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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 22

30/11/2004 SEGUNDA TURMA

HABEAS CORPUS 83.741 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO


PACTE.(S) : JOSÉ CLÁUDIO MARTARELLI
IMPTE.(S) : JOSÉ CLÁUDIO MARTARELLI
ADV.(A/S) : ANDRÉIA NOGUEIRA MARTARELLI
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

E M E N T A: “HABEAS CORPUS” - PRISÃO PREVENTIVA -


NECESSIDADE COMPROVADA - DECISÃO FUNDAMENTADA - MOTIVAÇÃO IDÔNEA QUE
ENCONTRA APOIO EM FATOS CONCRETOS – LEGALIDADE DA DECISÃO QUE
DECRETOU A PRISÃO CAUTELAR – PEDIDO INDEFERIDO.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os


Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a
Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata de
julgamentos e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em
indeferir o pedido de “habeas corpus”, nos termos do voto do
Relator. Ausentes, justificadamente, a Senhora Ministra Ellen Gracie
e o Senhor Ministro Joaquim Barbosa.

Brasília, 30 novembro de 2004.

CELSO DE MELLO - RELATOR

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30/11/2004 SEGUNDA TURMA

HABEAS CORPUS 83.741 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO


PACTE.(S) : JOSÉ CLÁUDIO MARTARELLI
IMPTE.(S) : JOSÉ CLÁUDIO MARTARELLI
ADV.(A/S) : ANDRÉIA NOGUEIRA MARTARELLI
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

R E L A T Ó R I O

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO - (Relator): O

Ministério Público Federal, em parecer da lavra da ilustre

Subprocuradora-Geral da República Dra. DELZA CURVELLO ROCHA, assim

resumiu e apreciou a presente impetração (fls. 160/167):

“‘HABEAS CORPUS’. CRIMES


FALIMENTARES. QUADRILHA. EXPEDIÇÃO DE
MANDADO DE PRISÃO EM DESFAVOR DO
PACIENTE. DECRETO DE PRISÃO
PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO
NO ART. 312 DO CPP. PRECEDENTES DESSE
PRETÓRIO EXCELSO NO SENTIDO DA
POSSIBILIDADE DA DECRETAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA, EM QUALQUER FASE DO
PROCESSO FALIMENTAR, DESDE QUE DOS
AUTOS CONSTEM ELEMENTOS QUE
EVIDENCIEM A PRÁTICA DE CRIME
DEFINIDO NA LEI DE FALÊNCIAS. NO CASO
DOS AUTOS, A NECESSIDADE DA GARANTIA
DA ORDEM PÚBLICA.
PARECER PELO INDEFERIMENTO DO ‘WRIT’.

...................................................
Cuida-se de ‘habeas corpus’, com pedido de liminar,
impetrado pelo advogado Marcelo de Moura Souza, em
favor de JOSÉ CLAUDIO MARTARELLI, denunciado pela
prática, em tese, dos delitos previstos nos arts. 186,
incisos VI e VII, 187 (três vezes) e 188, incisos III e

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HC 83.741 / SP

VIII, todos da Lei de Falências, e ainda no art. 288,


‘caput’, do Código Penal, todos c/c o art. 69, ‘caput’,
do mesmo Diploma Legal, pela prática de ‘inúmeras e
grandiosas fraudes consistentes em crimes relativos à
falência da empresa DVN S/A Embalagens’, contra o v.
acórdão da Eg. Quinta Turma do Superior Tribunal de
Justiça, que, à unanimidade, denegou a ordem impetrada,
ao analisar as alegações do impetrante, consoante os
seguintes argumentos expostos no ‘writ’:

‘a) Falta de fundamentação do decreto de prisão


preventiva, ante a ausência de motivos concretos,
indicados no corpo do decreto, sendo que tal
despacho judicial teria ‘copiado integralmente’ o
despacho proferido anteriormente no inquérito
judicial nº 02/2000, sem ao menos trocar a data da
r. decisão, além de ser tardio e extemporâneo;
b) Que o julgador afirmou, para fundamentar a
custódia a fim de assegurar a aplicação da lei
penal, o fato de o paciente não ter sido localizado
pelos oficiais de justiça, quando da intimação para
atos de outros processos, diversos deste, bem como
não teria sido intimado para se submeter, neste
processo, à perícia grafotécnica. Neste ponto, aduz
que os atos e condutas praticados pelo paciente em
outros feitos a que responde não podem acarretar
qualquer conseqüência na sua liberdade de locomoção
neste processo, sendo que a ausência do réu aos
atos de instrução não teria acarretado qualquer
transtorno processual ou paralisia do processo,
pois o não comparecimento do acusado aos atos do
processo traria, como conseqüência, a decretação de
sua revelia. Assim, o Juiz deveria ter decretado a
revelia, e não a custódia ora impugnada. Neste
ponto, refere que a jurisprudência desta Corte está
consolidada no sentido de não admitir decreto de
prisão baseado na revelia ou na ausência do réu aos
atos da instrução (HC nº 6.169-SP; HC nº 3.748). Da
mesma forma, o não comparecimento do réu ou a sua
recusa em se submeter a exames periciais no curso
do processo ou inquérito não seria causa para a
decretação da segregação, nos termos da
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
(HC nº 77.135);

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HC 83.741 / SP

c) Afirmação, pelo Magistrado, restrita à


participação do paciente nos fatos investigados no
processo. Contudo, para a decretação da prisão
processual, não bastaria a existência de prova da
materialidade do crime e indícios de autoria, sendo
imprescindível a justificativa, com base na prova
dos autos, da existência dos pressupostos
autorizadores da custódia (garantia da ordem
pública, conveniência da instrução criminal e
aplicação da lei penal);
d) Alusões, pelo Julgador, sobre eventual
ameaça ao representante legal da falida, feita pelo
paciente. Contudo, tratar-se-ia de fato pretérito,
esquecido nos autos por mais de dois anos, e que
não poderia servir de base para a decretação da
medida, sendo certo que tal fato já estaria
superado pelo depoimento da pessoa que se disse
ameaçada;
e) Por fim, que o acórdão impugnado apenas
ressaltou os motivos utilizados pelo Magistrado de
1º grau, ainda citando a gravidade dos fatos, a
qual não poderia motivar a decretação da prisão
preventiva’ (fls. 144/145).

A liminar foi indeferida, ‘por confundir-se com o


mérito da impetração’, e a ordem, denegada, conforme
decisão abaixo ementada:

‘CRIMINAL. HC. CRIMES FALIMENTARES. QUADRILHA.


PRISÃO PREVENTIVA. NECESSIDADE DA CUSTÓDIA
DEMONSTRADA. TENTATIVA DE DESVINCULAR ESTA
IMPETRAÇÃO DE OUTRO FEITO CORRELATO. IMPROPRIEDADE.
POSSÍVEL ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. CUSTÓDIA ATRELADA A
UM CONJUNTO DE FATORES. GRAVIDADE DO DELITO. REDE
CRIMINOSA COM DESDOBRAMENTOS ILÍCITOS. AMEAÇA A
TESTEMUNHAS. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES.
CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. ORDEM
DENEGADA.

I. Não se vislumbra ilegalidade na decisão que


decretou a custódia cautelar do paciente, ou no
acórdão que a confirmou, se demonstrada a
necessidade da prisão, atendendo-se aos termos do
art. 312 do CPP e da jurisprudência dominante,

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sendo que a gravidade do delito pode ser suficiente


para motivar a segregação provisória como garantia
da ordem pública. Precedentes.
II. Considera-se imprópria tentativa de se
desvincular esta impetração do que restou apurado
em outro feito, em curso em outra vara cível da
mesma Comarca, eis que evidenciada a existência de
possível organização criminosa, com delitos em
princípio interligados, sendo que a custódia
processual está atrelada a um conjunto de fatores,
e não a apenas um deles.
III. Hipótese em que restou ressaltada, pelas
decisões proferidas nas instâncias ordinárias, a
prática de delitos de natureza grave, alcançando
dimensão suficiente para demonstrar a existência de
uma rede criminosa e de inúmeros desdobramentos
ilícitos dela decorrentes, além da ocorrência de
ameaças a testemunhas, por parte do paciente.
IV. Condições pessoais favoráveis do agente –
como bons antecedentes, residência fixa e ocupação
lícita etc. – não são garantidoras de eventual
direito à liberdade provisória, se a manutenção da
custódia é recomendada por outros elementos dos
autos.
V. Ordem denegada.’

Diante dessa decisão, requer, liminarmente, o


impetrante, o sobrestamento do cumprimento do mandado
de prisão até o julgamento do mérito da impetração,
alegando primariedade e ótimos antecedentes, e, no
mérito, insiste para que seja declarado nulo o decreto
de prisão preventiva, ficando assegurado ao paciente o
direito de permanecer em liberdade, para defender-se
das imputações contidas na denúncia, alegando que o
decreto de prisão preventiva não aponta, em relação ao
paciente, motivação válida, nos termos do art. 93, IX,
da Constituição Federal, a justificar sua segregação
cautelar.
Insiste, ainda, nos mesmos argumentos deduzidos no
‘writ’ denegado, ou seja, ‘invalidade do decreto de
prisão, afim de restabelecer a liberdade do paciente,
tolhida de forma, ‘data maxima venia’, ilegal’,
alegando, em síntese, que a ‘gravidade do fato, por si
só, não é motivo para a decretação da prisão preventiva
do paciente, restando evidente a ilegalidade a que se

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encontra submetido o paciente, com a prisão preventiva


decretada com base em fundamentos inidôneos, ilegais e,
sobretudo, extemporâneos, já que sua segregação foi
imposta quase quatro anos da ocorrência dos fatos’.
A liminar foi indeferida pelo Exmo. Sr. Ministro-
-Relator às fls. 131/132 dos autos, ao seguinte
fundamento:

‘(...)
As razões constantes do acórdão ora questionado
parecem descaracterizar – ao menos em juízo de
estrita delibação – a plausibilidade jurídica da
pretensão deduzida nesta sede processual.
Desse modo, e sem prejuízo de ulterior
reapreciação da matéria, quando do julgamento final
do presente ‘writ’ constitucional, indefiro o
pedido de medida liminar.
(...)
Publique-se.’

Estes, os fatos.
Conforme se depreende do acórdão vergastado, as
questões foram devidamente analisadas, entendendo o
Colendo Superior Tribunal de Justiça que a decisão que
decretou a prisão preventiva do paciente foi
devidamente fundamentada pelo Juízo monocrático, não
vislumbrando, assim, qualquer deficiência na decretação
da custódia do paciente ou no acórdão que a manteve,
entendendo ainda que a segregação está em conformidade
com as exigências legais, nos termos do art. 312 do
Código de Processo Penal e da jurisprudência dominante
desse Pretório Excelso.
Vale ressaltar que o precedente apresentado pelo
impetrante como paradigma (HC 77.135-8-SP) não se
presta para o caso em questão, eis que, naquele
julgado, a questão é sobre crime de desobediência e
recusa em fornecer padrões gráficos do próprio punho,
não sendo o caso dos autos, onde o magistrado ‘a quo’,
ao decretar a prisão preventiva do ora paciente, pelos
delitos praticados que, em tese, configuram crimes
falimentares e de quadrilha, demonstrou a necessidade
de garantir a ordem pública com a prisão do acusado,
tendo em vista a prova da materialidade delitiva e os
indícios suficientes de autoria do desvio de recursos,

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bem como pelas oitivas por ocasião do cumprimento do


art. 34 da Lei de Falências.
Ainda assim, colhe-se que o ora paciente foragiu,
após a decretação de sua prisão provisória, no bojo de
ação penal derivada de inquérito judicial, aberto no
processo de falência da Empresa IDEROL S/A, e não foi
encontrado em quaisquer possíveis domicílios, mesmo
tendo sido informado pelo Juízo que deveria manter-se
naquele domicílio, quando fora ouvido nos autos de
falência como falido, também não tendo sido localizado
em outros autos, tanto para fins de intimação, como
para que fosse submetido à perícia, obstruindo, assim,
as investigações, significando prejuízo para a
aplicação da lei penal (fls. 147/148).
Nesse sentido, ressaltamos a lição de J. C. Sampaio
de Lacerda, que serviu de fundamentação, em matéria
semelhante apreciada pelo Colendo Supremo Tribunal
Federal, no julgamento do RHC 64.816-9/RJ, Rel. Min.
Néri da Silveira, ‘verbis’:

‘O juiz, de ofício ou a requerimento do


representante do Ministério Público, do síndico ou
de qualquer credor, pode decretar a prisão
preventiva do falido e de outras pessoas sujeitas a
penalidades estabelecidas na lei (art. 193). Já
vimos anteriormente que na própria sentença
declaratória da falência poderá o juiz ordenar a
prisão preventiva do falido, quando requerida a
falência com fundamento em provas que demonstram a
prática de crime definido na Lei de Falências pela
lei processual penal (art. 313 do Cód. Proc.
Penal). Decretada a prisão preventiva, o recurso na
espécie é apenas o ‘habeas corpus’. Denegada a
decretação, não há recurso a ser interposto. A
prisão preventiva do falido poderá, pois, ser
decretada em qualquer fase do processo falimentar,
desde que dos autos constem elementos que
evidenciem a prática de crime definido na Lei de
Falências. Assim, tanto poderá ser decretada na
própria sentença declaratória, como em fase
posterior, antes mesmo do recebimento da denúncia.
Caso não seja decretada com o despacho de
recebimento da denúncia, somente o juiz para
onde foi encaminhado o processo criminal poderá
decretá-la.

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Não há prazo fixado na Lei de Falências para a


prisão preventiva, omissão essa intencional, como
salientou CORDEIRO GUERRA, pois ela em muito difere
da prisão administrativa ou disciplinar, prevista
também na Lei de Falências, com prazo máximo fixado
no art. 35, parágrafo único, sendo ela assim
legítima, válida e inatacável até a apresentação da
denúncia na forma do art. 198 da Lei de Falências,
não constituindo constrangimento ilegal.
Inaplicável o art. 401 do Código de Processo Penal,
que pressupõe o início da ação penal com a denúncia
recebida (Parecer ‘in’ Rev. de Direito do Min.
Público do Est. da Guanabara, 1968, nº 4,
págs. 172/175) (Manual de Direito Falimentar,
Freitas Bastos, 10ª ed., pág. 313).’

Da mesma forma, também foram apreciadas as demais


alegações argüidas pelo impetrante, conforme a seguinte
fundamentação esposada no v. acórdão recorrido:

‘(...)
A Subprocuradoria-Geral da República ressalta a
impropriedade da tentativa de (...) desvincular
esta impetração do que restou apurado nos
autos 02/2000, em curso na 6ª Vara Cível da Comarca
de Guarulhos/SP, eis que evidenciada a existência
de possível organização criminosa, com delitos em
princípio interligados, sendo que a custódia
processual está atrelada a um conjunto de fatores,
e não a apenas um deles.
Nesse sentido, fez a seguinte consideração:

‘Primeiramente, no que pertine à pretensão


em querer (de maneira providencial) desvincular
esta impetração ao que apurado nos autos
nº 02/2002, em curso na 6ª Vara Cível da
Comarca de Guarulhos/SP, perde consistência
quando efetivamente comprovada a existência de
organização criminosa, onde os inúmeros crimes
apurados estão inequivocadamente interligados,
pois praticados em rede, de forma prévia e
ardilosamente planejada.
Conforme salientado nos autos do
HC nº 25.404/SP, a custódia cautelar do
Paciente (seja decorrente desta, ou de qualquer

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outra ação penal em curso) está atrelada não a


um único fato, mas a um conjunto deles’
(fls. 200/201)

Da mesma forma, entendo que a gravidade do


crime pode ser suficiente para motivar a segregação
provisória como garantia da ordem pública.
Como bem ressaltado no parecer ministerial, os
autos revelam a prática de delitos de natureza
grave, alcançando dimensão suficiente para
demonstrar a existência de uma rede criminosa e de
inúmeros desdobramentos ilícitos dela decorrentes,
que estão sendo apurados.
Ainda acrescentou o Representante do ‘Parquet’:

‘Perante a instância ordinária, demonstrou-se


a veemência das provas dos crimes praticados e
os indícios (suficientes) de autoria. Por outro
lado, fatos atribuídos ao Paciente, tais como
ameaças e pressões a testemunhas, não
fornecimento de material para perícia
grafotécnica (evidenciando a intenção de não
colaborar cm a Justiça) ao presunçoso argumento
de que se constituiria em prova inútil,
colocar-se em local incerto e não sabido,
aliados à volumosa remessa ilegal de dinheiro
para o exterior, são por demais suficientes a
demonstrar a imprescindibilidade da decretação
e manutenção da prisão preventiva,
evidentemente para garantir a ordem pública e
econômica e salvaguardar a conveniência da
instrução criminal e da aplicação da lei penal’
(fl. 201).

Cabe ressaltar, ainda, que, ‘in casu’, foi


considerada, como fato relevante, tanto na
decretação quanto na manutenção da custódia, a
circunstância de estar o réu exercendo ameaça
contra testemunhas, o que também justifica a
segregação provisória.
(...)’

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Ante o exposto, o Ministério Público Federal opina


pela denegação da ordem impetrada.” (grifei)

É o relatório.

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V O T O

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO - (Relator): Trata-se

de “habeas corpus” impetrado contra decisão que, emanada do

E. Superior Tribunal de Justiça, denegou o “writ” constitucional ao

ora paciente, em acórdão assim ementado (fls. 19):

“CRIMINAL. ‘HC’. CRIMES FALIMENTARES. QUADRILHA.


PRISÃO PREVENTIVA. NECESSIDADE DA CUSTÓDIA DEMONSTRADA.
TENTATIVA DE DESVINCULAR ESTA IMPETRAÇÃO DE OUTRO FEITO
CORRELATO. IMPROPRIEDADE. POSSÍVEL ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA. CUSTÓDIA ATRELADA A UM CONJUNTO DE FATORES.
GRAVIDADE DO DELITO. REDE CRIMINOSA COM DESDOBRAMENTOS
ILÍCITOS. AMEAÇA A TESTEMUNHAS. PRESENÇA DOS REQUISITOS
AUTORIZADORES. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.
IRRELEVÂNCIA. ORDEM DENEGADA.
I. Não se vislumbra ilegalidade na decisão que
decretou a custódia cautelar do paciente, ou no acórdão
que a confirmou, se demonstrada a necessidade da
prisão, atendendo-se aos termos do art. 312 do CPP e da
jurisprudência dominante, sendo que a gravidade do
delito pode ser suficiente para motivar a segregação
provisória como garantia da ordem pública. Precedentes.
II. Considera-se imprópria tentativa de se
desvincular esta impetração do que restou apurado em
outro feito, em curso em outra vara cível da mesma
Comarca, eis que evidenciada a existência de possível
organização criminosa, com delitos em princípio
interligados, sendo que a custódia processual está
atrelada a um conjunto de fatores, e não a apenas um
deles.
III. Hipótese em que restou ressaltada, pelas
decisões proferidas nas instâncias ordinárias, a
prática de delitos de natureza grave, alcançando
dimensão suficiente para demonstrar a existência de uma
rede criminosa e de inúmeros desdobramentos ilícitos
dela decorrentes, além da ocorrência de ameaças a
testemunhas, por parte do paciente.

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IV. Condições pessoais favoráveis do agente - como


bons antecedentes, residência fixa e ocupação lícita,
etc. - não são garantidoras de eventual direito à
liberdade provisória, se a manutenção da custódia é
recomendada por outros elementos dos autos.
V. Ordem denegada.” (grifei)

A presente impetração apóia-se na alegação de que o ato

decisório que decretou a custódia preventiva do ora paciente não

estaria adequadamente motivado.

Essa alegação foi assim sustentada pelo ilustre

impetrante (fls. 02/18):

“Verifica-se pela leitura do decreto, no tocante a


sua fundamentação, que o mesmo é cópia, reproduzida
entre aspas, da medida constritiva da liberdade imposta
ao paciente no processo 02/2002.
...................................................
A matéria versada nesta impetração vem demonstrar o
absurdo que estão cometendo o Ministério Público e o
Juiz de primeira instância contra o ora paciente, eis
que inova-se a literatura jurídica, utilizando-se da
mesma fundamentação para decretar duas prisões
preventivas, em processos diversos, contra o mesmo
denunciado, em um evidente ‘bis in idem’ de prisões,
coisa rara ou jamais vista nas lides forenses.
‘Data maxima venia’, esse despacho genérico,
desfundamentado e abrangente (dois acusados) não possui
a mínima fundamentação legal exigida pela Constituição
Federal (art. 93, IX), pelo Código de Processo Penal
(art. 315), bem como destoa da melhor doutrina e
pacífica jurisprudência dos Tribunais Superiores.
...................................................
Após quase quatro anos do fato, o juiz da 6ª Vara
Cível da comarca de Guarulhos profere despacho
recebendo a denúncia e, simultaneamente, decreta a

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prisão do paciente com fundamento na garantia da ordem


pública e econômica, na conveniência da instrução
criminal e para assegurar a aplicação da lei penal.
...................................................
Como o despacho de primeiro grau é, na realidade,
uma mistura de alguns casos sem qualquer
individualização, neste primeiro trecho do decreto de
prisão preventiva, faz o magistrado menção ao prejuízo
sofrido pelos credores - calculado em R$ 80.000.000,00
(oitenta milhões de reais) -, valor que teria
ingressado em uma empresa no final do ano de 1998,
sendo remetida ao exterior sem a comprovação de negócio
jurídico que justificasse a saída deste capital.
Conclui, ao final, pela necessidade da prisão dos
denunciados para que esses valores não sejam
dissipados.
O fundamento do magistrado para justificar o
decreto neste particular é, ‘data maxima venia’,
aberrante.
Primeiro, porque a operação financeira tida por
irregular foi realizada, conforme reconhece
expressamente o magistrado no decreto, entre setembro e
outubro de 1998, constando deste decreto que o
responsável direto pela operação irregular seria Márcio
Luchesi, e não o paciente.
Segundo, porque a denúncia trata especificamente
sobre o caso DVN S/A EMBALAGENS, e em seu bojo não
trata em momento algum de valores próximos, parecidos,
ou mesmo menores do que o citado pelo juiz de primeiro
grau no seu decreto de prisão preventiva. Mais uma vez
fica demonstrada, ‘data venia’, a imprestabilidade do
decreto ora combatido, que traz questões afetas a
outras empresas e não objeto da denúncia em relação ao
paciente.
Terceiro, porque a fundamentação adotada -
assegurar que o produto do crime não seja dissipado -
não encontra amparo nos pressupostos autorizativos da
prisão preventiva, expressamente delimitados pelo
art. 312 do CPP.
...................................................
Por fim, tratando-se a prisão preventiva de uma
medida cautelar, a sua decretação reclama a presença do
‘fumus boni iuris’ e, sobretudo, do ‘periculum in
mora’, requisitos essenciais de toda e qualquer medida
cautelar.

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HC 83.741 / SP

No presente caso, como reconhece a denúncia e o


próprio decreto de prisão, o suposto desvio do dinheiro
teria ocorrido no ano de 1998. Não se justifica,
portanto, depois de decorridos quase quatro anos do
fato tido por delituoso, a decretação de uma prisão com
a finalidade de resguardar a garantia da ordem
econômica ou de proteção ao patrimônio das vítimas.
A medida cautelar ressente do requisito essencial
do ‘periculum in mora’ em razão do longo espaço de
tempo ocorrido entre o fato delituoso e a decretação da
medida cautelar constritiva da liberdade.
...................................................
(...) o magistrado, ao referir-se ao paciente,
afirma que o mesmo não foi localizado pelos Oficiais de
Justiça, quando da intimação para atos de outros
processos que não este, bem como não foi intimado para
que se submetesse, neste processo, à perícia (no caso a
grafotécnica). Conclui, neste tópico, pela necessidade
da prisão para assegurar a aplicação da lei penal.
É de se esclarecer, inicialmente, que atos e
condutas praticadas pelo paciente em outros feitos a
que responde perante a Justiça não podem acarretar
qualquer conseqüência na sua liberdade de locomoção
neste processo.
Aliás, a não localização do acusado para fins de
intimação de atos de instrução processual não pode ser
considerado como transtorno para a investigação ou
motivo para a decretação da prisão preventiva com
fundamento na necessidade de se assegurar a aplicação
da lei penal.
‘Data maxima venia’, o equívoco é gritante.
A ausência do réu aos atos de instrução, ao
contrário do que sustentado no decreto de prisão, não
acarreta transtorno processual ou paralisia do
processo.
O não comparecimento do acusado aos atos do
processo traz, como conseqüência única, a decretação de
sua revelia, prosseguindo o feito até ulterior sentença
de mérito.
...................................................
A prisão, com fundamento na necessidade de se
assegurar a aplicação da lei penal, não tem a menor
razão de ser, eis que o não comparecimento do réu aos
atos processuais, conforme se demonstrou, não impede e
não está impedindo o prosseguimento da ação penal ou a

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produção de provas; além disso, não está igualmente


prevista no art. 312 do CPP, em que se ampara o
magistrado, como uma das causas autorizadoras da
prisão.
...................................................
A prisão preventiva, medida extrema no ordenamento
jurídico vigente, tem como pressuposto para a sua
decretação o requisito da necessidade. No presente
caso, o fundamento da prisão preventiva, com base na
ameaça feita pelo paciente, não contém o requisito da
necessidade, porque:

a) o fato se deu em meados de 1999,


permanecendo esquecido no processo por quase três
anos, sem que o magistrado tomasse qualquer
providência; e
b) a pessoa que sofreu a ameaça já prestou
depoimento há mais de três anos, sem qualquer
constrangimento, e não há notícias nos autos que
indiquem fatos praticados contra essa testemunha,
nem mesmo novas ameaças.
...................................................
Como se vê, o decreto de prisão preventiva trata de
uma decisão que atinge três acusados, não apontando em
relação ao paciente motivação válida a justificar sua
segregação cautelar, nos termos exigidos pela
Constituição Federal (art. 93, IX) e pelo Código de
Processo Penal (art. 315), limitando-se a apontar a
gravidade do delito isoladamente.
‘Data venia’, a gravidade do fato, por si só, não é
motivo para a decretação da prisão preventiva desde a
reforma parcial da legislação processual ocorrida em
1977. Com a revogação da prisão obrigatória, que se
baseava na gravidade em abstrato do crime imputado ao
réu, não é mais possível se decretar a prisão de alguém
com base nesse argumento.” (grifei)

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra da

ilustre Subprocuradora-Geral da República Dra. DELZA CURVELLO ROCHA,

opinou pelo indeferimento do pedido (fls. 160/167).

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Passo a apreciar o pedido formulado na presente

impetração. E, ao fazê-lo, entendo assistir plena razão à douta

Procuradoria-Geral da República.

Todos sabemos que a privação cautelar da liberdade

individual é sempre qualificada pela nota da excepcionalidade. Não

obstante o caráter extraordinário de que se reveste, a prisão

preventiva pode efetivar-se, desde que o ato judicial que a

formalize tenha fundamentação substancial, apoiando-se em elementos

concretos e reais que se ajustem aos pressupostos abstratos -

juridicamente definidos em sede legal - autorizadores da decretação

dessa modalidade de tutela cautelar penal (RTJ 134/798, Rel. p/ o

acórdão Min. CELSO DE MELLO).

É por essa razão que esta Corte, em pronunciamento

sobre a matéria (RTJ 64/77), tem acentuado, na linha de autorizado

magistério doutrinário (JULIO FABBRINI MIRABETE, “Código de Processo

Penal Interpretado”, p. 688, 7ª ed., 2000, Atlas; PAULO LÚCIO

NOGUEIRA, “Curso Completo de Processo Penal”, p. 250, item n. 3,

9ª ed., 1995, Saraiva; VICENTE GRECO FILHO, “Manual de Processo

Penal”, p. 274/278, 4ª ed., 1997, Saraiva), que, uma vez comprovada a

materialidade dos fatos delituosos e constatada a existência de

meros indícios de autoria - e desde que concretamente ocorrente

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qualquer das situações referidas no art. 312 do Código de Processo

Penal -, torna-se legítima a decretação, pelo Poder Judiciário,

dessa especial modalidade de prisão cautelar.

É inquestionável que a antecipação cautelar da prisão -

qualquer que seja a modalidade autorizada pelo ordenamento positivo

(prisão em flagrante, prisão temporária, prisão preventiva, prisão

decorrente da decisão de pronúncia e prisão resultante de sentença

penal condenatória recorrível) - não se revela incompatível com a

presunção constitucional de inocência (RTJ 133/280 – RTJ 138/216 –

RTJ 142/855 - RTJ 142/878 - RTJ 148/429 - HC 68.726/DF, Rel. Min. NÉRI

DA SILVEIRA, v.g.), mesmo porque o instituto da prisão cautelar

encontra fundamento em texto da própria Constituição da República

(art. 5º, LXI).

Impõe-se rememorar, neste ponto, em seus aspectos

essenciais, as razões que deram suporte ao ato judicial que decretou

a prisão preventiva do ora paciente (fls. 65/68):

“Defiro os pedidos ventilados nos itens ‘1’ a ‘7’


da petição de fls. 1421/1424 destes autos. É caso de
decretação da prisão preventiva de JOSÉ CLÁUDIO
MARTARELLI e CELSO SOARES GUIMARÃES, nos moldes do
artigo 312 do Código de Processo Penal, com escopo de
garantia da ordem pública e econômica, em função da
conveniência da instrução criminal e para assegurar a

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aplicação da lei penal, pois há prova da materialidade


delitiva e indícios suficientes de autoria. Cuida a
ação penal a respeito do suposto desvio da empresa
falida de patrimônio, a partir de condutas previamente
planejadas, conforme indícios presentes nos autos,
mormente se considerados os débitos da empresa,
principalmente com relação a inúmeros trabalhadores e
Fisco, conforme se pode afigurar pela simples análise
das inúmeras habilitações de crédito que acorrem ao
juízo falimentar. Os indícios do desfalque, aliás,
aparecem concomitantemente a outro amplamente
divulgado, respeitante à Iderol S/A Equipamentos
Rodoviários, e neste sentido trago à colação o trecho
de r. decisão prolatada naqueles autos, em que se
verifica o panorama de indícios de desvio de recursos
de tal empresa, de magnitude, sem justificativas
plausíveis, e o que teria ocorrido em outras empresas,
mencionadas em tal ‘decisum’, e que bem ilustra a
conveniência da decretação da prisão preventiva, até
porque encontram-se ambos foragidos, após a decretação
de sua prisão provisória no bojo de ação penal derivada
de inquérito judicial aberto no bojo do processo de
falência da empresa IDEROL S/A, acrescentando-se que
não vinha sendo encontrado JOSÉ CLÁUDIO MARTARELLI
anteriormente: ‘Por primeiro, versa a ação penal acerca
do desvio da empresa falida de quantia significativa,
mormente se considerados os débitos monumentais da
empresa, principalmente com relação a trabalhadores e
Fisco, conforme se pode afigurar pela simples análise
das inúmeras habilitações de crédito que acorrem ao
juízo falimentar. Tal quantia, que se aproxima de
R$ 80.000.000,00, em números da época das operações
bancárias havidas, setembro e outubro de 1.998, de que
está alijada a falida, ao menos por ora, ingressou em
conta em nome da falida, porém em poucos dias foi
transferida para contas no exterior, sem que haja nos
autos, ainda, comprovação de que tenha havido negócio
jurídico que a justificasse. O desfalque foi amplamente
divulgado, inicialmente, pela Imprensa, e houve anúncio
por meio desta, inclusive, de que haveria apuração por
intermédio da Comissão Parlamentar de Inquérito criada
para investigar o narcotráfico acerca das remessas em
tela. Há sérios riscos de que, uma vez permanecendo
livres os denunciados em questão, venha tal quantia
definitivamente a ser dissipada. MÁRCIO LUCHESI, aliás,

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está foragido, salientando-se que sua prisão


administrativa foi decretada há muito nestes autos,
lembrando-se que oficiou diretamente como procurador da
falida no episódio em tela. Também verifica-se, do que
se deduz de certidão encartada nos autos, que, embora
inserido entre os falidos, e neste campo não obteve
êxito em ser exc1uído, por meio de ‘habeas corpus’
registrados sob n° 343.002-3/2-00, e cujo desenlace lhe
foi desfavorável, não mais foi encontrado JOSÉ CLÁUDIO
MARTARELLI, em quaisquer possíveis domicílios,
lembrando-se que houvera sido ouvido nos autos da
falência como falido, com supedâneo no artigo 34 da Lei
de Falências, e que deveria manter este E. Juízo
informado de seu paradeiro, para diligências que fossem
necessárias. Tal se funda na certidão de fls. 3258, que
demonstra a ausência de sua localização em outros
autos, e recentemente também não foi localizado para
intimação com o fim de que fosse submetido a perícia,
obstruindo as investigações (fls. 9220 dos autos
principais). Portanto, tal comportamento, de ambos,
poderá significar prejuízos à aplicação da lei penal.
As oitivas levadas adiante por ocasião do cumprimento
do artigo 34 da Lei de Falências, e inúmeros
documentos, erigem indícios de autoria de JOSÉ CLÁUDIO
MARTARELLI, no tocante a graves delitos, e da
participação de CELSO SOARES GUIMARÃES na empreitada, e
este último teria inclusive sustentado que as operações
corresponderiam a negócio conhecido como ‘day trade’.
Neste plano, os indícios estão bem lançados em
r. decisão deste E. Juízo, respeitante a incidente de
desconsideração de personalidade jurídica, que tramita
junto a este processo falimentar (...).”

Vê-se, pois, que o decreto de prisão preventiva ora

questionado apóia-se em razões de fato e de direito justificadoras

do ato constritivo do “jus libertatis” do ora paciente.

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Essa circunstância impõe que se preserve a eficácia da

ordem judicial de privação cautelar da liberdade de locomoção física

do paciente em questão.

É que os elementos existentes nos autos justificam, tal

como precedentemente enfatizado, a legitimidade desse excepcional

ato de constrição do “status libertatis” do suposto autor das

práticas delituosas.

A hipótese registrada nestes autos mostra-se

perfeitamente ajustada aos pressupostos formais de decretabilidade

da prisão preventiva.

Como acentuado, demonstrou-se, plenamente, na espécie,

a necessidade da privação cautelar da liberdade individual do ora

paciente, cuja custódia provisória resultou – insista-se - de ato

decisório suficientemente motivado, tendo por fundamento razões

objetivas e idôneas justificadoras dos pressupostos autorizadores da

decretação dessa medida excepcional.

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Sendo assim, pelas razões expostas, e acolhendo, ainda,

o parecer da douta Procuradoria-Geral da República, indefiro este

pedido de “habeas corpus”.

É o meu voto.

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Decisão de Julgamento

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SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

HABEAS CORPUS 83.741


PROCED. : SÃO PAULO
RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO
PACTE.(S) : JOSÉ CLÁUDIO MARTARELLI
IMPTE.(S) : JOSÉ CLÁUDIO MARTARELLI
ADV.(A/S) : ANDRÉIA NOGUEIRA MARTARELLI
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Decisão: A Turma, por votação unânime, indeferiu o pedido de


habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausentes,
justificadamente, a Senhora Ministra Ellen Gracie e o Senhor
Ministro Joaquim Barbosa. 2ª Turma, 30.11.2004.

Presidência do Senhor Ministro Celso de Mello. Presentes à


sessão os Senhores Ministros Carlos Velloso e Gilmar Mendes.
Ausentes, justificadamente, a Senhora Ministra Ellen Gracie e o
Senhor Ministro Joaquim Barbosa.

Subprocurador-Geral da República, Dra.Sandra Verônica Cureau.

P/ Carlos Alberto Cantanhede


Coordenador

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