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6.766/1979 e 13.465/2017
Para evitar possíveis mazelas sociais, oriundas do crescimento desordenado das cidades,
o ordenamento jurídico brasileiro prevê uma série de regras urbanísticas que devem ser
observadas durante os procedimentos de uso e ocupação do solo urbano.
Os regramentos relacionados aos parcelamentos do solo são uma das principais formas
de se estabelecer a ordenação dos espações territoriais urbanos, porquanto impõem a
realização de condições mínimas de infraestrutura, planejamento, organização
1
DI PIETRO, M. S. Z. Poder de Polícia em matéria urbanística. In: FREITAS, J. C. (Coord.). Temas de direito
urbanístico 2. São Paulo: Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Habilitação e Urbanismo –
CAOHURB; Ministério Público do Estado de São Paulo – Procuradoria Geral de Justiça; Imprensa Oficial do Estado,
1999. P. 31.
administrativa e embelezamento, necessárias para tornar as cidades estruturadas e, deste
modo, proporcionar bem-estar aos novos habitantes dos núcleos.
2. DOS LOTEAMENTOS
Sobre o conceito de loteamento, o artigo 2º, §1º da Lei 6.766/1979, classifica-o como
sendo “a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas
vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou
ampliação das vias existentes”.
2
A lei federal n. 6.766/1979, que traz as diretrizes gerais sobre parcelamento do solo urbano no Brasil, também é
conhecida como “Lei Lehmann”, em razão de o projeto de lei que a originou ter sido apresentado pelo senador Otto
Cirillo Lehmann.
circulação, a demarcação dos lotes, quadras e demais logradouros, e a implementação
dos equipamentos públicos para o escoamento de águas pluviais.3
3
Artigo 18, V, da Lei Federal 6.766/1979.
4
Artigo 2º, §5º da Lei Geral de Parcelamento do Solo Urbano.
5
MORETTO, Simone Santos; SOMENSI, Simone. Loteamentos Irregulares e clandestinos: sua regularização no
município de Porto Alegre. Revista da Procuradoria Geral do Município de Porto Alegre, Porto Alegre, Edição 23,
página 157 a 174, 2009.
Nessas hipóteses, a fim de resguardar principalmente o interesse dos adquirentes de
boa-fé, o ordenamento jurídico brasileiro apresenta alguns procedimentos de
regularização de loteamentos capazes de solucionar tais problemas.
Sendo constatado um loteamento irregular, a Lei 6.766/79 prevê como primeiro passo
para a sua regularização que o empreendedor seja notificado para suspender o
recebimento de todos os pagamentos das prestações restantes do loteamento. Essa
notificação também deverá determinar que o responsável pelo loteamento promova os
atos necessários para a legalização do empreendimento no prazo de até 90 dias.
A referida notificação pode ser feita tanto pela Prefeitura Municipal, quanto pelo
Ministério Público Estadual ou, ainda, na ausência de manifestação de ambos, pelo
próprio particular adquirente dos lotes. Já o ato de notificação pode ser realizado por
meio do cartório de registro de imóveis, de títulos e documentos, ou, ainda, por via
judicial.
Outra forma de se regularizar loteamentos seria por meio dos procedimentos previstos
na Lei da Reurb, uma vez que esses parcelamentos podem ser enquadrados como
núcleos urbanos informais, que são o objeto de intervenção da Regularização Fundiária
Urbana.
Os núcleos urbanos informais, de acordo com o art. 11, II, da Lei 13.465/17, são
conceituados como ocupações onde os moradores não possuem título de propriedade
registrado, seja em razão de irregularidades ocorridas na época da aquisição do bem, ou
por se tratarem de núcleos clandestinos, formados sem qualquer intervenção pública.
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Artigo 38, §3º, da Lei Federal 6.766/1979
7
Artigo 40, caput, Lei Federal 6.766/1979
8
Artigo 40 da Lei Federal 6.766/1979
9
Artigo 41 da Lei Federal 6.766/1979
Diante disso, é possível concluir que os procedimentos de regularização previstos na Lei
da Reurb podem ser aplicados tanto para núcleos irregulares, a exemplo do que ocorre
nos procedimentos elencados pela Lei Geral de Parcelamento, quanto os parcelamentos
clandestinos, até mesmo se eles estiverem situados em imóveis públicos. 10
10
Artigo 23, caput, da Lei Federal 13.465/2017
11
Artigo 9º, caput, da Lei Federal 13.465/2017
12
Artigos 13, I e II da Lei Federal 13.465/2017
13
Artigo 33 da Lei Federal 13.465/2017
14
Artigo 30 da Lei Federal 13.465/2017
No entanto, a lei autorizou vários indivíduos a realizarem o requerimento para a
tramitação do pedido de regularização perante o Município. Poderão requerer a Reurb
todos os entes federativos, o Ministério Público, a defensoria, os proprietários dos
imóveis ocupados, os loteadores e até mesmo os indivíduos beneficiários da Reurb,
individualmente ou por meio de associação, cooperativas, dentre outros, desde que
requeiram e promovam os atos necessários para a regularização do núcleo.15
A Lei n. 13.465/2017 traz uma série de institutos que podem ser utilizados no âmbito
dos procedimentos da Reurb para a regularização do parcelamento, de modo que o título
de propriedade seja concedido ao ocupante do imóvel e para que o núcleo atenda aos
parâmetros urbanísticos mínimos exigidos pela Lei, quando for o caso.
Trata-se de um instrumento jurídico criado pela Lei da Reurb, pelo qual o ocupante
adquirirá a unidade imobiliária com destinação urbana livre e desembaraçada de
quaisquer ônus, direitos reais, gravames ou inscrições, eventualmente existentes em sua
matrícula de origem, exceto quando disserem respeito ao próprio legitimado17.
4. CONCLUSÃO
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Artigo 35, X, Lei Federal 13.465/2017