Você está na página 1de 7

Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE

Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES – 2ª VARA CRIMINAL


AUTOS nº.: 0660475-50.2016.8.13.0105
PACIENTE: ALEXSANDRO DA SILVA

O Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal da Faculdade de Direito do Vale do


Rio Doce – FADIVALE, aqui representado pelo seu quadro de profissionais; Luiz Alves Lopes,
advogado, regularmente inscrito na OAB/MG – 45.286, Fernanda Barroso Andrade,
advogada regularmente inscrita na OAB/MG – 116.741 e Maiana de Oliveira Birindiba,
advogada regularmente inscrita na OAB/MG – 131.922, com endereço profissional na rua
Dom Pedro II, 244, Centro, Governador Valadares/MG, vem perante Vossa Excelência com
fundamento no artigo 5º, inciso LXVIII da Constituição Federal, artigo 647 e seguintes do
Código de Processo Penal e artigo 7º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos –
Pacto de San José da Costa Rica (1969) – aprovado pelo governo brasileiro através do
Decreto Legislativo nº 678/92, nos termos do art. 5º, § 2º da Constituição Federal, impetrar
a presente ordem de

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

em favor de ALEXSANDRO DA SILVA, brasileiro, amasiado, lavador de carros autônomo,


nascido em 02/04/1986, filho de Nilza Rosa da Silva Barbosa e pai não declarado, atualmente
custodiado na Cadeia Pública de Governador Valadares – MG, indicando como autoridade

Rua Dom Pedro II, 244, Centro - Governador Valadares/MG. CEP 35.020-270

Telefone: (33) 3271-2004 – E-mail: nucleocriminal@hotmail.com


Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

coatora o Meritíssimo Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de Governador


Valadares pelas razões de fato e de direito que passa a expor:

DA SÍNTESE DOS FATOS

O paciente encontra-se preso e recolhido na Cadeia pública de Governador Valadares


- MG, em razão da prisão em flagrante no dia 18/09/2016 pelo suposto cometimento contra
a sua companheira do delito descrito no artigo 129 §9º do Código Penal.

Foi cientificado ao paciente na delegacia que teria sido arbitrado uma fiança no valor
de R$ 300,00 (trezentos reais) para a sua soltura, quantia esta que o mesmo não possui
condições para pagar, razão pela qual sua prisão foi mantida (fl.07 dos anexo).

Em audiência de custódia que fora realizada no dia 19/09/2016 fora negada pelo
Douto Magistrado a quo o pedido de liberdade provisória, ocorrendo também, a conversão
da prisão em flagrante em prisão preventiva (fl.14 do anexo).

Posteriormente foi requerida a revogação da prisão preventiva, tendo em vista que o


mesmo se reconciliara com sua amasia, e que esta deixou claro o desejo de voltar a conviver
maritalmente com o Paciente. Todavia o Representante do Ministério Público opinou de
forma desfavorável ao requerimento da defesa, sendo assim negado o pedido e mantida a
custódia cautelar em desfavor do paciente (fl.41 do anexo).

DOS FUNDAMENTOS

Nobre Julgador, a Constituição Federal assegura o Habeas Corpus como sendo um


remédio constitucional, além de ser em sua essência um direito fundamental inerente a
todos aqueles que buscam assegurar a sua liberdade de locomoção, quando esta é
ameaçada ou quando esta já fora constrangida por ato ilegal ou abusivo da autoridade

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197
Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

coatora.

É com base nessa garantia suprema que o paciente almeja ser retomada a sua
liberdade de locomoção, amparado pelo princípio da Presunção de Inocência e da Dignidade
da Pessoa Humana, será demonstrado por meio dos fatos a necessidade da sua liberdade
bem como a ilegalidade da prisão.

I – DA MUDANÇA FÁTICA PARA A REVOGAÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR

Inicialmente cabe trazer à apreciação de Vossa Excelência fato de extrema


importância para provar a alegação de que a prisão do paciente é ilegal devendo ser
retomado ao mesmo o seu direito à liberdade de locomoção.

No caso em exame, o Paciente em seu depoimento na delegacia nega veemente a


prática do fato a ele imputado pela vítima, relatando que houve uma discussão entre
ambos, em que a suposta vítima o agredira, mas que este não a agrediu, sendo que apenas
tentou se defender das injustas agressões que sofria. (conforme fl.06 do anexo).

Além do mesmo negar a imputação do crime, não fora juntado aos autos o laudo de
exame de corpo delito, para que fosse comprovada a materialidade da suposta agressão,
uma vez que a lesão corporal é crime que deixa vestígios, configurando uma ilegalidade a
ausência do referido laudo, que é de suma importância probatória.

É regra expressa no ordenamento jurídico brasileiro a noção de que quando a


infração penal deixar vestígios será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo nem mesmo a confissão do acusado (Art. 158 do CPP).

Assim é entendimento deste Douto Tribunal sobre o assunto:

TJ-MG - Apelação Criminal APR 10239110016213001 MG (TJ-MG)


Data de publicação: 24/02/2014

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197
Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI MARIA DA


PENHA . CRIMES DE AMEAÇA E DE LESÕES CORPORAIS. PALAVRA ISOLADA
DA VÍTIMA. EXAME DE CORPO DELITO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DAS
LESÕES. IN DUBIO PRO REO. RECURSO IMPROVIDO. 1- Em se tratando de
delitos perpetrados no âmbito das relações domésticas, a palavra
da vítima é dotada de especial relevo, considerando a usual ausência de
testemunhas. 2- Não obstante, se a versão da ofendida não encontra
apoio nos autos, pois infirmada por exame de corpo de delito, tem
aplicação na espécie o princípio da não-culpabilidade, sendo necessário
manter a r. sentença que absolve o acusado pela evidente fragilidade
probatória. 3- A existência de indícios não autoriza a condenação criminal,
sendo necessário aquilatar a culpabilidade do acusado por outros meios
de prova, em virtude da máxima do in dubio pro reo. 4- Recurso
improvido.

Data Vênia Excelência, diante do exposto é visível que a suposta vítima agiu com má
fé, estava munida pela raiva e pelo sentimento de vingança, ao imputar falsamente o crime
de agressão ao paciente, o que ocasionou sérias consequências para o mesmo, dentre elas o
cárcere.

Além de ter levado a Autoridade Policial, o Ministério Público e o Judiciário a erro


imputando falso crime a um inocente, acarretou também no cerceamento da liberdade do
mesmo, fazendo com que o paciente conviva atualmente com indivíduos perigosos na
prisão, reincidentes em crimes graves, colocando em risco a sua integridade física e psíquica.

O Douto Magistrado ao fundamentar sua decisão pelo indeferimento da revogação


da prisão preventiva (de fl.41 do anexo) alega que não houve modificação fática hábil a
abalar os fundamentos da custódia, corroborando com o Ministério Público que opinara
desfavoravelmente ao requerimento da defesa para a revogação da preventiva.

Tal decisão do magistrado a quo não merece prosperar, pois a mesma carece de
legalidade e de fundamentos específicos de fato e de direito para justificar a manutenção do
paciente na prisão, uma vez que a prisão é a ultima ratio, devendo ser a exceção e não a
regra.
Há de salientar que, a própria vítima se pronunciara de forma diversa da pretendida
inicialmente, onde manifestou claramente que o objeto que ensejou a ação penal não

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197
Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

passou de mero desentendimento do casal. Optou também por deixar claro o desejo de
reatar o relacionamento com o paciente e de com este conviver maritalmente, não
restando mais motivos para a manutenção da custódia cautelar.

II – DO CONSTRANGIMENTO ILEGAL

Por todo exposto, houve sim mudança fática e hábil suficiente para a modificação dos
fundamentos da prisão preventiva, uma vez que motivo para a manutenção do paciente no
cárcere restou prejudicado com o surgimento de fato novo, pois a suposta vítima por livre e
espontânea vontade procurou reatar o relacionamento e retirar os fatos imputados pela
mesma ao paciente.
o Representante do Ministério Público e confessou a falsidade das suas declarações
prestadas perante a autoridade policial, tendo o parquet opinado favoravelmente à
revogação da prisão.
Há de se dizer também que, quanto ao caso em questão, não se verificam os
presentes pressupostos do Art. 312 do CPP, visto que a liberdade do Paciente não oferece
risco à garantia da ordem púbica ou econômica, assim como não gera perigo à aplicação da
lei penal, pois este possui trabalho lícito e residência fixa.
Data vênia excelência, como manter o paciente custodiado cautelarmente diante
dessa prova trazida aos autos? Como ignorar fato de suma relevância para a liberdade do
acusado que alega em seu depoimento a negativa da autoria, tendo ainda a vítima
confessado a inocência do mesmo?

Como manter um inocente no cárcere quando se está amparado pelo princípio


Constitucional da Presunção de Inocência e da Dignidade da Pessoa Humana?

Ínclito julgador, consoante se pode perceber pela análise das peças contidas no
anexo, não se verifica a materialidade do crime previsto no Art. 129, § 9º, do CP, pelas
razões abaixo:

1) Não há o exame de corpo delito;

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197
Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

2) o paciente nega a autoria dos fatos;


3) a suposta vítima confessa perante o Representante do Ministério Público a
falsidade do seu relato sobre o crime.

Portanto, não mais justifica a manutenção da prisão preventiva, não há infração a


nenhum dos requisitos do artigo 312 e 313 do CPP, a manutenção da prisão do paciente
torna-se um constrangimento ilegal.

Ainda que o ilustre magistrado tenha fundamentado que o paciente descumpriu


medida protetiva anteriormente imposta, não deve ser acolhida, uma vez que a vítima não
denunciou que o mesmo estaria descumprindo tal imposição, sendo que ambos
reconciliaram e voltaram a conviver, restando prejudicada a medida protetiva.

Cabe ressaltar num comparativo, uma eventual condenação o paciente não seria
recolhido ao cárcere podendo fazer jus ao benefício do regime aberto, logo, tal prisão no
caso em tela cristalinamente mostra-se desnecessária e desproporcional.

IV – DO PEDIDO

Por todo o exposto, amparado no Princípio Universal da Dignidade da Pessoa


Humana, no Princípio da Presunção de inocência, estando presentes o FUMUS BONI IURIS E
O PERICULUM IN MORA requer de Vossa Excelência
1) Seja CONCEDIDA A LIMINAR da ordem de HABEAS CORPUS para suspender
os efeitos da decisão de fl. 41 do anexo, que manteve a prisão preventiva;
2) Subsidiariamente, requer seja revogada a prisão preventiva, aplicando se for
o caso uma das medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal;
3) Seja expedido o alvará de soltura em razão da ausência de fundamentação
idônea do decreto prisional, tudo por tratar-se de medida cristalina de direito e de JUSTIÇA!

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197
Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce - FADIVALE
Núcleo de Criminologia, Penal e Execução Penal “Dra. Valéria Vieira Alves”

Governador Valadares, 04 de novembro de 2016.

_________________________
Fernanda Barroso Andrade
OAB/MG 116.741

Rua João Pinheiro, 535, Centro, Governador Valadares. CEP 35.020-270. Telefone: (33) 3271-0197

Você também pode gostar