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RESPOSTA SOBRE APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO

A economia, a sociedade vai-se globalizando (vai-se internacionalizando), e à medida que se


internacionaliza, nós temos situações económicas, situações jurídicas que tocam em vários estados.

O ponto de partida é que os estados são soberanos nas regras de incidência tributária. Cada estado
decide livremente as regras de tributação, as regras de incidência, como quer tributar os seus
cidadãos. E, portanto, partimos da soberania dos estados e esta, na sua atividade, pode levar a que
haja situações que sejam duplamente ou triplamente tributáveis.

A regra é que os estados tributam situações jurídicas que tenham conexão com o seu território. A
soberania dos estados incide sobre situações económicas que tenham conexão com o seu território –
PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE.
Este princípio desdobra-se em dois princípios: (1) princípio da residência (2) princípio da fonte.
Quanto ao princípio da residência, este significa que o estado português aspira a tributar os seus
residentes. Tributa-se os residentes porque são estes que beneficiam das facilidades, das utilidades
que o estado propicia, logo, tem de pagar imposto. Ainda que o imposto seja unilateral e que não
haja nenhuma lógica bilateral, há aqui um pacto que faz sentido que pague imposto quem reside no
território e quem tem o benefício decorrente dos impostos. Pelo princípio da residência, o estado
tributa os seus residentes pelo rendimento que estes obtêm nesse país e pelo worldwide income –
rendimentos que ganho no estrangeiro.

RENDIMENTO LÍQUIDO – DESPESAS PERSONALIZANTES X TX PROGRESSIVA



Rendimento bruto – impostos
Worldwide income – despesas

Quanto ao princípio da fonte, este vale para os não residentes, e estes são apenas tributados pelos
rendimentos que têm conexão com o estado da fonte.
Habitualmente é um rendimento bruto (não deduzo despesas personalizantes), parcial (habitualmente
é apenas uma parcela) e tributado a uma taxa proporcional. Porquê? Porque eu estou a olhar para o
rendimento e não para a pessoa, todas as vicissitudes da pessoa eu não quero saber – não tenho em
conta as despesas personalizantes.

Havendo fenómenos de dupla tributação, isto gera, não uma ilegalidade jurídica, mas
constrangimentos económicos à livre circulação, e os estados sentiram que havia um problema, havia
algo, que pela sobreposição de soberanias, vai criar situações que ambos não querem. Entao, o que
existe ao nível do direito fiscal internacional são mecanismos fortes para tentar minimizar ou evitar a
dupla tributação. Isto pode ser feito através de disposições da lei interna (cfr art.78º/1 al j) CIRS) ou
por convenções de dupla tributação.

As convenções internacionais são tratados internacionais, fundamentados no princípio da


reciprocidade, que prevalecem sobre a lei interna, dos quais decorrem direitos para os próprios
cidadãos individuais.
Para facilitar as negociações, há convenções modelo da OCDE, em que os seus corpos técnicos
criaram minutas, propostas de texto, propostas essas que são tecnicamente elaboradas, que tem uma
minuta de texto com notas explicativas, que os estados aprovam as minutas e depois assumem a
minuta.
Estes tratados produzem efeitos jurídicos, definem a situação tributária dos cidadãos de forma direta
que prevalece sobre a lei interna, sendo que se não forem acautelados, podem ser invocados em
tribunal.
Estas convenções não excluem absolutamente a dupla tributação; depende do acordo político a que
os estados cheguem. Nalguns casos eliminam a dupla tributação, noutros casos atenuam a dupla
tributação, noutros casos mantém-se a dupla tributação porque não há forma de chegar a acordo.
As convenções não criam direito, são apenas policias sinaleiros para evitar ou minimizar a dupla
tributação.

MÉTODOS DE ATENUAÇÃO DA DUPLA TRIBUTAÇÃO:


Os dois métodos de atenuação da dupla tributação assentam na premissa de que é o estado da
residência que tem o encargo de eliminar ou atenuar a dupla tributação.

Reconduzem-se a dois momentos:


▪ 1º MOMENTO: o estado da fonte vai tributar de acordo com as suas regras internas.
▪ 2º MOMENTO: temos o estado da residência que vai eliminar ou atenuar a dupla tributação
através do método da isenção ou do método da imputação.

Método da Isenção:
Neste método, o estado da fonte tributa como quer, de acordo com a sua lei interna. Depois, o estado
da residência, num segundo momento, vai isentar o contribuinte de tributação porque este já foi
tributado no estado da fonte.
Assim sendo, o estado da residência, à parcela do rendimento mundial, não aplica o princípio geral
de tributação do seu direito interno.
E, portanto, o contribuinte só será tributado no estado da fonte e nunca no estado da residência, em
derrogação, por prevalência do direito fiscal internacional, da lei interna. Desta forma temos uma
norma de direito fiscal internacional que se sobrepõe às leis internas e que revogam nesta medida,
por convenção (tratado internacional), esta lei interna.

Este método subdivide-se em:


🡪 Método de isenção total: num primeiro momento, o estado da fonte tributa o rendimento que
tem conexão com o seu território, à taxa que, à luz do seu direito interno, os não residentes
são tributados – PP da FONTE. E, posteriormente, o estado da residência vai atenuar a dupla
tributação, isentando da tributação o rendimento que não foi obtido no seu território
(wordwide income). Logo, no estado da residência, o contribuinte só leva à tributação não o
worldwide income, mas sim só o remanescente dos rendimentos, ou seja, os rendimentos
menos o que já foi tributado, a uma taxa progressiva.

🡪 Método da isenção com progressividade: num primeiro momento, o estado da fonte tributa o
rendimento que tem conexão com o seu território, à taxa que, à luz do seu direito interno, os
não residentes são tributados – PP da FONTE.
De seguida, o estado da residência vai atenuar a dupla tributação, isentando da tributação o
rendimento que não foi obtido no seu território (wordwide income). Logo, no estado da
residência, o contribuinte só leva à tributação não o worldwide income, mas sim só o
remanescente dos rendimentos, ou seja, os rendimentos menos o que já foi tributado, mas à
taxa progressiva que corresponderia ao worldwide income.

Método da Imputação:
Inicialmente, o estado da fonte tributa como entende a lei interna do estado da fonte. De seguida, é o
estado da residência que vai ter o encargo de eliminar ou atenuar a dupla tributação.
No método da imputação, o estado da residência vai tributar o rendimento mundial e depois vai
deduzir ao valor apurado aquilo que já foi pago no estado da fonte

→ Método da imputação total: num primeiro momento, o estado da fonte tributa o rendimento
que tem conexão com o seu território, à taxa que, à luz do seu direito interno, os não
residentes são tributados – PP da FONTE.
De seguida, o estado da residência tributa os seus residentes pelo rendimento mundial total à
taxa da lei interna portuguesa e, depois, ao valor apurado, deduz o montante já pago no
estado no estado da fonte, entregando assim, o contribuinte, só a diferença – isto havendo
convenção de dupla tributação que diz que se aplica o método da imputação total.
O que é que aconteceria se a taxa efetiva de tributação efetiva da Suíça fosse superior à
Portuguesa? Se tivesse que pagar 800 na Suíça e 500 em Portugal, o estado português
devolvia o remanescente?
No método da imputação total, sim. E é por este motivo, quando a taxa efetiva do estado da
fonte seja superior ao do estado da residência, é que o método da imputação parcial, que é
para travar uma dedução potencialmente excessiva – método da imputação parcial é o mais
frequente.
🡪 Método da imputação parcial: num primeiro momento, o estado da fonte tributa o rendimento
que tem conexão com o seu território, à taxa que, à luz do seu direito interno, os não
residentes são tributados – PP da FONTE.
De seguida, o estado da residência tributa os seus residentes pelo rendimento mundial total à
taxa da lei interna portuguesa e, depois, ao valor apurado, deduz apenas a parte do imposto
correspondente ao imposto que corresponderia se esses rendimentos fossem tributados em
Portugal.
Exemplo: rendimento total = 11 000 (10 000 em portugal e 1000 na suíça)
Suiça = 1000 x 30% = 300
PT = 11 000 x 10%= 1100
Em vez de deduzir 300 euros deduzo apenas a percentagem que iria ser paga em PT
(1000 x 10%).
Operação total: 1100-100=1000 euros.

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