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DIREITO
IMOBILIÁRIO
Ano 40 • vol. 82 • jan.-jun. / 2017
sumário
Doutrina nacional
Ônus e dever de publicizar à luz da boa-fé registral
Onus and obligation to publish in the light of good faith registration prin-
ciple
marceLo Krug FacHin torres ............................................................................................. 15
A função da atividade registral e as provas admitidas no registro de imó-
veis
The function of the registry activity and evidence admitted in the land re-
gistry
Fernando Henrique roVere de godoy................................................................................ 53
Multipropriedade – Uma abordagem à luz do Recurso Especial 1.546.165-SP
Time-sharing: an approach in light of the Special Remedy 1.546.165-SP
meLHim cHaLHub .................................................................................................................... 71
O ITBI na cessão dos compromissos de compra e venda de bens imóveis
ITBI on the assignment of purchase and sale agreements of real estates
Luiza Fontoura da cunHa brandeLLi e marina campeLo ............................................... 87
Usucapião extrajudicial: fundamentos constitucionais para a desjudicia-
lização e o direito comparado
Usucapione extragiudiziale: fondamenti costituzionali per la degiurisdi-
zionalizzazione e il diritto comparato
Henrique Ferraz de meLLo ................................................................................................... 107
Da importância jurídica do regime da afetação patrimonial nas incorpo-
rações imobiliárias
Of the legal importance of the detached assets theory in incorporative ac-
tivity of real estate
jessica cristina coitinHo mota ........................................................................................... 155
Considerações sobre o direito real de laje da MP 759
Considerations on the property law of “MP” 759
marceLLo rennó de siqueira antunes e Fábio pinHeiro gazzi...................................... 183
O nome social no registro imobiliário
The social name in the real estate registry
ViViane aLessandra grego HajeL ........................................................................................ 219
15
Resumo: O ensaio tem por objetivo analisar se Abstract: The purpose of the essay is to analyze
a promoção do ato de inscrição trata-se de um whether a promotion is an act of registration is
ônus ou de um dever ao interessado, assim como a onus or an obligation to the interested party,
quais são as consequências jurídicas àquele que just as banks are legal consequences in which
opta em não publicitar determinada situação it is decided not to advertise a particular legal
jurídico-real, no prisma de um Direito Registral situation. In order to do so, an approach related
que adote o princípio da fé pública registral. Para to the effects of advertising and a perspective
tanto, será realizada uma abordagem quanto aos of the active subject will be carried out, espe-
efeitos da publicidade registral na perspectiva do cially on the positive effects of registration and
sujeito ativo, notadamente sobre os efeitos posi- negative effects of its not performed. From this,
tivos da inscrição e negativos da sua não reali- an analytical analysis of the effects from the
zação. A partir disso, será efetuada uma análise perspective of others will be made, and at this
dos efeitos na perspectiva dos terceiros e, nesse point, a more detailed study of the. Once this
ponto, um estudo mais detalhado quanto a fé has been done, we will start to treat the labeling
pública registral. Feito isso, passaremos a tratar principle in order to verify its relevance to the
o princípio da rogação, de modo a verificar a sua subject and, finally, we will make a relation with
relevância para o tema e, por fim, faremos uma a decision of entry into force of the new Code
relação com a publicitação das medidas judiciais, of Civil Procedure and its relation with Real Es-
a partir da entrada em vigor do novo Código tate Registration Law. The results of the resear-
de Processo Civil e sua relação com o Direito ch point to the fact that, in the light of good
Registral Imobiliário. Os resultados da pesqui- faith, publicizing a particular legal situation is
sa apontam no sentido de que, à luz da boa-fé effectively an onus upon the interested party,
Torres, Marcelo Krug Fachin. Ônus e dever de publicizar à luz da boa-fé registral.
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registral, publicitar determinada situação jurí- and therefore there is no registration duty. It is
dica trata-se efetivamente de um ônus imposto concluded, lastly, that to lead to the registration
ao interessado, não havendo, portanto, um dever of an option of the interested party, but that
de registro. Conclui-se, por derradeiro, que levar as consequences in not register imply in the
para Registro é uma opção do utente, mas que as absence of guardianship to the legal position,
consequências em não se registrar implicam na and the interested party can still see his pre-
ausência de tutela à situação jurídica, podendo determined right in the conclusion of another
ainda o interessado ver seu direito preterido em registered temporally.
decorrência de outro inscrito temporalmente.
Palavras-chave: Registro de imóveis – Princípio Keywords: Real estate registry – Public faith
da fé pública registral – Publicidade registral principle – Real estate publicity – Civil Procedure.
imobiliária – Processo Civil.
1. Considerações introdutórias
O presente ensaio tem por escopo analisar se há por parte dos interessados
um “dever jurídico de promoção do registro”, cuja incumprimento pode gerar
inclusive o dever de indenizar os eventuais prejudicados ou se há, por outro
lado, um ônus àquele que opta por não publicizar determinada situação jurí-
dico-real, que deveria ascender ao registro imobiliário e por vontade da parte
não foi, devendo arcar então com as consequências jurídicas da sua desídia.
A problemática central reside na interpretação do art. 169 da Lei dos Re-
gistros Públicos,1 que prescreve que todos os atos de registro (lato sensu) são
1. Art. 169. Todos os atos enumerados no art. 167 são obrigatórios e efetuar-se-ão no
Cartório da situação do imóvel, salvo: I – as averbações, que serão efetuadas na ma-
trícula ou à margem do registro a que se referirem, ainda que o imóvel tenha passado
a pertencer a outra circunscrição; II – os registros relativos a imóveis situados em
comarcas ou circunscrições limítrofes, que serão feitos em todas elas, devendo os
Registros de Imóveis fazer constar dos registros tal ocorrência.
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ultrapassam a eficácia inter partes do processo judicial e que para a tutela ade-
quada, tempestiva e efetiva do direito devem ser oponíveis erga omnes.
Não se esquecendo do conflito existente entre a segurança jurídica estáti-
ca e a segurança jurídica dinâmica, na medida em que a publicidade terá um
alcance distinto se optar por proteger um ou outro, a investigação tem como
norte analisar o tema à luz de um direito registral que privilegie a segurança
dinâmica, isto é, que tutele de maneira “forte”5 aquele que contrata confiando
na publicidade registral.
A abordagem do estudo tem como premissa os sistemas registrais imobiliá-
rios que adotam (ou reconhecem) o denominado Princípio da Fé Pública Re-
gistral, incluindo-se nesse rol o sistema brasileiro. Quer dizer, embora quase a
totalidade da doutrina entenda que no direito brasileiro não vige o princípio da
fé pública registral – o que acaba por desaguar em uma jurisprudência que não
valoriza a publicidade registral como um instrumento verdadeiramente eficaz
e efetivo para a tutela dos direitos –, recentes estudos procuram demonstrar a
existência fé pública registral e, com isso, verifica-se uma importante mudança
de paradigma no direito registral brasileiro.6 Por esta razão, é através dessa ótica
que será analisado o ônus e dever de publicizar porquanto se ainda não se está
“maduro” o entendimento da tutela forte do adquirente de boa-fé, é imprescin-
dível que a interpretação das normas jurídicas sejam feitas nesse contexto.
Assim sendo, somente haverá segurança jurídica a partir do momento em
que efetivamente se privilegie o inscrito, frente ao “não inscrito” que, via de
consequência, implica em uma mudança de mentalidade a respeito da necessi-
dade de publicidade das situações jurídico-reais oponíveis erga omnes.
5. Cfr. Expressão utilizada por JARDIM, Mónica. Efeitos Substantivos do Registo Predial:
terceiros para efeitos do Registo Predial. Coimbra: Almedina, 2015.
6. A obra de referência nesse ponto é a recente publicação da sua Tese de Doutoramento
pela UFRGS de Leonardo Brandelli (Registro de Imóveis: eficácia material, Rio de Ja-
neiro: Forense, 2016).
7. MANZANO SOLANO, Antonio; MANZANO FERNÁNDEZ, Maria Del Mar. Institu-
ciones de Derecho Registral Inmobiliario. Madrid: Colegio de Registradores de la Pro-
piedad, Mercantile y Bienes Muebles, 2008, p. 45.
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No que diz respeito aos direitos reais sobre imóveis, isto se mostra bastante
claro, porquanto o aspecto externo desses direitos importa no seu caráter abso-
luto, no sentido de ser oponível contra todos. Além disso, para que se respeite
determinada situação jurídica é necessário, sobretudo, que sobre a mesma haja
conhecimento – ou ao menos a possibilidade de se conhecê-la. De fato, a exis-
tência do direito real deve ser ostensiva e cognoscível por toda comunidade e,
nessa vereda, o princípio da publicidade dos direitos reais consiste que os fatos
jurídicos relativos devem ser dados a conhecer ao público em geral.
Por tal motivo, afirma-se que dada a eficácia absoluta dos direitos reais é fun-
damental que todos os interessados possam conhecer a sua existência, de modo
que os direitos reais somente serão efetivamente reais, dotados da característica
erga omnes, se o direito fornecer algum instrumento adequado de publicidade
que permita à coletividade tomar conhecimento da existência de tal direito.8
À vista disso, sempre que se estuda a publicidade registral, é recorrente
abordá-la a partir do seu desenvolvimento histórico, a contar da Antiguidade
até os dias atuais.9 Nesse cenário, verifica-se, em apertada síntese, que a publi-
cidade passou inicialmente pela fase negocial, posteriormente pela fase edital
até chegar ao que atualmente se entende como fase registral da publicidade.10
Em sociedades com núcleos populacionais reduzidos, tanto a fase nego-
cial como a fase edital da publicidade desempenharam adequadamente a sua
função de dotar as relações jurídicas imobiliárias de segurança jurídica. Po-
rém, a partir do nascimento das grandes cidades, assim como do aumento
da complexidade das relações sociais, estas formas de publicidade aos poucos
foram tornando-se obsoletas e insuficientes, uma vez que se pressupunham o
conhecimento efetivo por parte dos terceiros. Com isso, agudizou-se o conflito
entre os interesses dos titulares dos direitos reais sobre imóveis e os interesses
daqueles que pretendiam adquirir tais direitos, isto é, o conflito entre a segu-
rança jurídica estática e a segurança jurídica dinâmica.11 Isto posto, elevou-se
Torres, Marcelo Krug Fachin. Ônus e dever de publicizar à luz da boa-fé registral.
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Acresce que não basta ao sistema registral publicitar direitos, pois deve tam-
bém ampará-los e protegê-los.19 Quer dizer, é preciso que o Registro de Imóveis
seja um verdadeiro Registro de Direitos. De outra forma, não é aconselhável
existir toda uma instituição registral, com todos os custos inerentes, se os atos
resultantes (mormente os atos de inscrição) não tutelem de forma adequada
e efetiva tanto os titulares dos direitos inscritos como aqueles que contratam
confiando no conteúdo da publicidade registral. Nesse passo, o registro trata-
-se de um meio da proteção da confiança, que permite a redução dos custos
de informação na contratação imobiliária e facilita o tráfico jurídico e o faz a
partir dos efeitos jurídico-substantivos que produz.20
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23. “Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos
entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos
referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.
Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título trans-
lativo no Registro de Imóveis.”
24. JARDIM, Mónica. Registo Imobiliário Constitutivo ou Registo Imobiliário Declarati-
vo/Consolidativo? Qual deles oferece maior segurança aos terceiros. In: JARDIM, Mó-
nica. Escritos de Direito Notarial e Direito Registal. Coimbra: Almedina, 2015, p. 70.
25. LACRUZ BERDEJO, José Luis. Lecciones de Derecho Inmobiliario Registral. Madrid:
Civitas, 1957, p. 12.
26. Esta ideia é defendida, simultaneamente, por autores de diferentes países com sis-
temas registrais distintos, como por exemplo JARDIM, Mónica. Registo Imobiliário
Constitutivo ou Registo Imobiliário Declarativo/Consolidativo? Qual deles oferece
maior segurança aos terceiros cit., p. 85; LACRUZ BERDEJO, José Luis. Lecciones de
Derecho Inmobiliario Registral cit., p. 12; BRANDELLI, Leonardo. Registro de Imóveis:
eficácia material. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 266, de Portugal, Espanha e Brasil,
respectivamente.
27. José Alvarez Caperochipi vai além e afirma que a inscrição constitutiva não é aconse-
lhável nem tecnicamente possível (CAPEROCHIPI, José Álvarez. Derecho Inmobilia-
rio Registral. 2. ed. Granada: Editorial Comares, 2006, p. 145).
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Revista de Direito Imobiliário. vol. 82. ano 40. p. 15-52. São Paulo: Ed. RT, jan.-jun. 2017.
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33. Cfe. JARDIM, Mónica. Efeitos Substantivos do registo predial: terceiros para efeitos do
Registo Predial cit., p. 60; PAU PEDRÓN, António. La publicidade registral cit., p. 297.
34. Cfr. PAU PEDRÓN, António. La Publicidad Registral cit.
35. LOPES, Joaquim Seabra. Direito dos registos e do notariado. 7. ed. Coimbra: Almedina,
2014, p. 348.
36. JARDIM, Mónica. Efeitos Substantivos do registo predial: terceiros para efeitos do Registo
Predial cit., p. 62.
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37. ALMEIDA, Carlos Ferreira. Publicidade e teoria dos registos cit., p. 254.
38. Para Mónica Jardim a cognoscibilidade legal é um resultado inevitável da publicidade
registral, porquanto a possibilidade de consulta do Registo a legitima, tal como a pu-
blicidade legislativa nos Diários Oficiais legitima a ordem jurídica, com irrelevância
que se ignore ou não o conteúdo do preceito publicado (Efeitos Substantivos do registo
predial: terceiros para efeitos do Registo Predial cit.)
39. Para um estudo mais detalhado da publicidade formal, ver amplamente PASSARELLI,
Luciano Lopes. Teoria Geral da certidão imobiliária: o princípio da publicidade na era
do registro de imóveis eletrônico. São Paulo: Quinta Editoria, 2010.
40. Art. 17 da Lei 6.015/1973. Qualquer pessoa pode requerer certidão do registro sem
informar ao oficial ou ao funcionário o motivo ou interesse do pedido.
41. ERPEN, Décio Antônio; PAIVA LAMANA, João Pedro. Princípios do Direito Registral
Formal. In: DIP, Ricardo (org.). Introdução ao Direito Notarial e Registral. Porto Ale-
gre: SafE, 2004, p. 174.
42. JARDIM, Mónica. Efeitos Substantivos do registo predial: terceiros para efeitos do Registo
Predial cit., p. 62.
43. O princípio da prioridade significa que, num concurso de direitos reais sobre um
imóvel, estes não ocupam todos o mesmo posto, mas se graduam ou classificam por
Torres, Marcelo Krug Fachin. Ônus e dever de publicizar à luz da boa-fé registral.
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46. Cfr. BRANDELLI, Leonardo. Registro de Imóveis: eficácia material cit., p. 274.
47. O tema da inoponibilidade ainda pode ser visto sobre três dimensões diferentes, con-
forme sustenta Mónica Jardim. Nesse sentido, para uma análise mais detalhada, ver
mais em JARDIM, Mónica. Efeitos Substantivos do registo predial: terceiros para efeitos
do Registo Predial cit., p. 85 a 108.
Contudo, interessa para o presente estudo, na perspectiva do ônus que recai sobre o
sujeito ativo em registrar o seu direito as duas primeiras dimensões efetivamente.
48. GUERREIRO, J A Mouteira. Ensaio sobre a problemática da Titulação e do Registo à luz
do Direito Português. Coimbra: Coimbra Editora, 2014, p. 475.
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49. O terceiro para estar tutelado pela eficácia negativa da publicidade registral deve estar
de boa-fé quando da aquisição do seu direito.
50. SÁNCHEZ CALERO; SANCHEZ-CALERO ARRIBAS. Manual de derecho inmobiliario
registral cit., p. 133.
51. Nesse ponto, o terceiro que se fala aqui é o chamado “terceiro hipotecário”, o qual
não se confunde com o conceito de terceiro civil.
O conceito de terceiro, para fins da tutela registral, varia conforme o ordenamento
jurídico em casa. Por exemplo, em Portugal esse é um tema que mais corre tinta
atualmente em virtude da polêmica entre a concepção ampla ou restrita de terceiro.
Assim, uma corrente defende uma concepção restrita e considera que terceiros são
aqueles que do mesmo autor ou transmitente recebem sobre o mesmo objeto direitos
total ou parcialmente incompatíveis, ou conforme a terminologia do art. 5 n. 4 do
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CRP, são aqueles que tenham adquirido de um autor comum direitos incompatíveis
entre si. (concepção esta adotada no país). Por outro lado, os defensores do conceito
amplo, entendem que são terceiros aqueles que têm a seu favor um direito que não
pode ser afetado pela produção dos efeitos de um ato que não foi levado a registo e
que é incompatível com aquele direito. Nesse sentido vide LOPES, Joaquim Seabra.
Direito dos registos e do notariado. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2014. p. 374.
De todo modo, ainda que de maior relevância a correta delimitação do conceito de
terceiro, não há no Brasil um desenvolvimento profundo sobre quem seria o terceiro
registral.
52. Classificação esta feita por Mónica Jardim (efeitos substantivos do registo predial:
Registro Predial cit.) e considerada por Mouteira Guerreira como a mais relevante
atualmente (Ensaio sobre a problemática da Titulação e do Registo à luz do Direito Por-
tuguês cit.)
53. Embora não deixe de existir o princípio da legitimação nos sistemas de proteção for-
te. O que ocorre é um plus em decorrência da fé pública registral.
54. Cfr. MÉNDEZ GONZÁLEZ, Fernando. A função econômica dos sistemas registrais.
Revista de Direito Imobiliário. São Paulo. Ed. RT, n. 53 jan.-jun., 2002.
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55. A boa- fé do terceiro, segundo, Francisco Javier Sánchez Calero e, Blanca Sánchez
Calero Arribas existe en la medida en que realiza la adquisición del derecho con el
convencimiento de la exactitud del contenido registral. El adquirente cree que el
titular registral es el verdadero titular del derecho que adquiere y que tiene el poder
de disposición suficiente para llevar a efecto el acto traslativo (Manual de derecho
inmobiliario registral cit., p. 154.)
Não existe a boa- fé e, portanto, não se operam os efeitos protetivos da fé pública em
favor do terceiros quando consta do Registo um protesto ou assento de contradição,
isto é, um assento que adverte para a possibilidade de o Registro ser inexato e quan-
do se conhece a desconformidade entre a realidade tabular e a situação jurídico real
(boa- fé em sentido psicológico). (JARDIM, Mónica. Efeitos Substantivos do registo
predial: terceiros para efeitos do Registo Predial cit.”).
56. Todavia, é importante destacar ainda que a necessidade de boa- fé por parte do adqui-
rente é um fundamento ético do sistema registral e da tutela da fé pública registral,
mas não constitui um instrumento técnico. Ou seja, é possível que haja inclusive
que haja a tutela do terceiro adquirente mesmo tendo conhecimento da inexatidão
e, portanto, atuando de má- fé. Neste ponto, o ordenamento italiano, sob o pretexto
de garantir a circulação dos bens, tutela o terceiro mesmo que não esteja de boa- fé
(JARDIM, Mónica. Efeitos Substantivos do registo predial: terceiros para efeitos do Re-
gisto Predial. cit.., p. 251.
57. Nesse sentido, por todos: (JARDIM, Mónica. Efeitos substantivos do registo predial:
terceiros para efeitos do registo predial cit.
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torna-se iure et iure, em favor dos terceiros adquirentes que tenham confiado
no conteúdo dos dados registais e, por sua vez, feito o registo em seu favor.58
Consiste a fé pública registral em um efeito eminentemente registral, pois
tem o condão de, para a proteção da confiança dos Registos, tornar a presun-
ção relativa de veracidade do registo em uma presunção absoluta de verdade,
em favor dos terceiros de boa-fé que preencham os pressupostos legais. Quer
dizer, a publicidade não passa a ter característica sanante,59 porque o âmbito de
proteção do princípio da fé pública registral reside na tutela da aparência jurí-
dica, aplicada ao terceiro que confiou legitimamente na informação registral.
Na realidade, fé pública não sana nenhum vício, tampouco produz qualquer
aproximação entre o registo e a realidade, podendo inclusive o assento ser re-
tificado quando não corresponder à realidade jurídica.
Nada obstante o acabado de afirmar, após a circulação do direito registado,
com o seu ingresso no tráfico jurídico, o terceiro de boa-fé que adquiriu este
direito, fiando no conteúdo da informação registral, é protegido de maneira
absoluta na sua aquisição.60 Além do mais, a fé pública registral tem o pro-
pósito de tutelar não somente os adquirentes de direitos reais que confiaram
na aparência do bom direito publicidade pelo Registo imobiliário, (isto é, na
exatidão do assento) mas também protege os terceiros contra as situações jurí-
dicas que deveriam ter sido inscritas e por qualquer razão não o foram. Nessa
perspectiva, o adquirente não é prejudicado por situações sob as quais não há
cognoscibilidade.
Trata a primeira hipótese da dimensão positiva do princípio da fé pública
registral e a segunda da sua dimensão negativa. Ainda, a dimensão positiva
58. MENDES, Isabel Pereira. Estudos sobre direito predial. Coimbra: Almedina, 2003, p. 28.
59. Um exemplo de publicidade sanante existente é o Registro Torrens no qual se esta-
belece a presunção absoluta em face de todos, e não apenas dos terceiros de boa-fé
(SOUZA, Eduardo Pacheco Ribeiro. Ainda as certidões de feitos ajuizados. Boletim do
Irib em Revista n. 331, 2007).
Vale ressaltar que nenhum sistema jurídico pretende que o Registro outorgue garantia
absoluta e imóvel (GORDILLO CAÑAS, Antonio. El principio de fe publica registral.
Lima: Jurista Ediores, 2010).
60. Nesse sentido, complementa Leonardo Brandelli que o terceiro não perderá seu di-
reito, ainda que o sistema civil seja causal, e que o negócio jurídico subjacente seja
considerado inválido. Nesse caso, responderá civilmente o Estado, responderá o Ofi-
cial de Registro, ou quem mais tenha dado causa à invalidade ou à publicidade da
situação jurídica inválida, mas o direito publicizado e circulado restará garantido.
BRANDELLI, Leonardo. Abstração e causalidade entre o plano real e o obrigacional e
as espécies registrais imobiliária. Revista de Direito Imobiliário 79/2015, p. 98.
Torres, Marcelo Krug Fachin. Ônus e dever de publicizar à luz da boa-fé registral.
Revista de Direito Imobiliário. vol. 82. ano 40. p. 15-52. São Paulo: Ed. RT, jan.-jun. 2017.
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61. Prevista no art. 34 da Lei Hipotecária espanhola: El tercero que de buena fe adquiera a
título oneroso algún derecho de persona que en el Registro aparezca con facultades para
transmitirlo, será mantenido en su adquisición, una vez que haya inscrito su derecho,
aunque después se anule o resuelva el del otorgante por virtud de causas que no consten en
el mismo Registro. La buena fe del tercero se presume siempre mientras no se pruebe que
conocía la inexactitud del Registro. Los adquirentes a título gratuito no gozarán de más
protección registral que la que tuviere su causante o transferente.
62. Prevista no art. 32 da lei Hipotecária espanhola Los títulos de dominio o de otros dere-
chos reales sobre bienes inmuebles, que no estén debidamente inscritos o anotados en el
Registro de la Propiedad, no perjudican a tercero.
63. ALMEIDA, Carlos Ferreira. Publicidade e Teoria dos Registos cit., p. 305.
64. Mónica Jardim destaca que a expressão “não inscrito” pode ter três conteúdos: pri-
meiro podem existir fatos jurídicos que não tenham acedido ao Registo; segundo, podem
existir causas determinantes de inexistência, de invalidade ou de cessação da eficácia de
fatos jurídicos inscritos no registo que, por sua vez, não tenham sido publicitadas; tercei-
ro, pode ter ocorrido o cancelamento indevido de inscrições registais, tendo, consequente-
mente, as situações jurídicas, anteriormente publicitadas, deixado de o ser.
Isto é, considerando na perspectiva do sujeito ativo de um fato jurídico que deveria
ter acedido ao Registo distingue a Prof. três dimensões da inoponibilidade: primeira,
“o sujeito ativo de um fato jurídico, que deveria ter acedido ao Registo, sob pena
de não ocorrer a mutação jurídico-real ou sob pena de não se consolidar a eficácia
da mutação jurídico-real já ocorrida, não verá a sua posição jurídica prevalecer em
face de um terceiro adquirente que haja obtido o registo; segunda, o titular de um
direito, caso deixe de constar do registo como sendo o atual titular registral (ou o
único titular registral), em virtude da inscrição registral de um fato jurídico que seja
inexistente, nulo, padeça de uma causa de anulabilidade ou esteja sujeito a uma causa
de cessação de eficácia ex tunc, não verá a sua posição jurídica prevalecer em face
de um terceiro que haja adquirido do então titular registral e obtido o correspon-
dente registo, se em data anterior não constar do registo um assento que alerte para
a discrepância, existente ou futura, entre a realidade tabular e extratabular; terceira,
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o sujeito ativo de uma situação jurídica registada, cujo assento registral tenha sido
‘indevidamente cancelado’ (tendo em conta a realidade substantiva) e que volte a
obter a eficácia ex tunc, não pode opor o seu direito a um terceiro que haja ‘adquirido’
do então titular registral e obtido o correspondente registro, se em data anterior não
tiver sido publicitada a impugnação do assento de cancelamento”. Por fim, refere a
autora que nos sistemas que adotam a fé pública registral encontram-se presentes as
três dimensões da inoponibilidade acima tratadas. Para uma análise pormenorizada
do assunto com as , em razão da sua complexidade vide JARDIM, Mónica. Efeitos
substantivos do registo predial: terceiros para efeitos do Registo Predial cit., p. 85 a 108.
65. Cfr. JEREZ DELGADO, Carmen. La buena fe registral. Madrid: Colegio de Registrado-
res de la Propiedad, Mercantile y Bienes Muebles, 2005, p. 43.
66. SÁNCHEZ CALERO; SANCHEZ-CALERO ARRIBAS. Manual de derecho inmobiliario
registral cit., p. 129.
67. BRANDELLI, Leonardo. Publicidade registral imobiliária: uma breve análise da eficá-
cia dos direitos reais e obrigacionais cit., p. 243.
68. Exemplifica José Maria Chico y Ortiz que caso seja constituído um direito real sobre
um imóvel, porém tal direito não seja levado a registro, poderá sempre ser ignorado
por um terceiro que adquira a propriedade e registra seu título. Assim sendo, o direito
real será inoponível perante terceiros, caso não seja realizada a inscrição (Estudios
sobre derecho hipotecario. Madrid Marcial Pons, 2000, t. I, p. 272).
69. Cfr. GONZÁLEZ, Jose Alberto. Direitos Reais e Direito Registal Imobiliário cit., p. 232.
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Se é verdade que os atos “não inscritos” não devem ter qualquer eficácia
contra terceiros que tenham obtido o registro a seu favor, porque são tidos por
desconhecidos, por consequência lógica o direito não pode favorecer o sujeito
que teve a oportunidade de fazer o registro e mesmo assim não o fez. Enfatiza-
-se, não se pode consentir na hipótese de prevalecer a posição jurídica do não
diligente em detrimento da posição jurídica do diligente.70
Em suma, a lógica que envolve o princípio é bastante singela: se o Registo é
uma instituição destinada a dar segurança ao tráfico jurídico imobiliário, deve
proteger de forma plena aqueles que adquiriram direitos reais sobre imóveis
confiando nas suas informações,71 motivo pelo qual entende-se, inclusive, que
a fé pública é o que caracteriza a própria instituição registral imobiliária.
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da tutela registral, ele estará protegido mesmo que não tenha efetivamente
consultado o registro, desde que à data da sua aquisição não exista qualquer
direito conflitante registrado.79
De fato, a boa-fé registral é um conceito definido pelo desconhecimento da
inexatidão registro, isto é, pode-se afirmar que a fé pública registral surte seus
efeitos quando não reste provado que o adquirente conhecia a inexatidão (má-
-fé registral).80 Nessa ótica para António Pau Pedron,81 a má-fé registral – que
impossibilita que se opere os efeitos a fé pública registral – consiste no conhe-
cimento pleno e completo da inexatidão registral, embora não haja qualquer
obrigação de diligência por parte do adquirente.
É importante compreender isto porque afastar a tutela registral sob o pre-
texto que o adquirente não consultou o registro ou que não tomou todas as
medidas necessárias para assegurar o seu direito e, portanto, não estava agindo
de boa-fé é, ao fim e ao cabo, desconsiderar o ônus que recai sobre o sujeito
ativo do fato registrável em requerer o registro.
79. Inexiste o dever de consulta uma vez que a consulta ao registro não tem igualmente e
o condão de proteger o terceiro. A certidão é um ato administrativo e não tem efeitos
maiores do que demonstrar o conteúdo dos livros. Por esta razão, não há a possibili-
dade de requerer a tutela apenas pelo fato de ao tempo em que consultou a certidão,
não constava qualquer direito conflitante. É necessário que haja o respectivo registro.
80. JEREZ DELGADO, Carmen. La buena fe registral cit., p. 31.
81. PAU PEDRÓN, António. La Publicidad Registral cit., p. 336.
82. Cfr. GARCIA GARCIA, Jose Manuel. Derecho inmobiliario registral o hipotecario. Madrid:
Civitas, 2002. v. 3.
83. SANZ FERNANDEZ, Ángel. Instituciones de Derecho Hipotecário. Madrid Colegio de
Registradores de la Propiedad, Mercantile y Bienes Muebles, 1947, p. 466, t. I.
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92. ALMEIDA, Carlos Ferreira. Publicidade e Teoria dos Registos cit., p. 168.
93. Nesse ponto é interessante observar que a petição de inscrição atua como uma deli-
mitação à atuação do registrador e do procedimento em geral, pois o registrador não
pode pronunciar-se além do solicitado (MONJE, Maria Isabel de la Iglesia. El princi-
pio de rogación y el procedimiento registral cit.).
94. De acordo com LACRUZ BERDEJO, Jose Luis. Lecciones de Derecho Inmobiliario
Registral cit.
95. Cfr. MONJE, Maria Isabel de la Iglesia. El principio de rogación y el procedimiento
registral cit.
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caso não atendido ocasione a possibilidade de sanções outras que não apenas
a ausência de registro96.
Nesse ponto, autores como Luciano Passarelli97 e Antônio Reinaldo Filho98
sustentam, a partir da ideia de “dever de dar a conhecer” que a promoção do
registro no Brasil é obrigatória. Com base no Princípio da boa-fé, da solida-
riedade e da função social e econômica do Registro de Imóveis, bem como do
interesse público subjacente que existe na inscrição, entendem que há uma
verdade “dever de registro”, para além de um “ônus” e que, por consequência,
o seu descumprimento pode gerar a obrigação em indenizar.99
Entretanto, as próprias características da publicidade registral apontam no
sentido de que a promoção do registro é voluntária. Isto é, para examinar a
natureza voluntária ou obrigatória da inscrição é preciso que se olhe na pers-
pectiva da própria instituição registral e não na perspectiva do interessado pro-
priamente dito.100
Pelo já afirmado, o efeito básico da publicidade registral é a oponibilidade
erga omnes da inscrição e, portanto, um efeito favorável àquele que diligen-
temente procedeu no registro. Vale dizer, feito o assento, o titular do direito
inscrito se beneficiará dos efeitos da tutela registral e, nesse aspecto, a quem
interessa obter a tutela registral é a quem corresponde a carga de pedi-la.101
96. Como por exemplo ocorre no direito registral português, ao estabelecer a obrigato-
riedade na promoção do registro, dentro de determinado prazo e conforme determi-
nados legitimados ativos, no art. 8 do CRP:
97. PASSARELLI, Luciano Lopes. Responsabilidade civil do adquirente de bem imóvel
que não registra seu título. Revista de Direito Imobiliário. São Paulo. Ed. RT, n. 68,
jan.-jun., 2010.
98. FILHO REYNALDO, Antonio. A publicidade registrária como meio de concreção da
boa-fé objetiva. In: BRANDELLI, Leonardo (org.). Direito civil e Registro de Imóveis.
São Paulo: Método, 2007, p. 22.
99. Ocorre, contudo, que os referidos autores embora sustentem a obrigatoriedade na
promoção do registro e da possibilidade de responsabilidade civil no caso de sua
inexistência, não delimitam um prazo para sua promoção, por exemplo.
A nosso sentir, estipular a obrigatoriedade da inscrição e admitir sanções para o seu
descumprimento, por mais bem-intencionada que seja a medida, não parece ser a
alternativa mais acertada.
100. MONJE, Maria Isabel de la Iglesia. El principio de rogación y el procedimiento regis-
tral. Madrid: Colegio de Registradores de la Propiedad, Mercantile y Bienes Muebles,
2010, p. 80.
101. ALVAREZ-BUYLLA, Plácido Prada. Principios procesales del procedimiento regis-
tral. El principio de oficialidad. In: GIMENO Y GOMEZ LAFUENTE, Juan Luis;
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105. Nesse sentido, SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO,
Daniel. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Ed. RT, 2012.
106. Nesse sentido, explica Roberto José Ferreira de Almada que a publicidade é classifi-
cada por exemplo entre publicidade imediata – quando os atos do processo estão ao
alcance do público em geral – e publicidade mediata – quando os atos processuais
se tornam públicos através da informes e certidões; em publicidade geral – que é a
publicidade em sentido amplo – e publicidade para as partes – quando está somente
disponível às partes; em publicidade ativa – em que determinados atos do processo
são involuntariamente conhecimento do público – e publicidade passiva – quando
o público, por iniciativa própria, toma conhecimento dela etc. (FERREIRA DE AL-
MADA, Roberto José. A garantia processual da publicidade. São Paulo: Ed. RT, 2005,
p. 112.
107. Vale ressaltar que a publicidade externa pode ser eventualmente restringida em razão
de outros valores como a defesa da intimidade ou do interesse social (art. 5º, LX, da
Constituição).
108. DIDIER, JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 18. ed. Salvador: JusPodivm,
2016, p. 89.
109. FERREIRA DE ALMADA, Roberto Jose. A garantia processual da publicidade cit.,
p. 128.
110. Cfr. BRANDELLI, Leonardo. Fraude à execução imobiliária e a publicidade registral
no novo CPC. In: DIP, Ricardo (org.). Direito Registral e o novo Código de Processo
Civil. São Paulo: Forense, 2016, p. 95 e ss.
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111. Art. 844. Para presunção absoluta de conhecimento por terceiros, cabe ao exequente
providenciar a averbação do arresto ou da penhora no registro competente, mediante
apresentação de cópia do auto ou do termo, independentemente de mandado judicial.
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112. Defendendo tal posição, por exemplo: SALAMANCA, José Eli. Fraude à execução. São
Paulo: Ed. RT, 2005, p. 157. E MAZZEI, Rodrigo; BENTO, Leriande Drumond. Frau-
de à execução no CPC/15: algumas questões registrais. In: PAULINO, Roberto (org.).
Direito Notarial e Registral: Coleção repercussões no novo CPC, Salvador: JusPodivm,
2016, p. 160.
113. Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução: § 2º No
caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de
provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das
certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra
o bem.
114. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Curso
de Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 978, v. 2.
115. Conforme se depreende da leitura dos arts. 844 c/c 792 do NCPC.
116. Nesse sentido, MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO,
Daniel. Curso de Processo Civil cit., 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 979, v. 2, e o art.
828 CPC: Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admiti-
da pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de averbação
no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou
indisponibilidade.
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7. Considerações finais
A publicidade imobiliária se desenvolveu sempre no sentido de robustecer
a segurança jurídica dinâmica, diminuindo a assimetria de informações quanto
aos bens imóveis como forma de facilitar e fomentar o tráfico jurídico e desen-
volver a economia, pois sem segurança jurídica não há crédito e sem crédito
não há crescimento econômico. Não é sem proposito que o Estado criou um
mecanismo específico para dar a conhecer, de maneira eficaz e segura, a res-
peito da situação jurídica dos bens imóveis. Ter a necessidade de buscar em
outras fontes que não a publicidade formal do Registro Imobiliário para se ter
conhecimento da situação do imóvel é, para dizer o mínimo, antieconômico,
burocrático e gerador de insegurança jurídica, uma vez que o adquirente de
determinado direito real necessita então comprovar a sua boa-fé quando da
aquisição desse direito ao ter obtido as mais diversas certidões, o que em uma
eventual demanda judicial necessita de uma maior dilação probatória, aumen-
tando inclusive os custos do processo.
Como alternativa para tanto, é imprescindível a compreensão por parte da
comunidade que o Registro imobiliário é o órgão encarregado de publicizar a
situação jurídica do imóvel, no intuito de proporcionar segurança jurídica (pri-
mordialmente visa a segurança jurídica dinâmica) ao tornar verdadeiramente
oponíveis os direitos ali publicizados. Por conseguinte, é fundamental consoli-
dar o ônus que recai sobre o interessado em publicitar os direitos que relacio-
nem aos imóveis e que, em qualquer grau, devam ser oponíveis erga omnes.
Em eventual conflito entre um direito não inscrito, – mas que para além da
eficácia intra partes deveria tê-lo sido –, não é concebível favorecê-lo em detri-
mento do direito do adquirente que não tinha conhecimento efetivo do mesmo
e inscreveu o seu direito (elementos subjetivo e objetivo para a concessão da
tutela da fé pública registral), sob o argumento de que o adquirente não tomou
as medidas necessárias para se precaver de direitos incompatíveis e que, por-
tanto, não agiu de boa-fé na sua aquisição. Resolver dessa forma problema é,
sobretudo, menosprezar a publicidade e desconsiderar o ônus que recai sobre
o interessado em publicizar o seu direito.
Se há, por um lado, um mecanismo específico e eficaz de dar a conhecer e tor-
nar oponível o direito e, por outro, a possibilidade real de fazer uso deste, não pode
aquele que optou livremente em não fazer uso da publicidade registral pretender
que seja tutelado em seu direito, na medida em que este sim não agiu conforme os
ditamos da boa-fé objetiva.
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8. Referências bibliográficas
ALMEIDA, Carlos Ferreira. Publicidade e Teoria dos Registos. Coimbra: Alme-
dina, 1966.
120. CAPEROCHIPI, Jose Antonio Álvarez. Derecho Inmobiliario Registral cit., p.145.
121. Para Jose Alberto Gonzalez o registro não é uma mera faculdade, pois se assim o fosse
a sua não realização em seria totalmente indiferente ao particular com legitimidade
para o requer o que, conforme se viu, não é isto que ocorre (A Realidade Registral
Predial para Terceiros cit., p. 151.).
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Pesquisas do Editorial
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