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A INFORMATIZAÇÃO NO AMBIENTE CARTORIAL

Juliana Oliveira da Silva Tavares


Carlos Eduardo Bastos

RESUMO

Há tempos discute-se o uso da tecnologia para facilitar os atos notariais e registrais. No artigo 41 da lei
8935/1994, que autoriza os notários, se disponível, desenvolver sistemas de computação ou o que for
necessário para o melhor serviço à sociedade. Tempo passa, evolução tecnológica vem para facilitar o
dia-a-dia de todos. Esse universo tecnológico amadurece e fica cada vez mais seguro e mais impossível
de não utilizá-lo ao nosso benefício. Não apenas a tecnologia, mas, leis, provimentos, atos jurídicos
também se atualizam. E ambos de mãos dadas podem trazer ao ambiente cartorial um desenvolvimento
prático e virtual para a sociedade. Infelizmente, os desafios existem e vem para atrasar um pouco esse
universo ideal para os cidadãos brasileiros. Barreiras como a pobreza em determinadas regiões
brasileiras, falta de conhecimento de como usar um computador, ignorância digital e até mesmo nas
regiões mais desenvolvidas o não incentivo em mudar o hábito, a cultura de ter que resolver tudo de
maneira presencial. Embora já pudéssemos estar vivendo a experiência de um acesso ao sistema
cartorial totalmente virtual, sabemos que a tendência é sempre evoluir, e assim, caminha-se para o
cenário ideal de praticar os atos notariais e registrais sem sair de casa de maneira segura, econômica e
prática.

Palavras-chave: VIRTUAL. Cartório. Leis.

INTRODUÇÃO

Pergunta: quais os desafios e oportunidades dos serviços virtuais no ambiente


cartorial?
Hipótese: O cenário ideal para a sociedade seria o benefício de poder exercer
todo e qualquer serviço extrajudicial de maneira remota e virtual.

CAPÍTULO 1 – TECNOLOGIA PRESENTE NO SISTEMA CARTORIAL

A evolução tecnológica, no ambiente cartorial, vem com o objetivo de facilitar


os atos extrajudiciais tanto da população quanto dos servidores cartoriais. E com o
desenvolvimento dessas facilidades foi necessário criar leis e ferramentas de modo a
ter um órgão fiscalizador específico para os serviços tecnológicos no cenário
notarial/registral.
Por exemplo, o provimento de número 74/2018 do CNJ (Corregedoria Nacional
de Justiça), neste consta uma série de exigências divididas em 3 classes. Classe 1 são
os cartórios que arrecadam até R$ 100 mil reais por semestre; classe 2 que arrecadam
entre R$ 100 mil a R$ 500 mil reais; classe 3 são as serventias que arrecadam acima
de R$ 500 mil reais por semestre. Algumas das exigências são diferenciadas para cada
classe, como, por exemplo, o número de funcionários treinados na operação de
sistema de copias de segurança ou empresa terceirizada com a mesma quantidade de
colaborador disponível, respectivamente, 1 funcionário, 2 funcionários, 3 funcionários;
assim como o link de comunicação de dados, respectivamente, mínimo de 2
megabites, 4 megabites e mínimo de 10 megabites. Porém, outras exigências são as
mesmas para as 3 classes, como, por exemplo, o advento da computação em nuvem,
estruturas de servidores e dados podem ser hospedados em ambientes mais seguros,
onde o provedor de nuvem garante a segurança de infraestrutura e o operador dos
dados, no caso o ambiente cartorial se preocupa com a gestão e a segurança dos
dados. Esse tipo de serviço também provê um ambiente mais elástico, onde quando
houver maior demanda de atividades na esfera cartorial é possível alocar mais
servidores redundantes para suprir essa demanda, que facilita a retomada em até 15
minutos se necessário, sem a necessidade de adquirir mais servidores previamente. A
gestão em nuvem também permite um gerenciamento de backups mais seguro.
Mas o maior advento que chegou, em termos de segurança, é uma estrutura de
registro de informação que garante a integridade dos dados e nunca vai ser modificado
chamado “blockchain” tradução literal: corrente de dados.
O Blockchain foi criado em 1991 por Stuart Haber e Scott Stonetta, criadores
da máquina foto copiadora para a empresa Xerox. Em 1992 eles incluíram criptografia
nesse sistema imutável. Tal invenção assegura que toda e qualquer informação ou
dado, distribuídos entre os blocos não podem ser deletados ou alterados. Já que um
bloco está interligado ao outro por uma espécie de “nó“ de segurança. Embora muito
eficaz, ficou desconhecido por muito tempo, mas, tornou-se conhecido quando o
Bitcoin, moeda digital, que basicamente faz transações financeiras sem intermediários,
mas, que precisava de criptografia e segurança dos dados e encontraram no
blockchain a solução que precisavam.
Com o conhecimento de que o Bitcoin utilizava essa estrutura de registro de
informações várias empresas, entidades, governos e até mesmo o universo cartorial
começaram usufruir dessa tecnologia. Mas antes disso, empresas privadas, como, por
exemplo, a Grow Tech, empresa de desenvolvimento de softwares, tentaram persuadir
o sistema cartorial a contratá-los para implementar um blockchain no sistema e-
notarial, plataforma que permite aos notários e registradores atuar de forma eletrônica,
bastando a outra parte obter o certificado digital, que nada mais é que sua identidade
digital. Porém, sempre foi entendido que o e-notarial é institucional e não privado,
então, que o próprio desenvolvesse seu sistema blockchain.

CAPÍTULO 2 – LIMITAÇÕES DA SOCIEDADE

Atualmente, temos vários serviços extrajudiciais acontecendo de maneira


remota, com certificação digital e plena segurança de proteção dos dados. A tendência
é que todos os atos cartoriais sejam possíveis de serem efetuados de maneira virtual.
Não sendo necessário assim, que o cidadão se desloque até o endereço físico da
serventia, gastando combustível, estacionamento, perdendo seu tempo de trabalho ou
até mesmo podendo estar em outro país sem a preocupação de ter que ir até a
embaixada brasileira lavrar uma procuração pública à outra pessoa que possa
representá-lo junto ao cartório.
Ao mesmo tempo em que esse possível universo informatizado, tecnológico,
moderno e prático está perto e quase dando para tocá-lo, ele ainda está distante da
realidade, como em vários municípios brasileiros, pobres de tudo que é básico e
necessário pra sobreviver; quem dirá um universo tecnológico que chega ser surreal
pra alguns cidadãos.
O simples ato de fazer um registro de nascimento pode se tornar uma viagem
ao passado quando, para quem morava em aldeias, vilas distantes da civilização tinha
que aguardar algum escasso meio de transporte público para ir até alguma serventia
extrajudicial. São, aproximadamente, 20% da população brasileira que não consegue
ter contato com a internet. Sendo esse um fator limitante a informatização total dos
serviços extrajudiciais.
Em estudo divulgado em março de 2022, realizado pela empresa de consultoria
PWC em conjunto com o Instituto Locomotiva, que pesquisa tendências e
oportunidades para o futuro, mais de 33 milhões de brasileiros não tem acesso à
internet. Além de insfraestrutura precária, outro obstáculo é o analfabetismo digital. A
revista britânica The Economist, publicou o resultado da pesquisa “The Inclusive
Internet 2021”, e entre 120 países o Brasil ocupa o 80º lugar no ranking. Ou seja, não
basta dar o acesso à internet. Tem que ensinar a manusear, acessar, utilizar.
Embora as pesquisas mostrem números desanimadores, há também
movimentos para tentar amenizar essa realidade. Exemplo disso é o programa do
governo federal, desenvolvido pelo ministério das comunicações, Wi-Fi Brasil, que
levou mais de 15 mil prontos de internet gratuita a todo o território nacional, sendo que
dos 5.568 municípios, 3.055 receberam os prontos de internet, a maioria dos pontos
foram distribuídos, prioritariamente à comunidades de vulnerabilidade. A região
nordeste recebeu 7 mil pontos e a região norte recebeu 3.5 mil pontos de distribuição.
O sinal é recebido do satélite brasileiro lançado em 2017 e que está a 36 mil
quilômetros de distância da terra.
E ainda outro objetivo a ser superado é o hábito, a cultura. Nas regiões mais
desenvolvidas, como o sudeste e o sul, onde a maioria dos cidadãos tem acesso a
informatização, acesso diário à internet e são digitalmente alfabetizados, 80% dos atos
cartoriais, praticados em 2020, foram de forma remota. Esse número se deve à
pandemia. Em um cenário normal esse volume seria menor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS – ACESSO À INFORMATIZAÇÃO

Os atos notariais e registrais praticados de forma virtual encontram vários


desafios que vão além de ter acesso à internet de qualidade; obstáculos como
analfabetismo digital e a cultura do hábito de procurar o meio mais prático e barato de
exercer seu direito de cidadão, são outros desafios a serem superados.
Embora o governo federal promova ações como o Wi-Fi Brasil, é necessário
que o setor privado também invista em ações que promovam o acesso à internet e para
combater o analfabetismo digital e cultural.
A desigualdade social e o abismo digital representam o quão nosso país ainda
tem que melhorar para que o cenário ideal, de ter todos os brasileiros praticando seus
atos cartoriais no ambiente virtual, se torne realidade.
Mas, a evolução faz parte da sociedade e caminhamos focados em superar os
desafios citados.

REFERÊNCIA
BRASIL. Lei nº 8935 de 18 de novembro de 1994. Brasília. Congresso nacional.
Publicado em 21 de novembro de 1994. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8935.htm
Acesso em 21 de abril de 2022.

BRASIL. Provimento nº 74 de 31 de julho de 2018. Brasília. Conselho nacional de


justiça. Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/files/provimento/provimento_74_31072018_01082018113730.pdf
Acesso em 20 de abril de 2022.

MAIS DE 33 MILHÕES DE BRASILIEROS NÃO TÊM ACESSO À INTERNET, DIZ


PESQUISA. Globo.com, 2022. Disponível em:
https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/03/21/mais-de-33-milhoes-de-brasileiros-
nao-tem-acesso-a-internet-diz-pesquisa.ghtml
Acesso em 20 de abril de 2022.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censos 2021.


Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação: IBGE, 2022.
Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html
Acesso em 20 de abril de 2022.
BRASIL CHEGA A 152 MI DE USUÁRIOS DE INTERNET; IDOSOS ESTÃO MAIS CONECTADOS.
Uol.com.br 2021. Disponível em:
https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2021/08/18/tic-domicilios-2020-idosos-usaram-mais-
internet-uso-de-smart-tv-cresceu.htm Acesso em 10 de maio de 2022.

SAIBA TUDO SOBRE O WI-FI BRASIL, O SERVIÇO QUE OFERECE CONEXÃO GRATUÍTA À
INTERNET EM BANDA LARGA POR SATÉLITE E VIA TERRESTRE À POPULAÇÃO. Gov.br
2021. Disponível em: https://www.gov.br/mcom/pt-br/acesso-a-
informacao/acoes-e-programas/wi-fi-brasil Acesso em 09 de maio de 2022.

PESQUISA MOSTRA QUE 82,7% DOS DOMÍCILIOS BRASILEIROS TÊM ACESSO À INTERNET.
Gov.br 2021. Disponível em: https://www.gov.br/mcom/pt-
br/noticias/2021/abril/pesquisa-mostra-que-82-7-dos-domicilios-brasileiros-tem-acesso-a-internet
Acesso em 09 de maio de 2022.

JOVEM PAN NEWS. Sociedade digital: cartórios e blockchains. JOVEM PAN. 07 de


dezembro 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UAQj02xg2kg&t=1834s
Acesso em 07 de maio de 2022.

CAROZZA. Alex. Common Law e Civil Law – Estudo completão. ALEX CAROZZA. 30
de dezembro de 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=H7lSJrz6k0c&t=4s
Acesso em 07 de maio de 2022.

O ABISMO DIGITAL NO BRASIL. Pwc.com.br Disponível em:


https://www.pwc.com.br/pt/estudos/preocupacoes-ceos/mais-temas/2022/o-abismo-digital-no-
brasil.html Acesso em 10 de maio
de 2022.

USECRIPTO. O que é Blockchain? Entenda de forma fácil o que é essa tecnologia. 29 de junho de 2021.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dkElPTevoR4&t=156s
Acesso em 08 de maio de 2022.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Regulamento_Geral_sobre_a_Prote%C3%A7%C3%A3o_de_Dados

MAIS DE 33 MILHÕES DE BRASILIEROS NÃO TÊM ACESSO À INTERNET, DIZ


PESQUISA. Globo.com, 2022. Disponível em:
https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/03/21/mais-de-33-milhoes-de-brasileiros-
nao-tem-acesso-a-internet-diz-pesquisa.ghtml
Acesso em 20 de abril de 2022.
REGULAMENTO GERAL SOBRE A PROTEÇÃO DE DADOS. Wikipedia 2022. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Regulamento_Geral_sobre_a_Prote%C3%A7%C3%A3o_de_Dados
Acesso em 15 de novembro de 2022.

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