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DIREITO CIVIL

As Pessoas Jurídicas

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
As Pessoas Jurídicas
Lisiane Brito

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
As Pessoas Jurídicas....................................................................................................................... 4
A Pessoa Jurídica. . ............................................................................................................................ 4
Conceito............................................................................................................................................. 5
Natureza Jurídica - Teorias Explicativas . . .................................................................................. 5
Classificação..................................................................................................................................... 6
O Surgimento da Pessoa Jurídica................................................................................................. 9
Registro - Requisitos Gerais. . ...................................................................................................... 10
Presentação.................................................................................................................................... 10
Desconsideração da Personalidade Jurídica. . ...........................................................................12
As Pessoas Jurídicas de Direito Privado Tratadas pelo Direito Civil. . .................................. 17
Associação....................................................................................................................................... 18
Fundações........................................................................................................................................ 20
Domicílio.......................................................................................................................................... 22
Domicílio da Pessoa Natural....................................................................................................... 22
Domicílio da Pessoa Jurídica....................................................................................................... 24
Questões de Concurso.................................................................................................................. 26
Gabarito............................................................................................................................................ 36

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Lisiane Brito

Apresentação
Caro(a) aluno(a)!
Estamos iniciando nossa terceira aula, na qual trataremos das pessoas jurídicas e do
domicílio.
Na primeira parte da aula você terá contato com as disposições do Código Civil contidas
nos arts. 40 a 69, que tratam das disposições gerais referentes às Pessoas jurídicas, bem
como o regramento das Associações e Fundações.
Trata-se de um ponto muito importante, sobretudo porque guarda íntima relação com ou-
tras disciplinas, como o Direito Administrativo e o Direito Empresarial (talvez seja essa a razão
para ser tão cobrado em provas de concursos).
A segunda parte da aula será dedicada ao estudo do domicílio, regido pelos arts. 70 a 78,
do Código Civil. Esse é um ponto mais light, pois as questões de provas costumam cobrar a
literalidade da lei.
Então, acomode-se e aproveite ao máximo a aula para, ao final, testar os conhecimentos
adquiridos por meio da resolução de questões extraídas de concursos anteriores.
Boa aula!

Lisiane

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AS PESSOAS JURÍDICAS
A Pessoa Jurídica
Na aula anterior estudamos a personalidade e, na ocasião, vimos que se trata da aptidão
para ser titular de direitos e contrair deveres. Vimos também que são dotados dessa capacida-
de abstrata não só as pessoas naturais, pois o ordenamento jurídico reconhece a personalidade
de entes não corpóreos - as pessoas jurídicas- das quais passaremos a tratar a partir de agora.

O que leva à criação de uma pessoa jurídica, professora?

A resposta a esse fenômeno é, historicamente, a necessidade ou conveniência de os indi-


víduos unirem recursos e esforços, para a realização de objetivos comuns, que vão além das
possibilidades individuais. Recentemente, o ordenamento jurídico brasileiro incluiu a figura da
EIRELI- Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, da qual trataremos mais à frente,
que veio a possibilitar que o empresário individual goze dos benefícios da separação patrimo-
nial e limitação de responsabilidade, sem necessidade de sair à procura de sócios, bastando
para tal criar uma pessoa jurídica.
Resumindo, podemos dizer que as pessoas jurídicas são criadas para facilitar o alcance de
alguns objetivos.
Arnold Wald ensina que criar uma pessoa jurídica é dar personalidade ao grupo, distinta da
de cada um de seus membros, passando essa entidade a atuar na vida jurídica, com persona-
lidade própria.
É perfeita a lição de Carlos Roberto Gonçalves:

A pessoa jurídica é, portanto, proveniente desse fenômeno (histórico e social). Consiste num con-
junto de pessoas ou de bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da lei,
para a consecução de fins comuns. Pode-se afirmar, pois, que pessoas jurídicas são entidades a que
a lei confere personalidade, capacitando-as para serem sujeitos de direitos e obrigações”. (grifei)

Relembrando o que vimos na aula passada, vamos conferir o esquema abaixo:

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Daí se extrai que a pessoa jurídica é uma espécie de sujeito de direito e, portanto, tem ap-
tidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres.
São várias as expressões empregadas pelos autores, para identificar a pessoa jurídica,
dentre as quais merecem destaque (devido à incidência em provas) as seguintes: pessoas
Civis; pessoas morais; pessoas abstratas; pessoas místicas; pessoas fictícias ou, de acordo com
Teixeira de Freitas, ente de existência ideal”. Vá se familiarizando com elas, desde logo.
É importante ter em mente que, diferentemente da pessoa natural, a qual se pode ver, tocar,
sentir, a pessoa jurídica não tem existência no plano físico, corpóreo (não confunda o estabe-
lecimento com a pessoa jurídica ao qual ele pertence).
A partir dessas considerações preliminares, podemos extrair uma definição de pes-
soa jurídica.

Conceito
 Obs.: pessoa jurídica é a entidade à qual a lei reconhece personalidade jurídica própria, dis-
tinta dos instituidores, capacitando-a a ser sujeito de direitos e deveres.

Natureza Jurídica - Teorias Explicativas


Acerca da existência e da natureza jurídica da pessoa jurídica, foram formuladas algu-
mas teorias.
Corrente negativista: trata-se de uma corrente ultrapassada, que não foi adotada por nos-
so ordenamento jurídico.
Encabeçada por Brinz, Bekker, Planiol e Duiguit, a corrente negativista não reconhecia a
existência de uma pessoa jurídica, afirmando que se tratava de, no máximo, um condomínio ou
patrimônio coletivo, reunião de pessoas físicas, sem autonomia.
Corrente afirmativista: aceita e reconhece a existência da pessoa jurídica, como sujeito de
direitos. Dentro dessa corrente, há três teorias básicas:
Teoria da ficção (Savigny): para essa teoria, a pessoa jurídica é simplesmente um ente abs-
trato, fruto da técnica jurídica pura, sem existência social, que só existe porque o direito assim o
afirma. A pessoa jurídica carece de realidade e sua existência só se explica como ficção jurídica.
Teoria da realidade objetiva ou organicista-sociológica (Clóvis Beviláqua e Lacerda de Al-
meida): essa teoria se contrapõe à anterior, negando a pessoa jurídica como ficção, fruto da
técnica do direito e afirmando-a como um ente de existência social, um organismo vivo, com
atuação social. Para defensores dessa corrente, o direito não cria as pessoas jurídicas, mas se
limita a declarar sua existência, que decorre da evolução da vida em sociedade, que possibili-
tou a união de pessoas para a realização de objetivos comuns.
Teoria da realidade técnica (Francesco Ferrara e Hans Kelsen): mais moderada que as
duas anteriores, trabalha o direito e o social, ao afirmar que a pessoa jurídica é fruto do direito,

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sim, mas também é um ente social. Logo, a personalidade jurídica não é uma ficção, mas um
atributo que a lei defere a certos entes.
* Realidade: porque a existência continua distinta de seus membros e depende de forma-
lização em registro público.
* Técnica: porque admite ser desconsiderada, em determinadas hipóteses (que veremos
mais adiante).
* O Código Civil adota, no art. 45, a teoria da realidade técnica.

Classificação
Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.

Como você pode perceber, a Lei inicialmente classifica as pessoas jurídicas em dois gran-
des grupos: Pessoas Jurídicas de Direito Público e Pessoas Jurídicas de direito Privado.
A partir dessa primeira divisão, as pessoas jurídicas de direito público são subdivididas:
pessoas jurídicas de direito público interno (art. 41) e pessoas jurídicas de direito público ex-
terno (art. 42).
Chegamos ao art. 41, que apenas elenca as pessoas jurídicas de direito público interno:

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:


I – a União;
II – os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III – os Municípios;
IV – as autarquias, inclusive as associações públicas;
V – as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se te-
nha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas
normas deste Código.

Cabe aqui um esclarecimento acerca do parágrafo único do art. 41. Ao mencionar “pesso-
as jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado”, o legislador
se refere às entidades da Administração Pública indireta, sujeitas ao regime jurídico de direito
privado. Trata-se apenas de uma divergência de terminologia entre o Direito Civil, mais antigo,
e o direito Administrativo, mais novo, que adota uma terminologia mais moderna.
O art. 43, ao tratar da responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público interno,
praticamente reproduz o texto do art. 37, §6º, da Constituição da República.
Vamos conferir?

CC, Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos
seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra
os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

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CF/88, Art. 37, § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de ser-
viços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Trata-se da regra da responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas de direito público,


que a Constituição estende aos prestadores de serviços públicos, ainda que de direito privado.
Os agentes públicos, por sua vez, respondem subjetivamente (em caso de dolo ou culpa), em
ação regressiva.
Chegamos ao art. 42 do Código Civil e verificamos que estão ali elencadas as pessoas
jurídicas de direito público externo:

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pesso-
as que forem regidas pelo direito internacional público.

E o art. 44 traz o rol das pessoas jurídicas de direito privado (o inciso VI, inserido pela Lei
n. 12.441/2011, incluiu a EIRELI):

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I – as associações;
II – as sociedades;
III – as fundações.
IV – as organizações religiosas;
V – os partidos políticos.
VI – as empresas individuais de responsabilidade limitada.

 Obs.: o rol apresentado no art. 44 é exemplificativo, não constando dele os sindicatos, que
têm natureza jurídica de associações. Explico: As organizações religiosas, os partidos
políticos e os sindicatos são espécies de associações. O fato de o legislador ter omiti-
do o sindicato no rol do art. 44 não significa, de forma alguma, que ele não seja pessoa
jurídicas de direito privado.

Para consolidar esse entendimento, vejamos os Enunciados 142 144, da JDC:

142 – Art. 44: Os partidos políticos, os sindicatos e as associações religiosas possuem


natureza associativa, aplicando-se lhes o Código Civil.
144 – Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de Direito Privado, constante do art. 44,
incs. I a V, do Código Civil, não é exaustiva.

Seguindo em frente, é bom lembrar que das seis pessoas jurídicas de direito privado elen-
cadas no art. 44, duas podem ter fins lucrativos: Sociedades e Empresas Individuais de Res-
ponsabilidade Limitada (EIRELI), ambas estudadas no âmbito do Direito de Empresa.

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Por outro lado, as associações, fundações, partidos políticos e organizações religiosas não
podem ter finalidade lucrativa, o que não significa não poder auferir lucro. Como você sabe, a
proibição de ter fins lucrativos impõe que se houver lucro, esse deverá reverter para a própria
atividade.
Aliás, é aí que reside a principal diferença entre associação e sociedade: A associação,
regida pelo Direito Civil, é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos. enquanto
a sociedade, estudada pelo Direito Empresarial, é uma pessoa jurídica de direito privado que
pode ter finalidade lucrativa.
Veja o que diz o Enunciado 534, da JDC:

Enunciado n. 534
As associações podem desenvolver atividade econômica, desde que não haja finalidade
lucrativa.

Antes de avançar, vamos fazer um esquema da classificação das pessoas jurídicas, de


acordo com o Código Civil:

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O Surgimento da Pessoa Jurídica


Pressupostos de Existência

A criação de uma pessoa jurídica só poderá ocorrer se estiverem presentes os seguintes


pressupostos:
• Vontade humana criadora: trata-se da affectio societatis, ou seja, a intenção específica
dos sócios em constituir uma entidade com personalidade distinta da dos seus mem-
bros;
• Licitude de sua finalidade: a pessoa jurídica a ser criada deve ter objeto lícito, abrangen-
do em seu conteúdo a moralidade dos atos os objetivos perseguidos;
• Obediência aos requisitos impostos pela Lei: as pessoas jurídicas só existem porque a
lei assim permite.

Formas de Instituição

As pessoas jurídicas de direito público nascem da própria Constituição, ou da lei. No caso


das pessoas jurídicas de direito público interno (União, estados-membros, Distrito Federal e
Municípios), a criação decorre da descentralização política, produzida pela Constituição Fe-
deral. Por outro lado, autarquias e fundações autárquicas, pessoas jurídicas de direito público
integrantes da Administração Pública Indireta, têm sua criação decorrente de lei específica-
Publicada a Lei, nasce a autarquia.

E as pessoas jurídicas de direito privado, professora?

O momento do surgimento da personalidade das pessoas jurídicas de direito privado é o


registro do ato constitutivo, no registro competente.
Em alguns casos é necessária autorização prévia do Poder Público, como, por exemplo,
para a instituição das Empresas públicas, Sociedades de Economia Mista e fundações públi-
cas de direito privado que integram da Administração Pública Indireta. Essas entidades são
estudadas pelo direito administrativo. A nós interessa, nessa aula, a criação das pessoas jurí-
dicas de direito privado, regidas pelo Direito Civil.
Vejamos o que diz o art. 45, sobre o surgimento da personalidade jurídica:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato
constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do
Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

Portanto, o nascimento da pessoa jurídica decorre de um ato formal, devidamente regis-


trado. Lembre-se do que vimos sobre a teoria da realidade técnica, que fixa a existência da
pessoa jurídica mediante a formalização do registro público.
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Na hipótese de ser constatado defeito no ato constitutivo da pessoa jurídica, esse poderá
ser anulado, mas a lei estabelece o prazo decadencial de três anos, contados a partir da publi-
cação de sua inscrição no registro, como exposto (art. 45, p.u.).

Art. 45. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas
de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no
registro.

Registro - Requisitos Gerais


O art. 46 do Código Civil estabelece os requisitos gerais do registro, que são:

I – a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;


II – o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;
III – o modo como se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;
IV – se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;
V – se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;
VI – as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso.

Sendo atendidos esses requisitos, a pessoa jurídica surge, adquire personalidade e


autonomia.

Presentação
Após sua criação, a pessoa jurídica passa a atuar. Ela pode (e deve) abrir uma conta ban-
cária, celebrar contratos, praticar atos jurídicos, enfim, ter sua atuação no mundo jurídico.
Mas ela não é corpórea e, por isso, é necessário que exista uma pessoa natural que atue
por ela. A isso se denomina, tecnicamente, presentação, termo criado por Pontes de Miranda.
Por não poder atuar por si própria, a pessoa jurídica, como ente da criação da lei, deve
ser presentada por uma pessoa natural, exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou
extrajudiciais.
Cabe aqui um esclarecimento.
Quando estudamos a pessoa natural, vimos que os incapazes são representados por
seus genitores, tutores ou curadores. Pois bem, a pessoa jurídica não é incapaz, logo ela não
necessita representação. Ela é presentada pelo sócio, administrador, gerente etc. (CC, art.
47). Em regra, o próprio ato constitutivo indica essa pessoa, mas, em caso de omissão, a pre-
sentação será exercida pelos diretores. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as
decisões serão tomadas por maioria de votos, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo
diverso (CC, art. 48).

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Assim, enquanto a pessoa humana capaz expressa sua vontade de forma natural, a pes-
soa jurídica o faz através de órgãos que, ao contrário de representá-la, a fazem presente na
relação jurídica. Sua existência legal presume a existência desses órgãos de presentação,
que exprimem a vontade, que dirigem, e que resolvem conflitos de qualquer espécie.

DICA!
Para efeitos de prova objetiva, se a questão falar em repre-
sentação, marque correto, mas se mencionar presentação,
você saberá que esse é o termo mais técnico.

Ainda sobre o fenômeno da presentação, é importante saber quando os atos praticados


pelo presentante vinculam a pessoa jurídica.
Primeiramente você precisa conhecer dois termos jurídicos:
• Atos intra vires societatis: atos praticados dentro dos limites da pessoa jurídica;
• Atos ultra vires societatis: atos que extrapolam os limites da pessoa jurídica.

Pois bem, agora imagine que alguém vai ao Banco do Brasil e pede um empréstimo, em
nome da pessoa jurídica da qual é sócio.

Professora, esse contrato vincula a pessoa jurídica?

Depende. Por se tratar de ato ultra vires societatis, a responsabilização da pessoa jurídica
só ocorrerá se o contrato social ou estatuto trouxer autorização para que o presentante praticar
tal ato. Se o presentante extrapolar esses poderes, responderá pessoalmente pelo excesso.
Vamos conferir o art. 47, do Código Civil:

Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus pode-
res definidos no ato constitutivo.

Sobre a presentação, vale conferir o art. 75, do Código de Processo Civil.


Agora que você conhece o fenômeno da presentação e suas implicações jurídicas, pode-
mos avançar mais um pouco.

Pessoa jurídica sofre danos morais, professora?

Para responder a esse questionamento é preciso recordar o que foi estudado sobre os
direitos da personalidade, trabalhados pelo Código Civil nos arts. 11 a 21. Esses direitos, di-
retamente vinculados à dignidade da pessoa humana, são titularizados pela pessoa natural.

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Veja, nesse sentido, o Enunciado 286 da IV JDC:

Enunciado n. 286
Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana,
decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.

Então, a princípio a pessoa jurídica não titulariza direitos da personalidade. No entanto, há


uma proteção análoga dos direitos da personalidade. Essa é a razão pela qual aplica-se à pes-
soa jurídica a proteção dos direitos da personalidade, no que couber.
Nesse sentido, veja o que estabelece o art. 52 do Código Civil:

Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.

E, agora, vamos conferir o que diz a Súmula 227 do STJ:

Súmula n. 227
A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

Conclusão: a pessoa jurídica não é titular dos direitos da personalidade, que só podem ser
titularizados por pessoas naturais. No entanto, a lei confere às pessoas jurídicas uma proteção
análoga (elasticidade) e, diante disso, o entendimento é no sentido de que pessoas jurídicas
podem sofrer danos morais.

Pessoa jurídica de direito público pode sofrer danos morais, professora?

Como você sabe, as pessoas jurídicas de direito público são os entes federativos, as au-
tarquias e as fundações autárquicas. Em relação a essas pessoas, o STJ já se manifestou, no
Resp. 1.258.389/PB, no sentido de que a pessoa jurídica de direito público não tem direito à
indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou imagem.
Muito bem, meu querido/querida, agora que você já domina esse tema, podemos avançar
mais um pouco na nossa aula.

Desconsideração da Personalidade Jurídica


O reconhecimento da personalidade das pessoas jurídicas é um importante estímulo aos
empreendedores que pretendem exercer atividades econômicas, pois dá a segurança de que seus
patrimônios pessoais não serão confundidos com o patrimônio da pessoa jurídica criada. Ao mes-
mo tempo, isso interessa ao próprio Estado, na medida em que o surgimento de novas empresas
gera novos empregos, desenvolvimento e, principalmente, o aumento da arrecadação tributária.

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No entanto, não pode ser admitida a utilização da pessoa jurídica como escudo, para es-
conder o patrimônio pessoal de empresários que atuam de forma inescrupulosa, enganando
seus credores. É nesse cenário que a personalidade jurídica deve ser desconsiderada, a fim de
se atingir o patrimônio pessoal dos sócios.
A primeira vez que um juiz aplicou a desconsideração da personalidade jurídica foi em
1897, na Inglaterra, no julgamento do célebre “Caso Salomon X Salomon & Co”, cuja funda-
mentação orientou as decisões judiciais proferidas no Reino Unido durante todo o século XX e
ainda hoje repercute, em citações e discussões judiciais e doutrinárias.
A história desse julgado é a seguinte: Aron Salomon era dono de uma pequena empresa,
que produzia botas de couro. Como a legislação inglesa vigente na época exigia, para a consti-
tuição de sociedade de responsabilidade limitada, a participação de, no mínimo, sete pessoas
naturais, Salomon fez o seguinte, criou a empresa “Aron Salomon & Co”, da qual eram sócios
ele, seus cinco filhos e sua esposa.
Salomon então emprestou para empresa £20.000 (vinte mil libras), que formariam o capital
social, a ser dividido em vinte mil ações, cada qual no valor de £1 (1 libra). Em contrapartida, a
sociedade entregou a Salomon uma promessa de pagamento preferencial , ficando ele como
credor primário, no caso de insolvência.
Pois bem, a empresa estava em plena atividade, tendo como principal comprador das bo-
tas fabricadas o Governo Britânico. Só que passados alguns anos surgiu um fato que impactou
muito os resultados da fábrica: O governo resolveu distribuir os pedidos entre vários forne-
cedores. A diminuição drástica das vendas levou negócio a acumular prejuízos, até se tornar
insolvente.
Abriu-se um processo judicial e foi designado um administrador judicial, cuja função era
realizar a liquidação dos bens da empresa e o pagamento dos credores. Mas, para surpresa
geral, ficou constatado que nenhum deles iria receber seus créditos, já que os bens da empresa
não eram suficientes para solver todas as dívidas, já que havia um credor preferencial: o pró-
prio Salomon.
O processo foi encaminhado à Corte Britânica que, ao analisar o caso, deixou claro que o
Companies Act, de 1862 (a legislação vigente) tinha sido usado como instrumento para fraudar
os credores. Assim, os juízes da Corte de Apelação decidiram autorizar a desconsideração da
pessoa jurídica e buscar os bens pessoais do Sr. Salomon para saldar as dívidas com credores,
sob o fundamento de abuso da lei.
Salomon interpôs recurso contra a decisão, dirigido à House of Lordes que, em 1897, refor-
mou o julgamento da 1ª instância, considerando que a pessoa jurídica “Salomon & Cia” não se
confundia com a pessoa natural.
Embora Salomon tenha saído vitorioso desse julgamento, o caso inspirou várias discus-
sões entre os juristas, acerca da possibilidade de desconsideração da pessoa jurídica.
A relevância desse caso é tão grande, que ainda hoje ele é usado como precedente, servin-
do de base para a desconsideração da personalidade jurídica.

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No Brasil, o tema foi introduzido por Rubens Requião, em 1964. Inspirado pela teoria da
disregard of legal entity, criada pela doutrina americana, Requião desenvolveu sua Teoria da
Desconsideração da Personalidade Jurídica, cuja ideia central é evitar que o princípio da se-
paração patrimonial da pessoa jurídica seja usado como escudo, para ocultar sócios, abrigar
fraudes ou permitir que os membros de uma sociedade se eximam de responsabilidades, pre-
judicando os terceiros de boa-fé. Ao constatar essas irregularidades, o juiz poderá determinar
que se busque no patrimônio dos sócios “a satisfação da obrigação que não pode ser atendida
pelo patrimônio da empresa”.
O autor chamava a atenção para o fato de que, embora as sociedades sejam constituídas
para exercer uma atividade econômica específica, algumas vezes o objeto social não é cum-
prido pelos sócios ou administradores, que se comportam de forma fraudulenta e ilícita, preju-
dicando a autonomia patrimonial determinada pela personalidade jurídica. Segundo Requião,
quando isso acontece o juiz pode e deve desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade.
Mas, tenha sempre em mente que a desconsideração da personalidade jurídica é uma situ-
ação excepcional e eventual de afastamento do princípio da separação patrimonial da socie-
dade e seus sócios, pois trata-se de medida que permite ao prejudicado dirigir sua pretensão
diretamente contra o patrimônio dos sócios, que responderão com seus bens pessoais pelos
seus atos abusivos praticados em nome da pessoa jurídica.
A primeira lei brasileira a tratar do tema foi o Código de Defesa do Consumidor, cujo art. 28
estabelece que “o juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em
detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou
ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efe-
tivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica, provocados por má administração.
Em relação ao momento processual adequado à decretação da desconsideração da perso-
nalidade jurídica, a princípio seria a fase de execução, de forma incidental.
Para reforçar esse entendimento, o CPC determina que a desconsideração da personali-
dade jurídica se dará por meio de incidente, cabível em todas as fases do processo de conhe-
cimento, bem como no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial (art. 134, caput).
Essa tese se fundamenta no art. 790, II, do CPC, que estabelece que os bens do sócio ficam
sujeitos à execução, nos termos da lei. E o art. 795, caput, determina que os bens dos sócios
não respondem pelas dívidas da sociedade, salvo nos casos autorizados pela legislação.
O Código Civil trata da desconsideração da personalidade jurídica no art. 50, nos seguin-
tes termos:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações

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de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa


jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei n. 13.874, de 2019)

Recentemente, a Lei n. 13.874/2019 incluiu cinco parágrafos no art. 50 e, portanto, vale a


pena fazer uma leitura cuidadosa desses dispositivos, pois a possibilidade de serem cobrados
em prova é grande.
O § 1º do art. 50 explica o que se entende por desvio de finalidade, como componente do
abuso da personalidade jurídica: utilizar a pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e
para a prática de atos ilícitos, de qualquer natureza.
Veja:

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com
o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. (Incluído pela
Lei n. 13.874, de 2019)

Ainda sobre o desvio de finalidade, o §5º do art. 50 informa que esse não se configura
pela mera expansão ou alteração da finalidade original da atividade econômica específica da
pessoa jurídica.

§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da


atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019)

O § 2º do art. 50 trata do segundo componente do abuso da personalidade jurídica: a


confusão patrimonial, que se caracteriza a pela ausência de separação de fato entre os patri-
mônios da pessoa jurídica e dos sócios. Os incisos I e II apresentam hipóteses de confusão
patrimonial. Trata-se de rol exemplificativo, nos termos do inciso III.
Vamos conferir:

§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios,


caracterizada por: (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019)
I – cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-ver-
sa; (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019)
II – transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor pro-
porcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019)
III – outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019)

E o § 3º do art. 50 estabelece que o disposto nos § § 2º e 3º - desvio de finalidade e confu-


são patrimonial – também podem ficar configurados pela extensão das obrigações de sócios
e administradores à pessoa jurídica.
Muito relevante é o § 4º do art. 50, segundo o qual a mera existência de grupo econômico,
sem a presença dos componentes do abuso de personalidade jurídica (desvio de finalidade e
confusão patrimonial), não autoriza a desconsideração da personalidade jurídica.

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§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput
deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei
n. 13.874, de 2019)

O principal efeito da desconsideração da personalidade jurídica é impedir a separação pa-


trimonial entre sociedade e seus sócios, abrindo a possibilidade de ser atingido o patrimônio
pessoal dos sócios, em razão das dívidas da sociedade. Ou seja, por esse instituto é possível
a responsabilização pessoal e direta dos sócios, pelas dívidas da sociedade.
Não há limite de valor para a responsabilização pessoal e direta de sócios ou administra-
dores (nesse sentido, REsp-STJ 1.169.175), o que significa dizer que a desconsideração da
personalidade jurídica poderá levar à penhora de todo o patrimônio pessoal desses, exceto o
bem de família, protegido por lei (art. 1º da Lei n. 8.009/ 90):

O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por
qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses
previstas nesta lei (grifo nosso).

Não há qualquer impedimento à penhora do estabelecimento, já que esse não é bem de


família. Nesse sentido, a Súmula 451 do STJ:

Súmula n. 451 do STJ


É legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial”.

Vamos lembrar que a desconsideração da personalidade jurídica não se aplica ao em-


presário individual, já que a ele não se aplicam a limitação de responsabilidade e à separação
patrimonial. Os bens pessoais do empresário individual, salvo o bem de família, respondem
pelas dívidas decorrentes da sua atividade empresarial.
Cabe ressaltar que a desconsideração da personalidade jurídica não é a sua anulação, pois
essa leva à extinção da personalidade jurídica, enquanto a desconsideração apenas suspende,
momentaneamente, os efeitos de separação e limitação patrimonial, sem afetar a existência
da pessoa jurídica.
Compete ao juiz, a requerimento da parte interessada ou do Ministério Público, determinar
a desconsideração da personalidade jurídica, se estiver convencido do abuso da personalida-
de jurídica (CC, art. 50), por desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
É importante saber que não só as sociedades, mas qualquer tipo de pessoa jurídica, de di-
reito público ou privado, poderá ser atingida pela desconsideração da personalidade jurídica e
seus efeitos poderão alcançar tanto o patrimônio dos sócios quanto o do administrador da so-
ciedade, ainda que esse seja administrador contratado, não pertencendo ao quadro societário.
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Atenção! O instituto da desconsideração da personalidade jurídica poderá adotado se ficar


configurado o abuso da personalidade jurídica por administrador de associação, fundação,
partido político ou entidade religiosa
Vale conferir o Enunciado 284, da JDC:

284- As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins não econômi-
cos estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica.

As Pessoas Jurídicas de Direito Privado Tratadas pelo Direito Civil


Como sabemos, a Constituição Federal consagrou, no art. 5º, XVI, o princípio da liberdade
de associação, condicionando o exercício do direito apenas à licitude dos fins e vedando asso-
ciações de natureza paramilitar.
A partir dessa garantia constitucional, nosso direito positivo apresenta vários modelos de
pessoas jurídicas, cada qual destinado a um tipo de interesse. Assim, se um grupo de advoga-
dos resolver se unir e manter entre eles uma organização, para o exercício da advocacia, a ca-
tegoria de pessoa jurídica que se encaixa nesse propósito é a sociedade simples, prevista nos
arts. 997 e seguintes do Código Civil, estudados pelo direito empresarial. Mas, se a hipótese
for de um grupo de amigos que decide pela formação de uma entidade recreativa, para o lazer
próprio e de suas famílias, a escolha deverá recair sobre uma associação, cujo regramento se
encontra nos arts. 53 a 61, do Código Civil.
Pode ainda ocorrer de alguém, movido por um ideal filantrópico, optar por dispor de parte
de seu patrimônio, para criar uma entidade assistencial e, nesse caso, o modelo legal é o da
fundação, cuja regência se encontra entre os arts. 62 a 69, do Código Civil.
Imaginemos ainda que um grupo de empresários se reúna para a realização de um empre-
endimento, com fins lucrativos. A opção deverá ser a criação de uma sociedade empresária
e, dentro dessa categoria, o tipo que melhor se adapte aos interesses do grupo, dentre as mo-
dalidades previstas entre os arts. 1.039 a 1.141, do Código Civil (estudados pela disciplina do
direito de empresa).
Vale lembrar que essas pessoas jurídicas de direito privado não são restritas à iniciativa
privada, pois o Poder Público também pode, atendendo a critérios de conveniência e oportu-
nidade, criar empresas públicas e sociedades de economia mista, cuja configuração jurídica
dependerá da lei que autorizar sua instituição. Essas entidades, previstas no inciso XIX do art.
37, da Constituição Federal, são estudadas dentro do programa de Direito Administrativo.
A nós interessa, nesse momento, as associações, regidas pelos arts. 53 a 61 e as funda-
ções, cujo regramento se encontra nos arts. 62 a 69, do Código Civil. Vale lembrar que as orga-
nizações religiosas, os partidos políticos e os sindicatos são espécies de associações.
As demais categorias serão estudadas dentro do programa de suas disciplinas específicas.
Então, vamos lá!

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Associação
De acordo com o art. 53, do Código Civil, “constituem-se as associações pela união de pes-
soas que se organizem para fins não econômicos”.
Como já foi dito, nessa aula, a expressão “fins não econômicos” deve ser lida no sentido
de “fins não lucrativos”, pois o termo econômico é genérico, possuindo diferentes significados
(pode indicar uma atividade produtiva ou uma atividade lucrativa). Mandou mal o legislador,
mas essa impropriedade já foi corrigida ou, pelo menos, esclarecida pela doutrina e jurispru-
dência. Lembre-se do Enunciado 534, da VI JDC, já mencionado em momento anterior.
Por serem formadas por pessoas, assim como as sociedades, as associações são en-
tendidas como uma espécie de corporação. No entanto, não há, entre associados, direitos e
obrigações recíprocos, já que não há intuito de lucro (art. 53, parágrafo único, do CC). Mas há
como confundir as associações com as sociedades, já que quando não há fim lucrativo tem-se
a associação, enquanto as sociedades visam sempre a um fim econômico ou lucrativo, a deve
ser repartido entre os sócios.
Também não se pode confundir as associações com as fundações, pois essas são um con-
junto de bens, enquanto as aquelas são formadas por um conjunto de pessoas (corporações).
A associação precisa ser registrada, pois é esse ato que confere a ela aptidão para ser
sujeito de direitos e deveres na ordem civil. A partir do registro a associação passa a ter iden-
tidade própria, distinta dos seus membros (teoria da realidade orgânica, adotada pelo Código
Civil de 1916, no art. 20).
O art. 54 do Código Civil apresenta um rol de requisitos obrigatórios na elaboração do
estatuto da associação, cuja falta poderá acarretar sua anulação. Assim, deverá constar
do estatuto:
• a) a denominação, os fins e a sede da associação;
• b) os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
• c) os direitos e deveres dos associados;
• d) as fontes de recursos para sua manutenção;
• e) o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;
• f) as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução;
• g) a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.

O art. 55 determina que os associados deverão ter iguais direitos, mas abre a possibilidade
de o estatuto criar, eventualmente, categorias especiais. Um exemplo seria um clube recreativo
criar, por deliberação estatutária, as categorias de associado contribuinte (sem direito a deci-
são ou voto) e associado proprietário (com poderes diretivos e direito ao voto).
O caput do art. 56 estabelece que a qualidade de associado é intransmissível, pelo fato
de a admissão na associação ser um ato personalíssimo. No entanto, o estatuto poderá trazer
disposição em sentido contrário, o que significa que o referido dispositivo legal é uma norma

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dispositiva, ou de ordem privada. Tomemos como exemplo os estatutos de clubes recreativos


que possibilitam a transmissão, inclusive onerosa, da quota ou joia.
No entanto, o parágrafo único do art. 56, confirmando a tese de que a admissão de asso-
ciado é ato personalíssimo, determina que a transferência de quota ou fração ideal do patrimô-
nio da associação não importará, automaticamente, a atribuição da qualidade de associado ao
adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa no estatuto.
A exclusão de associado só será possível se houver justa causa, “assim reconhecida em
procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos do previsto no estatuto”,
conforme determina o art. 57, caput, com redação introduzida pela Lei n. 11.127/2005.
O art. 58, acolhendo o princípio da eticidade e valorização da boa-fé, determina que “nenhum
associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente
conferido, a não ser nos casos e formas previstos na lei ou no estatuto”. Fica evidente a intenção
do legislador de prestigiar os direitos inerentes à dignidade da pessoa humana, sendo esse dis-
positivo interpretado pela doutrina como manifestação do princípio constitucional da legalidade,
pelo qual ninguém pode ser compelido a agir senão em virtude de lei (art. 5º, II, da CF/1988).
O art. 59, com a redação alterada pela Lei n. 11.127/2005, fixa a competência privativa da
assembleia geral para destituir os administradores e alterar os estatutos. Para a formalização
desses atos é necessária a deliberação de assembleia especialmente convocada para este
fim, cujo quórum será estabelecido no estatuto, bem como os critérios para eleição dos ad-
ministradores. Fique atento, pois com a alteração desse dispositivo, apenas a destituição dos
administradores e alteração dos estatutos é da competência privativa da assembleia-geral.
Quanto às demais competências, caberá ao próprio estatuto prevê-las.
Também foi alterado pela Lei n. 11.127/2005 o art. 60 do CC, cuja nova redação é a se-
guinte: “A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a um
quinto dos associados o direito de promovê-la”. Justifica-se essa nova redação pelo fato de que
as questões mais importantes quanto às associações passaram a ser da competência dos
órgãos deliberativos (conselho de administração, conselho fiscal, conselho deliberativo ou ou-
tros criados pelo estatuto geral). Com isso, não há mais a antiga exigência de convocação da
assembleia-geral para discutir questões atinentes à pessoa jurídica, que não constam do art.
59 do CC, o que diminui muito a burocracia.
Para completar esse tópico, é importante conhecer as regras legais sobre a dissolução das
associações.
Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido será destinado à en-
tidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos
associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes. Por
cláusula do estatuto ou, em caso de omissão, por deliberação dos associados, poderão esses,
antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado
o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação. Se não
existir no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território em que a associação tiver
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sede, instituição nas condições indicadas, o que remanescer do patrimônio se devolverá à Fa-
zenda do Estado, do Distrito Federal ou da União (art. 61, §§ 1º e 2º).
Caso uma associação seja dissolvida, o seu patrimônio líquido poderá ser destinado a ou-
tras entidades de fins não econômicos, designadas no estatuto, ou sendo omisso o estatuto
os bens podem ser arrecadados pela Fazenda Pública.
Na V Jornada de Direito Civil foi aprovado o Enunciado 407, prevendo a prevalência da von-
tade dos associados:

407 – Art. 61. A obrigatoriedade de destinação do patrimônio líquido remanescente da


associação a instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes,
em face da omissão do estatuto, possui caráter subsidiário, devendo prevalecer a von-
tade dos associados, desde que seja contemplada entidade que persiga fins não econô-
micos.

Fundações
Segundo Maria Helena Diniz, termo fundação tem origem no latim fundatio, que indica a
ação de fundar, criar ou fazer surgir.
A fundação é um conjunto de bens, separados pelo dono do patrimônio – o instituidor- e
destinados a um fim específico. Esse conjunto de bens adquire personalidade jurídica median-
te o registro de seu ato constitutivo, no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
Ao direito civil interessam apenas as fundações particulares, pois as fundações públicas
possuem natureza autárquica e são objeto de estudo do direito administrativo.
O art. 62, do CC, determina que a criação da fundação se faça por meio de escritura públi-
ca ou testamento do instituidor. Para sua instituição é necessária a presença dos seguintes
elementos:
• a) afetação de bens livres;
• b) especificação dos fins;
• c) previsão do modo de administrá-las;
• d) elaboração de estatutos com base em seus objetivos e submetidos à apreciação do
Ministério Público, que os fiscalizará.

Se os bens destinados à fundação forem insuficientes para sua constituição, serão eles
incorporados por outra fundação, que desempenhe atividade semelhante, salvo em caso de
previsão em contrário, pelo instituidor (CC, art. 63).
Pelo que determina o parágrafo único do art. 62, a fundação somente poderá constituir-se
para os seguintes fins:

I – assistência social;
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;

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III – educação;
IV – saúde;
V – segurança alimentar e nutricional;
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento susten-
tável;
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas
de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos;
VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos;
IX – atividades religiosas.

O art. 64 estabelece que “constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o insti-
tuidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e,
se não o fizer, serão registrados, em nome dela, por mandado judicial”. Compete ao Ministério
Público, que tem a incumbência de zelar pelas fundações, requerer esse mandado judicial.
E, por falar nisso, é importante destacar que, devido ao interesse social que as fundações
guardam, essas serão fiscalizadas e supervisionadas pelo Ministério Público, por meio da sua
curadoria de fundações, órgão supervisor, que tem a incumbência de fiscalizar e zelar pela
constituição e funcionamento dessas entidades. Assim, os administradores têm o dever de
prestar contas de seus atos ao MP. A atuação cabe, em regra, ao Ministério Público Estadual,
salvo em duas hipóteses: no caso de fundações que funcionem no DF, a incumbência fiscaliza-
tória é do MP do Distrito Federal e na hipótese de a fundação ter funcionamento em diferentes
unidades da federação ao mesmo tempo, ou estender suas atividades por mais de um estado
ou território, caberá a intervenção conjunta do MP de todas as entidades envolvidas (CC, art.
66, “caput” e §§ 1º e 2º).
Para a alteração das normas estatutárias da fundação é necessária a deliberação de dois
terços das pessoas responsáveis pela sua gerência, desde que tal alteração não contrarie ou
desvirtue a sua finalidade e que seja aprovada pelo Ministério Público (CC, art. 67, I a III,). Even-
tualmente, na hipótese de não haver aprovação unânime, os vencedores quanto à alteração
deverão requerer ao Ministério Público que promova a cientificação da minoria para, querendo,
oferece impugnações, que deverão ser apresentadas no prazo de 10 dias, sob pena de deca-
dência (CC, art. 68).
É importante ressaltar que não cabe ao Ministério Público qualquer decisão, devendo as
nulidades ser comunicadas ao Poder Judiciário, que decidirá, no caso concreto.
E, para finalizar o estudo das fundações, devemos saber que se a finalidade se tornar ilícita,
impossível ou imoral, ou se a fundação não atender às finalidades sociais a que se destina,
ou ainda se o prazo de sua existência expirar, poderá ocorrer a sua dissolução administrativa,
a ser efetivada por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público. Nesses casos, os bens
serão destinados a outra fundação que desempenhe atividade semelhante, salvo previsão de
regra em contrário quanto ao destino dos bens, no seu estatuto social (CC, art. 69).
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Com isso, concluímos o estudo das pessoas jurídicas e podemos avançar para o próximo
tema da nossa aula:

Domicílio
O Código Civil, nos arts. 70 a 78, estabelece regras sobre o domicílio da pessoa natural e da
pessoa jurídica. Em sentido amplo, o domicílio pode ser definido como o local em que a pessoa
pode ser objeto de direitos e deveres.
Trata-se de um tema de muita relevância, pois o espaço físico onde a pessoa habita, com
ânimo definitivo, é a sua sede jurídica, onde ela se presume presente, para efeitos de direito e
onde normalmente pratica seus atos e negócios jurídicos.

Domicílio da Pessoa Natural


O conceito legal de domicílio se encontra no art. 70 do Código Civil: “o lugar onde a pes-
soa estabelece sua residência com ânimo definitivo”. Dessa conceituação se extraem dois
elementos:
• Elemento objetivo: a fixação da pessoa em dado lugar;
• Elemento subjetivo: a intenção de ali permanecer, com ânimo definitivo.

Perceba que a concepção de domicílio está relacionada com a noção de moradia, residên-
cia. Trata-se do local onde a pessoa se situa, permanecendo a maior parte do tempo, com o
ânimo de definitividade.
Mas o nosso ordenamento jurídico admite a pluralidade de domicílios. É que eventualmen-
te, a pessoa natural pode possuir dois ou mais locais de residência, onde vive, alternadamente
e, nesse caso, qualquer um desses locais será considerado seu domicílio. Vamos tomar o
exemplo de um Senador de São Paulo. Essa pessoa passa a metade do tempo em Brasília,
sede do Senado, e a outra metade em São Paulo, onde mantém residência e, sendo assim,
possui dois domicílios: São Paulo e Brasília.
Aproveitando a “deixa”, vale ressaltar que uma pessoa pode ter domicílio político diferente
do domicílio civil. O primeiro, exclusivo das pessoas naturais, é o lugar onde o cidadão exercita
seus direitos políticos, especialmente o de votar e ser votado, enquanto o segundo, comum às
duas categorias de pessoas, corresponde ao local onde se praticam direitos e obrigações, na
ordem privada.
Vamos, agora, conferir o art. 71, do Código Civil, que traz a previsão da pluralidade de
domicílios:

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, conside-
rar-se-á domicílio seu qualquer delas.

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Mas o direito brasileiro também admite a o domicílio ocasional, que fica caracterizada
quando a pessoa não tem residência habitual, como ocorre com os ciganos, circenses etc.
Para essas pessoas, que permanentemente trocam de lugar, a lei considera por domicílio o
lugar onde forem encontradas, conforme estabelece o art. 73:

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for
encontrada.

A pluralidade de domicílio também foi reconhecida no parágrafo único do art. 72, que prevê
o domicílio profissional. Assim, se a pessoa exercer profissão em lugares diversos, cada um
deles constituirá domicílio, para as relações que lhe corresponderem.

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o
lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá
domicílio para as relações que lhe corresponderem.

O domicílio é mutável, na medida em que a pessoa pode trocar de residência, com ânimo
de se transferir para outra localidade, em caráter definitivo. Mas o ordenamento jurídico não
se limitou a condicionar a troca de residência à presença do elemento subjetivo – intenção de
mudar – indo além, ao indicar, como elemento probatório, as comunicações às municipalida-
des de ambos os lugares, quanto à mudança. Essas seriam as comunicações às empresas for-
necedoras de água, luz, gás, linha telefônica, aos órgãos de classe, à Secretaria das Fazendas
Públicas do Município, Estado e União. Sabemos que, na prática, ninguém sai comunicando
aos órgãos públicos a mudança e a prova pode ser feita por meio de uma conta de luz, contrato
com concessionária de telefonia, internet, mudança de domicílio eleitoral etc.
As regras sobre a mudança de domicílio estão no art. 74:

Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos
lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as
circunstâncias que a acompanharem.

Domicílio Necessário

Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso. O


art. 76, ao especificar os casos de domicílio necessário, traz as seguintes regras:
• O domicílio do incapaz é legal e será o de seus representantes;
• O domicílio do servidor público é o local onde exerce suas funções por investidura efeti-
va. Logo, tem por domicílio o lugar onde exerce sua função permanente;

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• O domicílio do militar do Exército é o lugar onde ele servir, e o do da Marinha ou da


Aeronáutica, em serviço ativo, a sede do comando a que se encontram imediatamente
subordinados. Com relação à Marinha Mercante, o domicílio é o lugar onde estiver ma-
triculado o navio;
• O domicílio do preso é o lugar onde cumprir a sentença;
• O agente diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade
sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Fe-
deral ou no último ponto do território brasileiro onde esteve.

Domicílio Contratual ou de Eleição

É o domicílio estabelecido pelas partes contratantes, que especificam onde se cumprirão


os direitos e os deveres resultantes do contrato. A eleição do domicílio deve ser analisada de
acordo com o princípio da função social e da boa-fé objetiva.

Domicílio da Pessoa Jurídica


A pessoa jurídica, assim como a pessoa natural, também tem domicílio, que é a sua sede
jurídica, local em que responderá pelos direitos e deveres assumidos.
O regramento do domicílio da pessoa jurídica pode ser extraído do art. 75 do CC. O domi-
cílio da União é o Distrito Federal, mas para a definição do foro competente para o julgamento
das causas em que deva figurar como parte, a regra é que a União deverá promover as ações
na capital do Estado ou Território em que tiver domicílio a outra parte e será demandada, à es-
colha do autor, no Distrito Federal, na capital do Estado em que ocorreu o ato que deu origem
à demanda, ou em que se situe o bem envolvido com a lide.
Os domicílios dos Estados e Territórios são as respectivas capitais, enquanto os Municí-
pios têm domicílio no lugar onde funciona a sua administração.
Já a pessoa jurídica de direito privado tem domicílio no lugar onde funcionam as respec-
tivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial nos seus estatutos.
Admite-se a pluralidade de domicílios das pessoas jurídicas, assim como ocorre com a pessoa
natural. Isso será possível desde que a pessoa jurídica de direito privado, como no caso de
uma empresa, tenha diversos estabelecimentos, como as agências ou escritórios de represen-
tação ou administração (art. 75, § 1º, do CC).
Por fim, “se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicí-
lio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o
lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder” (art. 75, § 2º, do CC).
Muito bem, meu caro/minha cara, essas são as disposições legais acerca do domicílio.
Trata-se de um ponto bem tranquilo, pois as questões de prova não fogem muito das dis-
posições legais.
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Lisiane Brito

Agora, teste seus conhecimentos, resolvendo as questões propostas e, ao final, confira o


gabarito e os respectivos comentários.
Foi uma alegria compartilhar com você esses momentos e te aguardo na próxima aula.
Um abraço e até lá!

Lisiane

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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (INÉDITA/2021) No que se refere às pessoas jurídicas, julgue o item que se segue:
A qualidade de associado é intransferível, se o estatuto não dispuser em contrário.

Com fulcro no art. 56 do Código Civil:

Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário.


Certo.

002. (INÉDITA/2021) No que se refere às pessoas jurídicas, julgue o item que se segue:
Constitui desvio de finalidade a alteração original da atividade econômica da Associação

Com fulcro no Código Civil, art. 50, §5º, do incluído pela Lei n. 13.874, de 2019:

Art. 50, § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original
da atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019)
Errado.

003. (INÉDITA/2021) No que se refere às pessoas jurídicas, julgue o item que se segue:
Nas associações, é vedada a instituição de categorias com vantagens especais.

Com fulcro no Código Civil, art. 55:

Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com
vantagens especiais.
Errado.

004. (INÉDITA/2021) No que se refere às pessoas jurídicas, julgue o item que se segue:
Compete privativamente à assembleia geral deliberar sobre a exclusão de associado.

Com fulcro no Código Civil, art. 57:

Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em pro-
cedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.
Errado.

005. (INÉDITA/2021) No que se refere às pessoas jurídicas, julgue o item que se segue:
É dever do associado cumprir fielmente todos os direitos e obrigações recíprocos previstos no
contrato social.

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Com fulcro no Código Civil, art. 53, parágrafo único:

Art. 53, Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
Errado.

006. (INÉDITA/2021) Acerca do domicílio, julgue o item que se segue, à luz do Código Ci-
vil de 2002:
Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar. A prova
da intenção depende do que a pessoa declarar às municipalidades do lugar que deixa e do lo-
cal para onde vai ou, se não fizer tais declarações, da própria mudança, com as circunstâncias
que a acompanharem.

Com fulcro no art. 74 do Código Civil:

Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos
lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as
circunstâncias que a acompanharem.
Certo.

007. (INÉDITA/2021) Acerca do domicílio, julgue o item que se segue, à luz do Código Ci-
vil de 2002:
O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem de-
signar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no
último ponto do território brasileiro onde foi domiciliado.

Com fulcro no art. 77 do Código Civil:

Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem
designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último
ponto do território brasileiro onde o teve.
Certo.

008. (INÉDITA/2021) Acerca do domicílio, julgue o item que se segue, à luz do Código Ci-
vil de 2002:
O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo defi-
nitivo. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, con-
siderar-se-á domicílio seu qualquer delas.

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Com fulcro nos arts. 70 e 71 do Código Civil:

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, conside-
rar-se-á domicílio seu qualquer delas.
Certo.

009. (INÉDITA/2021) Acerca do domicílio, julgue o item que se segue, à luz do Código Ci-
vil de 2002:
A regra é a liberdade de escolha do próprio domicílio e, portanto, as hipóteses de domicílio
necessário se restringem ao incapaz, ao servidor público e ao militar.

Com fulcro no art. 76 do Código Civil:

Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Errado.

010. (INÉDITA/2021) Acerca do domicílio, julgue o item que se segue, à luz do Código Ci-
vil de 2002:
Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for
encontrada.

Com fulcro no art. 73 do Código Civil:

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for
encontrada.
Certo.

011. (VUNESP/2019/PREFEITURA DE DOIS CÓRREGOS-SP/FISCAL DE TRIBUTOS) São


pessoas jurídicas de direito privado interno:
a) as associações estudantis, os partidos políticos, as organizações internacionais e as funda-
ções públicas.
b) as organizações religiosas, as associações públicas, as sociedades empresárias e as
autarquias.
c) as associações, as fundações, as organizações religiosas e os partidos políticos.
d) as associações, os consórcios públicos, as organizações religiosas e as sociedades.
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e) as empresas públicas, as sociedades de economia mista, as organizações religiosas e as


fundações autárquicas.

Trata-se de uma questão bem fácil, que pega apenas pela atenção.
Letra c.

012. (CESPE/2019/TJ-BA/CONCILIADOR) Com base nas disposições do Código Civil refe-


rentes a pessoas jurídicas, assinale a opção correta.
a) As sociedades são pessoas jurídicas de direito privado criadas por meio de lei.
b) As fundações são pessoas jurídicas de direito privado cuja criação é livre e independe
de registro.
c) Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito público criadas por meio de lei.
d) As associações são pessoas jurídicas de direito privado cuja existência legal depende de
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro.
e) As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito público cuja criação é condicio-
nada ao reconhecimento de sua existência pelo poder público.

a) Errada. As sociedades passam a existir com a inscrição do ato constitutivo no registro com-
petente.
b) Errada. As fundações de direito privado são instituídas por meio de escritura pública ou
testamento.
c) Errada. Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado.
e) Errada. As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito privado.
Letra d.

013. (CESPE/2020/MPE-CE/ANALISTA MINISTERIAL/DIREITO) Acerca do tratamento con-


ferido às pessoas jurídicas pelo Código Civil, julgue o item a seguir.
Verificado abuso de personalidade jurídica por confusão patrimonial ou desvio de finalidade,
o juiz pode determinar a desconsideração da personalidade a requerimento da parte ou do
Ministério Público.

Com fulcro no art. 50 do Código Civil (fique atento à nova redação, dada pela Lei n. 13.874/2019).

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe cou-
ber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de

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obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa ju-
rídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei n. 13.874, de 2019).
Certo.

014. (CESPE/2020/MPE-CE/ANALISTA MINISTERIAL/DIREITO) Acerca do tratamento con-


ferido às pessoas jurídicas pelo Código Civil, julgue o item a seguir.
Caso o patrimônio reunido para a formação de uma fundação para preservação do meio am-
biente não seja suficiente, os bens a ela destinados serão incorporados em outra fundação que
tenha a mesma ou semelhante finalidade, se de outro modo não dispuser o instituidor.

Está correta a assertiva, com fulcro no art. 63 do Código Civil:

Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro
modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou
semelhante.
Certo.

015. (CESPE/2020/MPE-CE/ANALISTA MINISTERIAL/DIREITO) Acerca do tratamento con-


ferido às pessoas jurídicas pelo Código Civil, julgue o item a seguir.
A anulação da constituição de associação privada em virtude de defeito em seu ato constituti-
vo pode ocorrer a qualquer tempo.

A lei prevê um prazo decadencial de três anos para a anulação. Confira o art. 45, p.u., do Có-
digo Civil:

Art. 45, Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas
de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no
registro.
Errado.

016. (CESPE/2020/TJ-PA/AUXILIAR JUDICIÁRIO) Paulo é médico e vive com sua esposa e seu fi-
lho, menor de idade, em Juiz de Fora – MG. Duas vezes por semana, ele atende em um hospital loca-
lizado na capital do Rio de Janeiro e fica instalado em um pequeno apartamento que mantém aluga-
do para os dias em que trabalha naquela localidade. Todos os anos, a família passa férias em uma
casa de propriedade de Paulo localizada em Petrópolis – RJ. Certo dia, o casal sofreu um acidente
de carro e ambos ficaram em coma em decorrência do acidente. Em razão disso, os avós maternos
do filho do casal, que moram em Angra dos Reis – RJ, foram nomeados como tutores do menor.
Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta, a respeito de domicílio.

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a) Antes da ocorrência do acidente, apenas a cidade de Juiz de Fora – MG poderia ser consi-
derada domicílio de Paulo.
b) Após a nomeação dos avós como tutores do filho de Paulo, o domicílio do menor passou a
ser Angra dos Reis – RJ.
c) Antes da ocorrência do acidente, as cidades de Juiz de Fora – MG e Petrópolis – RJ pode-
riam ser consideradas domicílio da esposa de Paulo.
d) Antes da ocorrência do acidente, a propriedade localizada em Petrópolis – RJ poderia ser
considerada domicílio do casal.
e) A cidade do Rio de Janeiro não poderia ser considerada domicílio de Paulo antes do acidente.

Para resolver essa questão, o raciocínio é o seguinte...


Paulo (apenas ele) tinha domicílio plúrimo (Juiz de Fora e Rio de Janeiro), onde exerce suas
atividades profissionais. A esposa e o filho do casal, antes do acidente, tinham como domicílio
apenas Juiz de Fora. Petrópolis, local onde a família passava as férias, não constitui domicílio,
pois não há o aspecto da residência com ânimo definitivo.
Após o acidente, o menor ficou sob a tutela dos avós e, por ser incapaz, passa a ter domicílio
legal, na cidade de Angra dos Reis, onde esses moram.
Letra b.

017. (CESPE/2020/TJ-PA/AUXILIAR JUDICIÁRIO) Acerca do início da existência legal das


pessoas jurídicas de direito privado, assinale a opção correta.
a) A pessoa jurídica de direito privado passa a existir a partir da data da inscrição do seu ato
constitutivo no respectivo registro, desde que previamente autorizado pelo Poder Judiciário.
b) O registro da pessoa jurídica de direito privado deve conter, obrigatoriamente, a denomina-
ção, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver.
c) O ato constitutivo da pessoa jurídica de direito privado não é reformável no tocante a sua
administração.
d) O registro da pessoa jurídica de direito privado deve conter o nome de seus fundadores, e,
opcionalmente, pode conter o nome de seus instituidores e diretores.
e) Dispensa-se, em qualquer caso, prévia aprovação do Poder Executivo para que pessoa jurí-
dica de direito privado passe a existir legalmente.

Com fulcro no art. 46, do Código Civil.


a) Errada. Não é necessária autorização previa do Poder Judiciário.
c) Errada. O ato constitutivo é reformável, no tocante à administração (art. 46, IV).
d) Errada. Com fulcro no art. 46, II.
e) Errada. Com fulcro no art. 45.
Letra b.

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018. (CESPE/2020/TJ-PA/ANALISTA JUDICIÁRIO/DIREITO/ADAPTADA) No direito pátrio,


para que ocorra a desconsideração da personalidade jurídica de uma sociedade personificada,
de modo a atingir o patrimônio dos seus sócios para o pagamento de uma obrigação inadimpli-
da, é necessário que tenha ocorrido abuso de personalidade jurídica, caracterizado por desvio
de finalidade ou confusão patrimonial.

Com fulcro no art. 50 do Código Civil (fique atento à nova redação, dada pela Lei n.
13.874, de 2019):

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios
da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei n.
13.874, de 2019).
Certo.

019. (CESPE/2020/TJ-MA/ANALISTA JUDICIÁRIO/DIREITO/OFICIAL DE JUSTIÇA AVA-


LIADOR) De acordo com o Código Civil, julgue o próximo item, acerca de classes de bens,
associações, fundações, prova do fato jurídico e atos jurídicos.
No âmbito de uma associação, os associados submetem-se a direitos e obrigações recípro-
cos, devendo pautar-se na boa-fé objetiva, sob pena de exclusão da associação.

Na associação não há que se falar em obrigações recíprocas dos associados (CC, art. 53, p.u.).
Errado.

020. (CESPE/2020/TJ-MA/ANALISTA JUDICIÁRIO/DIREITO/OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIA-


DOR) No que concerne à Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, à pessoa natural,
aos direitos da personalidade e à desconsideração de pessoa jurídica, julgue o item a seguir.
Situação hipotética: Renata, casada com Carlos, ajuizou ação de divórcio litigioso com partilha
de bens. Na instrução do processo, ela demonstrou que bens pessoais de seu cônjuge haviam
sido indevidamente ocultados no patrimônio de pessoa jurídica da qual Carlos era sócio ad-
ministrador.
Assertiva: Nesse caso, o ordenamento jurídico brasileiro permite que seja utilizado o instituto
da desconsideração inversa da personalidade jurídica para atingir os bens ocultados.

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Está correta a assertiva, pois na hipótese de os sócios ou administradores utilizarem a pessoa


jurídica para desviar patrimônio pessoa, deverá ser aplicada a desconsideração inversa da per-
sonalidade jurídica, nos termos do art. 50, § 3º, do Código Civil.
Certo.

021. (CESPE/2020/TJ-MA/ANALISTA JUDICIÁRIO/DIREITO) De acordo com o Código Civil,


julgue o próximo item, acerca de classes de bens, associações, fundações, prova do fato jurí-
dico e atos jurídicos.
A modificação de regra prevista em estatuto de fundação privada deve ser aprovada pela maio-
ria absoluta das pessoas responsáveis pela gerência da fundação e somente produzirá efeitos
após decisão homologatória do Poder Judiciário.

Nos termos do art. 67 do Código Civil.

Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
I – seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;
II – não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III – seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias,
findo o qual ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do
interessado. (Redação dada pela Lei n. 13.151, de 2015)
Errado.

022. (CESPE/2020/TJ-MA/ANALISTA JUDICIÁRIO/DIREITO) De acordo com o Código Civil,


julgue o próximo item, acerca de classes de bens, associações, fundações, prova do fato jurí-
dico e atos jurídicos.
No âmbito de uma associação, os associados submetem-se a direitos e obrigações recípro-
cos, devendo pautar-se na boa-fé objetiva, sob pena de exclusão da associação.

Nos termos do art. 57, p.u., do Código Civil. Associados não possuem direitos e obrigações
recíprocas.
Errado.

023. (CESPE/2020/TJ-MA/ANALISTA JUDICIÁRIO/DIREITO) De acordo com o Código Civil,


julgue o próximo item, acerca de classes de bens, associações, fundações, prova do fato jurí-
dico e atos jurídicos.

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O espólio e a massa falida são exemplos de bens coletivos classificados como universalida-
de de fato.

O espólio e a massa falida são considerados universalidades de direito, nos termos do art. 91
do Código Civil.

Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dota-
das de valor econômico.
Errado.

024. (CESPE/2020/TJ-MA/ANALISTA JUDICIÁRIO/OFICIAL DE JUSTIÇA) Quanto às pesso-


as jurídicas, é correto afirmar:
a) Obrigam a pessoa jurídica os atos de seus administradores, exercidos ou não nos limites
dos poderes definidos no ato constitutivo.
b) Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com o início efetivo de
suas atividades, ainda que pendente de registro seus atos constitutivos.
c) As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos
seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo
contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
d) Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões tomar-se-ão sempre pela
maioria de votos dos presentes.
e) Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funciona-
mento, o cancelamento de sua inscrição será imediato.

Com fulcro nos arts. 37, § 6º, da CF/88 e 43, do Código Civil.
a) Errada. Com fulcro no art. 47, do Código Civil.
b) Errada. Com fulcro no art. 45, do Código Civil.
d) Errada. Com fulcro no art. 48, do Código Civil.
e) Erada. Com fulcro no art. 51, do Código Civil.
Letra c.

025. (CESPE/2019/TCE-RO/PROCURADOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS) Acerca


da desconsideração da personalidade jurídica, julgue os itens seguintes.
I – A constatação da insolvência e a inexistência de bens do devedor são suficientes para a
desconsideração da personalidade jurídica.
II – O abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confu-
são patrimonial, enseja a desconsideração da personalidade jurídica.
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III – Na teoria da desconsideração inversa da personalidade jurídica, pessoa jurídica pode res-
ponder por obrigação de sócio que lhe tenha transferido seu patrimônio com o intuito de frau-
dar credores.
Assinale a opção correta.
a) Apenas o item I está certo.
b) Apenas o item II está certo.
c) Apenas os itens I e III estão certos.
d) Apenas os itens II e III estão certos.
e) Todos os itens estão certos.

Está correto o que se afirma nos itens II e III. Logo, a alternativa correta é a letra D.
O item I está errado, pois o Código Civil, O código civil, diferentemente da legislação consu-
merista e ambiental, adotou a Teoria Maior (“Maior- mais requisitos”) para a desconsideração,
exigindo apenas o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial, conforme a assertiva Logo, não basta a mera insolvência/falência
e/ou ausência de bens.
Letra d.

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GABARITO
1. C
2. E
3. E
4. E
5. E
6. C
7. C
8. C
9. E
10. C
11. c
12. d
13. C
14. C
15. E
16. b
17. b
18. C
19. E
20. C
21. E
22. E
23. E
24. c
25. d

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Professora de Direito Administrativo, especialista em preparação para concursos públicos. Pós-graduada
em Políticas Públicas e Gestão Governamental pela UNIP. Advogada inscrita na OAB/MG desde 1997.
Graduada em direito pela Faculdade de Direito da PUC/MG. Larga experiência como docente, tendo
ministrado aulas de Direito Administrativo nos principais cursos preparatórios do país. Já participou
de bancas examinadoras e elaboração de questões para processos seletivos. Atua como advogada e
consultora de empresas na área de Licitações e Contratos.

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