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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

Curso de Direito

LEI 13.966/19 - INOVAÇÃO NA CIRCULAR DE OFERTA DE FRANQUIA


(COF) RELACIONADA A AÇÕES JUDICIAIS

NORMA CRISTINA DO NASCIMENTO DA SILVA

Rio de Janeiro
2020.2
NORMA CRISTINA DO NASCIMENTO DA SILVA

LEI 13.966/19 - INOVAÇÃO NA CIRCULAR DE OFERTA DE FRANQUIA


(COF) RELACIONADA A AÇÕES JUDICIAIS

Artigo Científico Jurídico apresentado à


Universidade Estácio de Sá, Curso de Di-
reito, como requisito parcial para conclu-
são da disciplina Trabalho de Conclusão
de Curso.

Orientadora: Prof.ª Márcia dos Santos Pi-


mentel Nunes

Rio de Janeiro
Campus Presidente Vargas
2020.2
2

RESUMO

O presente trabalho versou sobre o tema Lei 13.966/19 - Inovação na Circular de Oferta de Franquia
(COF), relacionado a ações judiciais, com o objetivo de identificar se essa nova Lei de Franquia, modi-
ficando a exigência de informação na Circular de Oferta de Franquia (COF) de ‘pendências judiciais’
para ‘ações judiciais’ favorece ou prejudica o franqueado. Abordou as características das franquias,
assim como as do contrato de franquia, ressaltando os aspectos positivos da arbitragem para as em-
presas, assim como o negativo para os candidatos a franqueados, quando relacionados a COF, ex-
pondo-os a maiores riscos. Verificou que o candidato a franqueado, pela falta de informações sobre
procedimentos arbitrais do franqueador, é potencialmente prejudicado na tomada de decisão para con-
tratar a franquia.

Palavras-chave: Arbitragem. Circular de Oferta de Franquia. Contrato de Franquia. Franquia.

SUMÁRIO

1. Introdução. 2. Desenvolvimento: 2.1 A franquia no contexto econômico atual provocado pelo novo
coronavírus; 2.2. Arbitragem: conceito e características; 2.3. O Contrato de franquia no contexto eco-
nômico atual; 2.4. COF e as relações empresariais na franquia. 3. Conclusão. Referências.

1 INTRODUÇÃO

O tema abordado no presente trabalho de pesquisa é a inovação na Circular


de Oferta de Franquia (COF), no que concerne às informações relacionadas a ações
judiciais, na recente Lei 13.966/19 (nova lei de franquias), que entrou em vigor em
25/03/2020, em plena pandemia da COVID-19, a qual vem causando impactos sociais
e econômicos, em um contexto global, de forma inédita e imprevisível, atingindo sig-
nificativamente o segmento de franquias no Brasil.
Neste contexto, este trabalho tem como escopo o seguinte problema de pes-
quisa: Se a nova Lei de Franquia (Lei 13.966/19), alterando a exigência de informação
na Circular de Oferta de Franquia (COF) de ‘pendências judiciais’ para ‘ações judici-
ais’, favorece ou prejudica o franqueado. O problema foi identificado pelo interesse
3

devido a leitura da nova formatação dada à Circular de Oferta de Franquia, que apre-
senta alterações nas obrigações e direitos do franqueador e do franqueado. A nova
lei traz em seu bojo mudanças, que se manifestam em alterações de expressões, de
cláusulas, assim como inova ao tratar da franquia na administração pública, na sublo-
cação de imóvel entre franqueador e franqueado, no contrato internacional de fran-
quia.
Especificamente, o assunto em pauta neste trabalho é a alteração do termo
“pendências judiciais” para “ações judiciais”, em artigo da lei que versa sobre obriga-
ções do franqueador face ao franqueado. A questão central é se tal alteração implica
em aumentar a abrangência das informações ou em restringi-las; em favorecer o fran-
queado ou o franqueador. Para tal, serão conceituados contrato, contrato de franquia,
arbitragem, franquia, seus tipos e características, por meio de dados primários e se-
cundários que foram coletados por intermédio de pesquisa bibliográfica.
Caso se entenda que nem todas as ações judiciais possuem pendências, então
a nova terminologia aumenta a quantidade de dados que o franqueado receberá do
franqueador, ajudando-o em sua tomada de decisão na assinatura do contrato de
franquia. Entretanto, se ficar entendido que em ações judiciais não cabe informações
de processos em juízo arbitral (uma interpretação literal do texto legal), o franqueado
restaria em desvantagem sem tais informações.
Ressalte-se que o juízo arbitral é, de certa forma, incentivado pela própria Lei
13.966/19, pois que as partes poderão elegê-lo para resolver conflitos relacionados
ao contrato de franquia. É uma modalidade de resolução de conflitos atraente para o
contrato de franquia, por ser mais ágil, por expressar a confiança de julgamento téc-
nico mais assertivo de que o do Judiciário, sendo mais barata, a depender do tipo de
litígio e, determinando-se o sigilo, mantém a privacidade das empresas e empresários
envolvidos no empreendimento. Uma das inovações da nova lei de franquias é que,
teoricamente, o franqueador não é mais obrigado a informar na COF se existe ou não
algum procedimento arbitral instituído. A publicidade no juízo arbitral entre particulares
não é uma regra, mas uma opção das partes; a discrição é requerida do juízo apenas,
entretanto é extremamente favorável este sigilo para o franqueador demandado em
eventuais arrestos e sequestros de bens, pois tais também não são publicitados. Claro
está que restringir o acesso do franqueado às informações sobre litígios em juízo ar-
bitral pode levá-lo a fechar contrato de franquia numa tomada de decisão equivocada,
com aumento do risco do negócio para o franqueado, o que seria minimizado se ele
4

tivesse conhecimento, além das ações judiciais, de todas as pendências judiciais do


franqueador, incluindo as de juízo arbitral.
O assunto analisado no presente trabalho de pesquisa é extremamente atual,
pois se refere à Lei 13.966, de 26 de dezembro de 2019, portanto, não foram localiza-
das pesquisas examinando o assunto em comento, pelo que este estudo não pretende
esgotar o tema, mas servir como ponto de referência para seu aprofundamento ou,
ainda, para pesquisas em outras áreas de conhecimento.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A FRANQUIA NO CONTEXTO ECONÔMICO ATUAL PROVOCADO PELO


NOVO CORONAVÍRUS

Além da conceituação de franquia e descrição de seus tipos, ressalta-se a im-


portância da contextualização do momento econômico em que o mundo se encontra
imerso, face a pandemia do novo coronavírus, especialmente perante as empresas
do setor de franquias.
O setor de franquias, no enfrentamento à crise econômica provocada pela pan-
demia do novo coronavírus, vem adotando uma série de medidas, a fim de preservar
as empresas, como o emprego e renda de seus colaboradores, por meio de entrega
de serviços e vendas online, com unidades dedicadas, criando comitês de crise para
que administrem as questões envolvendo relações pessoais e trabalhistas, como
ações solidárias, suspensão do contrato de trabalho ou redução da jornada, antecipa-
ções de férias, treinamentos sobre a COVID-19, demissões, além da área de produ-
tos, com promoções, inovações em produtos e serviços, desenvolvendo novas tecno-
logias, e tomando ações mais drásticas, como redução ou suspensão de fundo de
marketing, parcelamento, redução ou suspensão de royalties, repasse ou encerra-
mento de unidades.1

1
DESEMPENHO DO FRANCHISING BRASILEIRO: 1º trimestre de 2020. Rio de Janeiro: ABF, 2017-
2020. Trimestral. Disponível em: <https://www.abf.com.br/numeros-do-franchising/>. Acesso em: 15
ago. 2020, p. 13.
5

Os efeitos da crise econômica se refletem em números. A ABF (Associação


Brasileira de Franquias) divulga relatórios periódicos com base em pesquisas trimes-
trais relativas ao desempenho do setor no Brasil. No acumulado dos meses de
abril/2019 a março/2020, houve um aumento no faturamento do setor em 5,2%. En-
tretanto, a variação entre os resultados dos primeiros trimestres de 2019 e 2020 foi
apenas de 0,2%. Percebe-se, assim, que houve uma queda abrupta no crescimento
do setor.2
Em junho/2020, ainda segundo dados estatísticos divulgados pela ABF, 12%
das franquias fecharam temporariamente, 0,8% encerraram suas atividades e 0,2%
fizeram o repasse para outras franqueadas. A queda no faturamento em relação aos
períodos de abril 2019/20120 foi de -48,2%; ao de maio 2019/2020, de -41%; de junho
2019/2020, de -30,1%, e de julho 2019/2020, de 7,2%.3 Segundo análise da ABF, a
queda reduziu-se em junho/2020 devido a determinadas medidas adotadas, tais como
a reabertura gradual da economia em certos estados da União, a elevação do número
de unidades em operação e a ampliação de vendas por meio de canais digitais. 4 Em
relação ao resultado de julho/2020, atribui-se à “melhora do quadro geral da economia
e do setor, incluindo agendas mais avançadas de reativação econômica, maior nú-
mero de unidades em operação, fortalecimento dos canais digitais e a melhora na
confiança por parte do empresariado e do consumidor.” 5
Pesquisa realizada pela ABF no meio empresário do setor de franquias revelou
expectativa em relação à retomada do mesmo patamar de faturamento que havia an-
tes da pandemia.
A amostra computou 252 respostas coletadas entre os dias 02 e 13 de julho de
2020, corrigido de acordo com características da população. A pesquisa apontou que
42,70% esperam que a retomada ocorra ainda em 2020; 46,20% acreditam que ela
se dará no primeiro semestre de 2021; 7% aguardam que isso só ocorra a partir do
segundo semestre de 2021 e 4,1% entendem que a rede não deve voltar ao mesmo
patamar de faturamento de antes da pandemia. 6

2
DESEMPENHO DO FRANCHISING BRASILEIRO: 1º trimestre de 2020, op. cit., p.3.
3
CONSULTA MENSAL: Impactos COVID-19 no franchising – julho 2020. Rio de Janeiro: ABF, 2020-
2020. Mensal. Disponível em: <https://www.abf.com.br/numeros-do-franchising/>. Acesso em: 27 set.
2020, p. 4.
4
CONSULTA MENSAL: Impactos COVID-19 no franchising – junho 2020. Rio de Janeiro: ABF, 2020-
2020. Mensal. Disponível em: <https://www.abf.com.br/numeros-do-franchising/>. Acesso em: 15 ago.
2020, p. 2.
5
CONSULTA MENSAL: julho 2020, op. cit., p. 2.
6
CONSULTA MENSAL: junho 2020, op. cit., p. 6.
6

Pelo que se depreende dos números levantados pelas pesquisas, a queda de


faturamento é expressiva. Por outro lado, os empresários do setor têm forte expecta-
tiva de retomada ainda para este ano. Os motivos não foram abrangidos pela pes-
quisa, pelo que não se pode tirar conclusões assertivas. Entretanto, fato é que as
novas contratações de franquia estarão sob o manto da nova legislação e que a atual
situação econômica exigirá muito mais cautela do franqueado no momento da contra-
tação, especialmente quanto às demandas judiciais e extrajudiciais do franqueador.
O conceito de franquia está estampado no primeiro artigo da Lei nº 13.966/19,
o qual expressa que a franquia empresarial é um sistema, no qual o franqueador, por
meio de contrato, autoriza o franqueado “[...] a usar marcas e outros objetos de pro-
priedade intelectual, sempre associados ao direito de produção ou distribuição exclu-
siva ou não exclusiva de produtos ou serviços [...]”. Inclui também o uso de métodos
e sistemas, inclusive operacional, para implantação e administração do negócio que
foi produzido pelo franqueador ou que simplesmente é detido por ele. A remuneração
pode ser de forma direta ou indireta e não caracteriza relação de consumo ou traba-
lho.7
Na doutrina, existem diversas conceituações de franquia, sendo uma delas bem
abrangente, a que se segue:

Ana Cláudia Redecker define franquia como uma forma de colaboração co-
mercial entre empreendedores independentes, regulada por um contrato, no
qual uma parte (franqueador) concede a uma ou mais pessoas físicas ou ju-
rídicas (franqueados) o direito de utilizar a própria razão social e/ou a própria
marca e, eventualmente, outros sinais distintivos para a venda de produtos
ou prestações de serviços, sobre a base de um conceito previamente desen-
volvido e consolidado no mercado, com assistência técnica para sua comer-
cialização, sem vínculo de subordinação, através do recíproco interesse, re-
cebendo em troca uma taxa inicial e porcentagem mensal sobre o movimento
de vendas.8

No atual formato, conforme informa Timm, a franquia passou a se desenvolver


no pós segunda guerra, nos EUA, em que os ex-combatentes, voltando da batalha,
sem obter emprego no mercado de trabalho, conseguiam auferir renda por meio do
bussiness format franchising, que necessitava de baixos investimentos e não exigia

7
BRASIL. Lei nº 13.966, de 26 de dezembro de 2019. Dispõe sobre o sistema de franquia empresarial
e revoga a Lei nº 8.955, de 15 de dezembro de 1994 (Lei de Franquia). Brasília, Distrito Federal, 2019.
8
REDECKER, Ana Cláudia apud TIMM, 2009, p. 91.
7

grandes experiências.9
Cabe ressaltar que o setor de franquia representa, no Brasil, uma significativa
parcela da atividade empresarial, atuando em diversos segmentos, apresentados pela
ABF como Alimentação; Casa e Construção; Comunicação, Informática e Eletrônicos;
Entretenimento e Lazer; Hotelaria e Turismo; Limpeza e Conservação ; Moda; Saúde,
Beleza e Bem Estar; Serviços automotivos; Serviços e outros negócios e Serviços
educacionais.10
Existe, na doutrina, uma grande diversidade quanto às formas de classificação
dos tipos de franquia, pelo que se apresenta neste trabalho o modelo adotado por
Redecker, que classifica o sistema de franquia em três tipos, que são relacionados à
sua forma de gestão, ao contexto do contrato de franquia e à natureza do franqueado,
conforme se discorre a seguir.11
Em relação à formatação do gerenciamento empresarial, se apresentam dois
tipos de franquia: o de marca ou de produto e o de franquia do negócio formatado.
A franquia de marca ou de produto é aquela em que bens ou serviços produzi-
dos ou idealizados pelo franqueador são distribuídos ao franqueado para revenda ao
consumidor final. Tais produtos ou serviços já são conhecidos no mercado, de sorte
que possuem boa fama, permitindo, assim, a colocação do negócio de franquia. Exis-
tem duas possibilidades para o emprego de marca ou produto: com ou sem exclusivi-
dade.
Sendo celebrado o contrato sem exclusividade, tratar-se-á de simples revenda,
desenho menos elaborado de franquia, pois que o franqueado trabalhará outras mar-
cas e produtos e o franqueador oferecerá somente qualidade e quantidade de serviços
mínimos. Tal já não ocorre no caso do contrato com exclusividade, pois que esta per-
mite uma negociação envolvendo expansão territorial do franqueado, estabelecendo-
se ausência de concorrência dentro de determinado limite geográfico.
Já a franquia do negócio formatado (business format franchising) é adotada
pelo franqueador que transfere aos franqueados todo cabedal de competência da es-
truturação das atividades desenvolvidas por sua empresa, em relação ao sucesso do

9
TIMM, Luciano Benetti. Arbitragem nos contratos empresariais, internacionais e governamentais.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 89.
10
DESEMPENHO DO FRANCHISING BRASILEIRO: 3º trimestre 2019. Rio de Janeiro: ABF, 2017-
2020. Trimestral. Disponível em: <https://www.abf.com.br/numeros-do-franchising/>. Acesso em: 15
ago. 2020.
11
REDECKER, apud TIMM, op. cit., p. 91.
8

seu empreendimento, com o suporte necessário à implementação e operação do ne-


gócio, devendo este ser reproduzido à risca pelo franqueado, nos mesmos moldes de
padronização visual, know-how, know-why e técnicas comerciais. Cabe ao franquea-
dor fiscalizar e prestar assistência contínua aos seus franqueados.
Em se tratando da esfera de abrangência do contrato de franquia, deslumbram-
se a franquia-mestre, a franquia de desenvolvimento de área e a franquia de canto.
Na franquia-mestre (master franchising), o franqueador outorga poderes de co-
ordenação de franquias de certa região e de abertura de unidades franqueadas a certa
pessoa, franqueado ou não, a fim de maximizar eficiência e expansão rápida. territo-
rial. Esse é um modelo bastante usado na internacionalização de franquias, especial-
mente em países com dimensões geográficas avantajadas.
Surge, neste caso, a figura do subfranqueador, ou Master Franqueado, que se
torna responsável pelo treinamento e suporte aos franqueados, por meio do contrato
celebrado com o franqueador, que o remunera por implantar ou terceirizar outras uni-
dades franqueadas em determinada região, com parte do valor da taxa de franquia e
dos royalties recebidos dos franqueados. Pode ocorrer, entretanto, em virtude da
grande autonomia que o Master franqueado possui, por má intenção ou por falta de
preparo, riscos de prejuízo à rede de franquia sob seu comando, tanto em relação à
qualidade no atendimento, quanto a conflitos com os franqueados, com a redução da
lucratividade e aumento do risco do negócio.12 Para manter a descentralização, mas
suprimir esses riscos, desenvolveu-se a franquia de desenvolvimento de área.
A franquia de desenvolvimento de área (area development Franchise) se dife-
rencia da franquia-mestre em virtude de que o franqueador só pode contratar uma
pessoa que seja um franqueado, para que esse, independentemente, desenvolva os
pontos comerciais a serem franqueados, nacional ou internacionalmente, e que este
franqueado, chamado de área rep, não firme contrato com os franqueados. 13 Ou seja,
a contratação dos franqueados é feita diretamente, centralizadamente e exclusiva-
mente pelo franqueador.
A franquia de canto (corner Franchise) é caracterizada por ser empregada por

12
CHERTO, Marcelo. Franchising: revolução no marketing. 2 ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1988, pg.
73-74 apud FARIA, Isabela Brockelmann de. O contrato de franchising: Obrigações do franqueado.
Orientador: Gustavo Saad Diniz. 2013. 101 p. Trabalho de conclusão de curso (Bacharel de Direito) -
Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2013, p. 49.
13
FARIA, Isabela Brockelmann de. O contrato de franchising: Obrigações do franqueado. Orientador:
Gustavo Saad Diniz. 2013. 101 p. Trabalho de conclusão de curso (Bacharel de Direito) - Faculdade
de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2013, p. 49.
9

meio de comerciantes tradicionais que dedicam uma área de seu próprio negócio para
comercializar produtos do franqueador, produzidos ou selecionados por este, como
se pode observar, por exemplo, nos estandes em shopping centers. Dentro de lojas,
os espaços destinados aos produtos do franqueador devem obedecer estritamente às
regras da franquia estabelecidas entre os contratantes.14
Em relação à natureza do franqueado, têm-se as seguintes categorias: franquia
de produtos, de serviços, de distribuição e de indústria.
A franquia de produtos é o modelo básico, que consiste em aperfeiçoar a dis-
tribuição do produto do franqueador, em que ele é o produtor ou terceiriza a produção.
O produto já é reconhecido no mercado consumidor e sua comercialização se dá de
forma exclusiva por parte do franqueado.
Na franquia de serviços, tem-se uma prestação de serviços de forma diferenci-
ada, característica de uma marca registrada e diferencial do franqueador, que é iné-
dito, pessoal e incomum. O franqueado deve oferecer estes serviços igualmente for-
matados com os mesmos diferenciais nos padrões reconhecidos pelos consumidores,
pois o franqueador empresta suas técnicas ao franqueado para que isso aconteça.
Interessante destacar a relação personalíssima que ocorre nesse tipo de franquia,
como instrui Simão Filho:

deve-se aclarar que o franqueado não é o idealizador do serviço, mas sim,


pessoa treinada por ele, isso porque, em determinados casos, e a depender
da especificidade do serviço prestado, pode não haver interesse do consumi-
dor em contratar pessoas diversa, mesmo que devidamente capacitada, isso
leva também a uma necessidade de maior atenção do franqueador quanto à
escolha do franqueado.15

Outro tipo de franquia em relação à natureza do franqueado é a de distribuição,


em que o franqueador não produz, mas seleciona rigorosamente empresas que exe-
cutem e fabriquem os produtos sob sua marca. Os franqueados fazem a distribuição
dos produtos, conforme a formatação determinada pelo franqueador, que dá a devida
homogeneização à franquia.
A franquia de indústria está atrelada a produção dos bens pelo franqueado, em
sua própria unidade industrial. Para que isto aconteça, é necessário que o franqueador
ceda ao franqueado a fórmula para se produzir o produto, transferindo-lhe o know-

14
Ibid, p. 50.
15
SIMÃO FILHO, Adalberto. Franchising: aspectos jurídicos e contratuais. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2000,
p. 45, apud FARIA, op. cit., p. 51.
10

how (o conhecimento especializado de como fazer)16 e o know-why (o motivo de se


fazer algo de determinada maneira).
Ressalte-se que este tipo de franquia requer grande investimento por parte do
franqueado e está mais voltado para organizações globalizadas, pois que levam para
lugares distantes a possibilidade de acesso a produtos que de outra forma não che-
garia a tais localidades devido aos altos custos envolvidos.17

2.2 ARBITRAGEM: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

No contexto do uso da arbitragem para a solução de conflitos, no âmbito dos


contratos de franquia, cabe discriminar a jurisdição de seus equivalentes jurisdicio-
nais. Dessa forma, jurisdição é palavra derivada do latim iuris dictio, cujo significado é
“dizer o Direito”. Conforme instrui Hartmann, jurisdição “é a possibilidade de aplicação
do Direito ao caso fático que foi submetido à apreciação do magistrado” [...], cuja “fi-
nalidade principal é outorgar a tutela jurisdicional pretendida, solucionando litígios”. 18
Todavia, ocorre que determinadas lides podem ser solucionadas independentemente
do uso da jurisdição, por meio de equivalentes jurisdicionais, extrajudiciais, que são,
na realidade, mecanismos de resolução de conflitos alternativos, como a autocompo-
sição, a conciliação e a mediação e a arbitragem.
Entretanto, existe divergência no entendimento doutrinário em relação a se a
arbitragem seria somente um equivalente jurisdicional ou uma atividade jurisdicional
de fato, em virtude de a sentença arbitral ser equiparada à de um juiz togado e a não
se sujeitar à homologação pelo Judiciário e nem ter seu conteúdo alterado por ele.
Conforme Neves, uma parcela significativa da doutrina entende que a arbitragem é
atividade jurisdicional19, “afirmando que atualmente a jurisdição se divide em jurisdição
estatal, por meio da jurisdição, e jurisdição privada, por meio da arbitragem”.20
A doutrina majoritária, entretanto, de acordo com Hartmann, concorda que a

16
FARIA, op. cit., p. 51.
17
REDECKER, apud FARIA, op. cit., p. 51.
18
HARTMANN, Rodolfo Kronemberg. Curso completo do novo processo civil. 4. ed. atual. Niterói: Im-
petus, 2017. p. 28.
19
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil: Volume único. 8. ed. atual.
Salvador: Juspodivm, 2017. p. 20.
20
CARMONA, Carlos Alberto apud NEVES, op. cit., p. 20.
11

arbitragem é um equivalente jurisdicional, inclusive porque não possui certos atributos


da jurisdição, como uso de medidas coercitivas e de auto efetivação.21
Neves cita o artigo 3º, §1º, do CPC, para apontar a consagração do entendi-
mento da arbitragem como não jurisdicional22: “Art. 3º Não se excluirá da apreciação
jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da
lei.”23
Isto posto, tem-se que a arbitragem é um equivalente jurisdicional, uma forma
extrajudicial de composição de conflitos, regulada pela Lei nº 9.307, de 23 de setem-
bro de 1996, em que as partes devem ser pessoas capazes de contratar, podendo,
portanto, resolver contendas relacionadas apenas a direitos patrimoniais disponí-
veis.24 Ainda de acordo com esse diploma legal, art. 2º e §§ 1º e 2º, as partes podem
escolher se a arbitragem será de direito ou de equidade, assim como quais as regras
de direito serão aplicadas, e se terá por base os princípios gerais de direito, os usos
e costumes e as regras internacionais de comércio, sem que se viole os bons costu-
mes e a ordem pública.
Apesar da arbitragem não ser substituta da atividade jurisdicional do Estado,
existem alguns aspectos nesta modalidade de solução extrajudicial de conflitos que
contribuem bastante para que haja uma menor intervenção estatal, imprimindo fluidez
ao processo de solução de conflitos na área empresarial, tão eternizado no campo da
jurisdição estatal.
Na arbitragem, podem-se citar as seguintes características, as quais, ainda que
diferentes no processo judicial, atendem às empresas em litígio. São elas: a) o sigilo;
b) a celeridade na solução das demandas; c) a especialização dos árbitros; d) a au-
sência de formas solenes; e) a possibilidade de julgar por equidade; f) a escolha da
lei a ser aplicada; g) a economia.
As particularidades elencadas acima apresentam, também, grande vantagem
para a redução dos custos de transação para as partes envolvidas, em relação à pres-
tação estatal. Uma dessas peculiaridades é o sigilo no processo arbitral, conforme
leciona Timm,25 assunto de extrema importância no cenário do presente trabalho.
Cabe frisar que a transmissão de know-how é de fundamental importância no contexto

21
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. apud HARTMANN, op. cit., p. 35.
22
NEVES, op. cit., p. 20.
23
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 16 mar. 2015.
24
BRASIL. Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Brasília, 23 set. 1996.
25
TIMM, op. cit., p. 102.
12

do negócio de franquias. De fato, é indispensável, pelo que a proteção às informações


de propriedade intelectual deve ser maximizada.
O dever de sigilo no juízo arbitral é explícito, somente, genericamente, em re-
lação ao árbitro, nos termos do artigo 13, §6º, da Lei de Arbitragem: “§ 6º No desem-
penho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência,
competência, diligência e discrição.”26
Entretanto, são costumeiras a confidencialidade e a privacidade durante o pro-
cesso arbitral, assim como após a prolação da decisão final. Isto porque, em harmonia
com o que informa Timm,

[...] o sigilo é “declarado” pelas partes nos contratos firmados ou em docu-


mentos apartados. Entendemos que esta garantia é diminuidora potencial dos
custos de transação.
Claramente essa afirmativa se mostra verdadeira, pois é garantia de informa-
ções sensíveis à concorrência, ao know how e ao segredo industrial.27

As atividades empresariais necessitam se resguardar de repercussões negati-


vas a respeito de demandas judiciais, que indo a público, possam influenciar nos re-
sultados econômicos das empresas, surtindo efeito cascata, atingindo não somente a
empresa, mas toda a cadeia produtiva. Além desse motivo, existem informações sen-
síveis, relativas a know-how e a segredo industrial, que, segundo Timm, não devem
chegar ao conhecimento da concorrência.28 Note-se que esses dois aspectos estão
intimamente ligados ao negócio e contratos de franquias, um dos motivos pelos quais
o sistema de arbitragem é preferível ao processo judicial.
Em relação à vantagem do sigilo no processo arbitral para a redução dos custos
de transação, em relação aos contratos de franquia, o que se extrai da leitura do artigo
1º da nova Lei de Franquia de 2019, em que estão listados os objetos do contrato de
franquia, é que em havendo o caso de ser levado à jurisdição estatal, restará publici-
tado, o que de forma alguma é interessante para as partes contratantes, especial-
mente para o franqueador.
Como adverte Timm, o segredo comercial alcança conteúdos diversos, entre
eles, “´técnicas e estratégias de captação de clientes, modelos de projeções de ren-
dimentos ou de lucros”, além de “fórmulas ou receitas para preparação de produtos,

26
BRASIL. Lei nº 9.307, op. cit..
27
TIMM, op. cit., p. 25.
28
Ibid., p. 25.
13

[...] desenhos de novos produtos ou de protótipos”.29


As marcas, objetos de propriedade intelectual, produtos, serviços, métodos e
sistemas de implantação e administração de negócio, sistema operacional desenvol-
vido ou detido pelo franqueador, ficam sujeitos a qualquer tipo de divulgação que se
queira fazer deles, podendo claramente prejudicar o negócio de forma irremediável.
Pelo exposto, tem-se como de extrema importância o sigilo da arbitragem na
esfera das relações conflituosas que se originam de contratos de franquia, pois que
as relações contratuais necessitam ser revestidas pela blindagem da não publicidade,
a fim de preservar informações confidenciais de cunho comercial, industrial, de abalos
em relações empresariais, com danos na imagem pública dos envolvidos, desconfi-
anças quanto à proteção de segredos industriais, dentre outros aspectos.
Por outro lado, o sigilo característico do juízo arbitral pode ser considerado um
ponto negativo para o candidato à franqueado, o qual se encontra em busca de infor-
mações balizadoras que o subsidiem em sua tomada de decisão pela negociação de
um contrato de franquia.
Outro motivo, tratado por Timm como passível de reduzir o custo de transação,
é a agilidade do procedimento arbitral, no sentido de que este não está sujeito aos
intermináveis recursos a instâncias superiores, como ocorre nos processos judiciais,
e que a arbitragem, frequentemente, possui infraestrutura que proporciona decisões
tomadas com maior brevidade. Nesse sentido, o autor ressalta que, nos contratos de
franquia, “longas disputas judiciais podem acabar com a atividade empresarial.”30
Timm cita que um dos fatores relevantes para se reduzir o custo de transação
é a especialização dos árbitros, pois que estes podem aprofundar-se nas áreas técni-
cas, cuja matéria seja o objeto da discussão e que aproveite diretamente à arbitra-
gem.31 Nesta perspectiva, Pugliese e Salama afirmam que:

A especialização permite, assim, a redução dos erros nas decisões arbitrais.


Em tese, apesar de todos os procedimentos estarem sujeitos a erros, a pro-
babilidade de o árbitro especializado decidir de forma equivocada, por não
conhecer a matéria discutida, é menor. A redução da probabilidade de erro
na decisão reduz o risco da relação contratual, tornando o contrato mais atra-
tivo para as partes e todo o mercado.32

29
Ibid., p. 25.
30
Ibid., p. 102.
31
Ibid., p. 101.
32
PUGLIESE, A. C. F. e SALAMA, B. M. apud TIMM, op. cit., p. 102.
14

No que tange à viabilidade da maleabilidade do procedimento arbitral, desde a


concepção à adaptação de procedimentos, de acordo com Montoro, parte da doutrina
considera exatamente essa ausência de formas solenes do procedimento um dos re-
levantes benefícios da arbitragem, pois que se adapta a cada caso concreto.33 Se-
gundo informa Montoro, “a flexibilidade do procedimento arbitral é fator que ajuda as
partes e árbitro a concentrarem sua energia nas questões de fundo daquela arbitra-
gem, o que tende a dar mais qualidade à sentença arbitral.”34, pois “inibe as discussões
processuais na arbitragem, na qual o que realmente importa é o direito material con-
trovertido.”35
A Lei 9.307/96 possibilita que, a juízo das partes, a arbitragem seja de direito
ou de equidade, nos termos do artigo 2º,36 o que significa dizer que a de direito é
utilizada quando se seguem as regras estabelecidas na ordem jurídica a fim de resol-
ver o conflito.
Consoante Candemil, a arbitragem de “equidade é uma das ferramentas cria-
das para solucionar o problema da distância entre o texto presente na legislação e a
particularidade do caso concreto.”37 Já no entendimento de Rawls, deve haver justiça
nas organizações e nas práticas em questão e os atos voluntários dos indivíduos de-
vem ser voltados para o convívio harmonioso. Se o árbitro perceber que determinada
previsão legislativa levaria a uma decisão injusta, “a ideia de equidade sustentaria o
afastamento de seu uso, dando conta de um julgamento a partir de análise tópica.”38
Em continuidade ao texto da Lei 9.307/96, art. 2º, tem-se os parágrafos abaixo
citados, que permitem às partes a escolha da lei a ser aplicada, limitando tal escolha
aos bons costumes e à ordem pública, conforme citado por Candemil: “Ademais, au-
tores contemporaneamente consideram que a ideia de bons costumes se imiscua com
a de ordem pública”.39:

33
MONTORO, Marcos André Franco. Flexibilidade do procedimento arbitral. Orientador: Prof. Dr. Car-
los Alberto Carmona. 2010. 415 p. Tese de doutorado (Doutorado em Direito) - Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010, p. 73.
34
MONTORO, op. cit., p. 75.
35
Ibid., p. 75.
36
BRASIL. Lei nº 9307, op. cit..
37
ALVAREZ apud CANDEMIL, Arthur Montenegro. A decisão por equidade: equidade e justiça na ar-
bitragem brasileira. Res Severa Verum Gaudium, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 242-257, abr. 2018, p. 4.
38
RAWLS, John. Uma teoria da Justiça. Trad. Jussara Simões. Rev. téc. e da trad. Álvaro de Vita.
São Paulo: Martins Fontes, 2016, p. 134, apud CANDEMIL, op. cit., p. 4.
39
MUNIZ, Joaquim de Paiva. Curso básico de direito arbitral: teoria e prática. Curitiba: Juruá, 2015., p.
65, apud CANDEMIL, op. cit., p. 7.
15

§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão


aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e
à ordem pública.
§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize
com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras
internacionais de comércio.40

Em relação à economia, ou seja, à diminuição dos custos envolvidos nos pro-


cessos de arbitragem quando comparados aos dos judiciais, com base em pesquisa
realizada nos EUA, Neves “mostra a visão empresarial da arbitragem defendendo ser
a arbitragem mais que uma ferramenta de solução de controvérsias, uma verdadeira
estratégia empresarial”.”41
A pesquisa analisou as atitudes e experiências associadas aos meios de solu-
ção de conflitos extrajudiciais (ADRs – Alternative Dispute Resolution), classificando
as empresas em 3 tipos relacionados aos métodos extrajudiciais de solução de con-
flitos: 1. Uso frequente; 2. Uso eventual 3. Uso raro. Um dos resultados demonstrado
pela pesquisa foi que as empresas tipo 1, que utilizavam frequentemente ADRs, exi-
bem o seguinte perfil:

a) sólido relacionamento comercial com stakeholders (consumidores, forne-


cedores, empregados e sócios), descrevendo-o como excelente ou muto
bom, seguindo a tendência de modernização das organizações do século
XXI; b) apreciam e valorizam a especialidade, imparcialidade e rapidez do
meios alternativos de solução de conflitos; e c) apresentam departamentos
jurídicos com baixo orçamento e administram seus custos internos com alto
grau de eficiência (enquanto as empresas que pouco usam as ADRs apre-
sentam altos custos com departamento jurídico).42

De fato, é uma incorreção afirmar que os custos são menores no Judiciário


simplesmente porque, no juízo arbitral, os árbitros e a instituição de arbitragem são
remunerados, pois se trata de uma análise rasa, que não considera os custos de tran-
sação, que são, segundo Timm, “todos os custos em que o indivíduo incorre, em fun-
ção dos relacionamentos que deve manter com os demais integrantes do sistema pro-
dutivo.”43
Outra questão pertinente, relativa à arbitragem, se refere à cláusula compro-
missória, que pode ser inserida, no contexto do estudo, no contrato de franquia,

40
BRASIL. Lei nº 9307, op. cit.
41
NEVES, Flávia Bittar. A Visão empresarial da arbitragem: como a administração de conflitos pode
melhorar os resultados econômicos e não-econômicos do negócio?. Revista Brasileira de Arbitragem,
São Paulo, Editora IOB, n. 9, 2006, p. 31, apud TIMM, op. cit., p. 104.
42
TIMM, op. cit., p. 105.
43
Ibid., p. 101.
16

conforme está previsto na Lei nº9307/96, dos artigos 3º ao 12. O artigo 3º traz a figura
da convenção de arbitragem, que, segundo Câmara, é um gênero, que abrange as
espécies cláusula compromissória e compromisso arbitral.44
As duas espécies não se confundem, sendo a cláusula compromissória uma
convenção entre as partes contratantes que se comprometem a submeter à arbitra-
gem eventuais litígios futuros que venham a ocorrer relativamente àquele contrato
específico. A sua forma é frequentemente bem elementar, devendo obedecer ao pre-
visto no art. 4º, §1º, da Lei nº 9.307/96, ou seja, se o contrato for de adesão (que é o
caso do contrato de franquia) necessitará estar em negrito; como ressalta Hartmann,
a cláusula compromissória,

[...] inclusive, é considerada como autônoma e independente do contrato prin-


cipal, de modo que a mesma pode subsistir ainda que este último padeça de
algum vício (art. 8º, Lei nº 9.307/96). Também é importante frisar que a Lei nº
9.307/96 tem aplicação mesmo quando a cláusula compromissória tiver sido
firmada antes da sua vigência, nos termos do Verbete nº 485 da Súmula do
STJ: “A Lei de Arbitragem aplica-se aos contratos que contenham cláusula
arbitral, ainda que celebrados antes da sua edição.45

Cabe ressaltar que a espécie compromisso arbitral é de suma importância no


processo de arbitragem, pois trata-se de convenção por meio da qual as partes sub-
metem um litígio ao juízo arbitral, nos termos do art. 9º, da Lei 9.307/96 – não há
arbitragem sem este compromisso: é ele que estipula as regras da arbitragem, con-
forme se verifica nos artigos 10 e 11 da Lei da Arbitragem. Resumidamente, nos elu-
cida Hartmann que a arbitragem pode se dar independentemente da presença da
cláusula compromissória, “No entanto, em toda a arbitragem necessariamente haverá
um compromisso arbitral, que regulará as principais regras da arbitragem que se pre-
tende instaurar.”46

2.3 O CONTRATO DE FRANQUIA NO CONTEXTO ECONÔMICO ATUAL

No atual cenário econômico, provocado pela pandemia da COVID-19, cabe

44
CÂMARA, Alexandre Freitas. Escritos de direito processual, segunda série. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2005, p. 389, apud HARTMANN, op. cit., p. 36.
45
HARTMANN, op. cit., p. 36-37.
46
Ibid., p. 37.
17

ressaltar que o contrato de franquia vem sendo objeto de preocupação do setor, visto
que, segundo Terra,

As dificuldades suscitadas pela atual conjuntura se tornam ainda mais robus-


tas diante da silente lei 13.966/2019, a Nova Lei das Franquias, que entrou
em vigor no último dia 25 de março, mas não ofereceu qualquer disciplina que
aponte alguma solução para os impactos sofridos em contextos extraordiná-
rios como o atual.47

Isto, porque a lei se concentra, acima de tudo, na Circular de Oferta de Franquia, não
dispondo a respeito da matéria da relação negocial. Também não se estendeu em
estabelecer os direitos e deveres das partes contraentes. Assim, pela ausência de
regras específicas e previsão que determine “legitimamente a uma das partes os efei-
tos decorrentes da implementação do risco, impõe-se buscar a solução adequada a
partir de interpretação sistemática do ordenamento jurídico.”48
Esse entendimento destaca a importância da compreensão das características
do contrato de franquia, visto que em seu conteúdo, conforme destacou Torres, pouco
se fala em direitos e deveres; o que acontece é uma centralização de alterações na
Circular de Oferta de Franquia.
Antes de adentrar ao conceito e às características do contrato de franquia, será
tratado o conceito de contrato genericamente.
Consoante leciona Tartuce, há unanimidade doutrinária em reconhecer que o
conceito de contrato surgiu a partir do relacionamento humano e da convivência em
sociedade, e que ele é tão remoto quanto a própria humanidade.49
Conforme a doutrina clássica, é, pois, o contrato, um ato jurídico bilateral ou
plurilateral, sujeito a, pelo menos, duas declarações de vontade. No entendimento de
Pinto, contrato:

É o acordo de vontades ou negócio jurídico, entre duas ou mais pessoas (fí-


sicas ou jurídicas) com finalidade de adquirir, resguardar, modificar, ou extin-
guir direitos de natureza patrimonial. Todos os contratos são atos jurídicos
bilaterais, pois resultam de uma conjugação de duas ou mais vontades.50

47
TERRA, Aline de Miranda Valverde et al. Contratos de franquia e Covid-19. Migalhas: Migalhas Con-
tratuais, [s. l.], 30 mar. 2020. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-contratu-
ais/323008/contratos-de-franquia-e-covid-19. Acesso em: 28 set. 2020.
48
Ibid..
49
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. v. 3, 14. ed. rev.
atual. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 1.
50
PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito civil sistematizado. 8. ed. rev. atual. e aum. Salvador: Juspo-
divm, 2017, p. 317.
18

Cabe ressaltar que o Código Civil de 2002 não traz em seu âmago o conceito
de contrato, apenas se limitando a conceituar as formas contratuais em espécie, res-
tando à doutrina pátria preencher essa lacuna.
Além do conceito clássico, exemplificado acima por Pinto, atualmente, propõe-
se o conceito pós-moderno ou contemporâneo de contrato, que espelha a eficácia
externa da função social dos contratos, referenciado por Tartuce:

Para o doutrinador paranaense, o contrato constitui “a relação jurídica subje-


tiva, nucleada na solidariedade constitucional, destinada à produção de efei-
tos jurídicos existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares subjetivos
da relação, como também perante terceiros”.51

Majoritária e atualmente, a doutrina que prevalece é a clássica. Tartuce cita o


apontamento de Diniz, em relação aos elementos essenciais que formam o contrato:
o elemento estrutural, presente na alteridade consensual necessária para que exista
o negócio jurídico, e o elemento funcional, que consiste na composição de interesses
contrapostos, mas harmonizáveis.52
Importante é frisar que o contrato é a principal fonte do direito das obrigações,
a qual impregna todos os ramos do Direito Privado, inclusive o Empresarial.
O contrato de franquia possui o caráter essencial da figura de comércio, sendo,
portanto, um contrato empresarial, cujas características serão abordadas a seguir. Ele
não foi previsto expressamente no Código Civil de 2002, entretanto foi regulado pela
Lei nº 8955, em 1994. Atualmente foi editada a nova Lei nº 13966/19, que revogou a
anterior, dispondo sobre o sistema de franquia empresarial, que possui propriedades
específicas a fim de atender aos empresários e negócios empresariais que compõem
as franquias.
As características do contrato de franquia envolvem sua classificação como
sendo bilateral e sinalagmático; típico, atípico ou misto (há divergência doutrinária);
intuitu personae; sucessivo; consensual; oneroso; negociável ou de adesão (porque
há divergência na doutrina).
De acordo com Tartuce, a bilateralidade se expressa quando as partes contra-
tantes ocupam, simultaneamente e reciprocamente, a posição dupla de credores e

51
NALIN, Paulo apud TARTUCE, op. cit. p. 3.
52
DINIZ, Maria Helena apud TARTUCE, op. cit. p. 3.
19

devedores uns dos outros. O negócio jurídico celebrado produz direitos e obrigações
para ambos, de forma proporcional. Desta forma, o contrato de franquia, além de bi-
lateral, também é sinalagmático. O sinalagma presente é a proporcionalidade das
prestações, pois as partes têm direitos e deveres entre si, o que se traduz em uma
relação obrigacional complexa.53
Em relação à tipicidade do contrato, há divergência na doutrina, pois o contrato
de franquia seria típico por ser regulado por lei. Entretanto, Coelho afirma que o con-
trato de franquia é atípico, porque a tipicidade só ocorre quando os direitos e obriga-
ções dos contratantes estão disciplinados pela lei, mesmo que parcialmente, o que
não ocorre na franquia, conforme ele discorre:

A franquia, por exemplo, não é contrato típico porque a Lei n. 8.955/94 tem a
natureza de disclosure statute, isto é, apenas exige dos franqueadores que
disponibilizem aos interessados a Circular de Oferta com determinadas infor-
mações e comprovações. Em nenhum dos seus dispositivos, atribui ao fran-
queador ou ao franqueado qualquer direito ou obrigação.54

Cabe frisar que a nova Lei de Franquia, Lei nº 13.966/19, em seu artigo 3º,
regula locação entre franqueado e franqueador, traz condições para os contratos de
franquia em seu artigo 7º, e, no artigo 8º, indica que a legislação de propriedade in-
dustrial deverá ser aplicada à Lei de Franquia, o que, quiçá, traga modificação no
entendimento doutrinário em relação à questão da tipicidade do contrato de franquia. 55
Segundo Tartuce, para o professor Álvaro Villaça Azevedo, pode-se classificar os con-
tratos atípicos em singulares ou mistos.

Os contratos atípicos singulares são figuras atípicas, consideradas individu-


almente. Os contratos atípicos mistos apresentam-se: (a) com contratos ou
elementos somente típicos; (b) com contratos ou elementos somente atípicos;
e (c) com contratos ou elementos típicos e atípicos.56

Os contratos de franquia são contratos classificados como personalíssimos ou


intuitu personae; pois o franqueado deve atender às exigências de perfil necessárias
e estabelecidas pelo franqueador, de acordo com os objetivos e estratégias de negó-
cios do empreendimento, para os quais as qualidades pessoais do franqueado são de

53
TARTUCE, op. cit., p. 21.
54
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa: contratos, falência e recupe-
ração de empresas. v. 3, 19. ed. rev. atual. e aum. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020.
55
BRASIL. Lei nº 13.966, op. cit..
56
AZEVEDO, Álvaro Villaça. apud TARTUCE, op. cit., p. 27.
20

fundamental importância. Segundo Gonçalves, “essas qualidades, sejam culturais,


profissionais, artísticas ou de outra espécie, tiveram influência decisiva no consenti-
mento do outro contratante”.57
Em relação ao momento em que o contrato de franquia deva ser executado,
sua classificação é a de execução continuada ou de trato sucessivo, o que, conforme
Tartuce, significa dizer que o contrato se cumpre por meio de atos reiterados: suces-
sivos ou periódicos no tempo – mensal, bimestral, anual, ou qualquer outra periodici-
dade.58 De acordo com Tartuce, “tais formas negociais podem referir-se a ambos os
deveres contratuais, dentro da ideia de sinalagma. Na compra e venda, por exemplo,
podem dizer respeito à entrega da coisa ou ao pagamento do preço.” 59
O contrato de franquia é consensual; pois seu aperfeiçoamento ocorre no mo-
mento da manifestação de vontade das partes envolvidas. Conforme ensina Gonçal-
ves, o princípio do consensualismo sustenta que para o aperfeiçoamento do contrato
basta o acordo de vontades (solo consensu). É uma concepção moderna de que o
contrato decorre do consenso, que independe da entrega da coisa, o que se contrapõe
ao formalismo primitivo.60
Quanto ao aspecto do sacrifício patrimonial das partes contratantes, em relação
ao contrato de franquia, este apresenta onerosidade, pois eis que traz vantagens para
ambas as partes, em sofrendo ambos o citado sacrifício patrimonial. Conforme leciona
Tartuce, “Ambas as partes assumem deveres obrigacionais, havendo um direito sub-
jetivo de exigi-lo. Há uma prestação e uma contraprestação.”61
No que diz respeito à classificação quanto ao aspecto do contrato de franquia
ser de adesão ou paritário, existe uma grande discussão doutrinária, abordada breve-
mente a seguir, pois importa relevantemente na questão de pesquisa do presente tra-
balho, a partir da hipótese de que o franqueado pode estar sendo prejudicado pela
falta de informações na Circular de Oferta de Franquia, cujo conteúdo dá suporte para
tomada de decisão do empresário que deseja atuar como franqueado em determinada
franquia.
Contrato de adesão é conceituado por Gonçalves como sendo aquele que não

57
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: volume III: contratos e atos unilaterais. 6. ed.
São Paulo: Saraiva, 2009, p. 81.
58
TARTUCE, op. cit., p. 41.
59
Ibid., p. 41.
60
GONÇALVES, op. cit., p. 87.
61
TARTUCE, op. cit., p. 22.
21

permite discussão para o estabelecimento das condições de suas cláusulas. O que


há é a preponderância da vontade de uma das partes, que elabora todas as cláusulas.
Ao outro contratante cabe aceitar o contrato ou não, “de forma pura e simples, e em
bloco, afastada qualquer alternativa de discussão.”62
De certo, este é o tipo de contrato utilizado nas relações consumeristas, em
que há a vulnerabilidade técnico-jurídica, sendo o traço distintivo dos contratos de
consumo. Ressalte-se que o contrato de franquia não é um contrato de consumo, pois
o franqueado não é consumidor final dos produtos ou serviços. A despeito disso, a ele
se assemelha, no sentido de ser um contrato de adesão, pois o franqueado deve ade-
rir ou não ao que de antemão já foi estabelecido pelo franqueador. Cabe frisar que a
própria Lei 13.966/19 prevê que o contrato de franquia estabelece relação empresarial
entre franqueador e franqueado “mediante remuneração direta ou indireta, sem carac-
terizar relação de consumo”.
Tartuce cita, expressamente, como exemplo de contrato de adesão, o contrato
de franquia, como se segue.

O franqueado recebe toda a estrutura do franqueador que cede, inclusive, o


direito de utilização da marca. Observa-se que o franqueado recebe toda
essa estrutura não como destinatário final, mas para repassá-la aos consu-
midores finais, que irão adquirir seus produtos ou serviços. O franqueado não
é destinatário final econômico do serviço prestado, pois dele retira o seu lucro.
Desse modo, o contrato não assume a forma de contrato de consumo, mas,
na prática, é contrato de adesão, eis que o franqueador impõe todo o conte-
údo do pacto, na grande maioria das vezes.63

O que se desenha, portanto, é que o contrato de adesão pode ser utilizado nas rela-
ções empresariais e não somente nas de consumo.
Por outro lado, o contrato negociável ou paritário é aquele em que os contra-
tantes, por estarem em situação de igualdade (par a par) discutem as condições do
contrato e estabelecem suas cláusulas de acordo com as suas vontades acordadas.
De acordo com Zanchim, “os contratantes não são vulneráveis um em relação ao ou-
tro.” [...] “ambos em estado de paridade (positiva, se houver informação suficiente para
os dois contratantes, ou negativa, se não houver).”64
Conforme Lorenzetti, contratos paritários são aqueles em que “as partes estão

62
GONÇALVES, op. cit., p. 76.
63
TARTUCE, op. cit., p. 32.
64
ZANCHIM, Kleber Luiz. Contratos empresariais: Categoria - interface com contratos de consumo e
paritários - revisão judicial. São Paulo: Quartier Latin, 2012, p. 114.
22

em igualdade de negociação, ou pelo menos não existe uma desigualdade juridica-


mente relevante”.65 É como pensa também F. Messineo, que utiliza o termo “paritetico”
para definir contratos em que há paridade econômica e psíquica entre os contratan-
tes.”66 Pelo exposto, pode-se concluir que o contrato de franquia não é um contrato
paritário por pelo menos um motivo: não há discussão de cláusulas. Em relação à
paridade, apesar do contrato não ser modificável, os contratantes, a princípio, são
juridicamente semelhantes, pois envolvidos num negócio que demanda determinados
conhecimentos específicos para sua concretização.
No entanto, cabe, ainda, nesse contexto, introduzir outro conceito na tipologia
dos contratos, que é o de contratos empresariais, em que a característica diferencia-
dora em relação aos contratos paritários é justamente a “causa geral própria dos con-
tratos empresariais” 67, segundo Zanchim, que se expressa pelo seu elemento de em-
presa ou fator de produção especial – a sua função – , o que constitui o contexto
jurídico econômico específico empresarial. Nos contratos empresarias a paridade é
sempre positiva, o que já não acontece nos contratos paritários, que “Será positiva
nos celebrados entre profissionais que contam com as informações sobre o contrato,
e negativa nos demais casos.”68
Diante do exposto, o contrato de franquia pode ser classificado como um con-
trato empresarial, assim como de adesão, em que a Circular de Oferta de Franquia
tem papel fundamental por comportar as informações de caráter informativo relevan-
tes, as quais irão subsidiar os interessados na decisão a aderirem como franqueados
ou não.

2.4 COF (CIRCULAR DE OFERTA DE FRANQUIA) E AS RELAÇÕES


EMPRESARIAIS NA FRANQUIA

A Lei 13.966/19 inovou no conteúdo que deve compor a Circular de Oferta de


Franquia, que, no escopo deste trabalho, se reduz ao artigo 2º, inciso IV, conforme se

65
LORENZETTI, Ricardo L. apud ZANCHIM, op. cit., p. 114
66
MESSINEO, Francesco apud ZANCHIM, ibid., p. 114.
67
ZANCHIM, op. cit., p. 115.
68
Ibid., p. 115.
23

segue:

IV - indicação das ações judiciais relativas à franquia que questionem o sis-


tema ou que possam comprometer a operação da franquia no País, nas quais
sejam parte o franqueador, as empresas controladoras, o subfranqueador e
os titulares de marcas e demais direitos de propriedade intelectual;69

A questão levantada se refere ao termo que existia na lei anterior ao tratar do


mesmo assunto como pendências judiciais, que foi alterado para ações judiciais na
nova lei.

III - indicação precisa de todas as pendências judiciais em que estejam en-


volvidos o franqueador, as empresas controladoras e titulares de marcas, pa-
tentes e direitos autorais relativos à operação, e seus subfranqueadores,
questionando especificamente o sistema da franquia ou que possam direta-
mente vir a impossibilitar o funcionamento da franquia;70

Cabe ressaltar que na lei anterior existia a dificuldade em se aferir a veracidade


dos dados relativos a pendências judiciais contidas na COF, prestadas pelo franque-
ador, justamente pelo sigilo no juízo arbitral. Entretanto, havia o amparo legal ao fran-
queado, pois o franqueador assumia a responsabilidade pela veracidade dos fatos
informados. Pela nova lei, não existe mais a obrigatoriedade de prestar as informa-
ções de pendências em juízo arbitral.
Em relação aos termos utilizados, tem-se que a palavra pendência, juridica-
mente, significa, segundo Silva:

“Formado de pender, do latim pendere (estar suspenso), aplica-se na lingua-


gem jurídica para exprimir a questão ou disputa acerca de direitos ou bens.
Quando trazida à presença do juiz, para que a solucione, diz-se judicial. E
extrajudicial, quando ser fere fora de juízo.”71

É notório que, nesse sentido, pode-se incluir como pendências judiciais aquelas
em curso em juízo arbitral, ainda que seja este de natureza extrajudicial, pois que a
lide é colocada nas mãos de um terceiro para que a solucione pelas partes.
Ação, na terminologia do direito processual, tem como significado o direito de
recorrer à proteção da Justiça e agir acertadamente perante ela, conforme definição

69
BRASIL. Lei nº 13.966, op. cit..
70
BRASIL. Lei nº 8.955, de 15 de dezembro de 1994. Dispõe sobre o contrato de franquia empresarial
(franchising) e dá outras providências. Brasília, Distrito Federal, 1994.
71
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 32. ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2016. ISBN
9788530960605, p. 1029.
24

de Silva.72 Ocorre que, na realidade, entre o direito de agir da ação e o exercício desse
direito, tem que haver a demanda, para que, de fato exista a ação judicial.

Ação judicial indica precisamente o exercício da ação. Ou melhor, serve para


expressar o ato diante do qual o titular de um direito vem perante a Justiça
para formular a demanda.
Neste sentido, ação judicial, sem dúvida, está na mesma significação de pro-
cesso judicial, tendo, portando, o mesmo significado de demanda.73

Demanda, segundo Silva,

É imposta, destarte, pela propositura da ação. E compreende todo procedi-


mento judicial até a decisão da pendência, que põe fim à divergência, seja
pela condenação do réu (transgressor do direito) ou por sua absolvição par-
cial ou total a pedido do autor (o prejudicial ou molestador no direito).74

Isto posto, conclui-se que demanda possui acepção mais ampla que ação, “pois
que indica a ação em curso ou já formulada em juízo e em processo, enquanto a ação
revela o direito de agir ou direito de ir pedir em juízo, o que fundamenta ou autoriza a
demanda indicativa do exercício da ação.”75
Desta forma, deduz-se que nem todas as pendências judiciais são ações judi-
ciais, dentre elas as que correm em juízo arbitral. Sendo assim, com a obrigatoriedade
de fornecer apenas as informações de ações judiciais, o franqueado resta em desvan-
tagem, pois o sigilo no juízo arbitral torna impraticável ao que deseja ser franqueado
descobrir, por moto próprio, se a franqueadora possui ou não seguimento de proces-
sos no juízo arbitral.
Como se pode observar, a lei anterior imprimia maior amplitude nas informa-
ções que deveriam ser incluídas na Circular de Oferta de Franquia (COF), pois abran-
gia qualquer tipo de pendências judiciais, incluindo arbitragem, mediação, negociação,
ações judiciais etc. Ocorre que, a partir da vigência da nova lei, está obrigado o fran-
queador a informar somente ações judiciais, nos termos do artigo 2º, inciso IV, con-
forme já citado anteriormente.76
As demais demandas, porventura existentes no período de transação para a
celebração do negócio contratual, envolvendo o franqueador, assim como os demais

72
SILVA, op. cit., p. 39.
73
Ibid., p. 40.
74
Ibid., p. 435.
75
Ibid., p. 435-436.
76
BRASIL Lei nº 13.966, op. cit..
25

atores desse processo, ficam fora desse arcabouço informativo, cujo objetivo é servir,
justamente, como instrumento para embasar o franqueado em sua decisão de firmar
o contrato de franquia. Para isto serve a Circular de Oferta de Franquia; esclarecer o
franqueado, de acordo com Timm.77
Tendo ciência das demandas, e, portanto, de dívidas ou haveres do franquea-
dor, assim como das questões que ele vem enfrentando no contexto jurídico relativas
ao sistema de franquia ou ao comprometimento da operação de franquia, a tomada
de decisão estará mais fortemente embasada. Tal qual informa Schermerhorn Jr., Pe-
ter Drucker diz que “uma estratégia vencedora irá exigir informações sobre eventos e
condições fora da instituição”, e que as organizações devem dispor de “métodos rigo-
rosos para reunir e analisar informações externas”.78
Importante, neste contexto, ressaltar algumas características dos contratos em-
presariais, na abordagem de Garcia, que são os “realizados por empresas no exercí-
cio das suas atividades.”79 listadas aqui resumidamente, tais como: 1) o risco empre-
sarial, que é parte inseparável da atividade profissional da empresa, voltada “à obten-
ção de lucros, mediante a assunção dos riscos a ela inerentes”80; 2) o profissionalismo
e o dever de diligência dos dirigentes das empresas, gestores e administradores, para
com a entidade que representam;81 3) a organização empresarial, que capacita a em-
presa para alcançar seus objetivos, por meio de planejamento e aproveitamento de
oportunidades de negócios82; e 4) a concorrência e rivalidade, sendo este último as-
pecto de extrema relevância, no sentido de que nos contratos empresariais as partes
objetivam o máximo lucro e existe um ambiente de competição e concorrência pró-
prios das relações empresariais.
Portanto, não é de se esperar que as partes sejam colaborativas umas com as
outras, o que não significa dizer que, com isso, não haja boa-fé objetiva entre as par-
tes. Nesse sentido, Garcia aduz que “o dever de boa-fé e de práticas comerciais leais
são comumente invocados por ocasião do término de contratos comerciais de longa
duração”83, como são os de franquia.

77
TIMM, op. cit., p.97.
78
DRUCKER, Peter F. et al. apud SCHERMERHORN JR., John R. Administração. 8. ed. Rio de Ja-
neiro: LTC, p. 148.
79
GARCIA, Ricardo Lupion. Boa-fé objetiva nos contratos empresariais: contornos dogmáticos dos de-
veres de conduta. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. 220 p. ISBN 9788573487541, p. 139.
80
Ibid., p. 140.
81
Ibid., p. 142.
82
Ibid., p. 147-148.
83
GARCIA, op. cit., p. 153.
26

Cabe ressaltar que o artigo 2º da nova Lei de Franquias aponta, basicamente,


para o dever de informação e transparência, que é um desdobramento do princípio da
boa-fé, celebrado enfaticamente no ordenamento jurídico brasileiro, que, no contexto
do contrato de franquia, se consubstancia na Circular de Oferta de Franquia. Esta
deve estar absolutamente pautada neste princípio basilar.
Diante disto, estranha-se a redução das informações obrigatórias relativas a
‘pendências judiciais’ para ‘ações judiciais’, na redação do texto da lei atual. No en-
tanto, em se tratando de contrato empresarial, de acordo com Garcia, “Nos contratos
empresariais, é preciso cautela para evitar que a boa-fé objetiva seja arguida para
“reescrever o contrato” ou para “criar direitos ou deveres que não decorram da relação
contratual existente”.”84 Desta forma, a boa-fé está implícita no contrato de franquia,
pois este é um contrato empresarial.
De acordo com a sistemática do uso do juízo arbitral na esfera dos contratos
de franquia, como visto anteriormente, utilizando-se de cláusula de arbitragem, o fran-
queado insatisfeito não ajuizará ação na justiça comum, mas resolverá a lide perante
um árbitro ou câmara arbitral. Apesar de ser um método de heterocomposição de con-
flitos, a arbitragem não é uma ação judicial, mas um procedimento arbitral, extrajudi-
cial, o qual poderia ser entendido como pendência judicial, vocábulo usado pela antiga
lei, mas não como ação judicial, que é a expressão utilizada na lei atual. Cabe frisar
que o procedimento arbitral é sigiloso, o que inviabiliza o conhecimento sobre a em-
presa franqueadora ter ou não processos no juízo arbitral.
Ora, o que se pode concluir é que o legislador, neste aspecto da disponibiliza-
ção das informações processuais, privilegiou os franqueadores em detrimento dos
franqueados, no sentido de que o desconhecimento de litígios em arbitragem por parte
dos franqueados não seria empecilho para o fechamento de contratos de franquia.
Como já discorrido anteriormente, segundo Zanchim, nos contratos empresari-
ais, ainda que firmados por adesão, que é o caso dos contratos de franquia, existe a
“presunção absoluta de que os empresários concordam com todos os termos da
avença.”85 Com esse entendimento, percebe-se que a Circular de Oferta de Franquia
é o principal instrumento que conduzirá à composição do contrato de franquia, pois
nele está definido todo o escopo do negócio formatado pelo franqueador, ao qual o
franqueado deverá aderir, se tiver o perfil adequado e se este empreendimento for

84
WEIGAND, Tory A. apud GARCIA, op. cit., p. 154.
85
ZANCHIM, op. cit., p. 121.
27

financeiramente viável para ele.


Também foi visto que a COF deve informar o curso de ações judiciais, somente.
Da mesma forma, constatou-se que o sigilo no juízo arbitral é extremamente
positivo do ponto de vista comercial, e a própria lei de franquia indica utilizar a arbitra-
gem como meio de solução de conflitos nos contratos de franquia. Ocorre, neste
ponto, o que Garcia chama de assimetria de informações, pois pode-se concluir que
a COF subtrai elementos importantes do franqueado ao obrigar o franqueador a infor-
mar somente ações judiciais na COF, ficando o franqueado desprovido de dados a
respeito de ações no juízo arbitral para que este tome decisão sobre a franquia que
deseja contratar. Laux também corrobora com a ideia de que não há isonomia entre
as partes quando uma delas possui mais informações sobre determinado fato contro-
verso do que a outra parte.86 Assim, a própria lei de franquia favorece o franqueador,
neste aspecto, em detrimento do franqueado: o franqueador tem mais chance de ne-
gociar sua franquia; já o franqueado tem mais risco na contratação da franquia. A
assimetria de informações de Garcia é, neste caso, fomentada pela própria lei, que,
segundo o autor,

[...] poderá resultar a vulnerabilidade de uma das partes e, nestas hipóteses,


os deveres de conduta decorrentes da boa-fé objetiva nos contratos empre-
sariais deverão prevalecer diante da necessidade da proteção do equilíbrio e
das forças contratuais, a despeito da existência de partes contratantes pro-
fissionais voltadas para a obtenção de lucros, já que os traços marcantes da
atividade da empresa – profissionalismo, organização, risco e lucros – deve-
rão ser relativizados diante da vulnerabilidade, bem maior a ser protegido,
sem, contudo, permitir a indevida consumerização do ambiente jurídico em-
presarial.87

Isto significa dizer que o franqueado, diante da falta de dados dos possíveis
processos em arbitragem do franqueador, estará vulnerável em relação a este as-
pecto, e que, neste caso, conforme Garcia, os deveres de conduta que decorrem da
boa-fé objetiva devem prevalecer, de forma plena, quais sejam, os deveres de coope-
ração, de informação, cuidado e proteção.88 Tais deveres, no caso do contrato de
franquia, se manifestariam ao serem informadas, na COF, as pendências judiciais do
franqueador.

86
LAUX, Francisco de Mesquita. Mediação Empresarial: aplicação de mecanismos alternativos para
solução de disputas entre sócios. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. ISBN 9788554947804, p.
51.
87
GARCIA, op. cit., p. 193-194.
88
Ibid., p. 155.
28

3 CONCLUSÃO

Conforme extensamente tratado ao longo do trabalho, o franqueador, pela nova


Lei de Franquia, não precisa mais informar na COF todas as pendências judiciais en-
volvendo a franquia, tão somente as ações judiciais, restringindo, assim, o acesso aos
procedimentos arbitrais em curso face ao franqueador.
O fato da própria Lei de Franquias incentivar a arbitragem, como forma de re-
solver os conflitos provenientes dos contratos de franquia, dá mostras de que o juízo
arbitral é altamente recomendável para as empresas, como visto nas questões trata-
das sobre o menor custo de transação, quando comparadas ao Juízo Estatal, princi-
palmente quanto à especialidade dos árbitros, que conduz, inexoravelmente, à celeri-
dade dos procedimentos, reduzindo o tempo da solução de conflitos consideravel-
mente.
De fato, a demora do Judiciário não atende à necessidade do empresariado,
pois o mercado não espera pelo restabelecimento das relações negociais do empre-
endimento e, a depender do caso, pode haver uma ruptura na empresa, em termos
financeiros ou negociais entre sócios, fornecedores, clientes, de forma irreversível.
Também, em relação à arbitragem, cabe frisar sua característica sigilosa, que visa
proteger as partes de uma publicidade prejudicial, que, no caso das empresas, é de
suma importância, porque resguarda segredos industriais, de marca, financeiros, além
de preservar a imagem das partes envolvidas.
Por outro lado, o dever de sigilo na arbitragem, no caso específico da franquia,
nos termos em que a nova Lei de Franquia colocou, se torna um fator potencialmente
prejudicial ao franqueado ou candidato a franqueado, especialmente nos dias atuais,
devido ao cenário econômico de incertezas mais profundas, provocado pela pandemia
do novo coronavírus. Os riscos dos novos negócios são notoriamente mais elevados.
Se empresas estabelecidas no mercado estão entrando em recuperação judicial ou
falindo, inocência seria pensar que os novos negócios estariam isentos de maiores
riscos.
Nesse ponto, cabe ressaltar que a Lei de Franquias obriga o franqueador a
informar todas as ações judiciais na COF, mas não o proíbe de informar todas as
pendências judiciais. Considerando que o contrato de franquia é um contrato empre-
sarial, que em si já está implícita a boa-fé objetiva, mas que em relação a falta de
29

informações torna vulnerável o franqueado, o que clama aos deveres de conduta de-
correntes da boa-fé objetiva (cooperação, informação, cuidado e proteção), nada mais
expressaria a boa-fé objetiva do que o franqueador informar também, na COF, os
procedimentos arbitrais nos quais é parte.
Diante do que foi exposto, levando-se em consideração os aspectos abordados
no presente estudo, pode-se chegar à conclusão que a nova redação do artigo, que
dispõe ser obrigação do franqueador informar todas as ações judiciais na COF, é pre-
judicial ao pretendente a franqueado, no sentido de que este fica mais exposto aos
riscos relativos à contratação de franquia que eventualmente tenha, em juízo arbitral,
demandas relacionadas ao negócio.
Tais litígios, resguardados pelo sigilo arbitral, não poderão ser acessados pelo
candidato a franqueado por qualquer meio, a não ser por ato voluntário do franquea-
dor, motivo pelo qual se afirma que há prejuízo ao proponente a franqueado, que sem
acesso a informações cruciais para a tomada de decisão ao contratar o negócio, pode
ser ver, futuramente, em condições de dificuldades, face ao desconhecimento de de-
terminadas situações do franqueador, como dívidas, disputa de autoria de marcas,
etc., as quais, se fossem do conhecimento do candidato a franqueado, talvez corro-
borassem para que o contrato de franquia não fosse fechado.

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