém, significa o contrário do ex-
posto na segunda parte da questão, o que torna o item errado. Pela teoria ultra vires, a pessoa
jurídica não responde por atos praticados pelo administrador além de seus poderes (= além de
suas forças ou, em latim, ultra vires). Trata-se do art. 47 do CC:
Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus pode-
res definidos no ato constitutivo.
Cabe uma lembrança. Apesar da adoção da Teoria Ultra Vires pelo CC, esta é flexibilizada para
admitir que o administrador tem poderes implícitos para praticar atos acessórios ou conexos
ao objeto social. Nesse sentido, veja o exposto no Enunciado 219/JDC:
(a) o ato ultra vires não produz efeito apenas em relação à sociedade;
(b) sem embargo, a sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo;
(c) o Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes implícitos dos
administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os quais
não constituem operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade;
(d) não se aplica o art. 1.015 às sociedades por ações, em virtude da existência de regra
especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II, Lei n. 6.404/76).
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Errado.
Para nascer, uma pessoa jurídica depende de um ato constitutivo (que envolve a manifestação
da vontade humana) e do seu registro. É preciso, pois, haver a vontade humana, ao contrário do
consignado na questão. Doutrinariamente, reconhecem-se três elementos essenciais à per-
sonificação da pessoa jurídica: (1) a vontade humana que lhe dá origem; (2) observância das
condições legais para a sua criação; (3) licitude do objeto.
Certo.
Pessoa jurídica é ente com personalidade jurídica própria e, portanto, não se confunde com
seus sócios, instituidores e administradores, o que se chama de autonomia pessoal. Ao nascer,
a pessoa jurídica adquire autonomia pessoal, obrigacional (as obrigações da pessoa jurídica
não se confunde com a dos seus sócios), patrimonial (o patrimônio da pessoa jurídica não se
confunde com a dos seus sócios) e processual (a pessoa jurídica tem capacidade de ser parte
em processos judiciais).
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Letra c.
Em regra, a desconsideração da personalidade jurídica depende da presença de um dos seguin-
tes abusos da personalidade jurídica: desvio de finalidade ou confusão patrimonial. Trata-se do
art. 50 do CC:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações
de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa
jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com
o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios,
caracterizada por:
I – cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;
II – transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor pro-
porcionalmente insignificante; e
III – outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput des-
te artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da
atividade econômica específica da pessoa jurídica.
A dissolução (= encerramento) irregular da pessoa jurídica, por si só, não caracteriza nenhum
desses requisitos, conforme jurisprudência do STJ:
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Errado.
O STJ é pacificado em sentido contrário: o encerramento irregular da pessoa jurídica, por si só,
é insuficiente para a desconsideração da personalidade jurídica.
Certo.
Trata-se da orientação pacificada do STJ.
Errado.
O STJ é pacificado em sentido contrário: o encerramento irregular da pessoa jurídica, por si só,
é insuficiente para a desconsideração da personalidade jurídica.
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Certo.
A dissolução irregular, por si só, não autoriza a desconsideração da personalidade jurídica,
conforme orientação do STJ.
Certo.
A questão define corretamente a desconsideração inversa ou às avessas. Por esta, a pessoa
jurídica é chamada a responder por dívida pessoal do sócio. Para tanto, é necessário provar
um dos seguintes tipos de abuso da personalidade jurídica: confusão patrimonial ou desvio de
finalidade. Confira-se o art. 50, § 3º, do CC.
Errado.
A desconsideração da personalidade jurídica tem duas teorias: a maior e a menor.
A teoria maior é a regra geral e está prevista no art. 50 do CC. Segundo ela, a desconsideração da
personalidade jurídica depende da existência de um dos seguintes tipos de abuso da personalida-
de jurídica: confusão patrimonial ou desvio de finalidade. A Lei da Liberdade Econômica manteve
isso no art. 50 do CC, mas fez acréscimos destinados a positivar entendimentos jurisprudenciais
já pacificados e a estabelecer a definição desses dois tipos de abuso da personalidade10.
10
Sobre o assunto, reportamo-nos a artigo nosso (OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de Oliveira. A Lei da Liber-
dade Econômica: diretrizes interpretativas da nova Lei e Análise detalhada das mudanças no Direito Civil e no
Registros Públicos. Disponível em: www.flaviotartuce.adv.br/artigos_convidados
. Elaborado em 21 de setembro de 2019-B).
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Letra b.
A segunda teoria tratada no texto (a que admite a desconsideração com a mera prova da insol-
vência da pessoa jurídica para o pagamento das obrigações, ou seja, com o mero inadimple-
mento desta) é a teoria menor da desconsideração, a qual é aplicável tanto no ramo do direito
do consumidor (art. 28, CDC) quanto no do direito ambiental (art. 4º, Lei n. 9.605/1998).
Certo.
Trata-se da teoria maior da desconsideração, prevista no art. 50 do CC.
Certo.
Para dívidas consumeristas e ambientais, é adotada a teoria menor da desconsideração, para
as quais é desnecessária a prova de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. Basta aí
o mero inadimplemento (arts. 28 do CDC e 4º da Lei n. 9.605/1998).
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Errado.
O incidente da desconsideração da personalidade jurídica é dispensável se, logo na petição
inicial, o autor já houver requerido a desconsideração e tiver colocado os sócios no polo pas-
sivo. É que, nesse caso, os sócios contra os quais se reverterá a desconsideração haverão de
defender-se na contestação. É o art. 134, § 2º, do CPC. A propósito, confira-se esse dispositivo
e o art. 133 do CPC:
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Letra b.
Para haver a desconsideração da personalidade jurídica, é preciso haver prova de confusão patrimo-
nial ou de desvio de finalidade por ser aplicável aí a teoria maior da desconsideração (art. 50, CC).
Além do mais, a desconsideração, só pode atingir o patrimônio daquele sócio que praticou esses
atos de abuso da personalidade. No caso em pauta, Pedro (marido traído) não praticou ato algum de
abuso da personalidade jurídica e, por isso, não é cabível a desconsideração da personalidade jurídi-
ca contra ele de modo algum. A desconsideração só poderia ser feita para atingir Maria e seu aman-
te Ricardo, pois eles praticaram os atos abusivos. Por isso, a única alternativa correta é a letra “b”.
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Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.
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