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Advertência

As hipóteses de resposta que são apresentadas seguidamente servem de apoio às aulas práticas de
Direito Fiscal, tendo por base a bibliografia de referência, pelo que traduzem as opiniões
expressas nessa bibliografia e, como tal, não têm pretensão de originalidade científica. São
disponibilizadas às/aos estudantes com fins exclusivamente pedagógicos e não dispensam a
frequência das aulas nem a consulta da bibliografia.
Aulas práticas de Direito Fiscal – 2021/22

PRINCÍPIOS FISCAIS:

1. Enuncie os princípios jurisdicionais fiscais, relacionando-os com os princípios da não


discriminação, transparência e reciprocidade.

Critérios de correção:
§ Noção do conceito de princípio jurisdicional fiscal;
§ Noção dos princípios jurisdicionais fiscais (territorialidade, nacionalidade e residência);
§ Noção dos princípios da discriminação, transparência e reciprocidade;
§ Relacionamento entre os princípios em causa.

Resolução:
Os princípios jurisdicionais fiscais distinguem-se dos demais princípios fiscais, na
medida em que tratam da questão de saber sobre que contribuintes e sobre que rendimentos exerce
o Estado a sua jurisdição, portanto está em causa a detenção do poder tributário por parte dos
Estados.
Do princípio da territorialidade decorre que os Estados exercem a sua jurisdição sobre
todos os bens, pessoas e transações conexionados com o seu território, o que possibilita que o
Estado possa tributar qualquer atividade de qualquer contribuinte dentro do seu território,
independentemente da ligação do contribuinte à jurisdição desse Estado. Isto implica não tomar
em conta a residência ou nacionalidade do contribuinte. Em Portugal, a aplicação deste princípio
é conseguida por duas vias. Por um lado, através da sujeição dos rendimentos a retenção na fonte,
a entidade pagadora fica obrigada a reter e entregar o imposto em substituição do beneficiário ou
contribuinte, o que permite preservar a base tributária e, assim, arrecadar eficientemente o
imposto; encontra-se prevista no artigo 34.º LGT. Por outro lado, o estabelecimento estável
localizado em território português está também intimamente ligado com este princípio porque é
uma figura que permite tributar rendimentos de não residentes que possuam uma base
organizativa estável em território nacional. Este estabelecimento não possui personalidade
jurídica, mas pode ter personalidade tributária, dependendo de outra entidade, residente ou não
residente, e desenvolvendo uma atividade empresarial. Este ente encontra-se previsto no artigo
5.º CIRC, ficando o seu lucro sujeito a IRC, nos termos do artigo 3.º, n.º 1, alínea c) CIRC.
O princípio da nacionalidade impõe que o Estado da nacionalidade do contribuinte exerce
jurisdição fiscal plena sobre o contribuinte, ainda que os rendimentos sejam obtidos noutros
Estados.

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O princípio da residência prevê que os Estados tributam os seus residentes,
independentemente da cidadania e do local onde os rendimentos tributáveis foram gerados, o que
quer dizer que a jurisdição fiscal é exercida pelo Estado da residência do contribuinte. Para as
pessoas coletivas, valem aqui os critérios da sede e da direção efetiva, nos termos do artigo 2.º,
n.º 1, alínea a) CIRC. O critério da sede não traz especiais dificuldades, considerando-se a sede
nos termos em que é definida pelo Direito Societário. O critério da direção efetiva impõe que se
averigue onde é que funcionam os órgãos de direção e controlo efetivos da pessoa coletiva.
Importa também o artigo 3.º, n.º 1, alínea a) CIRC. Para as pessoas singulares, o critério geral é o
da residência por mais de 183 dias em território nacional, por força do disposto nos artigos 13.º e
16.º CIRS. Os não residentes são tributados através das taxas de retenção na fonte de rendimentos
de capitais e de trabalho dependente, no âmbito do princípio da territorialidade.
O princípio da não discriminação assume um papel muito relevante na UE porque os
cidadãos europeus não podem ser discriminados quando circulam no espaço comunitário,
portanto este princípio implica que o tratamento dado aos residentes deve também ser conferido
aos cidadãos europeus que circulam no território das comunidades. A maioria dos Estados
distingue os contribuintes sujeitos à sua jurisdição, que beneficiam da sua proteção e têm acesso
às infraestruturas locais, dos contribuintes não sujeitos a essa jurisdição (ex.: residentes e não
residentes, nacionais e estrangeiros à princípios da nacionalidade e da residência). Todavia, esta
distinção pode gerar resultados discriminatórios e, evidentemente, uma violação do princípio da
não discriminação, designadamente através da atribuição de benefícios fiscais exclusivamente a
residentes ou a nacionais (ex.: pode-se tributar diferentemente a mesma transação, consoante ela
seja efetuada por um residente ou nacional ou por um não residente ou estrangeiro). Assim sendo,
este princípio relaciona-se com os princípios da residência e da nacionalidade porque, em função
da sua jurisdição, os Estados alcançam resultados diferentes (ex.: se o Estado A adota o princípio
da nacionalidade, tributa todos os rendimentos dos seus nacionais, mas também lhes concede
benefícios fiscais, não os concedendo a indivíduos não nacionais, o que gera discriminação).
O princípio da transparência impõe que os sistemas fiscais devem ser transparentes, os
benefícios fiscais devem ser identificáveis e quantificáveis e os devedores e beneficiários são
publicados em lista. Importa também que o sistema reduza ao mínimo as situações de exceção e
abula as isenções específicas ou casuísticas e a atribuição de benefícios fiscais a certos
contribuintes ou transações em particular. Portanto, se o Estado atribuir benefícios aos seus
nacionais ou aos seus residentes, estará em causa o princípio da transparência.
O princípio da reciprocidade é um princípio de Direito Fiscal Internacional. Quando os
Estados negoceiam tratados sobre dupla tributação, pretende-se um equilíbrio entre os benefícios
e os custos fiscais alcançados pelos Estados envolvidos no processo de negociação. Este princípio
tem uma evidente relação com os princípios da territorialidade e da residência porque visa evitar

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os problemas de dupla tributação internacional que aqueles criam, através das convenções entre
os Estados.

2. Explique a interação entre os princípios da residência e da territorialidade.

Critérios de correção:
§ Noção dos princípios;
§ Relacionamento entre ambos;
§ Valorização de exemplos.

Resolução:
Para a noção dos princípios, vide a resolução à questão anterior.
A relação entre estes princípios dá-se através da tributação mundial, que se traduz na
necessidade de os Estados tributarem todos os rendimentos.
Atualmente, a maioria dos Estados adota uma combinação dos princípios da residência e
da territorialidade, o que permite uma tributação mundial, evitando, assim, ausência de tributação.
Portugal é um dos Estados que aplica a combinação dos dois princípios. Os Estados que aplicam
apenas o princípio da territorialidade são excecionais, mas mais eficientes (ex.: Singapura).
Porém, a aplicação conjunta dos dois princípios pode levar a situações de dupla tributação
internacional (ex.: A é residente no Estado Y e aufere rendimentos de capitais no Estado Z; o
Estado Y aplica o princípio da residência, o que significa que os rendimentos auferidos por A em
Z vão ser tributados em Y; se Y aplicar o princípio da territorialidade, A fica sujeito a imposto
também em Y, o que quer dizer que há um problema de dupla tributação internacional). Perante
esta interação entre os dois princípios, há a necessidade de os Estados negociarem convenções
sobre dupla tributação internacional, mas o problema continua a ser o facto de a elevada carga
fiscal que é gerada por esta aplicação conjunta levar a que os contribuintes recorram ao
planeamento fiscal abusivo, o que acaba por reduzir a receita fiscal dos Estados quando o objetivo
era arrecadar mais receita. O inverso também é configurável, mas pode configurar um caso de
fraude fiscal (ex.: B é residente no Estado P e aufere rendimentos de capitais no Estado O; se P
aplicar o princípio da territorialidade, os rendimentos auferidos por B em O não serão tributados
em P porque não foram gerados no seu território; se O aplicar o princípio da residência, também
não tributará os rendimentos porque B não é residente).

3. Distinga paraíso fiscal de regime fiscal preferencial.

Critérios de correção:
§ Enquadramento da temática: princípios fiscais, maxime princípio da transparência;

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§ Noção do princípio da transparência;
§ Explicitação das características do paraíso fiscal;
§ Explicitação das características do regime fiscal preferencial.

Resolução:
Para a noção do princípio da transparência, vide a primeira questão.
O paraíso fiscal tem algumas das seguintes características: 1) isenção total de imposto ou
aplicação de taxas nominais; 2) ausência de trocas de informações e sigilo bancário; 3) falta de
transparência (ex.: atribuição de benefícios fiscais contratualmente); 4) ausência de prática efetiva
ou real de atividades.
O regime fiscal preferencial regista algumas das seguintes características: 1) isenção total
ou aplicação de taxas efetivas reduzidas de imposto; 2) atribuição de benefícios fiscais ou de
regimes fiscais mais favoráveis apenas a não residentes; 3) falta de transparência; 4) ausência de
troca de informações e sigilo bancário. O objetivo é eliminar estas situações, tornando o sistema
fiscal mais transparente para o contribuinte e de mais fácil administração para o Estado.
As grandes diferenças estão no facto de o regime fiscal preferencial tender a aplicar taxas,
ainda que reduzidas, e no facto de nem haver atividade praticada quando esteja em causa o paraíso
fiscal.
O legislador procura penalizar as entidades sediadas em paraísos fiscais com o regime da
imputação, consagrado no artigo 66.º, n.º 1 CIRC, segundo o qual os sujeitos passivos de IRC
residentes em território português que detenham pelo menos 25% do capital, direitos de voto,
direitos sobre os rendimentos ou elementos patrimoniais de entidades não residentes e submetidas
a um regime fiscal claramente mais favorável ficam sujeitos a uma imputação dos lucros ou
rendimentos obtidos por essas entidades. Da mesma forma, o legislador agrava as taxas de IMI,
nos termos do artigo 112.º, n.º 4 CIMI, aplicando uma taxa de 7.5% aos prédios pertencentes a
sujeitos passivos com domicílio em território sujeito a um regime fiscal mais favorável.

Bibliografia: TEIXEIRA, Glória – Manual de Direito Fiscal, 6.ª ed. Almedina. 2021.

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