Você está na página 1de 2

Todos Pesquisar no Jusbrasil CADASTRE-SE ENTRAR

Home Consulta Processual Jurisprudência Doutrina Artigos Notícias Diários Oficiais Peças Processuais Modelos Legislação Diretório de Advogados

Detalhes da Jurisprudência
2º Grau
Processo

Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - MOSTRAR NÚMERO DO PROCESSO

Apelação Cível: AC XXXXX-24.2007.8.13.0647 São Órgão Julgador


Sebastião do Paraíso - Inteiro Teor Câmaras Cíveis Isoladas / 2ª CÂMARA CÍVEL

MOSTRAR NÚMERO DO PROCESSO Publicação


MOSTRAR DATA DA PUBLICAÇÃO

 EMENTA PARA CITAÇÃO     Julgamento


MOSTRAR DATA DO JULGAMENTO
Publicado por Tribunal de Justiça de Minas Gerais há 10 anos
Relator
Caetano Levi Lopes
RESUMO INTEIRO TEOR

NOVO

Documentos do processo 
Inteiro Teor Decisão
 STJ - 14/03/2014

Decisão
 TJ-MG - 09/11/2012
EMENTA: Apelações cíveis. Ação de indenização. Dano moral. Violência
sexual em estabelecimento da APAE. Causador do dano. Agente incapaz. Art. Acórdão
 TJ-MG - 20/04/2012
928 do Código Civil de 2002. Responsabilidade subjetiva mitigada ou
subsidiária. Dano moral existente. Reparação devida. Valor da indenização.
Arbitramento correto . Recursos não providos. 1. A responsabilidade civil por
ato ilícito pressupõe uma conduta antijurídica, uma lesão efetiva e o nexo
entre uma e outra. 2. O Código Civil de 2002 substituiu o princípio da
irresponsabilidade absoluta do absolutamente incapaz por doença ou
deficiência mental pelo princípio da responsabilidade mitigada e subsidiária.
3. De acordo com o art. 928 do Código Civil de 2002, as pessoas naturais sem
discernimento respondem pelos prejuízos que causarem se os responsáveis
não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes para
tanto. 4. A indenização prevista no art. 928 do Código Civil de 2002, deverá
ser equitativa e não poderá privar do necessário o incapaz ou as pessoas que
dele dependem. 5. Apelações cíveis conhecidas e não providas, mantida a
sentença que acolheu em parte a pretensão inicial.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0647.07.072969-2/001 - COMARCA DE SÃO


SEBASTIÃO DO PARAÍSO - 1º APELANTE: S.V.A. REPRESENTADO (A)(S)
P/ MÃE M.A.A.S. - 2º APELANTE: R.R.S. REPDO (A) PELO (A) CURADOR
(A) M.V.S. - APELADO (A)(S): S.V.A. REPRESENTADO (A)(S) P/ MÃE
M.A.A.S. R.R.S. REPDO (A) PELO (A) CURADOR (A) M.V.S. ASSOCIAÇÃO
DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS DE PRATÁPOLIS -
LITISCONSORTE: MUNICÍPIO DE PRATÁPOLIS ESTADO DE MINAS
GERAIS - RELATOR: EXMO. SR. DES. CAETANO LEVI LOPES

ACÓRDÃO

(SEGREDO DE JUSTIÇA)

Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do


Estado de Minas Gerais, sob a Presidência do Desembargador CAETANO
LEVI LOPES , incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata
dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO AOS
RECURSOS, VENCIDA A REVISORA.

Belo Horizonte, 03 de abril de 2012.

DES. CAETANO LEVI LOPES - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. CAETANO LEVI LOPES:

VOTO

Conheço dos recursos, porque presentes os pressupostos de admissibilidade.

A primeira apelante, representada por sua genitora M.A.A.S. por ser


absolutamente incapaz, aforou a presente ação de indenização contra o
segundo apelante, também incapaz e representado por sua curadora M.V.S., e
contra a apelada Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Pratápolis -
APAE. Afirmou que, no ano de 2001, nas dependências da APAE do Município
de Pratápolis, por diversas vezes, foi constrangida à conjunção carnal
mediante violência presumida, porque ela sofre de retardamento mental
(Síndrome de Down) e era menor à época dos fatos. Afirmou que ambos, ela e
o segundo apelante, estudavam na APAE e era precária a fiscalização no
interior do estabelecimento o que possibilitou que o segundo apelante a
levasse para detrás dos veículos dos funcionários da instituição e a obrigasse a
praticar conjunção carnal sob ameaça de que bateria nela caso não permitisse
o ato. Asseverou que o fato caracteriza a negligência da recorrida APAE
porque não cuidou da vigilância interna e de preservar a integridade física de
seus alunos. Asseverou que foi apresentada denúncia criminal junto a
autoridade competente e que esta aponta o que efetivamente ocorreu o fato e
leva a concluir pela responsabilidade civil dos recorridos de forma solidária ou
subsidiária, porque contribuíram para o evento danoso de forma direta ou
indireta. Entende ter sofrido danos morais e materiais e deve ser indenizada.
A apelada APAE litisdenunciou o Município de Pratápolis e o Estado de Minas
Gerais, invocou a prescrição do art. 206 do Código Civil de 2002 bem como
negou os fatos e a responsabilidade pelo danos alegados.

A recorrida APAE negou ser responsável pelo dano apontado. Os litisconsortes


Município de Pratápolis e Estado de Minas Gerais, em peças autônomas,
deduziram preliminar de ilegitimidade de parte e também negaram a
responsabilidade pelo ocorrido. O segundo apelante requereu a suspensão do
feito até o término da ação penal. Também afirmou ser portador de
necessidades especiais e negou o fato e a responsabilidade pelos danos que a
primeira recorrente teria sofrido. Pela r. sentença de ff. 1.033/1.045, a
pretensão inicial foi parcialmente acolhida e a pretensão secundária foi
rejeitada.

Considerando o caráter de prejudicialidade, inverto a ordem do julgamento.

Segunda apelação.

Cumpre verificar se o segundo apelante é responsável pela indenização a ele


imposta.

O exame da prova revela o que passa a ser anotado.

A primeira apelante acostou, com a petição inicial, os documentos de ff.


10/189. Destaco as cópias dos documentos que compõem o inquérito policial,
em especial, os depoimentos das testemunhas D. C.P., ff. 39/40, M.F.R.A., ff.
42/43, R.M.B., ff. 44/45, D.A.F.P., ff. 46//47, S.L.S.L., ff. 48/49, que afirmam,
em síntese, que os recreios são monitorados pelos professores e pelo pessoal
da área técnica, em sistema de rodízio, sendo dois profissionais por dia.
Destaco, também, as declarações do segundo apelante, ff. 59/60, que afirmou
ter por uma vez mantido relação sexual com a primeira apelante no recinto da
APAE e que não havia ninguém fiscalizando o pátio de baixo onde o fato
ocorreu. Destaco, ainda, o exame de corpo de delito e sanidade mental do
segundo apelante, ff. 164/165, que concluiu pelo desenvolvimento mental
retardado do segundo apelante. Finalmente, destaco o relatório da Polícia
Civil do Estado de Minas Gerais, ff. 167/170, que concluiu que o segundo
apelante não era inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato
e o indiciou, bem como concluiu que os funcionários da APAE estavam
indiretamente envolvidos.

O segundo apelante, com a contestação, também juntou documentos de ff.


384/408. Destaco o termo de curatela definitiva, f. 390, e a declaração de f.
393, expedida pela APAE em 05.05.2008, afirmando que o segundo apelante
frequentou aquela instituição no período de 1988 a 1992 e, posteriormente, a
partir de 21.05.2008 por apresentar necessidades educacionais especiais.
Merece, ainda, destaque o relatório do médico psiquiatra da APAE, f. 394,
datado de 05.05.2008, informando que o segundo apelante encontrava-se em
tratamento psiquiátrico e não ser ele capaz de reger a própria vida e seus bens.

Os litisconsortes juntaram documentos de ff. 320/333 e 357/359, irrelevantes


para o feito.

Foi produzida prova oral.

A testemunha J.B.S., f. 458, afirmou que é vizinha da primeira apelante e


soube pela mãe desta que ela havia sido vítima de violência sexual e ouviu a
menor recorrente afirmar que o segundo apelante havia mantido relações com
ela dentro do estabelecimento da APAE.

A testemunha M.F.R., f. 459, afirmou que trabalhava na APAE e que ficou


sabendo dos fatos depois que a primeira apelante tomou providência judicial.
Asseverou que o recreio é de quinze minutos, monitorado por dois
funcionários. Acrescentou que havia em torno de sessenta alunos em dois
turnos, trinta funcionários e nunca viu qualquer contato dos apelantes nos
intervalos das aulas.

A testemunha E.S., f. 460, nada soube informar.

A testemunha D.A.F., ff. 461/462, afirmou que assistente social da APAE de


Pratápolis há dezessete anos e tinha contato com os dois apelantes, mas nunca
presenciou qualquer intimidade entre eles. Asseverou que à época dos fatos, a
APAE contava com, aproximadamente, setenta alunos, de onze a doze
professores, cinco técnicos, uma coordenadora e uma secretária. Afirmou que
soube da mãe da primeira recorrente que ela estava faltando às aulas, porque
o aluno da APAE de nome M.R.B., estudante da mesma sala, estava forçando a
primeira apelante a se relacionar sexualmente com ele dentro daquele
estabelecimento. Asseverou que, diante destas informações, com a
aquiescência da mãe da primeira recorrente, foi feito exame médico que
constatou que a primeira apelante ainda era virgem e não apresentava sinais
de violência sexual. Acrescentou que este fato teria ocorrido entre 2000 e
2001 e após o exame médico a primeira apelante retornou à APAE e ali
permaneceu por mais seis meses, aproximadamente. Afirmou que, depois
disso a primeira apelante foi para a APAE de São Sebastião do Paraíso.
Acrescentou que a APAE de Pratápolis só teve conhecimento da existência de
relacionamento sexual entre os dois apelantes aproximadamente dois anos
após a saída da primeira recorrente daquela instituição.

A testemunha R.M.B., f. 485, afirmou que é enfermeira municipal e


desempenha suas atividades na APAE. Asseverou que ficou sabendo dos fatos
quando foi intimada a comparecer à Delegacia, porque, até então, a mãe da
primeira apelante falava que Marcelo, também estudante da APAE, teria
mantido relações sexuais com a primeira apelante.

A testemunha M.R.B., f. 486, negou ter qualquer tipo de relacionamento com


a primeira apelante.

A testemunha E.S., f. 487, afirmou que a mãe da primeira apelante lhe disse
que iria embora da cidade porque a filha dela não queria mais ir à escola em
decorrência da violência sofrida.

A testemunha J.D.M., f. 488, afirmou que trabalhou para o Núcleo de


Assistência Educacional - NAE por muitos anos, que é vinculado à APAE e
onde os apelantes estudaram no mesmo horário, entretanto não soube
informar se era no mesmo horário e se ambos chegaram a namorar ou ter
algum envolvimento sexual. Afirmou que, segundo a mãe da primeira
apelante, o envolvimento desta com M. teria ocorrido em 1999 e somente em
2000 é que teria apresentado reclamação neste sentido. Asseverou que àquela
época a mãe da primeira recorrente acusava o menor de nome M., então com
dez anos de idade, pela relação sexual.

A testemunha S.L.S., ff. 664/665, afirmou que foi ela quem fez o exame de
corpo de delito na primeira apelante a pedido da APAE, após conversas de que
a primeira recorrente havia sido violentada naquela instituição. Asseverou
que, na época do exame, não havia ocorrido ruptura de hímen da primeira
apelante. Acrescentou que conhecia o segundo apelante e que ele era
prestativo e nunca ouviu dizer que ele fosse agressivo. Afirmou que ouviu
comentários que o segundo apelante seria homossexual, mas não pode afirmar
se isso era verdade. Estes os fatos.

Em relação ao direito, como é de geral conhecimento, o Brasil adotou como


regra, em matéria de responsabilidade civil, a teoria subjetiva ou da culpa em
que a vítima deve provar a existência de uma conduta antijurídica da vítima
(eventus damni), uma lesão efetiva (dano) e a relação de causa e efeito entre
uma e outra (nexo causal). Somente em caráter excepcional, adotou a teoria
objetiva, bastando ao lesado demonstrar a conduta antijurídica, o dano efetivo
e o nexo causal entre uma e outro.

Tratando-se, aqui, de responsabilidade imputada a pessoa natural incapaz,


não resta dúvida sobre a aplicabilidade da teoria subjetiva.

Feito o reparo, cumpre examinar se ocorreu conduta antijurídica por parte do


segundo recorrente. Este requisito, como se sabe, consiste precisamente na
conduta comissiva ou omissiva do agente, geradora dos danos, de forma a lhe
impor a responsabilidade pela reparação dos danos que vier a causar a
outrem.

Pressupõe o art. 186 do Código Civil de 2002 como elemento da


imputabilidade a existência da livre-determinação de vontade, ou seja, para
que alguém se veja obrigado a reparar o dano causado é necessário que tenha
capacidade de discernimento. Eis, neste sentido, a lição de Carlos Roberto
Gonçalves no Comentários ao código civil - Parte especial do direito das
obrigações, vol. 11, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 928:

Pressupõe o art. 186 do Código Civil o elemento imputabilidade, ou seja, a


existência, no agente, da livre-determinação de vontade. Para que alguém
pratique um ato ilícito e seja obrigado a reparar o dano causado, é necessário
que tenha capacidade de discernimento. Em outras palavras, aquele que não
pode querer entender não incorre em culpa e, ipso facto, não pratica ato
ilícito.

O mesmo autor, na mesma obra e página, define como elementos da


imputabilidade a maturidade e a sanidade mental:

"Imputar" é atribuir a uma pessoa a responsabilidade por determinado fato.


"Imputabilidade é, pois, o conjunto de condições pessoais que dão ao agente
capacidade para poder responder pelas consequências de uma conduta
contrária ao dever; imputável é aquele que podia e devia ter agido de outro
modo...Dois são os elementos da imputabilidade: maturidade e sanidade
mental. Importa o primeiro desenvolvimento mental; e o segundo, higidez.
Consequentemente, imputável é o agente mentalmente são e desenvolvido,
capaz de entender o caráter de sua conduta e de determinar-se de acordo com
esse entendimento".

Assimilando orientações já vigentes em outras ordens jurídicas, o art. 928 do


Código Civil de 2002 substituiu o princípio da irresponsabilidade absoluta da
pessoa natural incapaz, pelo princípio da responsabilidade mitigada e
subsidiária. Segundo o referido princípio, o incapaz responde pelos prejuízos
que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-
lo ou não dispuserem de meios suficientes para tal. E, no parágrafo único do
referido artigo, acrescentou que a indenização deverá ser equitativa, mas não
poderá ocorrer se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele
dependam, isto é, se a vítima não conseguir receber a indenização da pessoa
encarregada da guarda do incapaz e se o incapaz for abastado, poderá o juiz
condená-lo no pagamento da indenização equitativa.

Logo, a partir do Código Civil de 2002, o incapaz que praticar ilícito e causar
dano a outrem tem a obrigação, também, de indenizar a vítima.

Ora, a prova é no sentido de que o segundo apelante forçou a primeira


recorrente a manter conjunção carnal com ele. Além dos depoimentos das
testemunhas o próprio segundo recorrente confessa o fato (f. 59).

Assim, caracterizada a conduta antijurídica do segundo recorrente e há dúvida


de sua obrigação de indenizar, conforme art. 928 do Código Civil de 2002.

Logo, o segundo recorrente não tem razão em seu inconformismo.

Com estes fundamentos, nego provimento à segunda apelação.

Custas, pelo segundo apelante, respeitado o disposto na Lei 1.060, de 1950.

Primeira apelação.

A primeira recorrente entende que deve ser majorado o valor da indenização


pelos danos morais por ela sofridos.

Observo que os danos morais foram arbitrados em R$5.000,00, sendo


R$3.000,00 suportados pelo segundo apelante e R$2.000,00, pela recorrida
APAE.

Sabe-se que a questão relativa ao arbitramento do valor da reparação pelo


dano moral é difícil e tormentosa.

De acordo com o art. 928 do Código Civil de 2002, tratando-se de ilícito


praticado por incapaz, o valor da indenização deverá ser equitativa, porque
não poderá privar o incapaz do necessário para a sua sobrevivência. Eis, neste
sentido, o ensinamento de Carlos Roberto Gonçalves, autor da obra
Comentários ao código civil, vol. 11, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 928:

Em primeiro lugar, a obrigação de indenizar cabe às pessoas responsáveis pelo


incapaz (amental ou menor de 18 anos). Este só será responsabilizado se
aquelas não dispuserem de meios suficientes para o pagamento. Mas a
indenização, nesse caso, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do
necessário o incapaz, ou as pessoas que dele dependem. Não mais se admite
que os responsáveis pelo menor, pais e tutores, se exonerem da obrigação de
indenizar provando que não foram negligentes na guarda, porque, como já
mencionado, o art. 933 do novo diploma dispõe que a responsabilidade dessas
pessoas independe de culpa. (...) Constitui norma salutar de equilíbrio,
exigência prioritária da ordem jurídica. Cabe aqui prudente observação
segundo a qual a reparação do dano não deve gerar enriquecimento, nem
empobrecimento, mas apenas compensação razoável do prejuízo.

O objetivo, portanto, é evitar o enriquecimento sem causa e respeitar o


necessário para a sobrevivência do amental ou das pessoas que dele
dependam.

Conforme anotado, foi gravíssima a lesão moral sofrida pela primeira


recorrente. Todavia, levando-se em conta a situação econômica das partes, a
incapacidade mental do segundo apelante e a condição filantrópica exercida
pela APAE, entendo que a importância de R$5.000,00, da forma que foi
distribuída, é razoável para compensar o sofrimento suportado pela primeira
recorrente, levando-se, inclusive, em conta o disposto no parágrafo único do
art. 928, do Código Cível, relativamente ao segundo apelante.

Logo, a sentença está correta e o inconformismo da primeira recorrente não


pode ser acolhido.

Com estes fundamentos, nego provimento à primeira apelação.

Custas, pela primeira apelante, observado o disposto na Lei nº 1.060, de 1950.

A SRª. DESª. HILDA TEIXEIRA DA COSTA:

VOTO

Peço vênia ao em. Des. Relator para ousar divergir de seu judicioso
entendimento, pelo que passo a dispor.

A questão controvertida reside em verificar se os réus devem ser


responsabilizados pelos fatos apontados na inicial e se deverão arcar com a
indenização por danos morais deferida pelo d. Juiz singular.

A regra geral para que haja a responsabilização civil consiste em que reste
configurada uma ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência que
viole ou cause prejuízo a outrem, conforme dispõem os arts. 186 do CC/1916 e
927 do CC/2002. E, faz-se imprescindível a comprovação da existência de: a)
ato ou omissão antijurídico (culpa ou dolo), b) dano e c) nexo de causalidade
entre ato ou omissão e dano.

Ressalta-se que deve haver um comportamento do agente positivo (ação) ou


negativo (omissão), que, desrespeitando a ordem jurídica, cause prejuízo a
outrem, pela ofensa a bem ou a direito deste. Este comportamento (comissivo
ou omissivo) deve ser imputável à consciência do agente, por dolo (intenção)
ou por culpa (negligência, imprudência ou imperícia), contrariando, seja um
dever geral do ordenamento jurídico (direito civil) seja uma obrigação em
concreto (inexecução da obrigação ou de um contrato). (Rui Stoco, Tratado de
Responsabilidade Civil - 6ª ed. - pág. 129).

Analisando atentamente os autos, é possível constatar que ocorreu, dentro do


estabelecimento da APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de
Pratápolis, conjunção carnal entre as partes, que são considerados
absolutamente incapazes.

Registre-se, por oportuno, que, de acordo com os relatos contidos na petição


inicial, a autora, nas dependências da APAE do Município de Pratápolis, por
diversas vezes foi constrangida à conjunção carnal mediante violência
presumida, porque ela sofre de retardo mental (Síndrome de Down). Afirmou,
ainda, que a fiscalização no interior do estabelecimento era precária,
possibilitando, portanto, que o réu a levasse para o estacionamento e a
obrigasse a praticar conjunção carnal.

De acordo com os depoimentos testemunhais, verifica-se que:

"Certa vez conversando com a mãe da autora indagou-lhe porque ela estava
pretendendo ir embora desta cidade, que segundo a mãe da autora estaria
indo embora porque sua filha não queria mais ir as aulas, pois durante o
intervalo um menino teria mexido com ela (...). (...) que segundo a mãe da
autora depois dos relatos de sua filha tirou suas roupas e verificou que a
autora realmente tinha sido 'mexida' (...)" Elizabeth Silva (f. 481).

"Que é vizinha da autora Simone e quando esta tinha em torno de 09 anos de


idade, pôde presenciar, após ter sido chamada por sua mãe, que ela teria sido
vítima de violência sexual; que chegou a ver marcas de sangue na vagina da
Simone, 'a menina estava suja', que não viu ferimentos na Simone (...). (...)
que após indagar Simone, esta afirmou que 'o Ricardo estava pondo o pipiu
nela'. Jussara Bela da Silva (f. 458).

" Que foi professora da autora em 1999. (...) que o recreio é de 15 minutos e
monitorado por dois funcionários, que havia em torno de 60 alunos, em dois
turnos, contando o estabelecimento com 30 funcionários (...) ". Maria de
Fátima Rodrigues (f. 459).

Dessa forma, conforme exposto, não subsistem dúvidas de que os fatos


ocorridos com a autora são hábeis a acarretar os danos morais narrados na
inicial.

Contudo, importante efetuar algumas considerações em relação ao réu,


Ricardo Rodrigues da Silva.

De acordo com os documentos de f. 390-394, observa-se que o referido réu é


absolutamente incapaz, não possuindo capacidade para reger a sua própria
vida e seus bens, conforme relatório médico de f. 394. Destaca-se, ainda, que é
representado por curador definitivo (f. 390).

Logo, entendo que o absolutamente incapaz não tem maturidade das funções
cerebrais que lhe permitam o conhecimento da gravidade do fato e de suas
conseqüências.

Quanto ao quantum fixado na indenização por danos morais, está solidamente


estabelecido na doutrina que a quantificação do valor da indenização deve ser
confiada ao prudente arbítrio do juiz e, neste sentido a jurisprudência tem
sido enfática em proclamar que:

" O arbitramento do dano moral é apreciado ao inteiro arbítrio do juiz que,


não obstante, em cada caso, deve atender a repercussão econômica dele, a dor
experimentada pela vítima e ao grau de dolo ou culpa do ofensor ". (2ª
TACcivSP, ap. 490 355/6, Rel. Juiz Renato Sartorelli e apel. XXXXX-0/3, rel.
Juiz Milton Sanseverino)

A advertência do STJ é no sentido de que:

"... é de repudiar-se a pretensão dos que postulam exorbitância inadmissíveis


com arrimo no dano moral, que não tem por escopo favorecer o
enriquecimento indevido"(AgReg.,. no Ag. 108.923, 4ª. Turma, Rel. Sálvio de
Figueiredo, ac. Um. de 24.09.96, DJU 29.10.96, p. 4-666).

Em suma, a verba indenizatória não pode levar em conta apenas o potencial


econômico do réu demandado, deve cotejar também a repercussão da
indenização sobre a situação social e patrimonial dos ofendidos para que se
atenda à orientação do STJ:

"... satisfação na justa medida do abalo sofrido sem enriquecimento sem


causa"(RT 675/100).

Levando em consideração os aspectos acima mencionados, bem como as


circunstâncias do caso concreto, conclui-se que a quantia de R$ 5.000,00
(cinco mil reais), distribuída em R$ 2.000,00 para a Associação ré e R$
3.000,00 para o réu, ora segundo apelante, não é suficiente para suprir o
caráter punitivo-pedagógico do dano moral em questão, visto que não se
amolda à sua dupla finalidade de compensar os dissabores experimentados
pela ofendida, também não punindo a conduta dos réus.

Assim, entendo que o valor dos danos morais deve ser distribuído no importe
de R$ 5.000,00 (cinco mil reis) para a APAE e R$ 2.000,00 (dois mil reais)
para o segundo apelante, tendo em vista que restou provada a omissão culposa
da APAE, uma vez que não tomou os cuidados necessários para evitar o fato
ocorrido entre as partes. E, ainda, levando em consideração o retardo mental
do réu, tenho que não é capaz de conhecer a gravidade do fato ocorrido e suas
conseqüências.

Em face do exposto, dou parcial provimento ao primeiro e segundo recurso,


para fixar a indenização por danos morais, a ser pago à autora, no valor total
de R$ 7.000,00 (sete mil reais), sendo distribuído da seguinte forma: R$
5.000,00 (cinco mil reis) para a APAE e R$ 2.000,00 (dois mil reais) para o
segundo apelante.

Por oportuno, modifico os ônus sucumbenciais para condenar ambas as partes


ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, arbitrados em
10% sobre o valor da condenação, devendo ser pago na proporção de 20% pela
autora e 80% pelos réus.

Custas recursais do primeiro recurso, de 30% para a apelante e 70% para o


apelado.

Custas recursais do segundo recurso, pelo apelante.

Suspenso a exigibilidade dos ônus sucumbenciais fixadas acima, uma vez que
ambas as partes litigam sob o pálio da justiça gratuita.

O SR. DES. AFRÂNIO VILELA:

Sr. Presidente.

É um caso deveras difícil para ser julgado, porque, se de um lado envolve a


integridade física de um ser humano, de outro lado envolve uma associação
reconhecidamente filantrópica e que procura mitigar os efeitos da síndrome
de Down e de outros males correlatos às populações das cidades do interior e
que lamentavelmente se viu envolvida neste evento onde dois de seus alunos
descomportaram-se em relação às normas que em regra são observadas por
esta entidade.

À vista disso e de acordo com todos os fatos trazidos para os autos, condoído,
evidentemente, com a situação que envolve a aluna, e reconhecendo que o
aluno também não tem o seu desenvolvimento mental regular, tanto que
integra o corpo discente daquela instituição, entendo que a solução
encontrada por V. Exª., no sentido de não prover o recurso e assim manter a
decisão de primeiro grau, atende ao preceito que normatiza a indenização, ou
seja, serve a um primeiro plano como reprimenda, mas, muito mais que isso,
tem uma função didática e serve para construção de um local melhor, mais
adaptado às circunstâncias desses alunos excepcionais. Então, acredito que
aumentar o valor da indenização para que a APAE com ela arque, seria uma
forma de punir aquela entidade que presta relevantes serviços a esses alunos
excepcionais.

Com a devida vênia da Revisora, acompanho integralmente o voto de V. Exª.,


como Relator, mantendo a decisão de primeiro grau.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS, VENCIDA A


REVISORA.

Informações relacionadas

Tribunal de Justiça do Estado da Bahia


Jurisprudência • há 7 anos

Tribunal de Justiça do Estado da Bahia TJ-BA - Apelação: APL XXXXX-


03.2009.8.05.0001
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS  RESPONSABILIDADE
CIVIL - RESPONSABILIZAÇÃO DE INCAPAZ - ART. 928 DO CÓDIGO CIVIL - POSSIBILIDADE -
APLICAÇÃO DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE - SENTENÇA ULTRA PETITA -
INOCORRÊNCIA - ADEQUAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO - SENTENÇA REFORMADA
PARCIALMENTE. O incapaz …

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios


Jurisprudência • há 10 anos

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-DF: XXXXX-


29.2010.8.07.0009 DF XXXXX-29.2010.8.07.0009
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PRESSUPOSTOS. CONFIGURAÇÃO.
ESPANCAMENTO. PARTICIPAÇÃO DE INCAPAZ. DANOS MORAIS E MATERIAIS. ART. 928
CÓDIGO CIVIL. SÚMULA 490 STF. 1. Infere-se da norma prevista no artigo 928 do Código
Civil a ponderação de dois interesses em conflito, vale dizer, a necessidade de …

Superior Tribunal de Justiça


Jurisprudência • há 21 anos

Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp XXXXX RO


2000/XXXXX-8
Crédito rural. Correção monetária. Incidência do art. 928 do Código Civil . Aplicação da
Lei nº 8.880 /94. Veto. Derrubada do veto. Matéria constitucional. Prequestionamento.
Art. 535 do Código de Processo Civil . 1. Não prequestionado o art. 928 do Código Civil ,
não pode o especial ser examinado no ponto. 2. A matéria …

Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais


T há 3 anos

Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais TCE-MG - TOMADA DE


CONTAS ESPECIAL: XXXXX
TOMADA DE CONTAS ESPECIAL N. XXXXX Jurisdicionado: Fundação Centro de
Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais Exercício: 2003 Partes: Ígor Magno de
Paula, José de Paula Neto (trabalhadores…

Superior Tribunal de Justiça


Jurisprudência • há 10 anos

Superior Tribunal de Justiça STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL: AgRg no AREsp XXXXX MG 2012/XXXXX-1
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA DOS PAIS PELOS
ATOS DOS FILHOS. EXCLUDENTES. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. 1.- Os pais respondem
civilmente, de forma objetiva, pelos atos do filhos menores que estiverem sob sua
autoridade e em sua companhia (artigo 932, I, do Código Civil). 2.- O fato de o …

Jusbrasil Para todas as pessoas Para profissionais Transparência


Sobre nós Artigos Jurisprudência Termos de Uso

Ajuda Notícias Doutrina Política de Privacidade

Newsletter Encontre uma pessoa advogada Diários Oficiais Proteção de Dados

Cadastre-se Consulta processual Peças Processuais

Modelos

Legislação

Seja assinante

API Jusbrasil

 Sua privacidade
A sua principal fonte de informação jurídica. © 2022 Jusbrasil.
Todos os direitos reservados. Ao acessar nosso site, você concorda com CONTINUAR E FECHAR    
nossa Política de Privacidade e cookies.

Você também pode gostar