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Introdução
Historicamente, terra, no Brasil, é sinônimo de poder e reserva de valor. Esse
aspecto é observável desde o período colonial até hoje. A extrema
concentração fundiária existente gera a segregação urbana que, por sua vez,
contribui para a desigualdade social. Segundo Flávio Villaça, “daí decorre a
importância da segregação na análise do espaço urbano de nossas
metrópoles, pois a segregação é a mais importante manifestação espacial-
urbana da desigualdade que impera em nossa sociedade”.[1]
A concentração fundiária e a consequente segregação urbana “empurram” a
população de menor poder aquisitivo para áreas mais remotas dos espaços
urbanos, gerando ocupações urbanisticamente desordenadas, conjuntos de
moradias irregulares, sendo um dos exemplos mais conhecidos as “favelas”. O
fator econômico é, aqui, preponderante.
Para Edésio Fernandes[2],
“Os assentamentos informais e a consequente falta de segurança da posse,
vulnerabilidade política e baixa qualidade de vida para os ocupantes resultam
do padrão excludente dos processos de desenvolvimento, planejamento,
legislação e gestão das áreas urbanas. Mercados de terras especulativos,
sistemas políticos clientelistas e regimes jurídicos elitistas não têm oferecido
condições suficientes e adequadas de acesso à terra urbana e à moradia para
os pobres, provocando assim a ocupação irregular e inadequada”.
O Direito, como fruto da sociedade, não fica imune a esse processo. A
Constituição Federal, no artigo 6º, elenca o direito à moradia como um dos
direitos sociais. Já no artigo 182 dispõe: “A política de desenvolvimento urbano
[...] tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”. Isso, segundo José Afonso
da Silva, “quer dizer que a política urbana tem por objetivo construir e ordenar
um meio ambiente urbano equilibrado e saudável”.[3] E no artigo 183 prevê o
instituto da Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia, posteriormente
analisado.
Com o objetivo de regular o capítulo de Política Urbana da Constituição Federal
(composto pelos artigos 182 e 183) surgiu a Lei 10.257/2001, o Estatuto da
Cidade, definindo princípios, diretrizes de ação e instrumentos de gestão
urbana a serem utilizados, principalmente, pelo Poder Público municipal, em
especial através do plano diretor[4].
Importante instrumento na luta por um ambiente urbano mais justo é a
regularização fundiária, que pode ser definida, basicamente, como o processo
composto por medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais que possui
o intuito de integrar assentamentos irregulares ao contexto legal das cidades.
Quando a regularização fundiária é feita em áreas particulares um dos
institutos mais utilizados é a usucapião, especialmente a usucapião especial
urbana, de amplo conhecimento geral. Por outro lado, quando estão em
questão áreas públicas são comumente aplicados os não igualmente
conhecidos institutos da Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) e a
Concessão de Uso Especial para fins de moradia (CUEM), os quais serão
detalhados no presente estudo.
Da Regularização Fundiária Plena
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 12ª ed.
Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2005.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26ª Ed. São Paulo:
Malheiros, 2001.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 7ª ed. São
Paulo: Malheiros, 1995.
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 2ª Ed. São Paulo:
Malheiros, 1995.
[3] SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 2ª Ed. São Paulo:
Malheiros, 1995, p. 150.
[4] Estatuto da Cidade, art. 40: “O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o
instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”.
[9] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26ª Ed. São
Paulo: Malheiros, 2001, p. 485-90.
[10] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 7ª ed.
São Paulo: Malheiros, 1995, p. 535.