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ARQUITETURA E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

A busca pela garantia do direito à moradia

Maria Clara Moreira


Arquiteta e Urbanista
Mestranda e pesquisadora em urbanismo | PROURB - UFRJ

Março 2022
Projeto de urbanização de favela + Habitação de Interesse Social (HIS)

Como garantir a execução do projeto?

Direito à cidade e
Políticas públicas direito à moradia

Programas governamentais Legislação

Regularização Fundiária
Referência - Favela-Bairro
(Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro)
de Interesse Social |
REURB-S
São políticas criadas para garantir aos cidadãos seus direitos
previstos por lei.

● Três são as políticas públicas urbanas estruturais: transporte, habitação


e saneamento (MARICATO, 2015).
Políticas públicas
● As políticas públicas são um conjunto de forças sociais e interesses
específicos de determinadas classes, que apesar de não serem
unanime, há a dominação das classes economicamente favorecidas
nesse processo (BONETI, 2006).
Favela-Bairro | Prefeitura Municipal Rio de Janeiro

● Maio 1994 | Concurso público Favela-Bairro - Parceria entre


Prefeitura e Instituto dos Arquitetos do Brasil do Rio de
Janeiro (IAB-RJ);

● Equipes de arquitetos e urbanistas na cidade do Rio de


Janeiro;

● O desafio era elaborar propostas metodológicas para


transformar favelas em bairros;

● Promover integração entre cidade informal e cidade formal;

● Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento


(BID) e Prefeitura do Rio de Janeiro;

● Comunidades médias de 500 a 2500 moradias;

● Em torno de 38 foram beneficiadas na primeira fase do


programa;

Desenhos da
equipe 121
Desenhos da Desenhos da
equipe 112 equipe 115
Direito à cidade
● Termo cunhado por Henri Lefebvre e título do livro publicado pelo
mesmo em 1968
● Valor de uso X Valor de troca
● O direito à cidade não se resume ao acesso a infraestruturas e
equipamentos urbanos públicos, mas a vida na cidade, incluindo lazer,
oportunidades de trabalho e espaço para exercer a cidadania.
Direito à cidade
e
Direito à moradia Direito à moradia
● Direito garantido pela regulamentação do Art.182 da Constituição
Federal de 1988
● O Comentário nº 4 do Comitê sobre os Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, em que uma moradia adequada é determinada por nove
características: segurança da posse, disponibilidade de serviços,
materiais, instalações e infraestrutura, economicidade, habitabilidade,
acessibilidade, localização, adequação cultural.
Constituição Federal 1988
● "Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder
público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade
e garantir o bem-estar de seus habitantes."

Legislação Lei 10.257/2001 | Estatuto da Cidade


● "Art.2º. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
I - garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à
terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura
urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer,
para as presentes e futuras gerações;"
Lei 11.888/2008
● "Assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e
gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social"
● Art.2º - determina que uma família com até 3 salários mínimos deve ter
acesso a esse direito.
● Art.2º, § 1º - a assistência técnica prevê projeto, acompanhamento e
execução de obra a cargo de arquitetas(os), engenheiras(os)
necessários para edificação, reforma e regularização fundiária.
Legislação
Lei 13.465/2017
● TÍTULO II | DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA | CAPÍTULO I
● "Art. 9º Ficam instituídas no território nacional normas gerais e
procedimentos aplicáveis à Regularização Fundiária Urbana (Reurb), a
qual abrange medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais
destinadas à incorporação dos núcleos urbanos informais ao
ordenamento territorial urbano e à titulação de seus ocupantes."
Regularização Fundiária de Interesse Social

Lei 13.465/2017

● Regularização Fundiária de Interesse Social (REURB-S) X


Regularização Fundiária de Interesse Específico (REURB-E)

● "Art. 13. A Reurb compreende duas modalidades:


I - Reurb de Interesse Social (Reurb-S) - regularização
fundiária aplicável aos núcleos urbanos informais ocupados
predominantemente por população de baixa renda, assim
declarados em ato do Poder Executivo municipal; e (...)"

● Não é só favela ou assentamento precário que está


ocupando terreno em situação irregular!

● A REURB-S garante isenções de taxas tanto para o processo


administrativo da regularização fundiária, como também do
projeto técnico necessário e a execução das obras de
infraestrutura urbana.

Foto autoral. Nov., 2018


Projeto de Regularização Fundiária

Seção II for o caso;


Do Projeto de Regularização Fundiária VIII - estudo técnico ambiental, para os fins
"Art. 35. O projeto de regularização fundiária conterá, no previstos nesta Lei, quando for o caso;
mínimo: IX - cronograma físico de serviços e implantação de
I - levantamento planialtimétrico e cadastral, com obras de infraestrutura essencial, compensações
georreferenciamento (...); urbanísticas, ambientais e outras, quando houver,
II - planta do perímetro do núcleo urbano informal definidas por ocasião da aprovação do projeto de
com demonstração das matrículas ou transcrições regularização fundiária; e
atingidas, quando for possível; X - termo de compromisso a ser assinado pelos
III - estudo preliminar das desconformidades e da responsáveis, públicos ou privados, pelo cumprimento do
situação jurídica, urbanística e ambiental; cronograma físico definido no inciso IX deste artigo.
IV - projeto urbanístico; Parágrafo único. O projeto de regularização
V - memoriais descritivos; fundiária deverá considerar as características da
VI - proposta de soluções para questões ocupação e da área ocupada para definir parâmetros
ambientais, urbanísticas e de reassentamento dos urbanísticos e ambientais específicos, além de identificar
ocupantes, quando for o caso; os lotes, as vias de circulação e as áreas destinadas a
VII - estudo técnico para situação de risco, quando uso público, quando for o caso."
Projeto Urbanístico de REURB

"Art. 36. O projeto urbanístico de regularização fundiária VII - das medidas de adequação da mobilidade,
deverá conter, no mínimo, indicação: acessibilidade, infraestrutura e relocação de edificações,
I - das áreas ocupadas, do sistema viário e das quando necessárias;
unidades imobiliárias, existentes ou projetadas; VIII - das obras de infraestrutura essencial, quando
II - das unidades imobiliárias a serem regularizadas, necessárias;
suas características, área, confrontações, localização, IX - de outros requisitos que sejam definidos pelo
nome do logradouro e número de sua designação Município.
cadastral, se houver; § 1º Para fins desta Lei, considera-se infraestrutura
III - quando for o caso, das quadras e suas essencial os seguintes equipamentos:
subdivisões em lotes ou as frações ideais vinculadas à I - sistema de abastecimento de água potável,
unidade regularizada; coletivo ou individual;
IV - dos logradouros, espaços livres, áreas II - sistema de coleta e tratamento do esgotamento
destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos sanitário, coletivo ou individual;
urbanos, quando houver; III - rede de energia elétrica domiciliar;
V - de eventuais áreas já usucapidas; IV - soluções de drenagem, quando necessário; e
VI - das medidas de adequação para correção das V - outros equipamentos a serem definidos pelos
desconformidades, quando necessárias; Municípios em função das necessidades locais e
características regionais."
● Necessário conhecimento de campo da área a ser realizado o projeto;

● Mapear as potencialidades do território;

Projeto de ● Identificar as necessidades mais urgentes para os moradores do local;


urbanização de ● Identificar as potencialidades do entorno imediato (500m de raio para
favela circulação a pé, 1km para circulação de bicicleta);

● Identificar a integração da área com o restante da cidade - O que o


projeto urbano pode propor para melhorar isso?
Exemplo autoral
Exemplo autoral
Exemplo autoral
Exemplo autoral
Exemplo autoral
Exemplo autoral
● Reconhecer que as casas em espaços de segregação espacial e
exclusão social tem sua identidade e arquitetura própria;

Habitação de ● Como propor uma habitação adequada àquela população sendo que há
Interesse Social medidas máximas de metragem para HIS? (60m²)

● Considerar possibilidade de ampliação para essas futuras moradias? É


cabível dentro da legalidade?
Demetre Anastassakis

Fonte:
http://planhabdauufes.blogspot.com/2009/12/saber-popu
lar-e-modernidade-tecnologica.html

Fonte: Conjunto habitacional Jardim São Francisco (Setor VIII), São Paulo, 1989 Foto divulgação
Website CAU Conjunto habitacional Jardim São Francisco (Setor VIII), São Paulo, 1989 Foto
divulgação [Website CAU] Fonte: https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2013/06/c_ribas7963.jpg
Exemplo autoral
Arquitetura e REURB-S

● Reconhecimento da forma de ocupação original do


assentamento a ser regularizado;

● Caso haja necessidade de reassentamento importante que


este seja feito no perímetro do assentamento, se não for
possível é essencial realocar as famílias em terreno próximo
a ocupação original;

● Reconhecimento da arquitetura existente no território e


também das necessidades reais dos moradores;

● Arquitetura e Urbanismo é ciência social aplicada;

● Arquitetas(os) e urbanistas são técnicos e devem exercer a


função social da profissão!

● A REURB é um processo interdisciplinar que conta com


arquitetas(os), urbanistas, engenheiras(os), advogadas(os),
assistentes sociais e diversos profissionais que possam vir a
agregar no processo de se pensar e executar a garantia do
direito à moradia;
Foto autoral. Jul., 2021
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MARICATO, Ermínia. Para Entender a Crise Urbana. Expressão Popular, (2019 [2015]).

LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. Tradução Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro. (2015 [2001]).

BONETI, Lindomar Wessler. Políticas Públicas por Dentro. Editora Unijuí. (2006).

DUARTE, Cristiane Rose; SILVA, Osvaldo Luiz; BRASILEIRO, Alice. Favela, um Bairro. Propostas Metodológicas para Intervenção Pública em Favelas
do Rio de Janeiro. São Paulo: Pró-Editores. (1996).
Equipe 112: Pablo César Benetti (arq. urb.); Eduardo Barra (arq. paisagista); Hermano Freitas (arq.); Marco Silva (arq.), Solange Libman (arq.); Pedro Alexandre Moitel
Pequeno (eng. civil sanitarista); Walmir Andrade Oliveira (mestre em estatística, dr. eng. produção); Robson Martins (fotógrafo);
Equipe 115: Humberto Cerqueira Silva (arq. urb.); Ana Clara Torres Ribeiro (socióloga); João Carlos Saldanha N. Santos (sociólgo); Lilian Feesler Vaz (arq.); Maria Luiza T,
Tambelini (assist. social); Peter José Schweizer (arq.); Evangelina A. Pinho (adv.); Yeda Maria Vieira (arq.); Marcos Aurélio L. Arimatéia (arq.); Maria Cristina V. Haas, (arq.);
Rubens Negrini Pastorelli Jr. (arq.); Sylvia Maria L. W. C. Almeida (arq.); Mauro Resnistzy (arq.);
Equipe 121: Sandra Neves de Andrade (arq. urb.); Claúdia Maria Pinheiro e Silva (arq. urb.); Patrícia Menezes Maya Monteiro (arq. urb.); Hugo Biagi Filho (paisagista); Flávio
Soares de Moura (eng. sanitarista); Isaac Voichan Jr. (eng. sanitarista); Maria Claudia Barbosa (eng. civil); Francisco de Assis R. Serpa (químico);
OBRIGADA

Contato: arqurb.mamoreira@gmail.com

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