Você está na página 1de 3

Casos práticos sobre noção de contrato de trabalho

II
Daniel é professor de educação física e, nessa qualidade, em 2010, celebrou um
contrato de trabalho com o Colégio CST, tendo-se obrigado, mediante retribuição, a lecionar
aulas de educação física a turmas de vários anos de escolaridade, de acordo com o horário
estabelecido pela Direção do Colégio e nas instalações deste, que compreendiam campos
descobertos e pavilhões fechados, destinados a diversas atividades. A assiduidade e
pontualidade de Daniel eram controladas por um trabalhador do departamento da gestão
logística. Além das aulas e avaliações, incumbia a Daniel participar nas reuniões de docentes,
elaborar uma ficha referente à sua disciplina, com conteúdos programáticos, métodos de
ensino e estratégias de aproveitamento, bem como elaborar sumários. Como o número de
aulas de Daniel variava em cada ano letivo, estabeleceu-se que ele auferia 30€ por cada hora
de aula, sendo a sua retribuição mensal o resultado dessa operação. Daniel recebia aquele
valor durante todos os meses do ano, embora não lhe fosse pago qualquer subsídio de férias
nem de Natal.
Já em 2016, Daniel recebeu uma proposta do Colégio no sentido de, por acordo,
fazerem cessar o contrato de trabalho, para celebrarem outro, agora dito “Contrato de
prestação de serviço docente”. O Colégio propôs a Daniel, nessa ocasião, pagar-lhe uma
compensação no valor de 15 mil €. Desde então, a relação entre as partes vem sendo
executada nos mesmos moldes, com uma exceção: Daniel apenas recebe pagamentos nos
meses correspondentes ao período letivo. Recentemente, o Colégio fez cessar o contrato e
Daniel decidiu recorrer a tribunal, invocando ter um contrato de trabalho e ter sido
despedido.
Pronuncie-se sobre a situação descrita.
O nome atribuído, pelas partes ao contrato de trabalho não é relevante, pois
vigora o princípio do realismo, logo é possível tratar se de um contrato de trabalho.
O contrato de trabalho vem definido no art.11 do CT e tem como principais
características a obrigação de prestar uma atividade, ter de ser pago como forma de
retribuição e estar em condições de subordinação jurídica. No contrato de trabalho
existe um sinalagma, entre empregador e trabalhador, estando o trabalhador
subordinado aos poderes de direção e autoridade do empregador.
A característica principal do contrato de trabalho é a sua subordinação, é uma
relação de dependência da conduta pessoal do trabalhador, executando a atividade
sob as ordens e orientações do empregador, sempre dentro dos limites do contrato,
o trabalhador esta subordinado a autoridade do empregador, no entanto sempre com
autonomia técnica, devido a sua formação na área.
Pretendemos distinguir um contrato de trabalho de um contrato de prestação
de serviços, Daniel pretende provar que tem um contrato de trabalho.
Para distinguir um CPS de um CT podemos recorrer a três métodos, o método
substantivo, o método indiciário, em que avaliam uma serie de indícios, faz-se um
juízo global, e dependendo de cada caso em concreto dar-se mais ou menos
relevância tentando aproximar as suas características de um tipo contratual que se
pretende provar.
A presunção de laboralidade é outro dos métodos, em que de um facto
desconhecido se presume um facto conhecido art.12 CT e art.342 CC. A presunção
de laboralidade é o método a que mais se recorre, está presunção trouxe uma função
estabilizadora, capaz de garantir a continuidade da vida social e uma função
modeladora capaz de ajustar a ordem jurídica a evolução social. Assiste-se, a uma
evolução do método indiciário para a presunção de laboralidade, que é mais favorável
aos cidadãos pois basta fazer- se prova do que se está a presumir, tendo neste caso,
Daniel, conseguido provar que tem um contrato de trabalho caberá a parte contraria,
provar o contrario.
A presunção foi evoluindo com o tempo sofreu várias alterações, em 2003, 2006
sendo a atual presunção de 2009, art.12 CT.
Tendo o contrato sido celebrado em 2016, não se coloca aqui a questão de se
aplicar as leis anteriores de 2003 e 2006, há uma grande discussão na doutrina neste
tema, que tem por base a aplicação retroativa a relações constituídas anteriormente
tanto da presunção de 2003, como da de 2006 ou da atual de 2009. Sendo assim, aplica
se a presunção de 2009, tendo a doutrina entendido que é necessário que a prestadora
prove apenas dois elementos presentes para funcionar a presunção, neste caso
preenchem se varias alíneas, o horário, o local de trabalho trabalhar nas instalações,
tem uma retribuição periódica e certa, tem horas de inicio e horas de termo .
Mesmo, Daniel, durante os meses de julho e agosto não ter recebido retribuição,
continuam se a verificar dois elementos, presentes do art.12, o local de trabalho,
continua a ser nas instalações do colégio art.12/1 a) e o horário de trabalho que é
determinado pelo beneficiário art.12/1 c). A presunção de contrato de trabalho parece
funcionar, podendo então Daniel socorrer-se desta presunção para mostrar que se
trata de um contrato de trabalho perante o tribunal.
Para ilidir está presunção, o beneficiário podia proceder ao método indiciário
para qualificar aquele contrato como um contrato de prestação de serviços. Tendo
em conta os indícios, no que diz respeito ao local de trabalho e ao horário, pertencem
ambos ao beneficiário, apontando isto para um contrato de trabalho; a pontualidade
é avaliada o que também parece pender uma um contrato de trabalho e Daniel tem
autonomia técnica, que em nada influencia a subordinação jurídica art.16 CT.
O trabalhador também poderia fazer valer a sua posição, com base no art.129
j), porque ele tinha um contrato de trabalho e mesmo com o acordo do trabalhador
celebraram um outro contrato que, não esta sujeito as garantias que lhe conferia o
contrato de trabalho anterior, o trabalhador sairia assim prejudicado.

Você também pode gostar