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Direito Fiscal

Exame em 18/01/2018

RESPONDA A CADA UM DOS GRUPOS EM FOLHAS SEPARADAS

Duração da prova: 2h 30m

I (5 valores)

A Assembleia Municipal do Porto aprovou a criação de uma Taxa de Proteção Civil destinada a
remunerar os serviços assegurados pelo Município nos domínios da proteção civil, do combate
aos incêndios, da garantia da segurança de pessoas e bens, da prevenção de riscos e da
formação de funcionários e da comunidade em geral.
A base de incidência anual é uma percentagem de 0,05% sobre o valor patrimonial tributário
dos imóveis e os sujeitos passivos são os proprietários dos imóveis localizados no Município.
a) Como qualifica este tributo?
Coloca-se aqui a possibilidade de ser taxa: dado que a Lei geral das taxas das autarquias locais
prevê a possibilidade de se criarem taxas de visem suportar os serviços de proteção civil. No
entanto a taxa tem uma logica de bilateralidade, ou seja, depende da existência de uma
contraprestação efetiva, quando muito fortemente presumida (ex do uso de esgotos para quem
usa aguas no imoveis)- fundamento da taxa- 4º/3 LGT.
Ora, tecnicamente não podemos considerar que esteja em causa uma contraprestação
presumida, mas provável, além de que também não podemos dizer que estes serviços de
proteção civil sejam individualizáveis porque se diluem por toda a comunidade e não apenas
por alguns, muito menos apenas para aqueles que tenham imóveis no município, como
determinado. Ora, tendo esta situação surgido já na jurisprudência, o TC entendeu numa
situação semelhante que mais depressa estaria em causa um imposto, que não tem uma lógica
comutativa e que é cobrado com a finalidade genérica de suportar as necessidades do Estado.
Há ainda quem defenda que estamos neste caso perante uma contribuição, porque não sendo
possível individualizar a contraprestação ela assenta numa lógica de benefício grupal, em que é
mais fácil ter certeza ao afirmar que esse grupo terá beneficiado dessa prestação. A
contribuição e um tributo pecuniário e coativo mas que assenta numa contraprestação
meramente presumida e assente numa lógica grupal (no caso da contribuição financeira)- daí
dizermos que apresenta uma bilateralidade mitigada, proque também ano chega a ser
unilateral como o imposto.
b) A Associação Nacional de Proprietários considera que o tributo é de constitucionalidade
duvidosa. Que fundamentos poderão ser invocados para sustentar tal tomada de posição?
Questão da reserva de lei: de admitíssemos que era uma taxa poderíamos sustentar a
inconstitucionalidade na inexistência de uma contraprestação especifica o que se refletiria
numa violação do princípio da equivalência que justifica cobrança de taxas e que é a
concretização do princípio da igualdade tributária prevista no artigo 13º CRP.
Se admitíssemos estar em causa uma contribuição financeira então a inconstitucionalidade
seria orgânica na medida em que se tem entendido que elas não estão sujeitas ao regime dos
impostos em matéria de reserva de lei (como acontece nas contribuições especiais) o que
permite dizer que elas podem ser criadas pelo Governo no âmbito do seu poder legislativo mas
nunca no âmbito do seu poder administrativo, o que retira às autarquias a possibilidade de as
criaram (165º/i e).
Referir aqui o regime das taxas locais- os vícios de que estas padecem bem como o impacto que
a restruturação do regime teve. Bem como situações anteriores em que foram dadas como
inconstitucionais taxas de proteção civil criadas pelos Municípios de Gaia e de Lisboa em função
do VPT dos imóveis.

II (4 valores)
No dia 1 de janeiro de 2014 entrou em vigor uma Lei da Assembleia da República que criou um
imposto adicional ao IRC (5% sobre a coleta de IRC), a incidir apenas sobre as sociedades
comerciais que tivessem um volume de vendas anual superior a 10 milhões de euros.
Tendo-se suscitado dúvidas sobre se o referido imposto incidiria também sobre os grupos de
sociedades que de modo agregado ultrapassassem o referido volume anual de vendas de 10
milhões de euros, a Assembleia da República aprovou e publicou uma Lei, com início de
vigência em 7 de Julho de 2016, que acrescentou as seguintes disposições à redação inicial:
“(i) Existindo um grupo de sociedades, considerado como tal segundo a lei comercial, para o
cômputo do volume de vendas superior a 10 milhões de euros será considerada a soma dos
valores anuais de vendas de todas as sociedade que compõem o grupo.
(ii) O disposto na alínea anterior aplica-se a partir do exercício fiscal de 2014.”
Estas disposições legais foram justificadas com a necessidade de obtenção de receitas fiscais
motivada pela crise soberana nacional.
a) Pode o adicional ser aplicado aos grupos de sociedades em relação aos anos de 2014 e
2015?
Questão da proibição da retroatividade dos impostos- 103º/3 CRP
Distinção entre impostos de formação sucessiva e de formação instantânea, sendo que isso nos
leva aos conceitos de retroatividade autentica e inautêntica, em que a autentica diz respeito a
situações em que a lei nova se pretende aplicar a factos tributários já ocorridos e relativamente
aos quais até já terá sido pago o imposto. Neste caso tratar-se de uma retroatividade autentica
que é em regra proibida porque se faz uma analise objetiva: a lei proíbe, portanto não é
possível. No entanto, a retroatividade autentica não é absolutamente proibida dado que se
pode justificar em condições que se tornem justificáveis: catástrofes, graves crises. Por isso,
dependendo da situação efetiva do país a retroatividade poderia ser admissível.
Ainda se poderia talvez questionar aqui se o a disposição (i) possa ser interpretada como uma
lei nova ou como uma lei que veio clarificar uma disposição ja em vigor desde janeiro de 2014,
o que deixaria de por em causa a questão da retroatividade porque tecnicamente não
estaríamos a implementar uma lei nova, mas a concretizar uma lei ja vigente no período que se
pretende tributar.
b) E ao exercício de 2016?
Retroatividade inautêntica por estar em causa um imposto de formação sucessiva: como tem
lei transitória não se aplica o regime supletivo do art. 12º
Em 2ª linha poderá efetuar-se o exame da proteção da confiança

III (5 valores)
Em 2017, os únicos rendimentos de X, pessoa singular residente em Portugal, foram os juros de
um depósito bancário a prazo (em que ficou acordado entre X e o Banco o pagamento de uma
taxa de juro de 10% para um capital investido de 100.000 euros).
a) Indique quais as vantagens da substituição tributária?
Rendimento de capital- categoria E- art. 5º/2 al B. Não ha deduções ao rendimento bruto
(RB=RL)
Se optar pelo englobamento, tendo juros no valor de 10 mil€ aplicando-se as taxas progressivas
do 68º: 7091€ aplicamos a taxa de 14,500% (=1028,195) e aos restantes 2909€ aplicamos a taxa
de 23% (=669.07) = total a tributar de 1697€
Se aplicar a taxa liberatória de 28% como prevê o artigo 71º/1 a)- a coleta será de 2800€
O rendimento líquido seria de 8302,83 (rendimento bruto (10 mil) – coleta (1697.07).
Neste caso a opção pelo regime das taxas liberatórias não seria benéfico- é aqui que se faz a
retenção na fonte como mecanismo de substituição tributária: libera o substituído da obrigação
de apresentar declaração, de efetuar o pagamento e de englobamento.
b) Suponha que o Banco pagou a X a totalidade dos juros acordados (10.000 euros) não tendo
sido entregue nada ao Estado. A quem poderá ser exigido o pagamento do imposto em
dívida relativamente aos referidos rendimentos? Justifique a resposta.
Art. 28º LGT- se tiver optado pelas taxas liberatórias que obrigam a retenção na fonte: a
responsabilidade de retenção e de entrega é do Banco- no entanto, não tendo havido retenção
a responsabilidade como refere o nº3 é do substituido (X) apenas se chamado o banco a titulo
subsidiário.
Se fosse englobamento (22º)- a responsabilidade é do contribuinte direto sobre o qual
impendem a obrigação principal de pagamento (31º /1 LGT) e de apresentação da declaração
de rendimentos (nº2).

IV (6 valores)
1. Z, pessoa singular, solteiro, maior e residente fiscal em Portugal, é proprietário de dois
imóveis arrendados a terceiros. O imóvel A foi arrendado em 2017 e gerou no mesmo ano
rendas no valor de 50.000 euros, todas pagas pelo arrendatário. O imóvel B gerou em 2017
rendas de 5.000 euros, mas o arrendatário não procedeu ao pagamento, encontrando-se
ainda em mora.
No início do ano de 2017, Z realizou pequenas obras de conservação no imóvel B, no valor de
1.000 euros.
No ano de 2016, uma vez que o imóvel A estava muito degradado e Z projetava já arrendá-lo,
investiu nas seguintes despesas: 1) 20.000 euros, para colocar um telhado novo, porque o
anterior estava totalmente degradado; 2) 5.000 euros, para compra de eletrodomésticos; 3)
10.000 euros, para pinturas das salas e dos quartos, 4) 2.000 euros de juros pagos pelo
empréstimo bancário que contraiu para suportar as despesas anteriores.
Justificando todas as respostas, responda às seguintes perguntas:
a) Em que categoria serão tributados os rendimentos referidos e qual o valor bruto a
considerar?
Categoria F- rendimento prediais (Art. 8º) / ou possibilidade de inserir na categoria B em
virtude do princípio da atração (art. 3º) o que nos conduz ao regime simplificado ou de
contabilidade organizada (31º) cuja escolha é importante em matéria de despesas
Rendimento bruto: 50 mil€
Os 5 mil em falta não se tributam porque obedecemos aqui a uma lógica de ótica de caixa em
que se tributarmos aquilo que o senhorio ainda não auferiu não estamos a atender a sua
capacidade contributiva efetiva, sendo certo que poderão aqui depois considerar-se juros de
mora que que o arrendatário pague ao senhorio (acho eu).
b) Como se apura o rendimento coletável de Z em relação ao ano de 2017?
Se for na categoria F: importa ver as despesas para perceber se sao dedutíveis no âmbito do
artigo 41º:
- quanto ao imóvel A: telhado- obra de conservação- é dedutível (-20.000)
eletrodomésticos- não e dedutivel
pintura da casa- pode ser uma obra de manutenção (nº7)- 10 000- ou seja, em sede
de categoria F seriam dedutíveis 30 mil€ aos 50mil que aufere, ou seja, o rendimento líquido
tributável era de 20 mil€.
Se for categoria B:
- regime de contabilidade organizada- tem que ter um sistema de armazenamento de
faturas e comprovativos das despesas relacionadas com aquele rendimento. Ou seja, todas as
despesas podem ser consideradas desde que sejam despesas suscetíveis de manutenção na
fonte produtora – 37 mil€. Aqui temos um regime muito mais favorável no que respeita a
despesas fiscalmente consideráveis – todas serão consideradas – artigo 32º CIRS. Aqui
podemos referir o 28º com base na contabilidade.
- simplificado- quociente do art. 31º- al d) 0.95- a matéria coletável seria de 47.500€ porque
apenas deduzíamos 5% numa logica de despesas presumidas

- imóvel B- as despesas de 10 mil€ apenas seriam deduzidas quando o rendimento fosse


obtido, os 5 mil euros. O que geraria uma perda se pensarmos no imóvel B de forma isolada ou
se o inserirmos numa categoria diferente do imóvel A(art. 55º). Ora a quantia remanescente (5
mil€) apenas seria dedutível nos anos posteriores aos rendimentos da mesma categoria por
virtude da incomunicabilidade de categorias para efeitos de deduções de montantes superiores
ao rendimento auferido, razão pela qual os rendimentos relativos ao imóvel B seriam
considerados como 0€ (12 anos se for categoria B, 6 se for categoria F).

c) Como seria tributado esse rendimento em 2017?


Se optar pela Categoria f – taxa especial de 28% ou pode optar pelo englobamento
Categoria B – obrigatoriamente sujeito a englobamento

2. No âmbito do IRS, como distingue taxas liberatórias de taxas especiais?


A diferença entre estes 2 tipos de taxas: a razão de ser liberatória tem que ver com a ideia de
liberar o sujeito passivo, i.e, as taxas são liberatórias porque libertam o contribuinte das
obrigações de declaração, de englobamento e de pagamento, porque a obrigação se considera
cumprida com a retenção na fonte efetuada pela entidade pagadora- há, assim, uma
substituição fiscal total. Nas taxas especiais o sujeito passivo direto continuará a ter obrigações
declarativas e eventuais pagamentos efetuados terão natureza de pagamentos por conta. A
diferença substancial é que nas taxas liberatórias o sujeito fica liberado da obrigação
declarativa e as suas contas com o Estado em relação àquele rendimento ficam saudadas.

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