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DIREITO CIVIL

Contratos em Geral – Parte IV

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Contratos em Geral – Parte IV
Carlos Elias

Sumário
Contratos em Geral – Parte IV. . ..................................................................................................... 3
1. Aula de Hoje. . ................................................................................................................................. 3
2. Resumo.......................................................................................................................................... 3
3. Classificação quanto ao Risco da Prestação......................................................................... 4
4. Classificação quanto à Negociação das Partes.................................................................... 6
4.1. Definição..................................................................................................................................... 6
4.2. Utilidade..................................................................................................................................... 7
5. Classificação quanto ao Momento do Cumprimento. . ......................................................... 8
5.1. Categorias................................................................................................................................... 8
5.2. Utilidades................................................................................................................................... 9
6. Classificação quanto à Designação da Lei.................................................................... 15
7. Classificação quanto à Disciplina Legal. . ...............................................................................16
8. Classificação quanto à Independência do Contrato........................................................... 17
8.1. Contratos Autônomos............................................................................................................ 18
8.2. Contratos Conexos. . ................................................................................................................19
9. Extinção dos Contratos............................................................................................................ 29
9.1. Formas de Extinção................................................................................................................ 29
9.2. Resolução por Inadimplemento: Definição. . ..................................................................... 30
9.3. Resilição Unilateral. . ...............................................................................................................31
9.4. Resilição Bilateral ou Distrato............................................................................................ 33
9.5. Cláusula Resolutiva e a Resolução por Inadimplemento.............................................. 34
Questões de Concurso.................................................................................................................. 37
Gabarito............................................................................................................................................48

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Contratos em Geral – Parte IV
Carlos Elias

CONTRATOS EM GERAL – PARTE IV


1. Aula de Hoje
Olá, amigo(a)!!
Sempre digo isto: eu quero que você não apenas passe, mas também seja nomeado no
concurso. E, por isso, você precisa acertar as questões mais difíceis, pois elas te colocarão em
vantagem em relação aos concorrentes.
Nesta aula, eu continuarei tratando das classificações de contratos apontando as suas
utilidades, sempre com olhos no que é cobrado em concurso.
Vamos lá!!!

2. Resumo
Amigo(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios.
É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte-
údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De
nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• Quanto ao risco da prestação, o contrato oneroso (apenas o oneroso) pode ser classifi-
cado como comutativo (proveito econômico buscado pelas partes é pré-estimado) ou
aleatório (proveito econômico depende da sorte);
• Quanto à negociação das partes, o contrato pode ser paritário (ambas as partes têm
poder de negociar as cláusulas do contrato) ou de adesão (uma das partes só tem poder
de aderir ou não às cláusulas contratuais redigidas pela outra parte);
• Quanto ao momento do cumprimento, o contrato pode ser de execução instantânea (pa-
gamento no ato da celebração), de execução diferida (pagamento em um único momen-
to futuro) ou de trato sucessivo (pagamento em várias parcelas futuras);
• Em contratos de execução diferida ou continuada, a teoria da imprevisão autoriza a re-
solução ou a revisão do contrato que sofreu superveniente perturbação no seu equilíbrio
econômico nos termos dos arts. 317 e 478 do CC;
• Quanto à independência, os contratos podem ser autônomos (um contrato não influi no
outro) ou conexos (um contrato influi no outro);
• Os contratos conexos podem ser:
− Subcontrato;
− Acessório;
− Normativo;

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− Coligado;
− Relacional ou de execução cativa de longa duração;
− Preliminar ou pré-contrato;
• Resolução é a extinção do contrato por justo motivo, como o inadimplemento;
• Resilição é a extinção do contrato por vontade das partes. Pode ser unilateral (vontade
só de uma parte – art. 473, CC) ou bilateral (vontade de ambas as partes).

3. Classificação quanto ao Risco da Prestação

Contrato quanto ao
risco da prestação

Comutativo Proveito econômico NÃO depende da sorte

Aleatório Proveito econômico depende da sorte

Emptio spei Risco quanto à


(compra de esperança) existência da coisa

Emptio rei speratae (compra Risco quanto à


de coisa esperada) quantidade da coisa

Compra de coisa Risco quanto à


sujeita à risco subsistência da coisa

Obs.: apesar a álea, há o dever de


PRUDÊNCIA e BOA-FÉ do credor

Na classificação do contrato quanto ao risco da prestação, há duas espécies de contratos


onerosos: o comutativo (= pré-estimado) ou o aleatório. Essa classificação não se aplica para
contratos gratuitos, pois aí a parte que faz um sacrifício patrimonial não está buscando provei-
to patrimonial algum.
No contrato comutativo, o proveito econômico buscado pela parte não depende da álea
(sorte, acaso): é pré-estimado. Assim, ao comprar um imóvel por R$ 500.000,00, o vendedor
está almejando um proveito patrimonial pré-estimado, que esse preço do bem.
No contrato aleatório, o proveito econômico buscado pela parte dependerá da álea.
Os contratos aleatórios podem ser:
• Emptio spei (compra de esperança): a parte assume o risco quanto à existência da coisa
(art. 458, CC), a exemplo do jogo de loteria;

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• Emptio rei speratae (compra de coisa esperada): a parte assume o risco somente quan-
to à quantidade da coisa, mas não quanto à sua existência, de sorte que só não será
devido o pagamento do preço se a coisa não vier a existir (art. 459, CC);
• Compra de coisa sujeita a risco: a parte assume o risco quanto à subsistência da coisa
submetida a risco (arts. 460 e 461, CC), a exemplo da compra de um cavalo doente.

Vale a pena a leitura dos dispositivos supracitados:

Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de
não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o
que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do
avençado venha a existir.
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de vi-
rem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua
parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá
o preço recebido.
Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assu-
mido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não
existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.
Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa
pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no
contrato se considerava exposta a coisa.

É evidente que o credor tem dever de boa-fé e de prudência, de modo que, se houver culpa
ou dolo dele na consumação do risco, não haverá dever de pagamento do valor pactuado.
Além do mais, se o devedor já sabia da consumação do risco no momento da celebração
do contrato aleatório, ele estará a enganar a outra parte, o que ensejará a anulabilidade do ne-
gócio jurídico por dolo (arts. 145 e 461, CC).
A compra de ações de sociedades anônimas na Bolsa de Valores não é necessariamente
um contrato aleatório, pois o preço da ação corresponde ao seu valor de mercado: o proveito
econômico buscado pelo investidor é predefinido, ou seja, não depende da álea. A oscilação
posterior do preço da ação é irrelevante para esse efeito. Todavia, é possível que a compra de
ações seja feita como um contrato aleatório, como sucede no caso de compra de opções. Nes-
se caso, o investidor estabelece que fixa um preço que pagará pela ação, mas só a receberá no
futuro, quando, a depender da sorte do consumidor, o valor da ação poderá ser maior ou menor.
O proveito econômico buscado pelo investidor aí depende da álea.

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4. Classificação quanto à Negociação das Partes


4.1. Definição

Paridade na influência da redação contratual


Paritário
Contrato quanto ao Há presunção legal de paridade (art. 421-A)
poder de influência
das partes
De adesão As cláusulas
A vontade da outra
contratuais
parte se limita a
são redigidas
aderir às cláusulas
prioritariamente por
contratuais
uma das partes

Levando em conta o poder de influência de cada parte na redação do contrato, é possível


classificar os contratos como paritário ou de adesão.
No contrato paritário, as partes estão em pé de igualdade no poder de influenciar a redação
do contrato. O poder de barganha é similar; ambos os contratantes possuem liberdade no de-
lineamento das condições contratuais.
Há uma presunção relativa de paridade dos contratos civis e empresariais: admite-se prova
em contrário se houver elementos concretos em sentido contrário (art. 421-A, CC).
No contrato de adesão (= contrato por adesão ou contrato standard), as cláusulas contratu-
ais são redigidas preponderantemente por uma das partes, de modo que só sobra para a outra
contentar-se em aderir ou não ao contrato. Há duas vontades para o contrato se aperfeiçoar,
mas a vontade de uma das partes limita-se a aderir ou não ao contrato. O poder de influência
na redação do contrato pertence prioritariamente a apenas uma das partes. O fato de uma ou
outra cláusula poder ser alterada ou ressalvada por influência da parte aderente não desnatura
o caráter “de adesão”, pois o que importa é a supremacia de força negocial de uma das partes.
O art. 54, § 1º, do CDC confirma isso.
Os contratos de adesão são comuns atualmente. Grandes empresas, que fornecem pro-
dutos e serviços padronizados aos consumidores (como o de telefonia, a venda de celulares
etc.), não negociam o teor das cláusulas contratuais com os consumidores, deixando-lhes
apenas a oportunidade de aceitar ou não o contrato. Os contratos de adesão não se limitam
aos casos envolvendo o Código de Defesa do Consumidor. Mesmo entre empresas, é comum
haver contratos de adesão, como sucede entre franqueadores e a franqueados.

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4.2. Utilidade

Leis de ordem pública que Ex.: CDC e Lei do


protegem o vulnerável Inquilinato

Equilíbrio negocial nos Vedação ao abuso do direito (art. 187, CC)


contratos de adesão
Cláusula ambígua ou contraditória:
prevalece a interpretação + favorável ao aderente

Possibilidade de considerar nula a cláusula de foro de eleição

Nos contratos de adesão, como uma das partes não possui poder de influência na redação
do contrato, a legislação e a jurisprudência deferem-lhe alguns direitos destinados a equilibrar
a força negocial entre as partes e evitar abusos de direito (verdadeiros abusos de poder) pela
parte mais forte. O aderente é vulnerável nesse tipo de contrato. Isso justifica a edição de leis
de ordem pública, como o Código de Defesa do Consumidor e a Lei do Inquilinato, para pro-
teger a parte mais vulnerável. Além do mais, mesmo sem haver uma lei específica, é possível
valer-se da vedação ao abuso de direito previsto no Código Civil (art. 187) para tornar nula
cláusulas que imponham deveres exagerados à parte aderente. Há outras regras previstas no
Código Civil para proteção do aderente.
Vamos ver alguns exemplos.
Em primeiro lugar, se o texto de alguma cláusula contratual for ambíguo ou contraditório,
deve prevalecer a interpretação mais favorável ao aderente diante da presunção absoluta de
que este teria tido essa compreensão do contrato e diante da necessidade de punir a parte que
tinha o poder de redigir o conteúdo das cláusulas (art. 423, CC). Trata-se de uma variação do in
dubio pro misero (na dúvida, a favor do mais fraco).
Em segundo lugar, é nula cláusula de contrato de adesão que imponha ao aderente uma
renúncia a direito inerente ao contrato, como a renúncia ao direito de pleitear indenização no
caso de inadimplemento (art. 424, CC).
Em terceiro lugar, em contratos de adesão, ainda que não envolva consumidor, a cláusula
de eleição de foro pode ser considerada nula, por abuso de direito (art. 187 do CC), se a parte
aderente for financeiramente mais frágil (hipossuficiência) e se o foro escolhido para deman-
das judiciais for em local diverso do domicílio dessa parte. O acesso à Justiça pela parte ade-
rente é prejudicado por essa estipulação abusiva. Veja este julgado:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE INCOMPE-


TÊNCIA. CONTRATO DE CONCESSÃO COMERCIAL. CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO.
VALIDADE. HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 83/
STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

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1. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não demonstrada a


hipossuficiência da parte e o risco de comprometimento da sua defesa, é perfeitamente
válida a cláusula que estipula a eleição de foro em contrato de adesão.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ, AgRg no AREsp 843.970/RS, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze DJe
12/05/2016).

Outras cláusulas de contrato de adesão podem ser consideradas abusivas no caso concre-
to com fundamento no art. 187 do CC, sem necessidade de invocação do CDC.

5. Classificação quanto ao Momento do Cumprimento


5.1. Categorias

Pagamento é no ato da
Execução instantânea
celebração do contrato

Classificação quanto
Pagamento ocorre em momento
ao momento do Execução diferida
FUTURO, em uma única parcela
cumprimento

Execução continuada O pagamento ocorre em várias


(trato sucessivo) parcelas futuras

Celebrado o contrato, nascem as obrigações para as partes. O cumprimento dessa obri-


gação (ou seja, o pagamento ou adimplemento) corresponde simplesmente à fase de execu-
ção desse ato jurídico perfeito. A depender do momento em que ocorrerá esse pagamento, o
contrato pode ser classificado como de execuções instantânea, diferida ou continuada. Essa
mesma classificação é estendida para as obrigações.
O contrato de execução instantânea é quando o pagamento (a execução) é no ato da cele-
bração do contrato. É o vulgo pagamento à vista. É comum nas compras de lanches: o cliente
entrega o dinheiro e recebe imediatamente o alimento.
O contrato de execução diferida é quando o pagamento ocorre em um momento no futu-
ro, em uma única parcela. É comum em compra de móveis para casa ou de veículos novos: o
vendedor se compromete a entregar o produto alguns dias depois da celebração do contrato.
É comum também em serviços: o prestador do serviço (como o de um show) cumprirá o seu
dever horas ou dias depois da celebração do contrato (que, muitas vezes, se materializa pela
compra de um “ingresso” para assistir ao show). Outros exemplos estão em várias espécies de
contratos de venda de produtos agrícolas que ainda serão colhidos (venda de safra futura): o
vendedor compromete-se a entregá-los em um momento futuro.

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O contrato de execução continuada, também chamada de contrato de trato-sucessivo, é


quando o pagamento ocorre em várias parcelas futuras. É comum nos contratos de emprésti-
mo bancário: o cliente devolverá, com juros remuneratórios, o dinheiro emprestado em várias
parcelas futuras.

5.2. Utilidades

Mudanças fáticas entre a


Clásula rebus sic standibus
celebração e o adimplemento

Fato superveniente,
extraordinário e
Contratos de execução imprevisível
Resolução ou revisão do contrato por
diferida ou continuada
onerosidade excessiva
Desproporcional proveito
econômico para a outra
Juiz NÃO pode aplicar de ofício parte (flexibilizado)

Teoria da imprevisão
Contratos aleatórios
apenas para fatos não
Teoria da
vinculados ao risco
imprevisão
Aplicação aos contratos assumido
unilaterais e gratuitos

Possibilidade de
Contrato de empreitada
suspensão da obra

Teoria do rompimento das Imprevisibilidade


CDC
bases objetivas do negócio presumida

Nos contratos de execução diferida ou continuada, há um espaço de tempo entre a data


da celebração do contrato e o seu pagamento. Mudanças fáticas podem acontecer nesse in-
terstício de modo a desequilibrar o contrato. Ao celebrar um contrato, está implícito que as
partes cumprirão as suas obrigações se “as coisas permanecerem como estavam” (rebus sic
standibus)1. Os contratos possuem implicitamente essa cláusula rebus sic standibus. Quem
contrai um financiamento bancário e se compromete a pagar prestações mensais ao banco

1
A vida é assim. Mesmo num casamento, as partes prometem amar a outra se rebus sic standibus: se o marido passar a
espancar a esposa, ela poderá vir a pedir divórcio alegando que a sua promessa de permanecer junto até a morte pressu-
punha que o comportamento respeitoso que o marido tinha antes do casamento não iria mudar. Também na física e na
química, as pesquisas levam em conta a preservação das circunstâncias que envolvem os experimentos, do que dá prova
a famosa categoria CNTP (condições normais de temperatura e pressão). Em outros ramos do saber, como na economia,

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implicitamente está supondo que o valor dessas parcelas não aumentará significativamente
em razão de alguma crise macroeconômica que venha a acometer um país. O Direito é atento
para isso e, por isso, prevê meios autorizadores da revisão ou da resolução do contrato em
situações excepcionais de mudanças fáticas relevantes, a exemplo da teoria da imprevisão
para as relações contratuais em geral e da teoria do rompimento das bases objetivas para as
relações envolvendo consumidor. Trata-se de uma exceção ao velho princípio do pacta sunt
servanda, por flexibilizar uma obrigação assumida pela parte.

5.2.1. Teoria da Imprevisão

Definição

Aluno(a), veja esta questão:

001. (VUNESP/PROCURADOR/DPE-AM/2018) Nos contratos por execução continuada, a re-


solução por onerosidade excessiva só poderá ser alegada em casos de extrema vantagem
para uma das partes, decorrentes de eventos previsíveis.

O gabarito é “errado”, pois é preciso atender todos os requisitos do art. 473 do CC, um dos quais
é a imprevisibilidade do evento superveniente, e não a previsibilidade, como sugere a questão.
Errado.

Vamos explicar melhor.


Em contratos de execução diferida ou continuada, a teoria da imprevisão autoriza a reso-
lução ou a revisão do contrato que sofreu superveniente perturbação no seu equilíbrio econô-
mico. Não se pode falar em teoria da imprevisão nos contratos de execução instantânea por
inexistir hiato de tempo entre a sua celebração e o momento do pagamento.
Segundo os arts. 317, 478, 479 e 480 do CC, em conjunto com a leitura que a doutrina
desses dispositivos à luz do princípio da conservação do negócio jurídico, a parte prejudicada
pode pleitear a resolução ou a revisão do contrato quando a prestação se tornar manifesta-
mente onerosa em razão de um fato superveniente, imprevisível, extraordinário e causador,
desde que a outra parte esteja tendo uma extrema vantagem. Trata-se da teoria da imprevisão,
também batizada como “resolução por onerosidade excessiva” pelo Código Civil2. A revisão
do contrato consiste em mudanças nas condições da obrigação, como redução do seu valor
costuma-se usar a expressão coeteris paribus para designar que a validade de uma afirmação pressupõe a preservação do
contexto do momento.
2
Título da Seção IV que reúne os arts. 478 ao 480, CC.

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(descontos), parcelamentos da dívida ou a alteração dos prazos de vencimento. Vale a pena a


leitura desses retrocitados preceitos:

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da
prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de
modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se
tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sen-
tença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as con-
dições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear
que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosi-
dade excessiva.

Por uma interpretação literal dos arts. 317, 478, 479 e 480 do CC, a revisão do contrato tem
de ser pedida por qualquer uma das partes, seja pelo autor, seja pelo réu. Para Farias e Rosen-
vald (2015, p. 566), se é o réu que pretende a revisão contratual no lugar da resolução, haveria
aí uma espécie de pedido de contraposto. Entendemos, porém, que que se trata de uma defesa
parcial: o autor pede a resolução do contrato, mas o réu pede menos, ou seja, apenas a revisão
do contrato. Não consideramos que há um pedido contraposto, pois não se está a pretender a
condenação do autor da ação.
Seja como for, o juiz não pode, de ofício, revisar o contrato, desprezando a vontade de am-
bas as partes. No mínimo, ele, tem de ouvir as partes, como o autor, e obter o consentimento de
qualquer deles para conservar o negócio. Não enxergamos obstáculos a que o juiz, de ofício,
intime as partes para manifestarem-se acerca de conveniência de uma revisão equitativa do
contrato no lugar de sua revisão, de maneira que, com o consentimento de qualquer das partes,
o juiz poderá seguir esse caminho compatível com o princípio da conservação do negócio jurí-
dico. É nesse sentido que se deve ler o enunciado n. 367/JDC: “em observância ao princípio da
conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por excessiva
onerosidade, pode o juiz modificá-lo equitativamente, desde que ouvida a parte autora, respei-
tada a sua vontade o observado o contraditório”.
A presença dos requisitos legais, como a imprevisibilidade, deve levar em conta as parti-
cularidades dos contratantes e do contexto da época, como destaca o enunciado n. 438/JDC:

Enunciado n. 438/JDC: “A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no


Código Civil deve levar em conta a natureza do objeto. Nas relações empresariais, obser-
var-se-á a sofisticação dos contratantes e a alocação dos riscos por eles assumidas
com o contrato”.
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Teoria da Imprevisão e os Contratos Aleatórios

Em contratos aleatórios, não se pode falar em teoria da imprevisão, salvo se a excessiva


onerosidade decorrer de fato que não estava abrangido pelo elemento aleatório do contrato.
O texto do Código Civil não exclui textualmente os contratos aleatórios do campo da teoria da
imprevisão, mas implicitamente o faz em relação aos elementos aleatórios do contrato. É esse
o entendimento depositado no enunciado n. 439/JDC:

Enunciado n. 439/JDC
É possível a revisão ou a resolução por excessiva onerosidade em contratos aleatórios,
desde que o evento superveniente, extraordinário e imprevisível não se relacione com a
álea assumida no contrato.

Se a onerosidade excessiva advém de evento totalmente alheio ao risco assumido pela


parte no contrato aleatório, a teoria de imprevisão poderá ser aplicada.
Isso justifica o enunciado n. 35/JDC, que cuida de contratos envolvendo contratos aleató-
rios envolvendo verdadeiras “chutes”:

Enunciado n. 35/JDC
Não haverá revisão ou resolução dos contratos de derivativos por imprevisibilidade e one-
rosidade excessiva.

Teoria da Imprevisão e os Contratos Unilaterais

Ainda que o contrato envolva obrigação apenas para uma das partes (contratos unila-
terais), como se dá no mútuo feneratício – em que o mutuário tem de restituir o dinheiro com
juros remuneratórios –, é aplicável a teoria da imprevisão por força do art. 480 do CC.

Teoria da Imprevisão e os Contratos Gratuitos

Não há obstáculo a que se aplique a teoria da imprevisão para os contratos gratuitos, seja
por falta de restrição legal, seja por inexistir justo motivo para impor ao generoso um regime
jurídico mais severo do estabelecido a uma parte de um contrato oneroso.

Extraordinariedade

O fato causador do desequilíbrio contratual tem de ser extraordinário, ou seja, tem de estar
alheio ao campo de risco assumido pelas partes, como ensina o enunciado n. 366/JDC: “O fato
extraordinário e imprevisível causador da onerosidade excessiva é aquele que não está cober-
to objetivamente pelos riscos próprios da contratação”.
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Imprevisibilidade

A imprevisibilidade do fato superveniente é requisito essencial e se caracteriza quando se


tratar de fato que foge ao controle da prudência de um indivíduo comum. A imprevisibilidade
não abrange fatos que se inserem dentro dos riscos comuns (ordinários) dos indivíduos. Por
exemplo, o desemprego, ainda que involuntário, ou uma crise financeira pessoal não é fenôme-
no imprevisível, pois a visão prudencial de qualquer um antevê esses infortúnios.
O STJ não considerou imprevisível o advento de uma praga que destruiu parcialmente a
plantação de soja do Estado de Goiás, porque se tratava de uma praga que já havia acometido
a região em outras ocasiões, de modo que, apesar de essa praga ter catapultado o preço de
mercado da soja em razão das regras de “oferta e da procura”, os agricultores continuaram
obrigados a venderem as sojas colhidas pelo preço generoso que, antes de mesmo da colhei-
ta, havia sido prefixado (STJ, REsp 945.166/GO, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
DJe 12/03/2012).
Também não há imprevisibilidade se as partes, mesmo após os históricos de maxivalo-
rização do dólar americano em relação ao real na década de 1990, fixam o preço na moeda
norte-americana e, posteriormente, se deparar com uma desvalorização cambial significativa
do real de modo a tornar muito onerosa a prestação. Vale a pena ler este julgado:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA.


DÓLAR AMERICANO. MAXIDESVALORIZAÇÃO DO REAL. AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTO
PARA ATIVIDADE PROFISSIONAL. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO. TEORIAS
DA IMPREVISÃO. TEORIA DA ONEROSIDADE EXCESSIVA. TEORIA DA BASE OBJETIVA.
INAPLICABILIDADE.
1. Ação proposta com a finalidade de, após a maxidesvalorização do real em face do
dólar americano, ocorrida a partir de janeiro de 1999, modificar cláusula de contrato de
compra e venda, com reserva de domínio, de equipamento médico (ultrassom), utilizado
pelo autor no exercício da sua atividade profissional de médico, para que, afastada a inde-
xação prevista, fosse observada a moeda nacional.
2. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza, como destinatá-
rio final, produto ou serviço oriundo de um fornecedor. Por sua vez, destinatário final,
segundo a teoria subjetiva ou finalista, adotada pela Segunda Seção desta Corte Superior,
é aquele que última a atividade econômica, ou seja, que retira de circulação do mercado
o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria,
não havendo, portanto, a reutilização ou o reingresso dele no processo produtivo. Logo, a
relação de consumo (consumidor final) não pode ser confundida com relação de insumo
(consumidor intermediário).
Inaplicabilidade das regras protetivas do Código de Defesa do Consumidor.

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3. A intervenção do Poder Judiciário nos contratos, à luz da teoria da imprevisão ou da


teoria da onerosidade excessiva, exige a demonstração de mudanças supervenientes das
circunstâncias iniciais vigentes à época da realização do negócio, oriundas de evento
imprevisível (teoria da imprevisão) e de evento imprevisível e extraordinário (teoria da
onerosidade excessiva), que comprometa o valor da prestação, demandando tutela juris-
dicional específica.
4. O histórico inflacionário e as sucessivas modificações no padrão monetário experi-
mentados pelo país desde longa data até julho de 1994, quando sobreveio o Plano Real,
seguido de período de relativa estabilidade até a maxidesvalorização do real em face do
dólar americano, ocorrida a partir de janeiro de 1999, não autorizam concluir pela impre-
visibilidade desse fato nos contratos firmados com base na cotação da moeda norte-a-
mericana, em se tratando de relação contratual paritária.
5. A teoria da base objetiva, que teria sido introduzida em nosso ordenamento pelo art.
6º, inciso V, do Código de Defesa do Consumidor - CDC, difere da teoria da imprevisão por
prescindir da previsibilidade de fato que determine oneração excessiva de um dos con-
tratantes. Tem por pressuposto a premissa de que a celebração de um contrato ocorre
mediante consideração de determinadas circunstâncias, as quais, se modificadas no
curso da relação contratual, determinam, por sua vez, consequências diversas daquelas
inicialmente estabelecidas, com repercussão direta no equilíbrio das obrigações pactu-
adas. Nesse contexto, a intervenção judicial se daria nos casos em que o contrato fosse
atingido por fatos que comprometessem as circunstâncias intrínsecas à formulação do
vínculo contratual, ou seja, sua base objetiva.
6. Em que pese sua relevante inovação, tal teoria, ao dispensar, em especial, o requisito de
imprevisibilidade, foi acolhida em nosso ordenamento apenas para as relações de con-
sumo, que demandam especial proteção. Não se admite a aplicação da teoria do diálogo
das fontes para estender a todo direito das obrigações regra incidente apenas no micros-
sistema do direito do consumidor, mormente com a finalidade de conferir amparo à revi-
são de contrato livremente pactuado com observância da cotação de moeda estrangeira.
7. Recurso especial não provido.
(STJ, REsp 1.321.614-SP, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acór-
dão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 3/3/2015).

Os casos acima não se estendem para relações envolvendo consumidor, pois aí não se
aplicaria a teoria da imprevisão, e sim a teoria do rompimento das bases objetivas, para a qual
é irrelevante a imprevisibilidade do evento.

Extrema Vantagem

O art. 478 do CC exige, como requisito, que haja extrema vantagem da outra parte com
a onerosidade excessiva. A doutrina flexibiliza esse requisito, admitindo que a sua demonstração

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não seja plena, como dá conta o enunciado n. 356/JDC: “A extrema vantagem de que trata o
art. 478 deve ser interpretada como elemento acidental da alteração das circunstâncias, que
comporta a incidência da resolução ou da revisão do negócio por onerosidade excessiva, inde-
pendentemente de sua demonstração plena”.
Em princípio, o mero fato de a outra parte não está sofrendo prejuízos efetivos com o dese-
quilíbrio contratual superveniente já seria uma extrema vantagem. Se, por exemplo, em razão
de uma inusitada crise monetária, o valor da prestação a ser paga por uma parte catapulta-se
para patamares elevadíssimos, pode-se afirmar que o credor está tendo uma extrema vanta-
gem por estar sendo prestigiado com a obtenção da correção monetária integral da prestação.

Caso Especial de Imprevisão: Contrato de Empreitada

Em contrato de empreitada, o inciso II do art. 625 do CC prevê um caso específico de teoria


da imprevisão, autorizando o empreiteiro a suspender a obra se, durante a sua execução, depa-
rar-se com dificuldades imprevisíveis que torne a empreitada excessivamente onerosa, desde
que o dono da obra não se disponha a aceitar o correspondente reajuste do preço. É o caso,
por exemplo, de, ao construir uma casa, o empreiteiro deparar-se com uma rocha subterrânea
que, apesar das cautelas comuns de planejamento de obras, não havia sido identificada e cuja
perfuração triplicaria o preço total da obra.

5.2.2. Teoria do Rompimento das Bases Objetivas do Negócio Jurídico (CDC)

Por força do art. 6º, V, do CDC, em relação de consumo, não se aplica a teoria da imprevi-
são, e sim a teoria do rompimento das bases objetivas do negócio, segundo a qual, havendo
fato superveniente que torne a prestação manifestamente onerosa, o consumidor poderá pedir
a resolução ou a revisão do contrato. Trata-se de proteção dada ao consumidor apenas, e não
ao fornecedor, que só terá a teoria da imprevisão a favor de si.
Para a teoria do rompimento das bases objetivas, não se exigem que o evento seja extra-
ordinário nem imprevisível. Não se exige tampouco a extrema vantagem para a outra parte.
Bastam dois requisitos: fato superveniente e prestação manifestamente onerosa para o con-
sumidor. O CDC, diante da vulnerabilidade do consumidor, contém uma presunção absoluta de
que qualquer evento futuro já seria extraordinário e imprevisível para consumidor, razão por
que lhe dispensou de comprovar esses requisitos.

6. Classificação quanto à Designação da Lei

Nominados Possuem designação atribuída em lei


Classificação
quanto à
designação da lei
Inominados Não possuem designação em lei

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Os contratos podem ser nominados, quando possuem designação (nomen iuris) atri-
buída em lei, ou inonimados, quando não o possuem. Essa classificação não se gaba de
grande utilidade prática a não ser a de servir como uma mera indicação didática das várias
espécies contratuais.
Não se pode confundir essa classificação, que leva em conta a existência de nome legal
do contrato, com a de tipicidade do contrato, que considera a presença de uma disciplina legal
para a dinâmica do contrato.

7. Classificação quanto à Disciplina Legal

Possui
Típicos Tendem a ser NOMINADOS
regulamentação legal

Contratos
quanto à Não possui
Atípicos Tendem a ser INOMINADOS
disciplina legal regulamentação legal

Mistura de Divergência se se trata de contrato 1)


Misto
contratos típicos típico, 2) atípico ou 3) categoria autônoma

Tomando em consideração a existência de regulamentação legal do contrato, ou seja, de


regras disciplinando a dinâmica do contrato, pode-se batizar os contratos como típicos ou
atípicos. A utilidade na classificação dos contratos em típicos e atípicos é apenas didática:
presta-se a posicionar o jurista na legislação, apontando-lhe quais dispositivos legais devem
ser consultados para cada tipo de contrato.
Contrato típico é aquele que possui regulamentação legal. O Código Civil, por exemplo,
disciplina vários contratos nos arts. 481 ao 853, como os de compra e venda, o de doação etc.
Contrato atípico é aquele que não possui regulamentação legal. É fruto da vontade
das partes, que podem criar contratos, desde que observem as regras de ordem pública
do ordenamento ou, nas palavras do art. 425 do CC, “as normas gerais fixadas” no Código
Civil neste Código”.
Contrato misto é o decorrente da mistura de um contrato típico com outros típicos ou
com cláusulas estipuladas pelas partes. É um único contrato, uma única avença, em cuja
estrutura se encontram elementos de um ou mais contrato típico com ou sem cláusulas de
contratos atípicos.
Há controvérsia em definir se os contratos mistos são, na verdade, contratos atípicos. Há
três correntes: (1) os contratos atípicos abrangeriam os contratos mistos, pois não possuem
respaldo legal; (2) trata-se de contratos típicos com acréscimos de contratos atípicos; (3) cui-
da-se de categoria autônoma, distinta das de contratos típicos e atípicos.
Preferimos a primeira corrente, a de que os contratos mistos são espécies de contratos
atípicos, pois isso dá um resultado prático: permitirá a incidência do art. 425 do CC, que exige que
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esses contratos observem as regras gerais do Código. Com base nesse dispositivo, os contra-
tos mistos teriam de observar as regras gerais do Código e, por analogia, as regras específicas
dos contratos típicos que os compõem. De fato, a doutrina majoritária entende pela aplica-
ção, por analogia, das regras dos contratos típicos aproveitados pelo contrato misto (Coelho,
2010, p. 74).
Um exemplo de contrato misto é o mútuo consensual, que aproveita o contrato típico de
mútuo e acrescenta-lhe a obrigação de o mutuante entregar a coisa fungível por força do con-
trato (o que não ocorre no mútuo típico previsto no CC, o qual é contrato real e, portanto, nasce
com a entrega da coisa, e não com um mero acordo de vontades).
Para Fábio Ulhoa Coelho (2010, pp. 72-74), o contrato de locação em Shopping Center é um
contrato misto, pois aproveita elementos do contrato típico de locação, mas acresce particula-
ridades fruto da vontade das partes, como a sujeição ao tenant mix3, a necessidade de partici-
pação em associação. Concordamos com isso, pois, apesar de o art. 54 da Lei n. 8.245/1991
prever esse contrato e estabelecer que deve prevalecer o pactuado pelas partes, a lei não dá
uma regulamentação mínima do contrato e deixa o seu conteúdo ao sabor das partes. O con-
trato de locação em Shopping Center é nominado (pois o referido dispositivo o batiza), mas não
é típico, por falta de regulamentação legal mínima.
Por fim, cabe fazer uma distinção. Geralmente, os contratos típicos são também nomi-
nados, e os contratos atípicos são inonimados. Há, porém, exceções. O contrato de locação
de garagem, por exemplo, é nominado – porque batizado pelo art. 1º, parágrafo único, da Lei
8.245/91 –, mas não é típico, por não possuir tratamento normativo mínimo na legislação
(Tartuce, 2007, p. 44). Há, porém, juristas que mesclam as classificações, enxergando apenas
duas categorias: os contratos típicos ou nominados, de um lado, e os contratos atípicos ou
inominados, de outro lado.

8. Classificação quanto à Independência do Contrato

Levando em conta a dependência de um contrato em relação a outro, os contratos podem


ser autônomos ou conexos. Há várias espécies contratos conexos, especialmente os contra-
tos acessórios, os subcontratos, os pré-contratos, os contratos relacionais, os contratos nor-
mativos, os contratos coligados e os contratos relacionais.
3
Necessidade de a organização das lojas serem de tal modo que não haja concorrência predatória. Ex.: proibir colocar uma
loja-âncora de venda de sapatos ao lado de uma pequena loja de venda de sapatos também.

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8.1. Contratos Autônomos

Contratos que independem


O vício de um NÃO influi nos demais
uns dos outros
Contratos
autônomos
Formalizados no
Mera união de contratos
mesmo instrumento

Os contratos autônomos são aqueles que não dependem um do outro, razão por que ví-
cios de um não podem influir nos demais. Se os contratos autônomos forem formalizados no
mesmo instrumento, tem-se uma mera “união de contratos”, o que não afasta a autonomia dos
contratos. De fato, em um mesmo instrumento, pode haver vários contratos (ex.: em um mes-
mo papel, podem ser redigidos vários contratos). Isso, por si só, não afasta a autonomia dos
contratos, mas indica apenas uma “união de contratos”, ou seja, uma opção dos contratantes
em “economizar papel”.

Exemplo: João celebra com Maria dois contratos: um de locação de um imóvel e um de venda
de um carro. Não há vínculo entre os contratos, ainda que eles tenham sido escritos no mesmo
papel (formalizados no mesmo instrumento). Se o contrato de locação for anulado, isso não
influenciará o contrato de venda.

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8.2. Contratos Conexos

Contratos
conexos

Guardam entre Existência, validade e eficácia de um contrato pode influir nos dos demais
si relação de
dependência
Contrato acessório A validade depende do contrato principal

Subcontrato Terceirização de objeto do contrato principal

Contrato
Fixa regras de futuros e
normativo ou
eventuais contratos derivados
“guarda-chuva”

Guardam um vínculo de dependência


Contratos
causal e funcional entre si
coligados

Não necessariamente haverá “efeito dominó”


Contratos
relacionais
Geram relação de
dependência entre as partes
Diante da interconexão entre
si criam uma relação
Vedação a comportamentos
abruptos ou abusivos

Contratos conexos são aqueles que guardam, entre si, interligação de dependência, de sor-
te que a existência, a validade e a eficácia de um contrato podem influir nos demais (“efeito
dominó”). Não necessariamente haverá “efeito dominó”, mas isso dependerá da lei, do pacto
ou do juízo de razoabilidade no caso concreto.
Há vários tipos de conexões contratuais, o que é sistematizado nas várias espécies contra-
tos conexos que trataremos mais abaixo, a saber: os contratos conexos, os subcontratos, os
contratos normativos, os coligados, os relacionais e os preliminares.

8.2.1. Contrato Acessório

Contrato acessório é aquele cuja validade depende da do principal. Ex.: fiança é contrato
acessório a um contrato principal (de mútuo ou de locação, por exemplo).
Como os contratos são conexos, a sorte de um pode influenciar no outro. Conforme a se-
gunda parte do art. 184 do CC, se o contrato principal for nulo, também a fiança o será. Todavia,

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se a fiança for nula, isso não gerará nulidade do contrato principal, mas, a depender do caso
concreto, o credor do contrato principal poderá exigir uma nova garantia ou até mesmo reque-
rer o vencimento antecipado da dívida.

8.2.2. Subcontrato

O subcontrato é a terceirização do objeto de outro contrato principal, seja para permitir


que terceiro frua do objeto, seja para que o terceiro cumpra total ou parcialmente o objeto. Em
outras palavras, um dos contratantes subcontrata um terceiro.
Por exemplo, se, após celebrar um contrato de empreitada para edificar uma casa, o em-
preiteiro contrata uma outra empresa para construir essa casa ou parte dela (como instalar o
encanamento, a fiação elétrica etc.), há uma subempreitada com essa empresa, que cumprirá
total ou parcialmente o objeto do contrato principal.
Outro exemplo é a sublocação, que ocorre quando o locatário subloca o bem a um terceiro,
que fruirá o bem. Se o contrato é personalíssimo, nenhum dos contratantes pode subcontratar,
sob pena de descumprir o contrato (inadimplemento contratual). Se o contrato não for perso-
nalíssimo, o subcontrato deve ser admitido, salvo pacto diverso.

8.2.3. Contrato Normativo

O contrato normativo ou “guarda-chuva” é aquele que pré-fixa, de forma geral, as regras de


futuros e eventuais contratos derivados. O objeto do contrato normativo é apenas estabelecer
as “normas” de futuros contratos derivados. As partes não são obrigadas a celebrar os contra-
tos derivados, mas, ao celebrarem, terão a facilidade de as suas regras já estarem pré-defini-
das no contrato normativo. Em uma palavra, o contrato normativo dá agilidade na celebração
de contratos derivados, poupando as partes de enfrentarem novos embates negociais.
Um exemplo de contrato normativo é aquele em que o banco e o cliente pactuam um va-
lor máximo a ser emprestado, com os respectivos encargos (juros, prazo etc.), autorizando o
cliente, durante um determinado prazo, tomar o empréstimo no valor que quiser até o prazo
final estipulado no contrato normativo. O banco disponibiliza um “crédito” que o cliente, se
quiser, pode obter por meio de um contrato derivado a ser celebrado dentro do prazo pactuado
no contrato normativo. Trata-se de opção oportuna para, por exemplo, clientes que estão preci-
sando de “crédito” para financiar a construção de sua casa e que, durante a execução da obra,
precisará “sacar” dinheiro parcial. Esse cliente pode celebrar um contrato normativo e poderá
realizar os “saques” (os contratos derivados) à medida em que for precisando de dinheiro4.
As partes podem instituir garantias reais (hipotecas, penhor etc.) no contrato normativo. A
propósito, no mercado bancários, esses contratos normativos de pré-aprovação de derivados
4
Há bancos que oferecem esse serviço entregando um cartão para o cliente, que, à medida em que for precisando do
dinheiro, poderá usar o cartão e pagar o valor obtido dentro das condições pactuadas no contrato normative (prazo de
pagamento, juros remuneratórios etc.).

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contratos de mútuo são designados de contratos de abertura de limite de crédito e, no âmbito


do Sistema Financeiro Nacional, essas avenças são regulamentadas pelos arts. 3º e seguintes
da Lei n. 13.476/20175, que foi fruto da conversão da Medida Provisória n. 775/2017.

8.2.4. Contrato Coligado e as Redes Contratuais

Aluno(a), vamos ver esta questão:

002. (CESPE/JUIZ/TRF-5ª/2013) Considere que Pedro tenha celebrado com Arnaldo dois
contratos coligados: um principal, cujo objeto é um lote com uma casa edificada para moradia,
e outro secundário, cujo objeto são dois lotes contíguos àquele, para instalação de futura área
de lazer. Nessa situação, de acordo com a jurisprudência do STJ, a falta de pagamento integral
do preço relativo ao segundo contrato pode levar à resolução do primeiro, em razão da depen-
dência entre os negócios jurídicos, cujos efeitos estão interligados.

O gabarito é “errado”, porque, apesar de se poder falar em contratos coligados no caso acima,
não necessariamente haverá o efeito dominó. O STJ, nesse caso, não o aceitou (STJ, REsp
337.040/AM, 4ª Turma, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 01/07/2002). Vamos retornar a
esse caso mais à frente.
Errado.

Antes, porém, vamos explicar mais a matéria.


Os contratos coligados podem ser definidos como aqueles que guardam um vínculo de
dependência causal e funcional entre si, de modo que um contrato não seria celebrado se não
fosse o outro. Nos contratos coligados, uma mesma operação econômica é realizada por meio
da celebração de vários contratos coligados. Ex.: para a operação econômica de aquisição de
um veículo, o consumidor pode celebrar vários contratos: o de compra do veículo, o de mútuo
e o de alienação fiduciária do veículo para o mutuante. Não há necessidade de cláusula contra-
tual expressa para identificar a coligação contratual, a exemplo das usuais cláusulas de cross
default (inadimplemento cruzado), que estabelece uma espécie de “efeito dominó” no caso de
inadimplemento de um contrato6. A coligação é identificada na razão de ser dos contratos.
Os contratos coligados são uma espécie de contratos conexos, assim entendidos aqueles
que não são autônomos por manterem uma interconexão entre si. Como contrato conexo, é
possível que a inexistência, a invalidade ou a ineficácia de um contrato coligado influa nos
5
Vale fazer remissão ao Projeto de Lei do Senado n. 141, de 2017, que busca regulamentar esses contratos de abertura de
limite de crédito no âmbito do Sistema Financeiro Nacional. Consideramos que parte do seu objeto se perdeu (foi prejudi-
cado) com o advent da Lei n. 13.476/2017.
6
Schreiber, 2018, p. 434.

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demais, repercussão essa que batizamos de “efeito dominó”. É preciso, no entanto, analisar
cada caso concreto para se definir quais influências recíprocas deve haver entre os contratos
coligados. Todas as cláusulas dos contratos conexos devem ser interpretadas conjuntamente
e em compatibilidade com a finalidade negocial no caso concreto, conforme defendido na VIII
Jornada de Direito Civil. Essa análise depende da lei, do contrato ou da razoabilidade.
A existência de vários contratos coligados gera o que a doutrina designa de rede contratu-
al, expressão que é mais utilizada quando os contratos coligados envolvem diferentes sujeitos.
A título de exemplo, se uma operadora telefônica concede um desconto na aquisição de
um aparelho telefônico pelo fato de o cliente ter contratado determinado serviço de telefonia
móvel, deixando de lado a eventual caracterização de prática abusiva de venda casada (o STJ
chegou a manter a TIM ao pagamento de R$ 400.000,00 a título de dano moral coletivo por essa
prática7), o fato é que haverá aí dois contratos coligados: o de compra e venda de um aparelho
telefônico e o de prestação de serviço de telefonia móvel. Nessa hipótese, caso a operadora
telefônica não cumpra seu dever de prestar o serviço de telefonia móvel (por exemplo, o sinal
não funciona), seria razoável assegurar ao cliente reivindicasse não apenas a resolução o con-
trato de prestação de serviço, mas também, se quiser, o de aquisição do aparelho telefônico.
Também é comum haver contratos coligados quando em alguns contratos comerciais. Por
exemplo, uma multinacional de revenda de cerveja (ex.: a Ambev) poderia celebrar com um
pequeno estabelecimento vários contratos coligados, como, por exemplo, o de compra e venda
de cerveja, o de marketing exclusivo da marca da cerveja, o de comodato de cadeiras e mesas
etc. Eventual resolução de um contrato (por exemplo, a multinacional não fornece as cervejas,
descumprindo o contrato de compra e venda) pode acarretar a resolução dos demais.
É comum chegar casos em que há coligação contratual, como, por exemplo, na hipótese
de aquisição de imóveis sob financiamento bancário e com a intermediação de um corretor.
Nesses casos, podem-se enxergar, no mínimo, três contratos coligados:
• o de compra e venda do imóvel, celebrado entre o proprietário do imóvel e o adquirente;
• o de corretagem, firmado entre o proprietário do imóvel e o corretor; e
• o de mútuo oneroso, entabulado entre o adquirente e a instituição financeira.

A coligação contratual poderá dar ferramentas teóricas para a defesa do adquirente do


imóvel. Por exemplo, se ocorrer a evicção do imóvel (um terceiro reivindica o imóvel, por exem-
plo), pode-se eventualmente pleitear a resolução do contrato de mútuo sem que se considere
o mutuário como culpado, especialmente se a instituição financeira tiver alguma relação nego-
cial com o vendedor (como sucede nas hipóteses de obras financiadas por uma determinada
instituição financeira). Em situações similares, o STJ, servindo-se ainda do princípio da soli-
dariedade entre os fornecedores, já entendeu que a instituição financeira que mantém vínculo
com o vendedor pode ser considerada solidariamente responsável pelos danos causados por
este último. Ex.: banco “Fiat” financia a aquisição de um veículo em concessionária da Fiat.
7
STJ, REsp 1397870/MG, 2ª Turma, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 10/12/2014.

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Esse entendimento do STJ somente é admitido quando há vínculo negocial entre a instituição
financeira e o vendedor8. Se não houver vínculo negocial entre a instituição financeira e o ven-
dedor, não há o “efeito dominó”9.
É comum haver contratos coligados em contratos com postos de gasolina. Suponha este
caso. A Petrobrás e o Posto do Sol Ltda podem celebrar vários contratos coligados: contrato
de compra e venda de combustível, contrato de locação de imóvel, contrato de arrendamento
de bombas e contrato de exclusividade.
Apesar de haver coligação contratual, não necessariamente haverá o “efeito dominó”, ou
seja, a inexistência, a invalidade ou a ineficácia de um não necessariamente influenciará os de-
mais. O STJ analisou um caso assim. Um indivíduo adquiriu dois terrenos contíguos para, em
um deles, edificar uma casa e, no outro, construir uma área de lazer que serviria ao terreno da
casa. Esses dois contratos de compra e venda são coligados, pois o adquirente certamente só
comprou um terreno em razão do outro. O STJ, porém, não aceitou a aplicar o “efeito dominó”
numa hipótese de ter havido a resolução do contrato de compra de terreno por inadimplência.
O juízo de razoabilidade no caso concreto não convenceu o STJ em autorizar essa repercussão
da resolução de um contrato diante do fato de que a resolução recaiu apenas sobre o contrato
secundário (o da área do lazer) e de que o preço do contrato principal já havia sido totalmente
pago (STJ, REsp 337.040/AM, 4ª Turma, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 01/07/2002).
Diversos outros casos de contratos coligados já foram enfrentados pela jurisprudência10:
os que foram aqui citados bastam para o nosso estudo.

8.2.5. Contrato Relacional ou de Execução Cativa de Longa Duração

O norte-americano Ian Macneil é um dos pais da teoria dos contratos relacionais, e, no Bra-
sil, destaca-se a obra de Ronaldo Porto Macedo Junior (2007).

8
Nesse sentido: STJ, REsp 1379839/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Min. Paulo de Tarso Sanse-
verino, DJe 15/12/2014; STJ, AgRg no AREsp 688.771/RJ, 3ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 03/02/2016.
9
Nesse sentido: STJ, REsp 1342145/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 17/12/2014.
10
A título ilustrativo, reportamos a estes outros casos de contratos coligados julgados pelo STJ, envolvendo contrato de
locação (AgRg no REsp 1206723/MG, 5ª Turma, Rel. Ministro Jorge Mussi, DJe 11/10/2012), contrato de financiamento
habitacional (EREsp 681.881/SP, Corte Especial, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, DJe 07/11/2011), contrato de cessão de
crédito a Banco por parte de empresa que fora contratada para fabricar e instalar uma cozinha planejada (REsp 1127403/
SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Ministro Marco Buzzi, DJe 15/08/2014), contrato de tra-
balho e de cessão de imagem entre jogador de futebol e clube desportivo (AgRg no CC 69.689/RJ, 2ª Seção, Rel. Ministro
Luis Felipe Salomão, DJe 02/10/2009; CC 34.504/SP, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Ruy
Rosado de Aguiar, DJ 16/06/2003), contrato de financiamento para a aquisição de produtos envolvendo o “Posto Ipiranga”
(REsp 985.531/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Vasco dela Giustina – Desembargador Convocado –, DJe 28/10/2009), contrato
de arrendamento de gado (STJ, REsp 419.362/MS, 4ª Turma, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, DJ 22/03/2004).

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Contratos relacionais são aqueles que, diante da interconexão entre si, criam uma relação11
duradoura entre as partes, que passam a depender12 dessa relação. Trata-se de contratos su-
cessivos que criam uma relação duradoura entre as partes e que as tornam dependentes do
prosseguimento da interação contratual. Opõe-se aos contratos descontínuos, que, por não se
sucederem de modo ininterrupto, não geram dependência das partes.
São exemplos de contratos relacionais aqueles que decorrentes de renovações (recon-
duções) sucessivas de contratos de plano de saúde, de seguro, de previdência privada, de
cartão de crédito, de conta-corrente, de franquia, de fornecimento de produtos a uma empresa
revendedora etc.
É possível também considerar-se como relacional um único contrato, se, diante da sua du-
ração e da sua dinâmica, as partes acabem tornando-se dependentes da continuidade deles.
É o caso do contrato de abertura de conta-corrente, que, embora possa ser único, arrasta-se
no tempo e torna o correntista “cativo” dessa relação de longa duração. Havendo, porém, um
único contrato, não se pode falar em conexão, pois a conexão pressupõe elo entre dois ou mais
contratos. Quando, porém, surgir um novo contrato em sucessão do anterior, como os contra-
tos com reajustes de preços, poder-se-á reconhecer a conexão entre esses dois contratos, por
se tratarem de contratos relacionais.
A principal relevância prática de identificar os contratos relacionais é que, diante da co-
nexão existente entre eles, devem ser censurados comportamentos abruptos ou abusivos de
qualquer uma das partes. Isso decorre da boa-fé objetiva, que impõe para as partes dever de
evitar comportamentos contraditórios e de respeitar deveres anexos.
Nessa linha, identificando a presença de contrato relacional e apoiando-se na boa-fé ob-
jetiva e no art. 39, IX, do CDC, o STJ veda que o banco, sem uma motivação razoável, encerre
unilateralmente um contrato de conta-corrente de longo tempo, ainda que promova prévia no-
tificação, sob pena de causar dano moral ao correntista (STJ, REsp 1277762/SP, 3ª Turma, Rel.
Ministro Sidnei Beneti, DJe 13/08/2013).
O STJ, igualmente, entende que, em contrato seguro de vida individual, é abusiva a recusa
da seguradora a renovar o contrato ou de condicionar a renovação a um reajuste excessivo
(não suave nem gradual) do preço na hipótese em que o contrato já tenha sido renovado
interrupta e sucessiva por longo período de tempo (cerca de 25 a 30 anos13). Não importa
se há cláusula contratual nesse sentido, pois ela seria nula. O motivo é que essa postura da
seguradora ofende a boa-fé objetiva existente na legítima expectativa do consumidor de que
a tradição negocial entre as partes não seria abruptamente modificada. Esse entendimento
só é válido para seguro de vida individual, e não para o seguro de vida em grupo14. Neste
11
Daí dizer-se “relacional”.
12
Daí dizer-se “cativo de longa duração”.
13
Se o prazo for menor, como o prazo de 10 anos, o STJ admite a recusa da seguradora em renovar o contrato mediante
notificação prévia, pois ainda não haveria legítima expectativa do consumidor.
14
Não enxergamos justo motivo para o tratamento desigual dado pelo STJ entre o seguro de vida individual e o seguro de
vida em grupo.

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último caso, não há abusividade na conduta da seguradora de se recusar a renovar a apólice


anterior ou de condicionar a renovação a reajustes do preço, desde que haja prévia notifica-
ção do segurado15.

8.2.6. Contrato Preliminar ou Pré-contrato

Definição

Contrato por meio do qual as partes se obrigam a celebrar contrato futuro

Contrato
Partes contratantes = promitentes Promitente
preliminar
comprador se torna
Promessa de compra Pode ser registrada titular de um direito
e venda de IMÓVEL no cartório de imóveis real de aquisição

Pode reivindicar
o bem de 3º que
eventualmente o
tenha adquirido

O contrato preliminar, pré-contrato, promessa de contrato ou o compromisso de contrato


é aquele por meio do qual as partes se obrigam celebrar, no futuro, um contrato definitivo. O
objeto do contrato preliminar é a celebração de um contrato definitivo no futuro. É disciplinado
nos arts. 462 ao 466 do CC e, quando envolver venda de imóveis, nos arts. 1.417 e 1.418 do
CC. Trata-se de figura útil para hipóteses em que as partes contratantes, embora não possuam
condições jurídicas ou materiais para firmar o contrato definitivo, pretendem vincular-se juridi-
camente. As partes contratantes podem ser batizadas de promitentes16.
As promessas de compra e venda de imóveis são os contratos preliminares mais comuns
no quotidiano quando o comprador pagará o preço parceladamente, e o vendedor só irá ce-
lebrar o contrato definitivo de compra e venda após receber todo o dinheiro. Se não contiver
direito de arrependimento, a promessa de compra e venda de imóvel pode ser registrada na
matrícula do imóvel no competente Cartório, caso em que o promitente comprador se tornará
titular de um direito real de aquisição e, assim, poderá exigir a contrato definitivo na forma
pactuada na promessa e poderá reivindicar o bem de terceiros que eventualmente o tenham
adquirido (arts. 1.417 e 1.418, CC).
15
STJ, AgRg no AREsp 383.699/SC, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 13/03/2018; REsp 1356725/RS, 3ª
Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 12/06/2014; REsp 880.605/
RN, 2ª Seção, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Ministro Massami Uyeda, DJe 17/09/2012; REsp 1073595/
MG, 2º Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 29/04/2011.
16
Preferimos não utilizar as expressões promissários, compromitentes e compromissários, pois mais obscurecem do
que esclarecem. No contrato preliminar, ambas as partes fazem uma promessa, a de celebrar um contrato futuro. Logo,
ambas são promitentes.

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Entendemos que, por analogia, essas regras de promessa de compra e venda de imóvel
devem estender-se também para a promessa de permuta, pois se devem estender para a per-
muta as regras de compra e venda na forma do art. 533, CC.
Outro exemplo é a promessa de locação comercial. Em um caso em que o locador ainda
precisa conseguir uma licença do Estado para o uso da área pública marginal ao imóvel, ele
poderá celebrar uma promessa de locação com a empresa interessada em locar o bem, deter-
minando que, logo após a obtenção da licença, os promitentes haverão de firmar o contrato
definitivo de locação.

Requisitos

Todos os requisitos do contrato definitivo SALVO a forma


Requisitos
do contrato
preliminar Se não contiver os requisitos do contrato definitivo
será NULO por indeterminabilidade do objeto

O contrato preliminar tem de ter todos os requisitos essenciais do contrato definitivo, sal-
vo a forma (art. 462, CC). Se o contrato preliminar não contiver esses requisitos, o direito dos
promitentes a um contrato definitivo se torna indeterminável e, portanto, é nulo por indeter-
minabilidade do objeto do contrato (art. 104, II, CC). A forma, porém, não precisa observar
a do contrato definitivo, pois uma das relevâncias práticas do contrato preliminar é também
viabilizar a celebração de negócios quando as partes não possuem condições de adotarem a
forma do contrato definitivo. Assim, por exemplo, se alguém pretende adquirir um imóvel caro
no domingo, isso não é viável em razão de os cartórios de notas provavelmente estarem fe-
chados, de modo que não há como celebrar uma escritura pública de compra e venda (a forma
pública é obrigatória para esse contrato definitivo). As partes poderão, nesse caso, celebrar
uma promessa de compra e venda por instrumento particular (ex.: em um papel A4 escrito a
mão) para, posteriormente, quando o cartório estiver aberto, lavrar a escritura pública com o
contrato definitivo.

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Adjudicação Compulsória

Cabível quando não há direito de arrependimento


pactuado na promessa de contrato

Adjudicação Notificação + prazo


compulsória
Advento do TERMO 1) Resolver o contrato, pleiteando
indenização por perdas e danos
Recusa em celebrar o
contrato definitivo 2) Requerer judicialmente sentença que
substituirá esse contrato definitivo por
meio da ação de adjudicação compulsória

Celebrado a promessa de compra e venda, qualquer das partes pode exigir da outra a ce-
lebração do contrato definitivo após notificar a outra concedendo-lhe um prazo, desde que já
tenha advindo o termo ou implementada a condição do contrato. Por exemplo, na promessa
de compra e venda a preço parcelado, o promitente comprador pode exigir a escritura pública
após pagar o preço integralmente (condição).
Se a outra parte se recusar a celebrar o contrato definitivo, o interessado poderá escolher
uma destas opções: (1) resolver o contrato, pleiteando indenização por perdas e danos, ou
(2) requerer judicialmente sentença que substituirá esse contrato definitivo por meio da ação
de adjudicação compulsória (arts. 463 ao 465, CC)17. Essa sentença, por exemplo, substitui
o contrato definitivo de compra e venda no caso de ter sido descumprida uma promessa de
compra e venda e, portanto, pode ser registrada no Cartório de Imóveis. Aliás, outros contratos
preliminares devem ser levados a registro público para obter eficácia erga omnes, se o contrato
definitivo for sujeito a algum registro público (art. 463, parágrafo único, CC).
Se, porém, houver cláusula autorizando o direito de arrependimento, não é cabível a ação
de adjudicação compulsória nem indenização por perdas e danos, desde que a parte exerça o
direito de arrependimento (art. 463, CC).

Promessa de Doação

Promessa de Existe e é valida, Obrigação inexigível, não sujeita


doação pura mas é ineficaz à adjudicação compulsória
Promessa
de doação
Doação como condição de negócio
Comporta contrato preliminar
jurídico bilateral + doação com encargo

17
Trata-se de ação por meio da qual o interessado pede para o juiz dar-lhe o objeto (adjudicar), independentemente da von-
tade da outra parte (compulsoriamente).

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Nem todos os contratos admitem uma versão preliminar. A doação pura, por exemplo, em
regra, não admite um contrato preliminar, pois, como é da sua natureza a liberalidade, é ab-
solutamente contraditório que a parte exija uma adjudicação compulsória substituindo uma
doação. A compulsoriedade é incompatível com um elemento essencial da doação, a esponta-
neidade. Entendemos que a promessa de doação pura existe, é válida, mas será ineficaz: não
produz efeitos contra a parte doadora, que não pode ser constrangida a doar. Trata-se de uma
obrigação inexigível, razão por que, por exemplo, se se tratar de uma promessa de doação de
imóvel, ela sequer pode ser registrada na matrícula do imóvel18. Ademais, eventual ação de
adjudicação compulsória deveria ser extinta por impossibilidade jurídica do pedido (STJ, REsp
730.626/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Jorge Scartezzini, DJ 04/12/2006). Ressalvamos, porém,
que há corrente contrária a sustentar que a promessa de doação sequer ultrapassa o plano
da existência: ela inexistiria no mundo jurídico. Preferimos, porém, entender que ela apenas é
ineficaz quanto à sua exigibilidade: o doador cumpre a promessa se quiser.
Todavia, se a doação for uma condição de um negócio jurídico bilateral, ela não é uma
pura liberalidade e, por isso, comporta um contrato preliminar. É o caso das promessas de
doação feitas como condição de acordo em partilha de divórcio. Assim, por exemplo, se o ex-
-marido promete doar um imóvel valioso para o filho do casal ou para a ex-esposa como uma
forma de chegar a um acordo na partilha de bens do divórcio e ele, posteriormente, se recusa
a formalizar o contrato definitivo de doação (e aí seria preciso escritura pública por envolver
imóvel de valor superior a 30 salários mínimos, conforme art. 108, CC), o filho do casal, como
terceiro beneficiário (é uma estipulação em favor de terceiro), ou, se for o caso, a ex-esposa
poderá valer-se da ação de adjudicação compulsória (STJ, REsp 742.048/RS, 3ª Turma, Rel.
Ministro Sidnei Beneti, DJe 24/04/2009; EREsp 125.859/RJ, 2ª Seção, Rel. Ministro Ruy Rosa-
do de Aguiar, DJ 24/03/2003).
Igualmente, se se tratar de uma doação com encargo, é cabível a exigibilidade da promessa
de doação até o valor do encargo, pois aí não há pura liberalidade (art. 540, CC).
18
Em São Paulo, o Conselho Superior da Magistratura nega o acesso da promessa de compra e venda à matrícula do imóvel
por entender que se trata de direito obrigacional, e não real, sem previsão no rol taxativo do art. 167, § 1º, da Lei n. 6.015/73
(CSMSP, Apelação n. 994.09.231.635-5/50000, DJ 17/01/2011, Disponível em: http://www.kollemata.com.br/). Considera-
mos, porém, que esse motivo não é o adequado, pois, se o contrato principal é registrável (como a permuta), o contrato preli-
minar também o será, ainda que não haja previsão expressa no art. 167, § 1º, da Lei n. 6.015/73 do contrato preliminar. Afinal
de contas, o contrato preliminar dá um direito real de aquisição ao objeto do contrato definitivo e deve ser registrado no órgão
competente por força do art. 463, parágrafo único, CC. Não se trata de averbação, e sim de registro. Todavia, no caso da mera
promessa de doação, ela não é registrável, porque é ineficaz (é inexigível). Fatos jurídicos inexigíveis não podem manchar
a matrícula; isso seria uma espécie de exigibilidade, o que é censurável. Entendemos, porém, pelo cabimento do registro da
promessa de doação onerosa ou da doação como condição de negócio jurídico bilateral, pois aí o negócio precoce é exigível.

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9. Extinção dos Contratos


9.1. Formas de Extinção

Formas de
1) Causas preexistentes
extinção dos Invalidade (nulidade ou anulabilidade)
à formação do contrato
contratos

Inadimplemento absoluto

2) Causas Cláusulas resolutivas


supervenientes Resolução Justa causa
Onerosidade excessiva

Rescisão Evicção
Por vontade
Resilição das partes
Perecimento
superveniente do objeto
Pode ser bilateral
Morte (contratos (“distrato”) ou Alteração do suporte
personalíssimos) unilateral fático do contrato

O modo normal de extinção do contrato é o cumprimento de todas as obrigações dele de-


correntes. Há, porém, modos anormais de extinção do contrato, os quais podem decorrer de:
(1) causas preexistentes à formação do contrato; ou (2) de causas supervenientes.
A invalidade (nulidade ou anulabilidade) é causa preexistente, pois ela só ocorre quando
o contrato nasce violando o ordenamento jurídico. Ela se opera no plano da validade do negó-
cio jurídico.
Quanto às causas supervenientes, há diferentes nomenclaturas sobre os fenômenos extin-
tivos. Temos, por mais didático, há dois fenômenos: a rescisão e, nos contratos personalíssi-
mos, a morte19.
Rescisão20 é gênero do qual a resolução e a resilição são espécies.
Resolução é o desfazimento do contrato por justa causa, assim entendida aquela que, por
lei, pode extinguir o contrato. Entre as justas causas, indicam-se estes fatos jurídicos: (1) o
inadimplemento absoluto, que é uma condição resolutiva tácita, conforme art. 394, parágrafo
19
Alguns doutrinadores enquadram a morte como “cessação contratual”. Preferimos, porém, valer-se do próprio nome
“morte”, que é o termo empregado em legislações.
20
Historicamente, o termo “rescisão” sempre foi associado à lesão enorme ou ao estado de perigo, mas a prática forense
banalizou a expressão e transmudou-lhe o significado atual (Schreiber, 2018, p. 470; Gagliano e Filho, 2018, pp. 509-510).
Há quem vincule a rescisão a casos de invalidade, com amparo no direito francês (Gagliano e Filho, 2018, p. 510). O texto
das leis costuma ser disforme, ora utilizando o termo “rescisão” como resilição (v.g. art. 607, CC), ora como resolução por
inadimplemento (v.g. art. 810, CC), ora como resolução por perda do objeto (v.g. art. 609, CC), ora como extinção decorrente
de anulação (v.g. art. 1.642, IV, CC), ora como resolução por evicção (v.g. art. 455, CC).

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único, e 475 do CC; (2) as cláusulas resolutivas21, assim entendidos a ocorrência do termo
ou da condição resolutivos expressamente pactuados ou o descumprimento de um encargo
pactuado; (3) a onerosidade excessiva na forma do art. 478 do CC ou o rompimento das bases
objetivas nos termos do art. 6º, V, do CDC; (4) evicção; (5) vício redibitório; (6) perecimento
superveniente do objeto22; (7) alteração do suporte fático do contrato23. Esses fenômenos ope-
ram-se no plano da eficácia do negócio jurídico. O termo “resolução” é sinônimo de “denúncia
cheia”, expressão utilizada especialmente no âmbito dos contratos de locação de imóvel ur-
bano para autorizar o desfazimento do contrato por um dos justos motivos previstos na Lei de
Locação (Lei n. 8.245/91).
Resilição24 é a extinção do contrato por vontade das partes e pode ser unilateral (vontade
de apenas uma das partes) ou bilateral (vontade de ambas as partes). A resilição bilateral
também é batizada de distrato. Já a resilição unilateral é sinônima de revogação (arts. 682, I,
e 856, CC)25, renúncia (art. 682, I, CC), exoneração (art. 835, CC), denúncia, “denúncia vazia”26.
Apesar de haver doutrinadores a enquadrar o direito de arrependimento como uma causa
anterior, consideramo-lo uma espécie de resilição unilateral, pois decorre da vontade de ape-
nas uma das partes. O direito de arrependimento é, na verdade, um direito de resilir unilateral-
mente o contrato. É uma causa superveniente, portanto.

9.2. Resolução por Inadimplemento: Definição

Absoluto Prestação se torna inútil


Resolução por
inadimplemento Relativo Prestação tardia, mas útil

Fica a cargo do credor

O inadimplemento pode ser absoluto, quando a prestação se torna inútil, ou relativo, quan-
do a prestação tardia ainda é útil. O credor tem direito de escolher se o inadimplemento é
absoluto ou relativo, salvo lei ou abuso de direito. E, ao optar pela inutilidade da prestação ina-
dimplida, ele poderá pleitear a resolução do contrato por culpa do devedor (arts. 395, parágrafo

21
Há quem situe as cláusulas resolutivas como “causas preexistentes”, embora reconheça o inadimplemento absoluto como
causa posterior. Parece-nos contraditória essa posição, pois o inadimplemento absoluto é uma condição resolutiva tácita
que surge com o contrato (art. 475, CC). Ademais, a cláusula resolutiva só extingue o contrato se, após o contrato, sobrevier
o fato resolutivo, razão por que preferimos enquadrá-la como causa superveniente.
22
Exemplos de emprego da expressão “resolução” para perda de objeto: arts. 235, 238, 248 e 567 do CC.
23
Ex.: segurador pode resolver contrato diante do superveniente agravamento do risco (art. 769, § 1º, CC).
24
O texto legal, por vezes, equivoca-se ao valer-se do termo “resolução” para casos de resilição unilateral (v.g. arts. 599, 720, CC)
25
De modo atécnico, a legislação vale-se do termo “revogação” para os casos de resolução de uma doação pelo descumpri-
mento de encargo ou por ingratidão (art. 555, CC).
26
Em locação predial urbana, é mais usual o emprego da expressão “denúncia vazia” para designar o desfazimento do con-
trato pela vontade imotivada de apenas uma das partes. Trata-se de uma resilição unilateral.

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único, e 475, CC). Em todo contrato bilateral, a resolução do contrato por inadimplemento é
uma condição resolutiva tácita ou, se estiver assim pactuado expressamente, como condição
resolutiva expressa.

9.3. Resilição Unilateral

Notificação Judicial
Extinção do contrato por
interesse de uma das partes Notificação Extrajudicial

É permitida sempre que


houver autorização expressa
Resilição ou implícita da lei
unilateral
Impedimento à resilição
unilateral

As partes NÃO podem


Cláusula expressa que vede
resilir, salvo se a cláusula for
a resilição
nula ou ineficaz

Aluno(a), veja esta questão:

003. (VUNESP/PROCURADOR/DPE-AM/2018) No caso de um contrato em que houve Inves-


timentos consideráveis por uma das partes, a denúncia unilateral só produzirá efeitos após o
transcurso de prazo compatível com a natureza e valor dos investimentos.

O gabarito é “correto” por corresponder ao parágrafo único do art. 473 do CC.


Certo.

Vamos explicar melhor.


A resilição unilateral é a extinção do contrato apenas em razão de uma das partes ter
manifestado o seu desinteresse em continuar o contrato por meio de uma notificação extra-
judicial ou judicial (art. 473, CC). A notificação extrajudicial pode ser feita por qualquer meio
não judicial que garanta a ciência da outra parte, com inclusão de plataformas virtuais (como
e-mail, redes sociais etc.). Nada impede que as partes exijam um meio específico para a no-
tificação de resilição diante do princípio da liberdade contratual e da incidência analógica do
art. 110, CC.

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Conforme o art. 473 do CC, a resilição unilateral é permitida sempre que houver autorização
expressa ou implícita da lei. Não há necessidade de lei expressa. Daí decorre que, em razão
do princípio da autonomia da vontade, a parte que ainda está com uma obrigação pendente
de cumprimento pode resilir o contrato, salvo lei ou abuso de direito. Trata-se de uma forma
honrada de sair do contrato: no lugar de incorrer em inadimplência, a parte antecipa-se a resilir
o contrato e a suportar todas as punições daí decorrentes (como as multas compensatórias e
os deveres de indenizar). De qualquer forma, a lei e a vedação ao abuso de direito impedirão a
resilição unilateral em vários casos, como nestes casos:
• A parte não pode resilir unilateralmente o contrato enquanto a outra não tiver fruído
de um prazo razoável de duração do contrato na hipótese de ter feito investimentos
consideráveis (art. 473, parágrafo único, CC). Ex.: dono de um terreno não pode resilir
um contrato de locação de um terreno por prazo indeterminado, se o inquilino tivesse
construído um posto de gasolina (valor considerável) e ainda não tivesse explorado eco-
nomicamente o bem por um prazo razoável para obter retorno financeiro;
• a parte que já tiver cumprido todas as suas obrigações não pode resilir unilateralmente,
pois sua participação contratual já se esgotou;
• o promitente vendedor de um imóvel não pode resilir o ajuste, pois isso lhe permitiria
astutamente aproveitar-se de eventual valorização superveniente do imóvel, além de ser
incompatível com o direito do promitente comprador à adjudicação compulsória (STJ,
REsp 212.937/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 15/12/2008);
• o incorporador não pode desistir da incorporação imobiliária após o prazo de carência e
de ter alienado qualquer das unidades autônomas futuras a terceiros, salvo se ele read-
quirir todas as unidades (art. 34, Lei n. 4.591/64);
• o fiador não pode resilir unilateralmente a fiança por prazo determinado (art. 835, CC);
• o mandante não pode resilir o mandato outorgado com cláusula “em causa própria” ou
como condição de negócio jurídico bilateral (art. 684 e 685, CC).
• o locador não pode resilir unilateralmente o contrato de locação de imóvel residencial
firmado por prazo inferior a 30 meses ou por meio verbal antes do transcurso do prazo
de 5 anos de contrato (art. 47, CC).

Quando houver cláusula expressa que vede a resilição (cláusula de irretratabilidade ou de


irrevogabilidade), as partes não podem resilir, salvo se essa cláusula for nula ou quando a lei
a tornar ineficaz. O art. 683 do CC, por exemplo, permite que o mandante revogar (=resilir) o
mandato mesmo se tiver pactuado a cláusula de irrevogabilidade, mas será obrigado a pagar
indenização por perdas e danos. Ademais, entendemos ser nula, por ser abusiva à luz dos arts.
187 do CC e art. 50 do CDC, cláusula que proíbe a resilição unilateral por parte de consumidor
que adquiriu um imóvel a preço parcelado e que ainda não tenha pago todo o preço, sob pena
de expô-lo a tornar-se inadimplente e a suportar os ônus moratórios durante o período de tem-
po de arbítrio do credor.
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Contratos em Geral – Parte IV
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9.4. Resilição Bilateral ou Distrato

Se não houver
Dever de observar a mesma forma exigida, pode
Resilição FORMA do contrato desfeito ser feito de forma
Contrato destinado
bilateral LIVRE
à desfazer o anterior
ou distrato As cláusulas podem ser
livremente pactuadas

Aluno(a), resolva a questão.

004. (VUNESP/PROCURADOR/DPE-AM/2018) Para os casos de distrato, não há que se falar


em atendimento ao princípio do paralelismo entre as formas.

O gabarito é errado, porque o paralelismo de forma é a regra para o distrato.


Errado.

Vamos explicar melhor.


A resilição bilateral ou o distrato nada mais é do que um contrato destinado a desfazer um
anterior. Por isso, em nome do princípio do paralelismo das formas, o distrato tem de observar
a mesma forma exigida para o contrato alvejado (art. 472, CC). Um contrato que exige escritura
pública só pode ser objeto de distrato formalizado por escritura pública. Nada impede, porém,
que um contrato firmado por escritura pública seja desfeito por um distrato materializado em
instrumento particular, se o contrato alvejado, por lei ou por vontade, não precisava ter adotado
a forma pública. Essa é a leitura feita pelo enunciado n. 584/JDC (“Desde que não haja forma
exigida para a substância do contrato, admite-se que o distrato seja pactuado por forma livre”).
Como o distrato é, na verdade, um contrato, as suas cláusulas podem ser livremente pac-
tuadas pelas partes, observadas os limites das normas cogentes. Nesse contexto, cláusulas
abusivas à luz do art. 51 do CDC em distratos firmados por consumidores podem ser declara-
das nulas, a exemplo dos distratos que autorizam o incorporador a reter valores exagerados
dos consumidores que desistiram de compra de imóvel “na planta” (STJ, (REsp 1412662/RS, 4ª
Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 28/09/2016).

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9.5. Cláusula Resolutiva e a Resolução por Inadimplemento


9.5.1. Cláusula Resolutiva Expressa

Cláusula Fato resolutivo precisa ser


Opera-se de
resolutiva atestado por fé pública, a
pleno direito
expressa depender do caso

Aluno(a), veja a questão.

005. (VUNESP/PROCURADOR/DPE-AM/2018) Tanto a cláusula resolutiva tácita quanto a ex-


pressa dependem de interpelação judicial.

O gabarito é “errado”, pois só a condição resolutiva tácita depende de interpelação judicial


(art. 474, CC).
Errado.

Vamos explicar a matéria.


A cláusula resolutiva expressa (termo ou condição) opera-se de pleno direito, ou seja, ope-
ra-se logo que o fato resolutivo ocorrer (art. 474, CC). O fato resolutivo, todavia, precisa ser
atestado com a fé pública.
De um lado, se a cláusula resolutiva expressa for um termo resolutivo, há diversas situa-
ções. Se o termo for uma data, o mero advento dela é suficiente, pois o calendário gregoriano
já é fato que independe de atesto de um agente público por possuir certificação legal (Lei n.
810/1949). Se o termo for a morte de alguém, a certidão de óbito do cartório tem fé pública
para atestar o fato. Se o termo for outro evento desacompanhado da fé pública ou de certifi-
cação legal, entendemos ser necessária sentença judicial que ateste esse fato com natureza
declaratória e com eficácia retroativa à data da ocorrência do fato.
De outro lado, se a cláusula resolutiva for uma condição resolutiva, antigamente entendia-
-se pela necessidade de declaração judicial do seu implemento com efeito retroativo à data
desse fato resolutivo. Em outras palavras, a eficácia da resolução causada pelo implemento da
condição resolutiva ficaria suspensa enquanto não sobreviesse uma sentença judicial.
O STJ, porém, passou a caminhar em outro sentido, admitindo notificação extrajudicial.
Veja este julgado:

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RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - COMPROMISSO DE COMPRA


E VENDA DE IMÓVEL RURAL COM CLÁUSULA DE RESOLUÇÃO EXPRESSA - INADIMPLE-
MENTO DO COMPROMISSÁRIO COMPRADOR QUE NÃO EFETUOU O PAGAMENTO DAS
PRESTAÇÕES AJUSTADAS - MORA COMPROVADA POR NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL
E DECURSO DO PRAZO PARA A PURGAÇÃO - INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS QUE JULGARAM
PROCEDENTE O PEDIDO REINTEGRATÓRIO REPUTANDO DESNECESSÁRIO O PRÉVIO
AJUIZAMENTO DE DEMANDA JUDICIAL PARA A RESOLUÇÃO CONTRATUAL - INSURGÊN-
CIA DO DEVEDOR - RECLAMO DESPROVIDO.
Controvérsia: possibilidade de manejo de ação possessória fundada em cláusula reso-
lutiva expressa decorrente de inadimplemento de contrato de compromisso de compra
e venda imobiliária, sem que tenha sido ajuizada, de modo prévio ou concomitante,
demanda judicial objetivando rescindir o ajuste firmado.
Violação ao artigo 535 do CPC/73 inocorrente na espécie, pois a Corte local procedeu à
averiguação de toda a matéria reputada necessária ao deslinde da controvérsia, apenas
não adotou a mesma compreensão almejada pela parte, acerca da resolução da lide, o
que não enseja omissão ou contradição no julgado.
A ausência de enfrentamento da matéria objeto da controvérsia pelo Tribunal de origem,
não obstante a oposição de embargos de declaração, impede o acesso à instância espe-
cial, porquanto não preenchido o requisito constitucional do prequestionamento, atraindo
o enunciado da Súmula 211/STJ, notadamente quando a parte não cuidou de alegar
negativa de prestação jurisdicional no ponto, isto é, ao indicar a violação do artigo 535
do CPC/73, não suscitou a existência de omissão do acórdão recorrido na análise dos
dispositivos.
Inexiste óbice para a aplicação de cláusula resolutiva expressa em contratos de com-
promisso de compra e venda, porquanto, após notificado/interpelado o compromissário
comprador inadimplente (devedor) e decorrido o prazo sem a purgação da mora, abre-se
ao compromissário vendedor a faculdade de exercer o direito potestativo concedido pela
cláusula resolutiva expressa para a resolução da relação jurídica extrajudicialmente.
Impor à parte prejudicada o ajuizamento de demanda judicial para obter a resolução do
contrato quando esse estabelece em seu favor a garantia de cláusula resolutória expressa,
é impingir-lhe ônus demasiado e obrigação contrária ao texto expresso da lei, despresti-
giando o princípio da autonomia da vontade, da não intervenção do Estado nas relações
negociais, criando obrigação que refoge o texto da lei e a verdadeira intenção legislativa.
A revisão do valor estabelecido a título de honorários nos termos do artigo 20, § 4º do
CPC/73, só é permitido quando o montante fixado se mostrar ínfimo ou exorbitante, o que
não se verifica no caso em exame, levando-se em conta a complexidade da causa, o tra-
balho realizado pelo causídico e o valor envolvido na demanda, circunstâncias segundo
as quais o reexame implicaria em revolvimento do conjunto fático dos autos, providência
vedada ao STJ ante o óbice contido no enunciado 7 da Súmula desta Casa.

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Contratos em Geral – Parte IV
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Recurso especial conhecido em parte e, na extensão, desprovido.


(REsp 1789863/MS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 10/08/2021,
DJe 04/10/2021)

9.5.2. Cláusula Resolutiva Tácita

Deve ser atestado por agente com fé pública


Cláusula Opera-se com
resolutiva tácita interpelação judicial
Interpelação judicial terá natureza declaratória
e eficácia retroativa à sua data

Segundo o texto do art. 474 do CC, as cláusulas resolutivas tácitas se operam com a inter-
pelação judicial. Não pode ser extrajudicial. Interpelação judicial é qualquer notificação feita
sob o comando de um juiz, a exemplo da interpelação judicial como procedimento de jurisdi-
ção voluntária (art. 726, CPC) ou da citação (art. 240, CPC).
Apesar disso, há necessidade de o fato resolutivo ser atestado por agente com fé pública
ou pela lei, à semelhança do que sucede com a condição resolutiva expressa27. Por isso, ine-
xistindo certificação do fato por lei ou por outro agente com fé público, é necessário haver de-
cisão judicial nesse sentido A sentença judicial terá natureza declaratória e eficácia retroativa
à data da interpelação judicial.

27
Não há motivos para o regime jurídico da cláusula resolutiva expressa ser mais rigoroso do da cláusula resolutiva tácita.

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QUESTÕES DE CONCURSO
006. (CESPE/ANALISTA/TJ-PA/2020/ADAPTADA) José e Rafael realizaram um negócio ju-
rídico em que ficou estipulado que: José entregaria determinado bem móvel para Rafael, que
ficaria autorizado a vender o bem, pagando a José, em contrapartida, o valor de quinhentos
reais; e Rafael poderia optar por devolver o bem, no prazo de vinte dias, para José.
De acordo com o Código Civil, nessa situação hipotética foi firmado um contrato classi-
ficado como
a) atípico.
b) solene.
c) unilateral.
d) consensual.
e) comutativo.

Quanto ao risco da prestação, o contrato oneroso (apenas o oneroso) pode ser classificado
como comutativo (proveito econômico buscado pelas partes é pré-estimado) ou aleatório (pro-
veito econômico depende da sorte). No caso da questão, há um contrato oneroso comutativo,
pois o proveito econômico buscado (R$ 500,00) é pré-estimado. O gabarito, pois, é letra “E”.
Letra e.

007. (IMA/ASSISTENTE TÉCNICO/PREFEITURA DE SANTANA DE PARNAÍBA-SP/2018/


ADAPTADA) Nos casos dos contratos paritários atípicos, não há o dever das partes de respei-
tarem os princípios da probidade e boa-fé.

Contraria art. 422 do CC:

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé
Errado.

008. (FUNDEP/ANALISTA/PREFEITURA DE UBERABA/2016/ADAPTADA) Nos contratos de


adesão, são válidas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito
resultante da natureza do negócio.

Contraria art. 424 do CC:

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Errado.

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009. (FCC/ANALISTA/TRF3/2019/ADAPTADA) Nos contratos de adesão, serão válidas as


cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do
negócio, desde que redigidas de forma clara e com destaque.

Contraria art. 424 do CC:

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Errado.

010. (FCC/OFICIAL/TJ-MA/2019/ADAPTADA) Nos contratos de adesão, são válidas as cláu-


sulas que estipulem a renúncia do aderente a direito resultante da natureza do negócio, desde
que previamente informado dessa circunstância.

Contraria art. 424 do CC:

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Errado.

011. (FGV/ESTÁGIO FORENSE/MPE-RJ/2018/ADAPTADA) Nos contratos de adesão, são


nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da
natureza do negócio.

Contraria art. 424 do CC:

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Certo.

012. (IMA/ASSISTENTE TÉCNICO/PREFEITURA DE SANTANA DE PARNAÍBA-SP/2018/


ADAPTADA) Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas ambíguas, contraditórias e as
que estipulem renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

Contraria arts. 423 e 424 do CC:

Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á
adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Errado.

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013. (FGV/ESTÁGIO FORENSE/MPE-RJ/2018/ADAPTADA) Quando houver no contrato de


adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação menos favo-
rável ao aderente.

É a mais favorável. Veja art. 423 do CC:

Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á
adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Errado.

014. (FCC/OFICIAL/TJ-MA/2019/ADAPTADA) Se o contrato for aleatório, por dizer respeito


a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá
o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não
tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.

É o art. 458 do CC:

Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe
foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado
venha a existir.
Certo.

015. (FCC/ANALISTA/TRF3/2019/ADAPTADA) Se o contrato for aleatório, por se referir a


coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, o alienante terá direito a
todo o preço mesmo que a coisa já não existisse no dia do contrato.

É o art. 460 do CC:

Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assu-
mido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não
existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.
Certo.

016. (CESPE/AUDITOR DE CONTROLE INTERNO/CGE-CE/2019/ADAPTADA) Considere a


hipótese de que o objeto de determinado contrato corresponda a coisas ou fatos futuros cujo
risco de que não venham a existir seja assumido pelo contratante, o que acarreta o direito do
contratado de receber integralmente o que lhe tiver sido prometido, desde que não aja com dolo
ou culpa, ainda que nada do que tiver sido pactuado venha a existir. Essa hipótese descreve

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Contratos em Geral – Parte IV
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a) promessa de fato de terceiro.


b) estipulação em favor de terceiro.
c) contrato com pessoa a declarar.
d) evicção.
e) contrato aleatório.

Trata-se de um exemplo de contrato aleatóro na modalidade emptio spei, tudo nos termos do
art. 458 do CC:

Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe
foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado
venha a existir.
Letra e.

017. (VUNESP/ANALISTA TRIBUTÁRIO FINANCEIRO/PREFEITURA DE SÃO BERNARDO


DO CAMPO-SP/2018/ ADAPTADA) Concluído um contrato preliminar, em regra, uma das par-
tes não poderá exigir a celebração do contrato definitivo.

É o contrário, conforme art. 463 do CC:

Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e
desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir
a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.
Errado.

018. (CESPE/OFICIAL/TRT8/2013/ADAPTADA) Ainda que para o contrato definitivo seja exi-


gida a celebração por escritura pública, o preliminar pode ser lavrado em instrumento particular.

É o art. 463 do CC, que dispensa o contrato preliminar de observar a forma exigida para o contrato
definitivo:
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais
ao contrato a ser celebrado.
Certo.

019. (CESPE/ANALISTA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/2014/ADAPTADA) É possível a rea-


lização de um contrato preliminar que tenha por objeto a obrigação de se concluir o contrato
principal, devendo aquele, exceto quanto à forma, conter todos os requisitos deste.

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Contratos em Geral – Parte IV
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É o art. 462 do CC:

Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais
ao contrato a ser celebrado.
Certo.

020. (FCC/ANALISTA/TRF3/2019/ADAPTADA) O contrato preliminar deve conter, inclusive


quanto à forma, todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.

Contraria art. 462 do CC:

Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais
ao contrato a ser celebrado.
Errado.

021. (CESPE/AUDITOR/TC-DF/2014/ADAPTADA) Conforme o Código Civil brasileiro, é ex-


pressamente proibido que herança de pessoa viva seja objeto de contrato.

É o art. 426 do CC:

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Certo.

022. (CESPE/ANALISTA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/2014/ADAPTADA) É lícito aos pactu-


antes entabular contratos atípicos, que são assim classificados por contemplarem maior am-
plitude na autonomia privada e na liberdade contratual.

É o art. 425 do CC:

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste
Código.
Certo.

023. (FGV/ESTÁGIO FORENSE/MPE-RJ/2018/ADAPTADA) Não é lícito às partes estipular


contratos atípicos, afora os tipos contratuais previstos na legislação.

Contraria art. 425 do CC:

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas
neste Código.
Errado.

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024. (FUNDEP/ANALISTA/PREFEITURA DE UBERABA/2016/ADAPTADA) É proibido às par-


tes estipular contratos atípicos.

Contraria art. 425 do CC:

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste
Código.
Errado.

025. (CESPE/ANALISTA/TRE-RS/2015/ADAPTADA) O ordenamento jurídico brasileiro não


admite a hipótese de resolução contratual por onerosidade excessiva aventada pelo devedor,
por vigorar nos contratos a cláusula rebus sic stantibus.

Contraria arts. 478 ao 480 do CC:

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se
tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sen-
tença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as con-
dições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear
que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade
excessiva.
Errado.

026. (CESPE/ANALISTA/TRE-RS/2015/ADAPTADA) Nos contratos em geral, o Código Civil


prevê que a resolução não poderá ser evitada, ainda que haja a possibilidade de modificação
equitativa das condições do contrato.

Contraria o art. 480 do CC:

Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear
que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade
excessiva.
Errado.

027. (CESPE/ANALISTA/TJ-PA/2020/ADAPTADA) João, mediante contrato firmado, presta-


va assistência técnica de computadores à empresa de Mário. João e Mário, por mútuo consenso,

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resolveram por fim à relação contratual. Nessa situação hipotética, considerando o que dispõe
a doutrina majoritária sobre a matéria, caracterizou-se a
a) resolução bilateral do contrato.
b) revogação do contrato.
c) anulação do contrato.
d) inexistência contratual.
e) resilição bilateral do contrato.

O desfazimento do contrato por acordo de ambas as partes é o distrato, também chamado de


resilição bilateral, tudo nos termos do art. 472 do CC:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.
Letra e.

028. (CESPE/ANALISTA/TCE-ES/2013/ADAPTADA) O término das relações contratuais por


mútuo consenso das partes constitui.
a) anulação do contrato.
b) revogação do contrato.
c) resilição do contrato.
d) resolução do contrato.
e) rescisão do contrato.

Resilição é o desfazimento do contrato por pura vontade das partes: se for só de uma par-
te, tem-se uma resilição unilateral (art. 473, CC); se for de ambas, trata-se de resilição bilate-
ral, também chamada de distrato (art. 472, CC). O gabarito é “C”, portanto. Veja os referidos
dispositivos:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.
Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera
mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos
consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido
prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.
Letra c.

029. (CESPE/ANALISTA/TJ-SE/2014/ADAPTADA) A resilição bilateral de determinado con-


trato equivale ao distrato desse pacto.

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Resilição bilateral é sinônimo de distrato.


Certo.

030. (CESPE/JUIZ LEIGO/TJ-BA/2019/ADAPTADA) Para a execução de um contrato, Rui re-


alizou significativos investimentos, enquanto Leandro optou pela resilição unilateral desse ne-
gócio jurídico após determinado período de tempo.
Conforme o Código Civil, a denúncia unilateral do contrato
a) produz efeitos imediatamente, em respeito à autonomia da vontade da parte.
b) não produz efeitos, uma vez que tal modalidade é nula.
c) não produz efeitos, já que Rui realizou significativos investimentos.
d) produz efeitos depois de transcorrido tempo compatível com a natureza e o volume dos
investimentos.
e) produz efeitos somente para a parte que realizar a denúncia.

É parágrafo único do art. 473 do CC:

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera
mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos
consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido
prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.
Letra d.

031. (TJ-PR/JUIZ LEIGO/TJ-PR/2019/ADAPTADA) A resilição unilateral poderá sempre ser


feita, em qualquer contrato, sem exigência de forma.

Só quando a lei, ainda que implicitamente, autorize. Veja o art. 473 do CC:

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera
mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos
consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido
prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.
Errado.

032. (CESPE/ANALISTA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/2014/ADAPTADA) Tendo em vista


que determinadas situações fáticas, anteriores, contemporâneas ou supervenientes à celebra-
ção da avença, podem motivar a cessação da produção dos seus efeitos de modo anormal,
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como, por exemplo, entre outros, a resilição, a resolução, a rescisão, a morte do contratante,
caso fortuito ou força maior, julgue o item seguinte, a respeito da extinção dos contratos.
A nulidade, a anulabilidade e a redibição são causas anteriores ou contemporâneas à forma-
ção do contrato e que podem acarretar a sua extinção anormal.

Invalidade (nulidade e anulabilidade) decorre de uma violação do ordenamento jurídico pelo


contrato no momento do seu nascimento (causa contemporânea). Redibição decorre de um
vício oculto que a coisa tinha antes do contrato (causa anterior ou contemporânea), tudo nos
termos das regras de vícios redibitórios. Por meio delas, o contrato pode ser extinto de modo
anormal, ou seja, sem ser pelo pagamento. A extinção normal do contrato se dá com o paga-
mento. Logo, está correto o item.
Certo.

033. (CESPE/ANALISTA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/2014/ADAPTADA) A resilição bilate-


ral é a extinção do contrato fundamentada no descumprimento do pactuado por inadimple-
mento culposo ou doloso, assim como em caso de inexecução absoluta ou relativa.

Questão trata da resolução, que é o desfazimento do contrato por inadimplência de uma parte.
Errado.

034. (CESPE/AUDITOR/TCE-RO/2019/ADAPTADA) É facultado ao credor diante do inadim-


plemento do devedor, escolher entre exigir o cumprimento da prestação ou exigir a resolução
do contrato, cabendo, em qualquer das hipóteses, a respectiva indenização.

É o art. 475 do CC:

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir
exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
Certo.

035. (CESPE/AUDITOR/TCE-RO/2019/ADAPTADA) Excepcionalmente, admite-se a cumula-


ção dos pedidos de cumprimento da prestação e de resolução do contrato e, escolhida a via
do cumprimento, é possível recurso à via da resolução depois de transitada em julgado a sen-
tença de procedência exarada na primeira ação.

Contraria este julgado do STJ:

6. Em regra, admite-se a cumulação dos pedidos de cumprimento da prestação e resolu-


ção do contrato, mas, escolhida a via do cumprimento, não se dá recurso à via da resolução
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depois de transitada em julgado a sentença de procedência exarada na primeira ação


(electa uma via non datur recursos ad alterum).
(STJ, REsp 1728372/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/03/2019, DJe 22/03/2019)

Errado.

036. (CESPE/AUDITOR/TCE-RO/2019/ADAPTADA) Como não há prazo em lei estabelecido


para o exercício do direito à resolução da relação contratual, tal exercício é ilimitado no tempo,
na medida em que esse instrumento, enquanto fonte de obrigações que vincula as partes, tem
caráter transitório: nasce com a finalidade de se extinguir preferencialmente com o adimple-
mento das prestações que encerra.

Contraria este julgado do STJ:

7. Embora não haja regra legal que estabeleça prazo para o seu exercício, o direito à reso-
lução do contrato não é absolutamente ilimitado no tempo, na medida em que o contrato,
enquanto fonte de obrigações que vincula as partes, é instrumento de caráter transitório,
pois nasce com a finalidade de se extinguir, preferencialmente com o adimplemento das
prestações que encerra.”
(STJ, REsp 1728372/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/03/2019, DJe 22/03/2019)

Errado.

037. (CESPE/AUDITOR/TCE-RO/2019/ADAPTADA) Se o pedido de resolução da relação con-


tratual se funda no inadimplemento de determinada parcela, a prescrição da pretensão de
exigir o respectivo pagamento prejudica, em consequência, o direito de exigir a extinção da
relação contratual com base na mesma causa, ante a ausência do elemento objetivo que dá
suporte fático ao pleito.

Correto. Corresponde a este julgado do STJ:

8. Se o pedido de resolução se funda no inadimplemento de determinada parcela, a pres-


crição da pretensão de exigir o respectivo pagamento prejudica, em consequência, o
direito de exigir a extinção do contrato com base na mesma causa, ante a ausência do
elemento objetivo que dá suporte fático ao pleito.
9. Hipótese em que, ao ajuizar a ação monitória, o recorrido demonstrou, claramente, seu
interesse na preservação da avença, de tal modo que, uma vez transitada em julgado a
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sentença de procedência, cabia-lhe apenas executar o título judicial para resolver a crise
de inadimplemento. Ao deixar transcorrer o prazo prescricional da pretensão executória
voltada ao adimplemento do contrato e, depois, propor esta ação resolutória, o recorrido
demonstra um comportamento contraditório, justificado, na hipótese, pela nítida tenta-
tiva de se esquivar dos efeitos de sua inércia e, assim, se beneficiar da própria torpeza, o
que configura o exercício abusivo de sua posição jurídica em relação ao recorrente.
(STJ, REsp 1728372/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/03/2019, DJe 22/03/2019)

Certo.

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GABARITO
6. e 17. E 28. c
7. E 18. C 29. C
8. E 19. C 30. d
9. E 20. E 31. E
10. E 21. C 32. C
11. C 22. C 33. E
12. E 23. E 34. C
13. E 24. E 35. E
14. C 25. E 36. E
15. C 26. E 37. C
16. e 27. e

Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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